Carminalla Pale

  • May 2020
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  • Words: 21,347
  • Pages: 64
I

Carminalla Pale © A.L. Bandina 1999 [email protected]

A.L. Bandina II

Índice I - Pálida Introdução II - O Sapateiro III - Outro Funeral IV - Face Ebúrnea V - Noite De Inverno VI - Vestida Para A Morte VII - Promessa Cumprida VIII - O Casarão IX - Sangue Infantil X - Passagem Gótica XI - Encontro Com Lugubrous XII - Retorno Ao Lar XIII - Visita Ao Interior XIV - Um Ancião XV - Bebendo Entre Imortais XVI - Frio Na Madrugada XVII - Farto Banquete XVIII - Maldito Sol XIX - Atraindo Como A Morte XX - Magos Presentes XXI - Uma Breve Visita XXII - Perseguição Noturna XXIII - Irmandade Obscura

XXIV - Reencontro

III

Prefácio

Porque só os vampiros escrevem sobre suas vidas e aventuras? Nós, as vampiras, também vivemos uma vida regada de imprevistos, sangue e melancolia. Meu nome é Carminalla Pale, já deve ter ouvido falar de mim, alias, quando li o livro do Lugubrous, fiquei feliz por ele ter escrito a passagem de quando nos conhecemos e de nossa rápida paixão escarlate. Fiquei muito contente quando ele destruiu o maldito Memento, e também Memoriant. Lugubrous; estamos prestes a nos encontrar novamente, e quando isso ocorrer, você saberá um pouco mais de minha vida condenada a esta eterna escuridão em que vivemos através destas frias linhas que escrevo com minhas pálidas e gélidas mãos, algumas de minhas aventuras e sede eterna pelo sangue...

...

Junte–se a mim nesta morte e boa leitura... Carminalla Pale

IV

I – Pálida Introdução

U

- ... m cadáver... um cadáver sem sangue!!!... Eu ouvi isso muitas e muitas vezes na velha cidade onde eu vivia. Desde minha infância eu ouvia histórias de demônios, sugadores de sangue, os temidos vampiros, mas confesso que nunca acreditei nessas histórias, nos famosos vampyrs. Nossa cidade já estava no auge da decadência econômica quando meus pais resolveram mudar para a capital, “onde tudo acontece” como eles diziam. Na minha última noite naquela vila, sai para ver e me despedir das ruas e praças por onde passei minha infância toda. Encontrei numa dessas ruas, um homem alto vestido em um sobretudo preto e com encantadores olhos sedutores e brilhantes, que reluziam em sua face pálida feito um morto. Eu tinha naquela época por volta de quinze ou dezesseis anos, e me apaixonei por aquele “anjo” em trajes negros. Ele se aproximou de mim, tocou com suas mãos nas minhas, e eu senti meu corpo todo arrepiar-se ao sentir sua pele fria. _ Você é linda. Ouvi sua voz num tom sussurrado e excitante próximo ao meu ouvido. Linda demais para morrer, quando tiver mais idade, lhe encontrarei e você será minha companhia, será como eu, minha amada. Linda demais para morrer eu pensei comigo em silêncio, ele vai me matar?! Quando ergui meus olhos para fitar os dele, já não vi mais ninguém, aquele anjo da escuridão havia desaparecido tão rápido e funestamente como havia surgido. Voltei confusa para casa, pensei estar enlouquecendo, então no vai e vem com as malas, acabei esquecendo o ocorrido e seguimos para a capital com nossa mudança em uma engenhosa maravilha que estava surgindo naquela época, o trem a vapor. Eu estava fazendo minha primeira viagem, e de trem, um dragão que soprava fumaça e grunhia com um sino a sua cabeça. Fiquei a maior parte do tempo vendo pela janela o trajeto que íamos fazendo, aguardando uma surpresa a cada curva, uma floresta, algum animal selvagem no meio do mato, um rio, as cidades e suas estações pelas quais íamos passando, e as pontes, nossa, cada ponte alta que atravessávamos e enquanto eu olhava para baixo com um frio na barriga, eu via as pedras ou árvores que pareciam tão pequeninos lá embaixo, ou as águas dos rios enormes com suas correntezas batendo nos pilares de sustentação. Eu nunca me esquecerei desta viagem, como se diz o velho ditado, “a primeira vez a gente não se esquece”. V

II – O Sapateiro

Chegamos à capital em um final de tarde chuvoso. Meu pai nos levou para nossa nova casa que ele havia comprado com o dinheiro da venda de nossa antiga morada. Esta era um pouco menor que a outra, porém mais nova, tinha acabado de ser reformada. Fui direto para o meu novo quarto, onde comecei arrumar minhas coisas ao meu jeito. No dia seguinte, fui conhecer a sapataria que meu pai tinha comprado com suas economias, era seu negócio próprio, e ele estava orgulhoso disso. Íamos todos os dias ajudar meu pai em seu negócio, eu e minha mãe tirávamos o pó, fazíamos uma boa limpeza no lugar, atendíamos os clientes enquanto meu pai ficava em um quartinho no fundo consertando os sapatos trazidos pelos clientes ou estocando e separando os sapatos novos para a venda. Logo foi necessário contratar um ajudante para a oficina, pois os negócios estavam progredindo assim como o desenvolvimento do país. Após alguns meses, mamãe não pode mais ir ao trabalho, ela adoeceu em uma estranha febre que os médicos não sabiam como tratar e curar. Ela morreu em um final de semana nublado e tristonho com lágrimas caindo do céu. No enterro, após as cerimônias fúnebres e o sepultamento, pedi ao meu pai que me deixasse voltar sozinha para casa, pois eu queria pensar um pouco sobre a vida e relembrar alguns momentos bons. Estava escurecendo e já se passava das seis horas, quando, um pouco antes de chegar em casa, pude ver um homem com seu sobretudo preto caminhando do outro lado da rua. Eu não conseguia ver o seu rosto, pois ele estava de costas para mim, mas o cabelo comprido esparramado pelas costas eu reconheci de imediato, era o mesmo que eu havia encontrado antes de vir morar aqui. Corri ao seu encontro para descobrir mais a seu respeito, mas quando toquei seu ombro, ele não se virou, apenas sorriu em um riso sinistro e falou com sua vos sensualmente sussurrada: _ Ah... Carminalla, você não teme o desconhecido, isso eu admiro tanto quanto sua beleza, mas como eu disse antes, quando tiver mais idade, estaremos juntos na morte para sempre... Ele correu para a rua que virava à esquerda, e quando eu cheguei correndo logo atrás dele, nada, ele havia desaparecido novamente. _ Você é a morte? Veio me buscar como minha mãe? Eu gritava e chorava ao lembrar de minha mãe, neste momento pus para fora toda a dor da perda. Meu pai saiu correndo de casa ao ouvir meus gritos desesperados e me VI

abraçou levando-me para dentro. Deitei em minha cama e pude ver os olhos dele com lágrimas contidas, acho que foi a primeira e única vez que o vi com um olhar tão triste. Ele beijou-me na fronte dizendo que também sentia a falta de minha mãe desde o sepultamento, que ainda não fazia nem três horas. Ele saiu do quarto, apagou a luz e encostou a porta. Logo depois ouvi a porta de seu quarto se fechando e um soluço mudo morrer na escuridão lá dentro. Eu já não tinha mais lágrimas para escorrer, e o pensamento sobre aquele homem vestido de preto não saia de minha cabeça enquanto o sono ia me dominando por completo até eu dormir.

VII

III – Outro Funeral

Nas semanas e meses seguintes trabalhamos muito, eu ficava até depois do expediente normal junto ao papai, para ajudá-lo em seu serviço que tinha aumentado muito, e nós gostávamos disso, pois mantinha nossa mente ocupada amenizando os pensamentos da perda, e isso acabou nos aproximando ainda mais. Contratamos mais dois funcionários e ampliamos nossa loja enquanto os pedidos também aumentavam. Quando completei dezoito anos, fomos comemorar em uma confeitaria, eu meu pai, e os três funcionários que trabalhavam conosco. Comemos muito bolo de chocolate e bebemos vinho à vontade, mas o que era uma feliz festa tornou-se uma nova tragédia em minha vida. O coração de papai resolveu parar bem no momento de seu discurso, o que sempre fazia quando eu ou mamãe aniversariávamos. Ele caiu sobre a mesa, e enquanto todos gritavam e tentavam revivê-lo em vão, eu fiquei sentada deixando apenas minhas lágrimas escorrerem, eu sabia que havia partido para sempre. No meio da confusão e lágrimas, eu vi aquele rosto pálido fitar os meus olhos entre a multidão que corria de um lado para o outro em um mar de rostos sem expressões. Tudo estava tão distante de mim, e enquanto aquela maré de rostos se movia em um vai e vem nauseante, eu fitava aqueles olhos brilhante me observando. De repente voltei a mim, e quando olhei novamente para a cadeira de onde aqueles olhos me observavam, já não estavam mais lá. Uma garrafa de vinho quebrou-se na mesa quando meu pai havia tombado morto, e eu fui cortada no braço, e só depois deste tempo em que a face pálida sumiu é que fui perceber e sentir o ferimento com o sangue que escorria, não sei porque, mas ergui meu braço e levei o corte até minha boca comecei a sorver meu próprio sangue que descia quente pela minha garganta, então ouvi uma voz sussurrar dentro de minha cabeça: _ Veja, você tem a sede pelo sangue dentro de você, e ela começou a despertar... Meus olhos se arregalaram e eu procurei pela fonte da voz, eu sabia quem era, mas não estava por lá. Mais uma vez, no dia seguinte, tive minha presença a mais um funeral. Voltei com uma decisão tomada em minha cabeça. Nas semanas seguintes, vendi a casa, a sapataria e me mudei mais para o centro daquela enorme cidade. Abri uma loja de perfumes e comecei minha nova vida. Conheci um rapaz dois anos mais velho que eu e começamos a namorar. VIII

Já com dois meses juntos, fomos ao cinema, e depois paramos o carro em um lugar afastado da cidade, onde podíamos apenas ver as luzes lá embaixo. Começamos a nos beijar, nos acariciar, e eu já estava seminua em um êxtase total quando a porta do carro foi arrancada, e em seguida meu namorado. Saltei para fora do carro colocando meu vestido novamente e vi o que segurava meu namorado; era aquele homem com sua face pálida e sem expressão. Fiquei assustada com sua força, pois como ele arrancou tão facilmente a porta do carro e segurava meu namorado com outra mão como se ele fosse feito de papel. Foi ai que eu vi pela primeira vez seus caninos pontiagudos à mostra. Ele esmagou o pescoço daquele que estava comigo e jogou-o barranco abaixo. Eu gritei de pavor e medo enquanto ele me envolvia com seu frio abraço que eu não conseguia me livrar por mais que eu me debatesse. _ Calma, eu disse que você seria minha, eu estarei sempre a lhe proteger como fiz agora, mas ainda não é hora de saber o que sou. _ Maldito assassino!!! Gritei quando ele me soltou, mas parei de chorar e fiquei mais calma após seu profundo olhar hipnotizante e desmaiei.

IX

IV – Face Ebúrnea

Acordei duas noites após o ocorrido. Eu estava em minha cama e não sabia como havia chego até lá, provavelmente o homem de face pálida havia me levado e me deixado em meu quarto. Levantei e corri para o prédio onde meu namorado morava dividindo um quarto com mais dois amigos e perguntei por ele, pois podia ser que eu apenas pudesse ter tido algum mau sonho. _ Ele foi encontrado morto no alto do morro, e seu carro foi encontrado em outro estado, a polícia disse que foi morto pelos ladrões que roubaram o carro e encerraram o caso. Voltei para casa e me tranquei no quarto, eu sabia que não era aquilo que realmente havia acontecido, mas quem iria acreditar em mim. No dia seguinte tomei coragem e forças e retornei ao meu trabalho para amenizar meu sofrimento enquanto tentava encontrar alguma explicação lógica para os fatos ocorridos. Foi um dia bem movimentado, muitos clientes para atender, pessoas com suas esquisitices procurando perfumes inexistentes, e boas vendas. Fechei a loja um pouco mais tarde neste dia por causa de uma senhora Ter chego poucos minutos antes do fechamento e ficar um bom tempo indecisa no produto que gostaria de adquirir, até que optou por um frasco que eu havia lhe mostrado no primeiro momento em que ela entro na loja. Ela foi embora e então pude fechar a loja. Acidentalmente deixei cair um vidro de perfume no chão enquanto trancava a porta. O frasco se quebrou e quando fui pegar os cacos no chão para jogá-los no lixo, fiz um corte na palma de minha mão. O sangue escorria e eu me senti um pouco zonza. Sentei-me na soleira da porta, sem perceber, levei minha mão até minha boca e senti mais uma vez o prazer e o gosto daquele líquido vermelho escorrer para dentro de mim, e fui beijando minha mão como se estivesse beijando alguém em grande volúpia sensual, quando ouvi um riso que eu já conhecia. _ Vejo que escolhi a mulher certa, desde já sente o prazer pelo sangue. Voltei a mim de repente e vi o que estava fazendo. Olhei para frente e aquela pálida face havia sumido novamente. Levantei e senti o gosto de meu sangue em minha boca. Fiquei assustada com o que eu fiz e sai correndo aos tropeços para minha casa enquanto cuspia o que restava daquele sangue entre meus lábios. Entrei em casa e fui até o banheiro, onde fiz um curativo no corte e fui direto para minha cama pensando no que aconteceu e nas palavras que ouvi daquele ser estranho que cada vez que o via, mesmo tendo medo, eu me apaixonava cada vez mais, pelo seu brilhante olhar fixo, pelo seu rosto, pelo seu poder de sedução que exercia sobre mim. X

_ Para que eu fui à mulher certa que ele escolheu? Perguntei-me muitas e muitas vezes durante as noites e dias que foram se passando até que eu acabei deixando a questão de lado.

XI

V – Noite de Inverno

Foi em uma noite de inverno que consegui conversar com aquele rosto branco feito a morte. Eu estava saindo de uma praça onde eu havia sentado em um banco para contemplar a noite que estava com um maravilhoso céu estrelado, quando senti uma fria mão repousar sobre a minha. _ Boa noite, linda Carminalla. Eu fitei seus olhos assustados, mas logo me tranqüilizei, seu olhar me deixava fascinada pelo brilho incessante que emanava de sua profundeza. _ Esta é uma noite de revelações, de trevas, dor, solidão, paixão, enfim, hoje compreenderá o que sou. Eu não disse uma palavra, apenas observava cada gesto e cada palavra com uma atenção sobrenatural, como se ele estivesse controlando meus pensamentos e meus movimentos. _ Eu sou um vampiro. Ao ouvir esta palavra eu caí em uma gargalhada espetacular, não conseguia me conter, onde já se viu uma pessoa se apresentar a você dizendo que é um vampiro, oras, vampiros não existem, era isso o que eu imaginava até que ele me agarrou fortemente, mostrou seus caninos pontiagudos em sua boca escancarada e cravou-os em meu pescoço engolindo um pouco de meu sangue. Pude ver o êxtase que ele sentia, e confesso que como vítima, também o sentiu ao ser drenado. _ Isto é só o começo meu amor, não está na hora de ser transformada ainda. Ele me contou que apenas podia caminhar nas noites, este era um dos preços cobrados pela eternidade, assim como a solidão e a tristeza que eram nossas parceiras eternas nesta vida regada de sangue, luxúria e prazer. Perguntei sobre as famosas cruzes, alho, e coisas do gênero, e ele me disse rindo que eram apenas lendas nada mais do que isso. Entramos em um bosque que ele dizia Ter uma refeição esperando por ele, que estava sentindo o cheiro de sangue de sua vítima. Eu não sentia cheiro algum, e então para minha surpresa, logo ele me apontou um caçador clandestino a alguns metros à nossa frente. _ Fique aqui e observe aquela pressa ser atacada por mim. Eu fiquei agachada entre uma moita verde enquanto observava suas habilidades. Primeiramente ele se aproximou sem nenhum ruído, depois fez um aceno e chamou o caçador que virou sua arma apontando-a para sua cabeça. Com seu jogo de sedução e palavras apaziguadoras, logo fez com que sua vítima abaixasse a arma. Quando o pobre coitado já não tinha mais barreiras para impedi-lo, o vampiro soltou os botões da camisa do caçador, envolveu-o com um abraço por de trás tirando aquela mesma camisa enquanto a vitima XII

desfrutava do momento voluptuoso. Os caninos apareceram na escuridão enquanto os olhos brilhantes me fitavam, e ele sabia que eu desejava estar no lugar de sua vítima. Aquele rosto pálido sorriu para mim e então os dentes perfuraram a carne do pescoço e em seguida os lábios em um beijo começaram a sugar o sangue que fluía de sua fonte para sustentar e aquecer aquele vampiro sedento. O corpo da vítima foi largado ao chão para que terminasse de morrer enquanto o vampiro vinha em minha direção. Ele pegou minha mão, mas agora a dele estava mais quente, com um calor quase que humano. _ E o corpo, não vão encontrá-lo sem sangue? _ Não se preocupe, olhe você mesma. Olhei para o corpo e vi muitos lobos se aproximando para uma refeição e pensei comigo mesma vendo o noticiário do jornal no dia seguinte: - Caçador vira caça e é devorado por lobos famintos. Já próximo a minha casa, o vampiro me abraçou e disse: _ Logo voltarei para que esteja sempre ao meu lado. _ Não, eu quero agora! Ele sabia que eu não diria nada a ninguém, ou caso contrário, eu seria internada em um sanatório ou coisa do gênero.

XIII

VI – Vestida Para A Morte

Nas noites seguintes eu ficava sempre bem vestida e pronta para receber meu visitante nocturno que nem nome eu sabia ainda, mas ele nunca vinha, e isso me deixava triste e furiosa. Eu tinha crises de depressão e melancolia, ataques de choro e pensei estar enlouquecendo, que nada do que eu havia visto realmente houvesse acontecido, que tudo fora apenas alucinações. Numa dessas noites em que me encontrava em profunda depressão, entrei em minha casa, tomei um banho demorado, me deitei nua em minha cama com os braços abertos e fiquei sentindo o sangue escorrer do pulso que eu havia cortado para deixar a vida fugir de mim. Repentinamente comecei a sentir prazer e algo segurando meu braço. Olhei para o lado e vi aquele pálido ser bebendo meu sangue no pulso cortado, e o corte estava se cicatrizando de uma forma assustadoramente rápida. _ Como você fez isso? Perguntei. Ele disse que era um dos poderes que existia em sua forma vampírica, sua saliva cicatrizou por completo meu ferimento, então eu o abracei e beijei sua boca com meu sangue entre os seus lábios suculentos e comecei a despi-lo. Seus olhos brilharam e ele me disse: _ Logo você conhecerá um prazer tão forte quanto o sexo, não precisará nem mais dele. _ Mas eu quero você dentro de mim agora! Foram minhas palavras. Abraçamos-nos forte e entre beijos voluptuosos, movimentos incessantes e gemidos, eu senti o seu orgasmo junto ao meu em uma explosão de prazer, e o que escorria por entre minhas pernas era o sangue que jorrava de seu membro, enquanto eu olhava sem espanto algum. _ Tudo que flui dentro de mim é sangue, o mesmo sangue que me mantém vivo. Disse ele antes de me beijar novamente. Pouco antes do amanhecer, ele se despediu de mim e foi embora dizendo que eu começaria a vê-lo com mais freqüência e que logo estaria para sempre junto a ele no mundo das trevas.

XIV

VII – Promessa Cumprida

Realmente ele cumpriu sua promessa, passou a me visitar uma vez por semana e sempre que ele aparecia, eu estava pronta para que ele bebesse um pouco de meu sangue. Numa dessas visitas, ele me revelou seu nome, Pietrus que já estava com duzentos e nove anos. Eu comecei a me sentir cada dia mais fraca, sem fome, cada vez mais pálida e abatida, descobri que estava com uma forte anemia. Pietrus não apareceu por um mês ou mais, e eu estava morrendo. Deitada em minha cama, meu leito de morte, eu ficava pensando porque ele havia tirado tanto sangue meu e me abandonou para um fim tão solitário e lento, pois ele já havia sugado quase todo meu sangue, e mesmo que meu corpo produzisse tanto sangue assim para repor a falta, eu não teria chances de sobreviver, estava tudo perdido para mim. Na noite em que eu já pressentia a morte me rodeando feito um abutre sobre a sua carniça, Pietrus apareceu novamente. Desta vez estava muito sinistro. Fiquei com muito medo ao olhar para seu rosto inexpressivo. Ele se aproximou de mim, me despiu e cravou seus dentes com força em meu pescoço, o que me fez estremecer enquanto o resto de minha vida era sugado. Pouco antes de acabar todo meu sangue e minha vida, deixando-me entre a fina linha entre a morte, ele afastou sua boca de meu pescoço e falou: _ Agora é sua vez de decidir se vira para minhas trevas ou para o escuro da morte eterna... Ele mordeu sua própria língua e a pôs escorrendo seu sangue para fora de sua boca. Eu então fiz minha escolha, beijei aquela língua sangrenta e chupei todo sangue que escorria, cada gota que saia dela. Nosso beijo durou poucos minutos até que ele me empurrou de lado dizendo que já era mais do que suficiente para mim, enquanto eu delirava em êxtase e queria mais. Repentinamente cai ao chão com uma enorme dor correndo cada célula de meu corpo, e eu tremia muito. Comecei chorar desesperadamente, então Pietrus me envolveu com um forte abraço e me beijava dizendo que eu apenas estava morrendo e renascendo para a eternidade. Quando tudo acabou pude ver tudo ao meu lado com meus novos olhos nocturnos e sentir que minhas lágrimas iam se tornando lágrimas de sangue. Pietrus escolheu um lindo vestido preto entre minhas roupas e estendeuo para que eu o vestisse. Após estar com o vestido em meu corpo, ele disse que deveríamos partir para seu refúgio antes que o sol raiasse. E nós partimos daquela casa onde eu perdi minha velha vida mortal para sempre. XV

VIII – O Casarão

O refúgio de Pietrus era um casarão cercado por um enorme muro de pedras. A casa toda protegida por dentro com grandes trancas nas portas e janelas pesadas para que ninguém entrasse durante o dia. Entramos pelo Hall e ele me levou para o andar superior, até o final de um estreito e mal iluminado corredor. Apenas fiquei olhando para ver o que ele iria fazer, pois não havia nada no final do corredor, a não ser uma enorme estátua de Shela, que ia do chão ao teto, e com certeza pesava boas toneladas. Ele então colocou suas mãos em uma das laterais desta estátua e puxou-a para trás como se esta fosse feita de papel. Então empurrou-a para a lateral da parede e fez sinal para que eu me “espremesse” um pouco e passasse pelo fino vão que mal dava para atravessar. Eu passei pela estátua e pude ver uma pequena passagem que dava apenas para passar uma pessoa meio encolhida, e entrei vendo Pietrus vindo atrás de mim puxando a estátua e deixando-a no mesmo lugar de onde estava antes. No final do estreito túnel sem iluminação alguma, chegamos a uma espécie de cripta, onde havia dois caixões; um era o de Pietrus, muito velho e empoeirado, enquanto o outro cheirava a madeira nova, e entendi que era para mim. Não falamos nada, já era manhã lá fora, e nós estávamos protegidos naquela escuridão confortável, pois o túnel vinha do andar superior até o subterrâneo do casarão, e estávamos ficando cada vez mais sonolentos, e isso indicava que lá fora o sol já brilhava há algum tempo. Acordei na noite seguinte com uma fome espantosa. Saímos para que eu pudesse fazer minha primeira refeição completa como uma vampiresa. Pietrus escolheu uma velha senhora que passava despercebida em uma vetusta rua mal iluminada enquanto eu olhava e aprendia como fazer o serviço de forma correta. _ Pare um pouco antes do coração de sua vítima parar. Ele me disse. Escolhi uma linda jovem de cabelos dourados que tinha um lindo olhar azul e inocente. Seduzi-a com meus encantos e saciei minha terrível fome de viver e por sangue. Apreciei cada minuto naquela noite com uma visão que nunca pude contemplar nada antes, mas agora não posso mais me lembrar como eram as noites antes de me tornar no que sou. Voltamos para o refúgio de Pietrus antes de o sol raiar. Entrei em meu caixão e assim que ouvi o dele se fechando, abri o meu e XVI

voltei para o Hall onde pude ver o sol nascer. Pressenti Pietrus escondido lá em cima me observando entre a escuridão sem dizer nada. Fui à direção a grande janela e a abri. Senti o golpe fatal da luz solar me jogar longe ao chão e comecei a queimar como papel em um incinerador. Eu gritava e chorava de dor até que Pietrus se atirou na luz e com seu corpo fez sombras em mim e eu pude ver seu rosto com uma expressão horrível, parecia ser muito velho e sua boca escancarada deixava-o com uma face de demônio, enquanto o sol ia o queimando. Ele parecia não estar nem sentindo a dor com os raios solares queimando então ele me pegou em seu colo e nos levou para nossos caixões enquanto eu deixava minhas lágrimas de sangue escorrerem pedindo perdão incessantemente e vendo minhas mãos, sentindo meu rosto e corpo todo deformado e queimado pela maldita luz de um sol que eu quis contemplar. Ele me deitou em meu caixão, tirou minhas roupas queimadas e fechou a tampa do ataúde. Eu só me lembro de que após ele fechar o caixão, eu dormi imediatamente sem saber se ele também foi para o dele e dormiu.

XVII

IX – Sangue Infantil

Levantei duas noites após o ocorrido. Eu tinha fome e sai de meu caixão ainda nua e fiquei surpresa ao ver que meu corpo estava tão belo quanto antes, sem nenhuma queimadura, como se nada houvesse ocorrido. Olhei para o estreito caminho e vi Pietrus se aproximando com uma pequena criança em seu colo. Ele a colocou sob meu caixão e disse para que eu me alimentasse naquele pequeno ser que podia ter sido um filho meu tempos atrás. Olhei para a pequena criança, sua pele macia e suas veias e artérias pulsando por todo seu corpo. Não pude resistir a tentação e a sede, me deliciei com aquele pequeno corpo cheio de vida que eu ia bebendo bem lentamente, sentindo cada fio de sangue que descia por minha garganta. Deixei que o corpo da criança terminasse de morrer no chão úmido e frio, enquanto fui até Pietrus e o beijei com o sangue escorrendo de minha boca. Ele cravou os dentes em meus seios e bebeu meu sangue, e eu bebi o dele em seu pescoço. Ficamos nos amando por um bom tempo, ou melhor, até o dia chegar e nos fazer adormecer dentro de meu caixão, ambos juntos e bem abraçados.

XVIII

X – Passagem Gótica

Viajei muito com Pietrus, conheci alguns dos de nossa espécie em diversas partes do mundo, e também li muito a nosso respeito em velhas bibliotecas, e muitas coisas que pude ler ou ver, foram inventadas ao nosso respeito, mas também pude encontrar muitos relatos que diziam a verdade, mas para vocês, meros mortais, meus queridos e suculento alimento, nós não passamos de um mito, mera história de terror que habitam vossas mentes. Numa destas viagens, a pouco tempo atrás, estávamos no Brasil, mais exato, em São Paulo. Pietrus foi a um encontro com seus contatos brasileiros, e eu fui conhecer o cemitério da consolação. Lá havia vários góticos indo e vindo, pra lá e pra cá, me enturmei entre eles fingindo ser ainda uma mortal, e eles nem perceberam quem eu era na verdade. Eles me mostraram um túmulo de um tal de Álvares de Azevedo, e me disseram que ele havia escrito poesias sobre o lado fúnebre, eu li algumas e gostei, mas antes que eu soubesse mais coisas a respeito destes góticos, Pietrus apareceu correndo e me puxou pelo braço dizendo que deveríamos fugir, algo estava acontecendo, mas ele não me disse o que era. Nisso chegou a polícia para retirar os góticos do cemitério, e no corre corre acabei me perdendo de Pietrus. O cemitério estava vazio alguns minutos depois, e eu vi Pietrus a alguns metros a minha frente, mas ele estava com uma expressão diferente em seu rosto, nem percebeu que eu estava poucos metros de distância dele, e então eu vi de que ele fugia. Vi um outro vampiro, mas era um vampiro com conhecimentos em magia, parecia ser mais velho e forte que Pietrus, então ouvindo ambos discutirem, descobri que ele utilizava o sangue de outros vampiros em rituais para aumentar o seu poder. Os dois começaram uma briga horrível, muito rápida para olhos mortais verem nitidamente. Unhas rasgando a carne, roupas se estraçalhando, e eu ali paralisada. Ouvi o nome do inimigo sair dos lábios de Pietrus entre suas maldições, e o maldito nome era Memento. Memento já estava levando a pior, mas apelou para sua magia e fez com que Pietrus caísse em uma grande ponta de um para raio que estava jogado ao lado de um túmulo, e o traspassou o peito e as costas. Aproveitando o momento oportuno, Memento puxou um atame e cortou a garganta de Pietrus, sugando o sangue em seguida, deixando-o mais fraco, e na seqüência, encheu um de seus frascos com o sangue restante, ateando fogo em Pietrus com sua magia por final. Não sei como, mas eu corri dali e fugi sem ser seguida por Memento, estava amanhecendo, fui até meu caixão e me preparei para viajar já no início XIX

da noite seguinte. Foi o que fiz então, despertei, peguei uma mala com algumas roupas, fiz minha refeição em uma camareira que estava em meu quarto atendendo meu chamado, e viajei sem rumo traçado no primeiro vôo que encontrei.

XX

XI – Encontro Com Lugubrous

Foi quando me perdi pelo mundo afora, e foi quando fui parar em uma velha catedral, e lá encontrei um padre sozinho não sei fazendo o que. Eu estava com uma boneca em minhas mãos, e nela eu vesti roupas iguais as que eu estava vestindo. Com meu olhar inocente e sedutor, me aproximei do padre e satisfiz minha sede e me sentei no chão empoeirado com o corpo do padre ao meu lado, minhas roupas estavam sujas com o sangue que pingava de minha boca. Foi quando Lugubrous apareceu. A princípio pensei que fosse algum aliado de Memento, pois ele emanava muito poder e magia ao seu redor. Tive uma crise de loucura, mas acabei descobrindo que ele era inimigo de Memento e lhe contei um pouco sobre mim e fiquei tão feliz ao saber que ele havia destruído o maldito Memento. Fui levada por Lugubrous até um conhecido seu, o pastor Desdomus, este era um safado, usava a fé dos mortais para satisfazer sua sede. O problema é que quando acordei na noite seguinte, o caixão em que eu estava havia sido lacrado por fora durante o dia por uns carniçais de um tal de Memoriant. Fui levada até um velho cemitério para ser usada como isca para Lugubrous, uma vez que Memoriant era um tipo de chefe do detestável Memento. Lugubrous me salvou daquele lugar putrefo após alguns incidentes que teve contra um dos carniçais que estavam de guarda. Após isso, fui levada até sua mansão, onde nos banhamos e cuidamos dos ferimentos que já estavam quase todos cicatrizados. Lugubrous só tinha um caixão em seu refúgio, então dividimos o mesmo naquele mesmo dia que se aproximava, transamos até o sol nascer e dormimos. Acordamos com o refúgio em chamas e fugimos por uma passagem secreta, Lugubrous já detalhou tudo isso em seu livro, por isso apenas estou fazendo uma rápida passagem sobre nosso encontro, relacionamento e despedida. Após algum tempo, Lugubrous estava indeciso em relação ao que fazer, Memoriant estava pressionado por todos os lados e ele temia por minha vida, mesmo me tornando mais forte com o seu sangue poderoso. Decidiu então que deveríamos nos separar pelo menos até que Memoriant não fosse destruído. Fomos até a estação ferroviária, onde havia muitas pessoas e alguns vampiros nos observando. Eu parti mais uma vez sem destino traçado para este mundo afora. Dentro do trem, eu me lembrei de quando viajei com meus pais pela primeira vez de trem.

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XII – Retorno Ao Lar

Decidi então voltar ao meu antigo lar e ver como tudo estava. Cheguei em uma noite fria e melancólica. Abri a enorme porta dupla da entrada e ouvi seu velho rangido que trazia boas recordações. Entrei, fechei a porta e fui caminhando, olhando cada mobília coberta por lençóis já velhos e empoeirados. A cada cômodo uma lembrança. Antes de o sol nascer, desci até meu refúgio secreto e encontrei meu velho caixão ainda inteiro, embora coberto pelo pó, era o mesmo, com o cheiro de morte antiga ainda impregnado nele, cheiro que só a um bom faro como o nosso é perceptível. Com um pano esfarrapado o limpei por inteiro e me deitei para meu merecido descanso. Quando acordei, fui atrás de algumas pessoas para trabalharem para mim naquela noite, a fim de deixar a casa limpa por inteira e como era antes. Contratei muitas pessoas para que fizessem o serviço nesta mesma noite, dando a desculpa que na manhã seguinte a casa receberia uma pessoa muito importante, e como se sabe, nestas horas o dinheiro fala mais alto que a curiosidade. Começou então a limpeza e a rápida reforma, foi quando vi uma de minhas contratadas limpando uma velha cômoda com frascos antigos de perfume sobre sua superfície. Era uma jovem muito linda, cabelos ruivos e lisos até a cintura, pele macia e branca feito um véu, seus olhos verdes me fascinaram e seus lábios com traços delicados me encantaram. Observei-a durante a noite toda, cada movimento leve, toda sua sutileza, e um ar melancólico a cercando a cada instante. Todos terminaram o serviço antes do previsto, e eu fui pagando cada um com uma boa gratificação e me assegurando que nada seria dito por ninguém, e nem deixei que percebessem quem eu era. Deixei a linda ruiva com suas vestes brancas por último, e antes de remunerá-la, certifiquei-me que não houvesse ninguém mais na casa. Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios e supérfluos e descobri que ela estava morando há dois dias em uma pensão, que seus pais haviam morrido em acidente recentemente e ela não tinha para onde ir. E seu nome era Izabel. O sol ia nascer logo, então fiz um convite irrecusável para ela, chamei-a para vir morar comigo, e eu iria lhe pagar um bom salário para que mantivesse minhas coisas em ordem. Ela aceitou, e eu pedi que ela voltasse na noite seguinte já com suas coisas para esta minha casa, que agora também seria a dela. Conforme o combinado, ela apareceu na noite seguinte. Mostrei-lhe o XXII

seu quarto e toda a casa. Depois de muita conversa sem importância, levei-a para conhecer a parte de trás da casa, um lugar que eu gostava muito, e vi nos olhos dela o brilho que mostrava que ela também adorou o lugar a primeira vista. Era um pequeno espaço com algumas árvores, flores e um grande gramado. Uma chuva nos pegou de surpresa e começamos a rir e correr descalças na grama, uma atrás da outra até cairmos uma sobre a outra e rolarmos abraçadas. Dei o primeiro beijo em seus lábios que retribuíram em um enorme amor que fez nossa paixão aumentar assim como o desejo de uma pelo corpo úmido da outra. Fui beijando seu pescoço, seus lindos seios e ela fazia o mesmo comigo, até que não resisti e cheguei a seu genital que emanava um saboroso cheiro de sua menstruação. Comecei a sugar todo líquido de seu útero enquanto minha língua trabalhava proporcionando muito êxtase e prazer a Izabel que, se contorcia em seus gemidos de uma fêmea no cio, que me deixavam muito mais extasiada e comecei a me masturbar até que sorvi a última gota de sangue proveniente de seu útero junto ao meu orgasmo. Beijamos-nos novamente e voltamos para dentro da casa já como duas amantes. Eu sabia que ela não havia percebido que eu suguei aquele sangue que havia dentro dela, mas também sabia que ela estranharia que seu ciclo menstrual terminasse tão cedo, mas isso era fácil de contornar com alguma história médica. Tornamos-nos verdadeiras amantes, todas as noites nos banhávamos em orgias como as mulheres em um perpétuo cio de fogo, e eu sempre tinha sede pelo seu sangue que aumentava a cada relação que tínhamos, e apenas era saciada pouco antes do amanhecer, quando Izabel já estava dormindo e eu me deleitava com minhas vítimas que passavam pelas ruas, praças e parques naquelas horas. Ela nunca me perguntou por que eu me trancava em meu quarto durante o dia e nunca a deixei entrar lá, e até ela, mesmo sendo mortal, passou a Ter hábitos nocturnos e dormir durante o dia. Tudo parecia estar perfeito como em um conto de fadas, mas em uma noite em que eu saí sozinha para comprar alguma coisa para nós, encontrei um homem já com seus cinqüenta e poucos anos, cabelos e barba grisalhos, mas com o corpo ainda forte. Percebi que me olhava com um olhar meio assustado, meio desconfiado. Fui até ele para descobrir o que estava se passando em sua mente, e quando cheguei bem perto dele, ele me falou: _ Carminalla?!! Foi quando descobri quem era. Há alguns anos atrás quando eu estive naquele lugar, eu já era uma vampira, e este velho tinha seus quinze anos, e trabalhava em uma loja de tecidos que eu freqüentava, seu nome era Antony, e ele me reconheceu, e eu ainda estava tão bela e jovem como naquela época. XXIII

_ Você é um demônio! _ Calma Antony, são coisas da medicina moderna, plástica e coisas do gênero. - Mentira! E mesmo que fosse, com a idade que você deveria ter, você já estaria morta! _ Bem, como você mesmo disse, Poderia. _ O demônio está entre nós, vou descobrir onde vive e te destruirei. Eu não podia matá-lo ali, havia muitas pessoas caminhando por aquele local, e muitas outras paradas vendo o velho que parecia um louco blasfemando contra uma linda mulher. Retirei-me o mais rápido possível do local e retornei para casa. Eu precisava pensar em alguma saída para esta situação e pensei em minha querida Izabel. Naquela noite eu havia decidido contar a verdade à minha adorável companheira, e foi o que fiz. Amamos-nos e após algumas horas juntas, eu comecei a lhe falar de mina vida e no que eu havia me tornado, e como eu estava apaixonada por ela. Para minha surpresa, ela sorriu ao invés de mostrar horror e aversão a minha pessoa, s eu sorriso era tão doce e seus maravilhosos dentes brancos me fascinavam. _ Eu já sabia que você era uma vampiresa há algum tempo, alias, eu sabia desde que você sugou todo meu sangue uterino pela Segunda vez, mas também me apaixonei por você e esperei pacientemente por este momento. Olhamos-nos e nos beijamos demoradamente e então ela falou: _ Me transforme em uma vampira como você, para ficarmos mais próximas com laços de sangue eterno. Foi quando tive a idéia perfeita de enganar o velho e os que viriam com ele para me destruir. Na noite seguinte havia uma multidão em frente à minha casa preste a invadir com tochas, armas e coisas do tipo. Izabel então abriu a grande porta dupla e se pôs a falar com o velho que liderava o grupo e havia me reconhecido. _ Como ousa a vir profanar uma casa em luto, onde a morte abriu suas asas e levou minha amada patroa. _ Mas como isso, eu a vi ontem, ela é um demônio. _ Então você é o culpado pela morte dela. Ela voltou triste para casa ontem por ter encontrado um velho conhecido que a recebeu com ofensas por causa de sua cirurgia plástica facial que a manteve com aspecto mais jovem, e suicidou-se, cortou os próprios pulsos, e eu a encontrei dentro da banheira cheia com seu próprio sangue e já sem vida, maldito seja você. Todos os que haviam vindo com o velho se condoeram e entraram para velar o corpo da pobre mulher que havia se suicidado. O velho incrédulo entrou correndo derrubando algumas pessoas e fincou uma estaca em meu peito, isso confesso que doeu muito, mas tive que XXIV

conter a dor e assim mostrar a todos que eu realmente estava morta. Naquela mesma noite todos ajudaram a sepultar a mulher que no caso era eu, e em uma outra a cova, o velho que eles lincharam por fazê-los de idiotas. Izabel voltou para casa e dormiu pouco, pois preparou todas nossas coisas para uma nova viagem, e quando a noite caiu, ela estava no cemitério esperando para que eu saísse de baixo da terra, e foi isso o que fiz. Eu a vi maravilhosa em um vestido negro com partes confeccionadas em um véu rendado negro e transparente, ela estava vestida para mim, e eu a aceitei de braços abertos. Beijei-a primeiro nos lábios, então enquanto nossas mãos nos acariciavam, eu mordi seu pescoço e drenei seu sangue até a fronteira da morte, então fiz um corte em meu seio do lado direito com a unha e a fiz beber meu sangue. Izabel tombou ao chão tendo as convulsões da morte natural e ressurreição ao mundo dos vampiros. Ela se levantou mais branca que antes, uma palidez angelical e mórbida ao mesmo tempo, igual, senão maior que a minha, e eu a desejei ainda mais do que antes. Voltamos escondidas para a casa, pegamos nossa bagagem e fomos para o aeroporto. Antes do embarque, eu vi um vampiro que me observava, um rosto que eu já havia visto antes. Busquei sua face em minha memória e me lembrei de seu rosto na estação ferroviária onde eu peguei um trem e deixei Lugubrous. Fui até ele, e perguntei o que ele desejava. Ele se apresentou como Dark Krishnevil, e que não desejava nada, foi apenas uma coincidência se encontrarmos novamente. Contou-me sobre os acontecimentos que ocorreram com Lugubrous que havia posto um fim em Memoriant em uma batalha maligna e da busca em que Lugubrous estava enfrentando. Disse que ele também estava envolvido nesta busca por vontade própria, e que faria tudo para ajudar Lugubrous. Meu avião estava preste a partir, então nos despedimos e lhe falei que também ajudaria Lugubrous no que pudesse ajudar, e ao despedir-nos, eu sabia que nos reencontraríamos mais vezes.

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XIII – Visita Ao Interior

Como já havia passado bons anos desde minha partida do Brasil, eu resolvi voltar para lá. Descemos no aeroporto de São Paulo, pois eu queria passar pelo cemitério onde Pietrus havia deixado de existir. Ficamos por volta de uns dois anos e meio morando em um prédio antigo, mas muito seguro, ninguém nos perguntava nada sobre nossos costumes noctívagos ou por morarmos juntas, mas eu decidi morar um pouco mais pelo interior deste estado, então nos mudamos para uma cidade chamada Valinhos, que fica à aproximadamente uma hora da cidade de São Paulo, e uns dez minutos de Campinas, outra cidade relativamente grande. Valinhos era uma cidade muito calma, as pessoas tinham poucas opções noturnas, que as levavam a saírem para outras cidades vizinhas, onde “curtiam” suas noites. Compramos uma chácara, não muito afastada do centro da cidade, e muitas noites caminhamos pelas ruas vazias desta cidade, e sempre que aparecia algum “perdido na noite”, nós nem saíamos para caçar em outra cidade. Nestas nossas andanças noturnas, conhecemos cinco góticos desta cidade, eles eram bem interessante, por isso apenas nos tornamos amigos e eu não drenei o sangue deles, eles raramente eram vistos naquela cidade, e pouco se sabia a respeito deles, perfeito, como nós os seres da escuridão. Fomos convidadas uma vez por eles para irmos a um bar em Campinas onde rolava som gótico e coisas dos anos oitenta, foi muito divertido, havia vários jovens e adultos vestidos em sobretudos, lentes de contato, enquanto uma banda tocava músicas covers de bandas como The Sisters Of Mercy, Joy Division, The Cure, Dead Can Dance, entre outras do estilo. Havia um pessoal jogando um jogo chamado R.P.G. (live), onde eles fingiam serem vampiros de clãs diferentes, fomos até convidadas a participar do jogo, e mesmo sem saber como funcionava o sistema direito, nós participamos e nos divertimos muito. Após a banda acabar de tocar, passou um filme de vampiros e depois ainda, vídeos clipes de bandas góticas. Fomos embora um pouco antes do amanhecer, nos despedimos de nossos amigos, e até hoje creio que ninguém desconfiou que duas pessoas que estavam presentes naquela noite desapareceram, pois nos alimentamos por lá mesmo e escondemos os corpos em um lugar onde ninguém jamais imaginaria poder ter alguém. Três noites depois, fomos a um cemitério onde apenas havia pequenas lápides com os nomes dos sepultados no grande gramado encoberto por inúmeras árvores, um lugar que transmitia enorme paz com um ar de tristeza, XXVI

mas nesta noite sentimos uma melancolia muito grande cercando o lugar, um grande contristamento pairava no ar. Fomos à busca da fonte de toda esta dor, e quanto mais nos aproximávamos, mais sentíamos a melancolia e um cheiro, sim, um cheiro muito, muito antigo de morte, um cheiro que além de nós vampiros, raros outros seres podem senti-lo. Ao longe em meio a alguns arvoredos havia a sombra de uma pessoa, ela estava sentada próxima a uma lápide e os longos cabelos voavam ao vento que soprava uma triste canção de ninar. Aproximamos-nos, pois não havia nenhuma premonição de perigo, só a tristeza que nos dominava cada vez mais, e ali sentado junto à lápide número seiscentos e sessenta e seis estava um vampiro. Ele era alto, mais ou menos um metro e oitenta, oitenta e cinco, cabelos de um castanho claro com alguns fios meio avermelhados e compridos, deixando seu rosto ainda mais pálido, triste e delicado, mais atraente ainda. Seu nome era Anlert, e de seus olhos estavam correndo as lágrimas de sangue enquanto olhava perdido para a lua que iluminava sua fria face serena. _ Porque nós amamos e deixamos nosso amor morrer em nossos braços após a última gota de sangue? Ele perguntou-nos sem tirar seus olhos da direção da lua. _ Eu não sei, tudo que posso dizer é que cada vez que procuro meu alimento eu me apaixono, e desta paixão eu bebo todo o prazer e a vida que me alimenta. Respondi enquanto Izabel deitou-se entre minhas pernas ao mesmo tempo em que eu abracei Anlert sentando ao seu lado, então Izabel disse sussurrando: _ Nós não devemos nos apegar aos mortais, nosso pecado é punido com nossa solidão, nossa tristeza, nossos corpos frios... _ Frio... Corpo frio e vazio, apenas o enorme vazio que preenche nossa alma condenada. Completou Anlert. _ Mas temos a nós, um amenizando a dor do outro... Antes que eu dissesse mais alguma coisa ele comentou: _ Sim amenizando, mas jamais trazendo a paz, apenas grãos de areia na praia de nosso eterno sofrer, de nossa eterna ventura. Izabel voltou seus lindos olhos para os meus e segurou minhas mãos dizendo: _ Podemos amar eternamente, mas nosso amor jamais será correspondido por completo, e talvez até nós não amemos suficientemente uns aos outros... _ Talvez... Mas sempre estará lá a nossa espera por mais que nos esforçamos para esquecê-lo. Após estas palavras de Anlert, ficamos até próximo do dia começar a nascer em um silêncio confidente. Convidei Anlert para dormir em nosso lar para que pudéssemos nos conhecer melhor na noite seguinte, mas ele disse que tinha assuntos XXVII

importantes para serem resolvidos nas próximas noites, e assim que tudo estivesse em ordem, ele nos encontraria. Despedimos-nos com uma tristeza maior de que quando chegamos, nossas lágrimas e dor foram mútuas e sinceras. Já em nosso refúgio, pedi a Izabel que dormisse junto a mim em meu caixão, ela me olhou e comentou em tom baixo que iria pedir a mesma coisa. Estávamos muito mais frágeis e sensíveis que nunca, Anlert mexera muito em nossos corações rasgados pelo tempo, não apenas por suas sinceras palavras, mas pelo seu encanto, sua tristeza, era o tipo de ser que não precisava dizer nada para lhe conquistar para sempre, e assim foi conosco. Deitamos em meu ataúde, fechei a tampa, nos abraçamos bem forte e nos beijamos chorando enquanto o sono nos foi dominando até tudo ficar em silêncio e escuridão dentro de nós.

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XIV – Um Ancião

Passaram-se cinco noites e nós não tivemos nenhuma notícia de Anlert, eu comecei a pensar muitas coisas e em tudo que conversamos naquela noite de nosso encontro casual. Eu estava próxima à lareira que eu havia acendido para sentir um pouco do calor do fogo enquanto Izabel estava sentada em uma de nossas poltronas de veludo vermelho no canto mais escuro da enorme sala em que nos encontrávamos. _ Izabel! Comecei a chorar e falar desesperadamente; Izabel! Ele se entregou à luz do sol! Por isso ele estava lá, ele queria acabar com a dor, ele morreu!!! Cai de joelhos no chão deixando minha cabeça descansar entre as pernas de Izabel que começou a chorar junto a mim enquanto acariciava meus cabelos com suas mãos delicadas, mãos brancas como a neve. _ Sim, eu iria fazer isso... A voz de Anlert nos fez ficar em pé e assustadas. _ Não fiquem assustadas, vocês não são as únicas que não conseguem pressentir minha chegada, muitos vampiros não conseguem perceber minha presença quando eu não quero ser percebido, talvez seja um dos dons que recebi ao ser transformado e se desenvolveu com o tempo. Corri em sua direção e abracei-o forte, e Izabel abraçou a nós dois, e ficamos ali alguns minutos sem falas, apenas três corpos frios abraçados na morte em uma grande sala que era iluminada pelo fogo que crepitava na lareira. _ Porque você iria se entregar ao sol? Perguntei. _ Isso ainda não sei como lhe responder, também me pergunto porque, talvez seja por Ter visto a mesma história se repetir por muitos séculos... Milênios... _ Que história? _ Toda história, nações nascendo, evoluindo e se destruindo, amar e ver o amor definhar, envelhecer e morrer, enfim muitas histórias... ou talvez seja pelos olhos dela que jamais tornarei a ver novamente... e isso dói muito... Foi quando vi seus olhos pensamentos antigos, e foi quando me dei conta de quão antigo era aquele ser que estava em pé na minha frente. Pela primeira vez prestei atenção em sua palidez cadavérica, mais branca que a minha pele, seu corpo com tecidos mais rijos que de muitos vampiros, parecia uma pedra de mármore macia e aveludada que se movia suavemente, e os olhos, aquele brilho de quem presenciou infinitas gerações e batalhas. Seria este ser um dos antigos anciões que dizem existir entre os vampiros mais jovens, os que se levantam de suas tumbas secretas para beber o XXIX

sangue dos mais jovens? Será que é a tal da Gehennah que citam nos tais R.P.G.s que se aproxima? Pensei nisso naquele momento, e percebi uma leve expressão de riso em sua fria face. _ Talvez, disse ele, talvez eu seja uma destas bestas que virão clamar pelo sangue dos mais jovens, mas isso você poderá descobrir com o tempo. Quanto a minha existência, talvez eu possa ser considerado como um dos anciões, pois até Lugubrous é mais jovem que eu. _ Você conhece Lugubrous? _ Como já lhe disse, sou mais velho que ele, e nas minhas andanças pelo mundo, já nos cruzamos várias vezes, já bebemos sangue juntos, e já tivemos desentendimentos, mas ainda nos encontraremos mais vezes, este planeta não é tão grande quanto nos parece. _ Puxa vida, todos conhecem este Lugubrous e eu ainda não, quando nos encontraremos com ele para que eu o conheça? Quis saber Izabel que naquela época ainda não conhecia Lugubrous. _ Nós nunca sabemos como e nem quando nos encontraremos com outros de nossa espécie, isto sempre ocorre casualmente, como nosso encontro no cemitério. Comentou Anlert. _ Não sei quanto a vocês, mas estou com uma terrível sede, não me alimentei muito bem esta semana que se passou, e nem você minha linda Izabel. Falei com uma voz sensual e provocante que fez os lindos olhos de Izabel me observar com seu olhar sedutor e insinuante. _ E você Anlert, vem conosco para a caçada? Perguntou Izabel abraçando Anlert por trás e sussurrando em seu ouvido. _ Farei companhia a adoráveis damas da escuridão nesta bela e fria noite, e que nosso banquete seja farto e suculento. Saímos então em busca de nosso alimento. Não precisamos ir muito longe, pois estava acontecendo uma festa em uma chácara ali por perto. Entramos sem sermos convidados e logo seduzimos aqueles que seriam nossa refeição. Levamos os três escolhidos para nossa moradia. Eu me deliciei com um jovem loiro de olhos azuis, enquanto Izabel se satisfez em um rapaz de cabelos ruivos parecidos com os dela. Fiquei curiosa em ver Anlert se alimentar, uma vez que ele quis ficar fora da casa para beber. Fui caminhando silenciosamente até uma grande janela e pude ver Anlert acariciando a pele da jovem de cabelos negros e lisos com olhos asiáticos que ele havia escolhidos naquela noite, sua mão deslizava em movimentos leves e constantes enquanto ele beijava a boca sensual de sua vítima. Ele virou-a de costas para ele, despiu o vestido azul escuro de seda que ela vestia e suas mãos começaram a brincar em seus seios e pernas até penetrála com seu membro e cravar os dentes em seu macio pescoço saboroso e começar a sugar o sangue enquanto transava freneticamente. Quando ela estava quase sem vida, eu presenciei um ato que ainda não tinha visto nenhum outro vampiro fazer ainda, eu apenas tinha ouvido falar de XXX

vampiros que cultivavam este habito, mas ver ao vivo com meus próprios olhos foi a primeira vez, ele virou-a de frente para ele, beijou-a nos lábios e enquanto sua mão esquerda segurava a mulher, a outra mão estava livre entrou entre o peito dela e saiu novamente com o coração preso entre seus dedos ainda com um fraco pulsar. Levou então o órgão até sua boca e sugou todo sangue que ainda restava dentro dele. Após beber o sangue do coração, ele devolveu o órgão para dentro do corpo, abraçou-a já sem vida alguma e ficou ali parado como se tivesse acabado de amar aquela linda mulher, e foi o que realmente fez, ele a amou e bebeu todo amor que havia nela e beijou-a com um beijo de adeus os lábios mortos de sua presa. Afastei-me da janela e fui para meu caixão, o dia iria chegar em breve, e Anlert já estava partindo para seu refúgio sem se despedir, mas eu sabia que ele iria se livrar do corpo, pois o vi carregando-a em seus braços como quem leve uma pessoa amada que acaba de morrer em seu campo de batalha. Ouvi o caixão de Izabel se fechar e meus olhos também fizeram a mesma coisa.

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XV – Bebendo Entre Imortais

Passaram-se dois meses, e durante este período, eu não vi Anlert beber mais sangue, e então decidi perguntar como ele conseguia passar tanto tempo sem beber nosso apreciável líquido. _ Eu já não necessito de tanto sangue, e o sangue humano tornou-se fraco para mim. Eu bebo de sangue humano apenas para me divertir e sentir seus corpos quentes em meus braços. Posso ficar muitos meses sem me alimentar, venha comigo, hoje irei fazer meu desjejum. Fomos até um casarão muito velho, esquecido pelo tempo e pelas pessoas. Lá de dentro saiu um vampiro muito jovem, deveria Ter uns dez ou doze anos de transformação em vampyr. Seguimos furtivamente entre a mata úmida após um dia chuvoso, e quando nos aproximamos de um putrefo pântano, Anlert fez sinal para que eu parasse e observasse de onde eu estava. Ele chegou muito próximo a sua presa, a mais ou menos uns três passos de distância e então falou: _ Este é um bom lugar para um morto não ser encontrado. O outro de um salto virou-se para Anlert que ria ao ver o susto que causou no pobre coitado. _ Mas como chegou tão perto sem que eu o percebesse? Quem é você? _ Bem, esta questão de como cheguei tão perto, estou me cansando de responder, talvez esteja embutido em meus dons desde minha criação, e eu vim aprimorando durante o tempo em que andei por este planeta, digo isso porque também passei algum tempo enterrado ao solo, as vezes isto é bom também; já sobre quem sou, apenas direi meu nome, pois minha história atravessa os séculos e até alguns milênios, me chamo Anlert, e hoje serei teu carrasco. _ Oh, Anlert, mais um destes vampiros de nomes estranhos, meu nome é... Antes dele se apresentar, Anlert disse o nome dele. _ Gilbert, eu sei quem você é. _ Como?! _ Isso não vem ao caso agora, apenas posso dizer que sua ventura acaba por aqui. Anlert o segurou com seu abraço forte, o abraço de um ancião, tornando impossível à fuga de um vampiro novo como Gilbert. Enquanto ele drenava o sangue, seus olhos se abriram e me observavam. Após a última gota, ele chupou o negro coração de Gilbert esmagando-o em seguida com suas gélidas mãos. _ Você ira beber em nós também, não ira? Perguntei. Nós somos teu alimento. _ Não, eu bebo poucas vezes, como pode comprovar, fico meses sem beber, fora o tempo que nos conhecemos, eu já estava muitos meses sem me XXXII

alimentar, e o sangue dos vampiros mais jovens são meu alimento, mas eu só bebo de seres como Gilbert. _ Como assim de vampiros como Gilbert? _ Vampiros que não respeitam algumas regras, como exemplo, Gilbert matou seu criador, se mostrava de forma aberta aos meros mortais, etc... _ Entendo, mas como você sabe estas coisas sobre Gilbert? _ Simples, eu sempre sigo os boatos sobre cidades, vilas, etc... Que dizem Ter um vampiro ou coisas do tipo, estes idiotas como Gilbert adoram serem populares, mas nunca pensam nas conseqüências, e então muitos desses boatos se revelam serem verdadeiros, ai eu pesquiso o passado de minha provável refeição, e quando minhas suspeitas sobre a vítima são como as de Gilbert, eu me alimento como pode ver, mas saiba, tem alguns vampiros muito mais velhos que eu, não sei se estão enterrados aguardando algum momento certo para reaparecerem entre nós, e é com estes que vocês devem Ter cuidados especiais, talvez até eu possa ser sugado por alguns deles, embora ache isso meio improvável. Voltamos por algumas ruas escuras e seguimos até o centro da cidade, onde encontramos Izabel sentada no banco de uma praça observando o luar que estava lindo naquela noite. - Como foi o passeio? Perguntou ela em um riso despreocupado, quase angelical que me fez lembrar porque me apaixonei por ela desde a primeira vez que a vi. - Foi interessante, por assim se dizer, ou melhor, ainda posso dizer que foi instrutivo, depois lhe conto tudo. E você, o que andou fazendo? Comportou-se como uma boa menina? - Se eu me comportei bem? Ela falava fazendo uma encenação de garotinha levada que está levando uma bronca de seus pais, com o dedo indicador de sua mão direita entre os lábios em forma de “biquinho”, a mão esquerda entre as coxas que balançam de um lado para o outro, e observando com os cantos dos olhos. Nós três rimos, Izabel se levantou, demos nossas mãos uns aos outros e saímos caminhando como três amigos no jardim de infância. Chegamos perto de um cemitério, em um jardim com gramas e flores e acabamos nos encontrando com nossos amigos góticos, eles estavam bebendo vinho e disseram que a polícia havia os retirado de dentro do cemitério, então resolveram ficar por ali mesmo. Apresentamos Anlert a eles como um amigo nosso que passaria algum tempo conosco, e ficamos conversando sobre vários assuntos como, por exemplo, política, religião, sexo, história (e isso nós sabemos até demais). Nossos amigos chegaram a comentar que Anlert até parecia um vampiro que realmente vivera em certos lugares de suas histórias, pois relatava acontecimentos e fatos com tal realismo, que só quem viveu e presenciou poderia detalhar da forma que ele fazia. Nós olhávamos uns para os olhos dos outros e ríamos, pois eles provavelmente cairiam duros se soubessem que XXXIII

realmente presenciamos os fatos que relatamos. A manhã estava próxima, então nos despedimos e cada um seguiu seu caminho para casa. Faltava algum tempo antes do sol nascer, eu olhei para Izabel, ela entendeu e esboçou seu riso de menina levada e segurou minhas mãos, nos beijamos, tiramos nossas roupas, entramos em meu caixão e fechamos a tampa.

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XVI – Frio Na Madrugada

No anoitecer do dia seguinte fazia muito frio, não sei porque, mas eu sabia que deveria ir para São Paulo, como se algo estivesse me avisando de alguma coisa. Conversei com Izabel e nos preparamos e fomos pegar o ônibus. Ao chegar na rodoviária, Anlert estava nos esperando. _ O que faz aqui? Perguntei. _ Oras, vamos até S.P. _ Como você sabe que iremos até lá? _ Quem você acha que lhes invocou mentalmente? _ Estranho, como você entra em nossas mentes desta forma, eu nem percebi que era alguém tentando se comunicar comigo, é como se fosse algo dentro de mim mesma dizendo que devo fazer algo, como isto é possível? _ Com o tempo você poderá desenvolver mais seus dons noturnos, ai o que você faz hoje com seus poderes será como um simples truque de mágica para iniciantes. _ E o que faremos em S.P.? _ Krishnevil está nos esperando, falei com ele por telefone e vamos para uma pequena e rápida reunião e tomarmos algumas decisões. _ Reunião? Decisões? _ Algo está acontecendo, lá nós conversaremos melhor sobre o assunto, agora vamos, o ônibus chegou. Fui pensativa sobre o que estaria acontecendo, o que seria esta reunião. Pela janela do ônibus eu via o asfalto, árvores e prédios de concreto no decorrer do caminho, carros passando apressados por nós. Na poltrona próximo a porta de entrada, uma garotinha jogava seu mini-game distraidamente enquanto sua mãe cochilava ao seu lado e seu pai trabalhava com um notebook. Meus olhos correram por todos presentes ali, e eu sentia cada um perdido em seus pensamentos enquanto outros dormiam despreocupadamente. Descemos no terminal Tietê e a garoa intensa não incomodava, nem o frio, nossas capas nos protegiam naquela noite em que eu estava ansiosa para saber de que se tratava a tal reunião. Dark Krishnevil apareceu para nos recepcionar. Todos se cumprimentaram e fomos até o carro que Krishnevil havia alugado. Chegamos em um hotel de luxo ande Krishnevil se hospedara e subimos pelo elevador como humanos mortais. Já no quarto do hotel, eu perguntei sobre a tal reunião e onde estavam os que participariam do encontro. _ Estão todos presentes no recinto. Disse Anlert. _ Mas só estamos nós quatro aqui. _ Exato, somente nós participaremos neste encontro. XXXV

Lá fora a chuva havia apertado um pouco mais e a noite se tronava mais sombria, eu parei perto de uma janela de vidro meio opaca e olhei para as imensas nuvens negras encobrindo todo o céu, e sendo cortadas vez por outra pelos relâmpagos seguidos de trovões tormentosos. Batidas na porta foram ouvidas e Krishnevil comentou: _ Deve ser Murlok, ele veio comigo para o Brasil. A porta se abriu e realmente era Murlok, um vampiro de aproximadamente um metro e setenta e seis de altura, olhos negros e sem cabelo algum, ele provavelmente raspava sua cabeça com alguma navalha todas noites após se levantar, um típico nosferatu dos cinemas. _ Bem, começou a dizer Anlert chegando mais próximo a nós fechando um círculo, agora que estamos todos aqui, podemos dar início a nossa reunião. _ Sim. Disse Krishnevil. Ivant reapareceu e fugiu aqui para o Brasil, estamos alertando a todos que estão por aqui para que nos avise a qualquer sinal dele. _ Quem é Ivant? Quis saber Izabel. _ Ivant, Humn! Anlert fez uma expressão de desprezo e começou a falar sobre o ser em questão. Ivant foi abraçado para o mundo vampírico uns setenta anos após Lugubrous ter sido transformado, e disse também que foi Dórius quem o Criou, alias, onde estará Dórius agora? Será que realmente está morto como dizem? Ou será que se enterrou enganando a todos, um bom truque dos anciões para desaparecerem por algum tempo sem serem seguidos e perturbados. Anlert se virou para mim e falou: _ Ele é muito antigo, se estiver vivo, pode muito bem ser um destes anciões que despertarão atrás do sangue de todos nós, mas isto é uma outra história, voltemos a Ivant. Ele viveu alguns séculos em paz com os de nossa espécie, mas depois se tornou um problema para nós, primeiro ele conseguiu matar um vampiro muito velho e bebeu todo o sangue deste mesmo. Depois entrou em esquemas de magia negra, começou estuprar mulheres mortais e deixa-las vivas para contarem sobre seus atos sádicos, enfim, vários casos que levaríamos algumas noites para comentarmos. O fato é que nós o aprisionamos em um caixão de chumbo e enterramos debaixo de uma catedral, mas alguns historiadores sem saber acabaram o libertando e consequentemente o alimentaram com o próprio sangue e vidas. _ Formamos grupos para caçá-lo, mas ele conseguiu desaparecer. Acrescentou Murlok. Semana retrasada foi visto embarcando em um avião para o Brasil. Avisamos amigos pelo país e aqui estamos, contando a vocês o que aconteceu, agora sabem, irão nos ajudar nesta “caçada”? Concordamos, mas agora tínhamos um problema, o de como encontrar Ivant neste país tão grande. Murlok percebendo o que pensávamos comentou: _ Estou chegando de um contato nosso, e segundo as informações que obtive, é que Ivant está aqui em São Paulo, embora ainda não saibamos o local XXXVI

exato onde se esconda, mas logo ele terá que se apresentar em algum lugar. Nesta hora acabou a energia elétrica. Fui até a janela para ver a chuva e Izabel parou ao meu lado. _ Algo estranho está acontecendo aqui. Comentei. Olhe as luzes na rua lá embaixo, estão todas acesas assim como as dos prédios a volta deste. Foi quando pressenti o perigo se aproximando. Foi tudo muito rápido, quando fui correr, uma estaca varou minhas costas atravessando meu peito, e eu caí no chão sentindo meu sangue jorrar para fora me deixando muito fraca e com uma dor insuportável. Ouvi apenas gritos, vidros se quebrando e vultos indo e vindo com uma velocidade vampírica incrível. O pior de tudo é que senti o amanhecer se aproximando. Algumas mãos me pegaram e fui levada para um cômodo vedado contra a luz. Senti a estaca ser puxada para fora de meu corpo e mais sangue escapar pelo ferimento. Comecei a chamar por Izabel com a voz enfraquecendo a cada palavra. _ Izabel... Izabel... Izabel... Então a escuridão do sono fez tudo sumir a minha volta, assim como a dor.

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XVII – Farto Banquete

Acordei na noite seguinte com uma fome dilacerante, meu ferimento estava quase que fechado por inteiro, até o final da noite já não teria mais nada onde antes havia um enorme buraco. Minha roupa estava rasgada onde à estaca entrara e por onde saíra e também toda suja de sangue coagulado. Anlert entrou no quarto onde eu estava e disse para que eu fosso me banhar. Fui até um enorme banheiro que havia naquela suite, me despi e entrei na banheira com água quente. Anlert entrou no banheiro acompanhado por duas lindas garotas nuas, uma de cabelos preto cortado até o queixo, e a outra de cabelos castanhos encaracolados até a cintura. _ Contratei as duas para cuidarem de você, divirtam-se. Ele saiu do local e as duas entraram na água junto a mim. Entendi muito bem o que Anlert quis dizer, ele sabia que eu acordaria com uma fome tremenda após Ter perdido tanto sangue na noite anterior, então ele contratou duas garotas de programa dizendo a elas que era apenas para meu divertimento. Aproveitei para realmente me descontrair com as duas e só depois de me satisfazer sexualmente foi que eu bebi o sangue delas em um êxtase final. Elas ficaram mortas uma de cada lado, enquanto eu virei para a de cabelos curto e beijei seus lábios já esfriando no lado direito, e depois beijei a outra do lado esquerdo. Levantei-me e sai da banheira que estava com suas águas vermelhas de sangue. Vesti-me com um grosso vestido preto que Anlert deixara para mim em cima da cama e fui até a sala onde todos se encontravam. Murlok passou por mim dizendo que iria se livrar dos corpos e eu olhei para Anlert e Krishnevil percebendo a ausência de Izabel. _ Onde está Izabel? _ Ele a levou. Falou Krishnevil olhando para baixo. _ Como assim, ele a levou? Anlert veio e me abraçou dizendo: _ Ivant nos surpreendeu, enquanto socorríamos a você que foi traspassada por uma estaca que ele lançou, e também já havia fincado outra em Izabel, deixando-a vulnerável e levou-a com ele. _ Maldito! Porque Izabel? O que ela tem a ver com sua loucura? _ Nada, ele nos ligou enquanto você se banhava e disse que a manteria prisioneira em seu esconderijo até terminar o que veio fazer aqui, que segundo ele é apenas se divertir, se nós tentarmos impedi-lo ou qualquer outra coisa que tentarmos contra ele, Izabel pagará com a própria vida. _ Vou matá-lo com minhas próprias mãos e beberei o sangue de seu coração ainda quente em minhas mãos! XXXVIII

_ Tenha calma Pale, temos que Ter muita calma e cuidado para não cometermos nenhum erro que possa prejudicar e ser fatal a Izabel. _ Eu sei, mas não podemos ficar aqui parados sem fazer nada. _ Isso nós não faremos, já temos pessoas vasculhando possíveis lugares onde Ivant possa estar refugiado. Saímos em busca de pistas que pudesse nos levar ao encontro de Ivant. A noite estava bem fria e só uma fina garoa descia das nuvens que ainda tampavam o céu. Passando perto de um cemitério onde havia um grupo de roqueiros reunidos, e lá senti um cheiro familiar de vampiro. No meio do grupo distingui o mesmo, tentando se passar por mortal entre os outros, mas ao perceber que eu o descobri, ele se despediu rapidamente dos outros, saltou o muro para a rua e saiu correndo. Foi difícil de alcançá-lo, ambos corríamos com nossa velocidade vampírica. As pessoas pelas quais passávamos apenas sentiam um leve vento e um calafrio, só éramos vistos quando dávamos algumas paradas para fitarmos um ao outro com as presas à mostra como cães prestes a uma briga. Ao passarmos em frente ao MASP na avenida paulista, eu parei na calçada ao perceber um outro vampiro, enquanto o que eu perseguia vacilou ao sentir a mesma presença, o idiota ficou bem no meio da avenida e foi lançado a uns cinco metros de distância por um carro que colidiu contra seu corpo a uns cento e vinte por hora, azar do motorista que estava fugindo da polícia após roubar o carro e com o atropelamento, perdeu a direção e bateu em cheio em um poste, o air bag falhou e o infeliz ainda teve tempo de sorrir bem alto, com efeito, da cocaína em seu corpo e morrer logo em seguida. A presença que eu senti era Murlok que já estava imobilizando o vampiro fujão que eu perseguia. Levamo-lo para uma igreja velha e abandonada em um lugar bem afastado na periferia e começamos nosso interrogatório. Ele não era nenhum vampiro conhecido nosso, e tinha se tornado em um vampyr há pouco tempo. Revelou-nos que tinha sido abraçado por Ivant há duas semanas e que estava esperando ele no cemitério. Não conseguimos saber onde Ivant se escondia, pois não revelara seu refugio a seu discípulo, eu estava com muito ódio de Ivant naquele momento e não quis nem saber o nome do jovem vampiro e nem dei chances para ele escolher outro caminho longe de Ivant, enfiei minha mão direita em seu peito e arranquei-lhe o coração e esmaguei-o em seguida. Comecei a dar socos e chutes no resto do corpo e também comecei a desmembrá-lo, primeiro um braço, outro, então uma perna, mas Murlok me segurou e disse para que eu parasse, para que eu mantivesse a calma. Jogamos os pedaços do coitado na parte de trás da igreja para quando o sol nascesse pudesse acabar com os restos que ainda sobraram do infeliz. Anlert esperava fora da igreja, ele havia nos seguido desde o MASP e ficou escondido lá fora nos esperando. XXXIX

Elaborei um plano e logo pusemos em ação. Fui até o cemitério onde havia encontrado o vampiro que destruí e fiquei a espera de Ivant, caso ele não houvesse passado por lá ainda para encontrar sua “cria”. Anlert se escondeu em um mausoléu, pois tinha seu “Dom” de conseguir ficar imperceptível a outros vampiros (só não sei se este Dom funciona contra os anciões), Murlok voltou ao hotel, pois poderia por em perigo nosso plano se fosse percebido. Depois de uma hora de espera, Ivant apareceu. Ele me viu e já ia se virando para fugir quando falei: _ Estou só, você pode sentir isso, não é mesmo. _ É verdade, não sinto mais nenhum de nós por perto, onde está Doy? _ Então era este o nome dele, que o céu ou inferno o tenha. _ Você o fez descansar para sempre não foi? _ Mais ou menos, pois não sei se existe descanso eterno. _ Tudo bem, eu não gostei muito de ter o tornado em um de nós, ele era um idiota. _ Como você, não é mesmo? _ Cuidado com as palavras, mas vamos direto ao que você quer de mim? _ Mas deixe de brincadeiras, não se faça de bobo, você sabe porque estou aqui, onde ela está? _ Em um caixão de chumbo bem guardado e trancado a sete chaves. _ Porque não me leva com você, não seria bom ter mais um de nós sob seu poder para suas exigências serem realmente cumpridas? _ E porque você viria sem lutar? _ Porque seu estaria junto a Izabel e saberia que não a machucaria. _ Então vamos logo, sem rodeios. Não acreditei que ele concordou tão fácil daquela maneira, isto só me provou que ele era mais estúpido do que parecia. _ Sabia que vou matá-lo depois de tudo isso? Comentei enquanto caminhávamos pelas ruas rumo a seu refúgio. Ele riu e continuou andando. _ Gosto de você, seríamos um belo par, um magnífico casal, não acha? _ Você é louco? Estúpido? Não entendeu, vou realmente destruí-lo. Ele riu mais ainda e seguimos nosso caminho. Entramos em um velho sobrado caindo aos pedaços, mas ao entrarmos dentro da casa, havia uma porta muito bem conservada e com uma tranca nova. Ele abriu os cadeados e entramos no cômodo bem protegido. Ele tornou a fechar por dentro, empurrou uma estátua de anjo esculpida em uma pedra que deveria pesar muito para os simples mortais, e se revelou um alçapão, que depois de aberto, tinha uma escada que descia para um lugar bem escuro e úmido. Descemos até uma espécie de cripta. Lá eu vi sobre alguns pedestais, o caixão de chumbo e ouvi os gritos de Izabel abafado lá dentro, ela pressentia minha presença no recinto. Eu quis abrir o caixão, mas Ivant não permitiu, e neste mesmo momento ouvimos uma pancada lá em cima que fez Ivant se calar e ir em direção a XL

escada para verificar o que era, mas eu já sabia quem era e comecei a inventar histórias para fazê-lo perder tempo e se surpreendido. _ Devem ser crianças jogando pedras. _ Isso nunca aconteceu enquanto estive aqui, e olhe as horas, que criança estaria por aqui numa hora desta? _ Tudo tem sua primeira vez, ouça, não há mais barulho algum, e nem pressentes nada, concorda? _ Sim, mas é bom verificar, como diz o velho ditado, todo cuidado é pouco. _ Você não vai verificar nada seu covarde! Falou Anlert sorrindo já atrás de Ivant, que saltou em um susto. _ Como isso aconteceu? Como chegou tão perto sem eu sentir tua presença? _ Não lhe interessa seu traidor! Corri para o caixão e o abri o mais rápido que pude, retirando as trancas e pinos que o fechavam por de fora. Izabel saiu lá de dentro em um salto e me abraçou. E em três nós o cercamos e o agarramos. Ivant se debatia com toda sua força, mas conseguimos jogá-lo dentro do caixão de chumbo e fechá-lo. Anlert pegou um telefone celular que trouxe em seu bolso e ligou para Murlok e passou o endereço de onde estávamos. Uma hora e meia depois chegou Murlok com uma caminhonete alugada e entrou de marcha ré até bem próximo a porta que Anlert derrubou para entrar. Carregamos o caixão atrás da caminhonete e envolvemo-lo com uma grande lona preta que Murlok trouxe junto ao automóvel. Voltamos ao hotel e subimos com o enorme “pacote” pelas escadas, havíamos dito ao porteiro que era uma escultura que havíamos comprado e logo levaríamos embora. Deixamos o caixão em um quarto bem trancado e fomos para os nossos para podermos descansar, pois mais uma vez o dia se aproximava. Anlert havia dito que iria levá-lo ao lugar onde Ivant era mantido preso, e que tudo voltaria ao normal. O dia mostrava seus primeiros raios solares, todos estavam em seu sono, mas eu lutava contra o meu. Voltei onde estava Ivant, abri seu caixão e finquei uma estaca em seu coração, ele abriu os olhos com a dor, e eu lhe dei um bom soco no meio de seu nariz e cortei seu pescoço com uma faca. Ele não conseguiria fazer nada por pelo menos meia hora, então eu o joguei no meio do quarto, tranquei o caixão para que ele não conseguisse entrar mais, arranquei as cortinas das janelas de vidro espalhadas por todo quarto. A luz começou a invadir o lugar e já estava queimando nós dois, eu corri, arranquei-lhe o coração e sai do quarto fechando a porta com a chave e fiquei ouvindo o maldito virar pó. Voltei para meu quarto com uma dor insuportável pelas queimaduras que obtive, mas deitei para meu repouso tranqüila, as queimaduras logo se XLI

curariam e Ivant não faria mais mal a ninguém. Então olhei para o lado e vi Anlert me cobrindo com um lençol fino com seu ar de cúmplice ao meu crime, sim eu deveria saber que ele estaria observando a tudo, mas não interferiu em nada, pois se eu não o fizesse, seria Anlert que o faria, foi ai que me toquei, Anlert iria beber o sangue daquele desgraçado. Ele riu para mim concordando ao ler este meu pensamento, mas meu sono me dominou de vez e eu dormi.

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XVIII – Maldito Sol

Meu despertar na noite seguinte foi estranhamente tranqüilo, ninguém estava esperando, pronto para dizer que o que eu fiz era errado ou coisas do tipo. Fui até o quarto onde Ivant estava e encontrei Anlert deitado sobre o caixão de chumbo e sem se mover começou a falar: _ Sorte não ter incendiado todo o edifício. Ele levantou-se virando para o lado direito do caixão com um riso nos lábios e voltou a falar: _ Após você dormir eu voltei ao quarto onde o fogo estava queimando Ivant, abri este caixão de chumbo e joguei-o aqui dentro para que terminasse de queimar sem por em risco a nós. Então voltei ao meu quarto ardendo em conseqüência dos raios solares terem me atingido, embora eu não possa ser destruído mais pelo sol, pois o tempo me tornou mais forte do que podes imaginar, e assim será com você e outros que atravessarem os séculos como eu. A dor é horrível, claro, pois o maldito sol queima muito nossa sensível pele, mas a destruição total, nem pensar, talvez apenas se passarmos vários dias seguido sendo expostos do raiar ao por do sol, sem dar tempo dos ferimentos se recuperarem por completo. _ E quanto a Ivant, mesmo ele sendo muito antigo, como foi destruído pelo sol? _ Bem seu coração foi arrancado, e ele perdeu quase todo seu sangue antes de ser exposto à luz, e depois de você dormir, lembre-se que eu voltei para me certificar da total destruição dele, aqui no caixão ainda resta alguns restos imundos de seu corpo que ainda não se queimaram por completo, e muitas células até estão se recompondo. _ E o que faremos? E os outros vampiros, espalhados pelo mundo, não irão nos perseguir por termos feito isso? _ Fique tranqüila, eu só deixei você fazer o que fez porque eu tinha sido avisado assim como qualquer ancião que o encontrasse, deveria destruí-lo, ele já estava se tornando um problema muito grande para nós, e quanto ao que faremos com estes restos de corpo, eu tenho um bom plano. Krishnevil e Murlok vieram nos ajudar a envolver o caixão com a mesma lona preta de antes e levamos o grande “embrulho” até a caminhonete que usamos na noite anterior, dando a mesma desculpa de ser uma escultura ao porteiro. Fomos até um necrotério e sem que ninguém nos visse, jogamos os restos de Ivant em um incinerador e o ativamos até que não restasse nada a não ser cinzas, que nós espalhamos ao vento que soprava naquela noite. O caixão nós enterramos em um buraco bem fundo no cemitério e XLIII

voltamos para o hotel onde Izabel nos esperava. Ela estava faminta e saímos para nossa caça. Murlok foi para sua caça sozinho assim como Krishnevil. Eu e Izabel decidimos beber juntas enquanto Anlert já não precisava de tanto sangue, então ficou para resolver alguns assuntos e telefonemas. Próximo a uma danceteria encontramos nossas vítimas, um casal de namorados que tinham pensamentos obscenos em mente, nós os convencemos de nós quatro irmos até a casa do rapaz que morava sozinho e ali perto. Chegamos na casa e começamos os jogos de sedução e prazer. Beijos, carícias e logo estávamos em uma grande orgia, e quando sentimos que o casal estava próximo ao maravilhoso orgasmo, nos tornamos o prazer em uma orgia de sangue e saciamos nossa sede por aquela noite. Livramos-nos habilmente dos corpos e saímos para uma caminhada noturna pelo resto da noite paulistana que ainda tínhamos pela frente. Paramos em um banco de uma praça qualquer que não lembro o nome e conversamos muito. Era chegada à hora de nossa separação, isso sempre acontece com os de nossa espécie, sempre chega o momento que cada um segue seu destino sozinho, mas sempre nos reencontramos e separamos novamente para a dolorosa solidão nas trevas. Krishnevil foi para Londres junto a Murlok na noite seguinte. Izabel também embarcou junto a eles, pois ela ficaria umas duas semanas por lá e depois decidiria para onde iria se aventurar sozinha. Após nos despedirmos, em meio a nossas lágrimas de sangue e o avião ter decolado, eu sabia que Anlert também partiria naquela noite. _ Perdoe por deixá-la só, mas tenho coisas a resolver, você sabe como são as coisas, apenas imprevistos e nada mais. _ Sim eu sei, nascemos para a eternidade, a eterna solidão. Caminhando de volta para o hotel, passamos em frente a um velho cemitério e Anlert parou repentinamente. - Vamos entrar um pouco aqui neste cemitério deserto, preciso lhe dizer algumas coisas antes de partir. Entramos e nos sentamos em um grande túmulo de mármore tão gelado quanto nossas peles. _ Carminalla, meu sangue é muito poderoso, eu bebi de ancestrais que me conceberam poderes que ainda nem sei que possuo, Lugubrous também recebeu sangue ancestral, não tão poderoso quanto este que corre em minhas veias, mas eu bebi o sangue de Lugubrous uma vez que precisei, e então ofertei meu sangue a ele, ele aceitou e tornou-se tão poderoso quanto eu, mas quando você bebeu nele, ele ainda não tinha recebido meu sangue, e agora estou lhe oferecendo nossa comunhão com este mesmo poder. Beijamos-nos sentindo nossas línguas se enlaçarem como duas víboras e nos abraçamos fortemente ficando assim por alguns minutos, apenas sentindo o corpo frio um do outro. Depois nos amamos em um amor funesto e cravei meus dentes no pescoço de Anlert e bebi seu sangue bem devagar enquanto escorria pelo ferimento, levando o prazer ao máximo possível, então Anlert fez XLIV

o mesmo em meu seio do lado esquerdo sugando quase todo meu sangue, e me fez beber o seu novamente. Nos abraçamos fortemente e nos separamos em um suspiro quase mortal, esboçamos um triste sorriso de despedida e ele foi desaparecendo vagarosamente entre as sombras dos velhos mausoléus.

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XIX – Atraindo Com A Morte

Decidi ficar mais um tempo em São Paulo até ver o que faria, se viajaria para algum lugar ou sei lá, eu precisava deste tempo sozinha para poder pensar em tudo o que aconteceu. Sai pelas ruas como uma simples mortal comum, hoje em dia temos muita facilidade de nos locomovermos entre os mortais sem desertar a atenção com nossa palidez, pois pensam que somos como alguns deles que se pintam para se parecerem com os vampiros da TV. Fui até um bar gótico, eu adoro estes lugares, pessoas depressivas, um mundo maravilhoso para nós. Conheci algumas pessoas, mas eu percebi que enquanto eu estava sentada próximo ao balcão de bebidas conversando com uma linda garota, um jovem aparentando uns vinte e três anos me observava sentado nos degraus de uma escada que levava ao andar superior. As velas que bruxuleavam na parede atrás dele davam-lhe um aspecto muito triste e sombrio. A princípio, pensei que ele estava apenas me observando como uma garota comum de lindos encantos que despertara seus desejos, sua paixão, mas eu comecei a perceber que em qualquer parte da casa em que eu estivesse, ele estava a me observar de uma forma diferente. Acabei me apaixonando por um garoto de dezenove anos que passou por mim. Quando digo que me apaixonei por este ser, digo que me apaixonei em minha sede. Seu jeito triste de caminhar e seus olhos chamando pela morte em uma dor por esta vida estúpida. Pude ver que quando este meu desejo pelo sangue do garoto me invadiu a mente, o jovem que observava quase expressou um riso em seu rosto, e eu percebi que ele sabia o que eu era, mas não deixei que isso interferisse em minha sedução pelos cabelos loiros de minha nova vítima. Após conquistar a minha pobre caça, eu o levei para uma rua deserta e escura para saciar minha fome, e fui sugando seu sangue bem lentamente, proporcionando um grande êxtase a nós dois, até que o garoto moribundo tombou sem nenhum vestígio de vida, eu senti seu desejo pela morte e lhe concedi a mesma. Deixei o corpo encostado na parede de um prédio como se fosse um bêbado dormindo após um porre, comecei a caminhar em direção a um poste com sua luz piscando por algum defeito e falei: _ Quem é você e porque me segue, sabe que vou matá-lo!? _ Não, você não vai me matar. Falou a voz do jovem que observava no bar e saia das sombras de um monte de lixo que estava empilhada na calçada para que os lixeiros recolhessem ao amanhecer. XLVI

_ Meu nome é Eillian, eu pertenço à irmandade obscura, você já deve ter ouvido falar de nós. Lembrei-me que Lugubrous me falou certa vez sobre esta irmandade negra, mas não me contou muito a respeito, apenas que era um grupo de bruxas, magos, feiticeiros, etc., e que entre eles tinham alguns que nos conheciam, uns amigos, outros inimigos e a maioria nem sabia que nós existíamos. _ Então você é um mago ou coisa parecida? Perguntei. _ Sim, ou melhor, sou um bruxo, mas ainda sou muito novo como você mesma pode ver, ainda tenho muito a aprender no mundo da magia. _ E porque me segue? Desde quando me observa? _ Eu fiquei sabendo que existiam vampiros realmente após ouvir uma conversa entre dois magos que já transcenderam a mortalidade com seus conhecimentos místicos, ouvi-os comentarem sobre um amigo deles chamado Lugubrous, apenas comentários de amigos sobre amigos, e fiquei sabendo que esse Lugubrous é um vampiro muito poderoso, e tem muito conhecimento em magia. _ E o que isso tem a ver comigo? _ Nada, é que eu comecei a ficar atento e observando melhor as pessoas durante a noite para ver se eu encontrava algum de vocês, e nesta noite, sem ter o que fazer, fui até o mesmo local que você escolheu, destino, coincidência ou não, eu percebi o que você era ao sentir seu desejo pelo sangue daquele pobre corpo ali. Ele apontou para o garoto que já começava a emanar o cheiro putrefo da morte, mas naquele momento, apenas para quem tem o olfato como o nosso. _ E o que faz me seguindo? Eu vou beber seu sangue se não desaparecer de minha frente, e nunca mais me siga ou tente me procurar. _ É isso que quero, que você beba meu sangue, e depois me de um pouco do seu, eu quero ser um vampiro, não quero ficar velho, não quero morrer, quero ser assim para sempre. _ E porque não pede ao seu mestre para lhe tornar imortal? _ Você sabe como é o mundo da magia, eles dizem que só depois de muitos estudos e trabalhos em laboratórios alquímicos nós conseguimos o elixir da eternidade, e muitos nem conseguem, ou morrem loucos ou por alguns experimentos que não dão certo, e se conseguir o tal elixir da eternidade, já se está muito velho, com aparência de velho, você me entende. _ Sim, mas ai se torna eterno já com grande sabedoria e não como nós, que ainda nos tornamos eternos ainda jovens e temos que ir aprendendo com o passar dos séculos e com a dor. _ Mas se tornam sábios, pelo menos os que querem. _ Sim os que querem, pois na maioria, nós apenas queremos o prazer e a luxúria, o sangue, a aventura. _ E para que querer mais que isso? Para ser sábio e ficar filosofando sobre o começo e o fim do mundo, porque tudo foi criado, qual o sentido da vida, buscando eternamente respostas que nunca serão respondidas? Foda-se XLVII

tudo isso, eu quero é mais viver e viver para sempre, grandes orgias escarlates me esperam, foda-se se Deus ou o Diabo existam e se forem julgar nossas almas, nossos atos em um juízo final, eu quero é ser eterno em carne e osso e sangue é claro, mais uma vez eu digo, foda-se o resto. Eu comecei a rir do jeito que ele falava seus palavrões, mas eu senti sinceridade em suas palavras, no animo em que ele falava. _ Infelizmente não posso torná-lo como um de nós. _ Porque não? Eu imploro. - Já pensou se transformássemos todos que querem ser vampiros em vampiros de verdade? Seria um caos. _ Porra!!! De-me uma chance, depois de eu fizer besteiras, vocês tem o poder de me destruir, concorda? _ Sim, com certeza isto seria fácil demais. Eu falei quase em um cochicho e fiquei observando Eillian que me olhava já com a face meio triste e infeliz, quase desesperada, então olhou para mim e disse: _ Caralho, o que tenho que fazer para você me transformar? Eu ri mais uma vez de seu vocabulário vulgar e lhe falei: _ Primeiramente deve parar de dizer tantas palavras obscenas, ainda mais para quem se acaba de conhecer, depois, vejamos, quem sabe um dia eu lhe dê a chance de se tornar um vampyr. Eu desapareci como um passe de mágica em livros de fábulas encantadas para os olhos mortais de Eillian, mas na verdade eu estava no alto de um prédio apenas observando. Ele começou um choro e depois se controlou. Decidi espioná-lo enquanto eu estivesse por São Paulo e quem sabe eu não o tornaria em um vampyr?!.

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XX – Magos Presentes

Nas noites que se passaram, eu ficava apenas nos cantos escuros observando Eillian. Cada movimento, cada palavra qualquer gesto por mais simples e comum que fosse, eu observava com imensa calma e curiosidade, eu queria saber tudo sobre ele, seu passado, sua cor preferida, seus gestos e costumes, enfim, tudo que pudesse me fazer conhecer o máximo possível sobre ele, sobre seu modo de pensar e agir. Em uma noite dessas que eu o observava, ele saiu de uma festa e estava um pouco alcoolizado, pois ele não bebia bebidas alcoólicas sempre, e bastava um pouco para deixá-lo meio “zonzo” por assim se dizer. Ele voltava para sua residência quando foi abordado por três assaltantes que davam empurrões com as mãos abertas em seu peito até ele cair. O marginal mais alto dos três parecia ser o líder, ele mandou seu companheiro que vestia um gorro vermelho e amarelo que eu achei simplesmente ridículo e me provocou risos que não deixei que eles ouvissem e fiquei apenas olhando ele cumprir a ordem de pegar a carteira e vasculhar os bolsos de Eillian. _ Nada chefe, o cara tá a zero. Disse o sujeito de gorro ridículo a seu chefe. Os malandros então começaram a chutar ferozmente Eillian no chão que nem conseguia se levantar. Eu fiquei furiosa, além destes vagabundos roubarem as pessoas que trabalham toda sua vida, ainda espancam ou matam se estes não têm nada. Saltei de me u esconderijo e esmaguei o pescoço do que vestia o maldito gorro bicolor e soltei-o sem vida enquanto o outro que estava ao seu lado me atacou assustado com a surpresa que causei a eles e o medo saltando de seus olhos ao ver que eu fiz com seu parceiro de trapaças e roubos. Ele tentou me furar com um punhal de prata que provavelmente roubara em algum lugar ou de alguma de suas vítimas pelas ruas. Eu desviava e ria de seu desespero comum por não conseguir furar uma indefesa garota até que me enchi do bale de desvios e segurei seu pulso com minha mão esquerda e torci para cima até seu osso aparecer em uma fratura exposta e ver o sangue jorrar. Em seguida peguei o punhal que estava caído ao chão e varei seu olho direito até chegar ao cérebro para sua morte, quando senti minhas costas sendo cortada por algo bem afiado. Olhei para trás e vi o que era o líder segurando uma senhora faca em sua mão, e a jogava de uma mão para a outra enquanto pela lâmina escorria um pouco de meu sangue. Fiquei furiosa com ele, e ele estava muito louco, devia Ter cheirado ou tomado algumas drogas pesadas. No canto de sua boca escorria um fio de saliva enquanto sua língua ia de um lado para o outro em sua boca aberta. XLIX

Fiz um movimento muito rápido para os olhos dele, que quando percebeu já estava com sua mão esquerda furada com o punhal cravado nela, ele estava preso à parede com este golpe. Eu arranquei a faca e fiz o mesmo com a outra mão, deixando-o crucificado na parede, de braços abertos e berrando insanamente, mas eu tampei sua boca imunda com minhas mãos gélidas e falei: _ Agora vou fazer minha refeição. Finquei meus dentes em seu pescoço de barba mal feita e bebi daquele imundo sangue até a última gota. Deixei o corpo pendurado na parede e voltei para Eillian que já estava em pé guardando sua carteira no bolso de trás de sua calça jeans. _ Nem sei como te agradecer meu doce sucubo noturno. _ apenas me de um beijo. Eu falei e o beijei antes de qualquer reação, e enchi sua boca com o sangue do marginal que eu acabara de me alimentar. Ele me empurrou, virou-se de lado cambaleando e vomitou na rua enquanto eu ria. _ Você não quer ser um vampiro? Mas como se nem tem coragem de provar o gosto do sangue alheio? _ Eu não estava preparado! _ Então beba agora! Mostrei minha língua pingando o sangue do vagabundo, e Eillian tornou a vomitar e eu ri mais ainda. _ Não estava preparado e nunca estará! Ele voltou a olhar para mim, mas ele só ouviu uma risada ecoando no ar, eu já havia desaparecido aos seus olhos que me procuravam assustados em vão. Ele voltou à caminha meio cambaleando rumo a seu lar, e eu o segui para certificar-me de que ele chegaria sem mais nenhum imprevisto a sua espera. Eillian chegou até uma velha casa, muito antiga, que mais se parecia com um castelo em miniatura. Ele parou em frente a porta dupla de madeira da frente e hesitou um pouco para abri-la e entrar, mas quando fez um gesto com sua mão para alcançar a maçaneta, a porta se abriu e um velho vestido em um manto negro apareceu para recebe-lo. Era um mago muito antigo pelo que pude ver, sua barba cinza chegava até a altura de seu peito, e seus cabelos brancos também com tons de cinza, alcançavam os ombros. Em sua mão direita ele segurava uma espécie de cajado que tinha entalhado em toda sua volta uma serpente e um dragão que iam se enlaçando desde a ponta que estava no chão até a outra extremidade que terminava com a cabeça da serpente voltada para baixo com a boca escancarada mostrando suas presas que eram feitas de ouro, e os olhos eram duas pedras vermelhas com um brilho meio enevoado por dentro, e a cabeça do dragão voltada para cima também com os dentes expostos e os olhos com duas pedras verdes com o mesmo brilho enevoado da serpente. Eu li o pensamento de Eillian e descobri que o mago era um dos eternos e seu nome era Lethichan. L

Eillian começou a falar e se desculpar pelo seu estado, mas eu vi que o mago estava com os olhos fixos em minha direção, ele não podia me ver como eu o via com minha visão poderosa, mas ele sabia que eu estava lá. Tentei ler seus pensamentos, mas ele os bloqueou para mim e enviou uma mensagem para mim: _ Não é o momento de nos conhecermos ainda, logo, muito em breve conversaremos. Eu queria ir até lá e saber quem ele era, o que fazia lá, mas o dia estava nascendo e eu tinha que me recolher para meu descanso cadavérico, e foi o que fiz, voltei para meu esconderijo tranqüila, pois eu vi nos olhos do velho que ele era uma pessoa de boa índole, ele estava lá para ajudar Eillian e não para o contrário.

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XXI – Uma Breve Visita

Na noite seguinte procurei Eillian para saber mais sobre Lethichan e o que ele estava querendo. Fui até a casa da noite anterior e esperei até que Eillian aparecesse. Ele chegou em torno de meia hora após eu me fazer presente pelas proximidades. Vi que ele estava despreocupado e até assobiava uma melodia alegre entre seus lábios. Apenas o chamei mentalmente com o poder telepático e ri quando Eillian deu um salto para trás virando-se rapidamente em minha direção. _ Quer me matar de susto?! Eu apenas ri e fiz um sinal com minha mão direita para que ele viesse até mim. Fomos até um restaurante para que Eillian fizesse seu jantar enquanto conversávamos um pouco até chegar as minhas perguntas. _ O que Lethichan queria com você ontem? _ Você o conhece? Ele perguntou assustado deixando cair o garfo de prata de sua mão no prato de porcelana fina. _ Não, apenas sei o nome dele. Ele retomou o garfo em sua mão e com um guardanapo limpo o pouco de comida que caiu em sua calça e tornou a falar. _ Ele é um mago muito velho, diria até mesmo um ancião, ele conhece Lugubrous há alguns séculos. _ Ele conhece Lugubrous?! Fiquei espantada em saber que eles se conheciam há alguns séculos. Ele sabe onde Lugubrous está? _ Bem, Lethichan apenas disse que há umas duas semanas atrás eles se encontraram em Londres, mas provavelmente Lugubrous já não esteja mais por lá também. _ E quanto a Lethichan, o que ele queria com você ontem? Ele respirou fundo, limpou seus lábios com o guardanapo. O garçom que nos atendia perguntou se podia retirar os pratos. Eillian fez um sinal concordando e pediu um uísque. _ Lembre-se da outra noite em que você andou bebendo um bocado. Falei para ele me referindo a noite em que os marginais tentaram assaltá-lo e eu impedi. _ Perdoe, mas estou meio nervoso. _ Eu sei, posso sentir isso, mas me conte o que aconteceu. _ Lethichan veio me prevenir contra alguns magos que fazem parte da irmandade obscura, tem propósitos extremamente malignos. Ele me disse que há murmúrios sobre eu estar mantendo contato com um vampiro, e isso é perigoso. LII

_ Mas Lethichan não é amigo de Lugubrous e outros vampiros, qual o problema por você também ser amigo de vampiros? _ Lethichan e outros magos que tem contatos com vampiros não pertencem a nenhum clã ou irmandade, ou o que quer que seja, ou se pertencem a algum tipo de sociedade, é diferente da nossa, Lethichan é um caminhante, ele vive sozinho como vocês vampiros, e eu fui me meter justo em uma sociedade de magos e bruxos loucos por poder a qualquer custo, temo que o preço seja muito alto por isso. Ele deu uma pausa para beber um gole do uísque com gelo que o garçom acabara de servir. _ Continue. Eu pedi. _ Ele me disse também que os murmúrios dentro da irmandade obscura, cuja qual eu pertenço e quero sair, mas não sei como isso é possível sem morrer, é que já sabem de nossos encontros casuais, e que estão preparando alguma espécie de armadilha para poderem lhe capturar. Com certeza eu sou a isca para esta armadilha, e isto não me agrada em nada, já quanto a você, eu não sei o que dizer, apenas que corre um grande perigo. _ Malditos! Fiquei triste em saber disto, mas o que me deixou furiosa foi à revelação que Eillian me fez: _ Você se lembra de Memento e Memoriant? _ Sim, aqueles malfadados que Lugubrous destruiu. _ Exato, o que você não sebe e o que Lugubrous descobriu recentemente, segundo Lethichan me contou, é que ambos estavam atrás de Lugubrous a mando da irmandade obscura. A sensação que tive foi como se eu ainda tivesse um coração mortal ainda pulsando dentro de mim e ele desse uma leve falhada em uma de suas constantes batidas, então o ódio tomando conta dos pensamentos em seguidas. Fiquei um breve momento em silêncio e tomei total controle sobre mim mesma e minha raiva, tornando a falar com Eillian. _ O.k., se Lugubrous já sabe disto eu não preciso sair a sua procura para lhe contar, e estes safados da irmandade obscura não sabem com qual demônio foram mexer. Quando eu me encontrar com Lugubrous novamente, quero ficar junto a ele para ajudar, ou pelo menos para assistir a destruição de cada um desses repugnantes desmerecedores de qualquer Dom ou poder. _ E o que nós faremos enquanto isso? _ Nada, vamos fazer de conta que nada sabemos sobre isso, vamos ver como eles movimentarão as peças deste jogo até termos uma idéia geral dos planos que eles tem em mente, ai nós agiremos fria e calculadamente. _ E quando fizermos isto, provavelmente Lugubrous estará aqui para nos ajudar. _ Tomara que sim, ou seja, antes dele agir por conta própria, senão, não sobrará nada para nossa diversão. _ E pelo que sei, Lethichan vai estar ao lado de Lugubrous nesta batalha, assim como a temida e antiga paixão de Lethichan; a bruxa Katrina. LIII

_ Katrina? Mas que história é esta de bruxa? _ Outra hora lhe contarei mais sobre Katrina, agora só para um rápido esclarecimento, você deve saber que ela também já tem um século e meio ou dois, não me lembro muito bem, e que ela e Lethichan tiveram um relacionamento afetuoso muito grande no passado, e ainda ambos sentem um carinho especial entre eles, embora não vivam mais juntos, como já falei, Lethichan é um caminhante solitário, e Katrina também trilha seu próprio caminho na solidão. Saímos do restaurante e caminhamos um pouco juntos falando de assuntos diversos para rirmos um pouco e nos distrairmos até que tive que me despedir de Eillian para me recolher na escuridão acolhedora de meu solitário e profundo sono diurno.

LIV

XII – Perseguição Noturna

Despertei sedenta por sangue no anoitecer seguinte. Eu não havia me alimentado na noite anterior e era a primeira coisa que decidi fazer ao abrir os olhos. Uma garoa caia como sempre em São Paulo, conhecida como a cidade da garoa. Andei um pouco a esmo apenas observando as pessoas até encontrar qual saciaria meu desejo sangüíneo. Vigiei por entre algumas tábuas encostadas debaixo de um viaduto todo pichado por gangues e cheio de panfletos colados em suas velhas e cinzentas colunas de concreto, um homem bem vestido em um terno preto que acabava de matar um velho com roupas esfarrapadas sem motivos, apenas pelo prazer de matar. Eu o segui pacientemente, após ele Ter deixado o corpo inerte e sem vida caído ao chão úmido e mal cheiroso por causa de alguns indigentes terem urinado naquele local. Então ele seguiu para o metrô. Entrei pela porta do metrô com uma velocidade que me deixou invisível aos seus olhos ao meu passar em sua frente, deixando-o apenas sentindo uma leve brisa tocar seu rosto, e sentei-me em um banco onde ele não pudesse me ver. Saindo da estação, passamos por uma praça e finalmente e ele entrou em um prédio velho e sujo, literalmente podre, caindo aos pedaços, um lugar que estava interditado pela prefeitura e que seria demolido na semana seguinte. Fiquei curiosa para saber o que ele iria fazer em um lugar daquele e continuei na espreita apenas observando como um voyeur. Alguns minutos e alguns degraus depois estava tudo esclarecido, ele estava lá para comprar drogas. Ele começou a negociar a mercadoria e sem motivos começaram a discutir, ele e os dois que estavam com uma maleta preta e vestidos em ternos pretos iguais as dele, com a diferença de que o que eu seguia tinha cabelos curto, e um cavanhaque, e os outros dois pareciam gêmeos, ambos de cabeça raspada, sem barba e óculos escuro idênticos. No meio da discussão, os dois carecas sacaram armas, mas antes de usálas, eu os matei quebrando o pescoço de ambos com minha velocidade e força. Logo em seguida eu segurei firme em meus braços o homem que eu seguia e bebi um pouco de seu sangue e o soltei. Ele não conseguia nem gritar em falar nada com o medo e desespero humano que sentia naquele momento. Fez uma tentativa de fuga correndo em direção a mesma escada por onde veio, e antes de que chegasse até ela, eu apareci repentinamente em sua frente com minha boca escancarada e os dentes pingando o seu próprio sangue, deixando-o mais apavorado ainda. LV

Instintivamente um chute vindo de sua perna direita me acertou o queixo, coisa que me deixou irritadíssima, e eu apenas ri, ri muito de meu descuido e olhei fixamente em seus olhos e falei: _ Isso doeu um pouquinho, mamãe nunca falou que é coisa feia bater em mulheres? Saltei em sua direção e bebi mais um pouco de seu sangue e soltei-o novamente. O coitado começou a rastejar em direção aos dois corpos mortos que ainda tinham os revólveres caídos em seus lados. Deixei que ele pegasse as armas e apontasse para mim. _ Vá para os quintos dos infernos!!! Gritou o infeliz puxando o gatilho fazendo diversos disparos contra mim, ou melhor, somente parou de atirar após as balas se esgotarem e mesmo assim ainda puxou o gatilho muitas vezes deixando ouvir apenas o click seco de uma arma sem munição. Eu cai no chão e vos digo, é uma dor miserável, mas eu estava adorando tudo aquilo. Levantei-me com uma fome ainda maior, pois os tiros fizeram com que eu perdesse bastante sangue, e fui em direção do homem que chorava feito criança ao perceber que a morte iria abraçá-lo naquele momento. Segurei-o firme por trás e puxei a mão de um dos corpos caídos ao chão levantando-a até próximo dos olhos de minha vítima e comecei a arrancar os dedos daquela mão começando pelo polegar dizendo: _ Beber, não beber... Um a um até o quinto e último dedo. Beber... Olhei para seus olhos que não tinham mais lágrimas, beijei-lhe os lábios e a testa e cravei os dentes em seu pescoço bebendo e saboreando cada gota que escorria por minha garganta enquanto eu sorvia vagarosamente o líquido. Deixei o corpo cair junto aos outros e sai correndo do local, pois logo as sirenes da polícia chegariam ao serem informados sobre os disparos feitos e ecoaram até outros prédios pela rua. Eu queria mais sangue, e logo eu vi uma linda Ruiva com os olhos tão azuis quanto meu saudoso céu azul e diurno. Fui em sua direção, isto já era em um outro canto da cidade e mais tarde da noite. Vi seus lindos olhos me verem assustados quando me lembrei que meu vestido estava todo furado e sujo com o sangue que escorreu dos buracos feitos pelas balas. Usei meu poder hipnótico para confundir seus pensamentos até que a abracei e a conduzi para o hotel onde eu estava hospedada. Entramos, tomamos um banho juntas e nos divertimos brincando em uma grande cama no quarto principal. Eu não me cansava de beijar aqueles lábios macios e de sentir a umidade em sua flor escondida entre suas lindas pernas. Levei-a até meu féretro, e ela não se assustou ao vê-lo. Abri a tampa e convidei-a para entrar comigo lá dentro. Ela entrou e em seguida eu entrei. Estávamos nuas e nos amando muito, o dia iria surgir em poucos minutos, então eu beijei seus lábios e mordi sua língua começando a beber seu sangue LVI

suculento, e ouvindo seus gemidos de prazer entre a morte, minha mão ia fechando o esquife para que eu dormisse agarrada a aquela linda mulher que morria em meus braços. Acordei abraçada ao corpo que já tinha o cheiro da morte exalando no ar. Limpei o sangue coagulado em minha boca e fiquei um pouco admirando aqueles olhos que ainda estavam abertos com seu lindo azul, embora já embaçado e sem vida, mas ainda eram lindos de se observar. Livrei-me do corpo e fui a procura de Eillian. Mais uma vez fui até a casa onde vi Lethichan conversar com Eillian, e para minha surpresa quem atendeu a porta foi o próprio Lethichan. _ Você?! Perguntei demonstrando minha surpresa. _ Quem você esperava, Deus? Ele respondeu rindo depois continuou. O que esta fazendo aqui, onde esta Eillian, ele não foi ao seu encontro de acordo com seu bilhete? _ Bilhete? Eu não mandei bilhete algum, que história é esta de encontro? _ Então uma cilada foi armada, temos que ser rápidos, Eillian encontrou um bilhete debaixo da porta que dizia para ele ir ao seu encontro, com certeza foi alguém da irmandade obscura. _ E para onde ele deveria ir de acordo com o bilhete? _ Para o MASP, agora vamos. Usei meu poder para voar o mais rápido possível, sem exageros é claro, ainda não sei qual é meu limite, tenho medo de voar, é meio estranha a sensação, nem sei explicar direito como é, parece que você vai subir cada vez mais e não descer nunca mais. Cheguei ao MASP e quando olhei ao meu lado, vi Lethichan. Como ele chegou tão rápido? Perguntei a mim mesma em meus pensamentos. _ Da mesma forma que você, voando. Ele havia lido meus pensamentos novamente e fiquei atenta bloqueando-os a partir de então. _ E agora o que faremos? _ Pelo que vejo vamos ter que seguir aquele carro ali. Lethichan apontou para um carro preto onde dois homens empurravam Eillian para dentro. _ Seguir nada. Saltei entre eles jogando um para o lado que caiu sentado na calçada, e ao se levantar foi nocauteado pelo cajado de Lethichan, que o acertou em cheio com uma pancada na cabeça. Puxei Eillian para fora do carro que já saia cantando pneus, e ele rolou pela calçada e se levantou dizendo que estava bem. _ Esses loucos no volante provocam cada acidente. Comentou Lethichan olhando para o carro que ziguezagueava entre outros pela avenida. _ Que acidente? Perguntei. _ Este. Ele respondeu fazendo um gesto com seu cajado como se estivesse desenhando algum símbolo cabalista no ar, e em seguida, o carro perdeu o controle e colidiu com um poste elétrico e explodindo em seguida. _ O que eles queriam com você? Quis saber Lethichan. LVII

_ Eles iriam me usar como isca para poder atrair Carminalla até uma armadilha. _ Malditos! Meu ódio por esta organização aumentava cada vez mais. _ Tudo bem, vamos embora, por aqui nosso trabalho terminou, e já tem muitos curiosos por perto. Lethichan disse isso se referindo às pessoas que passavam por nós indo à direção ao carro acidentado logo mais a nossa frente. Peguei o homem que estava se recuperando do golpe em sua cabeça e levei-o comigo e comuniquei a Eillian para que fosse com Lethichan na frente, pois eu iria para um lugar mais deserto saciar minha sede com o sangue daquele idiota e depois os encontraria na casa. Voltei até a casa onde Eillian e Lethichan me aguardavam e pela primeira vez entrei nela. Ambos estavam sentados no hall de entrada, confortáveis em poltronas macias e com acabamentos finos e bem entalhados com formas diversas, como dragões, serpentes, galhos de espinho, etc. Estavam conversando despreocupadamente e bebendo vinho em taças de ouro incrustada por rubis, esmeraldas e outras pedras que não consigo recordar agora. _ Venha, sente-se conosco Pale. Convidou Lethichan mostrando uma poltrona vazia entre os dois. Sentei-me e senti o veludo cor de vinho com minhas pálidas, gélidas e esguias mãos, que contrastava exuberantemente contra aquele assento antigo, não tanto quanto eu, mas de uma época de bom gosto por móveis, ao contrário de hoje em dia. No hall também haviam lindos vitrais trabalhados tanto em formas quanto em cores, mais ou menos como os de antigas catedrais. Muitas cortinas de tecidos nobres esboçando riqueza, beleza e leveza cobriam cantos e paredes num toque clássico a decoração do ambiente que trazia muita sensação de paz e tranqüilidade. No chão, um lindo tapete felpudo, alto que dava até vontade de ficar descalça e sentir sua maciez e delicadeza com os pés nus. Veio-me imagens na mente de estar amando Izabel ali, ambas nuas enlaçadas em voluptuosidade. Percebi que Lethichan estava espionado meus impuros pensamentos, mas não me importei, apenas demonstrei um malicioso esboço de sorriso para ele, que ficou meio sem graça diante de minha depravação. Percebi que estava tocando uma música que eu não conhecia o criador da obra e perguntei a Lethichan quem era. _ É um dos maiores compositores do Brasil, nascido em uma cidade no interior de São Paulo chamada Campinas, e falecido em Belém do Pará, se não me falha a memória em 1896. Seu nome é Antonio Carlos Gomes, e esta ópera que estamos ouvindo chama-se “À noite do castelo”, cuja qual foi sua primeira ópera, que em 1861, após o final do espetáculo, D. Pedro II conferiu-lhe a Ordem da Rosa. Eu olhei para Eillian espantada com o resumo histórico apresentado por LVIII

Lethichan. - Não se assuste Pale. Disse Eillian. Lethichan conhece muito bem a história de muitos países e dos “personagens” que fizeram parte destas histórias. _ E quando D. Pedro II conferiu a Ordem da Rosa a Carlos Gomes, eu estava lá, embora ninguém pudesse perceber minha presença no local, afinal eu sempre sou discreto ao observar fatos como este, por exemplo. Comentou Lethichan. Mas antes de falarmos mais coisas sobre o Brasil, vou contar-lhes um pouco sobre a Irmandade Obscura, mas só na próxima noite, pois como já perceberam o dia está próximo e eu estou exausto. Despedimos-nos e eu voltei ao meu quarto no hotel para meu merecido sono acolhedor.

LIX

XXIII – Irmandade Obscura

Conforme havíamos marcado, após meu desjejum nos encontramos no mesmo hall da noite anterior. Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios sem importância até Lethichan se acomodar bem na mesma poltrona da noite anterior, que parecia ser sua preferida. Colocou sobre a mesinha de centro uma garrafa de vinho e sua taça já cheia, com qual ele observava com olhos perdidos em pensamentos, até que sua voz rompeu o silêncio. _ Vamos então começar nossa “viagem ao tempo”. E então começou a falar:

A Irmandade Obscura: Voltando nossas vistas para a época das grandes aglomerações de seres humanos, onde o fenômeno chamado civilização se tornava determinado na Mesopotâmia e Egito, uma das coisas mais importantes em todas as cidades eram os templos. Nestes templos existia um santuário, onde comumente tinha uma grande figura monstruosa, metade humana, metade animal. Nestes templos, havia determinados números de sacerdotes ou sacerdotisas e serventuários. Em um destes templos, tinha um jovem aprendiz de magia, era um templo dedicado a um Deus egípcio chamado Set, Deus da escuridão. Este jovem chamava-se Radau. Seu mestre é desconhecido de nossos arquivos, mas sabemos que quando Radau completou seus trinta e seis anos de idade, ele se tornou muito poderoso, há especulações dizendo que ele matou seu mestre e bebeu seu elixir da vida eterna, dizem também que ele ainda vive e voltará a liderar a Irmandade Obscura algum dia, mas disso falaremos mais tarde. Voltando ao assunto, nesta mesma época em que ele provavelmente praticou este crime, ele apareceu vestido em um manto negro no templo onde era apenas um sacerdote, e disse que havia recebido ordens diretas do Deus Set para construírem um templo para se unir os Deuses Set., Deus da escuridão, Anúbis, conhecida como a terrível, e Osíris, Deus da morte. Disse também que ele, Radau seria o líder deste templo e que deveria ser feito o mais rápido possível. Houve uma investigação e descoberta que Radau não só praticava magia branca como também magia negra, e que seu templo era invenção sua para finalidades de seus projetos mágicos insanos. LX

Ele foi condenado à morte, mas antes que a lei fosse executada, ele desapareceu da cidade. Conformes relatos em nossos arquivos, ele reapareceu cento e quinze anos mais tarde em outra cidade do Egito, mas com outro nome, Darau, ou seja, apenas inverteu as consoantes de seu verdadeiro nome, mas na época, o suficiente para não levantar suspeitas, ainda mais cento e quinze anos depois. Lethichan parou um momento e tomou o último gole do vinho em sua taça e a encheu novamente, para assim dar continuidade ao seu relato. Darau então fundou uma seita secreta apenas com discípulos em magia, e como ele havia proposto antes, em seu templo secreto, havia imagens de Set, Anúbis, Tifão e Osíris. O nome desta seita foi batizada como Irmandade Obscura, cuja qual Eillian foi acabar se metendo. Boatos espalhados pelo mundo afora dizem que Darau permanece vivo em tempos atuais, e utilizando seu nome verdadeiro, Radau, e como nós sabemos, podem-se utilizar muitos nomes diferentes em contas e outras coisas, como você mesma faz para se proteger, Pale. Eu concordei com um leve sorriso, pois é verdade, tenho muitas contas bancárias pelo planeta inteiro, e agentes que cuidam delas para mim, e cada um, assim como para cada conta, utilizo um nome diferente, e em muitos casos, com o passar dos anos, sempre preparo papéis comprovando a morte da “dona” da conta que deixa tudo para uma sobrinha ou algo parecido, toda fortuna como herança, não pondo assim minha identidade real em risco. Fui embora para meu repouso já que novamente o dia se aproximava. Na noite seguinte, pressenti que havia algum vampiro muito poderoso na cidade. Bebi o sangue de um maltrapilho que tentou me cortar com uma butterfly para roubar meu precioso colar que eu havia escolhido para aquela noite. Segui meu instinto até chegar em uma casa de shows onde estava tocando uma banda de black-doom. Fiquei surpresa e feliz ao ver que era Lugubrous que tocava e cantava sua triste e ao mesmo tempo agressiva música, que explorava sentimentos sublimes em nossa alma condenada, sentimentos de dor e ódio. O show acabou e ele veio até mim. Seus olhos mostravam sua tristeza, aflição e preocupação. Saímos para caminhar pelos cantos escuros e contarmos nossas andanças pelo mundo, até que Lugubrous começou a falar sobre a Irmandade Obscura. Ele havia vindo até o Brasil para desvendar e destruir de uma vez por todas esta organização e seu líder Radau. _ Mas ele realmente está vivo? Perguntei. _ Estava, minha linda Pale. Então vi que sua expressão mudara para um semblante ainda mais triste ainda. _ E o que o atormenta tanto assim, não posso suportar todo este LXI

sofrimento que emana de você. Eu queria chorar junto a ele. _ Meu tormento é somente meu, não chores por mim. Ele suspirou profundamente e continuou. Chegando aqui em São Paulo no final da madrugada anterior, descobri algo que me deixou totalmente desorientado. Ele olhou para o céu semi nublado com algumas estrelas brilhando e voltou a falar: _ Senti um poder muito forte por perto, pensei que fosse Radau, e ao chegar ao local onde tal força era o centro, fiquei chocado ao ver que Radau realmente estava lá, mas morto, alias, consegui ver seu último suspiro antes que ele desencarnasse. _ Como? Agora eu estou ficando confusa. _ Um ancião Carminalla, um ancião muito poderoso tinha acabado de arrancar o coração de Radau e terminava de sugá-lo. Ele então olhou para mim em um sorriso perverso e ao mesmo tempo emanando amor por mim. Ele ateou fogo no corpo exangue apenas com um estalar de dedos, jogou o coração murcho sobre o fogo e virou-se para mim dizendo: _ Boa noite meu amado filho, esta Irmandade não lhe fará mais sofrer, este era o criador de toda esta ordem desgraçada, e também o último, pois eu matei todos os outros por você. Eu sempre estive lhe observando desde meu despertar de um profundo sono e jejum pelo sangue, eu te amo, sempre amei, talvez não se lembre, mas sou teu criador, lembra-se da floresta? Meu sangue corre em tuas veias, mas hoje não temos tempo, quem sabe em breve? _ Eu cai de joelhos ao chão sem saber o que fazer, não sabia se corria atrás do vulto daquele ser que sumia com sua velocidade vampírica ou se chorava. Meu passado correu em frente aos meus olhos em segundos em uma visão aterradora, imagine séculos passar em segundos em sua visão, lembreime de minha transformação naquela floresta úmida e muitas coisa mais. A única coisa que consegui fazer foi gritar perguntando seu nome. _ “Memalon”. Sua voz soou este nome em minha mente ‘num sussurro excitante, enquanto o sol ia libertando seus primeiros raios que brilhavam no horizonte distante. _ Corri para meu refúgio com meu novo tormento em mente, mas felizmente logo o dia se fez presente e meu sono se fez supremo. _ Acordei hoje com milhões de perguntas em minha cabeça, mas eu tinha que cumprir este show para com os mortais, e não podia deixar meus problemas interferirem, nem deixar alguma dúvida em suas mentes, para que viessem a desconfiar que realmente sou um vampiro. _ E aqui estamos nós. Falei com um sorriso inocente, puro e sincero. _ Sim, aqui estamos nós, nosso lindo reencontro. _ Mas você vai partir hoje, não é mesmo, eu sinto isso em tuas palavras. _ É preciso, agora tenho que saber onde procurar Memalon, preciso saber por que ele me escolheu, para trazer ao mundo dos não mortos. _ Mas fique comigo esta noite, me ame mais uma vez. _ Eu iria fazer este mesmo pedido a você. LXII

Uma limusine chegou para nos pegar após Lugubrous ligar de um telefone público, pois ele odeia celular e coisas do gênero. O grande carro negro de vidros escuros ficou vagando a esmo por toda cidade enquanto nosso deleite era consumado na parte de trás do carro. Lugubrous era e ainda é meu mais querido amante, sombrio, triste e voluptuosamente se entrega por inteiro em nossa paixão vampírica. Nossas lágrimas selaram nosso longo beijo na despedida no aeroporto onde ele estava partindo para algum lugar na Escócia, onde um de seus contatos sabia algo sobre Memalon. Sabíamos que logo nossos caminhos se cruzariam novamente como sempre, e teríamos mais tempo juntos em nosso amor.

LXIII

XXIV – Reencontro

Eu não queria mais ficar nesta cidade, eu precisava viajar e pensar um pouco no que eu faria a partir deste momento, alguns anos mais tarde eu voltaria para cá, pois pode parecer estranho, mas eu gosto muito desta cidade. Fui para Nova Zelândia, depois para Irlanda, passei por muitos países até que me encontrei com Darkrishnevil no Canadá, conversamos e caçamos juntos por umas duas semanas e continuei minhas viagens. Eu sentia muita falta de Lugubrous, mas eu ansiava mesmo era por encontrar Izabel, minha linda amada ruiva dos olhos tristes e selvagens. Eu estava no Japão, queria conhecer o monte Fuji. Estava no topo em uma noite fria onde uma imensa melancolia me enchia por completo. Minhas lágrimas de sangue afloraram ao ver os cabelos de fogo vindo silenciosamente em minha direção como uma cena de filmes de terror aonde um sucubu vem ao encontro de sua vítima sensualmente em vestes transparentes sopradas pelo vento. Não tínhamos palavras, só lágrimas e amor nos envolviam. Nos abraçamos e nos beijamos como se fosse nossa última noite juntas. Não conseguíamos nos separar. Senti o seu cheiro particular enchendo minhas narinas enquanto eu mordia e bebia o sangue em seu pescoço. Ela fez o mesmo comigo enquanto seus dedos brincavam com meus seios já nus, ao mesmo tempo em que os meus dançavam em sua flor que exalava mais ainda seu cheiro atraente. Amamos-nos ali mesmo, em nossa erupção de amor na boca de um vulcão coberto por neves. Nossos beijos e nosso sangue se encontrando profundamente como se fosse o único motivo de nossas existências. Está amos juntas novamente, e novos conhecimentos e aventuras ainda nos aguardavam. Mas a única coisa que eu queria dizer era...

I

... ZABEL...

LXIV

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