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  • Pages: 241
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação

• •

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes

Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual

José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação



Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

• •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

• •

Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de

trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões.

Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança

mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o

tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos

da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar

pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As

descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem

um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar,

contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.

TEXTOS

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação



Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

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Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

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Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos

desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de

comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico

da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua

especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!.

Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da

Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em

rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para

serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de

estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA

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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a

estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).

"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg

�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam

para concepções e terminam com ideias� Kant

"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz

1.Ensinar não é uma ciência Vou

dar-vos

conta

de

algumas

das

minhas

opiniões

acerca

do

processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.

As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar

disso,

enquanto

opiniões

pessoais,

elas

podem

ser

irrelevantes

razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo

se

factos

o

ensino

pudesse

ser

completamente

regulamentado

por

e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar

não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação

com

aprender.

O

estudo

experimental

e

teórico

da

aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e

intensa.

Mas

existe

uma

diferença.

Estamos

principalmente

preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.

2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se

não

concordarmos,

até

certo

ponto,

àcerca

do

objectivo

do

ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.

Esta

é

em

mim

uma

convicção

firme.

Podem

não

concordar

inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,

podem

encará-lo

como

um

objectivo

secundário

e

teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.

"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não

deve

simplesmente

transmitir

informação

mas

também

tentar

desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de

pensamento

desejáveis.

Este

objectivo

precisa

certamente

de

maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior

explicação)

mas

neste

caso

vai

ser

suficiente

enfatizar

apenas dois aspectos.

Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max

Wertheimer).

identificadas, "resolução

Tais

pelo

de

formas

menos

exercícios".

de

numa Em

"pensamento"

primeira

qualquer

podem

abordagem,

caso

um

dos

ser

com

a

principais

objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.

Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,

mas

também

com

muitas

outras

coisas:

generalização

a

partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por

analogia,

extracção

a

reconhecimento partir

de

de

conceitos

situações

matemáticos,

concretas.

O

ou

professor

sua de

matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus

alunos

"informais".

estes O

que

importantíssimos quero

dizer

é

processos

de

que

utilizar

deve

pensamento esta

oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.

3. Ensinar é uma arte Ensinar

não

é

uma

ciência

mas

uma

arte.

Esta

ideia



foi

expressa

por

envergonhado

tantas por

pessoas,

a

repetir.

tantas

vezes,

Contudo,

se

que

me

deixarmos

sinto uma

até

certa

generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.

Ensinar teatral.

tem

Por

obviamente

exemplo,

muita

coisa

imaginemos

que

em um

comum

com

a

professor

tem

arte de

apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e

exultante

representar

quando um

a

pouco

demonstração para

bem

dos

terminar. seus

O

alunos

professor que,

em

deve

alguns

casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através

do

conteúdo

apresentado.

Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri

no passado este ou aquele aspecto.

Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando

à

formulação

original

simples.

Outra

forma

de

arte

musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas

alterações,

mas

inserindo

entre

duas

repetições

algum

material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.

O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar

para

um

grupo

de

físicos

numa

festa.

"Porque

é

que

os

electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético

Nada

ou

é

demasiado

demasiado

bom

trivial

ou

demasiado

para

mau,

clarificar

demasiado as

nossas

abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.

4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é

diferente Qualquer

de

estratagema

qualquer eficiente

outro para

ensinar

professor. deve

estar

correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.

Não

sabemos

muito

acerca

do

processo

de

aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A

formulação

e

combinação

desses

prioncípios

é

da

minha

responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo

algum

novos.

Têm

sido

afirmados

e

reafirmados

de

várias

formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo

parecer

psicologia

de

da

grandes

homens

e

aprendizagem.Estes

sugeridos "princípios

pelos de

estudos

da

aprendizagem"

também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.

(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se

consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir

palestras

ou

assistir

a

filmes,

sem

adicionar

nenhuma

acção

intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido

como

escritor

de

aforismos)

acrescenta

um

aspecto

importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que

se

tiver

abrangente,

é

necessidade. a

Menos

formulação

colorida,

seguinte:

Para

mas

talvez

mais

uma

aprendizagem

eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for

possível

do

conteúdo

a

aprender,

tendo

em

conta

as

circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".

(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.

Porém,

quando

não

podemos

obter

o

melhor

devemos

tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual

não

devemos

esquecer

motivos

da

aprendizagem

menos

intrínsecos. Para

uma

aprendizagem

eficiente,

o

aprendiz

devia

estar

interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da

aprendizagem.

existem

outros

aprender

é,

Deixem-me

Mas,

além

motivos,

destes

alguns

bons

motivos

desejáveis.

possivelmente,

o

chamar

afirmação

a

esta

motivo

para

aprender,

(Punição menos

por

não

desejável).

princípio

da

melhor

motivação.

(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:

"Todos

os

conhecimentos

humanos

começam

por

intuições,

avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para

desejáveis. começar

conceitos

desta

pense, frase

de

por tal

favor, modo

em que

significados os

consiga

para

os

ilustrar

concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como

aluno,

"Aprendizagem" quer

como

recorda-lhe

professor.

uma

"Acção

turma e

consigo,

percepção"

quer

sugerem

manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou

régua

e

compasso;

ou

instrumentos

laboratoriais;

e

por



adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,

algum

similares

tempo

no

complexos,

depois,

trabalho

mais

despendido

avançados.

exploração,

podemos

aperceber-nos

a

dominar

Deixem-me

fases

materiais

distinguir

formalização

de

três

e

mais fases:

assimilação.

A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da

percepção

e

desenrola-se

a

nível

mais

intuitivo,

mais

heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma

fase

exploratória

deve

preceder

a

fase

de

verbalização

e

formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se

e

contribuir

para

a

atitude

mental

essencial

do

aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.

5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,

pode

analisar: melhor

o

dar

bom

uso

princípio

motivação,

e

o

da

aos

três

princípios

aprendizagem

princípio

das

activa, fases

que

acabámos

de

o

princípio

da

consecutivas.

Como

vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir

dizer.

Deve

entendê-lo

intimamente,

com

base

na

sua

importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.

Mas,

importante.

As

professor

o

que

ideias

devia

os

alunos

deviam

pensam

nascer

agir

na

apenas

é

mil

vezes

mais

mente

dos

alunos

e

como

uma

o

parteira.

Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele

melhor

se

secundário

adapta

tem

é

o

diálogo

definitivamente

Socrático.

O

vantagem

em

uma

professor

do

relação

ao

professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado

e

Infelizmente,

existem

mesmo

conteúdos

no

secundário,

pré-estabelecidos

o

para

tempo

é

leccionar.

Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por

si Tenho

próprios a

normalmente

tanto

certeza se

faz.

que

é

quanto

possível

Deixem-me

for

fazer

recomendar-vos

possível.

muito um

mais

pequeno

do

que

truque

prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do

problema

que

eles

terão

de

resolver

posteriormente.

Se

os

alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo

mais

activamente.

De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,

permitindo

que

os

alunos

participem

na

formulação,

o

professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.

(2) Melhor motivação O

professor

objectivo

é

deve vender

olhar alguma

para

si

como

matemática

um aos

comerciante: mais

novos.

o Se

seu o

comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática.

O

correcto.

rapaz

Pode

que

não

recusa

ser

aprender

preguiçoso

nem

matemática

pode

estar

estúpido,

apenas

mais

interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,

convencer

o

aluno

de

que

a

matemática

é

interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema

que

é

suposto

resolver

merece

o

seu

esforço.

Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias

dos

alunos,

e

deve

ser

introduzido

através

de

uma

brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos

muito

familiares.Deve

conter,

se

possível,

um

aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele

suspeitar

que

a

tarefa

merece

o

seu

esforço.

A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem

outras

motivações

que

não

devem

ser

negligenciadas.

Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente

para

saber

se

o

seu

palpite

está

certo

ou

não

e,

portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho

da

turma.

Não

irá

adormecer

ou

portar-se

mal.

De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.

(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas

saltam

duas

importantes

fases

da

aprendizagem:

a

fase

exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução

conhecimentos, formal.

relacionado

com

a

Porém, a

regra

primeira o

antes

problema que

e

de

ilustra

a

segunda

rotina e

pouco

está

depois

da

obviamente

relacionado

com

quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais

conexões. Em

contraste

com

estes

problemas

de

rotina,

a

escola

secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.

(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de

uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.

6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.

Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.

(1) Um problema do ensino básico -

A forma de arte fundamental

do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão

horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário

de

Este."

" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,

de

certeza"

"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo

momento?"

"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"

O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino

básico?

Podem

imaginar

o

resto.

Através

de

questões

apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos

dos

alunos:

a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)

ou

Definições

para

"legal".

os

dois

meios-dias.

c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre

está

subdividida

em

zonas

de

tempo?

d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é

o

meio-dia

astronómico

de

S.

Francisco?"

e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.

(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -

A principal é o facto de enfatizar uma

operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para

resolver

este

problema,

os

alunos

devem

reconhecer

a

proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre

quando

o

proporcionalmente De

facto,

problemas

em

nos

perfeitamente

sol

está

com

a

na

natural,

no um

mais

longitude

comparação

manuais

posição

com

os

vertical da

localidade.

dolorosos

secundário, "verdadeiro"

o

variam

e

artificiais

nosso

problema.

problema Nos

é

problemas

mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.

Novamente,

os

problemas

mais

difíceis

da

matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema

de

24

zonas

horárias,

cada

uma

com

um

padrão

horário

uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou

engenheiro

maturação

a

descobrir

intelectual

utilizar

a

sua

daqueles

vocação

alunos

e

que

profissionalmente

Observe-se

também

que

este

contribuir

não

vão

a problema

para

mais

a

tarde

matemática. ilustra

vários

dos

pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente exploratória importante.

na que

formulação conduz

Depois,

os

do à

problema.

formulação

alunos

são

do

De

facto,

problema

convidados

a

a é

fase muito

adivinhar

um

aspecto essencial da solução.

(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as

seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.

(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido:

construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.

(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.

(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.

Vamos focar a atenção numa das faces

laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação

em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.

(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).

(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.

7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação

de

professores.

discutir

este

tema,

pois

Assumo quase

uma

posição

posso

concordar

confortável com

a

ao

posição

oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�

no

que

diz

respeito

à

formação

de

professores,

publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.

Pontos

aos

quais

devotei,

no

passado

e

praticamente

durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.

(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática

que

sobre

os a

conhecimentos sua

ciência,

dos

em

nossos

escolas

professores

secundárias

é,

de em

média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria

numa

melhoria

substancial.

Pretendo

chamar

a

vossa

atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações

oficiais�.

O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.

e

saber1. Claro

O

que

saber não

é

a

habilidade

existe

saber

para

sem

usar

a

pensamento

independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer

usar os

linguagem

conceitos

matemática

matemáticos

com

em

alguma

situações

fluência, concretas.

Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito

�recomendações ao

oficiais�

saber

são

matemático

silenciosas dos

no

que

diz

professores.

O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,

ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,

de

orientar,

de

ajudar

ou

mesmo

de

reconhecer

a

actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o

que

quer

receptiva

que

seja

dificilmente

que

sabe

pode

em

matemática

promover

o

estudo

apenas

de

forma

activo

dos

seus

estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um

estudante

que

a

tenha.

Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola

secundária

Não tentar

tenho uma

nenhum

coisa.

que remédio

Tenho

repetidamente

um

seminário

professores.

Os

problemas

requerem

muito

é milagroso

vindo

a

sobre

conhecimento

suposto para

oferecer

introduzir

resolução

apresentados para

além

ensinarem.

de

neste do

e

a

mas

vou

conduzir

problemas

para

seminário

nível

do

não

ensino

secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração

e

juízo

independente



e

a

solução

para

esses

problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito

do

material

proposto

para

as

suas

aulas

sem

grandes

alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)

Cursos

sobre

Métodos.

Do

meu

contacto

com

centenas

de

professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre

�métodos�

são

frequentemente

recebidos

com

verdadeiro

entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou

uma

expressão

pitoresca

para

um

sentimento

muito

disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira

sem

De

facto,

devemos

carne�.

nenhuma por

uma

vez

assumir

alguma

coragem

e

discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto

úteis

resposta

de

certa

alguma numa

maneira? discussão



mais

aberta

hipóteses do

que

de

numa

chegar

à

aceitação

generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca

é

melhor

personalidade

do

do

que

o

professor



professor

é;

ensinar

existem

tantos

depende

métodos

bons

da como

existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente

aberta

e

informações

relevantes.

Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores

de

matemática.

Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,

na

sua

maioria,

ser

entendidas

como

cursos

sobre

métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o

tempo

era

realmente

dividido

em

temas

e

métodos:

talvez

nove

décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�

E

questões

apropriada)

foram

desta

natureza

também

(especificadas,

regularmente

propostas

de

nos

forma exames.

No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca

desses

padrões.

Na

minha

opinião,

é

possível

contudo

encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta

tem

que

somar

dois

mais

dois

combinando

a

última

premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o

nível

IV.

Mas

é

claramente

suficiente:

um

professor

universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.

Gostaria

de

acrescentar:

deveria

também

ter

alguma

experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para

um

futuro

professor

é,

o

espírito

de

trabalho

criativo?

Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:

I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência

em

trabalho

(�criativo�)

independente

a

um

nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.

Os

curso

professores

sobre

apenas

métodos

uma

devem

ligação

ser

oferecidos

estreita

com

os

aos

cursos

temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.

8. A atitude dos professores Como

referi

anteriormente,

as

minhas

classes

destinadas

a

professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,

inevitavelmente,

tive

que

expressar

a

minha

perspectiva

sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.

Os

meus

comentários

tenderam

a

assumir

um

carácter

organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.

Quero

agora

acrescentar

essas

alguns

comentários

dez

sobre

regras.

Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.

Contudo,

estas

regras

são

aplicáveis

a

qualquer

situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente

ao

nível

do

ensino

secundário.

No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.

DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES

1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.

A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR

Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga

Especialista em Tecnologia Educacional

Pós-graduanda em Educação a Distância

Leia outro texto da autora

O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.

v

Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins

São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.

Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à

pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.

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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar

*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário

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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.

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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO

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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.

Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a

Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.

I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e

aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade

aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste

sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.

II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia:

contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.

III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva.

Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender

estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.

Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil

estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. • •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias

Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual

José Manuel Moran

Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65



Apresentação

Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes



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Transformar a aula em pesquisa e comunicação Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?



Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

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Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e

de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir

daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto

fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que

alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo -

os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra,

ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o

estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e

coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os

outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.

TEXTOS

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias

Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran

Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação



Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

• •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

• •

Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação,

experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros

básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line"

(cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de

presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os

professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela

sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas

habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de

confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão

Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA

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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).

"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg

�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições,

avançam

para concepções e terminam com ideias� Kant

"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz

1.Ensinar não é uma ciência Vou

dar-vos

conta

de

algumas

das

minhas

opiniões

acerca

do

processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.

As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,

enquanto

opiniões

pessoais,

elas

podem

ser

irrelevantes

razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo factos

se

o

ensino

pudesse

ser

completamente

regulamentado

por

e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar

não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação

com

aprender.

O

estudo

experimental

e

teórico

da

aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e

intensa.

Mas

existe

uma

diferença.

Estamos

principalmente

preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.

2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino

se

não

concordarmos,

até

certo

ponto,

àcerca

do

objectivo

do

ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.

Esta

é

em

mim

uma

convicção

firme.

Podem

não

concordar

inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,

podem

encará-lo

como

um

objectivo

secundário

e

teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.

"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve

simplesmente

transmitir

informação

mas

também

tentar

desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de

pensamento

desejáveis.

Este

objectivo

precisa

certamente

de

maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior

explicação)

mas

neste

caso

vai

ser

suficiente

enfatizar

apenas dois aspectos.

Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max

Wertheimer).

identificadas, "resolução

de

pelo

Tais

formas

menos

exercícios".

numa Em

de

"pensamento"

primeira

qualquer

caso

podem

abordagem, um

dos

ser

com

a

principais

objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.

Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,

mas

também

com

muitas

outras

coisas:

generalização

a

partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por

analogia,

extracção

reconhecimento

a

partir

de

de

conceitos

situações

matemáticos,

concretas.

O

ou

professor

sua de

matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus

alunos

estes

"informais".

O

importantíssimos

que

quero

dizer

é

processos

de

que

utilizar

deve

pensamento esta

oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.

3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa

não por

envergonhado

é

uma

ciência

tantas por

mas

pessoas,

a

repetir.

uma

arte.

Esta

ideia

tantas

vezes,

que

me

Contudo,

se

deixarmos



foi

sinto

até

uma

certa

generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.

Ensinar teatral.

tem

Por

obviamente

exemplo,

muita

imaginemos

coisa que

em um

comum

com

professor

a tem

arte de

apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e

exultante

representar

quando um

a

pouco

demonstração para

bem

dos

terminar. seus

O

alunos

professor que,

em

deve

alguns

casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através

do

conteúdo

apresentado.

Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma

como descobri

no passado este ou aquele aspecto.

Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando

à

formulação

original

simples.

Outra

forma

de

arte

musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas

alterações,

mas

inserindo

entre

duas

repetições

algum

material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.

O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar

para

um

grupo

de

físicos

numa

festa.

"Porque

é

que

os

electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético

ou

Nada

é

demasiado

demasiado

bom

trivial

ou para

demasiado

mau,

clarificar

demasiado as

nossas

abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.

4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é

diferente Qualquer

de

qualquer

estratagema

eficiente

outro para

professor.

ensinar

deve

estar

correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.

Não

sabemos

muito

acerca

do

processo

de

aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A

formulação

e

combinação

desses

prioncípios

é

da

minha

responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo

algum

novos.

Têm

sido

afirmados

e

reafirmados

de

várias

formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo

parecer

psicologia

da

de

grandes

homens

aprendizagem.Estes

e

sugeridos "princípios

pelos de

estudos

da

aprendizagem"

também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.

(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se

consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir

palestras

ou

assistir

a

filmes,

sem

adicionar

nenhuma

acção

intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente

descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido

como

escritor

de

aforismos)

acrescenta

um

aspecto

importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que

se

tiver

abrangente,

é

necessidade. a

Menos

formulação

colorida,

seguinte:

Para

mas

talvez

mais

uma

aprendizagem

eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for

possível

do

conteúdo

a

aprender,

tendo

em

conta

as

circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".

(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.

Porém,

quando

não

podemos

obter

o

melhor

devemos

tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual

não

devemos

esquecer

motivos

da

aprendizagem

menos

intrínsecos. Para

uma

aprendizagem

eficiente,

o

aprendiz

devia

estar

interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da

aprendizagem.

existem

outros

aprender

é,

Deixem-me

Mas,

além

motivos,

destes

alguns

bons

desejáveis.

possivelmente,

o

chamar

afirmação

a

esta

motivos

motivo

para

aprender,

(Punição menos

princípio

por

não

desejável). da

melhor

motivação.

(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de

Kant:

"Todos

os

conhecimentos

humanos

começam

por

intuições,

avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para

desejáveis. começar

conceitos

desta

pense, frase

por

de

favor,

tal

em

modo

significados

que

os

para

consiga

os

ilustrar

concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como

"Aprendizagem"

aluno,

quer

como

recorda-lhe

professor.

uma

"Acção

turma e

consigo,

percepção"

quer

sugerem

manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou

régua

e

compasso;

ou

instrumentos

laboratoriais;

e

por



adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,

algum

similares

no

complexos,

tempo

depois,

trabalho

mais

exploração,

podemos

despendido

avançados.

aperceber-nos

a

dominar

Deixem-me

formalização

materiais

distinguir e

de

três

fases mais fases:

assimilação.

A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da

percepção

e

desenrola-se

a

nível

mais

intuitivo,

mais

heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma

fase

exploratória

deve

preceder

a

fase

de

verbalização

e

formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se

e

contribuir

para

a

atitude

mental

essencial

do

aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.

5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,

pode

analisar: melhor

dar

o

bom

uso

princípio

motivação,

e

aos

da

o

três

princípios

aprendizagem

princípio

que

acabámos

de

o

princípio

da

activa,

das

fases

consecutivas.

Como

vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir

dizer.

Deve

entendê-lo

intimamente,

com

base

na

sua

importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.

Mas,

importante.

As

professor

o

que

ideias

devia

os

alunos

deviam

nascer

agir

pensam na

apenas

é

mil

vezes

mais

mente

dos

alunos

e

como

uma

o

parteira.

Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele

melhor

secundário

se tem

adapta

é

o

diálogo

definitivamente

uma

Socrático.

O

vantagem

em

professor

do

relação

ao

professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado

e

Infelizmente,

existem

mesmo

conteúdos

no

secundário,

pré-estabelecidos

o

para

tempo

é

leccionar.

Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por

si Tenho

normalmente

próprios a

certeza se

faz.

tanto que

é

quanto

possível

Deixem-me

for

fazer

recomendar-vos

possível.

muito um

mais

pequeno

do

que

truque

prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação

do

problema

que

eles

terão

de

resolver

posteriormente.

Se

os

alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo

mais

activamente.

De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,

permitindo

que

os

alunos

participem

na

formulação,

o

professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.

(2) Melhor motivação O

professor

objectivo

é

deve

olhar

vender

para

alguma

si

como

matemática

um aos

comerciante: mais

o

novos.

seu

Se

o

comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática. correcto.

O

rapaz

Pode

que

não

recusa

ser

aprender

preguiçoso

nem

matemática

pode

estar

estúpido,

apenas

mais

interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,

convencer

o

aluno

de

que

a

matemática

é

interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema

que

é

suposto

resolver

merece

o

seu

esforço.

Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias

dos

alunos,

e

deve

ser

introduzido

através

de

uma

brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos

muito

familiares.Deve

conter,

se

possível,

um

aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele

suspeitar

que

a

tarefa

merece

o

seu

esforço.

A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas

existem

outras

motivações

que

não

devem

ser

negligenciadas.

Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente

para

saber

se

o

seu

palpite

está

certo

ou

não

e,

portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho

da

turma.

Não

irá

adormecer

ou

portar-se

mal.

De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.

(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas

saltam

duas

importantes

fases

da

aprendizagem:

a

fase

exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução

conhecimentos, formal.

relacionado

com

a

Porém, a

regra

primeira o

antes

problema que

e

de

ilustra

a

segunda

rotina e

pouco

está

depois

da

obviamente

relacionado

com

quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais

conexões. Em

contraste

com

estes

problemas

de

rotina,

a

escola

secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E

reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.

(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.

6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.

Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.

(1) Um problema do ensino básico -

A forma de arte fundamental

do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário

de

Este."

" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,

de

certeza"

"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo

momento?"

"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"

O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino

básico?

Podem

imaginar

o

resto.

Através

de

questões

apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos

dos

alunos:

a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)

ou

Definições

para

"legal".

os

dois

meios-dias.

c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre

está

subdividida

em

zonas

de

tempo?

d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é

o

meio-dia

astronómico

de

S.

Francisco?"

e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema

é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.

(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -

A principal é o facto de enfatizar uma

operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para

resolver

este

problema,

os

alunos

devem

reconhecer

a

proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre

quando

o

proporcionalmente De

facto,

problemas

em

nos

perfeitamente

sol

está

com

a

na

natural,

no um

mais

longitude

comparação

manuais

posição

com

os

vertical da

localidade.

dolorosos

secundário, "verdadeiro"

o

variam

e

artificiais

nosso

problema.

problema Nos

é

problemas

mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.

Novamente,

os

problemas

mais

difíceis

da

matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema

de

24

zonas

horárias,

cada

uma

com

um

padrão

horário

uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou

engenheiro

maturação

a

descobrir

intelectual

utilizar Observe-se

a

sua

daqueles

vocação

alunos

que

profissionalmente também

que

este

e

contribuir

não

vão

a problema

para

mais

a

tarde

matemática. ilustra

vários

dos

pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem

activamente

na

exploratória importante.

que

formulação conduz

Depois,

os

do à

problema.

formulação

alunos

são

do

De

facto,

problema

convidados

a

a é

fase muito

adivinhar

um

aspecto essencial da solução.

(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base.

Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.

(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.

(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.

(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.

Vamos focar a atenção numa das faces

laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e

ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.

(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).

(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.

7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação

de

professores.

discutir

este

tema,

pois

Assumo quase

uma

posição

posso

concordar

confortável com

a

ao

posição

oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�

no

que

diz

respeito

à

formação

de

professores,

publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.

Pontos

aos

quais

devotei,

no

passado

e

praticamente

durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.

(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática

que

sobre

os a

conhecimentos sua

ciência,

dos

em

nossos

escolas

professores

secundárias

é,

de em

média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria

numa

melhoria

substancial.

Pretendo

chamar

a

vossa

atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações

oficiais�.

O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.

e

saber1. Claro

O

que

saber não

é

a

habilidade

existe

saber

para

sem

usar

a

pensamento

independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer

usar os

linguagem

conceitos

matemática

matemáticos

com

em

alguma

situações

fluência, concretas.

Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito

�recomendações ao

oficiais�

saber

são

matemático

silenciosas dos

no

que

diz

professores.

O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,

ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,

de

orientar,

de

ajudar

ou

mesmo

de

reconhecer

a

actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o

que

quer

receptiva

que

seja

dificilmente

que

sabe

pode

em

matemática

promover

o

estudo

apenas

de

forma

activo

dos

seus

estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um

estudante

que

a

tenha.

Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola

secundária

Não tentar

tenho uma

nenhum

coisa.

que remédio

Tenho

repetidamente

um

seminário

professores.

Os

problemas

requerem

muito

é milagroso

vindo

a

sobre

conhecimento

suposto para

oferecer

introduzir

resolução

apresentados para

além

ensinarem.

de

neste do

e

a

mas

vou

conduzir

problemas

para

seminário

nível

do

não

ensino

secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração

e

juízo

independente



e

a

solução

para

esses

problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito

do

material

proposto

para

as

suas

aulas

sem

grandes

alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)

Cursos

sobre

Métodos.

Do

meu

contacto

com

centenas

de

professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre

�métodos�

são

frequentemente

recebidos

com

verdadeiro

entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou

uma

expressão

pitoresca

para

um

sentimento

muito

disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira

sem

De

facto,

devemos

carne�.

nenhuma por

uma

vez

assumir

alguma

coragem

e

discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto

úteis

resposta

de

certa

alguma numa

maneira? discussão



mais

aberta

hipóteses do

que

de

numa

chegar

à

aceitação

generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca

é

melhor

personalidade

do

do

que

o

professor



professor

é;

ensinar

existem

tantos

depende

métodos

bons

da como

existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente

aberta

e

informações

relevantes.

Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores

de

matemática.

Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,

na

sua

maioria,

ser

entendidas

como

cursos

sobre

métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o

tempo

era

realmente

dividido

em

temas

e

métodos:

talvez

nove

décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�

E

questões

apropriada)

foram

desta

natureza

também

(especificadas,

regularmente

propostas

de

nos

forma exames.

No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca

desses

padrões.

Na

minha

opinião,

é

possível

contudo

encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta

tem

que

somar

dois

mais

dois

combinando

a

última

premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o

nível

IV.

Mas

é

claramente

suficiente:

um

professor

universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.

Gostaria

de

acrescentar:

deveria

também

ter

alguma

experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para

um

futuro

professor

é,

o

espírito

de

trabalho

criativo?

Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:

I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência

em

trabalho

(�criativo�)

independente

a

um

nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.

Os

curso

professores

sobre

apenas

métodos

uma

devem

ligação

ser

oferecidos

estreita

com

os

aos

cursos

temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.

8. A atitude dos professores Como

referi

anteriormente,

as

minhas

classes

destinadas

a

professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,

inevitavelmente,

tive

que

expressar

a

minha

perspectiva

sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.

Os

meus

comentários

tenderam

a

assumir

um

carácter

organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.

Quero

agora

acrescentar

essas

alguns

comentários

dez

sobre

regras.

Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.

Contudo,

estas

regras

são

aplicáveis

a

qualquer

situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente

ao

nível

do

ensino

secundário.

No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.

DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES

1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.

A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR

Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga

Especialista em Tecnologia Educacional

Pós-graduanda em Educação a Distância

Leia outro texto da autora

O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.

v

Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins

São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.

Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à

pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.

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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar

*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário

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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.

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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO

ARTIGOS ACADÊMICOS



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▼ 2008 (59) • ▼ Maio (36) • O papel do professor como educador no uso das nova... Tecnologia na Educação Tecnologia na educação, uma solução para desenvolv... Novas tecnologias e o processo ensino-aprendizagem... METAMORFOSE CONSTANTE VAMOS POR AS MÃOS NA MASSA DO PROCESSO DE ENSINO? Educar a sociedade para o mundo globalizado e comp... Tecnologia Educacional Disponibilidade Tecnológica TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO PARA UMA APRENDIZAGEM SIGN... Tecnologia Promovendo a Aprendizagem Humana TECNOLOGIA NA SALA DE AULA: COMO DIRECIONAR PARA F... Didática é uma tecnologia, será? TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, NOVAS GERAÇÕES. O USO DAS TECNOLOGIAS E O CONSTRUTIVISMO AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A APRENDIZAGEM Tecnologia Educacional: novos conhecimentos, novos... TECNOLOGIA EDUCACIONAL Educação, Globalização – Um processo de Atualizaçã... TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM HUMANA Meios para uma aprendizagem eficaz Tecnologia da Educação e Aprendizagem Humana Aprender para melhor ensinar Tecnologia da educação e aprendizagem humana. ADEQUAÇÃO ESCOLAR AS EXIGÊNCIAS DO MUNDO MODERNO Quais elementos são importantes para que haja uma ... Adaptação da escola ás mudanças tecnológicas OS CAMINHOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA TECN... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIA... O USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO A Tecnologia está em nosso dia-a-dia A TECNOLOGIA COMO REQUISITO EDUCATIVO NA VIDA HUMA... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM A aprendizagem e as novas tecnologias • ► Abril (20) • EDUCAÇÃO TECNOLÓIGICA - VIVIANE MARTINELLI Tecnologia na Educação - Uatia Tânia Viana Carv... Tecnologia na Escola – quem tem medo dela? - Síl... Tecnologia na Educação - Osvaldo da Silva A tecnologia em benefício da Educação. - Marta Cr... RECURSOS TECNOLÓGICOS: BICHO PAPÃO? - Marli B. de... INTRODUÇÃO A TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Luciano da ... A TECNOLOGIA MODERNA: UM DESAFIO PARA ADAPTÁ-LA A ... TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Leila Melo de Carvalho Tecnologia na educação - Laudinéa de Souza Rodri... Tecnologia educacional - Juciane Martins da Hor... A Evolução da Humanidade e os Avanços Tecnológicos... O PROFESSOR E AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS - Jaqu... Introdução a tecnologia educacional - Helen Maciel...



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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.

Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a

Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.

I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e

aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade

aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste

sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.

II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia:

contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.

III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva.

Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender

estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.

Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil

estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. •

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

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Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e

sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o

sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências

significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída

por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a

confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no

processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia.

Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor.

A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada

página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.

TEXTOS

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias

Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran

Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65



Apresentação

Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

• •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

• •

Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais

compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente

facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet.

É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo.

Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os

envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria,

vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes

passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de

interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres,

autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA DODGE, Bernis. WebQuests: a technique for Internet-based learning. The Distance Educator. San Diego, vol 1, n.2, p.10-13, Summer 1995. FERREIRA, Sueli. Introducão às Redes Eletrônicas de Comunicação. Ciências da Informação.Brasília, 23(2):258-263, maio/agosto, 1994. GARDNER, Howard. As estruturas da mente; a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. GILDER, George. Vida após a televisão; vencendo na revolução digital. Rio de Janeiro, Ediouro, 1996. ELLSWORTH, Jill. Education on the Internet. Indianápolis, Sams Publishing, 1994. ESTABROOK, Noel et al. Using UseNet Newsgroups. Indianopolis, Que, 1995. HOINEFF, Nelson. A nova televisão; desmassificação e o impasse das grandes redes. Rio de Janeiro. Delume Dumará, 1996. LASMAR, Tereza Jorge. Usos educacionais da Internet: A contribuição das redes eletrônicas para o desenvolvimento de programas educacionais. Brasília, Faculdade de Educação, 1995. Dissertação de Mestrado. LINARD, Monique & BELISLE, Claire. Comp’act: new competencies of training actors with new information and communication technologies. Ecully, CNRS, 1995 LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. Petrópolis, Vozes, 1995. MOLL, Luis (org). Vygotsky e a educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996. MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal; Gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo, Paulinas, 1998. ___________________. Como utilizar a Internet na Educação. Revista Ciência da Informação, vol 26, n.2, maio-agosto, 1997; páginas 146-153. ___________________. Leituras dos Meios de Comunicação. São Paulo, Ed. Pancast, 1993. ___________________. Como ver televisão. São Paulo, Paulinas, 1991. NOVOA, Antônio (org.). Vidas de Professores. Porto, Porto Editora, 1992. PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. POSTMANN, Neil. Tecnopolio. São Paulo, Nobel, 1994. SEABRA, Carlos. Usos da telemática na educação. In Acesso; Revista de Educação e Informática. São Paulo, v.5, n.10, p.4-11, julho, 1995.

<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local.

Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).

"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg

�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam

para concepções e terminam com ideias� Kant

"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz

1.Ensinar não é uma ciência Vou

dar-vos

conta

de

algumas

das

minhas

opiniões

acerca

do

processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.

As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,

enquanto

opiniões

pessoais,

elas

podem

ser

irrelevantes

razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso

tempo

se

factos

o

ensino

pudesse

ser

completamente

regulamentado

por

e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar

não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação

com

aprender.

O

estudo

experimental

e

teórico

da

aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e

intensa.

Mas

existe

uma

diferença.

Estamos

principalmente

preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.

2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se

não

concordarmos,

até

certo

ponto,

àcerca

do

objectivo

do

ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.

Esta

é

em

mim

uma

convicção

firme.

Podem

não

concordar

inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,

podem

encará-lo

como

um

objectivo

secundário

e

teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.

"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve

simplesmente

transmitir

informação

mas

também

tentar

desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação

transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de

pensamento

desejáveis.

Este

objectivo

precisa

certamente

de

maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior

explicação)

mas

neste

caso

vai

ser

suficiente

enfatizar

apenas dois aspectos.

Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max

Wertheimer).

identificadas, "resolução

Tais

pelo

de

formas

menos

exercícios".

de

numa Em

"pensamento"

primeira

qualquer

podem

abordagem,

caso

um

dos

ser

com

a

principais

objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.

Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,

mas

também

com

muitas

outras

coisas:

generalização

a

partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por

analogia,

extracção

reconhecimento

a

partir

de

de

conceitos

situações

matemáticos,

concretas.

O

ou

professor

sua de

matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus

alunos

estes

"informais".

O

que

importantíssimos quero

dizer

é

processos

de

que

utilizar

deve

pensamento esta

oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.

3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa

não por

envergonhado

é

uma

tantas por

a

ciência pessoas, repetir.

mas

uma

arte.

Esta

ideia

tantas

vezes,

que

me

Contudo,

se

deixarmos



foi

sinto

até

uma

certa

generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.

Ensinar teatral.

tem

Por

obviamente

exemplo,

muita

coisa

imaginemos

que

em um

comum

com

a

professor

tem

arte de

apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e

exultante

representar

quando um

a

pouco

demonstração para

bem

dos

terminar. seus

O

alunos

professor que,

em

deve

alguns

casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através

do

conteúdo

apresentado.

Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri

no passado este ou aquele aspecto.

Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando

à

formulação

original

simples.

Outra

forma

de

arte

musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou

nenhumas

alterações,

mas

inserindo

entre

duas

repetições

algum

material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.

O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar

para

um

grupo

de

físicos

numa

festa.

"Porque

é

que

os

electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético

Nada

ou

é

demasiado

demasiado

bom

trivial

ou

demasiado

para

mau,

clarificar

demasiado as

nossas

abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.

4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é

diferente Qualquer

de

estratagema

qualquer eficiente

outro para

ensinar

professor. deve

estar

correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.

Não

sabemos

muito

acerca

do

processo

de

aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem

vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A

formulação

e

combinação

desses

prioncípios

é

da

minha

responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo

algum

novos.

Têm

sido

afirmados

e

reafirmados

de

várias

formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo

parecer

psicologia

de

da

grandes

homens

e

aprendizagem.Estes

sugeridos "princípios

pelos de

estudos

da

aprendizagem"

também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.

(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se

consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir

palestras

ou

assistir

a

filmes,

sem

adicionar

nenhuma

acção

intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido

como

escritor

de

aforismos)

acrescenta

um

aspecto

importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que

se

tiver

abrangente,

é

necessidade. a

Menos

formulação

colorida,

seguinte:

Para

mas

talvez

mais

uma

aprendizagem

eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for

possível

do

conteúdo

a

aprender,

tendo

em

conta

as

circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".

(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz

não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.

Porém,

quando

não

podemos

obter

o

melhor

devemos

tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual

não

devemos

esquecer

motivos

da

aprendizagem

menos

intrínsecos. Para

uma

aprendizagem

eficiente,

o

aprendiz

devia

estar

interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da

aprendizagem.

existem

outros

aprender

é,

Deixem-me

Mas,

além

motivos,

destes

alguns

bons

motivos

desejáveis.

possivelmente,

o

chamar

afirmação

a

esta

motivo

para

aprender,

(Punição menos

por

não

desejável).

princípio

da

melhor

motivação.

(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:

"Todos

os

conhecimentos

humanos

começam

por

intuições,

avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para

desejáveis. começar

conceitos

desta

pense, frase

de

por tal

favor, modo

em que

significados os

para

consiga

os

ilustrar

concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como

aluno,

"Aprendizagem" quer

como

recorda-lhe

professor.

uma

"Acção

turma e

consigo,

percepção"

quer

sugerem

manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou

régua

e

compasso;

ou

instrumentos

laboratoriais;

e

por



adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,

algum

similares

tempo

no

complexos,

depois,

trabalho

mais

despendido

avançados.

exploração,

podemos

aperceber-nos

a

dominar

Deixem-me

fases

materiais

distinguir

formalização

de

três

e

mais fases:

assimilação.

A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da

percepção

e

desenrola-se

a

nível

mais

intuitivo,

mais

heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma

fase

exploratória

deve

preceder

a

fase

de

verbalização

e

formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se

e

contribuir

para

a

atitude

mental

essencial

do

aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.

5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,

pode

analisar: melhor

o

dar

bom

uso

princípio

motivação,

e

o

da

aos

três

princípios

aprendizagem

princípio

das

activa, fases

que

acabámos

de

o

princípio

da

consecutivas.

Como

vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um

determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir

dizer.

Deve

entendê-lo

intimamente,

com

base

na

sua

importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.

Mas,

importante.

As

professor

o

que

ideias

devia

os

alunos

deviam

pensam

nascer

agir

na

apenas

é

mil

vezes

mais

mente

dos

alunos

e

como

uma

o

parteira.

Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele

melhor

se

secundário

adapta

tem

é

o

diálogo

definitivamente

Socrático.

O

vantagem

em

uma

professor

do

relação

ao

professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado

e

Infelizmente,

existem

mesmo

conteúdos

no

secundário,

pré-estabelecidos

o

para

tempo

é

leccionar.

Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por

si Tenho

próprios a

normalmente

tanto

certeza se

faz.

que

é

quanto

possível

Deixem-me

for

fazer

recomendar-vos

possível.

muito um

mais

pequeno

do

que

truque

prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do

problema

que

eles

terão

de

resolver

posteriormente.

Se

os

alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo

mais

activamente.

De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,

permitindo

que

os

alunos

participem

na

formulação,

o

professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.

(2) Melhor motivação O

professor

objectivo

é

deve vender

olhar alguma

para

si

como

matemática

um aos

comerciante: mais

novos.

o Se

seu o

comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante

atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática.

O

correcto.

rapaz

Pode

que

não

recusa

ser

aprender

preguiçoso

nem

matemática

pode

estar

estúpido,

apenas

mais

interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,

convencer

o

aluno

de

que

a

matemática

é

interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema

que

é

suposto

resolver

merece

o

seu

esforço.

Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias

dos

alunos,

e

deve

ser

introduzido

através

de

uma

brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos

muito

familiares.Deve

conter,

se

possível,

um

aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele

suspeitar

que

a

tarefa

merece

o

seu

esforço.

A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem

outras

motivações

que

não

devem

ser

negligenciadas.

Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente

para

saber

se

o

seu

palpite

está

certo

ou

não

e,

portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho

da

turma.

Não

irá

adormecer

ou

portar-se

mal.

De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.

(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que

estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas

saltam

duas

importantes

fases

da

aprendizagem:

a

fase

exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução

conhecimentos, formal.

relacionado

com

a

Porém, a

regra

primeira o

antes

problema que

e

de

ilustra

a

segunda

rotina e

pouco

está

depois

da

obviamente

relacionado

com

quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais

conexões. Em

contraste

com

estes

problemas

de

rotina,

a

escola

secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.

(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa

muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.

6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.

Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.

(1) Um problema do ensino básico -

A forma de arte fundamental

do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário

de

Este."

" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,

de

certeza"

"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo

momento?"

"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"

O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino

básico?

Podem

imaginar

o

resto.

Através

de

questões

apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos

dos

alunos:

a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)

ou

Definições

para

"legal".

os

dois

meios-dias.

c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre

está

subdividida

em

zonas

de

tempo?

d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é

o

meio-dia

astronómico

de

S.

Francisco?"

e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.

(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -

A principal é o facto de enfatizar uma

operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para

resolver

este

problema,

os

alunos

devem

reconhecer

a

proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre

quando

o

sol

está

na

posição

mais

vertical

variam

proporcionalmente De

facto,

problemas

em

nos

perfeitamente

com

a

longitude

comparação

manuais natural,

no um

com

os

da

localidade.

dolorosos

secundário, "verdadeiro"

o

e

artificiais

nosso

problema.

problema Nos

é

problemas

mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.

Novamente,

os

problemas

mais

difíceis

da

matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema

de

24

zonas

horárias,

cada

uma

com

um

padrão

horário

uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou

engenheiro

maturação

a

descobrir

intelectual

utilizar

a

sua

daqueles

vocação

alunos

e

que

profissionalmente

Observe-se

também

que

este

contribuir

não

vão

a problema

para

mais

a

tarde

matemática. ilustra

vários

dos

pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente

na

exploratória importante.

que

formulação conduz

Depois,

os

do à

problema.

formulação

alunos

são

do

De

facto,

problema

convidados

a

a é

fase muito

adivinhar

um

aspecto essencial da solução.

(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível

secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.

(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.

(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.

(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.

Vamos focar a atenção numa das faces

laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência.

O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.

(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).

(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.

7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação

de

professores.

discutir

este

tema,

pois

Assumo quase

uma

posição

posso

concordar

confortável com

a

ao

posição

oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�

no

que

diz

respeito

à

formação

de

professores,

publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.

Pontos

aos

quais

devotei,

no

passado

e

praticamente

durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.

(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática

que

sobre

os a

conhecimentos sua

ciência,

dos

em

nossos

escolas

professores

secundárias

é,

de em

média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria

numa

melhoria

substancial.

Pretendo

chamar

a

vossa

atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações

oficiais�.

O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.

e

saber1. Claro

O

que

saber não

é

a

habilidade

existe

saber

para

sem

usar

a

pensamento

independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer

usar os

linguagem

conceitos

matemática

matemáticos

com

em

alguma

situações

fluência, concretas.

Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito

�recomendações ao

oficiais�

saber

são

matemático

silenciosas dos

no

que

diz

professores.

O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,

ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,

de

orientar,

de

ajudar

ou

mesmo

de

reconhecer

a

actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o

que

quer

receptiva

que

seja

dificilmente

que

sabe

pode

em

matemática

promover

o

estudo

apenas

de

forma

activo

dos

seus

estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um

estudante

que

a

tenha.

Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola

secundária

Não tentar

tenho uma

nenhum

coisa.

que remédio

Tenho

repetidamente

um

seminário

professores.

Os

problemas

requerem

muito

é milagroso

vindo

a

sobre

conhecimento

suposto para

oferecer

introduzir

resolução

apresentados para

além

ensinarem.

de

neste do

e

a

mas

vou

conduzir

problemas

para

seminário

nível

do

não

ensino

secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração

e

juízo

independente



e

a

solução

para

esses

problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito

do

material

proposto

para

as

suas

aulas

sem

grandes

alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)

Cursos

sobre

Métodos.

Do

meu

contacto

com

centenas

de

professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre

�métodos�

são

frequentemente

recebidos

com

verdadeiro

entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou

uma

expressão

pitoresca

para

um

sentimento

muito

disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira

sem

De

facto,

devemos

carne�.

nenhuma por

uma

vez

assumir

alguma

coragem

e

discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto

úteis

resposta

de

certa

alguma numa

maneira? discussão



mais

aberta

hipóteses do

que

de

numa

chegar

à

aceitação

generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca

é

melhor

personalidade

do

do

que

o

professor



professor

é;

ensinar

existem

tantos

depende

métodos

bons

da como

existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente

aberta

e

informações

relevantes.

Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores

de

matemática.

Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,

na

sua

maioria,

ser

entendidas

como

cursos

sobre

métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o

tempo

era

realmente

dividido

em

temas

e

métodos:

talvez

nove

décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�

E

questões

apropriada)

foram

desta

natureza

também

(especificadas,

regularmente

propostas

de

nos

forma exames.

No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca

desses

padrões.

Na

minha

opinião,

é

possível

contudo

encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta

tem

que

somar

dois

mais

dois

combinando

a

última

premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o

nível

IV.

Mas

é

claramente

suficiente:

um

professor

universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.

Gostaria

de

acrescentar:

deveria

também

ter

alguma

experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para

um

futuro

professor

é,

o

espírito

de

trabalho

criativo?

Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:

I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência

em

trabalho

(�criativo�)

independente

a

um

nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.

Os

curso

professores

sobre

apenas

métodos

uma

devem

ligação

ser

oferecidos

estreita

com

os

aos

cursos

temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.

8. A atitude dos professores Como

referi

anteriormente,

as

minhas

classes

destinadas

a

professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,

inevitavelmente,

tive

que

expressar

a

minha

perspectiva

sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.

Os

meus

comentários

tenderam

a

assumir

um

carácter

organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.

Quero

agora

acrescentar

essas

alguns

comentários

dez

sobre

regras.

Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.

Contudo,

estas

regras

são

aplicáveis

a

qualquer

situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente

ao

nível

do

ensino

secundário.

No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.

DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES

1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.

A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR

Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga

Especialista em Tecnologia Educacional

Pós-graduanda em Educação a Distância

Leia outro texto da autora

O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.

v

Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins

São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central pa quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.

Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à

pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.

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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar

*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário

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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia. Visualizar meu perfil completo

BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO

ARTIGOS ACADÊMICOS •

▼ 2008 (59)

▼ Maio (36) • O papel do professor como educador no uso das nova... Tecnologia na Educação Tecnologia na educação, uma solução para desenvolv... Novas tecnologias e o processo ensino-aprendizagem... METAMORFOSE CONSTANTE VAMOS POR AS MÃOS NA MASSA DO PROCESSO DE ENSINO? Educar a sociedade para o mundo globalizado e comp... Tecnologia Educacional Disponibilidade Tecnológica TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO PARA UMA APRENDIZAGEM SIGN... Tecnologia Promovendo a Aprendizagem Humana TECNOLOGIA NA SALA DE AULA: COMO DIRECIONAR PARA F... Didática é uma tecnologia, será? TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, NOVAS GERAÇÕES. O USO DAS TECNOLOGIAS E O CONSTRUTIVISMO AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A APRENDIZAGEM Tecnologia Educacional: novos conhecimentos, novos... TECNOLOGIA EDUCACIONAL Educação, Globalização – Um processo de Atualizaçã... TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM HUMANA Meios para uma aprendizagem eficaz Tecnologia da Educação e Aprendizagem Humana Aprender para melhor ensinar Tecnologia da educação e aprendizagem humana. ADEQUAÇÃO ESCOLAR AS EXIGÊNCIAS DO MUNDO MODERNO Quais elementos são importantes para que haja uma ... Adaptação da escola ás mudanças tecnológicas OS CAMINHOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA TECN... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIA... O USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO A Tecnologia está em nosso dia-a-dia A TECNOLOGIA COMO REQUISITO EDUCATIVO NA VIDA HUMA... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM A aprendizagem e as novas tecnologias • ► Abril (20) • EDUCAÇÃO TECNOLÓIGICA - VIVIANE MARTINELLI Tecnologia na Educação - Uatia Tânia Viana Carv... Tecnologia na Escola – quem tem medo dela? - Síl... Tecnologia na Educação - Osvaldo da Silva A tecnologia em benefício da Educação. - Marta Cr... RECURSOS TECNOLÓGICOS: BICHO PAPÃO? - Marli B. de... INTRODUÇÃO A TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Luciano da ... A TECNOLOGIA MODERNA: UM DESAFIO PARA ADAPTÁ-LA A ... TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Leila Melo de Carvalho Tecnologia na educação - Laudinéa de Souza Rodri... Tecnologia educacional - Juciane Martins da Hor... A Evolução da Humanidade e os Avanços Tecnológicos... O PROFESSOR E AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS - Jaqu... Introdução a tecnologia educacional - Helen Maciel... • ► Março (3) •

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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.

Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução:

"Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.

I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu

nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia eMudar

a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e

BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação



Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

• •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

• •

Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que

pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa.

Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós.

Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar.

Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se

comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela

constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos.

A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera

uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da

aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.

TEXTOS

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual

José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Apresentação



Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

• •

Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •

Educar o educador

Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

• •

Alguns problemas no uso da Internet na educação •

Conclusão

Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e

comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as

dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da

participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar

em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses.

O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação,

para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem

anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais

bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma

consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA DODGE, Bernis. WebQuests: a technique for Internet-based learning. The Distance Educator. San Diego, vol 1, n.2, p.10-13, Summer 1995. FERREIRA, Sueli. Introducão às Redes Eletrônicas de Comunicação. Ciências da Informação.Brasília, 23(2):258-263, maio/agosto, 1994. GARDNER, Howard. As estruturas da mente; a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre,

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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).

"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching",

in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg

�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam

para concepções e terminam com ideias� Kant

"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz

1.Ensinar não é uma ciência Vou

dar-vos

conta

de

algumas

das

minhas

opiniões

acerca

do

processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.

As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,

enquanto

opiniões

pessoais,

elas

podem

ser

irrelevantes

razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo factos

se

o

ensino

pudesse

ser

completamente

regulamentado

por

e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar

não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação

com

aprender.

O

estudo

experimental

e

teórico

da

aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e

intensa.

Mas

existe

uma

diferença.

Estamos

principalmente

preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.

2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se

não

concordarmos,

até

certo

ponto,

àcerca

do

objectivo

do

ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.

Esta

é

em

mim

uma

convicção

firme.

Podem

não

concordar

inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,

podem

encará-lo

como

um

objectivo

secundário

e

teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.

"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve

simplesmente

transmitir

informação

mas

também

tentar

desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de

pensamento

desejáveis.

Este

objectivo

precisa

certamente

de

maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior

explicação)

mas

neste

caso

vai

ser

suficiente

enfatizar

apenas dois aspectos.

Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max

Wertheimer).

identificadas, "resolução

de

pelo

Tais menos

formas

exercícios".

numa Em

de

"pensamento"

primeira

qualquer

caso

podem

abordagem, um

dos

com

ser a

principais

objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver

problemas.

Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,

mas

também

com

muitas

outras

coisas:

generalização

a

partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por

analogia,

extracção

reconhecimento

a

partir

de

de

conceitos

situações

matemáticos,

concretas.

O

ou

professor

sua de

matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus

alunos

estes

"informais".

O

importantíssimos

que

quero

dizer

é

processos

de

que

utilizar

deve

pensamento esta

oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.

3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa

não por

envergonhado

é

uma

ciência

tantas por

a

mas

pessoas, repetir.

uma

arte.

Esta

ideia

tantas

vezes,

que

me

Contudo,

se

deixarmos



foi

sinto

até

uma

certa

generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.

Ensinar teatral.

tem

Por

obviamente

exemplo,

muita

imaginemos

coisa que

em um

comum

com

professor

a tem

arte de

apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e

exultante

representar

quando um

pouco

a

demonstração para

bem

dos

terminar. seus

O

alunos

professor que,

em

deve

alguns

casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através

do

conteúdo

apresentado.

Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri

no passado este ou aquele aspecto.

Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando

à

formulação

original

simples.

Outra

forma

de

arte

musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas

alterações,

mas

inserindo

entre

duas

repetições

algum

material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.

O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar

para

um

grupo

de

físicos

numa

festa.

"Porque

é

que

os

electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais

profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético

Nada

ou

é

demasiado

demasiado

bom

ou

trivial

demasiado

para

mau,

clarificar

demasiado as

nossas

abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.

4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é

diferente Qualquer

de

qualquer

estratagema

eficiente

outro para

professor.

ensinar

deve

estar

correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.

Não

sabemos

muito

acerca

do

processo

de

aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A

formulação

e

combinação

desses

prioncípios

é

da

minha

responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo

algum

novos.

Têm

sido

afirmados

e

reafirmados

de

várias

formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo

parecer

psicologia

da

de

grandes

homens

aprendizagem.Estes

e

sugeridos "princípios

pelos de

estudos

da

aprendizagem"

também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.

(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva.

Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se

consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir

palestras

ou

assistir

a

filmes,

sem

adicionar

nenhuma

acção

intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido

como

escritor

de

aforismos)

acrescenta

um

aspecto

importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que

se

tiver

abrangente,

é

necessidade. a

Menos

formulação

colorida,

seguinte:

Para

mas

talvez

mais

uma

aprendizagem

eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for

possível

do

conteúdo

a

aprender,

tendo

em

conta

as

circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".

(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.

Porém,

quando

não

podemos

obter

o

melhor

devemos

tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual

não

devemos

esquecer

motivos

da

aprendizagem

menos

intrínsecos. Para

uma

aprendizagem

eficiente,

o

aprendiz

devia

estar

interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da

aprendizagem.

existem aprender

outros é,

Mas,

além

motivos,

destes

alguns

possivelmente,

bons

motivos

desejáveis. o

motivo

para

(Punição menos

aprender, por

não

desejável).

Deixem-me

chamar

a

esta

afirmação

princípio

da

melhor

motivação.

(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:

"Todos

os

conhecimentos

humanos

começam

por

intuições,

avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para

desejáveis. começar

conceitos

desta

pense, frase

por

de

favor,

tal

modo

em

significados

que

os

para

consiga

os

ilustrar

concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como

"Aprendizagem"

aluno,

quer

como

recorda-lhe

professor.

uma

"Acção

turma e

consigo,

percepção"

quer

sugerem

manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou

régua

e

compasso;

ou

instrumentos

laboratoriais;

e

por



adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,

algum

similares complexos,

no

tempo

depois,

trabalho

mais

exploração,

podemos

despendido

avançados.

a

Deixem-me

formalização

aperceber-nos dominar

materiais

distinguir e

de

três

fases mais fases:

assimilação.

A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da

percepção

e

desenrola-se

a

nível

mais

intuitivo,

mais

heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve

ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma

fase

exploratória

deve

preceder

a

fase

de

verbalização

e

formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se

e

contribuir

para

a

atitude

mental

essencial

do

aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.

5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,

pode

analisar: melhor

dar

o

bom

uso

princípio

motivação,

e

aos

da

o

três

princípios

aprendizagem

princípio

activa,

das

fases

que

acabámos

de

o

princípio

da

consecutivas.

Como

vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir

dizer.

Deve

entendê-lo

intimamente,

com

base

na

sua

importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.

Mas,

importante.

As

professor

o

que

ideias

devia

os

alunos

deviam agir

nascer

pensam na

apenas

é

mil

vezes

mais

mente

dos

alunos

e

como

uma

o

parteira.

Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele

melhor

secundário

se tem

adapta

é

o

diálogo

definitivamente

uma

Socrático.

O

vantagem

em

professor

do

relação

ao

professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado

e

Infelizmente,

existem

conteúdos

mesmo

no

secundário,

pré-estabelecidos

para

o

tempo

é

leccionar.

Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por

si

próprios

Tenho

a

normalmente

tanto

certeza se

faz.

que

é

quanto

possível

Deixem-me

for

fazer

recomendar-vos

possível.

muito um

mais

do

pequeno

que

truque

prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do

problema

que

eles

terão

de

resolver

posteriormente.

Se

os

alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo

mais

activamente.

De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,

permitindo

que

os

alunos

participem

na

formulação,

o

professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.

(2) Melhor motivação O

professor

objectivo

é

deve

olhar

vender

para

alguma

si

como

matemática

um aos

comerciante: mais

o

novos.

seu

Se

o

comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática. correcto.

O

rapaz

Pode

que

não

recusa

ser

aprender

preguiçoso

nem

matemática

pode

estar

estúpido,

apenas

mais

interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,

convencer

o

aluno

de

que

a

matemática

é

interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema

que

é

suposto

resolver

merece

o

seu

esforço.

Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias

dos

alunos,

e

deve

ser

introduzido

através

de

uma

brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos

muito

familiares.Deve

conter,

se

possível,

um

aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele

suspeitar

que

a

tarefa

merece

o

seu

esforço.

A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem

outras

motivações

que

não

devem

ser

negligenciadas.

Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente

para

saber

se

o

seu

palpite

está

certo

ou

não

e,

portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho

da

turma.

Não

irá

adormecer

ou

portar-se

mal.

De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.

(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas

saltam

duas

importantes

fases

da

aprendizagem:

a

fase

exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução

conhecimentos, formal.

relacionado

com

a

Porém, a

regra

primeira o

antes

problema que

e

de

ilustra

a

segunda

rotina e

pouco

está

depois

da

obviamente

relacionado

com

quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais

conexões. Em

contraste

com

estes

problemas

de

rotina,

a

escola

secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de

vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.

(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.

6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.

Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino.

Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.

(1) Um problema do ensino básico -

A forma de arte fundamental

do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário

de

Este."

" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,

de

certeza"

"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo

momento?"

"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"

O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino

básico?

Podem

imaginar

o

resto.

Através

de

questões

apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos

dos

alunos:

a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional

ou

"legal".

b)

Definições

para

os

dois

meios-dias.

c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre

está

subdividida

em

zonas

de

tempo?

d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é

o

meio-dia

astronómico

de

S.

Francisco?"

e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.

(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -

A principal é o facto de enfatizar uma

operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para

resolver

este

problema,

os

alunos

devem

reconhecer

a

proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre

quando

o

proporcionalmente De

facto,

problemas

nos

perfeitamente

em

sol

está

com

a

na

natural,

no um

mais

longitude

comparação

manuais

posição

com

os

vertical da

dolorosos

secundário, "verdadeiro"

o

localidade. e

nosso

problema.

variam

artificiais problema

Nos

é

problemas

mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.

Novamente,

os

problemas

mais

difíceis

da

matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema

de

24

zonas

horárias,

cada

uma

com

um

padrão

horário

uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado

convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou

engenheiro

maturação

a

descobrir

intelectual

utilizar

a

sua

daqueles

vocação

alunos

e

que

profissionalmente

Observe-se

também

que

este

contribuir

não

vão

a problema

para

mais

a

tarde

matemática. ilustra

vários

dos

pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente

na

exploratória importante.

que

formulação conduz

Depois,

os

do à

problema.

formulação

alunos

são

do

De

facto,

problema

convidados

a

a é

fase muito

adivinhar

um

aspecto essencial da solução.

(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os

ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.

(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.

(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três

faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.

(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.

Vamos focar a atenção numa das faces

laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar

F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.

(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de

geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).

(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.

7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação

de

professores.

discutir

este

tema,

pois

Assumo quase

uma posso

posição concordar

confortável com

a

ao

posição

oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�

no

que

diz

respeito

à

formação

de

professores,

publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.

Pontos

aos

quais

devotei,

no

passado

e

praticamente

durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.

(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática

que

sobre

os a

conhecimentos sua

ciência,

dos

em

nossos

escolas

professores

secundárias

é,

de em

média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria

numa

melhoria

substancial.

Pretendo

chamar

a

vossa

atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações

oficiais�.

O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.

e

saber1. Claro

O

que

saber não

é

a

habilidade

existe

saber

para

sem

usar

a

pensamento

independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer

usar os

linguagem

conceitos

matemática

matemáticos

com

em

alguma

situações

fluência, concretas.

Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As

�recomendações

oficiais�

são

silenciosas

no

que

diz

respeito

ao

saber

matemático

dos

professores.

O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas, ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,

de

orientar,

de

ajudar

ou

mesmo

de

reconhecer

a

actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o

que

quer

receptiva

que

seja

dificilmente

que

sabe

pode

em

matemática

promover

o

estudo

apenas

de

forma

activo

dos

seus

estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um

estudante

que

a

tenha.

Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola

secundária

Não tentar

tenho uma

nenhum

coisa.

que remédio

Tenho

repetidamente

um

seminário

professores.

Os

problemas

requerem

muito

é milagroso

vindo

conhecimento

suposto

sobre

a

para

apresentados para

oferecer

introduzir

resolução além

de

neste do

ensinarem. e

a

mas

conduzir

problemas seminário

nível

vou

do

para não

ensino

secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração

e

juízo

independente



e

a

solução

para

esses

problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito

do

material

proposto

para

as

suas

aulas

sem

grandes

alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos).

(2)

Cursos

sobre

Métodos.

Do

meu

contacto

com

centenas

de

professores de matemática retirei a impressão de que os cursos �métodos�

sobre

são

frequentemente

recebidos

com

verdadeiro

entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou

uma

expressão

pitoresca

para

um

sentimento

muito

disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira

sem

De

facto,

devemos

carne�.

nenhuma por

uma

vez

assumir

alguma

coragem

e

discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto

úteis

resposta

de

certa

alguma numa

maneira? discussão



mais

aberta

hipóteses do

que

de

numa

chegar

à

aceitação

generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca

é

melhor

personalidade

do

do

que

o

professor



professor

é;

ensinar

existem

tantos

depende

métodos

bons

da como

existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente

aberta

e

informações

relevantes.

Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores

de

matemática.

Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,

na

sua

maioria,

ser

entendidas

como

cursos

sobre

métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o tempo

era

realmente

dividido

em

temas

e

métodos:

talvez

nove

décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�

E

questões

apropriada)

foram

desta

natureza

também

(especificadas,

regularmente

propostas

de

nos

forma exames.

No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca

desses

padrões.

Na

minha

opinião,

é

possível

contudo

encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta

tem

que

somar

dois

mais

dois

combinando

a

última

premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o

nível

IV.

Mas

é

claramente

suficiente:

um

professor

universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.

Gostaria

de

acrescentar:

deveria

também

ter

alguma

experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para

um

futuro

professor

é,

o

espírito

de

trabalho

criativo?

Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações

oficiais� da Associação:

I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência

em

trabalho

(�criativo�)

independente

a

um

nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.

Os

curso

professores

sobre

apenas

métodos

uma

devem

ligação

ser

oferecidos

estreita

com

os

aos

cursos

temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.

8. A atitude dos professores Como

referi

anteriormente,

as

minhas

classes

destinadas

a

professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,

inevitavelmente,

tive

que

expressar

a

minha

perspectiva

sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.

Os

meus

comentários

tenderam

a

assumir

um

carácter

organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.

Quero

agora

acrescentar

essas

alguns

comentários

dez

sobre

regras.

Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.

Contudo,

estas

regras

são

aplicáveis

a

qualquer

situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente

ao

nível

do

ensino

secundário.

No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.

DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES

1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.

A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR

Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga

Especialista em Tecnologia Educacional

Pós-graduanda em Educação a Distância

Leia outro texto da autora

O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.

v

Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender.

As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque. Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa

acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.

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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar

*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO

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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.

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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO

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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.

Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar

onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.

I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções

educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras

informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada.

Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.

II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda,

efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.

III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro,

também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do

sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.

Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’!

Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa

sociedade aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o

entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.

II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em

um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.

III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação.

A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.

Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é

fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida

emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.

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