Universidade Federal da Paraíba
Neliane Lima de Santana
Introdução Segundo Fabiana Araújo, a Sociologia através de seus métodos de investigação científica, procura compreender e explicar as estruturas da sociedade, criando conceitos e teorias a fim de manter ou alterar as relações de poder nela existentes.Os sociólogos utilizam as estatísticas como método de estudo, e a partir delas, descrever o comportamento da sociedade perante a determinado assunto, e prever as consequências de uma mudança na forma como esse assunto é tratado por ela.Muitas pessoas utilizam essa poderosa ferramenta, pois com ela é possível compreender a sociedade e poder manipulá-la mais facilmente, como é o caso de políticos, empresas de marketing, indústrias. Por exemplo, marketeiros tendem sempre a criar campanhas “virais”, ou seja, que tenham grande chance das pessoas discutirem a expandir de forma extremamente rápida o conhecimento da polulação sobre tal empresa/produto. A sociologia estuda todos os símbolos culturais que os seres humanos criam e usam para interagir e organizar a sociedade; ela explora todas as estruturas sociais que ditam a vida social, examina todos os processos sociais, tais como desvio, crime, divergência, conflitos, migrações e movimentos sociais, que fluem através da ordem estabelecida socialmente; e busca entender as transformações que esses processos provocam na cultura e estrutura social. Em tempos de mudança, em que a cultura e a estrutura estão atravessando transformações dramáticas, a sociologia torna-se especialmente importante ( Nisbet, 1969). Como a velha maneira de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais são interrompidas e, como conseqüência, as pessoas buscam respostas para o fato de as rotinas e
fórmulas do passado não funcionarem mais. O mundo hoje está passando por uma transformação dramática: o aumento de conflitos étnicos, o desvio de empregos para países com mão-de-obra mais barata, as fortunas instáveis da atividade econômica e do comércio, a dificuldade de serviços de financiamento do governo, a mudança no mercado de trabalho, a propagação de uma doença mortal ( AIDS), o aumento da fome nas superpopulações , a quebra do equilíbrio ecológico, a redefinição dos papéis sociais dos homens e das mulheres e muitas outras mudanças . Enquanto a vida social e as rotinas diárias se tornam mais ativas, a percepção sociológica não é completamente necessária. Mas, quando a estrutura básica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam o conhecimento sociológico. Isso não é verdade apenas hoje – foi a razão principal de a sociologia surgir em primeiro plano como uma disciplina diferente nas primeiras décadas do século XIX.
É de grande importância para o desenvolvimento do pensamento sociológico brasileiro o desenvolvimento do capitalismo no país. O desenvolvimento das atividades comerciais e de exportação do início do século, com a formação da burguesia nacional, revolucionaram o modo de pensar da intelectualidade e da sociedade brasileira como um todo. Essa revolução decorre da necessidade da nova classe de um saber mais pragmático, menos vinculado a uma estrutura social herdada da colonização. A partir de então, verifica-se uma tentativa de ruptura com a herança cultural do passado: procura-se combater o analfabetismo, homogeneizar os valores e o discurso, criar um sentimento de patriotismo que levasse a mudanças reais na estrutura social, repudiando todo traço de colonialismo, de atraso e importação cultural.
Segundo Antonio Candido (1959), a Sociologia no Brasil pode ser distinguida em duas fases durante sua evolução,essa fasevai entre 1880-1930 e depois de 1940. No primeiro, é praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em formular princípios teóricos ou
interpretar de modo global a sociedade brasileira. Além disso, não se registra o seu ensino, nem a existência da pesquisa empírica sobre aspectos delimitados da realidade presente. A partir da década de 30 a Sociologia vem a ser inserida no ensino secundário e superior ,tornandose um instrumento de análise social,com a fundação da Universidade de São Paulo e também se insere no , embora o pensamento sociológico já existia no Brasil dês do final do século XIX, desenvolvido por Euclídes da Cunha em sua obra Os Sertões e nas idéias abolicionistas e republicanas. Nessa época uma das preocupações em geral dos intelectuais era o interesse da descoberta do Brasil verdadeiro, contradizendo aquela visão etnocêntrica dos europeus. Buscavam também desenvolver e modernizar a estrutura social brasileira. E a partir de 1936 foram formados os primeiros especialistas , os primeiros brasileiros de formação universitária sociológica. Azevedo (1951), enfocando esta fase de introdução do ensino da Sociologia em escolas do País (1928-1935), argumenta que a origem da consolidação da Sociologia na mesma deve ser procurada, não em uma única causa determinante, senão em múltiplas causas que estão estreitamente ligadas, sendo possível distingui-las unicamente para fins analíticos. A multiplicidade de fatores decorrentes dos contatos, conflitos e acomodações de povos e culturas diversas; o contraste entre as sociedades em mudança e as culturas de folk remanescentes em toda a vasta extensão territorial; a variedade de paisagens culturais e a contemporaneidade ou justaposição nas realidades concretas, de séculos ou de “camadas históricas”,deveriam certamente sacudir a atenção e despertar o interesse pelo estudo científico dessas realidades sociais vivas e atuais, postas sob os olhos de todos e que não escaparam, pela intensidade dos fenômenos, aos observadores menos atentos. Porém, acrescenta Azevedo (1962), ...[o] que nos compeliu a essa revolução intelectual, que nos iniciou no espírito crítico e experimental, em todos os domínios, e nos abriu o caminho aos estudos e as pesquisas sociológicas, foi, no entanto, o desenvolvimento da indústria e do comércio nos grandes centros do país e, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro (1962, p. 125). Segundo Antonio Candido (1959)a sociologia brasileira formou-se, portanto, sob a égide do evolucionismo e recebeu dele as preocupações e orientações fundamentais, que ainda hoje marcam vários dos seus aspectos. Dele recebeu a obsessão com os fatores naturais, notadamente o biológico (raça); a preocupação com etapas históricas; o gosto pelos estudos demasiado gerais e as grandes sínteses explicativas. Daí a predominância do critério evolutivo e a preferência pela história social, ou a reconstrução histórica, que ainda hoje marcam os nossos sociólogos e os tornam continuadores lógicos da linha de interpretação global do Brasil, herdada dos "juristas filósofos" (para falar como Clóvis Bevilaqua) do século passado [XIX]. É preciso salientar que o evolucionismo não constituiu importação artificial de modas européias, mas se adequou a várias das nossas realidades locais, de povo que procurava justamente construir de si mesmo uma representação coerente no plano ideológico, preocupado com o peso do passado escravocrata, as possibilidades do desenvolvimento futuro, o significado positivo ou negativo que teriam neste processo as raças díspares e a decorrente mestiçagem. Graças a ele, ou melhor, graças à sua superação, a partir de Euclides da Cunha, foi possível elaborar uma fórmula bem brasileira de estudos sociais, em que a reconstrução do passado se amoldava a certos pontos de vista do presente; em que o estudo se misturava à intuição pessoal e o cientista ao retórico, ou ao escritor, dando lugar às obras capitais de Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior, academicamente indefinidos entre Sociologia e História.
Talvez a primeira manifestação do que seria considerado Sociologia no Brasil durante quase meio século se encontre na Introdução à história da literatura brasileira (1881), onde Silvio Romero estabelece as diretrizes que orientaram por muito tempo os estudos sociais no Brasil, ao interpretar o sentido da evolução cultural e institucional segundo os fatores naturais do meio e da raça. Mas o primeiro escrito teórico de certo vulto sobre a matéria (deixando de lado as repetições automáticas dos positivistas) foi possivelmente devido a Tobias Barreto e obedeceu – vale mencionar – a um critério negativista. São as "Glosas heterodoxas a um dos motes do dia, ou variações anti-sociológicas" (1884 a primeira parte; 1887 a segunda), onde contesta, com a vivacidade costumeira, a validade e autonomia da nossa disciplina. Levando o naturalismo científico às conseqüências finais, argumenta que as leis sociais não são naturais, pois são normativas; logo, não estão regidas pelo princípio do determinismo, sem o qual não há ciência. Os fatos sociais pertencem a uma esfera "mecanicamente inexplicável".