Artigo Completo Hipertexto 2009

  • June 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Artigo Completo Hipertexto 2009 as PDF for free.

More details

  • Words: 4,567
  • Pages: 12
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

METAMORFOSES DO LIVRO: MULTIMÍDIA E ESCRITA LITERÁRIA1 Tobias SANTOS (CEFET-MG)2 Rogério BARBOSA (CEFET-MG)3

Resumo Este trabalho se propôs estudar o livro eletrônico literário enquanto objeto artístico das poéticas experimentais, repensando a passagem do códex tradicional ao livro surgido das imbricações de recursos multimídia. Para desenvolvê-lo, partimos da hipótese de que a forma do objeto escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem, e que, no caso do livro de artista, o suporte é também objeto de fruição estética. Neste sentido, buscamos confrontar alguns leitores com a experiência dessa leitura, de forma a coletar informações sobre suas impressões no contato com essa obra fluída. Os resultados apontaram para a subjetividade que o livro eletrônico permite ao leitor, mesmo sendo capaz de “direcionar” a forma de leitura.

Palavras-chave: História do livro; poesia e tecnologia; leitura na tela; livro eletrônico. Introdução A pesquisa que iniciamos sobre as Metamorfoses do livro: multimídia e escrita literária foi desenvolvida em duas etapas durante o período de março/2008 a fevereiro/2009. Na primeira delas analisamos os suportes de leitura, em especial os suportes eletrônicos e, conseqüentemente, a diversidade nos modos da expressão artística/literária e, na segunda, buscamos avaliar qual o interesse do público leitor diante dessas manifestações. Assim, a primeira etapa incluiu o estudo de obras cujo conteúdo versam sobre o assunto, tanto em modelo impresso quanto eletrônico, bem como a participação em seminários e eventos na área de língua portuguesa, literatura e informática. Já, na segunda etapa, a partir de um suporte eletrônico por nós desenvolvido, disponibilizamos alguns modelos de e-livros online de autorias diversas, buscando promover uma real interação do público leitor com o material disponibilizado para que pudéssemos avaliar seu interesse pelos novos suportes de leitura e também pelas possibilidades de manifestação artística/literária neles permitidas. Método A razão primeira desta pesquisa é a necessidade de compreendermos as relações complexas que os novos processos tecnológicos impõem aos objetos e aos modos consagrados da leitura. Num momento em que presenciamos um crescente interesse pela 1

Trabalho apresentado nas Sessões de Pôsteres, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. 2 Discente do curso de Graduação em Radiologia, bolsista do PIBIC/FAPEMIG, [email protected] 3 Doutor em Literatura Comparada, professor-orientador, [email protected] 1

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

história do livro, é fácil verificarmos discursos apocalípticos sobre o fim do livro, tal como o entendemos. Sendo assim, torna-se necessário não só mapear o desenvolvimento do livro como objeto de consumo e como desafio aos processos cognitivos, mas também analisar as tensões que a linguagem cria em função dos processos tecnológicos que a criação poética absorve e deseja transformar. Tais estudos visam o aprimoramento dos leitores no campo da leitura e no conhecimento dos processos cognitivos, muitas vezes desenvolvidos de forma inconsciente no contexto tecnológico de nossa época. Estudar as relações entre a linguagem criativa e a tecnologia, observando a construção do sentido e a performance dos textos verbais e não-verbais nos suportes tradicionais e eletrônicos foi o objetivo deste trabalho, considerando o livro e suas transformações nos ambientes eletrônicos e/ou online. Assim, procuramos enfocar os novos usos tecnológicos na produção poética e o seu alcance como meio de discussão e transformação da língua e da linguagem enquanto práxis e instrumento de criação. Ao observamos a incorporação de recursos multimídia na composição de um livro que possua caráter eletrônico, podemos questionar quais são as especificidades desse novo material e também qual o impacto dessas transformações. Para isso, tomando como ponto de partida o que foi apreendido a partir da experiência da leitura de textos em suporte tradicional (livros impressos) e em suportes eletrônicos (computadores), relataremos, brevemente, os tópicos mais significativos que contribuíram com o embasamento de nossa pesquisa e também sobre as experiências adquiridas na participação de seminários e eventos da área. Entre o material pesquisado, algumas obras merecem destaque por apresentarem características que demonstram a presença das transformações sofridas pelo livro, não somente nos últimos tempos, mas desde o seu surgimento. Assim, uma dessas obras, a do escritor francês Roger Chartier, descreve esse caráter evolutivo do livro, cujo título “A aventura do livro: do leitor ao navegador” já nos sugere a ideia de querer apresentar um panorama sobre a evolução dos suportes de leitura e os aspectos que a condicionaram, assim como os novos hábitos condicionados por ela. Segundo Chartier (1999), essa transformação, que pode ser considerada uma revolução, diz respeito tanto ao modo de produção quanto à reprodução dos textos, ocasionando mudanças nas maneiras de ler, de escrever, de compreender e também nas questões jurídicas como os direitos autorais e a identificação do autor, uma vez que o livro

2

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

vem sofrendo a transformação do texto fixo e imutável dos antigos suportes para um texto fluído, disforme e que permite interpolação, inovando-se e tomando um novo significado, caracterizando assim o modelo do livro eletrônico. Também, se lembrarmos do surgimento do livro que do rolo ao códex, do manuscrito ao impresso, do in-fólio ao livro de bolso e agora do papel para a tela do computador, percebemos que essas características evolutivas são evidentes ao longo do tempo. Por isso, citar a obra “O livro depois do livro” da escritora brasileira Giselle Beiguelman é de fundamental importância para embasar nossa pesquisa porque, essa obra, além do modelo impresso é também publicada no modelo eletrônico, o que confirma essa possibilidade metamorfoseada do livro. E, além desse caráter dual da obra, Beiguelman questiona a possibilidade de se editar livros com características próprias para a web, livros estes fluidos, com caráter não linear, de forma a permitir que “a internet seja ela mesma uma aplicação inteligente”, como ela escreve ao citar essa frase de Maciej Wisniewski (apud BEIGUELMAN, 2003, p. 70). Quer, com isso, permitir o uso máximo das potencialidades desse meio e não apenas compreende-lo como um “recurso de otimização para a mídia impressa [ou] uma versão expandida do livro impresso” (BEIGUELMAN, 2003, p. 68-71). Entretanto, para que tais recursos sejam possíveis, ela ressalta que é necessária uma alteração na formatação da interface de navegadores-padrão e na concepção de um modelo para o livro eletrônico, não para exterminar a forma consagrada do livro impresso, mas para permitir celebrar a recomposição e o sentido da linguagem no livro da leitura em aberto, independente do formato e do suporte. Foi nesse sentido que ao conhecer obras publicadas com distintivos estritamente eletrônicos conforme enunciado por Beiguelman, a exemplo, “Librare” de Álvaro Andrade Garcia ou “Mar de Sofia” de Rui Torres, dentre outras, selecionamo-las para que pudessem fazer parte do conjunto de obras eletrônicas que desejávamos que os leitores convidados para participar dessa pesquisa conhecessem. Tais obras estão disponíveis em nosso blog por meio de links que encaminham os leitores para o site dos autores onde esses e-livros se encontram hospedados. Esse recurso de lincagem, que cria e recria o ambiente virtual por meio de hipertextos - valendo lembrar que o hipertexto não é exclusivo para textos, sejam eles impressos ou eletrônicos, e que não exclui nem imagens nem sons, permitindo o acesso a dados multimodais - permite também que o

3

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

texto seja desterritorializado, isto é, que ele possa ser acessado a partir de qualquer ambiente virtual que permita o acesso a dados eletrônicos que estejam disponíveis na rede, conforme esclarece Lévy (1996). Esse conceito, desenvolvido por Pierre Lévy, permitiu-nos entender que deveríamos relativizar nossa preocupação com licenças de direitos autorais ao disponibilizar obras de outros autores em nosso blog, uma vez que não estávamos tomando essas obras como nossas, mas somente utilizando seus nomes e suas imagens para encaminhar o leitor, por meio de um link, à própria obra do autor. Não só por isso, entretanto, a contribuição de seu livro “O que é o virtual?” para a nossa pesquisa merece também ser destacada. Essa obra busca explorar diversas definições que permitem compreender em amplitude a virtualização. Dentre seus nove capítulos, aquele que mais interessa à nossa pesquisa, é o que trata da virtualização do texto. Ele nos importa, pois define alguns conceitos essenciais para a composição desta pesquisa, como por exemplo, a ideia do hipertexto em caráter eletrônico ou convencional e a questão da interatividade do leitor com a obra. Ao mesmo tempo, ele trabalha as transformações do texto enquanto leitura, escrita, digitalização e desterritorialização do mesmo. Nesse sentido, o conceito de rede é realmente importante, porque o texto tornado disponível nesses meios nos obriga a compreender um aspecto que sempre esteve presente na história dos livros, especialmente os de literatura, mas que acabava sempre esquecido ou sublimado: a ideia de que um livro sempre se reporta a outro, e sua existência só pode ser concebida a partir dessa mesma relação que há entre eles, que os textos fomentam na memória do leitor, ou na concepção de uma biblioteca. Também, em outros textos, reunidos no volume “Cultura em fluxo – novas mediações em rede” (2004), organizado por André Brasil e colaboradores, pudemos identificar outras características dos ambientes virtuais, como a possibilidade de reciclagem de material eletrônico, que é citada por Marcus Bastos, ao se utilizar dos recursos de colagem, por exemplo, aproveitando um material anteriormente já criado. Ao mesmo tempo em que compreendíamos conceitos a partir da leitura em livros ou na tela do computador, experimentando a sensação propiciada pelos novos modos de leitura através dos novos suportes e das novas possibilidades de expressão artística/literária, buscávamos a participação em eventos que pudessem nos trazer a experiência daqueles que atuam nesse meio da ciberliteratura.

4

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Por isso, a participação no 1° Seminário Nacional dos Professores de Português, realizado no CEFET-MG, com o tema “Linguagem e tecnologia: novos códigos, novos saberes”, foi também importante para a nossa formação teórica, ao mesmo tempo em que se começava a desenvolver em nós algumas ideias para a aplicação prática do trabalho. Esse seminário foi explorado por meio da participação em palestras, mesas-redondas e sessões temáticas permitindo nosso contato direto com algumas pessoas que já trabalhavam com literatura no ambiente virtual. Esse contato possibilitou que avaliássemos e discutíssemos as transformações e os princípios das tecnologias da comunicação e da informação com os novos suportes para a leitura e para a produção escrita. Outro evento ocorrido simultaneamente ao SENAPP, e que pudemos acompanhar, foi a Bienal do Livro de Minas Gerais, realizada entre os dias 15 e 25 de maio de 2008, e que apresentou, entre outras atividades, alguns projetos ligados a área da literatura eletrônica, como o projeto da Universidade FUMEC, denominado “Escreva sua história”, no qual cada visitante, por meio de um computador, podia escrever seu texto de forma livre e intuitiva, dando continuidade a uma história iniciada por outros visitantes. Esse caráter participativo do leitor/escritor evidenciava a coletividade que uma obra eletrônica pode tomar como é proposto por alguns escritores que defendem uma interatividade colaborativa ao se produzir um novo modelo para o livro eletrônico. Também interessante nessa bienal, foi uma exposição no stand da Rede Globo que apresentava um projeto chamado “Leia o livro e veja a cena” em que, por meio de uma tela de computador, o visitante podia escolher entre algumas obras literárias de autores brasileiros que foram adaptadas para a televisão, em novelas ou mini-séries da rede, e ler um trecho do livro ao mesmo tempo em que assistia a cena correspondente, onde som, imagem em movimento e texto foram dispostos num único suporte, permitindo uma nova experiência de leitura. Ainda, nessa primeira etapa da pesquisa, diversos sites sobre o assunto foram pesquisados, dentre eles ciclope.art de Álvaro Andrade Garcia, telepoesis.net de Rui Torres e refazenda.com/aleer de André Vallias. Esses sites, que foram os mais relevantes por trazerem material inovador no campo da literatura eletrônica, tiveram parte de seu conteúdo divulgado em nosso blog, por meio de links, para que o leitor conhecesse a obra fluida, mutável e hipertextual que é o livro eletrônico, além de nos servir para avaliar como se dá a interação do leitor com os novos modos de ler.

5

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

É relevante, ainda, ressaltar nossa participação na IV Semana de Ciência e Tecnologia: Evolução e Diversidade, realizada pela Diretoria de Pós-Graduação do CEFET-MG, em outubro de 2008. Dentro do seminário organizado pela Coordenação de Língua Portuguesa, participamos da mesa intitulada “Palavra, arte e tecnologia”, entre os dias 20 e 22 de outubro de 2008, onde pudemos apresentar comunicação relatando a pesquisa em desenvolvimento e discutir os resultados parciais com os participantes, isto é, bolsistas de outros projetos, professores e convidados presentes. Na mesma semana, participamos do VIII SEVFALE 2008, organizado pela Faculdade de Letras da UFMG, onde também apresentamos comunicação sobre a pesquisa em andamento. Tais eventos, além de excelentes para divulgação dos trabalhos científicos desenvolvidos no âmbito do CEFET-MG, contribuíram para as reflexões que vínhamos fazendo, então, sobre o projeto ao permitir um diálogo com pesquisadores da área e de outras especialidades com os quais interagimos. Concluída essa etapa, demos início à preparação de um suporte que pudesse abrigar nosso projeto e torná-lo disponível online para que tivéssemos condições de permitir uma interação entre o material eletrônico e alguns leitores previamente convidados para tal. Então, a partir do protótipo de um site criado anteriormente por outros bolsistas [Fábio Aguilar da Silva, André Rodrigues de Barros e Silva e Vinícius Eustáquio de Sousa Fernandes] no ano anterior, em pesquisa semelhante na área de tecno-poesia, remodelamos as páginas que foram disponibilizadas em um blog e publicadas em rede, conforme demonstraremos adiante. Nesse sentido, foi de grande importância a experiência adquirida em algumas palestras em eventos de informática onde temas como ‘interface homem-máquina’ foram discutidos e puderam ser aplicados de forma significativa na elaboração de nosso blog, uma vez que buscávamos desenvolver uma interface simples que pudesse oferecer ao leitor facilidade na interação com o material eletrônico que dispúnhamos na rede. Assim, merecem ser citadas duas delas. Uma realizada no próprio CEFET-MG com o tema “Usabilidade e Design Centrado no Usuário”, como resultado de uma parceria entre o Departamento de Computação (DECOM) e o Laboratório de Pesquisa em Leitura e Cognição (LPLC) da própria instituição, e a outra, realizada durante a Feira Nacional do Empreendedor 2008, organizada pelo SEBRAE/MG, cujo tema “Educação Sem Fronteiras” foi apresentado pelo empresário do ramo da informática, Marcos Resende.

6

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Essas duas palestras nos permitiram explorar os obstáculos da aprendizagem à distância, uma vez que os leitores que selecionamos para participar do nosso projeto não tiveram nenhum treinamento anterior de como deveriam se comportar ao interagir com o nosso blog e com o material nele exposto, uma vez que objetivávamos uma participação livre e intuitiva por parte deles, embora, partindo do pressuposto de que os leitores já possuíssem conhecimentos básicos de informática e navegação pela internet, além da capacidade de compreender as instruções disponíveis no próprio blog e nas páginas dos sites onde os e-livros selecionados estavam disponíveis. Também, com a intenção de conhecer o que os leitores conseguiram apreender da leitura nos e-livros, para avaliarmos qual a potencialidade dos textos criados em ambientes eletrônicos na formação de novos hábitos de ler, elaboramos um questionário com oito perguntas discursivas que deveriam ser respondidas após a leitura de algum desses livros. Construindo um blog Durante a segunda etapa do projeto, após selecionarmos os e-livros que estariam expostos em nosso blog, começamos a explorar os portais que ofereciam espaço gratuito para abrigá-lo e que também disponibilizavam ferramentas de fácil utilização para a edição e publicação do conteúdo. Essa facilidade de manejo das ferramentas contribuiria com o nosso tempo que já se encontrava curto, uma vez que, como não tínhamos experiência nem conhecimento técnico de como se fazer para construir um blog/site, teríamos trabalho redobrado na busca de materiais didáticos e na aprendizagem para fazê-lo. Entretanto, não era suficiente que o espaço escolhido oferecesse apenas ferramentas de fácil edição e publicação, pois, também era nosso objetivo proporcionar ao leitor uma interface que facilitasse a interação homem-máquina, por isso, a escolha de um ambiente que oferecesse um layout agradável e com informações bem dispostas na tela foi tarefa trabalhosa. Assim, dentre os sítios disponíveis, optamos pelo blogspot da Google devido à agilidade e à facilidade na publicação do conteúdo graças às ferramentas de interação que são manipuladas de forma simples por parte do administrador do blog, por terem funções claras e objetivas. Após escolhermos o espaço para publicar nosso projeto, o passo seguinte foi trabalhar o conteúdo dos textos que iríamos publicar para que eles não se tornassem obstáculos na compreensão do leitor, quanto ao objetivo do projeto. 7

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Dessa forma, buscamos trabalhar com informações claras e explicativas, tanto ao justificar o objetivo do projeto quanto ao tentarmos demonstrar o caminho que queríamos que o leitor seguisse para que, então, ele pudesse retornar com o seu registro sobre as impressões de leitura em ambiente eletrônico. O endereço eletrônico do nosso blog ficou registrado no seguinte domínio: , através do qual pode-se acessar e conhecer o conteúdo prático da nossa pesquisa, além de interagir com os e-livros lá expostos. Discussão e Resultados Antes de tudo, é válido lembrar que os resultados aqui apresentados se baseiam nas impressões coletadas a partir dos comentários registrados pelos leitores e que visam atender ao objetivo inicial deste projeto: avaliar as mudanças de comportamento no campo da leitura em função das alterações dos suportes e da ampliação dos objetos dados ao ato de ler. Portanto, atendendo ao objetivo do projeto, alguns alunos da Instituição CEFET-MG foram convidados para participar de forma voluntária dessa pesquisa, de modo a interagirem com os e-livros publicados no blog e, em seguida, oferecer seu comentário através de um questionário de oito perguntas dissertativas. Essa participação poderia ser feita a partir do próprio computador, em casa, desde que os convidados tivessem acesso à internet e instalado em suas máquinas alguns softwares necessários para a exibição de alguns dos e-livros expostos no blog. Para essa experiência, um número de sete alunos foi convidado e seis deles aceitaram o convite. Todos os convites foram realizados e confirmados por e-mail, entretanto somente três participantes concluíram as atividades, ao passo que os demais relataram ter acessado o blog, mas não tiveram condições de responder às perguntas devido a problemas de conexão ou não conseguiram ler os e-livros pelo fato de não terem conseguido instalar alguns softwares em seus computadores. Assim, partindo somente dos registros deixados pelos três convidados que concluíram as atividades, pudemos perceber, de modo geral, uma boa aceitação dos leitores pelos novos suportes de leitura e também pelas diferentes formas de expressão artística manifestadas nos e-livros, embora as avaliações por eles realizadas tenham sido bastante superficiais em relação ao enredo e restritas unicamente na observação do livro enquanto produção estética e objeto de entretenimento.

8

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Observamos também que algumas respostas desviavam-se um pouco da idéia central da pergunta, de forma a empobrecer o depoimento dos participantes, de modo que, algumas delas, sobre questões diferentes, apresentavam uma definição muito semelhante umas das outras e, às vezes, parecia que um participante dava sua resposta como que em continuidade à resposta do outro para uma mesma questão. Nesse caso, especificamente, deveríamos ter autorizado a publicação das respostas dos participantes no blog somente após todos terem respondido para que a resposta de um não influenciasse a do outro. Se tivéssemos tomado essa precaução, talvez, cada um daria sua opinião sem se basear na idéia do outro. Contudo, é interessante transcrever algumas respostas dadas à pergunta central do questionário. Ao perguntarmos o que o leitor esperava de um livro eletrônico em oposição ao impresso, as seguintes respostas foram redigidas: “Pessoalmente espero que os recursos ajudem a direcionar e estimular a leitura pelo leitor. [...], ou que agregue o próprio sentido do livro sem nenhum recurso adicional.[...]”. Rafael “Tanto o livro tradicional quanto o eletrônico tem muitas vantagens a oferecer, uns mais outros menos, dependendo do tipo de leitor. Sendo assim, espero que esse novo formato de livro possa facilitar o acesso de um maior número de pessoas à literatura de qualidade e também que ele seja empregado da melhor maneira possível no incentivo à leitura”. Rúbia “Dinamismo na leitura em primeiro lugar. E depois, ele deve ter a mesma magia que um livro tradicional [...] e aí depende só do autor”. Corine Essas respostas são importantes para afirmarmos que houve uma boa aceitação dos leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora o número de leitores que concluíram a participação se tornou reduzido. Desse modo, como apontamento para as causas dos problemas apresentados no resultado, suspeitamos que eles foram ocasionados devido a três motivos. Um deles, talvez, seja a maneira como as questões foram elaboradas, restringindo-se a determinados aspectos ou tendo, algumas vezes, o mesmo sentido uma das outras, como é o caso de duas perguntas que questionavam, respectivamente, se “um livro eletrônico deveria apresentar características próprias” e “quais as características deveriam ser apresentadas por um livro eletrônico em oposição a um livro impresso”. Esse caso se repetiu em outras três questões que tinham como idéia central o contato do leitor com o livro eletrônico. 9

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Outro motivo foi, sem dúvidas, o número restrito de participantes. Talvez, se tivéssemos convidado um número maior de leitores e realizado um acompanhamento de feedback, os resultados poderiam ter sido mais satisfatórios, embora, correr-se-ia o risco de serem manipulados por nós, uma vez que poderíamos induzir o leitor a comportar-se de acordo com a nossa visão sobre o assunto. Se isso acontecesse, a leitura não aconteceria de forma livre e intuitiva como objetivávamos. O último motivo que suspeitamos estar relacionado aos resultados não muito positivos, está associado ao período que disponibilizamos para a participação dos leitores. No plano de trabalho da pesquisa estava previsto um período de 6 meses, entretanto, somente 1/6 desse período foi disponibilizado aos leitores, devido a atrasos em etapas anteriores. Não obstante, uma das hipóteses levantadas ao descrevermos o projeto da pesquisa pôde ser confirmada no depoimento dos leitores ao responderem à questão que indagava qual o conceito de livro eletrônico tido por eles. A nossa suspeita era de que a forma do objeto escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que lêem e, essa resposta foi dada por eles: “acredito que esse formato de livro pode direcionar ou até mesmo limitar a imaginação do leitor” (Rúbia) ou, “tinha o conceito de uma obra com maiores riscos de subjetividade (no sentido da informação apresentada) do que outras como o livro não eletrônico” (Rafael). Nesse sentido, mesmo com as deficiências ocorridas durante a execução do projeto, podemos observar também que pontos favoráveis à nossa pesquisa foram alcançados, permitindo encerá-la com expectativas de que apontamos para o caminho certo. A partir desse registro coletado das impressões dos leitores, fizemos uma avaliação preliminar do impacto dessa leitura em novos suportes, o que nos permitiu concluir a pesquisa. É válido lembrar que essa conclusão não encerra a pesquisa definitivamente e sim, um ciclo de atividades previstas no plano de pesquisa. Conclusão A cogitação sobre as mudanças de comportamento no campo da leitura em função das alterações dos suportes dados ao ato de ler pôde ser comprovada através desta pesquisa que utilizou de ferramentas e recursos que permitiram um contato direto do leitor com o livro eletrônico que era o objeto de investigação. Esse contato só foi possível a partir de um embasamento teórico amplo que permitiu a nós pesquisadores selecionar livros que apresentavam características próprias para o meio eletrônico e elaborar para os leitores testes compatíveis com o objetivo de nossa pesquisa, 10

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

sem que isso implicasse em alguma dificuldade para eles que estavam tendo o primeiro contato com um livro eletrônico no formato que apresentamos. Estes testes geraram resultados que ao serem analisados puderam comprovar dois fatos interessantes para a nossa pesquisa: a confirmação da hipótese de que a forma do objeto escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem e a boa aceitação dos leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora alguns relatos apontavam para a complexidade que o material disponibilizado apresentava. Também encontramos algumas deficiências em nosso projeto, como o curto período que disponibilizamos para a participação dos leitores e também o número restrito deles que foram selecionados para participar. Entretanto, a experiência adquirida pôde enriquecer nosso conhecimento, além de poder contribuir com o adensamento de uma bibliografia e de uma abordagem ainda pouco usual no campo dos estudos literários e lingüísticos. Referências BEIGUELMAN, Giselle. O livro depois do livro. São Paulo: Peirópolis, 2003. _________________. The book after the book. 1999. desvirtual.com/thebook>. Último acesso em: 27 mai. 2008.

Disponível

em:


BRASIL, André; FALCI, C.H.; JESUS, Eduardo; ALZAMORA, Geane (org.). Cultura em fluxo – novas mediações em rede. Belo Horizonte: PUC Minas, 2004. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo de Moraes. São Paulo: Editora Unesp/Imprensa oficial, 1999. FARGIER, J.P. Poeira nos olhos. In PARENTE, André (org.). Imagem – máquina: a era das tecnologias do virtual. Trad. Kátia Maciel. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. p. 231-236. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário eletrônico Aurélio versão 5.0. 3. ed. Editora Positivo, 2004. GARCIA, Álvaro Andrade. LivrEs. 2002. Disponível memoria/livros/livres.php>. Último acesso em: 02 out. 2008.

em:


CUNHA, Helenice Rêgo dos Santos (org.). Padrão PUC Minas de Normalização: normas da ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e monografias. Belo Horizonte: PUC Minas, 2004. 36p. LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996. POPPER, Frank. As imagens artísticas e a tecnociência (1967-1987). In PARENTE, André (org.). Imagem – máquina: a era das tecnologias do virtual. Trad. Ivana Bentes. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. p. 201-213.

11

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

PORTAL DOMÍNIO PÚBLICO. Biblioteca digital desenvolvida em software livre.2004. Disponível em: . Último acesso em: 18 nov. 2008. SANTOS, Andréa S.; SILVA, Rogério B.; SANTOS, Tobias J. Metamorfoses do livro: multimídia e escrita literária. 2008. Disponível em: . Último acesso em: 28 fev. 2009. TORRES, Rui. Poesia Digital. 2008. Disponível em: . Último acesso em: 06 dez. 2008. VALLIAS, André. Aleer - antilogia laboríntica. refazenda.com/aleer/>. Último acesso em: 22 nov. 2008.

1996.

Disponível

em:


_____________. André Vallias. 2003. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2008. VIGGIANO, Adalci Righi. Unidade 2: Citação, referência e artigo. In: Metodologia Científica. [S.L.: s.n.], [2007]. CD-ROM. p.19-40. WEISSBERG, J.L. Real e virtual. In PARENTE, André (org.). Imagem – máquina: a era das tecnologias do virtual. Trad. Ivana Bentes. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. p. 117-126.

12

Related Documents

Artigo Completo
June 2020 9
Slide Hipertexto- 2009
June 2020 14
Artigo
May 2020 19
Artigo
April 2020 26