Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual
José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de
trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões.
Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança
mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o
tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos
da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar
pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As
descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem
um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar,
contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.
TEXTOS
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos
desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de
comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico
da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua
especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!.
Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da
Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em
rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para
serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de
estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA
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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a
estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).
"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg
�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam
para concepções e terminam com ideias� Kant
"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz
1.Ensinar não é uma ciência Vou
dar-vos
conta
de
algumas
das
minhas
opiniões
acerca
do
processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.
As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar
disso,
enquanto
opiniões
pessoais,
elas
podem
ser
irrelevantes
razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo
se
factos
o
ensino
pudesse
ser
completamente
regulamentado
por
e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar
não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação
com
aprender.
O
estudo
experimental
e
teórico
da
aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e
intensa.
Mas
existe
uma
diferença.
Estamos
principalmente
preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.
2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se
não
concordarmos,
até
certo
ponto,
àcerca
do
objectivo
do
ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.
Esta
é
em
mim
uma
convicção
firme.
Podem
não
concordar
inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,
podem
encará-lo
como
um
objectivo
secundário
e
teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.
"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não
deve
simplesmente
transmitir
informação
mas
também
tentar
desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de
pensamento
desejáveis.
Este
objectivo
precisa
certamente
de
maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior
explicação)
mas
neste
caso
vai
ser
suficiente
enfatizar
apenas dois aspectos.
Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max
Wertheimer).
identificadas, "resolução
Tais
pelo
de
formas
menos
exercícios".
de
numa Em
"pensamento"
primeira
qualquer
podem
abordagem,
caso
um
dos
ser
com
a
principais
objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.
Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,
mas
também
com
muitas
outras
coisas:
generalização
a
partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por
analogia,
extracção
a
reconhecimento partir
de
de
conceitos
situações
matemáticos,
concretas.
O
ou
professor
sua de
matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus
alunos
"informais".
estes O
que
importantíssimos quero
dizer
é
processos
de
que
utilizar
deve
pensamento esta
oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.
3. Ensinar é uma arte Ensinar
não
é
uma
ciência
mas
uma
arte.
Esta
ideia
já
foi
expressa
por
envergonhado
tantas por
pessoas,
a
repetir.
tantas
vezes,
Contudo,
se
que
me
deixarmos
sinto uma
até
certa
generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.
Ensinar teatral.
tem
Por
obviamente
exemplo,
muita
coisa
imaginemos
que
em um
comum
com
a
professor
tem
arte de
apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e
exultante
representar
quando um
a
pouco
demonstração para
bem
dos
terminar. seus
O
alunos
professor que,
em
deve
alguns
casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através
do
conteúdo
apresentado.
Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri
no passado este ou aquele aspecto.
Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando
à
formulação
original
simples.
Outra
forma
de
arte
musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas
alterações,
mas
inserindo
entre
duas
repetições
algum
material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.
O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar
para
um
grupo
de
físicos
numa
festa.
"Porque
é
que
os
electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético
Nada
ou
é
demasiado
demasiado
bom
trivial
ou
demasiado
para
mau,
clarificar
demasiado as
nossas
abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.
4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é
diferente Qualquer
de
estratagema
qualquer eficiente
outro para
ensinar
professor. deve
estar
correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.
Não
sabemos
muito
acerca
do
processo
de
aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A
formulação
e
combinação
desses
prioncípios
é
da
minha
responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo
algum
novos.
Têm
sido
afirmados
e
reafirmados
de
várias
formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo
parecer
psicologia
de
da
grandes
homens
e
aprendizagem.Estes
sugeridos "princípios
pelos de
estudos
da
aprendizagem"
também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.
(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se
consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir
palestras
ou
assistir
a
filmes,
sem
adicionar
nenhuma
acção
intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido
como
escritor
de
aforismos)
acrescenta
um
aspecto
importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que
se
tiver
abrangente,
é
necessidade. a
Menos
formulação
colorida,
seguinte:
Para
mas
talvez
mais
uma
aprendizagem
eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for
possível
do
conteúdo
a
aprender,
tendo
em
conta
as
circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".
(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.
Porém,
quando
não
podemos
obter
o
melhor
devemos
tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual
não
devemos
esquecer
motivos
da
aprendizagem
menos
intrínsecos. Para
uma
aprendizagem
eficiente,
o
aprendiz
devia
estar
interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da
aprendizagem.
existem
outros
aprender
é,
Deixem-me
Mas,
além
motivos,
destes
alguns
bons
motivos
desejáveis.
possivelmente,
o
chamar
afirmação
a
esta
motivo
para
aprender,
(Punição menos
por
não
desejável).
princípio
da
melhor
motivação.
(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:
"Todos
os
conhecimentos
humanos
começam
por
intuições,
avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para
desejáveis. começar
conceitos
desta
pense, frase
de
por tal
favor, modo
em que
significados os
consiga
para
os
ilustrar
concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como
aluno,
"Aprendizagem" quer
como
recorda-lhe
professor.
uma
"Acção
turma e
consigo,
percepção"
quer
sugerem
manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou
régua
e
compasso;
ou
instrumentos
laboratoriais;
e
por
aí
adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,
algum
similares
tempo
no
complexos,
depois,
trabalho
mais
despendido
avançados.
exploração,
podemos
aperceber-nos
a
dominar
Deixem-me
fases
materiais
distinguir
formalização
de
três
e
mais fases:
assimilação.
A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da
percepção
e
desenrola-se
a
nível
mais
intuitivo,
mais
heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma
fase
exploratória
deve
preceder
a
fase
de
verbalização
e
formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se
e
contribuir
para
a
atitude
mental
essencial
do
aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.
5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,
pode
analisar: melhor
o
dar
bom
uso
princípio
motivação,
e
o
da
aos
três
princípios
aprendizagem
princípio
das
activa, fases
que
acabámos
de
o
princípio
da
consecutivas.
Como
vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir
dizer.
Deve
entendê-lo
intimamente,
com
base
na
sua
importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.
Mas,
importante.
As
professor
o
que
ideias
devia
os
alunos
deviam
pensam
nascer
agir
na
apenas
é
mil
vezes
mais
mente
dos
alunos
e
como
uma
o
parteira.
Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele
melhor
se
secundário
adapta
tem
é
o
diálogo
definitivamente
Socrático.
O
vantagem
em
uma
professor
do
relação
ao
professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado
e
Infelizmente,
existem
mesmo
conteúdos
no
secundário,
pré-estabelecidos
o
para
tempo
é
leccionar.
Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por
si Tenho
próprios a
normalmente
tanto
certeza se
faz.
que
é
quanto
possível
Deixem-me
for
fazer
recomendar-vos
possível.
muito um
mais
pequeno
do
que
truque
prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do
problema
que
eles
terão
de
resolver
posteriormente.
Se
os
alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo
mais
activamente.
De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,
permitindo
que
os
alunos
participem
na
formulação,
o
professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.
(2) Melhor motivação O
professor
objectivo
é
deve vender
olhar alguma
para
si
como
matemática
um aos
comerciante: mais
novos.
o Se
seu o
comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática.
O
correcto.
rapaz
Pode
que
não
recusa
ser
aprender
preguiçoso
nem
matemática
pode
estar
estúpido,
apenas
mais
interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,
convencer
o
aluno
de
que
a
matemática
é
interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema
que
é
suposto
resolver
merece
o
seu
esforço.
Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias
dos
alunos,
e
deve
ser
introduzido
através
de
uma
brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos
muito
familiares.Deve
conter,
se
possível,
um
aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele
suspeitar
que
a
tarefa
merece
o
seu
esforço.
A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem
outras
motivações
que
não
devem
ser
negligenciadas.
Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente
para
saber
se
o
seu
palpite
está
certo
ou
não
e,
portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho
da
turma.
Não
irá
adormecer
ou
portar-se
mal.
De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.
(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas
saltam
duas
importantes
fases
da
aprendizagem:
a
fase
exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução
conhecimentos, formal.
relacionado
com
a
Porém, a
regra
primeira o
antes
problema que
e
de
ilustra
a
segunda
rotina e
pouco
está
depois
da
obviamente
relacionado
com
quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais
conexões. Em
contraste
com
estes
problemas
de
rotina,
a
escola
secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.
(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de
uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.
6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.
Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.
(1) Um problema do ensino básico -
A forma de arte fundamental
do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão
horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário
de
Este."
" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,
de
certeza"
"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo
momento?"
"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"
O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino
básico?
Podem
imaginar
o
resto.
Através
de
questões
apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos
dos
alunos:
a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)
ou
Definições
para
"legal".
os
dois
meios-dias.
c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre
está
subdividida
em
zonas
de
tempo?
d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é
o
meio-dia
astronómico
de
S.
Francisco?"
e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.
(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -
A principal é o facto de enfatizar uma
operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para
resolver
este
problema,
os
alunos
devem
reconhecer
a
proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre
quando
o
proporcionalmente De
facto,
problemas
em
nos
perfeitamente
sol
está
com
a
na
natural,
no um
mais
longitude
comparação
manuais
posição
com
os
vertical da
localidade.
dolorosos
secundário, "verdadeiro"
o
variam
e
artificiais
nosso
problema.
problema Nos
é
problemas
mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.
Novamente,
os
problemas
mais
difíceis
da
matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema
de
24
zonas
horárias,
cada
uma
com
um
padrão
horário
uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou
engenheiro
maturação
a
descobrir
intelectual
utilizar
a
sua
daqueles
vocação
alunos
e
que
profissionalmente
Observe-se
também
que
este
contribuir
não
vão
a problema
para
mais
a
tarde
matemática. ilustra
vários
dos
pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente exploratória importante.
na que
formulação conduz
Depois,
os
do à
problema.
formulação
alunos
são
do
De
facto,
problema
convidados
a
a é
fase muito
adivinhar
um
aspecto essencial da solução.
(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as
seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.
(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido:
construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.
(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.
(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.
Vamos focar a atenção numa das faces
laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação
em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.
(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).
(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.
7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação
de
professores.
discutir
este
tema,
pois
Assumo quase
uma
posição
posso
concordar
confortável com
a
ao
posição
oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�
no
que
diz
respeito
à
formação
de
professores,
publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.
Pontos
aos
quais
devotei,
no
passado
e
praticamente
durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.
(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática
que
sobre
os a
conhecimentos sua
ciência,
dos
em
nossos
escolas
professores
secundárias
é,
de em
média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria
numa
melhoria
substancial.
Pretendo
chamar
a
vossa
atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações
oficiais�.
O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.
e
saber1. Claro
O
que
saber não
é
a
habilidade
existe
saber
para
sem
usar
a
pensamento
independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer
usar os
linguagem
conceitos
matemática
matemáticos
com
em
alguma
situações
fluência, concretas.
Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito
�recomendações ao
oficiais�
saber
são
matemático
silenciosas dos
no
que
diz
professores.
O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,
ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,
de
orientar,
de
ajudar
ou
mesmo
de
reconhecer
a
actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o
que
quer
receptiva
que
seja
dificilmente
que
sabe
pode
em
matemática
promover
o
estudo
apenas
de
forma
activo
dos
seus
estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um
estudante
que
a
tenha.
Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola
secundária
Não tentar
tenho uma
nenhum
coisa.
que remédio
Tenho
repetidamente
um
seminário
professores.
Os
problemas
requerem
muito
é milagroso
vindo
a
sobre
conhecimento
suposto para
oferecer
introduzir
resolução
apresentados para
além
ensinarem.
de
neste do
e
a
mas
vou
conduzir
problemas
para
seminário
nível
do
não
ensino
secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração
e
juízo
independente
�
e
a
solução
para
esses
problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito
do
material
proposto
para
as
suas
aulas
sem
grandes
alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)
Cursos
sobre
Métodos.
Do
meu
contacto
com
centenas
de
professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre
�métodos�
são
frequentemente
recebidos
com
verdadeiro
entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou
uma
expressão
pitoresca
para
um
sentimento
muito
disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira
sem
De
facto,
devemos
carne�.
nenhuma por
uma
vez
assumir
alguma
coragem
e
discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto
úteis
resposta
de
certa
alguma numa
maneira? discussão
Há
mais
aberta
hipóteses do
que
de
numa
chegar
à
aceitação
generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca
é
melhor
personalidade
do
do
que
o
professor
�
professor
é;
ensinar
existem
tantos
depende
métodos
bons
da como
existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente
aberta
e
informações
relevantes.
Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores
de
matemática.
Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,
na
sua
maioria,
ser
entendidas
como
cursos
sobre
métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o
tempo
era
realmente
dividido
em
temas
e
métodos:
talvez
nove
décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�
E
questões
apropriada)
foram
desta
natureza
também
(especificadas,
regularmente
propostas
de
nos
forma exames.
No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca
desses
padrões.
Na
minha
opinião,
é
possível
contudo
encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta
tem
que
somar
dois
mais
dois
combinando
a
última
premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o
nível
IV.
Mas
é
claramente
suficiente:
um
professor
universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.
Gostaria
de
acrescentar:
deveria
também
ter
alguma
experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para
um
futuro
professor
é,
o
espírito
de
trabalho
criativo?
Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:
I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência
em
trabalho
(�criativo�)
independente
a
um
nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.
Os
curso
professores
sobre
apenas
métodos
uma
devem
ligação
ser
oferecidos
estreita
com
os
aos
cursos
temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.
8. A atitude dos professores Como
referi
anteriormente,
as
minhas
classes
destinadas
a
professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,
inevitavelmente,
tive
que
expressar
a
minha
perspectiva
sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.
Os
meus
comentários
tenderam
a
assumir
um
carácter
organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.
Quero
agora
acrescentar
essas
alguns
comentários
dez
sobre
regras.
Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.
Contudo,
estas
regras
são
aplicáveis
a
qualquer
situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente
ao
nível
do
ensino
secundário.
No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.
DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES
1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.
A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR
Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga
Especialista em Tecnologia Educacional
Pós-graduanda em Educação a Distância
Leia outro texto da autora
O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.
v
Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins
São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.
Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à
pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar
*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário
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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.
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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO
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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.
Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a
Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.
I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e
aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade
aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste
sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.
II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia:
contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.
III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva.
Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender
estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.
Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. • •
Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual
José Manuel Moran
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
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Apresentação
Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e
de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir
daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto
fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que
alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo -
os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra,
ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o
estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e
coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os
outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.
TEXTOS
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias
Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação,
experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros
básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line"
(cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de
presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os
professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela
sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas
habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de
confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão
Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA
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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).
"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg
�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições,
avançam
para concepções e terminam com ideias� Kant
"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz
1.Ensinar não é uma ciência Vou
dar-vos
conta
de
algumas
das
minhas
opiniões
acerca
do
processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.
As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,
enquanto
opiniões
pessoais,
elas
podem
ser
irrelevantes
razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo factos
se
o
ensino
pudesse
ser
completamente
regulamentado
por
e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar
não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação
com
aprender.
O
estudo
experimental
e
teórico
da
aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e
intensa.
Mas
existe
uma
diferença.
Estamos
principalmente
preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.
2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino
se
não
concordarmos,
até
certo
ponto,
àcerca
do
objectivo
do
ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.
Esta
é
em
mim
uma
convicção
firme.
Podem
não
concordar
inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,
podem
encará-lo
como
um
objectivo
secundário
e
teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.
"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve
simplesmente
transmitir
informação
mas
também
tentar
desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de
pensamento
desejáveis.
Este
objectivo
precisa
certamente
de
maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior
explicação)
mas
neste
caso
vai
ser
suficiente
enfatizar
apenas dois aspectos.
Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max
Wertheimer).
identificadas, "resolução
de
pelo
Tais
formas
menos
exercícios".
numa Em
de
"pensamento"
primeira
qualquer
caso
podem
abordagem, um
dos
ser
com
a
principais
objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.
Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,
mas
também
com
muitas
outras
coisas:
generalização
a
partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por
analogia,
extracção
reconhecimento
a
partir
de
de
conceitos
situações
matemáticos,
concretas.
O
ou
professor
sua de
matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus
alunos
estes
"informais".
O
importantíssimos
que
quero
dizer
é
processos
de
que
utilizar
deve
pensamento esta
oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.
3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa
não por
envergonhado
é
uma
ciência
tantas por
mas
pessoas,
a
repetir.
uma
arte.
Esta
ideia
tantas
vezes,
que
me
Contudo,
se
deixarmos
já
foi
sinto
até
uma
certa
generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.
Ensinar teatral.
tem
Por
obviamente
exemplo,
muita
imaginemos
coisa que
em um
comum
com
professor
a tem
arte de
apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e
exultante
representar
quando um
a
pouco
demonstração para
bem
dos
terminar. seus
O
alunos
professor que,
em
deve
alguns
casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através
do
conteúdo
apresentado.
Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma
como descobri
no passado este ou aquele aspecto.
Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando
à
formulação
original
simples.
Outra
forma
de
arte
musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas
alterações,
mas
inserindo
entre
duas
repetições
algum
material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.
O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar
para
um
grupo
de
físicos
numa
festa.
"Porque
é
que
os
electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético
ou
Nada
é
demasiado
demasiado
bom
trivial
ou para
demasiado
mau,
clarificar
demasiado as
nossas
abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.
4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é
diferente Qualquer
de
qualquer
estratagema
eficiente
outro para
professor.
ensinar
deve
estar
correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.
Não
sabemos
muito
acerca
do
processo
de
aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A
formulação
e
combinação
desses
prioncípios
é
da
minha
responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo
algum
novos.
Têm
sido
afirmados
e
reafirmados
de
várias
formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo
parecer
psicologia
da
de
grandes
homens
aprendizagem.Estes
e
sugeridos "princípios
pelos de
estudos
da
aprendizagem"
também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.
(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se
consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir
palestras
ou
assistir
a
filmes,
sem
adicionar
nenhuma
acção
intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente
descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido
como
escritor
de
aforismos)
acrescenta
um
aspecto
importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que
se
tiver
abrangente,
é
necessidade. a
Menos
formulação
colorida,
seguinte:
Para
mas
talvez
mais
uma
aprendizagem
eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for
possível
do
conteúdo
a
aprender,
tendo
em
conta
as
circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".
(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.
Porém,
quando
não
podemos
obter
o
melhor
devemos
tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual
não
devemos
esquecer
motivos
da
aprendizagem
menos
intrínsecos. Para
uma
aprendizagem
eficiente,
o
aprendiz
devia
estar
interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da
aprendizagem.
existem
outros
aprender
é,
Deixem-me
Mas,
além
motivos,
destes
alguns
bons
desejáveis.
possivelmente,
o
chamar
afirmação
a
esta
motivos
motivo
para
aprender,
(Punição menos
princípio
por
não
desejável). da
melhor
motivação.
(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de
Kant:
"Todos
os
conhecimentos
humanos
começam
por
intuições,
avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para
desejáveis. começar
conceitos
desta
pense, frase
por
de
favor,
tal
em
modo
significados
que
os
para
consiga
os
ilustrar
concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como
"Aprendizagem"
aluno,
quer
como
recorda-lhe
professor.
uma
"Acção
turma e
consigo,
percepção"
quer
sugerem
manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou
régua
e
compasso;
ou
instrumentos
laboratoriais;
e
por
aí
adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,
algum
similares
no
complexos,
tempo
depois,
trabalho
mais
exploração,
podemos
despendido
avançados.
aperceber-nos
a
dominar
Deixem-me
formalização
materiais
distinguir e
de
três
fases mais fases:
assimilação.
A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da
percepção
e
desenrola-se
a
nível
mais
intuitivo,
mais
heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma
fase
exploratória
deve
preceder
a
fase
de
verbalização
e
formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se
e
contribuir
para
a
atitude
mental
essencial
do
aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.
5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,
pode
analisar: melhor
dar
o
bom
uso
princípio
motivação,
e
aos
da
o
três
princípios
aprendizagem
princípio
que
acabámos
de
o
princípio
da
activa,
das
fases
consecutivas.
Como
vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir
dizer.
Deve
entendê-lo
intimamente,
com
base
na
sua
importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.
Mas,
importante.
As
professor
o
que
ideias
devia
os
alunos
deviam
nascer
agir
pensam na
apenas
é
mil
vezes
mais
mente
dos
alunos
e
como
uma
o
parteira.
Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele
melhor
secundário
se tem
adapta
é
o
diálogo
definitivamente
uma
Socrático.
O
vantagem
em
professor
do
relação
ao
professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado
e
Infelizmente,
existem
mesmo
conteúdos
no
secundário,
pré-estabelecidos
o
para
tempo
é
leccionar.
Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por
si Tenho
normalmente
próprios a
certeza se
faz.
tanto que
é
quanto
possível
Deixem-me
for
fazer
recomendar-vos
possível.
muito um
mais
pequeno
do
que
truque
prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação
do
problema
que
eles
terão
de
resolver
posteriormente.
Se
os
alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo
mais
activamente.
De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,
permitindo
que
os
alunos
participem
na
formulação,
o
professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.
(2) Melhor motivação O
professor
objectivo
é
deve
olhar
vender
para
alguma
si
como
matemática
um aos
comerciante: mais
o
novos.
seu
Se
o
comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática. correcto.
O
rapaz
Pode
que
não
recusa
ser
aprender
preguiçoso
nem
matemática
pode
estar
estúpido,
apenas
mais
interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,
convencer
o
aluno
de
que
a
matemática
é
interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema
que
é
suposto
resolver
merece
o
seu
esforço.
Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias
dos
alunos,
e
deve
ser
introduzido
através
de
uma
brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos
muito
familiares.Deve
conter,
se
possível,
um
aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele
suspeitar
que
a
tarefa
merece
o
seu
esforço.
A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas
existem
outras
motivações
que
não
devem
ser
negligenciadas.
Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente
para
saber
se
o
seu
palpite
está
certo
ou
não
e,
portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho
da
turma.
Não
irá
adormecer
ou
portar-se
mal.
De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.
(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas
saltam
duas
importantes
fases
da
aprendizagem:
a
fase
exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução
conhecimentos, formal.
relacionado
com
a
Porém, a
regra
primeira o
antes
problema que
e
de
ilustra
a
segunda
rotina e
pouco
está
depois
da
obviamente
relacionado
com
quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais
conexões. Em
contraste
com
estes
problemas
de
rotina,
a
escola
secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E
reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.
(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.
6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.
Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.
(1) Um problema do ensino básico -
A forma de arte fundamental
do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário
de
Este."
" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,
de
certeza"
"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo
momento?"
"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"
O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino
básico?
Podem
imaginar
o
resto.
Através
de
questões
apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos
dos
alunos:
a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)
ou
Definições
para
"legal".
os
dois
meios-dias.
c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre
está
subdividida
em
zonas
de
tempo?
d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é
o
meio-dia
astronómico
de
S.
Francisco?"
e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema
é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.
(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -
A principal é o facto de enfatizar uma
operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para
resolver
este
problema,
os
alunos
devem
reconhecer
a
proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre
quando
o
proporcionalmente De
facto,
problemas
em
nos
perfeitamente
sol
está
com
a
na
natural,
no um
mais
longitude
comparação
manuais
posição
com
os
vertical da
localidade.
dolorosos
secundário, "verdadeiro"
o
variam
e
artificiais
nosso
problema.
problema Nos
é
problemas
mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.
Novamente,
os
problemas
mais
difíceis
da
matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema
de
24
zonas
horárias,
cada
uma
com
um
padrão
horário
uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou
engenheiro
maturação
a
descobrir
intelectual
utilizar Observe-se
a
sua
daqueles
vocação
alunos
que
profissionalmente também
que
este
e
contribuir
não
vão
a problema
para
mais
a
tarde
matemática. ilustra
vários
dos
pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem
activamente
na
exploratória importante.
que
formulação conduz
Depois,
os
do à
problema.
formulação
alunos
são
do
De
facto,
problema
convidados
a
a é
fase muito
adivinhar
um
aspecto essencial da solução.
(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base.
Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.
(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.
(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.
(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.
Vamos focar a atenção numa das faces
laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e
ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.
(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).
(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.
7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação
de
professores.
discutir
este
tema,
pois
Assumo quase
uma
posição
posso
concordar
confortável com
a
ao
posição
oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�
no
que
diz
respeito
à
formação
de
professores,
publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.
Pontos
aos
quais
devotei,
no
passado
e
praticamente
durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.
(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática
que
sobre
os a
conhecimentos sua
ciência,
dos
em
nossos
escolas
professores
secundárias
é,
de em
média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria
numa
melhoria
substancial.
Pretendo
chamar
a
vossa
atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações
oficiais�.
O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.
e
saber1. Claro
O
que
saber não
é
a
habilidade
existe
saber
para
sem
usar
a
pensamento
independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer
usar os
linguagem
conceitos
matemática
matemáticos
com
em
alguma
situações
fluência, concretas.
Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito
�recomendações ao
oficiais�
saber
são
matemático
silenciosas dos
no
que
diz
professores.
O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,
ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,
de
orientar,
de
ajudar
ou
mesmo
de
reconhecer
a
actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o
que
quer
receptiva
que
seja
dificilmente
que
sabe
pode
em
matemática
promover
o
estudo
apenas
de
forma
activo
dos
seus
estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um
estudante
que
a
tenha.
Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola
secundária
Não tentar
tenho uma
nenhum
coisa.
que remédio
Tenho
repetidamente
um
seminário
professores.
Os
problemas
requerem
muito
é milagroso
vindo
a
sobre
conhecimento
suposto para
oferecer
introduzir
resolução
apresentados para
além
ensinarem.
de
neste do
e
a
mas
vou
conduzir
problemas
para
seminário
nível
do
não
ensino
secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração
e
juízo
independente
�
e
a
solução
para
esses
problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito
do
material
proposto
para
as
suas
aulas
sem
grandes
alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)
Cursos
sobre
Métodos.
Do
meu
contacto
com
centenas
de
professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre
�métodos�
são
frequentemente
recebidos
com
verdadeiro
entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou
uma
expressão
pitoresca
para
um
sentimento
muito
disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira
sem
De
facto,
devemos
carne�.
nenhuma por
uma
vez
assumir
alguma
coragem
e
discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto
úteis
resposta
de
certa
alguma numa
maneira? discussão
Há
mais
aberta
hipóteses do
que
de
numa
chegar
à
aceitação
generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca
é
melhor
personalidade
do
do
que
o
professor
�
professor
é;
ensinar
existem
tantos
depende
métodos
bons
da como
existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente
aberta
e
informações
relevantes.
Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores
de
matemática.
Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,
na
sua
maioria,
ser
entendidas
como
cursos
sobre
métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o
tempo
era
realmente
dividido
em
temas
e
métodos:
talvez
nove
décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�
E
questões
apropriada)
foram
desta
natureza
também
(especificadas,
regularmente
propostas
de
nos
forma exames.
No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca
desses
padrões.
Na
minha
opinião,
é
possível
contudo
encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta
tem
que
somar
dois
mais
dois
combinando
a
última
premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o
nível
IV.
Mas
é
claramente
suficiente:
um
professor
universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.
Gostaria
de
acrescentar:
deveria
também
ter
alguma
experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para
um
futuro
professor
é,
o
espírito
de
trabalho
criativo?
Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:
I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência
em
trabalho
(�criativo�)
independente
a
um
nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.
Os
curso
professores
sobre
apenas
métodos
uma
devem
ligação
ser
oferecidos
estreita
com
os
aos
cursos
temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.
8. A atitude dos professores Como
referi
anteriormente,
as
minhas
classes
destinadas
a
professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,
inevitavelmente,
tive
que
expressar
a
minha
perspectiva
sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.
Os
meus
comentários
tenderam
a
assumir
um
carácter
organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.
Quero
agora
acrescentar
essas
alguns
comentários
dez
sobre
regras.
Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.
Contudo,
estas
regras
são
aplicáveis
a
qualquer
situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente
ao
nível
do
ensino
secundário.
No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.
DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES
1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.
A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR
Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga
Especialista em Tecnologia Educacional
Pós-graduanda em Educação a Distância
Leia outro texto da autora
O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.
v
Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins
São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.
Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à
pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar
*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário
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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.
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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO
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▼ 2008 (59) • ▼ Maio (36) • O papel do professor como educador no uso das nova... Tecnologia na Educação Tecnologia na educação, uma solução para desenvolv... Novas tecnologias e o processo ensino-aprendizagem... METAMORFOSE CONSTANTE VAMOS POR AS MÃOS NA MASSA DO PROCESSO DE ENSINO? Educar a sociedade para o mundo globalizado e comp... Tecnologia Educacional Disponibilidade Tecnológica TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO PARA UMA APRENDIZAGEM SIGN... Tecnologia Promovendo a Aprendizagem Humana TECNOLOGIA NA SALA DE AULA: COMO DIRECIONAR PARA F... Didática é uma tecnologia, será? TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, NOVAS GERAÇÕES. O USO DAS TECNOLOGIAS E O CONSTRUTIVISMO AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A APRENDIZAGEM Tecnologia Educacional: novos conhecimentos, novos... TECNOLOGIA EDUCACIONAL Educação, Globalização – Um processo de Atualizaçã... TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM HUMANA Meios para uma aprendizagem eficaz Tecnologia da Educação e Aprendizagem Humana Aprender para melhor ensinar Tecnologia da educação e aprendizagem humana. ADEQUAÇÃO ESCOLAR AS EXIGÊNCIAS DO MUNDO MODERNO Quais elementos são importantes para que haja uma ... Adaptação da escola ás mudanças tecnológicas OS CAMINHOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA TECN... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIA... O USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO A Tecnologia está em nosso dia-a-dia A TECNOLOGIA COMO REQUISITO EDUCATIVO NA VIDA HUMA... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM A aprendizagem e as novas tecnologias • ► Abril (20) • EDUCAÇÃO TECNOLÓIGICA - VIVIANE MARTINELLI Tecnologia na Educação - Uatia Tânia Viana Carv... Tecnologia na Escola – quem tem medo dela? - Síl... Tecnologia na Educação - Osvaldo da Silva A tecnologia em benefício da Educação. - Marta Cr... RECURSOS TECNOLÓGICOS: BICHO PAPÃO? - Marli B. de... INTRODUÇÃO A TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Luciano da ... A TECNOLOGIA MODERNA: UM DESAFIO PARA ADAPTÁ-LA A ... TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Leila Melo de Carvalho Tecnologia na educação - Laudinéa de Souza Rodri... Tecnologia educacional - Juciane Martins da Hor... A Evolução da Humanidade e os Avanços Tecnológicos... O PROFESSOR E AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS - Jaqu... Introdução a tecnologia educacional - Helen Maciel...
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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.
Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a
Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.
I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e
aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade
aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste
sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.
II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia:
contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.
III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva.
Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender
estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.
Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. •
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e
sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o
sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências
significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída
por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a
confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no
processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia.
Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor.
A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada
página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.
TEXTOS
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias
Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
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Apresentação
Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais
compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente
facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet.
É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo.
Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os
envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria,
vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes
passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de
interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres,
autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA DODGE, Bernis. WebQuests: a technique for Internet-based learning. The Distance Educator. San Diego, vol 1, n.2, p.10-13, Summer 1995. FERREIRA, Sueli. Introducão às Redes Eletrônicas de Comunicação. Ciências da Informação.Brasília, 23(2):258-263, maio/agosto, 1994. GARDNER, Howard. As estruturas da mente; a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. GILDER, George. Vida após a televisão; vencendo na revolução digital. Rio de Janeiro, Ediouro, 1996. ELLSWORTH, Jill. Education on the Internet. Indianápolis, Sams Publishing, 1994. ESTABROOK, Noel et al. Using UseNet Newsgroups. Indianopolis, Que, 1995. HOINEFF, Nelson. A nova televisão; desmassificação e o impasse das grandes redes. Rio de Janeiro. Delume Dumará, 1996. LASMAR, Tereza Jorge. Usos educacionais da Internet: A contribuição das redes eletrônicas para o desenvolvimento de programas educacionais. Brasília, Faculdade de Educação, 1995. Dissertação de Mestrado. LINARD, Monique & BELISLE, Claire. Comp’act: new competencies of training actors with new information and communication technologies. Ecully, CNRS, 1995 LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. Petrópolis, Vozes, 1995. MOLL, Luis (org). Vygotsky e a educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996. MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal; Gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo, Paulinas, 1998. ___________________. Como utilizar a Internet na Educação. Revista Ciência da Informação, vol 26, n.2, maio-agosto, 1997; páginas 146-153. ___________________. Leituras dos Meios de Comunicação. São Paulo, Ed. Pancast, 1993. ___________________. Como ver televisão. São Paulo, Paulinas, 1991. NOVOA, Antônio (org.). Vidas de Professores. Porto, Porto Editora, 1992. PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. POSTMANN, Neil. Tecnopolio. São Paulo, Nobel, 1994. SEABRA, Carlos. Usos da telemática na educação. In Acesso; Revista de Educação e Informática. São Paulo, v.5, n.10, p.4-11, julho, 1995.
<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local.
Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).
"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching", in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg
�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam
para concepções e terminam com ideias� Kant
"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz
1.Ensinar não é uma ciência Vou
dar-vos
conta
de
algumas
das
minhas
opiniões
acerca
do
processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.
As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,
enquanto
opiniões
pessoais,
elas
podem
ser
irrelevantes
razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso
tempo
se
factos
o
ensino
pudesse
ser
completamente
regulamentado
por
e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar
não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação
com
aprender.
O
estudo
experimental
e
teórico
da
aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e
intensa.
Mas
existe
uma
diferença.
Estamos
principalmente
preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.
2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se
não
concordarmos,
até
certo
ponto,
àcerca
do
objectivo
do
ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.
Esta
é
em
mim
uma
convicção
firme.
Podem
não
concordar
inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,
podem
encará-lo
como
um
objectivo
secundário
e
teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.
"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve
simplesmente
transmitir
informação
mas
também
tentar
desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação
transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de
pensamento
desejáveis.
Este
objectivo
precisa
certamente
de
maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior
explicação)
mas
neste
caso
vai
ser
suficiente
enfatizar
apenas dois aspectos.
Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max
Wertheimer).
identificadas, "resolução
Tais
pelo
de
formas
menos
exercícios".
de
numa Em
"pensamento"
primeira
qualquer
podem
abordagem,
caso
um
dos
ser
com
a
principais
objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.
Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,
mas
também
com
muitas
outras
coisas:
generalização
a
partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por
analogia,
extracção
reconhecimento
a
partir
de
de
conceitos
situações
matemáticos,
concretas.
O
ou
professor
sua de
matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus
alunos
estes
"informais".
O
que
importantíssimos quero
dizer
é
processos
de
que
utilizar
deve
pensamento esta
oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.
3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa
não por
envergonhado
é
uma
tantas por
a
ciência pessoas, repetir.
mas
uma
arte.
Esta
ideia
tantas
vezes,
que
me
Contudo,
se
deixarmos
já
foi
sinto
até
uma
certa
generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.
Ensinar teatral.
tem
Por
obviamente
exemplo,
muita
coisa
imaginemos
que
em um
comum
com
a
professor
tem
arte de
apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e
exultante
representar
quando um
a
pouco
demonstração para
bem
dos
terminar. seus
O
alunos
professor que,
em
deve
alguns
casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através
do
conteúdo
apresentado.
Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri
no passado este ou aquele aspecto.
Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando
à
formulação
original
simples.
Outra
forma
de
arte
musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou
nenhumas
alterações,
mas
inserindo
entre
duas
repetições
algum
material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.
O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar
para
um
grupo
de
físicos
numa
festa.
"Porque
é
que
os
electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético
Nada
ou
é
demasiado
demasiado
bom
trivial
ou
demasiado
para
mau,
clarificar
demasiado as
nossas
abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.
4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é
diferente Qualquer
de
estratagema
qualquer eficiente
outro para
ensinar
professor. deve
estar
correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.
Não
sabemos
muito
acerca
do
processo
de
aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem
vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A
formulação
e
combinação
desses
prioncípios
é
da
minha
responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo
algum
novos.
Têm
sido
afirmados
e
reafirmados
de
várias
formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo
parecer
psicologia
de
da
grandes
homens
e
aprendizagem.Estes
sugeridos "princípios
pelos de
estudos
da
aprendizagem"
também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.
(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se
consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir
palestras
ou
assistir
a
filmes,
sem
adicionar
nenhuma
acção
intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido
como
escritor
de
aforismos)
acrescenta
um
aspecto
importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que
se
tiver
abrangente,
é
necessidade. a
Menos
formulação
colorida,
seguinte:
Para
mas
talvez
mais
uma
aprendizagem
eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for
possível
do
conteúdo
a
aprender,
tendo
em
conta
as
circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".
(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz
não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.
Porém,
quando
não
podemos
obter
o
melhor
devemos
tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual
não
devemos
esquecer
motivos
da
aprendizagem
menos
intrínsecos. Para
uma
aprendizagem
eficiente,
o
aprendiz
devia
estar
interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da
aprendizagem.
existem
outros
aprender
é,
Deixem-me
Mas,
além
motivos,
destes
alguns
bons
motivos
desejáveis.
possivelmente,
o
chamar
afirmação
a
esta
motivo
para
aprender,
(Punição menos
por
não
desejável).
princípio
da
melhor
motivação.
(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:
"Todos
os
conhecimentos
humanos
começam
por
intuições,
avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para
desejáveis. começar
conceitos
desta
pense, frase
de
por tal
favor, modo
em que
significados os
para
consiga
os
ilustrar
concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como
aluno,
"Aprendizagem" quer
como
recorda-lhe
professor.
uma
"Acção
turma e
consigo,
percepção"
quer
sugerem
manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou
régua
e
compasso;
ou
instrumentos
laboratoriais;
e
por
aí
adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,
algum
similares
tempo
no
complexos,
depois,
trabalho
mais
despendido
avançados.
exploração,
podemos
aperceber-nos
a
dominar
Deixem-me
fases
materiais
distinguir
formalização
de
três
e
mais fases:
assimilação.
A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da
percepção
e
desenrola-se
a
nível
mais
intuitivo,
mais
heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma
fase
exploratória
deve
preceder
a
fase
de
verbalização
e
formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se
e
contribuir
para
a
atitude
mental
essencial
do
aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.
5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,
pode
analisar: melhor
o
dar
bom
uso
princípio
motivação,
e
o
da
aos
três
princípios
aprendizagem
princípio
das
activa, fases
que
acabámos
de
o
princípio
da
consecutivas.
Como
vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um
determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir
dizer.
Deve
entendê-lo
intimamente,
com
base
na
sua
importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.
Mas,
importante.
As
professor
o
que
ideias
devia
os
alunos
deviam
pensam
nascer
agir
na
apenas
é
mil
vezes
mais
mente
dos
alunos
e
como
uma
o
parteira.
Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele
melhor
se
secundário
adapta
tem
é
o
diálogo
definitivamente
Socrático.
O
vantagem
em
uma
professor
do
relação
ao
professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado
e
Infelizmente,
existem
mesmo
conteúdos
no
secundário,
pré-estabelecidos
o
para
tempo
é
leccionar.
Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por
si Tenho
próprios a
normalmente
tanto
certeza se
faz.
que
é
quanto
possível
Deixem-me
for
fazer
recomendar-vos
possível.
muito um
mais
pequeno
do
que
truque
prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do
problema
que
eles
terão
de
resolver
posteriormente.
Se
os
alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo
mais
activamente.
De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,
permitindo
que
os
alunos
participem
na
formulação,
o
professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.
(2) Melhor motivação O
professor
objectivo
é
deve vender
olhar alguma
para
si
como
matemática
um aos
comerciante: mais
novos.
o Se
seu o
comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante
atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática.
O
correcto.
rapaz
Pode
que
não
recusa
ser
aprender
preguiçoso
nem
matemática
pode
estar
estúpido,
apenas
mais
interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,
convencer
o
aluno
de
que
a
matemática
é
interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema
que
é
suposto
resolver
merece
o
seu
esforço.
Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias
dos
alunos,
e
deve
ser
introduzido
através
de
uma
brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos
muito
familiares.Deve
conter,
se
possível,
um
aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele
suspeitar
que
a
tarefa
merece
o
seu
esforço.
A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem
outras
motivações
que
não
devem
ser
negligenciadas.
Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente
para
saber
se
o
seu
palpite
está
certo
ou
não
e,
portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho
da
turma.
Não
irá
adormecer
ou
portar-se
mal.
De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.
(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que
estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas
saltam
duas
importantes
fases
da
aprendizagem:
a
fase
exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução
conhecimentos, formal.
relacionado
com
a
Porém, a
regra
primeira o
antes
problema que
e
de
ilustra
a
segunda
rotina e
pouco
está
depois
da
obviamente
relacionado
com
quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais
conexões. Em
contraste
com
estes
problemas
de
rotina,
a
escola
secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.
(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa
muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.
6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.
Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino. Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.
(1) Um problema do ensino básico -
A forma de arte fundamental
do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário
de
Este."
" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,
de
certeza"
"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo
momento?"
"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"
O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino
básico?
Podem
imaginar
o
resto.
Através
de
questões
apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos
dos
alunos:
a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional b)
ou
Definições
para
"legal".
os
dois
meios-dias.
c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre
está
subdividida
em
zonas
de
tempo?
d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é
o
meio-dia
astronómico
de
S.
Francisco?"
e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.
(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -
A principal é o facto de enfatizar uma
operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para
resolver
este
problema,
os
alunos
devem
reconhecer
a
proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre
quando
o
sol
está
na
posição
mais
vertical
variam
proporcionalmente De
facto,
problemas
em
nos
perfeitamente
com
a
longitude
comparação
manuais natural,
no um
com
os
da
localidade.
dolorosos
secundário, "verdadeiro"
o
e
artificiais
nosso
problema.
problema Nos
é
problemas
mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.
Novamente,
os
problemas
mais
difíceis
da
matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema
de
24
zonas
horárias,
cada
uma
com
um
padrão
horário
uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou
engenheiro
maturação
a
descobrir
intelectual
utilizar
a
sua
daqueles
vocação
alunos
e
que
profissionalmente
Observe-se
também
que
este
contribuir
não
vão
a problema
para
mais
a
tarde
matemática. ilustra
vários
dos
pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente
na
exploratória importante.
que
formulação conduz
Depois,
os
do à
problema.
formulação
alunos
são
do
De
facto,
problema
convidados
a
a é
fase muito
adivinhar
um
aspecto essencial da solução.
(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível
secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.
(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.
(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.
(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.
Vamos focar a atenção numa das faces
laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência.
O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.
(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).
(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.
7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação
de
professores.
discutir
este
tema,
pois
Assumo quase
uma
posição
posso
concordar
confortável com
a
ao
posição
oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�
no
que
diz
respeito
à
formação
de
professores,
publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.
Pontos
aos
quais
devotei,
no
passado
e
praticamente
durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.
(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática
que
sobre
os a
conhecimentos sua
ciência,
dos
em
nossos
escolas
professores
secundárias
é,
de em
média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria
numa
melhoria
substancial.
Pretendo
chamar
a
vossa
atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações
oficiais�.
O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.
e
saber1. Claro
O
que
saber não
é
a
habilidade
existe
saber
para
sem
usar
a
pensamento
independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer
usar os
linguagem
conceitos
matemática
matemáticos
com
em
alguma
situações
fluência, concretas.
Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As respeito
�recomendações ao
oficiais�
saber
são
matemático
silenciosas dos
no
que
diz
professores.
O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas,
ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,
de
orientar,
de
ajudar
ou
mesmo
de
reconhecer
a
actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o
que
quer
receptiva
que
seja
dificilmente
que
sabe
pode
em
matemática
promover
o
estudo
apenas
de
forma
activo
dos
seus
estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um
estudante
que
a
tenha.
Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola
secundária
Não tentar
tenho uma
nenhum
coisa.
que remédio
Tenho
repetidamente
um
seminário
professores.
Os
problemas
requerem
muito
é milagroso
vindo
a
sobre
conhecimento
suposto para
oferecer
introduzir
resolução
apresentados para
além
ensinarem.
de
neste do
e
a
mas
vou
conduzir
problemas
para
seminário
nível
do
não
ensino
secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração
e
juízo
independente
�
e
a
solução
para
esses
problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito
do
material
proposto
para
as
suas
aulas
sem
grandes
alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos). (2)
Cursos
sobre
Métodos.
Do
meu
contacto
com
centenas
de
professores de matemática retirei a impressão de que os cursos sobre
�métodos�
são
frequentemente
recebidos
com
verdadeiro
entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou
uma
expressão
pitoresca
para
um
sentimento
muito
disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira
sem
De
facto,
devemos
carne�.
nenhuma por
uma
vez
assumir
alguma
coragem
e
discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto
úteis
resposta
de
certa
alguma numa
maneira? discussão
Há
mais
aberta
hipóteses do
que
de
numa
chegar
à
aceitação
generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca
é
melhor
personalidade
do
do
que
o
professor
�
professor
é;
ensinar
existem
tantos
depende
métodos
bons
da como
existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente
aberta
e
informações
relevantes.
Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores
de
matemática.
Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,
na
sua
maioria,
ser
entendidas
como
cursos
sobre
métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o
tempo
era
realmente
dividido
em
temas
e
métodos:
talvez
nove
décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�
E
questões
apropriada)
foram
desta
natureza
também
(especificadas,
regularmente
propostas
de
nos
forma exames.
No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca
desses
padrões.
Na
minha
opinião,
é
possível
contudo
encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta
tem
que
somar
dois
mais
dois
combinando
a
última
premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o
nível
IV.
Mas
é
claramente
suficiente:
um
professor
universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.
Gostaria
de
acrescentar:
deveria
também
ter
alguma
experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para
um
futuro
professor
é,
o
espírito
de
trabalho
criativo?
Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações oficiais� da Associação:
I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência
em
trabalho
(�criativo�)
independente
a
um
nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.
Os
curso
professores
sobre
apenas
métodos
uma
devem
ligação
ser
oferecidos
estreita
com
os
aos
cursos
temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.
8. A atitude dos professores Como
referi
anteriormente,
as
minhas
classes
destinadas
a
professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,
inevitavelmente,
tive
que
expressar
a
minha
perspectiva
sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.
Os
meus
comentários
tenderam
a
assumir
um
carácter
organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.
Quero
agora
acrescentar
essas
alguns
comentários
dez
sobre
regras.
Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.
Contudo,
estas
regras
são
aplicáveis
a
qualquer
situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente
ao
nível
do
ensino
secundário.
No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.
DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES
1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.
A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR
Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga
Especialista em Tecnologia Educacional
Pós-graduanda em Educação a Distância
Leia outro texto da autora
O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.
v
Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins
São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central pa quem ensinar a aprender. As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.
Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à
pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar
*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO 0 comentários: Postar um comentário
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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia. Visualizar meu perfil completo
BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO
ARTIGOS ACADÊMICOS •
▼ 2008 (59)
▼ Maio (36) • O papel do professor como educador no uso das nova... Tecnologia na Educação Tecnologia na educação, uma solução para desenvolv... Novas tecnologias e o processo ensino-aprendizagem... METAMORFOSE CONSTANTE VAMOS POR AS MÃOS NA MASSA DO PROCESSO DE ENSINO? Educar a sociedade para o mundo globalizado e comp... Tecnologia Educacional Disponibilidade Tecnológica TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO PARA UMA APRENDIZAGEM SIGN... Tecnologia Promovendo a Aprendizagem Humana TECNOLOGIA NA SALA DE AULA: COMO DIRECIONAR PARA F... Didática é uma tecnologia, será? TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, NOVAS GERAÇÕES. O USO DAS TECNOLOGIAS E O CONSTRUTIVISMO AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A APRENDIZAGEM Tecnologia Educacional: novos conhecimentos, novos... TECNOLOGIA EDUCACIONAL Educação, Globalização – Um processo de Atualizaçã... TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM HUMANA Meios para uma aprendizagem eficaz Tecnologia da Educação e Aprendizagem Humana Aprender para melhor ensinar Tecnologia da educação e aprendizagem humana. ADEQUAÇÃO ESCOLAR AS EXIGÊNCIAS DO MUNDO MODERNO Quais elementos são importantes para que haja uma ... Adaptação da escola ás mudanças tecnológicas OS CAMINHOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA TECN... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIA... O USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO A Tecnologia está em nosso dia-a-dia A TECNOLOGIA COMO REQUISITO EDUCATIVO NA VIDA HUMA... A TECNOLOGIA, UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA EDUCAR UM... A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM A aprendizagem e as novas tecnologias • ► Abril (20) • EDUCAÇÃO TECNOLÓIGICA - VIVIANE MARTINELLI Tecnologia na Educação - Uatia Tânia Viana Carv... Tecnologia na Escola – quem tem medo dela? - Síl... Tecnologia na Educação - Osvaldo da Silva A tecnologia em benefício da Educação. - Marta Cr... RECURSOS TECNOLÓGICOS: BICHO PAPÃO? - Marli B. de... INTRODUÇÃO A TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Luciano da ... A TECNOLOGIA MODERNA: UM DESAFIO PARA ADAPTÁ-LA A ... TECNOLOGIA EDUCACIONAL - Leila Melo de Carvalho Tecnologia na educação - Laudinéa de Souza Rodri... Tecnologia educacional - Juciane Martins da Hor... A Evolução da Humanidade e os Avanços Tecnológicos... O PROFESSOR E AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS - Jaqu... Introdução a tecnologia educacional - Helen Maciel... • ► Março (3) •
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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.
Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução:
"Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.
I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu
nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia eMudar
a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e
BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que
pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa.
Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós.
Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar.
Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se
comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela
constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos.
A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera
uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da
aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.
TEXTOS
Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65
Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? • •
Educar o educador
Educação para a autonomia e para a cooperação Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação •
Conclusão
Apresentação "Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers) Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e
comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo. Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente. Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as
dimensões. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal. O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente. O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação. Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa. Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente. Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar. Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição. Transformar a aula em pesquisa e comunicação Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da
participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema.. Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente. Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona. Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet). Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade. Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós. Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet. É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula? Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar
em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais. Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor. Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar. Educar o educador De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo. Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta. Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas. As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos. Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses.
O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos. As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem. As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professoreducador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudálos melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Educação para a autonomia e para a cooperação A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!. Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias. Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação,
para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um. O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença. A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga. O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pósgraduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet. Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional. O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades. Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente). Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem
anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas. O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página. Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada. Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais
bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor. A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece. A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens. Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos. Alguns problemas no uso da Internet na educação Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói. Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula... Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma
consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo. Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado. Conclusão Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário. É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. BIBLIOGRAFIA DODGE, Bernis. WebQuests: a technique for Internet-based learning. The Distance Educator. San Diego, vol 1, n.2, p.10-13, Summer 1995. FERREIRA, Sueli. Introducão às Redes Eletrônicas de Comunicação. Ciências da Informação.Brasília, 23(2):258-263, maio/agosto, 1994. GARDNER, Howard. As estruturas da mente; a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre,
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<< Voltar à página inicial Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais A Fundação Banco do Brasil e a Revista Fórum estão promovendo o concurso "Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais" de forma a estimular a discussão, entre professores e estudantes, sobre como desenvolver tecnologias sociais em projetos de desenvolvimento local. Podem participar professores da rede pública de ensino fundamental ou de espaços não-formais de educação - atividades organizadas fora do sistema regular de ensino, com objetivos educacionais bem definidos, para a faixa do ensino fundamental, independente da idade dos alunos. Uma definição geral de educação não-formal está na página do Inep (clique em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37499). O critério se aplica aos EJAs na faixa de ensino fundamental e a professores que promovam ações educacionais gratuitamente. Entram também entidades que promovam atividades complementares dentro de escolas públicas, mas sem vínculo com o Estado. Os participantes deverão propor formas para apresentar o conceito de tecnologia social aos estudantes. Além de justificar a proposta, o concorrente deverá indicar como pretende envolver a escola e a comunidade no debate. Cinqüenta finalistas, dez de cada região do país, serão selecionados para concorrer à premiação. Os critérios para a seleção desta etapa são: clareza da apresentação, potencial de reaplicação e originalidade da proposta. Na etapa final do concurso, cinco professores, um de cada região do Brasil, serão selecionados e ganharão uma viagem ao Fórum Social Mundial 2009 (FSM Amazônico), marcado para o período de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, em Belém (PA).
"Aprender, ensinar e aprender a ensinar" Polya "On Lerning, Teaching and Learning Teaching",
in Mathematical Discovery (1962-64), cap. XIV. "O que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade" Lichtenberg
�Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam
para concepções e terminam com ideias� Kant
"Escrevo para que o aprendiz possa sempre aperceber-se do fundamento interno das coisas que aprende, de tal forma que a origem da invenção possa apareçer e, portanto, de tal forma que o aprendiz possa aprender tudo como se o tivesse inventado por si próprio" Leibniz
1.Ensinar não é uma ciência Vou
dar-vos
conta
de
algumas
das
minhas
opiniões
acerca
do
processo de aprendizagem, da arte de ensinar e da formação de professores.
As minhas opiniões resultam de uma longa experiência. Apesar disso,
enquanto
opiniões
pessoais,
elas
podem
ser
irrelevantes
razão pela qual não me atreveria a com elas desperdiçar o vosso tempo factos
se
o
ensino
pudesse
ser
completamente
regulamentado
por
e teorias científicos. Porém, não é este o caso. Ensinar
não é, na minha opinião, apenas um ramo da psicologia aplicada. Não o é em nenhum aspecto, pelo menos no presente. Ensinar está em correlação
com
aprender.
O
estudo
experimental
e
teórico
da
aprendizagem é um ramo da psicologia cultivado de forma extensiva e
intensa.
Mas
existe
uma
diferença.
Estamos
principalmente
preocupados com a complexidade das situações de aprendizagem, tais como aprender álgebra ou aprender a ensinar, e com os seus efeitos educacionais a longo prazo. Por seu lado, os psicólogos dedicam grande parte da sua atenção a situações simplificadas e a curto prazo. Quer isto dizer que, embora a psicologia da aprendizagem possa dar-nos pistas interessantes, não pode ter a pretensão de dar a última palavra sobre os problemas do ensino.
2. O objectivo do ensino Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se
não
concordarmos,
até
certo
ponto,
àcerca
do
objectivo
do
ensino. Deixem-me especificar. Estou preocupado com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma ideia "fora de moda" acerca do seu objectivo: primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR.
Esta
é
em
mim
uma
convicção
firme.
Podem
não
concordar
inteiramente com ela mas presumo que concordarão com ela até certo ponto. Se não consideram que "ensinar a pensar" é um objectivo prioritário,
podem
encará-lo
como
um
objectivo
secundário
e
teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte.
"Ensinar a pensar" significa que o professor de Matemática não deve
simplesmente
transmitir
informação
mas
também
tentar
desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de
pensamento
desejáveis.
Este
objectivo
precisa
certamente
de
maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior
explicação)
mas
neste
caso
vai
ser
suficiente
enfatizar
apenas dois aspectos.
Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" (William James) ou "pensamento produtivo" (Max
Wertheimer).
identificadas, "resolução
de
pelo
Tais menos
formas
exercícios".
numa Em
de
"pensamento"
primeira
qualquer
caso
podem
abordagem, um
dos
com
ser a
principais
objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver
problemas.
Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas,
mas
também
com
muitas
outras
coisas:
generalização
a
partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por
analogia,
extracção
reconhecimento
a
partir
de
de
conceitos
situações
matemáticos,
concretas.
O
ou
professor
sua de
matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus
alunos
estes
"informais".
O
importantíssimos
que
quero
dizer
é
processos
de
que
utilizar
deve
pensamento esta
oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando.
3. Ensinar é uma arte Ensinar expressa
não por
envergonhado
é
uma
ciência
tantas por
a
mas
pessoas, repetir.
uma
arte.
Esta
ideia
tantas
vezes,
que
me
Contudo,
se
deixarmos
já
foi
sinto
até
uma
certa
generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.
Ensinar teatral.
tem
Por
obviamente
exemplo,
muita
imaginemos
coisa que
em um
comum
com
professor
a tem
arte de
apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e
exultante
representar
quando um
pouco
a
demonstração para
bem
dos
terminar. seus
O
alunos
professor que,
em
deve
alguns
casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através
do
conteúdo
apresentado.
Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri
no passado este ou aquele aspecto.
Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando
à
formulação
original
simples.
Outra
forma
de
arte
musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas
alterações,
mas
inserindo
entre
duas
repetições
algum
material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.
O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar
para
um
grupo
de
físicos
numa
festa.
"Porque
é
que
os
electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais
profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. poético
Nada
ou
é
demasiado
demasiado
bom
ou
trivial
demasiado
para
mau,
clarificar
demasiado as
nossas
abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.
4. Três princípios de aprendizagem Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é
diferente Qualquer
de
qualquer
estratagema
eficiente
outro para
professor.
ensinar
deve
estar
correlacionado de alguma maneira com a natureza do processo de aprendizagem.
Não
sabemos
muito
acerca
do
processo
de
aprendizagem. Mas um ainda que rude esboço de algumas das suas mais óbvias características pode laçar alguma luz, que seria bem vinda, sobre os truques da nossa profissão. Deixem-me desenhar esse tal esboço na forma de três "princípios" de aprendizagem. A
formulação
e
combinação
desses
prioncípios
é
da
minha
responsabilidade, mas os "princípios", em si mesmos, não são de modo
algum
novos.
Têm
sido
afirmados
e
reafirmados
de
várias
formas, derivam da experiência de muitos anos, foram aprovados pelo
parecer
psicologia
da
de
grandes
homens
aprendizagem.Estes
e
sugeridos "princípios
pelos de
estudos
da
aprendizagem"
também podem ser considerados como "princípios de ensino" e esta é a principal razão para os ter aqui em conta.
(1) Aprendizagem activa. Já foi dito por muitas pessoas e das mais variadas formas que a aprendizagem deve ser activa, não meramente passiva ou receptiva.
Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se
consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir
palestras
ou
assistir
a
filmes,
sem
adicionar
nenhuma
acção
intelectual. Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): A melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido
como
escritor
de
aforismos)
acrescenta
um
aspecto
importante: Aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que
se
tiver
abrangente,
é
necessidade. a
Menos
formulação
colorida,
seguinte:
Para
mas
talvez
mais
uma
aprendizagem
eficiente, o aprendiz deve descobrir por si próprio tanto quanto for
possível
do
conteúdo
a
aprender,
tendo
em
conta
as
circunstâncias. Este é o princípio da aprendizagem activa (Arbeitsprinzip). Princípio muito antigo que tem por detrás nada menos que o "método Socrático".
(2) Melhor motivação. A aprendizagem deve ser activa, como já dissemos. Mas o aprendiz não agirá se não tiver motivos para agir. Tem de ser induzido a agir através de estímulos, por exemplo, através da esperança de obter alguma recompensa. O interesse pelo conteúdo da aprendizagem devia ser o melhor estímulo para a aprendizagem e o prazer da intensiva actividade mental devia ser a melhor recompensa para tal actividade.
Porém,
quando
não
podemos
obter
o
melhor
devemos
tentar obter o segundo melhor, ou o terceiro melhor, razão pela qual
não
devemos
esquecer
motivos
da
aprendizagem
menos
intrínsecos. Para
uma
aprendizagem
eficiente,
o
aprendiz
devia
estar
interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer na actividade da
aprendizagem.
existem aprender
outros é,
Mas,
além
motivos,
destes
alguns
possivelmente,
bons
motivos
desejáveis. o
motivo
para
(Punição menos
aprender, por
não
desejável).
Deixem-me
chamar
a
esta
afirmação
princípio
da
melhor
motivação.
(3) Fases consecutivas. Permitam-me que comece por uma frase frequentemente citada de Kant:
"Todos
os
conhecimentos
humanos
começam
por
intuições,
avançam para concepções e terminam com ideias". A tradução inglesa de Kant usa os termos "cognition, intuition, idea". Não sou capaz (quem é?) de dizer em que sentido exacto Kant pretendia usar estes termos. Mas permitam-me que apresente a minha interpretação do "dictum" de Kant: Aprender começa por uma acção e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento Para
desejáveis. começar
conceitos
desta
pense, frase
por
de
favor,
tal
modo
em
significados
que
os
para
consiga
os
ilustrar
concretamente com base na sua própria experiência. (Induzi-lo a pensar acerca da sua experiência pessoal é uma das consequências desejadas). como
"Aprendizagem"
aluno,
quer
como
recorda-lhe
professor.
uma
"Acção
turma e
consigo,
percepção"
quer
sugerem
manipulação e observação de coisas concretas como seixos ou maçãs; ou
régua
e
compasso;
ou
instrumentos
laboratoriais;
e
por
aí
adiante. Tal interpretação dos conceitos pode tornar-se mais fácil ou mais natural quando pensamos em materiais simples e elementares. Porém,
algum
similares complexos,
no
tempo
depois,
trabalho
mais
exploração,
podemos
despendido
avançados.
a
Deixem-me
formalização
aperceber-nos dominar
materiais
distinguir e
de
três
fases mais fases:
assimilação.
A primeira fase, a da exploração, está mais próxima da acção e da
percepção
e
desenrola-se
a
nível
mais
intuitivo,
mais
heurístico. A segunda fase, a da formalização, ascende a um nível mais conceptual, introduzindo terminologia, definições, demonstrações. A fase de assimilação vem por último: ela implica a tentativa para perceber a "essência" das coisas. O conteúdo aprendido deve
ser digerido mentalmente, absorvido no sistema do conhecimento, em todo o sistema mental do aprendiz. Esta fase, por um lado, prepara o caminho para as aplicações e, por outro, para generalizações maiores. Deixem-me fazer um sumário: para uma aprendizagem eficiente, uma
fase
exploratória
deve
preceder
a
fase
de
verbalização
e
formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se
e
contribuir
para
a
atitude
mental
essencial
do
aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas.
5. Três princípios do ensino O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo,
pode
analisar: melhor
dar
o
bom
uso
princípio
motivação,
e
aos
da
o
três
princípios
aprendizagem
princípio
activa,
das
fases
que
acabámos
de
o
princípio
da
consecutivas.
Como
vimos, estes princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio, o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir
dizer.
Deve
entendê-lo
intimamente,
com
base
na
sua
importante experiência pessoal. (1) Aprendizagem activa. O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante.
Mas,
importante.
As
professor
o
que
ideias
devia
os
alunos
deviam agir
nascer
pensam na
apenas
é
mil
vezes
mais
mente
dos
alunos
e
como
uma
o
parteira.
Este é o clássico preceito Socrático e a forma de ensino que a ele
melhor
secundário
se tem
adapta
é
o
diálogo
definitivamente
uma
Socrático.
O
vantagem
em
professor
do
relação
ao
professor universitário na medida em que pode usar o diálogo mais extensivamente. limitado
e
Infelizmente,
existem
conteúdos
mesmo
no
secundário,
pré-estabelecidos
para
o
tempo
é
leccionar.
Portanto, nem todos os assuntos podem ser discutidos através do diálogo. Contudo, o princípio é este: deixar os alunos descobrir por
si
próprios
Tenho
a
normalmente
tanto
certeza se
faz.
que
é
quanto
possível
Deixem-me
for
fazer
recomendar-vos
possível.
muito um
mais
do
pequeno
que
truque
prático: deixem os alunos contribuir activamente para a formulação do
problema
que
eles
terão
de
resolver
posteriormente.
Se
os
alunos tiverem participado na formulação do problema, irão depois trabalhá-lo
mais
activamente.
De facto, no trabalho de um cientista, a formulação de um problema pode ser a melhor parte da descoberta. Frequentemente, a solução exige menos genialidade e originalidade que a formulação. Assim,
permitindo
que
os
alunos
participem
na
formulação,
o
professor não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais mas vai ensinar-lhes uma desejável atitude de pensamento.
(2) Melhor motivação O
professor
objectivo
é
deve
olhar
vender
para
alguma
si
como
matemática
um aos
comerciante: mais
o
novos.
seu
Se
o
comerciante se depara com resistência por parte dos seus clientes ou mesmo se eles se recusarem a comprar, não deve o comerciante atirar a culpa toda para cima dos clientes. Lembre-se! O cliente tem sempre razão por princípio, e às vezes tem mesmo razão na prática. correcto.
O
rapaz
Pode
que
não
recusa
ser
aprender
preguiçoso
nem
matemática
pode
estar
estúpido,
apenas
mais
interessado noutra coisa qualquer - há tantas coisas interessantes no mundo á nossa volta. É dever do professor, como comerciante de conhecimentos,
convencer
o
aluno
de
que
a
matemática
é
interessante, que o aspecto em discussão é interessante, que o problema
que
é
suposto
resolver
merece
o
seu
esforço.
Portanto, o professor deve prestar atenção na escolha, na formulação e na apresentação adequada do problema que quer propor. O problema deve ter sentido e deve ser relevante do ponto de vista do aluno; deve estar relacionado, se possível, com as experiências diárias
dos
alunos,
e
deve
ser
introduzido
através
de
uma
brincadeira ou de um paradoxo. O problema deve ainda partir de conhecimentos
muito
familiares.Deve
conter,
se
possível,
um
aspecto de interesse geral ou eventual uso prático. Se desejarmos estimular o aluno a esforçar-se, devemos dar-lhe algum motivo para ele
suspeitar
que
a
tarefa
merece
o
seu
esforço.
A melhor motivação é o interesse do aluno na tarefa. Mas existem
outras
motivações
que
não
devem
ser
negligenciadas.
Deixem-me recomendar um pequeno truque prático: antes dos alunos resolverem um problema, permitam-lhes adivinhar o resultado, ou parte dele. O rapaz que exprimir uma opinião compromete-se; o seu prestígio e auto-estima dependem um pouco do resultado. Vai estar impaciente
para
saber
se
o
seu
palpite
está
certo
ou
não
e,
portanto, vai estar extremamente interessado na sua tarefa e no trabalho
da
turma.
Não
irá
adormecer
ou
portar-se
mal.
De facto, no trabalho de um cientista, o palpite quase sempre precede a prova. Assim, ao deixar os alunos advinhar o resultado, não vai estar apenas a motivá-los para se esforçarem mais. Vai ensiná-los a ter uma atitude de pensamento desejável.
(3) Fases consecutivas A dificuldade com os problemas nos manuais do secundário é que estes contém quase exclusivamente meros exemplos de rotina. Um exemplo de rotina é um exemplo de curto alcance que ilustra, e permite praticar, as aplicações de apenas uma regra isolada. Tais exemplos de rotina podem ser úteis e até necessários. Não nego. Mas
saltam
duas
importantes
fases
da
aprendizagem:
a
fase
exploratória e a fase de assimilação. Estas duas fases procuram relacionar o problema em causa com o mundo à nossa volta e com outros solução
conhecimentos, formal.
relacionado
com
a
Porém, a
regra
primeira o
antes
problema que
e
de
ilustra
a
segunda
rotina e
pouco
está
depois
da
obviamente
relacionado
com
quaisquer outras coisas. Por isso há pouco interesse em procurar mais
conexões. Em
contraste
com
estes
problemas
de
rotina,
a
escola
secundária devia propor problemas mais estimulantes, pelo menos de
vez em quando, problemas com contextos ricos que mereçam mais explorações e problemas que possam dar a ideia do trabalho de um cientista. Aqui está uma dica prática: se o problema que quer discutir com os seus alunos for adequado, deixe-os fazer uma exploração preliminar: pode abrir o seu apetite para a solução formal. E reserve algum tempo para uma discussão retrospectiva acerca da solução final: pode ajudar na solução de problemas posteriores.
(4) Após esta discussão bastante incompleta, devo terminar a explicação dos três princípios: aprendizagem activa, melhor motivação e fases consecutivas. Acho que estes princípios podem infiltrar-se nos pormenores do trabalho diário de um professor e fazer dele um professor melhor. Também acho que estes princípios deviam infiltrar-se na planificação de todo o curriculum, de cada curso do curriculum e de cada capítulo de cada curso. Contudo, longe de mim dizer que estes princípios têm que ser aceites. Estes princípios partiram de uma certa visão global, de uma certa filosofia. E o leitor pode ter uma filosofia diferente. Ora, tanto no ensino como em tantas outras coisas, não interessa muito qual é ou não é a sua filosofia. Interessa mais se tem ou não uma filosofia. E interessa muito tentar ou não seguir a sua filosofia. Os únicos princípios do ensino que eu não gosto de forma alguma são aqueles que nos limitamos a papaguear.
6. Exemplos Os exemplos são melhores que as regras. Deixem-me dar exemplos. Prefiro sem dúvida exemplos a conversas.
Preocupa-me principalmente o ensino ao nível do secundário e vou apresentar-vos alguns exemplos relativos a esse nível de ensino.
Frequentemente sinto grande satisfação nos exemplos a este nível. E posso dizer porquê: tento encará-los de forma a que me recordem a minha experiência matemática. Represento o meu passado a uma escala reduzida.
(1) Um problema do ensino básico -
A forma de arte fundamental
do ensino é o diálogo Socrático. Numa turma de ensino básico talvez o professor possa começar assim o diálogo: "Ao meio-dia em S. Francisco que horas são?" "Mas, professor, todos nós sabemos isso" pode dizer um jovem activo, ou então "Mas, professor, você é tonto: 12 horas" "E em Sacramento, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas - claro, não é meia-noite" "E em Nova Iorque, ao meio-dia, que horas são?" "12 horas" "Mas eu pensava que em S. Francisco e Nova Iorque o meio-dia não era à mesma hora, e vocês dizem que é meio-dia em ambos às 12 horas!" "Bem, é meio-dia em S. Francisco às 12 horas segundo o padrão horário de Oeste e em Nova Iorque às 12 horas segundo o padrão horário
de
Este."
" E em que padrão horário se encontra Sacramento, Este ou Oeste?" "Oeste,
de
certeza"
"As pessoas de S. Francisco e de Sacramento têm o meio-dia no mesmo
momento?"
"Não sabem a resposta? Bem, tentem advinhar: será que o meio-dia é mais cedo em S. Francisco, ou em Sacramento, ou será que é no mesmo instante nos dois sítios?"
O que acham da minha ideia de diálogo Socrático com miúdos do ensino
básico?
Podem
imaginar
o
resto.
Através
de
questões
apropriadas, o professor, imitando Sócrates, deve extrair diversos elementos
dos
alunos:
a) Temos de distinguir entre meio-dia "astronómico" e meio-dia convencional
ou
"legal".
b)
Definições
para
os
dois
meios-dias.
c) Perceber "padrão horário": como e porquê a superfície do globo terrestre
está
subdividida
em
zonas
de
tempo?
d) Formulação do problema: "A que horas do padrão horário do Oeste é
o
meio-dia
astronómico
de
S.
Francisco?"
e) O único dado específico que precisamos para resolver o problema é a longitude de S. Francisco (é uma boa aproximação para o ensino básico). O problema não é muito simples. Utilizei-o em duas turmas e, em ambas, os participantes eram professores do secundário. Uma turma demorou cerca de 25 minutos para chegar à solução, a outra demorou 35 minutos.
(2)Devo dizer que este pequeno problema do ensino básico tem várias vantagens -
A principal é o facto de enfatizar uma
operação mental essencial que,infelizmente, é negligenciada pelos problemas usuais dos manuais: reconhecer o conceito matemático essencial numa situação concreta. Para
resolver
este
problema,
os
alunos
devem
reconhecer
a
proporcionalidade: as horas numa localidade na superfície do globo terrestre
quando
o
proporcionalmente De
facto,
problemas
nos
perfeitamente
em
sol
está
com
a
na
natural,
no um
mais
longitude
comparação
manuais
posição
com
os
vertical da
dolorosos
secundário, "verdadeiro"
o
localidade. e
nosso
problema.
variam
artificiais problema
Nos
é
problemas
mais difíceis da matemática aplicada, a formulação apropriada do problema é sempre uma parte complicada e, com grande frequência, a parte mais importante. O nosso pequeno problema, que pode ser proposto a uma turma do ensino básico, possui precisamente esta característica.
Novamente,
os
problemas
mais
difíceis
da
matemática aplicada podem conduzir a acções práticas, como por exemplo, adoptar um procedimento melhor. O nosso pequeno problema pode explicar aos alunos do ensino básico porque foi adoptado o sistema
de
24
zonas
horárias,
cada
uma
com
um
padrão
horário
uniformizado. No geral, penso que este problema, se for tratado
convenientemente pelo professor, pode ajudar um futuro cientista ou
engenheiro
maturação
a
descobrir
intelectual
utilizar
a
sua
daqueles
vocação
alunos
e
que
profissionalmente
Observe-se
também
que
este
contribuir
não
vão
a problema
para
mais
a
tarde
matemática. ilustra
vários
dos
pequenos truques mencionados anteriormente: os alunos contribuem activamente
na
exploratória importante.
que
formulação conduz
Depois,
os
do à
problema.
formulação
alunos
são
do
De
facto,
problema
convidados
a
a é
fase muito
adivinhar
um
aspecto essencial da solução.
(3) Um problema do ensino secundário - Vamos considerar outro exemplo. Comecemos por aquele que provavelmente é o problema mais familiar de construções geométricas: construir um triângulo, tendo como dados os três lados. Como a analogia é um campo tão fértil de invenção, é natural perguntar: qual é o problema análogo na geometria a 3 dimensões? Um aluno médio, que tenha alguns conhecimentos de geometria tridimensional, pode ser conduzido a formular o problema: construir um tetraedro, tendo como dados as seis arestas. Ora, este problema do tetraedro aproxima-se bastante, no nível secundário comum, dos problemas práticos resolúveis por "desenho mecânico". Engenheiros e designers utilizam desenhos para darem informações precisas acerca dos pormenores de figuras a três dimensões ou estruturas para serem construídas: pretendemos construir um tetraedro com determinadas arestas. Podemos querer, por exemplo, esculpi-lo em madeira. Isto leva-nos a perguntar se o problema deve ser resolvido com precisão, usando régua e o compasso, e a discutir a questão: que pormenores do tetraedro devem ser construídos? Eventualmente, após uma discussão na turma bem conduzida, a seguinte formulação definitiva do problema pode emergir: Do tetraedro ABCD, são-nos dados os comprimentos das seis arestas AB, BC, CA, AD, BD, CD.Considera o triângulo ABC como a base do tetraedro e constrói com uma régua e um compasso os
ângulos que a base forma com as outras três faces. O conhecimento destes ângulos é necessário para esculpir em madeira o sólido desejado. Porém, outros elementos do tetraedro podem surgir na discussão. Por exemplo: a) a altura do vértice D à base, b) o ponto F sendo este o ponto de projecção do vértice D na base. Note-se que a) e b), que contribuem para o conhecimento do sólido, podem ajudar a encontrar os ângulos pedidos e, por isso, podíamos também tentar construí-los.
(4) Podemos obviamente, construir as quatro faces triangulares que estão representadas na Fig.1 (pequenas porções de alguns círculos usados na construção foram preservadas para indicar que AD2=AD3, BD3=BD1, CD1=CD2). Se a Fig.1 for copiada para cartão podemos acrescentar-lhe três patilhas, cortar a figura, dobrá-la ao longo de três linhas, e colar as patilhas. Desta maneira obtemos um modelo sólido no qual podemos medir rudemente a altura e os ângulos em questão. Este tipo de trabalho em cartão é bastante sugestivo mas não corresponde ao que nos foi pedido: construir a altura, o seu ponto na base (F), e os ângulos em questão com régua e compasso.
(5) Pode ajudar pensar no problema ou parte dele "como resolvido". Vamos visualizar o aspecto da Fig.1 quando as três
faces laterais forem erguidas para a sua devida posição, após cada uma ter sofrido uma rotação em relação a um lado da base. A Fig.2 mostra a projecção ortogonal do tetraedro no plano da sua base, triângulo ABC. O ponto F é a projecção do vértice D: é a base da altura desenhada a partir de D.
(6) Podemos visualizar a transição da Fig.1 para a Fig.2 com ou sem o modelo em cartão.
Vamos focar a atenção numa das faces
laterais, no triângulo BCD1, que originalmente estava no mesmo plano que o triângulo ABC, no plano da Fig.1 que imaginamos horizontal. Vamos observar o triângulo BCD1 a efectuar uma rotação em torno do lado BC, e fixemos o nosso olhar no único vértice em movimento D1. Este vértice D1 descreve um arco de circunferência. O centro da circunferência é um ponto de BC; o plano deste círculo é perpendicular ao eixo de revolução horizontal BC; além disso, D1 movimenta-se num plano vertical. Portanto, a projecção do percurso do vértice em movimento D1 para o plano horizontal da Fig.1 é uma linha recta, perpendicular a BC, que passa pela posição original de D1.Mas existem mais dois triângulos a efectuar rotações, são três ao todo. Existem três vértices em movimento, cada um seguindo um caminho circular num plano vertical para que destino? (7) Penso que o leitor já adivinhou o resultado (talvez até antes de ler o fim da subsecção anterior): as três linhas rectas desenhadas a partir das posições originais (ver Fig.1) de D1, D2, e D3 perpendiculares a BC, CA e AB, respectivamente, intersectamse num ponto, o ponto F, o nosso objectivo suplementar (b), ver Fig.3. (É suficiente desenhar duas perpendiculares para determinar
F, mas podemos usar a terceira para verificar a precisão do nosso desenho). E o que resta fazer é muito fácil. Seja M o ponto de intersecção de D1F com BC (ver Fig.3). Construa o triângulo rectângulo FMD (ver Fig.4), com hipotenusa MD=MD1 e base MF. Obviamente, FD é a altura [o nosso objectivo suplementar a)] e ângulo FMD mede o ângulo diedral formado pela base, o triângulo ABC, e a face lateral, o triângulo DBC que era pedido no nosso problema.
(8) Uma das virtudes de um bom problema é que gera outros bons problemas.A solução anterior pode, e deve, deixar uma dúvida no seu espírito. Encontrámos o resultado representado pela Fig.3 (que as três perpendiculares descritas acima são concorrentes) tendo em consideração a movimentação de corpos em rotação. No entanto o resultado é uma proposição de geometria e portanto devia ser estabelecida independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. Agora é relativamente fácil libertarmo-nos das considerações anteriores [nas subsecções (6) e (7)] acerca dos conceitos de movimento e estabelecer o resultado através de conceitos de geometria tridimensional (intersecção de esferas, projecção ortogonal). No entanto, o resultado é uma proposição de
geometria no plano e portanto devia ser estabelecido independentemente da noção de movimento, através apenas da geometria. (Como?).
(9)NOte que este problema do ensino secundário ilustra vários aspectos anteriormente discutidos. Por exemplo, os alunos podiam e deviam participar na formulação final do problema, existe uma fase exploratória e um rico contexto.Contudo há um aspecto que quero enfatizar: o problema está construído para merecer a atenção dos alunos. Embora o problema não esteja muito próximo da realidade diária como o problema do ensino básico, começa por uma parcela de conhecimento bastante familiar (construção de um triângulo através dos três lados), realça desde o início uma ideia de interesse geral (analogia), e aponta para eventuais aplicações práticas (desenho mecânico). Com um pouco de destreza e um pouco de vontade, o professor devia ser capaz de captar a atenção dos alunos, que não estão irremediavelmente aborrecidos, para este problema.
7. Aprender ensinando Há ainda um tópico para discutir e é um tópico relevante: a formação
de
professores.
discutir
este
tema,
pois
Assumo quase
uma posso
posição concordar
confortável com
a
ao
posição
oficial (refiro-me às �Recomendações da Associação Americana de Matemática�
no
que
diz
respeito
à
formação
de
professores,
publicada na American Mathematical Monthly, 67 (1960) 982-991. Por questões de brevidade, tomo a liberdade de citar este documento como �recomendações oficiais�). Irei concentrar-me em apenas dois pontos.
Pontos
aos
quais
devotei,
no
passado
e
praticamente
durante os últimos dez anos, grande parte da minha reflexão e do meu trabalho enquanto professor.Fazendo uma aproximação, dos dois pontos que tenho em mente um diz respeito aos cursos �temáticos� e o outro aos cursos sobre �métodos�.
(1) Cursos Temáticos. É um facto triste mas amplamente visto e reconhecido, matemática
que
sobre
os a
conhecimentos sua
ciência,
dos
em
nossos
escolas
professores
secundárias
é,
de em
média, insuficiente. Existem, certamente alguns professores bem preparados, mas existem outros (encontrei-me com diversos), cuja boa vontade admiro, mas cuja preparação matemática não é de todo admirável. As �recomendações oficiais� para os cursos temáticos podem não ser perfeitas, mas não há dúvida que a sua aceitação resultaria
numa
melhoria
substancial.
Pretendo
chamar
a
vossa
atenção para um ponto que, a meu ver, deveria ser acrescentado às �recomendações
oficiais�.
O nosso conhecimento acerca de qualquer assunto consiste em informação informação.
e
saber1. Claro
O
que
saber não
é
a
habilidade
existe
saber
para
sem
usar
a
pensamento
independente, originalidade e criatividade. O saber em matemática é a habilidade para fazer problemas, descobrir provas, criticar argumentos, reconhecer
usar os
linguagem
conceitos
matemática
matemáticos
com
em
alguma
situações
fluência, concretas.
Todos concordamos que, em matemática, o saber é mais importante, ou melhor, é muito mais importante do que possuir informação. Todos exigem que o ensino secundário deve fornecer os estudantes, não apenas informação em matemática, mas com saber, independência, originalidade e criatividade. E, no entanto, quase ninguém pede que o professor de matemática possua estas coisas bonitas � não é espantoso? As
�recomendações
oficiais�
são
silenciosas
no
que
diz
respeito
ao
saber
matemático
dos
professores.
O estudante de matemática que trabalha para um doutoramento, deve fazer pesquisa mas, antes disso, deve ter encontrado oportunidade para realizar trabalho independente em seminários sobre problemas, ou na preparação da sua tese de mestrado. No entanto, este tipo de oportunidade não é oferecida ao futuro professor de matemática. Nas �recomendações oficiais� não existe qualquer palavra acerca de uma qualquer espécie de trabalho independente ou pesquisa. Se, entretanto, o professor não tiver tido qualquer experiência em trabalhos criativos de algum tipo, como é que vai ser capaz de inspirar,
de
orientar,
de
ajudar
ou
mesmo
de
reconhecer
a
actividade criativa dos seus estudantes? Um professor que adquiriu o
que
quer
receptiva
que
seja
dificilmente
que
sabe
pode
em
matemática
promover
o
estudo
apenas
de
forma
activo
dos
seus
estudantes. Um professor que nunca teve, em toda a sua vida, uma ideia brilhante, vai provavelmente repreender, em vez de ajudar, um
estudante
que
a
tenha.
Na minha opinião, a pior falta no conhecimento matemático da média dos professores do ensino secundário é o facto de não terem experiência em trabalhos activos de matemática e, desta forma, não terem real mestria, mesmo no que diz respeito ao currículo da escola
secundária
Não tentar
tenho uma
nenhum
coisa.
que remédio
Tenho
repetidamente
um
seminário
professores.
Os
problemas
requerem
muito
é milagroso
vindo
conhecimento
suposto
sobre
a
para
apresentados para
oferecer
introduzir
resolução além
de
neste do
ensinarem. e
a
mas
conduzir
problemas seminário
nível
vou
do
para não
ensino
secundário, mas requerem algum grau, e por vezes um alto grau, de concentração
e
juízo
independente
�
e
a
solução
para
esses
problemas requere trabalho �criativo�. Tenho tentado organizar o meu seminário para que os estudantes sejam capazes de utilizar muito
do
material
proposto
para
as
suas
aulas
sem
grandes
alterações, para que possam adquirir alguma mestria no ensino da matemática no secundário e também para que possam ter algumas oportunidades de praticar o ensino (ensinando-se uns aos outros, em pequenos grupos).
(2)
Cursos
sobre
Métodos.
Do
meu
contacto
com
centenas
de
professores de matemática retirei a impressão de que os cursos �métodos�
sobre
são
frequentemente
recebidos
com
verdadeiro
entusiasmo. Os cursos mais usuais oferecidos pelos departamentos de matemática são da mesma maneira recebidos pelos professores. Um professor com quem tive uma conversa aberta sobre estas matérias encontrou
uma
expressão
pitoresca
para
um
sentimento
muito
disseminado: � O departamento de matemática oferece-nos um bife duro que não conseguimos mastigar e a escola da educação uma sopa ligeira
sem
De
facto,
devemos
carne�.
nenhuma por
uma
vez
assumir
alguma
coragem
e
discutir publicamente a questão: Os cursos sobre métodos são de facto
úteis
resposta
de
certa
alguma numa
maneira? discussão
Há
mais
aberta
hipóteses do
que
de
numa
chegar
à
aceitação
generalizada. A questão envolve questões pertinentes em número suficiente. Será que ensinar é ensinável? (Ensinar é uma arte, como muitos de nós pensamos � e uma arte é ensinável?) Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino? (O que o professor ensina, nunca
é
melhor
personalidade
do
do
que
o
professor
�
professor
é;
ensinar
existem
tantos
depende
métodos
bons
da como
existem professores bons). O tempo permitiu que a formação de professores se tenha dividido entre cursos temáticos, cursos sobre métodos e prática de ensino. Devemos despender menos tempo nos cursos sobre métodos? (muitos países europeus gastam muito menos tempo). Espero que as pessoas mais novas e mais vigorosas que eu próprio levantem estas questões algum dia e as discutam com uma mente
aberta
e
informações
relevantes.
Falo-vos aqui apenas e acerca da minha experiência e apenas das minhas opiniões. De facto, já respondi de forma implícita à questão primordial. Acredito que os cursos sobre métodos podem ser vantajosos. Na verdade, o que apresentei foi uma amostra de cursos sobre métodos, ou melhor, um resumo de alguns tópicos, os quais, na minha opinião, devem ser oferecidos cursos sobre métodos aos professores
de
matemática.
Todas as classes que leccionei a professores de matemática deveriam,
na
sua
maioria,
ser
entendidas
como
cursos
sobre
métodos. A designação dessas classes mencionava alguns temas e o tempo
era
realmente
dividido
em
temas
e
métodos:
talvez
nove
décimos para os temas e um décimo para os métodos. Sempre que possível, a classe era dirigida sob forma dialógica. Incidentalmente, eram apresentados por mim ou pela audiência, algumas observações metodológicas. Na verdade, a derivação de um facto ou a solução de um problema era quase regularmente seguida de uma curta discussão das suas implicações pedagógicas. � Poderá isto ser utilizado na vossa turma?�, perguntava eu à audiência � Em que estádio do currículo imaginam utilizá-las? Quais os pontos que precisam de especial cuidado? Como poderiam tentar ultrapassalos?�
E
questões
apropriada)
foram
desta
natureza
também
(especificadas,
regularmente
propostas
de
nos
forma exames.
No entanto, o meu trabalho principal era escolher os problemas (como os dois que aqui apresentei) capazes de ilustrar de forma clara algum padrão do ensino. (3) As �recomendações oficiais� chamadas cursos sobre �métodos� e cursos sobre o �estudo do currículo� não são muito eloquentes acerca
desses
padrões.
Na
minha
opinião,
é
possível
contudo
encontrar uma excelente recomendação. Algo escondido, para cuja descoberta
tem
que
somar
dois
mais
dois
combinando
a
última
premissa em �cursos de estudo de currículo� com recomendações para o
nível
IV.
Mas
é
claramente
suficiente:
um
professor
universitário que lecciona um curso sobre métodos para professores de matemática deveria saber matemática pelo menos ao nível de um mestrado.
Gostaria
de
acrescentar:
deveria
também
ter
alguma
experiência, mesmo que modesta, de investigação em matemática. Se não tiver tal experiência como poderá convir que o mais importante para
um
futuro
professor
é,
o
espírito
de
trabalho
criativo?
Até agora ouviram suficientes recordações de um velho homem. Algo concreto e bom pode sair daqui se dedicarmos alguma reflexão à seguinte proposta resulta até da discussão antecedente. Proponho que os seguintes dois pontos sejam acrescentados às �recomendações
oficiais� da Associação:
I. A formação de professores de matemática deve oferecer experiência
em
trabalho
(�criativo�)
independente
a
um
nível apropriado sob a forma de Seminário sobre a resolução de problemas ou de outra forma adequada. II.
Os
curso
professores
sobre
apenas
métodos
uma
devem
ligação
ser
oferecidos
estreita
com
os
aos
cursos
temáticos ou com prática de ensinar e se praticável, apenas por professores experientes, tanto em pesquisa matemática como em ensino.
8. A atitude dos professores Como
referi
anteriormente,
as
minhas
classes
destinadas
a
professores foram na, sua maioria, cursos sobre métodos. Nessas classes procurei atingir pontos de utilização prática imediata a serem usados diariamente nas tarefas dos professores. Por esta razão,
inevitavelmente,
tive
que
expressar
a
minha
perspectiva
sobre o dia-a-dia das tarefas dos professores e sobre as suas atitudes.
Os
meus
comentários
tenderam
a
assumir
um
carácter
organizado razão pela qual os condensei em �Dez mandamentos para Professores�.
Quero
agora
acrescentar
essas
alguns
comentários
dez
sobre
regras.
Na formulação dessas regras, tive em conta os participantes das minhas aulas, professores que ensinam matemática no ensino secundário.
Contudo,
estas
regras
são
aplicáveis
a
qualquer
situação de ensino, a qualquer assunto e a todos os níveis, mas especificamente
ao
nível
do
ensino
secundário.
No entanto, os professores de matemática têm mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que os professores de outras cadeiras, e isto refere-se em particular às regras 6, 7 e 8.
DEZ MANDAMENTOS PARA PROFESSORES
1. Seja interessado na sua ciência. 2. Conheça a sua ciência. 3. Conheça as formas de aprendizagem. A melhor maneira de aprender algo é descobri-lo por si mesmo. 4. Tente ler nas faces dos seus estudantes, tente ver as suas expectativas e dificuldades, ponha-se no lugar deles. 5. Dê-lhes não só a informação mas também saber, formas de raciocínio, hábitos de trabalho com método. 6. Permita que aprendam por descoberta. 7. Permita que aprendam provando. 8. Encare as características do problema em mãos como podendo ser úteis na resolução de outros problemas � Tente descobrir o padrão geral que está por detrás da situação concreta presente. 9. Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só � Permita que os alunos o adivinhem antes que o diga � deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível. 10. Sugira as coisas, não force os alunos a aceitar.
A tradução dos tópicos de 1 a 6 foi realizada por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio e Teresa Ferreira que elaboraram 3 breves comentários. Os pontos 7 e 8 foram traduzidos por Sara Cravo. Revisão de Olga Pombo VOLTAR
Desaprender a ensinar para aprender a aprender Daniela Doria Pedagoga
Especialista em Tecnologia Educacional
Pós-graduanda em Educação a Distância
Leia outro texto da autora
O conceito de professor sempre esteve associado ao saber. Na representação social, o bom professor é aquele que domina o conteúdo e o sabe transmitir, e, ainda, para exercer sua função é necessário que esteja em sala de aula, ou algum outro espaço físico que a substitua. Portanto, nesta visão, para adquirir conhecimentos, o aluno necessita freqüentar uma escola e ter “bons” professores. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação, o conhecimento vem se desvinculando do espaço físico chamado escola e da figura do professor. Televisão, aberta ou por assinatura, fax, videocassete, softwares multimídia e Internet, estão levando a informação para além dos muros da escola. Pensando na informática, em especial na web, podemos dizer que o conhecimento passou a morar na ponta dos dedos de qualquer cidadão. Esta transformação social leva-nos a repensar a atividade do professor. A Internet vem ocupando lugar de destaque entre as novas tecnologias, não sem motivos. Uma de suas características é a facilidade e rapidez com que a informação é disponibilizada. Uma pesquisa, por exemplo, pode ser divulgada logo após sua finalização, e milhares de pessoas terão acesso a ela logo em seguida. Na área médica temos como resultado a possibilidade de um profissional saber hoje tudo o que foi descoberto ontem, sem ter que esperar a publicação da pesquisa em revistas especializadas, que, geralmente, possuem tiragens bimestrais. A liberdade de expressão que a Internet oferece é um outro fator a ser considerado. Se antes as editoras decidiam o que seria, ou não, publicado e divulgado, hoje, temos uma infinidade de artigos, poesias, contos e relatos de experiências disponíveis na web. Outra vantagem é que na rede não é necessário esperar uma nova edição para acrescentar ou atualizar dados, isto é feito de forma imediata, e, no número de vezes necessário. Na Educação, a Internet pode ser vista como uma poderosa ferramenta na mão de alunos e professores. No entanto, o professor deve estar consciente do novo papel que irá desempenhar, o de coadjuvante. A partir do momento que o aluno tem em suas mãos uma ampla fonte de informações, não cabe mais ao professor transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a localizar o que precisa. Diante de tanto conteúdo é necessário que o aluno aprenda a distinguir o que é importante, necessário e tem valor, para que informações transformem-se em conhecimento. O aluno deve encontrar no professor o apoio para “aprender a aprender”. A mudança de papel nem sempre é fácil ao professor, acostumado a oferecer um conteúdo por ele dominado. Na rede, o aluno pode descobrir assuntos não listados no currículo com maior freqüência, obrigando o professor a “pesquisar e trazer a resposta na próxima aula” um número maior de vezes. O medo do aluno ter mais informações, que ele próprio, assusta o professor, ainda acostumado a ser o dono do saber. A educação que antes hierarquizava conteúdos e exigia pré-requisitos, hoje precisa conviver com a não-linearidade, onde o hyperlink dá ao aluno a possibilidade de decidir por quais caminhos navegar. A Internet permite que a pessoa se envolva com determinado assunto em ritmo e interesse próprios. O conhecimento que antes vinha na seqüência “família, escola, rua, bairro e cidade”, agora pode partir de animais e chegar em escritores, passando pelas páginas do habitat, habitantes, história, cultura e literatura. Também não é preciso que cada tela (conteúdo) seja acessada isoladamente, pode-se ter várias janelas abertas ao conhecimento simultaneamente. Desta forma, o conhecimento não será obtido na inércia de um aluno frente a um livro, mas na sua interação com textos, imagens, sons e vídeos. A interpretação individual sobre um tema é que o levará a decidir por qual hyperlink continuar navegando, fazendo com que necessidades e interesses individuais sejam considerados. Neste momento, o professor é também aluno diante das novas tecnologias, tornando-se necessário que ele aprenda a utilizá-las para que possa fazer uso com seus alunos. Na realidade, ele deve desaprender a ensinar para aprender a aprender junto de seus alunos.
v
Como desenvolver a capacidade de aprender Por: Vicente Martins São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: Primeiramente, a atitude que querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da LDB. Um pergunta, agora, advém: saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? Responderei assim: há um ditado, no meio escolar, que diz assim: quem sabe, ensina. Muitos sabem conhecimentos, mas poucos ensinam a aprender. Ensinar a aprender é ensinar estratégias de aprendizagem. Na escola tradicional, o P, maiúsculo, significa professor-representante do Conhecimento; o C, maiúsculo, significa Conhecimento acumulado historicamente na memória social e na memória do professor e o a, minúsculo, significa o aluno, que, a rigor, para o professor, e para a própria escola, é tábula rasa, isto é, conhece pouco ou não sabe de nada. Isto não é verdade. Saber ensinar é oferecer condições para que o discípulo supere, inclusive, o mestre. Numa palavra: ensinar é fazer aprender a aprender, de modo que o modelo pedagógico desenvolva os processos de pensamento para construir o conhecimento, que não é exclusividade de quem ensina ou aprende. É papel dos professores levar o aluno a aprender para conhecer, o que pode ser traduzido por aprender a aprender, em que o aluno é capaz de exercitar a atenção, a memória e o pensamento autônomo. As maiores dificuldades dos docentes residem nas deficiências próprias do processo de formação acadêmica. Nas universidades brasileiras, os cursos de formação de professores (as chamadas licenciaturas) se concentram muito nos conteúdos que vêm de ciências duras, mas se descuidam das competências e habilidades que deve ter o futuro professor, em particular, o domínio de estratégias que permitam se comportar docentes eficientes, autônomos e estratégicos. Os docentes enfrentam dificuldades de ensinar a aprender, isto é, desconhecem, muitas vezes, como os alunos podem aprender e quais os processos que devem realizar para que seus alunos adquiram, desenvolvam e processem as informações ensinadas e apreendidas em sala de aula. Nesse sentido, o trabalho com conceitos como aprendizagem, memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo, estratégias cognitivas, quando não bem assimilados, no processo de formação dos docentes, serão convertidos em dores de cabeça constantes, em que o docente ensina, mas não tem a garantia de que está, realmente, ensinando a aprender. A noção de memória é central para quem ensinar a aprender.
As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque. Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia. Aprender, pois, a selecionar informação, é um tarefa de quem ensina e desafio para A escola e a família são instituições ainda muito conservadoras. Nisso, por um lado, não há demérito mas às vezes também não há mérito. No Brasil, muitas escolas utilizam procedimentos do século XVI, do período jesuítico como a cópia e o ditado. Nada contra os dois procedimentos, mas se que tenham uma fundamentação pedagógica e que valorizem a escrita criativa do aluno, decerto, terão pouca repercussão no seu aprendizado. Muitas escolas, por pressões familiares, não discutem temas como sexualidade, especialmente a vertente homossexual. Sexualidade é tabu no meio familiar e no meio escolar mesmo numa sociedade que enfrenta uma síndrome grave como a AIDS. A escola ensina, como paradigma da língua padrão, regras gramaticais com exemplário de citações do século XIX, e não aceita a variação lingüística de origem popular, que traz marcas do padrão oral e não escrito. E assim por diante. São exemplos de que a escola é realmente conservadora. Isso acontece também com as pedagogias. Tivemos a pedagogia tradicional, a escolanovista, piagetiana, Vigostky e já falamos em uma pedagógica pós-construtivista com base em teoria de Gardner. Umas cuidam plenamente de um aspecto do aprendizado como o conhecimento, mas se descuidam completamente da capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades dos alunos. Na história educacional, no Brasil, os dados mostram que quanto mais teoria educacional mirabolante, menos conhecemos o processo ensino-aprendizagem e mais tendemos, também a reforçar um distanciamento professor-aluno, porque as pedagogias tendem a reduzir ações e espaços de um lado ou do outro. Ora o professor é sujeito do processo pedagógico ora o aluno é o sujeito aprendente. O desafio, para todos nós, é o equilíbrio que vem da conjugação dos pilares do processo de ensino-aprendizagem: mediação, avaliação e qualidade educacional. Seja como for, o importante é que os docentes tenham conhecimento dessas pedagogias e possam criar modelos alternativos para que haja a possibilidade de o aluno aprender a aprender, ou seja, ser capaz de descobrir e aprender por ele mesmo, ou, em colaboração com outros, os procedimentos, conhecimentos e atitudes que atendam às novas exigências da sociedade do conhecimento. A Constituição Federal, no seu artigo 205, e a LDB, no seu artigo 2, preceituam que a educação é dever da família e do Estado. Em diferentes momentos, a família é convocada, pelo poder público, a participar do processo de formação escolar: no primeiro instante, matriculando, obrigatoriamente, seu filho, em idade escolar, no ensino fundamental. No segundo instante, zelando pela freqüência à escola e num terceiro momento se articulando com a escola, de modo a assegurar meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento e zelando, com os docentes, pela aprendizagem dos alunos. O papel da família, no desenvolvimento da capacidade de aprender, é tarefa, pois, de natureza legal ou jurídica, deve ser, pois, o de articular-se com a escola e seus docentes, velando, de forma permanente, pela qualidade de ensino. O papel, pois, da família é de zelar, a exemplo dos docentes, pela aprendizagem. Isto significa
acompanhar de perto a elaboração da proposta pedagógica da escolar, não abrindo mão de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento ou em atraso escolar bem como assegurar meios de acesso aos níveis mais elevados de ensino segundo a capacidade de cada um. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende. O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem. A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura. Infelizmente, por uma série de fatores de ordem socioeconômica, muitos docentes não acessam a Internet e, o mais grave, já sofrem conseqüência dessa limitação, levando, para sala de aula, informações desatualizadas e desnecessárias para os alunos, especialmente em disciplinas como História, Biologia, Geografia e Língua Portuguesa.
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008 Aprender para melhor ensinar
*Juciane Martins da Hora Pode-se ver que hoje, as novas tecnologias, têm invadido um grande espaço da sociedade; Com isso, percebe-se que o ser humano já não consegue mais viver oculto à elas, bem como, em nenhum segmento de sua vida, pois dominar os meios tecnológicos, trata-se de necessidade e sobrevivência, diante às ligeiras transformações ocorridas nos últimos tempos. Portanto, na educação não é diferente. Nota-se que, para muitos professores, o avanço das novas tecnologias na educação, tem tirado a importância dos mesmos no meio educacional, isso se dá pelo medo de encarar o que é novo. O ser humano, em sua maioria, não está preparado para enfrentar as novidades, e com isso, o mesmo, acaba conceituando todas elas como algo ruim e inalcançável, por falta de busca para se obter a adaptação. Pois isso, faz-se necessária o constante aprimoramento de capacidades, por parte do corpo docente, afim de acompanhar as transformações e facilitar o processo de ensinoaprendizagem. A tecnologia, que é uma arte, precisa estar, mais do que nunca, inserida em nossa sociedade educacional, pois ela desempenha-se como uma fonte de desenvolvimento no processo ensinoaprendizagem, bem como por meio das facilidades que encontra-se nos meios tecnológicos, como o quadro-negro, a internet, os aparelhos eletrônicos. Enfim, os professores precisam inovar seus conhecimentos, suas habilidades para suprir as necessidades dos alunos, precisa-se que haja clareza nos ensinamentos e todos os meios que puderem ser adicionados ao processo de educação, tornamse válidos. Hoje, como tudo é mais fácil de se adquirir, é preciso que todos esses meios sejam utilizados sem temor, pois os recursos tecnológicos estão disponíveis a todos e muitas vezes, por falta de instrução, os alunos os utilizam de forma desregrada e sem capacidade de assimilação do que é proveitoso ou não, e acabam dificultando o processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que os educadores estejam prontos para desenvolver no aluno uma aprendizagem de qualidade. Dentro do processo ensino-aprendizagem, sabe-se que, uma pessoa, dotada de um certo conhecimento adquirido anteriormente, pode desenvolvê-lo e aprender mais sobre ele posteriormente com facilidade, pois previamente, a pessoa já havia ouvido falar do mesmo. Então pode-se concordar que, os professores precisam “aproveitar” o que os alunos trazem de “bagagem” em suas vidas, para melhorar a aprendizagem. O professor precisa motivar, estimular e fazer o aluno participar com vontade e satisfação, das propostas educacionais, bem como, também, através de uma recompensa adquirida após o resultado do processo. Finalmente, entende-se que a tecnologia na educação pode contribuir muito para a promoção da aprendizagem humana, proporcionando resultados concretos e possíveis de serem implantados nas escolas, levando a um crescimento considerável nas habilidades dos professores e no desenvolvimento dos alunos. Por isso é preciso integra-se às novas tecnologias para que as instituições educacionais, consideradas formadoras de opiniões, consigam participar das transformações da sociedade com categoria. Postado por ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO
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UNIR - CAMPUS DE JI-PARANÁ ACADÊMICOS DO 5º PERÍODO Espaço reservado para publicação dos artigos acadêmicos dos estudantes do 5º período de pedagogia da UNIR - campus de Ji-Paraná - Rondônia.
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BEM VINDOS AO BLOG DAS TAE A disciplina de TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO – TAE, ministrada pelo professor Washington Roberto Nascimento, tem a grata satisfação de ter este espaço para que todos os acadêmicos de pedagogia possam aqui apresentar os seus ensaios, ou seja, os seus artigos acadêmicos, para serem lidos e divulgados a toda comunidade acadêmica mundial, e, claro, visando que o leitor faça o seu comentário, dê sua idéia, concorde ou discorde, fale o que está faltando no artigo acadêmico lido. O artigo acadêmico é um instrumento da construção do saber, visa principalmente tapar esta lacuna que vem sendo criada no Brasil, que é a falta de pensadores originais, que escrevam os seus próprios pensamentos, que defendam a sua tese com maior firmeza. O Brasil tem formado muitos compiladores, copiadores. A nossa literatura acadêmica, os nossos artigos científicos têm mais citações do que pensamento original e isto é deprimente para as nossas academias de ensino superior. Há artigos científicos que na verdade são constituídos de citações. Cadê a originalidade da tese, a opinião própria? O artigo acadêmico também proporciona aos estudantes, além do habito de desenvolverem as suas próprias idéias, a condição de irem arquivando ao longo do seu curso todos os seus artigos nas diversas disciplinas, e, na conclusão do curso de pedagogia, o estudante já tem um vasto material para construir o seu TCC, com muita originalidade e com fortes pilares para defender a sua tese com maior veemência. Fato e que, hoje, a maioria tem dificuldades até em elaborar o seu préprojeto tanto para um artigo científico como para o seu TCC. Assim, esperamos que todos que lerem os artigos acadêmicos aqui postados façam o seu comentário, que peçam a outros para lerem. E os próprios acadêmicos têm que buscar leitor para os seus artigos; só assim, teremos o perfil critico dos pedagogos que estamos formando. Um forte abraço a todos. Professor WASHINGTON ROBERTO NASCIMENTO
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Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã Enviado por João Beauclair 1. 2. 3. 4.
Resumo Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas 5. Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... 6. Bibliografia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar
onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Palavras-chave: Psicopedagogia, Cotidiano escolar, Aprendizagem Significativa, Ética e Cidadania, Sociedade Aprendente, Sociedade do Conhecimento. Introdução: "Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos alçar vôo se estivermos abraçados uns aos outros." Léo Buscáglia Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Na complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes, os modelos de percepção de mundo ultrapassados que não dão mais conta de encontrar alternativas possíveis, precisam ser superados para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores. Na revisão paradigmática que atualmente vivemos em importantes campos do Conhecimento, da Ciência e Tecnologia, a Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços institucionais educativos. A proposta aqui apresentada é a de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão.
I - Saber Aprender e Ensinar no século XXI: desafios contextuais "Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-as com prazer, encorajando-os a criarem as suas próprias pontes." Nikos Kazantzakis Inicio este artigo utilizando uma linguagem metafórica, prática comum em minhas ações e produções como ensinante e aprendente no caminhar educativo de formar pessoas em Educação e Psicopedagogia. As metáforas possibilitam a construção de novos significados e ampliam nossas potencialidades de interpretação e intervenção com o mundo, com as pessoas, com o conhecimento. O trecho escolhido acima como citação remete nosso pensar aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos aprendentes. Ousar criar novos conceitos, pois também é interessante, para dar nova carga semântica as palavras e ações que necessitam nosso constante revisitar. Assim, as aprendizagens podem ganhar novas roupagens e impulsionar nossa criatividade, necessária para processos reflexivos mais abrangentes. Faz tempo que brinco, feito criança, com as palavras, espaço de prazer e de procura de sistematização dos desafios vividos. Aprendências e ensinagens , por exemplo, são conceitos que gosto de trabalhar. Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram meu inicial movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria de pensamento, fortalece este meu mover no mundo, em busca de novos sentidos e significados às minhas ações e intervenções
educativas. No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para quem atua com pessoas e aprendizagem, pois possibilita a construção metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já nos falava, faz tempo, Paulo Freire, nosso educador maior numa perspectiva humanística, ativa e proativa de fazer educação. Acredito que são números os desafios a serem enfrentados no contexto atual da ação educativa. Mas evito falar dos entraves como barreiras: e meu foco de ação sempre foi, é e será, sempre, vinculado as possibilidades, não aos empecilhos. Sair do lugar da queixa é estratégia essencial, pois quando não se move, a vida fenece. Diante das complexidades do ato educativo, queixar-se simplesmente é morrer em vida, pior morte, pois somos invadidos pela inércia, pela Síndrome de Gabriela: "eu nasci assim eu cresci assim vou ser sempre assim... Gabriela", como nos ensina o poeta. Evitar esta síndrome é a ação maior que cabe a cada um de nós. Mas como fazer este movimento? Mudança de foco, reconstrução de um outro olhar sobre nossas vidas, ações e missões. Compromisso, militância e comprometimento com o agir e o fazer que leve a outros lugares, no caminho da utopia, que serve para caminhar, como nos ensinou Eduardo Galeano. Utopia como mola mestra para o enfrentamento, que é uma palavra bonita quando mudamos o seu sentido. As palavras servem para serem mudadas e alteradas em seus sentidos para que utópicas, novas e criativas construções aconteçam. Serve este processo para semear em nossos corações à esperança como uma ação, como atividade e proatividade facilitadora de processos de mediação, onde o ser sujeito seja pleno de respeito, com as imensas variáveis que compõem nossa espécie. Enfrentamento não pode mais ser visto como o tradicional enfrentar, que sugere conflito, disputa onde alguns perdem e outros ganham e que somente envolve dor, nenhum prazer. Penso a palavra enfrentamento como uma postura, um posicionamento de cada um de nós ao se colocar em frente ao outro, com um olhar mais límpido e que facilita a importância do diálogo como estratégia de mediação de conflitos, possibilitadora de novos arranjos para as questões em aberto, ou em busca de alternativas, de soluções. No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um ensinante "sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina". E para tanto, que essa consciência ganhe efetiva presença em nossas vidas, um desafio se configura: superar o medo. É Nelson Mandela que trás relevante contribuição a este pensar quando em belíssimo texto nos diz que nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida e que é a nossa luz - e não nossa escuridão-, que nos assusta. Adiante ele afirma que cada um de nós pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações. Ainda com Mandela, aprendemos que à medida que deixamos nossa luz brilhar, vamos dando permissão para que os outros façam o mesmo: esta não seria a maior missão de todos nós, educadores de crianças, jovens e adultos neste complexo mundo que vivemos, com tantas possibilidades de interação, movimento, aprendizagem e ressignificação da própria vida? Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida que neste espaço ocorre. Quem, hoje com mais de 35 anos, não se lembra de suas aventuras (e algumas desventuras) quando crianças em seu jardim de infância, redescobrindo outros mundos, interagindo com outras pessoas, lidando com outras materialidades e aprendendo com a música, com a poesia, com as histórias, os cantinhos? Saber e ensinar no século XXI é tarefa de resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos. Para isso, não é interessante fazer pesquisas de outros métodos e ler autores que se firmaram com suas excelentes contribuições a prática e a práxis pedagógica? Ler autores da Escola Nova, reler Piaget que, sabiamente, em seus escritos, nos dá a consciência de que a criança é o pai do adulto e fomentar em nossas escolas o gosto pela dúvida, pela busca, pela pesquisa como esforço de permanente abertura ao nosso pensar sobre novas tarefas e construções? Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente com inúmeras
informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa sociedade aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada.
Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.
II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda,
efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.
III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro,
também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação. A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do
sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.
Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir sobre o como ensinar e aprender numa
sociedade aprendente. Diversos documentos oficiais, divulgando sobre tais mudanças em nosso mundo, ressaltam impactos imensos, seja o impacto da própria globalização e mundialização, seja o impacto da sociedade da informação e da nova sociedade tecno-científica. Unidos, enquanto impactos, algumas terminologias tem sido amplamente adotadas no jargão técnico sobre o tema, tais como sociedade da informação, sociedade do conhecimento (knowledge society) ou sociedade aprendente (learning society). Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do conhecimento (ou aprendente) que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade aprendente. É Hugo Assman que nos diz que com a expressão sociedade aprendente "pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas". Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio, ou seja, com a sociedade. Em Pierre Lévy (1994), aprendemos que tais ecologias cognitivas são as complexas relações que estabelecemos com a realidade, fazendo a utilização coletiva de nossas inteligências com o
entrelaçamento e a mediação dos avanços tecnológicos. Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar este desafio no nosso contexto educacional atual: criar estratégias para o desenvolvimento de uma ecologia cognitiva geradora de uma sociedade do conhecimento, onde competências e habilidades para aprender e ensinar sejam acessíveis a todos. Um outro teórico importante, Peter Senge, nos fala sobre a necessária construção de organizações de aprendizagem "nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a inspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo. O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos políticopedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças, devem estar presentes nas reformulações pedagógicas. Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas, em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais, visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos paradigmas científicos, necessários à economia globalizada. São as mudanças que desencadearam a sociedade aprendente que desafiam as instituições educacionais a oferecerem formação que seja compatível com as demandas atuais - criadas com as redes eletrônicas de comunicação, com a internet e as múltiplas possibilidades midiáticas de acesso à informação e a ampliação cada vez maior, em nosso planeta, da produção de conhecimentos, disponível nos bancos de dados presentes no ciberespaço. Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada, irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. A adoção de novas abordagens, de novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de "aprender a aprender" deve ser objetivo a ser perseguido por todas as instituições educacionais, para a construção de novos dos modos de produção do saber, criando condições necessárias para o necessário e permanente processo de educação continuada. Um valioso aspecto a ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente, nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao conhecimento. Neste sentido, aprendentes e ensinantes precisam estar em movimentos de parcerias na pesquisa, na investigação e na busca por coletivas modalidades de aprendizagem. Importante desafio para o aprender e o ensinar no século XXI.
II - Revisões paradigmáticas e Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado. Os desafios elencados acima podem ser enfrentados com novos estudos, novas inserções teóricas e práticas no campo educacional. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo, nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões para o ato educativo. Autores oriundos de campos de conhecimento distintos, tais como Edgar Morin, Humberto Maturana, Paulo Freire, Pedro Demo, Aglael Luz Borges, Francisco Varela, Ivani Fazenda, Fritoj Capra, Maria Cecília Castro Gasparian, Alicia Fernández, Hugo Assmann, Sara Pain, Jorge Visca, Edith Rubinstein, Leonardo Boff, Maria Cândida Moraes, Xésus R. Jares, Júlia Eugênia Gonçalves, José Manuel Moran, Maria José Esteves Vasconcellos, J. Gimeno Sacristán, Sara Pain, Laura Monte Serrat, Jung Mon Sung, Nilda Alves, Fernando Hernandez, José Contreras, César Coll Salvador, Moacir Gadotti, Boaventura Santos, Gloria Pérez Serrano, entre outros tantos e importantes teóricos de nosso tempo, alimentam ações e pesquisas psicopedagógicas, (com o intuito de colaborar, de modo contundente, numa constante produção de informações e conhecimento), em
um esforço conjunto e cooperativo para auxiliar, de modo crítico e reflexivo, na elaboração de novos conhecimentos e no seu inteligente uso nos espaços institucionais. A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido, organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que direciona sua própria prática pedagógica. Apesar da predominância da perspectiva reprodutora do conhecimento que, infelizmente ainda é paradigma dominante, com a presença da fala massiva e massificante, hoje, com o apoio e o trabalho dos profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano escolar. É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo. É fundamental, para as novas dinâmicas comunicacionais advindas desta sociedade aprendente, sociedade da informação e do conhecimento, adequar processos pedagógicos presentes na revisão, ou melhor, na transição de paradigmas, como nos ensina Boaventura Santos (1987) que a define como um necessário espaço à ruptura e a mudança do paradigma dominante e tradicional, movimento essencial direcionado à construção do paradigma emergente. Para Boaventura Santos (1987) tal paradigma emergente teve sua origem na ciência de nossa contemporaneidade, que por ele recebe a definição de ciência pós-moderna. Assim, as revisões paradigmáticas, como caminho sendo trilhado, podem ser pensadas, feitas e investigadas pela Psicopedagogia, que por sua própria história e pelo seu desenvolvimento, caracteriza-se com espaço interdisciplinar que visa alcançar a transdisciplinaridade, propondo a uma educação que atenda, efetivamente, as demandas pro aprendizagem presentes na pós-modernidade. Interessantes contribuições para a ampliação desta idéia estão presentes no livro Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna, publicado pela Editora Vozes em 2004. Ao tratar dos processos de autonomia, de autoria de pensamento, de construção de novos olhares, dos vínculos afetivos, da temática de inclusão, alteridade e identidade, ao propor a contextualização plena do sujeito humano em ambientes de aprendência, além de dar especial atenção às questões presentes no cotidiano escolar, a Psicopedagogia tem contribuído de fato, com grande relevância, para o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã, necessária para o saber aprender e ensinar no século XXI. Algumas proposições e reflexões podem, com o suporte psicopedagógico, levar a construção de ações e estratégias contributivas para o ressignificar das vivências presentes no cotidiano escolar. Se a busca é por aprendizagens significativas, aprendentes e ensinantes devem ser percebidos como caminhantes por uma mesma estrada, de mãos dadas, na busca de conhecer, de saber, de compreender os imensos desafios de nosso tempo, que emergem em todos os aspectos da vida humana e afetam a todos nós. A construção de um outro cotidiano escolar exige trabalharmos com as dimensões éticas necessárias a construção de uma cidadania ativa, onde a participação de todos, sem nenhuma exceção, gere uma gestão escolar democrática e possibilitadora de novos movimentos de conscientização. Algumas das minhas apostas metodológicas, a partir de minhas antigas e atuais vivências profissionais como arte-educador, psicopedagogo e formador de educadores e psicopedagogos em cursos de pós-graduação, teço a seguir, como forma de contribuir para novas reflexões e proposições.
III – Proposições e reflexões: ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens significativas: "Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência". Paulo Freire Diante do que aqui expus, e de acordo com minha postura profissional, acredito sempre ser necessário fazer proposições ao nosso pensar sobre os temas que trabalho. Apesar de fazer análises, levantar questões e estudar determinados temas ser de grande importância, cabe a quem se dedica a Educação e Psicopedagogia também fazer proposições, ou seja, apontar alguns caminhos, sempre discutíveis e provisórios. No percorrer de minha trajetória tenho pensado e me conduzido deste modo: faço proposições, exerço minha autoria de pensamento compartilhando idéias, conhecimentos e saberes no intuito de dar minha parcela de contribuição de modo mais significativo. Escrever, para mim, é um modo de aprender, pois com a escrita, sistematizo meus estudos e posso compartilhar, com meus artigos e textos, minhas buscas em Educação e Psicopedagogia. No meu primeiro livro, Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades, publicado em 2004, propus uma matriz de competências e habilidades básicas para a ação psicopedagógica, mediante as mudanças presentes no nosso século XXI. Interessante comentar aqui que este trabalho, nascido de minhas próprias perguntas e dúvidas psicopedagógicas, hoje está em sua segunda edição, é utilizado em diversos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia em nosso país e tenho recebido interessantes comentários de ensinantes e aprendentes em Educação e Psicopedagogia, sobre o seu uso em estudos, aulas e produções monográficas. No meu segundo livro publicado, Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, minha proposição maior está focada na própria formação do psicopedagogo e em sua permanente busca de profissionalidade, caminhando em processos de formação continuada, de supervisão e de busca de formação pessoal. Incluir, um verbo ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos, é meu último trabalho, recentemente publicado, e lançado em Portugal e Espanha no início deste ano. Neste livro, também mantenho a iniciativa da proposição elencando, numa perspectiva dialógica e participativa, competências técnicas para profissionais envolvidos em Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Aqui também considero importante me posicionar de modo propositivo. Uma primeira questão deve ser a de pensarmos, enquanto ensinantes e gestores educacionais, sobre a importância de processos de inclusão digital e do uso da internet. Pierre Lévy assinala que ciberespaço "haveria lugar para projetos, entre os quais o desenvolvimento de uma inteligência coletiva". Este mesmo autor afirma ainda que a inteligência, a aprendizagem e a cognição são resultantes das complexas redes onde um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos interagem. Neste sentido, uma proposição é pensar em projetos educativos que construam, com o uso do ciberespaço, novas possibilidades didáticas, metodológicas e pedagógicas para a construção de conhecimentos. Sabemos que os recursos tecnológicos das comunicações e informações digitais, quando presentes nas instituições de ensino não são, infelizmente, usados de modo adequado e, quando ocorre este uso, não apresentam rupturas, nem nos aspectos curriculares, epistemológicos ou didáticos, perdurando apenas abordagens pedagógicas convencionais, com pouca inovação. Políticas públicas favorecedoras à inclusão digital e formação de educadores para o uso adequado e inovador das tecnologias da informação e comunicação, em espaços digitais, é um bom desafio a ser enfrentado para a melhoria da educação, da aprendizagem e do saber no século XXI. Uma segunda questão surge também como possibilidade de reflexão e posicionamento: nas instituições de ensino, grosso modo, perdura uma prática pedagógica tradicional, ainda focada na transmissão do conhecimento, na aprendizagem repetitiva, sem contextualização adequada, incompatível com a conectividade, com a interatividade e hipertextualidade que caracterizam, nas redes de comunicação digitais, as dinâmicas comunicacionais novas, surgidas com a revolução das tecnologias de informação.
A proposição aqui também se vincula ao surgimento de novos projetos de formação de educadores para o uso qualitativo das novas tecnologias, como prioridade fundamental, visto que nesta nova realidade, presente na sociedade aprendente, trás a exigência de novos modos de produzir conhecimento, novas maneiras de ensinar e de aprender. A terceira proposição está centrada no desenvolvimento das ecologias cognitivas contemporâneas, pois o amplo acesso a conhecimentos e informações, além da crescente velocidade das comunicações digitais, podem se tornar, cada vez mais, criadores de novas potencialidades de interações sociais. O desafio então é o de fomentar o surgimento de novos usos do acesso à internet, novas comunidades, novos grupos de interesse, que exige a mobilização de novas competências, tanto para a construção individual quanto coletiva do conhecimento. A prioridade, então, deve ser o aprendente e aqui surge uma outra proposição: a busca permanente por metodologias ativas de construção de conhecimentos que atenda a interesses e necessidades distintas, que respeite os diferentes ritmos, as distintas modalidades e os estilos diferentes de aprender de cada um. A pesquisa constante e a formação continuada, nos espaços e tempos da ação de cada ensinante, devem ser perseguidas como parte de todo o trabalho educativo. A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas dimensões. A última proposição, que aqui se configura, é a de aprendermos, todos, a lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade, com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente. No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender estejam em movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma, novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.
Conclusão: A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... " O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte." Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo de construção do conhecimento. Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa, lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é
fundamental fator para o desenvolvimento humano. Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente, cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando, enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros. Assim, resta desejar com todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e ações que as instituições educacionais do século XXI - onde possamos cada vez mais crescer como seres humanos- sejam como a escola sonhada por Paulo Freire e, por tantos de nós, desejada. "Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz." Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito. Prezado Professor do Ensino Fundamental Acredito que você concorda comigo a respeito das idéias abaixo: 1- Ao saber música, pintura, desenho, escultura, desenho animado, poesia, literatura, fotografia, filmagem e outros tipos de arte, a chance de o professor conquistar os alunos aumenta significativamente. 2- Ao conquistar os alunos a autoestima e a autoconfiança do professor aumentam e assim passa a ser admirado e respeitado por seus alunos e pela sociedade. 3-Ao somar a autoestima, mais a autoconfiança, mais a admiração e mais o respeito, a qualidade de vida
emocional e mais a frente a qualidade de vida financeira poderão melhorar significativamente. Pensando nisso foi que decidimos oferecer este trabalho. Para conhecer a obra consulte os links do lado esquerdo e para saber como comprar e marcar eventos consulte os links do lado direito.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.