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A “POLICULTURA” NA ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL: O CASO CONSTRUTIVISTA

Vitor Furtado Jerônimo Veloso1

RESUMO Este artigo tem como objetivo fazer um mapeamento da abordagem construtivista dentro da Economia Política Internacional (EPI). Fazendo uma analogia ao conceito de “Policultura” proposto por Kathleen McNamara (2009), argumento que a EPI seria uma campo fértil para diversas outras contribuições derivadas de disciplinas correlatas. Partindo da interpretação da EPI como um campo multifacetado, pautado pela pluralidade e interdisciplinaridade, o artigo apresenta diferentes análises trazidas pela abordagem construtivista para a EPI. Tal riqueza de interpretações demonstra a importância do construtivismo para se superar o status de “monocultura” que o mainstream racionalista (norte americano) estabeleceu na área, apesar de advogar pela pluralidade do campo. Desse modo, o artigo examina e apresenta uma série de autores e suas respectivas contribuições procurando evidenciar que o “construtivismo” possibilitou fazer do campo uma “policultura”, cruzando e interconectando as diversas análises com o intuito de elaborar melhores explicações e recomendações sobre o que ocorre na EPI de fato. Palavras-chave: construtivismo; policultura; atores; mudanças; normas; ideias

ABSTRACT This article aims to map the constructivist approach within the International Political Economy (IPE). Taking an analogy to the concept of "Policulture" proposed by Kathleen McNamara (2009), I argue that IPE would be a fertile field for several other contributions derived from related disciplines. Starting from the interpretation of IPE as a multifaceted field, based on plurality and interdisciplinarity, the article presents different analyzes brought about by the constructivist approach to IPE. Such a wealth of interpretations demonstrates the importance of constructivism to overcome the status of "monoculture" that the rationalist mainstream (North American) established in the area, despite advocating for the plurality of the field. Thus, the article examines and presents a series of authors and their respective contributions seeking to show that "constructivism" made it possible to make the field a "policulture", crossing and interconnecting the various analyzes with the purpose of elaborating better explanations and recommendations on what occurs in IPE in fact. Keywords: constructivism; policulture; actors; norms; ideas.

INTRODUÇÃO Em seu artigo, Of Intellectual Monocultures and the study of IPE (2009), Kathleen McNamara sintetizou a discussão sobre o excessivo foco da EPI em enfoques racionalistas e seus métodos quantitivativos. Negando a afirmação de que “não existe uma 1

Mestrando do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais – PPGRI/UFU

EPI construtivista”, a autora faz uma analogia entre a monocultura agrícola (especializada, eficiente, produtivista e padronizada) e a corrente liberal mainstream na EPI, principalmente nos pressupostos produzidos pela vertente norte americana da disciplina. A autora argumenta que da mesma forma que as monoculturas agrícolas, as monoculturas intelectuais resultaram em uma escassez e um esgotamento do campo de análise da EPI. Dessa forma, abordagens alternativas, como o construtivismo e outras formas de análise e métodos, fariam do campo uma “policultura”. Cruzando e interconectando as diversas interpretações seria possível elaborar melhores explicações e recomendações sobre o que ocorre na EPI de fato. Assim, quanto mais plural, aberta e multidisciplinar, mais a EPI estaria munida de ferramentas para capturar o caráter multifacetado das relações entre a Economia e a Política no ambiente internacional. Assim como McNamara, Mark Bltyh em Routledge Handbook of International Political Economy (2009), parte do pressuposto de que a Economia Política Internacional seria composta por “múltiplas tradições”, tanto entre as próprias escolas, quanto dentro dessas escolas, caracterizando o campo como multidisciplinar. Assim, Blyth coloca como questão fundamental a necessidade de “globalização” da EPI, ou seja, movê-la para fora das tradicionais escolas “Norte americana” e “Britânica”. Apesar de haver distinções sobre o alcance do construtivismo em EPI, até mesmo se as abordagens pós modernas podem ser consideradas como construtivistas (Abdelal, 2009) ou não, meu objetivo no presente artigo é superar tais distinções e apontar necessariamente as contribuições dos diversos autores tidos como construtivistas para o avanço da disciplina, ou seja, autores que enfatizam as influências não materiais para a construção do mundo material. Baseado na visão de que a EPI seria uma campo fértil para diversas outras abordagens, o presente artigo tem como objetivo discutir a importância do construtivismo para se superar o status de “monocultura” que o mainstream na área estabeleceu. Para que possamos discutir tal questão, divido este artigo em três seções. Na primeira seção faço um contexto histórico sobre a ascensão do construtivismo na EPI. Nesta, o objetivo não é fazer uma contextualização histórica de todo o campo, e sim, de como o construtivismo vai surgir como uma alternativa em um determinado período histórico e em circunstância determinada a partir das mudanças no contexto internacional ocorridas a partir dos anos 90. Já na segunda seção, faço uma breve exposição sobre o que fundamenta o construtivismo, como também, um mapeamento do estado da arte

construtivista dentro da Economia Política Internacional. Para isso, seleciono diversos autores e trabalhos que utilizam do instrumental teórico construtivista para ampliar seu campo analítico e metodológico, bem como aponto sobre o cárater que tais trabalhos seguem e sua distinção para as análises racionalistas. Por fim, na terceira seção elaboro uma discussão sobre a importância do construtivismo para a superação do que McNamara chamou de uma “monocultura intelectual” dentro da própria EPI.

CONTEXTO HISTÓRICO Assim como o construtivismo nas Relações Internacionais (RI), em Economia Política Internacional tal abordagem ascendeu em meio à necessidade de se compreender de maneira mais robusta as transformações pelas quais o cenário internacional passava a partir de meados da década de 80 e início da década de 90. Como observa Broome (2013), nas RI’s, a preocupação em entender o pós Guerra Fria foi o desafio intelectual que permeou a ascensão do construtivismo na área. Já na EPI foram as mudanças na economia internacional que motivaram seu desenvolvimento, mais especificamente, as sucessivas crises em meados da década de 90 provocadas pelo aumento da volatilidade nos capitais em todo o mundo. O Construtivismo, enquanto abordagem teórica, se caracteriza por dar maior proeminência ao papel das ações humanas na transformação do mundo material. Este seria construído a partir de interpretações epistêmicas e normativas feitas pelas interações humanas (Adler, 1999). Ou seja, com o Construtivismo, passou-se a dar maior visibilidade à influência das construções sociais para criar e moldar o mundo material, tanto suas instituições, quanto suas práticas. Assim, as ideias quando formadas coletivamente pelos indivíduos, acabam por moldar o mundo social, mas também o político e o econômico (Abdelal, Blyth e Parsons, 2009). Nas Relações Internacionais, o construtivismo ganhou proeminência ao entrar em um dos principais “debates” dentro da disciplina: o debate entre racionalistas e reflexivistas (ou relativistas). Uma parte significante da literatura em RI coloca o construtivismo como um “meio termo” nesse debate, não sendo tão radical quanto as abordagens mais radicais reflexivistas (Zehfuss, 2004; Adler, 1997). Desse modo, o construtivismo desafia os principais pressupostos do racionalismo, principalmente a noção de que a política internacional é uma realidade imutável, ou seja, o mundo é

socialmente construído, não dado como pretendem os racionalistas (Zehfuss, 2004)2. Como aponta Guzzini (2000), o construtivismo pode ser entendido tanto em termos de construção e modificação da realidade social, quanto em termos da própria construção do significado. Assim, os Estados e suas identidades, e também as normas, estão sujeitas a uma ressignificação, podendo mudar e influenciar significativamente as práticas internacionais (Zehfuss, 2004). Por outro lado, como afirma Amoore (2002), o campo da EPI também está intimamente ligado à compreensão da transformação social global. O processo de globalização foi uma mudança fundamental para os pesquisadores do cenário internacional. Durante esse período, que gira em torno de meados da década de 80 até a década de 90, a leitura neoliberal da EPI tendia a tratar o mercado como um fato dado, central e duradouro. O ressurgimento do capitalismo liberal, representado agora pelo que se chamou de “neoliberalismo” representou a aceitação categórica da ideologia dos mercados e o afastamento desse liberalismo incorporado. Chegava ao fim o compromisso como o chamado Embedded Liberalism. Porém, o que não se compreendia, ou não se interpretava, era que o mercado nada mais era que um fato social e não natural. Dessa forma, ele derivava da intensa mudança que essa globalização trouxe, tanto no nos discursos políticos, como nas doutrinas e nas práticas (Abdelal, 2009). A insuficiência das explicações racionalistas e de sua epistemologia positivista, levou diversos teóricos de diferentes áreas a buscar em outras disciplinas, abordagens que dessem maior robustez à explicação sobre tais mudanças na economia política internacional. Diferente das abordagens racionalistas, que privilegiam a descrição e explicação de fatos empíricos e objetivos através da aplicação de metodologias das ciências naturais nas ciências sociais (Broome, 2013), as abordagens construtivistas têm como princípio a visão de que a natureza de um objeto não é externa às dinâmicas sociais e dos atos interpretativos pelos quais o indivíduo busca conhecer o objeto e dar-lhe sentido. Assim, para tais teóricos, seriam as idéias a chave da constitutição tanto da identidade de um ator como de seus interesses. Para Abdelal (2009), a ascensão do construtivismo na EPI seria uma consequência do acúmulo de explicações de caráter não materialista sobre como a economia mundial estaria funcionando.

2

Sobre o construtivismo nas Relações Internacionais, ver: Guzzini (2000); Zehfuss (2004); Adler (1997; 1999).

Para que se alcançasse essa expansão do estudo das idéias na EPI e, consequentemente, a articulação de outras abordagens na constituição do campo construtivista na área, diversos autores buscaram em disciplinas correlatas, conceitos e métodos que auxiliassem no aprimoramento de seu instrumental analítico. Disciplinas como a Sociologia, a Antropologia, Psicologia, a História, entre outras; foram importantes para fortalecer, juntamente com a Economia e a Ciência Política, o campo multidisciplinar da Economia Política Internacional. A construção teórica construtivista sobre a influência das ideias, normas e crenças coletivamente compartilhadas tornou-se central para a análise da EPI (Abdelal, 2009). A força das teorias mainstream e sua capacidade em uniformizar a disciplina, principalmente entre as tidas três principais perspectivas rivais (Liberalismo, Realismo e Marxismo), ofuscaram bastante o reconhecimento das abordagens alternativas (Blyth, 2009). Apesar de ter expandido o campo de análise, ter ajudado no refinamento dos métodos e dos designs da pesquisa, assim como, ter formulado críticas contundentes contra as abordagens racionalistas na EPI (Broome, 2013), o construtivismo teve de enfrentar alguns desafios para se consolidar na área. A importância em se compreender a disciplina de EPI como um campo analítico multidisciplinar reside no distanciamento da visão amplamente disseminada, principalmente pela EPI norte americana, de que o campo seria somente uma ramificação das RI’s, sendo esta mesma considerada um subcampo da Ciência Política. De outra forma, pela sua posição tida como “hegemônica” na disciplina, a EPI norte americana ignora as demais contribuições fora dos Estados Unidos, assim como deixa marginalizadas diferente versões da EPI originadas de disciplinas diferentes (Blyth, 2009). Robert Gilpin, considerado um dos fundadores da Economia Política Internacional como campo analítico, além de sua importância na formação da EPI, foi um dos responsáveis por dar início a esse estreitamento intelectual do campo. Em seu livro, The political economy of International Relations (1987) apesar de descrever o campo da EPI como diverso, plural; ele acabou por definir os termos do debate destacando as três abordagens citadas anteriormente como as principais e a base da EPI. Mark Blyth (2009), citando o trabalho de Frieden e Martin, afirma que para eles isso “determinou um consenso sobre as teorias, métodos, assim como quais questões de análise seriam as mais relevantes” (Frieden e Martin, 2003 apud Blyth, 1999, p. 1)

Discordando da posição de Frieden e Martin, o autor vai afirmar que, devido ao crescente pluralismo de abordagens dentro da EPI, é dificil aceitar a idéia de que o campo estaria se estreitando dessa forma. Como exemplo, o autor aponta perspectivas de caráter polanyiano/gramsciano, como as de Robert Cox e Stephen Gill; trabalhos sobre a Global Political Economy (GPE) de preocupações trazidas da sociologia, como Ronen Palan; além das abordagens pós estruturalistas, que trazem as questões de performatividade e biopolítica, como Mackenzie (2003) e De Goede (2003). Portanto, através dessa rápida contextualização, fica claro que o campo da EPI não somente exige diversidade em sua abordagem (McNamara, 2009), como também, de fato, vem se tornando um campo cada vez mais plural, abarcando contribuições de diversas disciplinas. O surgimento de novas abordagens, de caráter reflexivista, vão se estabelecer como desafios às abordagens mainstream. Estas abordagens, pautadas na idéia de que a estrutura material é que determina como os agentes agem, tem como objetivo construir narrativas (modelos heurísticos3) cm o intuito de demonstrar como o mundo realmente funciona. Essa tentativa de fazê-los corresponder à realidade, é que garantiria a eles uma posição mais “científica” e de maior rigor metodológico dentro da disciplina. Será a partir dessa disputa entre as abordagens, de forma geral, racionalistas versus reflexivistas, que o Construtivismo vai surgir na EPI. Para alguns, como respostas ao mainstream, para outros como complementar; mas, de forma geral, como uma forma de ampliar o instrumental analítico do campo. É na próxima seção que abordo sobre as caracteristícas do construtivismo na EPI e suas diversas contribuições.

O ESTADO DA ARTE CONSTRUTIVISTA NA EPI: PLURALIDADE E O PAPEL DA CONSTRUÇÃO SOCIAL Em seu conhecido artigo, The Transatlantic divide: Why are American and British IPE so different? (2007), Benjamin Cohen afirma que apesar da pluralidade e de seu caráter interdisciplinar atualmente, a disciplina de EPI como hoje a conhecemos ainda carece de uma certa definição. Para ele, o campo ainda não possui uniformidade, ou seja, não está estritamente definido em suas bases, o que nos levaria a questionar sobre o que a EPI trata. Neste artigo, apesar de focar apenas na análise das escolas “norte americana”

3

Ver: GIGERENZER, G; GAISSMAIER, W. Heuristic decision making. Annual review of psychology, v. 62, p. 451-482, 2011.

e “britânica”, Cohen aponta uma característica (a falta de uniformidade) que afetaria a disciplina como um todo, mas que também está presente na própria abordagem construtivista na disciplina. Na abordagem construtivista, tal falta de uniformidade impulsiona os autores que pretendem fazer uma descrição da contribuição construtivista em EPI a buscar maneiras de categorizar as diversas vertentes de análises presentes nesta abordagem. Tais categorizações, apesar de serem importantes didaticamente como uma forma de sintetizar o estado da arte construtivista no campo, também impõem uma certa homogeneização das diferentes análises dentro desses seguimentos, e podem acabar por discipliná-las de certa forma, o que prejudicaria seu caráter plural. Dado que meu objetivo geral neste artigo é o de fazer um mapeamento desta contribuição no campo da EPI, na tentativa de ser mais didático possível, utilizo a divisão/categorização feita por Abdelal, Blyth e Parsons (2010) para demonstrar que o próprio construvismo na EPI é constituído por abordagens variadas que percorrem caminhos diferentes na tentativa de explicar o papel da construção social na economia política, ao mesmo tempo, sem marginalizar nenhuma vertente, colocando até mesmo os pós positivistas como trazendo uma contribuição importante para o papel dos indivíduos no campo. Na introdução do livro Constructing the International Political Economy (2010), Abdelal, Blyth e Parsons afirmam que existe uma enorme diversidade entre os construtivistas. Para eles, o ponto em comum entre os autores é o da “interpretação socialmente construída”, mas suas visões sobre o mundo e seu funcionamento são bastante variados. É a partir desta visão de diversidade de interpretação que os autores vão elaborar as quatro diferentes lógicas (caminhos) para o construtivismo (paths to constructivism). Tais caminhos representam as diferentes racionalidades que se desenvolvem a partir das diversas posições teóricas tomadas pelos autores e que instruem formas de

compreender os processos de construção social, seus surgimentos,

mecanismos e efeitos, porém todos eles sugerem que a construção social importa. São eles: o caminho do significado, o da cognição, o da incerteza e o da subjetividade4.

O caminho do significado

4

Path of meaning, of cognition, of uncertainty and subjectivity, respectivamente.

O caminho do significado é a lógica mais comum dentre todas. Parte-se do pressuposto que as construções sociais influenciam a economia política através do conteúdo (significado) que os próprios fatos materiais possuem. Assim, “a abertura para a variação socialmente construída na ação não está na imprevisibilidade ou complexidade do mundo material, mas em seu relacionamento inerte e quase sem sentido com a existência e a escolha humana” (Abdelal, Blyth e Parsons, 2010, p. 8, trad. nossa). Ou seja, os indivíduos não se pautam apenas em escolhas racionais, em fatores estritamente materiais. Suas ações, assim como suas opiniões e ideias, variam também a partir das construções sociais que revestem os termos materiais e que servem para direcionar e impulsionar tais ações, como as identidades, símbolos, convenções, normas, entre outros; que as pessoas construem para motivar e priorizar suas ações. Todos esses significados que envolvem os fatores materiais e, consequentemente, influenciam as ações dos indíviduos, restringem as opções a serem tomadas pelos mesmos. Dessa forma, negligenciar o papel dos significados, e como eles moldam a capacidade de análise dos individuos, seria fazer uma análise reducionista do comportamento, pautado apenas na escolha racional. Para os autores construtivistas que tomam o caminho do significado, dificilmente os atores analisam e interpretam o mundo exclusivamente em termos materiais. Por trás destes existem diferentes objetivos sociais, intepretações de como esses fatores materiais servem como formas de atuação no mundo refletindo as posições tomadas pelos diferentes atores. Ou seja, a economia e a política internacional são constituídas por fatores materiais e sociais, e estes dão sentido e possibilitam a interpretação dos fatores materiais. Em Capital Rules : The Construction of Global Finance (2007), Rawi Abdelal, investigando a ascensão dos mercados financeiros globais, sua construção e suas consequências, analisa os atores, as instituições e as normas que validaram e legitimaram a construção do mercado financeiro e das finanças internacionais. Pautado numa abordagem voltada para a sociologia política e econômica, o autor examina o papel dos indivíduos na formação das idéias por trás das finanças internacionais, e como eles formalizaram um novo consenso dentro de instituições e das agências moldando os mercados financeiros globais. De outra forma, abordando essa questão do papel do consenso e de seus impactos, Kathleen R. McNamara (1999) tenta compreender os motivos pelos quais os Estados europeus apoiarem a criação União Europeia (UE). A autora argumenta que o desenvolvimento de um consenso de política econômica neoliberal entre os líderes foi

crucial para a estabilidade no Sistema Monetário Europeu e o avanço para a criação da UE. Dessa forma, McNamara ponta que o processo de mudança da política neoliberal depende, e é moldado, pelas crenças historicamente compartilhadas e interpretações de suas experiências na economia global. Também, Siles-Brügge (2013) e Matthijs e McNamara (2015) buscam as motivações das mudanças na agenda comercial e da política economica da UE frente à crise de 2008 e do euro. Ambos vão argumentar a forte influência dos atores e de suas idéias para apontar soluções e discursos especfícos frente a crise. Já Hay & Rosamond (2002) mostram como as estruturas ideais se tornaram institucionalizadas e normalizadas, e argumentam que a implantação dos discursos da globalização e integração europeia como retórica política são estratégicos e heterogêneos, variando entre os contextos nacionais e de partidos. Diferentemente, Jeffrey Chwieroth (2010; 2015a), analisando os casos de Indonésia e, Brasil e Coreia do Sul, argumenta que os fatores externos impactam no modo como os atores moldam suas percepções e preferências. Porém, o autor salienta que para haver a aceitação de normas de governança financeira e/ou mudanças institucionais e políticas, as preferências subjetivas e as estratégias do atores são fundamentais para que se consiga promover idéias que alcançem tais mudanças. Béland, Carstensen & Seabrooke (2016) apontam contribuições de diversos autores sobre a relação entre as idéias e o poder político nas políticas publicas. Eles enfatizam a importância das idéias na compreensão dos processos de mudança e estabilidade na política pública salientando a importância de considerar idéias e discursos no contexto institucional. Já Stone (2004) analisa a transferência de políticas e conhecimento como um elemento constitutivo da governança transnacional. Tais transferências de políticas, instituições e idéias acontece dentro de associações regionais, entre organizações internacionais e é parte integrante de tais redes. Em consonância com essa interpretação que os impactos externos tem nas preferências e ideias dos atores, Broome e Seabrooke (2012) e Sharman (2009) buscam entender como as Organizações Internacionais (OI) constrõem e moldam uma certa autoridade cognitiva em relação às mudanças institucionais em seus Estados Membros, aumentando sua capacidade de influenciar nas questões voltadas para a economia e a governança. Argumentam que é através de conhecimentos especializados, da independencia operacional e da autoridade cognitiva que as OI’s conseguem influenciar os formuladores de políticas.

Trazendo tal compreensão dos impactos das OI’s nas mudanças instituicionais ocorridas nos Estados, Broome e Seabrooke (2007), aplicam tal abordagem ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Também Chwieroth (2008; 2015b) analisa a mudança de perspectiva feita pelo fundo, assim como a questão das condicionalidades impostas por ele, imputando-as como consequências dos processos internos (recrutamento administrativo, adaptação, aprendizagem e empreendedorismo interno), assim como das orientações normativas do pessoal e ao treinamento profissional. Do mesmo modo, Grabel (2011) afirma que não existe uma narrativa unificadora no FMI que capte coerentemente sua abordagem à crise. É a “incoerência produtiva” (proliferação de estratégias inconsistentes e/ou contraditórias) no que se refere à governança econômica do mundo em desenvolvimento, que impacta na forma como os economistas, a comunidade financeira global e o FMI vão definir as políticas viáveis para estes países. Já Abdelal (2005), tentando entender como alguns Estados pós soviéticos tomaram rumos diferentes em suas políticas econômicas externas, vai encontrar nas identidades nacionais a sua resposta. Entendendo que as identidades nacionais atribuem um sentido social à política econômicas, o autor analisa as formas como elas vão afetar a formação das políticas econômicas e como elas vão ajudar a moldar a projeção desses Estados frente a economia internacional. Corroborando com esta intepretação do papel das identidades, Abdelal et al (2006) abordam a crescente importância do conceito de identidade para as ciências sociais. Pontuando a necessidade de maior rigor e precisão na definição do termo, os autores tentam fazer do conceito de identidade uma variável mensuravel em diversas disciplinas e campos, auxiliando os estudiosos interessados nas pesquisa de identidade. Seguindo esse foco na identidade como um fator importante na a EPI, Qin (2003) e Qin e Zhu (2005) examinam as mudanças na identidade, cultura estratégica e interesses de segurança para o caso chinês. Baseando-se no trabalho de Wendt sobre a formação da identidade do estado, Qin (2003) argumenta que a identidade internacional da China passou por mudanças significativas resultantes das prioridade politicas internas em apoiar e socializar as normas e regras da ordem mundial. Já Wang (2000;2003), analisando o caso japonês, argumenta que as mudanças na cultura de segurança do Japão foram inicialmente induzidas pela propagação da visão americana de uma ordem mundial do leste asiático pós-guerra. A nova identidade do Japão nessa ordem foi guiada pela ideologia subjacente da autoridade de ocupação dos Estados Unidos no Japão pós-guerra.

Como tal, a política do Japão em relação à China foi lançada no molde das idéias americanas, uma vez que a cooperação contínua do Japão com os Estados Unidos estava intimamente ligada à legitimidade política das elites. Focado no impacto exógeno na política externa, Wang (2011) analisa a política das mudanças internacionais e seus efeitos sobre a política de comércio exterior chinesa. A análise de Wang demonstra claramente que a política de comércio exterior da China tem sido fortemente influenciada pela socialização chinesa em teorias econômicas ocidentais, como no caso da adesão à OMC. Seguindo essa linha, Meng (2005) argumenta que as mudanças na política externa da China são melhor explicadas pela própria compreensão subjetiva da China sobre as instituições internacionais e o papel resultante que se atribuiu para desempenhar nessas instituições. Meng argumenta que a percepção progressivamente mais positiva das instituições internacionais da China é resultado de uma interação mais freqüente com a comunidade internacional e do reconhecimento gradual da importância de ter uma imagem positiva nas instituições internacionais, a fim de promover seus interesses nacionais autoconstruídos. Diferentemente, Yan e Xu (2008), Zhao (2005) e Wang (2001) analisam o impacto dos valores e crenças culturais chinesas na condução de sua política externa. Em particular, eles se concentraram na cultura tradicional (especialmente no confucionismo) e sua influência na atual e futura política externa chinesa (Wang, 2001; Zhao, 2005; Yan e Xu, 2008)5.

O caminho da cognição

Diferente do caminho do significado, o caminho da cognição não está focado em entender como os individuos interpretam o mundo, e sim, descrever como eles entendem e descrevem as mudanças materiais (Abdelal, 2009). Influenciados pela psicologia e pela sociologia da cultura, os autores que se enquadram nessa vertente entendem que os individuos dependem de construções heurísticas pra moldar e definir suas ações. Os indivíduos filtram as informações do contexto material através dessas construções sociais “porque dependem cognitivamente de estabilizar ou simplificar quadros para organizar informações e atenção para atuar” (Abdelal, Blyth e Parsons, 2010, p. 10-11, trad. nossa). Tais construções ganham força como filtros para interpretação das mudanças no mundo, na medida em que são coletivamente compartilhadas. Quanto mais elas são generalizadas,

5

Para saber mais sobre os impactos do construtivismo na EPI chinesa, ver Blyth e Wang (2013).

ou seja, tomadas como dadas, mais força e enraízamento essas construções sociais ganham, e consequentemente, mais profundos são seus impactos (Abdelal, 2009). Em The Politics of Common Knowledge: Ideas and Institutional Change in Wage Bargaining, Culpepper (2008) analisa os casos de Irlanda e Itália demonstrando como o processo de criação de conhecimento comum entre os empregadores e os sindicatos mudou o curso das negociações sobre as instituições nacionais no que se refere à negociação salarial. Jones (2009), analisando os impactos da crise financeira global no apoio euro e ao Banco Central Europeu (BCE), parte da premissa de que a UE depende de uma legitimação baseada em interesses e não em identidades. O autor argumenta que os decisores políticos devem se preocupar com a mudança nas percepções sobre o euro por duas razões: uma econômica (confiança na politica economica) e outra política (BCE passa a ser responsabilizado por falhas políticas). Já Widmaier (2010;2016), elabora uma abordagem sobre as mudanças no poder ideacional e nas influências emocionais e como elas moldam tendências de mercado e do ambiente político. Dessa forma, o autor entende que conhecimentos comuns e estruturas de poder ideacional, expressos por agentes que filtram e consolidam idéias, modelam novos fatos sociais e podem gerar diferentes resultados institucionais. Da mesma forma, Chwieroth e Sinclair (2013) argumentam que como um Estado se mantém na mobilidade internacional de capitais depende de com ela é vista coletivamente pelos indivíduos, ou seja, baseada nas crenças compartilhadas intersubjetivamente (fatos sociais). Partindo dessa mesma premissa que os processos sociais desempenham um papel importante nos resultados das políticas e na constituição da dinâmica econômica global, Chwieroth (2014), tenta explicar o crescimento da importância dos Sovereign Wealth Funds (SWFs) na economia global, assim como Schwartz e Seabrooke (2008) vão argumentar sobre a necessidade da Economia Política Comparativa e Internacional (EPC e EPI) de analisar o papel dos mercados imobiliários residenciais tanto como fonte de conhecimento, quanto como importante no estabelecimento e na difusão de ideias e políticas publicas. Trazendo uma nova perspectiva do conceito de “reputação”, Sharman (2007) o entende como algo relacional, intersubjetivo e gerado e mediado através de filtros culturais e sociais. Ele argumenta sobre a necessidade da economia política e da política internacional de ampliar sua visão sobre a questão da reputação e sua utilização na análise de possíveis ações a serem tomadas por parte dos atores, e até mesmo para entender como as OI’s dão autoridade aos seus resultados e influenciam os formuladores de políticas. Partindo dessa questão da legitimidade das OI’s, Seabrooke (2007a) discute as fontes da

crise internacional de legitimidade pela qual passa o FMI. Partindo da noção de que a legitimidade deve ser entendida não só como expressão das crenças, mas também de “práticas expressivas”, o autor vai afirmar que existe uma “lacuna de legitimidade” no fundo entre as suas reivindicações de legitimidade e as práticas expressivas dos que são governados, ou seja, a conferência dessas reivindicações vai depender dos próprios atos dos governados, ampliando ou diminuindo a diferença entre reinvindicações e atos. De outra forma, vendo uma limitação nas abordagens da “EPI regulatória”6 Seabrooke e Hobson (2006; 2007) vão enfatizar a importância da “agência do ator cotidiano”. Para eles, as ações cotidianas têm consequências importantes para a constituição e transformação dos contextos local, nacional, regional e global. Dessa forma, os autores pretendem trazer novas lentes para a EPI, não somente focada nos agentes da elite, mas também nos agentes cotidianos que, apesar de estarem mais distantes das decisões, também moldam a governança em todos seus níveis. A partir dessa noção de importância do embate cotidiano, Seabrooke (2006;2007b) mostra como a legitimidade doméstica é um importante fator que influencia a natureza da ordem financeira internacional. Para ele, são os discursos dos grupos sociais e o embate com o Estado no cotidiano sobre a economia é que estabelecem a legitimidade do sistema financeiro. Por outro caminho, Leonard Seabrooke e Tsigou (2009) trazem o conceito de linked ecologies para mostrar as formas como os atores responsaveis pela “governo” da economia internacional se deslocam entre papeis publicos e privados (Revolving doors). O objetivo de tais atores é formar coalizões e estratégias que sejam importantes para a difusão de suas ideias dentro dessas instituições e, consequentemente, ajudar na criação de padrões financeiros internacionais e legitimar formas de abordar os problemas da politica internacional. Também pensando na questão estratégica dos atores, Seabrooke (2014), a partir do conceito de “arbitragem epistêmica”, aponta como profissionais específicos são capazes de explorar as diferenças em seus conjuntos de conhecimento profissional para obter vantagens estratégicas ao estabelecer formas específicas de conhecimento como as mais apropriadas para lidar com problemas específicos na área de governança transnacional, adquirindo assim o poder sobre questões transnacionais.

“ (...) caracterizamos o mainstream como "Regulatório" porque a questão da ordem e a regulamentação da economia mundial ocupam o centro do foco da pesquisa” (p.6; trad. Nossa). Exemplos: Neorealismo, neoliberalismo e estruturalismo clássico. 6

Zhu (2007;2008) parte do argumento de que a estrutura doméstica e a política são as principais causas da mudança da política externa chinesa. Em seu artigo de 2007, ela argumenta que a mudança gradual da política externa chinesa em direção a uma maior cooperação com a comunidade internacional depois de 1949 deve-se à mudança ideológica doméstica. Já em Zhu (2008), a autora se debruça sobre as causas domésticas subjacentes à internalização chinesa das normas internacionais. Seguindo essa abordagem de tentar explicar por que a China internalizou normas interncionais, especificamente a de mudanças climáticas, Kang (2010) argumenta que a internalização das normas resulta de uma combinação de Interesses materiais e interesses não-materiais. Para ele, tal a internalização

é melhor explicada pela necessidade de um novo modelo de

desenvolvimento econômico e seu desejo de reconhecimento e respeito internacional. Su (2007) também examinou a interação entre a política doméstica e o sistema internacional, mas, neste caso, ela privilegia o sistema internacional como a principal causa das mudanças da política externa chinesa.

O caminho da incerteza

Uma outra forma de analisar como as construções sociais impactam na dinâmica entre a economia e política é o chamado caminho da incerteza. Influenciados pelo conceito de incerteza do economista estadounidense Frank Knight (1921)7, os autores que partem dessa forma de argumentação contrapõem-se à visão racionalista de um mundo dado materialmente, onde os interesses e as escolhas são claras e racionais. Os racionalistas veem a incerteza como um problema de informações incompletas e assimétricas dado à complexidade do ambiente (mundo “complexo”). Assim, a incerteza se resumiria a um conjunto de probabilidades calculáveis, e que poderia ser mitigada na medida em que as informações pudessem ser aprimoradas e as probabilidades de risco pudessem ser reduzidas a quase zero. Diferente dessa visão racionalista, e também de outros construtivistas que entendem o mundo como “complexo”, e que consequentemente poderia ser calculado, os construtivistas que seguem o “caminho da incerteza” compreendem o mundo como “incerto”. Essa visão de “mundo incerto” difere da de “mundo complexo” na medida em que os acontecimentos históricos não podem ser considerados como referência para

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Ver mais: Knight, Frank H., Risk, Uncertainty, and Profit (1921)

analisar e guias os acontecimentos futuros. A “incerteza knightiana” remete à impossibilidade de se estimar probabilidades para um determinado resultado na medida em que não se possui as informações necessárias para se construir probabilidades precisas para resultados esperados. A partir da noção de incerteza de Knight, os construtivistas dessa vertente veem que os acontecimentos da economia e da politica internacional são imprevisíveis tanto no tempo como no espaço. Os indivíduos estão imersos em um cenário aleatório e incerto em que a estabilidade só pode alcançada, em alguma medida, “através do desenvolvimento e implantação de idéias, instituições, normas e convenções governamentais” (Biernacki, 1995; March e Olsen, 1986; Blyth, 2006 apud Abdelal, Blyth e Parsons, 2010, p. 12, trad. nossa). Dessa forma, tais contruções sociais seriam uma tentativa de identificar e enfrentar a incerteza que os atores enfrentam. Outro argumento importante é que o ambiente econômico e político internacional passam por mudanças ao longo tempo, e juntamente com elas, as construções sociais, a partir de conhecimentos acumulados, tendem a mudar na contínua busca por enfrentar a incerteza inerente na economia política internacional. Como as mudanças são imprevísiveis, os resultados também serão, de forma que é importante dar sentido a essas construções na tentativa de adquirir alguma estabilidade. Blyth (2011) afirma que praticar as ciências sociais sem considerar as idéias, que são fundamentais para a ação humana e para a causação nos sistemas sociais, é algo enganoso. Baseando-se nas questões da incerteza e da teoria evolutiva, o autor expõe que a forma como o mundo social é construído depende da percepção das ideias, pois são elas que garantem a compreensão da estabilidade e das mudança nos sistemas sociais. Widmaier (2004), constrastando as visões Keynesiana e Neoclássica, argumenta que as mudanças de uma visão para a outra, e suas consequencias para a mudança nos interesses sociais e dos estados, ocasionou a chamada “trindade impossível” (não conciliação da mobilidade do capital, da estabilidade monetária e da autonomia política). Ao afirmar que a compreensão keynesiana constitui a cooperação, o autor enfatiza o papel dos agentes e das mudanças intersubjetivas nas “crises” (mudanças), apontando também que a redefinição neoclassica impossibilitou a manutenção da trindade, sendo esta, vista melhor vista como construção social. Já as análises de Blyth (2001;2002) sobre mudanças institucionais na Suécia e nos Estados Unidos apontam a importância da incerteza que ultrapassa o risco (knightiana) e

das ideias nestes processos. Ele argumenta que os atores estão em um estado de experimentação institucional porque eles não possuem idéias compartilhadas para fazer sentido do mundo material. Assim, as ideias são construções que fornecem ferramentas para compreender a politica e a economia. Ou seja, o autor repensa essa relação entre a incerteza, as idéias e os interesses, além das condições e a forma com que ocorre a mudança institucional. Blyth (2002) afima que uma mudança econômica geralmente produz incertezas. Sendo assim, as idéias econômicas tornam-se ainda mais importantes, uma vez que servem como planos simplificadores que informam os agentes como agir. Tendo em mente a idéia de que a mudança econômica, por vezes, produz incertezas, Widmaier (2007) entende que as crises geralmente provocaram mudanças na política externa dos EUA. Focando no papel dos agentes, ele enfatiza seu impacto das (especificamente da retórica presidencial) nos debates sobre o significado das guerras e das Crises que consequentemente, legitimaram mudanças entre variantes da tradição liberal americana e as definições do interesse nacional. Já Simmons e Elkins (2004), buscando entender o que pode explicar as ondas de liberalização e restrição da política econômica estrangeiras, compreendem que uma explicação crucial para isso reside na difusão de políticas, na qual a decisão de liberalizar (ou restringir) por alguns governos influencia as escolhas feitas por outros. Helleiner e Pagliari (2011) analisando a crise fincanceira global de 2008, afirmam que esta literatura especializada focada em explicar o fortalecimento dos padrões internacionais precisam mudar seu foco, e analisar o enfraquecimento da ordem financeira internacional.

Para isso eles terão que focar nos diferentes resultados

regulatórios internacionais da convergência informal, fragmentação e descentralização cooperativa, sendo necessário conciliar as crenças concorrentes dentro de um quadro normativo compartilhado mais abrangente. Da mesma forma, Drezner e McNamara (2013) entendem que a crise de 2008 veio mostrar que a capacidade interpretativa da EPI convencional está fortemente limitada para explicar as mudanças na economia internacional. Dessa forma, eles apontam a necessidade da EPI de analisar a distribuição e o papel que o poder político e as idéias econômicas podem desempenhar na construção, manutenção e colapso das ordens financeiras globais. Partindo de tal ideia, Sinclair (1994;2000) argumenta que as agências de rating de títulos, como produtoras de um conhecimento especializado no mercado financeiro, são forças significativas no processo de formação da economia politica internacional e da ordem financeira emergente. Essas agências atuam como uma força externa nos mercados

de capitais, alterando o equilíbrio de influência pública e privada na formação de políticas públicas globais. Nesse sentido, altera-se as condições de legitimidade da autoridade governamental. Ainda a esse respeito, Sinclair (2010) vai sugerir que o pânico moral derivado das crises atende a objetivos políticos fundamentais, e especificamente no caso da crise do Subprime, à necessidade de disciplinar algumas formas de inovação financeira, assim como silenciar reivindicações contra-hegemônicas sobre os problemas inerentes às finanças globais e descarregar, tanto quanto possível, a responsabilidade pelas crises por parte dos governos.

O caminho da subjetividade

Apesar destas diferentes formas de se compreender as relações entre a construção social e a economia política, alguns autores criticaram as tentativas de se combinar teorias construtivistas com a epistemologia positivista. Tais autores, tidos como pós positivistas, e também os construtivistas críticos, dedicaram-se a analisar não mais os indivíduos como agentes, mas como sujeitos - é o caminho da subjetividade. Ao contrário do enfoque dado ao papel dos agentes pelas demais vertentes construtivistas, eles enfatizam o papel dos discursos na formação da identidade dos sujeitos (Abdelal, 2009). Na medida em que para as vertentes construtivistas anteriores as normas são constitutivas e/ou tem um papel de regulação do mundo, para os autores do caminho da subjetividade, “as normas são vistas como expressões de poder no mundo, na medida em que a adesão a uma norma exclui ações particulares, definindo o que é possível e impossível de dizer, e assim fazer, em um determinado contexto” (Abdelal, Blyth e Parsons, 2010, p. 13, trad.nossa). Dessa maneira, Abdelal pretende mostrar que a formação das identidades é constituída pela posição do indivíduo dentro de um determinado discurso, e que a cada momento desempenha diferentes papeis dentro desse próprio discurso, ou seja, sua identidade é maleável. Por fim, eles não estão focados em entender o que gera a agência, e sim, como a estrutura (discurso) forma agentes que vão moldam as próprias estruturas (Abdelal, Blyth e Parsons, 2010). De Goede (2003) defende o argumento de que o pós estruturalismo trás um ganho analítico ao estudo da EPI em geral, e de forma particular, à análise das finanças internacionais. Para isso, ela afirma a necessidade de se examinar as práticas discursivas de conceitos próprios do capitalismo. As práticas financeiras são dependentes das idéias e das crenças sobre sua própria existência. Assim, é importante não somente entender a

realidade econômica e finaceira, mas também sua racionalidade. Analisando os discursos que envolvem o processo da “Nova Arquitetura Financeira Internacional”, Langley (2004b) questiona se ela representa mesmo um desenvolvimento da governança das finanças internacionais argumentando que na verdade ela é uma continuação/reprodução da ordem financeira vigente que surgiu na década de 70, buscando a legitimação do discurso neoliberal das finanças globais; e o encobrimento das contradições e contestações a essa ordem. Da mesma forma, Best (2003) vai analisar a mudança do vocabulário institucional do FMI atrelando-o às demandas pela Nova Arquitetura Financeira. Na tentativa de impor um conjunto de normas e instituições financeiras “universais”, seus defensores têm em mente um liberalismo global singular um re-embedding liberalism. Focando nesses discursos, a autora vai se atentar para a intenção dos líderes financeiros de reintegrar o neoliberalismo de cima para baixo, como uma resposta as crises financeiras recorrentes e, dessa forma, incorporar tais princípios às normas sociais e políticas dométicas (particulares) dos Estados. Analisando as respostas à crise asiática, Best (2010) vai mostrar que apesar da comunidade financeira internacional ter aprendido com as avaliações equivocadas que os problemas da crise não foram e não são somente internos, mas também externos. Ela aponta que os gestores das finanças internacionais ainda acreditam que a solução para tais crises está na maior transparência, modelos de avaliação de risco mais precisos e na maior supervisão, mesmo percebendo que a fé na transparência e na sofisticação informacional dos mercados financeiros provaram ser mal colocadas. Na visão Amoore (2004), são as rearticulações entre o risco e a incerteza que formaram novos individuos com conhecimentos especializados, assim como novas interpretações do risco, que modificam e reestruturam a própria natureza e a prática do trabalho cotidiano, governando-o. Amoore e Langley (2004), analisando o conceito de Sociedade Civil Global (GCS), argumentam que as diversas posições sobre a CGS tendem a recorrer a uma representação particular sobre ela. O empoderamento através da utilização da CGS por essas posições particulares sustentaria uma “política transformadora” escondendo as contradições e as tensões existentes dentro dessa ideia (ambiguidade). Da mesma forma, Best (2005; 2008) aponta para a importância da ambigüidade na política contemporânea. Analisando seu papel na governança global como uma ferramenta a ser explorada por ela ao mesmo tempo um limite para sua operação, a autora afirma que entender a ambiguidade produz novos insights sobre as mudanças nas finanças globais, entendendo

o risco, a incerteza e a ambigüidade como desafios e possibilidades para a prática da governança e objeto de táticas governamentais. Na tentativa de compreender as idéias e as estrátegias políticas por trás dos discursos que fundamentam a ordem financeira vigente, diversos autores empreendem diferentes formas de analíse: De Goede (2001), análisando as idéias e as estratégias por trás do fundo de Hedge LTCM; De Goede (2004) examinando os métodos quantitativos por trás dos derivativos e da modelagem de risco; Langley (2004a) a crise das pensões salariais dos EUA e Reino Unido; e Best (2016) na análise da experiência tecnocrática dos banqueiros no caso dos Bancos Centrais; vão, cada um a seu modo, investigar os pressupostos filosóficos e estratégicos que estão por trás desses discursos na tentativa de revelar como eles representam uma forma particular, e que se pretende predominante, de gerir e fundamentar o processo de financeirização e a ordem finaceira global. Já Mackenzie e Millo (2003), abordam a questão da performatividade da economia, tema trazido da sociologia econômica. Na visão dos autores a economia foi crucial para a criação de trocas de derivativos financeiros. Eles argumentam que entendendo os mercados como culturas e comunidades morais e locais de ação política (Granovetter,1985), é possível compreender como os agentes foram fundamentais para os sucesso desta teoria. Entendendo essa relação entre o sucesso da teoria e os agentes, Best e Widmaier (2006) vão analisar as implicações éticas da distinção entre micro e macroeconomia. Analisando as tensões presentes nas reinvindicações dos economistas de fazer da economia uma ciência neutra e apolítica, os autores vão afirmar que as análises micro e macroeconômicas implicam diferentes tipos de hipóteses morais e se traduziriam em orientações micro e macroéticas com efeitos nas decisões políticas, ou seja, na responsabilidade moral, identidade e na agência. Por fim, pensando nessa necessidade de aplicar os conceitos construtivistas no campo da EPI, Seabrooke (2007c), analisando as obras de Jacqueline Best (2005), The Limits of Transparency: Ambiguity and the History of International Finance e Pepper D. Culpepper (2003) Creating Cooperation: How States Develop Human Capital in Europe, Seabrooke demonstra a diversidade de abordagens dentro do que ele vai chamar de “construtivismo econômico”. Ele afirma que tal abordagem tem o compromisso de “promover a compreensão sobre a intersubjetividade da vida política e econômica”, abordando questões sobre o papel das idéias e das normas na mudança institucional.

Dessa forma, ele aponta a necessidade do campo de focar nesses mecanismos de mudança ao invés de tentar afirmar o poder das idéias ou normas como variáveis independentes.

CONCLUSÃO: A “POLICULTURA” CONSTRUTIVISTA É bastante difundida a visão entre os teóricos não construtivistas e construtivistas de uma “hegemonia” por parte da EPI norte americana. Diversos teóricos proeminentes e que até mesmo participaram da formação da EPI como campo de análise, perceberam tal predomínio da escola “Norte americana” (Cohen, 2007; Keohane, 2009). Dentre os elementos que colaboraram para que os norte americanos pudessem definir o que seria um modelo padrão de trabalhos na área de EPI estão, o tamanho da comunidade acadêmica dos Estados Unidos, a influência de suas universidades e a presença dos principais periódicos da área em seu território. Com seu enfoque nos modelos pautados em uma ontologia racionalista, epistemologia empiricista e uma metodologia quantitativa, os pesquisadores dos EUA se estabeleceram como o mainstream da EPI e, consequentemente, se tornaram a monocultura intelectual da área. Diferentemente do que tentaram estabelecer autores como Cohen, Gilpin, Keohane, entre outros; a Economia Política Internacional continua a ser um campo fortemente caracterizado pela monocultura intelectual enraízada pela EPI norte americana. Mesmo com o forte embate proposto pela “Escola Britânica”, que pressupõe e defende uma EPI mais pluralista, não conseguiu-se ainda fazer proliferar novas abordagens que superem as já conhecidas e estabelecidas abordagens liberais, realistas e marxistas. Tais abordagens, apesar de sua contribuição significativa para a compreensão das relações entre Estado e mercado, têm dificuldade em explicar, de forma robusta, as mudanças pelas quais o Sistema Internacional está passando. As mudanças no comportamento dos atores, assim como as motivações que os impulsionam e as dinâmicas de poder que perpassam as relações econômicas internacionais, não podem ser explicadas apenas pela análise do comportamento do estado e da govenança do sistema, e muito menos, pela crença unilateral na busca de causalidade apenas analisando fatores materias. É preciso repensar as unidades de análise, entender o que mudou nas relações de poder, e também, o que move os comportamentos dos agentes contemporâneos. Como nos mostra McNamara (1999), para desmantelar a monocultura intelectual enraízada na EPI é preciso variar as perspectivas e métodos de

análise, assim como conseguir responder às questões que surgem no ambiente internacional independentemente da ontologia e da metodologia que se siga. É em meio a esse “entrave intelectual” que a abordagem construvista surge como uma alternativa à excessiva rigidez em que as teorias da área se encontram. Quando afirmo que as abordagens construtivistas surgem como alternativa, não pretendo afirmá-las como únicas ou melhores. O que sustento é a importância desta vertente em mesclar diversas análises, utilizando-se de diferentes contribuições de outras áreas das ciências sociais, para estabelecer novas “lentes analíticas” para se compreender os problemas na esfera internacional. Para além dessas novas interpretações derivadas da interdisciplinaridade que o construtivismo trás, o maior enfoque dado ao o papel das ideias e da agência humana permite que tais teóricos apresentem alternativas pressupostos rígidos das abordagens do mainstream. Primeiramente, em relação à unidades de análise, o construtivistas entendem a importância das comunidades sociais no processo de criação e sustentação da estabilidade do SI, avançando sobre o enfoque excessivo dos racionalistas nos atores individuais e nas instituições formais. Em segundo lugar, enquanto estes focam no primado dos interesses e das preferências dos atores como o impulso ao comportamento, os construtivistas afirmam a importância da intersubjetividade e das ideias para moldar tais comportamentos. Terceiro, em relação à questão da causalidade citada anteriormente, os construtivistas analisam não só os fatores materiais como fazem os racionalistas, eles também dão centralidade às dinâmicas ideacionais que perpassam os indivíduos. Por último, os racionalistas entendem o poder como um recurso quantificável, já para os construtivistas, para analisar o exercício do poder é preciso entendê-lo como um fato social, como algo que produz subjetividade. Tendo isso em mente, após analisar uma variedade de autores e interpretações sobre a economia e a política internacional, a questão que perpassa toda a minha descrição da abordagem construtivista na área é que tal tratamento vem ao encontro do argumento de McNamara (2009) sobre a necessidade de uma “policultura” no campo. Assim, dialogo com tal visão da autora mostrando que o construtivismo vem expandindo o campo de análise da EPI também mudando as lentes analíticas com as quais o mainstream da área vem analisando o cenário político/econômico internacional. Desse modo, este artigo foi uma tentativa de apresentar uma pequena parte das diversas interpretações presentes nesta abordagem com o único intuito de demonstrar a amplitude e o pluralismo que o campo

está ganhando. Apesar de trazer uma tentativa de categorização das diversas formas de aplicar o construtivismo na área, meu intuito foi apenas de tornar o mapeamento mais didático, sem me preocupar confinar as análises a categorias. Portanto,

fazendo

esse

mapeamento

das

contribuições

tidas

como

“construtivistas” na EPI, percebo que o enfoque nos atores, assim como no papel das construções sociais, trazem novos caminhos para se interpretar os fenômenos internacionais. Dessa forma, defendo que o construtivismo, como uma abordagem de EPI, traz novamente o caráter de “policultura” ao campo. Tal enfoque ampliou os pressupostos e os métodos de análise dando maior abertura à questão da multidisciplinaridade. Trazendo contribuições da sociologia, psicologia, antropologia, entre outras disciplinas; o construtivismo enriqueceu o “solo” da EPI, possibilitando aos novos pesquisadores da área compreender e se utilizar melhor dessa característica multifacetada da Economia Política Internacional.

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