Analise Maias.docx

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  • Pages: 18
OS MAIAS CATEGORIAS DA NARRATIVA

1.

PERSONAGENS

Carlos da Maia             

É o protagonista; Filho de Pedro e Maria Monforte; Após o suicídio do pai vai viver com o avô para Santa Olávia, sendo educado à inglesa pelo preceptor, o inglês Brown; Sairá de Santa Olávia para tirar Medicina em Coimbra; Admirado pelas mulheres; Depois do curso acabado, viaja pela Europa; Quando volta a Lisboa traz planos grandiosos de pesquisa e curas médicas, que abandona ao cair na inactividade, porque, em Portugal, um aristocrata não é suposto ser médico; Apesar do entusiasmo e das boas intenções fica sem qualquer ocupação e acaba por ser absorvido por uma vida social e amorosa que levará ao fracasso das suas capacidades e à perda das suas motivações. Transforma-se numa vítima da hereditariedade (visível na sua beleza e no seu gosto exagerado pelo luxo, herdados da mãe e pela tendência para o sentimentalismo, herdada do pai) e do meio em que se insere, mesmo apesar da sua educação à inglesa e da sua cultura, que o tornam superior ao contexto sociocultural português. A sua verdadeira paixão nascerá em relação a Maria Eduarda, que compara a uma deusa e jamais esquecerá. Por ela dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor no primeiro plano. Ao saber da verdadeira identidade de Maria Eduarda consumará o incesto voluntariamente por não ser capaz de resistir à intensa atracção que Maria Eduarda exerce sobre ele. Acaba por assumir que falhou na vida, tal como Ega, pois a ociosidade dos portugueses acabaria por contagiá-lo, levando-o a viver para a satisfação do prazer dos sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o dominavam quando chegou a Lisboa, vindo do estrangeiro. Simboliza a incapacidade de regeneração do país a que se propusera a própria Geração de 70. Não teme o esforço físico, é corajoso e frontal, amigo do seu amigo, parece incapaz de fazer uma canalhice. É uma personagem modelada.

Mª Eduarda            

Apresentada como uma deusa; Dizendo-se viúva de Mac Green, sabia apenas que a sua mãe abandonara Lisboa, levando-a consigo para Viena. Tivera uma filha de Mac Gren, Rosa; A sua dignidade, a sensatez, o equilíbrio e a santidade são características fundamentais da sua personagem, às quais se juntam uma forte consciência moral e social; Salienta-se ainda a sua faceta humanitária e a compaixão pelos socialmente desfavorecidos; A súbita revelação da verdadeira identidade de Maria Eduarda, vai provocar em Carlos estupefacção e compaixão, posteriormente o incesto consciente, e depois deste, a repugnância; A separação é a única solução para esta situação caótica a que se junta a morte de Afonso; A sua apresentação cumpre os modelos realista e naturalista, pelo que coincidem no seu carácter e no espaço físico que ela ocupa duas vertentes distintas da sua educação: a dimensão culta e moral, construída aquando da sua estadia e educação num convento, e a sua faceta demasiado vulgar, absorvida durante o convívio com sua mãe; Ela é o último elemento feminino da família Maia e simboliza, tal como as outras mulheres da família, a desgraça e a fatalidade; É de uma enorme dignidade, principalmente quando não quer gastar o dinheiro de Castro Gomes por estar ligada a Carlos; No final da obra, parte para Paris onde mais tarde casa com Mr. de Trelain, casamento considerado por Carlos o de dois seres desiludidos; É uma “personagem-tipo”.

Afonso da Maia 

Psicológico: Duro, clássico, ultrapassado, paciente, caridoso (ajuda os mais pobres e mais fracos), nobre, espírito são, rígido, austero, risonho e individualista.



Símbolo do liberalismo (na juventude), associado a 1 passado heróico, incapacidade de regeneração do país, modelo de autodomínio. Morre de apoplexia, no jardim do Ramalhete, na sequência do incesto dos netos, Carlos e Maria Eduarda. É o mais simpático e o mais valorizado para Eça.



João da Ega        

Autêntica projecção de Eça de Queirós pela ideologia literária, usando também um monólogo e era considerado um ateu e demagogo. Excêntrico, cínico, o denunciador de vícios, o demolidor energético da política e da sociedade. É um romântico e um sentimental. Tornou-se amigo inseparável e confidente de Carlos. Instalou-se no Ramalhete, e a sua grande paixão será Raquel Cohen. Como Carlos, tem grandes projectos (a revista, o livro, a peça) que nunca chega a realizar. É também um falhado, influenciado pela sociedade lisboeta decadente e corrupta. Nos últimos 4 Cap. ganha uma certa densidade psicológica e passa a desempenhar um papel muito importante na intriga, sendo ele o primeiro a conhecer a verdadeira identidade de Maria Eduarda. É Ega que faz a revelação trágica a Vilaça, Carlos (que contará ao avô Afonso) e, por fim, a Maria Eduarda. A sua vida psicológica manifesta-se também ao nível da reflexão interiorizada através de monólogos interiores, sobretudo depois do encontro com o Sr. Guimarães, no capítulo XVI.

Pedro da Maia    

Protótipo: do herói romântico e é personagem-tipo. Psicológica: nervoso, crises de melancolia, sentimentos exagerados, instável emocionalmente (como a mãe). Educação: tradicional – portuguesa – romântica – criado pelas criadas e mãe. Sente um amor quase doentio pela mãe, pelo que quando esta morre entra em loucura Deixou-se encadear por um amor à primeira vista que o conduziu a um casamento, de estilo romântico, com Maria Monforte. Este enlace precipitado levá-lo-ia mais tarde ao suicídio – após a fuga da mulher – por carecer de sólidos princípios morais e de força de vontade que o deveriam levar à aceitação da realidade e à superação daquele contratempo.

Mª Monforte:    

Psicológica: personalidade fútil mas fria, caprichosa, cruel e interesseira. Protótipo: da cortesã: leviana e amora, sem preocupações culturais ou sociais. É filha do Monforte, e é conhecida em Lisboa por “a negreira”, porque seu pai enriqueceu transportando negros e arrancando a riqueza da “pele do africano”. Contra a vontade de Afonso, Pedro da Maia apaixona-se e casa com ela. Nasceram Carlos e Maria Eduarda. Maria Monforte virá a fugir com o italiano Tancredo, levando Maria Eduarda consigo e abandonando Carlos e provocando o suicídio de Pedro. Entretanto, o italiano é morto num duelo e Maria levará uma vida muito má. Entregará a Guimarães um cofre com documentos para a identificação da filha.

Alencar  

“Personagem-tipo”, é o símbolo do romantismo. Representa a incapacidade de adaptação à “ideia nova” (realismo).

Dâmaso Salcede 

Representa a podridão das sociedades, é o “rafeiro” de Carlos, anda sempre atrás dele e imita-o em tudo.

Palma cavalão 

Director do jornal A corneta do diabo, representa o jornalismo corrupto, sensacionalista e escandaloso que vive da calúnia e do suborno.

Craft 

Inglês, representa a formação e mentalidade britânicas, sendo Craft o jovem mais parecido com Carlos

Guimarães 

Personificação do destino.

Cruges: 

É dos poucos que é moralmente correcto, representa a excepção na mediocridade da sociedade portuguesa, é idealista. Vilaça:



Procurador dos Maias, acredita no progresso. 2.

Espaço

Espaço físico:    

Sta Olávia (infância e educação de Carlos), Coimbra (seus estudos, e primeiras aventuras amorosas) e Lisboa, onde irá desenrolar-se toda a acção após a sua formatura e regresso da sua “longa viagem pela Europa”. Sintra e Olivais são espaços muito referidos, mas onde não se passa qualquer acção de relevo no romance. Os espaços interiores são descritos exactamente de acordo com as personagens. Os espaços interiores mais destacados são O Ramalhete, o quarto da Toca, a Vila Balzac e o consultório de Carlos.

Espaço Social:       

Cumpre um papel eminentemente crítico. O Jantar no Hotel Central é onde o herói, Carlos, contacta pela primeira vez com o meio social lisboeta, e em que é dada uma visão fortemente critica das limitações da mentalidade da sociedade portuguesa. As corridas de cavalos onde há a denuncia da mentalidade provinciana. O jantar em casa dos Gouvarinho em que se critica a mediocridade mental e a superficialidade das classes dirigentes. O episódio do jornal A Tarde em que se desmascara o parcialismo, o clientelismo partidário, a venalidade e a incompetência dos jornalistas da época. Sarau literário do teatro da Trindade, em que se criticam a superficialidade e a ignorância da classe dirigente. O Passeio final de Carlos e Ega em Lisboa, traduz o sentido de degradação progressiva e irremediável da sociedade portuguesa, para a qual não é visualizada qualquer saída airosa.

Simbolismo:  

 

Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda, em que o prazer se sobrepõe à racionalidade e aos valores morais. Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam a tragédia da relação. Ramalhete está simbolicamente ligado à decadência moral do Portugal da Regeneração. O percurso da família Os Maias, está relacionado com as modificações existentes no Ramalhete. Quando Afonso vive em Sta Olávia, após a morte de Pedro, está desabitado. Quando Afonso e Carlos se mudam para O ramalhete, este ganha vida, sendo agora símbolo de esperança e de vida. Mª Monforte e Mª Eduarda espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Afonso simboliza os valores morais e o liberalismo. Sendo assim, com a morte de Afonso da Maia, todos os princípios morais, que ainda existiam em Portugal, acabam. A morte instala-se no país.

A feição trágica de os Maias:  

A peripécia, súbita mutação dos sucessos, verifica-se quando Guimarães vê Maria Eduarda e revela, a identidade desta, a Ega, e quando Maria Eduarda descobre o terrível segredo. O reconhecimento, é progressivo, desenrola-se em 2 capítulos e entre as revelações passam-se dias. Ega ao saber do parentesco dos netos de Afonso fica desorientado e vai falar com Vilaça, que acaba por revelar a Carlos, e este a Afonso.

 

A catástrofe dá-se com a morte de Afonso, vítima inocente, e com a separação definitiva dos amantes. Destino: É personificado por Guimarães que irá desencadear a anagnórise (reconhecimento) e consequente tragédia. Praticamente desde o inicio da obra, se vêm fazendo referências ao destino.

3.

Ação N' Os Maias podemos distinguir dois níveis de ação: - a crõnica de costumes - ação aberta; - a intriga - ação fechada, que se divide em intriga principal e intriga secundãria. São, aliãs, estes dois nĩveis de ação, que justificam a existência de tĩtulo e subtítulo nesta obra. O tĩtulo - Os Maias - corresponde ã intriga, enquanto que o subtĩtulo - Episõdios da Vida Romântica - corresponde ã crõnica de costumes.

Na intriga secundãria temos: a histõria de Afonso da Maia - ẽpoca de reação do Liberalismo ao Absolutismo; a histõria de Pedro da Maia e Maria Monforte - ẽpoca de instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a histõria da infância e juventude de Carlos da Maia - ẽpoca de decadência das experiências Liberais. Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a desagregação da famĩlia - morte de Afonso e separação de Carlos e Maria Eduarda. Carlos ẽ o protagonista da intriga principal. Teve uma educação ã inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem pelo meio. A sua ligação amorosa foi comandada ã distância por uma entidade que se denomina destino. A ação principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragẽdia clãssica - peripẽcia, reconhecimento e catãstrofe. A peripẽcia verificou-se com as revelações casuais de Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; o reconhecimento, acarretado pelas revelações de Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catãstrofe consumada pela morte do avô e a separação definitiva dos dois amantes. Que a intriga era trãgica, jã o vinham anunciando inũmeros pressãgios de desgraça. Pedro da Maia recebeu uma educação ã portuguesa com imposição de uma devoção religiosa punitiva, fuga ao contacto direto com a natureza e o mundo prãtico. Quando Maria Monforte aparece em Lisboa, atrai-o como um ĩman; o casamento fez-se contra a vontade do pai de Pedro. Quando esta foge com Tancredo, Pedro acaba com a sua vida. O destino desta personagem foi totalmente condicionado pelos fatores naturalistas: a hereditariedade - mãe, e educação, ao contrãrio dos seus filhos, que não são influenciados por estes fatores naturalistas

Intriga 4.

Subtítulo “Episódios da vida romântica” foca a descrição de eventos recreativos da sociedade portuguesa da Regeneração, constituindo a crónica da costumes. 5. O título dá-nos a conhecer a história da família Maia ao longo das gerações de Afonso, Pedro e Carlos da Maia. A intriga principal é constituída pelo romance entre Carlos e Maria Eduarda; a intriga secundária de Pedro e Maria Monforte é necessária para construir a intriga central. A acção das intrigas é fechada porque não há possibilidade de continuação: Pedro suicida-se, Maria Monforte já morreu, Maria Eduarda e Carlos suicidam-se psicologicamente perdendo a capacidade de amar, e Afonso morre. 6. A temática do incesto desencadeia toda a intriga. 7. A crónica de costumes engloba os ambiente sociais, os figurantes e seus comportamentos, bem como as relações do protagonista Carlos, quer com o ambiente, quer com as personagens, pelo que os episódios são acções ainda que com duração limitada, é uma acção aberta porque cada episódio pode continuar. É fundamentalmente ao nível da intriga principal que surge a crónica de costumes, pelo que ambas se desenvolvem em paralelo. 8. O Jantar no Hotel Central proporcionou a Carlos a primeira visão de Mª Eduarda e o contacto com a sociedade de elite. A mentalidade retrógrada de Alencar e o calculismo e cinismo com que Cohen comenta a deterioração financeira são elementos marcantes da crise de uma geração e do próprio País. Através desta reunião da sociedade, Eça retrata uma cidade num esforço para ser civilizada, mas que não resiste e acaba por mostrar a sua impressão, a sua falta de civilização. As limitações ideológicas e culturais acabam por estalar o verniz das aparências quando Ega e Alencar depois de usarem todos os argumentos possíveis partem para ataques pessoais que culminam numa cena de pancadaria, mostrando o tipo de educação desta “alta” sociedade lisboeta que tanto se esforça por ser (ou parecer) digna e requintada, mas que no fundo é grosseira. 9. As corridas de cavalos são um desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e era considerado sinal de progresso. Uma sociedade burguesa que vive de aparências, com destaque para a assistência feminina. Critica-se ainda a falta de à-vontade das senhoras que não falavam umas com as outras e que para não desobedecerem às regras de etiqueta permaneciam no seu posto, mas constrangidas. 10. O jantar em casa do Conde Gouvarinho permite através da falas das personagens, observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia. As personagens emitem duas diferentes concepções sobre a educação da mulher. 11. Os episódios dos jornais critica a decadência do jornalismo português que se deixa corromper, motivado por interesses económicos (A Corneta do Diabo) ou evidenciam uma parcialidade comprometedora de feições políticas. No jornal A Corneta do Diabo havia sido publicada uma carta escrita por Dâmaso que insultava Carlos e expunha, a sua relação com Maria Eduarda; Palma Cavalão revela o nome do autor da carta e mostra aos dois amigos o original, escrito pela letra de Dâmaso, a troco de “cem mil réis”. A parcialidade do jornalismo da época surge quando Neves, director do jornal A Tarde, aceita publicar a carta na qual Dâmaso se retracta, depois da sua recusa inicial por confundir Dâmaso Salcede com o seu amigo político Dâmaso Guedes. 12. Nota-se que o público alto-burguês e aristocrata que assistia ao sarau é pouco culto. Capitulo I e II  Venda das propriedades  Remodelação do Ramalhete por Carlos Eduardo, que contracta um artista Inglês  Carlos acaba o seu curso de medicina em Coimbra e faz uma viagem pela Europa (1875)  Em 1875, no Outono, Afonso deixa Sta. Olávia e instala-se no Ramalhete História de Afonso da Maia: Filho de Caetano da Maia ( um absolutista profundo, apoiante de D. Miguel), foi desterrado em jovem para Sta Olávia, por se ter envolvido numa revolução liberal. Depois de uns tempos na Quinta, volta completamente modificado e decide ir viver para Inglaterra, mas com a morte do pai, regressa. É por esta altura que conhece Maria Eduarda Runa, uma mulher muito débil, por quem se apaixona e casa, e depois, têm Pedro. Com o absolutismo em Portugal, Afonso vê a sua casa de Benfica ser invadida pela polícia, e parte para o exílio em Inglaterra, com a mulher e o filho. Pedro é criado de uma forma muito romântica por vontade da mulher de Afonso, e devido à sua saúde muito fraca, Afonso decide não se impor às vontades da sua senhora, e assim contratam um padre português (porque Maria odiava Inglaterra), o padre Vasques, para educar o menino. O estado de saúde de Maria agrava-se e eles mudam-se para Itália, depois novamente para Portugal, para a Casa de Benfica, mas Maria Runa acaba por falecer.

História de Pedro da Maia: Típico menino da mamã, tornando-se um homem pequeno e nervoso, como a mãe. Nunca fora para a universidade, porque a mãe não o deixara e tivera uma educação completamente romântica. Passava os dias na farra, sem fazer nada e aos 19 anos, teve um bastardo. Com a morte da mãe, Pedro ficou de rastos, infelicíssimo, mas depois, conhece Maria Monforte por quem se apaixona. Apaixonado, Pedro decide casar com Maria, ainda quem Afonso o tenha proibido. Sai de casa, casa com Maria, e corta relações com o pai. Depois, Pedro e Maria viajam, por Itália, depois Paris e acabam por voltar para Lisboa, quando descobrem que Maria estava grávida. Nasce a primeira filha do casal, Maria Eduarda, que Maria Monforte adora. Maria começa a ter hábitos estranhos, como fumar com os homens á noite e conviver, hábitos estes que Pedro odiava e condenava, sentindo ciúmes. Afonso refugiase em Sta Olávia para evitar a família, convivendo alegremente com os amigos. Mais tarde, depois de Maria Eduarda fazer um ano, Maria Monforte tem outro filho, desta vez um menino, a quem dá o nome de Carlos Eduardo, devido a um romance que andava a ler. Um dia, quando Pedro regressa a casa, descobre que Maria fugiu com Tancredo, levando consigo a sua filha, Maria Eduarda, e deixando para trás Carlos. De rastos, Pedro vai ter com o pai e conta-lhe tudo, e os dois acabam por fazer as pazes. Afonso fica felicíssimo por conhece o neto, mas infeliz com o estado do filho. Sem aguentar, Pedro acaba por se suicidar, deixando Carlos Eduardo a cargo do avô. Afonso da Maia muda-se para Sta. Olávia para criar Carlos, e vende a Tojeira, casa de Pedro. Afonso cria Carlos, mas desta vez como sempre quis criar Pedro e a sua mulher nunca o deixara: uma educação à Inglesa, muito rígida, principalmente fisicamente. o

Capítulo III A infância de Carlos é passada em Santa Olávia, e é descrito um episódio onde se dá uma visita de Vilaça à quinta. Descreve-se a educação liberal de Carlos, com um professor Inglês que dá primazia ao exercício físico e as regras duras que Afonso impõe ao neto. É sobretudo um capítulo de contraste entre as educações tradicional (Eusebiozinho) e à inglesa (Carlos). Vilaça dá notícias de Maria Monforte e de sua filha a Afonso, e segundo ele a sua neta morrera em Londres. Alguns anos depois Carlos faz exame triunfal de candidatura à universidade.

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Capítulo IV Carlos descobre a sua vocação para Medicina e matriculou-se na Universidade de Coimbra. É sobretudo chegado a João da Ega, que estudava direito e era sobrinho de André da Ega, amigo de infância de Afonso. Ao fim desse tempo, Afonso esperava-o no Ramalhete, onde se iriam instalar (fim da grande analepse). Carlos tencionava montar um consultório e um laboratório em Lisboa, vontades que depressa satisfez com a ajuda do avô: o laboratório foi montado num velho armazém, e o consultório num primeiro andar em pleno Rossio. Carlos recebeu com alegria a visita do seu amigo Ega, que lhe anunciou que ia publicar o livro que andava a escrever havia já alguns anos – “Memórias de um Átomo” – que todos os que tinham ouvido falar esperavam com impaciência.

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Capítulo V Ega estava apaixonado por Raquel Cohen, que era, infelizmente, casada. Durante uma conversa entre Carlos e Ega, Ega propõe a Carlos conhecer a família Gouvarinho. Carlos aceita. Após a um encontro com estes amigos de Ega, Carlos não parava de pensar na Condessa Gouvarinho. Estava apaixonado. Este capítulo acaba com uma ida de Carlos com a família Gouvarinho à ópera, e durante esta ocasião, a condessa mostra-se interessada em Carlos.

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Capítulo VI Ega convida-se para jantar com Carlos e quando se prepara para sair, falam sobre a Gouvarinho e sobre o súbito desinteresse de Carlos pela senhora, após uma grande atracção. Esta atitude de Carlos para com as mulheres, era frequente e os dois conversam sobre o assunto. Na ida para o jantar, cruzam-se com Craft, amigo de Ega. Ega apresenta Carlos ao amigo. Ega faz questão que os dois amigos se conheçam melhor. Após alguns contratempos, Ega consegue marcar o jantar no Hotel Central com Carlos, Craft, Alencar, Dâmaso e Cohen. O jantar acaba e Alencar acompanha Carlos a casa, lamentando-se da vida, do abandono por parte dos amigos e falando-lhe de seu pai, de sua mãe e do passado. Carlos recorda como soubera a história dos seus pais : a mãe fugira com um estrangeiro levando a irmã, que morrera depois, o pai suicidara-se. Carlos, já em casa, antes de adormecer e enquanto aguarda um chá, sonha com a mulher deslumbrante, uma deusa, com quem se cruzou à porta do Hotel Central, enquanto aguardava com Craft os restantes amigos para o jantar.

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Capítulo VII A condessa Gouvarinho, com a desculpa que a filha se encontrava doente, procura Carlos no consultório. Carlos convida Cruges a ir a Sintra no dia seguinte, pois tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, que Maria Eduarda aí se encontrava na companhia de seu marido e de Dâmaso.

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Capítulo VIII

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Carlos da Maia e Cruges, vão visitar Sintra. A ideia é de Carlos que obriga Cruges a ir com ele. Esta viagem tem o propósito escondido por Carlos, de procurar um encontro fortuito coma Sra. Castro Gomes, que ele julgava em Sintra. Carlos já informado sobre o destino dos Castro Gomes, que haviam deixado Sintra na véspera, e Carlos decide voltar para Lisboa. Capítulo IX Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar no Sábado seguinte nos Gouvarinhos. Dâmaso aparece de repente, pedindo a Carlos para ver um doente "daquela gente brasileira", os Castro Gomes - a Rosa. Os pais tinham partido essa manhã para Queluz. Ao chegar ao Hotel, Carlos verifica que a pequena já estava óptima. Carlos dá uma receita a Miss Sara, a governanta.. Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos condes de Gouvarinho. Visita a Gouvarinho e dá-lhe um tremendo beijo, mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho.

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Capítulo X Passam-se 3 semanas. Carlos já estava farto da Gouvarinho e dos seus encontros às escondidas, e quer ver-se livre dela. Combina com o Dâmaso, no Ramalhete, levar os Castro Gomes aos Olivais, mas isto não se concretiza a ideia pois o sr. Castro Gomes partira para o Brasil em negócios. Chega o dia das corridas de cavalos. Anda tudo á briga, num rebuliço total! Lá nas corridas, encontra a Gouvarinho, que lhe propõe irem de comboio ate Santarém, uma vez que ela ia para o Porto (pois o seu pai estava mal), e dormiam no hotel em Santarém, e daí cada um seguia para o seu lado. Depois, fazem-se apostas; todos apostam em Minhoto, mas Carlos aposta em Vladimiro, que vence e Carlos ganha 12 libras, facto muito comentado. Encontra Dâmaso, que lhe informa que o Castro Gomes afinal tinha ido para o Brasil e deixara a mulher só por uns 3 meses. Discute com a Gouvarinho, mas acaba por aceder ao desejo do encontro em Santarém, mas agora apenas consegue pensar na mulher de Castro Gomes. Ao descobrir que ela vivia no prédio de Cruges, pois alugara a casa á mãe do Cruges, proprietária do prédio, Carlos vai à R. de S. Francisco com o pretexto de visitar o Cruges, mas ele não estava. Volta para o Ramalhete e lá descobre que tinha uma carta da Castro Gomes pedindo-lhe que a visite no dia seguinte, por ter "uma pessoa de família, que se achava incomodada".

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Capítulo XI Carlos vai visitar a Sra. Castro Gomes, e descobre o seu nome, Maria Eduarda. É a governanta, Miss Sara, que estava doente - tinha uma bronquite. Carlos conversa com Maria Eduarda, passa-lhe a receita e diz-lhe os cuidados que deve ter com Sara, dizendo que terá de observá-la diariamente. Nessa noite Carlos iria ter com a Sra. Gouvarinho para a fantástica noite em Santarém, mas Carlos começava a repudiála, a odiá-la. Por sorte, o Gouvarinho decidiu à última da hora ir com a mulher para o Porto, o que convém muito a Carlos, assim como a morte de um tio de Dâmaso em Penafiel, deixando-lhes os "entraves" fora de Lisboa. Nas semanas seguintes, Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, graças à doença de Miss Sara. Falam ambos das suas vidas e dos seus conhecidos. Dâmaso volta de Penafiel e vai visitar Maria Eduarda. Ao chegar lá vê Carlos com "Niniche" (a cadela de Maria) ao colo, que lhe rosna e ladra - Dâmaso fica zangado e cheio de ciúmes.

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Capítulo XII O conde Gouvarinho convidou-os para jantar na próxima 2ª feira. Depois, nesse jantar, a Gouvarinho zangada com Carlos e com ciúmes da sua proximidade com Maria Eduarda, passa o tempo a mandar-lhe indirectas. Na 3ª feira, depois de um encontro escaldante com a Gouvarinho na casa da sua titi, Carlos chega atrasado à casa de Maria Eduarda". No meio da conversa, Domingos anuncia Dâmaso e Maria Eduarda recusa-se a recebê-lo - Dâmaso fica furioso. Maria fala a Carlos sobre uma possível mudança de casa (e ele pensa logo na casa do Craft, decidindo comprála para ela). Carlos deixa escapar que a "adora" depois de uma troca de olhares, beijam-se. Na 4ª feira, Carlos conclui o negócio da casa com o Craft. Ega, mostra-se insultado pelo segredo que Carlos faz de tudo, mas este acaba por lhe contar que se apaixonou e envolveu com Maria Eduarda.

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Capítulo XIII Ega informa a Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo a ele e a Maria Eduarda. Carlos fica furioso, querendo matá-lo e ao encontrá-lo na rua, ameaça-o. No sábado, Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais. Depois da visita e do almoço, Carlos e Maria Eduarda envolvem-se. Descobre-se que Dâmaso estava a namorar a Cohen. Depois a Gouvarinho aparece querendo falar com Carlos acabam por discutir sobre a ausência de Carlos e depois terminam tudo.

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Capítulo XIV

Afonso parte para Sta. Olávia e Carlos fica sozinho no Ramalhete, pois Ega parte para Sintra (e curiosamente os Cohen também). Maria Eduarda instala-se nos Olivais, e Carlos passa a frequentar a casa todos os dias, e eles pretendem fugir até Outubro para Itália e casar lá, mas Carlos pensa no desgosto que dará ao avô (porém a sua felicidade supera). Chega Setembro. Craft, regressado de Sta. Olávia para o Hotel Central, diz a Carlos que pareceu-lhe estar o avô desgostoso por Carlos não ter aparecido por lá. Então, Carlos decide ir visitar Afonso, mas antes leva Maria a visitar o Ramalhete (e Maria Eduarda refere que às vezes Carlos faz-lhe lembrar a sua mãe e conta-lhe a sua história - a mãe era da ilha da Madeira que casara com um austríaco e que tinha tido uma irmãzinha, que morrera em pequena). Uma semana depois Carlos regressa de Sta Olávia e fala com Ega que voltara de Sintra. Nessa noite, Castro Gomes aparece no Ramalhete, com uma carta anónima que lhe tinham mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher tinha um amante, Carlos da Maia. Carlos fica estupefacto, e acaba por perceber que era a letra de Dâmaso. Depois, Castro Gomes conta-lhe que não é marido de Maria Eduarda, nem pai de Rosa, e que apenas vivia amigado com ela. Diz-lhe também que se vai embora, e que Maria Eduarda se chama Madame Mac Gren. Furioso pela mentira de Maria, Carlos decide ir confrontá-la. Ao entrar, sabe por Melanie, a criada, que o Castro Gomes já lá tinha estado. Maria Eduarda, a chorar, pede perdão a Carlos de não lho ter contado, pois tinha medo que ele a abandonasse, e conta então a verdadeira história da sua vida. Depois de uma grande cena de choro, Carlos pede-a em casamento. o

Capítulo XV Dias depois, Carlos conta tudo o que se passara a Ega que lhe diz que seria melhor esperar que o avô morresse para então se casar, pois Afonso estava velho e débil e não aguentaria o desgosto. Afonso regressa de Sta. Olávia, Carlos abandona a casa que alugara perto dos Olivais e Maria Eduarda volta para o apartamento da mãe de Cruges na Rua de S. Francisco, deixando a Toca.

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Capítulo XVI Carlos e Ega vão ao sarau da Trindade ouvir o Cruges e o Alencar, que nessa noite vão lá estar. Ega conhece Mr. Guimarães, o tio de Dâmaso que vivia em Paris e trabalhava no jornal, que lhe viera pedir explicações sobre a carta que Dâmaso escrevera, que lhe disse ter sido Ega a obrigá-lo a fazer. Ega e Guimarães acabam por resolver tudo e ficam amigos. Mais tarde, quando Ega se ia embora, Guimarães aparece dizendo lhe que tem um cofre da mãe de Carlos para entregar à família, que esta lhe tinha pedido antes de morrer. No meio da conversa, Ega descobre que Carlos tem uma irmã, e Guimarães diz tê-los visto aos três numa carruagem: Carlos, Ega e a irmã, Maria Eduarda. Depois, Guimarães conta a Ega o passado de M.ª Monforte inclusive a mentira que ela dissera a Maria Eduarda sobre o seu pai, e diz que Maria é filha de Pedro da Maia, pois ele era amigo da família e nessa atura já os visitava. Fala também da fuga da Monforte com Tancredo, da filha que eles tiveram e morreu em Londres, e depois, da vida de Maria Eduarda no convento, que ele próprio a visitara. Guimarães entrega o cofre a Ega, que chocado com a verdade, decide pedir ajuda a Vilaça para contar tudo a Carlos.

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Capítulo XVII Ega procura Vilaça e conta-lhe tudo. Juntos, abrem o cofre da Monforte e acham lá uma carta dela para Maria Eduarda onde diz toda a verdade: ela é filha de Pedro da Maia. No dia seguinte, Vilaça e Ega contam a verdade a Carlos, que não acredita no que lhe contam, e aflito, procura o avô e conta-lhe tudo, com esperança que este lhe desminta a história. Mas Afonso acaba por confirmar, e em segredo diz a Ega que sabe que Carlos tem um caso com Maria Eduarda. Apesar de já saber a verdade, nessa noite Carlos vai ter com Maria Eduarda; primeiro pensara em dizer-lhe tudo e depois fugir para Sta. Olávia, mas depois, incapaz, acaba por deixar-se levar por ela e ali ficar. Continuava a ama-la, e o facto de serem irmão não mudava o que ele sentia. Afonso da Maia sabe que Carlos continua a encontrar-se com Maria Eduarda, e fica desolado. Ega furioso com o comportamento de Carlos, confronta-o e ele decide partir no dia seguinte para os Olivais. No dia seguinte, Baptista (o seu criado) chama-o, dizendo a Carlos que o avô estava desmaiado no jardim. Carlos corre lá vê o avô estava morto Carlos culpa-se a si mesmo da morte do avô, pois achava que era pelo avô saber tudo que tinha morrido. Ega escreve um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Carlos parte para Sta. Olávia, pedindo a Ega para ir falar com Maria Eduarda e lhe contar tudo e dizer-lhe que parta para Paris, levando 500 libras. Ega fala com Maria Eduarda, que parte no dia seguinte para Paris, para sempre.

o

Capítulo XVIII Passam-se semanas. Sai na "Gazeta Ilustrada" a notícia da partida de Carlos e Ega numa longa viagem pelo mundo. Um ano e meio depois Ega regressa trazendo consigo a ideia de escrever um livro e contando que Carlos ficara em Paris, onde alugara um apartamento, pois não queria mais lembrar a Portugal No Ramalhete, a maior parte das decorações (tapetes, faianças, estátuas) já tinham ou estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos vivia agora, e que lá se guardavam os móveis e outros objectos trazidos da Toca. Carlos relembra Maria Eduarda e conta a Ega que recebera uma carta dela. Ia casar com um tal de Mr. de Trelain, decisão tomada ao fim de muitos anos, e que tinha comprado uma quinta em Orleães. Carlos encara este casamento de Maria Eduarda como um final, uma conclusão da sua história, era como se ela morresse, como se a Maria Eduarda deixasse de existir e passasse apenas a haver a Madame de Trelain. Ega e Carlos dizem que não vale a pena viver, pois a vida é uma treta. Por mais que tentemos lutar para mudá-la, não vale a pena o esforço, porque tudo são desilusões e poeira.

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4. ESPAÇO Espaço Físico Exteriores A maior parte da narrativa passasse em Portugal, mais concretamente em Lisboa e arredores. Em Santa Olãvia passasse a infância de Carlos e ẽ tambẽm para lã que este foge quando descobre a sua relação incestuosa com a irmã. Em Coimbra passam-se os estudos de Carlos e as suas primeiras aventuras amorosas. Ẽ em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exĩlio; ẽ em Lisboa que sucedem os acontecimentos capitais da vida de Pedro da Maia; e ẽ tambẽm lã que decorre a vida de Carlos que justifica o romance - a sua relação incestuosa com a irmã. O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir ã intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itãlia e em Paris devido ã recusa deste casamento pelo pai de Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O prõprio resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris. Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vãrios encontros, quer relativos ã crõnica de costumes, quer ã relação amorosa dos protagonistas. Subsistem ainda hoje, alguns dos locais retratados n' Os Maias. Interiores Vãrios são

os espaços interiores

referidos n'

Os Maias, destacamos os

mais

importantes.

No Ramalhete podemos encontrar: o salão de convĩvio e de lazer, o escritõrio de Afonso, que tem o aspeto de uma "severa câmara de prelado", o quarto de Carlos, "como um ar de quarto de bailarina", e os jardins. A ação desenrola-se tambẽm na vila Balzac, que reflete a sensualidade de João da Ega. Ẽ referido tambẽm na obra, o luxuoso consultõrio de Carlos que revela o seu diletantismo e a predisposição para a

sensualidade.

A Toca ẽ tambẽm um espaço interior carregado de simbolismo, que revela amores ilĩcitos. São ainda referidos outros espaços interiores de menor importância como o apartamento de Maria Eduarda, o Teatro da Trindade, a casa dos Condes de Gouvarinho, o Grẽmio, o Hotel Central os hotẽis de Sintra, a redação d' A Tarde e d' A Corneta do Diabo, etc. Espaço Social O espaço social comporta os ambientes (jantares, chãs, soirẽs, bailes, espetãculos), onde atuam as personagens que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia. Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olãvia, a Toca, as

corridas do Hipõdromo, as reuniões na redação de A Tarde, o Sarau Literãrio no Teatro da Trindade ambientes fechados de preferência, por razões de elitismo. O espaço social cumpre um papel puramente crĩtico.

Espaço Psicológico O espaço psicolõgico ẽ constituĩdo pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior densidade dramãtica. Ẽ sobretudo Carlos, que desvenda os meandros da sua consciência, ocupando Ega, tambẽm, um lugar de relevo. Destacamos, como espaço psicolõgico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda; visão do Ramalhete e do avô, apõs o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim. Quanto a Ega, reflexões e inquietações apõs a descoberta da identidade de Maria Eduarda. O espaço psicolõgico permite definir estas personagens como personagens modeladas.

5. O TEMPO Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrãrio, uma estrutura complexa na qual se integram vãrios "tipos" de tempos: Tempo Histórico | Tempo do Discurso | Tempo Psicológico

Tempo Histórico Entende-se por tempo histõrico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, refletindo atẽ acontecimentos cronolõgicos histõricos do paĩs. N'Os Maias, o tempo histõrico ẽ dominado pelo encadeamento de três gerações de uma famĩlia, cujo ũltimo membro (Carlos), se destaca relativamente aos outros. A fronteira cronolõgica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos. Tempo do Discurso Por tempo do discurso entende-se aquele que se deteta no prõprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido. Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluĩda a sua viagem de um ano pela Europa, apõs a formatura, veio, com o avô, instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse, o narrador vai, atẽ parte do capĩtulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exĩlio de Afonso da Maia (avô), educação, casamento e suicĩdio de Pedro (pai), e ã educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da histõria que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutõria que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 pãginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo histõrico ẽ muito mais longo do que o tempo do discurso. Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histõrico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 pãginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada. O ũltimo capĩtulo ẽ uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa. Tempo Psicológico O tempo psicolõgico ẽ o tempo que a personagem assume interiormente; ẽ o tempo filtrado pelas suas vivências subjetivas, muitas vezes carregado de densidade dramãtica. Ẽ o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espĩrito em que se encontra. No romance, embora não muito frequente, ẽ possĩvel evidenciar alguns momentos de tempo psicolõgico nalgumas personagens:

Pedro da Maia, por exemplo, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, jã no final de livro, apõs a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. Ẽ o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes vermelhos...". O tempo psicolõgico introduz a subjetividade, o que põe em causa as leis do naturalismo.

A CRĨTICA SOCIAL A crõnica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do sẽc. XIX desenvolve-se num certo tempo, projeta-se num determinado espaço e ẽ ilustrada por meio de inũmeras personagens intervenientes em diferentes episõdios. Lisboa ẽ o espaço privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da ação. O carãcter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade, concentrar, dirigir e simbolizar toda a vida do paĩs. Lisboa ẽ mais do que um espaço fĩsico, ẽ um espaço social. Ẽ neste ambiente monõtono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a crĩtica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais, representantes de ideias, mentalidades, costumes, polĩticas, conceções do mundo, etc. Vãrios são os episõdios utilizados pelo autor para mostrar a vida da alta sociedade lisboeta. Destacamos os mais importantes:

      

O Jantar do Hotel Central A Corrida de Cavalos A imprensa O jantar dos Gouvarinho O Sarau do Teatro da Trindade O Episódio Final: passeio de Carlos e João da Ega A Educação

O Jantar do Hotel Central (Crĩtica Social) Neste jantar, desfilam as principais figuras proporcionando a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta. Este jantar, pretende homenagear o banqueiro J. Cohen; apresentar a visão crĩtica de alguns problemas; e proporcionar a Carlos a visão de Maria Eduarda. Discute-se, neste jantar, a Literatura e a crĩtica literãria, em que Tomãs de Alencar, opositor do realismo/naturalismo, revela incoerência condenando no presente, o que cantara no passado. Refugia-se na moral por não ter mais argumentos. Acha o realismo/naturalismo imoral. Ẽ um desfasado do seu tempo, defende a crĩtica literãria de natureza acadẽmica. Este opõe-se a João da Ega, defensor da escola realista/naturalista. Ega exagera e defende o cientificismo na literatura. Não distingue ciência e literatura. Nesta discussão entram tambẽm, Carlos e Craft, recusando simultaneamente o ultra-romantismo de Alencar e o exagero de Ega. Craft defende a arte como idealização do que de melhor hã na natureza,

defende a arte pela arte. O narrador concorda com ambos. As finanças são tambẽm um tema debatido neste jantar. O paĩs tem necessidade dos emprẽstimos ao estrangeiro. Cohen demonstra o seu calculismo cĩnico quando, ao ter responsabilidades pelo seu cargo, afirma que o paĩs vai direitinho para a banca rota. Outro tema tambẽm focado ẽ a histõria e a polĩtica, cujos intervenientes são Ega e Alencar. O primeiro, aplaude as afirmações de Cohen, defende uma catãstrofe nacional como forma de acordar o paĩs. Afirma que a raça portuguesa ẽ a mais covarde e miserãvel da Europa. Aplaude a instalação da repũblica e a invasão espanhola. Alencar, por sua vez, teme a invasão espanhola e defende o romantismo polĩtico, esquecendo o adormecimento geral do paĩs. Cohen afirma que Ega ẽ um exagerado e que nas camadas polĩticas ainda hã gente sẽria. Dâmaso diz que se acontece-se a invasão espanhola fugiria para Paris. Deste jantar sobressai a falta de personalidade de Ega e Alencar, que mudam de opinião quando Cohen quer (saliente-se que Ega era amante da sua esposa), e de Dâmaso, que foge de tudo. Sobressai, tambẽm, a falta de cultura e civismo (Ega e Alencar quase chegam a vias de facto), que domina as classes mais destacadas, exceto Carlos e Craft. A Corrida de Cavalos (Crĩtica Social) Os objetivos deste episõdio são: o contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o rei; uma visão panorâmica desta sociedade sobre o olhar crĩtico de Carlos; tentativa frustrada de igualar Lisboa ãs demais capitais europeias; denunciar o cosmopolitismo postiço da sociedade. A visão caricatural ẽ dada pelo espaço do Hipõdromo: parecendo um arraial; as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares e as senhoras traziam vestidos de missa. O buffett tinha um aspeto nojento. As corridas terminaram grotescamente e a primeira corrida terminou mesmo numa cena de pancadaria. Ressaltamos deste episõdio, o fracasso dos objetivos das corridas, o atraso da sociedade lisboeta e a sua falta de civismo. O Jantar dos Gouvarinhos (Crĩtica Social) O objetivo deste jantar ẽ reunir a alta burguesia e aristocracia, apresentando a ignorância das classes dirigentes que revelam incapacidade de diãlogo por manifesta falta de cultura. Gouvarinho e Sousa Neto discutem. O primeiro, que vai ser ministro, revela imensa ignorância, não compreendendo a ironia de Ega. Ẽ retrogrado e tem lapsos de memõria. Sousa Neto desconhece o sociõlogo Proudhon, ẽ deputado, não entra nas discussões e acata pacificamente as opiniões alheias. Defende a imitação do estrangeiro. A Imprensa (Crĩtica Social) A Imprensa ẽ tambẽm largamente criticada por meio de vãrios sucedidos. Eça pretende descrever a situação do jornalismo português, confrontando-a com a situação do paĩs. Dois jornais são alvo de crĩtica - A Tarde e A Corneta do Diabo. Esta ũltima, cujo diretor ẽ o imoral

Palma Cavalão, tem uma redação imunda. Ẽ este jornal, que publica o artigo de Dâmaso por dinheiro, mas acaba por vender todo esse n.o do jornal a Carlos, tambẽm por dinheiro. As suas publicações são, assim, de baixo nĩvel. A Tarde, cujo diretor ẽ o deputado Neves, serve-se da carta de retratação de Dâmaso, como meio de vingança contra o inimigo polĩtico. Este jornal pũblica apenas artigos dos seus correligionãrios polĩticos. Assim, Eça pretende denunciar o baixo nĩvel, a intriga suja, o compadrio polĩtico, desses jornais que considera espelhos do paĩs. O Passeio de Carlos e João da Ega (Crĩtica Social) Este episõdio ẽ o epĩlogo do romance. 10 anos depois, e quando Carlos visita Lisboa, vindo de Paris. Este passeio ẽ simbõlico, por isso, os espaços percorridos são espaços histõricos e ideolõgicos, estes podem agrupar-se em três conjuntos. No primeiro domina a estãtua de Camões que, triste, representa o Portugal herõico, glorioso mas perdido, e desperta um sentimento de nostalgia. A estãtua estã envolvida numa atmosfera de estagnação, tal como o paĩs. No segundo conjunto, dominam aspetos ligados ao Portugal absolutista. Ẽ a zona antiga da cidade, os bairros antigos representam a ẽpoca anterior ao Liberalismo, o tempo absolutista, recusado por Carlos por causa da sua intolerância e do seu clericalismo, que levam a que toda a sua descrição seja depreciativa. No terceiro conjunto, domina o presente, o tempo da Regeneração, como ẽ o caso do Chiado e dos Restauradores, sĩmbolos de uma tentativa falhada de reconstrução do paĩs, e a provã-lo estã o ambiente de decadência e amolecimento que cerca o obelisco. O Ramalhete integra-se neste conjunto, tambẽm ele atingido pela destruição e pelo abandono. Pode funcionar como sinẽdoque da cidade e do paĩs. A Educação (Crĩtica Social) A crĩtica ã educação ẽ feita atravẽs do paralelismo entre três personagens - Pedro da Maia, recetor de uma educação ã portuguesa, retrograda e com uma imposição rĩgida de devoção religiosa, aprendizagem do latim com prãticas pedagõgicas fossilizadas. Fuga ao contacto direto com a natureza e o mundo prãtico. Carlos da Maia, fruto de uma educação ã inglesa, onde se privilegiava o contacto com a natureza, o exercĩcio fĩsico, a aprendizagem de lĩnguas vivas, o desprezo pelos valores pessimistas e por um conhecimento meramente teõrico. Eusẽbiozinho, com uma educação retrograda e ultra-romântica, muito religiosa, que o tornou fisicamente dẽbil, apãtico e corrupto. De salientar que as três personagens falharam na vida. Os Maias estáo incrivelmente repletos de símbolos.

Afonso da Maia ẽ uma figura simbõlica - o seu nome ẽ simbõlico, tal como o de Carlos - o nome do ũltimo Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irã ser o ũltimo Maia - note-se a ironia em forma de pressãgio. No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassõis) mostram a importância "da terra e da provĩncia" no passado da famĩlia Maia. A "gravidade clerical do edifĩcio" demonstra a influência que o clero teve no passado da famĩlia e em Portugal. Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do paĩs) para uma nova etapa - ẽ o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos ẽ um sĩmbolo da Geração de 70, tal como o ẽ Ega. Tal como o paĩs, tambẽm eles caĩram no "vencidismo". No ũltimo capĩtulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de tragẽdia e frustrações, estã muito relacionado com o modo como Eça via o paĩs, em plena crise do regime. O quintal do Ramalhete, tambẽm sofre uma evolução. O fio de ãgua da cascata ẽ sĩmbolo da eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz. A estãtua de Vẽnus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte, no final a sua presença obscura na quintal ẽ uma vaga premonição da tragẽdia. Ela marca o inĩcio e o fim da ação principal. No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada ẽ um sĩmbolo e pressãgio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carãcter trãgico, a profanação das leis humanas e cristãs. Tambẽm o armãrio do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trãgica. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrĩcolas o trabalho: qualidades que existiram um dia na famĩlia (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e todos. No final um partiu o seu pẽ de cabra e o outro a flauta bucõlica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrĩlego dos faunos a tudo quanto era excelso e sublimado na tradição dos antepassados. No final, a estãtua de Camões ẽ o sĩmbolo da nostalgia do passado mais recuado. Não ẽ difĩcil lermos o percurso da famĩlia Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No inĩcio o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se sĩmbolo da esperança e da vida, ẽ como que um renascimento; finalmente, a tragẽdia abate-se sobre a famĩlia e eis a cascata chorando, deitando as ũltimas gotas de ãgua, a estãtua coberta de ferrugem; tudo tem um carãcter funẽreo. O cedro e o cipreste, são ãrvores que pela sua longevidade, significam a vida e a morte, foram testemunhas das vãrias gerações da famĩlia. A morte instala-se nesta famĩlia. No Ramalhete todo o mobiliãrio degradado e disposto em confusão, todos os aposentos melancõlicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no paĩs. A Toca ẽ o nome dado ã habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o carãcter animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lã vão, Carlos introduz a chave no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das relações incestuosas; da Segunda vez ambos a experimentam - a chave torna-se, portanto, o sĩmbolo da mũtua aceitação e entrega.

Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam o carãcter trãgico, a profanação das leis humanas e cristãs. Os Maias estão tambẽm, povoados de sĩmbolos cromãticos: a cor vermelha tem um carãcter duplo, Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a sensibilidade ã sua volta; espalham a morte. O vermelho ẽ, portanto, o sĩmbolo da paixão excessiva e destruidora. O vermelho da vila Balzac ẽ muito intenso, indicando a dimensão essencialmente carnal e efẽmera dos encontros de amor de Ega e Raquel Cohen O tom dourado estã tambẽm presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o Outono), a proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, sĩmbolo de uma paixão possessiva e destruidora. Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o humano, a aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza. Constatamos que a simbologia d'Os Maias possui uma função claramente pressagiosa da tragẽdia. A Mensagem d'Os Maias A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção iminentemente crĩtica. Ẽ atravẽs do paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia -, que Eça concretiza a sua intenção. Note-se que ambos, apesar de terem tido educações totalmente diferentes, falharam na vida. Pedro falha com um casamento desastroso, que o leva ao suicĩdio; Carlos falha com uma ligação incestuosa, da qual sai para se deixar afundar numa vida estẽril e apagada, sem qualquer projeto seriamente ũtil, em Paris. Por outro lado, estas duas personagens, representam tambẽm ẽpocas histõricas e polĩticas diferentes. Pedro, a ẽpoca do Romantismo, e seu filho, a Geração de 70 e das Conferências do Casino, geração potencialmente destinada ao sucesso.. Mas não foi isso que sucedeu e ẽ este facto que o escritor pretende evidenciar com o episõdio final - o fracasso da Geração dos Vencidos da Vida. Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes correntes estẽtico-literãrias. Fracasso este que parece dever-se, não ãs correntes em si, mas ãs caracterĩsticas do povo português - a predileção pela forma em detrimento do conteũdo, o diletantismo que impede a fixação num trabalho sẽrio e interessante, a atitude "romântica" perante a vida, que consiste em desculpar sistematicamente, os prõprios erros e falhas, e dizer "Tudo culpa da sociedade". Os Maias – Estẽtica Os Maias distinguem-se no quadro da literatura nacional, não sõ pela originalidade do tema, mas tambẽm pela destreza e mestria com que o autor conta o romance. De facto, tanto a crĩtica social, como a intriga amorosa são valorizadas pelo rigor e beleza dos vocãbulos utilizados. Por exemplo, o impressionismo, bem patente, caracteriza-se pela frequência de construções impessoais, uma vez que o efeito ẽ percecionado independentemente da causa, ficando, portanto, o sujeito para segundo plano; perceções de tipo diferente traduzindo ironia; frequência da hipãlage (transposição de um atributo de gente para a ação). Relativamente aos substantivos e adjetivos, a obra de Eça contem muito mais adjetivos do que substantivos.

Ẽ frequente o contraste substantivo concreto qualificado com um adjetivo abstrato ou vice-versa. Os adjetivos tem uma função musical e rĩtmica completando a linha melõdica da frase. O advẽrbio toma, em Eça, funções de atributo e a sua ação alcança o sujeito ou o objeto. Assim, Eça ampliou o nũmero de advẽrbios de modo que a linguagem proporcionava, derivando-os dos adjetivos. O verbo oferece a alternância dos seus sentidos - prõprio ou figurado, e o escritor tem de escolher um ou outro. Estes podem invocar conceitos subjetivos mũltiplos sem deixarem, por isso, de descrever aspetos das coisas. Eça utiliza o estilo indireto livre. Este tipo de discurso permitia-lhe: libertar a frase dos verbos muito utilizados e da correspondente conjugação integrante (ex.: disse que); permitia-lhe, tambẽm, aproximar a prosa literãria da linguagem falada; conseguia impersonalizar a prosa narrativa dissimulando-se por detrãs das suas personagens. N' Os Maias, existem em maior ou menor grau todos os nĩveis de linguagem. Da linguagem familiar ã linguagem infantil, popular e tambẽm neologismos (ex.: Gouvarinhar). Esta obra ẽ muito rica em figuras de estilo, o que lhe concede um cunho particularmente queirosiano. Aliterações, adjetivações, comparações, personificações, enchem Os Maias do inĩcio ao final da obra.

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