Artigo_ricardo_neves

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LÍDERES 21.0

O que empresários, executivos, headhunters e especialistas dizem sobre a LIDERANÇA PARTICIPATIVA deste novo século UMA PUBLICAÇÃO DA ESTAÇÃO BUSINESS SCHOOL

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NÚMERO 06 | ANO 03 | JULHO 09

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EDITORIAL Esta sexta edição da Revista Gestão Eficaz é especial, pois os artigos focam um único tema: liderança. Fundamentalmente porque a Estação Business School, cujo slogan, desde a sua fundação, é “Os Líderes Formam-se Aqui”, está promovendo um grande evento no tema, o Fórum Global de Liderança. Com a presença de ícones nacionais e internacionais, este Fórum passa a ser um marco para Curitiba, uma vez que todos os cinco palestrantes têm pelo menos um livro publicado sobre o tema. Em outras palavras, trata-se de um evento de conteúdo, de modo que os participantes terão oportunidade única de se atualizar e obter conhecimentos com profissionais especialistas num tema tão importante e necessário para as organizações. Afinal, sem líderes as organizações encontrarão mais dificuldades para sobreviver e crescer. Além de um Painel com líderes-executivos, o Fórum terá a presença de Lorin Woolfe, norte-americano que desenvolve programas de desenvolvimento de liderança para grandes e médias empresas nos Estados Unidos e também escreveu, entre outros, o livro “Liderança na Bíblia”. Nesta obra, ele cita lições e práticas de liderança que ensinam, inspiram e iluminam. César Souza, um dos consultores e palestrantes mais requisitados no Brasil, que recentemente lançou a nova edição do livro “Você é do tamanho dos seus sonhos”. Para ele, como vivemos uma crise de escassez de líderes íntegros, a saída é aprender com os lideres inspiradores, os quais inspiram pelos valores e pelo carisma. Esse é um líder educador: Ricardo Neves, que acaba de lançar o livro “Tempo de Pensar Fora da Caixa”. Para Maria Rita Gramigna, autora de vários livros, entre os quais “Líderes Inovadores”, e consultora em gestão de pessoas, a criatividade é a condição necessária para a inovação, e os líderes devem desenvolver a competência da criatividade. Na sua palestra, trata das ferramentas de criatividade que fazem a diferença. Há muita cobrança na figura do líder. Jayr Figueiredo de Oliveira, autor do livro “Liderança, Líderes e Liderados”, diz que apesar do o ambiente organizacional ser cada vez mais complexo, conflitante e impreciso, os princípios valorizados pelos liderados, tais como integridade, confiança, comunicação, honestidade, lealdade e ética, são universais e atemporais e ressoam pelo mundo todo. Desejamos a todos os amigos da Estação Business School uma ótima e agradável leitura dos textos desta edição. Prof. Judas Tadeu Grassi Mendes

Prof. Manoel Knopfholz

SUMÁRIO Judas Tadeu Grassi Mendes

Iússef Zaiden Filho

Sebastião Carlos de Andrade

César Souza

Ricardo Neves

Milton Mira de Assumpção

Jayr Figueiredo

Maria Rita Gramigna

Manoel Knopfholz e Jedson DE OLIVEIRA

Alfredo Assumpção (Fesa)

Darlene Coelho

MARILDA lilli corbelini

EXPEDIENTE Diretores Judas Tadeu Grassi Mendes Manoel Knopfholz Editor Responsável Fernando Mendonça (MTb 18497-SP) Projeto Gráfico Agostinho Rodrigues Diagramação Margareth Krause Marketing Luciana Mendes (gestora) Ana Abdul Margareth Krause Vera Muniz Wiverson Machado Marques

Equipe Estação Business School Andréa Gregório Paiva, Carla Cristina de Castilhos, Celso Eli da Rocha, Claudinéia Rodrigues Ferreira, Douglas Degrande Bassetti, Edineia Schuster, Edna Schuster, Elfride Hamm, Gessi Maia, Gisele Barbosa de Souza, Helen Oliveira Telles, Iara Galvão Rocha, Iolanda Moreale, Jedson Cesar de Oliveira, Karina de Moura Lemes, Larissa Dal Piva, Leonardo Pansardi Grisotto, Maísa Luana Silvestrin, Corso, Paulo Abdulmassih Filho, Rejane Araújo da Silva, Ritta Maria Lima do Vale, Roberto Costa, Sebastião Cavalheiro, Simone Parnes, Taniamar Ribeiro Bueno, Thiago Kelly Kurosky, Zuleide Nozima Fraga. Tiragem desta Edição 6.000 exemplares Impressão Gráfica Serzegraf A Revista Gestão Eficaz é uma publicação trimestral da Estação Business School, Avenida 7 de Setembro, 2.775, 5º. andar, Rebouças, Curitiba (PR), CEP 80230-010, telefone (41) 2101-8800. www.estacaopr.com.br

LIVROS Ricardo Neves

DESCONSTRUINDO A ARTE DA GUERRA “Livros de autoajuda cumprem um papel mágico, podem ser um lenitivo em sua proposta de apoiar de forma popular as pessoas nas circunstâncias em que vivemos. O que me incomoda no gênero é quando ele se torna um padrão de baixaria produzida por charlatães que posam de gurus e ficam repetindo bordões duros de aguentar, coisas simplificadoras como ‘segredos’”

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a atualidade, livros considerados do chamado gênero autoajuda são um dos maiores filões editoriais. Um bom indicador é que as listas de livros mais vendidos publicadas por suplementos literários de jornais e revistas já costumam fazer essa classificação: ficção, não­ficção e autoajuda. De minha parte,

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nada contra. Aliás, entendo que boa parte da literatura de ficção e dos ensaios de boa qualidade seja de natureza contemporânea ou aquela que se tornou clássica, que nos ajuda a refletir melhor sobre a realidade e a vida, que nos dá momentos de extrema satisfação estética e intelectual e que no final das contas nos torna um pouquinho mais

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sábios e menos ignorantes, poderia ser enquadrada anteriores a essa época. Parte dos textos trazia um como autoajuda. relato da tradição da gestão militar corrente nos Entendo que livros de autoajuda cumprem, anos da dinastia Han e se tornou conhecida como de fato, um papel mágico, podem ser um lenitivo A Arte da Guerra. inegável em sua proposta de apoiar, de forma popular Os arqueólogos acreditavam que essa coleção e despretensiosa, as pessoas nas circunstâncias de escritos era resultado do trabalho de vários em que vivemos, que tudo muda de forma tão autores, mas o grande público foi sendo convencido acelerada. O que me incomoda no gê­nero é quando por versões de outras fontes que atribuíam o texto ele se torna um padrão de baixaria produzida por ao general Sun-Tzu. Esses escritos seriam, de charlatões que posam de gurus e ficam repetindo acordo com essas versões, os originais que teriam bordões e platitudes duros de aguentar, coisas ficado perdidos por 2 mil anos. Mas a humanidade simplificadoras como “segredos” do tipo “deseje tinha conhecimento de A Arte da Guerra por ardentemente e o universo vai conspirar a seu intermédio de outras fontes. Teriam sido textos favor”. Clemente Nóbrega, em minha opinião um influentes nos tempos antigos, tanto por ocasião da dos mais íntegros e sérios pensadores sobre gestão unificação da China daquela época quanto, mais no Brasil, é, trocadilho à parte, inclemente na tarde, já por volta do demolição da autoajuda ano 870 d.C., quando produzida por gurus foram introduzidos “Clemente Nóbrega é inclemente picaretas ao dizer que no Japão. A primeira na demolição dos gurus picaretas está cansado de ver tradução para o milhões e milhões de Ocidente, em francês, ao dizer que está cansado de seres humanos que teria sido realizada por ver milhões de seres humanos levam a vida estourando um jesuíta em 1782 e, estourando de tanto desejar algo e, de tanto desejar algo para o inglês, houve apesar disso, o universo não está e que, apesar disso, o duas versões; uma em universo não está nem nem aí para os seus desejos” 1905 e a segunda em aí para os seus desejos. 1910. Líderes de orgaA descoberta arnizações, como presiqueológica dos suposdentes e diretores, são também pessoas comuns em tos originais de A Arte da Guerra foi despertando termos de vicissitudes, incertezas e inseguranças crescente curiosidade entre leigos - e nada como frente à complexidade que vivenciamos nessa tran- saber contar uma boa história, primeiro passo para sição em direção à Economia do Conhecimento e alcançar o sucesso no mundo editorial. Desde os da Sociedade Digital Global. Não poucos desses lí- anos 80, A Arte da Guerra tornou-se ícone pop para deres se tornam vítimas de visões simplistas que se o mundo corporativo. Centenas de traduções foram encontram em livros mágicos de gestão. Sim, livro lançadas mundo afora, ganhando edições especiais de autoajuda empresarial também virou filão edito­ com mapas e outros atrativos que tornaram esse rial. O melhor indicador de que existe esse tipo de clássico da antiguidade amplamente conhecido nas equívoco entre líderes empresariais é a existência duas últimas décadas do século 20 e um dos hits de de um sem-número de edições desde os anos 90 de listas de livros de negócios mais vendidos. um livreto escrito há quase 2.500 anos, intitulado O meio corporativo absorveu A Arte da A Arte da Guerra, que teria sido produzido por um Guerra de tal forma como títu­lo de saber básico general chinês chamado Sun-Tzu. Como isso acon- indiscutível para negócios e administração teceu? no Ocidente que diversas escolas de negócios No começo dos anos 70, arqueólogos passaram a adotá-lo como referência para cursos descobriram tumbas que seriam de chefes militares e atividades de educação corporativa. Existem até chineses contemporâneos da dinastia Han nas workshops, cursos e disciplinas inspirados em A quais foram encontrados textos inscritos em tiras Arte da Guerra. Mas, como diz Clemente Nóbrega de bambu. Esses chefes teriam sido enterrados em suas análises sobre sucesso e marketing: “Fazer entre os anos 140 e 134 a.C., e os textos seriam sucesso não significa ser bom. Significa que é bom

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em fazer sucesso”. A meu ver, entender A Arte da permitiria aprofundar minhas afirmações acusa­ Guerra como um vade mecum, isto é, como um tórias acerca da mistificação barata construída para livro de uso muito frequente que serve de guia, tornar A Arte da Guerra em um produto editorial é, no mínimo, um equívoco, um anacronismo. pop, mistificação essa que funcionou muito bem? Nada melhor do que tomar o próprio prefácio Provavelmente, A Arte da Guerra não teria se tornado um enorme successo se não tivesse ido escrito por James Clavell para ficar estupefato parar nas mãos de um grande contador de histórias, com a exaltação, digna de autores de autoajuda um grande fazedor de best-sellers que contou a de nível bem “rampeiro”. Clavell revela, ao final história que embalou a decolagem editorial de A de longa peroração, uma completa desconexão de valores humanos que aprendemos a respeitar Arte da Guerra. Falo de James Clavell. Para quem não sabe, o britânico James Clavell desde que os Direitos Hu­manos Universais foram era, além de escritor, diretor de cinema. Tornou-se redigidos há 200 anos. O texto original de A Arte precursor dos formatos novos dos best-sel1ers e es- da Guerra, a meu ver, só pode ser tomado como creveu diversas obras sobre a cultura oriental, entre relíquia histórica, não como ensina­mento capaz de das Tai-Pan, Gai-Jin e Shogun. Sabia como nin- ser fonte de inspiração perene. Perpassa todas as páginas do texto atribuído guém entreter as pessoas com livros sobre o Oria Sun Tzu uma brutal, ente. (Detalhe: Clave1l completa e inadmisfoi prisioneiro de guer“A Arte da Guerra não teria se sível crueldade que ra dos japoneses dutornado um enorme sucesso se não pode ser estendida rante a Segunda Guerra como ensinamento para Mundial.) Shogun foi não tivesse ido parar nas mãos os dias de hoje, consi­ seu maior sucesso, o de um grande fazedor de bestderando qualquer atenqual também foi parar sellers que contou a história que uante. No seu longuísnas telas. Em última embalou a decolagem editorial do simo prefácio, Clavell análise, Clavell se torlivro. Falo de James Clavell ” faz o trabalho de ajudar nou conhecido no muna empurrar as arengas do por seus romances belicistas do contexto que contribuíam para militar para todos os que o Ocidente tomasse maior conhecimento da cultura oriental e de seg- relacio­namentos humanos, começando por afirredos até então não revelados. Dada a reputação mações do tipo “as verdades de Sun Tzu podem, adquirida, ninguém melhor que Clavell para fazer da mesma forma, mostrar o caminho da vitória em a apresentação e situar A Arte da Guerra para os todas as espécies de conflitos comerciais comuns, leitores de uma edição feita em cima da sensacio- batalhas em salas de diretoria e na luta diária pela nal des­coberta arqueológica dos originais. Foi essa sobrevivência que todos enfrentamos - mesmo na a ideia que um editor muito esperto teve. E Clavell guer­ra dos sexos! São todas formas de guerra, todas combatem sob as mesmas regras – suas regras”. fez um serviço muito eficiente. Encerrando sua arenga de um longo prefácio O texto de A Arte da Guerra é bem pequeno. Li e reli seus curtos 13 capítulos várias vezes, para um livro bem fininho, James Clavell endossa como quem vai a um museu arqueológico. Mas que o conhecimento de Sun Tzu é vital para nossa sem acreditar naquilo como verdade perene. O sobrevivência. Que pode nos dar a proteção de texto de apresentação produ­zido por Clavell é que necessitamos para que nossos filhos cresçam quase tão extenso quanto o próprio texto integral, em paz e com prosperidade. Que Sun Tzu é leitura que compreende os 13 capítulos. Foi o espaço obrigatória da hierarquia político-militar soviética necessário para Clavell contar uma história e há séculos é traduzido para o russo; é também, que tenta fazer o texto original parecer verdade quase literalmente, a fonte do Pequeno Livro permanente e atualíssima. Caro leitor, você me Vermelho, de Mao Tsé-Tung, doutrina de estratégia “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros” Jack Welch

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e tática. Sinceramente? Eu não gostaria de ter como líder alguém que fosse um venerador de A Arte da Guerra, como se o mesmo trouxesse verdades eternas. Além disso, acho que as empresas já estão muito preocupadas em se transformar em ambientes acolhedores tanto para seus atuais colaboradores quanto para talentos criativos. Talentos não florescem em ambientes nos quais o comando-e-controle predomina. En­tendo que é indesculpável que homens e mulheres educados em outro contexto, com a valorização dos Direitos Humanos, da igualdade e da democracia, sejam capazes de exaltar como exemplo de gestão a perspec­tiva desumana de generais a serviço de tiranos eleitos por deuses, acima dos indivíduos e da sociedade. MUDANÇA CULTURAL É MAIS DIFÍCIL Essa insensatez em exaltar como modelo para nossos tempos os conselhos de Sun Tzu seria como se orientar em um futuro longínquo, digamos hipoteticamente no ano 5000 d.C., pelos ensinamentos do Livro Vermelho dos Pensamentos, de Mao Tse Tung, ou do Mein Kampf, de Adolf Hitler. A transformação de A Arte da Guerra em um ícone pop da comunida­de de negócios - em um tempo em que líderes empresariais estão falando em promover “responsabilidade social e corporativa” - atesta tristemente que a base cultural de nossas organizações ainda segue um modelo

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militar milenar. E a mudança cultural é a mais profunda e difícil de ser realizada. Ao longo do século 20, a instituição da guerra acabou ganhando uma perspectiva muito mais séria e devastadora do que os conflitos da Antigui­dade. As duas guerras mundiais, o Holocausto, a bomba nuclear e a tensão dos tempos da Guerra Fria mostraram para a humanidade uma perspectiva de extermínio nunca antes imaginada. O século 20 foi o tempo em que perdemos a ilusão sobre a “beleza” da guerra. Sério, houve tempo em que na­cionalistas e mesmo poetas eram capazes de promover a guerra como ins­tituição positiva, por seus “efeitos saneadores e mobilizadores de energias criativas da humanidade”. Aprendemos à custa de quase 100 milhões de mortos nas guerras do século 20 que, para as sociedades democráticas e para homens e mulheres que prezam direitos e liberdades, a guerra existe apenas como uma possibilidade de legítima defesa. Nunca como um negócio, muito menos como arte. A transformação de A Arte da Guerra em best-seller especificamente no seio da comunidade de negócios é sintomática daquilo que Peter Drucker tão bem observou: que as empresas ainda continuam a seguir como inspiração para sua estrutura o modelo militar hierárquico, tipo comando-e-controle, dividido entre oficiais e tropas. Mas nosso sábio Drucker já antecipava a necessidade de mudanças ao prenunciar: “Quando as grandes empresas começaram a existir, a única estrutura organizacional que elas usavam como

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modelo era a militar... O modelo de amanhã é o da orquestra sinfônica, do time de futebol, de um hospital”. DA ARTE DA GUERRA AO XADREZ DE HARRY POTTER Quando eu escrevia o meu livro, intitulado Tempo de Pensar Fora da Caixa, em uma das conversas que mantive com o presidente local de uma grande empresa transnacional ele me listou uma série de atividades de sua agenda, atividades que eram paralelas e tão importantes quanto as dedicadas a gerir as operações em nosso país. Essas atividades eram realizadas em times nos quais ele, algumas vezes, era uma espécie de mentor, outras vezes uma espécie de protégé, isto é, um pupilo que recebia aconselhamento da parte de executivos seniores e de consultores externos de sua empresa. Outras vezes, eram atividades em conselhos e em comitês em que ele trabalhava ao lado de seus colegas de outras divisões, em circunstâncias em que praticamente não havia relação hierárquica. Todas as atividades internacionais eram um contraponto às locais, e, embora ainda requeressem muitas viagens internacionais, essas atividades só eram possíveis pela disponibilização de

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equipamentos e ferramentas digitais colaborativas. A “caixa de ferra­mentas digitais colaborativas” que esse executivo mencionou compre­endia desde os prosaicos telefone e e-mail até sofisticados sistemas de telecom para conferência multiponto que integram vídeo, voz e troca de arquivos digitais. Porém o mais importante e o que mais chama a atenção não é a tec­nologia, é o sistema de trabalho que coloca um presidente em diversas situações inovadoras para quem está acostumado apenas com o sistema tradicional comando-e-controle. É verdade que esse tipo de prática de ad­ministração e gestão organizacional exposto anteriormente é ainda emer­gente e de vanguarda. A maioria tradicional dos dirigentes de empresas ainda está aferrada a uma visão que acredita em liderança imperial iluminada, e que se pauta por um modelo mental militar, centralizado e verticalizado de agir. Isso explica por que modelos próprios da realidade da China Antiga ou do Japão medieval ainda façam tanto sucesso mundial nas estantes de best-sellers de livros de administração e negócios. Nossa ideia de liderança ainda é calcada na figura do executivo ninja, aquele que é sobretudo uma espécie de macho-alfa. Nos bons e velhos tempos representados pelo século 20, o modelo mental para a gestão de

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negócios e de organizações que prevaleceu sem questionamento entendia as atividades humanas como uma espécie de jogo de soma-zero, isto é, aquele jogo em que, para alguém ganhar, outro deve perder. Esse era um jogo genuinamente cerebral, em que vence o jogador capaz de racionalmente analisar o maior número de alternativas à frente para os dois contendores. Esse modelo mental de jogo ainda tinha outra regra expressa no famoso ditado militar: “Manda quem pode, obe­dece quem tem juízo”. MODELO JESUÍTICO BUROCRÁTICO MILITAR Se você leu ou viu no cinema Harry Potter, como fez uma parte significativa da Geração Milênio, deve lembrar-se do “xadrez de bruxo”. Para os acostumados com o xadrez normal, isso não é um jogo. É um caos. Começa que o jogador também é uma das peças do tabuleiro. O espantado jogador vai descobrindo que mui­tas das regras estão sendo construídas enquanto se joga. O jogador deve en­tender que nada é combinado a priori. Que nada pode ser completamente controlado, até porque as peças têm vontade própria. Um bispo pode olhar para você e dizer: “Por que não posso me movimentar como um cavalo?”. Eventualmente, as peças podem se revoltar, questionar e até sabotar as tá­ticas empregadas pelos jogadores que se enxergam como oponentes todo-poderosos sobre o destino das peças que são simplesmente empurradas pelo tabuleiro. As chances de vencer no “xadrez de bruxo” são maiores para quem persegue melhores estratégias de colaboração e ne­ gociação permanente com as peças, inclusive com peças tidas como inimigas. O sucesso no xadrez de bruxo depende no final das contas em buscar resultados que possibilitem maximizar o número de ganhadores. A história da humanidade sempre foi vista como um jogo de xadrez tradicional, em que os poderosos manipulam ao bel prazer a imensa maioria dos demais seres humanos. O xadrez de bruxo é uma boa metáfora para os novos tempos, em que globalização entra em nova fase, em que ferramentas de tecnologia de informação e de trabalho colaborativo estarão se disseminando em velocidade exponencial e em que a complexidade e a incerteza crescerão igualmente, e na qual, para­ doxalmente, a interdependência também. Há quem diga que a Economia do Conhecimento será uma

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wikieconomia. Em sintonia com os novos desafios e com o objetivo de ajudar a criar novos modelos mentais de compreensão da realidade e de gestão de negócios e organizações, algumas escolas de negócios já começam a incentivar seus alunos a lerem reflexões mais apropriadas do que A Arte da Guerra. Já existe um pensamento de vanguarda em algumas escolas de negócios que preferem refletir, por exemplo, as ideias amadurecidas pelo pensador francês Edgar Morin, que, em seu livro intitulado Para Sair do Século 20, advoga: “Frente a uma realidade em que nada pode ser previsto com certeza, tudo deve ser previsto condicionalmente, é preciso romper o modelo organizacional jesuítico/ burocrático/ militar no qual o líder tem uma posição de comando e controle”. Nesse novo modelo mental, um sistema de controle da organização se baseia em uma topologia mais horizontal e em rede. Alguns pioneiros vêm chamando esse sistema de conselhos-e-comitês (councils and boards). O sistema conselhose-comitês seria mais adequado para encarar a realidade caótica colaborativa do xadrez de bruxo de Harry Potter, enquanto o sistema comando-econtrole é mais adequado para o xadrez tradicional. Não é um sistema de gestão ou outro que devemos esperar como o sistema de gestão organizacional da Sociedade Digital Global. Não é um ou outro. Existem situações em que o sistema comando-e-controle ainda funciona melhor que o sistema conselhos-e-comitês. Provavelmente vere­mos novas invenções e inovações e, certamente, os gestores irão explorar receitas balanceadas dos dois sistemas: aqui vai um pouco de comando­-e-controle, acolá funciona melhor e conselhos-e-comitês. Para quem só se sente tranquilo em situações, ambientes e circuns­tâncias em que certezas e controles são fundamentais, a transição para a Economia do Conhecimento, era na qual estamos adentrando, não será certamente uma época amena. Será um tempo em que o mundo vai parecer estar de cabeça para baixo. Ricardo Neves é consultor de estratégia, autor de Tempo de

Pensar Fora da Caixa – A Grande Transformação das Organizações Rumo à Economia do Conhecimento (Editora Campus-Elsevier, 2009) e de Novo Mundo Digital (Ediouro 2007). Esses dois livros fazem parte de uma série intitulada Renascença Digital – o Tempo da Grande Transformação Rumo à Sociedade Digital Global; integra o time de professores do Ibmec.

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