Apologtica Catolicismo

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Catolicis mo ARTIGOS NESTE MATERIAL:

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1. CULTO À DEUSA MÃE..................................................................................... ....02 2. DIFERENÇA ENTRE DEVOÇÃO RELIGIOSA E IDOLATRIA........................................13 3. EXORCISMO – AS FORÇAS DO MAL EM FOCO.....................................................19 4. FESTAS JUNINAS – FOLCLORE OU RELIGIÃO?......................................................30 5. IDOLATRIA DISFARÇADA........................................................................ .............45 6. IEMANJÁ - RAINHA DE TODAS AS ÁGUAS E MÃE DE TODOS OS ORIXÁS?............51 7. JESUS TEVE IRMÃOS?.............................................................................. ...........62 8. MARIA - VIRGEM E MÃE, DUAS PODEROSAS E UNIVERSAIS EMOÇÕES................72 9. MERECEM CONFIANÇA OS LIVROS APÓCRIFOS?.................................................82 10. MONOTEÍSMO TEÓRICO E POLITEÍSMO

PRÁTICO..............................................99 11. MUDANÇA DE PARADIGMA - CRISTOCENTRISMO VERSUS MARIOCENTRISMO NA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA....................................................................... .....108 12. O CORPO DE CRISTO - PODEMOS CRER NA TRANSUBSTANCIAÇÃO?................117 13. OS ESTIGMAS DE CRISTO, FATO OU MITOLOGIA RELIGIOSA?..........................133 14. OS SANTOS DE CADA DIA................................................................................142 15. QUEM FOI O PRIMEIRO PAPA?.......................................................................152 16. A HIERARQUIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA ROMANA......................................172 17. CELIBATO BÍBLICO X CELIBATO HUMANO.......................................................175

“...todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios” (At 19.34) “E m dado momento, abrem-se par em par as portas de cipreste do templo. As multidões que convergiam de todas as partes da Ásia Menor, da Galácia, da Capadócia, da Macedônia e da Acaia, tanto sãos como enfermos,

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Por Hélio de Souza

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1. CULTO A DEUSA MÃE

aleijados com as suas muletas, cegos guiados por crianças, paralíticos carregados em padiolas, se comprimem entre as colunas fronteiras à fachada. Todos esperam o momento de erguer-se o véu da deusa. “Um longo clangor de trombeta, um rápido estrurgir de tambores e, em seguida, um intervalo de silêncio. Uma nuvem de incenso paira na praça. Dentro e fora do templo os fiéis se prosternam retendo o fôlego. O véu de seda é lentamente retirado. Sobre o pedestal de mármore negro, cercado de misteriosos hieróglifos indecifráveis, ergue-se a deusa Diana de Éfeso, que Apolo enviou do céu à terra. “No momento em que foi desvendado, um brado comovido se propagou do salão para o pórtico e do pórtico para a praça, onde milhares de fiéis estavam prostrados em terra. - Viva a grande Diana dos efésios!

“A esses brados saía do templo um grupo de sacerdotes e, atravessando a multidão, eles reuniam as muletas

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– Milagre! Milagre! O coxo está caminhando! O enfermo desceu da cama!

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“Um êxtase de esperança e de temor dominou a multidão que se quedou de olhos fechados, lábios contraídos e frontes a se tocarem uma nas outras... Levantando-se então os fiéis seguiram de roldão para as portas do templo. Os cegos, os coxos e os enfermos avançavam como podiam, com os pés ou de rastos, em direção à deusa que não viam, amparando-se uns aos outros e gritando suas orações. Aqui e ali vozes delirantes soavam:

jogadas fora, para pendurá-las como troféus nas paredes do templo, em homenagem à grande deusa Diana”.1 Com essas palavras, o escritor judeu-cristão polonês, Sholem Asch, descreveu o culto à deusa Diana, tão popular na região da Ásia Menor, nos primórdios da Era Cristã. Como podemos conferir, qualquer semelhança com os cultos modernos às chamadas “Nossas Senhoras” não é mera coincidência, mas perpetuação de uma milenar tradição de culto a deusas, hoje disfarçada com matiz cristã. E não estamos falando de uma pequena seita obscura, existente em algum povo atrasado em um país exótico, mas de uma religião que possui milhões de adeptos, com uma força de devoção que chega à beira da loucura: o “marianismo”.

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E não é preciso ser teólogo para perceber isso. Qualquer conhecedor de História pode constatar. Em uma revista de circulação nacional foi publicada uma matéria com o título: “No princípio, eram as deusas”. O texto se desenvolve da seguinte forma: “As deusas só foram destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só deus, masculino. Com a difusão do cristianismo, as antigas deusas são banidas do imaginário popular. No Ocidente, algumas acabaram associadas à Virgem Maria, mãe do Deus dos cristãos, outras se transformaram em santas... Nos primeiros séculos cristãos, Ísis passou a ser identificada com Maria”. O historiador Will Durant em sua História da Civilização diz: “O povo adorava-a (Isis) com especial ternura e erguia-lhe imagens, consideravam-na Mãe de Deus; seus tonsurados sacerdotes exaltavam-na em sonoros cantos...e mostravam-na num estábulo, amamentando um bebê miraculosamente concebido...Os primitivos cristãos muitas vezes se curvavam diante das estátuas de Ísis com o pequeno Hórus ao seio, vendo

nelas outra forma do velho e nobre mito pelo qual a mulher , criando todas as coisas, tornou-se por fim a Mãe de Deus (grifo do autor) 2”. Status de deusa O paganismo não se conformou em ficar sem suas deusas. Assumindo características culturais e étnicas de cada nação, o culto à deusa Maria foi se adaptando à devoção popular com uma versatilidade incrível. Desde suntuosos santuários até silhuetas em vidros e grãos de milho, inúmeras aparições no mundo inteiro dão status de deusa a estas supostas aparições, incorporando-as ao acervo popular de inúmeras nações.

Além de divindades nacionais, o marianismo assume características regionais e funcionais, assenhoreando-se

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Não é óbvio presumirmos que as antigas divindades tutelares reverenciadas no passado apenas mudaram de nome? Diana para os efésios, Nun para os ninivitas, Ishtar para os babilônios, Kali para os hindus e, assim, continuam sendo cultuadas por meio de um pseudocristianismo.

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No Brasil, a chamada “Senhora Aparecida” possui traços raciais negros e seu culto está muito ligado à cultura afro. Seu santuário, na cidade de Aparecida, chega a receber 6,5 milhões de visitantes por ano. Em Portugal, a deusa Maria, conhecida como “Senhora de Fátima”, assume características raciais européias, bem como a “Senhora de Lourdes”, na França. Elas recebem, respectivamente, cerca de 4,2 milhões e 5,5 milhões de visitas por ano. Entre outras divindades nacionais, ainda podemos citar a “Senhora de Guadalupe”, no México, e a “Senhora da Estrela da Manhã”, no Japão.

de cidades e regiões, assumindo diferentes nomes e funções. Assim, temos no Brasil a “Nossa Senhora do Monte Serrat”, “Nossa Senhora do Rosário”, “Nossa Senhora das Dores”, “Nossa Senhora das Graças” e “Nossa Senhora do Parto”, entre outras. Na verdade, muito do que as estatísticas chamam de cristãos não passam de grosseiros pagãos, aprisionados por superstições e servindo a falsos deuses. Curiosa é a descrição da deusa Diana feita por R.N. Champlin. Esse renomado teólogo diz que a deusa Diana e a deusa Maria se confundem, o que torna difícil encontrar a diferença entre a “Diana dos efésios” e a “Maria dos efésios”. Em 431 d.C., a idolatria tornava a entrar pela porta de onde saíra: “Em Éfeso ela recebeu as mais altas honrarias. De acordo com uma inscrição existente no local, ela trazia estes títulos: Grande Mãe da Natureza, Patrocinadora dos Banquetes, Protetora dos Suplicantes, Governanta, Santíssima, Nossa Senhora, Rainha, a Grande, Primeira Líder, Ouvidora...”2 (grifo do autor). A ascensão de Maria

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Qualquer conhecedor das Escrituras fica aborrecido diante de tamanha distorção. A humilde camponesa de

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Segundo o catolicismo, “finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo. A assunção da Virgem Maria é uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos”.3

Belém, que singelamente aceitou sua missão de ser a mãe de Jesus, foi, ao longo dos séculos, transformada em uma divindade pagã. Em toda a Bíblia, a figura de Maria não recebe qualquer posição especial com relação a Jesus ou ao plano de salvação: • Jesus não a chamava de mãe, mas de mulher (Jo 4.4; 19.26); • Aos que a definiram como sua mãe Ele fez questão de mostrar que seus familiares são os seus seguidores (Mt 12.46-50); • Quando quiseram atribuir alguma honra a Maria pelo fato de ter dado à luz a Jesus, Ele fez questão de mostrar que há honra maior em obedecer a Deus (Lc 11.27-28); • Nenhum dos apóstolos fez qualquer menção a ela, seja Paulo, Pedro, Tiago, João ou Judas.

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Como isso foi possível? Como a Igreja Católica pôde transformar uma figura que não recebeu nenhum destaque no Novo Testamento na peça mais importante de sua religião? Como essa igreja conseguiu, em nome do Cristianismo, desobedecer ao mandamento tão claro: “Não terás outros deuses diante de mim?” (Ex 20.3). A tolerância, no entanto, é uma faca de dois gumes que, se exagerada, pode permitir que uma virgem se torne uma meretriz: “Mas tenho contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetisa. Com o seu ensino ela engana os meus servos, seduzindo-os a se prostituírem e

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Mas quando olhamos para o marianismo, não vemos apenas uma ascensão física, mas uma ascensão de importância que vem, através dos séculos, transformando a mãe de Jesus na figura central do Catolicismo e, conseqüentemente, da fé popular.

a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos” (Ap 2.20). Quando os verdadeiros crentes precisaram tomar uma atitude mais severa, eles se calaram e a conseqüência disso foi a forte idolatria que se camuflou com o título de cristianismo. Assim, com o passar dos anos Maria foi acumulando títulos, adquirindo mais prestígio do que a própria Trindade. Além da conhecida designação de “Nossa Senhora”, ela recebeu outras nomeações, como Medianeira, Imaculada (sem pecado), Mãe dos Homens, Mãe da Igreja, Rainha dos Céus, Co-redentora etc. A força de seu culto supera qualquer outro movimento dentro do Catolicismo. A mariolatria continua mais forte do que nunca

O papa atual foi e é um dos grandes fomentadores desse culto idólatra. O lema de seu brasão de pontificado, Totus tuus, significa sua entrega total a Maria. Sua primeira

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O movimento que busca essa “conquista” chama-se Vox Populi Mariae Mediatrice e é liderado pelo “teólogo” Mark Miravalle, professor da Universidade Franciscana de Steubenville, no estado de Ohio, EUA. Pelo menos 500 bispos e 42 cardeais já assinaram o abaixo-assinado, conforme matéria publicada pela revista Tudo em setembro de 2001.

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A devoção às deusas do catolicismo cresceu nas últimas décadas e continua crescendo. Por meio de abaixoassinado na internet para pressionar o papa João Paulo II a conceder a Maria de Nazaré o que os católicos chamam de “Quinto Dogma”, cinco milhões de assinaturas já foram levantadas. O “Quinto Dogma”, título oficial de coredentora da humanidade, confere à santa a posição de quarta pessoa da Trindade.

viagem, 13 dias após a eleição, foi a um santuário mariano nas proximidades de Roma. Desde então, o papa não perde a oportunidade de reafirmar seu culto à mãe de Jesus e de lembrar que foi “Nossa Senhora de Fátima” quem o salvou do atentado a tiros que sofreu em 1981. No século XX, foram registradas em todo o mundo cerca de 200 supostas aparições da virgem Maria. Os dogmas da imaculada conceição e da assunção de Maria, proclamados no século XIX, colaboraram para todo esse entusiasmo. Lamentamos o fato de que a humilde Maria não tem nenhuma culpa em toda essa idolatria cometida em seu nome. Com certeza, as rezas, os cânticos, os sacrifícios e as promessas não vão para ela que, assim como os demais servos do Senhor, também está aguardando a ressurreição dos mortos. A história do concílio de Éfeso

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Hoje, fala-se muito do concílio de Éfeso como “uma questão cristológica”. O que estava em jogo não era se Maria deveria ser chamada de mãe de Deus ou não, mas se o Filho nascido dela possuía apenas a natureza humana ou as duas naturezas: a humana e a divina. O resultado positivo foi o estabelecimento da natureza

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O concílio de Éfeso não instituiu a adoração a Maria, apenas sancionou-a. Até então se tratava de um sentimento religioso popular. Depois disso, passou a ser matéria teológica. Pior que uma prática idólatra permitida é uma prática idólatra teologicamente defendida. E foi justamente isso que esse concílio significou para o cristianismo: o passaporte de entrada da deusa Diana para dentro da Igreja Cristã.

hipostática de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Mas a deturpação veio de carona. Todo o ambiente que cercou esse Concílio foi repleto de intrigas, corrupções, ódios e idolatria, mais especificamente idolatria mariana. O historiador Edward Gibbon referiu-se ao concílio de Éfeso como um “tumulto episcopal, que na distância de treze séculos assumiu o venerável aspecto de Terceiro Concílio Ecumênico”.4

Cirilo usou todos os artifícios para persuadir o povo a tomar seu partido. Vejamos o que disse Gibbon a respeito: “O despótico primado da Ásia (Cirilo) dispôs

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Cirilo, então bispo de Alexandria, acusou-o de heresia e tratou rapidamente de convencer Celestino, bispo de Roma, de seu ponto de vista. Para resolver a questão, foi então decidido um Concílio Universal, sediado na cidade de Éfeso, na Ásia Menor, que ficaria acessível tanto por mar quanto por terra, para ambas as partes conflitantes.

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Nestor, patriarca de Constantinopla, se recusava a conferir o título de “Mãe de Deus” a Maria. “Na Síria, a escola de Nestor tinha sido ensinada a rejeitar a confusão das duas naturezas, e suavemente distinguir a humanidade de seu mestre Cristo da divindade do Senhor Jesus. A bendita virgem era honrada como a mãe do Cristo, mas os seus ouvidos foram ofendidos com o irrefletido e recente título de Mãe de Deus, que tinha sido insensivelmente adotado desde a controvérsia ariana. Do púlpito de Constantinopla, um amigo do patriarca e depois o próprio patriarca, repetidamente pregou contra o uso, ou o abuso, de uma palavra desconhecida pelos apóstolos, não autorizada pela igreja, e que apenas tendia a alarmar os tímidos”, diz Gibbon (grifo do autor).

prontamente de trinta a quarenta votos episcopais: uma multidão de camponeses e os escravos da Igreja foram derramados na cidade para sustentar com barulhos e clamores um argumento metafísico; e o povo zelosamente afirmou a honra da Virgem, de quem o corpo repousava dentro dos muros de Éfeso. O navio que havia transportado Cirilo de Alexandria foi carregado com as riquezas do Egito; e ele desembarcou um numeroso corpo de marinheiros, escravos e fanáticos, aliciados com cega obediência sob a bandeira de São Marcos e a mãe de Deus. Os pais e ainda os guardas do concílio estavam receosos devido àquele desfile esplendoroso de roupas guerreiras; os adversários de Cirilo e Maria foram insultados nas ruas ou destratados em suas casas; sua eloqüência e liberalidade fizeram um acréscimo diário ao número de seu aderentes...

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“No quinto dia, o triunfo foi obscurecido pela chegada e indignação dos bispos orientais (do partido de Nestor). Em um cômodo da pensão, antes que ele tivesse limpado o pó de seus pés, João de Antioquia tinha dado audiência para Candidian, ministro imperial, que relatou seus infrutuosos esforços para impedir ou anular a violenta pressa dos egípcios. Com igual violência e rapidez, o Sínodo Oriental de cinqüenta bispos degradou Cirilo e Memnon de suas honras episcopais; condenou, em doze

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“Impaciente com uma demora que ele estigmatizou como voluntária e culpável, Cirilo anunciou a abertura do Sínodo dezesseis dias após a Festa do Pentecoste. A sentença, maliciosamente escrita para o novo Judas (isto é, Nestor), foi afixada e proclamada nas ruas de Éfeso: os cansados prelados, assim que publicaram para a igreja com respeito à mãe de Deus, foram saudados como campeões, e sua vitória foi comemorada com luzes, cantos e tumultos noturnos.

anátemas, o mais puro veneno da heresia apolinária; e descreveu o primado alexandrino (Cirilo) como um monstro, nascido e educado para a destruição da igreja.

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“Mas os orientais se recusaram a ceder e os católicos, orgulhosos de seu número e de seus aliados latinos, rejeitaram todos os termos de união e tolerância. A paciência do manso imperador Teodósio foi provocada, e ele dissolveu, irado, este tumulto episcopal, que na distância de treze séculos assumiu o venerável aspecto de Terceiro Concílio Ecumênico. ‘Deus é minha testemunha’, disse o piedoso príncipe, ‘que eu não sou o

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“Pela vigilância de Memnon, as igrejas foram fechadas contra eles, e uma forte guarnição foi colocada na catedral. As tropas, sob o comando de Candidian, avançaram para o assalto; as sentinelas foram cercadas e mortas à espada, mas o lugar era inexpugnável; os sitiantes retiraram-se; sua retirada foi perseguida por um vigoroso grupo; eles perderam seus cavalos e muitos soldados foram perigosamente feridos com paus e pedras. Éfeso, a cidade da virgem, foi profanada com ódio e clamor, com sedição e sangue; o sínodo rival lançou maldições e excomunhões de sua máquina espiritual; e a corte de Teodósio ficou perplexa pelas narrativas diferentes e contraditórias dos partidos da Síria e do Egito. Durante um período tumultuado de três meses o imperador tentou todos os meios, exceto o mais eficaz, isto é, a indiferença e o desprezo, para reconciliar esta disputa teológica. Ele tentou remover ou intimar os líderes por uma sentença comum de absolvição ou de condenação; ele investiu seus representantes em Éfeso com amplos poderes e força militar; ele escolheu de ambos os partidos oito deputados para uma suave e livre conferência nas vizinhanças da capital, longe do contagioso frenesi popular.

autor desta confusão. Sua providência discernirá e punirá o culpado. Voltem para suas províncias, e possam suas virtudes privadas reparar o erro e o escândalo deste encontro’. “(...) os abades Dalmácio e Êutico tinham devotado seu zelo à causa de Cirilo, o adorador de Maria, e à unidade de Cristo. Desde o primeiro momento de sua vida monástica eles nunca tinham se misturado com o mundo ou pisado no chão profano da cidade. Mas neste terrível momento de perigo para a igreja, seus votos foram superarados por um mais sublime e indispensável dever. À frente de uma ordem de eremitas e monges, carregando archotes em suas mãos e cantando hinos à mãe de Deus, eles foram de seus mosteiros ao palácio do imperador”5 (grifo do autor). Longe de ser uma disputa teológica, na qual a Palavra de Deus era o padrão da verdade, essa foi uma guerra política, ocasião em que Maria foi proclamada a “mãe de Deus”, iniciando uma ascensão que fez dela a deusa que é hoje.

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Mas o fundamento de Deus permanece. “Não terás outros deuses diante de mim”, diz o Senhor. E muito menos deusas!

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Nem todas as sutilezas teológicas produzidas pelo catolicismo terão poder de inocentar os milhões aprisionados na idolatria mariana. Nenhum longo tratado, nenhuma citação da patrística e nenhuma alegação da tradição serão suficientes para apagar dessas almas manchadas o envolvimento com essas entidades que se intitulam “Senhoras”. São mais de quinze séculos de práticas pagãs, justificadas por argumentos ilegítimos, tentando tornar aceitável o inaceitável.

Bibliografia: “O Novo Testamento interpretado versículo por versículo”. R.N. Champlin, Candeia. “O Apóstolo”. Sholem Asch. Companhia Editora Nacional. “Virgem Maria”. Aníbal Pereira dos Reis. Edições Caminho de Damasco. Decline and Fall of Roman Empire. Edward Gibbon. Encyclopaedia Britannica. INC. Vol II Revista “Tudo”. Setembro/2001 A História da Civilização – Nossa Herança Oritental. Will Durant, Ed. Record. Vol I. Notas:

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1 O Apóstolo. Sholem Asch, pp.386-387. 2 Revista Super ieressante de agosto 1988. número 8, ano 2. 2 O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. R.N. Champlin. Candeia, p .431. 3 CIC, p. 273, item 966. 4 Declínio e Queda do Império Romano. Vol II. 5 Decline and Fall of Roman Empire. Edward Gibbon. Encyclopaedia Britannica. INC. Vol II, pp. 140-142.

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2. DIFERENÇA ENTRE DEVOÇÃO RELIGIOSA E IDOLATRIA Por Márcio Souza É possível alguém adorar o verdadeiro Deus e cair no pecado de idolatria? Uma pessoa pode devotar-se a outra ou a alguma coisa e ainda assim achar que está promovendo a genuína adoração? A resposta a essas duas perguntas é um sonoro SIM. Como exemplo, podemos extrair das páginas da Bíblia a história do povo de Israel. A serpente de metal

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Quem não conhece a história bíblica da serpente de metal? O povo de Israel, no deserto, murmurou contra Deus e Moisés. Então, o que o Senhor fez? Enviou serpentes ardentes para morder o povo, que logo reconhece tratar-se de um castigo divino decorrente da atitude que vinha cometendo. Os israelitas clamaram a Moisés, e este foi orientado por Deus a erguer uma serpente de metal no meio do acampamento. Aqueles, portanto, que fossem mordidos pelas serpentes abrasadoras tinham apenas de olhar para a serpente de metal para que ficassem livres dos efeitos de suas mordidas. Com o tempo, porém, os israelitas passaram a cultuar a serpente de metal como um ídolo, dando-lhe o nome de Neustã. Tempos depois, em virtude da atitude insensata dos israelitas, o piedoso rei Josias ordenou a destruição dessa serpente, que se havia tornado objeto de adoração para a nação de Israel.

E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia (Nm 21.8-9). Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã (2 Rs 18.4). Templo do Senhor

As Testemunhas de Jeová corroboram com o nosso ponto de vista de que é possível alguém prestar culto a Deus por meio de uma organização religiosa e, ao mesmo tempo, tornar-se idólatra. Declaram: Se uma pessoa rende serviço em obediência a alguém ou a alguma organização, quer voluntária, quer compulsoriamente,

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O que dizem as Testemunhas de Jeová

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Em outra ocasião, os judeus passaram a confiar na linhagem davídica e no sacerdócio araônico, para que pudessem salvar-se dos invasores. Diziam eles: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este (Jr 7.4). Muito embora os judeus tivessem demonstrado fé no templo do Senhor, que ficava em Jerusalém e era uma de suas glórias, não tiveram eles o livramento esperado. Por isso foram levados cativos por Nabucodonosor para Babilônia (2 Rs 25.8-9). Isso porque eles olhavam para o templo apenas como um meio para se livrarem das forças inimigas. Resultado? Foram culpados de idolatria!

considerando como algo em posição superior de domínio e com grande autoridade, então se pode dizer biblicamente que tal pessoa é idólatra (A Sentinela - 1 de março de 1962. STV. p. 141). E a pretensão de todas as organizações religiosas é que a adoração a Deus deve ser feita mediante uma ou outra das múltiplas organizações religiosas, com seus grandes e pequenos sistemas clericais, como ‘representantes’ de Deus. Elas também são imagens, obras das mãos dos homens, e destinadas à destruição com todas as outras formas de idolatria (Seja Deus Verdadeiro - 1949. STV. p.137). Não podemos participar de nenhuma versão moderna de idolatria – seja em forma de gestos adorativos diante de uma imagem ou de um símbolo, seja por imputar salvação a uma pessoa ou a uma organização (A Sentinela - 1 de novembro de 1990. STV. p. 26).

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Quanta incoerência das Testemunhas de Jeová! Cabem bem aqui as palavras do apóstolo Paulo em Romanos

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Declaram, ainda, que o fato de alguém se voltar para uma organização religiosa e confiar nela como único meio de salvação não passa de um ato de apostasia moderna. Incrivelmente, essa declaração das Testemunhas de Jeová está ancorada nas palavras do apóstolo Paulo, que disse que, imediatamente após a sua morte, os homens apostatariam da fé verdadeira e passariam a devotar-se às organizações religiosas. O apóstolo João também falou a respeito do mesmo efeito causado pela obra de Satanás. Pedro, por sua vez, declara: Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo (2Pe 2.19).

2.21a: Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? A idolatria das Testemunhas de Jeová Porventura as Testemunhas de Jeová não se tornam idólatras quando atribuem a salvação à sua própria organização? Chegam a usar da analogia da salvação em relação à arca de Noé, dizendo: Simplesmente não é verdade que todas as religiões conduzem ao mesmo fim. Você precisa pertencer à organização de Jeová e fazer a vontade de Deus, a fim de receber sua bênção de vida eterna (Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra Edição 1983. STV p. 255).

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A Sociedade Torre de Vigia declara: Tenha fé na organização vitoriosa de Jeová (A Sentinela - 1 de setembro de 1979. STV. p.12). Devemos, então, perguntar: fé em Deus e no Senhor Jesus Cristo ou em uma organização religiosa? A Bíblia nos oferece a resposta por meio das palavras do próprio Senhor Jesus em João 14.1: Credes em Deus, crede também em mim.

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As Testemunhas de Jeová condicionam a salvação a duas providências: 1) fazer a vontade de Deus; e 2) pertencer à organização de Jeová, referindo-se à sua própria seita religiosa. De fato, precisamos fazer a vontade de Deus, como ensinou Jesus na oração dominical: ...seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu (Mt 6.10). Mas, pertencer à Sociedade Torre de Vigia, considerando-a o único meio de salvação, é um ato de idolatria. A salvação depende única e exclusivamente do Senhor Jesus: E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.12).

O escravo fiel e discreto Na Tradução do Novo Mundo, uma publicação da Sociedade Torre de Vigia, a versão de Mateus 24.45 vem da seguinte forma: escravo fiel e discreto. Essa figura é aplicada pelas Testemunhas de Jeová a seus líderes, pessoas encarregadas de distribuir-lhes o alimento espiritual desde 1914. Esses líderes também são conhecidos como Corpo Governante. Os prosélitos dessa seita afirmam que seus líderes, com ministério sediado no Brooklin, Nova Iorque, recebem orientação teocrática e, por isso, não devem ser questionados em sua autoridade supostamente divina. Ao contrário, devem ser cegamente obedecidos. Pois, segundo crêem as Testemunhas de Jeová, tais homens são os únicos intérpretes infalíveis das Escrituras.

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A Bíblia é um livro de organização e pertence à congregação cristã como organização, e não a indivíduos, não importa quão sinceramente creiam poder interpretar a Bíblia. Por esta razão, a Bíblia não pode ser devidamente entendida sem se ter presente a organização visível de Jeová (A Sentinela- 1 de junho de

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Ainda segundo as Testemunhas de Jeová, a Bíblia não foi escrita para ninguém, a não ser para elas próprias, somente. Ele [Deus] não alimenta cada um individualmente nem designa sobre eles [adeptos da Seita] uma só pessoa. Nenhum estudante individual da Palavra de Deus revela a vontade de Deus, tampouco interpreta a sua Palavra. Deus interpreta e ensina, mediante Cristo, o Servo Principal, que por sua vez usa o escravo discreto como canal visível, a organização teocrática visível (A Sentinela - novembro de 1952. STV. p. 164).

1968. STV. p. 327). As Testemunhas de Jeová podem até vir a discordar do ensino do Corpo Governante, mas isso de nada adiantará. Pois é aquilo que o escravo fiel e discreto escreve nas publicações da Sociedade Torre de Vigia que deve ser transmitido de porta em porta quando os adeptos dessa seita saem em seu trabalho de campo: As verdades que havemos de publicar são aquelas que a organização do escravo discreto fornece, e não algumas opiniões pessoais contrárias ao que o escravo providenciou como sendo sustento conveniente (A Sentinela - novembro de 1952. STV, p. 164). E concluem: Os que permanecem leais à organização de Jeová assumem o parecer que os apóstolos tinham, quando muitos dos discípulos de Jesus deixaram de segui-lo. Pedro expressou os sentimentos deles, dizendo: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. As ovelhas leais vêem que o caminho da vida é com a organização fiel de Jeová (A Sentinela - 1 de maio de 1963. STV, p. 279). O fim da lei é Cristo

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Se uma pessoa obedece a alguém ou a alguma organização, voluntária ou compulsoriamente, como algo

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Quem poderia imaginar que as Testemunhas de Jeová, no seu zelo religioso, se assemelhassem àqueles a quem Paulo afirmou: Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitam à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê (Rm 10.2-4).

de domínio superior e de grande autoridade, então podese dizer biblicamente que tal pessoa é idólatra.

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Por Elvis Brassaroto Aleixo Depois de quase três décadas, o filme “O exorcista” (pioneiro do gênero de exaltação às forças do mal e assistido por milhões de pessoas) retorna às telas dos cinemas brasileiros. Nos EUA, na primeira semana de

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3. EXORCISMO – AS FORÇAS DO MAL EM FOCO

exibição da nova versão desse trabalho, o faturamento girou em torno de U$ 8,5 milhões. Qual a razão de tamanho sucesso e interesse por esse filme 27 anos depois de sua exibição original? A grande atração seriam os onze minutos de imagens cortadas em sua primeira edição. Um outro motivo seria o forte interesse das pessoas, por mais materialistas que sejam, por temas religiosos e proposições de fé.

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Por causa desse acontecimento veio grande temor sobre todos os habitantes de Éfeso, os feiticeiros queimaram seus livros de magia publicamente, o nome do Senhor Jesus foi engrandecido e a Palavra de Deus cresceu e prevaleceu poderosamente (At 19.13-20).

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O exorcismo, ato de esconjurar ou expelir demônios, é encontrado em várias passagens bíblicas. Na época em que o cristianismo se expandia, existiam alguns judeus que praticavam o exorcismo como profissão. Durante os dois anos em que o apóstolo Paulo esteve na Ásia pregando o evangelho aos judeus e aos gregos, foram notórias as extraordinárias obras que Deus fez através das suas mãos. Os seus lenços e aventais eram levados aos enfermos e as enfermidades fugiam dos doentes; os espíritos malignos saíam. Admirados por tal proeza, “alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega. E os que faziam isto eram os sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. Respondendo, porém, o espírito maligno disse: “Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhorando-se de todos, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa”.

No tempo de Jesus não havia muitos critérios para que fosse atribuída a uma pessoa possessão demoníaca. João Batista, precursor de Jesus, era tido como possesso: “Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio” (Mt 11.18). Quando Jesus acusou os judeus de procurar matá-lo, “a multidão respondeu, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?” (Jo 7.20). Ao discursar sobre a parábola do Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, as palavras de Cristo causaram divisão entre os judeus: “E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis? Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos? (Jo 10. 20-21). As fórmulas mágicas de Roma

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Temos na obra “Manual do exorcista” - um pequeno compêndio elaborado pelo Sumo Pontífice León Magno III - orações contra toda espécie de encantamentos; de sortilégios a possessões. “Estas preces foram organizadas para serem entregues ao imperador Carlos Magno, com o intuito de se utilizar no combate às interferências espirituais malignas que pretendessem envolvê-lo”5. Segundo o papa, essas orações fariam que o poder do imperador fosse ilimitado na terra.

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A igreja católica romana reivindica, através da autoridade eclesiástica, ser o canal exclusivo de libertação em casos de possessão demoníaca. No catolicismo, “o exorcismo propriamente dito é reservado aos sacerdotes especialmente designados pelo Bispo diocesano” 3. Ninguém pode legitimamente fazer exorcismo em possessos a não ser que tenha obtido licença especial e expressa do Ordinário local”4.

Um meio pelo qual se podia valer o exorcista para a realização do ritual era o uso de água benta salpicada nas partes mais afetadas pelo demônio. Se o possuído apresentava o perigo de atacar alguém, era amarrado. O ritual empreendia muitas conjurações, dentre as quais destacamos algumas: “Deus, a majestade de Cristo, o Espírito Santo, o Sacramento da cruz, a fé dos apóstolos Pedro e Paulo e os demais santos, o sangue dos mártires, a intervenção dos santos e das santas, os mistérios da fé cristã, ordenam-te a obedecer. Saia, violador da lei; saia, sedutor cheio de astúcia e de engano, inimigo da virtude, perseguidor dos inocentes, ceda teu espaço, crudelíssimo, cede-o, imundo; cede-o para Cristo, a quem não pode chegar, pois ele te despojou e te tirou do teu reino, e te encarcerou depois de tê-lo vencido e atirado para as trevas exteriores, onde os mortos esperam a ti e os teus companheiros”6.

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Embora a autoridade conferida ao exorcista por meio do nome de Jesus seja um notável sinal de poder, isso não lhe garante entrada no reino de Deus: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E

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A arrogante detenção exclusivista do poder de exorcismo também foi ab-rogada pelos discípulos íntimos de Jesus, assim relatadas nas palavras de João: “Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós” (Jo 9.3840, grifo do autor).

em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mt 7.22-23, grifo do autor). A autenticidade da libertação do possesso está fincada na eficácia que há no nome de Jesus, conforme é inferido nos quatro evangelhos. Jesus nunca ensinou a evocar nomes de santas ou santos para este propósito. Paulo e Pedro nunca mencionaram nomes de profetas ou de mártires do Antigo Testamento (Mt 23.37) para obter êxito nos seus ministérios. Enfatizamos que é, única e exclusivamente, através do nome de Jesus que alguém pode ser verdadeiramente livre da opressão diabólica! (Jo 8.32,36; At 16.18). Tãosomente Ele pode aliviar os oprimidos! (Mt 11.28). Cristãos endemoninhados?

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Para fundamentar esta exótica doutrina, seus defensores alegam a possessão de crentes em alguns casos bíblicos: Judas Iscariotes, Pedro, Ananias e Safira, entre outros.

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Existe entre os cristãos sinceros uma preocupação demasiada com a demonologia. Alguns chegam ao absurdo de admitir a possessão de crentes. Esta doutrina tem causado grandes conflitos entre os cristãos que no passado estiveram envolvidos com o espiritismo. Quando velhas criaturas, praticavam a comunicação com os mortos, recebendo entidades espirituais no exercício da mediunidade. Agora, como novas criaturas, temem e acreditam que suas experiências passadas os tornam mais suscetíveis à possessão demoníaca que os outros cristãos.

Quanto a Judas Iscariotes Apesar de ser um dos doze, não era um cristão autêntico. Em João 6.70 Jesus declara: Não vos escolhi vós os doze? e um de vós é um diabo (grifo do autor). Judas não era como os demais: “Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos” (Jo 13.10-11, grifo do autor). Arrazoamos ainda: poderia um cristão autêntico roubar? Judas Iscariotes era ladrão: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tinha dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (Jo 12.6). Seu final não poderia ter sido mais trágico: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar” (Mt 27.5). Quanto a Pedro

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Como explicar Marcos 8.33? “Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são do homem” (grifo do autor).

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Na cerimônia do lava-pés, Pedro não permitiu que Jesus o lavasse: “Nunca me lavarás os pés. Repicou-lhe Jesus: Se eu não te lavar não tens parte comigo” (Jo 13.8). Após ter entendido que esta atitude era equivalente a rejeitar Jesus e seus benefícios, o impetuoso apóstolo pediu que lhe fossem lavados não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça (Jo 13.9). Como vimos, havia um que estava impuro, e este não era Pedro.

Em seu intenso cuidado humano, Pedro serviu de instrumento satânico ao pronunciar palavras que se opunham aos planos de Deus para a salvação da humanidade. Não há nenhuma evidência de possessão, mas, sim, uma influência diabólica a qual todos os que não vigiam estão expostos (Mc 14.38). Alguns momentos antes, na ocasião em que Jesus interrogou os discípulos acerca da sua identidade, Pedro havia sido elogiado: “...Quem dizem os homens ser o filho do homem?... E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo... Bem aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus (Mt 16.13-17, grifo do autor). Depois de algum tempo, em virtude de suas experiências e tendo adquirido maior maturidade espiritual, o apóstolo enfatizou a importância da vigilância e explicou a posição do diabo em relação à vida do cristão: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pe 5.8, grifo do autor).

“Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás seu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?” (At 5.3, grifo do autor). Ananias e sua esposa receberam ataques de Satanás – a Bíblia diz: “Não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27) – e, em

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Quanto a Ananias e Safira

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No final de sua vida, Pedro autenticou sua fé como mártir, morrendo crucificado de cabeça para baixo por não se achar digno de morrer como seu mestre 7.

conseqüência, revelaram reações pecaminosas. Jesus disse: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21). A questão em pauta é tão-somente o fato de tentarem mentir ao Espírito Santo e a falta de fé para fazer como os demais discípulos que depositavam aos pés dos apóstolos todo o valor da herdade que possuíam. Uma impossibilidade à luz da Bíblia

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Não há quaisquer possibilidades de um crente genuíno ser possuído por demônios. O verdadeiro cristão, sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-14), é nascido de Deus (Jo 3.3), e a Ele se sujeita resistindo ao diabo (Tg 4.4) e o maligno não lhe toca (1 Jo 5.18). Não discordamos que crentes aparentes, disfarçados, fiquem possessos. E, diante disso, é aconselhável que alguém com o dom

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Infelizmente, em alguns cultos “evangélicos” dá-se grande enfoque à atuação dos demônios na vida das pessoas, deixando em segundo plano o louvor e a adoração ao único que é digno de recebê-los (Ap 4.11). Examinando à Bíblia, entendemos que a libertação de pessoas endemoninhadas e a manifestação de espíritos malignos na presença de cristãos era um fator comum decorrente da verdade por Jesus ensinada, pois não pode haver comunhão entre a luz e as trevas. Não se determinava um culto periódico específico para tal prática. Surge a questão: Como deveriam proceder os irmãos da igreja primitiva nas suas reuniões? O apóstolo Paulo responde: “Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14.26, grifo do autor). A Palavra de Deus é cristocêntrica. Cristo é o centro das nossas vidas. Nos cultos, Cristo deve ser o centro das atenções!

específico de discernir espíritos prove se tal pessoa está realmente endemoninhada. Essa classe de indivíduos foi comparada por Jesus com o joio, erva daninha inútil que não serve para qualquer proveito. Tais pessoas precisam urgentemente da regeneração do Espírito Santo; do contrário, tendo crescido o joio, deve ser separado do trigo e queimado (Mt 13.24-30). Existe uma gritante distinção entre a aparência e a essência. O Deus que servimos olha para dentro (coração), e não para fora (1 Sm 16.7). Ratificamos a impossibilidade de o crente ser possuído por demônios com as seguintes considerações: Somos templo do Espírito Santo e este, por sua vez, não é um visitante esporádico, antes, é um morador permanente que não se ausenta de sua morada (1 Co 6.19,20); Esse glorioso habitante é zeloso e sente ciúmes de seu santuário (Tg 4.5);

Somos auxiliados em nossas fraquezas pela incomparável intercessão do Espírito Santo (Rm 8.26); Somos mais que vencedores por aquele que nos amou e

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Somos um povo especial, propriedade exclusiva de Deus (Tt 2.14,1 Pe 2.9) resgatados por um preço caríssimo (Sl 49.8);

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Somos selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor (garantia) da nossa herança, para a redenção da possessão adquirida, para o louvor da sua glória (Ef 1.13-14);

estamos certos de que absolutamente nada poderá nos separar desse amor (Rm 8.37-39); O Senhor guarda a nossa alma contra todo mal (Sl 121.57); Jesus é o valente que venceu e expulsou Satanás das nossas vidas, tirando-lhe toda a sua armadura, repartindo os seus despojos (Lc 11.21-22); Se formos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si próprio (2 Tm 2.13). A soberania de Jesus sobre os demônios A possessão demoníaca é uma enfermidade espiritual que pode, às vezes, exteriorizar uma doença física. A Bíblia diz que o Cordeiro de Deus “verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si” (Is 53.4).

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Acontecimentos como esses foram comuns em seu ministério. Certa vez, Jesus curou um mudo e endemoninhado: “E expulsou o demônio, falou o mudo e

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O fariseu Nicodemos reconheceu que Jesus era mestre vindo de Deus por meio de seus singulares prodígios e grande parte desses prodígios estavam relacionados a curas de enfermidades. Em muitos casos, essas enfermidades eram frutos de possessões demoníacas. “E, tendo chegado a tarde, quando já estava se pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os endemoninhados. E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam” (Mc 1.34, grifo do autor).

a multidão se maravilhou dizendo: Nunca tal se viu em Israel” (Mt 9.33). Houve também algumas mulheres que foram libertas pelo seu poder: “e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios” (Mt 8.3; Mc 16.9). Lembramos também do relato histórico de um homem, gadareno, que era possuído por demônios. Não andava vestido, habitava nos sepulcros, era muitas vezes aprisionado com grilhões e cadeias e as prisões eram por ele quebradas; temível, era considerado um monstro na sociedade da época. Seríamos capazes de avaliar o rebuliço e a insegurança que causava a todos os moradores da cidade?

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Jesus sempre demonstrou sua soberania diante dos demônios, porém houve um caso em que seus discípulos não conseguiram expelir uma legião de demônios devido ao maior grau de resistência dessa legião e a falta de fé revelada pelos discípulos: “e trouxe-o (lunático) os teus discípulos e não puderam curá-lo. Então repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele; e desde aquela hora o

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O texto diz que repreendida por Jesus, a legião se prostrou diante dele: “E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes” (Lc 8.28). Os de demônios chegaram a suplicar-lhe que não os mandasse para um abismo próximo, sendo a eles concedido que entrassem numa vara de porcos que naquele momento pastava no local. O resultado foi glorioso: “Os habitantes da cidade acharam o homem de quem haviam saído os demônios, vestido, e em juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram” (Lc 8.35, grifo do autor).

menino sarou. Jesus explicou: Esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum” (Mt 17. 16,18, 21). Absolutamente, não é de qualquer maneira que podemos enfrentar os inimigos das nossas almas. Veja Efésios 6.10-18. O aparente fracasso dos discípulos causou-lhes desapontamento. Contudo, noutra passagem podemos contemplá-los cheio de alegria pelo fato de terem os demônios sujeitado-se à autoridade de Jesus a eles conferida (Lc 10.17). Nada era fruto da capacidade humana: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda força do inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.19, grifo do autor). O mundo jaz no maligno, o deus deste século (2 Co 4.4). Ele tem sob seus domínios os reinos deste mundo (Lc 4.4). O confronto de poderes, luz versus trevas, é inevitável. A Bíblia declara que a vitória é certa (1 Jo 4.4).

3 Pergunte e Responderemos, Ano XL. Maio. 1999. 444, p. 194. 4 Pergunte e Responderemos, Ano XL. Maio. 1999. 444, p. 197.

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Notas:

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Estejamos sempre prontos para este combate como bons soldados de Cristo, lembrando que o maior motivo da nossa alegria não é a sujeição dos demônios, mas, antes, por estar o nosso nome escrito no livro dos céus (Lc 10.20). Devemos sempre tributar adoração àquele que recebeu todo o poder no céu e na terra (Mt 28.18) e se revelou para desfazer as obras do diabo (1 Jo 3.8).

5 Manual do Exorcista (Orações do Papa León III). Papa León Magno. Madras 1998 (prefácio). 6 Manual do Exorcista (Orações do Papa León III). Papa León Magno. Madras 1998, p. 78. 7 Ele andou entre nós. Josh Macdowell & Bill Wilson. Candeia. 1988, p. 82.

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4. FESTAS JUNINAS – FOLCLORE OU RELIGIÃO? Por Natanael Rinaldi e Luiz Antonio Capriello O Inciso VI, do artigo 5º da Constituição Federal reza o seguinte: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. O ensino brasileiro tem explorado em nossas escolas (públicas e/ou particulares) as muitas manifestações folclóricas do nosso povo, inserindo-as em seus calendários de atividades com o respeitável propósito de auxiliar a definição da verdadeira identidade brasileira. Nosso país, em virtude de seu passado histórico, absorveu diversas culturas e costumes, fato que nos tornou conhecidos como “um país de muitas caras”. Desde que conquistamos a independência de Portugal estamos lutando para nos descobrirmos. E um dos meios eficazes para atingir esse objetivo é justamente a avaliação acurada das vastas e peculiares manifestações populares.

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Uma herança portuguesa

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Naturalmente, as festas juninas fazem parte das manifestações populares mais praticadas no Brasil, e todas as considerações sobre essas comemorações exigem uma análise equilibrada, pois há um limite entre o folclore e a religião, visto que esta quase sempre acaba mesclando-se com as tradições. E é justamente o que propomos neste artigo: uma avaliação equilibrada. Afinal, será que temos maturidade espiritual para delinear as fronteiras entre o que é folclore e o que é religião?

A palavra folclore é formada dos termos ingleses folk (gente) e lore (sabedoria popular ou tradição) e significa “o conjunto das tradições, conhecimentos ou crenças populares expressas em provérbios, contos ou canções; ou estudo e conhecimento das tradições de um povo, expressas em suas lendas, crenças, canções e costumes”. Como é do conhecimento geral, fomos descobertos pelos portugueses, povo de crença reconhecidamente católica. Suas tradições religiosas foram por nós herdadas e facilmente se incorporaram em nossas terras, conservando seu aspecto folclórico. Sob essa base é que as instituições educacionais promovem, em nome do ensino, as festividades juninas, expressão que carrega consigo muito mais do que uma simples relação entre a festa e o mês de sua realização. Entretanto, convém ressaltar a coerente distância existente entre as finalidades educacionais e as religiosas. Além disso, não podemos nos esquecer de que o teor de tais festas oscila de região para região do país, especialmente no Norte e no Nordeste, onde o misticismo católico é mais acentuado.

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As primeiras referências às festas de São João no Brasil datam de 1603 e foram registradas pelo frade Vicente do Salvador, que se referiu aos nativos que aqui estavam da seguinte forma: “os índios acudiam a todos os festejos dos portugueses com muita vontade, porque são muito amigos de novidade, como no dia de São João Batista,

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As origens dessa comemoração remontam à antiguidade, quando se prestava culto à deusa Juno da mitologia romana. Os festejos em homenagem a essa deusa eram denominados “junônias”. Daí o atual nome “festas juninas”.1

por causa das fogueiras e capelas”.2 A origem das festividades Para as crianças católicas, a explicação para tais festividades é tirada da Bíblia com acréscimos mitológicos. Os católicos descrevem o seguinte:

As comemorações do dia de São João Batista, realizadas

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Como podemos ver, a forma como é descrita a origem das festas juninas é extremamente pueril, justamente para que alcance as crianças.

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“Nossa Senhora e Santa Isabel eram muito amigas. Por esse motivo, costumavam visitar-se com freqüência, afinal de contas amigos de verdade costumam conversar bastante. Um dia, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora para contar uma novidade: estava esperando um bebê ao qual daria o nome de João Batista. Ela estava muito feliz por isso! Mas naquele tempo, sem muitas opções de comunicação, Nossa Senhora queria saber de que forma seria informada sobre o nascimento do pequeno João Batista. Não havia correio, telefone, muito menos Internet. Assim, Santa Isabel combinou que acenderia uma fogueira bem grande que pudesse ser vista à distância. Combinou com Nossa Senhora que mandaria erguer um grande mastro com uma boneca sobre ele. O tempo passou e, do jeitinho que combinaram, Santa Isabel fez. Lá de longe Nossa Senhora avistou o sinal de fumaça, logo depois viu a fogueira. Ela sorriu e compreendeu a mensagem. Foi visitar a amiga e a encontrou com um belo bebê nos braços, era dia 24 de junho. Começou, então, a ser festejado São João com mastro, fogueira e outras coisas bonitas, como foguetes, danças e muito mais!”3

em 24 de junho, deram origem ao ciclo festivo conhecido como festas juninas. Cada dia do ano é dedicado a um dos santos canonizados pela Igreja Católica. Como o número de santos é maior do que o número de dias do ano, criou-se então o dia de “Todos os Santos”, comemorado em 1 de novembro. Mas alguns santos são mais reverenciados do que outros. Assim, no mês de junho são celebrados, ao lado de São João Batista, dois outros santos: Santo Antônio, cujas festividades acontecem no dia 13, e São Pedro, no dia 24.

Santo Antônio

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Sua devoção foi introduzida no Brasil pelos padres franciscanos, que fizeram erigir em Olinda (PE) a primeira igreja dedicada a ele. Faz parte da tradição que as moças casadouras recorram a Santo Antônio, na véspera do dia 13 de junho, formulando promessas em troca do desejado matrimônio. Esse fato acabou

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Pouca gente sabe que o nome verdadeiro desse santo não era Antônio, mas Fernando de Bulhões, segundo consta. Ele nasceu em Portugal em 15 de agosto de 1195 e faleceu em 13 de junho de 1231. Aos 24 anos, já na Escola Monástica de Santa Cruz de Coimbra, foi ordenado sacerdote. Ao tomar conhecimento de que quatro missionários foram mortos pelos serracenos, decidiu mudar-se para Marrocos. Ao retornar para Portugal, a embarcação que o trazia desviou-se da rota por causa de uma tempestade, e ele foi parar na Itália. Lá, foi nomeado pregador da Ordem Geral. Viveu tratando dos enfermos e ajudando a encontrar coisas perdidas. Dedicava-se ainda em arranjar maridos para as moças solteiras.

curiosamente transformando 12 de junho no “Dia dos Namorados”. No dia 13, multidões se dirigirem às igrejas pelo pão de Santo Antônio. Dizem que é bom carregar o santo na algibeira para receber proteção. É bastante comum entre as devotas de Santo Antônio colocá-lo de cabeça para baixo no sereno amarrado em um esteio. Ou então jogá-lo no fundo do poço até que o pedido seja satisfeito. Depois cantam: “Meu Santo Antônio querido, Meu santo de carne e osso, Se tu não me deres marido, Não te tiro do poço”. As festas antoninas são urbanas, caseiras, domésticas, porque Santo Antônio é o santo dos nichos e das barraquinhas.

“São João a vinte e quatro São Pedro a vinte e nove Santo Antônio a treze Por ser o santo mais nobre”4. São João

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Ainda para Santo Antônio, cantam seus admiradores:

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Na A Tribuna de 14 de junho de 1997, página A8, lemos: “O dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, foi lembrado... com diversas missas e a distribuição de 10 mil pãezinhos. Milhares de fiéis compareceram às igrejas para fazer pedidos, agradecer as graças realizadas e levar os pães, que, segundo dizem os fiéis, simbolizam a fé e garantem fartura à mesa”.

A Igreja Católica o consagrou santo. Segundo essa igreja, João Batista nasceu em 29 de agosto, em 31 A.D., na Palestina, e morreu degolado por Herodes Antipas, a pedido de sua enteada Salomé (Mt 14.1-12). A Bíblia, em Lucas 1.5-25, relata que o nascimento de João Batista foi um milagre, visto que seus pais, Zacarias e Isabel, na ocasião, já eram bastante idosos para que pudessem conceber filhos. Em sua festa, São João é comemorado com fogos de artifício, tiros, balões coloridos e banhos coletivos pela madrugada. Os devotos também usam bandeirolas coloridas e dançam. Erguem uma grande fogueira e assam batata-doce, mandioca, cebola-do-reino, milho verde, aipim etc. Entoam louvores e mais louvores ao santo. As festas juninas são comemoradas de uma forma rural, sempre ao ar livre, em pátios e/ou grandes terrenos previamente preparados para a ocasião.

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Se em vida João Batista recusou qualquer tipo de homenagem ou adoração, será que agora está aceitando essas festividades em seu nome, esse tipo de adoração à sua pessoa? Certamente que não!

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João Batista, biblicamente falando, foi o precursor de Jesus e veio para anunciar a chegada do Messias. Sua mensagem era muito severa, conforme registrado em Mateus 3.1-11. Quando chamaram sua atenção para o fato de que os discípulos de Jesus estavam batizando mais do que ele, isso não lhe despertou sentimentos de inveja (Jo 4.1), pelo contrário, João Batista se alegrou com a notícia e declarou que não era digno de desatar a correia das sandálias daquele que haveria de vir, referindo-se ao Salvador (Lc 3.16).

São Pedro É atribuída a São Pedro a fundação da Igreja Católica, que o considera o “príncipe dos apóstolos” e o primeiro papa. Por esse motivo, os fiéis católicos tributam a esse santo honrarias dignas de um deus. Para esses devotos, São Pedro é o chaveiro do céu. E para que alguém possa entrar lá é necessário que São Pedro abra as portas. Uma das crendices populares sobre São Pedro (e olha que são muitas!) diz que quando chove e troveja é porque ele está arrastando móveis no céu. São Pedro é cultuado em 29 de junho como patrono dos pescadores. Na ocasião, ocorrem procissões marítimas em sua homenagem com grande queima de fogos. Para os pescadores, o dia de São Pedro é sagrado. Tanto é que eles não saem ao mar para pescaria. A brincadeira de subir no pau-de-sebo é a que mais se destaca nas festividades comemorativas a São Pedro. O objetivo para quem participa é alcançar os presentes colocados no topo.

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Quando Pedro, sob a autoridade do nome de Jesus, curou o coxo que jazia à porta Formosa do templo de Jerusalém e teve a atenção do povo voltada para ele como se por sua virtude pessoal tivesse realizado o milagre não titubeou, mas declarou com muita segurança: “Por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude

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Os sentimentos do apóstolo Pedro eram extremamente diferentes do que se apregoa hoje, no dia 29. De acordo com sua forma de agir e pensar, conforme mencionado na Bíblia, temos razões para crer que ele jamais aceitaria os tributos que hoje são dedicados à sua pessoa.

ou santidade fizéssemos andar este homem? ...o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus ... Pela fé no nome de Jesus, este homem a quem vedes e conheceis foi fortalecido. Foi a fé que vem pelo nome de Jesus que deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” (At 3.12-16). O Pedro da Bíblia demonstrou humildade ao entrar na casa de Cornélio, que saiu apressado para recepcioná-lo. O texto sagrado declara: “E aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e, prostrando-se a seus pés, o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Levantate, que eu também sou homem” (At 10.25-26). Os balões A sociedade “Amigos do Balão” nasceu em 1998 para defender a presença do ‘balão junino’ nessas festividades. O padre jesuíta Bartolomeu de Gusmão e o inventor Alberto Santos são figuras ilustres entre os brasileiros por soltarem balões por ocasião das festas juninas de suas épocas, portanto podemos dizer que eles foram os precursores dessa prática.

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Todos os cultos das festas juninas estão relacionados com a sorte. Por isso os devotos acreditam que ao

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Hoje, como sabemos, as autoridades seculares recomendam os devotos a abster-se de soltar balões pelos incêndios que podem provocar ao caírem em uma floresta, refinaria de petróleo, casas ou fábricas. Não obstante, essa prática vem resistindo às proibições das autoridades. Geralmente, os balões trazem inscrições de louvores aos santos de devoção dos fiéis, como, por exemplo, “VIVA SÃO JOÃO!!!”, ou a outro santo qualquer comemorado nessas épocas.

soltarem um balão e ele subir sem nenhum problema seus desejos serão atendidos, caso contrário (se o balão não alcançar as alturas) é um sinal de azar. Mas tudo isso não passa de crendices populares. Sincretismo religioso Religiões de várias regiões do Brasil, principalmente na Bahia, aproveitam-se desse período de festas juninas para manifestar sua fé junto com as comemorações católicas. O candomblé, por exemplo, ao homenagear os orixás da sua linha, mistura suas práticas com o ritual católico. Assim, durante o mês de junho, as festas romanas ganham um cunho profano com muito samba de roda e barracas padronizadas que servem bebidas e comidas variadas. Paralelamente, as bandas de axé music se espalham pelas ruas das cidades baianas durante os festejos juninos. Lá, devido ao candomblé, Santo Antônio é confundido com Ogum, santo guerreiro da cultura afro-brasileira. Os evangélicos e as festas juninas

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Quanto à essa questão, tão polêmica, é oportuno mencionar o comportamento de certas igrejas evangélicas, com a alegação de estarem propagando o

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Diante de tudo isso, perguntamos: “Teria algum problema os evangélicos acompanharem seus filhos em uma dessas festas juninas realizadas nas escolas, quando as crianças, vestidas a caráter (de caipirinha), dançam quadrilha e se fartam dos pratos oferecidos nessas ocasiões: cachorro-quente, pipoca, milho verde etc?”. É óbvio que nenhum crente participa dessas festas com o objetivo de praticar a idolatria, pois tal procedimento, por si só, é condenado por Deus!

evangelho durante o Carnaval, dedicam-se a um tipo duvidoso de evangelização nessa época do ano. Fazem de tudo, inclusive usam blocos carnavalescos com nomes bíblicos. Não devemos nos esquecer, no entanto, de que as estratégias evangelísticas devem ocorrer o ano todo, e não apenas em determinadas ocasiões. O mesmo acaba acontecendo no período das festas juninas. Ultimamente, surgiram determinadas igrejas evangélicas que, a fim de levantar fundo para os necessitados e distribuir cestas básicas aos pobres, estão armando barracas junto com os católicos em locais em que as festas juninas são promovidas por órgãos públicos. Os produtos que vendem, diga-se de passagem, são característicos das festividades juninas. Os “cristãos” que ficam nas barracas vestem-se a caráter e pensam que, dessa forma, estão procedendo biblicamente. E o que dizer das igrejas que promovem festas juninas em suas próprias dependências com a alegação de arrecadarem fundos? As festas juninas têm um caráter religioso que desagrada a Deus. Então, como separar o folclore da religião se ambas estão intrinsecamente ligadas? Página

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O povo de Israel abraçou os costumes das nações pagãs e foi criticado pelos profetas de Deus. A vida de Elias é um exemplo específico do que estamos falando. Ele desafiou o povo de Israel a escolher entre Jeová Deus e Baal. O profeta pôs o povo à prova: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o” (1Rs 18.21). É claro que o contexto histórico do texto bíblico em pauta é outro, mas, como observadores e seguidores da Palavra de Deus, devemos tomar muito cuidado para não nos envolvermos com práticas herdadas do paganismo. Pois é muito arriscada a mistura de costumes religiosos,

impróprios à luz da Bíblia, adotada por alguns evangélicos. É preciso que os líderes e pastores aprofundem a questão, analisem a realidade cultural do local em que desenvolvem certas atividades evangelísticas e ministério e orientem os membros de suas respectivas comunidades para que criem e ensinem os filhos nos preceitos recomendados pela Palavra de Deus. O simples fato de proibirem as crianças a participar dessas comemorações na escola em que estudam não resolve o problema, antes, acaba agravando a situação. O que diz a Bíblia Para muitos cristãos, pode parecer que a participação deles nessas festividades juninas não tenha nenhum mal, e que a Bíblia não se posiciona a respeito. O apóstolo Paulo, no entanto, declara em 1 Coríntios 10.11 que as coisas que nos foram escritas no passado nos foram escritas para advertência nossa. Vejamos o que ele disse: “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. Página

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O que nos mostra a história do povo de Israel em sua caminhada do Egito para Canaã? Quando os israelitas acamparam junto ao Monte Sinai, Moisés subiu ao monte para receber a lei da parte de Deus. A demora de Moisés despertou no povo o desejo de promover uma festa a Deus. Arão foi consultado e, depois de concordar, ele próprio coletou os objetos de ouro e fabricou um bezerro com esse material. O texto bíblico diz o seguinte: “Ele os tomou das suas mãos, e com um buril deu forma ao ouro, e dele fez um bezerro de fundição. Então eles disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. Arão, vendo isto, edificou um altar diante

do bezerro e, apregoando, disse: Amanhã será festa ao Senhor” (Êx 32.4-5). Qual foi o resultado dessa festa idólatra ao Senhor? Deus os puniu severamente: “Chegando ele ao arraial e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se-lhe a ira, e arremessou das mãos as tábuas, e as quebrou ao pé do monte. Então tomou o bezerro que tinham feito, e o queimou no fogo, moendo-o até que se tornou em pó, e o espargiu sobre a água, e deu-o a beber aos filhos de Israel. Então ele lhes disse: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa. Passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho” (Êx 32.19-20,27). O teor religioso das festas juninas não passa de um ato idólatra quando se presta culto a Santo Antônio, São João e São Pedro. Paulo declara o seguinte: “Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios” (1Co 10.19-20).

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Como crentes, devemos adorar somente a Deus: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4.10). Assim, nossos lábios devem louvar tão-somente o Senhor Deus: “Portanto, ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15). O texto de

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“E serviram aos seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço. Demais disto, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios. E derramaram sangue de seus filhos e de suas filhas que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi manchada com sangue”(Sl 106.36-37).

Apocalipse 7.9 é um bom exemplo do que estamos falando: “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas com palmas nas suas mãos. E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro”. É possível imaginar um cristão cantando louvores a São João Batista? O cântico seria mais ou menos assim: “Onde está o Batista? Ele não está na igreja Anda de mastro em mastro A ver quem o festeja”5

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Os santos não podem ajudar

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Lembramos a atitude de Paulo e Barnabé diante de um ato de adoração que certos homens quiseram prestar a eles: “E as multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a sua voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós. E chamavam Júpiter a Barnabé, e Mercúrio a Paulo; porque este era o que falava. E o sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trazendo para a entrada da porta touros e grinaldas, queria com a multidão sacrificar-lhes. Porém, ouvindo isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram as suas vestes, e saltaram para o meio da multidão, clamando, e dizendo: Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há” (At 14.11-15).

Normalmente, as pessoas que participam das festas juninas querem tributar louvores a seus patronos como gratidão pelos benefícios recebidos. Admitem que foram atendidas por Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Crêem também que esses santos podem interceder por elas junto a Deus. Entretanto, os santos não podem fazer nada pelos vivos. Pedro e João, como servos de Deus obedientes que foram, estão no céu, conscientes da felicidade que lá os cerca (Lc 23.43; 2Co 5.6-8; Fp 1.21-23). Não estão ouvindo, de forma nenhuma, os pedidos das pessoas que os cultuam aqui na terra. O único intercessor eficaz junto a Deus é Jesus Cristo. Diz a Bíblia: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1Tm 2.5). E mais: “É Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34).

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Foi o próprio Senhor Jesus quem nos disse que deveríamos orar ao Pai em seu nome para que pudéssemos alcançar respostas aos nossos pedidos: “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome eu o farei” (Jo 14.13-14).

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“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1Jo 2.1-2).

Quanto ao teor religioso das festas juninas, podemos declarar as palavras de Deus ditas por meio do profeta: “Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me exalarão bom cheiro” (Am 5.21). Como seguidores de Cristo, suplicamos, diante desta delicada exposição, que Deus nos conceda sabedoria para que consigamos proceder de uma maneira que o agrade em todas as circunstâncias, pois: “toda ação de nossa vida toca alguma corda que vibrará na eternidade” (E. H. Chapin). FOGUEIRAS A fogueira é um elemento essencial nas festas juninas. Algumas regiões ainda conservam a bizarra tradição de caminhar sobre as brasas. Você sabia que convencionalmente cada uma das três festas, Santo Antônio, São Pedro e São João, exige um arranjo diferente de fogueira?

São João As lenhas são atreladas observando o modelo habitual; possui formato arredondado semelhante à pirâmide. COMIDAS TÍPICAS As festas juninas são comemoradas com comidas típicas: curau, batata-doce, mandioca, pipoca, canjica, pé-de-

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São Pedro As lenhas são atreladas em formato triangular.

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Santo Antônio As lenhas são atreladas em formato quadrangular.

moleque, pinhão, gengibre, quentão, entre outros. VOCÊ SABIA Que a quadrilha é uma dança de origem francesa? Foi trazida ao Brasil no início do século XIX passando a ser dançada nos salões da corte e da aristocracia brasileira. Com o passar do tempo, deixou a nata da sociedade e incorporou-se às festas populares gerando, assim, suas variantes no interior do país. PIROLÁTRICOS Você sabia que os cultos pirolátricos são de origem portuguesa? Antigamente, em Portugal, acreditava-se que o estrondo de bombas e rojões tinha como finalidade espantar o diabo e seus demônios na noite de São João. Atualmente, no mês de junho intensifica-se o uso desses artifícios, porém, desassociado dessa antiga crendice. Bibliografia:

1 Migalhas folclóricas, p. 99. Mariza Lira. 2 Ib., p.106. Mariza Lira. 3 Didática e Folclore. Corina Ruiz. (citado no site http:venus.rdc.puc.rio.br/kids/kidlink/kidcafeesc./origem.html).

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Notas:

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CARVALHO, Hernani de – No Mundo Maravilhoso do Folclore LIRA, Mariza – Migalhas Folclóricas RUIZ, Corina – Livro e Folclore (citado no site http:venus.rdc.puc.rio.br/kids

4 Migalhas Folclóricas, p. 101, Mariza Lira. 5 Ib., p. 108, Mariza Lira

Os católicos sempre encontraram uma maneira de se livrar da acusação de serem idólatras. Quando pressionados com textos bíblicos sobre seu modo de culto prestado a Deus, aos santos, às imagens, às relíquias, à eucaristia e à Maria, prontamente respondem que não levamos em conta a cuidadosa distinção de

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Por Paulo Cristiano da Silva

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5. IDOLATRIA DISFARÇADA

culto feita pela Igreja Católica para não incorrer neste pecado. Os eruditos católicos precisam fazer esta distinção, pois, sem ela, não poderiam escudar-se quando pressionados com a acusação de idolatria. Com esta nuança de palavras, sentem-se livres para prosseguir com seus sofismas teológicos. Diante das severas advertências bíblicas, foi necessário fabricar-se uma tríplice distinção entre o que eles classificam “latria”, que seria o grau mais alto de adoração, “hiperdulia”, um grau abaixo daquele (tido como veneração a Maria) e superior à “dulia”, também veneração, mas prestada aos santos e aos objetos relacionados a tais santos, como, por exemplo, as imagens. Os católicos dizem que prestam unicamente o culto de “latria” a Deus e o culto de “dulia” aos santos, sem incorrerem no risco de confundi-los. Contudo, esta “cuidadosa” diferença desaparece na prática. Vejamos, mais à frente, como ela tende a se confundir no desenrolar do culto que o devoto católico presta.

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Quando a imagem de algum “santo” cai no chão e quebra, o devoto não diz apenas que a imagem se quebrou, mas afirma ter quebrado o próprio santo, seja ele Antônio, Benedito, Jorge, José, entre outros, repetindo assim o episódio de Labão, que acusou Jacó de roubar não só suas imagens, mas seus “deuses” (Gn 31.30).

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O papa Gregório estava errado quando disse que “as imagens são os livros dos ignorantes”. A bem da verdade, as imagens são mais eficazes para cegar os olhos espirituais destas pessoas e, conseqüentemente, deixá-las mais ignorantes ainda, do que para tirá-las desta condição.

Imagine um católico fazendo a oração que segue, curta e fervorosa, diante do quadro da sagrada família — Jesus, Maria e José. Meu Jesus, misericórdia. Doce coração de Maria, sede a minha salvação. Jesus, Maria, José eu vos dou meu coração e minha alma. Jesus, Maria, José assisti-me na última agonia. Jesus, Maria, José, expire a minha alma entre vós em paz. Amém. Perguntamos: Qual é o católico que consegue fazer a distinção entre “latria”, “dulia” e “hiperdulia” quando se prostra para rezar fervorosamente perante os três personagens do quadro? Como bem expressou a pesquisadora de religiões, Mary Schultze: “a mão-deobra é grande demais!”

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Como quase todas as invenções doutrinárias do catolicismo através dos séculos têm seu embrião no paganismo, esta suposta distinção entre um culto e outro não é uma exceção. Os pagãos rodeados por seus muitos deuses e intercessores fizeram uma hierarquia de culto para eles, distinguindo entre divindades maiores e divindades menores. A Roma papal, cópia fiel do paganismo, também procedeu do mesmo jeito. Isto nos traz à memória um texto bíblico em que aparece uma situação análoga: “Assim estas nações temiam ao SENHOR e serviam as suas imagens de escultura; também seus filhos, e os filhos de seus filhos, como fizeram seus pais, assim fazem eles até o dia de hoje” (2Rs 17.41; grifo do autor).

O correto uso dos vocábulos da Bíblia Os termos gregos dulia e latria não têm nenhuma semelhança com a definição que lhes dá o catolicismo. Podemos desmontar este arcabouço doutrinário levantado pela teologia romanista simplesmente recorrendo ao original grego do Novo Testamento. Dulia: é derivado do verbo grego douléuo, cujo equivalente é “servir”, “ser escravo”, “subserviente”. Este verbo é usado para expressar o nosso dever de servir a Deus, e aparece em passagens como: Mateus 6.24 “Ninguém pode servir (douleuein) a dois senhores...” Atos 20.19 “Servindo (douleuôn) ao Senhor com toda a humildade...” Romanos 12.11 (V. tb. 14.18)

João 16.2 “Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço (latreian) a Deus”.

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Latria: o termo aparece nas escrituras gregas cristãs como adoração como culto, ritos, cerimônias, serviços exteriores. Vejamos alguns exemplos de seu uso:

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“Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo (douleuontes) ao Senhor”

Romanos 9.4 (V. tb.12.1) “Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto (latreia), e as promessas” Hebreus 9.6 (V. tb. 9.1) “Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços (latreias)” A palavra comumente usada na Bíblia Sagrada para adoração é proskyneo, cujo significado, entre outros, é prostrar-se e adorar, e não latreia. Vejamos: Mateus 4.10 “Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás (proskunêseis), e só a ele servirás (latreuseis)”

No original grego aparece a palavra dulia. Era justamente

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“Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses” (Gl 4.8).

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Tanto o culto de latria quanto o de dulia devem ser prestados somente a Deus, e a mais ninguém. Somente diante de Deus devemos nos prostrar e somente a Ele devemos servir. Portanto, servir a alguém em sentido religioso que não seja o próprio Deus é declaradamente idolatria, e foi essa a censura do apóstolo Paulo quando escreveu aos gálatas reprovando a vida idólatra que outrora levavam.

este o tipo de culto que os gálatas prestavam aos seus deuses, mas nem por isso Paulo os poupou de serem chamados de idólatras. Aos tessalonicenses, o apóstolo diz o seguinte: “Porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1Ts 1.9). Diante disso, entendemos que o culto de dulia deve ser prestado com exclusividade a Deus, ficando claro que o apóstolo, ao usar o termo dulia, condena esta superstição com a mesma força com que a condenaria com o termo latria” (Institutas, livro I, cap. 12). O que é hiperdulia?

“Houve um tempo em que os católicos veneravam demais os santos. Esqueceram-se um pouco de Jesus. Ele até parecia um santo ao lado dos outros...” (p. 13; grifo

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Para que nenhum católico diga que estamos jogando com as palavras para acusá-lo falsamente, vejamos o que afirma o livreto intitulado “Com Maria rumo ao novo milênio”, da editora Paulus:

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A definição do dicionarista para o prefixo hiper é: “posição superior; além; excesso”. Será que com o culto de hiperdulia os católicos não estariam cultuando a Maria acima e além de Deus e, conseqüentemente, transformando-a em um ídolo? As Escrituras nunca registram uma hiperdulia para Deus, mas apenas a dulia, já os católicos querem prestar a Maria um culto ou serviço superior ao que é prestado ao próprio Deus, ou seja, uma hiperdulia!

do autor). Evidências disso são os títulos “santóides” conferidos a Jesus, tais como: “São Bom Jesus dos Milagres” e “Senhor Jesus do Bonfim”, entre outros. Se isto não for idolatria, então não sabemos mais o que poderia ser! Todavia, os fatos falam por si só. E a questão em pauta envolve fatos, e não nomes. Alguém já disse que “contra fatos não há argumentos”. Não adianta querer esconder a situação espiritual em que os católicos se encontram com sutilezas e supostas distinções de palavras. Suas práticas constituem-se em atos de adoração explícita, ou seja, quando um católico se prostra diante de uma imagem de Maria e lhe faz pedidos, isto é idolatria. Onde está a diferença da qualidade do culto que prestam a Deus, aos santos ou a Maria e suas imagens? Ela desaparece por completo no desenrolar da adoração do fiel.

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Oremos para que o Espírito Santo conceda-lhes oportunidades de reconhecer, em tempo oportuno, aquele que é o único digno de adoração. De verdadeira adoração!

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Por tudo isso é que não podemos aceitar a sutileza usada pelos teólogos católicos para diferenciar os tipos de culto que prestam em seus “arraiais”.

6. IEMANJÁ Rainha de todas as águas e mãe de todos os orixás? Por Danilo Raphael

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Mais uma vez, a mais potente emissora de televisão do país apresenta uma novela eivada de ensinamentos religiosos. O ator Marcos Palmeira, cujo personagem se chama Guma, interpreta um pescador salvo de um naufrágio na infância. Ele acredita que sobreviveu graças

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A nova novela das oito da Rede Globo, Porto dos Milagres, que estreou no dia cinco de fevereiro, conta com um cenário paradisíaco, localizado no belo Estado da Bahia, mais precisamente na Ilha de Comandatuba. É uma história envolvente, cheia de aventuras, emoções e totalmente voltada para o culto a Iemanjá. A trama escrita por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares é baseada nos livros Mar Morto e A descoberta da América pelos turcos, assinados por Jorge Amado, renomado autor baiano, que na maioria de suas obras cita a personagem Iemanjá. No Mar Morto, Iemanjá é personagem de grande importância, com um capítulo inteiro dedicado a ela. A direção da novela é de Marcos Paulo.

à proteção de Iemanjá. Por isso o orixá terá forte influência em sua vida. Famosa em todo o Brasil pelos cerimoniais dedicados a ela nas praias durante a passagem de ano, multidões de pessoas, todos os anos, recorrem a Iemanjá em busca de ajuda. No dia 02 de fevereiro deste ano, em Salvador, houve uma festa consagrada a Iemanjá. O evento reuniu 300 mil pessoas que se espalharam por mais de 2 mil terreiros da capital baiana. Iemanjá é a divindade afrobrasileira da água salgada. Orixá marítimo, identificada com a sereia européia, a iara tupi e Nossa Senhora da Conceição. Festejada, na Bahia, em 2 de fevereiro e, no Rio de Janeiro, em 31 de dezembro (Definição da Enciclopédia Britânica)1. A etimologia da palavra Iemanjá pode ser explicada da seguinte forma: yeye, “mãe”; e eja, “peixe”. Histórias e lendas

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O escritor Abguar Bastos registrou: Os cultos afrobrasileiros, disseminados no Brasil, tomam nomes diferentes, pouco se distinguem entre si pelos ritos admitidos, pelas divindades ou categorias protetoras ou pelas finalidades a que se destinam. De maneira geral se confundem. Por isso, o que é macumba no Rio é candomblé na Bahia; o que é Xangô em Pernambuco e Alagoas é canjerê em Minas, Pará, Rio Grande do Sul, e babaçuê (Santa Bárbara) no Norte... Encanteria, cabula, tambor de mina (Maranhão), cambinda e linha de mesa, sem falar em catimbó, misto, no Nordeste, de “pretosvelhos” e “caboclos”... se destacam da macumba dois ramos de origens comuns, porém de objetivos diferenciados: a umbanda e a quimbanda. Para a primeira, a segunda é reunião para malefício, trabalhando feitiços que trazem danos às pessoas

visadas.2 Ao tentarmos identificar a origem de um orixá, encontramos a mesma dificuldade, devido à variedade de informações divergentes e contraditórias que se conta de um terreiro para outro ou de um pai-de-santo para outro, e ainda de uma região para outra. Por esse motivo, neste artigo, nos deteremos apenas nas duas histórias mais aceitas sobre Iemanjá entre os cultos afrobrasileiros. Uma das lendas conta que Iemanjá (as águas) se casou com Aganju (terra firme). Dessa união nasceu Orugan (o ar e as alturas). Mas, certo dia, na ausência do pai, Orugan possui a mãe Iemanjá. Após o ato incestuoso, Iemanjá cai morta e de seu ventre nascem os demais orixás. É por isso que ela é considerada a mãe de todos os orixás.

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Em uma entrevista dada ao programa Defesa da Fé, na série nº 6, o professor angolano, pastor André Nguina Quiala (Pós-graduado em Aconselhamento Cristão, mestre em Comunicação Social e diretor da Missão VEM), disse: Lendas não esclarecidas se tornam crenças e

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Outra lenda diz que Iemanjá se sentia sozinha e abandonada pelos filhos, que dela se afastaram. Então, ela decide correr mundo e, chegando em Okerê, foi admirada e adorada por sua meiguice, beleza e inteligência. O rei se apaixonou por ela e desejou que ela se tornasse sua mulher. Como tal coisa não constava em seus planos, Iemanjá fugiu, mas foi perseguida pelos exércitos de Alafin, sendo encurralada, durante a fuga, por Okê (as montanhas). Iemanjá caiu e, na queda, cortou seus enormes seios, de onde nasceram os rios, tornando-se, assim, rainha de todas as águas.

divindades. Infelizmente, é justamente isso que acontece com as lendas a respeito de Iemanjá, que acabaram transformando-a numa entidade religiosa. Herança da África

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O livro Os Negros da Bíblia e os do Brasil, do professor Paulo de Sousa Oliveira (Mestre em Ciências Sociais pela Puc/SP e Doutor em História Social pela USP) declara: Os

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A origem dos cultos afro-brasileiros deve-se à chegada dos africanos em nossas terras. Esses nativos da África, por natureza, são extremamente religiosos e, sem dúvida, muitos deles só conseguiram resistir ao massacre colonizador por causa de suas crenças religiosas. Quando da colonização do Brasil, em 1500, a mão-de-obra era escassa, pois a terra era povoada pelos índios, que impuseram resistência ao trabalho forçado. Assim, os colonizadores portugueses optaram por trazer escravos da África. Inicia-se, então, um período vergonhoso na história do Brasil. O sofrimento dos escravos africanos é descrito pelo grande poeta Castro Alves em suas poesias: Navio Negreiro e Vozes D’ África. Em seu livro Latin America: Na Interpretative History, o escritor Burns apresenta vários dados sobre o repugnante tráfico de seres humanos da África para o Brasil: Acredita-se que os primeiros escravos africanos chegaram ao novo mundo já em 1502. Provavelmente, os primeiros carregamentos de escravos chegaram em Cuba em 1512 e no Brasil em 1538, e isso continuou até que o Brasil aboliu o tráfico de escravos, em 1850, e a Espanha finalmente encerrou o tráfico de escravos para Cuba em 1866. A maioria dos três milhões de escravos vendidos à América Espanhola e os cinco milhões vendidos ao Brasil, num período de aproximadamente três séculos, veio da costa ocidental da África.3

negros desembarcados nos portos brasileiros acabaram em grande parte se miscigenando com os brancos e os índios. Mas, até ficarmos com a imagem atual, um processo doloroso ocorreu. De um total de 8.330.000 negros escravizados, nos primeiros seis meses morreram 3.300.000. Depois de cinco anos na nova terra, só dois milhões sobreviveram.4 Com os escravos, vieram também seus rituais religiosos e suas crenças, tais como: invocação dos espíritos da natureza e dos mortos, influências dos sonhos, contos e lendas, inclusive sobre Iemanjá, sendo que as lendas a respeito dela sofreram algumas modificações quando aplicadas no Brasil.

Para se ter uma idéia da dimensão do culto a Iemanjá no Brasil, basta constatar a popularidade desse nome entre os brasileiros. Não se tratam apenas de estatuetas da sereia do mar, expostas em lojas de artigos de umbanda e candomblé, mas de um mito, que já tem lugar cativo

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Culto a Iemanjá

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Não foi, no entanto, apenas a religiosidade sincretista que o Brasil herdou da bela África. Os africanos, embora escravizados, trouxeram sua contagiante alegria de viver e uma vasta riqueza cultural expressa nas cores, na música, na culinária, nas artes, na linguagem e nos usos e costumes; sem contar o papel importantíssimo que tiveram no mundo secular e cristão. Como exemplo, citamos dois grandes pastores, descendentes de africanos, que revolucionaram o mundo cristão ocidental: o pioneiro pastor pentecostal, reverendo J. Seymour, da Missão da Rua Azuza em Los Angeles, e o pastor batista, reverendo Martin Luther King Jr., que liderou o triunfante movimento de Direitos Humanos nos Estados Unidos.

na arte oficial do país, de modo especial na Bahia, através de livros, músicas e danças. Na forma de uma linda mulher, esse orixá, que por vezes aparece com os seios descobertos simbolizando a maternidade espiritual, é uma das mais lendárias entidades do culto afro-brasileiro.

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O babalorixá (pai-de-santo) Jamil Rachid, líder muito respeitado dentro da umbanda, explica por que as pessoas vão à praia homenagear Iemanjá: Dezembro é o mês da espiritualidade, quando todos os guias-chefes dos terreiros de macumba pedem para que todo o corpo mediúnico esteja presente à Terra Sagrada, que é o mar. Mas, por que os guias pedem isso? Justamente porque dezembro é o último mês do ano e os presidentes espirituais aproveitam para levar presentes a Iemanjá... a

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Uma vez iniciados, seus adeptos ficam ligados, por obrigação, a esse orixá. O sábado é o dia consagrado a Iemanjá, especialmente à noite, período em que, segundo os adeptos, as ondas do mar são em forma de peixe. As oferendas para Iemanjá são realizadas à beiramar ou em alto mar, utilizando-se, neste caso, embarcações. Como se trata de uma deusa vaidosa, fato comum entre os orixás da Umbanda e do Candomblé, ela pede ofertas que constem de produtos de beleza, bijuterias e perfumes5. A presença do culto no Brasil mostra que Iemanjá é a configuração de um mito que, para muitas pessoas, está vivo em seus corações, cultuada também na África, mas em grande intensidade pelas populações negras da América do Sul e do Norte6. O fato é que o culto não se restringe à população negra. Grande parte da população branca é arrastada ao seu culto, mostrando a fascinação que esse mito exerce sobre a raça humana.

todas as falanges e legiões de espíritos das águas. E, nesse contato do médium com a natureza, ou seja, com o mar sagrado [Kalunga], ele recebe os fluídos benéficos para limpeza do corpo fluídico, alcançado, com isso, maiores vibrações para sua mediunidade. E também para prestar homenagem a esse grande orixá que comanda as maiores falanges de caboclos, caboclas e crianças que se manifestam na maioria dos terreiros de todo o território nacional. Esse orixá, conhecido em todo o mundo, é a nossa rainha Iemanjá, mãe de todos os orixás.7 A respeito das oferendas que a Iemanjá, Zora Seljan declara: Os presentes são amontoados num imenso cesto: sabão, perfumes, flores naturais ou artificiais, lenços de renda, cortes de fazenda, figurinos, colares, braceletes, dinheiro. Tudo é acompanhado de cartas, súplicas dos fiéis, que pedem uma graça. Todas as coisas são lançadas ao mar. Portanto, para que tais oferendas sejam aceitadas por Iemanjá, devem ser mergulhadas nas águas. Se boiarem é sinal de recusa e descontentamento. Será preciso então fazer novos sacrifícios e novas oferendas para que o ofertante alcance a proteção da entidade.8

Respeitamos as pessoas envolvidas com o culto a Iemanjá. Todavia, gostaríamos de esclarecer alguns pontos que nos levam a reconhecer que tais seguidores estão equivocados quanto às suas crenças. Em 1 Coríntios 10.20-21, o apóstolo Paulo declara o seguinte: Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o

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O culto a Iemanjá analisado à luz da Bíblia

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Mas será que toda esta fascinação, ritual religioso e adoração direcionada a Iemanjá está de acordo com a vontade de Deus, revelada em sua Palavra?

sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios. E no início dessa exortação, Paulo declara: Portanto meus amados, fugi da idolatria (1 Co 10.14). Tanto os adeptos de Iemanjá quanto os seguidores de outras entidades são amados por Deus e, portanto, necessitam de um relacionamento direto e pessoal com Jesus Cristo: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Ainda nos orienta a Bíblia Sagrada: Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam (At. 17.30).

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É interessante notar que, uma vez comprometidos com os orixás, seus seguidores não podem mais desobedecêlos, caso contrário, sofrem grandes represálias e punições, como, por exemplo, doenças, perda de emprego e de um ente querido, loucura, falência etc. Na verdade, os adeptos acabam tornando-se servos dos orixás e obrigados a praticar rituais e sacrifícios nada agradáveis. Espinosa, certa vez, disse: Não há instrumento mais poderoso para manter a dominação

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Um dos papéis que Iemanjá ocupa entre seus seguidores é o de mediadora de favores entre Deus e os homens. Por isso rezam para que ela lhes dê paz e segurança, além de outros favores. Paulo, escrevendo a Timóteo, declara: Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (1Tm 2.5). O mesmo apóstolo declara que o único meio de obtermos paz com Deus é através de seu Filho Jesus Cristo: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).

sobre os homens do que mantê-los no medo, e para conservá-los no medo, nada melhor do que conservá-los na ignorância.9 Com Iemanjá não é diferente. Pois sendo ela a mãe de todos os orixás, pode tornar esses castigos mais rigorosos. Felizmente, com o Deus da Bíblia é diferente. Ninguém é obrigado a seguir a Cristo. Não somos impostos a servir o Filho de Deus. Até porque o Senhor não deseja que ninguém o sirva por medo, mas por amor. E, ainda que cometamos falhas em nosso relacionamento com Deus, Ele está sempre pronto a nos perdoar: Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar (Is 55.7). Deus nos atrai com laços de amor, e não com ameaças: Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento (Os 11.4).

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Outro fato marcante do culto a Iemanjá contrário à Palavra de Deus são as imagens dessa figura do mar, que nada mais são do que idolatria pura por parte daqueles que se prestam à adoração dos orixás. O Senhor Deus declara: Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima dos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra (Êx 20.4). O profeta Isaías diz que louvores e glórias devem ser dados somente a Deus: Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura (Is 42.8). E ainda: E tomaste as tuas jóias de enfeite, que eu te dei do meu ouro e da minha prata, e fizeste imagens de homens, e te prostituístes com elas (Ez 16.17) Não virareis para os ídolos nem vos fareis deuses de fundição. Eu sou o Senhor vosso Deus (Lv 19.4).

A raça humana sempre esteve envolvida com o culto a alguma divindade feminina. E, quanto a isto, não faltaram advertências, por parte do profeta Jeremias, ao povo de Judá, que prestava devoção à suposta rainha dos céus: Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres preparam a massa, para fazerem bolos à rainha dos céus, e oferecem libações a outros deuses, para me provarem à ira (Jr 7.18. Ver também Jr 44.19). A diferença aqui é somente a posição da rainha: em vez de céu, é o mar. O salmista coloca o ídolo como algo sem vida e sem utilidade: Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai de sua garganta. A eles se tornam semelhantes os que o fazem, assim como todos os que neles confiam (Sl 115.4-8). Aqueles que desejam seguir a Deus com sinceridade devem servir o conselho do apóstolo João, que diz: Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém (1Jo 5.21).

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Em Hebreus 10.12, a Bíblia declara: Mas este havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus. Esse fato torna qualquer outro sacrifício inútil aos olhos de Deus. Falando

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Outro fato marcante e contrário à Palavra de Deus do culto a Iemanjá é o sacrifício de animais. Quando interrogados a respeito, os adoradores dessa entidade se desculpam dizendo que Moisés, no Antigo Testamento, também sacrificava animais. Havia sim sacrifícios de animais no Antigo Testamento, mas todos aqueles sacrifícios apontavam para o sacrifício perfeito da pessoa de Jesus Cristo na cruz do calvário.

dos sacrifícios não direcionados ao verdadeiro Deus, Moisés se manifestou da seguinte maneira: Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais (Dt 32.17). Mais uma vez, devemos nos lembrar da advertência do apóstolo Paulo: Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios (1 Co 10.20). Como vimos, não existe qualquer compatibilidade entre o culto a Iemanjá e o culto prestado ao verdadeiro Deus. É por esse motivo que muitas pessoas desejam abandonar tais práticas, mas temem as ameaças dos orixás. Todavia, quem desejar desvencilhar-se desse jugo para encontrar a verdadeira liberdade em Jesus Cristo deve fazer isso sem medo, pois: Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo (1Jo 3.8b). Foi o próprio Jesus quem disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32).

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Nomes: Yemanjá, Iemanjá, Yemasá, Dandalunda Animais: Galinha branca, ovelhas e peixes. Bebida: Aloá, champanhe. Características: maternal, mandona, possessiva, protetora, intrigante. Comida: Canjica (Ebó) branca e mel, peixe, camarão, arroz, manjar branco. Dia da semana: Sábado. Identidade: Orixá das águas, rainha do mar, sereia. Filiação: Ododua e Oxalá Metal: Prata

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Alguns dados sobre Iemanjá

Atividade: Trabalha em favor do amor, da família e da educação das crianças. Ajuda a progredir na vida. Presentes prediletos: flores, colar, espelho, perfume, pente. Posição: A grande mãe da água e do lar. Sacrifício: porco, cabra e galinha. Sincretismo: Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Candeia (da luz). Significação: Símbolo gerador da vida. Notas:

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1 Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda., Barsa, CD-ROM. 2 Os Cultos Mágico-Religiosos no Brasil, Abguar Bastos, Editora Hucitec, São Paulo, 1979, p. 29,30. 3 Latin America: Na Interpretativa History, citado no Crisis in Latin America, Na Evangelical Perspective, de Emílio A. Nunes C. e William D. Taylor, Moody Chicago, EUA, p. 35 4 Os Negros da Bíblia e os do Brasil, Paulo de Sousa Oliveira, Editora Sete, Resende – RJ, p.p 93-94 5 Revista dos Orixás, Vol. 4, Editora Provenzano, Rio de Janeiro, RJ, p.5. 6 Maria e Iemanjá, Pedro Iwashita, Edições Paulinas, p.35. 7 Jornal da Tarde, 06.12.75 8 Iemanjá, Mãe dos Orixás, Zora A. Seljan, Editora Afrobrasileira, São Paulo, 1973, p. 32. 9 Citação do livro: Educação Religiosa Relevante, Angelo Gagliardi Jr., Vinde Comunição, 1995, pg. 9

Indubitavelmente, este é um assunto já resolvido no meio protestante tradicional devido à abundância de textos nas Escrituras neotestamentária que o elucidam. Poderíamos até considerá-lo obsoleto se não fosse pelo mariocentrismo, doutrina da Igreja Católica Romana que teima em admitir que Maria permaneceu virgem após o parto (virginitas post partum), o que torna parte dessa teologia um verdadeiro desvario e um grande óbice ao

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Por Paulo Cristiano

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7. JESUS TEVE IRMÃOS?

verdadeiro cristianismo ortodoxo. Durante séculos, a mariologia tem sofrido evoluções cada vez mais ousadas, e o tempo é testemunha disso: • Em 400 d.C, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”; • Em 1854, a “Imaculada Conceição de Maria” torna-se dogma; • Em 1950, a “Assunção de Maria” vira artigo de fé. Hoje, cogita-se em colocar Maria junto à Trindade divina, formando assim uma quaternidade. O catolicismo está criando cada vez mais uma Maria totalmente diferente daquela apresentada pelos evangelhos. Ao inventarem supostos pais para Maria, Santa Ana e São Joaquim, baseados em livros apócrifos, os católicos ao mesmo tempo omitiram a verdadeira família de Maria e roubaram-lhe a nobre missão de mãe. Origens dessa doutrina

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O fato é que essa doutrina ganhou força somente após o século IV, com Jerônimo. Até então, era praticamente desconhecida pelos antigos escritores pré-niceno. Como de praxe, é mais uma das invencionices da Igreja

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Não se sabe ao certo onde e como começou a acreditarse que os irmãos de Jesus, de quem tanto a Bíblia fala e “de modo explícito”, eram apenas seus primos ou irmãos em sentido espiritual (versão Romana) ou meio-irmãos de um casamento anterior de José (versão Grega). Parece que isso surgiu com uma deturpação da resposta de um soldado romano chamado Pantera aos judeus que acusavam Maria de cometer adultério (Atos de Pilatos 11.3 e Talmud, séc. II). No ponto de vista católico, Jesus seria um filho bastardo desse suposto soldado.

Católica. Um dos pais primitivos que mais colaborou para que essa distorção criasse corpo foi Orígenes, que se baseou em duas obras apócrifas: o “Proto-Evangelho de Tiago” e o “Evangelho de Pedro”, de meados do século II. Não demorou muito, Epifânio seguiu os passos de Orígenes e acabou abraçando tal idéia. É interessante notar que Orígenes, Epifânio e Jerônimo eram adeptos do ascetismo e da vida monástica que incluía a castidade. Orígenes, segundo alguns historiadores, chegou a castrar-se! Mais tarde, porém, essa teoria sobre os irmãos de Jesus foi desenvolvida e aperfeiçoada. Empacotada de modo sofismável pelos teólogos católicos, é agora um dos dogmas do catolicismo romano.

O texto de Mateus 1.25 afirma o seguinte: “e não a conheceu enquanto (até que) ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus”. Para os protestantes, a referência bíblica em apreço parece ser, a princípio, uma fortaleza inexpugnável, e

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Analisando o evangelho de Mateus

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O que muitos protestantes talvez não saibam é que até mesmo os primeiros reformadores como Lutero e Calvino criam na virgindade perpétua de Maria. Mas, por outro lado, é bom frisarmos que muitos pais primitivos como Hegesipo, Tertuliano, Irineu e, posteriormente, Eusébio e Helvídio defendiam a idéia de que os irmãos de Jesus eram de fato seus irmãos carnais. A mesma defesa é feita atualmente por uma maioria esmagadora de protestantes e também por alguns teólogos católicos.

não é para menos, pois diz categoricamente que José não a conheceu “até” ou “enquanto” (heos, hou) ela não deu à luz. Ora, o que depreende e subentende-se é que, após o parto, Maria teve relações sexuais com seu marido como qualquer casal judeu normal de seu tempo! Parece ser esta a preocupação principal do evangelista ao transmitir sua mensagem. Mas, por outro lado, devemos concordar com nossos antagonistas romanos em que há casos em que Mateus usa a preposição “até” para dizer que não houve mudança após a ocorrência de determinado evento. Por exemplo, “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo” (Mt 12.20). É claro que o texto não está dizendo que o manso Messias será um ditador cruel após o triunfo do juízo.

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Assim, tomar este trecho de forma isolada não é de modo nenhum conclusivo para ambas as partes; não resolve o problema. Se quisermos obter uma idéia mais clara do assunto teremos de nos voltar para um contexto maior e achar algo fora desse trecho que complete esta lacuna e dirima a incógnita. Será que Mateus usou a preposição “até” para indicar mudança ou não? Resolveremos isso usando dois princípios de interpretação: o contexto imediato e o contexto mais

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Outros textos bíblicos, além de Mateus, podem ser usados como exemplo: Salmo 110.1 e 1 Timóteo 4.13. Mas podemos ver Mateus usando a preposição “até” (que indica um limite de tempo, nos espaços, ou nas ações) quando o contexto diz claramente que há mudança. Vejamos: “E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levantate, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt 2.13).

lato. É notório que os casamentos orientais da época de Jesus eram, sem sombra de dúvida, bem diferentes dos do nosso tempo. Mateus declara que Maria estava desposada (entenda-se noiva) com José. Diz ainda que ele não a “conheceu até” (Mt 1.18). Algumas vezes a palavra “conhecer” é usada na Bíblia de modo figurado, significando relação sexual (Gn 4.25), e, neste caso, o contexto apóia este sentido. A voz dos outros evangelistas Outro fator que corrobora com a interpretação acima é o fato de Lucas ter usado a expressão grega prototokos, que significa “Primogênito”, em relação ao nascimento de Cristo: “e teve a seu filho primogênito...” (Lc 2.7).

O que diz o Novo Testamento Uma leitura superficial do Novo Testamento, em especial dos evangelhos, mostrará, sem sombra de dúvida, que Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (Mt 12.46,47, 13.55-56;

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Se Jesus tivesse sido o único filho de Maria, os evangelistas mostrariam isso, de modo explícito, em seus escritos. Mas não é isso que constatamos no Novo Testamento.

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Se Lucas quisesse dizer que Jesus foi o único filho de Maria, teria usado, de modo inequívoco, a expressão monogenes (unigênito, em português) que significa “[filho] único gerado”, como acontece em João 3.16. Mas não, ele usou, de modo consciente, o termo certo: “primogênito”, indicando que Jesus foi apenas o “primeiro” filho de Maria, e não o “único”.

Mc 6.3). E ainda nos dão os nomes dos irmãos: Tiago, José, Simão e Judas. E essas pessoas aparecem sempre relacionadas com Maria, mãe de Jesus, o que nos dá a impressão de que os escritores e os evangelistas quiseram nos transmitir o quadro de uma família composta por mãe e filhos. Vejamos: “Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe. Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo” (Mt 12.46-47). Depois do milagre em Caná, Maria e os irmãos do Senhor aparecem juntos: “Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias” (Jo 2.12).

Não conseguindo desmentir o consenso cristalino das Escrituras, os mestres romanistas acabam forjando sofismas cada vez mais mascarados de piedade que, aos poucos, vão alcançando a mente e o coração dos adeptos católicos. Todavia, quando confrontados com a Bíblia, tais disparates revelam ser apenas paliativos ardilosos que, por vezes, acabam sendo pulverizados diante dos fartos argumentos bíblicos. Na tentativa de

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Resposta a um suposto argumento

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Em outra ocasião, Maria e seus irmãos mandam chamálo: “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo” (Mc 3.31). João acrescenta que nem os seus criam em Jesus: “Pois nem seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). E, por último, os irmãos de Jesus aparecem no cenáculo orando com Maria: “Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1.14).

esquivar-se dos argumentos protestantes, os líderes católicos desenterram, das ruínas medievais, teses falaciosas floreadas com terminologias teológicas modernas para causar impressão. Uma dessas teses tenta transferir os irmãos de Jesus para uma outra Maria e, para alcançar esse objetivo, faz verdadeiro malabarismo com os nomes bíblicos. Consegue fazer uma combinação engenhosa com os textos de Marcos 6.3, 3.18, 15.14, 16.1 e João 19.25. Diz que Maria, mãe de Tiago (o menor) e de José é irmã de Maria (a mãe de Jesus) e mulher de Cleofas, a quem confundem com Alfeu. Resumindo: esses “irmãos” (Tiago e José) de Marcos 6.3, segundo essa teoria, na verdade seriam primos de Jesus. Uma explicação plausível e uma suposta base “bíblica” para a questão. Ledo engano! Um argumento de fácil refutação

Esse parece ser o argumento mais inócuo, pois a Bíblia faz nítida distinção entre ‘seus discípulos” e os “irmãos” do Senhor (Jo 2.12; At 1.13,14). Todavia, a maior dificuldade enfrentada por esse argumento é que o texto

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Outros ainda insistem no fato de que aqueles irmãos de Jesus na verdade seriam seus discípulos, simplesmente porque na igreja todos os discípulos de Cristo são chamados de “irmãos”.

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Contudo, não há nada no texto que insinua ser Alfeu cunhado de Maria! Naquela época, esses nomes eram comuns! Demais disso, a Bíblia não relata o nome da irmã de Maria, e é pouco provável que duas irmãs tivessem o mesmo nome. Suponhamos, por um momento, que isso fosse verdade! Não é estranho que esses personagens apareçam sempre junto a Maria, sua “tia”, e nunca junto à sua verdadeira mãe?!

diz que nem “seus irmãos criam nele” (Jo 7.3,5,10). Ora, como então poderiam ser seus discípulos?! O significado de irmãos na Bíblia Em Mateus 12.47, na Bíblia católica, versão dos “Monges Maredsous”, o tradutor teceu o seguinte comentário sobre os “irmãos” de Jesus no rodapé da página: “Irmãos: na língua hebraica esta palavra pode significar também ‘parentes próximos’ ou ‘primos’, como neste caso. Exemplo: Abraão, tio de Lot, chama-o com a designação de irmão (Gn 11.27; 13.8)”. Outro estudioso católico afirma: “Assim sendo, é possível que por detrás dos ‘irmãos’ e ‘irmãs’ de Jesus estejam seus ‘primos’ ou ‘parentes’1. Refutação bíblica: Não existe um só caso na Bíblia, e principalmente no Novo Testamento, em que a palavra grega adelphós (irmão) é traduzida por primo ou parente. Das 343 vezes em que o N.T usa o termo adelphós, ele apresenta dois sentidos para a palavra “irmão”: a de irmão legítimo (carnal) e o metafórico.

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Sentido literal: É justamente neste sentido que a palavra irmãos (no plural) é usada, em sua grande maioria, na Bíblia. Nenhum estudioso católico jamais traduziu esta palavra como primos ou irmãos espirituais.

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Sentido metafórico: Neste sentido, enquadram-se todos os textos sobre os seguidores de Jesus (Mc 3.35), os cristãos da igreja (1Co 1.1), os judeus (Rm 9.3) e os seres humanos em geral (Hb 2.11,17). É obvio que as referências nos evangelhos e nas epístolas aos “irmãos” (filhos de Maria) de Jesus não se enquadram nesta categoria.

As Escrituras não deixam nenhuma dúvida quanto a esse assunto. Duvido que alguém leia os textos que seguem e consiga empregar o sentido de primo ou irmão espiritual onde aparece a palavra irmãos. “E, passando mais adiante, viu outros dois (irmãos) Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou” (Mt 4.21). “E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19.29). A Bíblia deixa patente que quando a palavra “irmãos” aparece junto aos termos “pai” e “mãe” ela denota filiação legítima de sangue, e isto ninguém consegue eclipsar. Compare: “Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?” (Mt 13.55).

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Esse artifício, no entanto, não é suficiente para que os católicos se esquivem da derrocada teológica! A palavra “irmão”, no hebraico, pode significar primo, mas, mesmo

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Nas quinze ocorrências em que é empregado o termo adelphós em relação a Jesus o sentido básico é de irmãos legítimos. Mas alguns podem objetar dizendo que a palavra hebraica ah (irmão) aparece várias vezes significando irmãos não de sangue, mas primos ou sobrinhos. É verdade que a língua hebraica tinha um vocabulário um pouco pobre e, por isso, não possuía uma palavra específica para primos ou parentes. Então utilizava a expressão “irmão” de modo lato (Gn 29.12, 24.48)

neste caso, temos de tomar cuidado. Geralmente, quando a palavra “irmão” é empregada no sentido de parente próximo o contexto esclarece a questão (1Cr 23.21-22). Além disso, o Novo Testamento foi escrito em grego, e não em hebraico. Será que no grego Coiné, língua na qual foi escrito o Novo Testamento, existia esta distinção praticamente ausente no hebraico? Vejamos. Termos do Novo Testamento para irmãos e primos

Caso a tese católica estivesse correta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor), e não adelphói tou Kyriou (irmãos do

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Como já falamos, e isso é interessante, o apóstolo Paulo sabia perfeitamente usar a palavra correta para primo (anepsiós) e parente (sungenes) em suas epístolas. Não havia motivo de confusão! “Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo de Barnabé...” (Cl 4.10). “Saudai a Herodião, meu parente” (Rm 16.11).

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Não devemos nos esquecer de que quando o Novo Testamento faz referências aos irmãos de Jesus o contexto não traz nenhum tipo de esclarecimento adicional, como acontece no Antigo Testamento. Além disso, os escritores sabiam a diferença entre os termos irmão (adelphós), primo (anepsiós) e parentes (sungenes). Mesmo Paulo, que usava bastante metáfora, sabia usar com distinção essas palavras. Tanto é que escreveu sobre os “irmãos” de Jesus sem deixar nenhuma dúvida ao laço carnal entre o Senhor e seus irmãos. Vejamos: “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1Co 9.5). “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1.19).

Senhor), até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando o apóstolo escreveu as duas epístolas. Argumentos contraproducentes Diante do exposto, a única consideração plausível a que podemos chegar é que os “irmãos” de Jesus eram realmente seus irmãos legítimos. É justamente esse o sentido do termo adelphós no Novo Testamento. Apesar de todo o esforço empregado pelos católicos para defender a virgindade perpétua de Maria, seus argumentos são totalmente contraproducentes.

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Quando, então, comparado com alguns textos do Novo Testamento, João 7.3-8 por exemplo, o Salmo 69 torna-se um argumento esmagador contra a teoria católica. “Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem seus irmãos criam nele. Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente. O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim,

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O Salmo 69 é um texto profético com força suficiente para desmantelar o arcabouço erigido pelas artimanhas teológicas católicas. Qualquer exegeta que ler esse salmo terá de admitir que se trata de um salmo messiânico, ou seja, um salmo que fala sobre o ministério e a vida de Jesus, o Messias. No verso 8, o autor descreve perfeitamente a família de Jesus sem deixar dúvidas quanto à legitimidade carnal de parentesco entre eles. Vejamos: “Tornei-me como um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe”.

porquanto dele testifico que as suas obras são más. Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo”. Compreendemos agora, por meio desse texto, o porquê de Jesus ter deixado sua mãe aos cuidados de João, e não de seus irmãos! Notas: Tire Suas Dúvidas Sobre a Bíblia – José Bortolini pág. 100, editora Paulus. Obras Consultadas O Catolicismo Romano. Adolfo Robleto Novo Testamento Trilíngüe. Vida Nova Concordância Fiel do Novo Testamento, Vols. I e II. Fiel História Eclesiástica. Eusébio de Cesaréia.CPAD. Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia. Norman Geisler & Thomas Howe. Mundo Cristãos

Por Giovanni Mieggea Maria, mãe de Jesus, ocupa atualmente um lugar de suma importância no pensamento católico. São do conhecimento de todos as manifestações espetaculares da piedade mariana, as peregrinações e os congressos

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Virgem e Mãe, duas poderosas e universais emoções

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8. MARIA

marianos, além da consagração de nações inteiras a Maria. Menos notado, mas igualmente importante, é a elaboração doutrinária (estudo histórico e teológico) que floresce em grande quantidade e qualidade e numa escala raramente atingida nos séculos precedentes. Obras a respeito da Virgem, destinadas a divulgar para os leigos a consciência e o amor de Maria, têm sido publicadas aos montes por editoras especializadas. E todas elas capacitadas pelos atuais recursos de publicidade moderna e por outros meios de divulgação, tais como: panfletos, adesivos, camisetas, livros, rádio e televisão. A consciência e a importância desse tremendo esforço são bem definidos por seus promotores. O catolicismo dos nossos dias parece que vive um momento de devoção à Virgem Maria, superando até mesmo a adoração católica de Maria dos séculos doze e treze1.

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Qual é o significado desse importante florescer do marianismo? É evidente que ele se relaciona com o esforço que a Igreja Católica está fazendo em nossos dias para recuperar as massas. A pregação mariana presta-se particularmente a isso, e lança mão de apelos sentimentais e elementares. Maria, como virgem e mãe, acumula em si as mais poderosas e universais emoções: veneração submissa e nostálgica da criança sonolenta

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Depois de um século de trabalho, a teologia mariana atingiu um patamar de firmeza e conscientização que nem mesmo os grandes adoradores da Idade Média, como, por exemplo, Santo Anselmo, São Boaventura e São Bernardo, provavelmente tiveram a chance de alcançar. Isto porque o desejo de levar o leigo à conscientização de devoção a Maria nunca foi tão bem servido como hoje. Os meios de comunicação atuais são poderosos e a posição de seus divulgadores são firmes.

que há no homem, desejosa de carinho e proteção; e também a atração pela presença eterna do ser feminino que, quanto mais forte, mais sublimada e reprimida se apresenta. Tais fascínios, portanto, reúnem os mais típicos valores cristãos: bondade, compaixão e misericórdia. A misericórdia, por sua vez, redime e perdoa. Na pregação mariana, esses valores são recomendados. E isso é feito por meio de apelo psicológico. Será que o culto à Virgem Maria é o meio (o canal da graça) pelo qual os eternos valores cristãos hão de voltar a ser acessíveis às massas barbarizadas e simples, incapazes de pensar mas com fortes tendências a sentimentos intensos? Será Maria verdadeiramente a “mediatrix”, num sentido psicológico e histórico, do cristianismo do século de grandes heresias?

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Talvez, seria um erro nos limitarmos apenas a essa perspectiva de propaganda, ou, para sermos mais respeitosos, perspectiva missionária. O presente desenvolvimento da mariologia não deve ser interpretado somente como um recurso consciente e voluntário do mais poderoso instrumento de difusão doutrinal. Ele tem raízes mais profundas que não podem

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Essa é a idéia conscientemente expressa pelos mais sérios pensadores católicos que promovem a piedade mariana. “A nova era será a era triunfal de Maria, e esse triunfo trará consigo o triunfo de Cristo e da Igreja”. Foi o que profetizou o padre francês Chaminade, em 1838, em uma carta a Gregório XVI. Em 1927, o padre Doncoeur fez eco a essa profecia: “A presente geração crescida e nutrida pelos dogmas e pela eucaristia realizará grandes feitos. Resta ainda a façanha da descoberta da Madona”2.

ser conhecidas sem uma noção mais sólida dos recessos da fé católica. O catolicismo declara: “Por Maria se vai a Jesus; sim, mas só por Maria total se chega ao Jesus total, pessoalmente e na sociedade; por meio da Mãe se vai ao Filho, por meio da teologia de Maria a Deus, no pensamento e na vida”. Per Mariam ad Iesum et per Iesum ad Patrem! É esse o caminho que a piedade católica segue, e de forma sempre mais consciente e segura. A mediação de Maria não é uma proposição teológica abstrata. É uma experiência vivida, um método de educação, um caminho que tem sido experimentado e cujas incomparáveis belezas tem sido celebradas com entusiasmo ardoroso3 .

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Na verdade, não existe evidência intrínseca que apóie a idéia de que o evangelho - o evangelho eterno de Cristo Jesus, o Jesus de Nazaré, Mestre e Senhor incomparável, o Jesus da crucificação do Gólgota e da ressurreição - não

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Ora, tudo isso não é de fato natural nem indiscutível. Ninguém que pensa sobre a extrema gravidade da hora presente e a eterna verdade do evangelho pode duvidar, por um momento sequer, que o renascimento da fé cristã não deve ser somente desejado, mas também ser a única esperança da nossa época, se não quisermos cair no caos. Mas que esse renascimento deva necessariamente vir de uma mediação mariana, psicológica e pietista, missionária e teológica, não é, de nenhum modo, evidente e bíblico. A insistência com que os promotores do culto mariano enfatizam essa tão necessária mediação é a mesma que mostra que tal idéia é reconhecida pelo próprio catolicismo como sendo uma novidade paradoxal, com pouca conformidade com as tradições constantes e estabelecidas do cristianismo.

deva ser dirigido diretamente a uma geração confusa, desorientada e ansiosa como a nossa sem a ajuda da mediação psicológica e teológica da piedade mariana. O fato de que tal mediação seja algo necessário, desejado, invocado e pregado com tamanha e inquestionável convicção, com um calor que traz em si os melhores sinais de sinceridade, constitui um problema para as mentes pensadoras de nosso tempo. De que modo a consciência católica chegou a esse extremo? Perdeu o evangelho a tal ponto sua evidência intrínseca; perdeu ele seu poder de renovação e convicção, de modo que deve ser recuperado e pregado de novo, por meio da piedade mariana e do pensamento que defende essa doutrina? Qual foi a fatalidade histórica e espiritual que fez que Maria se tornasse a medianeira indispensável de Jesus?

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Na elaboração do culto à Virgem Maria ficou certo que ele, e isso é um fato óbvio, substituiu o das mães divinas (divindades femininas) do mundo Mediterrâneo. Mas o reconhecimento desse fato, tirando a referência genérica ao símbolo da divina maternidade, não nos é suficiente. O culto à Virgem é um fenômeno dotado com

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O problema que a pergunta supracitada levanta é de notável interesse. E não diz respeito apenas ao mais importante aspecto da piedade da Igreja Católica que, por suas organizações religiosas, culturais e políticas, aspira visivelmente o controle espiritual do mundo, ou pelo menos do cristianismo. Abrange, ainda, o desenvolvimento da piedade mariana, quer do ponto de vista da história das religiões e da psicologia religiosa, do desenvolvimento dogmático e litúrgico ou da ética católica. O assunto, de tão interessantes aspectos que possui, por si só constitui um campo atraente de investigações.

individualidade própria. O que ocorre no culto a Maria pode ser observado, de maneira igual, nas origens do ascetismo cristão, que é correlativo daquele culto e nele entrelaçado com profundas raízes psicológicas e morais. As procedências do ascetismo cristão também estão fora do cristianismo, contudo não podem ser entendidas a menos que sejam filiadas aos impulsos que o ascetismo recebeu na área da piedade cristã do quarto século, a qual fez dele um fenômeno original, ainda que muito afastado das idéias do cristianismo do Novo Testamento. Nosso propósito, no entanto, não é mostrar, neste artigo, uma série de curiosidades e absurdos que envolvem a construção do culto a Maria, o qual, diga-se de passagem, está eivado de elementos não-cristãos. Ao contrário disso, iremos discutir sobre um problema que, embora gravíssimo, pode ser solucionado e, portanto, tratado com respeito.

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A posição da igreja Católica é tentar justificar, por meio das Sagradas Escrituras, os aspectos que envolvem o dogma mariano. Em algumas obras católicas, alguns escritores procuram admitir que este ou aquele aspecto da doutrina mariana (tais como: sua imaculada conceição, assunção e participação na redenção do homem) não é explicitamente ensinado no Novo Testamento e muito menos nos escritos dos primeiros padres4. O mesmo ocorre com o culto dos santos e com a oração à Virgem Maria: “O culto aos Santos só começa a partir de cem anos aproximadamente, depois da morte de Jesus, com uma tímida veneração aos mártires. A primeira oração dirigida expressamente à Mãe de Deus é a invocação Sub tuum praesidium, formulada no fim do século III ou mais provavelmente no início do século IV. Não podemos dizer que a veneração dos santos – e muito menos a da Mãe de Cristo – faça parte do patrimônio

original”5. Em seu livro Papal Sin (Pecado papal), o historiador americano Garry Wills, católico praticante, declara: “O culto à Virgem Maria inexiste nas Escrituras e entre os católicos, durante quatro séculos é apenas um dos muitos abusos históricos que, a seu ver, a Igreja cometeu. Exorbitância cujo ápice teria sido a idolatria à Nossa Senhora de Fátima e aos mistérios a ela ligados, todos ‘manipulados pela Igreja’ para fins políticos – além de discutíveis, na medida em que dois deles referiam-se a previsões (supostamente feitas em 13 de julho de 1917) de fatos já ocorridos ou em andamento (uma nova guerra mundial, um novo papa) quando sua única testemunha viva, Lúcia, tornou-as públicas, em 1941”6. Assim, na concepção do referido historiador, o dogma mariano nada mais é do que a construção da piedade e do pensamento teológico da Igreja, baseada em premissas supostamente contidas (explícita ou implicitamente) no Novo Testamento.

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O padre Roschini, num breve catecismo popular, faz declarações daquilo que pode ser chamado de leis intrínsecas do desenvolvimento do sistema mariano. E divide essas declarações da seguinte maneira: um princípio primário e quatro secundários. O princípio primário é a divina maternidade: “A mui bendita Maria é Mãe de Deus, é a mediadora dos homens”. E não duvida de que desse princípio, decorrente dos princípios secundários, “são deduzidas todas as vastas conclusões da mariologia...”. Os princípios secundários são: singularidade, conveniência, eminência e analogia com Cristo. Em suas próprias palavras, Roschini enuncia os princípios secundários da seguinte forma:

1 “A bendita Virgem, sendo uma criatura inteiramente singular e constituindo uma ordem à parte, tem direitos a privilégios singulares, inacessíveis a qualquer outra criatura” (Princípio de singularidade). 2 “À bendita Virgem devem ser atribuídas todas as perfeições condizentes com a dignidade da Mãe de Deus e mediadora dos homens, desde que tenham alguma base na revelação e não sejam contrárias à fé e à razão” (Princípio de conveniência). 3 “Todos os privilégios de natureza, graça e glória concedidos por Deus a outros santos devem também ser concedidos de algum modo à Virgem Santíssima rainha dos santos” (Princípio de eminência). 4 “Privilégios análogos aos vários privilégios da humanidade de Cristo são possuídos correspondentemente pela bendita Virgem, conforme a condição de um e de outra” (Princípio de analogia ou semelhança com Cristo)7.

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Por meio desses princípios, é possível justificar todos os desenvolvimentos históricos da piedade e do dogma de Maria. É ainda mais interessante notar que eles abrem caminho para qualquer possível desenvolvimento no futuro. O dogma mariano, delimitado por essas quatro categorias, não é uma teoria completa e fechada em si mesma. É uma doutrina em evolução, poder-se-ia dizer um dogma aberto. Segundo os quatro princípios acima expostos, tudo o que for possível afirmar como dogma mariano pode ser aceito como desenvolvimento da divina maternidade e mediação de Maria. De acordo com o princípio da singularidade, as celebrações a Maria jamais serão hiperbólicas ou excessivas. Segundo o princípio de eminência, não existe glorificação de santos ou mártires que não contribua para a glória de Maria. Já o princípio de conveniência declara que por sua grandeza, como mediadora, Maria tem perfeita semelhança com

Cristo, o redentor, em divindade. Indo mais longe, Roschini afirma: “A divina maternidade a eleva a uma altura vertiginosa e a coloca imediatamente depois de Deus na vasta escala dos seres, tornando-a membro da ordem hipostática (na medida em que por ela e nela o Verbo está unido hipostaticamente – isto é – pessoalmente – com a natureza humana), uma ordem superior à da natureza e graça e glória. Por isso os padres e as Escrituras têm quase esgotado seus recursos de linguagem em exaltá-la sem conseguir dar-lhe a glória que merece. Sua grandeza confina-se com o infinito”8.

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Como a Igreja Católica usa esse “novo” instrumento (a autoridade docente do Magistério vivo) ela está habilitada a dogmatizar sobre qualquer doutrina apoiada pelo consenso geral dos fiéis, ainda que tal ensino seja estranho às Sagradas Escrituras e à crença da igreja primitiva. Tanto é assim que já está em franca elaboração outro dogma sobre um assunto ainda mais grave: a doutrina de Maria co-redentora. O objetivo, com isso, é atribuir a Maria parte na obra expiatória de Cristo. As autoridade da Igreja Católica acreditam que os sofrimentos morais de Maria, ao contemplar a morte de

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A Igreja Católica pôs de lado o método de basear as doutrinas das Escrituras Sagradas com a Tradição, substituindo-o pela autoridade docente do Magistério vivo, centralizada no Papa que, segundo a Igreja, é infalível. É por esse motivo que ela (a Igreja Católica) tem facilidade de definir, a seu bel-prazer, os dogmas que prega como verdades reveladas, como, por exemplo, as doutrinas da Imaculada Conceição de Maria e sua assunção ao céu em corpo e alma. Mas esses ensinamentos não têm nenhum fundamento nas Escrituras, e muito menos na Tradição.

seu Filho na cruz, fizeram parte da obra redentora ali realizada. A humanidade é constituída por homens e mulheres e, sem os sofrimentos vicários de uma mulher, junto com os do Homem Deus, a expiação dos pecados humanos ficaria incompleta. É o que afirmam as autoridades católicas. É uma heresia desse porte, baseada em argumentos tão fracos, que está prestes a ser definida como dogma. O ímpeto de glorificar Maria não tem limites pela Igreja Católica. Não há nenhum vestígio de esperança de que a Igreja Católica, um dia, possa modificar seus ensinamentos dogmáticos sobre a Virgem Maria. Ainda que seus erros fossem reconhecidos por alguns de seus membros, eles teriam de enfrentar a oposição da maioria, que jamais concordaria com tal reconhecimento. Todavia, mesmo sem essa Capitis diminutio, a Igreja Católica poderia reduzir, pouco a pouco, seu culto excessivo e idolátrico às proporções naturais do justo respeito que a mãe de Jesus merece. Devido ao excessivo culto a Maria, a figura de Jesus Cristo, no catolicismo, deixou de ser central, restando-lhe apenas a posição de Senhor do além e Juiz do juízo final.

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Não obstante a tudo isso, Cristo, naturalmente, não será

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Para que Cristo seja novamente reconhecido pelos católicos por sua incomparável grandeza e senhorio, seria necessário uma revisão dogmática, litúrgica e ética por parte da Igreja Católica. Neste caso, o único caminho aberto para uma mudança é substituir os símbolos católicos já prestes a sofrer deterioração psicológica por outros mais novos e frescos. A fatalidade no catolicismo é que os cultos a Maria exigem sempre de seus adoradores os valores cristãos de humanidade, de compaixão e de ascese interior.

esquecido. Permanecerá sendo o centro das honras oficiais. O lado feio dessa “moeda”, porém, é que Maria continuará sendo vista como a mediadora entre Cristo e os homens. Primeiro Maria, depois Jesus Cristo. O que isso significa? Significa que a verdadeira força difusiva e persuasiva e o verdadeiro fascínio religioso que atrai para si (a pessoa que está sendo adorada) a fé e a devoção de multidões são inteiramente exercidos pela Virgem Maria. Com isso concluímos que, no catolicismo, o cristianismo cedeu espaço para uma religião diferente. Bem diferente! Comparando as declarações sobre Maria com a Bíblia, chegamos à conclusão de que o culto a ela prestado é impróprio.

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A) Nenhuma criatura deve ser adorada, a não ser Deus: Pai, Filho e Espírito Santo (Ap 5.11-13). B) O culto à criatura foi rejeitado, e essa rejeição ainda permanece (At 10.25,26; Cl 2.18; Ap 19.10; 22.8-9). C) Devemos orar diretamente ao Deus Pai, (Mt 6.6-13) em nome de Jesus (Jo 16.23-24). Ou, então, diretamente a Jesus (At 7.59-60; 1 Co 1.2; 2 Co 12.8; Ap 22.10). D) A idolatria é fortemente condenada na Bíblia e acarreta perdição eterna (Is 45.20; Ap.21.8; 22.15). E) Jesus é o Deus Criador, juntamente com o Pai e o Espírito Santo (Gn 1.26; 1.1-3; Jó 33.4; Cl 1.15-16). Assim, Ele é o Pai de Maria pela sua natureza divina e mais antigo que ela (Jo 17.5, 24; Hb 13.8); ao tomar a forma humana (Jo 1.14), era chamado de filho (Mt 1.25; 12.46-50). F) Maria não era isenta de pecado (Rm 3.23) e ela mesma declarou que Deus era o seu Salvador (Lc 1.4647). G) Maria não foi assunta ao céu em corpo glorificado.

Está no paraíso celestial consciente de sua felicidade pessoal (1 Co 5.6-8; Fp 1.21-23). Quando o Senhor Jesus voltar, ela fará parte da primeira ressurreição e subirá ao céu num corpo glorificado (1 Ts 4.13-17; 1 Co 15.51-54); H) Maria não é cheia de graça, mas achou graça diante de Deus ao ser escolhida para ser a mãe do Salvador (Lc 1.30). Só Jesus é cheio de graça (Jo 1.14). Notas:

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1 Nosso Século gloria-se com bom direito de ser o século de Maria”. E. Neuber. Marie dans lê dogme, Edittion Spes. Paris, 1933. Tradução italiana, Maria nel Dogma. Pia Societá di S. Paulo, Alba, 1944. 2 NEUBERT, Maria nel Dogma, p.6. 3 Sac. Romualdo M. Giovanni Evagelista, della Pia Societá di S. Paulo: Lo studio organico e metodico di Maria Santísima in Ginasio Liceo e Teologia, per la formazione Soprannaturale del Seminarista. Alba, 1944. 4 Conf. Neubert, ob. Cit. A revelação a respeito de Maria feita aos primeiros cristãos, não contém a asserção explícita da imaculada conceição mas permite que ela seja presumida e predispõe a mente para aceita-la (p.82). Não possuímos documentos fidedignos que nos informem sobre a crença dos primeiros cristãos acerca da assunção (p. 174). Naquele tempo não havia razão especial para chamar a atenção dos fiéis para o auxílio dado por Maria á obra da redenção. A parte exercida por Cristo é que foi de preferência dada a conhecer. Podia-se predizer, todavia, a, parte que a Virgem tinha no mistério da redenção (P. 205). 5 O Culto a Maria Hoje. Vários autores, sob a direção de Wolfgang Beinert. Edições Paulinas, 1980, 3a. Edição. P.33. 6 O Estado de S. Paulo – D-17 – Sábado, 5 de agosto de 2000.

7 Gabriel M. Roschini, Chi é Maria? Catecismo Mariano. Societá Apostolato Stampa, Roma, 1944, p. 12-14. Ver a discussão plena deste assunto pelo autor em sua grande Mariologia, três volumes em latim. A. Beladi, ed. Roma, 1947-48. Vol. I, p. 321-79. 8 Roschini, Chi e Maria? P. 39. 9. MERECEM CONFIANÇA OS LIVROS APÓCRIFOS? Por Paulo Cristiano A Constituição Dogmática sobre Revelação Divina, o Concílio Vaticano II, declarou que “Ela (a igreja) sempre considerou as Escrituras junto com a tradição sagrada como a regra suprema de fé, e sempre as considerará assim”.

No grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de “esotérico” ou algo que só os iniciados

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Apócrifos, o que significa?

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Nós, cristãos evangélicos, rejeitamos a tradição como regra de fé. Quando a Igreja Católica Romana se refere ao cânon do Velho Testamento inclui uma série de livros chamados “Apócrifos”, os quais não aparecem nas versões evangélica e hebraica da Bíblia. O resultado disto foi que, na opinião popular dos católicos, existem duas Bíblias: uma católica e outra protestante. Mas semelhante asseveração não é certa. Só existe uma Bíblia, uma Palavra (escrita) de Deus.

podem entender; não os de fora. Na época de Irineu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”. Como os apócrifos foram aprovados A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 8 de Abril de 1546 para combater a Reforma protestante. Nessa época, os protestantes se opunham violentamente às doutrinas romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras etc. A primeira edição da Bíblia católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa Clemente VIII.

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Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos, colocando-os entre o Antigo e o Novo Testamentos, não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário histórico. Isto continuou até 1629. A famosa versão inglesa King James (Versão do Rei Tiago) de 1611 ainda os trouxe. Mas, após 1629, as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e “induziram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias que tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros em suas edições”. Melhor assim. Tinham em vista evitar confusão entre o povo simples, que nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo.

Há várias razões porque rejeitamos os apócrifos. Eis algumas delas: Não temos nenhum registro de alguma controvérsia entre Jesus e os judeus sobre a extensão do cânon. Jesus e os autores do Novo Testamento citam, mais de 295 vezes, várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavras autorizadas por Deus, mas nem uma vez sequer mencionam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro escrito como se tivesse autoridade divina. Historicidade

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Essa tradução, que se conhece com o nome de

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A conquista da Palestina por Alexandre, o Grande, ocasionou uma nova dispersão dos judeus por todo o império greco-macedônico. Morrendo Alexandre, seu domínio dividiu-se em quatro ramos, ficando o Egito sob a dinastia dos Ptolomeus. O segundo deles, Ptolomeu Filadelfo, preocupou-se em enriquecer a famosa biblioteca que seu pai havia fundado. Muitos livros foram traduzidos para o grego. Segundo um relato de Josefo, o sumo sacerdote de Jerusalém, Eleazar, enviou, a pedido de Ptolomeu Filadelfo, uma embaixada de 72 tradutores a Alexandria, com um valioso manuscrito do Velho Testamento, do qual traduziram o Pentateuco. A tradução continuou depois, não se completando senão no ano 150 antes de Cristo.

Septuaginta ou Versão dos Setenta, foi aceita pelo Sinédrio judaico de Alexandria; mas, não havendo tanto zelo ali como na Palestina e devido às tendências helenistas contemporâneas, os tradutores alexandrinos fizeram adições e alterações e, finalmente, sete dos livros apócrifos foram acrescentados ao texto grego como apêndice do Velho Testamento. Mas os judeus da Palestina nunca os aceitaram no cânon de seus livros sagrados.

ORÍGENES: No terceiro século a.D., Orígenes (que morreu em 254) deixou um catálogo de vinte e dois livros do Antigo Testamento, preservado na História Eclesiástica de Eusébio, VI: 25. Inclui a mesma lista do

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Testemunho dos pais da Igreja

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Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas e aos demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele continua afirmando: “Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja”.

cânone de vinte e dois livros de Josefo (e do Texto Massorético), inclusive Ester, mas nenhum dos apócrifos é declarado canônico, e se diz explicitamente que os livros de Macabeus estão “fora desses [livros canônicos]”. TERTULIANO: Tertuliano (160-250 d.C.) era aproximadamente contemporâneo de Orígenes. Declara que os livros canônicos são vinte e quatro. HILÁRIO: Hilário de Poitiers (305-366) os menciona como sendo vinte e dois. ATANÁSIO: De modo semelhante, em 367 d.C., o grande líder da igreja, Atanásio, bispo de Alexandria, escreveu sua Carta Pascal e alistou todos os livros do nosso atual cânon do Novo Testamento e do Antigo Testamento, exceto Ester.

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JERÔNIMO: Jerônimo (340-420. a.D.) fez a seguinte citação: “Este prólogo, como vanguarda, com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os livros que traduzimos do hebraico para o latim, de tal maneira que possamos saber que tudo quanto é separado destes deve ser colocado entre os apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque, e Judite e Tobias e o Pastor (supõe-se que seja o Pastor de Hermas), não fazem parte do cânon. Descobri o Primeiro Livro de Macabeus em hebraico; o Segundo foi escrito em grego, conforme testifica sua própria linguagem”.

MELITO: A mais antiga lista cristã dos livros do Antigo Testamento que existe hoje é a de Melito, bispo de Sardes, que escreveu em cerca de 170 d.C. “Quando cheguei ao Oriente e encontrei-me no lugar em que essas coisas foram proclamadas e feitas, e conheci com precisão os livros do Antigo Testamento, avaliei os fatos e os enviei a ti. São estes os seus nomes: cinco livros de Moisés, Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio, Josué, filho de Num, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, os dois livros de Crônicas, os Salmos de Davi, os Provérbios de Salomão e sua Sabedoria, Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, Jó, os profetas Isaías, Jeremias, os doze num único livro, Daniel, Ezequiel, Esdras”.

TOBIAS - (200 a.C.) - É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns milagres preparados pelo anjo Rafael. Apresenta: • justificação pelas obras – 4.7-11; 12.8.

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As heresias dos apócrifos

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É digno de nota que Melito não menciona aqui nenhum livro dos apócrifos, mas inclui todos os nossos atuais livros do Antigo Testamento, exceto Ester. Mas as autoridades católicas passam por cima de todos esses testemunhos para manter, em sua teimosia, os apócrifos!

• mediação dos Santos – 12.12 • superstições – 6.5, 7-9,19 • um anjo engana Tobias e o ensina a mentir – 5.16 a 19 JUDITE - (150 a.C.) É a história de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade enganando um general inimigo e decapitando-o. Grande heresia é a própria história onde os fins justificam os meios. BARUQUE - (100 a.D.) - Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus quando da destruição de Jerusalém. Mas é de data muito posterior, quando da segunda destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Traz, entre outras coisas, a intercessão pelos mortos – 3.4. ECLESIÁSTICO - (180 a.C.) - É muito semelhante ao livro de Provérbios, não fosse as tantas heresias:

Apresenta:

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SABEDORIA DE SALOMÃO - (40 a.D.) - Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e idolatria do epicurismo (filosofia grega na era Cristã).

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• justificação pelas obras – 3.33, 34. • trato cruel aos escravos – 33.26 e 30; 42.1 e 5. • incentiva o ódio aos samaritanos – 50.27 e 28

• o corpo como prisão da alma – 9.15 • doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma – 8.19 e 20 • salvação pela sabedoria – 9.19 1 MACABEUS - (100 a.C.) - Descreve a história de três irmãos da família “Macabeus”, que no chamado período interbíblico (400 a.C. 3 a.D) lutam contra inimigos dos judeus visando a preservação do seu povo e terra. 2 MACABEUS - (100 a.C.) - Não é a continuação de 1 Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta:

Adições a Daniel:

Capítulo 14 - Bel e o Dragão - Contém histórias sobre a necessidade da idolatria.

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Capítulo 13 - A história de Suzana - segundo esta lenda Daniel salva Suzana num julgamento fictício baseado em falsos testemunhos.

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• a oração pelos mortos – 12.44 - 46 • culto e missa pelos mortos – 12.43 • o próprio autor não se julga inspirado –15.38-40; 2.2527. • intercessão pelos santos – 7.28 e 15.14

Capítulo 3.24-90 - o cântico dos três jovens na fornalha. Lendas, erros e outras heresias: 1. Histórias fictícias, lendárias e absurdas - Tobias 6.1-4 - “Partiu, pois, Tobias, e o cão o seguiu, e parou na primeira pousada junto ao rio Tigre. E saiu a lavar os pés, e eis que saiu da água um peixe monstruoso para o devorar. À sua vista, Tobias, espavorido, clamou em alta voz, dizendo: Senhor, ele lançou-se a mim. E o anjo disse-lhe: Pega-lhe pelas guelras, e puxa-o para ti. Tendo assim feito, puxou-o para terra, e o começou a palpitar a seus pés”. 2. Erros históricos e geográficos

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Esses livros contêm erros históricos, geográficos e cronológicos, além de doutrinas obviamente heréticas; eles até aconselham atos imorais (Judite 9.10,13). Os erros dos apócrifos são freqüentemente apontados em obras de autoridade reconhecida. Por exemplo: o erudito bíblico DL René Paehe comenta: “Exceto no caso de determinada informação histórica interessante (especialmente em 1 Macabeus) e alguns belos pensamentos morais (por exemplo, Sabedoria de Salomão). Tobias contém certos erros históricos e geográficos, tais como a suposição de que Senaqueribe era filho de Salmaneser (1.15) em vez de Sargão II, e que Nínive foi tomada por Nabucodonosor e por Assuero (14.15) em vez de Nabopolassar e por Ciáxares... Judite

não pode ser histórico porque contém erros evidentes... [Em 2 Macabeus]. Há também numerosas desordens e discrepâncias em assuntos cronológicos, históricos e numéricos, os quais refletem ignorância ou confusão.” 3. Ensinam artes mágicas ou de feitiçaria como método de exorcismo

4. Ensinam que esmolas e boas obras limpam os pecados e salvam a alma a) Tobias 12.8, 9 - “É boa a oração acompanhada do

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Este ensino de que o coração de um peixe tem poder para expulsar toda espécie de demônios contradiz tudo o que a Bíblia diz sobre superstição.

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Tobias 6.5-9 - “Então disse o anjo: Tira as entranhas a esse peixe, e guarda, porque estas coisas te serão úteis. Feito isto, assou Tobias parte de sua carne, e levaram-na consigo para o caminho; salgaram o resto, para que lhes bastassem até que chegassem a Ragés, cidade dos Medos. Então Tobias perguntou ao anjo e disse-lhe: Irmão Azarias, suplico-lhe que me digas de que remédio servirá estas partes do peixe, que tu me mandaste guardar: E o anjo, respondendo, disse-lhe: Se tu puseres um pedacinho do seu coração sobre brasas acesas, o seu fumo afugenta toda a casta de demônios, tanto do homem como da mulher, de sorte que não tornam mais a chegar a eles. E o fel é bom para untar os olhos que têm algumas névoas, e sararão”.

jejum, dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da morte (eterna), e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna”. b) Eclesiástico 3.33 - “A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados”. A salvação por obras destrói todo o valor da obra vicária de Cristo em favor do pecador. 5. Ensinam o perdão dos pecados através das orações Eclesiástico 3.4 - “O que ama a Deus implorará o perdão dos seus pecados, e se absterá de tornar a cair neles, e será ouvido na sua oração de todos os dias”. O perdão dos pecados não está baseado na oração que se faz pedindo o perdão, não é fé na oração, e sim fé naquele que perdoa o pecado.

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2 Macabeus 12.43-46 - “e tendo feito uma coleta, mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifícios pelos pecados dos mortos, sentindo bem e religiosamente a ressurreição (porque, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos, haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos); e porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade

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6. Ensinam a oração pelos mortos

estava reservada uma grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados”. É nesse texto de um livro não canônico que a Igreja Católica Romana baseia sua doutrina do purgatório. 7. Ensinam a existência de um lugar chamado purgatório Sabedoria 3.1-4 - “As almas dos justos estão na mão de Deus, e não os tocará o tormento da morte. Pareceu aos olhos dos insensatos que morriam; e a sua saída deste mundo foi considerada como uma aflição, e a sua separação de nós como um extermínio; mas eles estão em paz (no céu). E, se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de imortalidade”.

“E o anjo disse-lhe: Eu o conduzirei e to reconduzirei. Tobias respondeu: Peço-te que me digas de que família e de que tribo és tu? O anjo Rafael disse-lhe: Procuras saber a família do mercenário, ou o mesmo mercenário

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8. Tobias 5.15-19

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A Igreja Católica baseia a doutrina do purgatório na última parte desse texto. Afirmam os católicos que o tormento em que o justo está é o purgatório que o purifica para entrar na imortalidade. Isto é uma deturpação do próprio texto do livro apócrifo.

que vá com teu filho? Mas para que te não ponhas em cuidados, eu sou Azarias, filho do grande Ananias. E Tobias respondeu-lhe: Tu és de uma ilustre família. Mas peço-te que te não ofendas por eu desejar conhecer a tua geração”. Um anjo de Deus não poderia mentir sobre a sua identidade sem violar a própria lei santa de Deus. Todos os anjos de Deus foram verdadeiros quando lhes perguntado a sua identidade. Veja Lucac 1.19. Decisão polêmica e eivada de preconceito

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O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que

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Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos livros apócrifos por parte dos cristãos desde os tempos mais primitivos é evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial desses livros, no Concílio de Trento, como se tivessem sido inspirados por Deus. Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma categoria de paracanônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em suas igrejas.

alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deulhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse Concílio foi polêmica e eivada de preconceito. Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, o que se comprova pelos seguintes fatos: 1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos. 2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.

5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos. 6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.

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4. Nenhum concílio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.

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3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua canonicidade.

7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras. Em virtude desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã. Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade estabelecidos, verificamos que aos livros apócrifos faltam: 1. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.

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2. Não detêm a autoridade de Deus. O prólogo do livro apócrifo Eclesiástico (180 a.C.) diz: “Muitos e excelentes ensinamentos nos foram transmitidos pela Lei, pelos profetas, e por outros escritores que vieram depois deles, o que torna Israel digno de louvor por sua doutrina e sua sabedoria, visto não somente os autores destes discursos tiveram de ser instruídos, também os próprios estrangeiros se podem tomar (por meio deles) muito hábeis, tanto para falar como para escrever. Por isso, Jesus, meu avô, depois de se ter aplicado com grande cuidado à leitura da Lei, dos profetas e dos outros livros que nossos pais nos legaram, quis também escrever alguma coisa acerca da doutrina e sabedoria... Eu vos exorto, pois, a ver com benevolência, e a empreender esta leitura com uma atenção particular e a perdoar-nos, se algumas vezes parecer que, ao reproduzir este retrato

da soberania, somos incapazes de dar o sentido (claro) das expressões”. Este prólogo é um autoreconhecimento da falibilidade humana. (grifo acrescentado) Diante de tudo isso, perguntamos: “Merecem confiança os livros Apócrifos?” A resposta obvia é: NÃO! Natureza e número dos apócrifos do Antigo Testamento Há quinze livros chamados apócrifos (quatorze, se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo. Significado das palavras cânon e canônico

Significado da palavra Pseudoepígrafado

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CANÔNICO - Que está de acordo com o cânon. Em relação aos 66 livros da Bíblia hebraica e evangélica.

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CÂNON - (de origem semítica, na língua hebraica “qãneh” em Ez 40.3; e no grego: “kanón”, em Gl 6.16") tem sido traduzido em nossas versões em português como “regra”, “norma”. Literalmente, significa vara ou instrumento de medir.

Literalmente significa “escritos falsos” - Os apócrifos não são necessariamente escritos falsos, mas, sim, nãocanônicos, embora também contenham ensinos errados ou hereges. Diferença entre as Bíblias hebraicas, protestantes e católicas 1. Bíblia hebraica [a Bíblia dos judeus] a) Contém somente os 39 livros do VT b) Rejeita os 27 do NT como inspirado, assim como rejeitou Cristo. c) Não aceita os livros apócrifos incluídos na Vulgata (versão Católica Romana). 2. Bíblia protestante

3. Bíblia católica a) Contém os 39 livros do VT e os 27 do N.T. b) Inclui, na versão Vulgata, os livros apócrifos ou não canônicos que são: Tobias, Judite, Sabedoria,

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b) Rejeita os livros apócrifos incluídos na Vulgata, como não canônicos.

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a) Aceita os 39 livros do VT e também os 27 do N.T.

Eclesiástico, Baruque, 1º e 2º de Macabeus, seis capítulos e dez versículos acrescentados no livro de Ester e dois capítulos de Daniel. A seguir, a lista dos que se encontravam na Septuaginta: 1. 3 Esdras 2. 4 Esdras 3. Oração de Azarias 4. Tobias 5. Adições a Ester 6. A Sabedoria de Salomão 7. Eclesiástico (Também chamado de Sabedoria de Jesus, filho de Siraque).

10. Os acréscimos de Daniel 11. A Oração de Manassés 12. 1 Macabeus

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9. A Carta de Jeremias

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8. Baruque

13. 2 Macabeus 14. Judite Bibliografia:

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1. Merece Confiança o Antigo Testamento?, Gleason L. Archer. Jr. Ed. Vida Nova. 2. Introdução Bíblica, Norman Geisler e William Nix. Ed. Vida. 3. Panorama do Velho Testamento, Ângelo Gagliardi Jr. Ed. Vinde. 4. O Novo Comentário da Bíblia vol I, vários autores. Ed. Vida Nova. 5. Evidência Que Exige um Veredicto vol I, Josh McDowell. Ed. Candeia. 6. Os Fatos sobre “O Catolicismo Romano”, John Ankerberg e John Weldon. Ed. Chamada da Meia-Noite. 7. O Catolicismo Romano, Adolfo Robleto. Ed. Juerp. 8. Estudos particulares de, Pr. José Laérton - IBR Emanuel - (085) 292-6204.(internet) 9. Estudos particulares de, Paulo R. B. Anglada.(internet) 10. Teologia Sistemática, Green. Ed. Vida Nova. 11. Anotações particulares do autor.

10. MONOTEÍSMO TEÓRICO E POLITEÍSMO PRÁTICO Por Eguinaldo Hélio de Souza “Assim temiam ao SENHOR, mas também serviam a seus deuses, segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados” (2Rs 17.33)

Esse fenômeno só não ocorre dentro do judaísmo e do protestantismo, que se mantêm estritamente monoteístas, tanto em sua teologia quanto em sua prática devocional. As demais religiões, mesmo as que se

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Todavia, este monoteísmo se deteriora muitas vezes em um politeísmo disfarçado, que não fica longe do paganismo evidente. Algumas vertentes dessas religiões mantêm certo monoteísmo em seu credo, mas sua prática está repleta de envolvimento com outros deuses.

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Monoteísmo é a crença em um único Deus, o que o difere do paganismo e de religiões como o hinduísmo que, oficialmente, acredita na existência de vários deuses. No mundo existem apenas três grandes religiões reconhecidamente monoteístas, isto é, que crêem em um único Deus: judaísmo, cristianismo e islamismo. Embora apresentando características distintas, as teologias dessas religiões não admitem a existência de outra ou de outras divindades.

intitulam monoteístas, apresentam, oficialmente ou não, formas de cultos a outros tipos de divindade. Mesmo alguns segmentos do cristianismo ou de outras religiões que se intitulam cristãs são, na prática, politeístas. O que é um deus? O Novo Dicionário Aurélio define o conceito de Deus/deus da seguinte forma, pontos 2 e 3: “Ser infinito, perfeito, criador do Universo. Nas religiões politeístas, divindade superior aos homens, é à qual se atribui influência especial, benéfica ou maléfica, nos destinos do Universo”.

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O Senhor ordenou: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). O exclusivismo da Divindade não vai apenas até a formulação de um credo, mas está no âmago do verdadeiro relacionamento entre Deus e o homem. Se o primeiro mandamento não for respeitado na prática, o homem não obterá uma verdadeira relação com o Deus vivo, independente de quantos conceitos corretos possa apresentar na teoria.

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Ao menos em teoria, é possível que as religiões envolvam todos estes conceitos, ou mais, porém, a revelação bíblica só admite o primeiro. O cristianismo autêntico é mais do que doutrina verdadeira (ortodoxia), é a prática do culto verdadeiro (ortopraxia). É um grande engano supor que a simples adesão intelectual a um credo torna o homem aceitável a Deus, enquanto na prática ele continua invocando, adorando ou se envolvendo espiritualmente com falsos deuses. O rótulo de “cristão” utilizado por diversos grupos, como espíritas, racionalistas, etc., é insuficiente para que os homens tenham um relacionamento verdadeiro com Deus, uma vez que as pessoas observam práticas pagãs e idólatras.

Mediador e mediadores “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1Tm 2.5). O problema das religiões que adotam o monoteísmo na teoria e praticam um tipo de politeísmo está na adoção dos mediadores. Enquanto a Bíblia definitivamente coloca Jesus como o único mediador entre Deus e os homens, pelo fato de Ele ser o único ser em todo o Universo que assumiu as duas naturezas, os referidos grupos reconhecem outros mediadores que acabam assumindo o papel de “deuses’’. Enquanto o livre acesso a Deus é garantido nas Escrituras (Ef 2.18; 3.12), esses grupos “se utilizam” de outros seres para conseguir este acesso.

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Semelhante erro ocorre no espiritismo kardecista. Mesmo admitindo a existência de um único Deus, as orações sofrem mediação dos “espíritos” e, assim, no lugar de um relacionamento com Deus, o relacionamento passa a ser com estes seres, enganosamente classificados como “espíritos de luz”. “Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de

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Jacques Doyon, grande teólogo católico, por exemplo, assim se expressa sobre este assunto: “Os anjos, os santos e a Virgem exercem também certa influência sobre a nossa salvação, mais ou menos larga, segundo sua importância, embora sua mediação não possa ser colocada em pé de igualdade com Cristo...”.1 Conseqüentemente, ao rejeitar a exclusividade da mediação de Cristo a pessoa nega também a exclusividade de sua Divindade.

Deus”.2 Catolicismo romano Vejamos o discurso dos padres do baixo clero, durante a Idade Média: “Guardai-vos meus filhos, da cólera dos santos! São todos eles bondosos e cheios de amor. Mas ai dos que não os cultuam devidamente! Recebem como castigo horríveis doenças que lhe cobrem o corpo de chagas. São Sebastião, por exemplo, foi o criador da peste. Seus devotos escapam desse terrível mal [...] Aliás, é bom não esquecer de rezar para os demais santos encarregados de conter a peste: São Roque, São Gil, São Cristóvão, São Valentino e São Adrião. Não convém recorrer unicamente a São Sebastião. Os outros podem se sentir ofendidos”.3

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“Em Roma, a corporação [profissionais de um mesmo ramo reunidos em uma organização] era, sobretudo, um colégio religioso. Tinha seu deus particular, seu culto, suas festas [...] Embora as corporações medievais não fossem idênticas às romanas teriam mantido o caráter forte de uma autoridade moral. Freqüentemente tinham como sede uma paróquia ou capela particular, e

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O romanismo é a expressão mais evidente de como uma religião pode ser monoteísta em seus fundamentos e politeísta em suas práticas. Principalmente porque leva o título de “cristianismo”. Contudo, um pouco de bom senso é suficiente para perceber a distância existente entre o cristianismo neotestamentário e o cristianismo romano. Esta distorção geralmente é maquiada com inúmeras sutilezas teológicas, com argumentos sofismáticos e emocionalismo. Mesmo assim é difícil não reconhecer a semelhança existente entre o paganismo comum e o catolicismo popular.

cultuavam a um santo que era o patrono da corporação”.4 Os deuses pagãos romanos foram simplesmente substituídos pelos santos. As deusas, igualmente, foram trocadas pelas “nossas senhoras”. Assim como cada deus tinha uma função particular (deus do fogo, da caça, do mar, etc.), os santos também são funcionais (um protege os motoristas, outro protege das doenças, outro das dívidas, etc.). Assim como os deuses eram locais, ou seja, pertenciam a determinada cidade e a protegiam, assim também os santos são “padroeiros” de algumas cidades que, muitas vezes, levam seus nomes. Isso sem falar no sincretismo extremo encontrado não só no Brasil como também em muitas partes do mundo, onde os cultos locais absorveram o catolicismo e continuaram a ser praticados com uma roupagem cristã. Um exemplo claro e peculiar do Brasil foi a identificação dos orixás dos cultos afros com os “santos, santas e nossas senhoras” do catolicismo português.

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O conceito de Deus, utilizado por Alan Kardec, foi extraído diretamente do pensamento judaico-cristão. Mesmo que o kardecismo não aceite definitivamente a natureza Trina de Deus, nos demais aspectos é muito fácil perceber que quando se refere a Deus está-se referindo ao Deus cristão. “Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus”.5 Sendo assim, podemos considerar o

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Kardecismo

espiritismo kardecista uma religião monoteísta. Aliás, esse segmento espírita pode, mais do que qualquer outro, ser chamado de espiritismo cristão (embora, na prática, isto seja um contra-senso), visto o uso deliberado que Kardec faz dos evangelhos. Este conceito monoteísta, todavia, não impede o relacionamento espiritual com outros seres, por meio da oração e dos diálogos. Na prática, o contato, a manifestação e a “bênção” dos espíritos são o centro do kardecismo, e não Deus ou Jesus Cristo. Absolutamente! “As preces feitas a Deus escutam-nas os espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus [...] É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida [...]”.6

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Com este argumento, abre-se espaço para um culto “relativo” aos espíritos, muito semelhante ao que existe no catolicismo, separando latria, dulia e hiperdulia8, como se a mera alteração dos termos pudesse anular os efeitos da idolatria sobre a humanidade.

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Como no catolicismo, o kardecismo substitui os santos pelos espíritos e passa a se relacionar espiritualmente com eles. A citação que Kardec faz do segundo mandamento deixa margem para uma adoração secundária ao lado do que ele chama de “culto soberano a Deus”. Veja sua declaração: “Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima no céu, nem embaixo na terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano”.7

Islamismo popular O primeiro artigo de fé dos muçulmanos é uma declaração explícita de seu monoteísmo: “Só há um Deus, Alá, e Maomé é o seu profeta”. Esta profissão de fé foi sempre o âmago da mensagem islâmica. Devido a isto, seria difícil imaginar que a fé muçulmana pudesse, de alguma forma, tornar-se politeísta em suas práticas. Convém lembrar, porém, que a maior parte das “conversões” dos povos ao islamismo se deu sob a ponta de uma espada. Logo, não é de admirar que os neófitos, com o passar do tempo, buscassem fazer algum tipo de sincretismo entre a crença monoteísta muçulmana e suas crenças politeístas culturais, tal qual aconteceu com alguns povos da Europa Medieval ou com os escravos africanos trazidos ao Brasil.

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A verdade é que o sufismo, um movimento místico dentro do islamismo tradicional, sempre exerceu grande influência nas camadas populares. E o sufismo realizou, muitas vezes, um sincretismo entre o islamismo e as religiões tribais, como admite o próprio Fazlur: “...O sufismo envolvia uma desconcertante tendência de

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Basta a um povo encontrar e fundir pontos semelhantes entre sua cultura e uma religião imposta para que o sincretismo seja realizado. Este fato não é, de forma alguma, ignorado pelos muçulmanos. Fazlur Rahman, historiador muçulmano, assim se refere às práticas politeístas dentro do islamismo: “A crença generalizada neste tipo de bênção levou à veneração e adoração dos túmulos dos santos (islâmicos) e de outras relíquias. Ainda se realizam anualmente peregrinações ao túmulo desses santos”.9

compromisso com crenças e práticas populares das massas semiconvertidas e mesmo nominalmente convertidas. Dentro dessa amplidão que desde o princípio foi latente no sufismo, permitiu uma heterogênea mistura de atitudes religiosas herdadas do passado dos novos convertidos, que vai desde o animismo africano até o panteísmo indiano”.10 J. Dudley Woodberry, professor associado de estudos islâmicos na Escola de Missões Mundiais do Seminário Teológico Fuller, fez uma excelente pesquisa na qual distinguiu, dentro do islamismo, duas correntes: o islamismo formal, ideal, ou ortodoxo, que classificou de “alto”, e o islamismo popular, que classificou de baixo. Mesmo sentindo certo peso por relacionar-se com seres os quais chamam de tonongues, os muçulmanos das filipinas, por exemplo, geralmente pedem para que esses tonogues sirvam de intermediários. E justificam: “Deus criou os tonongues e lhes deu poder”.11

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O islamisno popular, embora rejeite o politeísmo na teoria, na prática, porém, foi absorvido pelo islamismo oficial em um esquema semelhante ao catolicismo que, apesar de dizer que condena a idolatria, faz vistas grossas para ela ou, de forma velada, estimula a fé popular nos santos e nas “nossas senhoras”. “A interação entre o islamismo ideal e o popular tem tido lugar desde o surgimento do islamismo. A nova fé foi, ao mesmo tempo, combatida e colorida pelo animismo existente na Arábia. Pedras, fetiches, árvores sagradas foram rejeitados como objetos dotados de poder; e, no entanto, os muçulmanos sempre trataram a Pedra Negra [aliás, objeto de culto das tribos árabes primitivas desde a Era pré-islâmica] e a água Zam Zam, existentes no santuário de Meca, como fontes de poder e de bênção”.12

Para termos uma idéia de até que ponto vai esse sincretismo, e quão presente está no islamismo, basta frisar que na África Ocidental as pessoas rezam aos ancestrais, a fim de adquirir poder. Conforme vão-se “islamizando”, mais e mais vão rezando a Deus, por meio dos ancestrais. Sendo assim, essa imagem de um monoteísmo sólido, vendida ao mundo pelo islamismo, não corresponde inteiramente aos fatos. Os líderes islâmicos estão plenamente cônscios de um culto paralelo aos santos, aos ancestrais, aos objetos e até mesmo ao próprio Maomé. Resumindo...

Esta verdade, tão vital para a humanidade, ainda que aceita por muitos, tem sido ardilosamente distorcida, maquiada e anulada pelas primitivas práticas pagãs. Sob a roupagem monoteísta e até mesmo cristã se escondem práticas politeístas e idólatras que precisam ser desmascaradas e confrontadas com o verdadeiro culto a Deus.

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“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4).

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Estes poucos pontos, aqui expostos, são suficientes para mostrar que a insistência do protestantismo, ou melhor, da fé evangélica, no padrão sola scriptura (somente a Escritura), nunca será demasiada. O menosprezo dos conceitos teológicos da Bíblia como afirmações absolutas das verdades divinas facilmente leva a uma frouxidão doutrinária que com certeza resulta em práticas espirituais duvidosas.

Só a Deus devemos tributar glória e louvor para todo o sempre! Notas:

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1 Cristologia para o nosso tempo. P. Jacques Doyon. Edições Paulinas, 1970, p. 364. 2 O evangelho segundo o espiritismo. Alan Kardec. Instituto de difusão espírita, 1978, p. 306. 3 Grandes personagens da história universal. Victor Civita. Abril Cultural, 1972, p. 525. 4 Introdução à sociologia. Guilherme Galliano. Editora Harba, 1981, p. 129. 5 O evangelho segundo o espiritismo. Alan Kardec. Instituto de difusão espírita, 1978, p. 71. 6 Ibid., p. 307. 7 Ibid., p. 33,34. 8Mais detalhes, conferir revista Defesa da Fé, nº 61, na matéria intitulada “Idolatria disfarçada”, de autoria de Paulo Cristiano da Silva. Centro Apologético Cristão de Pesquisas. 9 O islamismo. Fazlur Rahman. Editora Arcádia, 1975, p. 211. 10 Ibid., p. 213. 11 A relevância dos ministérios de poder para o islamismo popular. J. Dudley Woodberry. Citado no livro A luta contra os anjos do mau, compilado por Peter Wagner e Douglas Pennoyer. Editora Unilit, p. 340. 12 Ibid., p. 341.

11. MUDANÇA DE PARADIGMA - CRISTOCENTRISMO VERSUS MARIOCENTRISMO NA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA Por José Gonçalves Gomes “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11)

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A grande mudança no pensamento grego, como afirmam os historiadores da filosofia, veio com os “sofistas” (os sábios). Com a escola sofística, “o homem”, não “o cosmo”, passou a ser o centro do Universo. Protágoras de

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A expressão “mudança de paradigma” é freqüentemente usada pelos historiadores da filosofia. Na Grécia antiga, os filósofos pré-socráticos, também denominados de “naturalistas”, preocupavam-se em dar explicações sobre o “arché”, ou princípio de todas as coisas. Para Tales de Mileto, que viveu no século 7º a.C, esse princípio, do qual todas as coisas derivaram, era a “água”. Por outro lado, para Anaximandro, que viveu entre os séculos 7º e 6º a.C., o “apeiron”, ou o ilimitado, explicaria a origem de todas as coisas. Já Anaxímenes afirmava que o “ar”, não a água, era o “arché” de todas as coisas. Até aqui esses pensadores estavam preocupados em dar explicações sobre o “cosmo”.

Abdera, que viveu entre 491 e 481 a.C, afirmou ser “o homem a medida de todas as coisas”. Nesta frase de Protágoras está revelada a grande mudança de paradigma na história do pensamento Ocidental; a visão de mundo deixou de ser cosmocêntrica para se tornar antropocêntrica. O homem agora passava a ser o centro das atenções na filosofia ocidental. Quanto mais observo o movimento de renovação católica, mais convencido fico a respeito dessa “mudança de paradigma” no pensamento carismático cristocêntrico no passado e mariocêntrico no presente. A diferença entre a mudança de paradigma do pensamento grego para o carismático é que aquele foi uma mudança que provocou um progresso na civilização, enquanto este promoveu um retrocesso dentro da renovação.

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A propósito, observa a Enciclopédia Judaica: “O termo

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Ainda muito cedo em sua história, a renovação carismática demonstrava ser incompatível com o catolicismo tradicional. Seus traços doutrinários, que lembravam os pentecostais clássicos, incomodavam o clero romano. Por isso, “em 1974 o movimento abandonou o termo pentecostal por outro mais neutro: carismático, para não ser confundido com os pentecostais mais antigos”.1 Quando examinamos o Novo Testamento, observamos que a diferença entre esses termos, imposta pela renovação carismática, não tem fundamento, uma vez que as palavras pentecostal e carismático, podem ser encontradas nas páginas sagradas como sinônimas, suas diferenças são puramente didáticas. A palavra pentecostal, aplicada no início da vinda do Espírito Santo, conforme registrada no livro de Atos 2.4, posteriormente tornou-se sinônimo dos carismas desse mesmo Espírito.

‘pentecostal’, derivado de ‘pentecostes’, é uma tradução grega para a palavra hebraica shavuot (semanas), uma das mais importantes festas do judaísmo antigo. Os judeus helenistas [...] que só utilizavam o idioma grego, chamavam o shavuot de ‘pentecostes’ (do grego, Pente Kostus, que significa ‘qüinquagésimo’) porque era festejado cinqüenta dias após a oferenda do molho de cevada que se fazia no Templo de Jerusalém, no segundo dia de Pessach (páscoa)”.2

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Por outro lado, o termo carismático, que vem do grego charismatón (derivado de charizomai – “dom”, “graça”), aparece na primeira carta aos Coríntios (12.4), quando Paulo usa o termo para também se referir às manifestações do Espírito Santo na Igreja. Archibald Thomas Robertson, erudito em língua grega, comenta em The Word’s New Testament Pictures, que essa palavra “significa um favor [...] concedido ou recebido sem um mérito”.4 O charismaton passou a ser um termo também usado para os dons do Espírito Santo.

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Como o derramamento do Espírito Santo (At 2.1-4) aconteceu nesse dia, o termo “pentecostal” ficou associado às manifestações do Espírito de Deus. É precisamente isso o que diz o expositor bíblico J. D. G. Dunn, ao falar sobre A significância do pentecostes para os cristãos primitivos: “O Pentecostes significa, primeiramente, o derramamento do Espírito que Deus prometeu para os tempos do fim. As manifestações carismáticas e estáticas que se atribuíam ao Espírito de Deus eram um aspecto distintivo e importante do cristianismo palestino mais primitivo, bem como do cristianismo helenístico posterior [...]. Atos 20.16 pode até indicar que a igreja em Jerusalém observava o Pentecostes como aniversário do derramamento do Espírito”.3

Querer fazer uma diferença abismal entre esses termos, como pretende a renovação, é revelar claramente a ideologia desse movimento, que tenta dar-lhe uma identidade mais católica. Em seu livro Carismáticos e pentecostais – adesão na esfera familiar, a socióloga Maria das Dores C. Machado mostra que a ingerência na Renovação Carismática, principalmente pelo papado, tem a nítida intenção de controlá-la. A doutora Machado afirma: “De maneira geral, revelam um esforço da hierarquia da igreja, sobretudo do papado, em controlar o movimento, evitando possíveis cismas e, ao mesmo tempo, canalizar a militância evangelizadora em favor da religião católica. A devoção à Virgem Maria foi estimulada para demarcar as fronteiras entre o catolicismo e o pentecostalismo e, em certa medida, reforçar a identidade religiosa dos carismáticos”.5 Não há, pois, como negar que a renovação católica moderna perdeu aquela identidade pentecostal que caracterizou o início de seu movimento, para se tornar uma caixa de ressonância do catolicismo tradicional. Reavivamento mariano Página

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Doutrinas que tiveram suas origens na Idade Média, a conhecida Idade das Trevas, começaram a ser incorporadas à Renovação: “Uma das características bem peculiar da Igreja Católica é a sua flexibilidade para assimilar novas tendências, sem dividir. Isto aconteceu com o movimento carismático católico que alcançou seu ápice na década de 70, mas, com o tempo, a hierarquia católica começou a dar algumas diretrizes ao movimento para que se tornasse mais católico. Entre essas diretrizes estava uma ênfase maior na participação da missa, na eucaristia e na veneração a Maria”.6

Até aqui já é possível percebermos que de fato houve uma mudança de paradigma no pensamento da Renovação Carismática, outrora cristocêntrico, agora centralizado na Virgem Maria. É precisamente isso o que diz Paulo Romeiro, quando põe em destaque esse enfoque mariano por parte da renovação carismática: “O movimento carismático não se afasta da idolatria. Ao mesmo tempo em que fala do Senhor, fala da senhora [...] os líderes do movimento carismático confirmam, na mídia, que o objetivo deles é exaltar nossa senhora. Dizem que precisam ‘restaurar o espaço de Maria’”.7 Ficamos perplexos quando vemos importantes líderes carismáticos renovando o marianismo, uma doutrina estranha às Escrituras Sagradas. O marianismo se tornou a pedra fundamental no atual movimento de renovação carismática. Vemos isso, por exemplo, quando lemos as palavras do padre mexicano, o carismático Salvador Carrillo Alday, que, ao comentar sobre os “frutos do Espírito”, coloca a devoção a Maria como sendo um deles. Veja:

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Como prova desse “fruto do Espírito”, Carrillo apresenta testemunhos de carismáticos que, na busca de seu “pentecostes” ou na própria experiência do “batismo no Espírito Santo”, põem em relevo a pessoa de Maria.

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• Verdadeira conversão a Deus e renovação interior bastante profunda. • Experiência de nova relação de intimidade com Cristo. • Forte consciência de que a comunidade religiosa só pode ser criação do Espírito Santo, que derrama em nossos corações o amor de Deus. • A fome da Palavra de Deus (Am 8.11). • A volta para uma devoção séria e centralizada na Santíssima Virgem”.8

Lemos o testemunho de um desses batizados: “Recebi o batismo no Espírito e devo dizer que o Senhor agiu maravilhosamente comigo e estou muito satisfeito [...] verifiquei claramente a presença singular da Virgem Maria na ação carismática do Espírito nas almas”. Um outro testemunho diz: “Cresci no amor de Maria, e com grande alegria aproximo-me mais do Pai [...] o Senhor e a Virgem Santíssima eram meus grandes confidentes; neles encontrei força para continuar”; e mais: “a Virgem Maria estava muito próxima de mim como mãe”.9 Ainda na mesma obra, o autor, ao falar sobre a Oração na renovação carismática, responde à pergunta: “E o que dizer da Virgem Maria, Mãe de Jesus?”. Resposta: “Sempre está presente em todo o grupo de oração. E é normal e devido, pois, assim como participou tão intimamente do mistério de Jesus, da encarnação do Filho de Deus durante sua vida na terra, ao pé da cruz e da efusão do Espírito Santo no dia de pentecostes, assim também, cada vez que se procura construir o corpo de Cristo, a Igreja reconhece sua presença de mãe e sente sua poderosa intercessão a favor de todos os filhos seus. Ela é verdadeiramente a Mãe da comunidade orante”.10 Página

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Para o carismático Isac Valle, entre os muitos efeitos produzidos pela renovação carismática, um deles é “um grande apreço pela devoção a Maria Santíssima”.11 As palavras: “devoção” e “intercessão”, ligadas à pessoa de Maria, são freqüentemente citadas nas obras de autores da renovação carismática. O também carismático padre italiano S. Falvo afirma em sua obra O Espírito Santo nos revela Jesus, que é Maria quem revelará Jesus nas páginas do seu livro. Ele declara: “E será Maria, a criatura que a Cristo mais se assemelha e que conheceu a Jesus mais e melhor do que todos os homens, quem no-lo revelará”.12 Em palavras mais simples, para Falvo, é

Maria e não o Espírito Santo o agente da revelação divina. É bem verdade que esse ranço mariano na RCC já aparecia entre alguns dos primeiros carismáticos, todavia, não de forma tão acentuada, nem nas proporções em que se encontra hoje, pois, como já falamos, a grande maioria dos primeiros carismáticos era cristocêntrica. Em seu livro, Católicos pentecostais, Kevin Ranaghan relata algumas experiências de supostos “batismos no Espírito Santo” no início desse movimento, que nos permitem enxergar claramente isso. Lemos: “Descobri uma profunda devoção a Maria, e posso agora louvar a Deus”.13 Ranaghan continua citando mais testemunhos: “Como muitos dos nossos amigos já descobriram, o Espírito Santo renovou nosso amor pela igreja. Onde antes havia apenas o verniz institucional para nós, descobrimos agora vida, poder e calor. As devoções naturais, como a de Maria, por exemplo, tornaram mais significativas”.14

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Atento a toda essa nova ênfase dada à pessoa da Virgem Maria por parte da renovação carismática católica em solo americano, a obra The New International Dictionary of Pentecostal and Charimastic Movements, traz uma

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Tudo o que temos afirmado até aqui não se trata de frases soltas nem descontextualizadas. Importantes vozes dentro da renovação há muito empunharam a bandeira do marianismo. O cardeal Suenens, respeitada autoridade dentro da renovação carismática, fala de uma “comunhão do Espírito Santo em Maria”. E diz mais: “A união vivida com Maria é da mesma ordem: respirar Maria é respirar o Espírito Santo”.15

importante observação sobre o assunto. Após analisar cinco das principais diferenças entre os pentecostais clássicos e a renovação carismática católica, esta conceituada obra conclui: “A abençoada virgem Maria, embora simbolicamente não ocupe o foco da reunião da renovação carismática católica (americana), é, todavia, esperada estar presente e algumas vezes é invocada em hinos ou orações. Participantes da renovação católica carismática que têm achado o seu caminho dentro do movimento mariano, tendo crescido acostumado a agir como canal de mensagens do céu, podem não hesitar em expressar profecias que crêem ter recebido da parte de Maria ou de outros santos por meio de sonhos, visões ou “locuções interiores”.16

Façamos uma breve reflexão sobre as afirmações feitas até aqui, tanto por parte da renovação carismática como também por parte do catolicismo tradicional, no que concerne ao destaque dado à “devoção” a Maria e seu papel de “intercessora” e até mesmo como aquela que “revela” a pessoa de Cristo. No mínimo, essas afirmações são problemáticas, pois

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Renovação carismática versus catolicismo tradicional

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Em sua defesa, teólogos caris-máticos fazem um verdadeiro malabarismo exegético, no sentido de justificar essas crenças antibíblicas, em especial o culto à pessoa de Maria. Muitos deles, seguindo Tomás de Aquino,17 tentam, de forma perspicaz, fazer uma diferença, que logicamente não existe, entre “venerar” e “adorar” ou entre “latria” e “dulia”, enquanto outros afirmam que somente “no catolicismo popular” as pessoas confundem esses termos.

contrariam o ensino das Sagradas Escrituras. Primeiramente, a Bíblia diz: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4.10). Em segundo lugar, a Escritura afirma que só existe um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Em terceiro, a Bíblia diz que o agente da revelação divina é o Espírito Santo. É Ele quem nos revela a pessoa de Jesus: “Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16.13). Em quarto e último lugar, a Escritura é taxativa em afirmar: “...e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1.3).

Notas:

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1 Defesa da Fé, março/abril de 1999. Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), São Paulo. p.14. 2 KOOGAN, A. Enciclopédia judaica, vol. 6, p. 777, Rio de Janeiro, 1990. 3 DUNN, J.D.G. in Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. III. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1984. 4 ROBERTSON, A.T. Robertson’s The Words New Testament Pictures. Sociedade Bíblica do Brasil. 1999.

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Todos esses problemas teológicos insuperáveis dentro da atual renovação carismática, com uma teologia medieval enxertada em seu seio e que a leva a se autocontradizer, nos mostram que essa crise pela qual passa a atual renovação católica é estrutural. Em palavras mais simples, o problema é mais sério do que comumente se tem pensado, uma vez que se encontra nos alicerces sobre os quais a renovação foi edificada.

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5 MACHADO, M.ª da Dores Campos, Carismáticos e pentecostais, p.48. 6 Defesa da Fé, op. cit. 7 Vinde, julho de 1996. Visão Nacional de Evangelização, Niterói, Rio de Janeiro. 8 ALDAY, Salvador Carrillo. A Renovação Carismática e as comunidades religiosas. Ed. Ave Maria. São Paulo, 1999. 9 ALDAY, Salvador Carrillo, p.55, 58, 63, 67. 10 Ibid., p. 37-8. 11 VALLE, Isac Isaías. A Renovação Carismática: rumo ao terceiro milênio cristão. Ed. Loyola, São Paulo. 12 FALVO, S. O Espírito Santo nos revela Jesus. Edições Paulinas, São Paulo, p.33, 1983. 13 RANAGHAN, Kevin. Católicos pentecostais. Orlando S. Boyer, Pindamonhangaba, São Paulo, p.92, 1972. 14 Ibid. p.114. 15 SUENENS, Léo – Joseph. A Renovação Carismática – um novo pentecostes? – Paulus, Apelação, Portugal, 1999. 16 BURGESS, Stanley M. & MAAS, Eduard M Van Der. The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Zondervan, Grand Rapids, Michigan, U.S.A, 2002. 17 AQUINO, Tomás. Suma Teológica. Edição bilíngüe: latim/português. Escola Superior de Teologia, São Lourenço de Brinde, Rio Grande do Sul, 1980.

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12. O CORPO DE CRISTO - PODEMOS CRER NA TRANSUBSTANCIAÇÃO? Por Paulo Cristiano A eucaristia é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Segundo o dogma católico, Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Isto é o que geralmente se entende por transubstanciação.

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A tradição da Igreja Católica, além de tropeçar nas metáforas e figuras da Bíblia na questão da eucaristia, que por si mesma já é uma aberração teológica, consegue embutir nela mais algumas heresias, como a ministração de apenas um só dos elementos aos fiéis — a hóstia. Segundo essa doutrina, a hóstia preserva o comungante de pecados, tem poder para ajudar os mortos e, pasmem!, pode ser adorada. Tais heresias não têm o mínimo fundamento bíblico, entretanto, são de vital importância dentro da dogmática do catolicismo

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A doutrina da transubstanciação não tem respaldo bíblico. Ao longo de sua história, nem todos os representantes da Igreja Católica concordaram com essa doutrina, entre eles podemos citar os papas Gelásio I e Gelásio II, São Clemente e Agostinho, entre outros.

romano e, por isso, ainda estão de pé. É preciso salientar ainda que a confecção da hóstia teve sua origem no paganismo, sendo, portanto, plagiada e inserida no bojo doutrinário da igreja romana. A hóstia passou a substituir o pão da ceia somente no ano de 1200. É algo impar, especial, fabricada com trigo e sempre redonda. Por ocasião da festa de Corpus Christi1, o “Santíssimo Sacramento” é levado às ruas em procissão dentro de uma patena2 de ouro representando um sol. Podemos constatar nesse ato uma flagrante analogia com as religiões pagãs da antiguidade. Conta-se que a deusa Ceres3 era adorada como a “descobridora do trigo” e, por conta disso, representada com uma espiga de trigo nas mãos. Tal representação correspondia à deusa Mãe e seu filho. O filho de Ceres, que se encarnara no trigo, era o deus Sol. Compare essa afirmação com a doutrina católica que transformara Jesus num pedaço de pão de trigo no formato arredondado do sol cujo ostensório4 também tem um desenho com raios solares.

Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob esses dois emblemas: pão e vinho. A igreja pósapostólica6 também seguiu o mesmo exemplo, como vemos ao analisar as obras patrísticas7 dos primeiros séculos. Os católicos precisam rodear e florear suas

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O estudante de história da igreja sabe perfeitamente que nenhuma doutrina católica advinda da chamada “Tradição Oral”5 pode ser substanciada, quer na história dos primeiros séculos da igreja, quer na Bíblia! Nesta última, muito menos.

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Por que só a hóstia?

explicações para esclarecer o fato de o sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara desobediência ao mandamento do Mestre. Jesus foi taxativo ao dizer “bebei dele TODOS”. Essa ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por mais argumentos que inventem, a verdade continua inalterável: Jesus e os apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas espécies (Mt 26.26,28), e os apóstolos seguiram esta ordenança (1Co 11.23-28). Isto só veio a ser mudado nos concílios de Constança8 e, posteriormente, reafirmado no de Trento9. No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que explícita: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6. 53-56; grifo do autor).

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Ora, Jesus não foi explícito ao dizer que quem não bebe o seu sangue não tem parte com ele e não tem a vida eterna? Isto não serviria como uma grande advertência aos católicos? Não estariam correndo o risco de não terem parte na vida eterna? Porque na prática não

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Esse trecho das Escrituras levou dois clérigos da Igreja Católica, Jacobel de Mysa e João de Leida (séc. XIV), a voltarem ao princípio das duas espécies e logo se empenharam em espalhar isto na cidade de Praga, e não demorou muito, logo toda a Boêmia se declarou a favor. Mais tarde, João Huss foi para a fogueira papal por defender essa doutrina bíblica.

bebem do sangue como disse Jesus! Se as duas espécies fossem coisa de somenos importância, de certo Jesus teria instituído uma espécie apenas: somente o pão. É certo que as Escrituras nunca fazem qualquer menção de que Cristo esteja com seu sangue embutido no pão. A linguagem usada é por demais contundente: comer e beber, pão e vinho, carne e sangue. A igreja romana tem alterado o mandamento original recusando-se a seguir o exemplo de Jesus e dos apóstolos e tem abandonado a prática de toda a igreja primitiva; prova disso é a Igreja Ortodoxa, que é tão antiga quanto a romana, e mesmo assim ainda preserva o costume bíblico de ministrar o pão e o vinho aos fiéis. Por outro lado, as igrejas evangélicas têm seguido a mesma prática instituída por Cristo sem alterações e, por isso, podem usufruir das bênçãos advindas dessas duas espécies, algo que não se dá na Igreja Católica. O que significa discernir o corpo do Senhor?

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Entre os cristãos daquela época existia uma festa chamada “Festa Ágape” ou festas de amor (Jd 12). Era comum entre os cristãos celebrarem a ceia com esta refeição, destinada a ajudar os pobres (esta prática

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Dentro da teologia existe uma disciplina chamada hermenêutica. O que é hermenêutica? Em toscas palavras, hermenêutica nada mais é do que a ciência de interpretar textos antigos, sendo uma das matérias de estudo no campo do Direito. Dentro do contexto teológico é a arte de interpretar a Bíblia. Dentre as inúmeras regras, a mais salutar e primordial de todas é a do exame do contexto. Vamos aplicá-la aqui.O texto em lide reza: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (1Co 11.29).

perdurou até na época de Justino, o mártir: 100-170 ). Corinto era uma igreja problemática em termos de doutrinas (véu, dons espirituais, batismo, brigas, divisões e Santa Ceia), e eles não estavam discernindo o real objetivo de suas reuniões (v. 17,18-20). Para eles, aquilo era apenas uma festa como as demais festas mundanas da sociedade grega (Corinto era grega) da qual tinham vindo. Então, quando se reuniam, todos se embriagavam (v. 21), como faziam antes de se converterem, e não discerniam que aquilo era muito mais que uma festa, devia ser observada “em memória” de Cristo (v. 25). Por isso as pessoas deveriam examinar a si mesmas antes de tocar no pão e no cálice (v. 28), pois correriam o risco de tomarem a ceia de modo indigno, fora do propósito para a qual fora estabelecida, ou seja, para a comunhão e não divisão dos fieis (v. 18). Isto é o que o apóstolo Paulo queria dizer com “discernir o corpo do Senhor”. Não há nada que insinue no texto a herética doutrina da transubstanciação. O contexto, quando analisado honestamente, não comporta tal idéia. Logo, qualquer conclusão que passar disso não é verdadeira.

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Ensina a teologia católica a transubstanciação (alteração de substância) durante a eucaristia. Após serem consagrados os elementos, pão e vinho, pelo padre e repetidas as palavras de Cristo, “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, misteriosamente o pão se transforma na carne de Cristo e o vinho, no sangue. Levando as palavras de Cristo a um “literalismo” bruto, interpretam ser o pão o próprio corpo de Cristo presente na hóstia. Essa doutrina é baseada principalmente no trecho do evangelho de João 6.53: “se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue,

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Os disparates dessa doutrina

não tereis vida em vós mesmos”. Contudo, daremos algumas razões de nossa rejeição a essa doutrina errônea e perigosa. 1. Se na frase “isto é o meu corpo” o verbo “ser (é)” implica a conversão literal do pão no corpo de Cristo, segue-se igualmente que nas palavras “eu sou o pão da vida” (Jo 6.35) o verbo “ser (sou)” deve implicar igual mudança, ensinando-nos que Cristo se converte no pão, de modo que, se o primeiro é uma “prova” da transubstanciação, o segundo demonstra necessariamente o contrário; se o primeiro demonstra que o pão pode converter-se em Cristo, o segundo demonstra que Cristo pode converter-se em pão, o que é um verdadeiro absurdo, mas é isto o que a lógica dessa filosofia nos leva a entender.

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3. Esse ponto já foi tratado acima, mas vamos reforçá-lo aqui. Ora, se tomadas literalmente essas palavras, o beber o sangue é tão importante quanto o comer a carne. Em outras palavras, é tão necessário comer o pão (hóstia) como beber o cálice (vinho). E por que então o

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2. Se acreditarmos que nesse episódio Jesus estava se referindo à eucaristia, então forçosamente ninguém pode se salvar sem o sacramento, e todo aquele que o recebe não pode se perder. Seria sempre necessário ao fiel comungar-se para não perder a bênção da vida eterna. E aqueles que não podem tomá-la? Estariam destinados ao inferno? Crêem os católicos que todo aquele que comunga tem a vida eterna? Pois Jesus disse que, sem exceção, “todo aquele” que comesse a sua carne teria de fato a vida eterna. E o que dizer então daqueles que bebem indignamente (1Co 11.28)? Tal é a contradição e confusão que nos mostra tão descabida teoria se levada ao pé da letra.

padre nega aos fiéis esse direito, desobedecendo a Bíblia? Analisando João 6 Diz o padre Alberto Luiz Gambarini10: “Jesus não deixou dúvidas quanto a esta questão: a eucaristia ou ceia não é uma mera lembrança, e sim a presença por inteiro de Jesus Cristo”.11 Pois bem, analisemos essa questão dentro de seu contexto imediato, pois tais palavras tomadas isoladamente e sem explicação podem ter um sentido, mas dentro do seu respectivo contexto, levando em consideração a aplicação que o Senhor lhes deu, têm outro sentido bem distinto.

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A única dificuldade que há para a compreensão desse discurso de Jesus está relacionada à falta de consideração à figura que lhe deu origem; ou seja, os judeus seguiam Jesus por causa do milagre dos pães, por causa do alimento material. Ao contrário, Jesus elucida que a comida que ele tem é algo maior: “a comida que permanece para a vida eterna” (v. 27). Então, os judeus apelam para o episódio do maná que desceu do céu.

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“Respondeu-lhes Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.26,27; grifo do autor). Essas palavras deram princípio ao discurso e são a chave para compreendermos o sentido exato e a razão pela qual Jesus usou a linguagem figurada “comer” e “beber”.

Jesus explica que o verdadeiro pão não era o maná, mas que o pão verdadeiro é outro, o próprio Cristo. Daí, disseram os judeus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6.34).

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Então, como explicar esse versículo: “...e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51)? Será que com isso Jesus não estava ensinando sobre a eucaristia, quando os seus seguidores iriam alimentar-se dele por meio da hóstia num tempo futuro? Não necessariamente. A Bíblia ensina, sem sombra de dúvidas, que a vida eterna viria por meio de sua morte na cruz, dando seu corpo, isto é, sua carne para ser sacrificada. E isso está em perfeita concordância com o restante das Escrituras. Veja como o apóstolo Paulo

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Até aqui, percebemos que os judeus não estavam entendendo a mensagem de Jesus e, por isso, interpretava-o de modo literal, assim como os católicos fazem. Jesus então explica que o sentido de sua mensagem era simbólico, espiritual, não literal: “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35). Esse versículo é muito importante, pois nos explica que comer a carne e beber o sangue de Jesus é somente crer e ter fé nele, recebendo-o; nada mais que isso. É justamente isso que significa o alimento do seu corpo: “Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna” (Jo 6.40). Jesus rechaça qualquer tipo de confusão quanto a isso quando arremata: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). Jesus estava falando espiritualmente, não fisicamente. Estava explicando que a vida vem por meio da fé nele, e não comendo o seu corpo.

entendeu essa questão: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Ef 2.14). A Bíblia nos diz que Cristo realmente deu seu sangue e sua carne ao mundo para alcançarmos a vida eterna. Vejamos: “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1.20-22) e “Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10.20).

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A conclusão a que chegamos, lendo o contexto, é que o “alimentar-se” de Jesus (seu corpo), por meio da sua carne e do seu sangue, é a mesma figura de linguagem utilizada por ele em João 4.14: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. Assim como essa “água” era espiritual, a bebida e a comida também, tanto é que quando os discípulos entenderam de modo literal essa mensagem Jesus prontamente os corrigiu explicando que: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). O “alimentar-se” de Cristo seria “crer nele”, quando então o Pai entregaria seu Filho na cruz para ser sacrificado por nossos pecados. Muitos pais da igreja primitiva concordavam com este ponto de vista, entre eles Agostinho, considerado um dos maiores doutores da Igreja Católica.

Lembrança ou presença real? “Isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim” (1Co 11.24) Esse é o argumento mais repetido entre os católicos para sustentar a transubstanciação. Não há algo mais claro nessa passagem do que a verdade de que aquilo era realmente o corpo de Cristo, dizem os católicos. Não precisamos nos esforçar muito para desfazer essa interpretação, basta-nos apenas recorrer ao contexto. Ora, é importante entender que Jesus instituiu a Santa Ceia na ocasião em que estava comendo a ceia pascal. Sem dúvida, ele recordava de que aquela Páscoa foi instituída para comemorar, pela aspersão do sangue do cordeiro, a saída dos israelitas do cativeiro do Egito.

Quando Moisés instituiu a Páscoa, mandou os israelitas

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Todas as suas ações e palavras tinham alguma relação com a antiga Páscoa. Tendo isso em vista, devemos procurar na antiga festa uma explicação para a Santa Ceia que ele iria substituir, pois ele (Jesus) é a nossa Páscoa (1Co 5.7).

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O pão que Jesus tomou e abençoou e deu aos discípulos era o pão pascal. Muitos católicos dizem que Jesus não comeu aquele pão, mas tal assertiva se mostra falsa quando lemos que Jesus iria comer realmente aquela comida, veja: “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos [...] E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?” (Lc 22.8,11; grifo do autor).

comerem a carne e aspergirem o sangue do cordeiro em suas casas (Êx 12.7,8). Só que o cordeiro que comiam não era a “Páscoa”, pois tal palavra é derivada do verbo pasah, que significa “passar por cima”, dando a idéia de “poupar e proteger” (Êx 12.13). A Páscoa do Senhor era o “passar do anjo por toda a terra do Egito”. Vê-se, pois, que o ato de passar por cima das casas dos israelitas era uma coisa e o cordeiro que os israelitas comiam era outra essencialmente distinta: uma era um fato e a outra, a recordação desse fato.

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Pois bem, fincado na essência dessa celebração, Jesus certamente se valeu da mesma expressão conhecidíssima dos israelitas. Depois de a Páscoa ter sido abolida e substituída pela Santa Ceia, Jesus serviu-se da mesma expressão de que tinha feito uso na celebração antiga. Era natural que, do mesmo modo que tinha dito da Páscoa “Esta é a Páscoa do Senhor”, recordando-se do que fora feito na época de Moisés, Jesus usasse também mui naturalmente as palavras “Isto é o meu corpo” ou

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Embora Moisés tivesse dito a respeito do cordeiro: “É a Páscoa” (a passagem do Senhor), isso não significa, porém, que quisesse dizer que o cordeiro que os israelitas tinham assado e estavam comendo poderia terse mudado ou transformado no ato de passar o Senhor por cima das casas. O sentido simplesmente era: “É uma recordação da Páscoa ou da passagem do Senhor”. Temos, pois, aqui, um exemplo clássico dessa figura de retórica pela qual se dá o nome da coisa que ela recorda, ou se põe o sinal pela coisa significada. Quando, pois, as famílias se reuniam em torno da mesa para comer a Páscoa, o chefe da família dizia: “Esta é a Páscoa do Senhor”, quando, na verdade, estava querendo dizer o seguinte: “Esta é a recordação da Páscoa do Senhor”.

“Isto é o meu sangue”, para significar que aquele rito devia ser usado como recordação do seu corpo e do seu sangue oferecidos na cruz, sendo ele o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo 1.29) que nos libertou do cativeiro do pecado. Os discípulos, por serem judeus versados nas Escrituras, estavam, por certo, familiarizados com tais figuras de linguagem (Sl 27.1,2; Is 9.18,20; 49.26), não lhes sendo difícil entender o que Jesus queria lhes dizer. Pois, antes disso, haviam ouvido o seguinte de Jesus: “Eu sou a porta” (Jo 10.7), “Eu sou o caminho” (Jo 14.6) e “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), e entenderam perfeitamente a linguagem. Então, quando Jesus, ao distribuir os elementos da ceia (pão e vinho), disse: “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, ele estava falando de maneira figurativa. Tanto é que ordenou: “fazei isto em memória de mim”. Assim, temos razão para crer que a ceia era uma comemoração ou lembrança de sua morte na cruz, e devemos prosseguir fazendo isso (ou seja, celebrando a Santa Ceia) até que ele venha.

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Paulo simplesmente considerava os elementos da Santa Ceia como pão e vinho, e não o corpo do Senhor transubstanciado: “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes este

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Veja que mesmo depois de ter sido consagrado por Jesus, o vinho continuou sendo vinho, o que serve para corroborar o nosso ponto de vista: “Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide [não disse meu sangue], até que venha o reino de Deus” (Lc 22.18).

pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Portanto, qualquer que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice” (1Co 11.25-28). O pão representava o corpo do Senhor e o vinho, o sangue. Todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Santa Ceia fazemos isto sempre em memória do Senhor, pois ele mesmo disse: “fazei isto em memória de mim”. Não podemos sacrificar Cristo novamente (Hb 7.24,27)! Os contra-sensos da transubstanciação Por darem ouvido ao dogma da transubstanciação, os católicos, além de incorrerem num terrível engodo, acabam por abraçar uma teoria fictícia. Vejamos:

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*Se tal pão consagrado tivesse sido comido acidentalmente por um roedor, dar-se-ia o caso de o animal também ter engolido o Cristo com seu corpo,

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*Se naquela ocasião em que Jesus disse “Isto é o meu corpo” realmente tivesse ocorrido a tão propalada “transubstanciação”, então somos levados a acreditar que existiam naquele momento dois corpos do Senhor. Levando esse dogma às últimas conseqüências, teremos isto: Jesus pegou aquele pedaço de pão, já transformado em seu corpo (com divindade e alma, segundo crêem os católicos) e deu-se a si mesmo para seus discípulos comerem. Depois de terem comido o corpo do Mestre, os discípulos sentaram-se ao seu lado. E mais: Jesus também teria comido e engolido a si próprio, pois certo é que ele também participou da ceia!

alma e divindade. *Se a hóstia se estragar e apodrecer, seria o caso de o corpo de Cristo, que está nesse elemento, apodrecer também. Então, como fica Atos 2.31, que diz que a carne de Cristo não se corrompe? *Se o que dá vida é o espírito, por que Deus se faria carne por meio da hóstia para nos vivificar? *Se Cristo nos ordenou que celebrássemos a cerimônia até que ele voltasse, conforme 1Coríntios 11.26, como pode estar presente na hóstia? Se ele virá, quer dizer que não está! Devemos ressaltar que tal vinda é escatológica, quando Cristo virá em corpo, pois, espiritualmente, ele está conosco todos os dias (Mt 18.20, 28.20) e esta promessa não tem nada que ver com a Santa Ceia.

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Uma coisa tão extraordinária como essa. Um milagre tão estupendo: mudar um pedacinho de pão no próprio Deus. Um milagre tão diferente de todos os que se têm notícia. Tudo isso deveria ter uma prova muito mais clara e contundente do que meras formas de expressão. É, sem dúvida, algo que foge à nossa compreensão, não por ser algo misterioso, mas por ser irracional e incoerente. Quando se prova o pão, ele ainda é pão, tem cheiro de pão, o gosto ainda é de pão. E o mesmo se dá com o vinho!

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*O papa Pio IX se vangloriava com o dogma da transubstanciação, dizendo: “Não somos simples mortais, somos superiores a Maria. Ela deu à luz um Cristo só, mas nós podemos fazer quantos cristos quisermos; nós, os padres, criamos o próprio Deus”.

Onde temos o corpo de Cristo nisso tudo? Esquivar-se, fazendo uma separação arbitrária de milagres, visíveis para os incrédulos e invisíveis para os crentes (diga-se católicos), é ultrapassar o que está escrito. Onde está tal divisão nas Escrituras? Em lugar nenhum! Mas é preciso argumentar para forjar explicações que sirvam de alicerce para a doutrina católica. Interpretação dos reformadores Para a Reforma Protestante, são dois os sacramentos instituídos pelo próprio Cristo: o batismo, que marca o início da vida cristã, e a Santa Ceia, que significa a manutenção dessa vida, a santificação.

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Zwinglio13 vê na ceia cristã o simples memorial que comemora o sacrifício único e infinitamente suficiente de Cristo. Calvino14 queria mais do que uma presença somente simbólica à maneira de Zwinglio, mas repudiou não só a posição católica como a luterana. Para Calvino,

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Unidos sobre o sentido do batismo, apesar de ênfases diversas, os reformadores se dividiram sobre o sentido da eucaristia. Lutero12 se opôs à missa como obra meritória e repetição eficaz do sacrifício do Cristo. O oferecimento da graça se efetua sob duplo signo instituído por Cristo: não se pode recusar a nenhum fiel o pão e o vinho oferecidos por Jesus, em oposição ao Concílio de Constança, de 1414, que proibiu o uso do cálice aos leigos. Contudo, Lutero opõe-se a uma presença meramente simbólica de Cristo na ceia. Mantém a tese da “consubstanciação”, segundo a qual o pão e o vinho permanecem presentes na ceia simultaneamente com o corpo e o sangue de Cristo.

a “substância” não se refere a um substrato invisível na matéria do objeto, mas significa a realidade profunda de um ser. O pão e o vinho não só representam a comunhão com o corpo e o sangue de Cristo, mas também “apontam” para a realidade desse significado. O que Calvino rejeitou foi a idéia da “presença local”; ele acreditava no Espírito Santo e não num fenômeno especial, para relacionar diretamente o comungante com o Cristo vivo. O anglicanismo15 adotou o essencial das posições da Reforma. A confissão anglicana conserva dois sacramentos (batismo e ceia), proíbe as procissões solenes do Santíssimo Sacramento e a adoração das espécies consagradas. O corpo do Senhor é recebido mediante a fé (conceito calvinista). A maioria esmagadora dos protestantes aceita as noções de Calvino e Zwinglio.

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Antes de finalizarmos este estudo é necessário fazer um adendo sobre a posição de Lutero. Apesar de ter sido levantado por Deus, Lutero, no princípio, não pretendia separar-se da Igreja Católica, mas reformá-la por dentro. Tendo esse pano de fundo histórico, podemos entender por que ele não abdicou de certas noções católicas. Ele representava a primeira geração dos reformadores e, por isso, muitas coisas ainda estavam enraizadas profundamente nele. Somente com o decorrer do tempo é que a doutrina da Reforma foi se purificando mais e mais. É bem parecido com o que aconteceu com o cristianismo em relação ao judaísmo no começo de sua história. Esse problema já não aparece nas gerações posteriores dos reformadores, que foram lapidando os lapsos teológicos do catolicismo dentro do protestantismo.

Obras consultadas: Por amor aos católicos romanos, Rick Jones, Chick Publications A Reforma Protestante, Abraão de Almeida, CPAD A Igreja que veio de Roma, Karl Weiss, Editora Gráfica Universal Ltda Noites com os romanistas, M. H Seymour, Edições Cristãs Encyclopaedia britannica do Brasil publicações Ltda. Notas:

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1Corpus Christi: festa do santíssimo sacramento, instituída em 1264, por Urbano IV, para honrar a suposta presença real de Cristo na eucaristia. Seu caráter popular desenvolveu-se em função da procissão que sucedia à missa. 2 Disco de ouro ou de metal dourado que serve para cobrir o cálice e receber a hóstia. 3 Ceres é o nome grego da deusa romana Demeter, que simboliza a nutrição, em todas as suas formas, um dos aspectos mais poderosos da própria Lua, em termos do simbolismo astrológico. 4 Custódia onde se ostenta a hóstia consagrada. 5 Acerca da relação entre as Escrituras e a Tradição da Igreja (Católica), o novo Catecismo da Igreja se expressa: à igreja está confiada a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não derivando a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas (Escritura e Tradição) devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. 6 A igreja que continuou a ser desenvolvida após a morte dos apóstolos de Cristo. 7 Obras que compreenderam o século I d.C. até o século VIII d.C. São chamadas patrísticas porque foram escritas

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pelos pais apostólicos, homens que tiveram contato direto com os apóstolos ou foram citados por alguns deles. Destacam-se: Clemente de Roma, Inácio e Policarpo. 8 Realizado em 1414, ocasião em que foram queimados João Huss e Jerônimo de Praga, pré-reformadores, por serem considerados heréticos. 9 O 19º Concílio Ecumênico da Igreja, chamado Concílio de Trento, por ter-se reunido em sua grande parte na cidade de Trento, ao norte da Itália. Foi realizado em 25 sessões plenárias em três períodos distintos, de 1545 a 1563. O primeiro período foi de 1545 a 1547. O segundo começou quatro anos depois, em 1551, e terminou no ano seguinte. O último período começou dez anos mais tarde, em 1562, e terminou no ano seguinte. 10 Renomado padre católico, pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, em Itapecerica da Serra/SP. Escritor de mais de dezessete obras. 11 Quem fundou sua igreja?, Padre Alberto Luiz Gambarini, p. 46. 12Martinho Lutero (1483-1546). Principal líder da Reforma. Em oposição ao abuso da venda de indulgências promovida pela Igreja Católica Romana, Lutero, em 31 de outubro de 1517, afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, causando repercussão mundial. Foi o estopim da Reforma. 13 Huldreich Zwinglio (1484-1531). Expoente da Reforma que propagou seus ideais em Zurich, na Suíça. 14 João Calvino (1509-1564). Com suas obras foi, sem dúvida, o reformador responsável pela projeção dos ideais protestantes na história política e religiosa mundial. 15 Surgiu no século XVI, na Inglaterra, com o rompimento do rei Henrique VIII com o papa Clemente VII.

13. OS ESTIGMAS DE CRISTO, FATO OU MITOLOGIA RELIGIOSA? Por João Flávio Martinez

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A Igreja Católica Romana quase mandou o renomado cientista Italiano Galileu Galilei (Século XVI) para a fogueira, arvorando que o heliocentrismo1 era uma heresia contra os desígnios divinos e que o geocentrismo2 não deveria ser questionado. Bem da verdade, não foi esse o grande motivo de quererem mandar Galileu para a fogueira da inquisição, mas suas conclusões científicas de que a teoria da transubstanciação era impossível e improvável. Esse mito da transubstanciação, criado na Idade Média, ainda vive hoje como um dos pilares doutrinários da fé católica (Ler matéria de capa). A Idade Média ou Idade das Trevas foi uma ótima oficina para que mentes alucinadas criassem e desenvolvessem doutrinas extremamente exóticas e totalmente anticristãs, entre elas, iremos questionar nesta matéria os estigmas de Cristo.

O que é a doutrina dos estigmas de Cristo? Estigmas: do grego stigmata, significa “picada dolorosa”. Trata-se de feridas que, supostamente, aparecem em várias partes determinantes do corpo do devoto católico: na cabeça, devido à coroa de espinhos; nas costas, devido às chibatadas; nas mãos e nos pés, devido aos cravos; e na parte lateral do corpo, devido ao corte da lança do soldado romano. Portanto, ser estigmatizado é receber no próprio corpo as chagas ou os ferimentos de Cristo, e isso literalmente. Além disso, parece que o estigmatizado passa a sofrer terríveis perseguições espirituais, tornando-se uma pessoa afligida. Na maioria das vezes, os estigmatizados estão em profundo transe quando “agraciados” com esse fenômeno. Alguns param de comer e outros ainda passam a ter freqüentes alucinações.

Conforme os parâmetros católicos, o primeiro estigmatizado da história foi São Francisco de Assis, no ano de 1224. A “estigmatização” de São Francisco fez aparecer-lhe nas mãos, pés e costas chagas semelhantes às de Cristo na cruz.

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O primeiro estigmatizado

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A Igreja Católica Romana entende que a paixão de Cristo está sempre viva entre os cristãos, sendo mesmo causa de conversões, e que, através dos séculos, Cristo quis reproduzir, em pessoas privilegiadas, as marcas ou estigmas de sua paixão.

Essa íntima comunhão de Deus para com o estigmatizado, segundo a Igreja Católica, levaria o indivíduo a um processo de santificação e de certa contribuição para a salvação do mundo. Devido a isso, São Francisco foi canonizado em 1232 e é festejado no dia quatro de outubro. No livro Milagres, de Scott Rogo3, são relacionados aproximadamente 312 estigmatizados até o final do século XIX, isso levando em consideração os estigmatizados sem as chagas, ou seja, aqueles que sentiram as dores, mas não manifestaram as feridas. O livro informa também que, até agora, somente uns sessenta estigmatizados foram beatificados e canonizados. Depois de São Francisco, os mais famosos foram a alemã Therese Neumann (1898-1962) e o italiano Francesco Forgione (1887-1968), mais conhecido como Frei de Pietralcina ou Padre Pio. Outras figuras reconhecidas como estigmatizadas: Catarina de Sena (1347-1380), Verônica Giuliana (1660-1727), Gema Galgani (1878-1903), entre outras.

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O porquê dos estigmas

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Segundo o Dicionário do cético, de Robert Todd Carroll4, traduzido por Antônio Inglês e Ronaldo Cordeiro, um dos estigmatizados mais recentes é o frade James Bruce “que não só afirmou ter as feridas de Cristo, como também que estátuas religiosas choravam em sua presença”. De acordo com o dicionário, este fato ocorreu em 1992, em um subúrbio de Washington, D.C., “onde coisas estranhas são comuns. Nem é preciso dizer que ele (James Bruce) lotou os bancos da igreja. Atualmente, administra uma paróquia na região rural da Virgínia, onde os milagres cessaram”.

Segundo o padre Tito Paolo Zecca, um dos maiores especialistas do assunto, professor de teologia pastoral e espiritualidade na Universidade Pontifícia do Latrão, e o Ateneu Pontifício Antoniano de Roma, os estigmas são “um sinal do que Cristo sofreu durante a Paixão [...] Este fenômeno mostra a eficácia da salvação de Cristo na cruz, e permanece de modo especial no sinal dos estigmas, tornando-se um fato distintivo da eficácia redentora e salvadora da fé”. Padre Zecca ainda conclui que “é uma experiência de alegria e dor [...] estas chagas podem ser purulentas e nunca se curar, mas podem ajudar a curar os outros”. Apesar do sofrimento que as chagas podem vir a causar nos santos “privilegiados”, o padre acredita piamente que tais ocorrências são sinais de graças benditas: “os recipientes dos estigmas consideram isso uma imensa graça”. A Idade Média e os estigmas

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Durante quase toda a Idade Média a Europa esteve mergulhada em um profundo misticismo que geraram muitas coisas vãs. Tais coisas, para as pessoas, tinham grande valor espiritual. Havia, por exemplo, uma pena da asa do anjo Gabriel, um bocado da arca de Noé, a camisa da bendita virgem, os dentes de Santa Apolônia (segundo as pessoas, isso proporcionava cura infalível para as dores de dentes) e muitas outras relíquias sagradas e milagrosas! Além disso, era generalizada a crença absurda de que o arcanjo Miguel celebrava a missa na corte do céu todas as segundas-feiras. A este período pertence a instituição do rosário e da coroa da virgem Maria, da invenção da doutrina da transubstanciação e de muitas outras mitologias católicas. É nesse contexto sociológico que surge a doutrina dos estigmas.

É interessante notar que não se conhece nenhum caso de estigmas que tenha acontecido antes do século XIII, quando “Jesus crucificado” se tornou um símbolo do cristianismo no Ocidente. Para alguns, isso indica que os estigmas provavelmente foram feitos pelos próprios estigmatizados, e ainda há aqueles que acreditam que tais fenômenos vieram a ocorrer de maneira psicossomática, devido à veneração extremada de católicos devotos à cruz. Opinião médica sobre os estigmas Atualmente, fica difícil coletar opiniões médicas sobre o polêmico assunto, pois há muitos anos não se tem notícia de qualquer pessoa que tenha sobre si essas marcas. Também não se tem notícia de qualquer estigmatizado no Brasil. Não haveria, pois, como submetê-las a exame científico conclusivo, usando-se de técnicas modernas e aplicando o conhecimento atual, seja médico ou psicológico.

2. As feridas dos estigmas não aparecem em local, tamanho e forma consistentes. Tal fato sugeriria que não passam de efeito auto-sugestivo. 3. Os estigmas surgem em conexão com a histeria.5

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1. Os estigmas eram desconhecidos do cristianismo até o século XIII, quando São Francisco de Assis os exibiu pela primeira vez. Todos os casos ocorridos a partir dessa data devem, por isso mesmo, ser imitados em sua natureza, eis a razão por não serem autênticos.

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Um especialista em estigmas, Herbert Thurston, argumenta cinco pontos contra a natureza desses fenômenos:

4. Em geral, as feridas só surgem depois que o indivíduo teve várias doenças purgativas que parecem ser distúrbios do sistema nervoso central. 5. Embora os supostamente estigmatizados sejam pessoas visionárias6 , uma comparação de suas visões mostra pouca consistência. A maior parte delas não deixa de ser “reencenações” de histórias tradicionais da paixão, não apresentando nenhuma evidência de sua natureza divina.7 O Dicionário do cético ainda afirma: “os ferimentos autoinfligidos são comuns entre pessoas com certos tipos de distúrbios mentais, mas afirmar que as feridas são milagrosas é raro, e se deve mais provavelmente à religiosidade excessiva do que a um cérebro doente, embora ambos possam estar atuando em alguns casos”. A explicação preferida é de que estas feridas tenham sido auto-infligidas, uma vez que nenhum estigmático manifesta seus ferimentos do princípio ao fim na presença dos outros, só começando a sangrar quando não estão sendo observados.

O apóstolo Paulo relata: “... porque eu trago no meu corpo as marcas [do grego stigmata] de Jesus” (Gl 6.17). Então, segundo o texto bíblico, Paulo traz em seu corpo as marcas ou os estigmas de Cristo.

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Não nos deteremos no mérito se tais manifestações são possíveis ou não, mas se são teologicamente corretas. Mas, pelo que já lemos acima e temos constatado em nossa pesquisa sobre o assunto, essa doutrina não aparenta ser nem um pouco bíblica.

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A questão teológica sobre os estigmas de Cristo

No contexto geral da epístola de Gálatas, Paulo está refutando os defensores da circuncisão. Esses pseudoapóstolos arvoravam que todos os cristãos deveriam ter o estigma ou a marca da circuncisão judaica. Paulo usa sua autoridade eclesiástica para declarar que tal doutrina não era vinda da parte de Deus e devia ser considerada como anátema (Gl 1.9). Ele queria que os crentes de Gálatas tomassem conhecimento da eficácia de seu apostolado, já que esse apostolado estava alicerçado no evangelho da graça. Para o apóstolo, o evangelho vivido não é notado com estigmas (leia-se marcas) externos, mas no coração: “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo [...] As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade fingida, e em disciplina do corpo, mas não é de valor algum senão para a satisfação da carne” (Gl 6.12; Cl 2.23).

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O estigma do cristão não é feito do que é externo, mas,

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A palavra grega stigmata traduz perfeitamente o que ocorria com os escravos marcados ou estigmatizados a ferro com os nomes de seus senhores. Possivelmente, era o que Paulo queria transmitir, isto é, que ele já estava marcado pelo sofrimento da obra de Cristo, que pertencia ao seu Salvador e não precisava ser circuncidado para tornar-se fiel a Deus. Além disso, estava assinalado pelo selo do Espírito Santo (Ef 1.13) e comprado pelo preço do sangue de Jesus (1Co 6.20). É bom notarmos também que a Bíblia não fala que Paulo tinha furos nas mãos ou nos pés, nem que seus estigmas eram literalmente idênticos aos de Jesus na cruz, tudo é dito de maneira ilustrativa e não literal.

sim, por meio de uma vida reta e santa diante de Deus: “Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal [...] Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (2Co 4.10,11; Gl 2.20). “Manifestações diabólicas e satânicas”

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Essa doutrina católica parece mais um malfazejo, pois os estigmatizados sofrem terríveis flagelos e padecem de tormentos espirituais, contrariamente à vontade de Deus revelada em sua Palavra. A própria Igreja Católica, em alguns casos de estigmas, declarou que tais manifestações eram diabólicas e satânicas!

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O sofrimento de Jesus na cruz foi único e singular. Somente as chagas de Cristo têm o poder de abrir as portas da salvação para o homem: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, da sua carne” (Hb 10.19,20). O prazer do Senhor é que sejamos felizes e livres de toda a dor: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4,5).

Podemos afirmar categoricamente que não há precedentes bíblicos para corroborar com a doutrina da “estigmatização”. Nunca houve um caso na época apostólica ou mesmo depois, pois, como vimos, tais ocorrências só começaram a se manifestar em uma época em que o misticismo imperava na mente das pessoas. Verdadeiramente, não é da vontade de Deus que vivamos essa terrível experiência, esse cálice só o Senhor poderia beber e suportar (Mt 26.42)!

“Stigmata, o filme” - sinopse

Como muitas outras produções de Hollyood, o filme é chocante pelas cenas de extrema violência, blasfêmias a

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O filme começa numa fictícia cidade brasileira chamada “Belo Quinto” que, supostamente, ficaria no Sudoeste do Brasil, onde todos os habitantes se parecem com índios peruanos ou andinos, em geral, e onde todos falam uma mistura do português de Portugal com uma língua nativa qualquer, que torna tal idioma completamente indecifrável.

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“Stigmata” conta a história em que Frankie Paige (Patrícia Arquette), uma mulher sem nenhum tipo de crença religiosa, começa a sofrer os “Estigmas, as cinco chagas que Cristo sofreu antes de morrer. Baseado nos manuscritos do evangelho apócrifo de Tome, encontrados em 1945. O caso chega aos conhecimentos do Padre Kierman (Gabriel Byrne), um investigador do Vaticano, responsável por investigar casos como a veracidade e de supostos santos.

Deus, exorcismos e provocações a fé cristã. No entanto, é um material de pesquisa interessante, por levantar questões como a existência de manuscritos, a formação do cânon bíblico, o comportamento da Igreja Católica sobre temas de fé e misticismo. Diferente de um filme que vale tudo, na vida real nenhum estigmatizado apresentou as feridas do inicio ao fim na presença de terceiros, apenas sangram quando não são observados. Bibliografia e sites pesquisados: Kinigth & Anglin, História do cristianismo, 2.ed., CPAD; Nascimento, Luiz A., Carta aos gálatas, CPAD; Mather & Nichols, Dicionário de ocultismo, Editora Vida; Rodo, Scott; Milagres, 1994, Editora Ibrasa, São Paulo. http://www.hipnologia.hpg.ig.com.br/Artigos/estigma.html Notas:

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1 A hipótese heliocêntrica sobre o sistema solar sustentava ser o sol o centro do universo, girando a terra e os demais planetas ao seu redor. 2 Teoria que afirma que a terra está no centro do sistema solar e que os demais corpos giram ao redor dela. Pressupõe que a terra é imóvel e que o sol se desloca em círculos em torno dela, dando origem aos dias e às noites. 3 Médico considerado um dos mais renomados especialistas em parapsicologia e autor do maior número de livros sobre o assunto já publicados no mundo, documenta e examina centenas de exemplos impressionantes de levitação, Estigmas que sangram, imagens e visões milagrosas, imagens que choram, e vários outros casos menos conhecidos, mas igualmente

notáveis. 4 Professor de Filosofia do Sacramento City College e autor do Dicionário do cético (Skeptic’s Dictionary), obra que traz definições, argumentos e ensaios relacionados ao sobrenatural, oculto, paranormal e pseudocientífico. 5 Psicopatia cujos sintomas se baseiam em conversão. É caracterizada por falta de controle sobre atos e emoções, ansiedade, sentido mórbido de autoconsciência, exagero do efeito de impressões sensoriais e por simulação de diversas doenças. 6 Relativo a visões. Que tem idéias extravagantes, excêntrico. Aquele que tem visões ou acredita em fantasmas. 7Adaptado do livro Milagres, Scott Rogo, Editora Ibrasa, 994, p.111-2.

14. OS SANTOS DE CADA DIA

Com o agravamento da situação econômica, a fé, que antes não costumava existir, agora não pode falhar. Tem de ser rápida, expedita. “Os santos que vêm sendo mais

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Em tempos de crise, cresce a devoção a santos com fama de conceder graças rapidamente. Muitos bairros nas grandes metrópoles transformam-se em típicas cidades do interior. Festanças católicas nos moldes tradicionais marcam os feriados. Há procissões, shows, missas e quermesses.

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Por Márcio Souza

cultuados são aqueles diretamente ligados à questão econômica. Pode-se dizer que os quatro preferidos são os que atendem às urgências do povo: Santo Expedito, Santa Edwiges, São Judas Tadeu e Santa Rita de Cássia”, confessou um padre, vigário da Arquidiocese da São Paulo. Além desses, Nossa Senhora Aparecida compõe o quinteto que monopoliza a devoção dos fiéis. Com base nas histórias relatadas pela tradição, faz-se uma mensagem direta, ligada à vida cotidiana. Por exemplo: Santo Expedito é aquele das causas urgentes, que não pode perder tempo para resolver alguma pendência. Santa Edwiges é a santa dos endividados. São Judas Tadeu e Santa Rita de Cássia ajudam, respectivamente, nos casos desesperadores ou perdidos – um guarda-chuva amplo que pode abrigar tanto os desempregados quanto os com problemas de desavença familiar.

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Tendo supostamente as pessoas recebido a graça tão desejada, aparecem nas ruas, nos postes e nos muros dezenas de mensagens de agradecimento ao santo solicitado. Geralmente, encontramos muitas páginas nos periódicos (jornais e revistas) dedicadas aos santos e patrocinadas pelos fiéis ‘satisfeitos’ pelas preces ‘ouvidas’. Todavia, vai aqui uma palavra de cautela: os agradecimentos devem ser divididos por sete e, em alguns casos, até mesmo por noventa! Isso mesmo! O motivo dessa discrepância deve-se ao fato de o suplicante ser obrigado a repetir, ou mesmo multiplicar, seus recados de agradecimento. Geralmente, quando um fiel receita a reza a determinado santo, indica quantas vezes o próximo suplicante terá de divulgar o agradecimento pela graça recebida. Parece que os ‘santos’ já aprenderam que a propaganda é o melhor negócio.

Enquanto alguns santos são conhecidos devido à sua projeção bíblica, outros, no entanto, são comuns apenas na tradição católica. O número desses é surpreendente! A Editora Paulus editou um anuário contendo santos para todos os dias do ano, e em alguns casos dois ou três são adicionados. Que objetivo tem o lançamento de um anuário contendo inúmeros santos? Inicialmente, vê-se o ideal cristão: “observemos os santos, mas não fiquemos apenas na contemplação deles; procuremos, isto sim, contemplar com eles Aquele que preencheu suas vidas”, afirma o padre Charles Foucauld. “Passar um ano em companhia dos santos que tiveram virtudes e podem nos abençoar com seu exemplo parece interessante, mas outras coisas estão envolvidas!”, conclui. Superstição e lenda

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Nem todos os santos venerados são realmente considerados históricos por teólogos católicos. Um exemplo típico é o Santo Expedito, que aparece em primeiro lugar nos postes e muros da cidade, bem como galardoado com faixas. Contudo, tem sua história questionada por teólogos católicos. Conta-se que ele era comandante de uma legião de soldados romanos e foi sacrificado em 19 de abril de 303, por ordem do imperador Diocleciano, ao lado dos companheiros Caio, Gálatas, Hermógenes, Aristonico e Rufo. Isso porque teria aderido à fé cristã. Segundo a tradição, no momento de sua conversão apareceu um corvo que lhe disse crás (amanhã, em latim). Imediatamente, o soldado esmagou o corvo com o pé e gritou hodie (hoje), razão pela qual se tornou aquele a quem se recorre quando não se pode deixar nada para amanhã. O mesmo padre comentado

acima afirmou: “a mensagem dele esmagando o corvo não me parece muito cristã. E, para mim, ele é lendário, não existiu de fato... mas se você disser que ele não existiu, o pessoal que o procura pode ficar bravo”. Santo Expedito, para o desconforto de seus fiéis, não aparece no anuário da editora Paulus. Currículo milagroso É muito comum os santos “engrossarem” seus currículos com milagres. Primeiro um milagre corriqueiro, comum, como um analgésico para dor de cabeça. Depois, o próprio tumor na cabeça é curado. O tempo parece ser fundamento para o exercício dos ‘milagres’ por parte dos santos. Além disso, os santos têm-se especializado em milagres específicos. É necessário ‘descobrir’ o seu santo.

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Embora considerado apócrifo pelo Decreto Gelasiano do século 6, a influência que exerce sobre seus admiradores, porém, não foi apagada. Conforme reza a lenda, difundida na Idade Média, São Jorge é aquele cavaleiro que luta contra o dragão. Tal lenda diz que um horrível

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Contam que o bondoso São Cristóvão atravessava um rio carregando pessoas nas costas. E, não por acaso, ele é considerado padroeiro dos motoristas. Mais recentemente, São Camilo de Lellis dedicava a vida aos doentes, tornando-se, assim, o protetor dos enfermeiros. Esses são alguns dos casos mais conhecidos. O catolicismo contém santos para quase todas as profissões. Uma lista elaborada pelo Vicariato da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo os relaciona com vários ofícios, incluindo até santos não mais reconhecidos pelo catolicismo, como São Jorge, por exemplo.

dragão saía de vez em quando das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade, espalhando morte com o seu mortífero hálito. Para afastar tamanho flagelo, as pessoas ofereciam ao “monstro” jovens vítimas, escolhidas por sorteio. Um dia coube à filha do rei ser oferecida para servir de alimento ao dragão. O monarca, que nada pôde fazer para evitar esse horrível destino de sua tenra filhinha, acompanhou-a com lágrimas até as margens do lago. A princesa parecia irremediavelmente destinada a um fim atroz quando, de repente, apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge. O valente guerreiro desembainhou a espada e, em pouco tempo, reduziu o terrível dragão num manso cordeirinho, que a jovem princesa levou preso numa corrente até dentro dos muros da cidade diante da admiração de todos os habitantes que antes se fechavam em casa, cheios de pavor. O misterioso cavaleiro lhes assegurou, gritando-lhes que tinha vindo, em nome de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam, então, converter-se e ser batizados.

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Creio que você já entendeu, querido leitor, o processo

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Por conta dessa lenda, quadros e mais quadros foram pintados com São Jorge vencendo o dragão. E podemos encontrá-los nas casas de alguns fiéis. E não só isso. Há muito tempo ouvimos falar da figura de São Jorge e o dragão estampada na lua. São histórias cheias de drama e martírio, que vão desde os tempos em que São Gabriel Arcanjo anunciou a gravidez de Maria – o que o tornou padroeiro dos carteiros! – até a segunda guerra mundial, quando São Maximiliano Kolbe, protetor dos presos políticos, se ofereceu para morrer no lugar de um condenado em um campo de concentração nazista.

que habilita o santo a ser um protetor especialista em determinado ramo ou ofício. Basta-lhe apenas comparar como foi a vida do tal santo, ou o que lhe aconteceu, segundo a tradição, e, baseado no padrão trágico de seus supostos martírios aplicar o que lhe seja mais conveniente.

Devoção grandiosa

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Os fiéis recorrem a essa santinha de 35 centímetros em busca de milagres e soluções. A história dessa devoção começou com os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, em outubro de 1717. Encarregados de suprir a mesa do Conde de Assumar, de passagem pela então vila de Guaratinguetá, eles jogaram a rede no rio Paraíba, próximo ao porto de Itaguaçu, e trouxeram à

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A devoção à Nossa Senhora Aparecida é expressa em números grandiosos. As ‘igrejas’ consagradas a essa santa ultrapassam radicalmente às dedicadas a Jesus Cristo. Considerado o maior santuário do mundo, a Basílica Nacional de Aparecida, no Vale do Paraíba, é visitada anualmente por cerca de oito milhões de romeiros (um número sempre crescente), vindos de todos os Estados. Por ano, são distribuídas cerca de três milhões de comunhões, ouvidas cerca de 260 mil confissões e realizados quase quatro mil batizados. Tudo sob as bênçãos da padroeira do Brasil, cuja imagem, com 35 centímetros de altura, repousa num altar a três metros do solo, protegido por vidros à prova de bala e um sistema de segurança eletrônico – providenciados depois que, em 16 de maio de 1978, a estátua foi atirada ao chão por um doente mental e reduzida a 200 pedaços, aproximadamente.

superfície o corpo da pequena imagem – apanhando a cabeça da estátua na segunda tentativa. Até então, os peixes andavam raros, mas, a partir daquele momento, houve, para espanto dos três homens, uma repentina abundância. Foi, segundo a tradição, o primeiro milagre operado pela Aparecida. Por alguns anos, a santinha ficou na casa de Pedroso. Mas logo a sua casa tornou-se pequena para abrigar o grande número de devotos. Esse foi motivo da construção, em 1734, da primeira capela da santa. Cento e quarenta anos mais tarde, foram iniciadas as obras da Basílica Velha, que ficou em segundo plano, após a inauguração, em 1954, da Nova, ainda não concluída. Percorrer o interior desse templo corresponde a um mergulho na alma da maior parcela da população brasileira – seja na Capela das Velas, onde são queimados mais de 20 mil quilos de cera por mês, seja na Sala das Promessas, no subsolo da catedral, que exibe milhares de ex-votos.

Encontramos nas Escrituras apoio à veneração de santos? Se fosse apropriada, teríamos no livro de

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Os argumentos bíblicos

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A importância de Maria no culto popular tem alcançado refrões que distorcem o que a Bíblia ensina sobre a soberania de Deus. Um exemplo muito conhecido é: “Tudo o que você pede à mãe, o filho faz”. A grandiosa devoção à Aparecida não é questionada pelos mentores católicos, antes parece que a ponderação do clero católico tem sido a mesma do padre mencionado no início deste artigo: “mas se você disser que ele não existiu, o pessoal que o procura pode ficar bravo”.

Hebreus, principalmente no capítulo 11, uma grande oportunidade para o escritor sagrado incentivar essa prática. Mas não é isso que acontece. Não encontramos nenhum vestígio de proteção mística a certas profissões ou classes sociais. A superstição e o misticismo são contestados pelas Escrituras, como, por exemplo, fazer preces aos mortos ou prestar-lhes culto: “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos?” (Is 8.19). Outro aspecto da veneração aos santos está relacionado à intercessão e à divindade. As Escrituras são bem claras ao dizer que há somente um Deus, e somente Deus atua sobre sua criação. Toda criatura está sujeita e é dependente de Deus. Somente um homem pôde ocupar o lugar de intercessor, devido à sua divindade: Jesus Cristo. Lemos em Romano 8.34: “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós”. E mais ninguém!

Santo Ivo nasceu na Bretanha, em 1253. Estudou

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São Bartolomeu (24 de agosto) – um dos 12 apóstolos, nascido na Galiléia, sofreu um suplício por divulgar o evangelho na Armênia, onde despertou a ira dos sacerdotes locais por conseguir várias conversões. Os sacerdotes então fizeram a cabeça do rei Polímio para que São Bartolomeu fosse torturado de maneira bárbara: teve toda a sua pele arrancada, ficando em carne viva, antes de ser decapitado – santo protetor dos açougueiros.

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Galeria dos santos

filosofia, teologia, direito civil e canônico. Ordenado sacerdote em seguida, era chamado advogado dos pobres, pois sempre os defendia nos julgamentos. Sem se importar com a perseguição dos poderosos, ia aos castelos buscar os pertences do povo, confiscados a título de impostos não pagos. É o santo protetor dos advogados. São Dimas. É chamado de bom ladrão. Conta a lenda que ele conheceu a família de Jesus, dando abrigo ao menino Jesus. Converteu-se após a crucificação e pediu perdão pelo seu passado pouco antes da morte. É o protetor dos agentes funerários. São Bernardo era natural de Piemonte, Itália, no século 18, e cuidava dos viajantes e peregrinos que precisavam atravessar as montanhas dos Alpes. Os cães são bernardos levam carinhosamente o seu nome. É considerado protetor dos alpinistas. São Tomé. Ficou conhecido no imaginário popular como aquele que precisa ver para crer. Santo protetor dos arquitetos, não basta projetar, é preciso realizar.

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Santa Clara de Assis. Fundou uma ordem conhecida como Clarissas. Uma vez perguntaram-lhe se era melhor a vida contemplativa ou a pregação, e ela respondeu: “Cristo revelou que sua vontade é que caminhes pelo mundo a pregar”. É a protetora dos artistas de televisão,

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São Lourenço. Tinha função importante como assistente do papa, cuidando de toda parte burocrática e listando todos os pertences. Interrogado sobre os bens da Igreja, pediu prazo e, em seguida, apresentou o nome dos doentes, dos velhos e das crianças a quem ajudava. É o santo protetor dos arquivistas.

pois entendia o valor da comunicação. Nossa Senhora de Loreto. Diz a história que o santuário de Loreto guarda a casa em que morou Nossa Senhora, em Nazaré. A lenda afirma, ainda, que, em 1291, durante as Cruzadas, a casa foi transportada para lá por anjos. Na verdade, a família De Angelis salvou a casa da destruição e a transportou para Loreto. É a santa protetora dos aviadores. Santa Bárbara. Era uma jovem belíssima e seu pai Dióscoro a encarcerou numa torre, com ciúmes dos seus pretendentes. Um dia ela fugiu, mas acabou presa. Morta pelo próprio pai, que em seguida foi fulminado por um raio, é a santa protetora dos bombeiros. São Brás. Útil, segundo a lenda, para duas áreas. Resolve problemas com a garganta e engasgos. Quem não conhece a atitude de tapinha nas costas seguido da famosa frase: “são Brás, pra frente e pra trás!”? Em seu martírio, teve os cabelos cortados e o couro cabeludo espetado por pentes de ferro. É o santo protetor dos cabeleireiros.

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São João Bosco. Sua intensa preocupação com novas formas de conhecimento o identificou com a sétima arte. Ordenado padre aos 26 anos, fundou escolas, revistas e editoras, além de oratórios festivos que reuniam filhos de operários. É o santo protetor dos cineastas.

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São Gabriel Arcanjo. Independentemente da notícia que o carteiro carregue, ele é supostamente protegido pelo anjo Gabriel, pois este anunciou a Maria o nascimento de Jesus, portanto foi portador de boa notícia. É o santo protetor dos carteiros.

São Martinho de Tours. Húngaro, seu pai era oficial do exército romano e o obrigou a alistar-se. Um dia, porém, ao ver um mendigo tremendo de frio, cortou sua manta ao meio e ofereceu a metade para ele. À noite, sonhou com Jesus, que disse: “Martinho, ainda não batizado me ofereceu esse vestuário”. No dia seguinte, ele se converteu. É o protetor dos comissários de bordo. São Vito. Mártir siciliano do segundo século, é invocado durante uma doença nervosa chamada dança de São Vito. Sua vida foi bem aventureira, sofrendo perseguições por conta de sua fé. Em Roma, foi condenado a ser jogado às feras no Coliseu. É o santo protetor dos dançarinos. Santa Apolônia. Viveu no século três. Preferiu ser queimada viva a renunciar a fé. Teve todos os dentes arrancados por seus algozes, mas morreu pedindo perdão para aqueles que a torturavam.

Santa Zita. Todas às sextas-feiras, dava esmolas na cidade, dividindo o pouco que possuía. Numa dessas ocasiões, viu que o avental que vestia se transformou em

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Santo Agostinho. Africano da Tunísia, nascido em 354. Escreveu muitas obras de cunho filosófico. Teve uma ativa vida aflitiva – usou a si mesmo como ilustração das dificuldades humanas. Considerado doutor, é protetor dos editores.

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São Francisco. Nasceu em Assis, Itália, em 1182. Aos 24 anos abandonou tudo e passou a andar errante e maltrapilho em protesto contra a sociedade burguesa. Seu testemunho de fé também incluía o amor à natureza e aos animais, acolhendo qualquer bicho e chamando o sol e a lua de irmãos. É o protetor dos ecologistas.

flores. É protetora das empregadas domésticas. São João Evangelista. Um dos 12 apóstolos, era um dos mais chegados a Jesus Cristo e testemunhou vários milagres. Escreveu o quarto evangelho, as epístolas de João e o Apocalipse. É o protetor dos escritores. Santo Isidoro. Muito culto, era dicionarista, escritor considerado à frente de seu tempo. É o santo protetor dos internautas. Santa Luzia. Diz a lenda que preferiu arrancar os olhos e oferecê-los numa bandeja ao seu torturador a renunciar a fé. É a santa protetora dos oculistas. São Raimundo Nonato. Foi chamado de nonato (não nascido) por ter sido retirado das entranhas de sua mãe já morta. É o santo protetor das parteiras.

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15. QUEM FOI O PRIMEIRO PAPA? Por Paulo Cristiano Todos sabem que o título “papa” é empregado para o supremo chefe da igreja católica apostólica romana. Este termo vem do grego e significa “pai”. Já em latim, é formado pela junção da primeira sílaba de duas palavras: pater patrum, que quer dizer “pai dos pais”. Mas o significado que os católicos mais gostam de conferir é: Petri apostoli potestatem accipiens, isto é, “aquele que recebe autoridade do apóstolo Pedro”.

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Durante a história de sua existência, o papado teve seus altos e baixos. Recentemente, o atual papa teve de pedir desculpas aos judeus por seu antecessor, o papa Pio XII, e se vê em dificuldades com a questão do celibato. Apesar de toda esta imponência de chefe de Estado, líder espiritual da maior parcela de cristãos do mundo (1 bilhão) e administrador de um império financeiro que a cada ano acumula bilhões de dólares, algumas perguntas

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Segundo a doutrina católica, o papa é o sucessor de São Pedro no governo da Igreja Universal e o vigário de Cristo na terra. Tem autoridade sobre todos os fiéis e sobre toda a hierarquia da igreja. Além da autoridade espiritual, exerce uma territorial (interrompida de 1870 a 1929), que, a partir de 1929, foi limitada ao Estado da cidade do Vaticano. É infalível quando fala em assuntos de fé e moral (ex-cathedra). Alguns títulos que o papa ostenta dão uma amostra deste exagero, a saber: Bispo de Roma, Primaz da Itália, Patriarca do Ocidente, Vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Arcebispo e Metropolita da Província Romana e Santo Padre.

precisam ser feitas. Existem provas bíblicas e históricas que indiquem que o papa é o sucessor do apóstolo Pedro? Pedro foi o primeiro papa e gozou de supremacia sobre os demais apóstolos? Teria Pedro fundado a igreja de Roma e transformado essa igreja na sede de seu trono episcopal? O alvo de nossa matéria é apresentar respostas adequadas a perguntas cruciais como essas, visto que a Internet está repleta de sites de cunho apologético católico com o intuito de refutar as verdades das Escrituras Sagradas apresentadas pelos evangélicos. Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam

A tese católica se firma em três questionáveis

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Os pilares do papado

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Esse trecho de Mateus 16.18 é tão especial para os fundamentos papais que foi escrito em enormes letras douradas na cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma. Destarte, ele é a fonte mais importante de toda a dogmática1 católica. A expressão Tu es Petrus, carrega atrás de si uma procissão de outras heresias erigidas em cima das interpretações de textos deslocados de seus respectivos contextos, interpretados de modo arbitrário pelos teólogos e doutores católicos romanos. É ele o genitor da infalibilidade papal, do poder temporal e dos demais desvios teológicos, contradições e distorções dessa igreja. Portanto, esclarecer à luz da Bíblia todo esse equívoco teológico é desestruturar a base em que se firma a eclesiologia2 católica.

pressupostos principais, a saber: Cristo edificou a Igreja sobre Pedro, numa interpretação totalmente tendenciosa e arbitrária de Mateus 16.18,19. Pedro fundou e dirigiu a Igreja de Roma, sendo martirizado nessa cidade. A sucessão apostólica numa cadeia ininterrupta até nossos dias: de Pedro a Karol Wojtyla (João Paulo II). Outrossim, há ainda outros argumentos apresentados pelos católicos romanos que se firmam nessa trilogia, mas, neste momento, analisaremos apenas os já mencionados. Em que pedra a igreja está edificada?

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Entendemos que essa declaração nada mais representa do que o ecoar das suposições romanas na tentativa de harmonizar o que não pode ser harmonizado. A princípio pode até impressionar, mas carece totalmente de fundamentos. Leiamos o versículo: “Pois também eu te

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O endereço eletrônico católico www.lepanto.org.br, da Frente Universitária Lepanto, é um site antiprotestante e, na página sobre a Igreja Católica, que interpreta Mateus 16.18, traz a seguinte declaração: “Esse ponto é muito importante, pois a interpretação truncada dos protestantes quer admitir o absurdo de que Nosso Senhor não sabia se exprimir corretamente. Eles dizem que Cristo queria dizer: Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti a minha Igreja, por que não és pedra, senão sobre mim. Ora, é uma contradição, pois Nosso Senhor alterou o nome de Simão para Kephas, deixando claro quem seria a pedra visível de sua Igreja”.

digo que tu és Pedro (Petrus), e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16.18,19). Jesus, ao proferir essa declaração, estava realmente afirmando que Ele próprio era a “pedra” sobre a qual sua Igreja seria edificada. Temos diversos motivos para esta interpretação. Vejamos: Petra versus Petros

A declaração “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” é a chave para entendermos toda a problemática. Jesus perguntou a “todos”, e não somente a Pedro, “quem Ele era”. “Disse-lhes ele [Jesus]: E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). A ele — Pedro — foi revelado, em sua confissão, que Cristo era o Messias, o Filho de Deus, daí a

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Edificação sobre quem?

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Ao referir-se a Pedro, Jesus emprega o termo grego Petros, que significa um seixo, pedregulho. Ao referir-se à edificação da Igreja, diz que ela seria edificada não sobre o Petros (Pedro), mas sobre a petra, um rochedo inabalável. Ora, Jesus fez nítida diferença semasiológica3 entre petra e Petros. Um é substantivo feminino singular e está na terceira pessoa; o outro, masculino plural, e se encontra na segunda pessoa. Além disso, o termo petra nunca é usado na Bíblia em relação a homem algum, somente em relação a Deus. Logo, tal verso nem de longe insinua alguma coisa sobre Roma, sucessão apostólica ou algo similar. Os católicos conseguem ver o que não existe no texto.

frase: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...”, ou seja, a igreja está edificada sobre a confissão de que Ele (Jesus) era o Filho de Deus. A bem da verdade, a Igreja jamais poderia ser solidamente edificada sobre homem algum, nem mesmo Pedro, que, embora tenha sido um grande apóstolo, foi, no entanto, falível e passível de erros, como demonstra, de maneira sobeja, o contexto imediato: “Ele [Jesus], porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16.23), além de outros escritos do Novo Testamento em que podemos perceber a inconstância de Pedro (Mt 26.69-75). Quem é a pedra?

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Por sua vez, todas as “pedras vivas” estão edificadas sobre a grande Petra, que é Jesus: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus

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O significado de Petros e petra está em perfeita concordância com o contexto doutrinário e teológico neotestamentário. Sendo Petros um fragmento tirado da grande rocha, há de se ver uma conotação de todos os cristãos como Petros, e isto é descrito posteriormente pelo próprio Pedro: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5).

Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.19-21). Agora, comparemos o texto de Mateus 16.18 com o texto seguinte: “Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó” (Mt 21.42-44). Indubitavelmente, tanto em Mateus 16.18 quanto em 21.44, Jesus é a pedra. Desde a época dos salmistas, passando pelo profeta Isaías, a palavra profética já anunciava o Messias como a pedra da esquina (Cf. Sl 118.22, Is 28.16).

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Igualmente, é bom lembrar que na narrativa apresentada pelo evangelista Marcos é omitida a frase de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mc 8.27-30). Isto não é de pouca relevância, pois Marcos, por muito tempo, foi companheiro de Pedro (1Pe 5.13) e, segundo Eusébio4 , foi de Pedro que Marcos coletou informações para redigir seu evangelho. Pedro, em nenhum momento, disse de si mesmo que era a rocha ou pedra da igreja, caso contrário, Marcos teria confirmado o fato de modo enfático. Se porventura o dogma da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, como ensina a Igreja Católica, não parece praticamente inconcebível que os registros de Marcos e de Lucas silenciem a respeito?

O que significa Kephas? Kephas significa pedra ou Pedro? João nos dá a resposta: “... Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Fica claro que Cefas ou Kephas significa Pedro e não pedra. Para fazer jus à coerência e à lógica católica, Jesus deveria ter dito mais ou menos assim: “Tu és Kephas e sobre esta kephas edificarei...”, ou: “Tu és Pedro e sobre este Pedro edificarei...”, caso não houvesse nenhuma diferença. Um acréscimo ao nome de Pedro Teria Jesus mudado o nome de Simão Barjonas para Pedro ou apenas feito um acréscimo?

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A quem pertencem as chaves?

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Ora, quando se muda um nome faz-se necessariamente uma substituição. O nome anterior não é mais mencionado, como nos casos de Abrão para Abraão (Gn 17.5) e de Sarai para Sara (Gn 17.15). Já no caso de Pedro, houve apenas um acréscimo, como bem atesta Lucas: “Agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 10.5,18,32; 11.13). Podemos ver que se trata de um acréscimo no nome e não a mudança do mesmo, como querem os teólogos do Vaticano. Além disso, Pedro continuou sendo chamado de Simão (At 15.14) ou Simão Pedro (Jo 21.2-3,7), algo que, no mínimo, seria estranho se o antigo nome tivesse sido trocado. Querer ver nisto uma ligação da suposta supremacia de Pedro com relação ao papado, certamente, é ir além dos limites admissíveis.

Os católicos insistem em alardear que a simbologia das chaves (v. 19) significa supremacia jurisdicional sobre todo o cristianismo. Conquanto, sabemos que a chave foi realmente outorgada a Pedro para “abrir e fechar”. Todavia, devemos salientar que foram as chaves do “reino dos céus” e não da Igreja que lhe foram concedidas. O reino dos céus não é a Igreja. Antes, as “chaves” estavam nas mãos dos fariseus, como lemos: “Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam” (Lc 11.52). Essas chaves representam a propagação do evangelho de arrependimento de pecados, pelo qual todos os cristãos, e não Pedro apenas, podem abrir as portas dos céus para os pecadores que desejam ser salvos. Tanto é que, em Mateus 18.18, Jesus confia as chaves também aos demais apóstolos: “Em verdade vos digo [digo a vocês e não somente a Pedro] que tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”.

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Certo site ortodoxo5 , comentando sobre o assunto em questão, disse com muita propriedade: “Para a Igreja una e indivisa, a interpretação desta passagem do evangelho

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Pedro, portanto, foi o primeiro a usá-la por ocasião da festa de Pentecostes, quando quase três mil almas foram salvas (At 2.14-41). Depois, a usou para pregar ao primeiro gentio, Cornélio (At 10.1-48). É esta a chave que abre a porta, e ela não é prerrogativa exclusiva do hierarca católico romano. Ninguém tem o poder (ou direito) de monopolizá-la, como querem os católicos romanos.

é toda outra. Como disse Orígenes (fonte comum da Tradição patrística da exegese), Jesus responde com estas palavras à confissão de Pedro: este se torna a pedra sobre a qual será fundada a Igreja porque exprimiu a fé verdadeira na divindade de Cristo. E Orígenes comenta: Se nós dissermos também: Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo, então tornamo-nos também em um Pedro [...] porque quem quer que seja que se una a Cristo torna-se pedra. Cristo daria as chaves do reino apenas a Pedro, enquanto as outras pessoas abençoadas não as poderiam receber? Pedro é, então, o primeiro ‘crente’, e se os outros o quiserem seguir podem ‘imitá-lo’ e receber também as mesmas chaves.

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“Além disso, afirma a Igreja de Roma que é ela a Igreja fundada por Pedro e que essa fundação apostólica

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“Jesus, com as suas palavras relatadas no evangelho, sublinha o sentido da fé como fundamento da Igreja, mais do que funda a Igreja sobre Pedro, como a Igreja Romana pretende. Tudo se resume, portanto, em saber se a fé depende de Pedro, ou se Pedro depende da fé [...] Por isso mesmo, São Cipriano de Cartago pôde afirmar que a fé de Pedro pertencia ao bispo de cada Igreja local, enquanto São Gregório de Nissa escreveu que Jesus ‘deu aos bispos, por intermédio de Pedro, as chaves das honras do céu’. A sucessão de Pedro existe onde a fé justa e ortodoxa é preservada e não pode, então, ser localizada geograficamente, nem monopolizada por uma só Igreja e tampouco por um só indivíduo. Levando a teoria da primazia de Roma às últimas conseqüências, seríamos obrigados a concluir que somente Roma possui essa fé de Pedro e, neste caso, teríamos o fim da Igreja una, santa, católica e apostólica que proclamamos no Credo: atributos dados por Deus a todas as comunidades sacramentais centradas sobre a Eucaristia.

especial lhe dá direito a um lugar soberano sobre todo o Universo. Ora, a verdade é que, para além do fato de não sabermos realmente se São Pedro foi o fundador dessa Igreja Local e o seu primeiro papa, temos conhecimento de que outras cidades ou outras localidades menores podiam, igualmente, atribuir a si mesmas essa distinção, por terem sido fundadas por Pedro, Paulo, João, André ou outros apóstolos. Assim, o Cânone do 6º Concílio de Nicéia reconhece um prestígio excepcional às Igrejas de Alexandria, Antioquia e Roma, não pelo fato de terem sido fundadas por apóstolos, mas porque eram na altura as cidades mais importantes do Império Romano e, sendo assim, deram origem a importantes igrejas locais...” Onde está a primazia de Pedro?

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A Pedro foi conferida com exclusividade a chave dos céus (Mt 16.19)

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A lógica vaticana, insaciável em sua disposição em favorecer Pedro em detrimento dos demais apóstolos, esquiva-se em seus conceitos teológicos. Os católicos procuram, a qualquer preço, encontrar nas Sagradas Escrituras um elo de ligação entre a primazia de Pedro e a alegada supremacia do papa. Os argumentos apresentados são quase sempre furtados de seus contextos a fim de fortalecer essa cadeia de fantasia teológica. A pessoa que analisar o assunto pela ótica papista tende a ficar impressionada com a avalanche de textos que colocam Pedro no topo da lista de exclusividade. À primeira vista, a abundância de uma aparente primazia tende a sustentar essa corrente. No entanto, confrontaremos os textos citados e veremos que não são tão pujantes quanto parecem.

Este argumento foi satisfatoriamente respondido anteriormente. A Pedro foi dado, por duas vezes, cuidar com exclusividade do rebanho de Cristo (Lc 22.31,32; Jo 21.15,17) Os católicos frisam nesses textos as palavras “confirmar” e “apascentar” e vêem nelas uma suposta primazia jurisdicional de Pedro. O engano deste argumento está em não mostrar que o apóstolo Paulo também “confirmava” as igrejas (Cf. At 14.22; 15.32,41). Quanto ao “apascentar”, esta também não era uma exclusividade de Pedro, pois todos os bispos deveriam ter esta incumbência (At. 20.28). Para sermos coerentes, deveríamos dar este status de primazia aos demais, pois não só apascentavam como confirmavam as igrejas. Pedro foi o primeiro a pregar um sermão no dia de Pentecostes (At 2.14)

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Pedro foi o primeiro a evangelizar um gentio (At 10.25)

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Ora, Pedro, ao pregar na festa de Pentecostes, estava apenas fazendo uso das chaves para abrir a porta da salvação. Demais disso, alguém tinha de tomar a palavra e coube a Pedro, que era o mais velho e intrépido. Mas, ao terminar a mensagem, ninguém o teve por especial, antes se dirigiram a todos com a expressão: “Que faremos varões irmãos?”. Dirigiram-se a toda a igreja e não apenas a Pedro (At 2.37).

Ao contrário do que pensam os católicos, o caso de Cornélio é um contragolpe no argumento romanista, pois Pedro teve de dar explicações perante a Igreja por ter se misturado e comido com um gentio. Raciocinemos, onde está a primazia de Pedro nesse episódio? Se a tivesse, porventura daria explicações perante seus supostos comandados? Certamente que não! Mas Pedro teve de se explicar, porque não possuía nenhum governo sobre os demais. No catálogo dos apóstolos, o nome de Pedro sempre é colocado em primeiro lugar (Mt 10.2-4, Mc 3.16-19, Lc 6.13-16, At 1.13) É bom frisarmos que este primeiro lugar na lista de nomes é apenas de caráter cronológico e não funcional. Percebe-se que os quatro primeiros nomes da lista dos sinópticos são: Simão, André, João e Tiago, os primeiros a serem chamados para seguir o Mestre e, dentre eles, coube a Pedro ter uma prioridade cronológica. Todavia, em outros textos, como, por exemplo, Gálatas 2.9, seu nome não aparece em tal posição: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas...”.

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Lendo cuidadosamente Atos 1.15-26, vemos que Pedro apenas expôs o problema, qual seja, a falta de um sucessor para o cargo de Judas. No entanto, Matias foi eleito pela igreja por voto comum e não por decisão de Pedro: “E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos” (v. 26).

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Pedro escolhe Matias para suceder Judas Iscariotes (At 1.15)

O veredicto de Jesus O fator agravante quanto à intenção de tornar Pedro soberano entre os demais apóstolos está nas palavras taxativas de Cristo — o ÚNICO Sumo Pastor, Chefe Supremo, Cabeça e Fundamento da Igreja — em não titubear e corrigir algumas precoces ambições de supremacia entre eles. Certa feita, tal idéia foi sugerida ao Mestre que, no mesmo instante, a rechaçou dizendo: “... Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo...” (Mt 20.1827).

Embora a Bíblia não diga nada a respeito, os católicos insistem em dizer que o fato de o apóstolo Pedro ter sido

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Pedro esteve em Roma?

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O próprio Pedro desfaz essa lenda ao dizer: “ninguém tenha domínio sobre o rebanho...” (1Pe 5.1-3). Não se pode ver aí nenhum vestígio de superioridade, supremacia ou destaque sobre os demais, pois ele mesmo se igualava aos outros dizendo: “... que sou também presbítero com eles...” Pedro jamais mandou. Pelo contrário, foi mandado e obedeceu: “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João” (At 8.14). E tudo isso faz jus às palavras de Jesus, que disse: “Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou” (Jo 13.16).

o fundador da igreja de Roma é incontestável. Atribuem, ainda, ao apóstolo Pedro, um pontificado de 25 anos na capital do Império. E, conseqüente (deduzem), ele tenha morrido ali. É claro que estas ligações, em princípio, são de valor inestimável, pois, entrelaçadas, robustecem a tese vaticana da primazia do papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia. Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi martirizado no reinado do imperador Nero, por volta do ano 67 ou 68 d.C. Subtraindo 25 anos, retrocederemos ao ano 42 ou 43. Nessa época, ainda não havia sido realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que ocorreu por volta do ano 48 ou 49 d.C., quando Pedro participou (mas não deveria, porque, segundo a tradição, nessa época o apóstolo estava em Roma). No entanto, ainda que Pedro, segundo a opinião católica, tivesse participado do Concílio de Jerusalém, a assembléia fora presidida por Tiago (At 15.13-21).

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O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é mencionado em nenhuma delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se deve entender a revelação referida no livro

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No ano 58 d.C., Paulo escreveu a epístola aos Romanos e, no capítulo 16, mandou uma saudação para muitos irmãos daquela cidade, mas Pedro sequer é mencionado. Em 62 d.C., o apóstolo Paulo chegou em Roma e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30,31), todavia, nesse período, não há nenhuma menção de Pedro.

de Atos, em que Jesus disse a Paulo: “Importa que dês testemunho de mim também em Roma?” (At 23.11). Se Pedro estava em Roma, não caberia a ele estar cumprindo esta função? Onde se encontrava o suposto papa de Roma nessa ocasião? É por estas e outras razões que não acreditamos que Pedro tenha fundado ou presidido a Igreja de Roma, como afirmam os católicos. O insustentável suporte da tradição A tradição é um dos pilares nos quais se assenta a teologia romanista. O principal órgão da tradição é a Patrística, os escritos dos pais da Igreja. Essa tradição é de relevante valor à causa católica, pois dela advém toda a “lógica” da “sucessão apostólica”. É dela que é extraída a má interpretação de Mateus 16.18, da primazia de Roma, da corrente sucessória de São Pedro, etc. Na verdade, as coisas são bem diferentes quando analisadas de maneira criteriosa.

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Diz certa fonte católica14 que: “Se a corrente da

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Dos inúmeros pais da Igreja, somente 77 opinaram a respeito do assunto de Mateus 16.18, sendo que 44 reconheceram ser a fé de Pedro a rocha. Os outros 16 julgaram ser o próprio Cristo e somente 17 concordaram com a tese vaticana. Nenhum deles afirmou a infalibilidade de Pedro e tampouco o tinham como papa. Exemplo disso é Santo Agostinho que, em uma de suas obras,13 expressamente afirma que sempre, salvo uma vez, ele havia explicado as palavras sobre esta pedra — não como se referissem à pessoa de Pedro, mas sim a Cristo, cuja divindade Pedro havia reconhecido e proclamado.

sucessão apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados por pessoas ilegalmente ordenadas, estão desprovidos da graça divina. Essa condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o ensino dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja desde o seu início”. Finalizando...

A bem da verdade, essa tal sucessão ininterrupta e contínua dos papas é totalmente arrebentada e falsa. É

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Não é debalde que a obra literária clássica Divina comédia, de Dante Alighieri, coloca vários papas no inferno. Há, ainda, uma tremenda contradição nas muitas listas dos pontífices romanos expostos por historiadores católicos, nas quais os nomes de tais sucessores aparecem trocados ou ausentes, sem consenso algum. Não cremos que estes homens sejam os verdadeiros sucessores da cátedra de Pedro.

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Procuramos não ser prolixos ao historiar sobre esta questão. Todos sabemos que o trono dos papas teve seus momentos de vacância. Muitos papas conquistaram este título por dinheiro; outros, considerados legítimos, foram condenados como hereges; e quantos, pela ganância do cargo, foram envenenados por seus rivais. Houve também os nomeados por imperadores e, quando não, havia três ou mais papas se excomungando mutuamente pela disputa da cadeira de São Pedro. Sem falar, é claro, da época negra da pornocracia (influência das cortesãs no governo).

por demais ultrajante, mesmo para uma mente mediana suportar tamanha incongruência. Pelo que foi exposto, podemos considerar serenamente que “Pedro nunca foi papa e tampouco o papa é o vigário de Cristo”. Biografia de Pedro

- Primeira viagem: de Jerusalém a Samaria (At 8.14-25). - Segunda viagem: de Jerusalém, através de Lida e Jope, até Cesaréia (At 9.32; 11.2). - Terceira viagem: de Jerusalém a Antioquia (At 15.1-14; Gl 2.11). • Pedro e Jesus:

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•Viagens ministeriais:

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• Cidade natal: nasceu em Betsaida, Galiléia. • Filiação: filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu primeiro nome era Simão. • Moradia: na época de seu encontro com Cristo, morava em Cafarnaum, com a família da sua mulher (Lc 4,31-38). • Profissão: pescador, trabalhava com o irmão e o pai. • Qualidades: dinâmico (Mt 17.4), fiel (Mt 26.33), sincero (Jo 21.17), ousado (Mt 14.28), humilde (Lc 5.8), entre tantas outras. • Defeitos: ansioso (Mt 19.27), inconstante (Mt 14.30), precipitado (Mt 16.22), duvidoso (Mt 26.75) • Fontes: Os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo. • Ministério: destacou-se entre os doze apóstolos e foi a ele que Cristo apareceu pela primeira vez depois de ressuscitar. • Cartas escritas: 1 e 2 epístolas que levam o seu nome.

- Perto do mar da Galiléia, é chamado para seguir a Jesus (Mt 4.18,19). - Perto da Galiléia, encontra a moeda do tributo na boca do peixe (Mt 17.24-27). - Na Galiléia, anda sobre as águas do mar (Mt 14.28,29). - Em Jerusalém, na última Ceia, Jesus lava seus pés (Jo 13.6,7). - No Jardim do Getsêmani, corta a orelha de Malco (Jo 18.10,11). - Em Jerusalém, no palácio do sumo sacerdote, nega o seu Senhor (Jo 18.25,27). - Em Jerusalém, sente remorso (Mt 26.75). - João e ele correm, apressados, para o túmulo vazio (Jo 20.3-8). - Junto ao mar da Galiléia, após a ressurreição, vê o mestre e é consolado (Jo 21.3-17). • Momentos ministeriais marcantes: Em Jerusalém, profere seu maior discurso, quando ocorrem quase três mil conversões (At 2.41).

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Pedro em Roma, segundo a tradição católica

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- Em Jerusalém, cura um paralítico (At 3.6). - Em Jerusalém, profere dura sentença sobre Ananias e Safira (At 5. 1-11). - Em Lida, cura Enéias de paralisia (At 9.34,35). - Em Jope, ressuscita Tabita, também chamada de Dorcas (At 9.36-41). - Em Jope, tem a visão do lençol descendo do céu (At 10.9-16). - Em Cesaréia, prega na casa de Cornélio (At 10.23-48). - Em Jerusalém, é libertado da prisão por um anjo (At 12.3-10).

romana Todos os anos, milhares de peregrinos cristãos vão para o Vaticano, o centro da cristandade católica, para visitar a basílica que possui o nome do apóstolo Pedro. É dito aos visitantes que o túmulo de Pedro encontra-se nessa igreja. De acordo com uma antiga tradição, Pedro tornou-se mártir em Roma durante as perseguições aos cristãos por parte do imperador Nero, nos anos 60 A.D. Contudo, não temos a mínima idéia de como ou quando ele chegou lá e as evidências, arqueológicas e textuais, deste período em Roma são poucas – datadas do segundo século A.D., tão-somente. Clemente é o primeiro a escrever sobre o sofrimento e o martírio de Pedro6, mas não nos dá nenhum indicativo de que Pedro tenha trabalhado ou morrido em Roma. O bispo Inácio de Antioquia, enviado a Roma e martirizado entre os anos 110 e 130 A.D., também não faz menção a Pedro como líder (bispo) da igreja em Roma.

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No final do século 2º, contudo, Pedro se junta a Paulo, de forma regular, como um dos fundadores da igreja em

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Os teólogos católicos romanos entendem que o texto de 1Pedro 5.12,13 o situa em Roma — mas de maneira críptica; isto é, descrevem o remetente da carta como “o eleito na Babilônia”, um código do século 1º para Roma, o império opressor daqueles dias. Mas embora esta carta contenha o nome de Pedro, alguns acreditam que não tenha sido escrita por ele. Além disso, a carta é endereçada aos cristãos das províncias da Ásia menor romana, confirmando o relato de Paulo das atividades de Pedro no extremo Leste.

Roma. A inspiração para essa tradição parece vir do livro de Atos, que divide, de forma organizada, a descrição sobre como o evangelho foi espalhado de Jerusalém (o cenário de Atos 1) até Roma (o cenário do capítulo final, Atos 28): uma seção de Pedro (Atos 1-12) seguida por uma seção de Paulo (Atos 13-28). Na mesma época, o pai da igreja, Irineu (c. 185 A.D.), descreveu a igreja de Roma como “a igreja maior, mais antiga e igreja universalmente conhecida, fundada e organizada em Roma pelos apóstolos mais gloriosos: Pedro e Paulo”.7 O presbítero (ancião da igreja) Gaio menciona dois monumentos em Roma dedicados a esses “fundadores da igreja”. Segundo Gaio, o monumento de Pedro encontra-se no Vaticano e o de Paulo, no Caminho de Ostiense (região Sul de Roma, onde se encontra a Basílica de São Paulo fora dos muros)8. O termo usado por Gaio para monumento foi tropaion, que significa “troféu” — pode refer ir-se também a um túmulo ou a um memorial erguido no local do sofrimento9. Assim, Gaio é o escritor mais recente a situar o martírio de Pedro em Roma.

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A tradição, comum no meio cristão, de que Pedro fora crucificado de cabeça para baixo vem de uma obra de 231 A.D: “E, por fim, vindo a Roma, ele foi crucificado de

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No início do século 3º, o escritor cristão Tertuliano supõe que os leitores saibam que Pedro foi crucificado e Paulo executado (provavelmente decapitado) durante as perseguições do imperador romano Nero10. Tertuliano interpreta a morte de Pedro como o cumprimento de João 21.18,19, no qual Jesus prediz: “Quando for velho [Pedro], estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir. Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus”.

cabeça para baixo; pois havia pedido que sofresse daquela maneira”.11 Jerônimo, no século 4º, acrescenta os motivos que levaram Pedro a fazer tal pedido: “Ele recebeu em suas mãos a coroa do martírio ao ser pregado na cruz com a cabeça voltada para o chão e seus pés levantados para o alto, afirmando que ele era indigno de ser crucificado da mesma maneira que seu Senhor”.12 Segundo a pregação romana, o túmulo de Pedro encontra-se exatamente embaixo do altar consagrado da basílica e atrás do Nicho dos Pálios, local onde as estolas litúrgicas (pálios) são deixadas durante a noite antes de serem entregues aos novos bispos. Escavadores modernos encontraram um nicho escondido nessa parede contendo os ossos de um homem envolvidos em um pano de púrpura cara que, “acreditam”, possuía cerca de 60 anos quando morreu. Em 1968, a igreja declarou que tais ossos eram os restos de São Pedro.

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É importante esclarecer que todas estas informações são contestadas por vários estudiosos, devido à ausência de evidências satisfatórias e suspeita de manipulação de informações por parte da igreja romana. Todo o esforço de Roma em autenticar a presença de Pedro por lá visa aglutinar argumentos que corroborariam para aceitação de seu papado em Roma, pois como poderia sê-lo se jamais estivera lá? Entretanto, ainda que houvesse consenso de que Pedro esteve em Roma e que lá foi martirizado, isso ainda não seria o suficiente para alterar a avalanche de argumentos bíblicos que se opõe ao estabelecimento de seu papado. A dogmática católica depende da presença de Pedro em Roma, porém, esta suposta presença, se fosse confirmada, não tem a capacidade em si mesma de evidenciar que Pedro tenha iniciado a linha de sucessão apostólica, como quer a

igreja romana. Bibliografia: Noites com os romanistas, M.H. Seymour, Edições Cristãs. Doze homens, uma missão, Aramis C. de Barros, Ed. Luz e Vida. O cristianismo através dos séculos, Earle E. Cairns, Ed. Vida Nova. Pedro nunca foi papa nem o papa é vigário de Cristo. Aníbal P. Reis. Ed. Caminho de Damasco. Quem fundou sua Igreja, padre Alberto Luiz Gambarini, Ed. Ágape. Os papas, Aquiles Pintonello, Ed. Paulinas. A hierarquia, padre José Comblin, Ed. Paulus. Bible Review, fevereiro de 2004, artigo “Peter in Rome” Notas:

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1 Doutrina que afirma a existência de certas verdades que se podem provar indiscutíveis (Não é este o caso da dogmática católica, passível de contestação). 2 Eclesiologia: estudo pertencente ou relativo à Igreja, eclesial. 3 Semasiologia: estudo do sentido das palavras, que parte do significante para estudar o significado. 4 Eusébio de Cesaréia (265-339). Incentivado por Constantino, fez a narração da primeira história do cristianismo, coroando-a com sua imperial adesão a Cristo. 5 Publicado no site: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/a_igreja_ortodoxa/ o_cristianismo_ortodoxa_em_perguntas_e_respostas.htm 6 Clemente 5.4. 7 Irineu, Against Heresies [Contra Heresias] 3.3,2.

8 Citado em Eusebius, History of the Church [A história da Igreja] 2.25. 9 Veja Hans Georg Thümmel, Die Momorien fúr Petrus und Paulus im Rom, Arbeiten zur Kirchengeschichte 76 [As memórias de Pedro e Paulo em Roma, uma obra sobre a história da Igreja (Berlin: Wlater de Gruyter, 1999), p. 6,7. 10 Tertuliano, Scopiace 15.3. 11 Origen, Commentary on Genisis [Comentário sobre Gênesis], relatado em History of Church [História da Igreja] de Eusébio 3.1.2. 12 Jerônimo, Lives of Illustrious Men 1. 13 Livro 1, das Retratações, cap 21 (Livro escrito no fim da sua vida, para retratar-se de seus escritos anteriores). 14 Publicado no site: http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/pries thood_p.htm, sob o título “Colaboradores de Deus – sobre o sacerdócio e a hierarquia eclesiástica”, escrito por Bispo Alexander Mileant e traduzido por Elga Drizul.

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Por Marcos Heraldo Paiva O diácono É a primeira ordem clerical. Como todas as demais ordens sagradas, esta também só pode ser conferida a

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16. A HIERARQUIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA ROMANA

homens e por um Bispo, que exigirá do candidato o certificado de confirmação (crisma). Para o diaconato permanente, os candidatos que não são casados não podem ser admitidos até que completem 25 anos de idade. Para os casados, a idade mínima é 35 anos, sendo necessário o consentimento da esposa. Caso não haja esse consentimento, o aspirante não pode ascender ao sacerdócio. Uma vez admitido na ordem antes de se casar, deve juramentar a guarda do celibato. Aqueles que almejam o presbitério devem ingressar, com 23 anos de idade, no seminário para o curso, de três anos, do diaconato e já ter completado o quinto ano do curso filosófico teológico. A vida ministerial do diácono católico é regida pelo bispo diocesano. O padre

Eclesiástico que tem a plenitude do sacerdócio, com poderes de conferir os sacramentos da confirmação e das

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O bispo

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É a ordenação imediatamente posterior ao diaconato e segue os preceitos de idade, submissão, atribuições e obrigações. A promoção ao presbitério é automática e só não se realiza se houver impedimentos de ordem eclesiástica ou de foro íntimo do diácono. O presbítero (padre) pode dar todas as bênçãos que não estiverem reservadas ao papa e aos bispos, além de ministrar todos os ritos litúrgicos, diferentemente do diácono, que só pode conferir as bênçãos que lhe são expressamente permitidas.

ordens, podendo, ainda, sagrar outros bispos – com a devida autorização de Roma. É colocado como dirigente espiritual de uma diocese (divisão territorial composta por várias paróquias) e considerado sucessor dos apóstolos de Jesus. Somente se subordina ao papa e, eventualmente, a um arcebispo. O traje e paramentos que o distinguem são o báculo (cajado), o anel, a cruz peitoral e a mitra (chapéu). Para que seja consagrado, deve ter, no mínimo, 35 anos de idade e ter servido como padre durante pelo menos cinco anos. O arcebispo metropolitano

Depois do papa, é o mais alto dignatário da Igreja Católica Romana. Escolhido pelo pontífice, compõe o “colégio episcopal”, que é responsável por sua eleição. São membros titulares do clero romano, mas ainda se dividem em três tipos: cardeal-bispo, cardeal-presbítero e

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O cardeal

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Ocupa a primazia entre seus pares numa Sé Episcopal (igreja principal). Guarda a conservação da fé e da doutrina no âmbito de sua diocese, designa o administrador diocesano e, caso seja necessário, pode exercer a função do bispo diocesano – com prévio aviso – para que possa, no lugar do bispo, celebrar as funções sagradas. O traje (pálio) do arcebispo deve ser solicitado três meses após a consagração episcopal. Trata-se de um ornamento litúrgico que consiste numa faixa de lã branca adornada com cruzes negras, sendo usada em torno do pescoço em cerimônias pontificais. Este traje só pode ser utilizado dentro de paróquias e catedrais que estejam sob a autoridade de sua arquidiocese. Caso seja transferido para outra diocese, o paramento deve ser substituído.

cardeal-diácono. A escolha é livre por parte do sumo pontífice, que faz a seleção de acordo com o perfil eclesiástico, considerando questões doutrinárias, bons costumes, prudência e modo de agir. O papa pode escolher o cardeal entre os presbíteros, que recebe, necessariamente, consagração episcopal antes da promoção cardinalícia. Reunidos em conclave, os cardeais elegem o soberano pontífice. Segundo determinação do papa João Paulo II, os cardeais devem abandonar seus cargos aos 75 anos e, aos 80, já não podem mais ser eleitores do papa. Após a promoção, caso não tenham dioceses ou arquidioceses sob sua responsabilidade, são obrigados a residir em Roma. Os cardeais, chamados de “príncipes da Igreja”, desfrutam de privilégios e honras e recebem o tratamento de “eminência”. Suas vestes são escarlates, simbolizando o voto de darem a vida pelo papa, se preciso for. O papa/sumo pontífice

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A tradição católica ensina que o papa é o sucessor de São Pedro, a quem Cristo teria confiado a Igreja. A parte burocrática da Igreja Católica responsável pela publicação e revisão dos atos papais é conhecida como Cúria.

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Posto máximo e individual da Igreja Católica. Desde o século 18, é reconhecido no Ocidente como posição de uso exclusivo do bispo de Roma. O papa faz declarações públicas doutrinais, pode convocar concílios, canonizar santos, resolver questões legais (contra sua sentença não há apelação ou recurso), estabelecer dioceses e eleger bispos, além de outras funções. Não responde a ninguém.

17. CELIBATO BÍBLICO X CELIBATO HUMANO Por Eguinaldo Hélio de Souza O Novo Dicionário Aurélio apresenta uma definição superficial sobre o termo “celibato”. Diz apenas que é “o estado de uma pessoa que se mantém solteira”.

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Claro que a Bíblia fala em celibato, mas nem tudo o que leva este nome é bíblico. Distorcido ao longo dos anos por influências gnósticas e estranhas, esta prática se tornou, por imposição humana, um “preceito de homens” e “doutrina de demônios” (1Tm 4.1), distante dos critérios de Deus. A Enciclopédia Britânica assim se expressou sobre o assunto: “A ligação entre o cristianismo e o judaísmo e a aceitação do Antigo Testamento pela Igreja cristã, tendia a perpetuar na Igreja primitiva a estima que os hebreus tinham por

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Em uma visão bíblica e religiosa, porém, é muito mais do que isso. Celibato é a ausência de atividade sexual na vida de um indivíduo. Ocorre geralmente por motivos religiosos, embora qualquer pessoa possa exercê-lo. O celibato pode (e às vezes até deve) ser exercido por apenas um período. Os solteiros devem, com certeza, praticá-lo, bem como os viúvos e separados. Mas também pode ser praticado temporariamente por motivos espirituais (1Co 7.5). Nosso enfoque, aqui, não é o estado de celibato temporário, mas sua prática permanente.

casar e ter numerosos filhos”. Logo, se o estado celibatário se tornou sinônimo de um estado espiritual, isso não ocorreu como produto da pregação apostólica. Outras influências fora da cultura hebraica e do contexto bíblico levaram a prática a extremismos danosos.

Quando o celibato é bíblico? Dizer que o celibato nunca é bíblico, não é verdade. Podemos encontrar base para ele tanto nos sinópticos quanto nos escritos paulinos. A história, sacralizada como tradição no catolicismo, não é normativa. Há exemplos e afirmações neotestamentárias que devem ser levadas em conta. Ignorá-los tem gerado pesados e amargos frutos. Quando é uma decisão pessoal

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Em Israel, não havia uma classe instituída de eunucos como havia em outras nações. Aliás, os castrados eram proibidos de entrar na congregação do Senhor (Dt 23.1).

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Quando Jesus falou sobre pessoas que se decidiram por viver uma vida celibatária por amor ao reino de Deus, foi bem explícito em apresentar isso como uma decisão puramente pessoal. Não é uma adesão a algum regulamento fixo da lei mosaica ou a qualquer outro ponto das Escrituras, mas uma escolha deliberada e própria. “Porque há eunucos que nasceram assim; outros foram feitos eunucos pelos homens; e há eunucos que se fizeram eunucos por causa do reino dos céus” (Mt 19.12; grifo do autor).

Quando a Bíblia faz referência aos eunucos, geralmente eles pertencem a outras nações. Eram guardas de harém (Et 2.3,14,15), ou serviam os reis e rainhas em diversos cargos (Jr 38.7; At 8.27). Conforme o Dicionário da Bíblia John D. Davis, não é muito certo que o termo eunuco tenha o mesmo significado em todas as passagens das Escrituras, pois há casos em que falam de eunucos casados, como, por exemplo, Potifar, que era casado (Gn 37-39). Também se faz, ocasionalmente, menção de eunucos entre o povo de Israel ou mesmo em Judá (2Rs 24.15; 25.19; Jr 29.2;). John D. Davis afirma que “os eunucos existentes no reino de Judá eram, pela maior parte, senão em sua totalidade, estrangeiros”, como vemos em Jeremias 38.7. Lembrando ainda que Jesus fala de eunucos de nascença e de eunucos castrados pelos homens.

Há um segundo ponto importante no celibato bíblico. Além da decisão individual, o celibatário deve possuir aptidão para permanecer em tal estado. Jesus terminou sua sentença com a frase: “Quem puder aceitar isto, aceite-o” (Mt 19.12), mostrando que nem todos estavam aptos a receber tal preceito. Jesus disse ainda que nem

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Quando o celibatário recebeu o dom para “aceitar isto”

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De qualquer maneira, não havia algo como uma instituição de “eunucado” como se isso tivesse alguma virtude em si. A cultura judaica valorizava o casamento, a procriação e a varonilidade. O conceito de renúncia ao casamento por amor ao reino de Deus é um elemento novo dentro da fé escriturística, com um caráter estritamente pessoal.

todos poderiam receber esta palavra, mas somente aqueles a quem foi concedido recebê-la (v.11). Paulo, o apóstolo celibatário, afirma a questão de vocação ainda com mais veemência ao responder às perguntas dos coríntios sobre o casamento. “Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira, e outro de outra” (1Co 7.7). Pela revelação bíblica, não basta alguém desejar ser celibatário para sêlo. É necessária uma capacitação especial de Deus. Quando o celibato leva a uma maior santificação a Deus

Não é a mera abstinência sexual que constitui o valor de um celibato voluntário, mas o resultado desta abstenção no serviço divino. Este ponto é importante, pois não é a ausência do ato sexual que torna o celibatário mais

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Paulo coloca o celibato neste foco, mostrando que os que são casados têm de cuidar de coisas relativas a esta vida para agradar seu cônjuge, enquanto que os solteiros cuidam das coisas do Senhor apenas, tendo maior consagração, tanto no seu corpo quanto no seu espírito (1Co 7.32-34).

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O motivo do celibato bíblico é só um: maior disponibilidade para Deus e o seu reino (Mt 19.12). O fato de um cristão não querer se casar pode ser ocasionado por motivos que não um chamado para servir a Deus integralmente. Pode haver motivos de ordem social, física ou psicológica. O celibatário vocacionado o fará com pleno prazer, não se sentirá oprimido pela ausência de um marido ou esposa, mas utilizará sua vida completamente a serviço de Deus.

consagrado, mas uma vida desligada das coisas deste mundo, voltada somente para Deus e seu reino. Quando o celibato não é bíblico? Embora o celibato clerical católico seja o mais conhecido, houve e há outros grupos que entendem o celibato como sendo necessário e obrigatório, pelo menos para algumas classes especiais dentro do grupo, criando uma espécie de casta de eunucos espirituais. Grupos menores, na História passada e em nossos dias, exigem o celibato como um estado automático de maior santidade e por isso o impõe como exigência para adesão ao grupo. Quando é imposto por outros

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Não existe qualquer lugar nas Escrituras que estabeleça um estado de solteiro obrigatório para quem quiser tomar sobre si o encargo da obra de Deus. O celibato obrigatório teve uma evolução histórica, por influências não-apostólicas e não-bíblicas. Ainda lemos na Britânica: “O celibato de clérigos não parece ter sido obrigatório durante os primeiros séculos cristãos. A opinião

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Uma coisa é incentivar o celibato. Outra é exigi-lo. Uma coisa é crer que uma vida de solteiro, voltada só para as coisas divinas, é melhor. Outra coisa é estabelecer que só possa ser dessa forma. Dizer que alguém é obrigado ao celibato se deseja ser um ministro da Igreja de Cristo é uma ordenança humana e um ensino antibíblico: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência, proibindo o casamento...” (1Tm 4.13; grifo do autor).

formalmente sustentada por alguns de que o celibatário teve origem apostólica tem sido largamente abandonada. A liberdade de escolha era a norma [...] No Ocidente, o Concílio de Elvira na Espanha (306 d.C.) decretou o celibato nas seguintes palavras: ‘é inteiramente proibido a bispos, sacerdotes, diáconos e todos os clérigos colocados no ministério viver com suas esposas e filhos gerados. Quem o fizer será destituído de sua posição de clérigo’”. Quando o celibatário não consegue se conter Paulo foi taxativo ao dizer que se alguém não pode se conter, que então se case, pois é melhor casar do que viver abrasado (1Co 7.9). Isso quer dizer que somente alguém que é celibatário por dom e vocação deve insistir em permanecer nessa condição. Os demais estão desobrigados pela Palavra a tal esforço. Quando entende o sexo como inerentemente mal

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Outras influências não-bíblicas foram responsáveis por esse desvio. Essa visão, provavelmente, tem raízes gnósticas. O gnosticismo classificava a matéria como algo inerentemente mal, sendo produto não de um Deus bom e sábio, mas de outra entidade inferior. Eusébio, em sua História eclesiástica, tece comentário sobre uma seita denominada “encratitas”, originada de dois hereges

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A imposição celibatária nasceu da falta da distinção entre a perversão sexual e o ato sexual propriamente dito. A perversão sexual é completamente condenada nas Escrituras. Já o ato sexual faz parte dos planos de Deus desde a criação do homem, pois, ao criá-lo, disse: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1.28). “E viu Deus que também isto era muito bom” (v.31).

gnósticos: Saturnino e Marcião. Eusébio escreve o seguinte, citando Irineu: “Aqueles que brotaram de Saturnino e de Marcião, chamados encratitas, proclamavam abstinência do casamento, deixando de lado o propósito original de Deus e censurando tacitamente quem os fez macho e fêmea para a propagação da raça humana”. Ainda prossegue Eusébio, no mesmo capítulo, citando Irineu e repreendendo a posição desses gnósticos com respeito ao matrimônio: “Também o casamento, declarava [um certo Taciano] juntamente com Marcião e Saturnino, era apenas corrupção e fornicação”.

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Muitos líderes do século 2o tinham uma visão do casamento influenciada pelo gnosticismo. Chegavam a interpretar o casamento como uma conseqüência da queda de Adão e não como algo anterior a ele, o que não é certo. Ficavam com uma visão conflitante do casamento, como sendo necessário e desaconselhável ao mesmo tempo: “A hesitação dos ortodoxos casuístas sobre este interessante assunto trai a perplexidade de homens relutantes em aprovar uma instituição que eles eram compelidos a tolerar. Alguns gnósticos foram mais consistentes. Eles proibiram o uso do casamento”.

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“Os gnósticos, que identificavam a matéria com o mal, procuravam uma forma de criar um sistema filosófico em que Deus, como espírito, seria livre da influência do mal e no qual o homem seria identificado, no lado espiritual de sua natureza, com a divindade [...] Em seu sistema, não havia lugar para a ressurreição da carne [...] Também os maniqueus, outra seita gnóstica, popularizou o celibato. O maniqueísmo provocou tal exaltação da vida ascética a ponto de ver o instinto sexual como mal e enfatizar a superioridade do estado civil do solteiro”.

Quando o faz por “proibição demoníaca” O apóstolo Paulo foi celibatário por plena voluntariedade. Mas ele não encarava tal fato como uma obrigação ministerial. Muito pelo contrário. Questionou os coríntios em sua primeira epístola: “Não temos nós o direito de levar conosco uma esposa crente, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor e Cefas?” (1Co 9.5). Logo, o celibato obrigatório não era instituição apostólica. Uma nota da Bíblia de Jerusalém sobre esta passagem, diz: “Como quer que seja, em vista dos problemas materiais, os apóstolos casados, como Cefas (Pedro), geralmente levavam a esposa em missão”.

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A argumentação do catolicismo sobre o celibato clerical é de que não há imposição. Quem faz o voto sacerdotal o acata voluntariamente. Isso, todavia, constitui uma

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É difícil traçar uma genealogia histórica para o celibato clerical. Com certeza, não foi apostólico tanto quanto não é bíblico. Nunca foi geral no cristianismo e, mesmo quando foi imposto aos clérigos, não era praticado uniformemente: “Por exemplo, a igreja oriental sempre permitiu que seus sacerdotes casassem. O celibato clerical é exigido somente dos monges. Os bispos ortodoxos orientais são tradicionalmente escolhidos entre os monges, portanto, celibatários. O sacerdote simples da paróquia, no entanto, tem permissão para se casar antes de ser ordenado. Se for solteiro por ocasião de sua ordenação, deve permanecer assim. A tradição católica romana desenvolveu paulatinamente a prática do celibato clerical universal, de tal modo que todos os sacerdotes da Igreja devem permanecer solteiros e castos”.

imposição humana e não divina. As pessoas não deviam ter de escolher entre ser ministro cristão e ter uma família. As duas alternativas não são incompatíveis. Dizer que alguém só pode ser ministro se for celibatário é proibir o casamento para o clérigo. Quando, porém, lemos a Palavra de Deus, vemos que esta posição está absolutamente em conflito com ela. Veja o que Paulo escreveu sobre algumas das características dos ministros: “Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher [...] tendo seus filhos em sujeição [...] se alguém não sabe governar a sua própria casa [família], terá cuidado da igreja de Deus?” (1Tm 3.1-5; grifos do autor). E ainda: “Por esta causa te deixei em Creta, para que [...] de cidade em cidade, estabelecesse presbíteros, como já te mandei: aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis [...] (Tt 1.5,6; grifos do autor). Quando leva a desvios sexuais

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Não é de se espantar coisas desse tipo. Quando os impulsos sexuais não são refreados por um dom da graça de Deus, serão extravasados de uma forma ou de outra. Assim escreveu o apóstolo em sua epístola aos Romanos: “E semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo

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Não faz muito tempo, a mídia mundial ficou repleta de denúncias de práticas homossexuais e pedófilas por parte do clero católico. Isso sem falar no Movimento dos Padres Casados, que é uma dissidência católica e um protesto aberto contra o celibato obrigatório.

torpeza” (1.27; grifos do autor). A torpeza foi o resultado de deixar “uso natural da mulher”. Deus criou o homem como um ser sexuado e estabeleceu princípios pelos quais essa necessidade seria legitimamente atendida. Isso está claro na Bíblia: “Macho e fêmea os criou” (Gn 1.27); “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18); e, por fim, “Deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e serão os dois uma só carne” (Gn 2.24). E ainda o apóstolo Paulo arremata: “Todavia, para evitar a fornicação, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher tenha o seu marido” (1Co 7.2 – Bíblia de Jerusalém). A insistência na obrigatoriedade do celibato clerical, tanto na prática quanto na matéria teológica, é plena demonstração de uma “consciência cauterizada” ou, como traduz a Bíblia de Jerusalém, “hipocrisia dos mentirosos, que têm a própria consciência como que marcada com ferro quente” (1Tm 4.2). Considerações finais

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Para terminar, vale a observação do dr. Otto Borchert sobre Jesus e o casamento:

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Se alguém deseja ser celibatário, sente que tem um chamado de Deus para isto, sente-se capacitado por Deus para assumir essa posição, então que seja. Mas, definitivamente, não há qualquer grau de pecaminosidade no casamento e, especificamente, no ato sexual praticado pelo marido e a mulher. “Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca” (1Co 7.28).

“Não podemos duvidar, nem por um momento, que Jesus via grandes benefícios no casamento. Em algumas de suas parábolas, Ele retratou a alegria do casamento como a maior de todas, chegando a se comparar com o noivo. Ele mesmo tomou parte em um casamento e experimentou o maior prazer com os ramos de oliveira (filhos) que são o resultado de tal união. Além disso, invocou a lei da criação (Deus os fez macho e fêmea) contra Moisés, revelando o pleno significado intrínseco e a seriedade desta lei (Mt 19.4). Aqueles dentre nós que o conhecem, reconhecem que Jesus nunca foi partidário das pessoas que proíbem o casamento (1Tm 4.3), da mesma forma, jamais podemos crer que seja possível que Ele [Jesus] tenha dado o conselho oferecido pelo seu apóstolo de que é melhor não se casar”. Notas:

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1 Enciclopédia Britânica, 1969, vol 5. 2 CESARÉIA, EUSÈBIO de. História eclesiástica (Livro 4, XXIX). São Paulo: Fonte editorial, 2005, p. 146. 3 Ibid. 4 CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Edições Vida Nova, p. 81. 5 Declínio e queda do império romano, Cap 15, p.192. Coleção grandes livros do Ocidente, Enciclopédia Britânica. 6 Ibid.Cap XV, 92. 7 OLSON, Roger. História da teologia cristã. São Paulo: Editora Vida, 1999, p. 309. 8 BORCHERT, Otto. O Jesus histórico. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, p. 245.

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