Apostila I

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  • Pages: 33
 

16/6/2008     

CURSO  ESCOLA  A USTRÍACA   

 

INTRODUÇÃO À ECONOMIA 

Apostila 1 | Juliano Torres  

 

Índice  O que é economia – pag. 3  O poder do comércio – pag. 5  O custo de oportunidade – pag. 12  Preços – pag. 18  Juros – pag. 25  Externalidades – pag. 28  Elasticidade – pag. 32                           

 

 

O que é Economia?  >>Introdução: os negócios comuns da vida  Um domingo qualquer  É domingo à tarde, verão de 2003, e a Rodovia 1 na parte central de Nova Jersey está movimentada.  Milhares de pessoas enchem as grandes lojas de departamentos que margeiam essa estrada por 20  milhas, desde Trenton até New Brunswick. A maioria dos compradores está alegre – e porque não? As  lojas dali oferecem uma escolha enorme; você pode comprar qualquer coisa, desde equipamento  eletrônico sofisticado a roupas da moda e até cenouras orgânicas. Há possivelmente cem mil itens  diferentes nesse trecho da estrada. E a maioria desses bens não é apenas bens de luxo que só os ricos  podem adquirir; são produtos que milhões de americanos podem comprar e compram todos os dias.  Essa cena de verão na Rodovia 1 é obviamente comum – mais ou menos igual a centenas de outros  trechos de estrada que cruzam os Estados Unidos, naquela mesma tarde. Mas esta disciplina, a  economia, se interessa principalmente por coisas comuns. Como disse o grande economista do século  XIX Alfred Marshall, a economia é “um estudo da humanidade nos negócios comuns da vida”.   

A Mão Invisível  Aquela cena de Nova Jersey não pareceria comum para um americano nos tempos coloniais; digamos,  um dos patriotas que ajudou George Washington a vencer a batalha de Trenton em 1776.   Imagine se você pudesse transportar um americano do período colonial para os dias de hoje. Mas o que  esse viajante do tempo do tempo acharia espantoso?  Certamente o mais espantoso seria a prosperidade da América Moderna – o leque de bens e serviços  que as famílias comuns podem adquirir. Olhando toda essa riqueza, nosso colono transportado do  século XVIII indagaria: Como posso ter uma parte disso? Ou talvez perguntasse: Como minha sociedade  pode obter uma parte disso?  A resposta é que para chegar a esse tipo de prosperidade você precisa de um sistema que funcione bem  para coordenar as atividades produtivas – as atividades que criam os bens e serviços que as pessoas  desejam e que os fazem chegar aqueles que as querem. É esse tipo de sistema que temos em mente  quando falamos da economia. E a análise econômica é o estudo das economias, tanto no nível do  indivíduo quanto da sociedade em seu conjunto.  Uma economia tem sucesso na medida em que, literalmente, entrega os bens. Um viajante do tempo  vindo do século XVIII – ou até de 1950 – ficaria admirado com a quantidade de bens e serviços que a  moderna economia americana fornece e com o número de pessoas com acesso a eles. Comparando com 

 

  qualquer economia passada e com apenas um punhado de outros países do mundo atual, os Estados  Unidos têm um padrão de vida incrivelmente elevado.  Então, nossa economia deve estar fazendo alguma coisa certa, e o viajante do tempo gostaria de  cumprimentar o responsável. Mas adivinhe. Não há nenhum responsável. Os Estados Unidos têm uma  economia de mercado, em que a produção e o consumo são o resultado de decisões descentralizadas  das empresas e dos indivíduos. Não há autoridade central dizendo às pessoas o que produzir e para  onde transportar. Cada produtor individual faz o que acredita ser mais lucrativo; cada consumidor  compra o que escolhe.  A alternativa para uma economia de mercado é uma economia planificada, em que existe uma  autoridade central tomando decisões sobre produção e consumo. Experimentaram‐se economias  planificadas notadamente na URSS entre 1917 e 1991. Mas não funcionaram. Os produtores da URSS  rotineiramente não podiam produzir porque lhes faltava matérias‐primas essenciais ou conseguiam  produzir, mas não encontravam ninguém que quisesse comprar seus produtos. Os consumidores  freqüentemente não conseguiam encontrar itens necessários – economias planificadas são famosas  pelas longas filas nas lojas.  Economias de mercado, entretanto, são capazes de coordenar atividades extremamente complexas e  garantir aos consumidores a oferta dos bens e serviços que desejam. De fato, as pessoas quase sem  pensar confiam suas vidas ao sistema de mercado: os residentes de qualquer grande cidade morreriam  de fome em poucos dias se as ações não‐planejadas, mas de algum modo ordenadas, de milhares de  firmas não fornecessem uma oferta constante de alimentos. Surpreendentemente, o “caos” sem plano  de uma economia de mercado acaba sendo muito mais ordenado do que o “planejamento” de uma  economia planificada.  Em 1776, em uma passagem famosa de seu livro A Riqueza das Nações, o economista escocês Adam  Smith escreveu sobre como os indivíduos, buscando seu interesse próprio, muitas vezes acabam  servindo ao interesse da sociedade em seu conjunto. De um homem de negócios cuja busca de lucro  torna a nação mais rica, Smith escreveu: Ele procura apenas seu próprio ganho e, nisso, como em  muitos outros casos, é levado por uma mão invisível a promover um fim que não estava entre suas  intenções. Desde então, os economistas usam o termo mão invisível para se referir à maneira pela qual  uma economia de mercado consegue domar o poder do interesse próprio em favor do bem da  sociedade.       

 

 

O Poder do Comércio   

A Aparentemente Simples História da Vantagem Comparativa  Todos nós possuímos uma boa compreensão intuitiva sobre o poder do comércio. Em seu nível mais  simples, se você possui algo que eu quero, e eu possuo algo que você quer, fazemos uma troca, e nós  dois levamos vantagem.  Então, se eu sei tricotar e você não sabe, e se você cultiva milho e eu não, obviamente fará sentido para  mim, trocar um dos meus casacos por um pouco de seu milho. Você e eu poderemos discutir o “preço”  – quantas espigas de milho valem um dos meus casacos. O que importa é que, feito o negócio, você  estará mais aquecido e eu poderei finalmente matar minha fome.  O comércio parece simples.  Há quase duzentos anos, David Ricardo descobriu algo que não era tão simples a respeito do comércio,  algo que veio a ser chamado de vantagem comparativa. Essa é uma história que nos levará, juntos, à  exploração dos mistérios do comércio. 

A Ilha do Tesouro  Era uma vez, Pete e Pamela Palmer, de Nova York, NY, que navegavam sozinhos pelos mares do sul em  sua lua de mel. Certo dia, amedrontados pelo céu, que enegrecera subitamente, os Palmers tentavam  conduzir sua pequena embarcação de volta para casa, mas já era tarde demais. Eles se encontravam em  meio a uma terrível tempestade tropical e acabaram sendo arrastados para longe da marina do resort,  onde estavam hospedados. O veleiro virou e o casal chegou com dificuldades a uma ilha, que tinham  conseguido avistar em meio às ondas agitadas e a chuva.  Os Palmers exploraram a ilha. A maior parte dela era rodeada por grandes penhascos. Somente a praia,  por onde haviam chegado, permitia um acesso fácil ao oceano. No centro da ilha havia uma fonte de  água pura. Eles não encontraram sinal algum de habitação humana.  Os Palmers dormiam próximos à praia, assim, poderiam ter o dia inteiro para caçar peixes com uma  lança afiada. Eles encontraram cascas de coco quebradas para buscar água fresca na fonte do centro da  ilha. Eles passavam seus dias pescando e buscando água na fonte, esperando serem resgatados. Porém,  nenhuma ajuda apareceu. 

 

 

A situação não era muito promissora. Pete era um design gráfico de uma famosa agência de publicidade  na cidade de Nova York. Pam era a responsável pela tecnologia da informação na mesma firma. Nenhum  deles era muito preparado para sobreviver em uma ilha.  A viagem de ida e volta ao centro da ilha, onde estava a fonte de água fresca, lhes tomava todo o dia.  Nem Pete, nem Pam, eram capazes de carregar mais do que duas cascas de coco com água para o abrigo  que tinham feito a partir de folhas de palmeiras. E se Pete ou Pam ficasse pescando, um deles, em um  dia inteiro de pescaria, conseguiria pescar apenas dois dos esquivos peixes que se lançavam às águas  rasas.  A pouca caça freqüentemente lhes deixava com fome. Se os dois Palmers pescassem, poderiam  consumir o dobro do número de peixes, mas quando tentaram essa tática, a falta de água lhes trouxe  desidratação e tontura, o que fez com que sua pescaria fracassasse. Tudo que poderiam fazer era tentar  sobreviver até que fossem resgatados.  Certa noite, houve uma tempestade. A chuva caía torrencialmente. Um flash de luz iluminou a praia e o  oceano. Seria uma pessoa, aquilo que lutava contra a água? Eram duas pessoas! Outro casal havia sido  vítima de um naufrágio.  Os Palmers ajudaram os dois jovens a sair da água. Fred e Felicia Fisher, de San Diego, Califórnia,  também em lua de mel, desmoronaram aos pés dos Palmers, exaustos por seu martírio.  Na manhã seguinte, a tempestade tinha passado e os Palmers mostraram aos Fishers o poço de água, os  cantis improvisados com cascas de coco e as varas afiadas que usavam para pescar.  Antes do fim da semana, já era claro que os Fishers estavam mais preparados para viver em uma ilha do  que os Palmers. Os Fishers eram mais altos e mais fortes. Os Palmers notaram que tanto Fred quanto  Felicia poderiam voltar do meio da ilha carregando três cascas de coco de cada vez, ao invés das duas  que qualquer um dos Palmer conseguia carregar sem desperdício. E eles também pareciam ser melhores  pescadores.  Infelizmente, algo mais estava claro para os Palmers. Os Fishers não queriam nada com eles. Qualquer  tentativa de amizade ou cooperação era rapidamente rejeitada. Então, os Palmers continuavam a  trabalhar, esperando pelo resgate e fazendo o melhor que podiam.  Passaram‐se semanas e meses. Certa noite, os Fishers assavam um peixe recheado com ervas, que  plantavam no herbário que conseguiram iniciar por possuírem uma casca extra de coco cheia d’água.  Uma brisa trouxe o aroma delicioso até os Palmers. Pete não gostou nada disso.   

 

“É só um peixe”, disse Pam. “Eu acho que nós estamos perdendo peso,” Pete respondeu. “Eu estou  muito magro?”  “Não.” mentiu Pam. Ele realmente estava mais magro. Ela sabia que estava perdendo peso também.  Suas roupas estavam mais largas do que estavam quando eles chegaram. Era um fato.  “Nós temos que conseguir mais comida,” disse Pete. “Mais proteína. Eu tenho pensado sobre isso nos  últimos dias. Parece que temos três opções e nenhuma delas é muito cativante.”  Pete descreveu as três opções para sua esposa:  1. Saque – atacar os Fishers e roubar alguns de seus peixes.  2. Caridade – implorar aos Fishers por alguns peixes.  3. Investimento – deixar de consumir hoje para consumirmos amanhã – imaginar uma forma de fazer  uma rede ou uma vara melhor.  Eles concordavam que o saque nunca funcionaria. Os Fishers eram maiores e mais fortes. A caridade  estava fora de questão. Os Fishers não pareciam muito benevolentes. O investimento não era viável. No  momento em que encontrassem uma forma de fazer uma rede ou uma lança melhor, já estariam  mortos de fome. Então, o que poderiam fazer?  “Engraçado, você ter mencionado ‘saque,’” disse Pam. É uma palavra tão fora de moda. Eu tive um  professor de economia que até falava bastante sobre saque. Ele dizia que até o nascimento do  capitalismo, o saque era a principal caminho para se progredir. Você golpeava seu vizinho na cabeça e  levava suas coisas. Isso é algo bem interessante sobre o saque. Aparentemente, o saque apenas  rearranja o bolo econômico.”  “Você está certa,” disse Pete, feliz por esquecer seus problemas por um momento e pensar um pouco  sobre o impacto do saque. “O roubo significa mais para mim e menos para o meu vizinho. A quantidade  total não muda.”  “Isso parece correto, porém, meu professor dizia que o roubo, na verdade, faz o tamanho do bolo caso  seja medido corretamente, ser menor.”  “O que você quer dizer com ‘medido corretamente’, perguntou Pete.  “Se seu vizinho pode golpear sua cabeça, você constrói uma cerca, você tranca suas portas, você compra  uma arma. Todas essas coisas fazem parte do bolo econômico, mas elas são o tipo de atividade 

 

 

econômica da qual você não extrai nenhum prazer. São coisas que você faz para manter a parte do bolo  que realmente lhe importa. Então, o bolo verdadeiro, a parte que lhe faz feliz ou lhe proporciona  satisfação é, na verdade, menor. Além disso, se você acha que seu vizinho pode lhe atacar, você não se  importará em fazer seu bolo crescer. É como aquela rede de pescar que você mencionou. Mesmo que  conseguíssemos fazer uma rede antes de morrermos de fome, os Fishers iriam roubá‐la de nós. Então,  por que fazê‐la? O roubo diminui o bolo e o mantém diminuído.”  “Ótimo. Então agora você sabe por que estou deprimido. Nós precisamos de um milagre. Alguém tem  que nos encontrar logo e, considerando o tempo que já estamos aqui, as chances de isso acontecer não  são muito boas.”  “Espere um pouco,” disse Pam, perdida em seus pensamentos.  “O quê?”  “Espere.” Pam permaneceu calada por um momento.   “Tem que haver uma quarta opção.”  “Uma quarta opção? O que você quer dizer?”  “Saquear, pedir, tecer uma rede de pescar. Essas são as três opções. Mas há uma quarta. Eu aprendi isso  nas minhas aulas de economia.”  “Ah, ótimo,” disse Pete. “Deixe‐me adivinhar. Já sei! Vamos fingir que temos mais peixes!” Pete  balançou sua cabeça. Ele tinha tido aulas de economia na faculdade. Um monte de teorias e hipóteses  tolas que tinham pouco a ver com a realidade. Os economistas não eram nada realistas.  “Você está quase lá,” disse Pam. Ela pegou uma vara e começou a fazer marcas na areia. Ela observou as  marcas, então as apagou, começando de novo, fazendo um novo plano.  Pete, também olhava com atenção. As marcas pareciam ser peixes e alguns círculos. O que elas  significavam? Com certeza, algo que Pam entendia. Finalmente, ela fez um sinal. “Isso deve funcionar,”  ela disse a si mesma.  “Que tipo de aula de economia foi essa? Economia egípcia? Isso parece hieróglifos.”  “Não, era uma aula de princípios da economia. Quando você mencionou o saque, isso me lembrou da  coisa mais legal que aprendi naquela aula.” 

 

 

“O quê? Ignorar todas as partes desagradáveis da realidade?”  “Não. Vantagem comparativa. A grande contribuição de David Ricardo à teoria econômica.”  “Eu já ouvi falar disso, Pam. Mas isso não tem a ver com comércio?”  “Tem. Nós vamos fazer comércio com os Fishers e isso vai salvar as nossas vidas.”  Ela fez mais algumas marcas na areia e mostrou a Pete o que ela tinha em mente. Havia muitas frações e  relações para seu gosto, mas ele entendeu a idéia. “Talvez ela esteja certa”, pensou.   Na manhã seguinte, Pam e Pete gastaram metade do dia na viagem para a fonte de água, cada um  encheu duas cascas de coco e as carregaram de volta para casa. Chegaram à praia, onde pescavam e  dormiam, ao pôr do sol, muito tarde para qualquer um deles poder pescar. Pete não conseguia deixar de  pensar que estavam cometendo suicídio ao deixarem de pescar. Especialmente no momento em que  precisavam de mais proteína e não menos. Porém, Pete confiava em sua esposa.  Eles guardaram duas cascas cheias d’água perto de onde dormiam e levaram duas para onde os Fishers  aproveitavam em seu pedaço de praia, observando o pôr do sol.  “Olá”, disse Pam. “Será que vocês estariam interessados em um pouco de água extra?”  “Com certeza”, disse Felicia Fisher. Ela pensou em como seria bom para eles ter um pouco mais de água.  Ela poderia plantar mais algumas ervas. Poderia tomar banho sem precisar caminhar até a fonte e voltar  tarde.  “Peraí, qual é a jogada?”, perguntou seu marido.  “Eu gostaria de fazer uma troca. Duas cascas com água, por quatro peixes.”  “Quatro peixes!” Fred Fisher estava furioso. Ele se levantou. “Quatro peixes! Nós pegamos seis peixes  por dia. Se nós lhe dermos quarto, então…”  “Vocês pescam seis peixes por dia? Isso é maravilhoso. Isso significa…”  “Se nós fizermos esse acordo,” Fred Fisher interrompeu, “nós vamos ficar com dois peixes por dia. E eu  ainda tenho fome depois de comer três peixes em um dia. Então, caiam fora.”  Depois de terem se distanciado um pouco, Pam teve uma idéia.  “Vamos dar essa água de presente para os Fishers.” 

 

 

“Você está louca?”  “Não, acho que não.” E, mais uma vez, Pam explicou o que ela estava pensando. Enquanto os Fishers  aproveitavam o pôr do sol, os Palmers deixaram a água na entrada da cabana deles. No dia seguinte,  fizeram a mesma coisa. E no seguinte também, porém, na terceira vez, já estava escuro. Eles tiveram  que andar mais devagar do que de costume – eles estavam fracos de fome.  Porém, no terceiro dia, enquanto deixavam a água para os Fishers, encontraram Felicia Fisher.  “Aqui está,” ela disse, estendendo seus braços. Ela entregou à Pam quatro peixes, embrulhados em  folhas, para mantê‐los frescos. “Aproveitem. Vocês foram mais inteligentes que nós.”  Os Fishers continuaram a fazer a troca diariamente, aceitando duas águas por quatro peixes. Isso  acabou se tornando um bom negócio para as duas famílias. A oportunidade da troca mudou a forma  pela qual os Fishers e os Palmers passavam seus dias.  Após o início das trocas, os dois Fishers iam pescar e pegavam 12 peixes. Após darem quatro aos  Palmers, em troca de duas águas, eles ainda ficavam com oito peixes, dois a mais do que costumavam  ter quando eram auto‐suficientes.   Eles tinham um coco de água a menos, mas poderiam sobreviver com dois cocos de águas por dia. Suas  ervas morreram. Porém, ter oito peixes simples todos os dias era melhor do que seis um pouco mais  gostosos.  Os dois Palmers saíam para buscar água todos os dias. Após darem duas águas para os Fishers, eles  conseguiam quatro peixes, dois a mais do que tinham quando eram auto‐suficientes. 

A Vantagem Comparativa  A lição da história é que os Fishers possuem uma vantagem comparativa na pesca. Embora sejam  melhores que os Palmers tanto na coleta da água quanto na pesca, os Fishers possuem maior vantagem  comparativa na pesca. Eles são relativamente melhores pescando do que são buscando água, em  comparação com os Palmers.   Note que há dois sentidos de comparação da frase anterior – nós estamos comparando a pesca com a  coleta da água, e os Fishers com os Palmers. A vantagem comparativa não tem significado algum em um  mundo onde exista apenas um bem ou em uma economia onde só exista uma família. 

 

 

Porém, a complicada natureza da “vantagem comparativa” também nos traz confusão, quando pessoas  dizem coisas como “a lição da vantagem comparativa é fazer o que você faz de melhor” ou “a lição da  vantagem comparativa é fazer o que você faz ‘relativamente bem’”. O que exatamente significam essas  afirmações? Como se aplicam de uma forma geral ao comércio internacional, em um mundo com tantas  nações e tantos bens e serviços?  A forma mais fácil de compreender a lição da vantagem comparativa é ver que há duas formas pelas  quais os Palmers podem conseguir os peixes, a forma direta e a forma indireta. A forma direta é pescar.  A forma indireta é ir buscar água e trocá‐la por peixe. Qual é a melhor? Depende de qual forma é a mais  barata. Se os Palmers pescam, eles devem sacrificar quatro águas em favor de quatro peixes. Se os  Palmers comercializam com os Fishers, só lhes custariam duas águas, os quatro peixes. A forma indireta  é mais barata para os Palmers.  Para os Fishers, a lógica é oposta. Mesmo sendo melhores que os Palmers na coleta de água, é mais  barato para os Fishers obter água a partir da pesca, trocando‐a por seus peixes. E é mais barato para os  Fishers obterem peixes pescando, de forma direta. Não haveria uma forma pela qual os Fishers  obtivessem água diretamente e ainda pudessem fazer algum comércio com os Palmers, que resultasse  em vantagem às duas famílias.  Um visitante, chegando à ilha para resgatar as duas famílias, veria uma família que era boa na pesca e  outra que era boa na coleta da água. A situação se pareceria com aquela que eu contei no começo desse  ensaio – se você é bom no plantio do milho e eu sou bom no tricô, nós poderíamos trocar casacos por  milhos. Então, os Fishers trocavam alguns de seus peixes por um pouco da água dos Palmers. Porém, o  visitante estaria, claramente, negligenciando o fenômeno que estava acontecendo na realidade. O que o  visitante vê mascara o que está realmente acontecendo.  Mesmo um visitante que descobrisse a história da ilha poderia se enganar sobre o poder da  especialização. Nós geralmente pensamos nos ganhos da especialização como se viessem da melhora no  desempenho de uma tarefa a partir de sua repetição constante. Porém, ninguém na ilha melhorou seus  trabalhos.  Então, de onde vieram os peixes extras? Mesmo no mais simples dos mundos, nesse mundo da Ilha  Deserta, onde duas famílias trocam entre si dois bens, as coisas não são simples. E quais são as lições da  vantagem comparativa no mundo real, no mundo onde vivemos, onde há milhões de nós trocando  milhões de bens e serviços através de fronteiras internacionais, um mundo onde empregos são  destruídos e criados, ao invés de serem apenas realocados, como são na Ilha Deserta, um mundo onde  as regras do comércio são estabelecidas pelos mercados, ao invés de serem definidas em uma 

 

 

negociação entre duas partes em apuros? Seria a simples lição ricardiana da vantagem comparativa  alguma coisa além de um bom exemplo retirado de livros que gera questões complicadas em provas?   

 

                               

   

 

 

O custo de Oportunidade    Um dos grandes desafios para um economista é explicar o que ele faz da vida. As pessoas entendem que  uma  das  coisas  que  um  professor  de  economia  faz  é  ensinar  economia.  Mas  o  que  seria  isso,  exatamente?  A  maioria  presume  que  seja  algo  que  tenha  a  ver  com  investimentos  e  administração  financeira. Certa vez, conversando dentro de um avião, disse a uma senhora que eu era economista. Ela  respondeu, ‘que vergonha, meu marido ama o mercado de ações’. Hmm… Eu não contei para ela que,  com  a  exceção  das  vantagens  dos  fundos  mútuos  e  indexados  de  investimento,  não  sei  nada  sobre  o  mercado de ação.  Minha companheira de viagem poderia ter se beneficiado da leitura de Alfred Marshall, que chamou a  economia de “o estudo da humanidade na condução de seus negócios cotidianos”. Essa foi a tarefa de  Marshall,  de  Adam  Smith,  de  Friedrich  Hayek  e  Milton  Friedman:  eles  tentaram  entender  o  que  as  pessoas faziam e as implicações de seu comportamento para a sociedade como um todo.  Porém, minha definição de economia favorita é uma variante da de Marshall. Ela vem de um estudante  que a ouviu de outro professor: a economia é o estudo de como se extrair o máximo da vida. Eu gosto  dessa definição porque ela chega ao verdadeiro coração da economia – as escolhas feitas por nós, dado  que não podemos ter tudo o que queremos. A economia é o estudo dos desejos infinitos e dos meios  finitos, o estudo das escolhas limitadas. A afirmação é verdadeira para indivíduos e governos, famílias e  nações.  Thomas  Sowell  disse  o  mesmo,  mas  de  uma  forma  melhor:  não  existem  soluções,  apenas  dilemas. Para extrair o máximo da vida, para pensar como um economista, você deve saber do que você  está abrindo mão para conseguir outra coisa. É isso que custo de oportunidade significa:  Custo de oportunidade é aquilo que você abre mão para obter alguma outra coisa.  O que poderia ser mais direto? Se você quer uma coisa, deve abrir mão de outra. A idéia acaba sendo  um pouco mais sutil do que pareceria à primeira vista. Vamos olhar um pouco mais de perto.  Milton  Friedman  costumava  dizer  que  a  economia  é  simples.  Tudo  que  você  deveria  lembrar  é  que  a  demanda  é  negativamente  inclinada  e  que  nada  é  de  graça.  A  parte  complicada  é  a  aplicação  dessas  duas  idéias  simples.  Quando  Friedman  disse  que  nada  era  de  graça,  ele  quis  dizer  que  tudo  tinha  um  custo. Pensemos no famoso almoço grátis, que Friedman mostrava, satisfeito, que não existia. Suponha  que eu o convide para um almoço por minha conta – eu prometo pagar e mantenho minha promessa. O  almoço será grátis para você, certo? Não, diz o economista. 

 

 

Economista:  Hoje,  não  há  custo  monetário.  Mas  há  a  expectativa  de  que  você  irá  retribuir  o  favor  e  pagar um almoço no futuro.  Você (que acredita no almoço grátis): Mas você ainda não percebeu que eu não sou uma pessoa legal.  Não planejo retribuí‐lo e vou manter minha palavra. O almoço de hoje foi grátis.  Economista: Não. Mesmo que você não planeje retribuir, a culpa por ter sido um aproveitador já é um  custo.  Você: Você não imagina como eu sou uma pessoa ruim. Eu não tenho consciência. Vou ter um almoço  grátis.  Economista: Na verdade, não vai. Você vai ter que me ouvir falar enquanto comemos.  Você: Eu não vou ouvir. Vou estar sonhando com  minhas próximas férias. Eu vou só fingir que presto  atenção.  Economista: Ainda assim não será grátis. O custo de almoçar comigo, mesmo quando eu pago, mesmo  quando você não planeja retribuir e mesmo quando só eu falo e você ignora, é o prazer que você teria  tido,  caso  escolhesse  fazer  outra  coisa.  O  que  quer  que  seja  que  você  tenha  deixado  de  fazer  para  almoçar  comigo.  Não  apenas  o  dinheiro.  Não  apenas  o  seu  tempo.  Mas  o  valor  ou  prazer  que  você  obteria se tivesse feito outra coisa.  Então, uma das chaves para se pensar como um economista é sempre se lembrar de que tudo tem um  custo. Essa pode ser uma razão pela qual os economistas não têm tantos amigos quanto poderiam ter.  Às  vezes,  as  pessoas  se  mantêm  felizes,  se  segurando  na  ingênua  visão  de  que  existe  algo  grátis.  Nós  gostamos de uma pechincha. Ninguém quer ouvir falar dos custos escondidos e dos custos que não são  óbvios.  Pensar  sobre  oportunidades  perdidas  e  escolhas  que  não  fizemos  pode  nos  levar  ao  arrependimento.  Escolher essa universidade significa que você não poderá ir  para aquela  outra. Casar  com  essa  pessoa  significa  não  casar  com  aquela.  Escolher  essa  sobremesa  (geralmente)  significa  não  escolher aquela outra. Às vezes, as pessoas querem comer o bolo e a sobremesa, sem serem lembrados  de que perderam uma espetacular fatia de torta.  Tudo  isso  é  verdade.  Mas  se  você  quiser  obter  o  máximo  da  vida,  deve  levar  em  conta  o  custo  de  oportunidade, as alternativas negligenciadas. É melhor fazer boas escolhas e aprender a conviver com  elas  do  que  fazer  más  escolhas  e  viver  sob  a  feliz  ignorância  que  leva  à  ruína.  Aqui  estão  algumas  aplicações de como a compreensão do custo de oportunidade pode nos ajudar a extrair o máximo da  vida. 

 

 

O custo real da faculdade  Qual  é  o  custo  real  da  faculdade?  A  parte  óbvia  do  custo  da  universidade  é  o  aprendizado.  Não  é  a  moradia,  nem  as  refeições,  já  que  esses  custos  você  teria  de  qualquer  forma.  Porém,  o  custo  de  oportunidade inclui os salários perdidos dos empregos que você teria tido ‐ caso não tivesse ido para a  universidade.  Essa  é  uma  das  razões  que  nos  faz  ir  para  a  faculdade  enquanto  somos  jovens,  sem  experiência alguma no mercado de trabalho – nossos salários são relativamente baixos, assim os ganhos  desperdiçados por nossa ida para a universidade são menores. 

O retorno de seus investimentos  Os  economistas  sabem  alguma  coisa  sobre  o  mercado  de  ações.  Se  você  me  disser  que  você  tem  um  grande histórico de investimentos, eu vou querer saber: comparado a quê? Um administrador de uma  companhia de investimentos que ganhou 12 por cento no ano passado para seus investidores pareceria  ter tido um ano espetacular. Porém, as companhias de investimento indexadas ao S&P 500, ganharam  mais  de  15  por  cento.  Se  ambos  os  fundos  possuíam  um  nível  de  risco  similar,  aquele  administrador  obteve  um  retorno  negativo  de  3  por  cento.  Da  mesma  forma,  mantendo  seus  recursos  em  dinheiro  significa abrir mão da oportunidade de investi‐lo. O custo de oportunidade do dinheiro é o retorno que  você poderia obter ao investi‐lo. 

Propriedade Imobiliária e melhoras em sua propriedade  Corretores  imobiliários  gostam  de  afirmar  que  um  imóvel  é  um  grande  investimento.  O  valor  de  seu  imóvel  aumenta  e  você  ainda  pode  morar  lá.  Às  vezes,  ambas  as  afirmações  são  verdadeiras.  Mas  o  aumento do valor de uma casa não é o suficiente para fazer dela um bom investimento (ou uma razão  para se comprar uma casa grande, sob o argumento de que, já que ela vai se valorizar, então é melhor  fazer  um  investimento  maior).  Proprietários  de  imóveis  gostam  de  saborear  os  valores  pelos  quais  venderam  suas  casas  em  comparação  ao  que  pagaram  anteriormente.  Quando  medem  o  lucro,  eles  raramente subtraem os custos monetários diretos – os reparos, os impostos e as taxas e comissões de  advogados,  corretores  imobiliários  e  agências  governamentais.  Mas  eu  nunca  conheci  um  vendedor  orgulhoso  de  Boston,  Washington  ou  Los  Angeles,  que  tenha  calculado  as  oportunidades  de  investimento  que  perderam,  ao  investirem  o  valor  do  sinal  e  dos  pagamentos  das  parcelas  de  um  financiamento durante toda a vida para comprar uma casa.  Da mesma forma, corretores imobiliários (e construtores) gostam de lhe dizer que reformar sua cozinha  é uma boa idéia, pois você terá esse dinheiro de volta, por meio do preço que você adicionará quando  for vender sua casa. Então, a cozinha será grátis! E, nesse meio tempo, você ainda aproveita os prazeres 

 

 

daquela  cozinha.  Essa  lógica  é  boa,  se  você  obtiver  dessa  cozinha  prazer  suficiente  para  compensar  o  custo  de  oportunidade  de  comprometer  seu  dinheiro  em  móveis  e  granitos  e  abrir  mão  do  lucro  que  você poderia ter obtido fazendo qualquer outra coisa com o dinheiro.  Há um aspecto da propriedade imobiliária e do custo de oportunidade que é particularmente delicado.  Suponha que sua casa se valorize. Você poderia vendê‐la e se mudar para uma casa menor ou para um  bairro diferente. Mas você decide ficar. A valorização da sua casa significa que ficou mais caro viver nela.  Mas esse aumento no custo, sendo um custo de oportunidade ao invés de ser um custo direto, em seu  bolso,  não  significa  que  você  sua  situação  está  pior.  Na  verdade,  é  um  sinal  de  que  você  está  em  um  estado melhor – uma propriedade sua se valorizou e seu patrimônio aumentou, pelo menos enquanto o  imóvel  permanecer  valorizado.  O  custo  de  oportunidade  é  diferente  daquilo  que  coloquialmente  pensamos como um custo, o que geralmente significa pagamento monetário. O custo de oportunidade  guia a tomada de decisão racional. Porém, um aumento nos custos não necessariamente significa que  você esteja em pior situação do que estava antes. 

Não dá para recuperar custos irrecuperáveis. Custos históricos viraram  história  O custo de oportunidade é um conceito progressivo. Se meu carro quebra, eu o conserto e ele quebra  novamente,  a  decisão  de  consertá‐lo  mais  uma  vez  é  independente  dos  custos  do  primeiro  reparo.  É  irracional pensar que eu tenho que consertá‐lo apenas porque já coloquei muito dinheiro no carro – se  não  consertá‐lo,  perderei  todo  o  dinheiro  já  investido.  Eu  já  perdi  o  dinheiro  do  primeiro  conserto.  Agora, eu devo me perguntar apenas se os novos reparos valerão à pena.  Uma variação no argumento do “custo irrecuperável” (sunk costs) é a irrelevância dos custos históricos.  Quanto um vendedor pagou por uma casa há vinte anos tem pouco efeito no preço de mercado atual.  Reclamar  por  um  vendedor  estar  cobrando  um  preço  exorbitante,  comparado  ao  preço  pago  originalmente, garante apenas que você terá problemas para encontrar alguém que lhe venda uma casa  que esteja dentro de seus padrões de preço justo. Por outro lado, explicar a um potencial comprador ‐  em  um  mercado  imobiliário  que  passou  por  um  colapso  ‐  que  seu  preço  está  alto  porque,  no  fim  das  contas,  você  pagou  caro  por  seu  imóvel,  e  que  é  justo  que  você  recupere  seu  investimento  e  tenha  algum  lucro,  talvez  não  seja  a  melhor  estratégia  para  vender  a  sua  casa.  O  preço  de  mercado  não  se  importa com a história.  Os custos de reposição são mais relevantes do que os custos históricos. Se um amigo lhe presenteia com  um Van Gogh em seu casamento e, alguns anos depois, um convidado seu, bêbado, enterra uma faca no 

 

 

quadro após perder o equilíbrio, seu convidado não lhe pediria para deixar pra lá, já que o quadro fora  apenas um presente e você não pagou nada por ele. 

Autosuficiência versus contar com os outros  Talvez  a  aplicação  mais  importante  do  custo  de  oportunidade  seja  a  decisão  de  fazer  as  coisas  você  mesmo, em contraste com contratar alguém para fazer esse serviço. Fazer você mesmo, quase sempre,  é  mais  barato  e  pode  até  ser  divertido.  Porém,  o  custo  de  se  fazer  algo  sozinho  é  o  valor  das  outras  coisas  que  você  poderia  ter  feito  naquele  tempo  e  não  fez.  Aquelas  outras  coisas  podem  incluir  trabalhar em um emprego de meio‐expediente ou prestar consultoria, o que significa que você abriria  mão de algum dinheiro. Então, decidir fazer você mesmo poderá lhe custar muito no sentido monetário.  Mas os custos não monetários também podem ofuscar os custos monetários. O tempo que você gasta  pintando  sua  casa  é  o  tempo  que  você  não  gasta  lendo  para  os  seus  filhos,  passando  o  dia  com  sua  esposa ou fazendo serviço voluntário no seu bairro.  Em última análise, qualquer coisa que se aproxime da autosuficiência verdadeira é um caminho para a  pobreza. Um auto‐suficiente entusiasmado pode trocar o próprio óleo, assar o próprio pão e construir  uma  estante  em  seu  porão.  Mas  não  forjará  seu  próprio  aço  e  não  montará  seu  próprio  carro.  Não  semeará seu  próprio trigo ou moerá sua farinha. Não cortará a árvore e não aplanará a madeira para  aquela estante. E mesmo que o fizesse, precisaria comprar a serra. Não poderia fazer tudo sozinho.  Ao nos especializarmos em uma pequena quantidade de habilidades e ao vendermos nossa capacidade  no mercado,  contando  com as habilidades de outros indivíduos  que também possuem especialidades,  criamos  muito  daquilo  que  chamamos  especialização.  Nós  nos  especializamos  porque  os  custos  da  autosuficiência são altos demais.  De todas as restrições que enfrentamos, as restrições das 24 horas do dia e do tempo finito de vida são  inescapáveis.  Extrair  o  máximo  da  vida  significa  usar  esse  precioso  tempo  com  sabedoria.  Usar  esse  tempo com sabedoria significa usar e compreender o conceito de custo de oportunidade.               

 

Preços    Meus  três  filhos,  com  idades  entre  sete  e  doze  anos,  sofrem  de  um  distúrbio  que  já  foi  descrito  pelo  economista John Baden como ferronite ‐ a paixão por tudo que seja feito de metal. Eles são fascinados  por carros, caminhões, escavadeiras, tratores... enfim, você já consegue ter uma idéia. Outro dia, meu  filho do meio sugeriu que meu próximo carro fosse um conversível. Eles são muito caros, respondeu seu  irmão e mencionou que um conversível de um modelo em particular custava US$ 10.000 a mais que sua  versão comum. Mas por que eles são mais caros, seu irmão perguntou?  É uma boa pergunta. Por que os conversíveis são mais caros do que os não conversíveis? Por que um  scotch de 21 anos é mais caro do que um scotch de 10 anos? Por que os pimentões vermelhos são mais  caros  que  os  pimentões  verdes?  Por  que  os  empregados  do  Wal‐Mart  ganham  menos  do  que  um  trabalhador médio nos Estados Unidos? Por que a gasolina é mais cara no verão do que no inverno? Por  que a gasolina é mais cara na Europa do que nos Estados Unidos? Por que as rosas são mais caras no dia  12  de  junho?  Por  que  a  cerveja  não  é  mais  cara  no  domingo  do  Super  Bowl?  Por  que  as  casas  nos  subúrbios de Washington, DC são mais caras que as casas nos subúrbios de Richmond, Virgínia?  As respostas a essas perguntas acabam sendo um  pouco complicadas do que parecem. Mas ignore as  respostas, por enquanto. Apenas perceba que você pode perguntar. Há certa previsibilidade nos preços.  Há  uma  ordem.  Isso  não  precisava  acontecer  assim.  Os  preços  poderiam  existir  em  uma  desordem  aleatória,  altos  num  dia,  baixos  no  outro.  Em  certos  dias,  ingressos  de  cinema  custariam  mais  do  que  camisas  convencionais  de  oxford,  laranjas  custariam  mais  do  que  um  copo  de  leite.  Mas  qual  seria  a  origem dessa ordem? De onde vêm os preços?  À primeira vista, a resposta parece óbvia. O vendedor estabelece o preço. Mas se você já tiver tentado  alguma vez vender qualquer objeto, saberá que as coisas não acontecem exatamente dessa forma. Se  você quer vender sua casa, claro, você é livre para escrever o número que desejar na tabela. Afinal de  contas, cada casa é única. Sendo assim, você só precisaria encontrar alguém que ame sua casa, alguém  que  ame  o  terraço  que  você  construiu,  a  forma  que  você  reformou  a  cozinha  ou  o  jardim  ‐  ou  as  centenas de outras coisas que fazem uma casa ser especial. De acordo com essa mentalidade, você pode  pedir um preço alto por sua casa, já que você precisa apenas que alguém aceite pagar esse preço.  Porém,  você  descobrirá  sem  demora  que,  se  cobrar  um  preço  muito  alto  por  sua  casa,  você  não  a  venderá, mesmo que aconteça de alguém que ame sua cozinha pintada de roxo entrar por acaso em sua  casa.  Essa  pessoa  que  ama  sua  casa,  que  está  disposta  a  pagar  500  mil,  ainda  assim,  não  a  comprará  caso exista uma casa que seja quase tão boa quanto a sua por 300 mil. Enquanto o valor extra de sua 

 

 

casa ‐ na visão do potencial comprador ‐ for menor que 200 mil, em comparação com a outra casa, você  terá  problemas.  Sua  casa  não  será  vendida.  As  pessoas  não  pagam  exatamente  o  quanto  estão  propensas  a  pagar,  a  não  ser  que  não  haja  alternativas.  E  quando  há  a  possibilidade  de  escolha,  as  pessoas possuem alternativas. A competição protege o comprador, mas também protege  o vendedor.  Você  pode  estar  inclinado  a  vender  a  sua  casa  por  100  mil,  mas  não  precisa  vendê‐la  por  esse  preço,  caso haja casas similares à sua sendo vendidas por 300 mil.  Os  vendedores  e  os  corretores  imobiliários  compreendem  que  uma  casa  está  competindo  com  outras  casas,  mesmo  aquelas  que  não  sejam  tão  boas  quanto  a  sua  ou  mesmo  aquelas  que  são  muito  melhores.  Assim,  os  vendedores  e  corretores  buscam  o  preço  das  “comparáveis”:  casas  na  mesma  vizinhança,  com  o  mesmo  número  de  quartos,  com  terrenos  de  tamanho  semelhante,  com  aproximadamente  a  mesma  área  construída,  com  aproximadamente  o  mesmo  charme  ‐  um  atributo  subjetivo, mas real.  Mas se o preço de sua casa é determinado pelo preço das casas comparáveis, então o que determinaria  o preço dessas casas comparáveis? O processo parece circular. Parece um castelo de cartas! O que faz  com que o mercado de imóveis permaneça de pé?  Uma resposta seria que, para um bem em particular, de uma qualidade particular – digamos, uma casa  de  quatro  quartos  em  um  subúrbio  arborizado  de  Washington,  em  um  distrito  com  boas  escolas,  em  uma rua quieta com um terreno espaçoso – o preço se adapta para equiparar a quantidade de pessoas  que desejam comprá‐las com a quantidade de pessoas que desejam vendê‐las.  Os  preços  se  adaptam  para  equiparar  o  quanto  as  pessoas  desejam  comprar  um  bem  ao  quanto  as  pessoas desejam vender esse bem.  Caso as pessoas queiram comprar mais do que queriam anteriormente, os preços sobem. Se as pessoas  desejam vender mais do que desejavam anteriormente, os preços caem.  Oferta e demanda. Os compradores competem entre si e os vendedores também competem entre si.  Os preços que observamos emergem dessa competição.  A  resposta  simples  da  oferta  e  da  demanda  é  uma  resposta  estranha,  já  que  presume  que  você  pode  falar sobre um bem com uma qualidade particular. No mundo real, todo bem possui uma mistura única  de atributos. Mesmo quando dois bens são idênticos fisicamente, quase sempre, os acompanham níveis  diferentes de serviço. 

 

 

É  uma  resposta  estranha  por  presumir  que  você  pode  falar  sobre  um  único  preço,  “o”  preço  de  uma  camisa  comum,  100%  algodão,  ou  de  um  confortável  sedan  de  quatro  portas,  que  percorre  aproximadamente  12km  por  litro,  ou  daquela  casa  de  quatro  quartos  no  subúrbio.  No  mundo  real,  existem  preços  múltiplos  para  o  mesmo  bem.  Existem  as  barganhas.  Existem  as  liquidações.  Tanto  os  vendedores quanto os compradores, aparentemente, cometem erros, vendendo bens por muito pouco  ou pagando demais por eles.  É uma resposta estranha porque o desejo das pessoas e suas situações, sua renda e suas alternativas,  estão  mudando  constantemente,  e,  dessa  forma,  a  quantidade  que  as  pessoas  querem  comprar  e  vender  nunca  pode  ser  medida  instantaneamente.  Mesmo  que  você  possa  falar  sobre  “o”  preço,  ele  está mudando constantemente.  É  uma  resposta  estranha,  porque  parece  necessitar  de  muita  informação.  Caso  contrário,  como  você  poderia saber como estabelecer um preço, caso você seja o vendedor, ou como decidir pagar ou não o  preço que o vendedor está pedindo, caso você seja o comprador?  A estranheza da oferta e da demanda leva alguns a concluir que só se aplicam a casos especiais, de um  produto homogêneo, onde exista um número de vendedores quase infinito e onde existam informações  perfeitas a respeito da qualidade do bem, das alternativas e de seus preços. Segundo essa visão, a oferta  e a demanda não poderiam ser aplicadas ao trigo. Talvez.  A visão alternativa é que a oferta e a demanda devem ser irreais. Caso contrário, não haveria uma forma  de  se  compreender  o  grande  número  de  transações  que  estão  acontecendo  constantemente.  Um  retrato  realista  do  que  acontece  no  mercado  imobiliário  de  Washington  DC  teria  de  narrar  a  singularidade de cada transação. Isso não seria apenas impossível, mas seria também não informativo. E  qual seria a relação entre todas essas transações?  A oferta e a demanda é uma forma de se enxergar a relação que elimina quase tudo, exceto o fato de  que o que as pessoas desejam pagar ou o que elas devem pagar depende das alternativas. Pela oferta e  demanda  encontramos  uma  forma  de  organizar  nosso  pensamento  sobre  essa  coisa  peculiar  que  os  economistas chamam de mercado e competição. Vamos colocar isso em ação sem usar gráficos, e ver o  que enxergamos. 

As Duas lâminas da tesoura  Uma  das  virtudes  mais  importantes  da  oferta  e  da  demanda  é  que  elas  lhe  forçam  a  lembrar  o  que  Alfred  Marshall  chamou  de  as  duas  lâminas  da  tesoura.  Com  poucas  exceções,  tanto  compradores,  quanto vendedores desempenham um papel na determinação dos preços. Por incrível que pareça, isso é 

 

 

fácil de ser esquecido. Quando meu filho me perguntou por que os conversíveis são tão caros, o irmão  dele explicou que as pessoas gostam muito deles ‐ o lado da demanda na equação. Mas essa pode não  ser toda a história ou mesmo a maior parte dela. Com certeza, existem muitas pessoas que vivem em  climas  frios  e  chuvosos,  ou  mesmo  em  climas  quentes  demais,  e  que  não  gostariam  tanto  assim  de  dirigir um conversível. Então, por que eles são tão caros? Porque são mais caros de se fabricar, por conta  do  mecanismo  que  permite  ao  conversível  recolher  o  teto.  Os  conversíveis  só  podem  existir  se  seus  preços forem mais altos que os não‐conversíveis. Se as pessoas gostassem se carros que não possuíssem  qualquer tipo de teto, eles seriam mais baratos e não mais caros do que os carros com teto.  Uma  lógica  similar  se  aplica  aos  pimentões  vermelhos  e  verdes.  Por  que  os  pimentões  vermelhos  sempre são mais caros do que os verdes? Por que deveria haver qualquer relação entre os dois preços?  Os pimentões verdes são utilizados, geralmente, em cozinhas industriais, por seu forte sabor. Eles não  deveriam, então, ser mais caros? Acontece que um pimentão vermelho é um pimentão verde maduro.  Um vendedor sempre prefere receber o dinheiro hoje, a receber o dinheiro amanhã, porque o dinheiro  recebido  hoje  pode  ser  investido  enquanto  se  lucra  com  os  juros  nesse  meio  tempo.  Assim,  se  os  pimentões  verdes  e  vermelhos  fossem  vendidos  ao  mesmo  preço,  nenhum  vendedor  iria  fornecer  pimentões  vermelhos.  Dessa  forma,  os  pimentões  vermelhos  devem  ser  vendidos  por  mais.  Eles  só  existem  no  mercado  porque  algumas  pessoas  os  preferem  ao  invés  dos  verdes.  Mas  para  estarem  disponíveis, para os vendedores fornecê‐los, eles terão de ser vendidos por um preço maior. 

O Ajuste dos Preços  Os preços se ajustam. Eles não são fixos. A oferta e a demanda nos ajudam a lembrar disso.  Considere os impostos sobre a folha de pagamento. Eles são estruturados nos Estados Unidos de forma  a  serem  distribuídos,  igualmente,  entre  o  empregado  e  o  empregador.  O  que  aconteceria  se  todos  os  impostos fossem pagos pelo empregador? Isso, aparentemente, beneficiaria os empregados. Mas essa  hipótese  supõe  que  os  salários  não  mudariam  quando  o  encargo  legislativo  dos  impostos  mudasse.  Porém,  os  salários  são  o  preço  do  trabalho.  E  o  preço  do  trabalho  se  adapta  de  forma  a  equiparar  a  quantidade de trabalho que os trabalhadores desejam vender com a quantidade que os empregadores  desejam comprar.  Todo  imposto  possui  um  impacto  sobre  compradores  e  vendedores,  mas  esse  impacto  não  é  descrito  pela legislação. Um imposto sobre os compradores de trabalho causará a queda dos salários. Então os  empregados pagam parte dos impostos, mesmo se a legislação decretar que tudo deverá ser pago pelos  empregadores.  Um  imposto  sobre  os  vendedores  de  veículos  aumentará  o  preço  dos  veículos.  Os 

 

 

compradores de carros pagam parte do imposto na forma de preços maiores, mesmo que a legislação  coloque todo o imposto sobre o vendedor.  Se a legislação colocasse todo o imposto sobre a folha de pagamento a cargo dos empregadores, o custo  maior para os empregadores reduziria a quantidade de trabalho que desejam empregar. E isso abaixa os  salários.  Na  verdade,  os  salários  devem  cair  na  mesma  intensidade  em  que  sobem  impostos  sobre  os  empregadores.  Da  mesma  forma,  se  o  imposto  fosse  colocado  completamente  a  cargo  dos  trabalhadores,  a  oferta  de  trabalho  cairia  e  os  salários  cresceriam  para  compensar  o  aumento  no  imposto.  Similarmente,  o  aumento  dos  impostos  sobre  os  ricos  não  tem  o  efeito  pretendido  de  reduzir  o  vão  entre  ricos  e  pobres.  A  cobrança  de  impostos  sobre  os  ricos  leva  a  um  aumento  de  salários  entre  trabalhadores  altamente  qualificados,  compensando  um  pouco,  ou  todo,  o  aumento  da  carga  fiscal.  Benefícios compulsórios para trabalhadores de baixos salários nem sempre atingem o objetivo da maior  igualdade,  porque  esses  benefícios  compulsórios  encorajam  mais  trabalhadores  a  trabalhar,  mas  desencorajam  empregadores  a  contratá‐los.  Assim,  os  salários  caem,  equilibrando  um  pouco,  ou  completamente, o aumento do bem‐estar que os legisladores e seus partidários pudessem ter pensado. 

A emergência de um modo diferente de se ver as coisas  Finalmente,  a  oferta  e  a  demanda  nos  ajudam  a  ver  as  coisas  de  uma  forma  totalmente  diferente.  É  bizarro  que  militantes  dêem  crédito  ou  culpem  o  presidente  pelo  nível  médio  dos  salários  ou  pela  desigualdade  no  país.  Se  os  salários  estão  subindo,  o  presidente  irá  se  vangloriar  por  todos  os  bons  empregos  que  a  economia  está  criando.  Se  os  salários  estão  caindo,  então  os  críticos  do  presidente  culpam o presidente. Mas o nível dos salários nos Estados Unidos não está sob o controle do presidente.  É  um  fenômeno  emergente  que  surge  das  escolhas  feitas  pelas  pessoas  acerca  de  quanta  educação  possuir,  quantas  horas  irão  trabalhar  e  a  mistura  da  satisfação  monetária  e  não  monetária  que  as  pessoas escolhem em trabalhos variados.  O presidente não controla os salários de um país mais do que controla o peso médio dos cidadãos. Ele  pode influenciá‐los através de várias políticas que afetam os incentivos que dispõem os trabalhadores e  empregadores. Mas sua mão não paira sobre o botão que ajusta os salários, bem como não está sobre o  botão  que  controla  o  peso  das  pessoas.  Como  mostram  os  exemplos  acima,  muitas  políticas  que  um  presidente ou um legislador pode propor para melhorar algo são, freqüentemente, compensadas pelas  forças do mercado. 

Disponível por um preço   

 

Um das idéias mais simples que vem da oferta e da demanda é a da disponibilidade de bens no mercado.  Quando  as  pessoas  querem  uma  maior  quantidade  de  algo,  a  parte  mais  entusiasmada  dos  consumidores  raramente  esgota  a  oferta.  Os  preços  se  ajustam  para  equiparar  o  quanto  as  pessoas  desejam  comprar  a  quantas  pessoas  desejam  vender.  Então,  se  as  pessoas subitamente  desejam  uma  maior  quantidade  de  algo,  esse  produto  não  desaparecerá  simplesmente.  O  preço  aumentaria,  induzindo um aumento da disponibilidade do produto. Como Henry George apontou:  ”Eis uma diferença entre o animal e o homem. Tanto o abutre quanto o homem comem galinhas. Assim,  quanto  mais  abutres,  menos  galinhas.  Por  outro  lado,  quanto  mais  homens  existirem,  mais  galinhas  existirão. Tanto a foca quanto o homem comem salmões, porém, quando uma foca come um salmão, há  um salmão a menos, e se o número de focas crescer além de certo ponto, a quantidade de salmão deve  diminuir. Por outro lado, ao colocar as ovas de salmão sob condições favoráveis, o homem pode, dessa  forma,  aumentar  o  número  de  salmões  em  razão  maior  do  que  aquela  que  pescamos,  assim,  não  importa  o  quanto  a  quantidade  de  homens  possa  vir  a  aumentar,  esse  aumento  não  ultrapassará  a  oferta de salmão”. [Progresso e Pobreza, Livro II, Capítulo 3, par. II.III.5.]  Porque  os  preços  possuem  a  capacidade  de  se  ajustar,  as  prateleiras  raramente  estão  vazias  em  uma  economia de mercado. Enquanto você desejar pagar por algo, você o terá. Às vezes, você terá de pagar  um  pouco  mais.  Às  vezes,  um  pouco  menos,  já  que  as  circunstâncias  mudam.  Mas  você  poderá  encontrar o que precisa. Isso não faz a vida ser mais simples apenas para aqueles entre nós que gostam  de salmão, isso também significa que você pode se especializar e confiar nos outros para a maioria das  coisas que você deseja, sabendo que o mercado fará com que elas estejam disponíveis. 

A advertência  Nem todos os preços são determinados no ambiente que os livros chamam de mercados perfeitamente  competitivos. A oferta e a demanda são ferramentas pobres para a previsão precisa dos níveis exatos  dos  preços.  Qualquer  transação  individual  pode  se  desviar  do  preço  exato  por  causa  de  erros  ou  emoções.  Em  muitos  mercados,  um  grande  comprador,  ou  vendedor,  pode  afetar  o  preço  de  formas  importantes.  Mas  a  constatação  de  que  o  mercado  não  é  um  exemplo  de  competição  perfeita  não  significa  que  a  oferta  e  a  demanda  não  possam  capturar  o  suficiente  da  competição  que  permanece.  Para  tomarmos  um  exemplo  extremo,  o  mercado  de  gasolina  nos  Estados  Unidos  é  lotado  tanto  de  regulações  quanto  da  magnitude  do  poder  de  mercado,  que  existe  em  várias  partes  da  cadeia  de  fornecimento.  Mas,  ainda  assim,  existe  uma  competição  por  todo  aquele  mercado,  mesmo  que  essa  competição não corresponda às definições dos livros. 

Negociar e trocar   

 

Adam  Smith  falou  sobre  a  tendência  do  homem  à  negociação  e  à  troca.  As  pessoas  estão  sempre  comprando  e  vendendo  coisas.  Sempre  procurando  fazer  negócio.  Sempre  procurando  por  um  bom  negócio.  Sempre  considerando  as  alternativas.  A  busca  por  um  bom  negócio,  tanto  para  os  compradores,  quanto  para  os  vendedores,  sendo  consideradas  as  alternativas,  seria  o  que  os  economistas  chamam  de  competição.  O  resultado  disso  é  que  as  transações  no  mercado  não  são  independentes umas das outras.  De  onde  vêm  os  preços?  Os  preços  que  observamos  no  mundo  à  nossa  volta  emergem  da  interação  entre vendedores, compradores e de suas alternativas. Como nós podemos apreender o estranho fato  de que nenhuma transação aconteça no vácuo? Como podemos apreender a ordem que emerge a partir  dessas transações?  A análise da oferta e da procura é uma maneira simples e poderosa de descrever as formas pelas quais  as transações pelo tempo e espaço não são independentes umas das outras. É uma forma poderosa de  organizarmos  nosso  pensamento  a  respeito  da  complexidade  que  emerge  a  partir  da  tendência  à  negociação  e  à  troca,  uma  complexidade  que  é  resultado  da  ação  humana,  mas  não  de  um  desígnio  humano.                           

 

 

O que são Juros    Os  juros  são  o  preço  que  as  pessoas  pagam  para  obter  um  recurso  agora,  e  não  depois.  Claro,  esses  recursos  podem  ser  qualquer  coisa,  desde  instrução  universitária  até  uma  TV  de  LCD.  Os  juros  são  convencionalmente expressos por uma taxa percentual pelo período de um ano. Se aqueles que pegam  os  empréstimos  (os  que  desejam  os  recursos  agora)  conseguem  obter  recursos  daqueles  que  emprestam  (os  que  desejam  abrir  mão  do  controle  atual)  sob  a  condição  de  que  retornarão  103  por  cento dos recursos um ano depois, a taxa de juros é de 3 por cento.  O  procedimento  padrão  para  se  calcular  os  juros  compostos,  pelo  o  qual  os  juros  são  adicionados  ao  principal (a quantia emprestada) ao fim de cada ano, requer que aqueles interessados em permanecer  com o controle daquela quantia por dois anos paguem 106.09 por cento do principal após o período de  dois  anos,  supondo  uma  taxa  de  juros  de  3  de  cento  ao  ano.  A  fórmula  para  determinar  o  quanto  a  quantia a ser paga crescerá sob os juros compostos é:  P(1 + r)n  Na qual P é o principal, r é a taxa anual de juros e n é o número de anos que o empréstimo levará para  ser pago.  Os juros compostos são uma força inacreditavelmente poderosa. Seu poder pode ser visto no exemplo a  seguir.  Se  Thomas  Jefferson  tivesse  investido  10  dólares,  a  3  por  cento  de  juros  compostos  para  comemorar a assinatura da Declaração da Independência, seus herdeiros teriam direito a quase 3.700  dólares  na  época  em  que  os  Estados  Unidos  comemoraram  seu  ducentésimo  aniversário,  em  1976.  A  juros  compostos  de  6  por  cento,  os  10  dólares  investidos  por  Jefferson  teriam  atingido  1.150.000  dólares, ou seja, teriam crescido mais 311 vezes.  O  que  se  deduz  de  imediato  é  que  uma  quantidade  de  recursos  disponíveis  somente  em  uma  data  futura tem menos valor hoje (valor atual) do que a mesma quantidade de recursos que esteja disponível  imediatamente.  A  diferença  nos  valores  é  determinada  pela  taxa  de  juros  vigente.  Se  a  taxa  anual  de  juros  for  de  3  por  cento,  100  unidades  de  um  recurso  a  serem  recebidas  daqui  a  um  ano  equivalem,  aproximadamente,  a  97.09  unidades  hoje.  A  fórmula  para  se  determinar  o  valor  atual  de  quantias  futuras (um processo que é chamado de desconto) deriva da mesma fórmula usada para determinar os  valores que as quantias atuais crescerão no futuro:  Valor atual = F/(1 + r)n   

 

 

Onde F é a quantia futura e r e n são, novamente, os juros e o número de anos, respectivamente.  A taxa de juros entra, pelo menos implicitamente, em todas as decisões econômicas, porque as decisões  econômicas são feitas a partir da comparação entre os custos e os possíveis benefícios futuros. A única  forma  de  fazer  o  valor  dos  futuros  benefícios  ou  os custos  serem  comparáveis  é  descontá‐los  por  sua  “distância temporal” do presente, utilizando a taxa de juros aplicável. Quanto maior for essa distância  temporal  (ou  seja,  quanto  mais  no  futuro  estiver  o  benefício  ou  o  custo),  menor  será  o  valor  descontado, ou seja, o valor atual.  As taxas de juros citadas por aqueles que emprestam recursos, geralmente, incluem muito mais do que  os  juros  “puros”.  Para  persuadir  o  credor  a  abrir  mão  de  seu  controle  atual  sobre  os  recursos,  o  interessado  nos  recursos  deverá  pagar,  além  dos  juros,  uma  quantia  que  compense  o  credor  por  quaisquer custos que venham a ocorrer na organização da transação, geralmente incluindo algum tipo  de prêmio de seguro contra o risco de não‐pagamento por parte do devedor. Alguém que não possua  uma taxa de crédito estabelecida e que se inscreva para um empréstimo sem seguro será, certamente,  solicitado  a  pagar  por  “juros”  com  uma  taxa  anual  várias  vezes  maior  que  a  taxa  de  juros  “pura”  que  esteja em vigor.  A  taxa  de  juros  é  determinada  pela  oferta  e  pela  demanda:  a  demanda  pelo  controle  imediato  dos  recursos por aqueles que não os possuem e a oferta por parte daqueles que possuem os recursos e que  estão dispostos a abrir mão deles por um preço. A questão do por que exatamente a demanda e a oferta  geram uma taxa de juros positiva é uma das questões mais ferozmente disputadas na história da teoria  econômica. Vale ressaltar que quando um indivíduo adquire o controle imediato sobre recursos, o seu  conjunto  de  oportunidades  disponíveis  se  expande.  Em  resumo,  o  controle  imediato  sobre  recursos  é  algo que as pessoas desejam. Quem compreende esse fato quer pagar por esse controle e aqueles que  vão abrir mão dele insistem que devem ser recompensados por isso.  O  fato  de  que  os  empréstimos  são  feitos,  geralmente,  por  meios  financeiros,  leva  a  uma  enganosa  crença  que  os  juros  são  um  pagamento  pelo  uso  do  dinheiro.  O  dinheiro  é,  em  geral,  o  objeto  do  empréstimo por oferecer um controle  geral sobre os recursos. Porém, os juros também existiriam em  uma economia de escambo pura, onde o dinheiro não fosse utilizado.  Chamar  os  juros  de  “o  preço  do  dinheiro”  leva  ao  engano  de  que  o  aumento  da  disponibilidade  de  dinheiro  poderia  fazer  as  taxas  de  juros  caírem,  da  mesma  forma  que  o  preço  do  trigo  poderia  ser  derrubado  a  partir  de  sua  maior  disponibilidade  no  mercado.  Essa  questão  poderia  nos  levar  a  uma  discussão  a  cerca  da  teoria  e  da  política  monetária.  Por  enquanto,  seria  suficiente  apontar  que  o  aumento da quantidade de dinheiro tende a diminuir o poder de compra da moeda, por causar inflação. 

 

 

Em países que permitem que a oferta de moeda cresça rapidamente, as taxas de juros, em geral, sobem  porque as pessoas passam a esperar pela inflação. Quando a inflação é antecipada, os credores insistem  em serem compensados pela suposta queda no valor do dinheiro durante o período do empréstimo, e  os devedores, esperando liquidar a dívida com uma moeda depreciada, desejam pagar a compensação.  A  taxa  de  juros  real  sobre  os  empréstimos  financeiros  será  a  taxa  fixa  (ou  nominal)  menos  a  taxa  prevista  de  inflação.  Em  países  que  estão  experimentando  um  crescimento  rápido  na  quantidade  de  moeda disponível, as taxas de juros são bem altas. Porém, essas altas taxas não são os juros reais. Em  vez disso, serão altas taxas de juros nominais. Se a inflação prevista é de 10 por cento, por exemplo, e a  taxa  de  juros  real  for  5  por  cento,  a  taxa  de  juros  nominais  será  de  15  por  cento.  Mas  alguém  que  empreste  dinheiro  a  15  por  cento  ao ano  não  será  reembolsado  com  15  por  cento  além  dos  recursos  emprestados,  no  fim  do  ano.  Pelo  contrário,  o  credor  será  reembolsado  em  15  por  cento  a  mais  em  dinheiro, mas será capaz de usar esse dinheiro para adquirir apenas 5 por cento a mais em recursos.  A  taxa  de  juros  real,  por  determinar  o  valor  relativo  dos  bens  em  diferentes  tempos  no  futuro,  tem  efeitos importantes na decisão dos investimentos. Taxas de juros menores aumentam o valor corrente  de  retornos  distantes,  o  que  encoraja  os  investidores  a  expandirem  projetos  que  ofereçam  a  possibilidade de grandes retornos apenas em momentos distantes. Taxas de juros mais altas levam os  investidores a se concentrarem em projetos que prometam retornos mais imediatos.  Entretanto,  a  relação  é  de  determinação  mútua.  Por  razões  que  vão  da  psicologia  à  tecnologia,  as  pessoas  em  uma  sociedade  podem  ter  um  desejo  mais  forte  em  favor  da  disponibilidade  atual  de  recursos  do  que  pessoas  em  outra  sociedade.  Quanto  mais  forte  for  esse  desejo  pela  gratificação  imediata, mais altas serão as taxas de juros.                   

 

 

Externalidades    Cresci em uma fazenda em Valencia, na região do cultivo de laranjas, ao sul de Orlando. Duas vezes por  ano,  em  dezembro  e  em  junho,  o  ar  se  perfumava  com  as  flores  da  laranjeira,  espalhando  seu  doce  néctar. O ar se enchia de abelhas, que coletavam o néctar. Mas as abelhas pareciam vestir grossas calças  amarelas de gaúchos, carregando o pólen de flor em flor.  O  homem  velho  com  uma  pele  que  parecia  couro,  a  quem  chamávamos  “Homem  Abelha”,  trazia  as  colméias  e  as  colocava  em  fila.  Descobri  que,  se  eu  fizesse  uma  carinha  triste,  ele  me  daria  um  favo  gotejando  mel  (e,  na  verdade,  gotejando  abelhas  também)  para  mastigar.  As  abelhas  produziam  mel  suficiente para que o Homem Abelha pudesse nos dar um pouco e ainda ganhar dinheiro.  Pensando  agora  sobre  aquela  época,  vejo  que  eu  estava  no  meio  de  uma  das  mais  interessantes  e  complexas situações econômicas. Mas aqueles favos de mel aquecidos pelo sol eram tão gostosos que  eu  nem  prestava  atenção  no  que  alguns  economistas  chamam  de  “externalidades”,  as  abelhas  fertilizando as frutas e as flores dando às abelhas o néctar para o mel. 

Externalidade  Se eu faço algo que o afeta, positiva ou negativamente, sem o seu consentimento ou sem a minha  própria capacidade de reter um benefício a não ser que você pague, isso é uma externalidade.  O economista A. C. Pigou formulou o problema como uma divergência entre o preço da oferta (o que  um comprador paga) e o “preço marginal da oferta” (o valor total do custo de um bem). O preço pago  pode ser menor do que o custo verdadeiro (uma externalidade negativa) ou maior do que o custo  verdadeiro (uma externalidade positiva). Um exemplo muito comum de externalidade positiva é o farol.  Como disse Henry Sidgwick, há quase 150 anos, “os benefícios de um farol bem colocado provavelmente  são muito bem aproveitados por navios nos quais nenhum sino poderia ser colocado.”  Essa conclusão parece perversa, e é. As pessoas que se beneficiam do aumento da produção de uma  externalidade positiva hão de procurar uma solução. Como observou Ronald Coase, um outro  economista, Pigou ignorava um fato importante: em mercados reais, os problemas de externalidades  são freqüentemente solucionados na esfera privada, o que significa que a externalidade desaparece. De  fato, Coase pesquisou um pouco e encontrou algo interessante: em 1820, na Inglaterra (na terra de  Sidgwick!), mais de três quartos de todos os faróis eram construídos e operados privadamente. 

 

 

Coase fornece uma análise geral das externalidades em “O problema do custo social”, seu importante  ensaio de 1960. Ele defende três idéias fundamentais. A primeira é que as externalidades são recíprocas.  A segunda diz que as externalidades persistem apenas se os custos de transação são altos. E, finalmente,  se os custos de transação são baixos, os processos mercadológicos levarão aos mesmos resultados  eficientes, independentemente da atribuição dos direitos de propriedade.  Vamos ver o que uma análise coaseana nos diria a respeito da externalidade que me interessa. Vamos  pensar nas abelhas. 

A “Fábula das abelhas” de Cheung: uma análise coaseana  Em 1952, um economista chamado J. E. Meade publicou um ensaio no Economic Journal. Meade  acreditava ter descoberto um fenômeno verdadeiramente novo, uma relação da externalidade tão  intrincada que os mercados não conseguiriam gerenciá‐la. Meade pensava que o resultado seria sempre  a ineficiência, porque o cultivador do pomar não consegue captar todos os benefícios criados pela  apicultura. Conseqüentemente, argumentava, é necessário algum tipo de subsídio, ou ajuda  governamental.  Porém, Meade estava errado. A primeira razão é que, ao contrário das laranjas, as flores de maçã não  produzem néctar suficiente para viabilizar o “mel de flores de maçã”. Sim, você pode comprar um  produto chamado mel de flores de maçã. Boa parte dele é feito de flores selvagens que crescem em  pomares. E “mel de flores de maçã” soa bem melhor que “mel de ervas daninhas”.  Além disso, todas as externalidades são recíprocas.   Economicamente, a abelha e a flor estão tão interconectadas quanto a galinha e o ovo. E os ganhos da  solução desse problema são significativos. A afirmação de Meade a respeito da “falha” do mercado em  capturar a externalidade teria sido novidade para os cultivadores de maçã, como mais tarde o trabalho  do economista Steven Cheung demonstrou.  Lembre‐se, o problema geral é supostamente que as externalidades positivas causam uma produção  insuficiente. E Meade argumenta que o problema específico da apicultura é uma externalidade positiva  perfeita. As abelhas mantidas em um pomar, a não ser que ele seja muito grande, cruzarão as fronteiras  em direção dos pomares vizinhos. Dessa forma, a polinização é “externa” à decisão de qualquer  proprietário de terras. E isso significa que haverá muito poucas abelhas. Tragam a Agência Federal de  Apicultura! Precisamos de subsídios, e imediatamente.  Cheung ignorou os economistas e observou a economia.  

 

 

Ele descobriu que os cultivadores de maçã tinham solucionado o problema. As abelhas voam a procura  de néctar às vezes um quilômetro, às vezes três quilômetros. Os pomares de maçã podem ser grandes  (seu tamanho médio é de um pouco mais de 50 acres), mas as abelhas poderiam facilmente cruzar as  linhas da propriedade e polinizar árvores no pomar vizinho.   Então, suponhamos que eu tenha um pomar de tamanho médio, no meio de vários outros pomares.  Suponhamos que eu espere que os cultivadores à minha volta invistam em abelhas. Eu ganharia as  abelhas de graça! Boa parte, talvez a maior parte, do meu pomar seria polinizada pelas abelhas  itinerantes dos pomares vizinhos.  Porém, se um economista munido de um quadro‐negro é capaz de compreender isso, então,  certamente, os cultivadores de maçã também são. Existem ganhos reais com a solução desse problema,  que é local e envolve apenas um pequeno número de cultivadores de árvores frutíferas. Stephen  Cheung descreve um poderoso contrato implícito, o “costume do pomar”, que exclui os cultivadores da  previsão de Meade.  “O costume do pomar” é um entendimento de que certo número de colméias, em média, são  necessárias para se polinizar uma determinada área. É verdade que algumas colméias da fazenda A irão  acabar na fazenda B, e vice‐versa, no que parece um padrão de procura aleatória. Mas se ambos os  cultivadores adquirirem um número médio correto de colméias, e as abelhas aleatoriamente procuram  por pólen e néctar, então a externalidade é completamente internalizada. Minhas abelhas polinizam  algumas das suas árvores e as suas polinizam algumas das minhas, mas as alocações marginais e médias  de recursos são, de forma geral, as mais eficientes! Se há dinheiro para ganhar, e os custos de transação  não são muito altos, as pessoas irão descobrir alguma coisa sozinhas. 

A flor especial da laranjeira  Ainda assim, qual é o preço de mercado dos serviços das abelhas? Como os mercados podem solucionar  esse problema? Cheung (p.19) propõe uma resposta simples: como a possível externalidade é recíproca,  a polinização pode valer mais, ou a produção de mel pode valer mais. Então, a troca será alguma  combinação de dinheiro e mel, e não é muito claro para um observador externo quem pagará a quem.  Porém, as partes reais dessa troca podem solucionar esse problema entre si.  Lembre‐se de que, em Washington, as flores de maçã produzem relativamente pouco néctar. O  resultado será que os apicultores em Washington estão produzindo mais valor na polinização do que na  retirada do mel. Então, os cultivadores de maçã pagam mais aos apicultores por qualquer mel que os 

 

 

apicultores venham a produzir. Mas os cultivadores de maçã pagam menos pelos serviços das abelhas  caso não seja produzido mel algum.  Por outro lado, as folhas de laranja são uma enorme fonte de um apreciado mel. E então, a direção do  pagamento é inversa: Na Flórida, até recentemente, os apicultores pagavam aos proprietários dos  pomares. (A advertência do “até recentemente” é necessária porque a população de abelhas tem  diminuído nos últimos anos em várias partes do país, inclusive na Flórida, e agora os proprietários dos  pomares pagam aos apicultores.)  Assim, em seu nível mais simples, nós podemos ver que um problema teórico bastante complexo é  solucionado de uma forma simples e direta pelo mecanismo dos preços. Os apicultores farão ofertas,  bem como os cultivadores. Ambas as partes se beneficiam dessas transações. Quem paga quem e  como? Alguém que observa de fora pode ter dificuldade em adivinhar. Os preços sinalizarão a escassez  relativa dos recursos (inclusive as abelhas!), e a demanda por produtos rurais. Em pomares de maçãs, os  cultivadores pagam os apicultores. Em pomares de laranja, os apicultores pagam os cultivadores.  E, docemente, ninguém precisou ensinar‐lhes a fazer o mel.                           

 

Elasticidade    No início de 1998, Luis Tellez teve uma reuniao secreta com sua contraparte da Arábia Saudita. Tellez  era o ministro de energia do México, o funcionário do governo que decidia quantos barris de petróleo o  Méximo produzia e vendia aos outros países. Qual o motivo da reunião secreta? Aumentar seus ganhos  (ou sua receita) da venda de petróleo, aumentando o preço mundial, o qual havia caído 50% nos dois  anos anteriores. O preço mundial de petróleo assim baixo estava causando sérios problemas para  ambos os governos, que dependiam da receita da venda de petróleo. Mas um plano para aumentar o  preço do petróleo não teria êxito, a não ser que outros países exportadores também estivessem  dispostos a reduzir sua produção de petróleo.    Por que era necessário reduzir a produção? Por que não bastava aumentar o preço? Porque, pela lei de  demanda, um aumento de preço leva a uma queda na quantidade demandada. Assim, se não houvesse  também uma queda na produção, haveria um excedente de petróleo no mercado, pressionando o preço  novamente de volta para níveis mais baixos. Para que o plano funcionasse, Tellez tinha de convencer  seus colegas ministros de energia a produzir menos. Mas quanto menos?    Se os consumidores respondessem a esse aumento de preço usando muito menos petróleo, a produção  teria de cair muito. E se a quantidade produzida caísse o suficiente, em resposta ao aumento de preço, a  receita poderia não aumentar, mas sim cair. A questão essencial para Tellez, então, era saber o quanto a  quantidade demandada de petróleo era sensível a mudanças no preço do petróleo.    Mas como definimos sensibilidade? A resposta, e o que Tellez precisava saber nesse caso, é um número  especial: a elasticidade‐preço da demanda. 

Elasticidade‐preço da demanda  Para calcular a elasticidade‐preço da demanda, calculamos primeiro a mudança percentual na  quantidade demandada e a correspondente mudança percentual no preço, à medida que nos movemos  ao longo da curva de demanda:    Mudança % na quantidade demandada = mudança na quantidade demandada/quantidade demandada  inicial x 100    Por exemplo: Digamos que o preço do leite muda de R$ 2,00 para R$ 2,20. Qual a elasticidade‐preço da 

 

 

demanda por leite se a quantidade demandada de leite é de 85 mi de litros por ano quando o preço é R$  2,20 e é de 100 mi de litros por ano quando o preço é R$ 2,00. Então:    A mudança absoluta na quantidade foi de 15 mi de litros (100 – 85) para baixo. Em termos percentuais  isso equivale a 15% pois, a quantidade era de 100 mi litros a R$ 2,00 que era o preço inicial. Quando o  preço aumentou para R$ 2,20 houve uma queda na quantidade demandada de 15% [100(85 –  100)%/100].    A mudança absoluta no preço foi de R$ 0,20 (2,20 – 2,00) para cima. Em termos percentuais isso  equivale a 10% pois, o preço inicial era R$ 2,00 e aumentou para R$ 2,20 houve um aumento de 10%  [100(2,20 – 2,00)%/2,00].    A elasticidade desta mudança é de Ed = 15%/10% = 1,5. 

Classificando bens com a elasticidade‐preço da demanda  Elásticos  Se a elasticidade‐preço do bem for maior que 1,00 diz‐se que a demanda por esse bem é elástica. A  variação percentual na quantidade excede a variação percentual no preço. Ou seja, os consumidores são  bastante sensíveis a variações no preço.    Inelásticos  Se a elasticidade‐preço do bem for menor que 1,00 diz‐se que a demanda por esse bem é inelástica. A  variação percentual na quantidade é menor que a variação percentual no preço. Ou seja, os  consumidores são relativamente insensíveis a variações no preço.    Elasticamente unitários  Se a elasticidade‐preço do bem for igual a 1,00 diz‐se que a demanda por esse bem é de elasticidade  neutra. A variação percentual na quantidade é igual à variação percentual no preço.    Elasticidade e bens substitutos  A elasticidade‐preço da demanda para um bem em particular é influenciada pela disponibilidade ou não  de bens substitutos. Quanto mais bens substitutos estiverem disponíveis mais elástica é a demanda, se  não há bens substitutos a demanda é inelástica.   

 

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