ÍNDICE
História da Arte.....................................5 • Fotografia • Impressionismo • Neo-Impressionismo • Pós-Impressionismo • Nabis • Art Nouveau • Simbolismo • Expressionismo • Die Brücke • Fauvismo • Cubismo • Futurismo • Orfismo • Der Blaue Reiter • Vanguarda Russa • Pintura Metafísica • Dada • De Stijl • Art Déco • Bauhaus • Ècole de Paris • Surrealismo
6 7 9 10 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 22 23 24 25 26 27 28
• Expressionismo Abstrato • Pop Art • Arte Cinética e Op Art • Muralismo • Modernismo Brasileiro • Grupo Santa Helena • Concretismo e Neo-Concretismo • Informalismo • Arte Contemporânea • Arte Conceitual • Body Art • Instalação • Hiper-Realismo • Video Arte • Sound Art • Site-Specific • Earth Art • Minimalismo • Performance • Neo-Expressionismo • Arte Contemporânea - Infos Adicionais • Arte Contemporânea Brasileira
Desenho de Criação................................53 Desenho de Observação...........................61
Autores Marília Carvalho • uiu cavalheiro • Tamara Takaoka • Lis Morila Leonardo Matsuhei • Edison Eugênio Verônica Gelesson • Laiz Hiromi • Wagner Linares • Verônica Sayuri Rebeca Alcântara
Diagramação Lucas Fiacadori
29 30 31 33 34 36 37 39 40 41 42 43 44 45 45 46 46 47 47 48 49 50
HISTÓRIA DA ARTE Introdução
Para começar a estudar a tal Arte Moderna exigida nos vestibulares é bom entender em quais circunstâncias e como essa modernidade chegou até nós. Trataremos a seguir do contexto em que se inaugura o rompimento com a tradição na arte e dos fatores que colaboraram com isso. O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelas novas descobertas da ciência, que proporcionaram ao mundo e, mais precisamente às economias capitalistas européias, uma nova onda de progresso e anseio pelo moderno, antes inimaginável. A burguesia industrial se consolida no poder e, de classe revolucionária passa a ser tradição, estabelecendo uma nova cultura romântica feita para enobrecer os bons sentimentos. Uma vez industrializadas, essas economias, essencialmente urbanas, adquiriram autonomia para a consolidação dos estados nacionais, gerando radicais transformações em sua estrutura social e, conseqüentemente, novas necessidades. O período correspondia a uma nova expansão do sistema capitalista representada na disputa por novos mercados consumidores e mão-de-obra barata. Esse processo, o Neocolonialismo, foi caracterizado pela dependência econômica e dominação política das potências capitalistas sobre os povos tidos como atrasados, por não terem atingido as revoluções tecnológicas que configuravam o mundo moderno. Já no plano das ideias e das artes, esse contato, até então inédito, com consciências ainda não contaminadas pelo capitalismo industrial (em geral caso dos povos africanos, asiáticos e latino americanos) significou a descoberta de novas formas de expressão e novos valores, independentes e não domesticadas pela cultura burguesa e pela economia industrial. Os primeiros indícios de ruptura com os temas nobres e clássicos acontecem quando o Realismo introduz em suas obras figuras até então rejeitadas, negando-se a enfeitar e idealizar o mundo como faziam os românticos. Gustave Coubert, por exemplo, foi um dos primeiros a balançar as bases estáveis do
História da Arte
bom gosto burguês ao exibir sua tela A Origem do Mundo, de 1886, que tem da mulher uma acepção de mulher real que não consistia na formosura, graça ou exotismo da mulher ideal do Romantismo. Até aí o mundo já não era mais o mesmo do começo do século. A relação com outras culturas e as exigências determinadas pelas novas tecnologias fazem o novo se impor não como uma novidade, mas como uma necessidade de um mundo que quer ser, a todo custo, moderno. Essa necessidade vai, segundo o crítico de arte Mário Pedrosa, culminar na “(...) proclamação da autonomia do fenômeno artístico, até então forçado a servir e a subordinar-se a imposições de forças, interesses e fins extrínsecos. Ela recusa-se a continuar serva da religião, do Estado, das do rei, dos príncipes, dos nobres e, finalmente dos ricos”. A modernidade instala-se definitivamente e, inerente a ela, o caráter efêmero das novidades, das necessidades, das imagens e tendências, das vanguardas artísticos caracterizadas durante a maior parte do século XX pelos “ismos”. O modernismo foi uma reação radical ao valor associado ao passado em favor da valorização do que era considerado “ultrapassado”, no sentido de voltar-se para o primitivismo outrora desprezado pela alta cultura e tem na Arte Moderna o reflexo da crise trazida pela industrialização.
5
FOTOGRAFIA
Seja para fins históricos ou para fins artísticos, a necessidade de fixação de um momento em um suporte externo sempre foi algo existente. A fotografia é fruto de dez anos de experiências de Joseph Nicéphore Niépce que, em pleno desenvolvimento industrial em 1826, conseguiu reproduzir e fixar a vista descortinada da janela do sótão de sua casa, em Chalons-sur-Saône atravéz da ação direta da luz. Outros experimentos importantes que justificam a revolução que a fotografia causou no final do século XIX foram os de Eadweard Muybridge que fez dezenas de fotografias do movimento dos corpos no espaço-tempo, como por exemplo as fotos seqüenciadas que fez do galopar de um cavalo, desmitificando e questionando o modo como isso era representado em pinturas anteriores, trazendo à tona perguntas como “o que é a realidade e como a representamos fielmente?”. Criou-se então uma barreira na relação entre as novas técnicas industriais e as tradicionais técnicas artísticas. Os pintores, a quem antes cabia retratar a vida que os rodeava, tiveram seu posto substituído pelo fotógrafo, que retratava mecanicamente o mesmo mundo, mas com fidelidade absoluta e muito mais rapidamente. Diante dessas questões, a pintura teve de se reinventar como uma arte não necessariamente retratista. Os impressionistas tentam acompanhar a fotografia no uso da cor, na instantaneidade, etc. Já a corrente simbolista passa a encarar a arte como um bem espiritual e insubstituível, recusando relações, mas reconhecendo que a fotografia supera a pintura quanto á representação do verdadeiro. Mais tarde, com os avanços científicos e dos estudos sobre ótica, contribuíram com o desenvolvimento do Pontilhismo, que partiam do princípio dos pequenos pontos que nunca se fundem e que formam as imagens, mas que reagem uns aos outros em função do olhar à distância.
6
O argumento de que a fotografia reproduz a realidade tal como ela é não foi sustentado por muito tempo, já que esta realidade expressa pela fotografia é direcionada pelo olhar do fotógrafo, assim como o artista direciona sua pintura para o que lhe atrai ou convém. “Só surgirá uma fotografia de alto nível estético quando os fotógrafos, deixando de se envergonharem por serem fotógrafos e não pintores, cessarem de pedir à pintura que tornem a fotografia artística e buscarem fonte do valor estético na estruturalidade intrínseca à sua própria técnica.” (ARGAN, 1992). É, porém, inegável que a fotografia tenha trazido consigo uma revolução no modo de pensar o fazer artístico, influenciando vários movimentos estéticos a partir de então.
Nicéphore Niépce, Vista da Janela em Le Gras, 1826
História da Arte
IMPRESSIONISMO
Onde e quando
França, entre as décadas de 1860 e 1880.
Contextualização
O movimento surgiu na ascensão do sistema capitalista e da industrialização, que traziam uma nova concepção materialista do mundo. Muitas ideias revolucionárias se desenvolvem nesse período, e a ciência conhece um grande avanço com as pesquisas no campo da ótica, física e química, que estabelecem um diálogo com as ideias impressionistas. Foi principalmente a fotografia que instigou os impressionistas a redefinirem sua essência e finalidades e a separar-se radicalmente das tradições. Os trabalhos de outros artistas também influenciaram este movimento, como Manet, que pode ser considerado o precursor do grupo, embora nunca tenha se considerado um impressionista. Camille Corot, Gustave Coubert e os ingleses William Turner e John Constable, por suas paisagens luminosas e pela exploração dos efeitos visuais da luz e do tempo. Também buscaram inspiração nas estampas japonesas, que não seguiam a perspectiva e as normas de composição da academia ocidental. A partir de 1880 inicia-se a chamada “crise impressionista”. Os estilos pessoais começam a se diversificar e fica difícil classificá-los ou enquadrá-los em um só movimento. A busca pelas sensações visuais dão origem ao divisionismo, que as levam às últimas consequências. Degas, apesar de estar sob forte influência do estilo impressionista, não se considerava um realista, nao um impressionista. As bailarinas, seu tema principal, fazem com que ele se volte para cenas de interiores onde já não há a efemeridade da luz do sol, somente o movimento. Suas composições são nitidamente afetadas pela fotografia. Renoir rompe com o impressionismo e volta-se ao estilo clássico de figuração, pintando nus de forma mais seca e menos sensual. Monet tem suas figuras mais sólidas e é considerado o impressionista por excelência.
História da Arte
A escultura também tem nomes importantes que se encaixam dentro do impressionismo, com figuras menos bem-acabadas com um movimento mais orgânico e natural. Degas e Renoir foram os únicos pintores que também esculpiram, e temos ainda Rodin e Rosso que foram exclusivamente escultores e podem ser encaixados dentro do impressionismo. O movimento impressionista deu origem a movimentos como o Pós-Impressionismo, o Neo-Impressionismo, entre outros que se valeram da quebra de paradigmas que o Impressionismo causou pra explorar novos meios e técnicas.
Ideologia
Busca registrar as sensações visuais imediatas, libertando-as das experiências anteriores que pudessem interferi em seu caráter imediatista. Acreditam e buscam registrar o aspecto efêmero da vida sem se interessarem por temáticas tidas como nobres e desconsiderando as convenções e regras da academia.
Características
“Impressionismo é o termo usado para designar uma corrente pictórica que tem origem na França, entre as décadas de 1860 e 1880, e constitui um momento inaugural da arte moderna.” (itaucultural.org.br). A primeira exposição realizada aconteceu no estúdio do fotógrafo Felix Nadar, em 1874, e contava com artistas como Renoir, Degas, Pissarro, Sislet, Cezzáne e Monet, sendo esse último o realizador da pintura “impressão, sol nascente” que deu inspiração ao nome do movimento. As pinceladas se tornam rápidas e vigorosas, e as misturas cromáticas se fazem na tela a partir das justaposições de cores, dando um ar de fragmentação ao quadro. O abandono de contornos e claro-escuros, a preferência por temáticas da natureza, a rejeição pelo “realismo” que predominava a pintura por séculos e a busca por sensações visuais através da captação da luz definem boa parte desse movimento pouco homogêneo em sua totalidade. (cont.)
7
IMPRESSIONISMO (cont.)
O movimento repercutiu o advento a fotografia causara com a imagem e com a função do pintor: este já não era mais o responsável pela captação da imagem em seus mínimos detalhes, com extrema perfeição. A partir dai então se começou a buscar outras coisas. Com o advento da tinta em tubos, os pintores começaram a sair de seus ateliês e buscar as paisagens externas buscando captar a impressão cromática que a luz causava aos olhos, e como isso poderia ser representado em uma tela de forma rápida e sincera, o que, por sua vez, iniciou um movimento de questionamento do que é, enfim, a realidade.
Principais nomes
Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Camile Pissaro, Auguste Rodin, Edouard Manet, Paul Cézanne.
Claude Monet, A Canoa Sobre O Epté,1890.
Edouard Manet, Almoço Na Relva, 1863
Auguste Rodin, O Pensador, 1879-89
8
História da Arte
NEO-IMPRESSIONISMO
Pontilhismo, Divisionismo, Cromoluminarismo
Onde e como começou França, em 1880.
Contextualização
O fim do século XIX é marcado pela industrialização crescente e desenvolvimento científico. A corrente filosófica positivista ganhava popularidade, sustentando a ideia de progresso e da ciência baseada apenas no mundo material. Sofre influência das novas descobertas científicas, principalmente no campo da ótica. Nas artes, dos pintores franceses Jean-Antoine Watteau e Eugène Delacroix. Opunha-se à visão mais romântica e espontânea do Impressionismo, sendo ao mesmo tempo um desenvolvimento e uma crítica a esse movimento, tendo a intenção de superá-lo, no sentido de dar um fundamento científico ao processo visual e operacional da pintura. Também ia de encontro ao espiritualismo característico dos simbolistas. Exerce influência sobre Van Gogh e Gauguin, além de abrirem caminho para a pesquisa ótica nas artes e, nesse sentido, para a Op Art e a Arte Cinética. A obra de Signac é retomada pelo Fauvismo e pelo Raionismo.
Características Trata-se de dividir as cores em seus componentes fundamentais. As inúmeras pinceladas regulares de cores puras que cobrem a tela são recompostas pelo olhar do observador e, com isso, recupera-se sua unidade, longe das misturas feitas na paleta. A sensação de vibração e luminosidade decorre da “mistura ótica” obtida pelos pequenos pontos de cor de tamanho uniforme que nunca se fundem, mas que reagem uns aos outros em função do olhar à distância Quanto à temática, é comum a vida urbana, o lazer e paisagens marítimas.
Paul Signac, Retrato de Félix Feneon, 1890
Georges-Pierre Seurat, Banhistas Em Asnières, 1884
Principais nomes
Georges Seurat e Paul Signac. Brasil: Eliseu Visconti, Belmiro de Almeida.
História da Arte
9
PÓS-IMPRESSIONISMO
NABIS
Onde e quando
Onde e quando
Principais nomes
Principais nomes
Início por volta de 1885 até aproximadamente 1905 Paris, 1888. (emergência dos fauves e cubistas). Contextualização Contextualização Surge como uma corrente pós-impressionista O pós-impressionismo não é considerado uma van- fortemente influenciada pelo trabalho de Paul guarda com manifesto ou movimento artístico com Gauguin,buscando de novas formas de representação. período, estilo e ideologia definidos. O termo pós- O termo Nabis vem da palavra hebraica referente a impressionismo, criado pelo teórico Roger Fry, é usa- “profetas”, referência à atitude séria e ao mesmo temdo para designar uma arte que se desenvolve à partir po burlesca dos membros do grupo. Começando em do impressionismo ou reage a ele. Consideravam a 1888 em Paris, inspirados por Paul Gauguin, os “profeideia de análise da realidade dos impressionistas res- tas” buscavam fazer uma síntese de tudo o que acontritiva, superficial e ilusionista. teceu no campo das artes plásticas na época.Além Cada artista pós-impressionista tinha um estilo e de Gauguin, foram influenciados por Odilon Redon, pesquisas próprias. Essas pesquisas possibilitaram Seurat, Cézanne e pinturas japonesas. Fizeram tamaos artistas posteriores uma infinidade de novas prá- bém cartazes, cenografias e ilustrações para livros, ticas fazendo com que surgissem novas linhagens influenciando a produção de Toulouse-Lautrec. na arte, começando assim a era das vanguardas. O grupo teve curta duração, mas deixou à Art NoPara trazer renovação na arte ocidental, os artistas veau seu legado de exploração de linhas sinuosas e pós-impressionistas buscavam inspiração em culturas de planos de cor delimitados por contornos. Abriu diferentes das que estavam inseridos. Podemos desta- caminho à arte não-figurativa. car a relação de Toulouse-Lautrec com a arte japonesa e de Gauguin com a cultura das ilhas do pacífico. Ideologia Paul Cézanne, um dos mais importantes artistas “Uma pintura, antes de ser um corcel, um nu ou alpós-impressionstas, influenciou vanguardas mar- guma historieta, é essencialmente uma superfície cocantes da história da arte, como o Fauvismo e o berta de cores que foram dispostas em certa ordem”, Cubismo, por causa de seu método de estruturação afirmava Maurice Denis, teórico do grupo, referindogeométrica das formas naturais e apreciação direta se à inovação formal do grupo. dos efeitos de luz e cor. Ele é considerado o progeCaracterísticas nitor do abstracionismo. Usando a cor de forma emocional e decorativa, Vincent van Gogh, outro importante pós-impressionista, influenciou mais tarde os expressionistas e fau- usavam grandes áreas de cores chapadas, criando vistas com suas pinceladas largas de cores fortes e uma pintura figurativa forte e viva. Sua inovação, expressivas, sem tentar imitar as cores da natureza. porém se revelava somente no que diz respeito à Toulouse-Lautrec precedeu a publicidade e as artes forma, uma vez que sua temática ainda continuava gráficas, além de estilos como a Art Noveau e simpli- sendo a mesma temática de movimentos anteriores ficação do desenho com o uso das cores puras e pla- como retratos, interiores, cenas da vida parisiense nas de Gauguin exerce influência sobre os fauvistas. e, no caso de Denis, cenas religiosas. Paul Cézanne, Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Paul Sérusier, Maurice Denis, Pierre Bonnard, JeanÉdouard Vuillard. Henry de Toulouse-Lautrec.
10
História da Arte
ART NOUVEAU
Jugendstil, Arte Nova, Modern Style, Liberty, Stilo Floreale
Onde e quando
Ideologia
Se desenvolve entre 1890 e a Primeira Guerra Mun- O foco era atenuar as fronteiras entre belas-artes e artesanato pela valorização dos ofícios e trabalhos dial, na Europa e nos Estados Unidos. manuais e pela recuperação do ideal de produção coletiva. Contextualização Estabeleceu-se num período onde se iniciava a Se- Principais nomes gunda Revolução Industrial, o que possibilitava a Antonio Gaudí, Gustav Klimt, Alfons Mucha, Henri produção de novos artefatos, como móveis que até de Toulouse-Lautrec, Victor Horta, Emile Gallé; Auentão não eram produzidos em maior escala e car- gust Endell, Louis Comfort Tiffany, Jan Toorop, Hectazes, que com a invenção da litogravura colorida, tor Guimard, Henry van de Velde, Joseph Olbric, passaram uma linguagem mais explorada. Josef Hoffmann, Ferdinand Hodler. Rompeu com a arte acadêmica e naturalismo, pois buscava a essência da natureza e não sua superfície. Foi influenciado pelos impressionistas no que diz respeito a seu apreço por temas naturais e a busca pelo orgânico. Porém, o Impressionismo buscava impressões efêmeras e sensações luminosas, a Art Nouveau baseava-se nas formas e curvas. Apesar de grandes nomes da Art Nouveau serem conhecidos por suas pinturas, exerceu – e exerce até hoje – grande influência na produção de objetos de decoração e está ligada à origem ao design. Na arquitetura os artistas passaram a pensar em todas as partes, dando valor aos menores detalhes de um edifício.
Características
Valorização das artes aplicadas: arquitetura, artes decorativas, design, artes gráficas, mobiliário, joalheria e outras, colocando a “arte nova” ao alcance de todos, pela articulação estreita entre arte e indústria, como no movimento social e estético inglês Arts and Crafts, liderado por William Morris (1834 - 1896), e que está nas origens do Art Nouveau. A fonte de inspiração primeira dos artistas é a natureza, as linhas sinuosas e assimétricas das flores e animais. Arabescos e as curvas, complementados pelos tons frios.
História da Arte
Alfons Mucha, A Fruta, 1897
11
SIMBOLISMO Decadentismo
Onde e quando
Principais Nomes
França, fim do século XIX. Torna-se movimento Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, consciente em 1886, com o Manifesto Simbolista Paul Sérusier, Paul Gauguin, Edvard Munch. do poeta Jean Moréas. Vários desses artistas depois aderiram a outros movimentos; Edvard Munch depois torna-se um dos Contextualização expoentes do Expressionismo. O Simbolismo tem influência de peças, pinturas e linhas de pensamento orientais. Coloca-se contra a arte acadêmica e o realismo, inclusive a ideia de naturalismo associada ao impressionismo. Nessa época a Europa recebia as influências orientais e o pensamento realista/parnasiano/lógico entrava em decadência. Caminhou lado a lado com o Realismo e o Pré-Modernismo. No Brasil teve seu fim apenas com a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi o primeiro movimento a explorar o mundo inconsciente, fundamental para correntes posteriores ligadas ao Expressionismo. O estudo de Gauguin de formas “primitivas” originou o Sintetismo e os Nabis.
Ideologia
Aprofundar-se no “eu” interior, no inconsciente e na sua representação. Tenta mostrar o que se passa dentro do artista e suas reais intenções. Representa os elementos e personagens através de ideias subjetivas, sem tornar óbvia a interpretação através apenas da aparência externa.
Características
Temas místicos e alegóricos, sonhos, visões, o oculto, o erótico e o perverso, morte e doença, com objetivo de criar um impacto psicológico. Propõe a expressão de ideias através de formas, símbolos sintéticos metodicamente compreensíveis. Alcança todos os campos da arte, principalmente a literatura e a pintura, os Simbolistas foram os primeiros a declarar que o mundo interior do artista seria um tema mais apropriado à arte que a aparência externa das coisas. Utilizam símbolos para evocar emoções e criar imagens do imagens do irracional.
12
Paul Sérusier, Solidão, 1891
História da Arte
EXPRESSIONISMO
Onde e quando
Principais Nomes
Frequentemente o termo Expressionismo é designa- Os pioneiros: James Ensor, Emil Nolde e Edvard do somente à arte alemã do início do século XX. É Munch. Outros nomes importantes são os austríapertinente, porém, classifica-lo como um fenôme- cos Egon Schiele e Oskar Kokoschka. no que teve diversas faces em toda a Europa (Alemanha, França, Bélgica, Áustria, Holanda, etc.) até a década de 1920.
Contextualização
Com ênfase na emoção subjetiva e na defesa de uma poética sensível à expressão do irracional, dos impulsos e paixões individuais, encontram suas raízes no pós-impressionismo de Van Gogh e Paul Gauguin, no Simbolismo, na Art Noveau e especialmente em Gustav Klimt. Na Alemanha a principal precursora do expressionismo foi Paula Modersohn-Becker, que fazia uso simbólico das cores e dos padrões. O Expressionismo se opõe ao caráter essencialmente visual desenvolvido pelos impressionistas, adotando uma atitude subjetiva e muitas vezes até agressiva com relação à realidade. Enquanto o Impressionismo se empenhava em captar a luz e o movimento, o Expressionismo acontece de dentro para fora, trazendo à tona as emoções, angústias e pontos de vista do artista. A eliminação do papel descritivo da arte, a exaltação da imaginação do artista e a ampliação dos poderes expressivos da cor, linha e forma influenciaram muitas manifestações artísticas que vieram em seguida e até a contemporaneidade.
Edvard Munch, O Grito, 1893
Ideologia
Representar uma visão subjetiva, através do uso da cor e da linha. Ao invés de registrar uma impressão do mundo exterior, o artista deve o efeito de seu próprio temperamento sobre sua visão de mundo.
Características Uso de cores simbólicas, imagística exagerada e intensa. Uma característica das manifestações alemãs do Expressionismo é que em geral apresentam uma visão sombria da humanidade. História da Arte
Egon Schiele, Mulher Deitada Com Meias Verdes, 1917
13
DIE BRÜCKE “A Ponte”
Onde e quando
Corrente alemã do Expressionismo, começou em Dresden, em 1905 e se dissolveu em 1913.
Contextualização
O grupo de artistas se organizava em uma oficina na qual pintavam, esculpiam em madeira e faziam xilogravuras, colaborando entre si em vários projetos. Tinham interesse em artes gráficas e essa foi uma de suas influências, assim como as xilogravuras góticas alemãs e as esculturas em madeira da África e da Oceania. Os artistas da Ponte tinham conhecimento dos movimentos contemporâneos na França e entusiasmo pelos Fauves. Seus ideais e sua visão do papel da arte no mundo vieram a dar base a Bauhaus, após a queda do expressionismo. No Brasil nota-se influência expressionista na primeira fase da produção de Anita Malfatti e nas obras de Lasar Segall, Oswaldo Goeldi, Flávio de Carvalho e Iberê Camargo. E no México no socialismo realista de Diego Rivera e Orozco.
transfere a beleza do plano do ideal para o plano real. Die Brücke significa “A Ponte”. O nome foi escolhido para representar a ligação que desejavam fazer com a arte do futuro.
Principais Nomes
A princípio o grupo foi formado por quatro estudantes de arquitetura, Fritz Bleyl, Erich Heckel, Ernst Ludwig Kirchner e Karl Schmidt-Rottluff. Mais tarde foram se juntando outros artista, sendo o mais reconhecido Emil Nolde, que sendo mais velho do que eles foi convidado pelo grupo e aceitou, permanecendo por alguns meses, entre 1906 e 1907.
Ideologia
Acreditavam que por meio da pintura poderiam criam um mundo melhor para todos, viam a arte como um dever social, um trabalho criativo em oposição ao trabalho industrial alienante que deforma a sociedade. Valorizavam a cultura das classes trabalhadoras em detrimento da cultura erudita.
Características
Sobretudo as xilogravuras, apresentam uma visão intensa, muitas vezes angustiante, do mundo contemporâneo. Utilizavam linhas rígidas e angulosas e cores violentas sem preocupação com a verossimilhança, mas com os significados (mais preocupados com o significado delas do que com a verossimilhança). A distorção e deformação das formas reafirmam a postura pessimista do movimento com relação à vida, constituindo a primeira “poética do feio”, que
14
Emil Nolde, O Profeta, 1912
História da Arte
FAUVISMO fovismo
além da influência tiveram nos demais expressionistas, desde seus contemporâneos alemães até o As características fauvistas começaram a aparecer expressionismo abstrato e o neo-expressionismo. na França no final do século XIX, mas só passaram Pode-se dizer também que esse foi o primeiro moa ter força publicamente, como uma nova vanguarvimento a trazer o gosto pelas cores puras presente da, em 1905 quando recebem essa denominação. até hoje na cultura contemporânea. Fauvismo ou Fovismo, nome atribuído pelo crítico Louis Vauxcelles, “Les Fauves” significa “as feras” e Ideologia era uma comparação pejorativa dos artistas a ani- Os fauves compartilhavam a atitude simbolista de mais selvagens. que a arte deveria evocar sensações emocionais por
Onde e quando
meio da forma e da cor, mas tinham uma abordagem mais positiva da vida. Contextualização O fauvismo foi a primeira vanguarda do século XX O próprio fato de não serem um movimento organizaa se colocar no centro do mundo da arte, mas os do se dá pois não tem pretensões intelectuais, a idéia fauves jamais foram um grupo organizado, eram era criar uma arte que não possuísse relação com o inapenas artistas, amigos e estudiosos que comparti- telecto, mas com o impulso do instinto e das sensações. lhavam ideias quanto a arte. Muitos dos fauves haviam estudado com o simbo- Características lista Gustave Moreau, cujas atitudes abertas, origi- O uso da cor e da luz para expressar emoções pode nalidade e crença no poder expressivo da cor pura ser considerado uma nova técnica que surge com o fauvismo, pelo menos no que tange a tradição franseriam fonte de inspiração. Também sofriam influência dos pós-impressionistas, cesa. Seus temas são leves, buscam emoções na que já se preocupavam com a cor nesse sentido da alegria de viver, sem intenção crítica. Buscavam a bidimensionalidade, principalmente na simplificação máxima expressão pictórica através da exploração das formas e cores puras utilizadas por Gauguin. Ao da expressividade das cores, para tanto , utilizam mesmo tempo em que descobriam a mais recente ge- cores puras, intensas e não verossímeis, tentando ração da vanguarda, os fauves se voltavam para a arte produzir emoções mais do que reproduzir as cores francesa pré-renascentista (a partir de uma exposição naturais. Cada espaço delimitado é preenchido por ocorrida em 1904 chamada “Primitivos Franceses”), uma cor lisa, sem gradações ilusionistas de sombra para a arte islâmica (também exposta em Paris na ou profundidade. Os fauvistas compartilham também o sentido de libertação e de experimento. época), e escultura africana. Eles dão uma guinada no interesse pela cor iniciado pelos impressionistas, deixando de lado o interesse pela Principais Nomes sensação visual explicável pela ótica e voltando-se Henry Matisse tornou-se conhecido na época como para questões da expressão de sensações e emoções. “o rei das feras”, e permaneceu fauve após a dissoluPor volta de 1906 os fauves passaram a ser vistos ção do movimento, e tornou-se um dos artistas mais como os pintores mais avançados de Paris, mas logo adorados e influentes do século XX. Além dele os depois cada artista seguiu seu caminho, e a aten- principais fauves foram Maurice Vlaminck e André ção do mundo da arte se voltou para os cubistas. Derain, pode-se ainda incluir Albert Marquet, Charles Entretanto, o próprio cubismo sofreu influência do Camoin, Henri-Charles Manguin, Othon Friez, Jean Fauvismo no sentido de entender o quadro como Puy, Louis Valtat, Georges Rouault e Raoul Dufy. uma estrutura autônoma, uma realidade própria,
História da Arte
15
CUBISMO
Onde e quando
França, em 1907 com o quadro Les Demoiselles d’Avignon de Picasso. Dissolve-se com o começo da Primeira Guerra mundial, em 1914.
Contextualização
O Cubismo surge no período que antecede a Primeira Guerra Mundial, período em que a cultura européia encontrava-se em crise e buscava em outras fontes novos valores, diferentes daqueles incorporados pela burguesia e pela economia industrial. É nesse contexto que o contato com culturas tidas como primitivas se torna de fundamental importância, como é o caso dos cubistas com a arte africana. Também são fortemente influenciados por Cézanne, através de sua construção de espaços por meio de volumes, simplificando-os em “cubos, cilindros e cones”, e da decomposição de planos. Foi um dos movimentos mais influentes do séc. XX, marcando outras vanguardas e tendências, como o Dadaísmo, no que diz respeito à inserção de objetos à obras, o Futurismo, o Orfismo, a abstração, a arquitetura de Le Corbusier entre e muitos outros.
Ideologia A representação da profundidade sobre uma superfície plana sempre foi um entrave paradoxal dentro da pintura. Ao tentar planificar todas as faces de um objeto, o Cubismo busca uma nova forma de explorar esse paradoxo sem, entretanto, encobri-lo. Os cubistas não se propunham a abolir a representação, o que pretendiam era reformá-la, recusando a idéia de arte como imitação da natureza. Pensavam em construir e não em copiar algo. Essa maneira de se representar implicava porém no emprego de formas razoavelmente conhecidas para que fosse possível a compreensão da relação entre as partes e, conseqüentemente, na preservação de referências ao mundo objetivo. Este foi o alvo das críticas mais intensas que este movimento recebeu, principalmente por parte dos abstracionistas. 16
Características
Baseando-se em formas geométricas e linhas retas, os quadros cubistas buscavam reconstruir formas através da representação simultânea de diversas faces de um mesmo objeto sobre o mesmo plano, afastando-se da perspectiva e da luz e sombra. O Cubismo divide-se em duas fases: Cubismo Analítico, que consistia na desconstrução quase completa do objeto, se aproximando da abstração, e com predominância de uma cor; e Cubismo Sintético, que tentou tornar os objetos reconhecíveis novamente. Nesta fase, Picasso e Braque inovam com as colagens, incorporando papel e outros fragmentos de materiais relacionados com a vida cotidiana, (recortes de jornais, pedaços madeira, cartas de baralho, caracteres tipográficos, etc) às suas pinturas.
Principais nomes
Pablo Picasso, Georges Braque, Juan Gris, Fernand Léger, Robert Delaunay, Sonia Delaunay. No Brasil, influências cubistas podem ser observadas nas obras de Antônio Gomide, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral e Candido Portinari.
Pablo Picasso, O Beijo, 1969
História da Arte
FUTURISMO
Onde e quando Paris, 1909.
Contextualização
O Manifesto Futurista foi publicado pelo poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti em francês no jornal Le Fígaro, de Paris, em 1909. Foi um movimento essencialmente italiano mas de importância mundial, cujo ímpeto chegou ao fim nos meados da Primeira Guerra Mundial.
Ideologia
As ideias futuristas serviram de inspiração, em menor ou maior escala, a grupos como o Raionismo, Dadá e Der Blaue Reiter. No Brasil, os modernistas da Semana de 22 receberam a alcunha de futuristas paulistas, devido a seu caráter renovador. O espírito do movimento refletiu também na tipografia moderna, no design gráfico, e na maneira veloz de comunicar a ideia de velocidade na publicidade, histórias em quadrinhos etc. O Futurismo teve seu irônico fim com a morte de Sant’Elia no campo de batalha e de Boccioni por cair de um cavalo. A prisão de Marinetti acelerou mais ainda o processo de encerramento.
O futurismo queria romper com tudo o que se relacionava ao passado e pretendiam se tornar a expressão Principais nomes mais moderna da arte em seu tempo, refletindo em Filippo Marinetti, Umberto Boccioni, Carlo Carrà, suas obras o ritmo e espírito da sociedade industrial. Luigi Russolo, Antonio Sant’Elia, Giacomo Balla.
Características Grande parte do que foi o futurismo se deve a ideias de outros movimentos como a necessidade de captar o movimentos e a efemeridade da luz dos impressionistas, os recortes, planificações e geometrizações cubistas e os estudos fotográficos de locomoção humana e animal realizados pelo americano Eadweard Muybridge. Para expressar a interação entre objetos e espaço, faziam uso de elementos geométricos, repetição e fragmentação das figuras, compondo o que Umberto Boccioni chamou de “abstração dinâmica”. O movimento futurista foi basicamente um movimento de manifestos, por isso está intimamente ligado à política, sendo que muitos dos artistas do grupo, entre eles o próprio Marinetti, se identificavam com o fascismo por glorificarem a guerra como sendo “a única verdadeira higiene do mundo”. Anticlerical e antissocialista, exaltava a vida moderna e industrial, cultuando a velocidade através de meios literários e artísticos. História da Arte
Giacomo Balla, Dinamismo De Um Cachorro Na Coleira, 1912
17
ORFISMO cubismo órfico
Onde e quando
Surgido em Paris por volta de 1911.
Contextualização
O grupo parte do cubismo e dirige-se cada vez mais à abstração, rompendo com seu movimento de origem na busca de recuperar o lirismo e a espiritualidade na pintura. Ao contrário da atitude intelectual e racional dos cubistas, não seguem lógica aparente. Por identificações ideológicas no que tange às propriedades musicais e poder espiritual, os pintores órficos se tornam aliados naturais dos expressionistas alemães e os influenciam, principalmente os integrantes da Der Blaue Reiter. Orfismo foi um termo criado, com referência a Orfeu, o lendário tocador de lira da mitologia grega, pelo poeta e crítico Guillaume Apollinaire em 1912 para descrever o que considerava um movimento interior ao cubismo.
Sonia Delaunay, Composição Com Discos, 1938
Ideologia
Acreditavam nas propriedades musicais e espirituais de seus trabalhos. A referência a Orfeu remete ao arquétipo do poder irracional na arte.
Características As obras do Orfismo diferem do cubismo pela tendência à maior fragmentação por meio da cor, que lhes atribui um lado emocional. Além disso utiliza formas abstratas e estruturas circulares que trazem o movimento e o dinamismo do mundo moderno. Isso os tornou pioneiros na abstração da cor. Delaunay tentava atingir o que chama de “consciência moderna”, trabalhando sem fazer esboços e improvisando diretamente na tela. Principais Nomes
Robert Delaunay e sua esposa Sonia Delaunay. Também Fernand Léger, Francis Picabia, Marcel Duchamp e Frank Kupka, pioneiro da arte abstrata junto com Kandinsky.
18
Robert Delaunay, Ritmo, Alegria De Viver, 1930
História da Arte
DER BLAUE REITER
“O Cavaleiro Azul”
Onde e quando
fruição de uma obra de arte como mera contemplaGrupo de artistas que se reuniu em Munique, ao re- ção, mas sim como estímulo que se dispõe a desperdor do russo Wassily Kandinsky entre 1911 e 1914. tar reações e sugestões distintas em cada indivíduo.
Contextualização
O grupo teve inspiração nos expressionistas, mas sua principal influência se deve ao interesse pelo misticismo e pela arte primitiva, arte popular, arte infantil e arte dos deficientes mentais. Contrapõe-se ao cubismo, pois entendem que esse proponha apenas a reformulação da representação e não a abolição da mesma, enfocando teorias racionalistas e, de certa forma, realistas, que precisavam ser desligadas da arte. O período em que surgem antecede a Primeira Guerra Mundial. As disputas entre nações imperialistas já abalavam a paz e o equilíbrio europeu, e a eclosão da Guerra levou a dissolução do grupo. Entretanto, para além desse período, os desdobramentos de suas atividades tiveram grande alcance, eventualmente conduzindo à arte da fantasia do Surrealismo, Dada e Expressionismo Abstrato. Também influenciaram a escola Bauhaus, na qual Kandinsky e Klee lecionaram mais tarde. A principal herança desse movimento foi a inauguração da arte não figurativa.
Características
Jamais foi objetivo dos artistas de O Cavaleiro Azul criar um estilo homogêneo. Suas orientações são fundamentalmente espirituais, que para Kandinsky significava tudo o que não é racional e impulsiona a criação das formas ao sabor das emoções, explorando a dimensão lírica da cor e da forma, fazendo da arte a expressão de uma necessidade interna.
Principais Nomes
Wassily Kandinsky, Franz Marc, August Macke, Alfred Kubin e Paul Klee.
Ideologia
O misticismo de Kandinsky era espiritual e analítico. Ele postulou que a arte deveria ser sacramental e defendia a liberdade do artista de escolher seu modo de expressão, fosse ele abstrato, realista ou qualquer combinação intermediária. Mas o grupo não se preocupava em ter uma formação homogênea, cabia também, por exemplo, a filosofia panteísta de Franz Marc que combinava a crença religiosa com um profundo sentimento em relação aos animais e à natureza. Em suma, acreditavam na eficácia simbólica e psicológica das formas e das cores, não entendiam a
História da Arte
Paul Klee, On a Motif from Hamamet, 1914
19
VANGUARDA RUSSA Suprematismo e Construtivismo
Contextualização
A Rússia foi um dos países que ingressou tardiamente no processo de industrialização e, para isso, contou com incentivo de capital estrangeiro, principalmente das potências capitalistas européias. Essa nova relação levou a uma ocidentalização gradativa de diversos países, que pode ser observada através dos movimentos artísticos russos desenvolvidos no início do século XX, que herdaram principalmente a desconstrução do espaço e do objeto cubista e, do futurismo, a temática da cidade, do movimento e da velocidade. Ao mesmo tempo em que sofriam influência das vanguardas européias, essas novas vanguardas russas, trataram de romper com a arte figurativa e, conseqüentemente, com a representação formal das imagens e com qualquer referência ao mundo objetivo, que ainda podia ser observado no Cubismo. A Vanguarda Russa exerce influência na formação do método didático da Bauhaus e também em dois dos principais movimentos da arte moderna brasileira: o Concretismo e o Neoconcretismo, que surgem a partir da década de 50. Seu maior legado, entretanto é a abstração, que refletia, no campo das artes, a revolução social e política que a Rússia enfrentava naquele período e também sugeria o triunfo oriental sobre o racionalismo ocidental, uma vez que ali surgia a tendência que predominaria durante o século XX. Na década de 30, com o Stalinismo, a arte de vanguarda russa foi suprimida pelo Realismo Soviético e reduzida a um instrumento de propaganda política e divulgação cultural.
SUPREMATISMO Onde e quando Surge na Rússia por volta de 1913, mas sua sistematização teórica, só acontece em 1935, com o manifesto “Do Cubismo ao Futurismo ao Suprematismo: o novo realismo na pintura”, escrito por Kasimir Malevich em colaboração com o poeta Vladímir Maiakóvski. Ideologia
Defende uma arte sem finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica, negando tanto a utilidade social da arte como a sua pura esteticidade. Malevich propõe um mundo destituído de objetos, reduzindo o sujeito e o objeto a uma única forma, ao “grau zero”. Esse mundo “sem objetos” seria uma concepção proletária, já que implica a não propriedade das coisas e noções.
Características Abstração geométrica. Estuda a estrutura funcional da imagem, buscando o significado primário dos símbolos e signos expressivos. Para Malevich, as formas geométricas representavam a supremacia de um mundo maior que o mundo das aparências, sendo a linha reta a forma elementar suprema que simboliza a ascendência do homem sobre as nãolinearidades da natureza. A “Supremacia do puro sentimento”: refere-se à supremacia da sensibilidade e dos sentidos sobre todas as outras considerações artísticas. O Suprematismo caracteriza-se formalmente pelo uso de formas geométricas e cores puras. Ao longo do tempo, as formas foram se tornando mais complexas à medida que também se ampliava a gama de cores, criando ilusões de espaço e movimento. Principais nomes
Liubov Popova, Olga Rozanova, Nadezhda Udaltsova, Ivan Puni, Kazimir Malevich. (cont.)
20
História da Arte
VANGUARDA RUSSA Suprematismo e Construtivismo (cont.)
CONSTRUTIVISMO Onde e quando
Por volta de 1914, Vladimir Tatlin fez sua primeira construção, dando abertura para o movimento Construtivista, que viria a ser o estilo mais disseminado da Rússia. Durou até 1934. Também foi conhecido como Produtivismo.
Ideologia
Principais nomes
Vladimir Tátlin, o casal Alexander Rodchenko e Varvara Stepanova e os irmãos Naum Gabo e Anton Pevsner. Os dois últimos romperam com o movimento em 1920, com seu “Manifesto Realista”, passando a estabelecer um diálogo entre a arte e a ciência e usando materiais indústrias. Os meados dos anos 20 foram o auge do movimento, em que artistas como Olga Rozanova, Gustav Klutsis, Georgii Yakulov e El Lissitzky se esforçaram para aplicar a linguagem da arte abstrata ao objeto prático.
O Construtivismo pensa o artista como um engenheiro que constrói uma realidade ao invés de representá-la, da mesma forma que vê a pintura e escultura como construções e não como representações. “A arte deve estar a serviço da revolução, fabricar coisas para a vida do povo como antes fabricava para o luxo dos ricos”. Os artistas construtivistas, em sua maioria, possuíam ideologias marxistas e consideravam-se produtores de imagens assim como os operários são produtores de outros objetos diversos. Buscavam dessa forma abolir a idéia de que o trabalho artístico é superior às demais formas de trabalho, alheio ao cotidiano e à vida das pessoas. Idealizavam a socialização da arte e não uma arte política. Foram essas discussões a cerca da função social da arte que levaram a uma cisão do grupo.
Características
Não podia ser representativa e deveria possuir um valor funcional e informativo, mostrando ao povo, visualmente, a revolução em andamento e mantendo um diálogo com os meios gráficos e fotográficos de comunicação. Genericamente, usavam elementos geométricos, cores primárias, fotomontagens e tipografias em suas obras.
História da Arte
Vladimir Tátlin, Monumento À Terceira Internacional, 1919
21
PINTURA METAFÍSICA
Onde e quando
Ferrara, na Itália, por volta de 1913, mas foi entre 1917 e 1920 que se consolidou.
Contextualização
Simultânea à Primeira Guerra Mundial. Os filósofos Nietzche, Schopenhauer e Weininger inspiraram as invenções metafísicas de De Chirico. Outras influências foram a cultura clássica de Nicolas Poussin e Calude Lorrain e do romântico Caspar David Friedrich. A Pintura Metafísica teve forte impacto no Dadaísmo e no Surrealismo, por seu foco no universo onírico da arte e pela aproximação de objetos díspares. Recusa porém a temática e o nacionalismo futurista.
Características
Volta-se para uma “outra realidade” atemporal. Os elementos arquitetônicos mobilizados nas composições (colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas) constroem, paradoxalmente, espaços vazios e misteriosos. Figuras humanas, quando presentes, carregam consigo forte sentimento de solidão e silêncio. São meio-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou de muito longe. Quase não é possível ver rostos, apenas silhuetas e sombras projetadas pelos corpos e construções. A incorporação de elementos presentes nas naturezas-mortas (luvas, bolas, frutas, biscoitos) reforçam a idéia de deslocamento e a sensação de irrealidade que rondam os trabalhos.
Ideologia
Os pintores metafísicos acreditavam na arte como profecia e o artista como poeta, capaz de remover a máscara para revelar a “verdade real” escondida nas aparências. Para tanto, recorriam à arte transcendental.
Giorgio De Chirico, A Grande Torre, 1913
Principais nomes Giorgio de Chirico. Carlo Carrà, Giorgio Morandi, Alberto Savinio, Filippo de Pisis, Mario Sironi. 22
História da Arte
DADA dadaísmo
Onde e quando
Zurique, 1916, terminando por volta de 1921.
Contextualização
O Dadá foi um movimento multidisciplinar (visuais, teatro, poesia, etc) nascido simultaneamente em várias metrópoles do mundo, principalmente Zurique, Nova York, Paris, Berlim, Hanover e Colônia. O movimento se inicia como uma reação à Primeira Guerra Mundial por jovens artistas indignados perante a falência e hipocrisia de valores estabelecidos pela sociedade. Os dadaístas eram contra as instituições políticas, sociais e artísticas; essencialmente anarquistas. Eram iconoclastas, desprezavam a história e os grandes heróis da arte, quebraram inúmeras tradições e abriram caminhos para uma nova concepção de arte. Anteciparam questões e práticas básicas do pós-modernismo, como por exemplo a Body Art, a instalação, a performance, a arte feminista, o happening e a relação da arte e vida. Uma das invenções dadaístas mais importantes foram os ready-mades, criados por Marcel Duchamp. Produzir o ready-made consiste no ato de deslocar objetos de um contexto familiar e apresentá-los como arte. Duchamp fez ready-mades com urinol, secador de garrafas, rodas de bicicleta, entre outros objetos. Embora o posicionamento desse movimento não fosse somente com relação à arte, o marco que foi criado após a aparição de um urinol numa exposição traz questionamento sobre o que é a arte e quais são seus rumos até os dias de hoje.
Marcel Duchamp, A Fonte, 1917
Ideologia
Para as convenções da época, esses artistas beiravam a loucura. Usavam o primitivo e o irracional para questionar toda a razão e lógica até então formada.
Principais nomes
Marcel Duchamp, Jean (Hans) Arp, Kurt Schwitters, Tristan Tzara, Hugo Ball, Man Ray, Francis Picabia, Raoul Hausmann, George Grosz.
História da Arte
Man Ray, Le Violin D’ingres, 1924
23
DE STIJL
Neoplasticismo
Onde e quando
Países Baixos, de 1917 a 1928.
Contextualização
De Stijl, também chamado de Neoplasticismo, foi um movimento artístico surgido na Holanda que envolveu artes plásticas, arquitetura, e design. É também o nome de uma revista onde eram publicadas as ideias, manifestos, e pesquisas do grupo encabeçado por Piet Mondrian, Theo van Doesburg e Gerrit Rietveld. O grupo tinha como objetivo criar uma nova arte internacional em um espírito de paz e harmonia e um vocabulário visual para objetivos práticos, ou seja, o design e as artes aplicadas tinham um papel primordial no movimento. O De Stijl queria comunicar através de seus objetos uma sociedade melhor onde a arte e a vida se integram em perfeita harmonia.
Piet Mondrian, New York City, 1942
Ideologia
Buscava uma arte clara e disciplinada, que refletisse de algum modo as leis objetivas do universo e valorizava a estrutura formal e o equilíbrio assimétrico. Para Mondrian, o artista não deve influenciar emotiva ou sentimentalmente o espectador. Por isso reduziu seu estilo a formas elementares, evitando assim provocar reações individuais.
Características
O movimento não valorizava a tradição lírica e sentimental da história da arte. Tinha como premissa a redução e a purificação da cor em cores primárias e da forma em linhas verticais e horizontais. Os artistas do grupo acreditavam no ordenamento geométrico fundamental do universo.
Principais nomes
Piet Mondrian, Theo van Doesburg, Gerrit Rietveld. No Brasil, Mondrian influencia Milton Dacosta e Lygia Pape, no Livro da Arquitetura e no desenho Mondrian de 1907.
24
Theo van Doesburg, Composição X, 1918
História da Arte
ART DÉCO
Onde e quando França, 1925-1939
Contextualização
Surgiu na França no entreguerras e logo em seguida migrou para os Estados Unidos a princípio com um estilo inspirado nas maquinas e formas insdustriais e, em seguida, começa a se inspirar nos figurinos e cenários de Hollywood.
Ideologia
Busca sintetizar formas e fazer objetos para produção em série, seguindo a ideia da Bauhaus porém, com uma preocupação menor quanto à funcionalidade e maior quanto à decoração, ou seja, fazendo objetos meramente decorativos e estéticos.
Victor Brecheret, Monumento Às Bandeiras, 1954
Características
Foi altamente influenciada pela Art Nouveau e o movimento Arts & Crafts, além de ter sido meio que um compilado de todas as vanguardas anteriores do inicio do séc. XX como o Construtivismo, o Cubismo, o Modernismo, a Bauhaus e o Futurismo, tranformando todo esse aglomerado de influências objetos que traziam linhas retas, circulos sintéticos, simplicidade e limpeza. Teve maior influência na arquitetura e no design de produtos fazendo objetos menos funcionais e pode ser vista como uma tentativa de modernizar a Art Nouveau, buscando porém, linhas menos orgânicas menos influenciadas pela natureza. A Art Déco se fez importante principalmente na arquitetura, predios como o Empire State Building e o Chrysler Building foram baseados nesse estilo, no Brasil as obras de Victor Brecheret como o Monumento às Bandeiras e o estádio do Pacaembu tiveram uma forte influência, além de outras obras como a torre do relógio da Central do Brasil e o Cristo Redentor.
William Van Alen, Chrysler Building, 1928
Principais nomes
Walter Gropius, Victor Brecheret.
História da Arte
25
BAUHAUS
Onde e quando
Foi criada em 1919 por Walter Adolf Gropius, na Alemanha e funcionou até 1933.
arquitetura, escultura e pintura de acordo com um ideal de sociedade civilizada e democrática, em que não há hierarquia, somente funções complementares.
Contextualização
Principais nomes
A ascendência mais próxima da Bauhaus está na associação Deutscher Werkbund, fundada em 1907 por Hermann Muthesius para incentivar as relações entre os artistas modernos, os artesãos qualificados e a indústria. Muthesius desejava criar o que chamava de Maschinenstil (estilo da máquina). Há influência também da Arts & Crafts, De Stijl e Der Blaue Reiter. Apesar de ter aspectos em comum, rompeu com a Art Nouveau, pois não havia funcionalidade nos ornamentos exagerados. A Bauhaus criou um novo pensamento em arquitetura e design: a forma deve estar aliada à função do objeto. Foi criada nos moldes da sociedade industrial Pós-Segunda Revolução, adqueando a produção às novas tecnologias. Os protótipos eram criados artesanalmente mas visando a posterior produção em larga escala. Encerra suas atividades por determinação dos nazistas em 1933. A emigração dos professores da escola é fator decisivo na difusão das ideias da Bauhaus pelo mundo todo. Vem a ser conhecido como “International Style”.
Johannes Itten, Theo van Doesburg, Wassily Kandinsky, Paul Klee, László Moholy-Nagy, Breuer, Hannes Meyer, Van der Rohe, Oskar Schlemmer, Joseph Albers, Lyonel Feininger. No Brasil: Luiz Nunes
Características
Foi uma das primeiras escolas que aliavam design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda. Tinha em suas produções uma severa geometrização e a utilização de novos materiais. Seu design é aliado à simplicidade e totalmente voltado para a funcionalidade.
Joost Schmidt, Pôster Para Exibição Da Bauhaus, 1923
Ideologia
A proposta de Gropius para a Bauhaus une em um único projeto a dimensão estética, social e política. Trata-se de formar novas gerações de artistas da
26
História da Arte
ÈCOLE DE PARIS Escola de Paris
Onde e quando
Pablo Picasso, Piet Mondrian, Pierre Bonnard e Henri Matisse. Paris, primeira metade do século XX. Outros como Jean Arp, Robert Delaunay, Sonia Delaunay, Joan Miró, Constantin Brancusi, Raoul Dufy, Contextualização René Iché, Tsuguharu Foujita e Chaim Soutine, traParis era um símbolo do internacionalismo cultural no balharam em Paris no período entre-guerras. entreguerras. Esse panorama se modifica com a SeApós a Segunda Guerra (Tachismo ou COBRA): Jean gunda Guerra Mundial e o deslocamento da “capital Dubuffet, Pierre Soulages, Nicholas de Stael, Hans mundial da arte de vanguarda” para Nova York. Hartung, Serge Poliakoff e Georges Mathieu. Possui influência das naturezas mortas rurais e realistas variados, de Courbet a Van Gogh. Convive com outras vanguardas, entretanto o maior antagonismo se dá com o Cubismo, considerado excessivamente intelectual. Após a Segunda Guerra, a Escola de Paris começou a se referir aos artistas do Tachismo ou COBRA.
Características
Uma visão mais genérica de toda a comunidade de artistas franceses e estrangeiros e também de diversos movimentos como Fauvismo, Cubismo e Surrealismo, entre outros, e que conviveram nesse período. O termo refletiria a concentração de atividade artística em Paris, cidade que se torna um símbolo do internacionalismo cultural. É um grupo indefinido de artistas que, nesse cenário, alguns não se filiavam a nenhuma das outras vanguardas e pintava em estilo informal e naturalista, não clássica, mas baseada na observação.
Ideologia
Cosmopolita e não idealista, não segue programas políticos nem vanguardas específicas, pelo contrário, busca respeito à natureza das coisas de forma intuitiva, baseada em sentimento, honestidade, franqueza e inocência. Prezava pela liberdade, não só a artística.
Principais nomes
Amadeo Modigliani, Retrato De Léopold Zborovski, 1916
Maurice Vlaminck, André Derain (ambos haviam sido fauvistas), Amadeo Modigliani, Maurice Utrillo, Marc Chagall, Georges Rouault, Constantin Brancusi,
História da Arte
27
SURREALISMO
Onde e quando
plano inconsciente e subconsciente. Abandonam a O movimento surrealista foi lançado em 1924 por racionalidade, tornando o sonho uma forma de encarar o mundo, onde a realidade, a lógica e a fantasia André Breton, a princípio em Paris. coexistem sem choques. Também abordavam a questão da desconstrução e estranheza ao que é familiar. Contextualização Essa foi uma das vanguardas mais populares da primeira metade do século passado, que teve muitos Principais nomes adeptos em várias cidades do mundo, principal- Salvador Dalí, Man Ray, Luis Buñuel, Max Ernst, Memente Paris e Madrid. Aconteceu no período en- ret Oppenheim, René Magritte, Jean (Hans) Arp, Hans tre - guerras, que corresponde ao fortalecimento de Bellmer, Yves Tanguy, Alberto Giacometti, Joan Miró, Antonin Artaud. ideologias nacionalistas. Os surrealistas mantinham relações próximas com os dadaistas, haviam muitas questões em comum, como por exemplo, o acaso, a ressignificação e a reestruturação das coisas e conceitos, outra semelhança importante é o espírito revolucionário de ambos. A diferença entre os dois movimentos, entretanto, reside na formulação teórica e princípios surrealistas, ao invés do anarquismo dadaísta.
Ideologia
O surrealismo tinha como objetivo fazer uma arte que expressa o pensamento na ausência de qualquer controle exercido pela razão e alheio a todas as considerações morais e estéticas. Tinha um caráter revolucionário e as principais referências eram a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, Leon Trótski, o marxismo, as filosofias ocultistas e o espírito visionário em revolta contra a sociedade de Arthur Rimbaud e conde de Lautréamont.
Características
A maior parte do repertório visual usado pelos surrealistas vinha da teoria freudiana sobre o inconsciente e o onírico, era também comum a representação do medo, desejo, erotização e morte. Os surrealistas queriam libertar a imaginação e tomada da consciência no seu aspecto mais poético do que científico, atingindo outra realidade situada no
28
Salvador Dalí, A Vênus De Gavetas, 1936
História da Arte
EXPRESSIONISMO ABSTRATO
Onde e quando
Nova Iorque, 1952.
Contextualização
Pollock, criava suas obras através de respingos de tinta que deixava cair sobre grandes panos no chão, formando texturas fortes e únicas. Agindo somente com seus impulsos instantâneos, integrava-se à obra em sua feitura, dando origem à Action Painting.
O expressionismo abstrato foi o primeiro movimento a fazer o caminho inverso do que se era habitual, pois surgiu nos Estados Unidos e somente depois foi Principais nomes para a Europa, sendo, portanto, classificado como Jackson Pollock, Arshile Gorky, Mark Rothko, Adolo “primeiro grande movimento pictórico” criado nos ph Gottlieb, Willem de Kooning, Isamu Noguchi. No Estados Unidos. O país surgira como uma grande Brasil: Manabu Mabe, Tomie Othake, Flávio-Shiró. potência após o termino da Segunda Guerra Mundial e a grande ascensão da criação artística deu-se pelo fato de que muitos intelectuais e artistas se mudaram para lá na época, como por exemplo Arshile Gorky, que foi considerado o primeiro expressionista abstrato e o mais importante mediador das vanguardas europeias como o cubismo e o surrealismo com as novas vanguardas criadas em solo americano.
Ideologia
Pretendia-se criar uma arte mais livre e espontânea, nada convencional. O Expressionismo Abstrato trazia em si uma carga muito grande de tudo o que foi deixado pela Segunda Guerra. Era, portanto, uma arte forte e violenta, muitas vezes sombria. Era influenciada por teorias como “A interpretação dos sonhos” de Jung e pelo Existencialismo de Sartre.
Características
Jackson Pollock, Nº1, 1949
O Expressionismo Abstrato surge com a união de influências da abstração do Der Blaue Reiter – grandes áreas de cores fortes – e temáticas surrealistas – o inconsciente e o automatismo – fazendo com que as pinturas se voltassem mais para dentro, trazendo à tona um resultado plástico que se baseava em formas soltas e não-figurativas com cores densas e fortes; traz também em si um pouco da arte conceitual e do que viria a ser a performance posteriormente. Um dos seus principais expoentes, Jackson
História da Arte
29
POP ART
Onde e quando
Características
A partir do fim dos anos 50, simultaneamente nos Arte com apelo popular que se comunica diretamenEstados Unidos e na Inglaterra. te com o público, representando o retorno de uma arte figurativa, em oposição ao Expressionismo que dominava a cena estética desde o final da Segunda Contextualização O pop reflete o estilo de vida que se desenvol- Guerra. Incorpora signos e símbolos da cultura de veu depois da Segunda Guerra Mundial, quando massa suburbana e industrial, como o cinema, a puos Estados Unidos cresceram se tornaram potên- blicidade, as histórias em quadrinhos, a televisão e o cia industrial, conduzindo a sociedade a um ritmo design, recusando-se a separar arte e vida. desenfreado de consumo, difundindo a noção do Utiliza-se de desenhos simplificados e cores saturasucesso ligado diretamente aos bens materiais. No das através de técnicas comerciais de reprodução, seio dessa sociedade cresce a cultura de massa, como o silkscreen, e de materiais industriais, que acabando afastando vestígios do gesto artístico. matéria-prima da arte Pop. Uma das primeiras imagens relacionadas ao Pop é a Andy Warhol enfatiza, com a repetição imagens de colagem de 1956 de Richard Hamilton “O que Exa- celebridades como Marilyn Monroe, Mao Tse-tung, tamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Che Guevara ou Elvis Presley, o desgaste que a míAtraentes”, feita para a exposição “This is Tomorrow”, dia propicia a elas e a paradoxal ideia de anoniorganizada pelo Independent Group, da Inglaterra. mato. Já Lichtenstein parece pretender demonstrar, Nela, celebridades e objetos da vida moderna trans- ao extrair fragmentos de histórias em quadrinhos e reproduzi-los manualmente, o caráter efêmero dos portam o American Way of Life para a obra de arte. interesses e do consumo na sociedade moderna inOs artistas norte-americanos também tem como referência as colagens tridimensionais de Robert dustrializada e os valores que essa sociedade receRauschenberg e as imagens planas e emblemáti- be e forma a partir deles. cas de Jasper Johns, que inicia o uso de objetos e Principais nomes imagens do cotidiano em obras. Precursores dessa Eduardo Luigi Paolozzi, Richard Smith e Peter Blake atenção especial dada à objetos comuns são tam- são alguns dos principais nomes do grupo britânico. bém os dadaístas e os surrealistas. Nos EUA, Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Claes Ol-
Ideologia
A Pop Art tenta aproximar as chamadas “alta cultura” e “baixa cultura”, apropriando-se de elementos da cultura de massa com a intenção de resgatar a função da arte como participante do dia-a-dia das pessoas, dando significado à vida da maioria. Em 1957, Richard Hamilton descreveria essa arte como “popular, transitória, consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, chamativa, glamourosa e um grande negócio”, afirmando a cultura comercial como sua matéria prima, inesgotável, ao contrário do Dadaísmo, que a considera um mal a ser combatido.
30
denburg, James Rosenquist e Tom Wesselmann.
Andy Warhol, Lata de Sopa Campbell, 1961-62
História da Arte
ARTE CINÉTICA E OP ART
Contextualização
A Guerra Fria impulsionou a ciência, numa corrida tecnológica entre as duas superpotências da época: EUA e a URSS. Neste momento foram desenvolvidas tecnologias das mais variadas, das quais a sociedade se tornou cada vez mais dependente, mas que também serviram de inspiração e, muitas vezes, até mesmo de matéria-prima para a arte. A ideia de movimento esteve presente no mundo artístico de longa data. Seja pelo Futurismo que coloca o Cubismo em movimento, ou no Manifesto Realista de Antoine Pevsner e Naum Gabo ou nos escritos de László Moholy-Nagy. Na década de 50, entretanto, vários artistas começaram a inserir o movimento em suas obras de maneiras diferentes. O termo Cinético foi incorporado a partir de 1955, quando acontece a exposição Le Mouvement (O Movimento), na galeria parisiense Denise René, que contou com obras de artistas como Marcel Duchamp, Alexander Calder, Jésus Raphael Soto e Victor Vasarely Alguns críticos, como Frank Popper, não restringem o significado do termo a trabalhos que possuem movimento real, estendendo-o também aos que implicam no movimento óptico. A principal diferença entre Arte Cinética e a Op Art é que, na primeira, o movimento constitui a estrutura da obra enquanto que, na segunda, o movimento é apenas virtual.
ARTE CINÉTICA Cinetismo
Onde e quando
A partir da década de 50, nos Estados Unidos.
Ideologia
Busca romper com a condição estática da pintura, explorando efeitos visuais através do movimento físico de objetos móveis ao invés de apenas traduzir ou representar esse movimento. Alexander Calder se destaca entre os artistas considerados cinéticos por desenvolver uma nova forma de escultura, os móbiles. Calder intencionava uma arte que divertisse, com um ritmo oposto ao que via na “vida moderna”, tão séria e mecânica. Inspirado nos construtivistas e na obra de Mondrian, ele também queria uma arte que refletisse leis matemáticas, mas acreditava que essa arte não devia ser rígida nem estática.
Características
Utiliza materiais industriais, como chapas, perfilados, placas metálicas e obtém cores por esmaltes comuns, porém desvia o pensamento do espectador daquilo que é o emprego normal desses materiais Os objetos exigem do espectador uma interação física, pois se movimentam aleatoriamente, produzindo efeitos que mudam de acordo com a luz, o vento e a manipulação do observador.
Principais nomes
Alexander Calder. Além dele, em 1955 participaram de exposições: Duchamp, Jesus Raphael Soto, Vasarely, Yaacov Agam e Jean Tinguely. No Brasil, a obra de Abraham Palatnik, Lygia Clark e Mira Schendel se aproximam das experiências com objetos móveis.
(cont.) História da Arte
31
ARTE CINÉTICA E OP ART (cont.)
OP ART
Arte Ótica, Optical Art
Onde e quando Surgiu nos meados de 1950, principalmente nos USA, mas teve seu auge no final da década de 60. O termo passou a ser usado após a exposição “The Responsive Eye” (O olhar interativo), no MoMA, em 1965.
Principais nomes
Bridget Rilley, Victor Vasarely, Yaacov Agam, Stella e Kenneth Noland. No Brasil: Lothar Charoux, Almir Mavignier, Ivan Serpa, Abraham Palatnik.
Contextualização
Inspirou-se em Albers, docente da Bauhaus que, no final da década de 40, nos Estados Unidos, passou a se dedicar a pintura, com sua série abstrata Homenagem ao Quadrado e também influenciou-se pelo esforço que o Pontilhismo de Seruat e o Orfismo de Delaunay exigiam dos olhos.
Ideologia
“Menos expressão e mais visualização”. Baseia-se na construção científica das imagens que exige do observador persistência e concentração, fazendo com que ele participe completamente da obra. Para Victor Vasarely, um de seus principais, a obra deveria ser passível de reprodução e também de ser criada por outras pessoas ou por máquinas.
Características
Não possui nada de simbólico ou que não se apresente na percepção imediata. Partindo da lei ótica dos contrastes simultâneos e dos dados experimentais da Psicologia da Gestalt (Psicologia da Forma), cria planos ilusórios, fazendo as formas vibrarem através da mutação de cores, que são geralmente lisas. É comum a utilização de produtos da indústria moderna: plásticos, pinturas acrílicas luminosas, iluminação elétrica, motores e aparelhos eletrônicos.
32
Victor Vasarely, Vega, 1957
História da Arte
MURALISMO
Muralismo Mexicano, Escola Mexicana
Onde e quando
que vê na arte um instrumento contra a opressão e se utiliza da história mexicana, denunciando ricos e México, meados do século XX. poderosos, e enaltecendo a multiplicidade cultural. Francisco Goitia pode ser considerado um pioneiro Contextualização e participou ativamente da Revolução, tendo incluSurgidas no México, em meados do século XX, as sive pintado in loco. primeiras obras que podem ser enquadradas sob O muralismo influencia vários artistas, por exemplo, este título aparecem logo em 1910, porém o mani- Frida Kahlo, que não pode ser classificada como mufesto redigido por Siqueiros data de 1921 e a maioria ralista mas aproxima-se ao grupo sobretudo por seu das obras são produzidas entre as décadas de 1920 casamento com Rivera. No Brasil, exerce influência e 1930, logo após o país sair de uma ditadura mili- sobre obras de Di Cavalcanti e Candido Portinari. tar e o movimento revolucionário se ancorar numa aliança entre camponeses e setores urbanos, onde visava-se o combate ao analfabetismo e uma reno- Principais nomes vação cultural dentro de uma ideologia progressista, Diego Rivera, David Alfaro Siqueiros, José Clemente anticlerical, antiditatorial, a favor da reforma agrária, Orozco, Francisco Goitia. da nacionalização das empresas petrolíferas e melhoria do padrão de vida da classe operária.
Ideologia Tinha elevado teor político e buscava ser uma arte de grande alcance popular, assim sendo, as pinturas eram feitas em áreas públicas com o intuito da conscientização da população com relação à sua própria realidade econômica, política e social. Características A manifestação consiste em murais sobre paredes de concreto e fachadas de edifícios com temas sociais e políticos que procuram por uma expressão autenticamente mexicana e ao mesmo tempo original e moderna, produzindo uma arte compreensível e de alcance social, que fizesse sentido tanto para a classe média quanto para as massas nativas. Através do mural como suporte, buscava não se tornar propriedade privada, rompendo com os círculos restritos de galerias, museus e coleções particulares. É uma arte monumental, em todos os sentidos do termo, de feitio realista e que utiliza espaços públicos e um dos seus principais expoentes é Diego Rivera, História da Arte
Diego Rivera, O Carregador De Flores, 1935
33
MODERNISMO BRASILEIRO
Onde e quando
A primeira manifestação coletiva pública da necessidade de uma renovação estética foi a Semana de Arte Moderna, acontecida nos dias 08 a 13 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Contextualização
No início do século XX, o Brasil encontrava-se num período de transição e contradição, caracterizado como uma nação independente que se mantinha presa às estruturas coloniais, e na qual as ideias de progresso, modernidade e industrialização convivam com a tradição e o conservadorismo das oligarquias rurais. Esse período, que sucedeu a Primeira Guerra Mundial, favoreceu a elite paulista cafeeira, mudando radicalmente as estruturas políticas e econômicas do país, fazendo de São Paulo uma metrópole mundial e também a capital cultural do país. As ideias modernistas que predominavam o cenário europeu chegam ao Brasil e contaminam jovens intelectuais através do contato com pintura de Anita Malfatti e com a escultura de Victor Brecheret. Ambos tinham ido à Europa e traziam ideias de movimentos como o Cubismo, Art Decó, Expressionismo e Futurismo. Dentro da história da arte do Brasil, o movimento modernista em si e, principalmente a Semana de Arte Moderna, foi uma etapa destrutiva de rejeição ao conservadorismo e significou uma profunda ruptura com relação à temática e ao compromisso com a realidade e com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica, em voga até então. Agora, a arte brasileira volta-se para o homem “vulgar” que há no interior de seu país e para a ordem social, enquanto as vanguardas européias precisavam voltar-se para outras culturas em busca de novas fontes de inspiração. Entretanto, o “espírito revolucionário” do movimento modernista brasileiro foi segundo Mário de Andrade (um dos principais líderes da Semana de 22),
34
importado da Europa, não trazendo nada de efetivamente novo em relação ao que se fazia fora. O que ele considera como a principal herança que o movimento é “o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da Inteligência artística brasileira; e a estabilidade de uma consciência criadora nacional.” Em sua primeira fase, foi um movimento de “burgueses querendo chocar burgueses”, que se preocupava com a liberdade estética, no qual estava ausente qualquer tipo de preocupação político – social. Mas já na segunda fase, diante da crise que o mundo enfrentava na década de 30, os artistas assumem uma postura mais crítica diante da realidade, trazendo um amadurecimento para arte moderna brasileira, principalmente na literatura.
Ideologia
Há algo de futurista nas ideias dos modernistas de 22, que exige a deposição dos temas tradicionalistas em nome da sociedade industrial. Os modernistas anseiam por um nacionalismo primitivo e ingênuo, que recusa qualquer tipo de arte importada, buscando uma identidade nacional verdadeira e valorizando o país como um caldeirão cultural, encontrando no cabloco e na mestiçagem, que outrora foram considerados entraves para o crescimento nacional, fontes integradora da cultura brasileira.
Características
Num primeiro momento, o modernismo brasileiro volta-se para o interior de seu país, buscando formas de expressão que não tivessem sido domesticadas pela cultura burguesa e descobrindo um Brasil caboclo, primário, ingênuo e híbrido. Logo após essa descoberta do Brasil pelos modernistas, vieram os manifestos “Pau Brasil” e “Antropofágico”.
(cont.) História da Arte
MODERNISMO BRASILEIRO (cont.)
Principais nomes (e um pouco mais)
Da semana de 22, destacam-se os nomes de: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida, Victor Brecheret e outros. Entre os literatos e poetas estão: Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira e outros. E entre a programação musical trazia composições de Villa-Lobos e Debussy. Entre os artistas modernistas da primeira geração que não participaram da semana de 22, destacam-se: Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Ismael Nery, Antonio Gomide e Cícero Dias, entre outros. Essa primeira geração modernista é chamada de revolucionária, pelo seu caráter mais radical com relação ao combate ao passadismo e exaltação do nacional. Mas já na segunda fase, diante da crise que o mundo enfrentava na década de 30, os artistas assumem uma postura mais crítica diante da realidade, trazendo um amadurecimento para arte moderna brasileira. Era a geração de Cândido Portinari, Cícero Dias e Alberto da Veiga Guignard marcada por um novo figurativismo modernista, freqüentemente social e político, que buscou dar continuidade às conquistas formais de seus predecessores. A década de 1940 presenciou o surgimento de toda uma geração de abstracionistas geométricos, influenciados pelo cubismo. Seu nome mais representativo é o de Alfredo Volpi, e num segundo plano, Samson Flexor e Milton Dacosta em sua fase madura. Na contracorrente desta mesma geração estavam pintores figurativos como Mario Zanini, Francisco Rebolo e José Pancetti.
Di Cavalcanti, Cartaz Da Semana De Arte Moderna, 1922
Anita Malfatti, A Boba, 1915-16
História da Arte
35
GRUPO SANTA HELENA
Onde e quando
O grupo Santo Helena começou em salas alugadas como ateliê no Palacete Santa Helena, antigo edifício na Praça da Sé, em São Paulo, a partir de meados de 1934.
Contextualização
Os artistas são de origem proletária ou da pequena burguesia. Rebolo, Volpi e Zanini eram decoradorespintores de paredes; Clóvis Graciano era ferroviário; Fulvio Penacchi dono de açougue; Aldo Bonadei, figurinista e bordador; Rizzotti, mecânico e torneiro; Manuel Martins, ourives; e Humberto Rosa era professor de desenho. A pintura de cavalete é realizada nos momentos de folga. A influência européia - principalmente do impressionismo e pós-impressionismo, do novecento italiano e do expressionismo - que se faz sentir na produção dos santelenistas se dá pela leitura de livros e revistas e por exposições que chegam do exterior. Em 1937 foi realizada uma exposição da chamada “Família Artística Paulista”, agregando um conjunto de artistas e incluindo todo o Grupo Santa Helena que, desse modo, apresentaram seus trabalhos ao público pela primeira vez. A partir daí, o Grupo tornou-se conhecido e despertou o interesse de Mário de Andrade, que neles identificou uma “escola paulista”. Com a dissolução do grupo no fim da década de 1930, seus artistas desenvolvem carreiras individuais. Entre eles, Alfredo Volpi é com certeza o que mais se destaca. Vale dizer que esses artistas nunca deixam de conviver e manter a amizade.
O apego à representação da realidade leva-os a pintar principalmente paisagens, cujos focos são as vistas dos subúrbios e arredores da cidade, as praias visitadas nos fins de semana, a paisagem urbana. Percebe-se a preferência por locais anônimos no limite entre o campo e a cidade.A despeito das diferenças estilísticas entre eles, identifica-se em suas obras uma preferência por tons rebaixados, de fatura fosca, dando uma tonalidade acinzentada aos quadros. Outros gêneros foram trabalhados pelo Grupo Santa Helena, como a natureza-morta, o retrato e auto-retrato.
Ideologia
O grupo não possuía nenhum compromisso conceitual e tinha o intuito de ser uma troca de conhecimento entre seus integrantes. Tinha preocupação com o apuro técnico, à volta à tradição do fazer pictórico e o interesse pela representação da realidade concreta.
Principais nomes
Francisco Rebolo, Humberto Rosa, Vittorio Gobbis, Manoel Martins, Rossi Osir, Clóvis Graciano, Mário Zanini, Bonadei, Fulvio Pennacchi, Alfredo Volpi, Rizzotti.
Características
O ambiente das salas de trabalho era de troca mútua, dividindo-se os conhecimentos técnicos de pintura e as sessões de modelo vivo, decidindo sobre o envio de obras aos salões e organizando as famosas excursões de fim de semana aos subúrbios da cidade para execução da pintura ao ar livre.
36
Alfredo Volpi, Grande Fachada Festiva, década de 50
História da Arte
CONCRETISMO E NEOCONCRETISMO
Contextualização
A partir dos anos 50, o Brasil alinha-se mais intensamente aos moldes do capitalismo internacional, experimentando um grande crescimento econômico e um certo otimismo com relação à modernização. Juscelino Kubitschek assumia a presidência da república, implantando uma política desenvolvimentista sem precedentes, simbolizada pela construção de Brasília inaugurada em 1961. Esse crescimento, porém, vem atrelado ao investimento externo, mantendo o país dependente e atrasado. É essa realidade que leva os artistas concretistas a desejarem superar a condição de país subdesenvolvido, adotando postulados racionalistas (no caso do grupo paulista). O movimento concretista acontece quando o modernismo declinava como força artística no país, muito embora Portinari, já consagrado nas décadas anteriores, ainda fosse considerado o maior artista brasileiro na época. Sob influência de Max Bill, artista suíço trouxe ao Brasil as ideias concretisas e que, em 1951 ganha o prêmio aquisição com a obra Unidade Tripartida na primeira Bienal de São Paulo, foi o primeiro sinal contrário à pintura moderna. Sua origem aponta também para os princípios do Construtivismo e do Neoplasticismo, rejeitando a figuração em favor da abstração geométrica.
Características
Não obedeciam nenhum código rígido e tampouco possuíam uma unidade estilística, mantendo-se independentes aos postulados teóricos da arte concreta. “Para esses artistas, a linguagem geométrica não era um ponto de chegada, mas sim um campo aberto à experiência e à indagação.”, explicou Ferreira Gullar.
Principais nomes
Da primeira exposição do grupo participaram: Aluísio Carvão, Carlos Val, Ivan Serpa, Décio Vieira, Lygia Clark, Lygia Pape, entre outros. Já na segunda exposição, em 1955 no MAM/RJ, aderiram ao grupo Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Rubem Ludof, Abraham Palatinik, entre outros.
Grupo Ruptura Onde e quando A primeira exposição do grupo foi inaugurada em dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no mesmo ano publicaram seu manifesto. O grupo começa a se dispersar ainda no final da década de 50. Características
Recusavam-se a utilizar recursos ópticos para a criação do movimento virtual e o uso das cores de maneira expressiva. Materiais industriais eram largamente utilizados. Pretendiam incorporar processos matemáticos à Grupo Frente produção artística. Através do manifesto, escrito por Waldemar Cordeiro e diagramado por Haar, posicionam-se contra as principais correntes artísOnde e quando ticas do país, contra qualquer forma de figuração e Agrupado em torno de um dos precursores da abstração geométrica no Brasil, Ivan Serpa, abre sua também contra a abstração informal. primeira exposição em 1954, no Rio de Janeiro. As últimas exposições do grupo foram em 1956. A rejeição à arte modernista brasileira, de caráter fi(cont.) gurativo e nacionalista, unia os integrantes do grupo.
CONCRETISMO
História da Arte
37
CONCRETISMO E NEOCONCRETISMO (cont.)
NEOCONCRETISMO Onde e quando
O Manifesto Neoconcreto foi publicado em 1959 e lançado do mesmo ano na I Exposição de Arte Neoconcreta, no MAM do Rio de Janeiro, marcando a ruptura neoconcreta da arte brasileira. Não ultrapassa muito as fronteiras do Rio de Janeiro, deixando mais claras as divergências com o grupo concreto paulista. A dissolução do grupo ocorre em 1962.
Ideologia
Os artistas neoconcretos ultrapassaram as barreiras entre o geometrismo puro e a subjetividade, defendendo a liberdade de experimentação e as possibilidades criadoras do artista em detrimento das teses mecanicistas e reducionistas do concretismo ortodoxo, que submetia sua produção artística à normas e a arte à ciência, ao invés de integrá-la a vida
Helio Oiticica, Metaesquema, 1958
Características
Defende uma arte não-figurativa e geométrica, porém não isenta da criação intuitiva. Os neoconcretistas incorporam o espectador às suas obras, permitindo que ele as toque e manipule. Esta atitude define o fazer artístico no tempo e no espaço, rompendo com as ditâncias até então existentes ente o espectador e a obra. Esse posicionamento pode ser notadon os Bichos de Lygia Clark, no Livro da Criação de Lygia Pape, nos Penetráveis, Bólides e Parangolés de Helio Oiticica, os Objetos Ativos de Wyllis de Castro.
Principais nomes
Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Wyllis de Castro, Franz Weissmann, Amilcar de Castro.
38
Max Bill, Unidade Tripartida, 1948-49
História da Arte
INFORMALISMO Abstração Informal
Onde e quando
A abstração informal começa a aparecer no Brasil no fim dos anos 50 e toma corpo na década seguinte.
Contextualização
Essa tendência artística vinha da Europa, dos Estados Unidos e do Japão do Pós-Guerra e, muitas vezes, representava a consciência da perda da hegemonia artística do continente europeu. Fruto da mesma tendência é, por exemplo, o expressionismo abstrato nos Estados Unidos. Os brasileiros pioneiros foram Cícero Dias e Antônio Bandeira que viviam na Europa nos anos 40 e eventualmente vinham ao Brasil, mas a grande influência para seu desenvolvimento foi a Bienal de São Paulo, a partir de 1951 e principalmente durante a década de 60, por mostrar informalistas e gestuais que internacionalmente já estavam no auge do reconhecimento. Os artistas nipo-brasileiros também já traziam de sua terra natal uma tradição de arte abstrata e preocupada com o gesto. Ainda hoje alguns artistas seguem essa tendência, mas um dos desdobramentos do informalismo são as misturas entre uma sugestão de figuração e a abstração informal, o vigor e a quantidade de matéria pictórica e o gesto marcante e expressivo.
teve um papel importante, se tornando mais que uma técnica de criação de imagens reprodutíveis para desenvolver uma linguagem própria.
Principais Nomes
Cícero Dias, Antônio Bandeira. Os nipo-brasileiros Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Kazuo Wakabayashi, além de Tomie Ohtake que nunca chegou a ser totalmente informalista, e na década de 70 adotou as formas geométricas e Flávio-Shiró,que faz uma síntese entre abstração gestual e figuração. Outros imigrantes são Henrique Boese, nascido na Alemanha, Yolanda Mohalyi, nascida na Hungria, Mira Schendel, nascida na Suíça, além dos naturais do Brasil Wega Nery, Loio Pérsio, Maria Leontina e Ana Bella Geiger, e dos gravuristas Fayga Ostrower, Artur Luís Piza, Rossini Perez e Maria Bonomi.
Ideologia
Informal no sentido de “sem forma”, tenta ultrapassar os conteúdos realistas e os formalismos geométricos.
Características Tendência artística que recusa qualquer tipo de formalização, valorizando o gesto e enfatizando as características pictóricas. No Brasil esse movimento não se baseia em grupos organizados e nem provoca grandes embates teóricos. A expressão abrange artistas bem diferentes entre si. A gravura História da Arte
Mira Schendel, Este É Um Desenho Gostoso, 1965
39
INTRODUÇÃO À ARTE CONTEMPORÂNEA
Na década de 60, a Pop Art revolucionou a história da arte, transformandoo modo de se fazer e principalmente de se ver a arte. Continuando o legado do Dadaísmo e seus ready-mades, a Pop Art estreitou ainda mais a relação que viria a ser uma das premissas básicas desse nosso período contemporâneo: a relação entre a vida cotidiana e a arte. Uma característica importante da arte contemporânea é a divergência marcante de estilos e práticas. A narrativa modernista, baseada em vanguardas e manifestos, é desafiada por artistas que não mais querem descobrir a verdade definitiva sobre uma arte pura, mas pretendem criar uma multiplicidade de atitudes e abordagens em uma história da arte não-linear sem a ideia de progresso. A pluralidade de estilos e de linguagens convivendo, contraditória e independentemente, é uma característica da contemporaneidade. Não existem mais estilos ou movimentos de vanguarda como se dava na modernidade, não há mais lugar para afirmações e verdades absolutas. Um fator importante para a leitura de uma obra de arte contemporânea é o contexto em que ela está inserida. Algumas vezes esse contexto (social, político, cultural, científico, etc.) toma tanta importância na obra que ela chega a ser confundida com uma pesquisa antropológica, uma reportagem ou uma experiência científica. A hibridização dos campos de conhecimentos são questões comuns não somente à arte mas a toda a contemporaneidade. Alguns temas bastante caros à arte contemporânea são a política e as identidades culturais em uma sociedade globalizada, onde a relações das pessoas com o espaço e tempo são radicalmente alteradas pelos meios de comunicação e transporte. Em meio a esse processo de globalização era impossível ignorar a existência e importância da produção artística de países do terceiro mundo (culturalmente dominados). A participação da mulher na história da arte foi reavaliada assim como se considerou a importância de toda a cultura marginal para o desenvolvimento
40
da arte. De uma maneira genérica, podemos dizer que dentro do conceito de arte contemporânea encontram-se experiências culturais muito díspares – tanto no sentido de englobar artistas de origens diversas, que incorporam atores sociais diversos (como as “minorias”), quanto no sentido do uso de novas mídias, tecnologias e suportes diversos. As obras muitas vezes articulam diferentes linguagens – performance, música, pintura, escultura, instalação, body art, etc. – , desafiando as classificações e a própria definição de arte, bem como o mercado e o sistema de validação da arte. A liberdade de práticas artísticas da contemporaneidade proporcionaram aos artistas a possibilidade de ter como suporte e material de trabalho o lixo, o corpo, as palavras, os conceitos, o video, as novas tecnologias, os espaços, a mídia e até mesmo a tela e a tinta. Todas a práticas e técnicas podem ter uma abordagem contemporânea. Principais movimentos e práticas da arte contemporânea: Pop Art, Minimalismo, Arte Conceitual, Land Art, Performance, Body Art, Instalação, Videoarte, Arte Povera, Op Arte, Arte Cinética, entre outros.
História da Arte
ARTE CONCEITUAL
Onde e quando
Anos 60 diversos lugares.
Ideologia
Na década de 60 a crescente politização de muitos artistas traz para o campo das artes questões como: O que é arte? Quem determina o que é arte? Quem decide como ela é exposta e criticada? Desconstruindo a definição de arte de forma radical, insistindo em que é no salto imaginativo, e não na execução de uma obra estética, que a arte reside.
Principais nomes
Piero Manzoni, Marcel Broodthaers, Joseph Beuys, William Wegman, Douglas Huebler, Mel Bochner, John Baldessari, Sol Lewitt, Yoko Ono, Lawrence Weiner, Mike Kelley e Tracy Emin. No Brasil podemos citar Cildo Meireles, entretanto é difícil enquadrar artistas muito contemporâneos nessa categoria pois a arte conceitual se difundiu e dissolveu, fundindo-se no campo das artes, a tal ponto que hoje em dia a grande maioria dos artistas trabalha com conceitos.
Contextualização
A arte conceitual surgiu como categoria no final da década de 60 e também costumava ser designada como arte da ideia ou da informação. A obra e as ideias de Marcel Duchamp foram uma influência primordial. Outro pioneiro foi Alan Koprow, que organizava os chamados happenings (literalmente, “acontecimentos”) em que o próprio acontecimento se tornava a obra de arte. As ideias ou conceitos constituem a verdadeira obra de arte, isso desmistifica o ato criativo, como a obra de arte é apenas uma conseqüência de uma ideia, a obra, como entendida até então, pode ser dispensada, assim como o mercado de arte. Basta que a ideia, conceito, ou salto imaginativo, seja registrado em forma de documentos, propostas escritas, filmes, performances, fotografias, instalações, mapas ou qualquer outro suporte. E muitas vezes os artistas optam conscientemente por formas visualmente desinteressantes com o intuito de focar a atenção do espectador sobre o conceito.
Joseph Kosuth, Uma E Três Cadeiras, 1965
Características
O que as obras conceituais compartilham é uma necessidade do espectador apreende-las através de suas faculdades intelectuais. No início, os artistas conceituais se preocupavam essencialmente com a linguagem da arte, mas a partir dos anos 70 ampliaram seu campo de atuação colocando em questão temas e conceitos diversos e ilimitados.
História da Arte
41
BODY ART
Onde e quando
Surgiu em meados da década de 1960 e tem representantes no mundo todo.
Contextualização
Esse tipo de expressão artística surge no auge da Guerra Fria, período que representara a idealização de projetos culturais e ideológicos alternativos ao moralismo rígido da década anterior, rompendo com a impessoalidade do minimalismo. Os anos 60 são marcados pelo início das lutas contra o endurecimento dos governos, pela liberação sexual, drogas, uma grande revolução comportamental embalada ao som dos Beatles.
Ideologia
em forma de peça única e exclusiva, associada à temporalidade, como em local privado e depois divulgado por filmes ou fotografias, firmando um compromisso com a posteridade. Apesar da inovação, a Body Art teve várias influências de experiências de surrealistas e dadaístas, que já usavam o corpo como matéria da obra. Na área das artes cênicas, especialmente o teatro dos anos 1960, o Teatro Nô japonês, o Teatro da Crueldade e o Living Theatre, bem como as Performances, que já fazem esse diálogo entre artes visuais e artes cênicas. Nos anos 1960 e 1970 houve o movimento Fluxus, que mesclava artes visuais com música e literatura, também influenciando a Body Art. Por fim, não se pode esquecer a influência das práticas de sociedades “primitivas” como pintura corporal, tatuagens e inscrições sobre o corpo.
Busca alternativas à todos os suportes extra-corporais que vinham regendo a arte até então, fazen- Principais nomes: do com que o artista buscasse o corpo (inclusive Bob Flanagan, Bruce Nauman, Dennis Oppenheim, o seu próprio) como material e suporte para suas Gina Pane, Rebecca Horn, Vito Acconci, Yves Klein, expressões. Dando muitas vezes a oportunidade Youri Messen-Jaschin. ao espectador de se transformar em agente ativo por fazer um convite à reflexão ou até mesmo a participação efetiva em alguma obra.
Características A Body Art toma o corpo como suporte, meio de expressão e matéria para a realização das obras, utilizando-se de fluidos corporais, tatuagens, ferimentos, deformações, escarnificações e travestimentos. Pode-se dizer que a Body Art inova tanto em forma quanto em temática e conceito, uma vez que inverte a relação obra artista fazendo com que, muitas vezes, o artista seja sua própria obra. Associa-se também a Performances e Happenings e está constantemente relacionada à dor e ao esforço físico. Como é uma arte que deve estar associada ao corpo de alguma forma, a Body Art se revela de várias formas, podendo tanto ser realizada em público 42
Dennis Oppenheim, A FeedBack Situation, 1971
História da Arte
INSTALAÇÃO
Onde e quando
A partir da década de 60, em diversos lugares.
Contextualização
Surge no auge da Guerra Fria, período que representara a idealização de projetos culturais e ideológicos alternativos ao moralismo rígido da década anterior. Os anos 60 são marcados pelo início das lutas contra o endurecimento dos governos, pela liberação sexual, as drogas, em suma, por uma grande revolução comportamental. Nesse época, os artistas começaram a questionarse sobre os suportes tradicionais da arte. Antes disso, porém, alguns artistas já tinha se aproximavam do que viria a se chamar de instalação, como Marcel Duchamp, que realizou duas obras desse gênero (1200 sacos de carvão e Milhas de barbantes) no final da década de 30 e começo da de 40. Nos anos 20, Piet Mondrian projeta um ambiente que seria revestido com suas cores características,chamado de Salão de Madame B. Kurt Schwitter também prenunciava o que viria a ser uma instalação com sua obra Merz, de 1919. Nas décadas de 80 e 90, muitos artistas de todo o mundo investiram na produção de instalações das mais diversas possíveis, misturando diferentes suportes e estilos. No final do século XX e início do século XXI, a Instalação se estabilizou como um dos principais gêneros artísticos.
Outro aspecto importante de uma instalação é possibilidade de combinação entre diversas linguagens e as novas possiilidades de suporte.
Principais nomes
Anish Kapoor, Barbara Kruger, Claude Simard, Maurizio Cattelan, entre muitos outros. Artistas de vários movimentos diferentes também vieram a ter experiências com instalações. No Brasil, deve-se citar alguns trabalhos de Lygia Pape e Helio Oiticica. Mira Schendel, Nuno Ramos e Carlos Farjado , que também se aproximam das instalações.
Características
Uma instalação só faz sentido se vista e analisada no tempo-espaço no qual foi concebida, pois se relaciona com eles estabelecendo, dos objetos que a compõe, novas áreas espaciais, evidenciando aspectos arquitetônicos e construindo novos ambientes ou cenas. Ao inserir o espectador no interior desses ambientes, o artista exige que ele interaja com a obra, sendo necessário percorrê-la e adentrá-la, para sua apreensão.
História da Arte
Barbara Kruger, Sem Título, 1991
43
HIPER-REALISMO
Sharp focus, Fotorrealismo, Novo realismo
Onde e quando
Fim dos anos 60, Nova York e Califórnia, EUA.
Contextualização
Representou uma retomada do realismo na arte contemporânea, contrariando o minimalismo e as pesquisas formais da arte abstrata. A vida moderna fornece a matéria (temas) e os meios (materiais e técnicas). O final da década de 60 foi marcado pela efervescência cultural e desenvolvimento tecnológico industrial nos Estados unidos, pós segunda guerra mundial. Em diálogo estreito com a produção norte-americana, os artistas ingleses aderem à nova linguagem pictórica. É uma repercussão da Arte Pop dos anos 1950, porém realismo não utilizava sem fazer uso de símbolos retirados da cultura de massa.
Principais nomes
Estados Unidos: Chuck Close, Robert Cottingham, Audrey Flack e Richard Thorpe McLean, Ralph Ladell Goings, Don Eddy, Robert Bechtle, Tom Blackwell, Duane Hanson, John De Andrea, Ron Mueck. Ingleses: John Salt, Malcolm Morley, David Hockney - embora não se submetam inteiramente ao rótulo do hiper-realismo, dele se aproximam pelo registro quase documental de suas cenas cotidianas e do diálogo que estabelecem entre pintura e fotografia. Brasil: São associados ao hiper-realismo alguns trabalhos de Glauco Rodrigues, Antonio Henrique Amaral, Gregório Gruber.
Características
Expressão artística que procura reproduzir na pintura ou na escultura imagens com precisão fotográfica. O hiper-realismo faz uso de clichês, de imagens préfabricadas e de elementos do cotidiano. As pinturas mimetizam as fotos em que se baseiam. O mundo cotidiano retratado, em geral, refere-se aos aspectos banais, às cenas e atitudes familiares, aos detalhes captados pela observação precisa. Diversos artistas utilizam também a fotografia como suporte, pintando sobre a imagem revelada no papel. Outra novidade foi o uso do aerógrafo (airbrush), que nunca toca a tela e que, portanto, não deixa impressas as marcas do gesto e do pincel. A pintura é lisa, sem texturas e sua superfície espelhada - painéis com espelhos, vidros e metal reluzente: deslocamento, distorção e reflexo. Na escultura, utiliza-se silicone e fibra de vidro.
Chuck Close, Leslie, 1973
Ideologia
Aproximar a arte da realidade visual, resgatando a idéia de mimesis grega deixada de lado após a série de movimentos que procuravam alternativas à representação do real vindos após o advento da fotografia,
44
História da Arte
VIDEOARTE
SOUND ART
O nascimento simbólico da videoarte é 1965, quando Nam June Paik comprou sua primeira câmera manual. Mas as influências que culminaram em seu surgimento vem do início dos anos 60 quando os artistas do Fluxus já incluíam televisões em suas instalações. Enquanto a Pop Art introduzia a cultura de massas no mundo das artes, a Sound Art e a Arte Cinética exploravam a tecnologia de som e movimento, nada fazia mais sentido do que adotar o mais novo e poderoso meio de comunicação, a televisão. Os videoartistas buscavam abalar a autoridade dos estereótipos da mídia, apropriaram-se da linguagem da televisão com a intenção de apontar os perigos de um meio de comunicação tão poderoso. Os primeiros artistas da videoarte fundiam teorias da comunicação global com elementos da cultura popular para realizar vídeos, instalações de um canal ou multicanais, produções com transmissões via satélite e esculturas com vários monitores. Já na segunda metade da década de 80 a fusão do vídeo com o computador, juntamente com a tecnologia da projeção, levou a uma videoarte mais ampla e complexa, para além da moldura do monitor.
Onde quando
Principais nomes
Nam June Paike, Ira Scheneider, Frank Gillette, Bill Viola, Eric Siegel, Steina Vasulka, Woody Vasulka, Dara Birnbaun, Ana Mendieta, Matthew Barney, Steve McQueen, Gary Hill. No Brasil, estão entre os artistas que utilizam a videoarte Regina Silvera, Júlio Plaza, Carmela Gross, Marcello Nitsche, Anna Bella Geiger, Ivens Machado, Paulo Bruscky e Fernando Cocchiarale.
História da Arte
Final dos anos 70, artistas do mundo inteiro.
Contextualização
As origens da Sound Art estão no início do século XX, no qual o relacionamento entre a música e a arte foi uma força motriz para a abstração (O Cavaleiro Azul, Orfismo, Sincronismo). A “arte dos ruídos” foi explorada pelos futuristas e dadaístas e desenvolvida pelo compositor John Cage nos anos 50. Influenciou artistas dos anos 50 e 60 associados ao Beat, Neodadá, Fluxus e performance. Grande parte da Sound Art recente é influenciada pela cultura clubber, a disseminação da música eletrônica e do uso de sampleadores.
Características
Obras que utilizam sons naturais, criados pelo homem, musicais, tecnológicos ou acústicos. As obras podem assumir a forma de assemblage, instalação, vídeo arte, performance ou arte cinética, bem como de pintura e escultura, estando sujeita a novos avanços da tecnologia digital e na internet.
Ideologia
Levar o espectador para a experiência multissensorial da percepção.
Principais nomes
John Cage, Rauschenberg, Lee Renaldo, Laurie Anderson, Mimmo Paladino, Robin Rimbaud, Katarina Matiasek, Paul Farrington (Tonne).
45
SITE-SPECIFIC
EARTH ART
Desde os anos 50 os artistas vêm criando obras que se ligam especificamente ao seu entorno e a arte tem sido levada para as ruas e o campo, como no caso da Earth Art. Ao longo dos anos 60 a expressão site-specific foi usada para se referir a obras de minimalista, earth artists e artistas conceituais. No mesmo período desenvolvia-se a idéia, no meio artístico de que a arte deveria ser disponibilizada para muitos e não apenas para uns poucos privilegiados. Desde a segunda metade dos anos 70 os governos de vários lugares de Europa e dos Estados Unidos têm criado programas de patrocínio para arte pública a fim de levar arte a lugares em que a obra não é mais considerada um monumento, mas um meio de transformar um lugar. Isso deu um bom impulso para os site-specifics, mas não é só nesses casos que consideramos uma obra site-specific, elas podem ser obras pensadas para qualquer lugar, ambientes internos ou externos, desde que as obras sejam adequadas a sua localização e dialoguem com o contexto em que se encontram.
Onde e quando
Site Works
Land Art, Earthwork
O conceito surgiu numa exposição da Dwan Gallery, Nova York, em 1968, e na exposição Earth Art, promovida pela Universidade de Cornell, em 1969.
Contextualização A produção artistico-cultural estadunidense da década de 60 apontava cada vez mais para a exaltação e massificação da indústria cultural e tecnologia. Expressões artisticas como o minimalismo e sua concisão formal, espacial e conceitual estavam em voga, criando uma arte um tanto quanto fria e impessoal. Ideologia A Land Art surgiu tentando promover uma busca mais orgânica e diferenciada para a produção artística estabelencendo uma relação maior com a natureza e discutindo questões ligadas à ecologia. Características
A Land Art é um tipo de arte que utiliza o terreno natural como suporte como por exemplo, pedras, a Principais Nomes terra, o mar, árvores, etc. As obras muitas vezes tem Claes Oldenburg, Daniel Buren e Richard Serra são al- dimensões tão grandes que não passam da fase do guns artistas importantes com trabalhos site-specific. projeto pela inviabilidade de sua execução. Sendo assim, não é possivel que seja exposta em museus ou galerias e nem vendidas. Atingindo um ponto importante para os artistas da Land Art. É, portanto, uma reação à monotonia e à limitação das galerias.As obras de Land Art só tem seu objetivo cumprido depois de demolidas ou destruídas.
Principais nomes
Robert Smithson, Sol LeWitt, Robert Morris, Carl Andre.
46
História da Arte
MINIMALISMO
PERFORMANCE
Onde e quando
Onde e quando
Nova York, entre 1963 e 1965.
início por volta de 1916 com os dadaístas. Início do termo “Performance Art”: década de 60
Contextualização
Iniciou-se no ambiente de efervescência cultural es- Contextualização tadunidense em meados do séc.XX, no rastro do A performance não é considerada por muitos teóriExpressionismo Abstrato de Jackson Pollock e da cos um movimento na história da arte, mas sim uma linguagem artística que teve seus primórdios no daPop Art de Andy Warhol. daísmo zuriquenho. Artistas e poetas como Tristan Tzara, Richard Huelsenbeck e Hugo Ball se juntaIdeologia vam no Antológico Cabaret Voltaire para declamar Redução de objetos à sua estrutura primária. Sen- e interpretar poesias de modo pouco convencional. do assim mais um mvimento formal que ideológico, Em arte, a performance se desenvolveu em vanguaronde o conceito era muitas vezes descartado em das como Futurismo e na escola Bauhaus, mas ela função da essência estrutural do objeto. sempre esteve relacionada ao teatro, dança, poesia ou artes circenses. Só criou autonomia como linguagem artística porém na década de 60, quando foi Características Na verdade o termo se refere a um punhado de artis- criado o termo Performance Art, intimamente ligada tas que de uma forma ou de outra tem a estrutura de à Arte Conceitual, Neo-dadaístas, Body Art, Happesuas obras parecidas. Apesar disso, o minimalismo ning e o movimento Fluxus. nunca chegou a ser um movimento com ideologias A performance é uma arte imaterial. O objetivo do e artistas com obras homogêneas entre si. Os obje- performer é explorar as relações espaço-temporais tos têm estrutura simples, reduzidas, descartavam o entre seu corpo com o corpo coletivo, a audiência. A uso das cores e emoções e tentantavam, em garnde obra é o próprio evento, não os materiais envolvidos. parte, utilizar-se de materiais primario também, tais Um dos objetivos da performance art é quebrar convenções sobre teatro e atuação assim como decomo: tojolos, areia, pedras, etc. Causou mais divergências quanto a sua classificação sestabilizar antigos conceitos sobre o que é a arte. e existência que quanto a seu caráter, suas ideologias. Da performance surgiram os happenings, desenvolvidos principalmente pelo grupo Fluxus. Os happenings, como o termo já diz, são acontecimentos Principais nomes onde as barreiras entre o artistas e o público são Carl Andre, Dan Flavin, Donal Judd, Sol le Witt, Ro- ainda menores. O público é convidado direta ou bert Norris. indiretamente a participar da obra de arte. Na performance o público pode ser somente expectador.
Principais artistas
Yves Klein, Vito Acconci, Hermann Nitsch, Chris Burden, Yoko Ono, Joseph Beuys, Wolf Vostell, Allan Kaprow, Gilbert and George, Marina Abramovic, Carolee Schneemannz.
História da Arte
47
NEO-EXPRESSIONISMO
Onde e quando
Alemanha, Itália e Estados Unidos, fim dos anos 70.
Contextualização
Nos Estados Unidos assumiu-se uma postura antiAmerican Way Of Life. Os artistas retratavam então cenas de um suburbio sujo, alertando para os perigos de uma vida de vaidade e conformismo. Dessa possibilidade de resgate do expressionismo explorando novas formas surgiram expressões muito variadas entre si como por exemplo as obras monumentais de Anish Kapoor, a obra intimamente pessoal de Louise Bourgeois com suas Aranhas e, no Brasil, artistas como Nuno Ramos como foral altamente influenciados por esse pensamento.
O Neo-Expressionismo nasceu de uma urgência que explodiu no fim da década de 70, onde, em reação à expressões artísticas extra-quadros como o minimalismo, o happening, Fluxus e a arte conceitual, os artistas se viram necessitados da retomada da pintura e da expressão interior, que ainda se via abafada pela necessidade do esquecimento dos sentimentos que a segunda guerra causaram. O movimento foi mais vivo e intenso na Alemanha, Itália e Estados Principais nomes Georg Baselitz, Markus Lüpertz, Gerhard Richter, Unidos, mas teve forte influência mundial. Jenny Saville, Anish Kapoor, Jean Michel Basquiat, Keith Haring. Ideologia Com essa retomada da pintura em tela o pensamento formal também foi buscar no passado suas influências. A partir desse momento, então, viu-se surgir uma pintura forte e carregada, visivelmente situada num pós-guerra, onde os sentimentos de humanidade e de nação ainda estavam perdidos. Por isso, o artista-indivíduo foi também retomado, com suas angustias sendo recolocadas de forma visível, e emocional de cunho autobiográfico. Houve também o resgate da narrativa na pintura em alguns casos e muitas obras abordavam temas como a memória, a psicologia, o simbolismo, a sexualidade, a literatura.
Características Assim como o seu principal influenciador, o Expressionismo do início do século, o Neo-Expressionismo expandiu-se e passou a ser considerado mais uma definição para artistas com afinidades do que um movimento propriamente dito. Materiais diferentes são explorados no Neo-Expressionismo, como pigmentos puros em pó, superfícies espelhadas, capachos, couro de pônei, louça quebrada e chumbo. Na Alemanha artistas como Anselm Kiefer e Georg Baselitz se utilizaram dessa nova velha forma de representar para poder falar sobre o passado nazista da Alemanha, tema pouco abordado em outros movimentos. 48
Georg Baselitz, Oberon, 2005
História da Arte
ARTE CONTEMPORÂNEA
Outros artistas e movimentos importantes
Um dos pioneiros da Pop Art, Jasper Johns insere em seus trabalhos objetos do cotidiano como mapas, bandeiras e algarismos. O tema dos algarismos, entretanto, não era novidade já que, por volta de 30 anos antes, Charles Demuth já havia o antecipado em telas como “Eu Vi O Número 5 em Ouro”, de 1928. O também americano Robert Indiana atribui um sentido mais amargo aos algarismos de Demuth. Interessado também pela imagem das palavras, representa em três dimensões aquela que é provavelmente a palavra mais conhecida no mundo: Love. Pode-se com o designer gráfico norte-americano Milton Glaser, conhecido principalmente pela campanha “I Love NY”, na qual substitui a palavra Love por um coração vermelho. Outros artistas ligados à Pop Art, por considerarem a superfície da tela muito limitada, recorrem a outros materiais e suportes, criando assim outras formas de arte como a Instalação e Assemblage. Entre esses artistas está Robert Rauschenberg, que na década de 50 já construía suas obras “partindo do refúgio da civilização urbana”, como diz H. W. Janson; Louise Nevelson, que também começa, a partir dos anos 50, a desenvolver seus grandes painéis murais, constituídos de compartimentos de madeira e cujo interior também é preenchido com diversos objetos também de madeira e que remontam paisagens urbanas e edifícios; e Duane Hanson, que faz esculturas muito realistas que podem, se consideradas como um todo, representarem uma sátira ao “sonho americano”.
Outros artistas Norman Rockwell e Edward Hopper: o período entreguerras foi marcado pela ascensão dos Estados Unidos como potência mundial, enquanto a Europa estava arruinada social e economicamente. Muitos americanos consideravam a tendência abstrata na arte como símbolo da decadência européia e, em face dessa decadência, propunham um retorno História da Arte
a arte realística que abordasse especificamente a imagem americana. Norman Rockwell persuade o espectador dos valores da família norte-americana, ao ilustrar em sua obra a família americana ideal, próspera, sólida e saudável. Contemporâneo a Rockwell, Edward Hooper encara o mundo americano de maneira bem menos otimista, retratando de maneira subjetiva a solidão urbana e a estagnação do homem, através de ambientes vazios e silenciosos. Le Corbusier: arquiteto francês que rompeu com as barreiras nacionalistas durante o séc.XX, abrindo caminho ao que viria ser conhecido como Estilo Internacional. Contribuiu com as formulações da nova linguagem arquitetônica, abolindo qualquer forma de ornamentação, aproveitando melhor a iluminação e o espaço, suspendendo as construções. Henry Moore: escultor inglês atraído pelo primitivismo de Brancusi que, segundo G.C. Argan, retorna da forma humana à orgânica, mas não com o intuito de rejeitar tudo o que é civilização ou história, e sim de recuperar a unidade originária do homem, antes da racionalidade e da geometria. Em sua obra, dá o mesmo valor às formas vazias e às formas cheias, combinando o figurativo e o abstrato.
Henry Moore, Figura Reclinada, 1936
49
ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Artistas e movimentos importantes
Geração 80
Grupo de artistas que se reuniu na exposição “Como vai Você, Geração 80?” realizada em 1984 na Escola de Artes do Parque do Lage, no Rio de Janeiro. Esses jovens artistas comemoravam a redemocratização do Brasil nos anos 80 e através da pintura, expressavam tudo o que tinha sido contido e anulado durante o período militar. Se opunham à vertente conceitualista dos anos 70 e tinham por característica a pesquisa de novas técnicas e materiais. Entre os 123 artistas que participaram dessa exposição, destacam-se Beatriz Milhazes, Frida Baranek, Karen Lambrecht, Leonilson, Ângelo Venosa, Leda Catunda, Sérgio Romagnolo, Sérgio Niculitcheff, Daniel Senise, Barrão, Jorge Duarte, Victor Arruda.
Arquitetura
Entre os arquitetos modernos brasileiros, os mais renomados são Oscar Niemeyer, que é o mais consagrado e reconhecido; Afonso Eduardo Reidy, o paisagista Roberto Burle Marx, entre outros que tiverem influência do arquiteto francês Le Corbusier. Numa segunda geração moderna da arquitetura brasileira, privilegiam-se as diferenças e as necessidades regionais e destaca-se Lina Bo Bardi, italiana que encontrou no Brasil uma nova potencialidade para suas idéias e que já não compartilhava das influências estéticas de Corbusier.
Outros artistas Alberto Guignard: pintor, professor, desenhista, ilustrador, gravador. É destacado por Mário de Andrade como uma das revelações do Salão revolucionário de 1931. Sua produção compreende paisagens, retratos, pinturas de gênero e de temática religiosa. Frans Krajcberg: artista polonês cuja obra reflete a paisagem brasileira, em especial a floresta amazônica e sua constante preocupação com a defesa do meio ambiente. “Com minha obra, exprimo a consciência revoltada do planeta”.
50
Carybé: artista argentino naturalizado brasileiro, considerado um ícone da “baianidade”, que passou atuar no cenário artístico brasileiro a partir da década de 30. Lívio Abramo: gravurista autodidata, encontrou na gravura a saída para a frustração de seu sonho de ser arquiteto. Interessava-se pelo comunismo e dizia que “não gostava de trabalhar em função de uma demanda de mercado.” Wesley Duke Lee: desenhista, gravador, artista gráfico e professor atuante na segunda metade do século XX. Seus trabalhos são caracterizados pelos contextos sócio-políticos, o erotismo e pela utilização de materiais e práticas inovadoras. Abraham Palatnik: a maior referência de arte cinética no Brasil, realiza instalações elétricas com jogos de cor e de luz, procurando unir em seu trabalho pesquisa visual ao rigor matemático. Alguns artistas já citados por se identificarem em algum dos movimentos aqui relacionados: De influência cubista: Antonio Gomide, que também apresenta traços renascentistas e da Art Déco, sem, contudo, se reter apenas a um estilo; Cândido Portinari, cuja obra é permeada pela temática social e que conheceu notoriedade e o sucesso nacional e internacional; Tarsila do Amaral, que combinou as novas tendências artísticas advindas da Europa à cultura brasileira, principalmente ao que se refere à expressão popular; Vicente do Rego Monteiro, que marca sua obra pela sinuosidade e sensualidade e nos reporta a um clima místico e metafísico. Influência expressionista: Iberê Camargo, cujas obras são livres de religiosidade e imaginação, mas possuem uma preocupação social e equilíbrio entre emoção e racionalidade; Oswaldo Goeldi, que na década de 30 abriu o Clube dos Artistas Modernos, com Antonio Gomide, Di Cavalcanti e Carlos Padro e realiza eventos sob o nome de Experiência para estudar a reação popular; Flávio De Carvalho, que trabalhou como arquiteto e projetor de cenários e figurinos para espetáculos. (cont.)
História da Arte
ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Artistas e movimentos importantes (cont.)
Influência surrealista: Ismael Nery, que também passou por fases cubistas e expressionistas e sempre teve seus temas relacionados a figuras humanas, mas sem se interessar por temas nacionais ou regionais; Cícero Dias, que na década de 40 realiza vários murais e passa a se interessar pela temática do inconsciente.
Beatriz Milhazes, Bibi, 2003
Carybé, Caçadores, 1973
Frans Krajcberg, Flor Do Mangue, 1973
História da Arte
51
52
DESENHO DE CRIAÇÃO
Introdução
Você já pesquisou na internet, Orkut, revistas, livros, conversou com estudantes de artes e professores e agora está aqui, neste cursinho, para buscar a “receita infalível” que poderá garantir sua vaga em um curso de artes. Quando pensamos no desenvolvimento de uma proposta de desenho de observação, basta um pouco de técnica e uma boa percepção artística para que não haja grandes problemas na elaboração deste tipo de avaliação. Porém, quando nos deparamos com uma proposta de desenho de criação, dúvidas podem surgir. Uma das maiores angústias de vestibulandos é saber qual potencial demonstrar quando entra em foco a palavra “criar” em uma prova. Criar. V.t. 1. Dar existência 2. Dar origem a; formar. 3. Imaginar. 4. Fundar. 5. Educar. 6. Promover a procriação de. 7. Cultivar. 8. Adquirir, granjear.P. 9. Nascer, originar-se. Diante dessa definição temos a seguinte questão para pensarmos juntos: “qual o potencial que temos que demonstrar quando entra em foco a palavra criação? O que o examinador espera?” Na maioria dessas provas espera-se que você possa se comunicar através das imagens. Relaxa... Não vá também querer provar sua genialidade desde já! Depois você ainda terá bastante tempo para desenvolvê-la a até se exibir. Apenas mostre que você é um artista em uma fase embrionária, mas com potencial para crescer e contribuir com as artes visuais. É bem provável que o examinador queira apenas que você consiga transmitir de forma compreensível suas ideias para o papel. Se colocar as ideias em uma redação já é difícil, imagine em uma imagem! Esse é o intuito dessas aulas, te orientar a organizar seus pensamentos e transmiti-los. Palavras como “intervenção”, “projeto”, “conceito” e principalmente “artes” deixarão de ser tão assustadoras.
Desenho de Criação
Ler uma imagem
Uma forma de desenvolvermos a capacidade de comunicação é treinando o olhar. Ler uma obra é compreendê-la e interpretá-la, mas, para isso, passamos por vários estágios. Primeiro, identificamos seu título, o artista, o material, o tipo de representação e as características existentes (vertical, horizontal, circular, plano, escuro, brilho etc.) Depois observamos as maneira como os elementos se relacionam (cores, texturas, formas, figura/fundo, espaço, volumes). Não esquecer que interpretamos pelo todo: uma tentativa de leitura baseada pelos elementos pode se tornar fraca e desconexa, somente com a integração desses elementos é que melhor entendemos. Devemos considerar também o contexto histórico na qual a obra foi desenvolvida. Como poderíamos, por exemplo, compreender a música “Cálice”, de Chico Buarque, se não considerarmos a censura da ditadura militar? Passando por esses estágios, vamos criando significações, conectando ideias, descobrindo sentimentos e sensações. A interpretação de uma obra de arte nunca se fecha e raramente é a mesma para todos. Devemos considerar que cada um tem uma vivência e uma carga de conhecimento acumulado e estes vão influenciar na leitura. Alguns vão apreciar mais a beleza da composição e do objeto, outros vão enfocar sua interpretação na profundidade e intensidade da experiência e nas ideias transmitidas. Mas por que interpretar? Não precisamos apenas receber informações, nós lemos, interpretamos e produzimos, seja essa produção pessoal, acadêmica ou profissional. E é toda essa bagagem cultural e intelectual que enriquecerá nosso trabalho criando uma teia de interpretações intermináveis. É estimulando a criatividade que estaremos capazes para lidar com os problemas do dia-a-dia, sermos melhores artistas, designer, arquitetos, cineastas, historiadores, pai de família etc.
53
DESENHO DE CRIAÇÃO
Projeto
Em muitas provas de criação é comum encontrarmos propostas que solicitem a elaboração de um projeto. Em um projeto, não é necessário que haja um produto final e sim a demonstração da construção de um processo. “A arte é todo o processo.” A importância do processo está nas possibilidades de mudanças e questionamentos durante a elaboração do projeto. Um bom exemplo a ser explorado está na feitura de uma redação. Muitos fazem um esboço ou uma ideia do que querem explorar do tema, quando passam para a finalização acabam por modificar algumas frases e palavras. A palavra “projeto” por si só já induz a uma ideia do que planejamos fazer, ou seja, eles não esperam um produto finalizado, mas uma busca do candidato em conseguir organizar suas ideias e em elaborar um processo de criação para tornar compreensivo seu projeto. Para isso, em alguns casos, podemos criar um texto explicativo que dialogue com a imagem desenvolvida. E m um exame como esse, o modelo de projeto a ser usado deve ser o mais sintético possível, mas que não deixe de tornar clara e compreensível sua proposta. Afinal, não podemos nos esquecer que o examinador é um ser humano e que, sendo assim, cansa e pode ficar estressado diante de textos exagerados.
Intervenção
A intervenção é uma linguagem que se relaciona com muitos artistas da contemporaneidade por conta do seu caráter multimídia. Dentro de intervenção vemos tanto música, teatro, artes visuais e poesia num contexto único, trabalhando em conjunto para que o público alvo tenha maior contato com aquilo que a intervenção irá sugerir. Entre os vários significados que a palavra intervenção tem no dicionário, talvez possamos destacar especialmente esse:
Explicando-se: Vamos dividir o mundo em que vivemos em dois grupos, que são: (1) os objetos do nosso cotidiano que facilitam nossa vida e (2) nós, seres humanos, usuário desses objetos. Todo objeto tem como característica básica da sua existência ter alguma função útil para algum ser humano. Exemplificando-se: A)A Gangorra (objeto) serve basicamente para que duas crianças (indivíduos) consigam se divertir durante o recreio da escola (tempo pode ser incluído posteriormente – ver time-specific). B)A Ponte (objeto) serve basicamente para que várias pessoas (indivíduos) possam atravessar um rio (espaço pode ser incluído posteriormente - ver site-specific). Tendo em vista que os objetos servem às pessoas por algum motivo, a intervenção se dá no momento em que algo além dos objetos e indivíduos entra na equação para complementar esta relação de alguma maneira. O nosso algo é a arte. A arte deve juntar-se à relação estabelecida entre o indivíduo ou o grupo de indivíduos e o objeto do trabalho, possivelmente agregando mais uma função ou conceito a este. É importante suscitar que o artista que vá trabalhar com intervenção tenha consciência que ele pode transitar com todas as áreas artísticas. Que esta vertente dá abertura para que sejam utilizados sons, músicas, instrumentos musicais, projeções, esculturas, telas, atores, dançarinos, bonecos e etc. É interessante que o artista saiba que ele não precisa, necessariamente, utilizar-se de elementos gráficos ou visuais. E que seu trabalho torna-se mais amplo cada vez que ele agrega mais elementos artísticos à sua obra.
“Entrar como parte (em um processo).”
54
Desenho de Criação
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
1) Unicamp - Arquitetura - 2008
2) Unicamp – Artes – 2007
primeira parte Com a folha de papel sulfite A1 (fornecida), construa um objeto pelo processo de dobradura, conseguindo um resultado tridimensional. O objeto conseguido será o tema de seu desenho de observação, que será feito sobre uma folha de “[...] Uma descrição de Zaíra como é atualmente de- papel canson (fornecida). veria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contem como as Finalidade: Avaliar a capacidade de compreender linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas estruturas e representá-las por meio do desenho, explorando suas possibilidades de sombra e luz, figrades das janelas, nos corrimões das escadas, nas gura e fundo. A avaliação recairá exclusivamente antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, sobre o desenho realizado. cada segmento riscado por arranhões, serradelas, Tempo: 50 (cinqüenta) minutos. entalhes, esfoladuras.” ( CALVINO, Ítalo. As CiMaterial: lápis grafite número 6B ou 8B e papel dades Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: canson (fornecidos). Companhia das Letras, 1990, p. 14)
O tema desta questão refere-se ao fragmento de texto e à imagem abaixo. A partir desse tema, reflita e elabore um desenho (à mão livre) que conjugue e explore texto e imagem. Técnica: lápis de cor
segunda parte Em uma nova folha de papel canson (fornecida), desenhe o objeto que você construiu, atentando para os atributos construtivos do desenho (ponto, linha, forma, proporção e estrutura).
Finalidade: Avaliar a capacidade de criar uma composição linear representando seu objeto. Tempo: 35 (trinta e cinco) minutos. Material: Lápis grafite (livre escolha) e papel canson (fornecido). terceira parte Em uma terceira folha de papel canson (fornecida), construa uma composição explorando novos materiais e relacionando cor e forma. Você deve partir dos elementos formais sugeridos pelos dois desenhos anteriores e pode proceder livremente.
Finalidade: Avaliar a capacidade de expressão e reflexão na construção de uma imagem. Tempo: 50 (cinqüenta) minutos. Fonte: MILLÁN, J.A.. El arte de las medianeras (party walls art) – Las Tripas AL Descubierto. Disponível Material: Qualquer material indicado no manual do em: http://jamillan.com/medianeraw.htm candidato.
Desenho de Criação
55
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
3) UNESP – Artes Visuais - 2006
4) UNESP- Artes visuais - 2007
01. Desenvolver o projeto de interferência visual num ônibus urbano. O projeto deve conter detalhes, observações visuais e/ou escritas, que esclareçam as idéias visuais e o objetivo da interferência visual. Será considerada a capacidade criativa, expressiva e de clareza do projeto. O projeto deve ser desenvolvido em folha dada.
Considere que o céu da cidade de São Paulo possa ser suporte para manifestações artísticas. Elabore um “projeto” artístico baseado no conceito de sky art. O projeto deve conter detalhes, observações visuais e/ou escritas, que esclareçam as idéias visuais e o objetivo da sua manifestação artística, baseada no conceito de sky art. Será considerada a capacidade criativa e de clareza de expressão Material livre (constante no item 3 da INSTRUÇÃO, do projeto. O projeto deve ser desenvolvido numa página 1 desta Prova Específica). (40 pontos) das folhas de papel canson A3. 02. Observe a sala e selecione um elemento. Desenvolva uma composição gráfica, a partir da imagem proposta na figura 6, incorporando o elemento selecionado. Será avaliada a composição, o desenho de observação, a leitura e a interpretação visual, a capacidade de selecionar e integrar elementos. A composição gráfica deve ser desenvolvida em folha dada. Utilizar apenas grafite e/ou esferográfica preta.
Material/técnica livres. (40 pontos) Sky Art. José Wagner Garcia, depois de estagiar no Center for Advanced Visual Studies, CAVS, do Massachusetts Institute of Technology, MIT, trouxe ao Brasil as idéias relacionadas com a sky art, uma corrente artística que busca elaborar obras efêmeras no céu, com projeções de raios laser, bombardeamento de nuvens com pó químico colorido ou iridescente, arco-íris artificiais, ou ainda sinais eletromagnéticos codificados e enviados para as estrelas. A síntese do trabalho de Garcia está na trilogia Sky: Life, Body and Mind (1988). (www.itaucultural.org.br)
56
Desenho de Criação
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
5) UNESP- Artes Visuais - 2008 Considere que a região da Estação Barra Funda do Metrô de São Paulo possa ser suporte para manifestações artísticas. Elabore um “projeto de interferência visual urbana” baseado no conceito de arte ambiental, descrito no quadro abaixo. O projeto deve conter detalhes, observações visuais e/ou escritas, que esclareçam as idéias visuais e o objetivo da sua manifestação artística baseada no conceito de arte ambiental. Será considerada a capacidade criativa e de clareza de expressão do projeto. O projeto deve ser desenvolvido numa das folhas de papel Canson A3. Material/técnica livre. (40 pontos)
”A arte ambiente ou ambiental não faz referência a um movimento artístico particular, mas sinaliza uma tendência da arte contemporânea que se volta mais decididamente para o espaço – incorporandoo à obra e/ou transformando-o –, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as áreas urbanas. Diante da expansão da obra no espaço, o espectador é convocado a se colocar dentro dela, experimentando-a; não como observador distanciado, mas parte integrante do trabalho.” (www.itaucultural.com.br)
Foto: Carlos Frucci (Mestrado em Artes Unesp – IA 2007) Vista Oeste com Estação Barra Funda (à esquerda) e obras do Novo Campus da Unesp (ao centro e à direita).
Foto: Carlos Frucci (Mestrado em Artes Unesp – IA 2007) Vista Panorâmica Leste das obras do Novo Campus da Unesp (ao centro) e Estação Barra Funda (à direita).
Desenho de Criação
57
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
5) UNESP- Artes Visuais - 2008 (cont.)
7) USP – Artes Plásticas - 2005 As imagens reproduzidas nesta página representam dois momentos de uma crise que irá marcar a história da cultura ocidental nos séculos 20 e 21, sendo que cada uma delas representa, de forma distinta, eventos semelhantes que abalaram a opinião pública de suas respectivas épocas. A força que elas irradiam tem sua origem nos fatos a que se referem e nas suas próprias características visuais.
Foto: Lis Morila (1.º BLAV – Unesp – IA 2007) Vista Leste do muro do terreno do Novo Campus da Unesp (à esquerda) e Estação Barra Funda (à direita).
6) USP – Artes Plásticas - 2007 A fotografia tem como referência básica a luz. O desenho, a relação de atrito do grafite sobre o papel. As especificidades materiais dos dois meios, portanto, são diferentes. No entanto, o desenho de observação e a fotografia registram o real de maneiras diferentes. Observando a realidade à sua volta, mostre o que apensas o desenho – e não a fotografia – é capaz de produzir.
58
Desenho de Criação
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
8) UFRJ- ARQUITETURA - 2009
9)UFRJ – Artes Plásticas - 2009
Leia atentamente os fragmentos a seguir. Faça um desenho de cada cena descrita (uma externa e outra interna) representando todas as palavras sublinhadas. Use a folha A3 que já está dividida em duas áreas.
Inspirando-se na letra da música popular abaixo apresentada, crie a paisagem de uma praça, incluindo os elementos mencionados na música e outros que a caracterizem.
A Praça “Resolveu seguir o homem para saber onde mo- (Carlos Imperial) rava. O relógio da esquina marcava duas horas e seis minutos, temperatura de vinte e cinco graus. Hoje eu acordei com saudades de você Ao sair da avenida Atlântica, o homem retomou a Beijei aquela foto que você me ofertou rua Santa Clara, caminhando um pouco apressado, Sentei naquele banco da pracinha só porque mão no bolso da calça, provavelmente acarician- Foi lá que começou o nosso amor do o achado. O menino seguia-o a uma distância Senti que os passarinhos todos me reconheceram prudente. Não precisou andar muito, na quadra E eles entenderam toda a minha solidão seguinte o homem dobrou à direita na avenida Co- Ficaram tão tristonhos e até emudeceram pacabana e entrou num prédio que tinha no térreo E então eu fiz esta canção A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o uma galeria com bar e várias lojas pequenas, todos fechados àquela hora de madrugada. A por- mesmo jardim taria do edifício era gradeada, espremida num can- Tudo é igual, mas estou triste, porque não tenho você perto de mim to, no limite com o prédio vizinho... ...O apartamento não passava de um quarto com Beijei aquela árvore tão linda onde eu, quitinete e banheiro, cujo luxo era o boxe com es- Com o meu canivete um coração desenhei quadrias de alumínio. No quarto, além do armário Escrevi no coração o meu nome junto ao seu Ser seu grande amor então jurei embutido, havia uma cômoda antiga em peroba e O guarda ainda é o mesmo que um dia me pegou mármore rosa com um Roubando uma rosa amarela prá você pequeno espelho bisotado; sobre o mármore, uma Ainda tem balanço tem gangorra meu amor enorme variedade de vidros, potes, caixas e uma Crianças que não param de correr pena de pavão enfiada na junção do espelho com Aquele bom velhinho pipoqueiro foi quem viu a moldura; num dos cantos, próximo à janela, um Quando envergonhado de namoro eu lhe falei cabideiro com bolsas, chapéus, colares e lenços co- Ainda é o mesmo sorveteiro que assistiu loridos; uma pequena bergère necessitando forra- Ao primeiro beijo que eu lhe dei ção nova; na parede, duas reproduções de pintores A gente vai crescendo, vai crescendo e o tempo passa famosos; debaixo da janela, uma mesa de dobrar Nunca esquece a felicidade que encontrou com duas cadeiras; e ocupando a maior parte do Sempre eu vou me lembrar do nosso banco lá da praça espaço, uma grande cama em ferro batido sobre a Onde começou o nosso amor qual estava Magali...” (Luiz Alfredo Garcia Rosa, Achados e Perdidos, 1998).
Desenho de Criação
59
DESENHO DE CRIAÇÃO Exercícios
10) MACKENZIE - ARQUITETURA 12) UFMG – 2009 - 2006
No conto “Os mortos não têm desejos”, a autora, en“...Na sala, a porta e as grandes janelas semi-abertas tremeando seqüências e flashbacks, elabora o que permitiam mostrar os dois sofás surrados, os dois ela própria chama de “Roteiro de uma vida inútil”. quadros nas paredes, a antiga cadeira de balanço Leia atentamente este trecho: sobre o pequeno tapete, o computador ligado sobre a escrivaninha parcialmente iluminada pelo sol FLASHBACK II Caminho por uma praça deserta. O sol penetra por e a cadeira desocupada. Na estante, atrás da escrivaninha, livros à espera entre as folhas das árvores e se transforma: quero de consulta e, pelo chão, rascunhos amassados de pegar as estrelas no chão, porém elas se apagam entre os meus dedos. Um cavaleiro passa a galotextos que não convenceram...” par e não me nota. Figura desconhecida de homem Considerando o texto acima, crie uma composição encaminha-se para mim e me abraça: tem barba e bigodes ruivos. gráfica, utilizando técnica livre. STEEN, Edla van. Os mortos não têm desejos. In: STEEN,Edla van (Org.). O conto da mulher brasileira. São Paulo: Global, 2008. p.49.
11) MACKENZIE – DES. INDUSTRIAL - 2008
A partir dessa leitura, CRIE duas ilustrações, utilizando-se das imagens literárias apresentadas nesse trecho.
“Uma palavra não faz história, mas duas fazem.”
Material a ser utilizado: Apenas lápis preto e, se necessário, borracha.
Coluna I
Coluna II
Garfo Pincel Colher Martelo
Bicicleta Quadro Prato com macarrão e molho Banana Split
Observando as colunas I e II acima e, utilizando aspectos da linguagem visual tais como linhas, contrastes, luz e sombra, textura e cor, faça uma composição livre, de uma cena em um ambiente, considerando dois elementos, um de cada coluna.
60
Desenho de Criação
DESENHO DE OBSERVAÇÃO
INTRODUÇÃO
Existe uma certa crença de que desenhar é somente para poucos indivíduos, que possuem “dom” ou “talento raro”. O que nós propomos aqui é que desenhar é uma capacidade que pode ser aprendida por qualquer pessoa. Isso pouco tem a ver com habilidade manual – se você consegue escrever, suas mãos já estão aptas para desenhar. Tem, sim, a ver com a maneira que usamos os olhos, ou melhor, nosso cérebro. O desenho de observação está relacionado com a maneira que processamos as informações visuais. É necessário usar o cérebro de um modo diferente do que normalmente ele é usado. Maurice Grosser disse: “O pintor pinta com os olhos, não com as mãos (...) O importante é ver com clareza.” A essa altura você deve estar achando que vê as coisas, sim, muito bem, e que o difícil é desenhar. Mas é justamente o contrário. Falemos um pouco sobre esse outro modo de usar a mente.
SOBRE O CÉREBRO
Certos conceitos de dualidade, do duplo aspecto do pensamento e da natureza humana já foram postulados por filósofos, professores e cientistas em muitas épocas e culturas diferentes. A idéia central é que existem duas ‘maneiras paralelas de saber’. As principais divisões, por exemplo, são entre pensamento e sensação, intelecto e intuição e por aí vai. Segundo Jerry Levy Sperry temos, dentro do crânio, um cérebro duplo dotado de duas maneiras de saber, o do lado esquerdo do cérebro e o do lado direito do cérebro. Hemisfério Esquerdo: Percebe a realidade de maneira analítica, verbal (usa palavras para designar, descrever), racional (usa a razão e a lógica para tirar conclusões), simbólica, temporal (coloca as coisas em sequência, faz primeiro o que vem em primeiro lugar, depois o que vem em
Desenho de Observação
segundo), linear (pensa em termos de idéias ligadas, um pensamento seguindo-se diretamente a outro) Hemisfério direito: Percebe a realidade de maneira não verbal (com o mínimo de conexão com palavras), sintética (agrupa as coisas para formar um todo), concreta (percebe cada coisa tal como ela é), não temporal, não racional, espacial, intuitiva (assimila as coisas aos pulos), holística (aprende as coisas integralmente; percebe configurações e estruturas globais). Resumindo: O hemisfério esquerdo analisa no tempo, e o hemisfério direito sintetiza no espaço. Você pode estar agora se perguntando o que esse papo de cérebro tem a ver com o desenho. Muitos artistas já mencionaram o fato de verem as coisas de modo diferente enquanto desenham. Se sentem unificados com a tarefa que estão executando, a passagem de tempo fica subjetiva, não há palavras se intrometendo no processo de sua consciência. Dizem os artistas que se sentem alertas e conscientes, porém relaxados e isentos de ansiedade, experimentando uma atividade mental agradável e quase mística. O problema é que essa maneira diferente de processar é quase sempre obscurecida pelo nosso tipo de cotidiano. Na nossa cultura, o saber não verbal e gestaltico é pouco valorizado. Na escola somos sempre estimulados a desenvolver o lado oposto, aprendendo línguas, matemática, etc. Aí quando tentamos desenhar ou fazer qualquer atividade artística e nos frustramos, caímos naquele mito do ‘escolhido’ ou ‘talentoso’. Assim, quando vamos fazer desenhos de observação acabamos sempre usando o nosso hemisfério esquerdo. Desse jeito, nossos desenhos se tornam pouco expressivos e fracamente ligados ao que retratamos, pois usamos o nosso arquivo de memórias para representar o que vemos, não nossa
61
DESENHO DE OBSERVAÇÃO
própria percepção visual. (por exemplo, se vou de- 2- Trace linhas horizontais no topo e na parte de senhar o rosto de um colega, vou buscar na minha baixo do perfil. mente como um olho é e vou desenhá-lo daquele jeito, muito embora aquela lembrança que tenho de um olho possa nada se parecer com o que vejo em meu colega.) O que vamos propor aqui é fazer pequenos exercícios de percepção e desenho para que seja possível haver a transição mental entre o a modalidade esquerda para a direita. Vamos tentar realizar tarefas que nosso cérebro racional despreze e se desligue da atividade.
EXERCÍCIOS
3- Agora desenhe o mesmo perfil invertido.
Observe a maneira que você resolve o problema. A sua preocupação deve ser fazer um rosto igual do outro lado, como um espelho. Talvez você experimente uma sensação de conflito mental no 1) VASOS E ROSTOS começo. Mas depois algumas questões como essas 1- Desenhe o perfil de uma cabeça de uma pessoa costumam surgir: no lado esquerdo do papel, voltada para o centro -Onde começa essa curva? (se você for canhoto desenhe do lado direito) -Qual a profundidade dessa curva? -Qual o ângulo em relação a borda do papel? -Qual o comprimento essa linha tem em relação a que acabo de desenhar? Etc.. Você provavelmente começará a esquecer essas idéias de que os riscos são narizes ou testas, isso na verdade não importa, o que importa é como os riscos estão dispostos no espaço, prestando atenção nisso é que se vai conseguir fazer um bom desenho de observação.
62
Desenho de Observação
DESENHO DE OBSERVAÇÃO
2) VASOS E ROSTOS NO.2 Dessa vez, desenhe o perfil do rosto mais estranho que você possa conceber – por exemplo, um monstro.
O desenho que vai ser utilizado aqui é este feito por Picasso, um retrato compositor Igor Stravinsky, de 1920. Copie em outra folha de papel:
Exagere nas formas, vale verruga, narigão, queixo deformado. Acrescente as linhas horizontais e agora faça o mesmo perfil invertido. Você verá que nessa segunda proposta, a complexidade da forma obriga a transição da modalidade esquerda para a direita. Seu cérebro ‘desiste’. Ao fazer os desenhos vasos-rostos, você desenhou o primeiro perfil à maneira do hemisfério esquerdo e o perfil correspondente à maneira do cérebro direito. Provavelmente verificou que era melhor não conceber o desenho como um rosto. Pensar num vaso era melhor. Dar nome as partes também não ajudava. Era mais simples se concentrar nas sutilezas das formas e como as linhas ocupavam o espaço.
3) DESENHO DE CABEÇA PARA BAIXO Quando a imagem está invertida (de cabeça para baixo) os sinais não são os mesmos. A mensagem fica estranha e confunde o cérebro. É mais fácil ver as formas e zonas de luz e sombras do que processar racionalmente a imagem. Usaremos essa falha de aptidão do nosso cérebro esquerdo para permitir que usemos a outra modalidade. (Curiosidade: ao copiarem assinaturas, os forjadores viram os originais de cabeça para baixo para verem mais claramente as formas exatas das letras.)
Desenho de Observação
Não vire o desenho na posição normal antes de terminar. Você vai ver que o processo é similar ao dos vasos-rostos, mas tem bem mais coisas pra se reparar, portanto não tenha pressa, saiba que pressa e preocupação com o resultado são problemas do hemisfério esquerdo, demore o tempo que for necessário. É obvio que nem sempre podemos virar as coisas de cabeça para baixo. O objetivo desse exercício é ensinar a fazer a transição cognitiva em qualquer situação.
63
DESENHO DE OBSERVAÇÃO
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS • Desenhar não é tão difícil quanto parece. • A intenção desse capítulo da apostila é ajudá-lo a compreender e fazer melhores desenhos de observação, com alto grau de similaridade. Não que este tipo de desenho de desenho seja superior a outras formas de arte. Mas é interessante ter essa habilidade para: -Ver em profundidade (citação) -Criação de um senso de confiança em nossa capacidade criativa, tirar o bloqueio e liberar o potencial para explorar outros tipos de arte. -Aprendermos a fazer a transição para a outra modalidade de pensamento. • Realmente, aprender a desenhar é desenhando, e observando. O progresso que você fará vai depender da sua energia e curiosidade. • Não existem regras pra você decorar. Tudo que queremos é te mostrar um jeitinho, uma postura pra você lidar com as informações que você vê. O resto é com você. • O objetivo do desenho não é somente mostrar aquilo que você está querendo retratar, mas também mostrar você. • Pode parecer paradoxal, mas quanto mais nitidamente você percebe e desenha o que vê a sua volta, mais nitidamente o espectador verá você e mais você saberá acerca de si próprio. • A intenção não é ensiná-lo a exprimir a sua personalidade, mas dotá-lo de habilidades que o libertarão de expressões estereotipadas. E essa liberação abrirá espaço para que você expresse o seu estilo particular de desenho.
64
Por fim, uma citação de Frederick Frank. “É para realmente ver, ver cada vez mais profundamente, cada vez mais intensamente e, portanto, para estar plenamente consciente e vivo, que eu pinto o que os chineses chamam “As dez mil coisas” que há em torno de mim. O desenho é a disciplina mediante a qual eu constantemente redescubro o mundo. “Aprendi que, quando não desenho uma coisa, não chego a vê-la realmente; e que, quando passo a desenhar uma coisa comum, verifico quão extraordinária ela é, o milagre que ela é.”
Desenho de Observação
BIBLIOGRAFIA
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto Inacabado: Processo De Criação Artística. São Paulo: Annablume, 1998. PILLAR, Analice Dutra. Leitura Da Imagem. Porto Alegre: Projeto Cultural Arte Na Escola. Banco de Textos do Projeto Arte na Escola n.º 007, 1993.
HARRISON, Charles. Primitivismo, Cubismo, Abstração: Começo Do Século XX. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. JANSON, H.W. Iniciação A História Da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem No Ensino Da Arte. JANSON, H.W. História Geral Da Arte – O Mundo São Paulo: Perspectiva, 1996. Moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1993. AMARAL, Aracy. Artes Plásticas Na Semana De 22. São Paulo: Perspectiva, 1979.
PEDROSA, Mário. Acadêmicos E Modernos: Textos Escolhidos Iii. Organização Otília Beatriz Fiori. São Paulo: Edusp, 1998.
ANDRADE, Mário de. Elegia De Abril; O Movimento Modernista. In Aspectos da literatura brasileira. WONG, Wucius. Princípios Da Forma E Desenho. São Várias edições. Paulo: Martins Fontes, 1998.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: Do Iluminismo EDWARDS, Betty. Desenhando Com O Lado Direito Aos Movimentos Contemporâneos. Tradução Do Cérebro. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1984. Denise Bottmann, Frederico Carotti; prefácio Rodrigo Naves. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Sites
ARNHEIM, Rudolf. Arte E Percepção Visual: Uma Psicologia Da Visão Criadora. São Paulo: Pioneira; Arte e Pintura Brasileira - Galeria Virtual de Arte http://www.pinturabrasileira.com.br Ed. da Universidade de São Paulo, 1980. BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: Vértice E Ruptura Do Projeto Construtivo Brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. CHIPP, Herschel B. Teorias Da Arte Moderna, São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais http://www.itaucultural.org.br MAC Virtual http://www.macvirtual.usp.br
MAM Rio DEMPSEY, Amy. Styles, Schools And Movements: The http://www.mamrio.org.br/ Essential Encyclopaedic Guide To Modern Art. United Kingdom: Thames & Hudson, 2002. DONDIS, D. A. Sintaxe Da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2000. FER, Briony. Realismo, Racionalismo, Surrealismo: A Arte No Entre-Guerras. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.
GOMBRICH, E. H. História Da Arte. São Paulo: Circulo do Livro, 1972. GULLAR, Ferreira. Etapas Da Arte Contemporânea: Do Cubismo À Arte Neoconcreta. Rio de Janeiro: Revan, 1998.
65