PSICOTERAPIA EXISTENCIAL – RESENHA 2 DE SETEMBRO DE 2014 BRUNOTURRI
Resenha do Livro “Psicoterapia Existencial” São Paulo, 2006, Thomson Editora Valdemar Augusto Angerami – Camon por Bruno Barcellos Sampaio Um livro importante para quem pretende adentrar no estudo da psicoterapia existencial. Rico em subsídios teóricos e fundamentos filosóficos para que estudantes possam compreender o existencialismo e aqueles que já conhecem enriquecerem ainda mais o seu saber. Um livro que já é utilizado em Universidades e que é considerado essencial para a pratica da psicoterapia. O livro é dividido em sete capítulos adicionados da Apresentação, um breve esboço sobre a história do existencialismo e de uma Bibliografia situadas, respectivamente, na abertura e no final do mesmo. Encontra-se logo de início uma poesia intitulada “Parêmias do Terapeuta Existencial” que pode se chamar do que é mais belo neste ser terapeuta e de sua colocação no mundo. Poesias que estão sempre presentes na obra do autor. Na apresentação, o autor coloca a dificuldade de se encontrar conteúdo sobre o assunto em nossa literatura. Nos mostra a importância do estudo da psicoterapia existencial para nossa prática e mostra o caminho dos precursores deste movimento. O autor nos fala da importância deste livro para os universitários e diz que se torna um amigo do leitor através dele. Um livro escrito com paixão e amor. No breve esboço sobre o existencialismo, perguntas como “o que é o existencialismo?” ou “o que é a psicoterapia existencial?” são respondidas e clarificadas, diferenciando de maneira rápida o existencialismo de outras abordagens que geralmente são classificadas como existenciais. Angerami faz uma lista dos autores existencialistas mais importantes sejam filósofos, poetas ou escritores de literatura e caminha através do tempo e do acréscimo de cada um para este modo de pensar. No Capítulo 01 intitulado “Temas existencialistas: conceitos fundamentais” Angerami entra em um campo específico da psicoterapia e consegue de forma clara explicar temas existenciais polêmicos e que raramente são achados de forma direta na literatura. Intercala trechos literários dele próprio e de outros autores para exemplificar cada assunto estudado.
Discorre sobre temas como Existência, liberdade, essência, o ser-no-mundo, sentido de vida, transcendência, autenticidade, morte, amor e de conceitos que antes eram vistos com dificuldades por autores, mas que o existencialismo trás como inerente ao ser humano como a solidão, o tédio existencial e a culpa. O autor ainda fala sobre angústia, tema estudado a fundo pelos existencialistas e que tem seu conceito modificado nesta corrente de pensamento humano e sobre felicidade vista com outras formas e contornos. Capítulo 02 – Fenomenologia: métodos e pressupostos A importância de Edmund Husserl, criador do movimento denominado fenomenológico é destaque do início do capítulo. Mesmo este autor não podendo ser caracterizado como existencialista propriamente. Angerami nos mostra o que é a fenomenologia e sua ligação com o existencialismo. O capítulo é dividido em duas partes. A primeira é sobre as bases fenomenológicas e a segunda sobre o método fenomenológico. Dentro do método fenomenológico o autor separa quatro tópicos importantes. O primeiro é a análise intencional, ou seja a relação entre consciência e objeto, elucidando a essência desta correlação fazendo a chamada redução fenomenológica. Redução fenomenológica e seus resíduos que é o próximo tópico dentro da segunda parte do capítulo (O método fenomenológico). Angerami nos leva agora a ver a fenomenologia de dois ângulos diferentes. O primeiro é a ontologia fenomenológica de Sartre, sua idéia de fenômeno, sua divisão da existência em conceitos de “em-si” e “para-si”. Tem destaque ainda características básicas da consciência para o autor francês, a transcendência e a temporalidade. Por estas características segundo Angerami, “a compreensão do homem será feita de modo livre sem as amarras impostas pelo pensamento determinista”. O segundo ponto de vista citado pelo autor é a ontologia fenomenológica de Heidegger. O filósofo alemão fala sobre a a importância do cuidado com as palavras, pois em cada sentença que proferimos, segundo ele, o ser é afirmado. Heidegger fala sobre a importância dos sentidos que cada ser dá para as coisas, o sentido diferente que cada pessoa dá para fatos, palavras ou objetos banais. O próprio autor em sua obra filosófica tem todo um cuidado especifico com as palavras. O Capítulo 03 – O capítulo três é marcado pelo início da diferenciação entre a psicoterapia existencial e outras formas de fazer psicologia é intitulado “Psicologia e pressupostos existencialistas”. Ele é subdividido em duas partes a primeira chamada Psicologia como ciência. O autor coloca que os pressupostos existencialistas propõem uma compreensão do homem enquanto fenômeno único. Isso diverge da psicologia vista como uma ciência. A ciência busca sempre uma objetivação das coisas, classificando e generalizando. Assim a psicologia como ciência empírica necessita sempre de um enfeixamento determinista o que se mostra totalmente ao contrario do movimento existencialista que nega compreender o homem por categorias, estruturas, generalizações ou testes classificatórios.
A psicologia como ciência diz que organismos diferentes reagem do mesmo modo diante de estímulos semelhantes. Isso contrasta-se radicalmente com a idéia existencial de seres únicos. Angerami questiona como sentimentos como o amor, a paixão e outros podem ser classificados, pois inexistem diante de preceitos científicos e conceituações operacionais. E vai além ao comentar sobre os experimentos realizados com animais, explicando que o pensamento existencialista recusa-se a aceitar estes procedimentos e coloca a impossibilidade de aceitação destes dados obtidos como generalizações. Para ele “ A única possibilidade pertinente aos princípios existencialistas é a pratica psicoterápica, onde o terapeuta irá realizar um encontro existencial único e verdadeiro com o cliente”. Capítulo 02 – Fenomenologia: métodos e pressupostos A importância de Edmund Husserl, criador do movimento denominado fenomenológico é destaque do início do capítulo. Mesmo este autor não podendo ser caracterizado como existencialista propriamente. Angerami nos mostra o que é a fenomenologia e sua ligação com o existencialismo. O capítulo é dividido em duas partes. A primeira é sobre as bases fenomenológicas e a segunda sobre o método fenomenológico. Dentro do método fenomenológico o autor separa quatro tópicos importantes. O primeiro é a análise intencional, ou seja a relação entre consciência e objeto, elucidando a essência desta correlação fazendo a chamada redução fenomenológica. Redução fenomenológica e seus resíduos que é o próximo tópico dentro da segunda parte do capítulo (O método fenomenológico). Angerami nos leva agora a ver a fenomenologia de dois ângulos diferentes. O primeiro é a ontologia fenomenológica de Sartre, sua idéia de fenômeno, sua divisão da existência em conceitos de “em-si” e “para-si”. Tem destaque ainda características básicas da consciência para o autor francês, a transcendência e a temporalidade. Por estas características segundo Angerami, “a compreensão do homem será feita de modo livre sem as amarras impostas pelo pensamento determinista”. Angerami nos cita autores importantes do movimento como Erasmo de Roterdã e parte para o campo específico da psicologia comentando sobre a adoção do termo humanista pretendendo tornar a psicologia mais humana. Para o autor este termo é desprovido de sentido e até apresenta erro semântico já que psicologia é definido como a ciência que estuda o comportamento humano. E comenta sobre um polêmico texto de Sartre chamado “O existencialismo é um humanismo” onde o autor francês mostra que existem peculiaridades entre o existencialismo e o humanismo, alem de diferenças do humanismo arcaico. Nos coloca duas formas de humanismo, a primeira é a que coloca o homem como fim e como valor superior. Sartre discorda desse modo, dizendo que o existencialismo nunca tomará o homem como um fim e sempre um por fazer. Ele nos coloca o sentido de humanismo que concorda, aquele que diz que o “homem está constantemente fora de si mesmo, é projetando-se e perdendo-se fora de si que ele faz existir o homem, sendo o
homem esta superação e não se apoderando dos objetos senão em referência desta superação, ele vive no coração, no centro desta superação”. Mesmo com esse esforço de Sartre de mostrar que o existencialismo é um humanismo, Angerami comenta que a questão ainda é bastante polêmica e delicada. E conclui que se já é inadequado falar “Psicologia Existencial”, seria muito mais complicado dizer “Psicologia Existencial Humanista”. O ideal seria Psicologia humanista, já que as idéias dos principais autores humanistas se diferem muito dos pensamentos propostos pelos autores existenciais. O Capítulo 05 é intitulado “Psicanálise e Existencialismo”. O autor faz uma comparação entre o Existencialismo e a Psicanálise, analisando os principais conceitos psicanalíticos aos olhos existenciais. Nos mostra que a psicanálise é formulada para comprovar sua própria teoria e não dá importância primária ao fenômeno como faz o existencialismo. Angerami cita uma frase de Freud que comprova a colocação do fenômeno em segundo plano. Assim a teoria psicanalítica, dogmática, é colocada como soberana frente ao fenômeno. Freud embasou sua teoria nas ciências naturais, o que o obrigou a atacar os fenômenos e os colocar em um nexo-causal, ou seja, causa e efeito, podando assim o homem de ser um ser que realiza a própria essência a partir da existência. O autor ainda explica a existência a partir de fatos ocorridos no passado. Angerami discorda desta “verdade psicanalítica” e diz que se algum fato ocorreu numa data cronologicamente anterior não significa que isso seja a causa dos problemas que estamos vivendo no presente. Em seguida coloca alguns pontos do pensamento existencialista para estabelecer um contraponto com a teoria da psicanálise. Esse contraponto se divide em duas partes. A primeira fala do projeto do ser, nos mostra primeiro a questão da divergência no esquema de causa-efeito, pois para o existencialismo isso estaria determinando o homem e não o tornando responsável por suas ações e caminhos. Um segundo ponto dentro deste item é a questão da responsabilidade, onde a psicanálise coloca a questão do determinismo do inconsciente. O existencialismo coloca o homem como total responsável por suas ações A segunda parte fala exatamente sobre o inconsciente, o autor nos coloca a definição de inconsciente para Freud, e questiona essa posição de acontecimentos escondidos nesta “região” fazendo um paralelo com o lembrar e o não lembrar. Finaliza o capítulo dizendo que o homem pode se esconder, pode fugir da liberdade de refletir e até mesmo pensar sobre a existência. E diz que a angustia de liberdade poderia ser produzida por um simples ato de lembrança sem a necessidade de “invocar nenhum conceito metafísico para explicar sua ocorrência”. Capítulo 06- Convergência do pensamento existencialista na prática psicoterápica Neste capítulo Angerami nos mostra os principais autores que trabalham na convergência do pensamento existencialista a prática psicoterápica. E nos mostra ainda
aqueles que são considerados existencialistas, mas em nada justificam tal posicionamento. Os autores citados são Rollo May. Considerado existencialista, mas que segundo Waldemar é uma classificação errônea pois utiliza-se de conceitos psicanalíticos em sua obra, como por exemplo, a relação causa-efeito e a idéia de inconsciente. Victor Frankl é o outro autor citado por Angerami. Criador da logoterapia que faz uma convergência em sua obra trazendo Deus para a compreensão e reflexão do homem. O autor nos afima que Frankl é admirado por terapeutas que busca unificar as crenças místicas com a prática da psicoterapia. Destaca-se a a historicidade de Frankl como prisioneiro de guerra. O terceiro autor destacado por Angerami é Binswanger que juntamente com Jasper iniciou a chamada “Psiquiatria existencial”. Recebe um destaque entre os existencialistas por sua obra extensa, por ter iniciado o trabalho existencial na psiquiatria e, como diz Angerami, por sua obra ser ponteada por momentos brilhantes. Medard Boss é outro autor que aparece como exponencial na atualidade. Recebe grande influencia de Heidegger, considerados por muitos ser mais heideggeriano que o próprio autor alemão. Waldemar nos fala também da crítica que Boss recebe por negar a armação psicológica da psicanálise e substituir por conceitos existenciais, mantendo sua estruturação. O quinto autor é J.H. Van Den Berg, psiquiatra holandês que tem bastante projeção entre os existencialistas contemporâneos. Angerami nos coloca que sua obra é reduzida, mas que é rica na análise realizada sob a ótica fenomenológica no campo da psiquiatria. Crítico dos conceitos vigentes da psiquiatria e da estrutura freudiana, tem “uma linguagem que ao mesmo tempo em que é precisa e constrita tambem apresenta rasgos de beleza e harmonia”. Para finalizar os autores, Angerami nos fala sobre Ronald Laing. Autor de grande importância que tem sua principal obra (em parceria com Cooper) prefaciada por Sartre e tida como um marco inicial no movimento denominado “antipsiquiatria”. Laing sempre demonstrou preocupação em inserir o homem numa realidade social, fato que deu concretude sólida às suas obras. Capítulo 07 – Perspectivas da psicoterapia existencial Angerami nos mostra a perspectiva do pensamento existencial como um resgate da compreensão da condição humana apenas e tão somente a aspectos inerentes a ela. Descarta qualquer teoria que não se trate da existência humana ou a coloque em mecanicismos ou teorias baseadas em hidráulica. Fala sobre a dificuldade e as barreiras encontradas por este pensamento no meio acadêmico. O autor acredita que o existencialismo não conseguirá reunir tantos adeptos quanto as outras correntes da psicologia. A última parte do livro é a bibliografia existencialista. O autor nos diz que a obra é bastante vasta e coloca as que usou como referencia, tendo a preocupação de separar por tópicos e autores de maior importância e ainda citar obras introdutórias que facilitarão
aquele leitor que queira estudar mais sobre o assunto. Através de poemas vamos entrando no mundo do existencialismo, ou ele vai adentrando em nosso ser, como as estações do ano citadas nos poemas que dão inicio aos capítulos. Cada qual com suas características próprias, assim como o ser humano. Assim esta obra é básica para todos que se interessam por psicologia e psicoterapia, não para uma aceitação total ou como resposta pronta, mas para gerar sempre discussões em busca de crescimento.
TEMAS EXISTENCIAIS EM PSICOTERAPIA – RESENHA 2 DE SETEMBRO DE 2014 BRUNOTURRI
Resenha do livro TEMAS EXISTENCIAIS EM PSICOTERAPI Resenha TEMAS EXISTENCIAIS EM PSICOTERAPIA Por: Walmir S. Monteiro A DESCONSTRUÇÃO DA INDIFERENÇA ANGERAMI-CAMON. Valdemar Augusto. Temas Existenciais em Psicoterapia. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. É de se esperar que um livro sobre temas existenciais em psicoterapia traga à discussão assuntos como a doença, o doente, a construção da subjetividade e a depressão como processo vital. Mas quando essa mesma obra se propõe a tratar, com igual densidade, matérias polêmicas como fé e espiritualidade, concluímos que se trata – de antemão – de uma obra ousada. E é exatamente pela espiritualidade que o livro começa; assim, de primeira, admitindo logo o espírito quase beligerante que sempre provoca o trato de uma questão como essa – tabu no meio psi. Mas o fato incontestável é que a grande experiência do autor na área hospitalar lhe proporcionou importante contato com vivências espirituais, e com a dimensão “transnatural” da realidade de seus pacientes, credenciando-o a trazer o tema para debate, e assumir corajosamente a necessidade de “enveredar pelos caminhos da criticidade teórica para que não nos percamos em meras e vãs digressões teóricas e filosóficas que não encontram sedimentação em nossa realidade contemporânea”. Segundo Angerami, “a fé no processo de cura é o determinante maior” do sucesso da psicoterapia, e o papel da espiritualidade na prática clínica é possibilitar que “um imenso número de pessoas que (…) simplesmente não acreditam na eficácia da psicoterapia possam dela se beneficiar uma vez que se vinculam à sua fé.” Para o autor, se também o psicoterapeuta, “não tiver uma fé inquebrantável na capacidade de auto-superação do paciente, de nada adiantará a utilização de técnicas
diversas, por mais eficazes que possam ser (…) porque somos espiritualidade tanto quanto somos humanidade. Somos espirituais tanto quanto somos psicoterapeutas”. O autor, psicoterapeuta e poeta, também faz interessante aliança entre a densidade da ciência psicoterápica e a sensibilidade da arte poética e musical. Densidade e sensibilidade se articulam e se fundem no correr de páginas prenhes de uma narrativa existencialmente analítica que se impõe profunda, séria, mas também suave e esperançosa. No capítulo “sobre a postura do profissional da saúde diante da doença e do doente”, traz-nos importantes conceituações acerca da relação entre o profissional de saúde e o paciente hospitalar, começando pela postura de indiferença total para a dor do paciente, uma calosidade profissional que o impede de ser tocado pelo sofrimento alheio, a serviço, talvez, da manutenção de uma certa idéia de suposta neutralidade e nãoenvolvimento: “como se fôssemos capaz diante do sofrimento de acionar algum botão que nos desligasse” de tudo que pudesse abalar nossa estrutura emocional, mas “ao negar a dor do outro, o profissional de saúde não apenas nega a dor do seu semelhante como também a sua própria condição humana.” Não se quer que o profissional absorva todo o desespero que envolva uma situação de dor. O ideal é: nem calosidade, nem comoção, mas uma postura que permita calor humano sem uma dramática comoção que possa atonar a fragilidade profissional, quando a intenção real é vivenciar sensibilidade e empatia reais. O “distanciamento crítico, segundo Angerami é o comportamento apropriado, porque “faz com que o profissional possa refletir de maneira serena e segura acerca dos desatinos emocionais do paciente.” Angerami advoga a importância de uma “empatia genuína”, fruto da própria condição humana do psicoterapeuta, na mais profunda e exata abrangência que tal definição possa abarcar. E refere-se a Stratton & Hayes para conceituar empatia como “um sentimento de compreensão e unidade emocional com alguém”. Ainda neste capítulo conceitua “profissionalismo afetivo” como “aquela postura onde não ocorre a empatia genuína, mas ainda assim o profissional trata o doente com respeito pela sua dor e sofrimento, adotando uma postura profissional que, embora pareada por certo distanciamento traz um grande respeito pela dor do paciente. Tal procedimento torna-se bastante útil quando se quer evitar um envolvimento emocional que escape do controle do profissional da saúde, “sem que o paciente se sinta desrespeitado na delicadeza do seu sofrimento.” O capítulo 3, o imaginário e o adoecer – esboço de pequenas grandes dúvidas, propõe de começo uma interessante reflexão: “… não é na patologia que determinou a hospitalização que acharemos a decorrência do sofrimento vivido pelo paciente”, mas provavelmente em “fatores subjetivos que estão determinando a própria conceituação de enfermidade e, por assim dizer, do nível desse sofrimento”. Para Angerami, tal subjetividade, “circunscrita nos aspectos que envolvem a história de vida de uma determinada pessoa fazem com que determinados diagnósticos repercutam de maneira específica a partir dessas peculiaridades”, e exemplifica a partir de Romano: “a reação depressiva pode alterar o curso clínico de uma doença e se tornar um forte empecilho para bons resultados no processo de reabilitação, tornando-o moroso ou difícil.” Isto sinaliza para a confirmação de que “o espectro que o imaginário concebe como inerente a algumas patologias é a própria maneira de configuração até mesmo do sofrimento específico de cada paciente”, com diferentes características para uma mesma ocorrência, porque “o imaginário determina a própria maneira como algumas
patologias, ao se manifestarem, agem até mesmo em níveis organísmicos.” Ainda neste terceiro capítulo, Angerami alude ao significado da dor segundo Szasz, que se para o médico “é um problema de doença ou ferimento que aciona os impulsos nervosos, e para o paciente é um problema de desconforto e sofrimento que provém de uma disfunção do seu corpo, para o teólogo é principalmente um problema de culpa e castigo”.E aqui o autor inclui observações de Sartre acerca dos diferentes objetos alvos das análises dos três personagens citados: “cada uma dessas pessoas, na verdade, voltase para um objeto diferente: o médico para o corpo do paciente como engrenagem biológica, o paciente para o seu próprio corpo como um bem pessoal, e o teólogo para as experiências do indivíduo como agente moral em relação a Deus.” Angerami observa que ainda que a dor se enfeixe no imaginário do paciente ela não deixa de ser real e inclusive detectável aos instrumentos hospitalares: “Negar a dor do outro é negar a sua própria realidade”. O trabalho dos profissionais de saúde na unidade hospitalar, portanto, é direcionado não há uma ou outra dor, não a uma ou outra patologia, mas à pessoa humana que ali está em busca de acolhimento não apenas para a angústia de uma sensação dolorosa e visível ao exame, mas também para uma condição existencial que carece de acolhimento e compreensão. Antes não era assim. O hospital era lugar de tratar do que “comprovadamente” dói e isto descartava a nova visão holística que aos poucos se impõe e cresce em torno do conceito de função hospitalar. Camon, a propósito, recorre a Foucault para nos lembrar que a própria mudança ocorrida no hospital nas últimas décadas contrasta com o histórico de sua trajetória, pois antes do século XVIII o hospital não era uma instituição médica, mas sim uma instituição de assistência aos pobres e o lugar onde estes iam para morrer. Não havia doente a ser curado, mas apenas alguns pobres morrendo. Até hoje, coloca Angerami, estamos discutindo os objetivos da instituição hospitalar. E junto com esses objetivos, também a adoção de uma psicologia decididamente humana. “Uma psicologia construída por pensadores humanos e que seja destinada à compreensão do homem pelo homem e não mais por devaneios que coloquem o humano a um plano secundário.” O capítulo 4 de certa forma prossegue a discussão do capitulo anterior mostrando que “não há como desassociar o imaginário da fé perceptiva, pois praticamente um é resultante do outro e, de alguma forma, um se configura a partir do outro. A própria definição e configuração do que seja imaginário dependem da nossa fé em sua existência e abrangência.” Se assentimos que há uma interlocução entre imaginário e real a ponto de se tornarem indiscerníveis porquanto formam unidade holística e organísmica; certamente assentiremos que o veículo que nos transporta à admissão da “realidade do imaginário” é a fé, porque “ as coisas que a nossa percepção apreende da realidade são definidas a partir daquilo que acreditamos e que conceituamos como tal.” É um capítulo que trata do fenômeno da fé: a construção da subjetividade, e calca toda a discussão a partir das percepções visual e auditiva, acrescentando-lhes a “fé perceptiva”: “vivemos numa realidade existencial, onde agimos como se tivéssemos apenas as percepções visual e auditiva” pelas quais nos orientamos em nossas apreensões acerca do que seja o mundo. O autor diz que se podemos afirmar com Merleau-Ponty “que o mundo é o que vemos”, contudo precisamos aprender a vêlo, e a fé perceptiva nos dá parâmetros de configuração daquilo que sentimos e
percebemos não apenas sobre a nossa realidade existencial, como também a respeito do mundo que nossa percepção define como tal. Praticamente tudo é determinado pela apreensão que o nosso olhar tem da realidade. “Nossa subjetividade é o modo como estabelecemos nossa vivência de transcendência e como nos definimos como seres pensantes e até mesmo humanos. É no enfeixamento da nossa realidade senso-perceptiva que se forma a nossa subjetividade em tudo aquilo que nos caracteriza como humanos, um ser que transcende a si mesmo e se percebe como fenômeno”. No último capítulo, “Depressão como processo vital”, Angerami estuda a depressão como “manifestação existencial de defesa de uma pessoa frente às vicissitudes da existência. Um fenômeno humano que se faz presente nas mais diferentes situações e contextos”. Camon coloca logo a sua intenção de refletir sobre os determinantes que levam uma pessoa a efetivar a escolha da depressão para a resolução de seus conflitos existenciais, ”independente das pesquisas que reduziram a existência humana a conceitos meramente orgânicos.” Inicialmente o autor conceitua a depressão a partir de três tipos de ocorrências específicas: a melancolia, a nostalgia e o luto. A melancolia é conceituada como “a situação em que a pessoa sofre por aquilo que não viveu”, das escolhas que não fez, das oportunidades que desperdiçou. “A nostalgia, contrariamente à melancolia, é a dor pelas recordações das situações vividas: a saudade que nos traz ao imaginário situações prazerosas vividas no passado, visando dar sentido ao presente ou atenuando o momento cáustico que o presente possa estar configurando.” “A depressão que envolve situações de perdas e luto são aquelas que mais facilmente encontram escora nas conceituações contemporâneas. É comumente definida como sendo depressão reativa, ou seja, que reage a determinadas situações ocasionais e esporádicas”. Um quadro depressivo diante de uma situação de luto, por exemplo, é algo inclusive bastante saudável, na medida em que mostra uma reação organísmica” que visa a reobtenção de equilíbrio e bem-estar Camon conclui o capítulo dizendo que a depressão é algo que revela de modo único a nossa condição humana, a qual traz em seu bojo situações de perda e de luto, de frustrações e de desatinos. E se a depressão permite tantos questionamentos e polêmicas, devemos então aceitá-la como algo decididamente único e pessoal. Concluímos que “Temas Existenciais em Psicoterapia”, de Valdemar Augusto Angerami – Camon, é um livro que tem merecido lugar de destaque entre as melhores obras psicológicas, por sua pertinência, clareza e ousadia.
PSICOTERAPIA & SUBJETIVAÇÃO 2 DE SETEMBRO DE 2014 BRUNOTURRI
Resenha do Livro “Psicoterapia e Subjetivação” Psicoterapia e subjetivação – Uma análise de fenomenologia, emoção e percepção Valdemar Augusto Angerami – Camon
por André R. R. Torres (Resenha publicada no Boletim da Academia Paulista de Psicologia. Ano XXIV, nº3 – Setembro/Dezembro, 2004) O livro é dividido em sete capítulos adicionados da Apresentação e a Bibliografia situadas, respectivamente, na abertura e no final do mesmo. É visível, desde o início, a marcante linguagem poética do autor também presente em todas suas publicações anteriores e que certamente estará nas futuras. Na Apresentação, destaca-se o fato de que o livro foi elaborado como guia para o curso de formação em psicoterapia fenomenológico-existencial promovido pelo Centro de Psicoterapia Existencial, coordenado pelo próprio autor, que expõe, portanto, parte do conteúdo ministrado nos grupos de alunos. No Capítulo 1 – De pequenos detalhes…, a partir de uma citação do já falecido cantor Gonzaguinha, Angerami consegue criar uma atmosfera de interligação entre seus conhecidos mais próximos, como sua secretária, sua companheira, seu filho, seus amigos, alunos, leitores e pacientes, demonstrando já a importância que as outras pessoas têm em nossa vida pessoal, concentrando-se, no caso, na concepção deste livro. No entanto, o tema será desenvolvido de forma teórica no decorrer do trabalho. O segundo capítulo – Do azul de uma manhã de outono, de epistemologia e de metafísica… inicia-se com novo clima poético. Desta vez, o autor versa sobre sua fascinação pelo outono e pela natureza ao mesmo tempo em que situa seu embasamento filosófico a ser desenvolvido no livro, citando os filósofos Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty, dois grandes expoentes franceses da filosofia existencial. Começa então a se aprofundar na questão teórica, opondo a psicoterapia existencial às psicologias que se propõem a cumprir o método científico. O autor já conhecido por suas afirmações polêmicas não deixa de levantar suas críticas ao behaviorismo e ressaltar o trabalho artesanal da psicoterapia existencial, comparando tal postura à personagem D. Quixote do consagrado escritor Miguel de Cervantes, o que denota uma posição anti-reducionista. Uma marca presente neste livro e que começa a ser trabalhada neste ponto é a atenção para o papel social do conhecimento, principalmente as psicologias que considera alienantes e que, por isso, estariam fazendo um favor ao capitalismo por separar o sujeito de sua historicidade. Para tanto, demonstra sua indisposição teórica em relação à psicanálise e à prática psicológica que se baseia na filosofia de Heidegger. O capítulo encerra-se com a afirmação de que o pensamento existencialista é essencialmente metafísico. O Capítulo 3 – Desconstrução de conceitos faz jus ao nome. Ele se inicia com a exposição da proposta do autor de compreender o que é a subjetividade e como será estudada, destacando as diferenças entre sua fundamentação teórico-filosófica que se dá, principalmente, aos moldes da fenomenologia de Merleau-Ponty e a psicologia
tradicional. A crítica agora cai sobre a tendência da psicologia apontada pelo autor de “encapsular” o ser humano, ou seja, isolá-lo do mundo que o circunda. São traçadas relações entre sensações e corpo, afirmando-se que cada pessoa é o seu próprio corpo. Deste argumento, Angerami põe-se a questionar o conceito de mente e o seu “domínio” sobre o corpo. Segue outra afirmação de que esta separação inexiste. Portanto, também é colocada em xeque a idéia de doença mental com severas críticas ao organicismo que, segundo o autor, justificou práticas desumanas como, por exemplo, a lobotomia. A posição assumida no livro define-se neste momento com a colocação de que não se deve situar-se nos dois grandes paradigmas vigentes: 1 – o da psique e 2 – o do organicismo. É defendida a idéia de que o Homem é muito mais do que o objeto de estudo destas duas correntes. Para justificar tais dizeres, baseia-se em Jean Genet e Sartre, criticando a idéia de um mundo interior que seja isolado de um exterior. Angerami declara: “Eu sou a minha realidade social”. Chegamos ao Capítulo 4 – Sobre o imaginário e nos deparamos com uma importante diferenciação sartreana entre imagem e objeto. O passo seguinte é diferenciar o imaginário da realidade. Algumas idéias da psicoterapia existencial são expostas, como a mudança perceptiva e a idéia de que o “Homem é sempre um vir-a-ser”. Citando novamente Merleau-Ponty, o autor ensina o papel dos sentidos no nosso acesso ao mundo e suas relações com o imaginário. Alguns exemplos práticos reforçam tais ensinamentos. Há uma subdivisão do capítulo intitulada Sobre a senso-percepção que começa com a afirmação fenomenológica de que percepção é sempre percepção de algo do mundo, o que traz novamente a idéia de que somos nossa realidade social. Para exemplificar, Angerami cita algumas diferenças regionais do Brasil que influenciam diretamente a subjetividade e a historicidade das pessoas envolvidas. Vemos então como o imaginário se forma a partir da senso-percepção. Na exposição, também é demonstrado como o imaginário se estrutura enquanto saber puro e saber imaginante. Com esta sistematização, o autor demonstra caminhos para uma compreensão psicopatológica a partir das relações e contraposições entre o imaginário e a realidade. Angerami traça vários paralelos envolvendo o imaginário, analisando sua participação nas relações interpessoais, na drogadição, nas relações virtuais estabelecidas via internet ou telefone e nas artes. Mesmo envolvendo-se em várias análises teóricas, o autor não deixa de demonstrar seu fascínio com a vida diária e com a natureza. Chama a atenção do leitor de que tal trabalho não é último, ou seja, que é preciso desenvolver ainda mais estas idéias, inclusive dentro da psicologia. Também salienta as conseqüências do pensamento desenvolvido na prática da psicoterapia. O Capítulo 5 – O constitutivo do corpo. A real configuração da natureza humana é claramente o mais volumoso do livro. Nas reflexões iniciais deste capítulo levanta-se a questão do corpo e contrapondo as idéias de Merleau-Ponty às de Henrique C. Lima
Vaz. Também em defesa de suas idéias, o autor levanta a visão do corpo para o filósofo Edmund Husserl, criador da fenomenologia. Na subdivisão Sobre o corpo, Angerami discorre sobre o modo como, através da experiência do corpo, adquire-se consciência da expressão e forma-se o esquema corporal. É clara a diferenciação entre o corpo vivido e o corpo descrito pela ciência. A partir de tais idéias, várias correlações são traçadas entre o corpo, a transcendência e o imaginário, por exemplo. Uma importante observação é sobre o perigo de tornar o corpo em objeto, o que possibilita práticas brutais como a tortura ou a supervalorização do próprio corpo. É traçada com afinco a unidade entre corpo e consciência, questionando-se a separação entre o “psíquico” e o “somático”. O autor opõe-se também à fisiologia tradicional, mostrando a união que existe entre os sentidos na senso-percepção. Bastante interessante a citação de Merleau-Ponty, dizendo que “O corpo está no mundo assim como o coração no organismo”. Mais uma subdivisão se apresenta neste capítulo. Trata-se da parte Sobre o psiquismo, na qual Angerami passa a investigar a definição do termo “psíquico”, encontrando a raiz grega de “psi” como sendo “alma”. Várias diferenciações sobre as divisões entre alma e corpo são feitas aqui. Desde o pensamento de Aristóteles até as afirmações bíblicas de São Paulo. A posição de que não há um “eu psíquico” distante de um “eu corporal” é mantida com firmeza. As críticas são dirigidas à psicanálise com a citação do filósofo contemporâneo Gilles Deleuze, atentando mais uma vez para que a psicologia não se torne alienante. O autor pede às correntes da psicologia reflexões sobre o desenvolvimento humano e critica a idéia de “nexo causal”, demonstrando-a através de várias formas de psicoterapia que considera absurdas por causa, principalmente, de suas bases teóricas. São retomadas as relações trabalhadas no decorrer do capítulo sobre a não separação entre o corpo e psíquico, adicionando-se a questão emocional. Como é hábito nas publicações de Angerami, não é apenas a linguagem poética que se mostra mas encontra-se, entre os capítulos cinco e seis, uma poesia dedicada ao seu filho Evandro. Começa o Capítulo 6 – A prática da psicoterapia. Nas Reflexões iniciais, são expostos os papéis definidos na psicoterapia: o do psicoterapeuta e o do paciente. Também são demonstrados a definição de psicoterapia e os seus limites. Na subdivisão A psicoterapia de um novo prisma, o autor chama a atenção para a necessidade de coerência necessária entre teoria e prática, exemplificando com situações práticas os seus argumentos. É ressaltada a flexibilidade da psicoterapia existencial pelo fato de ela partir sempre do que o paciente traz, sendo ele a sua própria “medida”, pois, nesta ótica, o paciente é um fenômeno único e não deve ser subjugado a generalizações teóricas. Em novas subdivisões de capítulo, as partes Descrição de caso e Análise de caso são adicionadas para fazer exatamente o que sugerem seus títulos, diferenciando a
abordagem do caso de outras abordagens teóricas da psicologia, questionando possíveis interpretações e o uso de testes psicológicos. No final, Angerami faz a ligação do caso exposto com o conteúdo desenvolvido no decorrer do livro, utilizando as noções de imaginário, senso-percepção, historicidade, etc. O livro se encerra com o Capítulo 7 – Considerações complementares, no qual o autor deixa claras as polêmicas levantadas nesta publicação e, com ajuda da citação do ilustre filósofo Gerd Bornheim, situa a proposta do livro em relação às teorizações vigentes. Trata-se, a meu ver, de uma leitura muito interessante que pode vir a suscitar muitas discussões teóricas e políticas no âmbito das correntes teóricas e práticas da psicologia.
A PSICOTERAPIA DIANTE DA DROGADICÇÃO – RESENHA 2 DE SETEMBRO DE 2014 BRUNOTURRI
Resenha Livro A Psicoterapia diante da Drogadicção A Psicoterapia diante da Drogadicção Vanessa Maichin (Resenha publicada no Boletim da Academia Paulista de Psicologia. Ano XXII, nº3/02 – Julho/Setembro,2002) Esta nova obra de Angerami – Camon, de cunho humanístico, certamente vem responder aos anseios dos que se debruçam em busca de parâmetros efetivos para compreender e tentar diminuir a problemática da drogadicção que se avoluma cada vez mais, em nossos dias. O autor apresenta uma nova concepção dessa problemática, sem cair em digressões teóricas. Inicia sua contribuição com ampla discussão sobre o assunto, focalizando-o dentro do prisma da pressão social dos grupos organizados, mais intensos atualmente, instigando o uso de drogas. Problemática que antes de construir uma questão unicamente individual, passa também a ser de caráter social, transformando-se em um instrumento fragilizador das defesas pessoais. Para ser mais objetivo, o autor faz citações de depoimentos de dependentes de drogas para comprovar tais afirmações. Entre esses pronunciamentos apresenta o de Pablo Escobar, um dos traficantes mais procurados internacionalmente, para evidenciar o quanto os adolescentes são induzidos ao consumo de drogas para seu recrutamento em grupos anti-sociais e sua incorporação aos mesmos. O autor demonstra, por essa via, o quanto a droga serve como instrumento de alienação, inibindo os jovens de questionar, refletir e reivindicar.
Talvez esse posicionamento expresso seja um dos pontos mais polêmicos da obra, ao explicar o fenômeno da drogadicção através do confronto de valores sociais e a conivência do ato político embutido no uso da droga. Partindo desse enfoque, passa a chamar a atenção sobre a destrutividade pessoal na adição aos diferentes tipos de drogas e o seu significado no entorpecimento da consciência. E ao longo da leitura, informações surpreendentes vão dando contornos ainda mais reais a esse fenômeno de destruição. Como contrapondo a esse quadro desalentador, o texto apresenta reflexões dirigidas aos profissionais da saúde, ao enfatizar que o usuário de drogas é alguém que necessita libertar-se das amarras existenciais, como as citadas, para poder decidir por caminhos alternativos a sua própria destrutividade, e tentar construir uma nova realidade emocional. Baseado nesse quadro geral da drogadicção, a obra contempla importantes apreciações em vários capítulos, sobre diferentes tipos de droga, incluindo nesse rol o tabaco, o álcool, a maconha, a cocaína, os opióides e outras substâncias no gênero. Dessa forma vai possibilitando ao leitor recursos para poder perceber o efeito específico de cada uma delas, sem conduzi-lo a generalizações, configuradas pela intensa destruição humana que ocasiona as drogas mais severas. Declara que as drogas legais, como o fumo e o álcool, são muito mais letais, direta ou indiretamente, que as identificadas como ilegais. Um quadro indicativo dos efeitos de cada droga é apresentado nesses capítulos específicos, evidenciando no seu conteúdo a “tolerância”, o “risco à saúde”, para configurar uma dimensão mais esclarecedora das conseqüências que envolvem o seu consumo. Ademais, a publicação descreve, em detalhe, os diferentes tipos de tratamento,expressando um posicionamento objetivo de sua aplicação e abrangência. Nesse contexto terapêutico, Angerami – Camon chama a atenção não só da necessária participação dos profissionais relacionados, em especial do psicólogo, como também dos grupos de apoio de leigos e voluntários e a propaganda preventiva, como contrapartida ao uso do fumo, álcool e de outras substâncias químicas consideradas de intensa nocividade. O texto traz em seu bojo a responsabilidade social de divulgar e refletir sobre a drogadicção, contribuindo assim para que seus usuários possam ser vistos por outro prisma, não mais pela percepção de ser um contraventor e sim de uma pessoa humana que está a necessitar de tratamento terapêutico e da compreensão da sociedade. Por isso, sua leitura é recomendável não só aos profissionais da saúde e educadores, mas também aos próprios dependentes que poderão colocar-se numa outra posição que não a de um “adito”, e sim de um ser humano que necessita desvincular-se da droga. Para finalizar, Angerami – Camon traz para conhecimento do leitor uma grande conquista resultante da união de diferentes segmentos sociais que tem empenhado para promover a humanização da drogadicção através do ideal de liberação, configurado na chamada “Justiça Terapêutica”, onde juizes e promotores encaminham os dependentes químicos que seriam enquadrados em níveis de contravenção penal, para tratamentos terapêuticos específicos. Esta obra, de grande significado clinico e social, por certo servirá de base à construção de caminhos seguros e de maior abrangência, rumo à humanização do fenômeno da drogadicção.