3.
Anexos
3.1 Roteiro de entrevista em profundidade ROTEIRO PARA ENTREVISTA Guidelines for in-depth interviews Redefinição da ordem dos módulos: 1. Dados do entrevistado e do entrevistador 2. Trajetória familiar 3. Religião 4. Experiência escolar 5. Trabalho 6. Discriminação racial 7. Sociabilidade 8. Relacionamentos 9. Conjugalidade/parentalidade 10. Experiências sexuais 11. Gênero e sexualidade 12. Saúde e DST/HIV/Aids 13. Uso de drogas 14. Projetos de vida
DADOS GERAIS DO/A ENTREVISTADO/A - Interviewed Data Nome e apelido/Name and nickname: Idade/Age:
Sexo/Sex: Orientação sexual/Sexual orientation (preencher após entrevista/fill after interview): Raça/cor/Race/colour (preencher após entrevista/fill after interview): Escolaridade/school background: Estado civil/marital status: Religião/Religion: Onde mora atualmente (há quanto tempo; circulação)/ Where lives nowadays (for how long, you use to go to what places) DADO DO ENTREVISTADOR/A - Interviewer Data Nome/Name: Idade/Age: Sexo/Sex: Orientação sexual/Sexual Orientation: Auto-classificação de cor/raça / Color/race self-classification: Escolaridade/scholl background: Inserção social/Social Insertion: Cor atribuída ao entrevistado/ the color you attribute to the interviewed person: Sexo atribuído ao entrevistado/the sex you attribute to the interviewed person: (?) Local/Place: Data/Date: Observações
de
campo/Field
TRAJETÓRIA FAMILIAR - Familiar trajectories Situação familiar atual/Actual family situation:
observations:
1) Você pode nos dizer com quem você mora atualmente? Que tipo de relação você mantém com essas pessoas? Você saberia me dizer qual a renda do seu núcleo de moradia atual? May you tell us who do you currently live with? What kind of relation do you have with those people? Do you know how much is the income of the housing nucleus? 2) Quem é a sua família de origem? (pais, irmãos, agregados, companheiros, composição por sexo e idade). Who is your family? (parents, brothers and sisters, relatives, fellows, partners, affairs...) 3) Qual é a origem social e geográfica do seu núcleo familiar de origem? (Estado/cidade,
migrações,
atividade
profissional,
escolaridade,
mobilidade
socioeconômica) Which is the social and geographic origin of your familiar nucleus? (State/city, migrations, professional activity, education, socioeconomic mobility) 4) Seus pais estão vivos? Qual a atividade profissional deles? (emprego formal/informal, aposentado) Are your parents still alive? Which is their professional activity? (formal/informal job, pensioner) 5) Quem está empregado e desempregado no seu núcleo de moradia? Há quanto tempo? Who is employed and unemployed in your familiar nucleus? For how long? 6) Qual é a sua renda familiar? How much is your family income? 7) Agora vamos falar sobre a sua relação com sua família. Como é a sua relação com o seu pai? Now we will talk about your relation with your family. How is your relationship with your father?
8) Como era a relação é a sua relação com a sua mãe? How is your relationship with your mother? 9) Como você vê a relação entre seus pais? (afetiva, carinhosa, conflituosa, cooperativa, etc) How do you see your parent's relationship (affective, affectionate, in conflict, cooperative, etc) 10) Você poderia nos falar como é a sua relação com irmãos e irmãs (incluindo agregados e/ou filhos de novos casamentos entre os pais)? Could you tell us how is the relationship with your brothers and sisters? (including half brothers and sisters) 11) Havia algum parente com o qual mantinha uma relação afetiva mais próxima? Essa relação se mantém até hoje? Como é? Have you had some relative with who you kept a nearest affective relation? Does this relation go on until today? How is it? 12) Alguém de sua família é gay/lésbica/bissexual/trangênero? Is there any gay/lesbian/bisexual/transgender in your family? 13) Como foi a educação que recebeu dos pais? Havia diferenças na educação dada por eles a meninos e meninas? Quais? O que você acha disso? How was the education you received from your parents? Was the education of boys and girls different? On what? What do you think about this? RELIGIÃO - Religion 14) Em que religião você foi criado? A religião era algo importante na sua vivência familiar? On which religion did you grow up? Was religion something important in your familiar experience? 15) Você já mudou de religião? Por quê e por quais já passou?
Have you ever changed your religion? Why and which ones have you already adopted? 16) Com que regularidade você tem freqüentado serviços ou atividades religiosas? (sem contar casamentos, batizados , etc) How often do you frequent religious services or activities? (excepting marriages, baptisms, etc) 17) Qual é a importância da religião em sua vida? Sempre foi assim? How important is religion in your life? Was it always like that? EXPERIÊNCIA ESCOLAR - School experience 18) Fale-me sobre a sua trajetória escolar (ano de ingresso, repetição, interrupção, conflito, freqüentou escolas públicas e/ou privadas, atividades extracurriculares) Tell me about your scholar trajectory (Year of beginning, failures, interruptions, conflicts, public or private schools, other activities) 19) Está estudando atualmente? (o que, onde, escola pública ou privada, está defasado, quem arca com os custos) Are you currently studying? (what, where, public or private school, is unbalanced, who pays the costs) 20) Qual a importância da sua experiência escolar na sua vida social, familiar, afetivo-sexual, etc? Which is the importance of your school experience to your social, familiar, affective-sexual life, etc? 21) Qual a importância da sua experiência escolar no seu projeto de vida? Which is the importance of your school experience for your life project? TRABALHO - Work 22) Você tem alguma profissão? Qual? Do you have any profession? Which one?
23) Você trabalha atualmente ou já trabalhou? (desde que idade, ininterruptamente, quantas pessoas dependem da sua renda hoje, quem são elas) Do you currently work or have already worked? (Since what age, uninterruptedly, how many people depend on your income today, Who are they) 24) Está empregado formalmente? (Onde? Há quanto tempo está nesse emprego? Este emprego é na sua área de formação profissional? A renda obtida é suficiente para subsistência ou conta com outras fontes de renda complementares? Quais?) Are you formally employed? Where? For how long are you in this job? Is this job in your professional area? Is the income enough for subsistence or you count on other sources? Which ones?
25) Está satisfeito com o emprego atual? Por quê? O que deveria ser diferente? Are you satisfied with your current job? Why? What should be different? 26) Em caso de desemprego, há quanto tempo está desempregado? O que tem feito para garantir a subsistência? In unemployment case, for how long have you been unemployed? What have you been doing to guarantee the subsistence? 27) Em que você emprega a sua renda? Em que medida ela é suficiente para satisfazer seus desejos de consumo e quais são eles? What for do you use your income? Is it enough to satisfy your desires of consumption? Which ones are they? 28) Quanto da sua renda você utiliza para o lazer? É suficiente? How much of your income do you use for leisure? Is that enough? DISCRIMINAÇÃO RACIAL E PRECONCEITO (convivência com estigmas, vulnerabilidade, preconceito, relações inter-raciais) - Social and racial discrimination (living with stigmas,. prejudices, inter-racial relations)
29) O que é raça para você? (quando ouve o termo, que idéias surgem para você: ancestralidade, biologia, cor, fenótipo, comportamento, nação, etc) What is race for you? (When you hear this word, what ideas come to you mind: ancestry, biology, color, phenotype, behavior, nation, etc) 30) Em termos de raça/cor, como você se define? Esse é um dado importante para sua autodefinição? In race/color terms, how do you define yourself? Is this an important data for your self definition? 31) Como é a constituição racial da sua família? Como sua família lidava e/ou lida com a questão da raça e da cor? (explorar relações inter-raciais na família e conseqüências). How is the racial constitution of your family? How do and did your family deal with the matter of race and color? (Explore inter-racial relations in the family and their consequences). 32) Há situações em que a sua raça/cor tem sido um dado positivo ou negativo nas relações que as outras pessoas estabelecem com você? (escola, trabalho, família, relações afetivo-sexuais). Are there situations in which your race/color has been a positive or negative data in the relations other people establish with you? (affective-sexual relations, school, work, family). 33) O que é racismo para você? What is racism for you? 34) Onde você acha que existe racismo? Em que situações? Where and in which situation do you think racism exists? 35) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? E no esporte (quais)? E nas artes (quais)? Por quê?
Do you think white, mestizo/colored, black, oriental/yellow and indigenous people have the same abilities/qualities on academic activities? And on sportive ones (which ones)? And on arts (which ones)? Why? 36) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças? Quais? Por quê? Do you think white, mestizo/colored, black, oriental/yellow and indigenous people have the same tendency to develop certain types of diseases? Which ones? Why? 37) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as mesmas chances no mercado de trabalho? Por quê? Do you think white, mestizo/colored, black, oriental/yellow and indigenous people have the same chances on employment market? Why? 38) E nos encontros amorosos? Por quê? And on love-affair dates? Why? 39) Você já presenciou ou ouviu relatos pessoais de casos de discriminação? Qual a sua reação? Have you already witnessed or heard personal reports of discrimination cases? What was your reaction? 40) Você já sofreu algum tipo de discriminação racial? Descreva sua experiência, reações e encaminhamentos. Have you ever suffered any type of racial discrimination? Describe your experience and reactions. 41) Você acha que deveria haver políticas específicas para as chamadas minorias? Do you believe that there should be specific politics for the so called minorities? 42) Você acha que existe racismo no Brasil? Do you think there is racism in Brazil? 43) Você acha que existe racismo na África do Sul?
Do you think there is racism in South Africa? 44) Você acha que existe racismo nos EUA? Do you think there is racism in USA? 45) Qual desses países você acha que é melhor para se viver? Which one of these countries do you think is better to live in? 46) Qual é o melhor lugar para se viver? Qual é o pior? Por quê? What is the best place to live in? What is the worse? Why? SOCIABILIDADE - Sociability. (Atividades de lazer, tipo e local das principais atividades de lazer, uso de equipamentos públicos, identificação com grupos, turmas, tribos, militância). (Leisure activities, type and place of the main activities, social use of public equipment, identification with groups, militancy). 47) Que lugares você freqüenta para se divertir, "paquerar", "azarar", etc? Which places do you go for having fun, flirting, etc? 48) Quem costuma acompanhá-lo nesses lugares? (familiares, amigos, etc) Who usually go to those places with you? (Family members, friends, etc…) 49) Em relação aos seus amigos você tem alguma preferência relativa à: classe (a mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans) cor (mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado,...), religião, característica de personalidade. Por quê? Relating to your friends, do you have any preference concerning with: social class (same, poorer, richer), age (older, younger, same age), scholarship (higher, lower or same level), sexual orientation (gay, lesbian, straight, bisexual, other), color of skin (black, white,
any
other),
body
shape
(thin,
fat,
muscular),
personality.
Why?
50) Como você definiria o seu estilo? Você se identifica com algum grupo, turma ou “tribo” urbana? Qual? E com qual você menos se identifica? (explorar indumentária, gosto musical, etc.). How do you define your personal style? Do you identify yourself with some group, or "urban tribe"? Which one? And with which one do you less identify yourself?
(explore
costume/fashion
preferences,
musical
taste,
etc.).
51) Para você, como são as pessoas que freqüentam o lugar onde convidei-o/a para participar da pesquisa? (categorias de orientação sexual, gênero, classe; cor/raça, estilo) How would you describe people that frequent that place? (In terms of sexual orientation, gender, social class, color/race, style) 52) O que tem de bom (especial)? O que tem de ruim? In your opinion, what is good/special in that place? And what is not? 53) Como é seu estilo de aproximação (amigos, paquera)? How is your approach style to contact people? (for flirting, making friends)? 54) Você já sofreu alguma violência nesse lugar (assalto, tiro, agressão, tortura)? Have you ever suffered any kind of violence in this place (robbery, shots, aggressions, torture)? 55) Como você reagiu? A quem você recorreu? How was your reaction? Who did you appeal for help? 56) Você já provocou algum tipo de conflito? A quem recorreu? Have you ever provoked any sort of conflict? Who did you appeal to help you? 57) Você costuma acessar a Internet? Onde? (tem computador particular?) Com que freqüência? Com que finalidade? Já conheceu pessoalmente algum (a) parceiro (a) ou amigo (a) virtual?
Do you access Internet? Where? (Do you have a private PC?) How often? What for? Have you ever date a virtual partner or met a virtual friend? 58) Você tem páginas pessoais na Internet, como blog ou fotolog? O que o motivou a isso? Você pode fornecer o endereço? Do you have a personal web page, like a blog or fotolog? What have motivated you to do this? Can you tell me the web address? 59) Você esteve ou está envolvido com algum grupo, organização, ou movimento social? Há quanto tempo? Qual? O que o motivou? Have you ever been or are you nowadays involved with any social group, organization or militancy? Which one? What motivated you to do this? RELACIONAMENTOS - Relationships 60) Em relação aos seus parceiros/as você tem alguma preferência relativa à: classe (a mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans), atributo de gênero (mais masculino, mais feminino, como você), cor (mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado, peludo, alto/baixo...), religião, característica de personalidade. Por quê? Concerning with you partners, do you have any preference related to: social class (same, poorer, richer), age (same, younger, older), school experience (someone who studied more or less than you did), sexual orientation (straight, gay, lesbian, bisexual, transgender), gender attribute (more feminine, more masculine, just like you), skin color (darker, equal, clearer), body shape (thinner, fatter, muscular, hairy, tall/short...), personality characteristics. Why? 61) Com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? Por quê? What kind of person would you never be involved with? Why? 62) Que tipos de relacionamentos você normalmente busca? (apenas sexual, ficar, namoro, casamento, relacionamentos monogâmicos ou poligâmicos, etc.). Por que prefere os que mencionou?
What kind of relationships do you usually search? (sexual only, one night standing, marriage, monogamous or polygamous, etc.). Why do you prefer those ones you mentioned? 63) Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de cor e classe). Como reagiu? Have you ever been flirted by someone of your same sex? (explore differences among race and color). How did you react? 64) Você já namorou ou teve algum tipo de relação afetiva com uma pessoa de cor/raça diferente da sua? E classe? Orientação sexual? Escolaridade? Como foi? Have you ever had a boy/girlfriend or any kind of affective relationship with someone with another color/race than yours? And with different social class? Sexual orientation? Education? How was it? 65) Como você descreveria uma pessoa atraente? Você acha que você é uma pessoa atraente? Por quê? How would you describe an attractive person for you? Do you think of yourself as an attractive person? Why? 66) O que você espera em relação a um (a) parceiro (a)? (atributos físicos, morais, éticos, sociais, etc.) What do you expect from a partner? (physical, moral, ethical, social attributes, etc.) 67) O que significa ficar para você? (abraçar, beijar, roçar, por a mão, a boca e transar) What does dating someone mean to you? (to hug, to kiss, to touch with hands, lips, having sex) 68) Onde habitualmente você conhece as pessoas com quem fica, transa, namora? Where do you usually meet people you date or have affair or sex with?
69) O que você faz para chamar a atenção de uma pessoa que você está interessada em ficar/namorar/transar? Quem deve travar o primeiro contato? Por quê? What do you do to get attention from a person you are interested in dating or having affair or sex with? Who should take the first step to make contact? Why?
70) Você considera que há parceiros (as) para ficar e outros (as) para namorar? O que faz com que alguém seja considerado por você uma ou outra coisa? Do you think that there are kind of partners just for one night standing and others to establish stable relationships? Which personal attributes makes you consider someone to be one or another kind of partner? 71) O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E casamento? What do you think about inter-racial love affairs? And marriage? 72) O que você pensa sobre namoro entre pessoas do mesmo sexo. E casamento? What do you think about same sex love affairs? And marriage? 73) Você transa no primeiro encontro? Você usa preservativo? Se usa, o que fazer se o parceiro (a) não quiser usar camisinha? Se não usa, o que faz quando parceiro pede para usar? Do you have sex in first dates? Do you use condoms in these cases? If you do, what would you do if your partner refuses to use a condom? If you don't use condom, what do you do when your partner ask you to use it? CONJUGALIDADE/PARENTALIDADE - Conjugality/Parenthood 74) Tem algum tipo de relação estável? Se não, qual o tipo de relação afetivo-sexual que mantém atualmente? [caso não tenha relação atual, referir-se à última dos últimos 12 meses] Onde vocês se conheceram? Descreva algumas das características da pessoa (cor, classe, sexo, escolaridade) e fale um pouco sobre esta relação (duração; fatos marcantes, etc.).
Do you have any kind of stable relationship? If you don't, what kind of affectivesexual relationship are you currently living? [In case you don't have a current relationship, you can mention the last one in the last the 12 months]. Where did you and your partner meet each other? Describe some of his/her characteristics (race/color, social class, sex, education) and tell me a little about this relationship (for how long did you stay together; memorable facts, etc) 75) O que te atraiu nessa pessoa? What attracted you in this person? 76) Como foram os seus últimos relacionamentos estáveis (legais, traumatizantes, duradouros, rápidos, comprometidos...)? Como eram seus parceiros? How were you last stable relationships like (nice, traumatizing, long-lasting, ended up quickly, compromised/very serious...)? How were your partners? 77) Você usava preservativos nesses relacionamentos? Com que freqüência (sempre, nunca, às vezes)? Por quê (receio: DSTs/Aids, gravidez)? Did you used to use condoms in these relationships? How often (always, never, sometimes)? Why (afraid about STD/AIDS, pregnancy)? 78) Na sua atual relação, você usa preservativo? Com que freqüência (sempre, nunca, às vezes)? Quem definiu a necessidade do uso (ou não uso)? Por que você acha que deve ser assim? In your current relationship, do you use condoms? How often (always, never, sometimes)? Which one of you established it was necessary to use it (or don't use it)? Why do you think it should be like that? 79) Em caso de relação estável e moradia conjunta: Como é a relação com seu parceiro (a) atual em casa? Como as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos (caso tenham) são vividos entre vocês? In case partners have stable relationship and live together: How is the relationship with your current partner at home? How do you share domestic tasks and children care (in case they have children)?
80) Em caso de relação estável sem moradia conjunta: Como é a relação com seu parceiro (a) atual? Como sua família se relaciona com ele/ela? Como seus amigos se relacionam com ele/ela? In case of steady relation without living together: How is the relationship with your current partner? How is your family relationship with him/her? How is your friends relationship with him/her? 81) Você tem filhos? Com que idade você foi pai/mãe? Como eles foram recebidos pelo seu núcleo familiar de origem? Do you have any children? How old were you when you became a mother/father? How were the children received by your family? 82) Os seus filhos foram planejados? Já houve uma gravidez não desejada? Você teve/assumiu o filho? Como se sentiu? Was the pregnancy planned? Did you have already a non-desired pregnancy? Did you assume this maternity/paternity? How did you fell about that? 83) Você acha que os filhos devem ser planejados? Do you think that having babies should always be planned? 84) Como ser pai ou mãe se encaixa na sua vida? Que mudanças isso ocasionou? (explorar o stress social - abandono ou não dos estudos, dificuldade maior ou não de encontrar trabalho, etc). How does being a father or mother fit in your life? What changes had it caused? (explore social stress - school desertion, difficulties to find a job, etc.). 85) Como você se relaciona com seus filhos? Tem diferenças entre filho e filha? How are the relationships with your children? Is there any difference in your treat with a son and a daughter? 86) O que você acha de maternidade/paternidade gay/lésbica? What do you think about gay/lesbian parenthood? 87) Como você imagina uma família ideal?
How do you imagine an ideal family? 88) Você acha importante um filho na vida de um homem? E de uma mulher? Tem diferença em relação a homens e mulheres nesse assunto? Do you think having a baby is import for a man's life? And for a woman's life? Is this subject different between men and women? 89) Se você não pudesse ter filhos adotaria um? Por quê? If you couldn't have children, would you adopt one? Why? EXPERIÊNCIA SEXUAL - Sexual Experience 90) Qual a memória da sua infância em relação a suas vivências afetivas e sexuais? Você tem lembranças significativas relacionadas à vivência da sua sexualidade? How do you remind your childhood, related to your affective and sexual experiences? Do you have any meaningful remembrance related to the experience of your sexuality? 91) De que forma as informações sobre sexo chegaram e chegam até você? Que pessoas (familiares, amigos) e/ou instituições (escola, igreja, meios de comunicação) transmitiram e/ou transmitem tais informações? Quais os mais freqüentes e confiáveis para você? Foram ou são suficientes para esclarecer suas dúvidas? How did information on sex came to you? How do they come nowadays? Who (familiar, friends) and/or which institution (school, church, medias) had transmitted and/or currently transmit such information? Which ones are the most frequent and trustworthy for you? Have they been or are they enough to clarify your doubts? 92) Como seus familiares se comportavam e se comportam em relação à sua vida sexual? How have your relatives dealed and do deal nowadays with to your sexual life? 93) Fale-me sobre sua iniciação sexual: idade, parceiro (explorar se era amigo, parente, vizinho, etc, idade, sexo, parceiro experiente ou não), práticas (carícias, masturbação, relações completas), relação voluntária ou abuso, prazer, receios, uso e motivos de uso de métodos contraceptivos/ DSTs/Aids (de quem foi a iniciativa?).
Tell me about your sexual initiation: age, partner (explore if it was a friend, relative, neighbor, etc, age, sex, partner with or without experience), sexual practices (masturbation, caresses, complete intercourse), voluntary relation or sexual abuse, pleasures, fears, use of contraceptive methods STD/Aids and reasons to use them (Who took the initiative to use them?). 94) Você acha que escolheu a pessoa e a hora certa? Por quê? Se a iniciação for homossexual, como lidou com isso? Quais as conseqüências dessa iniciação na sua vida sexual e afetiva? Do you think you chose the right person and moment? Why? If the first sexual expierence was homosexual, how did you deal with it? Which were the consequences of this initiation in your sexual and affective life? 95) Você já teve ou tem relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de vantagem (financeira, familiar, escolar, profissional)? Em caso afirmativo, como lida ou lidou com isso? Have you already had or do you have any sexual relations intending to get some kind of advantage (financial, familiar, pertaining to school, professional)? In affirmative case, how did you or do you deal with that? 96) Você já foi constrangido (física ou psicologicamente) a ter relações sexuais com alguém? Como isso ocorreu e quem o constrangeu? Como lidou com isso (denunciou ou silenciou-se, quais as conseqüências para vida sexual atual, etc)? Have you already been pressured (physically or psychologically) to have sexual relations with someone? How did this happen and who did it? How did you deal with that (denounced or not, which are the consequences for current sexual life, etc)? 97) Você já constrangeu (física ou psicologicamente) alguém a ter relações sexuais? Como isso ocorreu e quem constrangeu? Como lidou com isso?
Have you ever been (physically and/or psychologically) constrained to have sexual relations with someone? How did this happen and who constrained you? How did you deal with that? 98) Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com quem você transa? Por quê? Do you think it is important to have affective involvement with the person you have sex with? Why? 99) O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas como definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.) What defines a sexual relation for you? (Explore practices that set a sexual relation and the others that are not seen like that: caresses, kisses, touches, oral relations, penetration, etc.) 100) Você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? Já teve algum tipo de relação (completa ou apenas carícias) com pessoas do mesmo sexo? Como lidou com isso? Have you ever felt attracted to a same sex person? Did you ever have any kind of sexual relation (complete or only caresses) with a same sex person? How did you deal with that? 101) Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação (completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso? Have you ever felt attracted to an opposite sex person? Did you ever have any kind of sexual relation (complete or only caresses) with an opposite sex person? How did you deal with that? 102) Fale-me sobre suas últimas relações afetivo/sexuais significativas? (explorar práticas sexuais, desejos, tipo de relação, perfil dos parceiros [orientação sexual, estado civil, idade], satisfação com as relações). Tell me about your recent meaningful sexual/affective relationships? (Explore sexual practices, desires, type of relationship, partners profile [sexual orientation, relationship status, age], satisfaction with these relations).
103) Que práticas sexuais você faz/fez (anal, oral, vaginal [inclusive durante a menstruação?]; usa algum tipo de lubrificante? Explorar também sexo grupal, sadomasoquismo, fetiches, etc.). Com quem faz ou deixa de fazer? Qual (is) as mais prazerosas para você? Which sexual practices have you already experienced and which ones you usually practice with your partners? (anal, oral, vaginal intercourse [including during period?], anal intercourse; do you use any kind of lubricant? Explore group sex, S&M, fetishes, etc.) With who do you usually practice these ones, and with who you do not? Which practices are more desirable for you? 104) Com relação a sua orientação sexual, com qual categoria você mais se identifica (no caso de homo/bi/trans, explorar se assumiu sua orientação sexual e para quem). Concerning to your sexual orientation, which category do you feel more identified with? (In case of non-heterosexual person, explore if he/she publicly assumes his/her identity and to whom has already assumed it). 105) O que é aceitável e inaceitável numa relação sexual? What is and is not acceptable on a sexual relation? 106) Que tipo de prática sexual pode acontecer durante uma relação que você se sente mal, mas não consegue evitar? What kind of practices can happen during a sex relation that make you feel bad about them, but you cannot avoid? 107) Durante uma relação sexual, o que para você é arriscado, mas é gostoso de fazer? During sex, what do you think is risky but good to do? 108) Quantas vezes você transa por semana? How many times do you have sex per week? 109) Você se sente satisfeito com sua vida sexual? O que gostaria de mudar e/ou manter?
Are you satisfied with you sexual life? What would you like to change and/or maintain? 110) No caso de gravidez não planejada, que atitude(s) você já tomou ou tomaria? In case of a non- planned pregnancy, what would you do or already did? 111) Sobre o aborto, é contra ou a favor, e em que casos específicos? Talking about abortion, are you against or favorable to it, and in which specific cases? 112) Já fez aborto ou teve alguma experiência de aborto com alguma mulher? Como foi? Have you ever done any abortion or experienced any abortion of a partner? How was
it
for
you?
GÊNERO E SEXUALIDADE - Gender and sexuality 113) Quais as qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher? Que qualidades, características e comportamentos você admira numa mulher? In your opinion, which qualities, characteristics and behaviors define a woman? Which qualities, characteristics and behaviors that you admire in a woman? 114) Quais as qualidades, características e comportamentos que definem um homem? Que qualidades, características e comportamentos você admira num homem? In your opinion, which qualities, characteristics and behaviors define a man? Which qualities, characteristics and behaviors that you admire in a man? 115) Quais as vantagens de ser homem e ser mulher na nossa sociedade? E quais os limites que cada um experimenta? Which are the advantages of being a man and being a woman in our society? And which limitations are experienced by each one of them? 116) E se homens e mulheres forem gays, lésbicas ou bissexuais ou transgêneros (pessoas que se identificam com o gênero oposto, através do uso de roupas e
comportamentos associados ao sexo feminino ou masculino)? Em que medida isso resulta em vantagens e desvantagens? And if those men and women were gays, lesbians, bisexuals or transgenders? How these categories result in advantages and disadvantages? 117) Em que medida a sua orientação sexual define as maneiras de se relacionar com as pessoas? How does your sexual orientation define the ways you establish relationships with people? 118) O que seu pai e sua mãe lhe ensinaram sobre as diferenças entre homens e mulheres? Eles têm opiniões concordantes ou discordantes entre si? E sobre as diferentes orientações sexuais? What did your parents teach you about the differences between men and women and on the different sexual orientations? Do they share the same opinions? And what did they teach you about different sexual orientations? 119) O que você pensa sobre a virgindade? What you think about virginity? 120) O que você pensa sobre a infidelidade de homens e mulheres? What do you think about men and women infidelity? 121) O que você pensa sobre as mudanças nas relações entre homens e mulheres ocorridas nas últimas décadas, após as conquistas femininas (liberação sexual e acesso ao mercado de trabalho)? What do you think about the changes occurred in the last decades, related to relations between men and women, after the feminine conquests (sexual release and access to the work market)? 122) Tem algum sentimento que algum homem deve esconder de outro homem? [Fazer mesma pergunta para mulheres, adequando gênero na questão].
Is there any feeling that a man should hide/don't express to another one? [Ask women the same, adjusting gender in the question]. 123) Já teve problemas relacionados com ereção (própria ou do parceiro), ejaculação (própria ou do parceiro), impotência/frigidez, insatisfação sexual em algum período da sua vida? Quando? Como lidou com isso? Procurou ajuda? De quem? Isso interferiu em seus relacionamentos? Have you ever had problems related to erection (own or partner's one), ejaculation (own or partner's one), impotence/frigidity, lack of sexual satisfaction in any period of your life? When? How did you deal with that? Did you look for some help? Whose help? Did these problems interfere in your relationships? 124) Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual por um período longo? E quando, numa relação estável, o seu parceiro sem interesse sexual por um período longo? How do you feel and what do you do when you have a lack of sexual interest for a long period? And when, in a stable relationship, your partner have a lack of sexual interest for a long period? SAÚDE E DST/HIV/AIDS: CONHECIMENTO e EXPERIÊNCIAS - Health and STD/HIV/AIDS: Knowledge and experiences 125) Como você cuida da sua saúde? (explorar o histórico de doenças, exames,idas periódicas a consultas médicas, alimentação, exercícios, etc) What kind of healthcare do you usually take? (Ask for a personal historical track of diseases, physical exams, regular visits to doctor, feeding, physical exercises, etc). 126) Quais são/foram suas experiências quanto ao atendimento nos serviços de saúde da rede pública? E da rede privada? Tell me about your own experiences on public and private health services? How were you attended in both? 127) Você já teve alguma doença transmitida por via sexual? (gonorréia, sífilis, cancromole, hepatite B e C, herpes genital,verrugas genitais e corrimentos) Quando e
através de quem? Você já procurou o serviço de saúde para tratamento? De que tipo? Se não, por quê? Você manteve relações sexuais nesse período? Did you ever had any sexual transmitted disease? (Gonorrhea, syphilis, hepatitis B and C, genital herpes, genital pimples [HPV], etc). When did you catch it and who transmitted it to you? Have you ever looked for treatment in public health services? What kind of treatment? If you didn't, tell me why? Did you have any sexual intercourse while you were treating the disease? 128) Em caso de relação estável, seu (sua) parceiro (a) já teve alguma DST? Procurou tratamento? Vocês tiveram relação nesse período? In case of stable partnership, have your partner ever had any STD? Did he/she look for treatment? Did you have sexual intercourses in that period? 129) O que você sabe sobre Aids? What do you know about aids? 130) Você conhece alguém com o vírus da AIDS? (explorar convivência) Do you know someone who is HIV positive? (Ask for the kind of co-living with this/these
person/people).
131) Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Como? Por quê? Que tipo de pessoa ou grupo está mais vulnerável para pegá-lo? Do you think HIV can infect you? How? Why? What kind of people or group is more vulnerable to be infected? 132) O que sabe dos remédios que atualmente são usados no tratamento das pessoas com o vírus da Aids? (explorar percepção sobre o resultado do tratamento - se cura, se melhora, etc., seus efeitos colaterais, preconceito, etc.) Essas informações mudaram seu comportamento sexual? What do you know about medicines available nowadays for HIV/Aids treatment? (Ask for perceptions on treatment results - if thinks they cure, relief, etc, which side effects produce, prejudices, etc). Have these information changed your sexual behavior?
133) Já fez teste anti-HIV? Quando? Onde? Quantas vezes? Por quê? Have you ever been tested for HIV? When? Where? How many times? Why? Could you comment the testing results? 134) Caso seja portador: Segue tratamento regular? Quem sabe sobre a sua sorologia? Qual a reação das pessoas? Isso dificulta seus relacionamentos afetivo-sexuais? Como? If seropositive: Are you currently in treatment? Who knows you are seropositive? Which kind of reaction do people have when you tell them you are seropositive? Does your serologic status interfere in your affective-sexual relationships? How does it interfere? USO
DE
PRESERVATIVOS
(PRESERVATIVO
MASCULINO
E
CAMISINHA FEMININA) - Condom use (male and female condom)
135) Você usa preservativos com pessoas do mesmo sexo? E do sexo oposto? Se Sim, Sempre? Nunca usa? Ou usa ás vezes? Para quem não usa todas as vezes, ou seja sempre, perguntar em que circunstâncias e como define quando e com quem irá usar? Do you use condom in sexual relations with same sex people? And with opposite sex people? If you do, do you always use it? Never use it? Use it sometimes? For those who don't always use it, ask in what circumstances the person use it and how the person defines when and with who will use it? 136) Você usa preservativo em quais práticas sexuais? No caso do sexo oral, você usa preservativo para fazer? E para receber? In which sexual practices do you use condom? In case of oral sex, do you use condom when you do it? And when someone does it in you? 137) Onde você obtém preservativos? Você se sente constrangido em obtê-los? Onde se sente mais e menos constrangido? Where do you get your condoms? Do you feel uncomfortable when you ask for/buy condoms? Where do you feel more and less uncomfortable?
138) Você tem um preservativo com você nesse momento? Para quem é mais fácil portar um preservativo: homem ou mulher? Por quê? Do you have a condom with you right now? For who is it easier to carry a condom: a man or a woman? Why? 139) Já ocorreu algum acidente de rompimento do preservativo? Qual a sua reação? Que providências tomou (lavagem, teste, etc.)? Did you ever experience condom rupture while having sexual intercourse? How did you react? Which procedures did you take (cleaning, tests, etc.)? 140) Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a camisinha? Do you know which procedures are necessary to avoid condom ruptures? 141) Você já utilizou a camisinha feminina?(no caso de mulheres) Have you ever used a female condom? (Ask only for women) 142) Você ou a sua parceira já utilizou contracepção de emergência? Como a obtiveram? Did you or your partner ever take emergency contraceptive methods? How did you get it? DROGAS - Drugs 143) Você bebe? Qual a freqüência? (Onde? Antes ou/e na balada?) Do you drink? How often? (Where? Before or/and at night parties?). 144) Você fuma cigarro? Já fumou outra coisa? (Como, onde, em que contexto?) Você já experimentou lança perfume? Do you smoke cigarettes? Did you ever smoke something else? (How, when, etc.?) Did you ever use poppers? 145) Você já usou alguma droga do tipo maconha, êxtase, ect. Em que situações? Have you done any drugs like marijuana, ecstasy, etc? In which kind of opportunities you did it?
146) Quais as drogas mais usadas nos lugares que você freqüenta? Você usa alguma delas? Which are the most usual drugs used in those places you go? Do you do any of them? 147) Sexo e drogas combinam? (como, quando, com quem e por quê?) Do sex and drugs match? (how, when, with who and why?) 148) Você fica mais solto quando está sob o efeito de álcool, e/ou drogas? Do you feel more self-confident/free when you are drunk or drugged? 149) Como é o seu final de balada? (Se fuma maconha ou se toma algum remédio) How is your chill out? (Ask if the person smokes marijuana or takes any medicine) 150) Usa calmante? Ou algum outro remédio? Do you currently use any sedative? Or use any kind of medicine? 151) Você costuma usar drogas ou álcool antes de fazer sexo? Do you usually do drugs or drink before having sex? 152) Como a droga e ou álcool afeta seu desempenho sexual? How do drugs or alcohol interfere in your sexual performance? 153) Deixou de usar camisinha masculina/feminina quando estava sob o efeito de drogas? Have you ever forgotten using condom when under drugs effects? 154) Você usa/usou Viagra ou algum outro estimulante sexual (poppers)? Você usaria algum medicamento dessa espécie ou gostaria que o seu parceiro usasse? Quando e por que? Do you use or did you ever use Viagra or another sexual stimulant substance (poppers)? Would you ever use this kind of substance/medicine, or would like your partner use it?
155) Qual é a sua relação com drogas?(se usa, com que freqüência, se já interrompeu o uso e voltou a usar ou se largou definitivamente). How do you deal with drugs? (Ask if uses, how often, if already stopped using and started over or quitted definitely). 156) Já fez uso de drogas injetáveis? Se sim, compartilhou seringas, agulhas? Have you ever used intravenous drugs? If yes, have you ever shared syringes and/or needles while using intravenous drugs? 157) Já teve parceiros sexuais que usaram drogas injetáveis? E nas relações sexuais com esse/essa parceiro/a você usou preservativo? Did you ever have any partner who was an intravenous drugs user? Did you use condoms
when
having
sex
with
him/her?
PROJETO DE VIDA- Life Project 158) Quais são os seus projetos de vida? Which are your life projects? 159) Você acha que eles podem se concretizar? Como? Do you believe your plans can come true? How? What shall you do to make them become real? 160) Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje? Por quê? Where do you imagine you're going to be in 10 tears? What do you imagine you'll be doing? Will your life be better than now? Why?
3.2 Perfis dos entrevistados Eduardo 24 anos
Camila 18
Glaucia 23
Jonson esqueci
Jeferson 19
1Lia
esquecí
branco
branca
hetero Superior completo V. 19 negra hetero Colegial completo Celso
hetero Colegial completo Felipe esqueci branco hetero Colegial completo TK
Asc negro negro branca oriental hetero hetero homo bi Superior esqueci Superior Superior andamento andamento andamento Keize Dorinha Sara Chocolate 22 18 18 esquecí negra parda branca negro hetero lésbica hetero hetero Colegial Colegial Colegial Colegial completo andamento andamento completo Camila2 Vitor esqueci esqueci branca branco lésbica hetero Superior andamento
3.3 Relatos de entrevistas não incorporados
Relato A C classifica-se como mulher, branca e bissexual. A entrevista foi realizada no final do mês de março no horário de saída de sua faculdade Anhembi-Morumbi (Unidade do Bresser) às 14:00 horas. Havíamos agendado a entrevista previamente por e-mail. Almoçamos em um restaurante do Brás e logo após iniciei a entrevista no próprio restaurante. C ficou bem a vontade com a entrevista, e em nenhum momento sentiu-se invadida ou intimidada. A entrevistada aliou a questão da raça com a discriminação quanto a opção sexual: Entrevistadora: Há situações em que a sua raça/cor tem sido um dado positivo ou negativo nas relações que as outras pessoas estabelecem com você? (escola, trabalho, família, relações afetivo-sexuais).Explorar se o entrevistado vê vantagens ou desvantagens associadas a cor/raça e orientação sexual .
C: Há uma vantagem sim. Você ser branco. E portanto vai ser bem atendido. Você ir na ginecologista e ser branca e até então não falar que é homossexual (risos) faz toda a diferença ser branca do que ser negra”. Ainda no item discriminação as perguntas abaixo dar margem para respostas politicamente corretas, de modo que as respostas podem ser sempre positiva, quer dizer: existe racismo nos EUA, áfrica do Sul e Brasil. As respostas da entrevistada foram dadas em tom de deboche. Entrevistadora: Você acha que existe racismo no Brasil? C: Existe. Entrevistadora: Você acha que existe racismo na África do Sul? C: Existe. Entrevistadora: Você acha que existe racismo nos EUA? C: Existe. Ainda no item da discriminação, quando se pergunta qual dos países entre Brasil, Estados Unidos e África do Sul é o melhor para se viver, pareceu um pouco sem sentido para a entrevistada, na medida em que me diz que é difícil falar do que não se conhece. Entrevistadora: Qual desses países você acha que é melhor para se viver? C: A oportunidade de conhecer todos esses países é mínima. Eu não conheço nem o Brasil. Acho que conheço só um pedacinho. Poderia falar só do que eu conheço. No item conjugalidade C sentiu muita dificuldade em explicar o que lhe atraiu em sua parceira: Entrevistadora: O que te atraiu nessa pessoa? C: Nossa que foda!!!(risos) acho que é a complexidade, não sei. Eu costumo olhar para uma coisa e não questionar muito meu poder de questionar essas coisas. Como mencionado, C se classifica como bissexual, no entanto, quando entramos nas questões sobre seus relacionamentos parecia falar apenas de suas relações com as mulheres. Perguntei-lhe então se seus parceiros foram homem e depois mulheres.
C: Não necessariamente nessa mesma ordem, mas era relações estáveis, mas os homens sempre foram mais maduros do que as mulheres engraçado né? Não é o que falam. Por fim, C parece possuir uma visão do gênero humano sem separações entre os “sexos”, mas também parece, por outro lado, apropriar-se ao longo de toda a entrevista de um discurso politicamente correto. Entrevistadora: Como você descreveria uma pessoa atraente? C: Pessoa firme com olhar penetrante e firme. Assim integro. Integridade. Daí varia se é extrovertido ou tímido. Pode ser qualquer coisa com tanto que tenha integridade. Esse olhar, essa vontade de olhar as coisas. Entrevistadora: O que você espera de um (a) parceiro (a)? (atributos físicos, morais, éticos, sociais, etc.) C: Bem na questão ética : respeito à vida, acreditar no amor, na transformação, é acreditar no próprio poder. E se não acreditar, permitir conhecer. Mover, vontade de mover de deixar a coisa se transformar e sinceridade. Relato B Encontrei-me com V. no horário de saída de seu cursinho (Objetivo - Un. Paulista), 23:10. Havíamos agendado a entrevista previamente por telefone. Tomamos um lanche no "Black Dog", uma pequena lanchonete em uma trav. da Av. e caminhamos até a minha
casa,
que
fica
próxima
ao
local.
A entrevista foi realizada na sala do apartamento onde moro, o que possibilitou um clima mais intimista. V. ficou bem a vontade com a situação, e empolgada por ser ouvida. Ao final, quando agradeci, ela disse que adorou a experiência e uma semana depois, ela me ligou para saber o que os pesquisadores acharam das "abobrinhas" que havia dito. O diálogo transcorreu espontaneamente. V. teve dificuldade em compreender alguns termos das perguntas: -
Quem é sua família de origem?
-
Você já foi constrangido (física ou psicologicamente) a ter relações sexuais
com alguma pessoa? Entretanto, a segunda pergunta modelada de outra forma permitia a retomada breve de seu discurso. Acredito que a entrevista teve um ótimo aproveitamento, pois obtive respostas que levantaram questões interessantes para pensarmos a instabilidade das categorias pesquisadas. Por exemplo: - Bom, agora a gente vai mudar um pouquinho de assunto. O que você considera como raça? Se você tivesse que definir, quais idéias surgem na sua cabeça? Olha, raça eu acho que eu defino mais como cultura, eu acho que raça hoje em dia é mau definida, as pessoas definem raça por cor, por cabelo – se o cabelo é crespo, se é liso, se a pessoa é branca, ou preta, se ela é lésbica... Eu acho que tá mau definido, acho que raça é definida por cultura, em geral. E as pessoas se chocam quando a pessoa é diferente demais delas, assim, eu definiria raça por cultura. Por exemplo, uma pessoa que mora no Japão, eu vou me assustar um pouco com ela não por ela ser amarela e ter o olho puxado, mas porque ela tem costumes totalmente diferentes dos costumes que eu tenho. Eu posso me adaptar, não sei, posso entender o hábito dele, se ele gosta de andar descalço na casa dele, eu não vou discriminar ou entrar de sapato na casa dele porque na minha terra a gente num tem esse hábito. Acho que a gente pode se adaptar a certas coisas, a outras não, acho que as pessoas tem que entender. Eu não defino raça por cor, acho que nesse ponto não faz a menor diferença, ser preto, branco, amarelo, não faz a menor diferença, se o cabelo é bom, ruim, enrolado, liso, pra mim não tem diferença. - E pra você, pra maneira que você define quem você é, qual a importância da sua raça?
Putz, essa eu vou ter que pensar. A importância da minha raça, acho que eu nunca pensei nisso. - Mas você acha que é uma coisa importante pra sua autodefinição?
Não, não muito, não acho que não seja muito. Acho que na minha definição o que conta não é raça, eu brinco muito que eu tenho um pezinho na senzala, porque eu sou branca de cor, tenho o cabelo crespo, a bunda grande, o lábio carnudo, então tenho os dois pés na senzala. Minha mãe é negra de pele, meu pai é que é, eu sou parda, sabe aquela pessoa que não vai nem fica? Daí eles colocaram esse nome, é pardo. Não conta muito isso pra mim, nunca pensei no que a raça influencia. Minha mãe me disse uma coisa um dia desses, que ela fica muito feliz pelas filhas dela, minha mãe também é branca de pele, e ela fica muito feliz por ter tido filhas brancas. Aí eu perguntei pra ela “mas por que mãe?”, e ela disse que o negro hoje em dia ainda sofre muito preconceito, só que hoje em dia tá uma coisa mais abafada né, tão sendo mais sutis, mas sofre preconceito do mesmo jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade, acho que por eu nunca ter sofrido esse tipo de preconceito com relação a minha cor eu nunca tinha atentado pra esse lado da coisa, mas a minha mãe falou que, por exemplo, minha mãe com a minha irmã na rua, perguntaram se ela era babá da minha irmã, não passava pela cabeça que a minha mãe era mãe de uma menininha branca, do cabelo liso, cacheado. O cabelo da minha irmã é liso, cacheado, puxadinho pro loiro. Então acharam que ela fosse babá da minha irmã, já olharam meio torto minha mãe entrando no ônibus, isso minha mãe contando assim... Comigo não era tão diferente porque eu tenho cabelo crespo, então não é uma coisa tão, né, mas a minha irmã não, além de ela ser branca de pele ela tem o cabelo liso, então as pessoas ficam meio, já olharam meio torto, meio como quem diz assim “tá seqüestrando a criança? O que uma mulher dessa cor tá fazendo com uma menininha tão branquinha, bonitinha, né?”. Raça é... eu acho que tá por fora, acho que é besteira essa coisa de pessoas... Eu não posso dizer que eu não sou uma pessoa preconceituosa, eu já me peguei com preconceito, a gente acaba não encarando como preconceito, mas se você parar pra pensar, você tem preconceito com uma pessoa feia, então você já olha pra ela meio assim, isso é preconceito, todo mundo tem preconceito. Acho que as pessoas tão preocupadas em dividir muito as coisas, assim, eu acho isso bobagem, acho que a gente perde muita coisa, acho que a gente devia mais é se interessar em aprender, aprender os costumes, aprender a conviver, aprender... Eu acho que nós seríamos seres humanos melhores. Mas é um pensamento muito idealista, uma coisa meio sonhadora, isso nunca aconteceu, não vai acontecer hoje, acho que não mudaria mais, infelizmente.
- Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? Acho que sim, eu acho que a cor da pele não vai influenciar em nada no QI da pessoa. - E no esporte? Também, também, eu acho que é a mesma coisa. Eu acho que pode haver até uma certa diferença porque alguns são mais fortes que os outros, pela descendência, pela forma de criação... Por exemplo, o negro é uma pessoa um pouco mais, mais resistente, o índio eu creio que sim também. O branco já é uma pessoa mais frágil. Não que todos sejam, não é uma coisa assim, não é todo negro que tem porte atlético e não é todo branco que é magrelo, mirradinho, mas eu acho que influencia pelas gerações, pelos antepassados, pelas formas de vida também. - E com relação à orientação sexual, você prefere que sejam heterossexuais, homo...? Eu não prefiro, eu só não sei como agir com homossexuais por não ter muitos amigos homossexuais, não por ter alguma coisa contra, mas eu não sei como agir, eu não sei o que falar, não sei se vou ofender em algum ponto, porque é uma classe tão discriminada que eu fico com medo de falar uma coisa assim que, mesmo que eu esteja falando sem maldade nenhuma a pessoa me interprete mal e fique chateada comigo. Então eu fico um pouco sem ação assim, eu vou bem devagarzinho com eles, com as pessoas que eu conheço que são homossexuais. - Você tem mais amigas mulheres ou amigos homens? Olha, amigo, amigo assim, no sentido verdadeiro da palavra, eu não tenho muitos, mas são mulheres. Mas eu me dou melhor com os homens, eu sei agir melhor com eles, mulher é uma coisa muito complexa, muito complicada, e mulher é uma coisa assim, eu acho que a gente tem inveja uma da outra, por mais que a gente gosta a gente acaba invejando. Eu tive uma amiga, a Talita, que foi minha amiga nos tempos de escola, inseparável, a gente se conheceu aos nove anos e se separou quando eu mudei de escola, dos 14 pra 15, e foi assim, a gente viver esse período, dos nove aos 14, 15, grudadas, todas
as experiências que a gente passou, 1º beijo, é, 1ª decepção amorosa, essas coisas que adolescente passa, então a gente tinha dia da gente se pegar porque eu tava bonita demais e ela não gostava e vice versa, a gente não falava, mas sabia, tinha dia que o cabelo dela tava bonito demais e eu já me sentia ofendida com a beleza dela, assim... Então é mais fácil lidar com homem, eles são mais despreocupados e não ligam pra esse tipo de cosia, é só você impor um certo limite e pronto, é muito mais fácil. - E em relação a orientação sexual dos seus parceiros? Hoje em dia eu prefiro que eles sejam heterossexuais, mas já tive a minha fase meio confusa. - O que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas do mesmo sexo? Ah, isso é uma coisa que eu não tenho profundo conhecimento. Eu não ligo, mas eu não acho normal. Eu não trataria mal uma pessoa que é homossexual, como eu disse lá no começo eu fui criada numa família evangélica e no evangelho foi criado Adão e Eva, num foi criado Adão e Adão, Eva e Eva. Acho que é uma coisa que a gente já quis mudar demais e daí já ficou uma certa... É uma coisa que eu não compreendo muito, então não tem como eu falar... Mas acho que quando a pessoa se gosta, se ela for homem, ou se ela for mulher, eu acho que não tem problema, é ótimo, se tem amor, sentimento, não faz diferença. - Você tá namorando como você falou, né? E vocês se conheceram no trabalho, como você disse... Fala pra mim algumas características dessa pessoa com quem você namora e um pouquinho sobre essa relação, há quando tempo vocês estão juntos coisas que marcaram e tudo mais que você quiser contar... Ai, eu vou babar um ovo... A gente tá junto há um ano, mas na verdade a gente tem um relacionamento meio complicado, porque e tinha acabado de terminar um relacionamento com um cara que não tinha caráter nenhum, então eu tava arrasada, despedaçada, diminuída, eu não sabia se queria homem ou queria mulher, eu tava meio desiludida da vida, assim, e, era uma fase que eu falei que nunca mais ia me apaixonar por ninguém. Aí ele apareceu e chegou de um jeito errado, assim, me abordou de um jeito errado, porque a gente trabalhava junto e eu era, tinha muito poucas mulheres na empresa, e homem quando quer ser sutil ele é, mas quando não quer é uma loucura, são os
mais grossos possíveis! Então ele vinha com brincadeiras muito vulgares, acho que uma visão de mim, tinham passado uma visão de mim pra ele que eu era uma mulherzinha qualquer, vamos dizer assim, e as pessoas nem me conheciam, isso que eu acho engraçado, mas pensavam “ela é novinha, então o negócio dela é zoar!”. Então ele chegou em mim de um jeito errado. Ele me contou, eu tava muito frágil, e um dia ele ligou no meu telefone e perguntou se tava tudo bem... Após contar sobre sua relação com o seu ex-namorado, a quem se refere como "traste", a entrevistada ficou nervosa e fizemos uma pausa para tomar alguma coisa. Após a pausa retomamos com questões sobre uso de preservativo e a conversa continuou no mesmo rítmo, mas por volta de meia hora depois o rendimento foi caindo (um pouco pela extensão da conversa e um pouco pelo cansaço em virtude do horário). Ainda assim, mais questões/respostas me chamaram a atenção na segunda parte. - E a camisinha você usava, ou quando você usa, você usa por que? Na verdade a gente devia pensar mais nas doenças, o objetivo maior da camisinha é esse, mas eu uso mais por conta da gravidez, acho que me assusta mais, engraçado isso né, é idiota, mas me assusta mais ficar grávida do que pegar uma doença, é uma coisa que eu penso mais. - E no seu atual namoro, quem definiu que vocês iam usar o anticoncepcional e não a camisinha, e por que? Os dois, porque a camisinha incomodava, foi um negócio incomodo. Eu acho que é bobagem, nunca achei que fizesse diferença, mas é uma coisa muito carnal, como a gente tinha muito sentimento, a gente acabou definindo que, sei lá, sem a camisinha era uma coisa mais livre. - Você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? Já, já. - E como foi a relação ou as relações que você teve com essas pessoas? Você teve relação sexual...? Relação sexual eu já tive, foi estranho, eu nunca me apaixonei por uma pessoa do mesmo sexo, eu me senti atraída já. Sei lá, era uma coisa de carne, pura assim... E um dia
eu tava com a pá meio virada e encontrei essa pessoa e aconteceu, a gente conversando e falando um monte de besteiras, e rolou... Eu não gostei muito, assim, e não sei dizer exatamente se foi porque a pessoa era do mesmo sexo ou porque eu não gostava da pessoa, não, assim, não sentia nenhum afeto por ela. Não foi muito feliz. - E durante a relação sexual, o que é arriscado, mas é gostoso de fazer? Transar sem camisinha, transar sem camisinha é arriscado, mas é gostoso de fazer. - Quais as qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher? Nossa, que pergunta difícil! Eu acho que mulher, mulher é corpo, mulher é forte, na sua grande maioria nós somos fortes, assim, a gente aguenta trancos muitos grandes, a gente é mãe, a gente é pai muitas vezes, a gente é alicerce da família. Eu acho que mulher é definida como força. Acho que mulher é um ser forte, acho que essa é a definição. A gente aprende muita coisa pra poder suprir as necessidades dos outros, eu acho que mulher se doa muito, porque na verdade eu acho que a gente foi criado nessa intenção né, e por mais que a gente tente mudar isso, não é que a mulher tente crescer... Eu acho que é burrice isso, eu tava pensando um dia desses, a mulher lutou, lutou, lutou pra chegar no ponto onde o homem chegou, e pra que? Pra exercer os dois papéis? Porque a gente sim, a gente faz o que o homem faz, mas não são todos os homens que fazem o que a gente faz, então a gente tem uma, a gente tem que fazer duas coisas, fazer o papel de mulher, aquela dona de casa, que cuida do marido, cuida dos filhos, e aquela empresária, que cuida da empresa... Então a gente acabou se sobrecarregando com essa nossa idéia de igualdade. - E que qualidades, características e comportamentos que definem um homem? E quais delas você admira num homem? Eu acho que o homem é protetor, assim, ele tem com o sua maior obrigação, não sei se é essa a palavra, proteger. Ele se sente, esse é o papel dele, proteger. Ele tenta pôr a ordem, na verdade ele "acha" que põe né, ele põe ordem, na verdade ele põe ordem e a gente administra, ele dita a regra, mas a gente administra, a gente faz acontecer, eu acho que é assim que funciona, os dois lados se completam. Eu acho que o homem também é forte, eu acho que não tão forte quanto a mulher, acho que o homem não suportaria pressões que uma mulher consegue suportar, mas acho que ele suporta certas coisas que pra gente seria muito complicado.
- Quais as vantagens e os limites de ser homem ou de ser mulher na nossa sociedade? Ai, eu sou meio, eu acho que ser homem tem muitas vantagens e eu acho que ser mulher não tem tantas, ainda hoje. Então eu acho que ser homem tem mais vantagens, desde as masi bobas até as mais invisíveis, tem essa coisa de a mulher fazer a mesma coisa que o homem e ganhar menos do que ele, e, homem faz xixi em pé, que é uma enorme vantagem, é... Também pode ter várias namoradas que ele é o gostoso, e mulher se tem três já é galinha, né, "ela não presta, essa daí, ó cuidado!". Por mais que as pessoas tentem mostrar que não, que liberou geral, é mentira, uma mulher nunca vai ser vista como boa coisa se ela beijar a boca de quem ela bem entender. Eu acho que tem várias coisas, assim... - Você costuma ir na rede pública ou rede privada? Quais foram suas experiências? Nossa, eu já fui nas duas, na pública você se sente meio saco de batata. Eu tive uma, uma vez eu fui ao médico porque tava com ujma dor de cabeça muito forte, e e fiquei quase uma hora sentada sentindo que o mundo tava sobre minha cabeça e ninguém me atendia. Pra ir no ginecologista você marca, você fica dois dias esperando, então você se sente meia nada, assim. Acho que já na rede privada é outra coisa, a primeira vez que eu fui eu achei um barato, quando eu fui no ginecologista eles me deram uma camisolinha pra vestir, eu achei aquilo tão chique, aquele lençolzinho que cobre as tuas pernas e impede que você veja o que o médico tá vendo, nossa, achei aquilo o máximo, o máximo, assim, achei um espetáculo. E no médico, no hospital, eles pedirem os exames e você fazer os exames ali mesmo, ótimo! É bem diferente, bem diferente, é triste, mas... - Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Acho que qualquer pessoa está sujeita, hoje em dia não existe mais o grupo de risco que existia antes. O vírus tá por aí, tá dando nas pessoas mais normais, que você num diria... Até criaram o ditado "quem vê cara não vê AIDS", né?
Relato C
F. é um homem branco e heterossexual. Tem o segundo grau completo, é solteiro e acredita em Deus, embora não siga nenhuma religião. Mora no bairro do Jaraguá, mas também circula pelo centro, onde trabalha e em Pirituba. Atualmente está empregado como suporte técnico do Speedy e faz “bicos” como músico em casas noturnas. Nos conhecemos numa tarde de sábado em frente a Galeria do Rock e na quarta-feira seguinte nos encontramos no mesmo lugar no final da tarde para que ele fosse entrevistado. Embora não siga nenhuma religião, F. teve uma criação católica, acredita em Deus e nos valores transmitidos pela Igreja. Sua resposta sobre a influência de suas crenças na decisão de ter ou não relações sexuais e com quem ter as mesmas é ilustrativa. Ele namorou quatro anos uma moça com a qual teve a sua iniciação sexual no final do relacionamento, pois ambos gostariam de casar virgens.
Hoje ele tem um posicionamento diferente,
mostrando-se menos disposto a não ter relações sexuais. Entrevistadora: Ahan. Agora você não... F.: Agora eu já não penso mais dessa forma. Quer dizer, na verdade eu sei que isso tá errado, mas eu faço. (ri) Entrevistadora: (ri) Entendi. Você abriu mão de deixar de fazer mesmo... Mas você acha que o certo é não ter relação antes do casamento? F.: Não! Eu tenho certeza que o certo é esse. A gente tenta se enganar, eu acho. O ser humano tenta se enganar mas isso é certo. Como a maior parte dos outros entrevistados, F. associa a idéia de raça à de cultura e conceitua racismo como algo mais amplo do que somente preconceito racial. Entrevistadora: Bom, a gente vai falar de discriminação racial e preconceito de modo geral. O quê que é raça, pra você? Assim, quando você ouve essa palavra quais são as idéias que surgem na sua cabeça? F.: Umas pergunta difícil, né?! Eu não sei. Realmente, é de onde a pessoa veio mesmo. Não sei, pra mim, raça é uma coisa de cultura mesmo e não de cor, eu acho. Entrevistadora: E... o que é racismo pra você?
F.: Racismo é um negócio complicado. Eu acho que é qualquer tipo de discriminação não só dependente de raça ou de cor, também de condição social e coisas sexuais. Tudo é racismo. Quando você tenta julgar uma coisa sem conhecer. Entrevistadora: Em quê que situações cê acha que existe racismo? F.: Racismo?! Bom, existem racismos dentro do serviço, claro. E até com mulheres existem racismos. Até com as mulheres existe racismo, a pessoa subiu daí dizem: ‘Ah, não. Ela fez alguma coisa pra subir.’ Rola muito isso. Com meus amigos também. Dependendo do que o cara fala ou , de repente, viu um outro cara ali, o pessoal se afasta. E umas coisas desse tipo. F. prefere namorar a ficar, mas afirma que atualmente está difícil encontrar alguém, pois as pessoas em geral são infiéis na sua opinião. Entrevistadora: E que tipo de tipo de relacionamento você procura? Assim, só relacionamento sexual, ficar, namorar? F.: Varia da época, né?! (ri) Bom, na verdade, eu gosto de namorar mas, hoje em dia, é difícil você encontrar uma pessoa que tenha as mesmas idéias que você e você fique bem em ficar. Então, ultimamente, eu tô ficando e tendo relações sexuais. Entrevistadora: Mas por que você acha que tá difícil encontrar alguém pra namorar? Mesmo você preferindo namorar. F.: Eu acho que as pessoas pararam de se valorizar, na verdade. Se eu já não... Como é que chama?! Não tem como você confiar, mais, nas pessoas, na verdade. Elas não se dão mais respeito então não tem como você confiar. Então relação à dois é à dois e não à três ou à quatro ou à cinco. Conforme a sua educação católica, F. tem uma posição contrária ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entrevistadora: E namoro, ou casamento, de pessoas do mesmo sexo? F.: Hum. Bom, como eu te disse, eu acredito em Deus e tive uma pequena instrução no sentido religioso. Não acho legal. Pelo que eu sei, Deus não aceita isso, então não acho legal.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. F.: Casamento não. Eu acho se já tá junto na precisava. Casamento é um negócio sério. Entrevistadora: Entendi. Namorar, tudo bem, mas casar, não?! F.: É complicado, né?! Porque casamento começou, eu acho, que à partir da bíblia então... na bíblia também ta contra casamentos de pessoas do mesmo sexo. O entrevistado pareceu um pouco confuso em relação aos métodos de prevenção de DSTS. Às vezes deixa de usar a camisinha, mas faz teste anti-hiv no dia seguinte quando isso acontece. Entrevistadora: Entendi. E quando você transa no primeiro encontro você usa camisinha? F.: Normalmente, sim. (ri) Entrevistadora: (ri) Mas ja deixou de usar?! F.: Já. (ri) Mas eu fiz exames no outro dia. Entrevistadora: No outro dia?! F.: Isso mesmo! (ri) F. também se mostrou contrário à paternidade gay e a maternidade lésbica, justificando que isso pode interferir no crescimento “normal” da criança.
Entrevistadora: O quê que você acha da paternidade gay ou da maternidade lésbica? F.: Bom, sinceramente, eu acho que pode interferir no crescimento normal da pessoa. Que nem uma pessoa que nasce dentro de uma família hetero, deve, sim, ser hetero, ou homossexual, ou bissexual, o que ela quiser ser, entendeu?! Mas, normalmente, você nascendo numa família hetero você acaba sendo hetero. A grande maioria, na verdade, é. Eu acho que a maioria das pessoas que acaba nascendo numa família desse tipo vai ter influências a ser homossexual. Entendeu?
Chamou a atenção a definição do entrevistado de mulher e o que qualifica como a “meta” desse gênero. A respeito das mudanças na relação de gênero, F. afirma estar satisfeito com a liberdade sexual obtida pelas mulheres. Entrevistadora: Vamos começar pela mulher. Quais qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher? F.: Cara, eu acho que essa é a mais difícil de todas. Como é que se define uma mulher?! Hoje em dia as coisas tão juntas. Hoje melhorou bastante porque, antigamente, a mulher queria se comparar, muito, ao homem. O mercado de trabalho já deu uma igualada. Não totalmente mas são mais ou menos iguais. E... Hoje em dia a meta delas mudou, né?! Não é mais alcançar o homem. Elas tentaram tanto isso que elas já estão quase virando homem. Então, eu acho que a meta agora é, realmente, da mulher, hoje em dia, é ficar mais bonita. Normalmente é isso. Eu acho que elas estão mais ligadas no corpo e na área de trabalho delas, também. Mas tão mais ligadas no corpo. Agora, homem?!... A meta no que mesmo?! Entrevistadora: Ahn... Ahan. Entendi. E sobre as mudanças, assim, que aconteceram nas relações entre os homens e as mulheres, nas últimas décadas, o quê que você pensa sobre isso? F.: Bom, é... Pros homens não mudou tanta coisa. Na verdade, as mulheres hoje vivem mais com prazer. Antigamente, nem sempre todas as mulheres tinham isso. Hoje elas têm mais essa opção de... Mas eu acho que hoje, pelo menos, entre os meus amigos, pelo menos, pelo que a gente fala de tudo. Eu acho, realmente, interessante as mulheres sentir prazer. É legal pro nosso ego, também. Então eu acho que essas mudanças fizeram bem. A resposta afirmativa de F. sobre problemas de ereção e sua justificativa de que isso só aconteceu em ocasiões em que estava bêbado abre discussão para a questão da “virilidade”, da “potência” do gênero masculino. Entrevistadora: E você já teve algum problema com ereção, ejaculação, impotência ou insatisfação sexual em algum período, assim, da sua vida? F.: Não, eu acho que não. Não sei. É lógico que... não sei. Impotência?! Eu acho que, talvez, sim. Teve dias que eu bebi demais e, realmente, foi difícil.
Como afirmado anteriormente, o entrevistado às vezes deixa de usar camisinha. Ele afirma que a camisinha masculina prejudica a relação sexual e faz testes anti-hiv sempre que deixa de usar. Segundo ele, a camisinha feminina é preferível por assemelha-se mais a uma relação sem proteção.
Entrevistadora: Mas você acha que foi por causa da bebida? F.: Não, eu tenho certeza que foi por causa da bebida, nesse caso, mas... Porque eu, realmente, estava deselegante, mesmo. Entrevistadora: Deselegante?! (ri) F.: Deselegante... (ri) Então eu acho que eu sou muito novo, ainda... Mas é bem provável que eu ainda tenha. Entrevistadora: E... Você já fez teste anti-hiv, né?! F.: Já. Entrevistadora: Quando, quantas vezes, por quê que você fez...? Essas coisas... F.: Então, eu tava namorando há quatro anos e a gente fez de seis em seis meses. Então a gente fez oito vezes daquela vez. Depois disso que, como tem um ano... mais de um ano que eu tô solteiro, sei lá, umas... quinze vezes. Entrevistadora: Jura?! F.: Juro. Pra ter certeza. (ri) Entrevistadora: (ri) Sim. E... Bom, sobre preservativo. você nunca teve relação com alguém do mesmo sexo, né? Tá. Mas com as pessoas do sexo oposto você usa às vezes, sempre, nunca? F.: Normalmente eu uso sempre, né?! Se formos pensar em termos de sempre, eu fiquei quatro anos com uma pessoa que nem utilizava. Sinceramente é chupar... comer pipoca sem sal e chupar bala com papel mas... Normalmente eu uso.
Entrevistadora: (ri) Em que circunstâncias que você não usa? Só quando você tava namorando? F.: Quando eu tava namorando e quando realmente não dou pra comprar e, também, não dou pra parar. (ri) Entrevistadora: E... Onde você adquire preservativos? F.: Eu compro. Entrevistadora: Ahan... E você costuma ter vergonha de comprar? Ou é tranqüilo? F.: Não.. É tranqüilo. Eu acho que é mais difícil pra mulher, até. Entrevistadora:Nesse momento, você tem um preservativo com você? F.: Tenho... (ri) Depois daquele dia eu fui obrigado... Entrevistadora: (ri) Tá... Um minuto. você acha que é mais fácil ter preservativo pra um homem ou pra uma mulher? F.: Eu acho que é mais fácil prum homem. Entrevistadora: É?! Por que você acha que é mais fácil pra homens? F.: A gente compra e é tranqüilo. Normalmente uma mulher tem vergonha de entrar numa farmácia e pedir preservativo. Apesar de eu achar que o preservativo feminino é mais interessante. Entrevistadora: É?! Cê já usou? Tipo, sua parceira, né, no caso. F.: É, eu nunca usei... (ri) Entrevistadora: Não. Com certeza mas você já usou com alguém? F.: Já, já usei. Eu acho que, realmente, parece mais com o real. Tem um lance de temperatura, né... O entrevistado relata sua experiência sexual após ter usado ecstasy. Entrevistadora: É?! F.: Agora ecstasy não. Eu tenho certeza. Ecstasy eu sei que ajuda. Entrevistadora: Por quê? Você chegou a ter uma relação onde você tinha tomado?
F.: É... Em posso dizer que ajuda. Agora... Entrevistadora: E como foi ter uma relação assim? Você disse que tinha tomado esctasy e teve uma relação. Como foi, qual a diferença? F.: Bom, você não sente cansaço. Você não sente cansaço mas, realmente, você não tem muito prazer também, né?! O álcool, em sua opinião, pode ser um aliado da relação sexual quando consumido moderadamente. Por outro lado, como já havia mencionado, em excesso ele dificulta a mesma. Entrevistadora: Como que você acha que o álcool afeta o seu desempenho sexual? F.: Bom ,não sei. Na verdade eu não sei. Já tive vezes que, realmente, afetou muito, quando você bebe demais. Quando você bebe pouco eu acho interessante, em vários sentidos. Um dos sentidos é que, realmente, faz você demorar pra gozar. E isso também é interessante pra mulher. Então quando você bebe pouco é, até, interessante. Agora, quando você bebe muito... Deixa pra lá. Ainda sobre as questões da “virilidade” e da “potência”, o interesse de F. em experimentar o Viagra dá margem à discussão . Entrevistadora: E você já usou algum estimulante sexual? Ou Viagra, ou algum do tipo? F.: Ainda não. Mas eu queria utilizar pra ver qual que é. Eu tenho curiosidade mesmo. (ri) Eu queria saber como é trinta e duas horas... Entrevistadora: Sério?! (ri) Mas por que você queria experimentar? Por ter um efeito mais longo? F.: É... Pra ver qual é o efeito.
3.4 Entrevistas transcritas até a entrega do presente relatório Entrevista com Camila(2)
Você pode nos dizer com quem você mora atualmente? Com
meus
pais.
Sou
filho
único.
Minha
mãe
meu
pai
e
eu.
Você sabe qual é a renda do seu núcleo de moradia? Bem uns 10 mil reais Qual é a origem social e geográfica do seu núcleo familiar de origem? (Estado/cidade,
migrações,
atividade
profissional,
escolaridade,
mobilidade
socioeconômica) São todos paulistas, mas, eu sou descendente de italiano né? Meus pais nasceram
aqui.
Minha
mãe
tem
faculdade
de
publicidade,
mas
ela
não
trabalha, e meu pai terminou o terceiro colegial, mas é empresário. Minha mãe não quer trabalhar.
Agora vamos falar sobre a sua relação com sua família. Como era a relação com seu pai na sua infância? Como é hoje? Ele foi meio ausente eu não me dou muito bem com o meu pai. E minha mãe é tudo. Vocês conversam sobre seus problemas? Não.
Como você vê a relação entre seus pais? (afetiva, carinhosa, conflituosa, cooperativa, etc) Ah sei lá, minha mãe é muito atenciosa. com ele mas eu não sei se existe amor entre eles. Havia algum parente com o qual mantinha uma relação afetiva mais próxima? Essa relação se mantém até hoje? Como é? Uma tia minha.
Qual a cor/raça do seu pai/mãe? Brancos. Como foi a educação que recebeu dos pais? Havia diferenças na educação dada por eles a meninos e meninas? Quais? O que você acha disso? Eu fazia o que eu queria era muito mimado. Eu acho isso uma bosta. Mora com seu núcleo familiar de origem atualmente? Sim.
RELIGIÃO - Religion
Em que religião você foi criado? A religião era algo importante na sua vivência familiar? (explorar se o entrevistado tem outras crenças, por exemplo a crença em astrologia, em duendes, etc.) Espírita.
A
atual
religião
é
a
espírita.
Frequento hoje uma vez por mês, tô meio ausente. Mas eu trabalhava até antes. Com Não
o é
bem...é
espiritismo
e
energização
espiritismo? através
da
luz
e
das
cores.
É diferente, é muito louco. Chama Reencontro. E como que é hoje? Era importante e é até hoje Você já mudou de religião? Nem fudendo.
EXPERIÊNCIA ESCOLAR – Educational experience
Fale-me sobre a sua trajetória escolar (ano de ingresso, repetição, interrupção,
conflito, freqüentou escolas públicas e/ou privadas, atividades extracurriculares) Nunca repeti, nunca fiquei de recuperação e também nunca estudei. Eu ia bem apesar de não estudar. Mas nunca peguei num livro. Estudei em colégios particulares. Eu fiz inglês por um tempo. Me formei em capoeira, fiz dez anos, mas três anos de Jiu Jitsu. Fiz
seis
anos
de
natação.
Minhas despesas são pagas por meu pai. Está estudando atualmente? (o que, onde, escola pública ou privada, está defasado, quem arca com os custos) Sim faço Turismo no Senac, meus pais que arcam com os custos. Qual a importância da sua experiência escolar na sua vida social, familiar, afetivosexual, etc? Na minha escola? na minha escola? serve pra porra nenhuma ! É só pra encher
lingüiça.
escola
me
Nem
serviu.
Eu
a
prova usei
pra
que
biologia,
eu
fiz
hoje
matemática.
porra
na O
facul, resto
de não
história me
a
serviu
nenhuma!
-Da escola só as boas lembranças. Pra mim escola não serviu pra nada sinceramente.
TRABALHO – Jobs and occupations
Você tem alguma profissão? Qual? Sou promotor de eventos. Você trabalha atualmente ou já trabalhou? (desde que idade, ininterruptamente, quantas pessoas dependem da sua renda hoje, quem são elas) A renda obtida era suficiente. Hoje eu não estou trabalhando, mas se você estiver bem empregado você não precisa de mais nada.
Em que você emprega a sua renda? Em que medida ela é suficiente para satisfazer seus desejos de consumo e quais são eles? A minha renda eu só gasto em balada, festa, com meus bichos, não tenho nada pra pagar, drogas, e não é suficiente eu preciso de mais. Quanto da sua renda você utiliza para o lazer? É suficiente? Não.
DISCRIMINAÇÃO RACIAL E PRECONCEITO (convivência com estigmas, vulnerabilidade, preconceito, relações inter-raciais) –
O que é raça para você? (quando ouve o termo, que idéias surgem para você: ancestralidade, biologia, cor, fenótipo, comportamento, nação, etc)
Humana. Eu acho que não existe raça, raça é só uma a humana. Como é a constituição racial da sua família? Como sua família lidava e/ou lida com a questão da raça e da cor? (explorar relações inter-raciais na família e conseqüências). São brancos!! (cara de óbvio!). Em termos de raça/cor, como você se define? Esse é um dado importante para sua autodefinição? Não nenhum pouco.
Há situações em que a sua raça/cor tem sido um dado positivo ou negativo nas relações que as outras pessoas estabelecem com você? (escola, trabalho, família, relações afetivo-sexuais). Explorar se o entrevistado vê vantagens ou desvantagens associadas a cor/raça e orientação sexual . Influi,
por
causa
da
visão
da
sociedade
e
não
da
minha.
Vantagens e desvantagens? Depende da pessoa que você está se relacionando.
O interesse que você tem nela e ela em você. Isso pra mim é preconceito. Em
algumas
situações
é
desvantajoso
se
gay,
acho
que
em
todas.
Em
todas que a sociedade reprime. Mas eu não sou gay. Sou muito macho!
O que é racismo para você? Qualquer oposição a uma diferença da pessoa. qualquer coisa que ela seja diferente de você e você ridicularize ela por isso e isso é racismo, é preconceito.
Você já presenciou alguma discriminação?
Quando um negro entra num bar os caras já olham diferente. Ou num banco, depende da situação. Ou até de graça. Você acha que existe racismo no Brasil? Lógico que existe. Eu não acho, tenho certeza, um dos países que mais tem. Quais as conseqüências do racismo para a vida das pessoas? Nenhuma, não tem conseqüência se a pessoa não denuncia não pega nada.
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? E no esporte (quais)? E nas artes (quais)? Por quê? Lógico meu, só depende das oportunidades que ela tem. No esporte os negros geralmente
são
negócio
orientais
dos
marciais,
mais
vontade
treinou
verdade.
mais e
depende pra
fortes. dos varia
fazer,
aí
Só
amarelos da ela
que eles
tem
oportunidade. vai
ser
boa
também aquela Se
a
naquilo
tem cultura
aquele de
artes
pessoa
tem
uma
se
quiser
ela
de
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças? Quais? Por quê? doenças? Eu acho que os orientais tem aquela preocupação com peixe, com
coisas
negros
naturais.
também
Pode
porque
ver eles
que são
os
japoneses
mais
fortes
vivem os
muito,
dentes
mas
deles
os são
melhores, os ossos são mais fortes, mas depende.
E nos encontros amorosos? Por quê? Chance? Leva, os brancos levam vantagem. Por que os japas, não. Os japas
no
brancos
trabalho nos
são
bons
relacionamentos
por
que
são
eles
são
preferência.
inteligentes. e
os
Mas
negros
os são
discriminados sempre.
Você já sofreu algum tipo de discriminação? (local de moradia, ser jovem, modo de se vestir, religião, orientação sexual, gênero, cor/raça, classe, origem, abordagem policial. Descreva sua experiência e reações) Eu não mas já presenciei. Ah eu achei ridículo, eu até briguei com o cara.
Você acha que existe racismo na África do Sul? Não conheço, mas existe fome.
Você acha que existe racismo nos EUA? Bem menos do que aqui com certeza porque lá as leis são cumpridas e executadas. Mas existe. Qual desses países você acha que é melhor para se viver?
Ah eu acho os Estados Unidos que é melhor, apesar de preferir a Europa,
mil
vezes.
No meio do mato, em qualquer lugar. No Brasil mesmo. É só sair da Babilônia.
SOCIABILIDADE – Sociability. (Atividades de lazer, tipo e local das principais atividades de lazer, identificação com grupos, turmas, tribos, militância). Que lugares você freqüenta para se divertir, "paquerar", "azarar", etc? Eu vou pra balada meu, pra Clato, de quinta feira. Geralmente é a única
balada
que
eu
vou.
Eu
vou
mais
para
Show.
Quem costuma acompanhá-lo nesses lugares? (familiares, amigos, etc) Atualmente minha namorada, mas antigamente meus amigos.
Em relação aos seus amigos você tem alguma preferência relativa à: classe (a mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans) cor (mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado,...), religião, característica de personalidade. Por quê? Não. Jamais. Você tem mais amigos ou amigas? Por quê? Não sei.
Como você definiria o seu estilo? Você se identifica com algum grupo, turma ou “tribo” urbana? Qual? E com qual você menos se identifica? (explorar indumentária, gosto musical, etc.). Não defino.
Para você, como são as pessoas que freqüentam a Clato? Na Clato é tudo boy a maioria é branco, a maioria com dinheiro e a maioria usuário de drogas pesadas até mais do que eu, bem mais! O que tem de bom? A coisa que falta lá é um melhor sistema de ar condicionado, a saída de emergência lá é uma bosta, eu já olhei e se dê um incêndio lá morre muita gente, não consegue sair metade, eu já percebi isso. Mas o som é animal, a galera é muito firmeza, o barman é muito firmeza. O cara do caixa, o DJ, todo mundo é gente boa, até a dona.Então eu gosto de lá1 Eu posso fumar lá (risos) e lá não pode fumar.
Quais os lugares em que você gostaria de ir mas não vai? Por quê? Eu gostaria de ir no Santa Aldeia de domingo mas é muito caro eu não vou. É uma balada, 35 paus, não pra pagar 35 paus e consumir 8 reais. Entendeu? Como é seu estilo de aproximação (amigos, paquera)? Meu eu sou o que eu sou. Eu não sou muito de me aproximar, eu acho que as coisas acontecem naturalmente. Você já sofreu alguma violência na Clato? Não. A balada é segura, eu vou lá a muito tempo. É tudo novo, mas esse é o único problema por que a Clato é uma balada pequena
mas enche. Se
tiver um incêndio lá... Você costuma acessar a Internet? Onde? (tem computador particular?) Com que freqüência? Com que finalidade? Já conheceu pessoalmente algum (a) parceiro (a) ou amigo (a) virtual? Na minha casa pra ver meus e-mails, ou no meu orkut só, Já conheci uma menina. Só orkut. eu acho uma bosta porque todo mundo pode saber da sua vida. Mas E
MSN?
também Eu
nem uso
muito,
é é
meio
chato
por
bom que
as
pessoas
fazem
perguntas inúteis, tipo como você está? O que você está fazendo? Porra tô na Internet, caralho!!!
Você esteve ou está envolvido com algum grupo, organização, ou movimento social? Há quanto tempo? Qual? O que o motivou? Fui pixador. RELACIONAMENTOS – Relationships
Em relação aos seus parceiros/as você tem alguma preferência relativa à: classe (a mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans), atributo de gênero (mais masculino, mais feminino, como você), cor (mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado, peludo, alto/baixo...), religião, característica de personalidade. Por quê? Com uma menina muito patricinha que faz chapinha. Tipo você vai pra cama e ela vai te dizer ai! cuidado com o meu cabelo. Que tipos de relacionamentos você normalmente busca? (apenas sexual, ficar, namoro, casamento, relacionamentos monogâmicos ou poligâmicos, etc.). Por que prefere os que mencionou? Relacionamento sussa, sem ciúmes. Monogamia, com certeza. Não gosto de traição e
nem
de
trair.Mas
não
gosto de ciúme, eu saio sozinho e ela sai sozinha só que eu não perdôo a traição. Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de cor e classe). Como reagiu? Já pa caralho!!! Se o cara for educado eu vou ser educado, se ele não for vai levar porrada, você não tem idéia já bati em vários. Você já namorou ou teve algum tipo de relação afetiva com uma pessoa de cor/raça
diferente da sua? E classe? Como foi? Orientação sexual? Escolaridade? Japonesa. Foi dá hora, mas a menina gostava muito de mim. Como você descreveria uma pessoa atraente? Ter um corpo a pampa, ser segura ta ligado! Você acha que você é uma pessoa atraente? Eu não eu acho que eu sou normal!
O que você espera de um (a) parceiro (a)? (atributos físicos, morais, éticos, sociais, etc.) Sinceridade, sinceridade, e não muita putaria, que ela não tenha feito muita putaria.
O que significa ficar para você? (abraçar, beijar, roçar, por a mão, a boca e transar) Ficar uma noite. Depende, catar uma numa balada, mas eu nem acho isso legal. Onde habitualmente você conhece as pessoas com quem fica, transa, namora? Depende, na balada, minha namorada atualmente eu conheci num estacionamento perto do Senac. O que você faz para chamar a atenção de uma pessoa que você está interessada em ficar/namorar/transar? Só tento me aproximar dela mais nada Quem deve travar o primeiro contato? Por quê? Depende do interesse que cada um tem.
Você considera que há parceiros (as) para ficar e outros (as) para namorar? O que
faz com que alguém seja considerado por você uma ou outra coisa? Ah tem mina que você sabe que não vale nada, depende. O que faz a diferença depende dela, meu. Da maneira dela ser.
O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E casamento? Normal. O importante é o amor, tem que ter amor. Você vê muito nos locais em que você freqüenta? Conhece alguém? Vejo lógico, eu freqüento lugares alternativos.
O que você pensa sobre namoro entre pessoas do mesmo sexo. E casamento? Meu, eu já disse é o amor que importa.
Você transa no primeiro encontro? Geralmente não por que eu não me relaciono com meninas fáceis. Mas depende às vezes o amor, tipo, teve uma namorada minha que eu fui apaixonado e transei com ela na primeira vez. Eu era doente por ela. Você usa preservativo? Sim, sempre? Não, nunca? Por quê? Se usa, o que fazer se o parceiro (a) não quiser usar camisinha? Se não usa, o que faz quando parceiro pede para usar? Sim eu uso, mas depois quando eu namoro eu acho a pampa fazer o exame, os dois e daí fica de boa sem usar. CONJUGALIDADE/PARENTALIDADE - Conjugality/Parenthood
Tem algum tipo de relação estável? Descreva algumas das características da pessoa (cor, classe, sexo, escolaridade) e fale um pouco sobre esta relação (duração; fatos marcantes, etc.).
Eu tenho. Ela é muito legal muito gente boa, branca, loira, bonita. Só que ela é muito ciumenta. Um fato marcante que eu poderia dizer é que a gente fez amor uma vez e ela gozou onze vezes. Qual o tipo de relação que você vive? Estável. Como foram os seus últimos relacionamentos estáveis (legais, traumatizantes, duradouros, rápidos, comprometidos...)? Como eram seus parceiros? Você usava preservativos nesses relacionamentos? Com que freqüência (sempre, nunca, às vezes)? Por quê (receio: DSTs/Aids, gravidez)? Sou namorador, tive relacionamentos duradouros. Usava preservativo e depois fazia o mesmo esquema. Mas também namorei duas meninas virgens, daí não precisa. Tem receio de pegar aids/dst com as mulheres?
Você tem filhos? Minha macaca.
Você acha que os filhos devem ser planejados? Lógico, você tem que por um filho no mundo pra dar uma vida igual ao que você teve ou melhor. Como você imagina uma família ideal? Uma família ideal é ter amor e dinheiro Você acha importante um filho na vida de um homem? E de uma mulher? Tem diferença em relação a homens e mulheres nesse assunto? Deve ser muito legal. Eu quero muito ser pai, mas eu quero ser pai na hora certa.. Eu acho importante um filho na vida do homem, um só não, dois, se não vai ficar igual a eu. A diferença em relação a mulher é que eu acho que a minha apanha menos do pai. Se você não pudesse ter filhos adotaria um? Por quê?
Sim. EXPERIÊNCIAS SEXUAIS – Sexual Experiences
Qual a memória da sua infância em relação a suas vivências afetivas e sexuais? Você tem lembranças significativas relacionadas à vivência da sua sexualidade? De ficar com uma menina assim? Como foi para você a descoberta da sua sexualidade neste período da vida? Meus pais não falavam nada, mas eu brincava de médico com uma menina quando eu tinha uns nove anos. Mas lembro muito pouco, quase nada. De que forma as informações sobre sexo chegaram e chegam até você? Que pessoas (familiares, amigos) e/ou instituições (escola, igreja, meios de comunicação) transmitiram e/ou transmitem tais informações? Quais os mais freqüentes e confiáveis para você? Foram ou são suficientes para esclarecer suas dúvidas? Através dos meus pais, meu pai ficava falando dessas paradas de camisinha, e pela televisão. E da escola né? Eu tinha um professor que comentava alguma coisa, chegando no colegial. E foi suficiente. Como seus familiares se comportavam e se comportam em relação à sua vida sexual? Eles não se envolvem. Fale-me sobre sua iniciação sexual: idade, parceiro (explorar se era amigo, parente, vizinho, etc, idade, sexo, parceiro experiente ou não), práticas (carícias, masturbação, relações completas), relação voluntária ou abuso, prazer, receios, uso e motivos de uso de métodos contraceptivos/ DSTs/Aids (de quem foi a iniciativa?). Tinha treze anos e foi com uma prostituta. Com a prostituta foi só sexo, nada de carícias, depois aí eu comecei a conhecer outras pessoas, e me envolver com a pessoa eu sempre tive uma propensão a me envolver com pessoas mais velhas, ah! Sei lá!Não tem muito o que falar. Usei camisinha que ante DST.
Você acha que escolheu a pessoa e a hora certa? Por quê? A primeira vez não eu podia ter procurado uma menina mais decente, mais eu acho que eu não posso me arrepender do que eu fiz, eu devo me arrepender do que eu não fiz.
Você já teve ou tem relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de vantagem (financeira, familiar, escolar, profissional)? Em caso afirmativo, como lida ou lidou com isso? Não.
Você já foi constrangido (física ou psicologicamente) a ter relações sexuais com alguém? Como isso ocorreu e quem o constrangeu? Como lidou com isso (denunciou ou silenciou-se, quais as conseqüências para sua vida sexual atual, etc)? Não.
Você já constrangeu (física ou psicologicamente) alguém a ter relações sexuais? Como isso ocorreu e quem constrangeu? Como lidou com isso? Não. O que é atração sexual para você? Ah é uma vontade de ter aquela pessoa pra você, nem que seja por um momento. Qual a diferença (se houver) entre atração sexual e atração afetiva/amorosa? (separação entre sexo e amor) A atração afetiva você procura um sentimento você não procura só o contato, mas também o sentimento, algo que você deseja para aquela pessoa. Que você Reflete e você chega a conclusão que aquela pessoa significa isso para você, já um relacionamento sexual você só quer ter uma relação e já era, nada mais.
Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com quem
você transa? Por quê? Depende o que você busca para você mesmo. É uma questão de objetivo. O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas como definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.). Ah! descobrir novas maneira de dar prazer para outra pessoa... E daí rola tudo? Depende o que é tudo na visão de cada um.
Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação (completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso? Nem fudendo, nem um pouco.
Fale-me sobre suas últimas relações afetivo/sexuais significativas? (explorar práticas sexuais, desejos, tipo de relação, perfil dos parceiros [orientação sexual, estado civil, idade], satisfação com as relações). Foi com minha ex-namorada e com minha namorada atual, nenhuma outra.Acho que ela tem que ser sincera, tem que fumar um beck, inteligente, tem que ser humilde, só. Naquele momento eu me sinti muito satisfeito e agora me sinto.
Que práticas sexuais você faz/fez (anal, oral, vaginal [inclusive durante a menstruação?]; usa algum tipo de lubrificante/preservativo? Explorar também sexo grupal, sadomasoquismo, fetiches, etc.). Com quem faz ou deixa de fazer? Qual (is) as mais prazerosas para você? Já fiz sexo grupal com umas meninas da minha outra faculdade, e outra vez foi com umas amigas minhas. Nas minhas práticas sexuais eu uso só preservativo Se a menina tiver menstruada?Depende da vontade, lógico! A prática mais prazerosa pra mim é o sexo
vaginal.
O que é aceitável e inaceitável numa relação sexual? O que é aceitável? A mina não estar num dia bom. O que é inaceitável? A mina não se limpar direito. Durante a relação....pode rolar....o que não pode rolar é um fio terra, nem fudendo, eu não curto. Você ta lá e daí a mina vai lá e.... (nesse momento ele faz a mímica com seu dedo indicador como se estivesse enfiando esse mesmo dedo no anus). Isso não me dá prazer, eu brocho. Pode rolar tudo... eu não sei.... menos um fio terra. Que tipo de prática sexual pode acontecer durante uma relação que você se sente mal, mas não consegue evitar? Isso não acontece comigo. Durante uma relação sexual, o que para você é arriscado, mas é gostoso de fazer? É mais gostoso fazer sem camisinha, mas é uma questão de escolha. É uma questão de escolha Quantas vezes você transa por semana? Umas cinco. Você se sente satisfeito com sua vida sexual? O que gostaria de mudar e/ou manter? Talvez aumentar. No caso de gravidez não planejada, que atitude(s) você já tomou ou tomaria? Eu teria o filho porque seu fui homem pra dá uma, tenho que ser homem pra assumir.Ele não tem culpa de ter culpa de ter aparecido aqui. Sobre o aborto, é contra ou a favor, e em que casos específicos? Ridículo, estúpido. Já fez aborto ou teve alguma experiência de aborto com alguma mulher? Como foi? Jamais
GÊNERO E SEXUALIDADE – Gender and sexuality
Quais as qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher. Que qualidades, características e comportamentos você admira numa mulher? Sinceridade, paciência, perseverança e amizade. Um olhar apreensivo de cuidar, garra e força de vontade para trabalhar. Quais as qualidades, características e comportamentos que definem um homem. Que qualidades, características e comportamentos você admira num homem? Com um homem nada. Eu não quero nada com homem. De um homem que ele consiga mudar tudo que hoje é visto diante dos homens, tipo infidelidade, estupidez, ignorância. E a mulher que elas acreditem mais na gente, que a gente pode mudar, que a gente pode amar de verdade, depende da vontade de cada um.
Quais as vantagens de ser homem e ser mulher na nossa sociedade? E quais os limites que cada um experimenta? Como nossa sociedade é machista, as vantagens em ser homem são muitas, a vantagem de ser muito mais respeitado dentro da sua opinião, a vantagem de você ganhar mais no emprego, mais facilidade para trabalhar. Já sendo mulher você é completamente desvalorizado, tratado como um sexo frágil, sem opinião, que não tem voz de poder. Isso é errado porque todo ser humano é igual independente do sexo.
E se homens e mulheres forem gays, lésbicas ou bissexuais ou transgêneros (pessoas que se identificam com o gênero oposto, através do uso de roupas e comportamentos associados ao sexo feminino ou masculino) ? Em que medida isso resulta em vantagens e desvantagens? Quem tá na vantagem é o homem, talvez por que... é ele quem ta se beneficiando de tudo.
Em que medida a sua orientação sexual define as maneiras de se relacionar com as pessoas? Não muda. Acho que todo mundo sente prazer pelo buraco que quiser, pela pessoa que quiser, eu não tenho nada a ver com isso, eu não sou ninguém para julgar. Eu sei o que eu
gosto
e
já
tá
bom.
O que seu pai e sua mãe lhe ensinaram sobre as diferenças entre homens e mulheres? E sobre as diferentes orientações sexuais? Eles nunca falaram nada, eles acham que cada um é cada um. O que você pensa sobre a virgindade? Acho que não influência nada, nenhuma menina deixa de ser pura por ser virgem ou não. Acho que ela deixa de ser pura ou não pela vontade, pela maneira dela encarar o que é se envolver com alguém, se deitar na cama com alguém. Acho que isso influência no caráter, se ela é virgem ou não, não muda nada. È até melhor que não seja. O que você pensa sobre a infidelidade de homens e mulheres? (associar infidelidade a cor/raça e orientação sexual) Ridículo, ridículo. Se você quer catar várias, se não namora, porque namorar e não ser fiel é ridículo tá simplesmente fugindo de um problema. Acho que a infidelidade às vezes tem a ver com cor e raça, depende do objetivo da pessoa, cada um sabe o que quer. Se você não quer ser fiel, se você quer outras pesssoas, você não tem que estar traindo a pessoa que não tem nada a ver com sua vontade. Acho que a sinceridade é tudo. Porque o que a gente não quer pra gente a gente não quer para as pessoas, certo?
O que você pensa sobre as mudanças nas relações entre homens e mulheres ocorridas nas últimas décadas, após as conquistas femininas (liberação sexual e acesso ao mercado de trabalho)?
Acho que as pessoas estão querendo ser moderna demais e não estão sabendo encontrar o caminho certo, então eu acho que se as pessoas não fossem com tanta sede ao pote, transformasse as coisas, talvez as coisas acontecessem de um modo mais natural. No mercado de trabalho eu acho que hoje é muita inveja, muito olho gordo, eu acho que os homens com certeza têm mais vantagens. Mas mesmo assim os próprios homens entre eles, eles se destroem, eles buscam derrubar um ao outro para poder chegar ao poder. Para gente chegar no topo a gente não precisa pisar em cima de ninguém. Você tem facilidade em demonstrar os seus sentimentos amorosos? É mais fácil demonstrá-lo para pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto? Depende do meu coração naquele momento. Se eu estiver seguro... Tem algum sentimento que algum homem deve esconder de outro homem? [Fazer mesma pergunta para mulheres, adequando gênero na questão]. Não, acho que não. Você tem algum ressentimento em relação ao sexo oposto? Não.Pelo contrário Já teve problemas relacionados com ereção (própria ou do parceiro), ejaculação (própria ou do parceiro), impotência/frigidez, insatisfação sexual em algum período da sua vida? Quando? Como lidou com isso? Procurou ajuda? De quem? Isso interferiu em seus relacionamentos?
Não, nenhum problema de impotência ou frigidez. O que pode acontecer é você não se sentir satisfeito com uma menina, ce acha ela zuada...ah tipo a mina não faz direito, é mô cabaça, torta, aí se brocha. É tipo a mina parece um João bobo.
Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual por um período longo? Não acho que é uma questão de necessidade, você não precisa dar uma para poder ser feliz, ou para poder sobreviver.
E quando, numa relação estável, o seu parceiro sem interesse sexual por um período longo? Acho que a hora certa chega sempre. Acho que não adianta ficar se preocupando.
SAÚDE E DST/HIV/AIDS: CONHECIMENTO e EXPERIÊNCIAS - Health and STD/HIV/AIDS: Knowledge and experiences
Como vc cuida da sua saúde? (explorar o histórico de doenças, exames,idas periódicas a consultas médicas, alimentação, exercícios, etc). Eu me cuido bem. Me alimento bem, durmo bem.
Você já teve alguma doença transmitida por via sexual? (gonorréia, sífilis, cancromole, hepatite B e C, herpes genital,verrugas genitais e corrimentos) Quando e através de quem? Você já procurou o serviço de saúde para tratamento? De que tipo? Se não, por quê? Você manteve relações sexuais nesse período? Graças a deus não.
Em caso de relação estável, seu (sua) parceiro (a) já teve alguma DST? Procurou tratamento? Vocês tiveram relação nesse período? Nunca aconteceu. O que você sabe sobre Aids? Que é uma doença que se pega quando não se usa camisinha, que não tem cura, que acaba com você aos poucos, e que só os otários que contraem.
Você conhece alguém com o vírus da AIDS? (explorar convivência) Não.
Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Como? Por quê? Que tipo de pessoa ou grupo está mais vulnerável para pegá-lo? Acho que pegar aids é fazer sexo sem camisinha com qualquer um. Acho que as pessoas podem pegar aids quem não se cuida, se torna mais vulneráveis. Você já namorou alguém com o vírus da AIDS? Não. O que sabe dos remédios que atualmente são usados no tratamento das pessoas com o vírus da Aids? (explorar percepção sobre o resultado do tratamento - se cura, se melhora, etc., seus efeitos colaterais, preconceito, etc.) Essas informações mudaram seu comportamento? Não sei nada.
Já fez teste anti-HIV? Quando? Onde? Quantas vezes? Por quê? Gostaria de comentar o resultado? Sim duas vezes para poder transar sem camisinha, comecei a namorar e a gente queria transar sem camisinha e daí eu e minha namorada fizemos o texte.
USO DE PRESERVATIVOS (PRESERVATIVO MASCULINO E CAMISINHA FEMININA) – Use of Condoms (Feminine and Masculine)
Você usa preservativos com pessoas do mesmo sexo? E do sexo oposto? Se Sim,
Sempre? Nunca usa? Ou usa ás vezes? Para quem não usa todas às vezes, ou seja sempre, perguntar em que circunstâncias e como define quando e com quem irá usar. Uso quando não estou namorando.
Você usa preservativo em quais práticas sexuais? No caso do sexo oral, você usa preservativo para fazer? E para receber? Uso camisinha pra transar sexo vaginal só. Quais e quantos métodos de prevenção a DST/Aids conhece e utiliza? Além da camisinha, você usa algum outro método de prevenção? Por quê? (vulnerabilidades, proteção) E métodos contraceptivos? Camisinha.
Onde você obtém preservativos? Você se sente constrangido em obtê-los? Onde se sente mais e menos constrangido? Minha mãe quando vai para o mercado ela compra vários. Não me sinto constrangido. Você tem um preservativo com você nesse momento? Não. Para quem é mais fácil portar um preservativo: homem ou mulher? Por quê? Não tem diferença. Já ocorreu algum acidente de rompimento do preservativo? Qual a sua reação? Que providências tomou (lavagem, teste, etc.)? Nunca.
Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a camisinha?
Lógico. Você ou a sua parceira já utilizou contracepção de emergência? Como a obtiveram? Nunca.
Qual a diferença entre camisinha e pílula? A pílula previne contra gravidez e a camisinha contra AIDS. DROGAS – Drugs
Você Bebe? Qual a freqüência? (Onde? Antes ou/e na balada?) Bebo socialmente de final de semana, numa festa, depende. Você fuma cigarro? Já fumou outra coisa? (Como, onde, em que contexto?) Não, fumo maconha. Em vários lugares na balada, perto da minha casa... Você já experimentou lança perfume? Muito. Você usou já usou alguma droga do tipo maconha, êxtase, ect. Em que situações? Maconha e êxtase. Você acha que a maconha e o êxtase fazem parte da balada? Com certeza. Se sim, você consegue na balada ou antes? Antes. Quais as drogas mais usadas nos lugares que você freqüenta? Bala, LSD, e maconha. Você usa alguma delas? As três.
Sexo e drogas combinam? (como, quando, com quem e por quê?) Com certeza. Com quem você sinta vontade de estar. Nem sempre, é uma questão de inspiração. Você fica mais solto quando está sob o efeito de álcool, e/ou drogas? Com certeza. Como é o seu final de balada? (Se fuma maconha ou se toma algum remédio) Beck para poder dormir. Usa calmante? Ou algum outro remédio? Não. Nunca e jamais. Você costuma usar drogas ou álcool antes de fazer sexo? Não. Como a droga e ou álcool afeta seu desempenho sexual? Me solta, só isso. Deixou de usar camisinha masculina/feminina quando estava sob o efeito de drogas? Não. Você usa/usou Viagra ou algum outro estimulante sexual (poppers)? Você usaria algum medicamento dessa espécie ou gostaria que o seu parceiro usasse? Não, pelo Amor de Deus (risos). Nunca, tenho só vinte. Por que? Não vejo necessidade. Qual é a sua relação com drogas?(se usa, com que freqüência, se já interrompeu o uso e voltou a usar ou se largou definitivamente) Nunca me piquei, já cherei para caralho, não cheiro mais. De vez em quando eu tomo umas balas e uns doce, e fumo um beck todo dia.
Já fez uso de drogas injetáveis? Se sim, compartilhou seringas, agulhas? Não. Já teve parceiros sexuais que usaram drogas injetáveis? E nas relações sexuais com esse/essa parceiro/a vc usou preservativo? Nunca tive.
Há alguma associação entre drogas/raça? Não. E entre drogas e orientação sexual? A galera que usa muita droga, gosta de muito sexo. Mas eu não curto me envolver muito porque esse negócio te faz ficar com outro e com outro, a casa cai. E entre drogas e gênero? Hoje em dia não mais.
PROJETO DE VIDA– Life Plans
Quais são os seus projetos de vida? Me formar, e eu ainda tô meio em dúvida se vou virar para a gatronomia. Meu pretendo trabalhar num lugar que eu ganhe bem!E poder dar a vida que eu tive para os meus filhos, e ter uma mulher firmeza que fume um beck com certeza.
Você acha que eles podem se concretizar? Como? Lógico porque não são nenhum pouco impossíveis. Mesmo se fossem acho que só depende acreditar.
Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje? Por quê? Ah!!! espero que eu esteja com meus filhos com uma vida, estruturada, firmada.
Como deveriam ser as relações entre diferentes grupos (gênero, orientação sexual, cor/raça, classe, etc.) no futuro? Acho que os humanos, as pessoas tem que se respeitar mais. E aceitar o ponto de vista de cada um. E não tentar impor a opinião como se fosse a forma mais soberana de modo soberano.
Entrevista com Keize
Entrevistadora: Teste...
Entrevistadora: Tá bom, então vamos começar. Qual que é o seu no me e o seu apelido? K.: K. Travasque Barbosa da Cunha. Eu não tenho apelido, mas o povo me chama de Travasque.
Entrevistadora: E qual que é a sua idade? K.: Vinte e dois anos.
Entrevistadora: E qual que é o seu sexo? K.: Feminino.
Entrevistadora: E sua orientação sexual?
K.: Feminina... Masculina! (ri)
Entrevistadora: Não. Eu quis dizer se você é heterossexual...? K.: Hetero.
Entrevistadora: E qual que é a sua raça ou cor? K.: Negra.
Entrevistadora: E qual que é a sua escolaridade? K.: Tenho segundo completo.
Entrevistadora: E qual que é o seu estado civil? K.: Casada.
Entrevistadora: Qual que é a sua religião? K.: Hum... Eu sou católica mas não praticante.
Entrevistadora: E onde você mora atualmente? K.: O endereço onde eu moro, bairro?
Entrevistadora: Não, bairro, assim. K.: Eu moro na zona Oeste, na Pompéia.
Entrevistadora: Ahan... E faz tempo que você mora na Pompéia?
K.: Desde os meus dez anos de idade.
Entrevistadora:E ,sem ser a Pompéia, por quais outros bairros você costuma passear ou circular, assim, pra passear? K.: Centro. Centro pra trabalhar. E, pra passear, São Paulo todo.
Entrevistadora: (ri) Bom, a gente vai falar sobre a sua trajetória familiar. Pode comer se você quiser. Não precisa... É com quem você mora atualmente? K.: Meu marido e meu filho.
Entrevistadora:E você sabe dizer qual é a renda da sua casa, atualmente? K.: A renda que nós temos hoje?
Entrevistadora: É tipo... todos juntos ganham mais ou menos quanto? K.: Mil reais por mês.
Entrevistadora: E quem que é a sua família de origem? Tipo, pai, você tem irmão, mãe... K.: Quem que é minha família mesmo?!
Entrevistadora: Ahan. Antes de você constituir a sua família com o seu marido... K.: Ah, eu morava com a minha mãe, com meus dois irmãos, o meu padrasto e depois de um tempo a minha vó veio morar com a gente.
Entrevistadora: Ahan... Então os seus pais são separados?
K.: Meu pai mora na zona leste com a mulher dele e os meus três irmãos.
Entrevistadora: Entendi. E os seus pais são de São Paulo mesmo? K.: São.
Entrevistadora: São?! E o quê que eles fazem? Assim, com o quê que eles trabalham? K.: Minha mãe, ele é cabeleireira, trançadeira profissional. O meu pai também é formado, ele é... Não formado, ele trabalha na Polícia Civil, chefe dos escrivães.
Entrevistadora: Bacana. E, atualmente, você e o seu marido estão trabalhando? K.: Os dois estão trabalhando.
Entrevistadora: Faz tempo que os dois estão trabalhando ou...? K.: Eu faz e um mês e ele faz um ano e três meses trabalhando.
Entrevistadora: E como que é a sua relação com o seu pai e com a sua mãe? K.: É uma relação... hoje ela é complicada.
Entrevistadora: Com os dois ou com um? K.: Com os dois.
Entrevistadora: Por que? K.: Hoje ela é complicada porque eu fui criada num mundo, meio familiar, que num foi bem o que eu queria pra mim: pais separados, uma mãe que, com o decorrer do tempo,
arranjou um outro marido; então teve muitas divergências, né?! E eu não consegui ter uma vida mais próxima do meu pai então hoje eu não tenho muita conversa com ele. Tenho muita mágoa. E com a minha mãe, é que a gente conversava pouco. Porque tudo que a gente conversava não tinha pensamentos iguais. A gente foi começar a se entender agora que me casei. Então não é, assim, um relacionamento... não vou falar que é ruim porque eu gosto do meu pai. Mas aquele negócio de amigos pra sempre entendeu...
Entrevistadora: Ahan. Hum. Ahan. Entendi. E a relação entre seu pai e a sua mãe. Eles ainda se falam ou...? K.: Eles falam o básico. Se é alguma coisa sobre mim, assim. Entre eles é só eu. Não tem eu no meio, também não tem conversa.
Entrevistadora: E com os seus irmãos e irmãs? Como é que é? K.: Ah. A gente se dá bem. Eu me dou bem com os meus irmãos mais próximos, que são os menores, que é a Catrine e o Júnior, que sempre moraram comigo. É bom, eles gostam do meu filho, de ir em casa, tudo... E os irmãos mais velhos a gente não se vê porque eles são grandes, têm a vida deles. O meu irmão mais velho, ele já tá noivo então é difícil a gente se ver. E o outro também, mas a relação é boa com todos. Nunca tem briga, nada...
Entrevistadora: Ahan... Quantos você tem ao todo? K.: Olha... É que eu preciso de contar. No todo... é porque mudou. É que a minha mãe e o meu pai eles gostam muito de pegar crianças que não tem uma situação financeira boa, crianças que o pai morreu e têm algum parentesco. Então, mas se for contar irmão de sangue, hoje eu tenho: o Gustavo e o Vinícius, a Catrine e o Júnior e eu. Agora se for contar num todo, são mais ou menos oito irmãos. Dois não estão mais aqui, outro tá nos Estados Unidos, outro... também a gente não teve mais contato. E só sobrou nós.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E, além dos seus pais, tinha algum parente com que você tinha uma relação mais próxima? Tipo, seu padrasto, ou que você tinha... K.: Parente que eu tenha, que eu sempre tive uma relação boa, é com a minha vó e com a minha tia.
Entrevistadora: Ahan... Mãe da sua mãe ou...? K.: Ahan. Mãe da minha mãe. A mãe do meu pai já faleceu. E a tia é a tia do meu pai. Eu sempre tive relação boa com ela. Ela pra mim é como se fosse mãe, ela que me ajudou em tudo, assim. Até hoje ela me ajuda. Minha vó também, minha vó sempre me ajudou no que ela pôde. Agora ela não tem mais condição de me ajudar, mesmo. Ela ajuda no que ela pode, hoje.
Entrevistadora: Entendi. E... Alguém da sua família é gay, ou lésbica, ou transgênero? K.: Ah. Tem um primo de consideração. Porque, quando a minha mãe casou com o meu padrasto, a gente acabou adotando a família dos outros, então eu tenho um primo que depois de... que com dezenove anos ele foi assumir que ele era gay e hoje ele mora em Mauá com uma... marido, né.... lá. Ele mora com... com menino.
Entrevistadora: Ahan... E como é que foi a educação, assim, que você recebeu? Tinha diferença entre os meninos e as meninas, na criação? K.: Não a minha mãe criou os filhos dela igual. A diferença é que ela foi muito mais severa comigo do que ela é hoje com os meus irmãos.
Entrevistadora: Por eles serem mais novos e não por...? K.: Não. Ela foi mais severa mesmo. Independente da idade, ela foi mais severa comigo do quê com eles.
Entrevistadora: Mas por quê? K.: Eu não sei, talvez ela... há um modo que ela tenha de adotar que não deu certo na cabeça dela. Porque realmente eu tive muita coisa que qualquer pessoa não faria. Isso não é de criação. Não é revolta é que você apanha por qualquer coisa quando você é pequeno. Se quebrar um copo você apanha... Então você faz as coisas que você tem que fazer e de qualquer jeito você vai apanhar. Entendeu? Então, no caso, a minha mãe cria os meus irmãos de outro modo, já não batendo mais porque não adianta. É outro modo. Menos severo do que ela me criou.
Entrevistadora: Ahan. E... Bom a gente vai falar sobre religião. Em qual religião você foi criada? K.: Eu fui criada... em duas religiões: na Católica e na Espírita. Eu fui batizada na Católica e fui Batizada na Espírita também. Hoje eu não sigo a Espírita por um conceito meu mesmo de achar que nem tudo o que eles fazem dá certo. E a Católica eu não sou praticante por motivos sentimentais, né?!
Entrevistadora: Ahan. Então você já passou pela Espírita e pela Católica. Nenhuma outra você chegou a freqüentar? K.: Hoje eu freqüento com o meu marido, porque ele é evangélico, eu vou na Igreja Renascer. Eu freqüento com ele, hoje.
Entrevistadora: É, com que regularidade vocês vão na Renascer? K.: Ah, quase todo domingo. Quase todo domingo e quase durante... a semana. Assim, uma vez na semana a gente sempre vai, que dá pra ir, a gente sempre vai.
Entrevistadora: Ahan. E qual que você acha que á importância da religião na sua vida? K.: É uma coisa que eu nem penso. É uma coisa muito difícil. Antigamente, quando eu era menor, a religião tinha uma importância. Quando eu perdi o meu primeiro filho ela passou a não ter mais importância e eu passei a ser descrente em relação a Deus. Mas hoje eu vejo que, tudo o que nós vemos hoje é movido por ele. Você tem que ter Jesus no coração sempre porque se você não tiver sua vida também não vai pra frente. Isso é uma coisa... é óbvia. Se você não pensar em Deus a sua vida não vai pra frente. Então hoje, importância é bem maior do que era antes. Mas ainda tem muita coisa pra entender, ainda.
Entrevistadora: Ahan... Bom, sobre sua experiência escolar, como foi a sua trajetória na escola? Você estudou em escola particular ou pública? K.: Eu comecei em escola particular, mas a minha situação de vida foi mudando e minha mãe me colocou em escola pública, mesmo porque eu nunca me adaptei com pessoas... pessoas de outras classes e nível social que não fosse o meu. Então, eu sempre... a minha mãe me colocou em escola pública e eu sempre gostei de escola pública. Acho que escola particular é só fachada. Os alunos são todos iguais, assim, pior que nós que estudamos em escola pública.
Entrevistadora: Ahan. E como foi, assim? Você repetiu algum ano, chegou a parar de estudar ou foi direto? K.: Eu parei de estudar. Parei de estudar porque a minha mãe mudava muito e eu perdi dois anos. Um foi mais... não foi repetência que eu tive. Foi problema com professora e a professora não me passou por birra dela. E aí, eu repeti. Então eu perdi dois anos. Eu terminei o colégio quando eu tinha dezessete anos.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E, assim, como foi a sua experiência, você fazia, além das aulas, você queria fazer outras coisas? Você tinha amigos na escola, mesmo você tendo mudado?
K.: Eu tinha bastante amizades por causa da minha escola, em todas as escolas que eu passei. Eu não fazia atividades depois da escola, teve um tempo que eu comecei a fazer cursos, mas como eu me sentia muito cansada, porque eu comecei a trabalhar cedo pra ajudar a minha mãe também, eu parei de fazer cursos só pra trabalhar e estudar. E agora que eu terminei...
Entrevistadora: E... Atualmente você não está estudando? K.: Não, pretendo voltar o ano que vem pra fazer faculdade. Eu queria fazer faculdade de Turismo, mas hoje eu to muito, assim, na corda bamba, eu não sei se eu faço turismo ou se eu faço Administração, Contabilidade. Uma coisa que é mais voltada pro que eu trabalho hoje. Eu sou operadora de telemarketing. Eu acho que Administração é uma coisa mais voltada pra esse lado do que Turismo, Turismo é outra coisa, assim, nada haver. Aí eu penso em fazer faculdade, mas não esse ano.
Entrevistadora: E qual que foi a importância da sua experiência na escola pra sua vida como um todo? Pra sua vida social, pra sua vida afetiva? K.: Assim, em matéria de social, hoje, hoje a gente não é nada se você não tem um estudo. Você tendo um estudo você já é uma pessoa, até mesmo quando uma pessoa vai presa, você vê se ela não tem uma faculdade ela não vai pra uma cadeia especial. Entendeu?! Mesmo assim, você tem que... toda vez que a gente quer crescer na vida a gente tem que estudar cada vez mais. E na minha vida sentimental, eu acho que é porque eu conheci pessoas, aprendi a lidar com pessoas com tipos diferentes de amigos. E você sabe selecionar quem é bom e quem não é. E na escola você aprende tudo isso.
Entrevistadora: Ahan... E qual que é a importância da sua experiência na escola pro seu projeto de vida? K.: Como assim?
Entrevistadora: Ah! Pras coisas que você planeja, assim, pro seu futuro. K.: Ah. Tem importância muito grande porque eu planejo as coisas tudo com base no que eu aprendi na escola, com base no que já fiz. Então a escola tem uma importância grande. Eu faço muita coisa baseado no que eu aprendi.
Entrevistadora: Você tem alguma profissão? K.: No quê que eu trabalho hoje?! Se eu tenho uma profissão ou se eu sou formada?
Entrevistadora: Ah. Com o que você costuma trabalhar, ou já trabalhou...? K.: Eu já trabalhei como recepcionista, mas hoje eu tô trabalhando com telemarketing. A minha profissão mesmo, que eu faço... é que eu sou dançarina. Então é a minha profissão, mas eu não sou formada porque, até pra você dançar, você tem que ser formada. Eu não sou formada, mas o que eu gosto de fazer, o que eu chamo de profissão, é dançar. Eu gosto muito de dançar. Mas, fora isso, eu sou operadora de telemarketing mesmo.
Entrevistadora: Ahan. E você tá empregada formalmente agora? K.: Se eu tô empregada formalmente, com carteira registrada? É isso que você fala? Tô. Hoje eu trabalho com carteira registrada numa multinacional, pelo Unibanco.
Entrevistadora: Uhm... E você acha que a renda que você ganha é suficiente pra pagar as suas contas, e tal, ou você trabalha com outras coisas, às vezes, faz bico? K.: Como operadora de telemarketing, a renda que eu ganho hoje não dá pra pagar nem um sapato. (ri) Mas... Porque operadora de telemarketing, hoje, na minha área, é ativo, não é receptivo. Então, pra eu poder ganhar um salário que eu pago a minhas contas, você tem que fazer o seu salário como operador de telemarketing. Então hoje eu ganho, hoje, um
salário fixo, mas eu tenho que vender, bater a minha meta, senão eu não ganho... a comissão.
Entrevistadora: Entendi. Ahan. E você tá satisfeita com o seu emprego atual? K.: Ah, eu tô porque o meu sonho era trabalhar numa multinacional, que é onde você pode crescer tanto profissionalmente, como espiritualmente, com pessoa, entendeu?! Então a multinacional, pra mim, é tudo o que eu queria,mesmo gostando de dançar. Era tudo o que eu queria era crescer. É uma empresa grande que eu puder... hoje que eu opero telemarketing, amanhã chegar num cargo de supervisão. Alguma coisa.
Entrevistadora: Ahan. Hum. E... Em quê que você costuma empregar a sua renda? K.: Não entendi.
Entrevistadora: Em quê que você gasta a sua renda? K.: Olha, hoje eu pago todas as minhas contas, todas as contas e o que sobra eu procuro gastar com a minha família que eu tenho hoje: meu marido, meu filho. Sempre. Em primeiro lugar sempre vem a minha família. Então hoje eu gasto tudo com contas e passeio.
Entrevistadora: Uhum... Bom, a gente vai falar agora sobre discriminação racial e preconceitos em geral. É.. Qual... O quê que e raça pra você? Assim, o quê que você define quando você ouve isso, o quê que vem na sua cabeça? K.: São pessoas... Raça é pessoas de cultura diferente. É uma raça.
Entrevistadora: Ahan... E... Você acha que essa definição de raça é importante pra você? Pra maneira que você define quem você é?
K.: Acho que é. Você tem que saber o quê que é raça. Todo mundo pensa que é: ‘ Aí, é raça, raça, raça no sangue...’ Não é isso. Raça são formas diferentes. É importante você saber o quê que é isso. Na minha cabeça a definição é essa.
Entrevistadora: Entendi. E com que é a constituição racial da sua família? Assim, os seus pais... K.: Se tem misturas de raça na família? Não, na família não... Bom, tem mistura do lado da minha vó, né?! Mas eu não sei explicar quais são as raças e as misturas que tem. Eu sei que eu tenho um primo de Santa Catarina dos olhos verdes, loiro, branco. Então tem uma mistura de raças, mas eu não sei explicar como é.
Entrevistadora: Ahan. E como que é que sua família lida com essa questão da raça, da cor? K.: Hoje nós temos uma mente muito aberta, então a gente lida com isso muito bem. Mas, assim, a gente já passou por muitos preconceitos, né?! Eu, os meus irmãos, minha mãe, entendeu?! Mas a gente não dá muita bola, a gente fica chateado porque é uma coisa que o ser humano tem que saber que, aqui, todo mundo é igual, independente de raça, de cor, de... Todo mundo é igual, entendeu?! A gente lida muito bem com isso. A gente sabe se sobressair em cima das pessoa que, infelizmente, não tem uma cultura igual.
Entrevistadora: E você acha que têm situações em que a sua raça, ou a sua cor foi algo positivo, ou negativo pra você? Foi algo que te favoreceu ou te prejudicou. K.: Favorecer, olha assim, situação que eu seja favorecida teve desde que eu nasci. Que eu gosto muito da minha cor, tô muito satisfeita com ela. Agora situações que me diminuíram eu recebi bastante. Principalmente em serviço... Eu saí de um serviço, não por que eu não era capaz, mas por causa da minha cor. A pessoa que tava lá no cargo, assinando, não gostou de mim e eu pedi minhas contas e fui embora.
Entrevistadora: E o quê que você acha que é racismo? K.: Uma hipocrisia. Uma falta de estudo uma falta de... Uma burrice. Uma pessoa que é racista ela é burra. Ela não tem cultura, ela não tem sentimento, não tem nada.
Entrevistadora: E... Onde você acha que existe racismo? Tipo, em que situações, assim. K.: Que situações... Em todas! Se você é baixo tem quem não gosta. Se você é alto, se você é preto, se você é branco, se você sai, se você não anda, se você é aleijado... Tudo, hoje em dia, tem racismo.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas, indígenas, assim, de diferentes cores, têm as mesmas atividades para atividades escolares? K.: Acho. Todo mundo é igual.
Entrevistadora: E no esporte? K.: Eu acho assim, não é dependente de cor, que a pessoa é diferente. E sim, pessoas que são brancas, ou negras, ou sei lá que cor, que tem uma habilidade com um esporte mas é o corpo da pessoa quem vai falar isso. Eu, por exemplo, não tenho pra correr, pra ser uma atleta porque eu caio dura no chão. E eu sou negra, mas eu conheço amigos meus que eles jogam basquete, e correm, e são atletas, e são negros. Têm pessoas brancas que correm. Isso é o físico da pessoa que define, não a cor.
Entrevistadora: E nas artes, você acha que é a mesma coisa? K.: Como assim, artes?
Entrevistadora: Nas artes em geral. Artes plásticas, música, teatro. K.: A mesma coisa. A capacidade da pessoa define o que ela é.
Entrevistadora: É, e você acha que pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas, indígenas têm tendência a desenvolver diferentes tipos de doenças? Assim, alguns tipos específicos. K.: Olha, eu acho assim, hoje eu não sei explicar direito este assunto. Mas hoje eu acho que pessoas indígenas e as pessoas... Não é cor, assim, é a raça... é o modo que as pessoas vivem hoje. Nós que moramos aqui, na cidade, somos negros, ou japoneses. Porque os que moram em civilizações têm a tendência de não ter tanta doença como um povo que mora no meio da mata. Que não tem a medicina, não tem o que a gente tem hoje. Acho que a diferença aí não é em cor, são em culturas diferentes e modos de habitar diferentes de vida hoje. Mas não na cor. Mas, a pessoa que mora no meio do mato tem muito mais chance de ter uma doença do que uma pessoa que mora no meio da cidade. Que a pessoa tá entrando em contato com algumas coisas... É o meu pensamento, assim. Claro que pode ser que não seja bem isso mas o meu pensamento é esse.
Entrevistadora: Ahan... Ahn. Ahan... E você acha que pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas, indígenas têm as mesmas chances no mercado de trabalho? K.: Não. Hoje uma pessoa branca que é formada numa... Um branco que ele pode ser formado só com o segundo grau e chega um negro numa empresa, uma pessoa negra, ou até mesmo uma pessoa indígena, que tem uma faculdade, que tem alguma coisa, o branco sempre vai ficar no seu.. na frente. Porque a pessoa é branca. Entendeu?! A pessoa, ela é branca, então ela é mais inteligente, ela se sobressai... e não é bem assim. Às vezes um negro se sobressai muito mais que uma pessoa branca. Indígena também. Tem muita gente indígena que, hoje, trabalha e tem a sua vida, tem uma classe social mais alta. Mas hoje em dia o mundo não enxerga isso. Enxerga só o branco que é playboy, que é filhinho de papai, que quando chegar numa empresa é por indicação. Nunca é por batalha, assim. Entendeu? Isso não é cem porcento, é claro. Tem o...
Entrevistadora Entendi. Mas acontece?
K. Acontece bastante.
Entrevistadora E nos encontros amorosos? Essas pessoas têm a mesma chance? K. De se relacionar com pessoas...? Olha, eu, particularmente, lógico que isso é ponto de vista de um ser humano, eu não sou uma pessoa que gostaria de namorar com um cara rico, que tivesse carro, dono de empresa. Porque esse cara, ele é pobre de sentimento, ele é feliz profissionalmente. Mas o dinheiro dele não compra felicidade e eu garanto que essas pessoas, hoje, elas são sozinhas. Eu não gosto de namorar com caras brancos porque o cara branco, o conceito deles, quando ele é branco ele é playboy, ou só pelo fato dele ser branco, as negras, hoje, elas são pra comer e as brancas são pra casar. Eu acho que não é bem assim. Hoje tem mulheres brancas e negras, de qualquer cor, que não se dão o mínimo valor e não servem pra nada. Eu prefiro namorar com homens, primeiro que tenha um caráter e depois que sejam da minha cor, de preferência, pra não ter uma divergência racial. Então eu acho que eu, no meu conceito, não sei do resto do mundo, mas eu gosto de namorar com pessoas do meu nível social, com a minha cabeça e que tenham, primeiramente caráter. Que saibam bem com que estão lidando.
Entrevistadora Uhum. E você já presenciou ou ouviu algum caso pessoa de discriminação? E qual que foi a sua reação? K. Há um meu mesmo e o da minha irmã. A minha criação foi uma... uma... um espanto, uma indignação muito grande de ver como as pessoas são pobres, em informação, porque isso hoje é crime. Então como elas são pobres de informação e sentimento. Então eu fiquei muito chateada em saber que isso aconteceu comigo. [?] ver com outra pessoa, foi comigo e com a minha irmã que foi bem chato. Muito chato.
Entrevistadora Você pode contar alguma coisa, assim, que aconteceu com você? Um caso de discriminação e o que você fez? Além de ficar indignada você chegou a fazer alguma coisa, tipo falar pra polícia, denunciar, etc?
K. É teve um caso aí no shopping. Que eu fui no shopping Iguatemi e, na época, estava vendendo umas correntinhas, né?! E eu fui perguntar o preço da corrente e a menina falou que eu não tinha dinheiro pra comprar e eu não entendi direito e perguntei de novo. Como hoje eu sou filha de um policial, eu chamei o meu pai, falei pra ele, né?! Então o que aconteceu com a mulher foi que ela perdeu o emprego e eu não dei parte dela porque eu não quero me igualar a ela, eu só quero que ela entenda que eu não sou diferente dela. Então eu, realmente, eu acabei chamando ele porque ele era meu pai, isso porque ele já era um policial. Mas eu não dei parte dela porque eu achei que não... Só o fato da pessoa ficar sem emprego já é triste saber que ela ficou... Até ela explicar que ela ficou sem emprego por causa de um racismo, é uma vergonha, então... Foi só isso.
Entrevistadora E você acha que deveria ter políticas específicas pra minorias? Tipo cotas em universidades ou outro tipo de política. K. Tem que explicar um pouquinho melhor.
Entrevistadora Tá. Você acha que, assim, o governo devia fazer políticas pra favorecer as pessoas que são excluídas, de alguma forma, por causa da cor, tipo cotas raciais nas universidades ou alguma coisa assim? K. É que assim. Teve uma época... teve um tempo atrás que tinha esses assuntos de cotas na faculdade, entendeu?! Só que, do mesmo jeito, é um racismo. Porque você está expondo as pessoas negras, você tá excluindo, você tá obrigando o estabelecimento a pôr tanto porcento de negros, tanto porcento... E não é a política, isso é o ser humano que tem que ter consciência própria de que hoje o branco, o preto, o azul, o amarelo têm os mesmos direitos em faculdades, em televisão. E, hoje, você vê que até mesmo na televisão é assim. São trinta bailarinas brancas e uma negra. O pessoal que já tá cheio de negra; tem uma já tá bom. Modelos também, motorista de ônibus, motoristas de taxi, qualquer coisa., entendeu?! Então eu acho que isso não é política que tem que ser feita é o ser humano que tem que se conscientizar, então como isso não vai acontecer num futuro tão próximo, então quer dizer que vai tudo ficar do mesmo jeito porque mesmo fazendo política as pessoas vão entender
que é o racismo deles do mesmo jeito. Porque a humanidade está obrigando a enfiar um negro num lugar onde não é bem vindo. Então eu não acho legal.
Entrevistadora Ahan. É... E você acha então que existe racismo no Brasil? K. Há muito, desde a raiz até lá em cima, no céu. É o que mais (ri) tem é racismo, hoje, no Brasil. O Brasil tá perdido de racismo, não só no Brasil como fora também tem muitos racismos. Eu acho que o Brasil é um pouco light de racismo, porque, no caso, lá fora, nos Estados Unidos, o negócio pega bem mais pesado. Agora que té aparecendo uns loucos aí, com um capuz na cabeça, matando todo mundo porque eles acha que têm o direito de bater em todo mundo pelo fato de ser hetero, de ser gay, lésbica, branco ou preto, eles não estão nem ligando. Mas tem racismo mesmo no Brasil, mesmo.
Entrevistadora E eu ia te perguntar no que você já tava entrando, você acha que tem racismo nos Estados Unidos. Você também acha que tem? K. Muito, muito. Eu já cheguei, assim... EU não vou falar que é uma coisa comprovada porque eu não fui pra fora, mas eu conheço pessoas que foram e tem um lugar nos Estados Unidos que chega a ser dividido a cidade entre a parte branca e a parte negra. Hoje não é mais aquela explosão mas se um negro passar numa rua que só tem branco, ele não é bem vindo. Então hoje, nos Estados Unidos, têm muito. E têm as cúpulas, tem o clã não sei do quê, dos idiotas deve ser, né?! Então hoje tem muito isso que não acontece aqui no Brasil porque não tem o clã, porque o clã é que vai preso, e nos Estados Unidos não. Nos Estados Unidos negro mesmo é animal. Não presta, tanto que você vê muitos negros hoje que tão numa classe social, que são até importantes, né?! Eu não vou citar o nome de uma modelo porque ela fez uma coisa muito feia, né?! Que é a Naomi, que ela fez... ela foi parar na delegacia por um pato de... que... de brigar com empregada, batido nela, não entendi a coisa direito. Então... Mas ela é uma pessoa.. é um exemplo. Porque ela não é daqui do Brasil e ela é uma pessoa que, hoje, tem uma classe social e está bem destacada. É um dos poucos, né, que hoje, consegue se destacar.
Entrevistadora (ri) Ahan... E na África do Sul, você acha que também tem racismo? K. Na África do Sul, pelo que eu entendo pouco de país... Só tem negros na África, no geral, e não tem o que ter racismo, lá tem miséria, tem um miserê danado, mas racismo... (ri) Só se for um racismo da própria cor, porque na África são muitos negros, negros mesmo, né, de raiz lá. Então eu acho que lá não tem racismo. Eu acho que tem muita podridão, muita pobreza lá.
Entrevistadora Ahan... É... Bom, a gente vai mudar um pouco de assunto, vai falar um pouco sobre sociabilidade, lazer, essas coisas... Que lugares você costuma freqüentar pra se divertir, pra paquerar, bom agora você tá casada, mas tanto pra isso, mas... (ri)? Mas conta pode contar. É anônimo, é anônima a entrevista e ninguém vai saber. Entrevistadora (ri) É. A gente tá casado, mas... o cavalo também pasta, não pasta?! Essas coisas. (ri) Bom, a gente tá casado mas... eu costumo, gosto de sair com amigas, com pessoas que sejam legais de sair. Eu costumo ir em baladas, sempre as mesmas baladas, eu não sou muito de trocar, de ir pra longe de casa, mesmo que eu não gosto, eu não sei o ambiente que eu tô me enfiando. Então eu gosto sempre de baladas na zona leste, na zona oeste, né?! Não conheço baladas na Vila Olímpia, baladas cara, mesmo porque eu não gosto de baladas caras, porque eu não acho legal.. Não acho! Por motivo de questão social, questão de cor, também não acho que seja legal. Mas eu gosto de ir em barzinho, sair pra baile, sair à tarde pra lanchonete, passear, ir em parques: Ibirapuera, Vila Lobos; conversar... Paquerar, hoje em dia, cê não precisa sair, né?! Eu tô numa idade que paquerar é em todo lugar, então você encontra um cara lindo no seu serviço, você tá paquerando ele... e cê tá trabalhando, entendeu?! Mas se for pra paquerar é em todo lugar.
Entrevistadora: E quem costuma ir com você nesses lugares? Suas amigas, você falou? K.: É. Eu tenho amigas que vão comigo e a maioria da gente curte muita.. ir nos lugares junto. Então a gente costuma ir. Ou amigas, ou até mesmo a minha mãe, a gente sai às vezes também. Eu não tenho vergonha de sair com a minha mãe, então...
Entrevistadora: Uhum... E, em relação a suas amigas, cê tem alguma preferência de classe? Que elas sejam mais ricas, mais pobres, a mesma coisa. K.: Todos os meus amigos têm o mesmo ambiente que o meu. Todos da mesma classe, todos com o mesmo conceito de pensar... Do mesmo jeito, muda algumas coisas, alguns carateres, alguns... mas todo mundo pensa e age do mesmo jeito. E mora... e tem uma situação igual a minha.
Entrevistadora: Ahan. E de idade. Você prefere que seja mais velho, mais novo, os seus amigos, ou igual? K.: Amigos eu prefiro que seja assim. Eu tenho amiguinhas de catorze anos, quinze anos... São amiguinhas que eu saio... Você é um exemplo pra elas, hoje, entendeu?! Eu convivi com uma amiga minha que hoje ela faz tudo de errado que eu fiz quando era nova. E, hoje, eu falo coisa pra ela e ela não quer me ouvir. Eu tenho 22 e ela dezessete, dezoito anos... e são muitas coisas erradas que eu fiz que ela teve como espelho. Então, hoje, eu tenho uma amiga de catorze, quinze anos que eu procuro sempre falar pra elas conversar. Mas eu prefiro ter amigos...
Entrevistadora:: Teste...
Entrevistadora:Voltando... Só duas perguntas atrás. Como a fita morreu... (ri) Você prefere que os seus amigos sejam de qual orientação sexual? Pode ser de qualquer orientação ou te incomoda se não for hetero? K.: É, como eu falei, os meus amigos eu respeito, todos os meus amigos. Mesmo porque desde que eles me respeitam, porque, realmente, eu não gosto, que eu tive experiências, só eu falar que eu não gosto mulher e... Não tenho. Desde que eles me respeitem, eles podem ser qualquer coisa. [?] uma atitude de respeito. Eu sou [?] sua amiga se você me respeitar.
Entrevistadora: Como você definiria o seu estilo? Assim, se vestir, música... K.: Assim, hoje é marca americana porque sou negra, com trança. Então eu sou como todo mundo fala, que gosta de andar 'na pegada' pra se aparecer... não pra se aparecer, mas pra ficar bonito na foto, aquela coisa toda... Então, hoje, eu tenho esse estilo e, com o pouco de dinheiro que eu tenho, eu procuro estar bem vestida [?] estilo.
Entrevistadora: E... Pra você, como que são as pessoas que freqüentam o lugar onde a gente se conheceu? O Sambary. Pra você como que são as pessoas que freqüentam o Sambary, o lugar onde a gente se conheceu? K.: Olha, em baladas que eu vou, no geral, não só no Sambary... É que no Sambary as pessoas são muito bem vestidas, são mais adultas. Mas, geralmente, tem balada que eu vou que o pessoal é muito molecada, muito 'mino' que não sabe chegar numa mulher, umas menina que não sabe chegar num homem chegando, e o Sambary não é bem assim. Sabe?! A pessoa sabe se botar no lugar dela, porque tá tudo na mesma idade, tudo na mesma faixa; não entra menor só entra maior de dezoito. Então, é tudo na mesma faixa, o pessoal é mais vestido, é mais adulto, mas, mesmo assim, sempre tem a minoria que estraga o baile.
Entrevistadora: Uhum... E o quê que tem de bom e de ruim, assim, nesse lugar? No Somebody, ou nas baladas, em geral, que você freqüenta? K.: Tem tudo de bom e tudo de ruim. Têm pessoas ruins, [interrupção na gravação], brigas no final da balada... E tem pessoas boas, que você pode fazer amizade, que cê pode conversar. Então, tem a metade... metade, metade na balada.
Entrevistadora: E você já entrou em alguma briga a Sambary ou em alguma outra balada? K.: Isso é uma coisa muito chata de se falar (ri), mas eu briguei uma vez na minha vida, na balada, com o meu ex-marido, que eu tava ficando com uma pessoa da balada, que
é um segurança. E ele (o ex-marido) era louco por mim, fascinado, queria até se matar e daí, ele foi na balada e começou a me ameaçar. Como eu sou uma pessoa de pouca paciência eu voltei e dei na cara dele. Ele tem um metro e noventa e eu com um metro e cinqüenta e cinco, eu dei na cara dele, briguei com ele na balada. Me senti super mal, e não voltei mais na balada. Tive uma briga com o meu marido também que ele saiu me batendo por uma briga que aconteceu. Então são duas baladas que eu, hoje, eu vou, inclusive uma já fechou que é o Clube da Cidade, e eu vou no [?] mas eu tenho muito receio porque eu fiquei super envergonhada de saber que eu me envolvi numa briga pessoal num lugar público. Muito chato.
Entrevistadora: Ahan... E como que você costuma se aproximar quando você quer paquerar alguém, ou se aproximar pra fazer amigos? K.: Olha, pra paquerar alguém é tudo no olhar. Tudo na base do olhar, a pessoa chega, vai, conversa. Agora, pra fazer amigos eu vou pra conversar, pergunto que horas são, como é o nome da pessoa, se ela tá sozinha, aí eu vou conversando. E quando a pessoa é uma pessoa legal de conversar ela continua. Hoje, eu tenho uma amiga, que vai casar esse ano, que eu fiz amizade com ela na balada. A gente ficou grávida ao mesmo tempo, eu fui na casa dela, conheci o namorado dela na balada também, o... Enfim, conheci todo o pessoal dela e a gente é amiga hoje mas a gente se conheceu na balada.
Entrevistadora: Ahan. E você costuma acessar a Internet? K.: Bastante, mesmo porque eu tenho Orkut, MSN... eu gosto bastante de mexer na Internet, ficar fuçando, ver negócio de conta em banco, eu sei que hoje é perigoso mas eu sempre mudo a minha senha. Eu vou, eu vejo na internet e eu sempre acabo mudando a senha depois.
Entrevistadora: Onde que você acessa a Internet e, tipo, quantas vezes por semana, mais ou menos?
K.: Quando eu tenho dinheiro, todos os dias, quando eu não tenho dinheiro, eu costumo ir na casa da minha sogra porque o neto dela tem computador.
Entrevistadora: Ahan. E, quando você tem dinheiro, você vai em cyber café, é isso? K.: É. Eu vou em Lan House. Vou sempre em Lan House, ou em telecentro também que tem aqui perto de casa. Tem telecentro.
Entrevistadora: Uhum. É... Você tá envolvida em algum grupo, organização, ou algum movimento social? K.: Grupo assim... Do quê, assim, especificamente?
Entrevistadora: É... Uma ONG, algum movimento social em geral... K.: No momento não. No momento eu não tô envolvida com nada relacionado a isso.
Entrevistadora: Uhum... Bom, a gente vai falar sobre os seus relacionamentos agora. (ri) É, em relação a seus parceiros, você tem preferência de classe? K.: Como eu falei, eu tenho. Gosto de namorar pessoas da minha classe, da minha cor, do meu nível e com caráter.
Entrevistadora: E de idade? K.: Pra namorar eu prefiro homens acima de vinte anos e no, no máximo, vinte e oito anos. Vinte oito, não passa dos trinta porque eu já tive experiências com caras mais velhos e já vi que não dá. A minha cabeça não é igual à deles, o assunto não é igual, nada é igual. Então, eu não consigo me ver com uma pessoa mais muito velha que eu... mais velha que eu.
Entrevistadora: E escolaridade? K.: Não, não tenho preferência de namorar pessoas que sejam... que não tenham estudo, ou que tenham estudo. Não tenho preferência disso aí...
Entrevistadora: É... E orientação sexual? Você namoraria alguém que não fosse heterossexual? K.: Eu já tive experiência com isso, há muito tempo atrás, né? Já fiquei com uma menina oito meses [?] dezesseis anos. Foi uma experiência boa mas eu me vi que eu não gosto de mulheres. Não foi um... Foi uma relação agradável. Hoje ela já não está mais aqui, conosco. Foi uma relação agradável mas é que eu vi que, realmente, eu não sirvo pra namorar com mulher, eu gosto mesmo é de namorar com homem.
Entrevistadora: Ahan... E preferência de cor? Você tem pra se relacionar com...? K.: Eu gosto dos negões. Eu adoro os negros. Eu gosto mesmo dos negos, eles têm um Q.I a mais, assim, faz a diferença hoje.
Entrevistadora: É... E religião? K.: Eu gosto de namorar com pessoas que respeitem a minha religião e que não seja fanático, aquela coisa louca... porque não dá. A pessoa não respeita nada se ela é fanática.
Entrevistadora: Ahan... É... E com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? K.: Que eu jamais me relacionaria?!... Eu não tenho problema de preconceito, eu só não me relacionaria com pessoas que gostam da mesma coisa que... assim, que gostem de mulheres. Meninas que gostam de mulheres eu jamais me relacionaria, agora caso de homem, até, acho que, com bandido. [?] mesmo que ele tenha um caráter. Não sirvo, claro, pra ser mulher de malandro, de bandido... Já namorei e também não deu certo porque é um mundo que você se vê no meio de perigo, sabe, de preocupação. Seu namorado sai e você
não sabe se ele vai voltar, se ele vai preso, se ele não se foi... E também eu tive um caso, acho que com treze anos, eu namorei com um cara que ele não[?] morreu de overdose dentro da cadeia. E eu tive uma... É ex-ficante, um mocinho, tem dezesseis anos, ele fez dezoito anos foi pra uma penitenciária adulta. Então, eu num... não dou certo com esse tipo de pessoa, mas eu não tenho preconceito de namorar com pessoas diferentes, assim.
Entrevistadora: Você... como você falou, você já foi paquerada por pessoas do mesmo sexo, né?! E como que você reagiu, sem ser essa pessoa com quem você se relacionou, como que você reage, normalmente, quando uma menina te paquera? K.: Ó, geralmente, eu levo tudo na brincadeira. No começo eu brinco, então eu falo: ‘Ai, eu sou casada. Eu gosto de homem...’ – Eu nunca fui estúpida com pessoas... meninas que me paqueraram e, elas todas, graças a Deus, sempre entenderam. Todas elas, sempre, entenderam.
Entrevistadora: E que tipo de relacionamento você, normalmente, busca? Tipo ficar, namorar, é... relacionamentos que você seja fiel ou não seja... K.: Olha, hoje que eu sou casada, eu procuro relacionamentos que a gente fica e no outro dia é amigo e ‘tchau, tudo bem...’; mas, assim, até agora, no meu casamento mesmo... e/u já me envolvi com uma pessoa mas isso é motivo de chateação e foi um dia só e depois a pessoa vira um amigo porque eu não consegui ficar mais. Eu não consegui, mais, ficar.
Entrevistadora: E você já namorou, ou teve uma relação afetiva, com alguma pessoa de cor diferente da sua? K.: Se eu já namorei com pessoas diferentes, de cor? Já. Já namorei, já, mas acabou. (ri)
Entrevistadora: (ri) E de classe diferente?
K.: Já. Namorei mas não foi uma experiência muito agradável e, por isso, eu prefiro namorar com pessoas da minha classe.
Entrevistadora: È... Orientação sexual cê já contou, né?! E escolaridade diferente, também? K.: Também... Já fiquei com pessoas que tinham escolaridade de uma faculdade. É legal saber que tem umas pessoas que têm um conhecimento a mais. Foi legal, tudo, assim...
Entrevistadora: Como que você descreveria uma pessoa atraente? K.: Uma pessoa atraente... O que me atrai, muito, na pessoa, é o que eu foco sempre: o caráter dela. Mas se for físico, assim, um homem robusto, aqueles três... quatro por quatro, aqueles armários, assim, aqueles homens fortes. Uma bundona, um corpo definido, uma boca bonita, um olho bonito. Então, isso atrai bastante qualquer mulher, né?!
Entrevistadora: (ri) E você se considera uma pessoa atraente? K.: Ah... Bastante, eu não tenho sossego na rua. Bastante. (ri) Quando você se veste bem, bastante.
Entrevistadora: (ri) E, assim, o que você espera, em relação a um parceiro? K.: Que ele me respeite. Que ele me respeite e, se ele tiver que fazer alguma coisa, que ele faça muito bem feito, que eu não descubra. Mas, acima de tudo, que ele me respeite como mulher, que ele saiba lidar comigo, que ele nunca levante a mão pra mim, que é bem chato. É isso que eu espero de um parceiro.
Entrevistadora: O que significa ficar, pra você?
K.: Ah, ficar é zoeira. Hoje você fica, amanhã você não fica mais. Fica não tem compromisso. Hoje cê ficou com um, amanhã cê fica com outro.
Entrevistadora: Uhum... E onde você, habitualmente, conhece as pessoas com quem você fica, transa, namora? K.: Ah! Saindo, balada, na rua, no serviço. Onde você sempre se relaciona com pessoas.
Entrevistadora: Uhum. O que você costuma fazer pra chamar a atenção das pessoas com quem você está interessada, assim, em ficar, namorar? K.: Olhar muito e dançar. Quando eu começo a dançar as pessoas sempre olham e você já tem em mente a intenção da pessoa. Mas olhar, olhar. Eu gosto bastante de olhar no olho da pessoa, meio discretamente, não logo [?] na cara, com aquele olhar: ‘ow, olha! Eu to aqui.’ Mas, meio que discreto, mas um olhar diferente.
Entrevistadora: Ahan. E quem que deve travar o primeiro contato? Você ou a outra pessoa? K.: Ah, eu não tenho preferência pra isso. A pessoa é muito tímida, você tem que chegar. Se a pessoa... se você vê que a pessoa não vai chegar você chega. Se você vê que a pessoa vai chegar você fica quieta esperando ela chegar.
Entrevistadora: Você considera que tem parceiros pra ficar e outros pra namorar? K.: Tem. Tem caras que você jamais namoraria, pra... você só ficaria. E tem caras que vê que é pra casar.
Entrevistadora: Mas, o quê que deixa eles diferentes? Assim, esse cara é pra ficar, esse cara não...
K.: Ah, tem cara que é galinha, que é estúpido, que não respeita ninguém. Tem cara que é bom nem ficar. Não sabe respeitar, só que a mulher é... submissa, ou o homem. E tem os caras que chegam com você e conversam, respeitam. O cara que, geralmente, serve pra casar, é sempre um amigo. Um amigo que conversa, que dá um ombro, que te elogia, que convida você pra sair, tipo: ‘ Ah, vamos ali que eu vou lá no motel, não [?], vamos sair...’ E, geralmente, um cara que vai te respeitar, que vai casar com você, não vai chegando em você: ‘ Ai, então! Eu vou comer, vou acontecer...’ Então você vê que tem uma diferença entre os homens.
Entrevistadora: Ahan. É... O quê que você pensa de namoro entre pessoas de cor e raça diferente? E casamento... K.: Ah. Pra mim eu olho e acho bonito misturar as raças. Acho bem bonito, só que comigo isso não funciona. É... Eu não vejo nenhum mal mas, comigo, não funciona.
Entrevistadora: E sobre namoro, e casamento, entre pessoas do mesmo sexo? K.: Ah. Normal. Eu acho bem legal, é diferente, é uma coisa que, hoje, ta em alta. Todo... Tem mulher e mulher casando, homem com homem casando. Só não tenho preconceito. Eu acho que é muito bonito de ver, eu acho engraçado, até, ver as pessoas do mesmo sexo, andando na rua, conversando. Mas é legal.
Entrevistadora: Ahan. Você transa no primeiro encontro? K.: Depende. Depende do que vai acontecer no decorrer de uma conversa, no decorrer da noite, o clima... Depende muito.
Entrevistadora: E, se você transa no primeiro encontro, você usa preservativo? K.: Com certeza. Sempre. Pode ser marido, namorado, amigo, vizinho, não interessa. A cara não diz se a pessoa tem uma doença ou não.
Entrevistadora: Você, agora, ta casada, né?! Então, onde vocês se conheceram? E eu queria que você falasse um pouco sobre ele, sobre a relação de vocês, essas coisas... K.: É uma história comprida, né?! (ri)
Entrevistadora: Conta um pouquinho, se você quiser. K.: É. Eu vou contar um... por cima. Nós nos conhecemos assim, porque... Antigamente, eu era casada com um amigo dele, que hoje, inclusive, eles não são nem amigos mais... e ele foi se interessando por mim e eu fui ficando com o amigo dele enquanto a gente foi se interessando. A gente foi se envolver mesmo, mesmo porque ele era amigo das minhas primas também, então a gente começou a se envolver numa balada. Ele foi, por acaso eu estava na balada, assim, começou a ir, e a gente começou a se conhecer... Fomos se envolvendo, mas eu tinha um namorado na
época, então a gente foi se
conhecer... então, ele era meu amigo depois passou a ficar. Ele foi uma pessoa que sempre me tratou bem, me tirou das piores situações que eu estava na vida, na época. E, hoje, ele é uma pessoa pra mim, ele tem um significado importante na minha vida. Porque através dele eu mudei, cresci um pouco mais, aprendi outras coisas, aprendi que nem sempre deve se dar tudo pra receber nada. Ele é um homem, eu acho, que qualquer mulher, independente dos defeitos que ele tenha, qualquer mulher gostaria de ter ele do lado porque ele é uma pessoa que se respeita, entendeu?! Ele sempre age pela lógica e nunca pelo sentimento, ele sempre age na razão. Ele não deixa o sentimento mover ele numa coisa séria. Ele é um bom pai pro meu filho, tá sempre ali, presente... sempre faz as coisas pra ele, pra mim. Tem algumas divergências, é uma pessoa muito ciumenta, muito de guardar e, quando ele explode, acaba machucando, dificultando o relacionamento. Mas, com ele, eu aprendi bastante.
Entrevistadora: É... E como que foram os seus últimos relacionamentos estáveis? Antes desse. K.: Meu primeiro relacionamento estável foi uma coisa... foi uma experiência. Porque eu era nova, comecei a namorar, comecei a ir pra balada e eu achava que eu tinha
que beijar todo mundo. Então eu acabei machucando a pessoa que estava comigo. E com essa pessoa eu tive quatro gravidez, todas não bem sucedidas. Hoje, a gente não se fala mais, por ter assim... por culpa minha mesmo, muita infantilidade da minha parte. Então nesse relacionamento eu cresci, aprendi a sempre falar a verdade, jamais mentir, mesmo que doa... doa a quem doer. Procurar sempre falar a verdade o relacionamento e nunca mentira. E o meu segundo relacionamento foi péssimo. Porque eu convivi com uma pessoa que a mãe não gostava de mim, ele não tinha pulso e eu amava muito ele. Eu cometi várias divergências na minha saúde. Fui várias vezes parar no hospital, bebia... Enchia a cara, passava por situações tristes, tive depressão. E, hoje, a pessoa não tá nem aí pra mim... hoje eu sofro muito com isso, porque foi um relacionamento que eu , realmente, me dediquei. Eu dei a minha vida e a pessoa, hoje, me deixou... sabe?! Me deixou. Eu fui bem agradável com ela e ela me deixou, sem explicação.
Entrevistadora: Uhum... E você usava preservativo nos seus relacionamentos? K.: No primeiro... como... assim... Eu, no meu primeiro, quem tinha uma amizade com o meu primeiro namorado fui eu, e eu já não era mais... e ele não gostava muito. E ele era uma pessoa que quando se envolvia comigo ele não se envolvia com ninguém, né?! Então ele não usava muito. Agora, o segundo namorado que eu tive, a gente sempre usava, sempre, sempre. Porque ele não queria que eu engravidasse de maneira nenhuma, então ele sempre usou. E o meu marido, ele não gosta de usar e, mesmo porque, eu tenho muita confiança nele. Eu sei que ele não tem nada fora...
Entrevistadora: E... Bom, vocês estão morando juntos, né?! Você e o seu marido? Como que é a relação com ele em casa? Vocês dividem as tarefas domésticas, o cuidado com o seu filho? K.: Ele divide tudo quando ele quer, quando ele não quer ele deita na cama e dorme, e eu faço tudo. Mas em relação a filho, ele sempre me ajuda. Sempre ajuda, sempre fica um pouquinho, quando eu tô com sono ele sempre cuida do nenê pra mim. Ele sai com o nenê, passeia, volta. E eu arrumo a casa, ele vai passear. É sempre... algumas coisas são divididas sim, mas não as tarefas de fazer comida, que eu sou eu quem faço; a casa, quando ele
resolve arrumar, ele quer arrumar a casa toda sozinho, e quando ele não quer, ele quer ficar deitado, sabe?!
Entrevistadora: E com que idade que você teve seu filho e como que ele foi recebido pela sua família? K.: Essa é a minha quinta gravidez, que eu tive filhos muito cedo, eu comecei com dezesseis anos esse negócio de engravidar toda hora mas, o meu filho ele tá com dez meses então, quando eu tive ele, eu tava com vinte e um anos. Quando eu falei da minha gravidez, no começo, todo mundo ficou bravo porque devida a eu ter problemas pra engravidar, devido a gente não estar trabalhando naquela época, ficou aquela coisa... aquela situação chata, mas foi tudo bem. Foi tudo bem. Hoje ele é muito querido na minha família.
Entrevistadora: Então ele não foi planejado, né, o seu filho? K.: De certa forma não. Ele veio numa situação da minha vida que eu gostaria, hoje, que ele não tivesse vindo. Porque futuramente eu vou ter que explicar pra ele tudo o que aconteceu, pra que chegasse a ter esse pai que ele tem hoje, essa vida que ele tem hoje, pra saber que tem uma pessoa que era pra ter amado... e rejeitou ele. Que, hoje, não tá nem aí pra ele.
Entrevistadora: Mas então, o seu filho, na verdade, é do seu relacionamento anterior? Ou não? K.: É uma coisa, assim, que é coisa mais de mulher do que o povo falar que tem que fazer DNA. Não preciso de fazer DNA pra saber de quem é o filho do meu pai... quem é o pai do meu filho. Então... (ri) Então, hoje, assim, eu sei que o meu filho não é filho do meu marido. Ele, no fundo, no fundo, sabe, mas ele prefere acreditar que o filho é dele. Mesmo porque é dele porque desde o primeiro mês ele assumiu tudo, todas as despesas, todos os trabalhos, todas as dor de cabeça. Mas ele, realmente, não é filho do meu marido. Ele é filho dum cara que... nota zero pra ele. Ele rejeitou a paternidade... ele veio com o assunto mas desviou o assunto e não quis nem saber.
Entrevistadora: Você chegou a falar pra esse outro cara que...? K.: Cheguei a falar. E como ele ficou com muito negócio de: ' ai... mas tem que fazer o DNA...' Porque na hora de fazer é tudo bom, mas na hora de pular fora... ele foi primeiro. Eu fui mulher pra chegar e falar que eu tive um outro relacionamento que não fosse o dele, porque ele mora com... Vários problemas. Ele me largou sozinha, eu tava carente, conheci um cara mais importante. Cheguei nele e falei: '' Eu tô grávida e essa hipótese desse filho ser seu é concreta, não precisa de DNA.'' Ele não quis nem saber e porque eu fiquei chateada e, no começo, eu acabei falando que não era dele. 'Não era dele, não era dele' – porque eu queria acreditar que não era dele, porque eu sofria bastante em saber que o meu filho tinha um pai que num... que rejeitava, que queria fazer ele de cobaia. Porque teste de DNA, hoje, numa criança hoje é cobaia. Sendo que a mãe sabe explicar o pai... quem que é o pai e tal. A criança vira cobaia na mão da mãe e do pai, e da família. Por a família dele querer que fizesse DNA eu acabei desiistido. Mas, hoje, todo mundo que me pergunta, e que eu tenho a oportunidade de falar, sem machucar o meu marido, eu procuro falar a verdade. Se ele assumiu, que ele é um homem hoje, e ele não admite que fale que o filho não é dele porque é dele. O pai não é quem faz é quem cria.
Entrevistadora: Ahan. Hum... Ahan. Com certeza. E como que vc acha que ser mãe se encaixa na sua vida? Como que mudou a sua vida ser mãe? K.: Ah! Mudou bastante, porque ser mãe... Filho era tudo que eu queria, por eu ter perdido muitos... Hoje o meu filho tem um significado na minha vida, assim, fundamental, infinitamente, assim, sem explicação. Amor de mãe é uma coisa que não dá pra explicar... Não resume. Hoje eu sou uma mulher realizada como mãe e o meu filho pra mim é a minha vida. Ele é tudo pra mim. Ele é a primeira pessoa, independente de pai e mãe, ele é a primeira pessoa. Ele é a pessoa mais importante pra mim. Meu mundo gira em torno dele. Qualquer coisa que eu faço eu penso nele.
Entrevistadora: Ahan. Como que é a sua relação com ele, seu filhinho?
K.: Ah! Eu gosto bastante de brincar com ele. Eu chamo ele de 'carinha gorda'. Engordou, porque... EU gosto bastante de brincar de estar sempre perto... fico triste de ter uma situação financeira que eu não possa acompanhar todas as primeiras coisas que ele fala, como a primeira vez que ele levantou sozinho, primeira vez que ele engatinhou eu não pude estar lá pra ver. Eu vi depois, eu vi a primeira vez que ele dançou, que ele tava lá batendo os pezinhos lá. Eu tenho uma relação muito boa com ele. Eu, sempre, procuro estar perto pra que ele possa saber que eu sou a mãe.
Entrevistadora: E o quê que vc acha da maternidade/paternidade gay e lésbica? K.: É uma coisa que tem que ser muito bem conversada com a criança. Pra que ninguém crie preconceitos na cabeça da criança. Eu acho que a criança, que nem hoje, um dia o pessoal acha que eu falo que a criança que cresce no meio gays e lésbicas, a tendência é virar um gay ou uma lésbica; e a verdade não é essa. Eu conheço pessoas que têm o pai e a mãe do mesmo sexo e são pessoas heteras; e não têm vergonha de falar que o pai é a mãe e a mãe, ou é o pai e o pai é o pai. (ri)
Entrevistadora: (ri) E como é que vc imagina uma família ideal? K.: Uma família ideal é uma família que.... O meu sonho de vida, hoje, tanto material quanto pessoa, assim, eu falo de ideal pra mim, é uma estabilidade boa, numa casa dos meus sonhos, um carro, com a minha família... e a nossa comodidade, assim, todo mundo junto. Porque o meu sonho nunca foi casar, sempre foi ser mãe solteira. Então eu sempre me vi muito com o meu filho mas, como a gente é casada, a gente casa e não quer separar tão cedo. Ninguém casa pensando em separar, porque não precisa casar, né?! Então, hoje, eu penso em ter o meu filho e o meu marido sempre perto de mim, numa casa bonita, grande, porque eu nunca tive oportunidade de ter... de morar em casa grande, ter uma vida financeira boa e ter o meu filho muito bem educado, (ri) muito bem educado e muito bem criado.
Entrevistadora: E, vc acha que é igualmente importante pro homem e pra mulher, o filho? Ou é diferente? K.: Não! É importante pra mulher. Que a mulher se sente mulher quando ela vira mãe, ela se sente realizada... as mulheres que, hoje, pode ser chamadas de mãe. Porque tem mulher que é bom ser chamada de outros nomes, né?... porque não é mãe. Mas, as mulheres que podem ser chamadas de mãe, é realizante pra ela ver um filho crescer, saber que é mãe, ouvir aquela pessoa te chamar de mãe: ‘ô mãe...’. Você é importante. Você é importante na... hoje, como mãe. Então pra mulher é mais importante que pro homem. Têm homens que querem ser pai de qualquer jeito mas não são todos. A minoria...
Entrevistadora: E, se você não pudesse ter filhos, você adotaria um? K.: Ah, com certeza. Têm muitas crianças hoje que precisam de um carinho de mãe, carinho materno; e eu adotaria. Se eu pudesse, eu adotaria todo mundo.
Entrevistadora: (ri) Bom, continuando... Qual que é a sua memória, da sua infância, das suas vivências afetivas e sexuais? K.: Como assim?
Entrevistadora: Tipo, você tem lembranças da sua infância, significativas, da sua sexualidade? Assim, de experiências que você teve? Tipo, as suas primeiras experiências. K.: De, assim, relacionamentos assim, ou...
Entrevistadora: Relacionamentos de você descobrindo o seu corpo ou com amigos, de se descobrir mesmo... K.: Ah, eu não... eu acho que... Eu num me lembro muito bem dessa fase de me descobrir. Lembro que foi legal ver que tava crescendo tudo em mim, porque eu comecei a me desenvolver com oito anos. Então com oito anos eu tinha pêlos, eu tinha peito... e com
dez anos eu era uma mulher formada de corpo. Com dez anos eu fiquei menstruada, então eu fiquei mulher muito cedo. E me desenvolvi cedo, então, aquilo, pra mim, foi uma bomba, foi um espanto. [?] que minhas amigas eram crianças e eu já era tachada como mulher pela humanidade.
Entrevistadora: E de que formas as informações sobre sexo chegaram, e chegam, até você? K.: Através da minha mãe, sempre. Minha mãe sempre passou todas as informações pra mim. Ela sempre passou tudo. Ela conversou comigo tudo desde o primeiro dia que eu fiquei mocinha, ela conversou tudo. Sempre me explicou todas as coisas pra mim. Foi através dela que eu sei tudo hoje.
Entrevistadora: Uhum. E ela é a fonte mais confiável pra você ou cê esclarecer as suas dúvidas em outros lugares ou com outras pessoas? K.: É ela e o médico. São as pessoas mais confiáveis, de assuntos mais confiáveis, que eu tenho hoje.
Entrevistadora: E como que (ri) os seus familiares se comportavam, e se comportam, em relação a sua vida sexual? K.: Bom, no começo era um espanto. Como eu fiquei... eu perdi essa virgindade muito cedo, aos treze anos, no começo foi aquela coisa: ‘ Menininha do pai, da mãe... Deixou de ser menina e virou mulher.’ Eles tinham muito... a humanidade tem preconceito em relação a você... Não. Não é bem preconceito, porque hoje eu acho que não é normal uma menina de onze anos, dez anos, doze anos, ficar grávida, perder a virgindade ou, até mesmo, virar mãe. Aí eu vejo isso e... mas eu vejo isso assim, a menina [?] tá se descobrindo [?] falta de assunto. Eu acho que é isso.
Entrevistadora: E... Sua primeira vez, sua iniciação sexual, foi com treze anos, então? Conta um pouquinho como foi ou se teve uma experiência antes disso, sem ser a relação sexual completa. K.: Não. Eu só... a minha primeira vez foi só com treze anos com o meu professor de natação, foi horrível, foi péssimo, é uma coisa que eu não gosto nem de lembrar. Foi extremamente horrível. Eu não gostei mesmo e depois eu fiquei, praticamente, eu fiquei quase dois anos sem fazer nada.
Entrevistadora: Mas você quis fazer? Foi opção ou...? K.: Movida pela curiosidade sim.
Entrevistadora: Uhum... É... E você já teve relação... algum tipo de relação sexual pra obter alguma vantagem? Tipo financeira, familiar, escolar... K.: Já. Quando a minha amiga... quando a minha mãe estava passando por situações difíceis. Que eu via que, no caso, a minha mãe precisava mesmo, entendeu?! Foram duas vezes mas eu não me arrependo, porque pela minha família, pela minha mãe, pelos meus irmãos eu dou a minha vida.
Entrevistadora: E você já foi constrangida, alguma vez, a ter relações com alguém? K.: Sem querer?! Já, eu já passei por isso. É assim, eu pouco falo nisso, pouco gostaria de falar, porque é uma situação muito difícil. E... É muito chato. Não vou falar que... os outros falam assim: ‘ Que uma mulher fica louca’ – Num fica, num fica. Mas a lembrança e a... é dolorosa. Mesmo porque você num pode contar pra muita gente e eu contei, na época, e ninguém acreditou.
Entrevistadora: Sério?!
K.: Então eu convivo com isso e eu sou uma pessoa normal. Passou, acabou! Mas eu tenho trauma de homem andando atrás de você, te olhando, você procura ver bem com quem se envolve pra não passar por isso de novo. Porque foi uma situação muito desagradável se você num... foram seis pessoas, então foram... foi uma coisa bem chata. Hoje, claro, que é uma coisa assim, como o fato de eu ter uma relação com pessoas diferentes de nível social, todas as pessoas que fizeram isso comigo, felizmente, elas estão debaixo da terra. Todas. Todas mesmo.
Entrevistadora: Mas eram pessoas, assim, que você conhecia, ou não? K.: Eram pessoas que viviam no mesmo meio que eu. Que me viam e eu não via elas. Então... entendeu?! Como elas eram conhecidas pelos meus amigos, todas elas, pra melhor no mundo, elas foram embora. Que era bem melhor, né?!
Entrevistadora: E você já constrangeu alguém a ter relações sexuais com você? K.: Nunca! Deus me livre. Longe de mim um negócio desse. Nunca, pode deixar a pessoa sem querer nada mesmo... (ri) Só se... se ela quiser tudo bem, se ela quiser não tem nada não.
Entrevistadora: (ri) E você acha que é importante ter um envolvimento afetivo, amoroso, com as pessoas com quem você transa? K.: Ah. Hoje em dia, esse negócio de relação homem – mulher na cama... Hoje em dia não existe mais namoro, existe uma química. Hoje é mais corporal, não tem... não rola mais um sentimento. Pra mim é importante que, quando você se envolva com uma pessoa...
Entrevistadora: Teste...
Entrevistadora: Continuando. É... O quê que significa uma relação sexual pra você?
K.: Ahn?
Entrevistadora: O quê que signif... Ah, tipo, que práticas você classi.. acha que tem que ter? É... carícias, beijos, etc? K.: Tem que ter uma prática, respeito, muito respeito e muito respeito. Independente de ter carícias e amor, tem que ter muito respeito um como outro. Os dois tem que saber entender um o lado do outro.
Entrevistadora: Ahan. E... Você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? Conta um pouco da sua experiência nesse sentido. K.: Ah, eu já tinha me envolvido com uma menina mas eu não tive atração, ela tinha atração comigo e eu tive mais curiosidade. Eu nunca tive atração por mulher, assim, ver uma mulher na rua e falar: ‘ Nossa...’ Não. Nunca tive esse problema. Não é nem um... Não é um problema, nunca tive isso.
Entrevistadora: Sim. É... Bom, sobre as suas últimas relações afetivas e sexuais, como assim, foi, mais ou menos? Tipo, a relação, quem eram os parceiros, em geral... K.: Como foi minhas relações em parceiros... Num todo e não de cada um?! Todas foram legais, claro que com algumas divergências, mas todas foram legais, só mesmo da primeira vez que não foi legal. Mas as outras foram boas.
Entrevistadora: E quais práticas você costuma fazer, assim, com os seus parceiros? Assim, você costuma ter alguma restrição ou normal se...? K.: Eu acho que assim, hoje em dia, nas minhas relações sempre há restrição daquelas coisas de sexo anal, essas coisas assim. Se Deus deu a frente pra quê dar atrás. (ri) Isso sempre funciona. Isso é extremamente nojento. Eu acho que, hoje num casamento, a mulher tem que ser o máximo possível mulher com o marido na cama, porque hoje, cê vê que tem muita competições de mulheres na rua, que ganham dinheiro com isso e que fazem
tudo o que cê pode imaginar. Então, com o meu marido, eu não tenho restrição, agora, com outras pessoas que eu me relacione, que eu venha a me relacionar futuramente, tem sempre uma restrição. Toda regra tem uma...
Entrevistadora: E quais são as práticas que você acha, assim, mais prazerosas? K.: As normais. Que não seja nada anal. As normais [?]... As normais que eu falo, assim, nem que seja oral, é normal, mas anal é só coisa pra louco. Coisa pra louco, definitivamente. É fora do normal, esse negócio.
Entrevistadora: (ri) É... O quê que você acha inaceitável numa relação? K.: Numa relação, assim, os dois numa... Inaceitável é uma pessoa trocar o seu nome. Isso é inaceitável, é uma falta de respeito. Uma coisa, totalmente constrangedora. E você aceita tudo que esteja dentro do que você gosta e te dê prazer.
Entrevistadora: E... Que tipo de prática que pode acontecer durante a relação mas que você não gosta? Assim, você não consegue evitar mas acontece. K.: Fazer acrobacia, na relação. Botar a perna no teto, ficar de cabeça pra baixo... (ri) Essas coisas aí não são legais, porque é desconfortável. Totalmente o pescoço lá no pé, essas coisas, assim, que os homens inventam. É muito engraçado. (ri)
Entrevistadora: (ri) Durante uma relação, o quê que pra você é arriscado, mas é bom de fazer? K.: O quê que é arriscado?! Você entrar numas posições que, tantos pelos, médicos... como você costuma ir no médico conversar, tem posições que não são agradáveis, que dão no problemas no útero da mulher, até mesmo. Ou aquela coisa com muita violência, com muita... com muito gás, não é nem saudável pra uma pessoa.
Entrevistadora: É... Quantas vezes você transa por semana, atualmente? K.: Ultimamente, nenhuma! Ultimamente, eu tô numa situação da minha vida que, nesse momento, eu não penso nessas coisas. Mas se for pensar, todo dia. Quando tá tudo bem, todo dia.
Entrevistadora: É, e você tá satisfeita com a sua vida sexual ou gostaria de mudar? K.: Eu tô satisfeita com a minha vida desse jeito. Não tem nada pra mudar nem acrescentar.
Entrevistadora: Uhm. Você é contra ou a favor do aborto? K.: Como eu... Eu sou assim, o aborto é um assunto mio complicado hoje na sociedade. Então, assim, eu sou a favor desde que seja um aborto, assim, uma violência sexual, ou a mãe não tem... tudo bem, tem que se prevenir... mas a mãe ficou grávida e não tem como botar uma criança no mundo, ou é pra dar ou jogar no mundo, eu prefiro que tire. Você não tem condições financeiras e vai deixar a criança passando fome, eu prefiro que tire. Agora, se for por safadeza, ou só porque: ‘ Não quero... Fiquei mas eu não quero.’ – Eu acho que, aí, a pessoa tem que ter mesmo, pra sentir na pele como que é a responsabilidade que você teve. Tem que assumir.
Entrevistadora: E você já fez aborto alguma vez? K.: Eu fiz uma vez, quando eu tinha dezesseis anos porque, realmente, eu fique imuito assustada. Eu não me cuidei mas eu não tinha condições de ter um nenê naquele momento.
Entrevistadora: E... Como que foi? Assim, pra quem você pediu ajuda, essas coisas, onde foi, mais ou menos?
K.: Eu pedia ajuda pra minha tia e aí, eu tomeio o remédio que, hoje, ele é... não é... é ilegal na sociedade, que é o [?] que todo mundo toma, geralmente. E não foi legal, porque você sente dor, você sente remorso, você fica pensando: ‘ Hoje, se eu tivesse um filho, eu tenho vinte e dois anos e ele estaria, basicamente com... sente ou oito anos.’ Ele já estaria grande hoje, mas eu não condições de botar uma criança no mundo pra sofrer, então eu preferi tirar. Mas hoje, eu penso que, se seu tivesse me cuidado é melhor, se não eu teria [?] filhos.
Entrevistadora: E quais são as características, ou as qualidades, que você acha que definem uma mulher? K.: Mulher, ela tem que ser mulher. Ela tem que assumir, não define nem o que define só a mulher, mas o que define o ser humano hoje.. A mulher tem que assumir tudo o que ela faz, todos os campos que ela atua ela tem que ser mulher. Tem que ter um caráter, uma personalidade, tem que se valorizar como mulher. Porque hoje as mulheres não se valorizam mais, elas estão muito expostas no mundo, elas tão igual ao homem, totalmente, entendeu?! Então elas não têm nem mais o respeito... Tem mulher que não pode mais ser mulher, mais... Eu acho que uma mulher, ela tem que se valorizar. Basicamente...
Entrevistadora: E quais qualidades, características, comportamentos, você acha que definem um homem? K.: Homem tem que ter caráter, tem que ter a personalidade dele. Tem que assumir o que ele faz, Tem que ter um... tem que ser uma pessoa de caráter de sociabilidade. Eu acredito num homem, sempre, é que ele tem ser homem, tem que assumir as coisas dele, muito mais do que a mulher. Porque, hoje, um homem é um chefe de família, a pessoa que cuida da mulher do filho, então ele tem que ter uma posição.
Entrevistadora: E quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem e de ser mulher, na nossa sociedade? E os limites, assim...
K.: Hoje em dia, o homem e a mulher, eles têm as mesmas vantagens. Mas tem aquele preconceito que o homem pode isso, a mulher não pode aquilo, o homem faz... E eu acho que é tudo igual. Se o homem pode ter um dinheiro e uma mulher também pode. Se o homem pode sair com várias mulheres, a mulher também pode. Porque os dois estão agindo, nesse casso, pelo errado. Eles levam uma fama igual. Não sei se ela é igual, então... Nada define a diferença entre homem e mulher, os dois são iguais e são ser humanos da mesma forma.
Entrevistadora: E se esses homens e mulheres forem gays, lésbicas, bissexuais, quais que você acha que são os limites, é... e as vantagens de você ter essa orientação? K.: A sociedade pensa que o homossexualismo, as lésbicas, elas têm que ter um limite pra entrar nos lugar, elas não podem se beijar porque hoje todo mundo pensa que: ‘ Ai, quê que passa na cabeça de uma criança que vê uma mulher com outra mulher se beijando?!’ Nada! Nada. O pai e a mãe têm que conversar, isso é do mundo, a pessoa já nasceu assim, a pessoa é assim e não vai mudar. Eu acho que isso é preconceito, pra mim eles não têm limitações. Eles são ser humanos iguais. A criança vê e: ‘ Ai, mãe, um homem tava beijando um homem.’ – ‘ Tudo bem, é um homem é a... é o que ele quis pra vida dele.’ . Então não tem limitações pra ele. Eles ser humanos iguais. Essa hipocrisia da sociedade, pensar que o homem que é gay, e a mulher que é lésbica não é mulher, é preconceito, isso. É uma burrice, uma falta de cultura. Eu acho que o homem, gostando de homem ou sendo mulher gostando de mulher, ou coisas parecidas, é igual. Não tão matando ninguém, eles tão cuidando da vida deles.
Entrevistadora: E... O quê que seu pai e a sua mãe ensinaram pra você sobre as diferenças entre os homens e as mulheres? K.: Que você seja o que você escolha ser o que você quiser, desde que você tenha um caráter. Que pessoa, ela pode ser lésbica, ela pode ser hetero, mas se ela não tem caráter, pra mim, na minha família, a pessoa é um animal. Uma pessoa burra, sem cultura.
Entrevistadora: E o que você pensa sobre a virgindade? K.: Virgindade é uma coisa... É que é assim, a minha mãe me ensinou que virgindade pra mulher é um ouro. Tudo o que você tem é a virgindade e quando você perde ela você tá entregando na mão de uma pessoa uma.. uma coisa importante, que é você ser virgem, você tá entregando esse ouro. Então isso tem uma importância porque , à partir desse momento, você passa a ser uma mulher e você entregou tudo de mais importante que você tinha na mão de uma pessoa.
Entrevistadora: E o quê que você pensa sobre infidelidade de homens e de mulheres? K.: É que, a infidelidade, tem várias maneiras de você caracterizar ela. Tem infidelidade porque o relacionamento não tá bom, tem infidelidade porque a pessoa não consegue ser fiel, ela ama o parceiro mas ela não consegue, ela não quer, ela não tem meio, ela não se segura, a carne é fraca. Então eu acho que a infidelidade é assim, se você vai casar com uma pessoa pra você trair, então é melhor não casar. Se você vai casar pra você se machucar, pra você enganar, não casa, fica solteiro. Se o seu relacionamento não tá bem, conversar, conversa, conversa, conversa. Porque de modo que não houver meios, aí você faça o que você achar melhor.
Entrevistadora: Uhum. E o que você pensa sobre as mudanças entre os homens e as mulheres depois das conquistas feministas? K.: Como assim?
Entrevistadora: Ah, a liberação sexual, mais acesso das mulheres no mercado de trabalho... K.: Ah, penso que é muito bom, porque, hoje, a mulher e o homem são valor... são vistos como iguais na humanidade. São vistos hoje, no mundo, como igual. A mulher e o
homem, em matéria de trabalho, conquistaram, no meio de trabalho delas, no espaço delas, que elas vêm conquistando cada dia mais, elas passam a ser iguais para o homem.
Entrevistadora: É... Como que você se sente, e o que você costuma fazer, quando você está sem interesse sexual por um período longo? K.: Eu me sinto normal, muito bem, não tenho problemas de: ‘ Ai, vou subir pelas paredes...’ Essas coisas todas. Eu me sinto bem.
Entrevistadora: E quando o seu parceiro tá sem interesse sexual por bastante tempo, o que cê faz, como cê se sente? K.: Quando o meu parceiro não tem interesse sexual eu procuro saber o quê que é, fico meio chateada, de saber que ele não tem algum interesse. Mas, da mesma maneira, eu procuro conversar pra ver se é algum problema de sentimento.
Entrevistadora: Como que você cuida da sua saúde, assim? Você costuma ir bastante ao médico, você se alimenta bem, faz exercícios? K.: Eu não gosto muito de fazer exercícios que eu sou muito preguiçosa. Eu não gosto muito de ir ao médico, porque devido de eu ter muitos problemas, que eu tenho, eu prefiro não procurar. Mas eu procuro me cuidar bem na altura do meu limite, o quanto eu posso.
Entrevistadora: É e quais são, e foram, as suas experiências no atendimento de saúde pública e privada? Assim, a diferença entre as duas e tal... K.: Ah. Os dois é igual. Mesmo particular e um SUS, hoje, você espera do mesmo jeito. Hoje têm médicos e médicos, têm médicos bons e ruins, tanto no SUS quanto no particular. Têm médicos ruins do mesmo jeito, eu tive experiências boas e ruins dos dois, nas duas partes.
Entrevistadora: E você já teve alguma doença transmitida por via sexual? K.: Eu tenho um vírus, mas é por... hereditário, de paternidade. Meu pai pegou um vírus que chama Sífilis, é a Sífilis, e é negativo. E nesse caso, foi um dos problemas que eu tive na minha gravidez. Eu vi que era negativo, mas é uma coisa que não passa, tá estacionado. É hereditário, talvez o meu filho também tenha no sangue dele assim como o meu irmão tem, eu também tenho, mas não passa e não faz mal pra ninguém.
Entrevistadora: E... O seu parceiro já teve alguma DST? Doença Sexualmente Transmissível? K.: Nunca. Nunca mesmo, porque ele só teve dois... duas parceiras sexuais, então ele não tem. Não tem esse problema. Nunca.
Entrevistadora: E o quê que você sabe sobre a AIDS? K.: O quê que eu sei sobre a AIDS?! Que é uma doença sexualmente transmissível, que é um... eu não sei explicar mas, aquela coisa... O vírus ele não passa, o vírus da AIDS ele não passa tem como curar. Agora, se eu não me engano, a doença é o que passa... É alguma coisa assim, é um a informação meio vaga ainda pra mim, eu não consegui assimilar mesmo tendo muita.. bastante explicação, eu não consegui assimilar ainda.
Entrevistadora: Você conhece alguém com o vírus da AIDS? K.: Conheço bastante gente. Conheço bastante gente, a maioria são gays e lésbicas hoje, então eles se cuidam, mas não tanto, e já conheci uma... minha amiga, que ela morreu faz anos já, que ela pegou essa doença.
Entrevistadora: Ahan... E você acha que você pode pegar o vírus da AIDS?
K.: Todo mundo pode pegar desde que não se cuide. Então todo mundo aqui dentro pode pegar.
Entrevistadora: Mas você acha que tem algum tipo de pessoa, ou grupo, que tá mais vulnerável pra pegar? K.: Os gays, lésbicas eles estão mais dispostos hoje. Entendeu?! Eles estão mais disposto. Eu acho!
Entrevistadora: Uhum. É... O que você sabe sobre os remédios que são usados no tratamento das pessoas que têm AIDS? K.: AH. Eu não sei muito sobre remédios, eu conheço coquetéis mas eu não sei explicar não.
Entrevistadora: ahan. E você já fez teste anti-HIV? K.: Já. Na gravidez a gente faz teste de todas as doenças e todas são negativas.
Entrevistadora: Ahan... E você falou que costuma usar preservativo normalmente, mas quando você não usa, porque que você não usa? E como que você define com quem que você vai ou não usar? K.: Ah. Como o meu marido eu não uso. Porque ele não quer e porque eu tenho confiança nele. Agora, com outras pessoas eu uso... se eu tiver relacionamento com outras pessoas, como eu não tenho então não uso.
Entrevistadora: E você usa em todas as práticas sexuais, inclusive sexo oral ou não? K.: Não. Só.. No sexo oral não, só... é... como é que fala?! Penetração.
Entrevistadora: Ahan. E quando você usa preservativo, onde que você consegue? K.: Na farmácia. Farmácia, comprando, posto, gratuito. Tem campanha e eu sempre procuro ir; palestras, em campanhas. Mesmo porque eu tenho informações muito bem entendidas na minha cabeça e eu procuro sempre me informar pra sempre tá com o assunto em dia. Tem palestras em que a gente ganha muito. A minha tia, no caso, muito.
Entrevistadora: E... Agora, nesse momento, você tem um preservativo com você? K.: Nesse momento não. Eu tenho na minha casa.
Entrevistadora: Uhum. Já aconteceu com você de romper o preservativo durante a relação? K.: Já.
Entrevistadora: E o quê que você fez? K.: Tomei um outro remédio, e procurei ir no médico no dia seguinte, pra ver se teve algum problema, fazer os exames direitinho.
Entrevistadora: Uhum. Você tomou contracepções de emergência? Foi isso? K.: Foi., Foi.
Entrevistadora: E onde que você conseguiu? Na farmácia ou...? K.: Na farmácia. Comprei na farmácia.
Entrevistadora: Você já usou camisinha feminina? K.: Nunca. Não é confortável, eu acho que não é confortável. E eu também, mesmo explicando, eu não sei colocar, eu tenho medo.
Entrevistadora: Uhum. E a masculina? Que Cuidados que você toma pra colocar? Pra não romper... K.: Cuidados que explicam pra segurar a ponta pra não deixar entrar ar, colocar do jeito que tá na explicação.
Entrevistadora: E você costuma beber? É... e com qual freqüência? K.: Mais baladas. É como a gente diz, a gente bebe socialmente mas, quando bebe, enche a cara. Vai pra casa cambaleando, quase numa perna só, mas vai...
Entrevistadora: E você fuma cigarro? K.: Somente o cigarro.
Entrevistadora: Ahan. Mas você já experimentou fumar outra coisa? K.: Já. Machona e não gostei. Tanto que, hoje, eu já tenho até alergia do cheiro, eu tenho rinite. Então isso me deixa muito nervosa, alguém do meu lado fumo drogas, ou cheirando, isso me irrita.
Entrevistadora: É... Você já experimentou só maconha ou já experimentou alguma outra? K.: Só maconha. E teve é... como é que fala?! Drogas injetáveis, foi uma vez na minha vida e eu fui parar no hospital por causa disso. Mas eu não fiz pra experimentar, eu fiz porque eu queria mesmo ir embora, morrer, porque eu tava com depressão e não foi uma experiência agradável. Então nunca mais na minha vida eu quero ver esse negócio de injetar nada no meu braço, nem em lugar nenhum.
Entrevistadora: Quais que são as drogas mais usadas nos lugares que você vai? K.: Maconha, sempre. Sempre maconha e ecstasy. Sempre. São as drogas mais vendidas e mais usadas hoje. A cocaína ela é... Pra gente que é adolescente, que já é acima de uma idade assim, de vinte e dois anos, é jovem, a maconha, a cocaína, o ecstasy tão em auge. Mas o ecstasy é que tá... ele tá meio que encapuzado, mas se você for numa balada Vila Olímpia, aqui mesmo na Vila Madalena, têm bastante venda mesmo. Mas principalmente em balada, tá cheio. Agora, maconha é liberado. Podia até liberar, fazer uma lei assim ‘Libera-se maconha.’ Todo mundo fuma. Porque isso é liberado, tá na cara de todo mundo.
Entrevistadora: E você acha que sexo e drogas combinam? Quando, com quem? K.: Não combinam com ninguém. Inclusive você só faz besteira. Uma pessoa, ela não consegue ter uma ralação sexual.
Entrevistadora: E você fica mais solta quando você tá sobre o efeito de álcool? K.: Eu fico, eu choro, eu dou risada. Mas eu não faço nada além disso.
Entrevistadora: O quê que você costuma fazer no final da balada? Fuma alguma coisa, toma algum remédio, ou...? K.: Não. Eu não tomo nada, Vou embora pra casa sempre fumando o meu cigarrinho. E volto pra casa.
Entrevistadora: Você usa calmante ou algum outro remédio atualmente? K.: Já usei e hoje eu não uso mais.
Entrevistadora: Você costuma usar drogas ou beber antes de fazer sexo?
K.: Nunca. Porque isso não funciona. Deixa você mole, você não quer fazer nada, você quer dormir.
Entrevistadora: Você já deixou de usar camisinha por estar sobre o efeito do álcool? K.: Não. Nunca.
Entrevistadora: Bom, você já contou da sua relação com as drogas, mais ou menos. Drogas injetáveis, da vez que você usou, você compartilhou seringa ou foi só você quem usou? K.: Não. Foi sozinho. Mesmo assim fui parar no hospital. Porque mesmo quando você cai sozinha, as pessoas que estão ao seu lado, na hora, elas sabem tanto o que é, o tanto que pode. E eu passei, extravagantemente, do tanto e fiquei mesmo... tive um começo de overdose e fui parar no hospital, tive problema no coração, fiquei quinze dias internada. Fiquei quinze dias mesmo.
Entrevistadora: E você já teve parceiros que usaram drogas injetáveis? K.: Não. Conheço, tenho colegas, mas amigos e parceiros ninguém.
Entrevistadora: Quais que são os seus projetos de vida? Pro futuro, assim... K.: Crescer na empresa onde eu estou, que é um multi-nacional. Chegar a um cargo alto, com uma estabilidade boa e ter uma vida boa, estável. Estável como financeira e pessoal.
Entrevistadora: E você acha que os seus projetos podem se concretizar? K.: Com certeza. Desde que eu batalhe pra isso, com certeza. Com certeza sim. Tudo é possível.
Entrevistadora: E onde que você imagina que você vai estar daqui a dez anos? K.: Na minha casa, é... num cargo bom, com as minha coisas, o meu filho. Morando aqui mesmo. Morando aqui mesmo no Brasil, aqui mesmo no meu bairro, muito bem de vida feliz e contente.
Entrevistadora: Cê acha que a sua vida vai estar melhor, igual ou pior que hoje? K.: Eu espero que ela esteja bem melhor, porque se piorar eu vou me internar num manicômio. Ela tem que estar bem melhor, com certeza, ela vai estar bem melhor do que hoje.
Entrevistadora: Bom, obrigado pela entrevista, acabou... é isso...
Entrevista com Vanessa
Bom, vamos lá, começar, qual que é seu nome e seu apelido? Vanessa. Apelido, apelido eu não tenho nenhuma, mas as pessoas costumam me chamar de Van, meus amigos me chamam... E quantos anos você tem? Dezenove Qual é o seu sexo? Feminino Qual é a sua orientação sexual? Heterossexual Qual é a sua raça?
Putz, qual é a minha raça, você sabe que eu não sei, não sei se eu sou negra, branca, mestiça. Mas com qual você mais se identifica? Com a raça negra, negra. E qual é a sua escolaridade? Colegial completo Qual é o seu estado civil? Eu sou solteira Qual é a sua religião? Então, eu sou cristã. Onde você mora atualmente? Em qual bairro? Qual bairro? Eu moro no Butantã. Há quanto tempo você mora lá? Quatro anos. E aqui na cidade, por quais bairros você costuma circular mais? Eu não vou muito longe, não vou muito longe do Butantã, no máximo eu venho até a Paulista pra estudar. Vanessa, com quem você mora atualmente? Com a minha mãe e a minha irmã. Quem é a sua família de origem? Como assim? Não entendi essa pergunta. Quem era mais próximo, convivia com você quando você era menor? Quando eu era menor eu tive duas tias muito próximas, até fico meio chateada porque depois que eu cresci essa proximidade foi acabando. E depois uma tia com os dois filhos dela, e o marido dela, a outra é solteira. Mas minha família de maior convivência é
minha mãe e minha irmã. Quantos anos têm sua irmã? Ela tem nove, dez aninhos de diferença. E a sua mãe? 42. E a sua mãe não é casada? Não. Minha mãe não é casada. Mas você conheceu seu pai? Conheci. Convivi com meu pai até os meus seis anos de idade, depois não vi mais. A sua mãe e o seu pai são de São Paulo mesmo ou vieram de outro lugar? Não, os dois vieram da Bahia. E quando eles vieram pra cá? Por quê? Não sei exatamente quando eles vieram. A minha mãe veio pra cá, acho que ela tinha uns quinze anos de idade, com a irmã dela que resolveu trazer a família toda pra cá, pra tentar a vida em São Paulo. Ela conheceu meu pai lá. Eu acredito que ela tenha voltado pra lá num determinado, numa determinada época, depois veio pra cá novamente, depois foi pra lá, uma coisa complicada. E por que eles vieram pra cá? O meu pai eu não sei exatamente, minha mãe veio por causa da família, foi pra lá com meu pai, depois não queria vir para cá, a minha mãe, ela é bem do interior, ela curte cidadezinha pequena, vidinha pacata, ela gosta. Mas meu pai quis voltar, e ela acompanhou e ta aqui até hoje. E a sua mãe trabalha atualmente? Trabalha, hoje em dia a minha mãe é babá. E você também está empregada atualmente? Não, atualmente não. Eu to exercendo a profissão de estudante, que eu acredito que
seja uma profissão. Então quem ta sustentando sua casa atualmente é sua mãe? É minha mãe. Qual é a sua renda familiar? Putz, quando eu tava trabalhando eu acho que era juntando o meu e da minha mãe acho que dava uns mil reais, hoje em dia, só com o da minha mãe, acho que são quinhentos reais. E faz tempo que ela trabalha nesse lugar? Não faz tempo, acho que não chegou a completar nem um ano que ela trabalha lá. E sobre a sua relação com sua família, como é a sua relação com sua mãe? A minha relação com a minha mãe é muito boa, é muito boa mesmo, assim, vendo outros filhos com outras mães até mesmo na minha família eu acho que nós duas somos privilegiadas. A gente conversa sobre tudo, a gente costuma dizer que sou eu pro ela e ela por mim. Eu sou meio marido da minha mãe, eu acho engraçado que a gente vai resolver alguma coisa e tem que ter a opinião das duas. Chega no mercado, pra comprar alguma coisa, ela pergunta “você quer levar isso?”, eu acho engraçado, acho engraçado que ela... Eu até brinco, “mãe, você é minha esposa, por isso que você lava, cozinha...”, ela fica muito brava, claro, mas eu chego tirando esse sarro. Mas a gente tem uma relação muito boa, a gente conversa sobre problemas de ambas, a gente se dá bem, bem, tem umas brigas como toda família, mas a gente tem uma relação boa. E sempre foi assim, desde que você era pequena? Não... Quando eu era pequena eu tinha uma relação muito boa, minha mãe sempre foi uma pessoa compreensiva. Quando a minha irmã nasceu, aí já abalou um pouco as estruturas, eu tinha muito ciúmes, eu fui filha única até dez anos de idade, então quando a minha irmã nasceu eu tive aquela perda de território, ninguém mais ligava pra mim, as tias que me amavam só queriam saber da minha irmã, minha mãe... Até eu entender que a minha irmã era um bebê e que ela precisava de muito mais atenção que eu que já era grandinha e podia me virar sozinha demorou um pouco. Eu não soube lidar muito bem com
o fato de a minha irmã precisar de mais atenção, mais carinho, então eu me senti muito rejeitada, então eu brigava, teve uma fase, até os meus quinze anos, assim, a gente não tinha uma relação muito boa não, não rolava confiança, foi uma coisa, complicada, foi uma fase complicada, essa fase foi complicada. Até eu começar a trabalhar, quando eu comecei a trabalhar o nosso relacionamento mudou da água pro vinho. Na verdade mudou um tempo depois do trabalho, porque a gente ficou separada, porque quando eu comecei a trabalhar a minha mãe, a minha mãe morava no Ipiranga e eu vim pro Butantã pra trabalhar, e eu fiquei trabalhando aqui, então isso fez com que a gente se aproximasse mais, como a gente ficou distante, a gente tentou valorizar mais o tempo de ficar junto. Quando a minha mãe mudou pra cá a situação ficou bem mais complicada porque eu fui despedida, e a minha mãe acabou de chegar num lugar onde a gente não tinha nenhum alicerce, não tinha nenhuma base, não tinha... A minha mãe não tinha trabalho e eu fiquei desempregada, tinha que pagar aluguel, tinha minha irmã pequena, criança gasta pra caramba, então precisava de dinheiro, e aí a gente entrou em crise profunda, assim, nossa relação foi lá pra baixo. A gente discutia, eu sentia que ela minha culpava, era bobagem minha, mas eu sentia que ela me culpava pela situação do momento, porque eu fui... E eu culpava ela porque eu vim pra cá meio que obrigada, porque ela achava que era, puta, a, a oportunidade. O fato de eu vir trabalhar, era pra uma tia minha que tinha uma história complicada com a gente também, ela meio que se isolou da família durante vinte anos, então, a minha mãe achou que ela apareceu bancando a redentora, "pô,vou salvar a vida de todo mundo agora", e contou uma história muito triste, muito feliz alias pra minha mãe, que ia me encaminhar na vida, que se eu fosse fazer uma faculdade ela me ajudaria, uma história linda, maravilhosa e então minha mãe falou "você vai". Eu não tinha como falar assim, "pô, não vou", e daqui a alguns anos me arrepender profundamente. E muitas coisas boas aconteceram a partir desse momento... Mas onde você morava antes? Eu morava no Ipiranga, num bairro chamado Vila Carioca... na verdade eu morava numa favela, próxima a de Heliópolis que eu acho que é a mais conhecida, a maior de São Paulo. Isso foi uma coisa que pesou muito na minha decisão de vir pra cá. Porque morar numa favela, num é uma coisa que ninguém se orgulhe, só uma pessoa bem ignorante. Então eu não queria isso, a minha irmã nasceu lá, não era uma coisa que eu queria pro
futuro da minha irmã, uma criança que cresce ali, a gente fica meio bitolado morando ali. Eu voltei pra lá pra visitar, eu fui fazer uma visita num tem muito tempo, e eu fiquei chocada assim, com a visão das pessoas que eu conheço que moram lá, com a forma que elas enxergam coisas que hoje em dia são super importantes pra mim, como trabalhar, estudar, querer uma coisa legal, uma casa legal, num lugar legal, pra eles não, pra eles aquele lugar é bom, não pagar aluguel, e viver numa situação assim, horrível, são casas, eles nunca estão satisfeitos, então acaba o espaço e começam a construir pra cima, eles fazem verdadeiros prédios, é uma coisa incrível, então é casa em cima de casa e você fala assim, "meu, isso aqui vai cair, vai bater um vento e vai desmoronar". Complicado. Eu tava falando da relação com a minha mãe né, na verdade. E como é a sua relação com a sua irmã? Ela é sua irmã por parte de mãe ou por parte de pai? Ela minha irmã por parte de mãe, por parte de mãe, mas na verdade isso não conta muito, a gente nunca fala "ela é minha irmã por parte de pai, por parte de mãe"... A minha relação com a minha irmã é um pouco complicada, porque eu sou meio impaciente, assim, eu amo ela, amo, amo, amo, o que eu puder fazer por ela eu faço, mas... Eu brigo muito com ela, às vezes eu sonho que eu tô brigando com ela, é um negocio incrível! Eu acordo me sentindo mau, tipo, "nossa, eu sou tão megera que até no sonho eu brigo com a criança". Porque a minha irmã é assim, ela é, ela é extremamente agitada, eu acho que é o nome, porque a menininha que a minha mãe cuida também se chama Vitória, que é o nome da minha irmã, e a minha mãe diz que ela também é super danada. Ela é extremamente inteligente, e ela quer mexer em tudo, pegar em tudo, perguntar sobre tudo, e, e isso me irrita um pouco. Eu gosto do meu espaço, do meu lugar, das minhas coisas, e ela invade muito esse meu espaço assim, então a gente quebra o pau. Mas eu sinto que ela sabe que eu gosto muito dela, e acho que é recíproco, ela também gosta muito de mim. Às vezes ela até me assusta porque ela vê em mim um exemplo, as vezes ela se descreve daqui a alguns anos, que se você para pra pensar sou eu. Ela fala que ela quer ser alta, quer fazer um piercing no umbigo, que é o piercing que eu tenho, uma tatuagem, e ela pergunta se a minha mãe vai deixar porque eu também tenho a tatuagem. E as coisas que ela fala, dá pra ver que ela me admira muito, e eu tenho um pouco de medo porque se ela me admira eu posso decepcioná-la, e é uma coisa que eu não queria, é que essa admiração toda um dia
deixasse de existir. Ah, eu acho que a nossa relação é normal entre irmãos com tanta diferença de idade, eu acho que é comum, eu acho que todos irmãos que tem essa diferença grande de idade, eu viro meio que mãe, assim, eu faço a linha de uma mãe neurótica, daquela que fica medo de criança na rua, que bate um vento e já quer pôr casaco, eu sou meio chata, eu meio que impeço ela de ser criança, eu falo que ela tem sorte de ser filha da nossa mãe e não minha, senão ela tava ferrada, ela tava ferrada. A gente foi viajar no final do ano, e no ônibus ela falou assim, e a gente sai no pau quando a minha mãe tá perto, ela se transforma. A gente foi viajar só eu e ela, e no ônibus ela falou assim "ai Nê, é mô legal viajar com você, é muito bom viajar com você, tô gostando, você tá mais legal". Porque eu cuido demais, porque na estação, a gente foi pegar o ônibus e eu ficava desesperada, com aquele monte de malas e com a minha irmã, eu falava "segura no cós da minha calça, pelo amor de Deus, segura no cós da minha calça", que era pra não perder ela no meio da multidão. Nessas a gente se dá melhor, eu lembro que eu era assim, quando a minha mãe chegava na casa das minha tias eu me transformava, eu era chata pra caramba, e a minha irmã faz a mesma coisa, ela segue a mesma linha. Eu acho que eu não vejo a nossa relação como uma relação anormal, é claro que eu queria dizer "ai, vamos fazer não sei o que" e levar, mas eu não sei, as crianças fazem muitas coisas assim, que aos meus olhos são perigosas. Eu penso "e se ela tá brincando, correndo, e se machuca!?" eu fico meio paranóica, eu tenho bastante medo e acho que isso atrapalha um pouco no meu relacionamento com ela. Mas vocês são bem próximas então, não é? Você, ela, a sua mãe. Quem é o seu parente mais próximo? Agora é uma tia minha que mora no Butantã também, e antigamente ela não era tão próxima, ela é a irmã preferida da minha mãe, como ela mesmo diz, mas tem um pequeno problema, elas gostam muito de cuidar da vida dos outros, sabe? Aquela parenta que adora cuidar da sua vida? Elas têm esse lado assim, elas julgam demais. E essa minha tia, a tia Jô, que mora aqui no Butantã, ela não é assim, ela é muito assim "você cuida da sua vida e da minha vida cuido eu", e a minha mãe adora isso, porque... Alias quem não adora né, todo mundo curte uma pessoa que, te dá o teu espaço, assim, a liberdade dela termina quando a tua começa, todo mundo gosta disso. Então minha mãe lida muito bem com ela, e eu também gosto bastante dela. Meu primo, que é meio nômade, que mora na casa de todo
mundo, inclusive na minha, mas a gente não tem muita proximidade, porque eu vejo ele entre meia noite e uma hora, é o horário que a gente se vê, então num tem tanto convívio. Estranho né? Família tão grande e só fala da mãe e da irmã, a mãe e a irmã, mas é, meu convívio maior é com a minha mãe e a minha irmã. E com o pai da sua irmã e o seu pai? Vocês não têm tanto contato...? Bom, o meu pai, eu nunca mais vi. O pai da minha irmã, eu tenho uma relação complicada com o pai da minha irmã, eu sempre tive. Eu não gosto dele, ele não gosta de mim, a gente não se gosta. Quando ele conheceu a minha mãe eu devia ter uns 7 ou 8 anos e eu não gostava dele porque eu tinha ciúme da minha mãe, eu tinha um ciúme meio doente da minha mãe quando eu era criança, e eu não gostava dele. Criança quando não gosta de alguém, por mais que a pessoa tente agradar, é mau sinal. Eu não gostava e não gosto até hoje. Eu não acho que ele seja um bom pai, eu não acho que ele foi um bom namorado pra minha mãe, eu não acho que ele seja um bom homem. Eu não gosto, eu não acho que ele tem caráter, dá pra perceber que eu sou bem, né, eu adoro a pessoa, eu não gosto dele e ponto. A minha mãe as vezes, quando ela não tem tempo ou não consegue, ela me pede pra ligar, hoje em dia isso já acabou, porque ele disse que não queria mais que eu ligasse e eu disse que não ia mais ligar. Porque a ultima vez que eu liguei pra ele, ele me ofendeu aos palavrões no telefone, desligou o telefone na minha cara! Então assim, eu acho que ele é um péssimo pai, ele aparece a cada seis meses dizendo que á com saudade da minha irmã, leva a minha irmã pra casa dele a minha irmã chega falando que não quer mais ir... Fora ela a minha irmã tem mais quatro irmãos, nós somos cinco irmãos, ela tem cinco irmãos no total comigo, ele tem mais quatro filhos todos homens, e eu achei que por ele ter tido tantos filhos todos homens, é, ele ia dar, puta, o céu pra minha irmã, por ela ser a menininha, a menininha dele, a única menininha dele, mas não foi bem assim... Eu acho que eu senti o que é não ter pai, e eu acho que no meu caso não foi tão doloroso porque o meu pai não tava aqui, então eu fixei uma imagem dele e pronto, essa imagem foi a que eu tive dele durante muitos anos. E ela não, ela tem um infeliz lá pra ir destruindo a imagem que ela tem. Porque uma criança idealiza, né, pô, o meu pai é o super herói, ele é isso, ele é aquilo, é aquilo outro, e se o pai tá lá pra ir mostrando que ele num é aquele super herói conforme a criança vai crescendo e ela vai entendendo melhor a situação, um dia ela vai chegar e vai falar assim "pô, o meu pai não gosta de mim, porque se ele gostasse, ele compareceria
como pai". Ele dá acho que R$ 70 por mês e todo mês é uma luta, e como se R$ 70 fosse suprir todas as necessidades da minha irmã, tudo que ela precisa, e a minha irmã come, minha irmã veste, ela estuda, minha irmã precisa de material, minha irmã adoece, minha irmã precisa de um monte de coisa: xampu, condicionador, sabonete, pasta de dente, todas essas coisas que criança precisa, adulto também e que R$ 70 não pagam de jeito nenhum, assim. Então eu não curto, eu não curto o pai da minha irmã. Já com o meu pai, eu acho que o meu pai é uma pessoa meio, sei lá, eu não num eu não posso dizer que eu não goste do meu pai, mas também não posso dizer que eu amo porque eu não convivi o suficiente, eu lembro vagamente do meu pai. O meu pai era alcoólatra. Minha mãe é ótima pra escolher homem, eu falo isso pra ela, "mãe, você tem um dedinho que é incrível!". Então assim, as poucas lembranças que eu tenho do meu pai ele tava bêbado. Eu lembro de uma vez meu pai sóbrio, assim, do tempo que eu convivi com ele eu lembro de ter visto ele uma vez sóbrio. Então, assim, eu tinha uma imagem bem diferente do meu pai, depois que eu fiquei adulta, e minha mãe tem uma coisa muito boa assim, ela nunca jogou filho contra pai, por pior que o pai tivesse sido e por mais que ela tivesse sofrido, ela não fez isso comigo e ela não faz com a minha irmã, ela tenta mostrar o lado melhor, pelo menos enquanto criança, depois ela disso ela até começou a me contar mais, as vezes a gente conversando ela me contava umas histórias do meu pai e eu fui percebendo que ele não era o homem que eu imaginei que ele fosse, eu achava que ele era um homem doente e eu percebi que não é só uma doença, era uma falha de caráter mesmo, assim, ele não estava só doente, ele era alcoólatra, era dependente da bebida, ele gostava de ser dependente, ele bebia no café da manhã, no almoço, na janta, e ele gostava, pra ele tava bom. Quando faltava dinheiro ele trabalhava e ia reabrir as continhas nos botecos da vida pra continuar bebendo. Então era uma falha de caráter mesmo, todas as pessoas que estenderam a mão pra ele, ele não aceitou. E eu acho que eu não valia muita coisa pra ele, porque acho que se eu valesse ele teria lutado mais pra ajudar a minha mãe, pra cuidar de mim. Bom, a gente vai seguir, a gente vai mudar um pouco de assunto agora, a gente vai falar sobre religião. Em que religião você foi criada? Eu fui criada na Assembléia de Deus. E a religião era algo importante na sua casa?
A minha mãe, a minha mãe hoje em dia é evangélica, mas ela se converteu depois de alguns anos, mas não quando eu era pequena, quando eu era pequena... Mas a religião sempre foi uma coisa importante na minha vida, que é uma coisa que eu acredito muito. Eu acredito em Deus, eu acredito no poder de Deus, eu acredito em milagre, acredito em céu, acredito em inferno, acredito em pecado, então... A minha mãe, uma coisa legal de falar é assim, quando a minha mãe não era evangélica era um negócio, era uma vida complicada, dos namorados dela, dos romances dela já dá pra perceber que não foi uma coisa muito fácil, ela foi mãe solteira duas vezes, e o único vicio que a minha mãe teve foi de fumar cigarro, ela sempre foi aquela pessoa que batalhava, batalhava, sofria, minha mãe sofria muito mas não saia do lugar. Era uma coisa assim, eu, sempre fui, assim, como as minhas tias, uma delas desde que eu nasci ela já era evangélica, então eu fui criada dentro da igreja, eu participava do grupo das crianças, o coro dominical, ia no culto semanal, e eu pedia muito pra Deus pra levar minha mãe pra igreja, claro que dentro do meu ponto de vista, eu era criança então eu não tinha muita noção de ir pra igreja com a minha mãe. E fui, como é que eles dizem, membro da igreja durante um tempo, aquela que usava saião, e tudo mais, dentro daquelas doutrinas que hoje eu já não concordo tanto. Então eu ia pra igreja, tinha meus compromissos na igreja, depois de um pouquinho maior, eu devia ter uns dez anos, onze, e eu cantava na mocidade da igreja, e ai passou um tempo e a minha mãe se converteu na Universal, que é uma igreja completamente diferente da Assembléia de Deus, totalmente, prega o evangelho também, mas é bem diferente. E desde a conversão da minha mãe, a vida dela mudou totalmente, num é nem significativamente, assim, mas aos olhos de quem só a conhecia de vista mudou significativamente, as pessoas sempre falam a diferença. A minha mãe tinha uma expressão triste antes de ir pra igreja, e agora você olha pra ela e por mais que a vida esteja difícil Deus te conforta, você dobra o seu joelhinho, e chora, e conta pra Ele o que acontece, Ele te conforta, Ele te consola, Ele te mostra o caminho, então, acho que a religião na minha vida foi uma coisa importante, é uma coisa importante. Hoje em dia eu voltei a congregar na igreja também, mas é uma coisa bem diferente, antes era uma coisa maçante, era difícil ir pra igreja porque você tinha que ser tão diferente pra ir pra igreja, que você acabava se afastando. Hoje em dia como o mundo tá moderno a igreja teve que se modernizar senão ela perderia todos os fiéis né, ninguém mais ia ir na igreja porque ninguém mais ia agüentar. Hoje você pode colocar uma calça, um
batonzinho, que Deus te ama do mesmo jeito. Antigamente eles te pregavam diferente, se você pintasse o olho Deus ia te largar, e isso é uma coisa que não existe, Deus ama todo mundo do jeito que ele é. E em qual você vai? Eu vou numa igreja, titulo nunca me importou muito, acho que o que me importa é a pessoa que tá lá em cima, então se você sent que ela tá fazendo diferença na tua vida, então foi lá que eu fiquei. Essa igreja passa na televisão, passa no canal 21, e a minha mãe conheceu, ela tá ficando conhecida como a igreja dos milagres, e, paralítico anda, e cego enxerga, é um negocio assim, você assistindo pela televisão não me emocionava tanto, eu ate falava assim, "nossa mãe, esse bispo é muito chato", que ele começa a contar umas historias que eu achava que não tinha nada a ver. Ai um dia eu resolvi que eu ia com ela, e você sente o poder de Deus ali, aquele homem, ele é super simples, assim, ele fala que ele é simples, acho que por isso ele sai as vezes um pouco assim do rumo, mas você sente que Deus usa, que o que ele faz ele faz realmente por amor a Deus e que Deus ouve, quando ele pede por você, quando ele intercede por você, você sente que Deus vai responder, eu gosto. Hoje em dia eu vou só de domingo, cedo pra caramba, domingo passado eu acordei três horas da manha, é uma igreja enorme, e a igreja lota, e um calor danado, mas você sente que vale muito a pena, é muito importante, não é nem que a igreja tenha uma importância muito grande na minha vida, o poder de Deus tem uma importância enorme da minha vida, porque todas as dificuldades que eu passei,todas as lutas que eu chorei, clamei, pedi, ele veio e disse, calma, vai passar, vai dar tudo certo, e dava tudo certo. Na hora a gente olhava pra trás e tinha aprendido muito com aquele turbilhão que tinha passado e tinha conseguido coisas que não imaginava que ia conseguir. Bom, vamos continuar, eu queria saber um pouco sobre a sua experiência escolar. Como foi a sua trajetória escolar, assim, quando você começou, se você já repetiu, se você estudou numa escola pública ou privada, o que você fazia na escola além das aulas obrigatórias... A escola foi um dos momentos mais saudosos da minha vida. Eu comecei, eu nunca fui a melhor aluna da sala, a mais estudiosa, era elogiada nos primeiros dias de aula, mas depois... No começo do ano meu caderno era o melhor, eu era a mais aplicada, mas depois
já não era mais tudo aquilo, eu era aquela que levava bilhetinho pra casa porque não tinha feito dever de casa... O que eu gostava muito da escola é que eu gosto muito de aprender, eu gosto muito de aprender, mas não gosto muito de estudar, eu queria encontrar uma maneira mais fácil de fazer isso, aprender sem estudar, ia ser lindo, os cursinho todos iam falir, as faculdades também, mas ia ser muito bom. É, eu gostava muito de ver as professoras, quando eu era pequena, pequena eu não gostava muito de escola não, porque criança é um ser maldoso... Assim, eu vou me descrever quando eu tinha uns sete anos: eu era maior que todo mundo, cegueta, porque eu sou míope e tenho astigmatismo, quando eu era criança eu já tinha tudo isso, num grau menor, claro, e eu tinha que sentar lá atrás porque senão atrapalhava a visão dos pequenininhos. Meu cabelo crespo, curtinho, a minha mãe cortava curtinho na época porque as crianças tinham muito piolho, então ter cabelo cumprido, crespo, não era muito legal, não era muito higiênico. Então eu era magrela, grande, e as crianças não me perdoavam, elas era muito maldosas. Eu tinha os mais diversos apelidos e eu era, tinha um negocio assim, e na frente das crianças eu fingia não ligar, é melhor eles rirem comigo do que rirem de mim, né? Eu tirava um sarro, arrumava um apelido ainda melhor pra mim mesma, mas chegava em casa e eu chorava, porque me chamaram de não sei o que, porque eu sou feia... Eu nunca fui a mais popular, era uma coisa impressionante. Eu tinha amigos, assim, eu sou uma pessoa bem sociável, eu tinha muitos amigos, eu gostava muito das brincadeiras de escola, eu gostava de educação artística, eu era a melhor aluna, só tirava a nota mais alta, gostava de pintar, desenhar, cortar, essas firulas todas que a gente faz em arte eu gostava de fazer. Depois na quarta série eu quase repeti, eu só não repeti de ano nenhuma vez graças ao governo, eu sempre estudei em escola estadual, então você passa de ano semi-analfabeto que tá tudo bem. Eu nunca passei semi-analfabera, mas fiz muitas coisas pra repetir de ano, e não repeti, passava sem problemas. Acho que os anos que eu mais gostei da escola foi uma coisa assim de transição né, eu tava virando adolescente, que foram os momentos mais marcantes de projetos, querer mudar o mundo, os hormônio já tavam entrando em ebulição, as meninas olhando pros meninos, os meninos olhando pras meninas. Fiz bastante amigos, alguns eu tenho contato até hoje. Senti muitas saudades, na oitava série a gente tava, eua ia ter que sair do colégio porque eu ia ter que sair do colégio, ele era municipal, e era muito bom, inclusive chamava Francisco Meireles, apesar dos pesares eles faziam de tudo pra que o aluno passasse assim,
com o mínimo pelo menos de aprendizado, e ai eu fui transferida pra um colégio chamado Nossa Senhora Aparecida, e fui fazer o colegial lá. E era um colégio muito mal falado, trocaram a direção, e o diretor chegou lá botando banca. Por ser um colégio de periferia, tem, isso tem em todos lugares, porque depois que eu mudei, na metade do primeiro colegial, eu fui transferida pra cá pro Butantã, foi quando eu comecei a trabalhar, eu tava com 15 pra 16 anos. E o colégio de lá, de periferia, coladinho com a favela, era 10.000 vezes melhor do que o daqui do Butantã, do Jd Bonfiglioli, aqui do Butantã, que é assim um pessoal de classe média, de uma renda um pouco mais alta. Era horrível, o Emidio aqui do Butantã era terrível, assim, você não tinha aula, os alunos tomavam conta da escola, e os professores obedeciam, assim, era um negócio trash. O meu colegial não foi uma coisa muito boa, da oitava série pra trás foi legal, eu aprendi muita coisa, descobri muita coisa, comecei a namorar, minha mãe começou a me, esse negócio de trabalhar começou mesmo, porque eu já era mocinha, já tava crescendo, precisava ajudar, então... Esse negócio de estudo, com a minha mãe, dia desses a gente tava conversando e ela me disse que a realização dela é me ver formada, ela me vendo formada vai ser uma realização dela. Eu nunca tinha pensado nisso. Putz, se eu me formar a minha mãe vai tá se realizando vendo eu me formar, recebendo um diploma... “Você é a fulana de tal que faz tal coisa”, pra ela é a realização e eu nunca tinha pensado nisso, hoje em dia até me sinto mais pressionada... Mas você está estudando atualmente? Tô, tô fazendo cursinho atualmente. E você acha que isso ajuda no seu projeto de vida? A escola, e... Acho, acho que, muitas pessoas me disseram que não valia a pena se não fosse pra prestar USP, e eu acho que não, acho que com o preparo que eu tive nos colégios anteriores, principalmente durante o colegial, que foi um preparo muito fraco. Eu não me sentiria nunca segura pra entrar numa sala de vestibular e fazer uma prova, um vestibular, eu não conseguir nem abrir, nem ler, era muita insegurança, eu não tive base, eu não estudei, não tinha coragem nem de tentar. Eu acho que o cursinho vai me ajudar nisso, vai me dar segurança, mesmo que eu não vire uma Einstein, não aprenda tudo, que eu num vira uma gênia, nossa, bitolada nos livros, assim, louca estudando desesperadamente, mesmo que eu não passe na USP eu acho que eu vou ter condições de seguir qualquer outra faculdade, e
prestar o vestibular com o mínimo de segurança que é preciso pra prestar vestibular. Eu acho que ajuda sim, eu acho que é bobagem essa coisa de que não vale a pena fazer cursinho, eu posso pelo menos conseguir uma bolsa numa faculdade paga se eu tiver o preparo necessário, posso conseguir uma bolsa de 50, 60, 70, integral, não precisa ser a USP, preciso só estar preparada, pra seja lá qual for. E sobre trabalho, você tem alguma profissão? Putz, eu sou secretária. Secretária não, eu sou recepcionista formada praticamente. Eu fiz um curso de telemarketing e incluía telefonista e recepcionista. Eu comecei a trabalhar como secretária numa marmoraria com 15 pra 16, e eu atendia telefones, digitava orçamento, coisa básica, assim, organizava arquivo, é, nota fiscal pra mandar pra contabilidade, esse tipo de coisa. E depois eu fiquei desempregada durante um tempo, não sei te dizer quanto tempo exatamente foi, mas foi um tempo não muito curto, não muito longo, foi assim, desesperador. Aí eu passei a trabalhar como recepcionista numa assistência técnica, eu era recepcionista, eu cobrava, vendia, era uma loucura, hoje em dia se você num fizer tudo você num é ninguém. Eu acho até engraçado esse negócio de faculdade, “ai, eu vou fazer faculdade pra fazer tal coisa”, não adianta muito você fazer a faculdade pra fazer tal coisa, sempre tem que ser um milhão e meio de coisas, você tem que fazer tudo, é pau pra toda obra, essa é a lei de hoje em dia. Tem que ser versátil. E atualmente então você não está trabalhando? Não. Na verdade faz pouco tempo, eu tava como auxiliar de administração, mas só da cobrança, eu emitia notas fiscais, boletos e cobrava mesmo as pessoas, eu ligava pra cobrar os valores que não tinham sido acusados na nossa folha de pagamento. Foi bem né, subi de cargo, saí da recepção e fui fazer outra coisa. E você está sem trabalhar há quanto tempo? E como tá a coisa do cursinho? Você paga o cursinho, você tem bolsa? Ah, faz pouquíssimo tempo, não faz nem um mês, uma semana e alguns dias. Eu pago o cursinho. Eu paguei a primeira mensalidade. Tá tão cedo, eu fiquei desempregada faz tão pouco tempo que nem parei pra pensar muito nisso. Eu guardei um dinheiro, pensei e vou conversar na direção do cursinho se esse dinheiro do cursinho é menos do que o total, mas pra ver se eles fazem pra mim por esse valor, porque provavelmente eu não vou ter o
dinheiro. Talvez meu namorado me ajude a pagar, se for preciso, provavelmente vai ser... Mas se eu conseguir fazer o acordo com o Objetivo vai ser melhor, né? Pra mim pelo menos vai ser ótimo. Mas senão acho que o meu namorado vai me ajudar a pagar o curso. E o dinheiro que eu tenho guardado também vai dar um apoio, mesmo que eles não abatam tudo, até pelo menos quase o fim do ano eu consigo pagar. Bom, agora a gente vai mudar um pouquinho de assunto. O que você considera como raça? Se você tivesse que definir, quais idéias surgem na sua cabeça? Olha, raça eu acho que eu defino mais como cultura, eu acho que raça hoje em dia é mau definida, as pessoas definem raça por cor, por cabelo – se o cabelo é crespo, se é liso, se a pessoa é branca, ou preta, se ela é lésbica... Eu acho que tá mau definido, acho que raça é definida por cultura, em geral. E as pessoas se chocam quando a pessoa é diferente demais delas, assim, eu definiria raça por cultura. Por exemplo, uma pessoa que mora no Japão, eu vou me assustar um pouco com ela não por ela ser amarela e ter o olho puxado, mas porque ela tem costumes totalmente diferentes dos costumes que eu tenho. Eu posso me adaptar, não sei, posso entender o hábito dele, se ele gosta de andar descalço na casa dele, eu não vou discriminar ou entrar de sapato na casa dele porque na minha terra a gente num tem esse hábito. Acho que a gente pode se adaptar a certas coisas, a outras não, acho que as pessoas tem que entender. Eu não defino raça por cor, acho que nesse ponto não faz a menor diferença, ser preto, branco, amarelo, não faz a menor diferença, se o cabelo é bom, ruim, enrolado, liso, pra mim não tem diferença.
E pra você, pra maneira que você define quem você é, qual a importância da sua raça? Putz, essa eu vou ter que pensar. A importância da minha raça, acho que eu nunca pensei nisso. Mas você acha que é uma coisa importante pra sua autodefinição?
Não, não muito, não acho que não seja muito. Acho que na minha definição o que conta não é raça, eu brinco muito que eu tenho um pezinho na senzala, porque eu sou branca de cor, tenho o cabelo crespo, a bunda grande, o lábio carnudo, então tenho os dois pés na senzala. Minha mãe é negra de pele, meu pai é que é, eu sou parda, sabe aquela pessoa que não vai nem fica? Daí eles colocaram esse nome, é pardo. Não conta muito isso pra mim, nunca pensei no que a raça influencia. Minha mãe me disse uma coisa um dia desses, que ela fica muito feliz pelas filhas dela, minha mãe também é branca de pele, e ela fica muito feliz por ter tido filhas brancas. Aí eu perguntei pra ela “mas por que mãe?”, e ela disse que o negro hoje em dia ainda sofre muito preconceito, só que hoje em dia tá uma coisa mais abafada né, tão sendo mais sutis, mas sofre preconceito do mesmo jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade, acho que por eu nunca ter sofrido esse tipo de preconceito com relação a minha cor eu nunca tinha atentado pra esse lado da coisa, mas a minha mãe falou que, por exemplo, minha mãe com a minha irmã na rua, perguntaram se ela era babá da minha irmã, não passava pela cabeça que a minha mãe era mãe de uma menininha branca, do cabelo liso, cacheado. O cabelo da minha irmã é liso, cacheado, puxadinho pro loiro. Então acharam que ela fosse babá da minha irmã, já olharam meio torto minha mãe entrando no ônibus, isso minha mãe contando assim... Comigo não era tão diferente porque eu tenho cabelo crespo, então não é uma coisa tão, né, mas a minha irmã não, além de ela ser branca de pele ela tem o cabelo liso, então as pessoas ficam meio, já olharam meio torto, meio como quem diz assim “tá seqüestrando a criança? O que uma mulher dessa cor tá fazendo com uma menininha tão branquinha, bonitinha, né?”. Raça é... eu acho que tá por fora, acho que é besteira essa coisa de pessoas... Eu não posso dizer que eu não sou uma pessoa preconceituosa, eu já me peguei com preconceito, a gente acaba não encarando como preconceito, mas se você parar pra pensar, você tem preconceito com uma pessoa feia, então você já olha pra ela meio assim, isso é preconceito, todo mundo tem preconceito. Acho que as pessoas tão preocupadas em dividir muito as coisas, assim, eu acho isso bobagem, acho que a gente perde muita coisa, acho que a gente devia mais é se interessar em aprender, aprender os costumes, aprender a conviver, aprender... Eu acho que nós seríamos seres humanos melhores. Mas é um pensamento muito idealista, uma coisa meio sonhadora, isso nunca aconteceu, não vai acontecer hoje, acho que não mudaria mais, infelizmente.
O que é racismo para você? Se você tivesse que definir, em que situações você acha que existe racismo? Em todas, acho que racismo é uma palavra horrível, mas acho que em todas, todas tem racismo. Tem racismo com cor, com diferenças em geral, com diferença de classe, com diferença sexual, com tudo você tem racismo. A minha definição de racismo é ignorância. Eu nem sei definir direito, é uma coisa que eu não consigo entender muito bem, por que uma pessoa não dá uma chance pra outra porque ela é preta, porque ela é pobre, porque ela é branca... Porque tem muito negro, falam que só tem preconceito com preto, por causa da nossa história, e tal, mas o preto também tem muito preconceito com branco. Às vezes cria o preconceito em si mesmo, um branco olha, isso eu já presenciei, uma pessoa branca olha pra ele ou comenta alguma coisa... Na escola tinha uma menina negra e a professora, eu não sei o que ela tava fazendo, se era comendo alguma coisa na sala, e a diretora entrou, e brigou com ela, e ela disse que aquela bronca era porque ela era negra, porque se fosse uma pessoa branca ela num faria aquilo. Eu acho que preconceito tem em todo o lugar, racismo alias, tem em todo lugar. Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? Acho que sim, eu acho que a cor da pele não vai influenciar em nada no QI da pessoa. E no esporte? Também, também, eu acho que é a mesma coisa. Eu acho que pode haver até uma certa diferença porque alguns são mais fortes que os outros, pela descendência, pela forma de criação... Por exemplo, o negro é uma pessoa um pouco mais, mais resistente, o índio eu creio que sim também. O branco já é uma pessoa mais frágil. Não que todos sejam, não é uma coisa assim, não é todo negro que tem porte atlético e não é todo branco que é magrelo, mirradinho, mas eu acho que influencia pelas gerações, pelos antepassados, pelas formas de vida também. E nas artes (quais)? Por quê? Ah, eu acho que sim. Nesse ponto intelectual eu acho que num influencia nada você
ser branco, preto, azul, amarelo verde, acho que não muda muita coisa. Não muda nada. Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças? Ah, isso eles provaram cientificamente, que esse povo não tem muito o que fazer e ficam vendo se preto fica doente mais do que branco, se branco fica mais do que preto... E assim pro diante. Provaram cientificamente que os negros tem mais resistência certas doenças, o negro envelhece menos, o negro tem menos probabilidade de ter câncer de pele do que o branco, acho que só essas que eu tenho conhecimento, mas acho que deve ter outras que uns sejam mais resistentes que os outros. Mas isso não muda muita coisa porque tem doença em que o homem é mais resistente que a mulher, independentemente de cor. E no mercado de trabalho, você acha que as chances são as mesmas? Eu não achava que tivesse diferença, mas me mostraram que tem diferença, eu acho que as chances não são as mesmas pra um negro, um branco, um índio... O branco, ainda hoje, eu acho que o branco é mais privilegiado na sociedade. Uma pessoa bonita, porque a beleza também conta muito hoje em dia, estamos num mundo onde a beleza conta muito, a aparência conta demais, então chega lá um pretinho feio, com aquele nariz de batatinha e beição, ele nunca vai ser chamado. Se chegar uma negra bonitinha, ainda pode ser que role, mas é mais difícil, se uma branquinha mais ajeitada chegar, a branquinha mais ajeitada ganha da mulata linda, maravilhosa. E nos encontros amorosos, é a mesma coisa ou é diferente? De cor? Acho que nesse ponto não faz diferença porque, ainda bem, o coração ainda não vê cor, nem beleza, o coração é uma coisa interessante, você se apaixona por pessoas feias também, isso é muito bom. Há alguma parte que salva em nós ser humanos, em alguns pelo menos, em outros nem isso mais.
Você já presenciou ou ouviu relatos pessoais de discriminação racial? Olha, relatos já ouvi vários, esse da minha mãe que eu contei com a minha irmã, meu primo me contou uma vez, que... Como chama aquela pessoa que é bem branca, bem branca mesmo?
Albina? É, albina! Ele conheceu um albino, o cara veio dar um abraço nele e ele recuou, porque ele se assustou com a pessoa, ele não conseguiu abraçar. Ele falou que ficou mal depois de pensar, mas foi uma coisa que ele não conseguiu evitar, foi um preconceito que ele não conseguiu evitar, ele não conseguiu abraçar o cara porque ele era branco demais, branco que assustou ele assim... Você acha que existe racismo, bom, no Brasil, você já falou que acha que sim... E na África do Sul e nos EUA? Na África do Sul eu acho que deve existir sim, mas eu não tenho certeza, acho que existe sim, mas é porque lá é um país composto basicamente por uma raça só, né? Acho que lá não tem essa miscigenação que tem aqui. Nos EUA eu acho que o bicho pega. Eu tive uma professora que disse que foi até lá, e tinha uma menininha negra np supermercado com o cabelo trançado, lá as pessoas são muito bonitas, assim, o negro principalmente. Tem uma competição acirrada, porque se o branco tem o negro tem que ter, então se o branco é cheiroso, limpinho, arrumadinho o negro vai ser limpinho e arrumadinho, não tem esse lance de ficar mais pra baixo, tem que tá ali, juntinho um com o outro. Se um sobe um degrau o outro sobe junto, não pode tá um abaixo do outro. Daí ela disse que ela foi elogiar, e que foi agredida pela mãe, olhou pra ela com cara feia... Lá eles são divididos por bairros negros, bairros brancos, lá acho que o bicho pega... Aqui no Brasil você acha que é diferente? Aqui eu acho que rola uma certa, eu acho que as pessoas tentam, tentam, uns acho que não conseguem, outros acho que fingem, e realmente não vêem a menor diferença... Eu acho que é bom, acho que é bom. Eu só não gosto da hipocrisia, ou você gosta, ou não gosta, mas acho que você não precisa destratar uma pessoa ou humilhar, pisar, tratar como se ela não tivesse sentimentos, não fosse uma pessoa, só por causa da cor da pele dela. Eu acho que isso não deve ser feito. Acho que aqui hoje em dia isso existe num nível um pouco mais baixo, mas acho que pra falar mesmo só vivendo, só sentindo mesmo o preconceito na pele eu saberia dizer mais ao fundo. Eu nunca fui vítima de preconceito, não por cor, já fui vítima de preconceito por idade, por classe social, por ser pobre, por ser uma pessoa vinda de uma favela, já fui vítima de preconceito nesse ponto. De as pessoas não me darem muito
crédito por eu ser mais nova. De repente eu tava com uma ótima idéia, mas as pessoas não queriam ouvir a minha idéia porque eu era jovem e eles eram mais velhos, “magina que essa garota vai ter alguma idéia”, ou, ou por eu ser mais nova. As pessoas desconhecem, as pessoas na maioria desconhecem que a pobreza tem vários, várias vertentes, assim. Uns vão pro tráfico, pro crime, outros aprendem muito. Eu fui uma pessoa que aprendeu muito com a pobreza, eu aprendi a lutar, e que com isso eu ia correr atrás, fazer o máximo que eu pudesse, pra que se um dia eu fosse ter filhos os meus filhos não passassem pelo que eu passei, não tivessem as dificuldades que eu tive. Isso também é um tipo de preconceito muito grande e que eu sofri, racial não, mas preconceito por classe social eu sofri muito, de me aproximar de uma pessoa e dizerem que eu era uma oportunista, do meu namorado mesmo, pra algumas pessoas eu me aproximei dele pelo dinheiro, porque ele tem. Na verdade eu nem sei se tem, a vida que ele tem não é uma vida de rico, pra mim a vida que ele tem eu acho que é uma vida digna, eu acho que todas as pessoas deviam ter o padrão de vida que ele tem. Eu acho que todo mundo devia ter a sua casa, o seu carro, o seu trabalho, viver dignamente, pagar contas e conseguir parar numa padaria e tomar um sorvete, ou se ao invés de tomar um sorvete querer ir num restaurante mais chique, refinado, poder ir, o filho pedir um brinquedo e ele poder dar. Acho que todo mundo devia ter esse estilo de vida e eu luto pra ter por mim, pelo suor. Claro que ajuda é muito bom sempre, sozinho as chances de conseguir são muito menores, sem dúvida. Bom, a gente tá falando agora de acesso às coisas, e a gente vai falar mais ou menos sobre isso. Sobre lazer, sociabilidade. A que lugares você costuma ir pra se divertir? Bom, eu sou, eu virei meio bicho do mato, eu fiquei muito, muito caseira, mas quando eu quero me divertir eu gosto muito de ir pra bar, de conversar com amigos, gosto muito de conversar. Então qualquer lugar tá bom pra eu me divertir, tendo uma pessoa pra conversar comigo. Eu gosto muito de praia, de festa, de festas com pessoas que eu conheço. Não sou muito chegada em balada, eu até curto, mas sair pra um lugar onde eu não conheço ninguém, eu não me sinto muito a vontade. Eu gosto mais de chegar na casa de uma amiga, onde a gente tem outros amigos em comum, todo mundo tem alguma coisa pra conversar, todo mundo conhece todo mundo, isso me diverte. Quem
costuma
acompanhá-lo
nesses
lugares?
Amigos, normalmente, amigos, assim. E quando você sai pra paquerar, você vai a esses lugares que você falou? Eu nunca saio pra paquerar, de vez em quando acontece, mas eu nunca saí de casa “hoje eu vou paquerar”. Eu, normalmente a gente sai e se acontecer legal né, quando você tá sozinho, é legal, mas eu nunca saí pra paquerar. Acho que não tem um lugar certo pra você procurar alguém pra ficar junto, acontece. Na escola, no clubinho, na esquina, no ponto de ônibus... Acontece. E quanto aos seus amigos você prefere em relação à: classe que sejam mais ricos, mais pobres... Não faz diferença, não faz a menor diferença. E de idade? De idade já é um problema, porque eu tenho 19 anos, mas eu sou meio velha assim, antiquada, então as vezes eu sento com pessoas da minha idade e os assuntos me irritam. Sabe aquele papinho meio histérico, meio despreocupado demais, assim, me irrita um pouco. Não é só uma diferença de idade, eu tenho amigos da minha idade e até me divirto com eles, assim, (troca de fita). Então Vanessa, você falou das suas preferências de idade quanto aos amigos, e sobre escolaridade, você prefere que seja a mesma, que sejam mais instruídos do que você, menos...? Ah, eu gosto de pessoas mais instruídas, eu num discrimino, pra conversar, pra conversa, alguém que tenha um bom papo, precisa ter cultura, não cultura, é, não cultura de escolaridade, bagagem seria a palavra, pessoas que tenham o que falar, eu gosto muito dessa coisa de troca, de trocar experiência, idéias, eu num gosto daquela pessoa que não tem nada pra te dizer, que só fala bobagem, só porcaria, me irrita um pouco. E com relação à orientação sexual, você prefere que sejam heterossexuais, homo...? Eu não prefiro, eu só não sei como agir com homossexuais por não ter muitos amigos homossexuais, não por ter alguma coisa contra, mas eu não sei como agir, eu não sei o que falar, não sei se vou ofender em algum ponto, porque é uma classe tão
discriminada que eu fico com medo de falar uma coisa assim que, mesmo que eu esteja falando sem maldade nenhuma a pessoa me interprete mal e fique chateada comigo. Então eu fico um pouco sem ação assim, eu vou bem devagarzinho com eles, com as pessoas que eu conheço que são homossexuais. E cor relação à cor, você prefere que sejam mais claros, mais escuro, tanto faz...? Tanto faz, não faz diferença ser mais claro ou mais escuro. E de tipo físico, você tem alguma preferência? Não, não, isso conta também? Tem gente que escolhe amigo assim? Ia ser engraçado, “meus amigos só serão fortes, sarados, barriga de tanquinho, as moças com bumbum com tudo em cima...” Ia ser engraçado. Você tem mais amigas mulheres ou amigos homens? Olha, amigo, amigo assim, no sentido verdadeiro da palavra, eu não tenho muitos, mas são mulheres. Mas eu me dou melhor com os homens, eu sei agir melhor com eles, mulher é uma coisa muito complexa, muito complicada, e mulher é uma coisa assim, eu acho que a gente tem inveja uma da outra, por mais que a gente gosta a gente acaba invejando. Eu tive uma amiga, a Talita, que foi minha amiga nos tempos de escola, inseparável, a gente se conheceu aos nove anos e se separou quando eu mudei de escola, dos 14 pra 15, e foi assim, a gente viver esse período, dos nove aos 14, 15, grudadas, todas as experiências que a gente passou, 1º beijo, é, 1ª decepção amorosa, essas coisas que adolescente passa, então a gente tinha dia da gente se pegar porque eu tava bonita demais e ela não gostava e vice versa, a gente não falava, mas sabia, tinha dia que o cabelo dela tava bonito demais e eu já me sentia ofendida com a beleza dela, assim... Então é mais fácil lidar com homem, eles são mais despreocupados e não ligam pra esse tipo de cosia, é só você impor um certo limite e pronto, é muito mais fácil. Como você definiria o seu estilo? É uma coisa complicada, eu sou sem estilo, eu acho. Mas você não se identifica com nenhuma “tribo” urbana? Não, eu queria, mas eu não me identifico. Eu fico olhando essas pessoas cheias de
estilo, essas pessoas ousadas, eu queria ser ousada, eu queria pintar o meu cabelo de roxo e sair na rua achando o máximo estar com o cabelo roxo, como se fosse a coisa mais normal, mais comum, mais linda do mundo, assim, sem ter problema nenhum com todo mundo me olhando com todo mundo me olhando. Eu acho que eu faço o estilo discreto. Eu tenho quase 1,80m de altura, então se a pessoa não me notar, porque eu sou muito grande, a pessoa pode nem quer, mas ela me vê, e pode não parecer, mas eu sou tímida, sou uma pessoa muito tímida, eu não gosto de ser o centro das atenções, me dá taquicardia ser o centro das atenções! Se você me colocar pra falar com uma pessoa eu me saio super bem, mas se você me colocar pra falar com várias pessoas eu num falo, então eu começo a tropeçar as palavras. Então eu faço o estilo discreto, assim, uma sainha, um decote... Um amigo meu disse que, eu briguei com ele porque ele num olha nunca na linha dos meus olhos, eu brinquei com ele que ele tá sempre abaixo, e aí ele falou assim que eu é que tava complexada, que eu mostrava só que não queria que olhassem. Eu fiquei constrangida ouvindo isso, né? E sobre o Rock Brasil, o lugar onde eu convidei você para participar da pesquisa, você costuma ir sempre lá? Não, na verdade é a primeira vez, eu vim só pra conhecer, eu num sou muito fã de rock, assim, eu até acho legal, mas não muito, eu tenho momentos rock and roll, sabe? Momentos rock and roll, mas não é um lugar onde eu vá sempre. Para você, como são as pessoas que freqüentam um lugar como o Rock Brasil? Como você definiria o tipo de pessoa que vai lá? Maluca. Malucas, assim, eu acho que rock é uma maneira muito aberta de se expressar, porque é um negócio barulhento, aí você grita, tem aqueles, aquele negócio que as pessoas se batem, como é, eu esqueci o nome, que empurram... Fazer rodinha? É, tem um nome que eu não me lembro qual é. Mas, então, você vai lá pra soltar suas pestes, é um negocio agressivo assim, o jeito de você dançar o rock é um negócio agressivo, assim, você dança, você fica berrando, é libera geral mesmo pra sair de lá de alma lavada, assim...
E quando você vai se aproximar de alguém, um amigo ou amiga, paquera, como você costuma agir? Olha, um amigo ou amiga, amigos em geral, assim, normalmente uma pergunta boba, assim, você acaba fazendo amizade por bobagem, assim, você pergunta de matéria na escola, ou pede uma informação, você vai com a cara da pessoa, a pessoa vai com a sua cara e você acaba virando amiga dela, trocando idéias, e conversando e vira amigo. Ou então você conhece através de outra pessoa, não tem muito como se aproximar, assim, pra fazer amigo. Agora pra paquera, eu não sei, paquera, como eu me aproximo, eu não sei... Se eu to afim eu chego junto, se eu to afim da pessoa eu chego junto, eu nunca tive problema com isso não. Eu respiro bem fundo e solto, às vezes eu num fui muito feliz, assim, às vezes eu falei umas bobagens... Sabe aquele momento em que você deita no travesseiro e você lembra de tudo o que você falou, e fala, “menina, como você é estúpida, como você me solta uma dessas!?”. Mas não tem uma fórmula pra você paquerar alguém, fazer amizade com alguém, é uma coisa natural, quando você vê você tá paquerando... Paquerar assim de olhar, quando você olha a pessoa e a pessoa te olha, e você sente que rolou um clima e você fica olhando uma meia hora até encher o saco e você ir falar com a pessoa, é assim... E quando você foi no Rock Brasil você sofreu alguma violência? Não... Não. E você brigou com alguém lá? Não, sossegado. E mudando um pouco de assunto, você costuma acessar a Internet? Costumo. E onde você acessa? Com que finalidade? Já conheceu alguém pela Internet? Não, acho que esse negócio de conhecer pessoa pela Internet uma coisa perigosa e estranha também né, você fica lá conversando com a pessoa e ela diz que é o Gianecchini, e é o Corcunda de Notredame, é essa é a melhor das hipóteses, ou quando não é um assassino, ou coisa do tipo. Eu acesso a Internet mais com finalidade de pesquisar, descobrir coisas assim, o mundo tá lá dentro, é impressionante. Acho que a minha
finalidade maior é essa, não sou uma pessoa viciada em Internet, não é uma coisa que tenha falta a fazer. E onde você acessa? Eu acesso, antigamente, quando eu tava trabalhando, eu acessava do meu trabalho, aí eu acessava todo dia, hoje em dia eu acesso no cursinho, no Mc’Donalds. Você tem páginas pessoais na Internet, como blog ou fotolog? Não, não. Na verdade eu não sou muito fã dessas coisas. Você esteve ou está envolvido com algum grupo, ONG, ou movimento social? Não, não. Bom, agora a gente vai falar sobre relacionamento. Em relação aos seus parceiros/as você tem alguma preferência relativa à: classe? Não, não, acho que não. Como eu disse a coisa boa é que o coração não escolhe muito isso. Se você gosta você gosta, se ele tem dinheiro, bom, se ele não tem, legal, a gente consegue junto, não faz muita diferença. E idade? Idade eu tenho, eu não gosto de gente, muito, num é nem idade, é cabeça, se a pessoa for madura e tiver 18 anos eu vou gostar dela, se ela for imatura e tiver 38 eu não vou gostar dela. Meu negócio é mais com maturidade. E escolaridade? Não, não, acho que não. Se eu me apaixonasse por uma pessoa que não tivesse completado os estudos eu a incentivaria a completar, porque, pras coisas ficarem um pouco mais fáceis pra ela conseguir, mas não que faça tanta diferença, no gostar da pessoa não faz diferença. E em relação a orientação sexual dos seus parceiros? Hoje em dia eu prefiro que eles sejam heterossexuais, mas já tive a minha fase meio confusa. A gente vai falar sobre isso a seguir. Sobre atributo de gênero, seria mais masculino,
mais feminino...? Você diz um homem que tenha isso? Tipo meio machão, você diz, ou...? Parceiros/as em geral. Mais masculinos que eu. E com relação a cor? Não faz diferença. A tipo físico? Também não faz, fez diferença quando eu era menininha, que eu queria que fosse mais alto que eu, fortão, aquela coisa da idade, hoje em dia não faz diferença. E religião? Religião, não sei, desde que respeite a minha eu não vou criticar a dele. E característica de personalidade? De característica de personalidade a gente sempre tem, a gente nunca vai namorar com alguém totalmente diferente da gente, que a gente viva batendo de frente... Tem que ter alguma coisa que atraia, que dê certo, que complete... Com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? Ah, se eu soubesse, pudesse imaginar, ia ser ótimo. Eu não me relacionaria com uma pessoa sem caráter, desonesta. Eu jamais me relacionaria, mas esse tipo de coisa a gente só descobre depois que tá se relacionando, ninguém vem com a plaquinha, tipo, “eu não presto”, é impressionante. E normalmente que tipo de relacionamentos você busca? Só sexual, ficar, namorar, casamento? Não, eu sou uma pessoa de namoro, eu sempre namorei, desde os onze anos até hoje, assim, eu construo relacionamentos muito sólidos. Se eu amo, e vejo que há futuro eu penso em casar, já pensei em casar quatro vezes. Quatro vezes eu to pra casar e nunca caso. Ficar não faz meu estilo, eu fiquei pouquíssimas vezes, não faz meu estilo. Ficar com uma pessoa por sexo, então, piorou, eu acho que pra fazer sexo você precisa gostar, precisa ter
sentimento. Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de cor e classe). Como reagiu? Já, já. Eu fiquei com a pessoa, foi a minha fase meio mal feita, não sei pra onde vou, essas coisas. Aí eu resolvi experimentar. E você já teve alguma relação afetiva com uma pessoa de cor/raça diferente da sua? Já. E classe? Já também. Orientação sexual? Afetiva não. De orientação sexual diferente eu só fiquei. Escolaridade? Já. E como foram essas experiências? Na maioria foram boas. Meu primeiro namorado era loiro de olhos verdes, e eu brinco que eu tenho o pé na senzala... E foi, foi aquela coisa de conto de fadas meu primeiro namorado. Meu segundo namorado era moreno de pele, e também foi legal, foi uma relação muito legal, foi um dos meus relacionamentos mais divertidos, assim, eu brincava que devia ter ficado só na amizade porque daria mais certo e a gente taria se falando até hoje se a gente tivesse sido só amigo, né? E minha ficada com uma pessoa do mesmo sexo que eu não foi muito legal, eu não curti muito a idéia, descobri que eu não dou pra coisa. Qual era a orientação sexual dela? Era bissexual. Ela era mais nova, mais velha? Mais velha, ela tinha uns 28 anos.
E era da mesma cor que você? Da mesma classe? Da mesma cor sim, da mesma classe não. Ah, acho que dá pra colocar da mesma classe. Como você descreveria uma pessoa atraente? Pra mim tem que ser inteligente, tem que ser segura, o oposto de mim em algumas coisas. Eu sou um pouco insegura, então eu procuro segurança numa outra pessoa. Inteligência me atrai muito, uma pessoa que saiba o que falar, na hora que tem que falar, assim, me atrai muito. Me atrai uma pessoa decidida, uma pessoa que pensa a decisão e faz a decisão, atenciosa, tem que ser atenciosa. Decidido, inteligente, mais que isso é perfeito, né? O que você espera em relação a um parceiro? Num parceiro eu procuro isso, procuro... O que significa ficar para você? Abraçar, beijar, roçar...? Ficar, hoje em dia tá tudo liberado! Agora ficar inclui tudo, barba cabelo e bigode. Agora pra mim no máximo um beijinho na boca, é até onde pode ir, baixou a mão demais já leva um tapa, já leva um safanão, opa! Num rola. Onde você costuma conhecer as pessoas com quem fica, ou namora? Nossa, eu já conheci em tantos lugares! Já conheci vizinho, por amigo, meu segundo namorado estudou comigo, meu terceiro foi meu professor, meu quarto trabalhou comigo, que é meu atual namorado. Nos mais diversos lugares a gente conhece pessoas. Quando você gosta de alguém ou tá interessada em alguém pra ficar, namorar, o que você faz para chamar a atenção? Dançar, normalmente eu danço, se cabe dançar no negócio eu danço, eu acho que eu chamo a atenção dançando, pelo menos na minha cabeça eu chamo a atenção dançando, então eu danço pra chamar a atenção de uma pessoa que me dá interesse. Quem deve travar o primeiro contato você acha? O homem ou a mulher?
Ah, você ou a pessoa em quem você tá interessada... Olha, eu, é mais fácil quando a outra pessoa chega, é mais conveniente pra você, mas se embaçam demais assim eu chego, eu vou lá dar a cara pra bater. Pode ser que dê certo, pode ser que não, agora com a dúvida eu num volto pra casa, assim, “será...?”, eu não tenho muita paciência. Você considera que há parceiros/as para ficar e outros/as para namorar? O que faz com que alguém seja considerado por você uma coisa ou outra? Ah, eu acho que depende do momento da pessoa, porque tem pessoas que tão no seu momento de “não quero um compromisso sério, mas não quero ficar sozinho”, então essa pessoa seria denominada a escolha certa pra ficar, pra dar uns beijinhos, o que a gente chama de step, vou ligar pra fulano/a e vai rolar uns beijinhos, abraços, carinhos e vou ficar resolvida. E tem aquelas pessoas que no momento querem o cobertor de orelha fixo, aquele que vai tá ali do meu lado, então acho que dá sim pra classificar, pessoas pra ficar ou pra namorar. O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E sobre casamento? Ah, eu acho o máximo,acho que é uma prova de que não tem nada a ver a cor da pessoa, não faz a menor diferença você ser branco, negro, índio, japonês, não influencia em nada, você pode ter o relacionamento e ser feliz ou infeliz tanto quanto duas pessoas da mesma cor. O que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas do mesmo sexo? Ah, isso é uma coisa que eu não tenho profundo conhecimento. Eu não ligo, mas eu não acho normal. Eu não trataria mal uma pessoa que é homossexual, como eu disse lá no começo eu fui criada numa família evangélica e no evangelho foi criado Adão e Eva, num foi criado Adão e Adão, Eva e Eva. Acho que é uma coisa que a gente já quis mudar demais e daí já ficou uma certa... É uma coisa que eu não compreendo muito, então não tem como eu falar... Mas acho que quando a pessoa se gosta, se ela for homem, ou se ela for mulher, eu acho que não tem problema, é ótimo, se tem amor, sentimento, não faz diferença. Quando você sai com alguém você costuma transar no primeiro encontro?
Acho que já aconteceu, mas não que eu tenha o costume. Não acho que no primeiro não, nunca aconteceu comigo, mas assim, transar só por transar... Normalmente eu transei com pessoas que eu sabia, sentia que ia dar pé, assim, e realmente deu, eu comecei a namorar. No segundo encontro serve? No segundo eu já transei, no primeiro não, mas no segundo já. Você tá namorando como você falou, né? E vocês se conheceram no trabalho, como você disse... Fala pra mim algumas características dessa pessoa com quem você namora e um pouquinho sobre essa relação, há quando tempo vocês estão juntos coisas que marcaram e tudo mais que você quiser contar... Ai, eu vou babar um ovo... A gente tá junto há um ano, mas na verdade a gente tem um relacionamento meio complicado, porque e tinha acabado de terminar um relacionamento com um cara que não tinha caráter nenhum, então eu tava arrasada, despedaçada, diminuída, eu não sabia se queria homem ou queria mulher, eu tava meio desiludida da vida, assim, e, era uma fase que eu falei que nunca mais ia me apaixonar por ninguém. Aí ele apareceu e chegou de um jeito errado, assim, me abordou de um jeito errado, porque a gente trabalhava junto e eu era, tinha muito poucas mulheres na empresa, e homem quando quer ser sutil ele é, mas quando não quer é uma loucura, são os mais grossos possíveis! Então ele vinha com brincadeiras muito vulgares, acho que uma visão de mim, tinham passado uma visão de mim pra ele que eu era uma mulherzinha qualquer, vamos dizer assim, e as pessoas nem me conheciam, isso que eu acho engraçado, mas pensavam “ela é novinha, então o negócio dela é zoar!”. Então ele chegou em mim de um jeito errado. Ele me contou, eu tava muito frágil, e um dia ele ligou no meu telefone e perguntou se tava tudo bem... Na sua casa? Não, no telefone da empresa, da minha sala. Então ele perguntou se tava tudo bem, se eu tinha me desentendido com a minha mãe, e tudo que ele tinha falado antes não tinha surtido o menor efeito, mas o fato de ele ter se preocupado com meu estado de espírito fez com que eu olhasse pra ele com outros olhos, opa, será que merece uma chance, será que rola... Aí aos poucos ele foi me conquistando, ele tem todas as características que eu procuro num homem, ele é inteligente, decidido, é seguro, não é perfeito, é inseguro
também, ele é normal, ele é humano como todo mundo né, não é super seguro, super decidido, a gente tem inseguranças e decisões, mas ele me completa, assim, aonde eu sou fraca ele é forte, aonde ele é fraco eu sou forte. O que mais você contaria sobre coisas que marcaram a relação? Dificuldades, ou coisas que são legais...? Dificuldades a gente tem até hoje. Jura que eu posso falar isso? É, na verdade, ele é casado, por isso que eu não queria ficar com ele no começo, foi uma das coisas que comprometeu, uma das dificuldades, só de falar isso já é uma imensa dificuldade. Uma coisa que tenha marcado muito na nossa relação pra eu ter certeza de que ele gosta de mim é a forma como ele me trata, a forma como ele me olha, são coisas que, o fato de ele ter falado pra família dele inteira que eu existo mesmo estando casado eu acho que foi uma coisa muito importante pra mim, ele num faria isso se a intenção dele não fosse ficar comigo, então foi uma coisa que me marcou muito, de ele ter estado comigo nos momentos mais complicados da minha vida, assim. Ele esteve comigo quando eu tava um caquinho, ele me ensinou muita coisa. Quando eu era a menininha, ingênua num vou dizer que eu era, mas muito insegura, muito assim, a ponto de não conseguir dar praticamente um passo, tive que ser muito forte, guerreira porque eu fui criada guerreira, mas depois eu fiquei estagnada, eu parei, então ele me ensinou a ver que eu sou bonita, que eu sou inteligente, que eu sou capaz, assim, isso marcou muito. A segurança que eu tenho pra falar, todas as minhas convicções eu devo a ele. São coisas pra mim muito marcantes, assim. Como foram os seus relacionamentos antes desse, os seus relacionamentos estáveis. Eles foram legais, mais ou menos legais, foram duradouros, não foram? Como eram seus parceiros? Duradouros eles sempre são, é impressionante! Minha mãe fala que eu tenho que ficar sozinha um pouco porque eu namoro muito e é engatilhado, meus namoros, assim, eu termino e começo outro, antes desse meu namorado foi o período mais longo que eu fiquei solteira, três ou quatro meses que eu fiquei sozinha, porque normalmente eu terminava hoje e amanhã já tava namorando, é uma coisa estranha até, né, mas assim que acontecia. Eu tive quatro relacionamentos, os dois primeiros foi uma coisa assim fofa né, coisa de menininha, foi o meu 1º namorado com quem eu perdi a virgindade, era aquela coisa mágica né, então
ele era meu príncipe encantado, eu ia casar com ele, ter muitos filhinhos, na na na na na na, essa coisa assim de meio que brincar de casinha. Aí como a gente cresce né, as coisas mudam e esse meu 2º namorado surgiu. Meu 1º namorado era super pacato, uma coisa de estar ali, curtir a fase e eu tinha algo dentro de mim, meus hormônios, que eu queria sair, queria curtir e foi quando eu conheci meu 2º namorado, que ele era o que eu tava procurando no momento, gostava de sair, namorar, era muito cheio de amigos, dormia muito tarde, a farra né? Aí a gente começou a namorar e foi aquela coisa né, muito divertido, ele era meu namoramigo assim, a gente brincava mesmo que nem criança, a gente se divertia bastante. Meu terceiro namorado foi a minha primeira desilusão assim, quando a gente era mais nova a gente achava que aquele menininho que a gente mandou o bilhetinho e não respondeu era uma desilusão amorosa, mas aí a gente cresce e aparece um traste na nossa vida e a gente vê que o buraco é bem mais embaixo. Ele era bem mais velho que eu, 19 anos mais velho que eu, ele era cafajeste assim, ele me usou, hoje em dia eu olho e eu era um troféu, a menininha novinha que ficava com o tiozão e que aparentava gostar do tiozão, ele era o bambambam, que catava as menininhas, ele tinha 37 e eu tinha 17, e ele me iludiu. Eu digo que ele era canalha porque ele era canalha, ele chegou contando aquela história do príncipe encantada. Então você era novinha, daí de repente chega um cara que te dá flores, abre a porta do carro, e oferece musicas a você, e todas essas coisas que a gente vê na novela e queria tanto um dia que acontecesse com a gente, foi o que ele fez e depois de pouquíssimo tempo mudou a água pro vinho. Eu boba, fiquei ali do lado, dei o meu apoio, porque eu achava que era a minha, eu achava que era meu trabalho, eu tinha que fazer isso, tinha que ficar ali, era minha obrigação, tinha que dar apoio pra ele. Quando a gente começou a namorar a minha vida sexual era maravilhosa, era uma loucura, sempre que podia, até quando não podia... Três, três meses ou quatro depois a coisa foi cessando e pô, eu com 17 anos, com 17 anos você tá no auge, é uma loucura, os hormônios estão todos atacados, você quer porque quer. E de repente o cara num queria mais e, falei, pronto, to com algum problema, defeito, num to fazendo direito, e ia tentar conversar com ele, porque pra mim era um problema. A mãe dele me detestava, a irmã dele me detestava, e eu num sabia porque, e eu pensava, poxa, o que eu to fazendo de errado? A princípio era porque eu era nova demais, aí o lance da discriminação por idade, que eu queria dar o golpe da barriga, que era irresponsável... Num era nem o golpe, por eu ser jovem eu era
irresponsável, eu num tinha capacidade de usar camisinha e me cuidar pra não engravidar, e elas não pensavam que ele podia me largar e eu ia arcar com as conseqüências sozinhas, porque eu já vi isso acontecer com a minha mãe... Mas ninguém nunca me perguntou o que eu achava sobre isso. Então a mãe dele teve umas doenças e a culpa caiu sobre mim, pela minha idade, por tudo isso ele falava que ela tinha tido aqueles piripaques todos por causa disso, e que ele tava se sentindo pressionado por isso não transava mais comigo. Eu, como uma santa praticamente, tentei compreender né, não, poxa vida... Daí depois a mãe dele ficou boa e nada, e eu “que que tá acontecendo, você num quer procurar um médico, eu te ajudo...”, né? Aí ele me contava umas histórias, assim, uns contos da carochinha, uma coisa assim... Na verdade depois que eu terminei com ele eu descobri que ele fazia isso com todas as outras. Ele amava, amava, amava no começo, a namorada era a vida dele, ele queria casar, ter filhos pra sempre, e depois ele descobria que não. Mas quando ele descobria, o problema não era esse, a pessoa tem esse direito, ele num era obrigado a ficar comigo. O problema era: por que ele num chegou e me falou? Poxa, desculpa, eu ia sofrer, claro que ia sofrer, mas ia sofrer bem menos, eu ia me sentir muito melhor, assim, em saber que ele foi honesto comigo, mas ele me diminuía, eu me sentia humilhada, fiquei muito tempo rejeitada, eu queria ficar junto com ele, não só fazer sexo, e ele não queria ficar comigo. Depois ele fumava maconha o dia inteiro, todos os dias, e não era viciado, pra ele, ele num era viciado. E ele fumava todos os dias e eu não podia fumar, eu achava isso engraçado... E ele tinha um filho de 13 anos. Então olha como a relação era complicada, ele usava droga, ele tinha um filho de 13 anos com o qual eu tinha que dividir a atenção dele, porque ele não morava com o filho, então quando o filho tava com ele eu tinha que me anular totalmente. Eu me anulava não porque ele pedia, mas eu sei como não é ter pai, então eu pensava assim, pô, garoto num vê nunca o pai, daí quando vê o pai a namorada fica roubando a cena? Eu pensava, pô, deixa ele, então quando ele falava que ia buscar o Gui na casa da mãe dele eu já falava que tudo bem, se ele num quisesse me ver, curte o final de semana com ele, mas ele num curtia o final de semana com o filho, ele largava o menino com a avó e a tia, a mãe e a irmã dele, e ia pra pracinha ali perto da casa dele fumar maconha com os amigos. Quanto tempo vocês dois ficaram juntos? Quase um ano. Aí eu resolvi que num agüentava mais a situação, por mais que eu
gostasse, eu gostei profundamente, não sei se é gostar, eu gostei, me iludi tanto que acabei gostando, acabei criando um sentimento que eu não sei descrever bem qual era. Hoje em dia eu digo que eu amo, porque é uma coisa totalmente diferente, por mais que seja difícil a nossa relação, eu me sinto bem com ele, de pensar nele , eu me sinto feliz de estar com ele ou ter estado com ele e com o antigo namorado era o oposto, assim, com ele eu me sentia oprimida, sem ele eu me sentia mais oprimida ainda... Quando eu terminei com ele, ele era tão cafajeste, que eu liguei pra ele, eu tinha sido rejeitada mais uma vez na cama no dia anterior, na verdade eu não tinha sido rejeitada, pela primeira vez ele veio e eu não quis, porque vez por outra ele vinha fazer uma coisa bem mal feita por desencargo de consciência, eu sentia que ele tava fazendo aquilo pra eu parar de encher o saco, então era uma coisa sem sentimento, sem nada, assim, era muito mal feito, daí eu não quis. E eu liguei pra ele, na verdade ele me ligou eu acho, e eu disse, “a gente precisa conversar”, ele falou “ah, eu sei até sobre o que é, eu sei, é sobre a nossa situação sexual, eu decidi que eu vou procurar um médico, não sei o que...”. Mas eu falei “não, hoje o buraco é mais embaixo e a gente precisa conversar. Aí ele disse “você quer terminar comigo, é isso?!” e eu disse que não queria falar com ele por telefone, mas eu sei que ele encheu tanto o meu saco que eu terminei com ele por telefone, ele pediu um tempo pra saber o que sentia por mim, e eu falei “a gente tá há quase um ano e você não sabe o que sente por mim?! Não vai descobrir mais.”. Ele pediu tempo, tempo, eu dei uma semana e ele nem me ligou, nem procurou, daí eu fui pra uma balada e o primeiro que apareceu eu beijei mesmo, ele deu piti depois como se tivesse namorando comigo e tempos depois eu ainda descobri que ele tava namorando com outra e comigo e ainda se fazia de vítima, então ele era filha da puta mesmo, bem canalha. Quer tomar alguma coisa? Eu quero. /pausa/ Voltando a conversa, você usava preservativos nos seus últimos relacionamentos? Com que freqüência (sempre, nunca, às vezes)? No primeiro eu usei bem as vezes, no segundo eu tentei pegar um pouco mais firme, mas tinha sempre aquelas escorregadelas, aí eu tentei tomar anticoncepcional, mas com os efeitos colaterais dele eu acabei parando, aí eu comecei a tomar outra pílula que tinha efeito
colateral bem menor, mas era bem mais cara, daí eu deixei de tomar. Com o terceiro a gente usava camisinha sempre, menos mal né? Ele sabia que não prestava então não fazia eu correr risco. Todas as vezes quase que, todas que eu lembre, a gente transou com camisinha. E esse último namorado, eu uso pílula. E a camisinha você usava, ou quando você usa, você usa por que? Na verdade a gente devia pensar mais nas doenças, o objetivo maior da camisinha é esse, mas eu uso mais por conta da gravidez, acho que me assusta mais, engraçado isso né, é idiota, mas me assusta mais ficar grávida do que pegar uma doença, é uma coisa que eu penso mais. E no seu atual namoro, quem definiu que vocês iam usar o anticoncepcional e não a camisinha, e por que? Os dois, porque a camisinha incomodava, foi um negócio incomodo. Eu acho que é bobagem, nunca achei que fizesse diferença, mas é uma coisa muito carnal, como a gente tinha muito sentimento, a gente acabou definindo que, sei lá, sem a camisinha era uma coisa mais livre. E... você tem filhos? Não. Bom, na verdade a gente vai continuar falando sobre as suas experiência sexuais. Qual a memória da sua infância em relação a suas vivências afetivas e sexuais? Bom quando a gente é criança acho que a gente se apaixona por todo mundo né, acho que até ela mãe da gente a gente fica apaixonada numa fase, é impressionante. Eu me lembro dos meus namoradinhos de pegar na mão, só pegava na mão. Minhas experiências sexuais como criança são aquelas experiências sexuais como criança, a gente fica se pegando, descobre que aqui é legal, aqui já não é legal, daí quando você descobre onde é legal mexe mais um pouquinho porque é legal, acho que nada anormal, assim, nada demais. Eu gostava de ver filmes adultos quando eu era criança, tinha certa curiosidade por isso, então, cine prive eu adorava quando eu era menor, e minha mãe num deixava eu ver nem novela das oito, ele falava pra eu fechar o olho, ela faz isso com a minha irmã hoje, “fecha o olho que isso não é cena pra criança ver”. Obviamente ela atiçava ainda mais a minha
curiosidade... Não tinha, nunca tive muita coisa assim com sexualidade, acho que é uma coisa normal, que vai acontecendo, a gente vai querendo descobrir. De que forma as informações sobre sexo chegaram e chegam? Pela minha mãe. Quando eu era criança eu brincava de Barbie, e Barbie é uma reprodução humana, né? Então minha Barbie e meu Ken transavam e um dia minha mãe viu eles transando e ficou chocada, pô, eu tinha oito anos. “Filha, o que você tá fazendo!?”, daí eu falei, não lembro a palavra que eu usei, fiquei muito sem graça, lembro do meu constrangimento, lembro de como eu me senti, eu me senti constrangida. Aí ela perguntou pra mim o que era sexo, e eu falei, “ah, mãe, um homem e uma mulher pelados um em cima do outro”, essa era minha definição de sexo, não tinha nem notado que tinha penetração, essas coisas, espermatozóde, óvulo, toda essa coisa que rola eu num imaginava. Daí nessa época minha mãe trabalhava pra uma psicóloga e ela foi falar com a psicóloga, “ai que que eu faço, a minha filha tá me fazendo perguntas que eu não sei responder”, e a psicóloga me mandou um baú de livros educativos pra criança de educação sexual, e a minha mamãe leu esses livros pra mim. Era muito engraçado porque ela fiava chocada com os desenhos, e não era nem fotografia, eram desenhos, era uma coisa pra criança mesmo, desenhado o pênis, desenhada a vagina, o que era o que, aonde servia. Eu lembro que uma vez um menino falou alguma coisa querendo me ofender em relação a sexo e eu falei, tirando ele, “é, você não sabe nem o que e um espermatozóide!”, me achando inteligente, né? Tirei um sarro, ele realmente não sabia o que era um espermatozóide. Hoje em dia informação de sexo você tira em qualquer lugar, eu vou a o ginecologista e pergunto, se eu tenho alguma dúvida eu pergunto pra ele, meu médico me instrui, diz o que eu tenho que fazer, o que eu tenho que usar, hoje em dia é bem mais fácil, antes era mais complicado. Como seus familiares se comportavam e se comportam em relação à sua vida sexual? Eles não sabem, só quem sabe é a minha mãe. Eles sabem, lógico, imagina, da família sou a mais namoradeira, na verdade eu não sou a mais namoradeira, eu sou a mais sincera, a menos hipócrita com eles assim, eu não devo nada pra ninguém, não tenho o que esconder. Então... Mas nunca toquei em assuntos, na verdade eu sou até bem respeitadora, eu não falo desses assuntos, eu nunca beijei na boca na frente da minha mãe, nela nunca me
viu beijando nenhum namorado, então nesse ponto eu sou meio caretona, assim, eu acho que eu chocaria as minhas tias. Eu tenho uma tia que tinha 30 anos e casou virgem e diz isso com a boca cheia, e ela queria que eu seguisse a mesma coisa. Mal sabe ela que já rola há muito tempo... E me conta sobre a sua iniciação sexual, quantos anos você tinha, com quem foi...? Eu tinha 15 anos, foi com o meu primeiro namorado, e foi, pra mim foi lindo, uma coisa bem assim, alias eu não esperava muita coisa né, porque as pessoas normalmente descrevem isso como uma coisa trágica, dolorosa, horrível, péssima... Foi um pouquinho frustrante, normalmente é muito rápido, a coisa acontece, mas foi bonitinha a minha primeira vez, porque o meu namorado era bonitinho, ele foi todo atencioso, todo carinhoso, cheio de cuidados pra não me machucar, não avançar além do que eu queria ir, minha primeira vez, minha iniciação sexual foi legal. E antes disso, você com ele ou com outro parceiro trocava carícias...? Com ele já aconteceu, foi com ele. É uma coisa engraçada, começa com os seios, daí você beija, e chaga no pescoço. Daí você para e pensa uns dois dias se vai deixar a pessoa descer. Aí tinha carícias, uns afagos mais quentes, assim, mão naquilo, aquilo na mão, teve, teve todo um preparo, a gente conversou muito, porque eu era virgem e ele não era mais. Teve todo um, eu conversei, eu decidi que eu queria, ele não me pressionou em nada, assim, como acontece na maioria das vezes. Eu não fui pressionada a perder a minha virgindade, a ser tocada, eu decidia, eu queria que acontecesse e eu deixava. Você acha que você escolheu a pessoa e a hora certa? A pessoa certa? Pode ser que sim. A hora certa eu acredito que não, eu gostaria de ter esperado mais, mas a gente nunca sabe na verdade, a primeira vez é sempre a primeira vez, não saber, não conhecer uma coisa é sempre igual independente da idade que você tem, mas eu acho que eu podia ta um pouco mais preparada, mas eu também gosto de ter tido... É complicado dizer, eu acho que foi sim com a pessoa certa, na hora certa eu já não tenho certeza. Se a iniciação for homossexual, como lidou com isso? Quais as conseqüências dessa iniciação na sua vida sexual e afetiva?
Você já teve relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de vantagem, vantagem financeira, familiar, escolar? Não, nunca. Não, eu acho que pra mim sexo vai muito além de penetração ou vantagens, pra mim sexo é uma coisa de, é puro sentimento pra mim, transar com alguém é sentimento assim... Quando eu transei sem sentir nada eu me senti meio objeto, eu senti que tava me fazendo passar por objeto, uma coisa... Você já foi constrangido (física ou psicologicamente) a ter relações sexuais com alguém? Como isso ocorreu e quem o constrangeu? Como lidou com isso (denunciou ou silenciou-se, quais as conseqüências para vida sexual atual, etc)? Você já constrangeu (física ou psicologicamente) alguém a ter relações sexuais? Como isso ocorreu e quem constrangeu? Como lidou com isso? O que é atração sexual para você? Qual a diferença (se houver) entre atração sexual e atração afetiva/amorosa? (separação entre sexo e amor) Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com quem você transa? Por quê? O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas como definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.) Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação (completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso? Fale-me sobre suas últimas relações afetivo/sexuais significativas? (explorar práticas sexuais, desejos, tipo de relação, perfil dos parceiros [orientação sexual, estado civil, idade], satisfação com as relações). Que práticas sexuais você faz/fez (anal, oral, vaginal [inclusive durante a menstruação?]; usa algum tipo de lubrificante? Explorar também sexo grupal, sadomasoquismo, fetiches, etc.). Com quem faz ou deixa de fazer? Qual (is) as mais prazerosas para você? O que é aceitável e inaceitável numa relação sexual? /Troca de fita/ Continuando... Que tipo de prática sexual pode acontecer durante
uma relação que você se um pouco sente mal, mas não consegue evitar? Nenhuma, porque se eu nao gosto eu nao faço, eu sou bem assim, ja parei no meio da coisa porque algo aconteceu de um jeito que eu nao gostei e eu nao quis fazer e pronto. Ja tive que falar, falar, falar ate o parceiro entender, mas se eu nao gosto eu nao faço.
E durante a relação sexual, o que é arriscado, mas é gostoso de fazer? Transar sem camisinha, transar sem camisinha é arriscado, mas é gostoso de fazer.
Quantas vezes você transa por semana? Ah, depende, depende do seu estado de espírito isso, não tem uma coisa, assim, uma formula, "ai, eu transo cinco vezes por semana", não tem, depende do seu estado de espirito, voce pode estar super cansado e nao estar a fim de transar, transar uma vez por semana, uma vez por duas semanas, depende do seu estado de espirito, voce pode transar cinco vezes por semana, a semana inteira, todos os dias, depende.
Você está satisfeita com sua vida sexual? Sim! Mas o que você gostaria de mudar ou de manter? Eu gostaria de ter menos pudor, as vezes eu acho que a gente tem vergonha de certas coisas e eu gostaria de me liberar, assim... De que tipo de coisas você tem vergonha? Ah, eu tenho vergonha do meu corpo, assim, eu acho que eu queria me ver como o homem vê nós mulheres. Eu acho que é muito diferente, a gente tá preocupada com aquela marquinah que tem na sua nadega direita e ele nem viu que ela existe, entendeu? Ele nem notou a existencia dela lá mas você tá achando que aquilo vai atrapalhar tudo. Eu queria não ter essa coisa, eu queria ter coragem de fazer um striptease, coragem de falar certas coisas... Eventualmente você acaba falando porque perde o controle, e eu queria me descontrolar bem mais do que eu me descontrolo.
Se você ficasse grávida sem planejadar, o que você faria, que atitude você tomaria? Não sei se isso já aconteceu com você, o que você pensa...? Não, isso nunca aconteceu, mas se acontecesse primeiro eu ia arrrancar os meus cabelos, chorar descontroladamente, agora, se isso acontecesse agora... E depois eu ia planejar, ia pensar, dar um rumo pra minha vida pra que uma criança pudesse participar dela. Mas é uma coisa que eu não esperaria, assim... E o que você acha sobre o aborto? Eu acho isso uma coisa tão dificil, assim, de responder. Eu não sei, eu não sei dizer, eu acho que é errado, disso eu tenho convicção que é errado, mas tem momentos em que você acaba até parando e pensando. Imagina uma garota de 15 anos com a renda super baixa que engravida. Eu acho que é burrice da parte dela, eu acho que ela deveria criar sim, mas não por ela, acho que pela criança viver numa família sem nenhuma estrutura, com uma mãe que vai te fazer de boneca, porque ela vai tá aprendendo né, ela não vai ter noção do que tá fazendo, então ela vai errar muito mais do que de costume, do que uma mulher adulta erraria, uma mulher estruturada. Eu acho que é uma coisa a se pensar. Imagina você ter sofrido um abuso sexual e ter que conviver com o fruto desse abuso... É uma coisa a se pensar, assim... Na verdade o bom seria se esse tipo de coisa não acontecesse e a gente não tivesse que optar por ter ou não o filho.
Quais as qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher? Nossa, que pergunta difícil! Eu acho que mulher, mulher é corpo, mulher é forte, na sua grande maioria nós somos fortes, assim, a gente aguenta trancos muitos grandes, a gente é mãe, a gente é pai muitas vezes, a gente é alicerce da família. Eu acho que mulher é definida como força. Acho que mulher é um ser forte, acho que essa é a definição. A gente aprende muita coisa pra poder suprir as necessidades dos outros, eu acho que mulher se doa muito, porque na verdade eu acho que a gente foi criado nessa intenção né, e por mais que a gente tente mudar isso, não é que a mulher tente crescer... Eu acho que é burrice isso, eu tava pensando um dia desses, a mulher lutou, lutou, lutou pra chegar no ponto onde o homem chegou, e pra que? Pra exercer os dois papéis? Porque a gente sim, a gente faz o que o homem faz, mas não são todos os homens que fazem o que a gente faz, então a gente tem uma, a gente tem que fazer duas coisas, fazer o papel de mulher, aquela dona de casa,
que cuida do marido, cuida dos filhos, e aquela empresária, que cuida da empresa... Então a gente acabou se sobrecarregando com essa nossa idéia de igualdade. Que qualidades ou comportamentos você admira numa mulher? Ah, e admiro a capacidade de entender que as mulheres têm na sua maioria, admiro a capacidade de aprender, ah, eu admiro a força também, a capacidade de passar por momentos difíceis e não enlouquecer, que eu acho que um homem enlouqueceria em alguns momentos que a mulher não enlouquece. Eu admiro que a mulher menstrua todo mês, que passa por isso sem problemas, que carrega um nenê lá dentro, e muitas delas trabalham com aquela barrigona enorme porque precisa trabalhar... Eu admiro... Eu acho que a mulher é um ser admirável, na sua maioria é, ela tem várias qualidades, sem querer puxar sardinha pro meu lado, assim, já que eu sou menina.
E que qualidades, características e comportamentos que definem um homem? E quais delas você admira num homem? Eu acho que o homem é protetor, assim, ele tem com o sua maior obrigação, não sei se é essa a palavra, proteger. Ele se sente, esse é o papel dele, proteger. Ele tenta pôr a ordem, na verdade ele "acha" que põe né, ele põe ordem, na verdade ele põe ordem e a gente administra, ele dita a regra, mas a gente administra, a gente faz acontecer, eu acho que é assim que funciona, os dois lados se completam. Eu acho que o homem também é forte, eu acho que não tão forte quanto a mulher, acho que o homem não suportaria pressões que uma mulher consegue suportar, mas acho que ele suporta certas coisas que pra gente seria muito complicado.
O que você espera de um homem e o que você espera de uma mulher? Que assumam seus atos, eu espero isso do ser humano, assumir, assumir cada ato, cada frase, o que falou, o que fez, eu acho que é isso, eu espero que assumam sem ficar jogando a culpa pro outro, ficar dizendo "fulano fez isso, aquilo", assume, você fez, você errou, então assume, conserte, e não faça mais, assim, uma coisa novamente. É isso que eu espero de um homem e de uma mulher.
Quais as vantagens e os limites de ser homem ou de ser mulher na nossa sociedade? Ai, eu sou meio, eu acho que ser homem tem muitas vantagens e eu acho que ser mulher não tem tantas, ainda hoje. Então eu acho que ser homem tem mais vantagens, desde as masi bobas até as mais invisíveis, tem essa coisa de a mulher fazer a mesma coisa que o homem e ganhar menos do que ele, e, homem faz xixi em pé, que é uma enorme vantagem, é... Também pode ter várias namoradas que ele é o gostoso, e mulher se tem três já é galinha, né, "ela não presta, essa daí, ó cuidado!". Por mais que as pessoas tentem mostrar que não, que liberou geral, é mentira, uma mulher nunca vai ser vista como boa coisa se ela beijar a boca de quem ela bem entender. Eu acho que tem várias coisas, assim...
E se homens e mulheres forem gays, lésbicas ou bissexuais ou transgêneros? Em que medida isso resulta em vantagens e desvantagens? Eu não sei se há vantagens, eu não sei mesmo responder se há vantagens.
Em que medida orientação sexual que você tem define como você se relaciona com as outras pessoas? Em que medida... Eu acho que a gente fica um pouco, é, a gente acaba se, se barrando um pouco por não conhecer, por não saber como é, por exemplo, eu ser heterossexual eu não vou nunca conseguir entender uma pessoa homossexual. Acho que a gente fica um pouco limitado, assim, eu acho que eu tenho umas certas limitações.
O que a sua mãe ensinou pra você sobre as diferenças entre homens e mulheres e sobre as diferentes orientações sexuais? Não, sobre orientação sexual acho que a minha mãe nunca conversou muito comigo. Ela não tem nada contra, mas ela tem a seguinte opinião: ela não acha certo, ela nunca vai discriminar uma pessoa, mas não é uma coisa que ela tenha incluído, que ela que vale a pena incluir dentro da educação. Acho que é uma coisa que nunca passou pela cabeça dela, assim... Tipo...
O que você pensa sobre a virgindade? Ah, eu acho que as pessoas acabaram um
pouco com essa fantasia, não era nem fantasia, era uma coisa de cultura, da gente ser virgem, casar virgem, era uma coisa bíblica, eu ia falar machista, mas é uma coisa bíblica de casar virgem. Mas eu não sei se chega a dizer se é pro homem ou pra mulher, eu não sei se chega a dizer isso, mas é bíblico casar virgem. Eu gostaria de ter casado virgem e por outro lado eu não gostaria. Eu gostaria pelo lado de achar que é certo, das pessoas mostrarem pra gente, de você ter sido criada com essa coisa, assim, "ai, casar virgem é que é o legal", mas não gostaria porque acho que talvez eu tivesse a dúvida "pô, mas como será com outro homem", imagina você estar casada pensando nisso, acho que dá uma abalada.
O que você pensa sobre a infidelidade de homens e a infidelidade de mulheres? Eu acho que tem dois tipos. Eu acho que tem o homem que é infiel por ser sacana, porque ele não precisa ser infiel, assim, não há necessidade por exemplo de um cara que namora uma menina, por exemplo, ele pode muito bem chegar nela e dizer "eu não quero mais ficar com você". Infidelidade na verdade nunca é necessária, eu acho que as pessoas, depois dos relacionamentos tomarem rumos, que, elas acabam não tendo como sair, você acaba construindo um nó tão grande que não dá pra desatar, você não é mais feliz com aquela pessoa, e encontra uma outra pessoa, e acaba sendo infiel acho que por uma, por um erro seu, por não ter tomado a decisão na hora em que ela devia ter sido tomada, no momento certo, e ter deixado que as coisas ficassem muito mais complicadas.
Você tem facilidade em demonstrar os seus sentimentos amorosos? Tenho. É mais fácil demonstrá-lo para pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto? Amor você diz em relacionamento ou sentimento no geral? Sentimentos no geral. Tenho, independente do sexo, se eu gosto eu gosto, se eu amo eu amo e ponto, eu mostro que eu amo, eu falo que eu amo, eu beijo, abraço, não tenho muita dificuldade com isso.
Tem algum sentimento que algum uma mulher tem que esconder de uma outra mulher? Não, acho que não de mulher, que mulher tem que esconder de mulher, mas assim,
a gente acaba tendo que esconder sentimentos de todos. Me disseram uma vez uma coisa que eu fiquei indignada, "que a felicidade incomoda os outros". Eu acho isso um absurdo, como é que alguém vai se sentir incomodado ao me ver feliz? Então você acaba tendo que esconder um pouquinho a sua felicidade de dterminado ser que via te prejudicar porque não consegue ser feliz e não quer que ninguém seja. Eu acho que isso é independente de ser homem ou mulher. Eu particulamente não gosto e nem consigo muito, eu até tento as vezes, mas eu não consigo muito esconder algum sentimento, seja ele qual for, por alguma pessoa.
Você tem algum ressentimento em relação ao sexo oposto? Eu tenho. Eu não gostaria de ter, mas eu tenho. Eu tenho ressentimenhto com o meu ex-namorado, eu acho que ele foi muito covarde comigo, e por mais que eu tente me livrar eu ainda fico um pouco ressentida, eu aidna lembro dele com um pouco de raiva, acho que por não ter dito o que eu queria ter dito pra ele, quando eu descobri tudo...
Já teve problemas relacionados com ereção (própria ou do parceiro), ejaculação (própria ou do parceiro), impotência/frigidez, insatisfação sexual em algum período da sua vida? Quando? Como lidou com isso? Procurou ajuda? De quem? Isso interferiu em seus relacionamentos?
Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual por um período longo? Ou quando, numa relação estável, o seu parceirose sente desse jeito? Quando é comigo é um pouco mais facil, porque tem a pressão do outro, tem aquela coisa de ligar se não transa não me ama mais, é uma coisa incrivel. Primeiro eu fico um pouco preocupada quando demora muito, eu falo "pô, será que aconteceu alguma coisa? Depois eu paro, penso, vejo como anda a vida, os problemas, as situações, e tento entender meu parceiro também. Primeiro eu dou um piti básico, ele num tá com tesão e eu tô louca de tesão, você meio que fica sem raciocinar direito quando você tá com tesão, é um negocio incrivel, parece que o seu cérebro para de funcionar, uma grande parte dele, assim, e só
pensa em sexo, aí você não consegue entender. Mas depois que passa eu paro pra pensar no que tá acontecendo, eu tento entender, tento ser compreensiva, acho que é necessário.
Sobre a sua saúde, como você cuida da sua saúde? Sexual, você diz? Sua saúde no geral, você costuma ir ao médico, você se preocupa com a sua alimentação, você faz exercícios? Não, eu sou a pessoa mais sedentária do planeta! Eu não me exercito, eu como razoavelmente bem, eu não vou dizer que eu como mal, mal, mas também não posso dizer que eu como bem. Eu até tento comer direitinho, salada, legume, fazer uma alimentação mais saudável, assim... Exercícios eu não faço nenhum, nenhum, nenhum. Médico, o médico que eu vou periodicamente é o gincologista, os outros eu fujo deles, eu sou vou quando estou ruim, muito ruim mesmo, preciso estar muito doente.
Você costuma ir na rede pública ou rede privada? Quais foram suas experiências? Nossa, eu já fui nas duas, na pública você se sente meio saco de batata. Eu tive uma, uma vez eu fui ao médico porque tava com ujma dor de cabeça muito forte, e e fiquei quase uma hora sentada sentindo que o mundo tava sobre minha cabeça e ninguém me atendia. Pra ir no ginecologista você marca, você fica dois dias esperando, então você se sente meia nada, assim. Acho que já na rede privada é outra coisa, a primeira vez que eu fui eu achei um barato, quando eu fui no ginecologista eles me deram uma camisolinha pra vestir, eu achei aquilo tão chique, aquele lençolzinho que cobre as tuas pernas e impede que você veja o que o médico tá vendo, nossa, achei aquilo o máximo, o máximo, assim, achei um espetáculo. E no médico, no hospital, eles pedirem os exames e você fazer os exames ali mesmo, ótimo! É bem diferente, bem diferente, é triste, mas...
E você já teve alguma doença transmitida por via sexual? Eu tive HPV, que a médica me disse que era transmitido sexualmente. E você sabe através de quem...? Não, eu imagino que possa ter sido através do meu segundo namorado, talvez ou do terceiro, foi esse o malvado da história, mas eu não tenho
certeza, eu nem procurei saber muito, assim, porque o HPV é um negócio que parece prejudicar bem mais a mulher do que o homem se ele não for tratado. No homem, pelo menos é o que médica me disse, ao lado do meu namorado da época, foi isso, foi que o HPV, ele perguntou se ele tinha que fazer um tratamento, mas ela disse que não, que normalmente no homem some, então não prejudica muito. Já na mulher se ela não cuidar, e ela disse assim, se não cuidar mesmo, se for uma pessoa bem relaxada, pode virar câncer. Pode vir a virar câncer. Mas eu fiz tudo bonitinho e já não tenho mais. E agora você está namorando né, o seu parceiro já teve alguma DST? Eu não sei, eu nunca perguntei. Eu vou perguntar, eu fiquei curiosa agora. Mas eu nunca perguntei. O que você sabe sobre Aids? Ah, eu acho que eu só sei o que todo mundo sabe, que é uma doença sexualmente transmissível, que acaba com o seu sistema imunológico, que você fica frágil, fraco, que hoje em dia ela é bem controlada e uma pessoa consegue viver por um bom tempo e bem tendo o vírus do HIV... Eu acho que eu sei o que é bem divulgado, assim, eu sei bem por alto, nunca investiguei muito a AIDS.
Você conhece alguém com o vírus da AIDS? Eu conheci, uma pessoa pra quem a minha mãe trabalhou que teve o vírus da AIDS e descobriu numa gravidez, e o filho dela, o vírus foi adormecido eles chamam, tem uma palavra lá, é um tratamento feito durante a gravidez. Eu não sei se a criança não nasce com o vírus ou se ela nasce com o vírus digamos que impotente, ele não pode se desenvolver. Eu não sei exatamente como é, mas ela teve. Parecia uma pessoa normal, sofrida, porque tinha uns remédios que se você esquecia de tomar a dosagem pode prejudicar muito, se você esquecer que você já tomou e tomar novamente você pode até morrer porque são muitos remédios e muito fortes, então se você tomar uam dosagem muito alta você pode ate morrer... Então é um negócio complicado, né, tem que viver sob uma pressão imensa, assim, você tem que ter uma vida extremamente regrada pra você poder viver bem. Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Acho que qualquer pessoa está sujeita, hoje em dia não existe mais o grupo de risco que existia antes. O vírus tá por aí, tá dando nas pessoas mais normais, que você num diria... Até criaram o ditado "quem vê cara não vê AIDS", né?
Já fez teste anti-HIV? Não, não, eu marquei os exames, mas ainda não fui fazer.
E com esse atual namorado ocê usa preservativo em nenhuma práticas sexual, ou em alguma você usa? Em nenhuma. Na que eu usaria, eu acho que eu usaria se eu fizesse sexo anal, eu usaria sem dúvida, mas como eu não faço, em nenhuma outra eu uso.
Você usa algum método de prevenção a DST? Não. Eu nem sei se existe além da camisinha. E de método contraceptivo você toma pílula? Eu agora uso um negócio chamado anel, anel vaginal, que é super legal, que você coloca lá dentro e fica 20 dias com ele lá dentro, e tira, dá a pausa de sete dias... É normal, só com a vantagem de que você nã oprecisa lembra de tomar a danada da pílula todo dia, então é mais seguro, porque você
sempre esquece, sempre esquece, a não ser que seja uma pessoa muito sistemática, assim, que lembre sempre. Eu não lembrava todos os dias, eu sempre esquecia dois dias e tinha que tomar três pílulas juntas, então pra mim foi muito vantajoso. E o efeito é o mesmo, pelo menos foi o que o meu médico me garantiu. Eu não senti nenhuma diferença no corpo, ou hormonal, não senti nenhuma diferença.
Quando você usou preservativo, já aconteceu algum acidente de rompimento? Já, ficou dentro de mim uma vez! E o que você fez? Eu entrei em pânico, eu entrei em pânico! Meu parceiro enfiou o dedo lá dentro e puxou, eu achei que eu ia ter que ir pro hospital com uma camisinha dentro de mim e que iam me fazer uma micro cirurgia pra tirar a camisinha lá de dentro, mas acho que não foi tão profundo e ele tirou com o dedo de dentro de mim. Mas você tomava pílula na época? Não, ainda não tomava, ainda não tinha começado a tomar pílula na época. E o que você fez? Eu tomei a pílula do dia seguinte.
Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a camisinha? Ah, aquele negócio de não deixar entrar ar, que eu acho que todo mundo sabe, não colocar mais de uma... Eu nunca vi ninguém que tenha colocado mais de uma camisinha, isso não é o certo. Acho que só esses que eu conheço, são esses que eu conheço.
Você já utilizou a camisinha feminina?(no caso de mulheres) Hum hum, nunca usei.
E contracepção de emergência você já usou né? Sim, já usei a pílula do dia seguinte.
E como você obteve? Na farmácia. É bem fácil obter a pílula do dia seguinte, é só chegar la e pedir.
Bom, a gente vai mudar um pouco de assunto, a gente vai falar sobre drogas agora... Você costuma beber?
Ah, raramente, eu não sou uma pessoa que bebe sempre. E onde, quando você costuma beber, antes de sair...? Não, quando eu saio, quando eu saio eu, é quando eu costumo beber. Quando eu saio de balada, quando eu vou pra um barzinho é que eu costumo beber.
Você fuma cigarro? Infelizmente. E você já fumou alguma outra coisa? Já experimentei maconha. E como foi, onde, com quem...? Deixa eu me lembrar... Foi com uma vizinha de uma amiga minha, pra mim foi péssimo, foram sensações horríveis que eu não, não gostei e não entendo como tem pessoas que gostam, que acham legal sentir o barato que a maconha dá. Não curti e não faria de novo. Você já experimentou lança perfume? Não! E êxtase, alguma outra droga...? Não! Nenhum tipo de droga além de maconha, e cigarro, e álcool.
Nos lugares que você costuma frequentar quais são as drogas mais usadas?
Que eu tenha visto maconha, as outras eu não sei nem dizer se são usadas ou não, eu não conheço, não sei distinguir, assim, eu não sei dizer o que que é o lança perfume, o que que é o extase, a não ser que alguém me fale. Mas nos lugares que eu frequentava acho que é maconha, a maconha tá presente em tudo, até no colégio onde eu estudei tinha gente fumando maconha no intervalo. Acho que se legalizasse não seria tão usada quanto é...
Sexo e drogas combinam? De maneira alguma. Eu acho que não tem nada a ver uma coisa com a outra.
E você fica mais solto quando está sob o efeito de álcool? Sim, acho que todo mundo fica, né? O álcool amortece você de vários sentidos, inclusive da vergonha, você não sente vergonha quando você tá bêbado. Você faz o que te dá na telha.
Como é o seu final de balada? Você fuma alguma coisa, bebe alguma coisa...? Não, no fim de baladas normalmente eu não faço nada disso, mesmo sendo fumante eu acabo às vezes nem fumando. Tô me curando do porre se ele aconteceu, então não bebo mais. Final de balada é final de tudo pra mim.
Você usa calmante? Não, nunca usei. ...Ou algum outro tipo de remédio? Nunca usei nenhum.
Você costuma beber antes de fazer sexo? Não, algumas vezes já fiz pra tentar me soltar mais, mas na é uma coisa que eu
goste ou costume, acho que tira muito coisa.
Como o álcool afeta seu desempenho sexual?
Nossa, tudo! Eu me sinto dormente, eu me sinto dormente, não sinto nada.
Deixou de usar camisinha masculina/feminina quando estava sob o efeito do álcool?
Não, acho que não, o álcool nunca teve nada a ver com o fato de eu não usar a camisinha ou usar.
Já teve algum parceiro sexuais que usava drogas injetáveis ou já tinha usado?
Não, não que ele tenha me contado.
PROJETO DE VIDA Bom, agora a gente vai pro nosso último assunto que é projeto de vida. Quais são os seus projetos de vida? Nossa, todos! Eu quero ganhar na Mega Sena... Tô brincando. Eu quero, quero me formar, quero ter uma profissão, quero ser boa naquilo que eu escolher, quero ganhar dinheiro, que é um mau necessário, quero ter uma vida digna, quero dar uma vida digna pra minha família, quero, enfim, eu quero ser bem sucedida na vida, eu quero realiza todos os meus projetos.
Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje?
Melhor, eu espero que esteja melhor. Daqui a dez anos, caraca, não sei! Provavelmente vou estar em casa com filhos, na minha casa, minha casa própria, com filhos, com uma situação financeira boa o suficiente pra dar um estudo razoável pros filhos... Uma moradia razoável, uma vida razoável.
Como você imagina a sua vida afetiva, sexual e reprodutiva futuramente? Eu acho que ela vai ta ótima, no auge! Claro que não dá pra gente imaginar né, não tem como saber, isso é uma coisa difícil de se pensar.
E finalmente, como você acha que deveriam ser as relações homem-mulher no futuro? Eu acho que deveriam ser honestas acima de qualquer coisa. E honestidade não é estupidez, muita gente acha que ser honesto é ser estúpido, é magoar o outro, e não é bem assim, é só você escolher as palavras certas, tem o jeito certo de fazer. Eu acho que honestidade não ta ligada a magoar pessoas. Acho que os homens e mulheres tem que ser honestos uns com os outros. O mundo ia ser mundo melhor assim, com as pessoas bem amadas.
Bom, obrigada pela sua entrevista.
De nada, adorei falar aqui horas e horas e horas com você.
Entrevista com Felipe Entrevistadora: Bom, vamos lá. Agora está tudo certo. (ri) Qual que é o seu nome e o seu apelido? Felipe: Meu nome é Felipe e o meu apelido é Fofo.
Entrevistadora: Qual que é seu sexo? Felipe: Masculino.
Entrevistadora: E qual que é sua orientação sexual? Felipe: Eu acho que eu sou hetero. Eu tenho uma leve impressão
Entrevistadora: Como assim uma impressão?(ri) Felipe: Não... Eu tenho certeza. Eu tô brincando, só.
Entrevistadora: E qual que é a sua raça? Felipe: É branco. Caucasiano mesmo.
Entrevistadora: E qual que é a sua escolaridade? Felipe: Só fiz só o segundo grau.
Entrevistadora: E qual que é o seu estado civil? Felipe: Solteiro.
Entrevistadora: E a sua religião? Felipe: Não sei direito, mas eu acredito em Deus. Eu não sigo nenhuma religião.
Entrevistadora: E onde você mora atualmente? Felipe: Bairro do Jaraguá em São Paulo.
Entrevistadora: E quais os lugares que você costuma circular, sem ser o Jaraguá? Felipe: No centro e Pirituba, às vezes.
Entrevistadora: No centro é onde cê trabalha? Felipe: Onde eu trabalho. E eu fico aqui mesmo depois do trabalho.
Entrevistadora: Entendi. Bom,a gente vai falar um pouco sobre a sua trajetória familiar, agora. Com quem que você mora, atualmente? Felipe: Meu pai.
Entrevistadora: E você sabe me dizer qual que é a renda de todos da moradia? Felipe: Em média dois mil reais.
Entrevistadora: E... Você tem um algum irmão ou irmã? Felipe: Tenho uma irmã.
Entrevistadora: Seus pais são de São Paulo mesmo? Felipe: São, os dois.
Entrevistadora: O quê que eles fazem?
Felipe: Bom, o meu pai trabalha, realmente, na área de crédito. E a minha mãe faz alguns bicos. Vende comida, bolo, chocolate.
Entrevistadora: E... Os dois estão empregados, então, atualmente? Felipe: É. Pode se dizer que sim.
Entrevistadora: E como que é a sua relação com o seu pai e com a sua mãe? Felipe: É boa com os dois.
Entrevistadora: É boa?! Vocês conversam bastante? Felipe: Conversam bastante, com o meu pai algumas coisas e com a minha mãe outras. Eu divido. Os dois não sabem de tudo...
Entrevistadora: (ri) E com a sua irmã? É bacana a relação? Felipe: Hoje, ótimo.
Entrevistadora: Por que 'hoje'? Antes não era muito boa? Felipe: Porque ela era muito nova pra gente conversar. Eu era um adolescente e ela era uma criança. Hoje ela é uma adolescente, um pouquinho mais que adolescente, sou quase uma criança também... Sei lá.
Entrevistadora: (ri) E além dos seus pais e da sua irmã tem mais algum parente que você tem uma relação...? Felipe: Tem... Tem. Tem um. Meu tio que tem 5 anos de diferença, só, então a gente cresceu junto e é quase irmão.
Entrevistadora: E... Alguém da sua família é gay, ou lésbica ou bissexual? Felipe: Não que eu saiba. Pelo menos não assumiu.
Entrevistadora: E como é que foi a educação que você recebeu dos seus pais? Tem diferença entre você e sua irmã, você acha? Felipe: Eu acho que sim.
Entrevistadora: Qual é a diferença? Felipe: Acho que, assim, a minha mãe, realmente, sempre dava mais liberdade pra mim do que pra minha irmã e, de qualquer maneira, a parte que eu sofri no começo, agora, com minha irmã está melhorada. Eu reconheço. Principalmente, eu era mais novo e tinha mais liberdade mas hoje... A liberdade que ela tem hoje é muito maior, também, do que a que eu tinha antes.
Entrevistadora: Mais por você trabalhar, essas coisas...? Felipe: Exatamente. Também...
Entrevistadora: Continuando, a gente vai falar sobre religião, agora. Em que religião que você foi criado? Felipe: Em duas, na verdade. Meu pai é evangélico e minha mãe é católica. Só que eu freqüentei os dois e não sigo nenhum dois dois. (ri)
Entrevistadora: Mas era uma coisa importante, assim, na sua família, religião? Felipe: Não prioridade...
Entrevistadora: E você já freqüentou as duas mas, agora, você não tem nenhuma religião? Felipe: Não... Agora eu não tô freqüentando nenhuma.
Entrevistadora: Entendi. E você acha que o fato de você acreditar em Deus, mesmo você não tendo religião, tem alguma importância, assim, nas suas decisões sobre com quem você se relaciona, esse tipo de coisa? Felipe: Ah. Na verdade tem.
Entrevistadora: Como? Em qual tipo de relação? Ahn... Principalmente com quem você escolhe pra namorar, ou pra ter relacionamentos sexuais, ou não ter... (ri) Felipe: Então... Hoje em dia eu tenho muito cuidado, já namorei muito, mas, antigamente, acho, realmente, eu me desliguei mais com isso. Eu tive uma namorada e a gente ficou junto 4 anos e quase não teve relação porque ela acreditava nisso e eu também. Mas eu mudei.
Entrevistadora: Ahan. Agora você não... Felipe: Agora eu já não penso mais dessa forma. Quer dizer, na verdade eu sei que isso tá errado,mas eu faço. (ri)
Entrevistadora: (ri) Entendi. Você abriu mão de deixar de fazer mesmo... Mas você acha que o certo é não ter relação antes do casamento? Felipe: Não! Eu tenho certeza que o certo é esse. A gente tenta se enganar, eu acho. O ser humano tenta se enganar mas isso é certo.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar, um pouquinho, sobre experiência escolar, agora. Como foi a sua trajetória escolar. Assim, quando você começou, quando você terminou, se você repetiu, parou em algum momento de estudar? Felipe: Não, eu não repeti mas eu passei, desde a quinta série, todos os anos na U.T.I., eu diria.
Entrevistadora: (ri) Na U.T.I.?! Como assim? Felipe: Assim, eu não gostava de estudar mas ia. Aí, quando passou disso, você começa a conhecer as meninas e tal, aí eu comecei à escola por causa de relacionamento. Então eu melhorei. Quando chegou no colégio que eu queria entrar na faculdade, daí sim eu comecei a estudar.
Entrevistadora: Depois do colegial...? Felipe: Quando chegou no colegial eu comecei a estudar.
Entrevistadora: Ahan. E você estudou em escola publica ou particular? Felipe: Pública
Entrevistadora: E, além das aulas obrigatórias você fazia alguma outra atividade, esporte, teatro? Felipe: Música.
Entrevistadora: E quê que som, assim, o que era. Era uma banda...? Felipe: Meu eu tenho banda já há uns dez anos.
Entrevistadora: Jura?! O quê que cê toca?
Felipe: Hoje eu toco MPB. Mas já toquei rock, assim, no comecinho, eu me sentia um pouco mais revoltado. Rock... Eu já toquei pagode. (ri) Incrível,né?! Já toquei pagode mas hoje eu toco MPB e um pouquinho de gospel também. Toca só na igreja.
Entrevistadora: E o que cê toca? Que instrumento? Felipe: Violão, guitarra, piano, teclado.
Entrevistadora: Nossa! Bastante! Felipe: O que basta, né?! Acho que só.
Entrevistadora: Nossa! Só?! Cê toca um monte de coisa... Assim, você já falou um pouquinho, mas fala um pouquinho mais sobre a importância, assim, da sua escola nas suas relações com amigos, com namoradas, ou ficantes. Felipe: Eu não sei, eu acho que, na época da escola, eu era um pouco tímido ainda. Na escola não mudou muito. Eu tinha amigos que, realmente, são amigos até hoje... Na escola, eu acho que, não interferiu muito isso. Só depois que eu comecei a trabalhar, mas...
Entrevistadora: E pro seu projeto de vida? Qual que você acha que é a importância que é a sua experiência na escola? Felipe: A experiência na escola eu não sei. Eu acho que o ensino foi bem fraco. Eu, realmente, não sei. Foi mais estudando sozinho pra você aprender as coisas. A escola do ensino público é um pouco fraco realmente.
Entrevistadora: Entendi. Você fez cursinho depois? Felipe: Não. Na verdade não. Na verdade eu estudei um ano e prestei USP, passei na primeira fase e não passei na segunda mas, acabei não entrando em nenhuma faculdade, que na época não dava pra pagar.
Entrevistadora: Entendi. E você pretende fazer alguma? Felipe: Eu tô, no cursinho, no mesmo ano eu comecei a fazer.
Entrevistadora: Legal, e o que você vai prestar? Felipe: Eu queria psicologia.
Entrevistadora: Bacana. Nós vamos falar sobre o seu trabalho agora. Você tem alguma profissão? Felipe: Profissão?! Além da música? Eu acho que...
Entrevistadora: Além da música. Tem certeza que você não quer mais um pouquinho? Felipe: Não, não. Obrigado . Eu trabalhei sempre na área de ‘telenet’ não sei se tenho uma profissão na vida. Eu trabalhei uns seis anos e meio nessa área. Eu conheço muito o que eu tô fazendo agora. Engenharia de suporte, na verdade. Suporte técnico.
Entrevistadora: Entendi. E, atualmente, você tá trabalhando aonde? Felipe: No Speedy.
Entrevistadora: No Speedy...?! E o que você faz, exatamente, lá? Felipe: Suporte técnico, né?
Entrevistadora: Ahan. E você acha que essa renda que você tem nesse emprego é suficiente ou você trabalha em outro emprego, ou faz um bico...?
Felipe: É, eu trabalho em outras coisas também. Eu toco, às vezes, à noite, em termos de música. Às vezes, porque o serviço não dá muito. E monto computadores, também, pra outras pessoas. Então só essa renda, realmente, a renda não daria.
Entrevistadora: E você tá satisfeito com o seu emprego atual? Felipe: Não.
Entrevistadora: Por que que você acha que tinha que ser diferente? Felipe: Muita dor de cabeça pra ganhar muito pouco, eu acho... (ri)
Entrevistadora: (ri) E em quê você costuma empregar a sua renda? Felipe: Empregar a minha renda?! Eu diria que sessenta por cento em casa. O resto só comida. Em termos de...
Entrevistadora: Sessenta por cento pra sua família e o resto pra você? Felipe: O resto comigo.
Entrevistadora: E, assim, a parte que fica com você é suficiente pra você fazer o que você quer? Felipe: Boa parte. Até o dia dez, uns dez dias dá pra fazer e o resto do mês eu fico sem fazer nada.
Entrevistadora: Mas você usa, assim, pra lazer ou pra outras coisas? Felipe: Não. Pra lazer, né?! Pra curtir, sair com os amigos.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar de discriminação racial e preconceito de modo geral. O quê que é raça, pra você? Assim, quando você ouve essa palavra quais são as idéias que surgem na sua cabeça? Felipe: Umas pergunta difícil, né?! Eu não sei. Realmente, é de onde a pessoa veio mesmo. Não sei, pra mim, raça é uma coisa de cultura mesmo e não de cor, eu acho.
Entrevistadora: E, em termos de raça ou cor, como você se define? Felipe: Ah. Eu não sei. Eu acho que eu sou, praticamente híbrido. (ri)
Entrevistadora: (ri) E você acha que isso é importante pra definição, assim, do que você é? Felipe: Acho que é.
Entrevistadora: E como é a constituição racial da sua família? Felipe: Como assim?
Entrevistadora: Seu pai, sua mãe... Felipe: Então, é exatamente por isso que eu acho que eu sou índio. Porque varia. Varia com... Realmente, da parte do meu pai a família, realmente, é toda branca mas, da parte da minha mãe, varia. Varia muito. A avó da minha bisavó, a minha tataravó, era índia e minha vó não é. Meu vô era negro e... E eu cheguei desse jeito. (ri) Então, eu acho, que tem de tudo lá em casa.
Entrevistadora: E você acha que tem momentos em que a tua raça, ou a sua cor, tem sido importe na sua relação que você tem com as outras pessoas? Felipe: Não, eu acho que não.
Entrevistadora: E... o que é racismo pra você? Felipe: Racismo é um negócio complicado. Eu acho que é qualquer tipo de discriminação não só dependente de raça ou de cor, também de condição social e coisas sexuais. Tudo é racismo. Quando você tenta julgar uma coisa sem conhecer.
Entrevistadora: Em quê que situações cê acha que existe racismo? Felipe: Racismo?! Bom, existem racismos dentro do serviço, claro. E até com mulheres existem racismos. Até com as mulheres existe racismo, a pessoa subiu daí dizem: ‘Ah, não. Ela fez alguma coisa pra subir.’ Rola muito isso. Com meus amigos também. Dependendo do que o cara fala ou , de repente, viu um outro cara ali, o pessoal se afasta. E umas coisas desse tipo.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que, assim, as pessoas de cores diferentes, têm as mesmas habilidades escolares? Felipe: Eu acho. Eu acho que não tem haver, muito, as oportunidades.
Entrevistadora: E no esporte? Felipe: No esporte?! Eu acho também. Ao menos comigo, não teve nenhuma diferença.
Entrevistadora: E nas artes? Você também acha que é a mesma coisa ser negro, branco? Felipe: Ah, também acho.
Entrevistadora: Ahan. Bom, você acha que as pessoas negras, brancas, amarelas e indígenas tem tendências diferentes a ter alguma doença?
Felipe: Não, eu acho que não.
Entrevistadora: E, em termos de chances, assim, no mercado de trabalho, você acha que as chances são as mesmas ou não? Felipe: Não. Geralmente, eu acho que não. Eu acho que tem alguma diferença, realmente.
Entrevistadora: E por que você acha? Felipe: Porque eu acho que ainda existe preconceito, nesse sentido. Em termo de cor também, mas eu acho que é em outro sentido. Dependendo da maneira como você se porta, às vezes, você é um ótimo funcionário mas você veste uma camisa diferente da que a sua empresa quer e eles não te contratam.
Entrevistadora: Ahan. E nos encontros amorosos, você acha que essas pessoas têm as mesmas chances? Negras, brancas, pardas e amarelas? Felipe: É, eu acho que sim, mas depende da outra pessoa, né?! Não dá pra dizer. (ri)
Entrevistadora: (ri) E você já presenciou algum caso, ou já ouviu falar, algum caso de discriminação? Felipe: Eu acho que presenciar, presenciar... Bom, não lembro, também. Não lembro. Mas eu já ouvi falar de alguns casos, sim.
Entrevistadora: Entendi. E você já sofreu algum tipo de discriminação racial? Felipe: Não. Eu acho que não.
Entrevistadora: Você acha que devia haver políticas específicas pra minorias?
Felipe: Eu acho que não. Porque já seria uma discriminação. Depende de que tipo de políticas, entendeu? Algum incentivo, sim, mas se você der tudo na mão a pessoa desvaloriza. Tipo, você tem que lutar pelo que você quer.
Entrevistadora: Você acha que existe racismo no Brasil? Felipe: Existe. Sem dúvida.
Entrevistadora: E na África do Sul? Felipe: Eu acho que também existe. Aliás, tem uma quantidade de brancos grande lá, também.
Entrevistadora: E nos Estados Unidos? Você acha que também... Felipe: Eu também acho que existe. (ri) Principalmente deles com o resto do mundo.
Entrevistadora: Qual desses três países, você acha, que é melhor pra se viver? Felipe: O Brasil.
Entrevistadora: Brasil?! E qual é o melhor lugar pra se viver e o pior? Felipe: Pera! Pera! É difícil. O melhor, eu acho que, realmente, é o Brasil. Onde eu moro atualmente... Não onde eu moro não, o nordeste é bem melhor. (ri) E um lugar... Não sei, acho que Estados Unidos. EU acho que o preconceito lá é muito grande com o pessoal de fora. Pra mim seria o pior lugar.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar sobre sociabilidade, relações e tudo mais. Felipe: Tá bom, tá bom...
Entrevistadora: (ri) Que lugares você costuma freqüentar pra se divertir, pra paquerar? Felipe: Cara, não sei. Eu vou em qualquer lugar, na verdade. Posso ir no barzinho ali, da esquina ou, realmente, numa balada grande. Mas eu prefiro lugares mais calmos.
Entrevistadora: Mas dá alguns exemplos, assim, de lugares, bar... Felipe: Nome?!
Entrevistadora: É. Ou bar, no geral. Felipe: Então... Eu gosto ali de Pinheiros, uns barzinhos, tipo, Bora-Bora, que tem videokê, eu acho legal. Ou algum lugar com música ao vivo. Entrevistadora: Ahan. Com quem que você costuma ir nesses lugares? Felipe: Meus amigos, normalmente.
Entrevistadora: E, em relação a seus amigos, você tem alguma preferência em relação à classe social? Felipe: Não, mas eu prefiro que eles sejam da mesma classe que eu, assim.
Entrevistadora: Ahan. E que idade? Alguma preferência? Mais velho, mais novo, igual? Felipe: Mesmo sendo mais uma discriminação, eu prefiro que tenha, mais ou menos, a minha idade porque, às vezes, o povo sai conversando com gente mais nova... É muita encrenca.
Entrevistadora: E de escolaridade? Acha que é a mesma coisa, ou tanto faz...? Felipe: Não.
Entrevistadora: E orientação sexual? Felipe: Pra mim, tanto faz. Eu tenho vários amigos homossexuais, héteros, bissexuais.
Entrevistadora: E em relação à cor? Felipe: Não tenho preferência nenhuma.
Entrevistadora: Físico? Felipe: Também não.(ri)
Entrevistadora: E de religião? Felipe: Menos ainda. A não ser que isso, realmente, interfira na maneira de ele agir, entendeu? Porque, se não...
Entrevistadora: Como você definiria o seu estilo? Felipe: Ai! Essa é a mais difícil de todas.
Entrevistadora: Assim, você se identifica com uma tribo, um grupo, sei lá, alguma turma? Felipe: Na verdade, não. Eu me identifico com quase tudo, entendeu? E eu não tenho... Tipo assim, eu gosto de rock mas eu não sou roqueiro. E... Não sei dizer. Essa pergunta é difícil. (ri)
Entrevistadora: (ri) E com qual dessas tribos você menos se identifica?
Felipe: Qual dessas tribos? Forró!
Entrevistadora: Forró?! (ri) Por que forró? Felipe: Eu acho muito horrível.
Entrevistadora: Mas do que você não gosta, é o estilo de se vestir, o quê que você acha que é? Felipe: É a música mesmo. O estilo de se vestir, também. Funk, também, eu não gosto. Axé, também, eu acho que não tem conteúdo nenhum. Todos esses três aí, eu não faria.
Entrevistadora: Pra você, qual que são as pessoas que freqüentam a Galeria do Rock? Felipe: É bem dividido, na verdade. Tá entre pessoas que, realmente, gostam de rock há anos e de pessoas que são... que... foi moda. Quando eu era mais novo eu era roqueiro mas não era... Porque quando a gente é jovem a gente é meio revoltadinho então a gente gosta de rock. Porque rock fala mais de coisas nesse estilo. E pessoas que nem eu e o Eduardo, assim, só pra curtir.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que tem mais mulheres ou homens, negros ou brancos, que estilo você acha que tem lá? Felipe: Não... Realmente eu acho que tem mais homens. Tem algumas mulheres mas tem mais homens. Tem mais brancos e o estilo que mais vê lá é headbangers.
Entrevistadora: O quê que é isso? Como você definiria?
Felipe: É um pessoal que gosta de um som metal e veste... nossa... (ri) veste umas camisinhas bem coladas e uma calça que a gente chama de... (ri) Eu não posso falar isso, né?!
Entrevistadora: Pode falar! Felipe: Uma calça que a gente chama de ‘estoura bolas’ (ri) e um sapato branco. Um tênis branco, normalmente. Eles são headbangers, normalmente cabeludos, também.
Entrevistadora: Headbangers? Eu acho que eu não vi ainda pessoas assim, onde elas costumam ir? Felipe: Umas balada rock, tipo Dimitri, Red Slake e na Galeria do Rock.
Entrevistadora: E o quê que você acha que tem de bom e de ruim na Galeria do Rock? Felipe: Tem de bom... Bom, realmente... É que pra mim, na minha opinião, é que eu conheço muita gente lá então eu tenho muitos amigos mas, a melhor parte. E o que tem de ruim é que rola muita briga.
Entrevistadora: Rola muita briga?! Mas por que quê você acha que rola muita briga? Felipe: Porque é exatamente por isso. Tem várias tribos diferentes e eles não aceitam umas com as outras.
Entrevistadora: Entendi. Como que você costuma se aproximar dos seus amigos ou das suas paqueras? Felipe: De repente.
Entrevistadora: Ah. Em geral... Felipe: Em geral. Em geral eu não gosto de pensar muito, se eu pensar muito eu não faço. (ri)
Entrevistadora: (ri) E em algum momento você falou que tem muita briga lá, mas você já sofreu algum tipo de violência nesse lugar? Já foi assaltado, entrou numa briga? Felipe: Assaltado não, mas tem um colega nosso que, realmente, aquilo sempre é lugar de assaltado, aí lá na frente da galeria, a gente quase arrumou um briga com monte de gente que veio junto pra assaltar ele porque achava que ele tava sozinho, só que a gente tava em mais. Aí a gente foi e voltou, não brigamos mas a gente botou medo neles naquela hora. Depois eles voltaram com muito mais do que a gente tava, aí um cara quase começou a brigar mas eu vi que todo mundo tava armado mas aí a gente segurou e não partimos pra briga.
Entrevistadora: Não valia pena, né?! Felipe: A gente ia morrer ou algo parecido. Pelo menos se machucar.
Entrevistadora: Bom, isso foi com o seu amigo, mas você já provocou algum tipo de conflito, assim...? Felipe: Não, esse tipo eu não provoco.
Entrevistadora: E... Bom, você falou que trabalha com Speedy, você costuma acessar a internet, normalmente? Felipe: Lá no serviço que não pode, na verdade. Eu trabalho com Speedy e não posso mexer na internet. Mas, de qualquer maneira, em casa eu acesso, às vezes. Mas tô meio enjoado.
Entrevistadora: E, quando você acessa, você costuma fazer o quê, assim? Felipe: Normalmente puxar músicas e filmes, ou ler algum artigo que interesse, mesmo. Sobre música ou sobre alguma...
Entrevistadora: Mas você já conheceu pessoas, pessoalmente, que... com quem falou pela internet antes? Felipe: Hoje, eu não conheço gente faz tempo mas, quando eu tinha dezesseis anos, há uns anos, seis anos atrás, eu conhecia muita gente. Ou sei lá, mais de dez.
Entrevistadora: Fez vários amigos, assim? Felipe: Amigas. É... Amigas. (ri) Amigas só!
Entrevistadora: Paqueras, ficantes... Mas que você falava depois? Felipe: Conhecia mais amigas, na verdade. Eu fiquei com algumas delas... Me arrependi algumas vezes também.
Entrevistadora: Por que? Felipe: Nossa... Tinha falado muita besteira, já, e na hora que eu cheguei lá eu tive que fazer o que eu falava. (ri)
Entrevistadora: Entendi. E, você, tem alguma página na internet? Felipe: Não.
Entrevistadora: Atualmente, você tá envolvido com algum grupo, movimento social ou organização? Felipe: Não.
Entrevistadora: E... Bom, a gente vai falar, agora, sobre relacionamento. Em relação às suas parceiras, você tem alguma preferência em relação à classe? Que seja mais rica ou mais ou menos igual? Felipe: Não, não... Não tenho isso não. Tanto faz.
Entrevistadora: E idade? Felipe: Idade eu acho que sim. Acho que acima de acima de dezessete. Não sei. Agora, mais velha, eu não sei. Depende da pessoa. Menos que sessenta... (ri) Tô brincando
Entrevistadora: Nossa! Mas mais velha, mais nova ou igual? Felipe: Tanto faz. Depende muito da cabeça da pessoa.
Entrevistadora: E escolaridade? Você tem preferência? Felipe: Pra mim, tanto faz.
Entrevistadora: Orientação sexual? Felipe: Como assim?!
Entrevistadora: Ah! Que ela seja heterossexual, ou tudo bem de ser bissexual...? Felipe: Não. Que seja hetero, essencialmente.
Entrevistadora: E em relação a cor? Felipe: Não tem diferença.
Entrevistadora: Cê não tem diferença. E tipo físico? Você tem alguma preferência? Felipe: Eu prefiro magrinhas.
Entrevistadora: Ahan. Só magrinhas e magras, assim? Felipe: Não. Eu gosto das outras também, mas rola uma preferência.
Entrevistadora: Sim. É de preferência que a gente tá falando. Felipe: É uma preferência só.
Entrevistadora: E em relação à religião? Felipe: Bom, religião?! É complicado isso. Prefiro menina que acredita em Deus. Senão, não dá. Tipo, cê vai ficar com uma pessoa que é... tem pensamento diferente de você.
Entrevistadora: Mas ela não precisa ter uma religião específica... Se for cristã ou se for uma religião afro-brasileira, também tudo bem? Felipe: Hum... Bom, mais ou menos. Eu não curto macumba, também. Não sei... Se fosse cristã, tá ótimo.
Entrevistadora:Entendi. E com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? Felipe: Hum. A gente já colocou alguns termos das últimas. Que não seja... Não! Jamais se relacionaria eu tava pensando em alguma coisa mais séria. Jamais se relacionaria é, assim, muito vago. Bom... Sei lá. Acho que, nunca, com uma prostituta, por exemplo.
Entrevistadora: E mais alguma... Felipe: Sabendo, pelo menos, não. (ri)
Entrevistadora: (ri) E por que nunca com uma prostituta? Felipe: Eu acho que... Bom, eu não tenho nada contra a prostituição. Mas essa de, realmente, você vende o corpo... Muito horrível! Eu não venderia meu corpo por preço nenhum, então eu acho que não estaria com alguém que fizesse isso.
Entrevistadora: E que tipo de tipo de relacionamento você procura? Assim, só relacionamento sexual, ficar, namorar? Felipe: Varia da época, né?! (ri) Bom, na verdade, eu gosto de namorar mas, hoje em dia, é difícil você encontrar uma pessoa que tenha as mesmas idéias que você e você fique bem em ficar. Então, ultimamente, eu tô ficando e tendo relações sexuais.
Entrevistadora: Mas por que você acha que tá difícil encontrar alguém pra namorar? Mesmo você preferindo namorar. Felipe: Eu acho que as pessoas pararam de se valorizar, na verdade. Se eu já não... Como é que chama?! Não tem como você confiar, mais, nas pessoas, na verdade. Elas não se dão mais respeito então não tem como você confiar. Então relação à dois é à dois e não à três ou à quatro ou à cinco.
Entrevistadora: Então cê acha que relacionamento aberto não dá? Felipe: Não. Namoro eu acho que é um negócio sério. Relacionamento pra mim é ficar. Ficar...
Entrevistadora: Você já foi paquerado, alguma vez, por algum homem? Felipe: Já, já...
Entrevistadora: Já? E como você reagiu?
Felipe: Sinceramente eu não achei muito agradável, mas eu falei a verdade ó: ’ Desculpa mas não é o que eu curto’. (ri)
Entrevistadora: (ri) Ahan... E você nunca teve algum namoro, ou relacionamento afetivo, com uma pessoa de orientação sexual diferente? Felipe: Como assim?! Bissexual, por exemplo?
Entrevistadora: É. Felipe: Já, já.
Entrevistadora: Já?! Felipe: Já. Namoro não.
Entrevistadora: E como é que foi? Foi bacana? Felipe: Foi bacana. No dia foi bacana.
Entrevistadora: E de classe social, já teve? Felipe: Já, já. Bem diferente, até.
Entrevistadora: De cor, ou raça, diferente? Felipe: Também.
Entrevistadora: Também?! E de escolaridade também? Felipe: É. Acho que também. (ri) Essa é mais fácil.
Entrevistadora: (ri) E como é que foi? Cê tem algum que você queria apresentar mais, dentro dessas diferenças? Felipe: Não sei, não sei. Vou contar um recente, então. Tem uma menina, que a gente saiu na sexta-feira, que ela era bissexual. quis, já, com nós dois.
Entrevistadora: Vocês dois ficaram com ela no mesmo dia? Felipe: No mesmo dia. Não na mesma hora, no mesmo dia.
Entrevistadora: Entendi. E como que você descreveria uma pessoa atraente? Felipe: Caramba, difícil. Acho que é muito mais... Não é nem corpo, acho que é muito mais o jeito mesmo. Eu gosto de menina com jeito meio maluquinho e com um sorriso bonito, de preferência.
Entrevistadora: Ahan... E como que... Você acha que você é uma pessoa atraente? Felipe: Difícil. Não sei. Às vezes.
Entrevistadora: Às vezes...?! Por que às vezes? Felipe: Tem dia que... Quando eu tô bem humorado eu acho que sim.
Entrevistadora: Entendi. E o quê que você espera de uma parceira? Assim, moralmente, fisicamente? Felipe: Moralmente eu gosto de fidelidade e fisicamente...?! Bom, não sei. Fisicamente eu acho que não é o mais importante. Eu só prefiro que ela tenha o algum sentimento. Empatia, eu acho o mais importante de todos. Se colocar no lugar das outras pessoas.
Entrevistadora: Ahan... O que significa ficar pra você? Felipe: Ficar é... Bom,...
Entrevistadora: O que envolve uma relação de ficar? Abraçar, beijar, mais que isso...? Felipe: Pode rolar mais que isso. Pode envolver só beijar. Você pode ter ficado com uma pessoa só por ter beijado ou, pode ser, de ter tido uma relação sexual também. É bem amplo esse ficar.
Entrevistadora: Ahan... (ri) E onde, normalmente, você conhece as pessoas com que você fica, ou transa? Felipe: No meu serviço.
Entrevistadora: No seu serviço?! Felipe: Geralmente do meu serviço ou mesmo na Galeria. Rola em baladas também. É em vários lugares. Difícil.
Entrevistadora: E o quê que você costuma fazer pra chamar a atenção de uma pessoa por quem você está interessada? Felipe: Eu não sei. Acho que eu não costumo chamar a atenção. Acho que eu costumo conhecer a pessoa, não chamar a atenção. Aí, se ela se interessar em alguma coisa que eu tenha de bom, quem sabe?!
Entrevistadora: E quem que você acha que deve travar o primeiro contato? É você ou a outra pessoa? Felipe: Quem sentir vontade primeiro.
Entrevistadora: Mas tudo bem se a menina chegar em você? Felipe: Ótimo.
Entrevistadora: Assim, você que tem parceiras pra ficar e outras pra namorar? Felipe: Sim. Sem dúvida.
Entrevistadora: E o quê que diferencia? Felipe: Diferencia, realmente, é a maneira que a pessoa age mesmo. Se a pessoa, realmente, respeita quando tá com alguém, melhor. A pessoa que respeita você dá pra mais que ficar...
Entrevistadora: Mas respeitar, como? Felipe: Quando tá com você tá só com você, em termos de fidelidade mesmo.
Entrevistadora: E o quê que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas de raça, ou cores, diferentes? Felipe: Não tem nenhum problema. Eu acho que não tem nenhum problema.
Entrevistadora: E namoro, ou casamento, de pessoas do mesmo sexo? Felipe: Hum. Bom, como eu te disse, eu acredito em Deus e tive uma pequena instrução no sentido religioso. Não acho legal. Pelo que eu sei, Deus não aceita isso, então não acho legal.
Entrevistadora: Ahan. Entendi.
Felipe: Casamento não. Eu acho se já tá junto na precisava. Casamento é um negócio sério.
Entrevistadora: Entendi. Namorar, tudo bem, mas casar, não?! Felipe: É complicado, né?! Porque casamento começou, eu acho, que à partir da bíblia então... na bíblia também ta contra casamentos de pessoas do mesmo sexo.
Entrevistadora: E você costuma transar no primeiro encontro? Felipe: Quinta-feira foi assim.
Entrevistadora: Mas, normalmente, sim?! Às vezes? Felipe: Às vezes, entendeu?! Depende de um monte de coisa.
Entrevistadora: Entendi. E quando você transa no primeiro encontro você usa camisinha? Felipe: Normalmente, sim. (ri)
Entrevistadora: (ri) Mas ja deixou de usar?! Felipe: Já. (ri) Mas eu fiz exames no outro dia.
Entrevistadora: No outro dia?! Felipe: Isso mesmo! (ri)
Entrevistadora: E, mas quando você deixou de usar, é porquê o sua parceira não queria usar?
Felipe: Não. Nunca. Sempre deixei de usar porque,bom... porque a gente esqueceu de comprar e... não dava.
Entrevistadora: Entendi. Ahan... Bom a gente vai falar agora sobre parentalidade, conjugalidade. As relações mais estáveis assim. Você tem algum tipo de relação mais estável com alguém? Você falou que não tá namorando, né?! Felipe: Estável?! Não.
Entrevistadora: E como é que foram os seus últimos relacionamentos estáveis? Assim, tipo, namoro... Felipe: Bom, foi só um, eu acho. Porque eu sou meio louco e o meu último relacionamento teve quatro anos. Foi legal até ela mudar pro Rio de Janeiro.
Entrevistadora: Ela mudou pro Rio? Felipe: A gente ficou dois anos aqui em São Paulo e continuou mais dois anos com ela no Rio.
Entrevistadora: Como é que foi namorar à distância? Felipe: Não. Realmente, eu gostava muito dela, foi bem legal. Mas namorar à distância é louco.
Entrevistadora: Complicado?! Felipe: Não dá.
Entrevistadora: E como que era a sua parceira? Sua namorada que você ficou quatro anos...
Felipe: No geral?! Ela era maravilhosa. (ri)
Entrevistadora: E ela era da usa religião? Qual era a raça dela? Felipe: Era. Era branca...
Entrevistadora: Branca... Ela era da sua religião? Felipe: É... Então, não tem uma religião fixa, mas ela acreditava nas mesmas coisas que eu.
Entrevistadora: Entendi. E, no seu relacionamento com ela, você usava camisinha? Felipe: Não. A gente nunca usou camisinha. Ela tomava anticoncepcional . Só que mesmo a gente confiando um no outro, a gente fazia exames de seis em seis meses pra ter certeza que não tinhanada errado. (ri) A gente fazia junto. A gente ia junto fazer os exames.
Entrevistadora: (ri) Entendi. E... Bom, essa daqui é pra se você tivesse... Você tem filhos? Felipe: Não que eu saiba. Não, eu tenho certeza que não... (ri)
Entrevistadora: (ri) Não, é porque, agora, eram perguntas se você fosse pai. A gente vai... Bom, tem duas aqui que dá pra gente fazer. O quê que você acha da paternidade gay ou da maternidade lésbica? Felipe: Bom, sinceramente, eu acho que pode interferir no crescimento normal da pessoa. Que nem uma pessoa que nasce dentro de uma família hetero, deve, sim, ser hetero, ou homossexual, ou bissexual, o que ela quiser ser, entendeu?! Mas, normalmente, você nascendo numa família hetero você acaba sendo hetero. A grande maioria, na verdade, é. Eu acho que a maioria das pessoas que acaba nascendo numa família desse tipo vai ter influências a ser homossexual. Entendeu?
Entrevistadora: Ahan... Ahan... Entendi. E como você imagina uma família ideal? Felipe: Caramba. É... Eu não sei. Acho que essa pergunta difícil... Uma família ideal?! Uma família que, realmente, tem uma... que ainda consiga fazer o que ela quer e que as pessoas se amem e que consiga sustentar os filhos. (ri)
Entrevistadora: Ahan... (ri) Isso é importante, cê acha?! Felipe: Claro. Eu acho que ter dinheiro pra isso tudo e pros filhos é a parte mais importante. Se ele quiser...
Entrevistadora: Ahan... E você acha que é importante ter um filho, na vida de um homem? Felipe: Eu acho. Eu acho que, de um homem, sim, de um jovem,não.
Entrevistadora: Desculpa... Felipe: Eu falei de um homem, sim, de um jovem, não. Eu acho que você tem que ter maturidade, tem que ter consciência... Tipo assim, não tem como você cuidar disso. É muita responsabilidade.
Entrevistadora: E você acha que é, igualmente, importante para um homem e pra uma mulher ter filhos? Ou é diferente? Felipe: É diferente.
Entrevistadora: Por que diferente? Diferente como? Felipe: Eu acho que mulher se envolve mais com o filho. O homem tem aquele sentido de tá, sempre, um pouco mais longe, entendeu? Só olhando por trás as coisas.
Entrevistadora: (ri) E... Bom, agora a gente vai falar sobre experiência sexual. Felipe: Ai! Pensei que já tinha passado essa parte. (ri)
Entrevistadora: (ri) Não, mas fica tranqüilo, é anônimo e... Felipe: Não. Tranqüilo, tranqüilo...
Entrevistadora: Qual que é a memória da sua infância em relação as suas vivências afetivas e sexuais? Felipe: Bom, sexuais eu acho que eu não tive vivências sexuais na infância. Mas afetivas... É como eu te disse, eu era tímido e acho que, quando eu era bem mais novo, eu não pensava nesse tipo de coisa.
Entrevistadora: Ahan. E de que forma essas informações sobre sexo chegaram, ou chegam, até você, hoje? Felipe: Chegaram, com certeza, com o meu pai. Porque eu era chato e sempre perguntei tudo. Com os amigos, assim, mas eles mentem muito. (ri)
Entrevistadora: Sério? Por quê? Felipe: Eles mentem muito, eles inventam demais. (ri) Bom... Eles falam coisas que não existem.
Entrevistadora: Você pesquisa, agora, quando você quer saber alguma coisa? Felipe: Claro, claro. Por isso que eu amo a internet.
Entrevistadora: (ri) E qual que é a fonte mais confiável pra você, hoje? Pra dúvidas sobre sexo, informações... Felipe: Hoje, depois de velho, meu tio.
Entrevistadora: Seu tio?! E antes, qual que você costumava confiar pra tirar suas dúvidas? Felipe: Meus amigos.
Entrevistadora: Mas por quê que você acha que eles mentiam, assim? Felipe: Não, muitos amigos, homens na verdade, sempre quer dizer que fez alguma coisa, quando você é muito novo, você não fez. Então, tem várias coisas que você ouvia que hoje cê fala: ‘Não, não existe aquilo.’.
Entrevistadora: Ahan... Felipe: Tem coisas que não dá pra... É inconcebível. (ri)
Entrevistadora: E como os seus familiares se comportavam, e se comportam, hoje, sobre a... em relação a sua vida sexual? Felipe: Bom, eu moro com a minha mãe e com meu pai e eles... Meu pai não gosta muito mesmo e a gente não fala muito sobre isso. E com minha mãe, tranqüilamente, bem.
Entrevistadora: É, cê conversa com ela? Felipe: Posso levar uma namorada em casa que ela não fala nada, a não ser que eu faça muito barulho. (ri) Mas, geralmente, não acontece nada. A gente conversa muito sobre isso.
Entrevistadora: E como foi a sua iniciação sexual? Você falou que foi com... Felipe: Com dezesseis, eu demorei um pouquinho. Com dezesseis foi com a minha última namorada.
Entrevistadora: Ahan. Mas antes disso você teve alguma outra experiência com alguma outra menina? Que não fosse dar numa relação mas... Felipe: Bom, realmente, relação de fato, não, mas algumas brincadeiras, sim...
Entrevistadora: Que tipos, assim, de brincadeiras? Felipe: Caramba...
Entrevistadora: Não precisa ficar sem graça... (ri) Todo mundo faz. (ri) Felipe: Eu diria que... Eu não diria sexo, sexo. Mas sexo oral.
Entrevistadora: Ahan. você já tinha feito antes de chegar a ser relação. Mas foi com uma namorada... ? Felipe: Foi com uma namorada antes.
Entrevistadora: Entendi. Mas com quantos anos? Mais ou menos Felipe: Com treze. À partir dos treze até os dezesseis eu comecei a segurar isso, a fazer só isso.
Entrevistadora: Ahan, (ri) E... Bom. Quando... Cê já respondeu isso. você acha que você escolheu a hora e a pessoa certa pra sua primeira vez? Felipe: Eu tenho certeza absoluta.
Entrevistadora: Por que você pensa assim? Felipe: Porque, realmente, eu amava aquela pessoa e a pessoa também. E, outro fato, é que nós éramos virgens então nós não sabíamos de nada. (ri) Aprendemos, praticamente, tudo juntos... Acho que por tudo. Pelo lugar, pela situação...
Entrevistadora: você já teve alguma relação sexual com o intuito de obter alguma vantagem? Felipe: AInda não.
Entrevistadora: Nem financeira, nem escolar, ou profissional, nada? Felipe: Não, não. Nunca aconteceu isso.
Entrevistadora: você já foi constrangido física, ou psicologicamente, a ter alguma relação sexual com alguém? Felipe: Psicologicamente?! Eu diria que sim, diria que sim. Quando a gente é mais jovem, principalmente, seus amigos interferem. Às vezes, você nem quer ficar com uma pessoa e, pô, a menina tá te dando mole os caras fazem uma lavagem cerebral aí você: ‘Tudo bem, eu vou fazer’.
Entrevistadora: Entendi. E aí, como você lidou com isso? você acabava... Felipe: Ensina primeiro aí, depois, cê dá aula... (ri)
Entrevistadora: E você acha isso importante, ter um envolvimento afetivo e amoroso com alguém que você transa?
Felipe: Depende de onde você quer que essa transa chegue. Eu acho que você pode ter um rela... transar com uma pessoa e só transar com a pessoa, curtindo a amizade, sei lá. E você... Agora se você quiser uma coisa séria com essa pessoa, é diferente.
Entrevistadora: Entendi. E o quê que significa uma relação sexual pra você? O quê que tem que envolver? Alguma tipo, sei lá, carícia, beijo, ou outras coisas... Felipe: Eu acho que isso varia de dia pra dia, uma relação de dia pra dia, também. Eu acho que, de vez em quando, tem todas. Por isso que eu falei antes que não estaria com uma prostituta porque... ela também não beija. (ri) Entendeu? Daí cê tem que, realmente, em todas. Mas, o que você vai fazer na relação varia muito do dia, do que a outra pessoa quer fazer também. Sei lá.
Entrevistadora: E você já sentiu atração, alguma vez, por alguma pessoa do mesmo sexo seu? Felipe: Não. Pelo menos, até hoje, ainda não.
Entrevistadora: E... Bom. Sexo oposto. Felipe: Já tá acabando, já?!
Entrevistadora: Já. Cê quer ir ao banheiro, comer alguma coisa? Felipe: Eu não.
Entrevistadora: Não?! Tá tranqüilo...? É... Fala pra mim sobre as suas últimas relações afetivas, ou sexuais, que foram significativas, pra você. Felipe: Significativas, pra mim, foram quatro anos, que eu terminei o ano passado. Acho que foi só essa.
Entrevistadora: Foi ano passado que cê terminou. Então é recente, né?! Felipe: É recente. Foi só, realmente, amorosa. Agora, qual que era o resto da pergunta que eu me esqueci?
Entrevistadora: Não... Era isso mesmo. Como foram as suas últimas relações significativas? Felipe: Ah. Foi ótimo, mas acabou.
Entrevistadora: Então, mas daí, desde então, você só tá ficando... e tudo mais?! Felipe: Tô sossegado.
Entrevistadora: Na gandaia. Felipe: Por aí... Por aí.
Entrevistadora: E... Bom, o quê que você acha que é aceitável e inaceitável numa relação sexual? Felipe: Bom, eu acho, que tem lugar que é só pra sair... Eu não acho que esse lugar é aceitável qualquer tipo de brincadeira. (ri)
Entrevistadora: (ri) E que tipo de prática sexual pode acontecer com alguém que você tá transando, mas que você não gosta? Daí acaba acontecendo mesmo assim. Tem alguma coisa que você não gosta muito de fazer mas acaba acontecendo? Felipe: Sei lá. Eu acho que tudo o que eu faço, eu gosto. Eu acho que não tem essa...
Entrevistadora: Ahan. E o quê que, durante uma relação sexual, é arriscado mas é bom fazer? (ri)
Felipe: Transar sem camisinha, por exemplo. (ri)
Entrevistadora: (ri) Ahan. Em geral, quantas vezes você transa por semana, atualmente? Felipe: Nossa. Sei lá. Isso varia de semana pra semana, né?! Mas é uma média. Ah! Uma vez semana.
Entrevistadora: E você tá satisfeito com a sua vida sexual? Tem alguma coisa que você queria manter ou mudar? Felipe: Eu acho que eu morri um pouco, né?
Entrevistadora: Queria mais vezes? Felipe: É, umas três ou quatro eu acho que ia ficar legal...
Entrevistadora: (ri) Já aconteceu com você... com você não, né, com uma parceira sua, uma gravidez indesejada? Felipe: Não, só alarme falso.
Entrevistadora: E você é contra ou a favor do aborto? E em que casos específicos? Felipe: Bom, eu sou contra o aborto. Realmente, em caso de estupro é um caso a parte. Mas eu sou contra o aborto. Eu acho que se, independente da época e independente de eu não ter responsabilidade e nem condições financeiras de ter um filho, eu acho que não é um motivo pra eu tirar uma vida.
Entrevistadora: E... Você nunca teve uma experiência de aborto com uma parceira? Felipe: Não.
Entrevistadora: É... Na sua opinião, quais são as qualidades, as características de comportamento, que definem um homem e quais que são, essas coisas, que definem uma mulher? Felipe: Qualidades que definem um homem?!
Entrevistadora: Vamos começar pela mulher. Quais qualidades, características e comportamentos que definem uma mulher? Felipe: Cara, eu acho que essa é a mais difícil de todas. Como é que se define uma mulher?! Hoje em dia as coisas tão juntas. Hoje melhorou bastante porque, antigamente, a mulher queria se comparar, muito, ao homem. O mercado de trabalho já deu uma igualada. Não totalmente mas são mais ou menos iguais. E... Hoje em dia a meta delas mudou, né?! Não é mais alcançar o homem. Elas tentaram tanto isso que elas já estão quase virando homem. Então, eu acho que a meta agora é, realmente, da mulher, hoje em dia, é ficar mais bonita. Normalmente é isso. Eu acho que elas estão mais ligadas no corpo e na área de trabalho delas, também. Mas tão mais ligadas no corpo. Agora, homem?!... A meta no que mesmo?!
Entrevistadora: Não. É assim, quais são os comportamentos é... Agora eu vou fazer uma outra. O quê que você admira numa mulher? Quais comportamentos, características que fazem você admirar uma mulher? Felipe: Bom, principalmente, assim... Eu vou procurar uma mulher de atitude. Fale o que, realmente, pensa que não fica enrolando, fica tentando fazer você entender o quer que você... o que ela quer dizer. Isso, realmente, é complicado, às vezes. Nem sempre dá pra você entender. Tava, de repente, ela ta no orkut com o namorado que ela conhecia há muitos anos aí, você não vai saber disso.
Entrevistadora: Isso já aconteceu com você? Felipe: Já, já... Isso é comum, ela quer que você adivinhe o que ela quer.
Entrevistadora: Bom, agora vamos falar sobre o homem. Quais são os comportamentos, qualidades, características que definem um homem? Felipe: Comportamentos que definem um homem, caramba, é difícil... Pior que a da mulher...
Entrevistadora: Por que você acha mais difícil definir o homem do que a mulher? Felipe: Muda muito de homem pra homem.
Entrevistadora: Mas em geral, o que faz os homens serem homens diferentemente das mulheres... Comportamentos, características...? Felipe: Realmente eu acho que o que vale é o sentimento, diferente da mulher. É um comportamento sincero...
Entrevistadora: E que comportamentos ou características você admira em um homem...? Felipe: Que eu admiro em um homem? Tem que ser diferente das da mulher? Bom, não é comportamento, é como se fosse um... O homem tem um pouco de estudo do que as mulheres ainda hoje, acho isso interessante.
Entrevistadora: Quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem e de ser mulher na nossa sociedade? Felipe: Ser homem, pô, eu não fico menstruado, eu não engravido, eu não tenho cólicas... Eu acho que é isso. Ser homem você não pode deixar de dizer umas cantadas bem bestas. Mulheres, realmente, não fazem isso. É, eu acho que essas são as vantagens de ser
homem. Mas as vantagens de ser mulher?! Eu tenho uma posição: Mulher, se realmente ela quiser, ela ta em uma posição onde ela consegue as coisas com mais facilidade.
Entrevistadora: Por que ce acha? Felipe: Porque mulher é, praticamente... Porque, normalmente, deixa as mulheres sempre entrar, um homem, primeiro. Porque elas são mulheres. Exatamente porque os homens, eu acho que, admiram mais as mulheres do que as mulheres... Então eu acho que elas usam isso também. Não por... em todos os sentidos, é claro. Boa parte das vezes.
Entrevistadora: E limites? Quais que você acha que são os limites de ser homem e de ser mulher? Desvantagens... Felipe: Desvantagens... Sei lá, eu não vejo desvantagem de ser homem. Agora, a desvantagem de ser mulher... Sei lá! Eu não consigo pensar nessa alternativa. Sinceramente eu não sei.
Entrevistadora: E se esses homens, e mulheres, forem gays, ou lésbicas, ou bissexuais, têm vantagens e limites, assim? Felipe: Acho que vantagem, não. Porque existe um preconceito muito grande sobre eles.
Entrevistadora: Você acha que só desvantagem? Felipe: Algumas desvantagens, não é tudo, claro. Principalmente com o mercado de trabalho.
Entrevistadora: Ahan. Ahan... E em que medida que você acha que a sua orientação sexual, no caso heterossexual, define a sua maneira de se relacionar?
Felipe: Eu acho que depende da criação. Assim, eu tenho muitas amizades mas eu tenho sempre limites. Eu tenho uns amigos meus, que são muito próximos, que brincam. Mas tem outros amigos meus que andam, com a gente, sempre, comigo e com o Eduardo por companhia, ce não pode fingir que ele não ta. Mas é mais de criação, mas eu não posso fazer isso. Não tem como eu fazer uma coisa dessa. Impossível.
Entrevistadora: Ahan. Ahan... Entendí. Cê não aceita. Entendi. E o quê que o seu pai e a sua mãe ensinaram pra você sobre a diferença entre os homens e as mulheres? Felipe: Han... Bom, sei lá! O que meus pais ensinaram sobre os homens... a diferença entre os homens e as mulheres?! Bom, vou ter que pegar um pouquinho sobre a criação da minha irmã, então, também, já que ela é mulher. Realmente minha mãe disse pra você todo que tem que fazer assim: ir pra guerra, mexer com as mulheres à noite, não se envolver com homens; com a minha irmã é totalmente diferente.
Entrevistadora: É?! Felipe: Claro. A minha mãe já fala com ela assim: ‘ Não! Tem que segurar esse negócio aí. Não pode ir com mais de uma pessoa.
Entrevistadora: E você acha que seu pai e a sua mãe tinham a mesma opinião sobre essas diferenças entre homens e mulheres? Felipe: Ah. Sim
Entrevistadora: E... E sobre diferentes orientações sexuais? Fala um pouquinho mais sobre o quê os seus pais ensinaram. Felipe: Bom a gente, até então, não conversou tanto sobre isso. Eles pediam pra mim sempre usar a camisinha, conhecer a pessoa melhor antes de sair, sempre esse tipo de coisa. Agora, sobre o que fazer na hora eu nunca conversei sobre isso com eles.
Entrevistadora: E o quê que você pensa sobre virgindade? Felipe: Eu acho importante, eu acho importante, na verdade. Pelo menos, tirar isso, tem que ser uma pessoa interessante, uma pessoa que, realmente, você goste. Principalmente isso, você tem que gostar mesmo.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E sobre infidelidade de homens e infidelidade de mulheres? Felipe: Pra mim é igual. Nos dois é abominável. Os dois. Eu acho que quando duas pessoas estão juntas, realmente, é a pior falha que se pode ter.
Entrevistadora: Ahn... Ahan. Entendi. E sobre as mudanças, assim, que aconteceram nas relações entre os homens e as mulheres, nas últimas décadas, o quê que você pensa sobre isso? Felipe: Bom, é... Pros homens não mudou tanta coisa. Na verdade, as mulheres hoje vivem mais com prazer. Antigamente, nem sempre todas as mulheres tinham isso. Hoje elas têm mais essa opção de... Mas eu acho que hoje, pelo menos, entre os meus amigos, pelo menos, pelo que a gente fala de tudo. Eu acho, realmente, interessante as mulheres sentir prazer. É legal pro nosso ego, também. Então eu acho que essas mudanças fizeram bem.
Entrevistadora: Ahn... É... Na sua opinião tem algum sentimento que um homem tem que esconder de outros homens? Felipe: Acho que não. Acho que não. A não ser que ele ser que ele esteja interessado na namorada dele.
Entrevistadora: Aí tem que esconder?! Felipe: É melhor, é melhor.
Entrevistadora: E você já teve algum problema com ereção, ejaculação, impotência ou insatisfação sexual em algum período, assim, da sua vida? Felipe: Não, eu acho que não. Não sei. É lógico que... não sei. Impotência?! Eu acho que, talvez, sim. Teve dias que eu bebi demais e, realmente, foi difícil.
Entrevistadora: Mas você acha que foi por causa da bebida? Felipe: Não, eu tenho certeza que foi por causa da bebida, nesse caso, mas... Porque eu, realmente, estava deselegante, mesmo.
Entrevistadora: Deselegante?! (ri) Felipe: Deselegante... (ri) Então eu acho que eu sou muito novo, ainda... Mas é bem provável que eu ainda tenha.
Entrevistadora: E... Quando... O quê que você costumam fazer quando você, ou a sua parceira, estão sem interesse sexual por um período razoável? Felipe: Eu não sei, isso nunca aconteceu.
Entrevistadora: Não?!. Bom, a gente vai falar sobre saúde, agora. Como que você cuida da sua saúde? Cê costuma fazer exames? Médicos com freqüência? Felipe: Isso, isso. Mas eu nunca fiz um check up total mas eu passo no médico realmente, não com muita freqüência, eu diria, vez por ano. A não ser que tenha que fazer algum tipo de outro exame, aí eu vou no médico. Esse ano ainda não, mas... Todo ano eu faço academia três meses e paro.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. É sério? Felipe: É sério. Eu faço três meses e paro. Quer dizer, dá dois meses, eu começo a faltar no terceiro e paro no outro, entendeu?!
Entrevistadora: E daí você não faz exercício no resto do ano... (ri) os outros nove meses. (ri) Felipe: Ah... A não ser um futebol com os amigos mas, em termos de ir direto, não. Depende do exercício.
Entrevistadora: É verdade. Felipe: Na verdade, eu lembro que, sábado agora, eu estava com dores abdominais. (ri)
Entrevistadora: (ri) Por causa de sexta-feira que você saiu com a menina?! Felipe: É... Não só por ter saído com ela. Naquela noite eu não dormi.
Entrevistadora: Nossa! Bom, e... Quais foram as suas experiências no atendimento do serviço de saúde da rede pública e privada? Felipe: Ah. Teve uma vez, no domingo passado, que eu fiquei com dor de dente. Eu tenho um plano médico, ainda. Cada vez as empresa vão pedir, porque eu fiquei três anos em outro emprego e nunca utilizei. Pagava trinta reais por mês e nunca utilizei.. Aí eu precisei ir no dentista, daí eu fui no pronto-socorro e demoram três horas pra me atender, mas ainda assim me deram um atestado pro dia que eu faltei, no outro dia. Fizeram um atestado lá. E a moça também foi... falou pra mim que não tinha como... era um dente do ciso, não arrancam dente. Aí tinha um canal meu que abriu um pouco e ela falou também que não faz tratamento de canal. Quer dizer, não fazem nada lá. O povo ta lá só pra olhar e
falar e falar pro povo 'toma tal remédio'. Então eu acho que o serviço público não é muito bom...
Entrevistadora: Ahan... E você já teve alguma doença transmitida por via sexual? Felipe: Não. Graças à Deus.
Entrevistadora:E... Alguma parceira sua já teve alguma doença transmitida por via sexual? Felipe: Não que eu saiba.
Entrevistadora: O quê que você sabe sobre AIDS? Felipe: Bom, sobre AIDS?! Sei lá. Na verdade, o que eu sei sobre AIDS é que, na verdade, é uma doença que se esconde. E depois ela ataca mais a parte de anti-corpeos então... Geralmente ela te deixa frágil durante... Deixa com gripe e tudo mais. Sei lá, eu acho que é sobre isso, né?! É isso que era pra falar sobre AIDS?
Entrevistadora: Ah. Em geral. Informações que vêm na sua cabeça. Felipe: Ah. É só isso mesmo.
Entrevistadora: Uhum. E você conhece alguém que tem o vírus da AIDS? Felipe: Conheço.
Entrevistadora: É uma pessoa próxima...? Felipe: Não, não é próxima. Eu conheço. Às vezes eu converso mas não é próxima.
Entrevistadora: você acha que você pode pegar o vírus da AIDS? Felipe: Posso.
Entrevistadora: Como? Por que...? Felipe: Posso. Com uma besteira dessa que nem da sexta-feira aí... Puta daí... Então, na verdade, se eu transar sem camisinha, der uma vacilada dessa, posso pegar o vírus da AIDS.
Entrevistadora: Ahan. E... (ri) você acha que tem algum grupo, ou tipo de pessoa, que tá mais vulnerável a pegar o vírus da AIDS? Felipe: Não. Na verdade sim, na verdade sim. O pessoal que... Os moleques que não tem... e vivem na rua, realmente, usam drogas, usam drogas com seringa, realmente tem mais possibilidade.
Entrevistadora: Ahan... Entendi. você sabe alguma coisa sobre os remédios que são usados, atualmente, pelas pessoas que têm AIDS? Felipe: Não. Só ouvi falar em coquetel, realmente, pra o pessoal não pegar outras doenças mas... Não conheço.
Entrevistadora: E... Você já fez teste anti-hiv, né?! Felipe: Já.
Entrevistadora: Quando, quantas vezes, por quê que você fez...? Essas coisas... Felipe: Então, eu tava namorando há quatro anos e a gente fez de seis em seis meses. Então a gente fez oito vezes daquela vez. Depois disso que, como tem um ano... mais de um ano que eu tô solteiro, sei lá, umas... quinze vezes.
Entrevistadora: Jura?! Felipe: Juro. Pra ter certeza. (ri)
Entrevistadora: (ri) Sim. E... Bom, sobre preservativo. você nunca teve relação com alguém do mesmo sexo, né? Tá. Mas com as pessoas do sexo oposto você usa às vezes, sempre, nunca? Felipe: Normalmente eu uso sempre, né?! Se formos pensar em termos de sempre, eu fiquei quatro anos com uma pessoa que nem utilizava. Sinceramente é chupar... comer pipoca sem sal e chupar bala com papel mas... Normalmente eu uso.
Entrevistadora: (ri) Em que circunstâncias que você não usa? Só quando você tava namorando? Felipe: Quando eu tava namorando e quando realmente não dou pra comprar e, também, não dou pra parar. (ri)
Entrevistadora: Entendi. E... Em que práticas sexuais você usa? Em todas ou tem alguma que você deixa de usar ? Felipe: Não era pra deixar, né?! Mas sexo oral, às vezes, eu não uso. Não era pra deixar. Eu acho que pouca gente usa.
Entrevistadora: É... Mas você não usa no sexo oral pra fazer ou pra receber? Felipe: Os dois.
Entrevistadora: E... Onde você adquire preservativos?
Felipe: Eu compro.
Entrevistadora: Ahan... E você costuma ter vergonha de comprar? Ou é tranqüilo? Felipe: Não.. É tranqüilo. Eu acho que é mais difícil pra mulher, até.
Entrevistadora:Nesse momento, você tem um preservativo com você? Felipe: Tenho... (ri) Depois daquele dia eu fui obrigado...
Entrevistadora: (ri) Tá... Um minuto. você acha que é mais fácil ter preservativo pra um homem ou pra uma mulher? Felipe: Eu acho que é mais fácil prum homem.
Entrevistadora: É?! Por que você acha que é mais fácil pra homens? Felipe: A gente compra e é tranqüilo. Normalmente uma mulher tem vergonha de entrar numa farmácia e pedir preservativo. Apesar de eu achar que o preservativo feminino é mais interessante.
Entrevistadora: É?! Cê já usou? Tipo, sua parceira, né, no caso. Felipe: É, eu nunca usei... (ri)
Entrevistadora: Não. Com certeza mas você já usou com alguém? Felipe: Já, já usei. Eu acho que, realmente, parece mais com o real. Tem um lance de temperatura, né...
Entrevistadora: Já aconteceu algum acidente com você, de a camisinha romper...?
Felipe: Já, já. Mas eu acredito que eu fui com muita pressa naquele dia e eu coloquei ela errada mesmo.
Entrevistadora: Entendi. E daí, o que você fez depois que ela rompeu? Cê fez algum teste...? Felipe: Não, eu fiz um teste primeiro. 'vou tirar'. Até poderia ter percebido antes mas, também..
Entrevistadora: E que cuidados que você sabe que você tem que tomar pra camisinha não romper, não rasgar, nem estourar? Felipe: Bom, primeiro é tirar bem o ar dela, sem dúvidas. Não deixar ela na carteira porque ela seca, já aconteceu isso comigo e não dá pra usar de jeito nenhum. E... Bom, tem que ser um lugar fresco. Só, realmente, levar algumas. É bom que tem uma mochila... Só isso.
Entrevistadora: Você ou... Quer dizer, no caso, a sua parceira, né? Alguma parceira sua já utilizou contracepção de emergência? Felipe: Já.
Entrevistadora: Já? E como que vocês conseguiram? Felipe: Na farmácia.
Entrevistadora: Na farmácia? Foi tranqüilo comprar? Felipe: É simples...
Entrevistadora: E... A gente vai falar agora sobre drogas, bebidas...
Felipe: Agora é a parte mais grave... (ri)
Entrevistadora: Teste... Continuando. Você costuma beber e com que freqüência você bebe? Felipe: Só de vez em quando, assim, com os amigos, fim de semana.
Entrevistadora: Ahan. E... Onde você bebe? Antes ou depois de sair você bebe, ou vai sair pra beber, como vocês fazem? Felipe: A gente não precisa. Às vezes a gente bebe antes de sair na balada ou depois... Não,não. Depois não. Ou então na balada mesmo. Geralmente aqui no centro mesmo ou numa balada.
Entrevistadora: E você fuma cigarro? Felipe: Fumo.
Entrevistadora: E você já fumou alguma outra coisa, assim...? Felipe: Sim, já fumei maconha também.
Entrevistadora: Ahan... E como foi, onde, com que freqüência você fuma? Felipe: Bom, foi logo quando eu terminei, eu tava mó mal, aí eu... também aquele dia eu bebi demais, fumei maconha, sentei... Na verdade não é muito legal. Não gostei muito. Não dá barato nenhuma como dizem.
Entrevistadora: Dessa vez você fumou? Felipe: Não.
Entrevistadora: E lança-perfume, você já experimentou? Felipe: Não. Lança-perfume não. Já ouví falar mas nunca experimentei.
Entrevistadora: E ecstasy, você já...? Felipe: Já.
Entrevistadora: Já?! E como foi, onde, assim, sensação...? Felipe: Foi numa balada mas, na verdade... Um cara tava com balinha e eu queria saber como é que era. E na balada eu pedi e o cara misturou. Pedi com um cara amigo meu que era um pouco mais nóia (ri) e falou pra eu tomar com água e eu nem bebi bebida alcóolica junto. Cê fica muito alegre, muito alegre.
Entrevistadora: Ahan. Ahan. É?! Entendi. Você só tomou ectasy uma vez depois cê num...? Felipe: Só uma vez, ela é meio cara. Eu achei meio cara.
Entrevistadora: Era caro? Felipe: Era caro, eu falei na verdade o cara tinha me roubado, né?! Hoje em dia tem pessoas que vende trinta e cinco, vinte e cinco, vinte... Sei lá! Varia.
Entrevistadora: E, além dessas, você já experimentou alguma outra? Felipe: Nesse mesmo dia que fumei maconha eu usei cocaína.
Entrevistadora: É? E como foi, assim? Felipe: Foi horrível. Horrível. Bem, na verdade, eu bebi muito naquele dia, fumei maconha e cheirei cocaína também. Então eu direi que eu fiquei bem mal. Fui pra casa
sozinho, ainda, cada amigo foi prum lado. Eu lembro que a gente tava lá na ponta de cima, de um bairro chamado BH, eu lembro que descendo eu caí três vezes no chão. Eu cheguei no final da Augusta e eu não lembro de ter entrado no ônibus e eu falei pro motorista me acordar. Não sei como eu cheguei lá. Então, quer dizer, não foi uma experiência muito interessante. Eu acho que eu passei do limite, naquele dia.
Entrevistadora: Cê não repetiu nenhuma das drogas que você falou antes, além do álcool? Não rolou depois? Felipe: Não. Além do álcool e do cigarro, que também é uma droga, não.
Entrevistadora: É... E nos lugares que você freqüenta quais são as drogas mais usadas? Felipe: Todas essas.
Entrevistadora: Todas essas...? Felipe: Todas essas. Em qualquer lugar aqui você arruma todas elas.
Entrevistadora: Vc acha que sexo e drogas combinam? Felipe: Não. Cocaína eu nunca precisei usar. Acho que todo mundo de que brocha.
Entrevistadora: É?! Felipe: Agora ecstasy não. Eu tenho certeza. Ecstasy eu sei que ajuda.
Entrevistadora: Por quê? Você chegou a ter uma relação onde você tinha tomado? Felipe: É... Em posso dizer que ajuda. Agora...
Entrevistadora: E como foi ter uma relação assim? Você disse que tinha tomado esctasy e teve uma relação. Como foi, qual a diferença? Felipe: Bom, você não sente cansaço. Você não sente cansaço mas, realmente, você não tem muito prazer também, né?!
Entrevistadora: E você fica mais solto quando você tá sobre o efeito de álcool ou alguma droga? Felipe: De álcool?! Com certeza. (ri)
Entrevistadora: (ri) E como é o seu final de balada? Cê falou que só fumou maconha aquela vez mas, cê toma algum remédio ou cê só vai pra casa e...? Felipe: Nunca. Durmo no ônibus um pouco, se eu for de carro aí eu não vou dormir...
Entrevistadora: (ri) E você usa algum calmante ou qualquer outro tipo de remédio? Felipe: Nunca. Não...
Entrevistadora: Você costuma beber ou usar alguma droga antes de fazer sexo? Felipe: Não.
Entrevistadora: Como que você acha que o álcool afeta o seu desempenho sexual? Felipe: Bom ,não sei. Na verdade eu não sei. Já tive vezes que, realmente, afetou muito, quando você bebe demais. Quando você bebe pouco eu acho interessante, em vários sentidos. Um dos sentidos é que, realmente, faz você demorar pra gozar. E isso também é interessante pra mulher. Então quando você bebe pouco é, até, interessante. Agora, quando você bebe muito... Deixa pra lá.
Entrevistadora: Ahan... (ri) Vc já deixou de usar camisinha, seja ela masculina ou feminina, quando você estava sobre o efeito de drogas? Felipe: Não, eu acho que não foi isso que interferiu. Eu sempre lembrei, eu sempre lembrei dela.
Entrevistadora: E alguma parceira sua já deixou de usar a camisinha feminina? Ou colocar em você...? Felipe: Bom, já aconteceu de a gente combinar de ela levar e ela não levou.
Entrevistadora: Por estar bêbada? Ou sob efeito de drogas? Felipe: Sei lá. Aí eu não sei. (ri) Talvez.
Entrevistadora: E você já usou algum estimulante sexual? Ou Viagra, ou algum do tipo? Felipe: Ainda não. Mas eu queria utilizar pra ver qual que é. Eu tenho curiosidade mesmo. (ri) Eu queria saber como é trinta e duas horas...
Entrevistadora: Sério?! (ri) Mas por que você queria experimentar? Por ter um efeito mais longo? Felipe: É... Pra ver qual é o efeito.
Entrevistadora: (ri) E... Bom. Você já usou algum tipo de droga injetável? Felipe: Não. Não gosto de sentir agulha. (ri)
Entrevistadora: Mas você já teve alguma parceira sexual que usava drogas injetáveis? Felipe: Não que eu conheça. Não que eu tenha conhecimento disso.
Entrevistadora: Não que você saiba. E.. Bom, agora a gente tá terminando e a gente vai falar sobre os seus projetos em geral. Quais são os seus projetos de vida? Felipe: Projetos?! Projetos, realmente, é mais complicado. Eu quero fazer faculdade agora, sair desse ramo onde eu estou atualmente. Ou se a música desse certo, né, eu saía de todos esses e ficava só com essa que é o que eu mais gosto de fazer atualmente. Mas eu tô querendo uma faculdade agora e depois dela pegar um estágio, claro. Quem sabe prestar um concurso público e passar dessa vez, porque véu presto vários, mas passar é um pouco difícil. Mesmo porque na maioria tem Direito e eu não gosto de Direito.
Entrevistadora: E você acha que os seus projetos podem se concretizar? Felipe: Podem, todos eles podem. Porque eu acho que tudo não depende só de você.
Entrevistadora: E onde que você imagina que vai estar daqui a dez anos? Felipe: Isso como projeto ou como sonho?!
Entrevistadora: Os dois, assim. Onde você... Felipe: Ah, projeto eu vou estar, tipo, trabalhando num outro lugar, realmente, abrir uma clínica minha. Com uma vida razoável. Agora o sonho é ganhar na Mega-sena, né?! Ganhar na Mega-sena hoje, daqui a uns dez anos estar sossegado, sem fazer nada. (ri)
Entrevistadora: (ri) Então você acha que a sua vida vai estar melhor do que hoje daqui a dez anos?
Felipe: Com certeza. Na verdade eu não sei dizer... A juventude é uma época que vai passar e você vai sentir falta mesmo. Não sei se vai estar melhor que hoje mas vai estar... diferente.
Entrevistadora: Uhummm... É isso. Acabou. Felipe: Ah. Foi rápido, quanto tempo demorou?
Entrevistadora: Ah, acho que uma hora e dez, talvez.
Entrevista com Dorinha Entrevistadora: Teste, teste. Bom, vamos começar, qual que é o seu nome e o seu apelido? D.: Então eu me chamo Maria das Dores, e o pessoal me conhece por D.. Entrevistadora: E sua idade? D.: O que você falou? Entrevistadora: Sua idade... D.: Ai desculpa eu não... É dezoito. Entrevistadora: E seu sexo? D.: Feminino. Entrevistadora: E... orientação sexual? D.: É lésbica. Entrevistadora: E... Sua raça ou cor? D.: Eu?! Que cor que cê tem? Entrevistadora: Não sei. Como você se classifica? D.: É, meia moreninha, cabelo castanho, olhos castanhos escuros...
Entrevistadora: Mas, assim, branca, parda, negra? D.: É... Acho que é parda, não sei, deve ser. Entrevistadora: E sua escolaridade? D.: É... Terceiro ano, colegial. Entrevistadora: E qual que é o seu estado civil? D.: Solteira. Entrevistadora: E a sua religião? D.: Bom, na verdade eu acredito em Deus, sabe?! Quem faz a religião é nós mesmos. Entrevistadora: E onde que você mora atualmente? Em qual bairro? D.: No Sacomã Entrevistadora: É... Sem ser o Sacomã, em quais outros bairros você circula de São Paulo?
D.: Assim, de tudo um pouco. Eu ando mais na parte do Ipiranga, né?! Porque é onde eu estudo e nada mais. Entrevistadora: E... com quem que você mora atualmente? D.: Então, eu moro com a minha tia. Tá?! Eu moro com os meus primos e não moro com os meus pais. Entrevistadora: Ahan... E.. Assim, quem que é a sua família de origem, tipo, seus pais, cê tem irmãos? D.: É... Entrevistadora: Assim, agora você mora com a sua tia. D.: [?] Entrevistadora: Não. É, tipo, seus pais são vivos? Você tem irmãos além de você?
D.: Ah. Sim. Então, meus pais estão vivos, tá?! Meu pai mora no interior e a minha mãe tem problema na cabeça. Então eu tenho uma irmã mais nova que eu. Então ela se juntou, assim, só eu que tô de solteira. Graças a Deus. Entrevistadora: Ahan. E quantos anos ela tem? D.: Então, agora, no mês que vem, ela vai fazer dezessete. Só um aninho de diferença. Entrevistadora: Ahan. Entendi. E seus pais são de São Paulo? Cê falou que seu pai tá no interior, ele é de lá? D.: Isso. A minha família é do nordeste, tá?! Aí, o pessoal vieram tudo pra cá, aí nós estamos aqui. Meus tios foram se casar, conheceram as futuras esposas, vivem aqui até hoje e tô aqui com a minha tia. Entrevistadora: Entendi. E, no lugar onde você mora agora, quem que tá empregado e quem tá desempregado? D.: Então, no momento, fez um mês que eu tô desempregada porque fechou a loja. Então, eu e os meus dois primos, mas a minha tia, o meu tio e a minha prima estão com emprego. Entrevistadora: Ahan. E você sabe me dizer qual que é a renda do seu núcleo de moradia atual? Mais ou menos, somado, quanto todo mundo recebe? D.: Ah. Não... Sei lá. Uns... Não sei. Mil e alguma coisa, deve ser por aí. Entrevistadora: Bom, como que é a sua relação com o seu pai? D.: Na verdade, eu nunca morei com o meu pai. E... Só morei com a minha mãe... [interrupção na gravação] Entrevistadora: Então, tava falando sobre a sua relação com o seu pai. Como é que é, mais ou menos? D.: Então eu nunca morei como meu pai, e sim, morei um tempo, assim, com a minha mãe. Né?! Então eu nunca tive, assim, um contato com o meu pai. Eu conheci ele uma vez quando eu tinha doze anos, tá?! E agora eu tô com a minha tia.
Entrevistadora: E... Com a sua mãe, como que é a relação hoje? Assim, você falou que ela tá doente, né?! Mas, antes vocês moraram juntas. Como é que é? D.: Só quando eu era pequeninha, até os meus doze, treze anos eu morei com ela. Aí depois eu resolvi... Porque, na verdade, eu morei lá no nordeste um ano e meio, por causa da minha avó, que ela ficou doente. Quando ela faleceu eu resolvi voltar pra São Paulo. Então, foi mais ou menos esse período, um ano e meio, que eu conheci o meu pai. Então, na verdade, ele mora lá. Aí, quando eu vim, eu vim sozinha e fiquei, assim, pode dizer assim... acho que cinco anos é... com a minha tia. E a minha mãe veio e tá na casa do meu tio. Então, normal. Às vezes ela vai em casa e eu vejo ela, às vezes eu vou até ela, ver ela. Mas, normal. Entrevistadora: Ahan. E... Sem ser... E com o seus irmãos, como é a relação? Cê tem uma irmã mais nova, né?! Sua relação com ela, como é que é? D.: Sim, tudo bem. Na verdade ela não sabe de mim, certo?! Ela tem o marido dela e ela fica na casa dela. Então eu não tenho muito contato com ela. Só isso. Entrevistadora: Ahan. E sem ser os seus pais e a sua irmã. Sua tia e o seu tio são os parentes com quem você tem uma relação mais próxima, ou tem outros parentes também? D.: Só com quem eu convivo mesmo. Uma relação, assim, mais próxima. Entrevistadora: E... Alguém da sua família é gay, lésbica, bissexual, ou transgênero? D.: Sim. A minha prima, na época, agora ela tá com vinte e três anos, quando ela tinha por volta de dezoito, dezenove, vinte, ela curtia saunas. Hoje eu não sei te falar se ela ficaria ainda com menina, ou não, se ela dá uns beijinhos. Não sei. Só ela que sabe de mim. E, no mês passado, eu acabei desabafando isso com a minha tia porque eu tive uma oportunidade com ela no ônibus e acabei falando pra ela. Entrevistadora: Entendi. E como que foi a educação que você recebeu da sua família?
D.: Do que ela tinha me falado?!
Entrevistadora: Não. Da sua família em geral. Quem criou você foi mais a sua mãe, né?! ou não? Você acha que foi mais a sua tia? D.: Foi o meu tio e, em seguida, foi ela. Entrevistadora: Como que foi a educação que você recebeu como um todo? D.: Então, em geral, tipo assim, pra mim ter cuidado com as pessoas. Desde pequenininha que eu , sabe, não aceitar bala de gente desconhecido. É... Se alguém ficar atrás de você, ir atrás de uma autoridade pra... no lugar e tal, disfarçar. Pra você não ser [?]. Foi isso, assim. Respeitar as pessoas e tudo mais. Mas nunca falaram comigo que existia gays e tudo mais, piercing, tatuagens... Isso... Nunca falaram isso pra mim. Mas eles não gostam disso, nem de piercing, nem de tatuagem. Pelo que eu percebi, a [?] da minha tia, ela... que ela tenha passado pra mim, ela tem totalmente preconceito. É uma coisa que tem na minha família, só eu mesma e minha prima. E ninguém sabe da minha prima, eu acabei falando mesmo, pra mim isso menos importa. Entrevistadora: Ahan. Bom, a gente vai falar agora sobre religião. Em que religião que você foi criada? E a religião era uma coisa, assim, importante na sua vivência com a sua família? D.: Não, não é aquela coisa não. É... Antigamente, eu freqüentava mais, a igreja Católica. Só que, pra mim, eu não vi nenhuma diferença não. Hoje eu tô muito bem. Entrevistadora: É... Você já mudou de religião, então, né?! Porque hoje você parece que não freqüenta. Por quais religiões você passou ? D.: Ó, eu já entrei na igreja evangélica, e hoje eu tenho vontade de entrar na igreja Espírita. Eu tenho vontade, não sei porquê, mas eu preciso ter uma oportunidade. Chegar por acaso eu não sei, eu acho [?] muito esquisito, né?! Entrevistadora: E você vai com regularidade a atividades e serviços religiosos em, algum lugar? D.: Não.
Entrevistadora: E qual que você acha que é a importância da religião pra suas decisões afetivas e sexuais, assim? Pra você decidir com quem você se relaciona ou não se relaciona, se tem relação sexual antes de ter compromisso ou não... Como é que é? D.: Não, pelo que eu seu, eu acho que todas as religiões... acho que eles não curtem, assim, gays e tudo mais. E eu sei que quem faz religião é a própria pessoa. A pessoa pode entrar numa igreja Espírita, e a gente gostar do mesmo sexo. Isso eu acho que é o de menos, eu acho que é importante a gente estar com Deus. Sempre fazer o bem e nada de tentar prejudicar as pessoas. Então o que eu penso é isso. Quem faz a religião somos nós mesmos, mas no caso, se a gente quiser descansar um pouco a mente, se ela tiver bem consigo mesma, se a gente tá satisfeito da porta pra fora, a gente entra num espaço espiritual pra gente estar bem consigo mesmo. Mas se a gente estiver se sentindo mal, ou alguma coisa assim... Entrevistadora: Bom, agora a gente sua experiência escolar. Como que tem sido a sua trajetória escolar? Cê já interrompeu os estudos, já já repetiu algum ano, ou foi direto? Como é? D.: É.. Quando eu estudei a quarta série, na verdade eu não gostava da professora. E, eu não sei se era por causa da idade dela, que era uma senhora; todo dia eu ia pra escola e não entrava na sala de aula. Então eu ficava na educação física, com o pessoal da sétima, oitava, primeiro e segundo, eu era o cupido da escola. Mas eu nunca deixei de ir pra escola por causa de algum relacionamento, por causa de algum amigo, nem nada. Mas isso já houve pessoas querendo que eu cabulasse naquele dia, e eu nunca fiz isso. Só esse ano que, hoje, eu peguei [?] ... Entrevistadora: E você estudou em escola publica ou privada? Cê fazia alguma, ou faz, extra-curricular, assim, como é que é? D.: Não, eu sempre estudei em escola pública. E, ah, na verdade, eu estudei na quarta série eu repeti de ano. Por causa das faltas, mas eu ia todo dia pra escola. Entrevistadora: Além das aulas obrigatórias, você faz alguma atividade extracurricular? Você tá no terceiro colegial agora, né?! Cê faz alguma atividade tipo esporte, teatro, ou já fez na escola?
D.: Não, não. Quando eu fiz a quarta série sempre eu participava de comemoração, Natal, Dia das mães fazendo teatrinho, cantava uma música e tal. Só na quarta série, mas depois eu nunca mais fiz, mais nada. Entrevistadora: E... Atualmente, você tá estudando. Conta um pouquinho da sua experiência, hoje, assim, na escola. D.: Ah, na escola?! Ah, é tudo de bom. Porque cada dia que vai passando, a gente vai crescendo e vai conhecendo pessoas novas, né?! Então isso é muito bom. Ver o desenvolvimento das pessoas. Vai crescendo e vai conhecendo muito mais. Você vai tendo muito mais criatividade, a pessoa vai tendo muito mais conhecimento. Além das escola que passa informações pra a gente aprender. Ah, é tudo de bom, a gente acaba sabendo [?] de cada pessoa. Entrevistadora: E pra sua vida social, familiar, afetiva, sexual, qual que você acha que é a importância da sua experiência na escola? D.: Não sei. Como assim? Entrevistadora: Ah. Sei lá. Pros amigos, que você faz ou deixa dxe fazer, paqueras. Como que isso funciona? D.: Ah, entendi. Assim, em relação a escola, a gente sabe... Toda escola tem muita gente com preconceito e tudo, então, dentro da escola eu tenho algumas amizades que sabem de mim. Então que eles acham super legal, e tudo, sempre convidam pra gente sair num dia de balada... e eu nunca vou. Mas tudo bem, por causa da minha tia. E... Mas na minha casa, só tem a minha tia e ela fala que eu preciso de um psicólogo; mas tudo bem, o que eu posso fazer?! Todo mundo acha que precisa [?] horas de [?]. E é isso aí. Minha prima ela não tem nenhum tipo de preconceito nem nada. Cada qual vive a sua vida, cada qual paga as suas contas. Eu penso isso. Entrevistadora: E qual que você acha que é a importância da sua experiência na escola
pra
o
seu
projeto
de
vida?
D.: Não sei. Não sei. Na escola a gente tem informação, a gente tem amigos e tudo mais, a gente se diverte final de semana. Então na escola, a gente tá ali pra aprender alguma coisa, tal, pra fazer alguma provinha, [?], pra entrar, quem sabe, numa faculdade, né?!
Entrevistadora: Bom, e a gente vai falar sobre trabalho agora. Você tem alguma profissão? D.: Então, quando eu trabalhava, eu trabalhava numa lojinha, decorações, e presentes e alguns artigos de [?]. Tinha mais artesanato, né?! Quadros e tudo mais. Então, a minha área mesmo é mais de ser vendedora... ou recepção. Eu acho legal isso. Entrevistadora: Ahan. É... e atualmente você não tá trabalhando, né?! D.: Não. Entrevistadora: Faz um mês, é isso que você falou? D.: Ahan. Entrevistadora: É... Bom, e como que você tem garantido a sua subsistência? Seus tios estão pagando, ajudando você, como é que é? D.: Me ajudando. Ainda bem que esse daí é o de menos, né?! Porque eu já recebo [?], é meus direitos e tal, minhas férias vencidas e tal. E, também tô pra receber meu fundo de garantia, então eu não quero ficar dependendo deles. Então eu não vejo a hora de arrumar emprego mais rápido possível senão o dinheiro acaba, eu tô indo pra escola a pé voltando pra casa de ônibus; então tem que ficar todo dia com dois Reais no bolso pra pegar um ônibus. Entrevistadora: Entendi. Em quê que você gasta a sua renda agora que... o dinheiro que você guardou, né, mais ou menos? D.: Então, o que eu gasto, o que eu gastei, foi em roupas... comprando sapato, calça, e blusa de frio, agora tá frio... e às vezes, que eu sei que alguém tá fazendo aniversário, eu compro uma lembrancinha, aquela coisa toda. Então é tão... Eu fui ao dentista, né?! Eu pretendo continuar o tratamento dos meus dentes. Futuramente, eu pretendo colocar aparelho logo que possível. Não é muito o dinheiro. Entrevistadora: A gente vai falar sobre a discriminação racial e o preconceito. O quê que é raça pra você? Quando eu falo essa palavra, tipo, o que vem na sua cabeça? D.: Raça, eu acho que talvez, seja cor, né?! Cor das pessoas. Raça... Sei lá.
Entrevistadora: E, em termos de raça ou cor, você acha que a sua definição como parda, que você deu, é importante pra você? pra maneira como você se define? D.: Eu sei lá. Eu acho que todo mundo é igual. Viu?! Eu acho que não tem essa não. Se a pessoa pode ser morena escura, pode ser queimadinha, pode ser branquinha... branquinha que até precisa de um guarda-chuva pra cobrir do sol. Mas não tem essa não. Então, sei lá, eu tô bem. Eu não tenho preconceito nenhum, tanto opção sexual... a pessoa pode ser... Eu posso conhecer uma pessoa pode ser macumbeira, alguém espírita, alguém evangélica. Eu acho que vou tratar igual, pode ter cor, pode ser deficiente, andar na cadeira de rodas, muletas e tudo mais. Pra mim não tem essa não. Entrevistadora: E como que é a constituição racial da sua família? D.: Uau. Como assim? Entrevistadora: Ah, seus pais, assim? D.: O que eles acham sobre as cores das pessoas?! Entrevistadora: Qual a opinião deles sobre a questão, assim, da raça... e qual é a cor deles? Tipo, como você classificaria eles? D.: A minha tia, ela é branquinha. A minha prima branquinha. Meu... O marido dela, assim, meio queimadinho, e os meus dois primos são, assim, meio queimadinhos... moreninhos. Entrevistadora: E você acha que tem situações em que a sua raça/cor é positivo, ou negativo, nas relações que você tem com as outras pessoas? D.: Ah, eu nunca ouvi nenhuma reclamação sobre isso. Se eu sou... que cor que eu tenho. (ri) Pelo o que eu sei não. Entrevistadora: O que é racismo pra você? D.: Racismo... Quando não gosta da cor de alguém... Sei lá. Eu acho que não tenho [?] nem consigo mesmo. Sei lá. Entrevistadora: Onde você acha que existe racismo? Tipo, em que tipo de situação? D.: Como assim?
Entrevistadora: Ah. Em que situação? Na sua opinião... D.: Não sei. Entrevistadora: Você acha que as pessoa brancas, pardas, negras, amarelas, indígenas têm a mesma habilidades para habilidades escolares? D.: Sim. Cada qual tem uma inteligência. Cada pessoa tem um pensamento diferente, cada pessoa tem opiniões diferentes. Então esse que é o bom. Cada dia que passa a gente acaba conhecendo mais pessoas de quem a gente acaba recebendo informações diferentes. Entrevistadora: E nos esportes, você acha que é a mesma coisa? D.: Esportes?! Ah. É muito bom esporte, sabe?! Entrevistadora: E nas artes, você acha que as pessoas de cores diferentes têm as mesmas habilidades? D.: Então, todo mundo tem uma arte diferente, tem uma criatividade diferente. E cada pessoa tem uma capacidade diferente, assim, um do outro. Tem gente que tem mais capacidade de jogar futebol, tem outras pessoas que têm uma capacidade de uma natação. Então, são esportes diferentes... Na arte, tem gente que já nasce com o dom de pintar, com o dom de fazer alguma escultura, então são artes diferentes. Todo mundo é artista. Entrevistadora: Mas cê acha que não depende da cor isso? D.: Não depende de nada. Imagina! Importante é o que tá dentro da pessoa. Entrevistadora: Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas, indígenas têm chances de... é... [?] diferentes a desenvolver algum tipo de doença? D.: Eu acho que não. Entrevistadora: E no mercado de trabalho, você acha que essas pessoas têm a mesma chance? D.: Não. Infelizmente. Porque, hoje em dia, a gente vê na televisão uma mulher linda e maravilhosa, com dentes perfeitos, olhos claros, cabelo lindo e maravilhoso. Então, esses programas de televisão, lojas, shoppings também, eles costumam pegar pessoas
jovens, branquinha, tudo mais; lindas e perfeitas. E, muitas vezes, essas lindas e perfeitas, ou perfeitos também, nunca sabe falar um ‘a’,. E muitos lá fora, que se quer oportunidade de estar trabalhando, e não aceitam por causa da cor, e também da idade, essas pessoas são discriminadas, e tal, pela cor. O que vale, eu acho, pra eles é a propaganda, a beleza, os dentes perfeitos e tudo mais. Vá colocar alguém com dente torto na televisão, cheio de espinha na cara, nenhum programa [?] pra pôr. Assim, na televisão pra fazer, assim, alguma novela alguma propaganda de algum lugar, ou até mesmo loja. Eu acho que o que vale é a experiência, não é a cor, não. Entrevistadora: E nos encontros amorosos. Você acha que as pessoas de diferentes cores têm as mesmas chances? D.: Têm. Têm sim. Entrevistadora: E você já presenciou, ou ouviu relatos pessoais, de discriminação? D.: Já. Sim, eu já conheci pessoas [?] e falam, assim: ‘ Ah, eu sou branquinha, linda e maravilhosa, pra quê que eu vou ficar com um negro?’ - ‘Ah eu sou lindo e gostoso, porque que eu vou ficar com uma gorda?’ Tipo, assim, nunca se sabe o dia de amanhã. Às vezes, pode até se apaixonar por alguém que a gente pega e fala: ‘ EU não fazer isso.’ – mas amanhã nunca se sabe. Entrevistadora: E você já sofreu algum tipo de discriminação racial? D.: Eu particular? Não. Ninguém nunca falou pra mim se eu era feia, sardenta. Sei lá. Não. Entrevistadora: E você acha que devia haver políticas específicas pra minorias? Como cotas raciais, assim, nas universidades? D.: Não ia ajudar não, viu. Eu acho que deveria ter... eu acho que hoje tem até, assim, uma lei né, que fala se moreno é preto pode ser até processado, né?! Tem, né, uma lei assim? Se chamar que é preto, pode até processar essa pessoa. Eu não sei se ia melhorar não. Eu acho que sim, vai, põe sim. Entrevistadora: Você acha que tem racismo no Brasil? D.: Tem.
Entrevistadora: E na África do Sul? D.: Ah, eu não sei. Entrevistadora: E nos Estados Unidos, você acha que tem racismo? D.: AH, agora, eu não sei. Entrevistadora: Bom, a gente vai falar sobre sociabilidade, lazer, essas coisas todas. É... que lugares que você freqüenta pra se divertir, pra paquerar...? D.: Então, é... como eu falei, assim, da minha tia, que ela é uó. Tudo bem, não posso fazer merda. Então, se eu pudesse, eu gostaria de estar saindo todo final de semana. Um pra cada lugar diferente. Então, por enquanto, esse ano, eu saí umas duas, três vezes. Eu acho que já [?] é o de menos. Então, no futuro, quando eu tiver a minha casa, aí eu poderei sair muito mais, algo que eu não aproveitei, né, agora eu tô com dezoito. Mas tudo bem. Entrevistadora: Mas, quando você sai, pra quais lugares você vai? Tipo, a gente se conheceu na alameda Itu, você vai sempre pra lá? D.: Então, foi pra lá mesmo. Eu fui umas duas, três vezes esse ano. Entrevistadora: E você vai lá pra paquerar, ou pra fazer amigos, como que é? D.: Assim, mais pra se divertir, sabe?! Principalmente pra descansar a cabeça, tal. Mas, quando houve uma oportunidade, eu fiquei. Entrevistadora: E quem vai com você, quando você sai? D.: São meus amigos da escola. O meu amigo Rodrigo, dessa vez foi a Tiara, a Suhay[?]. Entrevistadora: E sobre os seus amigos, cê tem preferência de classe? Que eles sejam mais ricos, mais pobres, a mesma coisa que você? D.: Não, não. O importante é eles... o importante é a amizade. Não importa se cata latinha durante o dia e vai pra escola a noite, porque eu estudo a noite, não importa se um deles numa empresa e estuda a noite. Não importa. Entrevistadora: E idade? Mais velho, mais novo, a mesma que você?
D.: Então, eles são, mais ou menos, da minha faixa de idade. Meu amigo tem dezessete, a Tiara... eu não sei que idade que ela tem, deve ter por volta de dezessete, dezoito anos. E também a Suhay. Entrevistadora: E escolaridade? A mesma que você, mais, menos instruído? D.: Então, o meu amigo Rodrigo é da minha sala do terceiro ano colegial. E as duas, tem uma que tá no terceiro, assim, do lado da minha sala, e a outra no primeiro ano. Entrevistadora: E orientação sexual? Você prefere que os seus amigos tenham qual orientação? A mesma, tanto faz... D.: Ah, tanto faz. Eu acho que é importante é os amigos continuarem a serem sinceros, e mesmo assim tem que ficar de olho, né?! E, não importa se eles são ou não, o importante é se divertir e curtir. Entrevistadora: E cor, você tem alguma preferência para os seus amigos ou tanto faz? D.: Não, não. Por exemplo, a Suhay. Ela tem uma cor mais escura que eu. Você até, eu acho, que a conheceu lá... Entrevistadora: Conheci... Ahan. D.: Então, na verdade eu não tenho muito amizade com ela não mas tudo bem, a gente fica na hora do intervalo batendo um papo. Eu acho que o importante é o coração da pessoa. Não interessa a idade... o importante é a cabeça. Entrevistadora: Como que você define o seu estilo? D.: Meu estilo. Ah, depende viu. Depende porque tem dias que eu tô meia, assim, meia maloqueirinha, tem dia que eu tô meia, assim, social ou meia pati. Mas tudo bem, meu estilo é assim, meio variado. Entrevistadora: É... Tem alguma tribo urbana com a qual você se identifica? Tipo, alguma turma, um estilo que você, sei lá, acha mais bacana, ou não? D.: Não, não. Mas, na verdade, eu quero estar bem distante pra quem curte aqueles negócio de RAP, Black e tal, porque eles costumam usar corrente, aquelas calças folgadas, querem ser mais que as pessoas, gostam de zuar, pichar; e isso não é pra mim. A pode ter
qualquer tipo de estilo. Pode andar todo social, pode andar todo roqueiro, né, e isso não importa. O importante é a educação, onde que eu tô eu me sentir bem. Entrevistadora: E pra você, como que são as pessoas que frequentam a alameda Itu? Assim, em relação a orientação sexual, classe social, cor, estilo? D.: Então, essa parte aí, tudo bem. Não tenho, assim... vou te falar, é uma situação, assim, legal porque lá, tipo, a gente chega lá e a gente vê tantas pessoas... beijando o mesmo sexo, né?! Então ali não tem ninguém pra interferir como se fosse... poderia acontecer dentro de uma escola, ia gerar muita polêmica; na rua, tem alguém conhecido, um vizinho, por exemplo... vai haver uma polêmica. Então, ali não. Ali é um lugar mais liberal, tem todo o tipo de gente, pessoas mais velhas, pessoas novinhas, né?! Então eu acho tudo de bom. Entrevistadora: Ahan. O que você diria mais que tem de bom e de ruim, lá na alameda Itu? D.: De bom... eu acabei conhecendo pessoas mó legais. O de ruim é que a pessoa se empolga, acaba bebendo demais e é muito perigoso gerar brigas. Aquele negócio de ciúme todo, né?! Uma vez eu soube que teve uma briguinha lá por causa que não sei quem olhou pra quem e houve uma briga. Então isso aí é chato, exagerar na bebida, num lugar que você tá sendo liberal, que todo mundo te vê e ninguém critica você. E o pior é que a pessoa bebe demais e quer dar uma de gostosão, assim, fala: ‘ AH, ela é minha namorada, ninguém vai ter que olhar.’ – e já vai brigando com quem olhar. E tem uns carinhas também assim... Isso é muito chato, mas tudo bem. Fazer o que?! Entrevistadora: E como que você costuma se aproximar das pessoas com quem você quer ficar, ou fazer amizade? D.: Não, eu sou tímida, sabia? Entrevistadora: É?! D.: Sou tímida. Dessa vez quando eu fui, as duas pararam eu, dentro do ônibus, eu conversei com o meu amigo e ele foi conversar, daí a menina ficou interessada. Eu não costumo chegar não.
Entrevistadora: Ahan. E você já sofreu algum tipo de violência nesse lugar? Na alameda Itu? D.: Não, não. Graças a Deus. E nem quero. Entrevistadora: E.. Você já provocou algum conflito lá? Alguma briga, ou coisa assim? D.: Não. E apesar que eu não gosto de briga. Eu, acho que, se alguém fosse me [?] eu ia desmontar inteira. Entrevistadora: E... Bom, você costuma acessar a Internet? D.: Não. Engraçado. Até o ano passado... Entrevistadora: Bom, a gente tava falando sobre Internet, né?! Cê falou que cê não costuma acessar muito... D.: Não, não. Porque até o ano passado não me interesse em possuir um computador e nem celular. Então, esse ano que eu me interessei a fazer informática, lógico que eu já mexi em computador da minha prima quando eu era pequenininha e já tive um computador somente pra fazer desenhos. Mas não pra ir fundo, negócio de pesquisa, entrar na Internet, nada disso, né?! Então, eu não sei o que é que houve em mim, mas a minha tia acabou vendendo o computador, não sei pra quem, e o da minha prima eu já mexi e tal, com ela, tal. E esse ano eu comecei a fazer informática, faço dia de terça-feira, mas eu prefiro comprar um celular. Entrevistadora: E vc tá, atualmente, em alguma ONG, algum movimento social? D.: Não. Não. [interrupção na gravação] Entrevistadora: A gente vai falar sobre relacionamentos agora. É.. Em relação às pessoas com quem você fica, ou namora, você tem alguma preferência de classe? D.: Não, não. Entrevistadora: E idade? Seja mais velho, mais novo. D.: Ah, até trinta eu fico.
Entrevistadora: E escolaridade? D.: Aí, eu não sei. Acho que depende da pessoa. Se eu gostar da pessoa, tudo bem. Mas a minha preferência é que seja uma pessoa, assim, educada, tipo, pessoa interessada, pessoa responsável. Entrevistadora: E orientação sexual? Ah, você prefere que seja hetero, bi, é... lésbica, ou como é? D.: Ah, pra mim tanto faz, né?! Pode ser bi, pode ser... hetero não dá. E... pode ser só preferência menina, tudo bem... Pra mim tanto faz. Entrevistadora: Ahan. E religião? D.: Tanto faz. Entrevistadora: E cor ou raça? D.: Então, a respeito de cor, a minha preferência, a minha preferência mesmo é... eu tenho que bater o olho e gostar. Já aconteceu de eu bater o olho numa moreninha, e tal, e gostar.
É
só
bater
o
olho
e
gostar,
não
importa
a
cor.
Entrevistadora: (ri) E com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? D.: Não sei. Não sei te falar isso. Porque eu sou muito de bater o olho e dizer se gostou ou não. E depende da conversa também, também tem isso. Entrevistadora: E que tipo de relacionamento, normalmente, você busca? Sexual, ficar, namoro? D.: No momento, só ficar, tá?! E, no caso, no momento, eu não tô afim, e tal, de namorar e nem nada. Mas, no caso, se eu tiver preparada pra namorar, eu namoraria co uma pessoa interessada, que eu tenha escolhido, né?! Bater o olho e gostar. Entrevistadora: (ri) Ahan... você já foi paquerada por pessoas do mesmo sexo? D.: Já.
Entrevistadora: (ri) E você já namorou, ou teve algum tipo de relação afetiva, com uma pessoa de cor diferente da sua? D.: Não. Entrevistadora: E classe? D.: Não Entrevistadora: Orientação sexual? D.: Já... Entrevistadora: E escolaridade? D.: Não, as pessoas com quem eu me relacionei, são da mesma escola, né?! também eu tô ficando com uma menina lá, mas tem namorado... Tudo bem. E eu já fiquei com menina que já terminou o segundo grau completo, tal e é só profissão. Entrevistadora: E como você descreveria uma pessoa atraente? D.: Atraente... Acho que depende. Agora eu não sei... talvez pode ser... É no olhar, no jeito de ser, no jeito de falar, ou talvez o cabelo. Eu acho que depende, eu acho que só bater o olho e gostar. Entrevistadora: E você se considera uma pessoa atraente? D.: Ai, eu nem sei. Entrevistadora: É... O quê que você espera em relação a um parceiro ou parceira? D.: O que eu espero?! Acho que muita sinceridade, sabe, ser fiel. É sim ou não. tá?! Entrevistadora: E o quê que significa ficar pra você? Tipo, o quê que tem numa ficada? D.: Numa ficada, eu acho que é quando fica só um dia, assim, sabe?! E, dependendo do caso... ficar um dia, né?!... dependendo do caso, retornar e continuar ficando. Aí, no caso, daí, pode surgir um namoro, e tal, daí compromete muito mais. Entrevistadora: Ahan. E onde, habitualmente, você conhece as pessoas com quem você fica, transa, namora?
D.: Então, no momento, onde que eu conheci, só foi lá no Bocage, e tal. Já fiquei com meninas, assim, na parada gay, e tal. Tudo bem Entrevistadora: E o quê que você costuma fazer pra chamar a atenção de alguém em quem você está interessada? D.: Ah, depende do momento, porque... já aconteceu de, quando eu fui na parada gay do ano passado... E no ano passado eu cheguei na... com o meu amigo e uma amiga minha, não lembro se foi a Renata ou se foi a Luana, a Luana eu já fiquei. Aí eu cheguei: ' Nossa e tal, eu acho bonita aquela menininha e tal. ' Aí eu, por acaso, a Luana... eu acho que foi a Luana, eu acho que a Renata tava com a Dani. É, a Renata estava com a Dani, elas são namoradas há muito tempo. Aí a Luana deu uns perdidos e, quando eu penso que não, a Luana tava trazendo a menina até mim. Porque eu só comentei, né?! Então, são esses os casos que eu acabo conhecendo, se for até eu chegar na pessoa eu acho que não consigo. Só se, até eu entender, assim, tipo, dar um sorrisinho e tal, dar um tchauzinho e a pessoa corresponder... Aí tudo bem. Entrevistadora: E você considera que há pessoas pra namorar e outras pra ficar? D.: Se eu considero?! Ahan. Entrevistadora: E o quê que divide essas pessoas? Tipo, ah essa é pra ficar, essa, eu acho que eu namoraria... D.: Ah, olhando assim pra pessoa, assim, e tal, a gente pode ficar sim e tudo bem. E, dependendo da pessoa... Nossa, já passou, assim, até em meu pensamento, né?! - ' Ah, com essa pessoa eu já namoraria, mas com essa não.' Ou talvez: ' Mora muito distante' ou ' Essa eu não ficaria por causa dessa atitude.' Assim, que eu não gosto e não tem como eu corrigir, né?! Cada um com a sua personalidade diferente. Às vezes acontece, até eu mesma, [?] e tal, a pessoa tem que ser consciente do que faz. Cada qual ou tem a consciência pesada [?] Entrevistadora: O quê que você pensa sobre [?] de cor ou raça diferentes? D.: Difícil. Eu acho que o importante é o amor, né?! Acho que não importa a cor, a idade, eu acho que o importante é o amor, a sinceridade. Entrevistadora: E casamento?
D.: Casamento. Nossa. Casamento é uma coisa muito séria. Hoje a gente vê vários relacionamentos, tal, foram até... chegaram até lá, o altar, e mês depois até se separa. Então, casamento é uma coisa muito séria, muito compromisso. Entrevistadora: Mas entre pessoas de cor ou raça diferentes? D.: Ah, é isso daí?! Entrevistadora: Ahan! D.: Ah, eu acho que não importa. Raça e nem nada, cor, tamanho... Entrevistadora: (ri) E namoro entre pessoas do mesmo sexo? D.: Tudo de bom ,viu?! Eu acho que a opção, mesmo, sexo, eu acho isso aí muito bom. Eu acho que se respeita muito mais do que entre um homem e uma mulher. Acho que depende
da
combinação.
Entrevistadora: Ahan. E casamento entre pessoas do mesmo sexo? D.: Eu acho tudo de bom. Acho que sim, né?! Porque eu nunca vou [?] Entrevistadora: E você costuma transar no primeiro encontro? D.: Não. Apesar de eu ser virgem. (ri) Entrevistadora: Bom, deixa eu ver... Agora você não tá namorando, né, como você falou, só tá ficando, né?! D.: Isso. Entrevistadora: É... Tá. você já namorou alguma vez? D.: Já. Eu já fiquei com uma menina, fazia seis... sete meses. E eu nunca transei. (ri) Engraçado isso, né?! E depois, antes dessa menina, eu fiquei... no ano passado isso, foi junho, foi antes do dia dos namorados. Junho é o dia dos namorados, né?! Então, eu fiquei quase um mês com a menina, fiquei quase um mês mas ela queria... eu acho que eu não tava preparada pra isso , eu não sei o que aconteceu, assim, na minha cabeça. Eu não sei. Eu acho que toda a primeira vez dá um pouquinho, assim, de medo.
Entrevistadora: Ahan... Ahn... Tá. Agora é só pra quem tem filhos, então a gente vai pular. D.: É, eu não tenho, graças a Deus. Entrevistadora: E como que você... Não. Calma. O quê que você acha da paternidade/maternidade gay/lésbica? D.: Bom, depende do caso, né?! Porque se duas mulheres forem criar um filho, ou uma filha, tem que criar de uma [?] mas, tipo, não tendo preconceito, lógico, né?! Eu acho assim, tem que criar uma vida normal, com um pai e uma mãe que nem o seu filho mas, tendo um ensinamento, assim, ter o cuidado com as pessoas, não dentro de uma [?], tal, é cuidado nos lugares que andam, ter mais cuidado consigo mesmo, né?! Tem que ir orientando dessa forma. E não, tipo assim, se os pais, ou as mamães, vão sempre num barzinho e ficar levando, levando o filho até lá e talvez, pode ser, não sei... pode ser um incentivo pro filho, ou filho, que esteja criando. Mas aí tudo bem, mas criando de uma forma normal. Cada qual tem a sua opção, diferente uma da outra. Então eu acho assim, se eu tivesse um filho, ou uma filha: ' Filha eu sou e escolha o que você quiser.' Sabe?! Me respeitando e fazendo maldade a ninguém, tudo bem. Entrevistadora: E como que você imagina uma família ideal? D.: Ideal?! Ah, assim... Entrevistadora: Você acharia bacana uma família desse jeito? D.: Acharia legal. Cada qual tem o seu modo de viver, cada qual tenta procurar o melhor pra si. Se sentindo bem ,sendo... tendo uma segurança, tendo um capital pra ter um filho, ou uma filha, adotivo e morar com o meu futuro, ou futura, esposa ou marido. Que eu tenha um capital legal, assim, pra morar e viver a minha vida sossegada, me sentindo bem, com o meu emprego e tudo mais. Entrevistadora: Ahan. E você acha importante um filho na vida de um homem? D.: Um filho... Entrevistadora: Ou filha, na vida de um homem.
D.: Eu tenho, assim, eu não sou muito confiável nessa parte não, viu?! Porque existe muitos casos aí, homem, mulher, pode ser homem gay, sei lá... e eu num, às vezes pode até molestar a criança... Têm muitos casos. Então eu não confio não. Entrevistadora: E na vida de uma mulher, você acha importante ter filhos, ou filhas? D.: Ai sim, aí eu acho que a mamãe seria muito mais cuidadosa com o filho, ou filha. Eu acho que a mulher tem mais jeitinho, talvez, que o gay, né?! Se tiver um lado bem feminino e tiver uma capacidade de criar um filho, ou uma filha, de uma forma que respeite, tudo bem. Entrevistadora: Quais memórias que você tem, da sua infância, de vivências afetivas e sexuais? D.: Nenhuma. Porque o meu primeiro beijo foi com treze anos. Eu tinha amizade com uma menina é a única coisa que eu não sentia. Eu só fui querer ficar com uma menina quando eu completei os meus quinze, dezesseis anos. Mas nenhuma lembrança... Entrevistadora: Ahan. Mas o primeiro beijo foi com uma menina também? D.: O primeiro beijo foi com menino. Entrevistadora: Ah, entendi. E depois, quando você tinha quinze anos, você começou mesmo a ficar com mais pessoas. D.: Mais com menin[?]s Entrevistadora: E de que forma as informações sobre sexo chegaram, e chegam, até você? D.: Informações... Nenhuma. Eu assito, às vezes eu leio revistinha, assim, só por cima... e nada mais. Entrevistadora: Ahan. Mas quais são as fontes mais confiáveis pra você? Tipo, tirar suas dúvidas... Família, amigos, meios de comunicação, escola, igreja? D.: Ó, referente a amigos, eu vejo que não é confiável, nunca se sabe o dia de amanhã. É uma coisa que pode até virar um jornal. Eu acho que a melhor fonte é a gente ler jornal e procurar livros e revistas... dar uma procurada muito mais.
Entrevistadora: E... Como que seus familiares se comportavam, e se comportam, em relação a sua vida sexual? D.: Então, no momento, quem sabe, é só são... só as pessoas que convivam comigo. Então, a única pessoa que critica sobre isso é a minha tia, mesmo, porque os meus primos, os meus dois, né, o henrique e william, eles pegam e falam assim: 'Ah, vai, tem que catar mesmo.' Sabe?! Eles são, assim, zoeiras. Mas a minha prima só fala: ' Faz o que você quiser da tua vida, e tal, e no futuro você vai ter a sua casa, a vida é tua e você vai fazer o que você quiser sendo que você respeitando aqui.' Além disso, outras pessoas, dos meus familiares, não sabem não, viu?! Entrevistadora: Você já foi constrangida alguma vez, física, ou psicologicamente a ter relação sexual com alguém? D.: Não. Entrevistadora: Você acha importante ter... Bom, nesse caso não, calma. Deixa eu ver. Ahn... você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? D.: Sim. Entrevistadora: Conta um pouquinho mais sobre isso. Tipo, quais tipos de práticas você já teve com pessoas do mesmo sexo, como você lida com isso? [?] relação física mesmo... você disse que nunca teve uma relação completa, mas outras coisas já rolaram? Como é que é? D.: Então, assim, é mais. Bom... É... Como posso dizer? Acho que as pessoas acabam se identificando. Como eu sou um tipo de pessoa : bateu o olho e gostei; tipo, eu mesmo acabei me identificando com aquela pessoa quando... se a gente pega e fica, e tal. Eu acho que a gente se tinha entendido muito mais... Assim, não só batendo papo, tem umas idéias legais, assim... Sei lá. Entrevistadora: E quais foram... com as meninas que você já ficou, o quê que rolou? Carícias, beijos, toque, relação oral, etc? D.: Então, assim, foi mais assim, carinho, beijo, abraço... Algo muito mais, assim, acho que bem delicado, bem cuidadoso. Acho que cuidar muito. Muito carinho...
Entrevistadora: E você já teve atração por pessoas do sexo oposto? D.: Ahan. Entrevistadora: Já?! E... Que tipo de relação você já teve com pessoas do sexo oposto? Só ficar... D.: Assim, tipo, assim, tipo... Só ficar, assim, tipo, assim... Por algum tempo e tal. Entrevistadora: Uhum... Deixa eu ver, tá acabando já. E sobre o aborto, você é contra ou é a favor? E em que casos específicos? D.: EU sou contra o aborto, viu?! Porque, assim, se na hora de fazer é bom, por que não assume?! Então, eu sou contra o aborto pode ser, assim, qualquer situação. Porque a gente sabe que vestir camisinha, tal, em posto aí de saúde, gratuito... e tem essas pessoas, hoje, que tem pernas e braços e capacidade de chegar até lá e pegar o preservativo e prevenir isso, viu?!... porque é uma vida. Entrevistadora: Ahan. E quais características/comportamentos você acha que definem uma mulher? D.: Eu não sei. Sei lá... Entrevistadora: Na sua opinião, assim... D.: [?] Entrevistadora: Não. Qualidades, características, comportamento... Tipo o que diferencia a mulher do homem. D.: A atenção, é... ficar... sei lá. Ser uma pessoa dedicada, aquilo que você assume. Não ser uma pessoa, assim, tipo assim: ‘ Ah, não quero saber de nada e tudo mais.’ Porque também eu tô fora, né?! Ser uma pessoa mais, assim, dedicada, ser uma pessoa mais carinhosa e tudo mais. Entrevistadora: E o quê que define um homem? Assim, as características, os comportamentos? D.: Ser uma pessoa educada, ser uma pessoa, assim, sincera. Entrevistadora: Amigo, né?!
D.: Ahan. Entrevistadora: E quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem ou mulher na nossa sociedade? D.: As vantagens?! Não sei. O quê que eu falo? Entrevistadora: Você quem sabe. Na sua opinião, tipo, quais são os limites e as vantagens de você ser uma menina, no caso, e não ser um menino? D.: Qual é a vantagem de ser uma menina?! Entrevistadora: É! Ou as vantagens que os homens têm por serem homens... D.: Ó, ser menina é uma responsabilidade, assim, muito grande. Sabe?! Acho que cuida mais da casa. E os homens é mais relaxado. E olhe lá se encontrar, por milagre, um cara cuidadoso. Não sei... Entrevistadora: E se os homens, e as mulheres, forem gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros, em quê que você acha que isso é uma vantagem ou uma desvantagem na nossa sociedade? D.: Então, como eu tinha falado, cada qual escolhe aquilo... aquela opção desejada e... não sei. Eu acho que o mundo é gay, não sei... Porque cada qual deve ter, assim, um olhar... por exemplo, um cara, um homem mesmo, às vezes... por acaso vê outro, acha isso lindo nele e quer fazer um igual. Acho... Não sei. Entrevistadora: O quê que você pensa sobre virgindade? D.: Virgindade, eu acho que é uma coisa que você tem que estar preparada pra ir... Eu acho que não é pra qualquer hora, qualquer idade, sabe?! Acho que tudo tem um momento certo. Acho que fica difícil, né, uma pessoa perder por volta de doze, treze anos. Eu acho isso um absurdo. Pelo o que eu sei, por volta de dezoito, vinte, vinte e dois, é... o corpo feminino está formado pra isso. Mas, tudo bem , às vezes acontece quando tem quinze, dezesseis anos. Eu acho que a pessoa se sente preparada, confiada naquilo que tá fazendo. Entrevistadora: Ahan. E o quê que você pensa sobre infidelidade de homens e mulheres?
D.: Fidelidade. Hoje é fogo, viu?! Encontrar um pessoa super fiel... Hoje é fogo. Hoje em dia... Ó, esse negócio da pessoa querer relacionamento com moleque fica muito difícil da pessoa confiar naquela pessoa. Só se a pessoa, lógico, tiver super apaixonada, gostar muito da pessoa, talvez seja até fiel porque... é... existe casais que um vai pra uma festa e o outro fica em casa. E muitas vezes pode até acontecer uma traição. Entrevistadora: E o quê que você pensa das mudanças entre as relações entre os homens e as mulheres nas últimas décadas? Assim, depois que a mulher teve mais liberação sexual, entrou no mercado de trabalho... D.: Acho isso super legal. Porque a pessoa está descobrindo aquilo que você quer, porque muitas vezes se a menina namora um homem, é... a menina, ou o homem, não está feliz com aquilo. Então tem essa outra opção. E isso é muito bom. E no mercado de trabalho, eu creio, que isso não interfere de jeito nenhum. Acho que vale é o que você sabe, é o que você está fazendo, sabe?! Eu creio que isso não atrapalhe em nada não. Entrevistadora: E... Tem algum sentimento que uma mulher tem que esconder de outra mulher? D.: Ter que esconder sentimento?! Entrevistadora: É. Existe algum tipo de sentimento que uma mulher deve esconder de outra mulher, assim? D.: Não, não. Depende do sentimento, né?! Depende. Entrevistadora: Tipo, qual ela deve esconder? D.: Esconder?! Acho que depende da pessoa, né?! Por exemplo, eu sou uma pessoa mais liberal, né?! Eu falo mesmo, não tô nem aí. Mas existe pessoas que acaba, até, escondendo mais aquilo que você já fez no passado ou, às vezes, que você não quer falar pra aquela outra pessoa que você tá ficando, pra não acabar essa relação. Entrevistadora: Uhum. E como que você cuida da sua saúde? Tipo você faz exames com freqüência, você vai ao médico, se alimenta bem, faz exercícios. Quais são as suas preocupações, assim, seus cuidados?
D.: Não. |Não me preocupo não. É difícil eu ficar doente. Apesar que eu preciso estar fazendo exames pra ver se eu tenho alguma coisa... Eu não me alimento bem, meu almoço é [?], sabe?! EU como super pouco, mas tem dia em que eu como bastante, eu não sei porque isso. Mas eu preciso ter mais cuidado comigo mesma. Entrevistadora: Você costuma ir no atendimento público ou privado de saúde? D.: Eu vou no público. EU sei que é um horror isso, então é por isso que eu não vou atrás de nenhum médico, só dentista mesmo. Entrevistadora: Ahan. É... O quê que você sabe sobre a AIDS? D.: O que eu sei sobre a arte?! Arte pra mim é cultura. Entrevistadora: Não! Calma. É que tá muito barulho. O que eu te perguntei é o que você sabe sobre a AIDS? D.: AIDS?! Entrevistadora: Isso. D.: Ah. Eu escutei artes. AIDS... O que eu falo sobre a AIDS? Entrevistadora: O que você quiser, assim. O que você sabe sobre AIDS? O que vem na sua cabeça quando te falam sobre esse assunto... D.: AIDS? Mesmo as pessoas sabendo, ou não, se o parceiro tem , ou não, AIDS você se prevenir. Tem camisinha, tem remédio e tudo mais. Só se prevenir pra não pegar. Entrevistadora: Você conhece alguém que tem o vírus da AIDS? D.: Pelo que eu sei, não. Entrevistadora: Ahan. Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? D.: Acho que é só se ter alguma relação sexual sem camisinha, tal... Entrevistadora: Ahan. Ahan. E você acha que tem algum grupo mais vulnerável a pegar? D.: Não.
Entrevistadora: O quê que você sabe sobre os remédios usados, hoje, pra tratar pessoas com o vírus da AIDS? D.: Não sei. Entrevistadora: Ahan. E você já fez teste Anti-HIV alguma vez? D.: Não. Entrevistadora: Ahan. É... Bom, essas perguntas são pra quem já teve relação, então a gente vai pular. Tá. Você bebe? D.: De vez em nunca, eu costumo beber só um pouquinho de licor, um pouquinho, assim, de vinho. Nada além disso. Entrevistadora: E você fuma? D.: Fumo de vez em quando. Malrboro Light. Só quando eu peço cigarrinho pra alguém, aí é de outra marca. Entrevistadora: Ahan (ri). E você já fumou outra coisa sem ser cigarro comum? D.: Não. Não é pra mim não. Assim, algum outro tipo de droga, né?! Tipo, maconha, cocaína. Isso não é pra mim não. Eu sempre dispenso, nunca quero. Entrevistadora: Ahan. (ri). Quais são as drogas mais usadas nos luigares que você costuma ir? D.: Eu creio que seja maconha, viu?! Entrevistadora: E... Você acha que você fica mais solta quando você tá sobre o efeito do álcool? D.: Não, porque eu fico mais, eu tento ficar muito mais no meu equilíbrio, assim, e tal. Eu fico mais na minha mas dá um pouquinho, assim, de tontura, mas tudo bem. Entrevistadora: E... Como que é o seu final de balada? Você toma algum remédio? D.: Não. Entrevistadora: Vai pra casa e ... D.: É.
Entrevistadora: É... Qual é a sua relação com as drogas, assim, você diria? D.: Relação às drogas. Então, eu tenho alguns amigos que eles, às vezes, até fumam uma maconha, assim depois da escola. E eu acho que o importante... Ó, se você quiser fumar isso tem que ser no final de semana, sabe?! Não tem que ficar exagerando numa coisa... é aquilo, você acaba sendo dependente daquilo, todo dia, toda noite, Deus o livre e guarde, pode até roubar da família, roubar lá fora. Isso eu não quero nem pra mim, graças a Deus eu não curto isso, eu também não quero pros meus amigos e pras outras pessoas. Entrevistadora: E... Bom, a gente tá terminando. Quais são os seus projetos de vida? D.: É... Meus projetos de vida?! Que tudo corra em paz, sabe, que eu desejo tudo de bom, assim, pr mim mesma ou, talvez, a minha futura parceira. E... Ter o meu emprego, a minha casa e uma faculdade, assim, quem sabe, né?! E uma profissão pra mim poder me manter. Entrevistadora: Você acha que eles podem se concretizar? D.: Sim. Eu esperto... Se a gente pensa, assim, tudo positivo, tudo de bom que vai dar certo, eu creio que vai dar tudo certo. Entrevistadora: E onde você se imagina daqui a dez anos? O quê que você vai tá fazendo, sua vida vai estar melhor que agora? Como que você imagina? D.: Agora eu não sei porque eu não sei o dia de amanhã. Eu nunca... Não sei se eu vou decair, eu não sei se eu vou subir. Eu não sei. Eu espero tudo de bom, que eu tenha a minha futura casa, meu futuro carro, meu emprego fixo e uma ótima profissão pra me manter. Entrevistadora: É isso, obrigada, acabou a entrevista...
3.5 Proposta para o VI Fazendo Gênero A presente proposta resulta da pesquisa “Relações entre ‘raça’, sexualidade e gênero em diferentes contextos locais e nacionais”, coordenada internacionalmente pelo Cebrap e financiada pela Fundação Ford, é explorar a relação entre gênero, raça/cor, orientação sexual, classe dentro de territórios de relações e trocas afetivo-sexuais na cidade de São Paulo, definidos por determinados estilos. Entendemos territórios como espaços de sociabilidade definidos por situações de encontros e trocas afetivo-sexuais, não necessariamente delimitados por fronteiras geográficas fixas, mas sim pela instalação de dinâmicas, fluxos e subjetividades que propiciam tais encontros. Estes se estabelecem por uma determinada matriz móvel de relações possível de existir em diferentes espaços geográficos na cidade. Além disso, estruturam relações interpessoais, afetivas e sexuais, através da codificação territorial das formas de aproximação e contato entre os sujeitos, organizando discursos, corporalidades e performances. Os estilos territorializados, ou seja, os conjuntos de expressões codificadas de indumentária, atitude/linguagem corporal, vocabulário, preferências estéticas e musicais, etc, formam uma “cultura” identificável por suas fronteiras estilísticas. Esse conjunto de elementos expressivos produz padrões desejantes para as relações afetivo-sexuais, estabelecendo limites de inclusão e exclusão. O gradiente de adequação ao estilo territorial acaba por definir sujeitos mais ou menos desejados – desde sua completa adequação aos códigos (que o torna altamente desejável) até sua total inadequação (que o torna completamente não desejável). Nosso pressuposto é que os territórios e seus estilos organizam e resignificam de forma dinâmica as categorias de gênero, raça/cor, orientação sexual e classe social, construindo performances, corporalidades e discursos que estabelecem padrões de desenvolvimento das relações afetivo-sexuais regidas por essas categorias. Desse processo, emergem processos identitários e de inclusão e exclusão, que desembocam em tipificações, conflitos e preconceitos inter e intra-territoriais.