O que buscar? A quem buscar? O homem é um ser que questiona. Desde o surgimento dos pensadores, que mais tarde passaram a ser reconhecidos como filósofos, percebeu-se que o centro de suas discussões reflexivas, buscas e problematizações buscaram saber qual o sentido da vida. Entre estes na antiguidade se destaca Sócrates, o qual mostrou, através de seu método maiêutico (método que pressupõe que a verdade está latente em todo ser humano, podendo aflorar aos poucos na medida em que se responde a uma série de perguntas). Ele mostrou que o exercício do filosofar é, essencialmente, o exercício do questionamento, da interrogação sobre o sentido do homem e do mundo. Esse questionar é uma marca de Deus em nossa alma. Dotado de inteligência, vontade e liberdade o homem tem uma inquietação em sua busca. Como sabemos, quando Deus formou o homem, Ele soprou o seu ruach em suas narinas e assim ele passou a ser, a existir. Porém, quando o pecado entrou no mundo, ele deformou a alma do homem e o marcou tão profundamente que atingiu todas as gerações da terra. O pecado transformou a humanidade e a afastou do seu Criador. O pecado trouxe à natureza humana uma corrupção do projeto original de Deus para o homem e o deixou em farrapos emocionalmente e como não dizer psiquicamente de forma geral. Por isto, muitas pessoas têm buscado uma razão de viver em inúmeros locais e, por vezes, acabam encontrando vazio, decepção e tristeza. Infelizmente, devido ao nosso imediatismo procuramos as respostas para as nossas perguntas onde parece ser mais “fácil” encontrá-las: poder, prazer, dinheiro, drogas, progresso... Nossa sociedade, com suas estruturas e ameaçada pelo relativismo, consumismo e hedonismo, tem buscado a felicidade em si mesmo. Mas isso, como não poderia ser diferente, só nos coloca diante de um paradoxo de progresso humano-tecnológico por um lado e vazio existencial por outro (quem sou?; para onde vou?; qual o sentido da vida). Assim, a ironia moderna disto tudo é que quanto mais o homem acha
que têm, mais vazio se sente. Todavia, esse vazio que há em nossos corações tem o tamanho da presença de Deus. Santo Agostinho percebeu isto. Na sua obra As Confissões, ele viu claramente o seu pecado e deu-se conta da orgulhosa pretensão do seu eu de querer ser feliz sem Deus. Contudo, em seu perene diálogo com Deus ele profeticamente reconheceu: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti”. Ora, se foi Deus quem colocou no nosso coração o desejo de felicidade, e se o fez, é porque quer que a encontremos, fica claro que a felicidade só se poderá se realizar em nossa vida quando encontrarmos com a Felicidade Encarnada: Jesus Cristo. Desse modo, a pergunta do próprio Cristo, “A quem procurais?”, rasga a história e interpela a cada homem e mulher. Aquele que faz a principal pergunta de nossa existência deve ser, Ele mesmo, a resposta do homem que busca a verdadeira felicidade: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium,1). É isto que mostrará o mais novo livro do sr. Hélio Lumasini, o qual conheci em um dia que fui celebrar a Santa Missa no Carmelo de Jundiaí. Nessas páginas, o autor discorre com erudição e ao mesmo tempo de modo simples, os dias e as angústias que vivemos, bem como a força e vitalidade que provêm do Ressuscitado. Em seu itinerário espiritual o livro aponta para Aquele que é capaz de dar sentido à vida humana e, como o salmo, nos deixa uma ordem: “Procurai o Senhor e o seu poder, não cesseis de buscar sua face” (Sl 104,4). Que o Senhor abençoe a toda a família do autor, bem como esse projeto e seus leitores.
Que a Virgem do Desterro seja nossa guia para encontrarmos o Senhor.
Salto, 1º de maio de 2015. Dia de São José Operário Pe Enéas de Camargo Bête.