Aspectos culturais na época medieval Enquadrar a expansão do ensino nas transformações económicas e políticas dos ultimos séculos da Idade Média
No século XI, as antigas escolas monacais, centros de saber (Iocalizados, habitualmente, no campo) com o objectivo de preparar os futuros monges, são progressivamente substituídas pelas escolas urbanas.
Estas
escolas,
também
chamadas
escolas
catedrais,
obedecem a novos imperativos: - formar funcionários que assegurem o funcionamento das instituições urbanas (tribunais, repartições públicas); - organizar as chancelarias que reforçam os poderes dos principes; - servir as necessidades de registo das grandes companhia comerciais. Estas novas escolas situavam-se, em geral, no centro das cidades e, embora dirigidas, em muitos dos casos, pelo clero, destinavam-se também a leigos.
Sublinhar o papel desempenhado pelas universidades na renovação cultural da Europa
universidade medieval
Algumas
das
escolas
catedrais
evoluíram
para
universidades
(universitas), estabelecimentos de ensino superior que agregavam várias faculdades (ramos do saber) e que se organizavam numa estrutura mais rigida e complexa. As primeiras universidades foram a de Notre-Dame (Paris, França) e a de Bolonha (Itália), ambas fundadas antes de 1200. Ao longo dos séculos XIII e XIV, as universidades expandiram-se pela Europa Ocidental, especializando-se em diferentes saberes: Teologia, Direito, Medicina. A primeira universidade portuguesa, nomeada Estudo Geral de Lisboa, foi criada em 1290, em Lisboa, sob a protecção do clero, do rei D. Dinis e do Papa Nicolau IV, foi transferida para Coimbra em 1307, voltou a Lisboa, tendo-se fixado definitivamente em Coimbra a partir de 1537. As universidades tiveram um impacto importante nas regiões onde se instalaram. Foram responsáveis pela transformação das cidades em activos focos de inovação: estudantes de toda a parte deslocavam-se às cidades universitárias no intuito de aprender a gramática, a oratória, a matemática, a música, a astronomia, a botânica. Depois de atingirem os vários graus académicos (bacharel, licenciado, doutor), estes jovens, clérigos ou leigos, serviam o funcionalismo público e a centralização do poder monárquico. Em consequência da presença da universidade,
logo, dos estudantes, a cidade tornou-se o local por excelência da liberdade de acção, pois os estatutos das universidades protegiam os seus alunos, concedendo-Ihes alguma autonomia nos regulamentos e defendendo-os, por exemplo, da prisão por dividas (Bula do Papa Gregório IX, universidade de Paris). Por último, a universidade foi responsável pela alteração da própria fisionomia da cidade, como se pode constatar facilmente pelos exemplos de Paris, com a criação do Bairro Latino (Quartier Latin) e, no nosso território, de Coimbra, cidade que passou a viver, em grande medida, do seu cariz universitário.
A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais Caracterizar o ideal cavalheiresco
Enquanto nas cidades proliferavam as escolas catedrais e as universidades,
enquanto
nos
conventos
nasciam
as
livrarias
(bibliotecas), nas cortes do rei e dos grandes senhores a cultura erudita (acessível apenas aos estratos dominantes da sociedade) desenvolveuse sob o espírito cavalheiresco, segundo o qual o cavaleiro, sempre
de estirpe nobre, almejava tornar-se perfeito. 0 cavaleiro ideal devia ter as seguintes qualidades: - a honra;
- a coragem; - a lealdade; - a virtude; - a piedade; - 0 ideal de cruzada.
Relacionar o código da cavalaria cam as regras do amor cortês
Tal como existia um ideal de cavaleiro, também as relações entre nobres e damas, nas cortes, obedeciam a um ideal de amor, pautado pelo refinamento e pela espiritualidade. Para conquistar a sua amada, o cavaleiro nobre deveria ser virtuoso, paciente, elegante no vestir, bem-humorado, respeitoso perante as mulheres, enquanto a dama, bela e pudica, deveria alimentar o seu amor com gestos comedidos.
Sublinhar a importância assumida pela literatura na difusão das novas formas de sociabilidade
O ideal de cavalaria e o Ideal de amor cortês são indissociáveis das formas literárias que os sustentaram e difundiram: Ideal de cavalaria - os preceitos a que devia obedecer o cavaleiro foram tratados literariamente na narrativa de cavalaria, destacando-se as novelas sobre o rei Artur, os cavaleiros da Távola Redonda e a sua busca do Santo Graal (novelas arturianas). Na Península Ibérica é de salientar, pelo impacto que teve sobre varias gerações de o romance Amadis de Gaula. Já no que concerne aos aspectos práticos da fomação do cavaleiro, é uma fonte importante 0 Livra da Ensinança da Arte de Bem Cavalgar em toda a Sela, verdadeiro manual de equitação dos jovens cavaleiros, da autoria do rei português D. Duarte.
Ideal de amor cortês - a homenagem do cavaleiro à sua dama era cultivada através da poesia trovadoresca. Nas festas cortesãs, era habitual que, após o banquete, os jograis recitassem poesia e tocassem música; depois, os convidados dançavam, já não em grupos, como antes do século XII, mas em pares. Embora nascida no sul da França (Provença),
a
poesia
trovadoresca
conheceu
um
extraordinário
acolhimento na Penfnsula Ibérica sob o impulso de Afonso X, rei de Castela, e graças à criatividade dos poetas portugueses (entre os quais 0 próprio neto de Afonso X, 0 rei D. Dinis) nos géneros das Cantigas de Amigo , das Cantigas de Amor e nas de Escárnio e maldizer.
Caracterizar a época medieval A época medieval é um período muito extenso da vida da humanidade (cerca de 1000 anos) que se convencionou balizar entre as datas 476 (queda do Império Romano do Ocidente) e 1453 (queda do Império Romano do Oriente). Naturalmente, um periodo tão alargado no tempo corresponde a muitas transformações ao nível do tempo curto (dos eventos ou acontecimentos) e do tempo médio (das conjunturas). No entanto, é possivel destacar algumas características perenes, isto é, duradouras, que se mantiveram praticamente inalteradas ao longe de todo esse período: estamos a falar das estruturas correspondentes ao tempo longo. Assim, na Europa Ocidental, podemos destacar as seguintes:
1.Estrutura económica - era centrada, essencialmente na agricultura,
sector pouco desenvolvido porque estava dependente dos factores
climaticos e da mão-de-obra. É de salientar, no entanto, a crescimento agrícola registado a partir do século XI, possibilitado por um conjunto de inovações na forma tradicional de cultivar . A acompanhar o progresso agrícola, assinala-se o progresso comercial, através da criação de uma rede de rotas comerciais dominada pela Flandres, pela Liga Hanseática e pelas cidades italianas.
Estrutura demográfica - uma elevada taxa de mortalidade, sobretudo infantil, impedia que a população aumentasse significativamente, apesar da também elevada natalidade. Uma vez que a evolução da população era consequência directa do sistema económico, os progressos na agricultura e no comércio dos séculos XI a XIII constituíram um factor importante para a crescimento demográfico e para o surto urbano desses séculos. Noutras épocas, nomeadamente no século XIV, a fraca produtividade agrícola (fomes) aliava-se às doenças (pestes) e aos conflitos políticos (guerras) para produzir um recuo demográfico.
Estrutura social - era assente em estratos ou ordens - clero, nobreza e Terceiro Estado categorias sociais rigidamente separadas consoante os seus deveres e privilégias. Dentro do Terceiro Estado deve ser destacada a singularidade da burguesia, grupo em ascensão no século XIII devido ao enriquecimento pelo comércio e à ascensão a cargos de chefia na administração dos burgos.
Estrutura política - depois de um período muito conturbado politicamente, devido às invasões de diversos povos no espaço do antigo Império Romano, a Europa cristalizou-se politicamente em
reinos, senhorios e comunas, sobressaindo, no centro da Europa, o Sacro Império Romano-Germânico coma tentativa de unificação europeia. Nos campos, a palavra-chave é dependência: relações de dependência entre senhores nobres, por um lado, e entre estes e os membros do povo, par outro. 0 rei, neste contexto, fez esforços, sobretudo a partir do século XIII, para impor a seu estatuto de Iíder. Servia-se, muitas vezes, do apoio da elite citadina para obter a centralização do seu poder.
Aspecto arquitectural – inicialmente o românico, com monumentos relativamente baixos, pouca luz e poucas janelas, com o arco redondo e fraca decoração . Existia uma arquitectura religiosa ( conventos / mosteiros, igrejas e catedrais → Sé Velha de Coimbra ) outra civil ( casas → Domus Municipalis de Bragança ) e uma outra militar ( castelos e muralhas ) .
Aspectos culturais – Reter sobretudo o papel relevante do clero na transmissão dos saberes antigos, através do trabalho realizado nos conventos e mosteiros pelos monges copistas, tradutores, iluministas, etc ; sendo o clero também a única classe que sabia ler e escrever . Havia além disso, embora de modo mais restrito, uma cultura profana cultivada por jograis e trovadores ( cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer ), por cronistas ( caso das crónicas de Fernão Lopes ou de Gomes Eanes de Zurara ) e romancistas ( Amádis de Gaula e toda a literatura em torno do rei Artur e dos cavaleiros da Távola redonda ) . Pintura e escultura tiveram proporções menos relevantes .
monge trabalhando no sciptorium