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CONCEITUANDO...
Para começarmos a trabalhar a relação entre histórias em q u a d r i n h o s e a r q u i t e t u ra , é necessário primeiramente definir o que seria uma história em quadrinhos. O conceito de história em quadrinhos é amplo e diversificado por possuir variadas formas de linguagem e interpretação à sua constituição. Em uma hq, imagem e narrativa se unem formando um meio de comunicação s i n g u l a r , q u e t ra z d i v e r s a s p e r s p e c t i va s d e c o m p r e e n s ã o , dependendo do público que as lêem. P o r i s s o , fa z - s e n e c e s s á r i o fundamentarmos e discutirmos os Figura 8: Capa da graphic novel O Edifício vários conceitos de histórias em Fonte: O Edifício (1989). quadrinhos, de forma que se possa ter uma ampla visão do que realmente é uma hq e de quais são suas possibilidades enquanto instrumento de comunicação e entretenimento. Começaremos com a definição do dicionário Aurélio (1993, p.288), que diz que história em quadrinhos é uma “seqüência dinâmica de desenhos (quadrinhos), em geral com legendas, que contam uma h i s t ó r i a ” . C o n s i d e ra r a definição do Aurélio como absoluta seria algo simplista demais, uma vez que a história Figura 9: Tirinha de Hagar: o Horrível Fonte: Uêba: Piadas Ingênuas!, em quadrinhos é um meio de acesso em 28 abr. 2008. comunicação de massa, presente em todo o globo, com um número de definições e formas de apresentação extremamente variadas (Figura 8 e 9). Vemos aqui um pouco da variedade das hq que vão desde as graphic novels, como a da Figura 8, até as tiras diárias, como a mostrada na Figura 9.
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Segundo Francis Lacassin “[hq] É a arte da narrativa em imagem, acessível a pessoas que não sabem ler“ (LACASSIN apud ANSELMO, 1975, p.32). Nota-se que essa visão de Lacassin mostra a abrangência de público que a hq permite, que ultrapassa o conteúdo textual dos balões, transcendendo para a imagem, o desenho (Figura 10). É um erro comum achar que o conteúdo da hq se resume ao plano da linguagem dos balões e legendas, pois os quadrinhos também se utilizam das imagens e de toda a simbologia que essas carregam, para transmitir idéias. Figura 10: Tirinha da Mafalda Fonte: The star is me blogspot, a c e s s o e m 28 abr. 2008. A t i r i n h a mostrada na Figura 10 é capaz d e s e r compreendida por pessoas que não sabem ler, devido a inexistência de f a l a s o u legendas.
Figura 11: Cartilha da Turma da Mônica Fonte: Turma da Mônica 8 maneiras de melhorar o mundo (2005).
Existem também as definições mais materialistas, que caracterizam a história em quadrinhos através dos seus elementos, como Coupèrie e outros (1970) afirmam que 'desde 1980 cristalizaram-se os elementos essenciais da história em quadrinhos: a narração em seqüência de imagens, a continuidade dos personagens de uma seqüência a outra e o diálogo incluso na imagem' (COUPÉRIE apud ANSELMO, 1975, p.32).
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Podemos analisar também as definições de educadores, como Georges Friedman que, em L'École Parallèle (FRIEDMAN apud ANSELMO, 1975, p.21), caracteriza a história em quadrinhos como uma escola paralela, pois essas são capazes de informar e instruir as pessoas através de um sistema informal, diferente daquele adotado nas práticas escolares, pois trabalha com o lazer. Dessa forma, a hq também se torna instrumento não só de comunicação e lazer – uso comum dos quadrinhos - mas de informação e didática, como é o caso de muitas cartilhas informativas, como as cartilhas da Turma da Mônica (Figura 11), que são feitas baseando-se nessa capacidade de instrução de uma maneira menos rígida que os quadrinhos possuem. Encontramos também definições mais generalistas dos quadrinhos, que se preocupam em englobar todas as formas de quadrinhos, sejam elas nas revistas, tiras diárias, páginas dominicais, com ou sem legendas e etc., como a definição do pesquisador Scott McCloud (2005, p.09), que trabalha com o conceito de que hq são “Imagens pictórias e outras justapostas em seqüência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador”. Outro conceito relevante de história em quadrinhos que podemos analisar se encontra na definição de Laonte Klawa e Haron Cohen, que diz que Os quadrinhos são um conjunto e uma seqüência. O que faz do bloco de imagens uma série é o fato de que cada quadro ganha sentido depois de visto o anterior; a ação contínua estabelece a ligação entre as diferentes figuras. Existem cortes de tempo e espaço mas estão ligados a uma rede de ações lógicas e coerentes (KLAWA e COHEN apud ANSELMO, 1975, p.33). Nessa outra definição, percebemos que os pesquisadores dão maior relevância ao sequenciamento, que é exatamente o corte de tempo e espaço das ações que a hq possibilita e exige para ser compreendida, que é responsável por caracterizá-la como arte seqüencial. Dentre todas essas definições, não podemos afirmar que uma ou outra é mais correta. Entretanto, a partir deste estudo, utilizaremos a definição de que história em quadrinhos é a arte que simula o espaço para que nele ocorra uma ação, ou série de ações narrativas [seqüenciadas].
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Como conseqüência dessa definição, surge de imediato uma pergunta: se essa é a definição de quadrinhos, qual seria então a definição de arquitetura? Do mesmo modo que os quadrinhos, formar uma definição precisa de arquitetura é uma tarefa árdua. Entretanto podemos analisar algumas definições célebres, para que possamos, assim, responder ao nosso questionamento. Começaremos com Lúcio Costa (1995, p.78), que diz "Pode-se então definir arquitetura como construção concebida Figura 12: Croqui de Brasília com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa", mostrando-nos assim que acredita que a arquitetura além de ser organizadora dos espaços não se dissocia dos meios que ela dispõe, do tempo em que ela foi feita nem do programa a que deve atender Figura 13: Vista de Brasília da Antena de TV (Figura 12 e 13). A partir dessa frase As figuras 12 e 13 mostram Brasília, cidade n o ta m o s q u e pa ra L ú c i o C o s ta construída com a finalidade de abrigar a capital do país, exemplo de uma arquitetura feita em uma arquitetura é necessariamente a época específica, para atender a um programa previamente estipulado. construção edificada, mas afirmar que arquitetura se limita ao que foi construído significa excluir diversos trabalhos, como os do Archigram (Figura 14 e 15), que tem caráter conceitual, como os de Boullée (Figura 16 e 17), de Piranesi (Figura 18), ou projetos ainda projetos como o Hotel de Nova Iorque de Gaudí, que vemos na Figura 19, que nunca chegaram à fase de execução, e que não deixam de ser arquitetura, ou pelo menos desdobraram-se com os mesmos efeitos de sentido que edifícios construídos. Carlos Lemos, por sua vez, conceitua que "arquitetura seria toda e qualquer forma de intervenção no meio ambiente criando novos espaços, quase sempre com determinada intenção plástica, para atender as necessidades imediatas ou a expectativas programadas, e caracterizadas por aquilo que chamamos de partido" (LEMOS apud RABELLO, acesso em 27 nov. 2007), afirmação essa que salienta o objetivo da arquitetura, que é
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criar um espaço com intenção e características próprias. Figura 14: Capa da revista Archigram número 4 Fonte: Design Museum, acesso em 28 abr. 2008.
Figura 15: Um dos projetos conceituais do Archigram “A cidade que anda” Fonte: Archigram, acesso em28 abr. 2008.
Figura 16: Perspectiva do Mausoléu de Newton, de Boullée Fonte: Bibliothèque Nationale de France, acesso em 11 jul. 2008.
Figura 18: Cárcere desenhado por Piranesi. Fonte: The National Academies, acesso em 01 jun. 2008.
Figura 17: Corte do Mausoléu de Newton Fonte: Bibliothèque Nationale de France, acesso em 11 jul. 2008.
Já Frank Lloyd Wright declara o seguinte: “eu sei que arquitetura é vida; ou pelo menos é a própria vida tomando forma e portanto é o verdadeiro registro da vida como foi vivida no mundo ontem, como é vivida hoje e como sempre será vivida.” (WRIGHT apud PFEIFFER e NORDLAND, 1988, p.07, tradução nossa). Percebemos aqui que a intenção de Wright é salientar que arquitetura é um espaço com vida, principalmente porque abriga o homem e suas ações, e que também serve como um marco característico de cada época.
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Mais uma vez, passamos pela impossibilidade de eleger uma definição como a correta, mas formularemos uma que convém a esta pesquisa. Portanto definiremos arquitetura como sendo a arte que dá forma ao espaço para que nele ocorra uma ação(ões), previamente estabelecidas por meio de um programa. Figura 19: Projeto de Gaudí para hotel em Nova Iorque, nunca construído Fonte: Vitruvius (2002), acesso em 09 maio 2008.
Percebemos assim que há apenas poucas diferenças entre as duas definições, isso porque enquanto a hq procura simular um espaço, um cenário que seja palco das mais variadas ações, a arquitetura se preocupa em criar um espaço, de maneira concreta para que ações reais transcorram ali, levando em consideração no seu processo criativo as demandas que os diferentes tipos de espaço possuem. Tendo em vista a grande proximidade entre as duas formas de arte, vale analisarmos se elas são capazes de se influenciarem e até que ponto vão as suas semelhanças.