a vontade de poder cap�tulo do vol i de "an�lise de temas sociais." um dos factores predominantes nos factos maiores da historia � a vontade de poder, essa manifesta��o cr�tica da vontade de pot�ncia de nietzsche. ao examinarmos as fases cr�ticas da historia, em �filosofia e historia da cultura�, verificamos que todas as classes sociais desejam o poder, e lutam por conquist�-lo nas diversas formas que ele pode manifestar-se. mas essa origem deve buscar-se mais longe, porque nenhuma manifesta��o social deixa de ter suas ra�zes mais distantes na psicologia humana. se o homem separa o �mbito das diversas ci�ncias, n�s sabemos que elas se formam quando se distinguem nitidamente o objecto material (que pode pertencer a varias ci�ncias) e o objeto formal (que e a forma pela qual � tomado o primeiro). desse modo, materialmente, todas as ci�ncias t�m pontos de fus�o fundamental, embora formalmente se distingam. como formalmente podemos tomar um mesmo objeto material sob diversos aspectos formais, e ele, por sua vez, id�ntico em diversas ci�ncias, mas apenas pelo lado material, como o homem que, materialmente, � o mesmo objecto da psicologia, da sociologia, da biologia, da fisiologia, da anatomia, da antropologia, etc., embora tomado, formalmente, de modo distinto por essas disciplinas. do mesmo modo ao estudar-se o homem anatomicamente ou fisiologicamente, n�o se pode prescindir da raiz biol�gica, tamb�m n�o se pode tratar do homem, psicol�gica e sociologicamente, sem se considerarem as ra�zes, que s�o objectos das ci�ncias implicadas naquelas. a presen�a dessa interconex�o das diversas disciplinas n�o implica a nega��o do especialismo, que tanto vem dominando desde o s�culo xviii at� nossos dias, mas apenas aponta a orienta��o deficiente que o mesmo tem, e indica o que � mister fazer para evitar os malef�cios que dele podem surgir. a especialidade � uma imposi��o da �poca moderna, mas o especialista n�o pode colocar-se estanquemente ante o conhecimento, sob o perigo de parti-lo (a forma��o dos partidos, na pol�tica, tamb�m � um sinal daquele s�culo em diante), e de construir as deformadas vis�es unilaterais abstractistas, que t�m provocado tantos males para a cultura humana e que s�o causas das grandes controv�rsias e, sobretudo, das incompreens�es que dominam o nosso s�culo. desse modo, � mister considerar, no campo politico ( que � um campo �tico como o demonstramos), um factor sociol�gico de magna import�ncia, que foi por n�s examinado em �sociologia fundamental�, que � o apetite de prestigio humano. todo ser humano deseja, anela e luta pelo prestigio social, cuja ra�z esta no �mpeto de perfectibilidade humana, que decorre da capacidade humana de t�mese parab�lica, como o expusemos na �noologia geral�, que surge, por sua vez, da capacidade humana de captar as possibilidades, atrav�s da compara��o mental das formas actualizadas com as formas perfeitas, que o homem eideticamente capta, sem a posse actual mas apenas virtual das mesmas. o roteiro, portanto, deste estudo, � o que vamos seguir, para melhor compreens�o do que desejamos tratar. o animal pode, e muitas experi�ncias parecem nos indicar a validez dessa afirmativa, captar algumas possibilidade imediatas, decorrentes da pr�pria experi�ncia. assim o c�o sabe que pode pular o obst�culo para alcan�ar o desejado; assim a abelha sabe que aquele objecto (flor) lhe dar� o que � mister para realizar o mel. a cogni��o animal segue-se imediatamente � exist�ncia; n�o �, contudo, formal e muito menos judicativa nem reflexa. a abelha n�o possui o esquema eid�tico da flor, enquanto flor, pois busca todos os objectos que �quela se assemelham. a experi�ncia mostra-lhe quais lhe fornecem o
p�lem, quais n�o. guia-a a intelig�ncia da esp�cie, intelig�ncia que funciona imediatamente ap�s a experi�ncia. o animal n�o classifica o universo, n�o homogene�za a heterogeneidade universal por meio de esquemas no�ticos-eid�ticos, e tal � evidente, como vimos, na �noologia geral�, porque, do contrario, decorreriam outras fun��es inteligentes, que n�o se verificam no animal. n�o � capaz de ju�zos mediatos (opera��o judicativa), ou seja, n�o tem a capacidade de construir ju�zos por meio de esquemas no�ticos-eid�ticos, os conceitos, como o ju�zo l�gico, no homem, que j� implica uma opera��o mediata, que emprega, portanto, meios. n�o se pode negar que o animal � capaz de uma primaria actividade judicativa e de uma actividade estimativa, porque h� exemplos eloq�entes. tomas de aquino, como vemos em �tratado de esquematologia�, admitia essa possibilidade. o de que ele n�o � capaz � de ju�zos l�gicos, que exigem uma opera��o, um m�dium, que sirva de compara��o entre esquemas no�tico-eid�ticos, como os realiza o homem. ora, a actividade reflexa implica a judicativa, porque reflectir (raciocinar, reflexionar), implica tais ju�zos, pois essa opera��o se realiza pela compara��o formal, como se v� na l�gica e como o mostramos em nosso �m�todos l�gicos e dial�ticos�. faltando-lhes a simples opera��o formal, consequentemente lhe faltaram as outras. a compara��o de possibilidades formalmente estatu�das � uma opera��o humana. e a raz�o � simples: tal opera��o implica a compara��o mental do que formalmente � nessa coisa com a formalidade tomada como perfei��o fora da coisa. o homem compara esta cadeira com o conceito de cadeira, tomado em sua perfei��o, como compara o saber deste homem com a sabedoria, tomada em sua perfei��o absoluta. por isso, pode o homem comparar aqui de um modo diferente do que faz com o que � meramente quantitativo. tamb�m as medidas s�o diferentes, porque mede-se o quantitativo com uma unidade menor da sua esp�cie, pois mede-se o tamanho de uma coisa por um tamanho tomado como unidade. o mais � medido pelo menos. mas, no que � qualitativo, a medida � a perfei��o qualitativa. assim, diz-se que algo � mais ou menos verde por compara��o a um verde ideal (que � intencionalmente a formalidade do verde em toda a sua perfei��o formal). ora, tal formalidade perfeita n�o a temos actualmente, mas virtualmente. sabemos o que � a sabedoria em sua perfei��o formal; n�o, por�m, como ela �. temo-la de modo quo e n�o de modo quod. nossos esquemas referem-se intencionalmente a essa perfei��o, sem que a tenhamos actualmente. contudo, essa posse virtual, que � evidente, permite-nos comparar o que (quod), com que poderia ser (quo). podemos, assim, dizer que uma coisa �, ou melhor, participa da perfei��o formal, sem ser o que aquela perfei��o formal � em sua plenitude. assim sabemos que jo�o � homem, n�o, por�m a plenitude da hominilidade. era nessa posse virtual da perfei��o que se fundava todo o pensamento plat�nico genuinamente considerado. a perfei��o formal era a verdade da coisa, verdade que pod�amos desvelar, retirar alguns v�us, perscrutando a sua beleza formal, sem jamais alcan�ar a vis�o directa e plena da sua perfei��o. todas as coisas participam de perfei��es. nenhuma, por�m, das coisas finitas, que s�o participantes daquelas perfei��es, alcan�ar� a pureza perfectiva da forma. em �filosofia concreta� mostramos de modo claro e apod�ctico a validez desta tese plat�nica. pode, assim, o homem visualizar a perfectibiliza��o de alguma coisa, porque � da sua natureza e do seu esp�rito essa capacidade de alcan�ar o perfect�vel. ora, esse �mpeto, que � fundamental do homem, manifesta-se no seu apetite para o bem. tamb�m os animais revelam um apetite para o bem, sem d�vida, como o revela toda a vida. contudo, no homem toma caracter�sticas distintas de as verific�veis nos outros seres vivos. e que o homem dirige seu apetite n�o para o bem simples, mas para o bem perfectivo, para a m�xima perfei��o do que lhe falta.
o prest�gio social manifesta, no campo da psicologia social, esse �mpeto, esse anelo. todo ser humano quer ser mais do que �. nietzsche sentiu com agudeza esse mehrwollem, esse querer mais e melhor, que ele encontrou sinais em todas as coisas c�smicas, essa vontade de pot�ncia (wille zur macht), que, no homem, se manifesta em vontade de poder, de dom�nio, de supera��o, de perfectibilidade, de prest�gio sobre os outros. assim, para ele, o santo, que se inspira por uma voca��o intr�nseca, por um anelo intr�nseco de alcan�ar a perfei��o virtuosa, manifesta esse desejo de mais, esse anelo de perfei��o. mas o anelo de mais e de perfei��o, quando se manifesta no campo social, quando tende a impor-se aos outros, quando pretende parecer ou ser ante os outros mais do que � normal, � o apetite de prest�gio social. ora, o prest�gio social se manifesta como �mpeto, como uma decorr�ncia desse anelo, mas exterioriza-se, segundo os per�odos e fases da historia, no que transparece ao homem como algo prestigiado. assim a crian�a anela ser um chofer, um aviador, um motorneiro de bonde, aquilo que para ela revela o prest�gio social imediato aos seus olhos. muitos aspiram `a beleza f�sica, ao corpo atl�tico, para impor-se aos outros. alguns se vestem de modo a aumentar o seu prest�gio, outros falam de modo a dar-lhes valor, e muitas atitudes e posturas s�o sinais do anelo do prest�gio social. alguns aspiram as riquezas, porque elas lhe dar�o prest�gio, aos postos-chave, aos cargos pol�ticos e at� ao crime, porque lhes prestigiam. o cartazismo moderno, que tanto � anelado por muitos, � um sinal de nossa �poca. n�o importa que a gloria seja r�pida, mas quem pode negar o prest�gio, embora moment�neo, do fogo de artif�cio no instante supremo de sua actaliza��o? quantos, dominados pelo anseio do cartazismo, caem nas realiza��es mais med�ocres, mas que lhes abrem as portas para a gl�ria passageira, e a possibilidade de viverem o fast�gio, embora moment�neo, do prestigio social? ser her�i de um dia, de uma tarde, de uma hora, de um instante j� satisfaz a muitos. o olhar duro, o rosto fechado, a austeridade s�o externaliza��es manifestas do desejo de prestigio perante os outros, igualmente o ser secret�rio do sindicato, o l�der do movimento, o membro qualificado do partido, como tamb�m da quadrilha, do bando, do crime. e tamb�m h� lugares onde o cinismo prestigia, onde a canalhice exalta. olhemos os diversos per�odos, com suas fases, de um ciclo hist�rico. estamos na fase teocr�tica, o prestigio � dado pela austeridade religiosa, pelo ascetismo, do qual tantos falam com admira��o, a pr�tica constante da virtude, e eis muitos afanarem-se em alcan�ar os momentos mais altos. e�a de queiroz, em seu extraordin�rio �s�o crist�v�o�, nos d� um exemplo de santos ansiosos de prestigio social, que realizaram praticas asc�ticas ainda n�o ultrapassadas, para que possam os que as presenciarem relatar ao mundo a surpreendente fa�anha, que causara admira��o, pasmo e inveja. s�o crstov�o v� tais homens, perdoa-os, mas deles se afasta em busca de algo superior. eis um exemplo do prest�gio social que actua no homem religioso. n�o se julgue que nossas palavras queiram desmerecer a grandeza dos grandes santos e dos grandes virtuosos. mas os grandes, realmente grandes, nunca buscaram o prest�gio pela pr�tica da virtude, mas sim porque eram levados pelo dom�nio e pela consci�ncia do dever. na verdade, a consci�ncia do dever supera em muitos casos o anelo do prest�gio social. � um �mpeto para o mais, �mpeto genuinamente puro. nem tampouco queremos negar o valor do �mpeto pelo que realmente perfectibiliza o homem, e n�o pelo que o torna deficiente e fraco. se, no romantismo, as faces p�lidas, a anemia, eram fontes de pret�gio social, tais manifesta��es eram doentias, eram m�rbidas at�. o prest�gio, buscado por alguns doentes, que exibem a mazela ou os defeitos para assombrarem os seus semelhantes, � uma manifesta��o patol�gica, profundamente m�rbida, do prest�gio. na fase aristocr�tica, o prest�gio � dado pela empresa guerreira, pelo efeito cavalheiresco, como na teocr�tica � obtida pela empresa religiosa. os homens, que s�o fundamentalmente virtuosos, buscam a empresa virtuosa, como os
fundamentalmente aristocr�ticos, buscam a empresa nobre, que os prestigiaria ante seus semelhantes. no per�odo democr�tico, o prest�gio � dado pelas riquezas, pela posse da moeda que as significa. o prest�gio esta nos bens, na posse. o cr�dito do homem virtuoso do per�odo teocr�tico � a sua santidade: do per�odo aristocr�tico, a sua honra; do per�odo democr�tico, os haveres materiais. no per�odo cesariocr�tico, quando as massas de servidores s�o manejadas habilmente pelos demagogos que as desesperam, o prest�gio � o pol�tico, e o credito � fundado na base mais ou menos s�lida desse prestigio. ora, o per�odo democr�tico e o cesriocr�tico, por neles prevaleceram a primazia dos bens econ�micos, a vis�o normal da vida est� vinculada sempre � Economia. o empres�rio utilit�rio � um homem que vive num �mbito predominantemente econ�mico, pois seu prestigio depende da economia. o empres�rio pol�tico, manejando as massas de servidores, que vivem agudamente o problema econ�mico, tende, naturalmente, para a visualiza��o econ�mica a qual se vincula estreitamente. n�o � de admirar que as interpreta��es econ�micas da hist�ria prevale�am nesses per�odos. plat�o acentuava, e com profunda base, que toda sociedade entra em decad�ncia quando as suas maiores preocupa��es s�o as econ�micas, quando tudo gira em torno da economia, quando as raz�es econ�micas prevalecem sobre as outras. o acirramento da classe dos servidores, a provoca��o e o despertar dos ressentimentos naturais s�o os grandes meios empregados nesses per�odos para as grandes manobras pol�ticas, que permitem a ascens�o de mediocridades aos altos postos. s�o tamb�m os per�odos em que homens de menor porte alcan�aram os fast�gios da fama. � a �poca do cartazismo, do prest�gio r�pido, dos her�is passageiros, dos fogos de artif�cio, das gl�rias conquistadas por manhas e processos escusos. e admir�vel notar que, nesses per�odos, em sua quase totalidade, os homens, que ocupam os postos socialmente mais elevados, est�o aqu�m destes. nunca os cargos s�o mais altos que os homens, nunca mediocridades t�o completas, deficientes mentais t�o evidentes, alcan�am postos de prest�gio social t�o elevado. uma simples revis�o da nossa hist�ria retornando ao nosso passado aristocr�ticoagr�rio, nos revelaria desde logo que a estatura dos homens p�blicos do s�culo passado era muito superior a dos tempos atuais. observa-se at� uma curva descendente impressionante, pois os nossos parlamentos, hoje, n�o revelam sen�o, numa percentagem m�nima, o grau de eleva��o que j� teve. o erro fundamental do materialismo hist�rico constituiu em n�o considerar tais aspectos. n�o � que fale�am totalmente raz�es � interpreta��o econ�mica da hist�ria. absolutamente, n�o. como sabemos que h� sempre a presen�a dos quatro estamentos em toda sociedade, porque t�m eles ra�zes mais profundas no temperamento humano, houve sempre quem contribu�sse para um facto hist�rico com apetites distintos, com inten��es diversas. quatro homens podem entregar-se a realiza��o de uma mesma obra, movidos por interesses diversos. quatro homens constr�em uma escola. um deles v�, nela, principalmente o templo elementar do saber, o primeiro degrau do conhecimento religioso, o caminho aberto a eleva��o dos jovens, � o homem virtuoso, o homem religioso; outro considera a eleva��o do conhecimento para tornar os homens mais valiosos, mais constructivos e empreendedores, � o aristocrata; outro visualiza uma empresa econ�mica, uma obra que dar� um ganho, um lucro, � o constructor, o empres�rio utilit�rio; outro, enfim, v� nela, principalmente, um ganha-p�o, um emprego que lhe assegure meios necess�rios � sobreviv�ncia, � o servidor, o trabalhador, o pedreiro, o servente. contudo, um interprete econ�mico da historia veria nessa escola apenas o qu�? no
homem teocr�tico, apenas o interesse de formar homens mais h�beis � produc��o econ�mica, se forma uma escola para prolet�rios, ou ent�o para formar dirigentes mais aptos da sociedade; ou sacerdotes mais competentes, para servirem � sua cren�a; no aristocrata, apenas o desejo de formar homens mais aptos para ambos misteres; no empres�rio utilit�rio, o constructor, o desejo do lucro que a obra lhe pode dar; no servidor, afinal, nada mais v� que o ganha-p�o, que aquela obra lhe oferece. aquela escola � apenas um producto superestructural de um apetite econ�mico. mas isso � abstractismo da pior esp�cie, porque o homem n�o � apenas um ens oeconomicum, n�o � apenas um ser da economia, mas um ser da biologia, da fisiologia, da psicologia, da noologia, da �tica, da sociologia, etc. interpretar assim � interpretar abstractistamente. mas dir� o defensor de tal posi��o, que n�o nega a influ�ncia de outros factores, mas que essa influ�ncia e m�nima. as cruzadas foram vistas por religiosos como uma empresa religiosa, como uma fa�anha da f� e pelos venezianos, empres�rios mercantis, como um bom neg�cio. n�o � evidente a presen�a da maneira de conceber os factos hist�ricos em fun��o do estamento a que se pertence? mas o defensor da interpreta��o econ�mica da historia dir� que o factor decisivo � o econ�mico. na oposi��o dos factores, a resultante ser� sempre dada pela economia. mas � mentira; a historia n�o diz isto. ao contr�rio; a historia diz que a direc��o econ�mica prevalece naqueles em que ela j� previamente tende a prevalecer. neste ponto, os argumentos de rocker tem a m�xima validez, embora sob alguns aspectos tenha exagerado, historicamente, o papel da igreja, atribuindo-lhe a culpa de certas atitudes, provindas da defici�ncia de certos sacerdotes. ningu�m poderia explicar o gesto de um s�o l�zaro, de um s�o francisco de assis, de um s�o francisco de paula, sacrificando toda as sua devo��o, o seu esfor�o, a sua humanidade, em benef�cio dos necessitados, como producto de um factor econ�mico, a n�o ser que se queira tomar as necessidades humanas como meramente econ�micas. ora, nesse caso, o homem jamais se afasta da economia. nesse sentido, poder-se-ia dizer apenas o seguinte: o animal, enquanto tal, n�o � um ser econ�mico, mas o homem �, porque o homem produz para satisfazer suas necessidades. o homem � um ser econ�mico, por excel�ncia. mas sucede que n�o � apenas um ser econ�mico, e consider�-lo como tal n�o implica excluir todo o mais. neste sentido, sempre a economia nos acompanha, porque ao erguermo-nos de nossa cama, que � um bem econ�mico, lavamos nossos dente com uma pasta e uma escova, elementos da economia, como tamb�m o � o nosso vestir e o tomarmos a nossa refei��o matinal, e o lermos o nosso jornal matutino, e tomarmos a nossa condu��o e fumarmos o nosso cigarro, e dirigirmo-nos para o nosso trabalho, e ali empregarmos a nossa actividade, e volvermos � nossa casa, e consumirmos a nossa refei��o, e prosseguiremos na nossa fun��o productora, e volvermos, afinal, para o descanso, repousando numa poltrona, ap�s o consumo da nossa refei��o, ou procurando um divertimento ou a leitura de um livro, que adquirimos numa opera��o econ�mica, at� volvermos ao leito. em tudo isso praticamos uma seq��ncia de actos econ�micos, sem d�vida. ser� que algu�m pensaria assim, pensaria que quando amamos, que quando desejamos saber por saber, que quando desejandos o bem aos outros, quando elevamos nossas preces ao senhor, que quando simpatizamos ou antipatizamos, somos apenas um efeito da economia, senhora absoluta de nossa vida a apontar num destino f�rreo a todos os nossos actos, a todas as nossas aspira��es e a todas as nossas esperan�as? essa doutrina sempre existiu na humanidade, em todos os ciclos hist�ricos, mas s� encontra resson�ncias nos per�odos em que predomina o empres�rio utilit�rio e na cesariocracia, em grande parte. e dizemos em grande parte, porque em pa�ses cesariocratas como o foram a alemanha hitlerista e a it�lia facista, e o � hoje a
r�ssia sovi�tica, a pr�pria economia n�o dirige os acontecimentos. n�o. nesse per�odo, quem dirige � a pol�tica, � a aspira��o do prest�gio social pol�tico que a dirige. quem pode negar que o prest�gio dos chefes nazistas n�o marcou a direc��o dos acontecimentos hist�ricos da alemanha e da it�lia? quem pode negar que o prest�gio pol�tico de stalin marcou o destino e a realiza��o de tanta brutalidade na r�ssia, como o confessou kruchev? a� temos neste senhor, um her�i que passara como passaram todos os her�is tempestuosos, todos os fogos de artif�cio da historia, como passaram stalin, malenkov, trotsky, e outros. n�o esteve a r�ssia, durante todo esse longo est�gio estalinista, dirigida pelas aspira��es pol�ticas? n�o foi a politica que dirigiu a economia? a economia s� dirige a hist�ria no per�odo em que o empres�rio utilit�rio domina. suas guerras s�o guerras econ�micas, e s� interessam enquanto economicamente vantajosas; ou seja, enquanto possam produzir benef�cios econ�micos. por isso os mercadores est�o sempre prontos a fazer acordos e estabelecer um modus vivendi que preserve a paz. a guerra de 1914-1918 foi provocada em grande parte por tais inten��es, e foi o grande momento do per�odo do empres�rio utilit�rio no mundo ocidental. mas a guerra de 1939-1945 j� foi uma guerra cesriocr�tica, uma guerra ideol�gica, uma guerra inevit�vel para os mercadores. a pr�xima, que nos amea�a, � tamb�m desta esp�cie. os mercadores n�o a desejam, e como perdem cada dia seu poder pol�tico, pois o estado moderno cada vez mais se torna possu�do pelos pol�ticos cesariocr�ticos, e � at� um �bice aos emprs�rios utilit�rios, n�o conseguem evit�la. e � a tomada de consci�ncia dessa inevitabilidade que desespera a juventude e desespera a todos. n�o surge no horizonte da humanidade nenhuma esperan�a. s� pensam todos como transferi-la, como prorrog�-la, sem que ningu�m saiba como impedi-la. e ser� inevit�vel, porque nada se faz de seguro para evit�-la. esquecem que a primeira provid�ncia consiste precisamente em saber quais os factores que a tornam inevit�vel. conhecendo-os poder�amos, depois, fazer ou tentar fazer alguma coisa para desvi�-los. mas querer�o realmente os homens realizar essa obra de cogni��o? estar�o as mentes humanas despejadas dos preconceitos que obstaculizam esse desejo? examinar tais factos, tais factores, e indicar algumas solu��es, e o que tentaretemos fazer nesta obra. coment�rio do transcritor: a obra de m�rio ferreira dos santos � uma unidade, um sistema com rigorosa coer�ncia. cada uma delas reporta �s outras ostensiva ou implicitamente. n�o se d� em nenhuma obra dois nomes a um mesmo conceito. conceitos como o t�mese parab�lica; os tipos caracterol�gicos teocr�tico, aristocr�tico, empres�rio utilit�rio, servidor; a id�ia dos ciclos culturais, abstractismo e concre��o aparecem em quase todos os seus livros. neste cap�tulo, m�rio unifica muitas de suas teses desenvolvidas em outras obras para fundamentar o seu argumento de que o ser humano estar� sempre sujeito � vontade de poder (kratos) e que este desejo tende a aumentar mais e mais sufocando as liberdades individuais, o que constitui a base de sua cr�tica anarquista ao estado. aqui ele parte de teses desenvolvidas apoditicamente em outros livros, como a tese da t�mese parab�lica de seu livro de antropologia filos�fica e gnosiologia, �noologia geral�, da tese dos ciclos culturais desenvolvida em sua �filosofia e historia da cultura� dentre outras para analisar os fatos e teoria pol�ticas mas prementes de seu tempo. talvez com apenas uma das obras de m�rio seja poss�vel ter uma no��o, mas apenas uma no��o, do conjunto de seu pensamento