A verdade sobre a maconha Poucos assuntos d�o margem a tanta mentira, tanta deturpa��o, tanta desinforma��o. Afinal, quais os verdadeiros motivos por tr�s da proibi��o da maconha? A droga faz mal ou n�o? E isso importa? Denis Russo Burgierman / Alceu Nunes
Por que a maconha � proibida? Porque faz mal � sa�de. Ser� mesmo? Ent�o, por que o bacon n�o � proibido? Ou as anfetaminas? E, diga-se de passagem, nenhum mal s�rio � sa�de foi comprovado para o uso espor�dico de maconha. A guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econ�micos, pol�ticos e morais do que por argumentos cient�ficos. E algumas dessas raz�es s�o inconfess�veis. Tem a ver com o preconceito contra �rabes, chineses, mexicanos e negros, usu�rios freq�entes de maconha no come�o do s�culo XX. Deve muito aos interesses de ind�strias poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sint�ticos e papel e queriam se livrar de um concorrente, o c�nhamo. Tem ra�zes tamb�m na bem-sucedida estrat�gia de domina��o dos Estados Unidos sobre o planeta. E, � claro, guarda rela��o com o moralismo judaico-crist�o (e principalmente protestante-puritano), que n�o aceita a id�ia do prazer sem merecimento � pelo mesmo motivo, no passado, condenou-se a masturba��o. N�o � f�cil falar desse assunto � admito que levei um dia inteiro para compor o par�grafo acima. O tema � t�o carregado de ideologia e as pessoas t�m convic��es t�o profundas sobre ele que qualquer convite ao debate, qualquer insinua��o de que estamos lidando mal com o problema j� � interpretada como "apologia �s drogas" e, portanto, pun�vel com cadeia. O fato � que, apesar da desinforma��o dominante, sabe-se muito sobre a maconha. Ela � cultivada h� mil�nios e centenas de pesquisas j� foram feitas sobre o assunto. O que tentei fazer foi condensar nestas p�ginas o conhecimento que a humanidade reuniu sobre a droga nos mil�nios em que convive com ela.
Por que � proibido? "O corpo esmagado da menina jazia espalhado na cal�ada um dia depois de mergulhar do quinto andar de um pr�dio de apartamentos em Chicago. Todos disseram que ela tinha se suicidado, mas, na verdade, foi homic�dio. O assassino foi um narc�tico conhecido na Am�rica como marijuana e na hist�ria como haxixe. Usado na forma de cigarros, ele � uma novidade nos Estados Unidos e � t�o perigoso quanto uma cascavel." Come�a assim a mat�ria "Marijuana: assassina de jovens", publicada em 1937 na revista American Magazine. A cena nunca aconteceu. O texto era assinado por um funcion�rio do governo chamado Harry Anslinger. Se a maconha, hoje, � ilegal em praticamente todo o mundo, n�o � exagero dizer que o maior respons�vel foi ele. Nas primeiras d�cadas do s�culo XX, a maconha era liberada, embora muita gente a visse com maus olhos. Aqui no Brasil, maconha era "coisa de negro", fumada nos terreiros de candombl� para facilitar a incorpora��o e nos confins do pa�s por agricultores depois do trabalho. Na Europa, ela era associada aos imigrantes �rabes e indianos e aos inc�modos intelectuais bo�mios. Nos Estados Unidos, quem fumava eram os cada vez mais numerosos mexicanos � meio milh�o deles cruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 em busca de trabalho. Muitos n�o acharam. Ou seja, em boa parte do Ocidente, fumar maconha era relegado a classes marginalizadas e visto com antipatia pela classe m�dia branca. Pouca gente sabia, entretanto, que a mesma planta que fornecia fumo �s classes
baixas tinha enorme import�ncia econ�mica. Dezenas de rem�dios � de xaropes para tosse a p�lulas para dormir � continham cannabis. Quase toda a produ��o de papel usava como mat�ria-prima a fibra do c�nhamo, retirada do caule do p� de maconha. A ind�stria de tecidos tamb�m dependia da cannabis � o tecido de c�nhamo era muito difundido, especialmente para fazer cordas, velas de barco, redes de pesca e outros produtos que exigissem um material muito resistente. A Ford estava desenvolvendo combust�veis e pl�sticos feitos a partir do �leo da semente de maconha. As planta��es de c�nhamo tomavam �reas imensas na Europa e nos Estados Unidos. Em 1920, sob press�o de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibi��o da produ��o e da comercializa��o de bebidas alco�licas. Era a Lei Seca, que durou at� 1933. Foi a� que Henry Anslinger surgiu na vida p�blica americana � reprimindo o tr�fico de rum que vinha das Bahamas. Foi a�, tamb�m, que a maconha entrou na vida de muita gente � e n�o s� dos mexicanos. "A proibi��o do �lcool foi o estopim para o �boom� da maconha", afirma o historiador ingl�s Richard Davenport-Hines, especialista na hist�ria dos narc�ticos, em seu livro The Pursuit of Oblivion (A busca do esquecimento, ainda sem vers�o para o Brasil). "Na medida em que ficou mais dif�cil obter bebidas alco�licas e elas ficaram mais caras e piores, pequenos caf�s que vendiam maconha come�aram a proliferar", escreveu. Anslinger foi promovido a chefe da Divis�o de Controle Estrangeiro do Comit� de Proibi��o e sua tarefa era cuidar do contrabando de bebidas. Foi nessa �poca que ele percebeu o clima de antipatia contra a maconha que tomava a na��o. Clima esse que s� piorou com a quebra da Bolsa, em 1929, que afundou a na��o numa recess�o. No sul do pa�s, corria o boato de que a droga dava for�a sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam insinua��es de que a droga induzia ao sexo prom�scuo (muitos mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano m�dio, mas isso n�o tem nada a ver com a maconha) e ao crime (com a crise, a criminalidade aumentou entre os mexicanos pobres, mas a maconha � inocente disso). Baseados nesses boatos, v�rios Estados come�aram a proibir a subst�ncia. Nessa �poca, a maconha virou a droga de escolha dos m�sicos de jazz, que afirmavam ficar mais criativos depois de fumar. Anslinger agarrou-se firme � bandeira proibicionista, batalhou para divulgar os mitos antimaconha e, em 1930, quando o governo, preocupado com a coca�na e o �pio, criou o FBN (Federal Bureau of Narcotics, um escrit�rio nos moldes do FBI para lidar com drogas), ele articulou para chefi�-lo. De repente, de um cargo burocr�tico obscuro, Anslinger passou a ser o respons�vel pela pol�tica de drogas do pa�s. E quanto mais subst�ncias fossem proibidas, mais poder ele teria. Mas � improv�vel que a cruzada fosse motivada apenas pela sede de poder. Outros interesses devem ter pesado. Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrol�fera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. "A Du Pont foi uma das maiores respons�veis por orquestrar a destrui��o da ind�stria do c�nhamo", afirma o escritor Jack Herer, em seu livro The Emperor Wears No Clothes (O imperador est� nu, ainda sem tradu��o). Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo v�rios produtos a partir do petr�leo: aditivos para combust�veis, pl�sticos, fibras sint�ticas como o n�ilon e processos qu�micos para a fabrica��o de papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o c�nhamo. Seria um empurr�o consider�vel para a nascente ind�stria de sint�ticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destru�das, tirando a fibra do c�nhamo e o �leo da semente do mercado. "A maconha foi proibida por interesses econ�micos, especialmente para abrir o mercado das fibras naturais para o n�ilon", afirma o
jurista W�lter Maierovitch, especialista em tr�fico de entorpecentes e exsecret�rio nacional antidrogas. Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais. Hearst era a pessoa mais influente dos Estados Unidos. Milion�rio, comandava suas empresas de um castelo monumental na Calif�rnia, onde recebia artistas de Hollywood para passear pelo zool�gico particular ou dar bra�adas na piscina coberta adornada com est�tuas gregas. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidad�o Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse �dio talvez se devesse ao fato de que, durante a Revolu��o Mexicana de 1910, as tropas de Pancho Villa (que, ali�s, faziam uso freq�ente de maconha) desapropriaram uma enorme propriedade sua. Sim, Hearst era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras �rvores para produzir papel. Ou seja, ele tamb�m tinha interesse em que a maconha americana fosse destru�da � levando com ela a ind�stria de papel de c�nhamo. Hearst iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas mat�rias sobre a droga, �s vezes afirmando que a maconha fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas, outras noticiando que 60% dos crimes eram cometidos sob efeito da droga (um n�mero tirado sabe-se l� de onde). Nessa �poca, surgiu a hist�ria de que o fumo mata neur�nios, um mito repetido at� hoje. Foi Hearst que, se n�o inventou, ao menos popularizou o nome marijuana (ele queria uma palavra que soasse bem hisp�nica, para permitir a associa��o direta entre a droga e os mexicanos). Anslinger era presen�a constante nos jornais de Hearst, onde contava suas hist�rias de terror. A opini�o p�blica ficou apavorada. Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha, "algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos". Os deputados votaram pela proibi��o do cultivo, da venda e do uso da cannabis, sem levar em conta as pesquisas que afirmavam que a subst�ncia era segura. Proibiu-se n�o apenas a droga, mas a planta. O homem simplesmente cassou o direito da esp�cie Cannabis sativa de existir. Anslinger tamb�m atuou internacionalmente. Criou uma rede de espi�es e passou a freq�entar as reuni�es da Liga das Na��es, antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o tr�fico internacional. Tamb�m come�ou a encontrar l�deres de v�rios pa�ses e a levar a eles os mesmos argumentos aterrorizantes que funcionaram com os americanos. N�o foi dif�cil convencer os governos � j� na d�cada de 20 o Brasil adotava leis federais antimaconha. A Europa tamb�m embarcou na onda proibicionista. "A proibi��o das drogas serve aos governos porque � uma forma de controle social das minorias", diz o cientista pol�tico Thiago Rodrigues, pesquisador do N�cleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos. Funciona assim: maconha � coisa de mexicano, mexicanos s�o uma classe inc�moda. "Como n�o � poss�vel proibir algu�m de ser mexicano, pro�be-se algo que seja t�pico dessa etnia", diz Thiago. Assim, � poss�vel manter sob controle todos os mexicanos � eles estar�o sempre amea�ados de cadeia. Por isso a proibi��o da maconha fez tanto sucesso no mundo. O governo brasileiro achou �timo mais esse instrumento para manter os negros sob controle. Os europeus tamb�m adoraram poder enquadrar seus imigrantes. A proibi��o foi virando uma forma de controle internacional por parte dos Estados Unidos, especialmente depois de 1961, quando uma conven��o da ONU determinou que as drogas s�o ruins para a sa�de e o bem-estar da humanidade e, portanto, eram necess�rias a��es coordenadas e universais para reprimir seu uso. "Isso abriu espa�o para interven��es militares americanas", diz Maierovitch. "Virou um pretexto oportuno para que os americanos possam entrar em outros pa�ses e exercer
os seus interesses econ�micos." Estava erguida uma estrutura mundial interessada em manter as drogas na ilegalidade, a maconha entre elas. Um ano depois, em 1962, o presidente John Kennedy demitiu Anslinger � depois de nada menos que 32 anos � frente do FBN. Um grupo formado para analisar os efeitos da droga concluiu que os riscos da maconha estavam sendo exagerados e que a tese de que ela levava a drogas mais pesadas era furada. Mas n�o veio a descriminaliza��o. Pelo contr�rio. O presidente Richard Nixon endureceu mais a lei, declarou "guerra �s drogas" e criou o DEA (em portugu�s, Escrit�rio de Coa��o das Drogas), um �rg�o ainda mais poderoso que o FBN, porque, al�m de definir pol�ticas, tem poder de pol�cia.
Maconha faz mal? Ta� uma pergunta que vem sendo feita faz tempo. Depois de mais de um s�culo de pesquisas, a resposta mais honesta �: faz, mas muito pouco e s� para casos extremos. O uso moderado n�o faz mal. A preocupa��o da ci�ncia com esse assunto come�ou em 1894, quando a �ndia fazia parte do Imp�rio Brit�nico. Havia, ent�o, a desconfian�a de que o bhang, uma bebida � base de maconha muito comum na �ndia, causava dem�ncia. Grupos religiosos brit�nicos reivindicavam sua proibi��o. Formou-se a Comiss�o Indiana de Drogas da Cannabis, que passou dois anos investigando o tema. O relat�rio final desaconselhou a proibi��o: "O bhang � quase sempre inofensivo quando usado com modera��o e, em alguns casos, � ben�fico. O abuso do bhang � menos prejudicial que o abuso do �lcool". Em 1944, um dos mais populares prefeitos de Nova York, Fiorello La Guardia, encomendou outra pesquisa. Em meio � histeria antimaconha de Anslinger, La Guardia resolveu conferir quais os reais riscos da tal droga assassina. Os cientistas escolhidos por ele fizeram testes com presidi�rios (algo comum na �poca) e conclu�ram: "O uso prolongado da droga n�o leva � degenera��o f�sica, mental ou moral". O trabalho passou despercebido no meio da barulheira proibicionista de Anslinger. A partir dos anos 60, v�rias pesquisas parecidas foram encomendadas por outros governos. Relat�rios produzidos na Inglaterra, no Canad� e nos Estados Unidos aconselharam um afrouxamento nas leis. Nenhuma dessas pesquisas foi suficiente para for�ar uma mudan�a. Mas a experi�ncia mais reveladora sobre a maconha e suas conseq��ncias foi realizada fora do laborat�rio. Em 1976, a Holanda decidiu parar de prender usu�rios de maconha desde que eles comprassem a droga em caf�s autorizados. Resultado: o �ndice de usu�rios continua compar�vel aos de outros pa�ses da Europa. O de jovens dependentes de hero�na caiu � estima-se que, ao tirar a maconha da m�o dos traficantes, os holandeses separaram essa droga das mais pesadas e, assim, dificultaram o acesso a elas. Nos �ltimos anos, os poss�veis males da maconha foram cuidadosamente escrutinados � �s vezes por pesquisadores competentes, �s vezes por gente mais interessada em convencer os outros da sua opini�o. Veja abaixo um resumo do que se sabe:
C�ncer N�o se provou nenhuma rela��o direta entre fumar maconha e c�ncer de pulm�o, traqu�ia, boca e outros associados ao cigarro. Isso n�o quer dizer que n�o haja. Por muito tempo, os riscos do cigarro foram negligenciados e s� nas �ltimas duas d�cadas ficou claro que havia uma bomba-rel�gio armada � porque os danos s� se
manifestam depois de d�cadas de uso cont�nuo. H� o temor de que uma bomba semelhante esteja para explodir no caso da maconha, cujo uso se popularizou a partir dos anos 60. O que se sabe � que o cigarro de maconha tem praticamente a mesma composi��o de um cigarro comum � a �nica diferen�a significativa � o princ�pio ativo. No cigarro � a nicotina, na maconha o tetrahidrocanabinol, ou THC. Tamb�m � verdade que o fumante de maconha tem comportamentos mais arriscados que o de cigarro: traga mais profundamente, n�o usa filtro e segura a fuma�a por mais tempo no pulm�o (o que, ali�s, segundo os cientistas, n�o aumenta os efeitos da droga). Em compensa��o, boa parte dos maconheiros fuma muito menos e p�ra ou reduz o consumo depois dos 30 anos (parar cedo � sabidamente uma forma de diminuir drasticamente o risco de c�ncer). Em resumo: o usu�rio eventual de maconha, que � o mais comum, n�o precisa se preocupar com um aumento grande do risco de c�ncer. Quem fuma mais de um baseado por dia h� mais de 15 anos deve pensar em parar.
Depend�ncia Algo entre 6% e 12% dos usu�rios, dependendo da pesquisa, desenvolve um uso compulsivo da maconha (menos que a metade das taxas para �lcool e tabaco). A quest�o �: ser� que a maconha � a causa da depend�ncia ou apenas uma v�lvula de escape. "Depend�ncia de maconha n�o � problema da subst�ncia, mas da pessoa", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orienta��o e Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina. Segundo Dartiu, h� um perfil claro do dependente de maconha: em geral, ele � jovem, quase sempre ansioso e eventualmente depressivo. Pessoas que n�o se encaixam nisso n�o desenvolvem o v�cio. "E as que se encaixam podem tanto ficar dependentes de maconha quanto de sexo, de jogo, de internet", diz. Muitos especialistas apontam para o fato de que a maconha est� ficando mais perigosa � na medida em que fica mais potente. Ao longo dos �ltimos 40 anos, foi feito um melhoramento gen�tico, cruzando plantas com alto teor de THC. Surgiram variedades como o skunk. No �ltimo ano, foram apreendidos carregamentos de maconha alterada geneticamente no Leste europeu � a engenharia gen�tica � usada para aumentar a pot�ncia, o que poderia aumentar o potencial de depend�ncia. Segundo o farmac�logo Leslie Iversen, autor do �timo The Science of Marijuana (A ci�ncia da maconha, sem tradu��o para o portugu�s) e consultor para esse tema da C�mara dos Lordes (o Senado ingl�s), esses temores s�o exagerados e o aumento da concentra��o de THC n�o foi t�o grande assim. Para al�m dessa discuss�o, o fato � que, para quem � dependente, maconha faz muito mal. Isso � especialmente verdade para crian�as e adolescentes. "O sujeito com 15 anos n�o est� com a personalidade formada. O uso exagerado de maconha pode ser muito danoso a ele", diz Dartiu. O maior risco para adolescentes que fumam maconha � a s�ndrome amotivacional, nome que se d� � completa perda de interesse que a droga causa em algumas pessoas. A s�ndrome amotivacional � muito mais freq�ente em jovens e realmente atrapalha a vida � � quase certeza de bomba na escola e de crise na fam�lia.
Danos cerebrais "Maconha mata neur�nios." Essa frase, repetida h� d�cadas, n�o passa de mito. Bilh�es de d�lares foram investidos para comprovar que o THC destr�i tecido cerebral � �s vezes com pesquisas que ministravam doses de elefante em ratinhos �,
mas nada foi encontrado. Muitas experi�ncias foram feitas em busca de danos nas capacidades cognitivas do usu�rio de maconha. A maior preocupa��o � com a mem�ria. Sabe-se que o usu�rio de maconha, quando fuma, fica com a mem�ria de curto prazo prejudicada. S�o bem comuns os relatos de pessoas que t�m id�ias que parecem geniais durante o "barato", mas n�o conseguem lembrar-se de nada no momento seguinte. Isso acontece porque a mem�ria de curto prazo funciona mal sob o efeito de maconha e, sem ela, as mem�rias de longo prazo n�o s�o fixadas (� por causa desse "desligamento" da mem�ria que o usu�rio perde a no��o do tempo). Mas esse dano n�o � permanente. Basta ficar sem fumar que tudo volta a funcionar normalmente. O mesmo vale para o racioc�nio, que fica mais lento quando o usu�rio fuma muito freq�entemente. H� pesquisas com usu�rios "pesados" e antigos, aqueles que fumam v�rios baseados por dia h� mais de 15 anos, que mostraram que eles se saem um pouco pior em alguns testes, principalmente nos de mem�ria e de aten��o. As diferen�as, no entanto, s�o sutis. Na compara��o com o �lcool, a maconha leva grande vantagem: beber muito provoca danos cerebrais irrepar�veis e destr�i a mem�ria.
Cora��o O uso de maconha dilata os vasos sang��neos e, para compensar, acelera os batimentos card�acos. Isso n�o oferece risco para a maioria dos usu�rios, mas a droga deve ser evitada por quem sofre do cora��o.
Infertilidade Pesquisas mostraram que o usu�rio freq�ente tem o n�mero de espermatoz�ides reduzido. Ningu�m conseguiu provar que isso possa causar infertilidade, muito menos impot�ncia. Tamb�m est� claro que os espermatoz�ides voltam ao normal quando se p�ra de fumar.
Depress�o imunol�gica Nos anos 70, descobriu-se que o THC afeta os gl�bulos brancos, c�lulas de defesa do corpo. No entanto, nenhuma pesquisa encontrou rela��o entre o uso de maconha e a incid�ncia de infec��es.
Loucura No passado, acreditava-se que maconha causava dem�ncia. Isso n�o se confirmou, mas sabe-se que a droga pode precipitar crises em quem j� tem doen�as psiqui�tricas.
Gravidez Algumas pesquisas apontaram uma tend�ncia de filhos de m�es que usaram muita maconha durante a gravidez de nascer com menor peso. Outras n�o confirmaram a suspeita. De qualquer maneira, � melhor evitar qualquer droga psicoativa durante a
gesta��o. Sem d�vida, a mais perigosa delas � o �lcool.
Maconha faz bem? No geral, n�o. A maioria das pessoas n�o gosta dos efeitos e as afirma��es de que a erva, por ser "natural", faz bem, n�o passam de besteira. Outros adoram e relatam que ela ajuda a aumentar a criatividade, a relaxar, a melhorar o humor, a diminuir a ansiedade. � inevit�vel: cada um � um. O uso medicinal da maconha � t�o antigo quanto a maconha. Hoje h� muitas pesquisas com a cannabis para us�-la como rem�dio. Segundo o farmac�logo ingl�s Iversen, n�o h� d�vidas de que ela seja um rem�dio �til para muitos e fundamental para alguns, mas h� um certo exagero sobre seus potenciais. Em outras palavras: a maconha n�o � a salva��o da humanidade. Um dos maiores desafios dos laborat�rios � tentar separar o efeito medicinal da droga do efeito psicoativo � ou seja, criar uma maconha que n�o d� "barato". Muitos pesquisadores est�o chegando � conclus�o de que isso � imposs�vel: aparentemente, as mesmas propriedades qu�micas que alteram a percep��o do c�rebro s�o respons�veis pelo car�ter curativo. Esse fato � uma das limita��es da maconha como medicamento, j� que muitas pessoas n�o gostam do efeito mental. No Brasil, assim como em boa parte do mundo, o uso m�dico da cannabis � proibido e milhares de pessoas usam o rem�dio ilegalmente. Conhe�a alguns dos usos:
C�ncer Pessoas tratadas com quimioterapia muitas vezes t�m enj�os terr�veis, eventualmente t�o terr�veis que elas preferem a doen�a ao rem�dio. H� medicamentos para reduzir esse enj�o e eles s�o eficientes. No entanto, alguns pacientes n�o respondem a nenhum rem�dio legal e respondem maravilhosamente � maconha. Era o caso do brilhante escritor e paleont�logo Stephen Jay Gould, que, no m�s passado, finalmente, perdeu uma batalha de 20 anos contra o c�ncer (veja mais sobre ele na p�gina 23). Gould nunca tinha usado drogas psicoativas � ele detestava a id�ia de que interferissem no funcionamento do c�rebro. Veja o que ele disse: "A maconha funcionou como uma m�gica. Eu n�o gostava do �efeito colateral� que era o borr�o mental. Mas a alegria cristalina de n�o ter n�usea � e de n�o experimentar o pavor nos dias que antecediam o tratamento � foi o maior incentivo em todos os meus anos de quimioterapia".
Aids Maconha d� fome. Qualquer um que fuma sabe disso (ali�s, esse � um de seus inconvenientes: ela engorda). Nenhum rem�dio � t�o eficiente para restaurar o peso de portadores do HIV quanto a maconha. E isso pode prolongar muito a vida: acredita-se que manter o peso seja o principal requisito para que um soropositivo n�o desenvolva a doen�a. O problema: a cannabis tem uma a��o ainda pouco compreendida no sistema imunol�gico. Sabe-se que isso n�o representa perigo para pessoas saud�veis, mas pode ser um risco para doentes de Aids.
Esclerose m�ltipla
Essa doen�a degenerativa do sistema nervoso � terrivelmente inc�moda e fatal. Os doentes sentem fortes espasmos musculares, muita dor e suas bexigas e intestinos funcionam muito mal. Acredita-se que ela seja causada por uma m� fun��o do sistema imunol�gico, que faz com que as c�lulas de defesa ataquem os neur�nios. A maconha alivia todos os sintomas. Ningu�m entende bem por que ela � t�o eficiente, mas especula-se que tenha a ver com seu pouco compreendido efeito no sistema imunol�gico.
Dor A cannabis � um analg�sico usado em v�rias ocasi�es. Os relatos de al�vio das c�licas menstruais s�o os mais promissores.
Glaucoma Essa doen�a caracteriza-se pelo aumento da press�o do l�quido dentro do olho e pode levar � cegueira. Maconha baixa a press�o intraocular. O problema � que, para ser um rem�dio eficiente, a pessoa tem que fumar a cada tr�s ou quatro horas, o que n�o � pr�tico e, com certeza, � nocivo (essa dose de maconha deixaria o paciente eternamente "chapado"). H� estudos promissores com col�rios feitos � base de maconha, que agiriam diretamente no olho, sem afetar o c�rebro.
Ansiedade Maconha � um rem�dio leve e pouco agressivo contra a ansiedade. Isso, no entanto, depende do paciente. Algumas pessoas melhoram ap�s fumar; outras, principalmente as pouco habituadas � droga, t�m o efeito oposto. Tamb�m h� relatos de sucesso no tratamento de depress�o e ins�nia, casos em que os rem�dios dispon�veis no mercado, embora sejam mais eficientes, s�o tamb�m bem mais agressivos e t�m maior potencial de depend�ncia.
Depend�ncia Dois psiquiatras brasileiros, Dartiu Xavier e Eliseu Labigalini, fizeram uma experi�ncia interessante. Incentivaram dependentes de crack a fumar maconha no processo de largar o v�cio. Resultado: 68% deles abandonaram o crack e, depois, pararam espontaneamente com a maconha, um �ndice alt�ssimo. Segundo eles, a maconha � um rem�dio feito sob medida para combater a depend�ncia de crack e coca�na, porque estimula o apetite e combate a ansiedade, dois problemas s�rios para cocain�manos. Dartiu e Eliseu pretendem continuar as pesquisas, mas est�o com problemas para conseguir financiamento � dificilmente um �rg�o p�blico investir� num trabalho que aposte nos benef�cios da maconha.
O passado O primeiro registro do contato entre o Homo sapiens e a Cannabis sativa � de 6 000 anos atr�s. Trata-se da marca de uma corda de c�nhamo impressa em cacos de barro, na China. O emprego da fibra, n�o s� em cordas mas tamb�m em v�rios tecidos e,
depois, na fabrica��o de papel, � um dos mais antigos usos da maconha. Gra�as a ele, a planta, original da regi�o ao norte do Afeganist�o, nos p�s do Himalaia, tornou-se a primeira cultivada pelo homem com usos n�o aliment�cios e espalhou-se por toda a �sia e depois pela Europa e �frica. Mas h� um uso da maconha que pode ser t�o antigo quanto o da fibra do c�nhamo: o medicinal. Os chineses conhecem h� pelo menos 2 000 anos o poder curativo da droga, como prova o Pen-Ts�ao Ching, considerado a primeira farmacop�ia conhecida do mundo (farmacop�ia � um livro que re�ne f�rmulas e receitas de medicamentos). O livro recomenda o uso da maconha contra pris�o-de-ventre, mal�ria, reumatismo e dores menstruais. Tamb�m na �ndia, a erva j� h� mil�nios � parte integral da medicina ayurv�dica, usada no tratamento de dezenas de doen�as. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religi�o hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva, que, por isso, viveria o tempo todo "chapado". Tomar bhang seria uma forma de entrar em comunh�o com Shiva. O Hindu�smo n�o � a �nica religi�o a dar destaque para a cannabis. Para os budistas da tradi��o Mahayana, Buda passou seis anos comendo apenas uma semente de maconha por dia. Sua ilumina��o teria sido atingida ap�s esse per�odo de quasejejum. Da �ndia, a maconha migrou para a Mesopot�mia, ainda em tempos pr�crist�os, e de l� para o Oriente M�dio. Portanto, ela j� estava presente na regi�o quando come�ou a expans�o do Imp�rio �rabe. Com a proibi��o do �lcool entre o povo de Maom�, iniciou-se uma acalorada discuss�o sobre se a maconha deveria ser banida tamb�m. Por s�culos, consumiu-se cannabis abundantemente nas terras mu�ulmanas at� que, na Idade M�dia, muitos isl�micos abandonaram o h�bito. A exce��o foram os sufi, membros de uma corrente considerada mais m�stica e esot�rica do Isl�, que, at� bem recentemente, consideravam a cannabis fundamental em seus ritos. Os gregos usaram velas e cordas de c�nhamo nos seus navios, assim como, depois, os romanos. Sabe-se que o Imp�rio Romano tinha pelo menos conhecimento dos poderes psicoativos da maconha. O historiador latino T�cito, que viveu no s�culo I d.C., relata que os citas, um povo da atual Turquia, tinham o costume de armar uma tenda, acender uma fogueira e queimar grande quantidade de maconha. Da� ficavam l� dentro, numa vers�o psicod�lica do banho turco. Gra�as ao contato com os �rabes, grande parte da �frica conheceu a erva e incorporou-a aos seus ritos e � sua medicina � dos pa�ses mu�ulmanos acima do Saara at� os zulus da �frica do Sul. A Europa toda tamb�m passou a plantar maconha e usava extensivamente a fibra do c�nhamo, mas h� rar�ssimos registros do seu uso como psicoativo naquele continente. Pode ser que isso se deva ao clima. O THC � uma resina produzida pela planta para proteger suas folhas e flores do sol forte. Na fria Europa, � poss�vel que tenha se desenvolvido uma varia��o da Cannabis sativa com menos THC, j� que n�o havia tanto sol para amea�ar o arbusto. O fato � que, na Renascen�a, a maconha se transformou no principal produto agr�cola da Europa. E sua import�ncia n�o foi s� econ�mica: a planta teve uma grande participa��o na mudan�a de mentalidade que ocorreu no s�culo XV. Os primeiros livros depois da revolu��o de Gutemberg foram impressos em papel de c�nhamo. As pinturas dos g�nios da arte eram feitas em telas de c�nhamo (canvas, a palavra usada em v�rias l�nguas para designar "tela", � uma corruptela holandesa do latim cannabis). E as grandes navega��es foram impulsionadas por velas de c�nhamo � segundo o autor americano Rowan Robinson, autor de O Grande Livro da Cannabis, havia 80 toneladas de c�nhamo, contando o velame e as cordas, no barco comandado por Crist�v�o Colombo em 1496. Ou seja, a Am�rica foi descoberta gra�as � maconha. Ir�nico. Sobre as luzes da Renascen�a ca�ram as sombras da Inquisi��o � um per�odo em que a Igreja ganhou muita for�a e passou a exercer o papel de pol�cia, julgando hereges
em seu tribunal e condenando bruxas � fogueira. "As bruxas nada mais eram do que as curandeiras tradicionais, principalmente as de origem celta, que utilizavam plantas para tratar as pessoas, �s vezes plantas com poderes psicoativos", diz o historiador Henrique Carneiro, especialista em drogas da Universidade Federal de Ouro Preto. N�o h� registros de que maconheiros tenham sido queimados no s�culo XVI � inclusive porque o uso psicoativo da maconha era incomum na Europa �, mas � certo que cristalizou-se naquela �poca uma antipatia crist� por plantas que alteram o estado de consci�ncia. "O Cristianismo afirmou seu car�ter de religi�o imperial e, sob seus dom�nios, a �nica droga permitida � o �lcool, associado com o sangue de Cristo", diz Henrique. Em 1798, as tropas de Napole�o conquistaram o Egito. At� hoje n�o est�o muito claras as raz�es pelas quais o imperador franc�s se aventurou no norte da �frica (vaidade, talvez). Mas pode ser que o principal motivo fosse a inten��o de destruir as planta��es de maconha, que abasteciam de c�nhamo a poderosa Marinha da Inglaterra. O fato � que coube a Napole�o promulgar a primeira lei do mundo moderno proibindo a maconha. Os eg�pcios eram fumantes de haxixe, a resina extra�da da folha e da flor da maconha constitu�da de THC concentrado. Mas a proibi��o saiu pela culatra. Os eg�pcios ignoraram a lei e continuaram fumando como sempre fizeram. Em compensa��o, os europeus ouviram falar da droga e ela rapidamente virou moda na Europa, principalmente entre os intelectuais. "O haxixe est� substituindo o champagne", disse o escritor Th�ophile Gautier em 1845, depois da conquista da Arg�lia, que, na �poca, era outro grande consumidor de THC. No Brasil, a planta chegou cedo, talvez ainda no s�culo XVI, trazida pelos escravos (o nome "maconha" vem do idioma quimbundo, de Angola. Mas, at� o s�culo XIX, era mais usual chamar a erva de fumo-de-angola ou de diamba, nome tamb�m quimbundo). Por s�culos, a droga foi tolerada no pa�s, provavelmente fumada em rituais de candombl� (teria sido o presidente Get�lio Vargas que negociou a retirada da maconha dos terreiros, em troca da legaliza��o da religi�o). Em 1830, o Brasil fez sua primeira lei restringindo a planta. A C�mara Municipal do Rio de Janeiro tornou ilegal a venda e o uso da droga na cidade e determinou que "os contraventores ser�o multados, a saber: o vendedor em 20 000 r�is, e os escravos e demais pessoas, que dele usarem, em tr�s dias de cadeia." Note que, naquela primeira lei proibicionista, a pena para o uso era mais rigorosa que a do traficante. H� uma raz�o para isso. Ao contr�rio do que acontece hoje, o vendedor vinha da classe m�dia branca e o usu�rio era quase sempre negro e escravo.
O presente Segundo dados da ONU, 147 milh�es de pessoas fumam maconha no mundo, o que faz dela a terceira droga psicoativa mais consumida do mundo, depois do tabaco e do �lcool. A droga � proibida em boa parte do mundo, mas, desde que a Holanda come�ou a toler�-la, na d�cada de 70, alguns outros pa�ses europeus seguiram os passos da descriminaliza��o. It�lia e Espanha h� tempos aceitam pequenas quantidades da erva � embora a Espanha esteja abandonando a posi��o branda e haja projetos de lei, na It�lia, no mesmo sentido. O Reino Unido acabou de anunciar que descriminalizou o uso da maconha � a partir do ano que vem, a droga ser� apreendida e o portador receber� apenas uma advert�ncia verbal. Os ingleses esperam, assim, poder concentrar seus esfor�os na repress�o de drogas mais pesadas. No ano passado, Portugal endureceu as penas para o tr�fico, mas descriminalizou o usu�rio de qualquer droga, desde que ele seja encontrado com quantidades pequenas. Porte de drogas virou uma infra��o administrativa, como parar em lugar proibido. Nos �ltimos anos, os Estados Unidos tamb�m mudaram sua forma de lidar com as
drogas. Dentro da tend�ncia mundial de ver a quest�o mais como um problema de sa�de do que criminal, o pa�s, em vez de botar na cadeia, obriga o usu�rio a se tratar numa cl�nica para dependentes. "Essa id�ia � completamente equivocada", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, refletindo a opini�o de muitos especialistas. "Primeiro porque nem todo usu�rio � dependente. Segundo, porque um tratamento n�o funciona se � compuls�rio � a pessoa tem que querer parar", diz. No sistema americano, quem recusa o tratamento ou o abandona vai para a cadeia. Portanto, n�o � uma descriminaliza��o. "Chamo esse sistema de �solidariedade autorit�ria�", diz o jurista Maierovitch. O Brasil planeja adotar o mesmo modelo.
O futuro H� possibilidades de uma mudan�a no tratamento � maconha? "No Brasil, n�o � f�cil", diz Maierovitch, que, enquanto era secret�rio nacional antidrogas do governo de Fernando Henrique Cardoso, planejou a descriminaliza��o. "A lei hoje em vigor em Portugal foi feita em conjunto conosco, com o apoio do presidente", afirma. A id�ia � que ela fosse colocada em pr�tica ao mesmo tempo nos dois pa�ses. Segundo Maierovitch, Fernando Henrique mudou de id�ia depois. O jurista afirma que h� uma enorme influ�ncia americana na pol�tica de drogas brasileira. O fato � que essa quest�o mais tira do que d� votos e assusta os pol�ticos � e n�o s� aqui no Brasil. O deputado federal Fernando Gabeira, hoje no Partido dos Trabalhadores, � um dos poucos identificados com a causa da descriminaliza��o. "Pretendo, como um primeiro passo, tentar a legaliza��o da maconha para uso m�dico", diz. Mas suas id�ias est�o longe de ser unanimidade mesmo dentro do seu partido. No remoto caso de uma legaliza��o da compra e da venda, haveria dois modelos poss�veis. Um seria o monop�lio estatal, com o governo plantando e fornecendo as drogas, para permitir um controle maior. A outra possibilidade seria o governo estabelecer as regras (composi��o qu�mica exigida, proibi��o para menores de idade, proibi��o para fumar e dirigir), cobrar impostos (que seriam alt�ssimos, inclusive para evitar que o pre�o caia muito com o fim do tr�fico ilegal) e a iniciativa privada assumir o lucrativo neg�cio. N�o h� no horizonte nenhum sinal de que isso esteja para acontecer. Mas a Super apurou, em consulta ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, que a Souza Cruz registrou, em 1997, a marca Marley � fica para o leitor imaginar que produto a empresa de tabaco pretende comercializar com o nome do �dolo do reggae.
A popularidade da maconha explodiu em 1920, quando o �lcool foi proibido
O consumo moderado de maconha n�o provoca nenhum dano s�rio � sa�de
Das cordas �s velas, havia 80 toneladas de c�nhamo no navio de Colombo
Na livraria O Grande Livro da Cannabis, Rowan Robinson, Jorge Zahar, 1999
A Maconha, Fernando Gabeira, Publifolha, 2000 Science of Marijuana, Leslie L. Iversen, Oxford, Ingleterra, 2000 The Pursuit of Oblivion: A Global History of Narcotics 1500-200, Richard Davenport-Hines, Weidenfeld & Nicolson, Ingleterra, 2001 Diamba Sarabamba, Anthony Henman e Osvaldo Pessoa Jr. (organiza��es), Ground, 1986 Plantas de los Dioses, Richard Evans Schultes e Albert Hofmann, Fondo de Cultura Econ�mica, M�xico, 1982 The Emperor Wears no Clothes, Jack Herer, Green Planet Company, Inglaterra, 1994 Green Gold the Tree of Life, Chris Bennett, Lynn e Osbum, Judy Osbum, Access, EUA, 1995 Amores e Sonhos da Flora, Henrrique Carneiro, Xam�, 2002