UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA DISCIPLINA: Sociologia do Desenvolvimento PROFESSOR: Prof. Dr. Aécio Cândido Autor: Francisco Augusto Cruz de Araújo – Ciências Sociais (8º Período)
[email protected] A pobreza e os limites do desenvolvimento Uma das questões mais pontuadas nos debates e nas construções de programas de governos e das políticas públicas dos países da América Latina é a erradicação da pobreza. A luta contra a pobreza se constituiu uma bandeira pela qual uma larga escala de esferas de organizações públicas e privadas - partidos políticos, ONGs, institutos, associações e cooperativas - lutam pela transformação do cenário atual. Os
projetos
de
transformação
da
sociedade
e
início
de
um
desenvolvimento solidificado giram basicamente em torno de duas idéias centrais: a transformação de uma sociedade “adotada” pelo Estado para uma sociedade apenas “observada” pelo Estado é o objetivo daqueles que vislumbram uma proposta de desenvolvimento nacional pautada no crescimento e na modernização das relações com o mercado. Já uma segunda vertente, defende a proposta de uma transformação social para o desenvolvimento nacional com base no fortalecimento do poder estatal, dos movimentos sociais e no controle da sociedade sobre os caminhos para o desenvolvimento. Em ambos os casos, a pobreza é uma questão-chave e decisória nas ações e planejamentos dos modelos de desenvolvimentos. Somente nas ultimas décadas a pobreza foi percebida como talvez a maior antítese do desenvolvimento, e para sua contenção, não foram poucas as iniciativas criadas. A pobreza além de ser um dos maiores contrapontos do desenvolvimento econômico e social, revelou-se uma brutal e violenta negação dos direitos humanos, pois limita o alcance das liberdades dos indivíduos, privando também suas comunidades do acesso aos bens necessários para viver dignamente. A pobreza foi tratada com cuidado não apenas pelo campo político, como também pela economia, pela geografia e pela sociologia. Falar de pobreza implica não apenas considerar a fome e a desnutrição, mas também a falta de segurança, de água potável, de
higiene, de doenças simples e até complexas causadas pela falta de acesso aos programas de saúde básica e medicamentos, moradias precárias, à falta de emprego, à escravidão e também à falta de rendimentos econômicos que incluam as pessoas nos mercados. Além destas dimensões materiais, existem as dimensões imateriais, como o analfabetismo, a exposição à violência, a alienação política e outras formas que impedem a sociedade de perceber os potenciais econômicos ao seu redor. Alguns países desenvolvidos tiveram algumas vantagens com relação aos países em desenvolvimento da atualidade. A maior dificuldade dos países do terceiro mundo se refere à enorme dependência econômica causada pela dívida externa, à balança comercial desfavorável e à escassez de capital privado acumulado (poupanças) e de recursos humanos capacitados às exigências do mundo moderno. Também se incluem neste grupo a produção científica que ainda é muito pouco valorizada. Como falar em desenvolvimento sem considerar tais questões? Qual a possibilidade de desenvolvimento sem que as dimensões para desenvolverse estejam favoráveis? Tanto a vertente neoliberal que pensa o desenvolvimento como inerente ao poder estatal, quanto ao pensamento “socialista” que espera no Estado a solução para as questões do desenvolvimento, consensual a idéia da urgente erradicação da pobreza para que o desenvolvimento social seja pleno, pois numa sociedade onde apenas um pequeno grupo de indivíduos melhora suas condições de vida, mas não conseguem melhorar as condições do restante da população, aí não aconteceu o desenvolvimento, apenas o crescimento econômico. Os grupos encontrados nos bolsões de pobreza têm se transformado ao longo dos anos nos maiores alvos dos interesses de grupos políticos e organizações que utilizam a pobreza e a miséria como estratégia de dominação e manutenção da ordem estabelecida. A pobreza revelou-se uma questão delicada e de imprescindível importância à sociedade. A partir destas idéias, os altos índices de pobreza encontrados nos países em desenvolvimento que são de modo geral considerados questões puramente sociais, têm na verdade, evidentes implicações econômicas e políticas. Além de servir de palco para a teatralização da política, a pobreza tem raízes profundas e pode ter efeitos mais devastadores do que habitualmente se imagina. Seu potencial em retardar e comprometer o
crescimento econômico, como também limitar a capacidade produtiva dos recursos humanos, inibe diretamente a expansão do mercado. A pobreza é, portanto, para os países em desenvolvimento, a questão central a ser enfrentada na formulação e execução das diversas estratégias nacionais de desenvolvimento social. Não se pode pensar em desenvolvimento sem antes de tudo, pensar na pobreza. Mossoró-RN, 21 de Setembro de 2009