A Queda

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  • Words: 9,012
  • Pages: 20
A Queda por

Arthur W. Pink

Gênesis 3

O 3º capítulo de gênesis é um dos mais importantes em toda a Palavra de Deus. Freqüentemente, o que se diz de Gênesis como um todo, é peculiarmente verdadeiro deste capítulo: é o plano das gerações . Aqui estão os fundamentos sobre os quais se apoiam muitas das principais doutrinas da nossa fé. Aqui, voltamos até a fonte de uma grande quantidade de verdade Divina. Aqui, começa o grande drama que está sendo desempenhado no palco da história humana, e nem ainda 6 mil anos foram completados. Aqui, encontramos a explicação Divina da presente queda e da condição arruinada da nossa raça. Aqui, tomamos conhecimento dos planos sutis do nosso inimigo, o Diabo. Aqui, observamos a total impotência do homem para andar no caminho da justiça, quando a graça Divina lhe é retida. Aqui, descobrimos os efeitos espiriruais do pecado – o homem procurando fugir de Deus. Aqui, discernimos a atitude de Deus em direção ao pecador culpado. Aqui, registramos a tendência universal da natureza humana de cobrir sua própria vergonha moral com algo elaborado por suas próprias mãos. Aqui, somos ensinados a respeito da graciosa provisão que Deus tem feito para atender nossa grande necessidade. Aqui, começa aquela maravilhosa sucessão de profecias que fluem por toda a Sagrada Escritura . Aqui, descobrimos que o homem não pode se aproximar de Deus, exceto por um mediador. Agora, daremos atenção a alguns desses assuntos profundamente importantes. I – A QUEDA O registro Divino da Queda do homem é uma refutação evidente da hipóteses Darwinianas da evolução. Ao invés de ensinar que o homem começou na base de uma escada moral e está agora, vagarosamente, mas, com certeza, subindo em direção aos céus, o registro Divino declara que o homem começou no topo e caiu para a base. Além disso, rejeita enfaticamente a teoria moderna sobre Hereditariedade e Meio Ambiente. Durante os últimos 50 anos, filósofos socialistas tem ensinado que todas

as doenças das quais o homem é herdeiro, são unicamente atribuíveis à hereditariedade e ao meio ambiente. Este conceito é uma tentativa de negar que o homem é uma criatura caída e de coração desesperadamente pecaminoso. Dizem que, se os legisladores tornarem possível um meio ambiente perfeito, o homem será , então, capaz de realizar seus ideais e a hereditariedade será purificada. Mas, o homem já tem sido posto à prova sob as condições mais favoráveis e não correspondeu às expectativas. Sem hereditariedade pecaminosa , nossos primeiros pais foram colocados no mais belo ambiente imaginável, um ambiente que o Próprio Deus declarou “muito bom”. Somente uma única restrição foi colocada sobre a sua liberdade, mas eles falharam e caíram. O problema com o homem não é exterior, mas interior. O que ele precisa não é de um novo lugar, mas de um novo nascimento. Uma única restrição foi colocada sobre a liberdade do homem que advém da necessidade e natureza da circunstância. O homem é um ser responsável, responsável para servir, obedecer e glorificar seu Criador. O homem não é uma criatura independente, pois ele não se criou. Tendo sido criado por Deus, ele tem um débito para com seu Criador. Repetindo, o homem é uma criatura responsável, e, como tal, sujeito ao governo Divino. Este é o grande fato que Deus imprimiria sobre nós desde o começo da história humana. “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás'. (Gn 2:17). Não havia nenhuma outra razão pela qual o fruto desta árvore não devesse ser comido, salvo a evidente ordem de Deus. E, assim, como temos procurado mostrar, esta ordem não foi dada arbitrariamente, no real sentido da palavra, mas enfatizou o relacionamento no qual o homem permanecesse em Deus. Como uma criatura inteligente, responsável, o homem está sujeito à ordem Divina. Mas a criatura se tornou egoísta, egocêntrica, teimosa, e como resultado, desobedeceu, pecou, caiu. O registro da Queda merece o mais completo estudo. Canetas mais competentes do que a nossa, tem chamado atenção para os diferentes passos que levam a ações manifestas. Primeiro, a voz do tentador foi acatada (atendida). Ao invés de dizer, “Afasta-te de mim, Satanás” , Eva ouviu silenciosamente ao Maligno, desafiando a palavra de Jeová. Não somente isto, mas ela prossegue a negociar com ele. Em seguida, há uma adulteração da palavra de Deus. Eva começa a acrescentar o que Deus disse – sempre um caminho inevitável a perseguir. “Dele não comereis, nem tocareis nele”(v3). Esta última oração foi adição de Eva, e Prov 30:6 recebeu seu primeiro exemplo, “Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso”. Em seguida, ela continua a alterar a Palavra de Deus , “para que não morrais” (v3). A ponta afiada da Espada do Espírito estava cega. Finalmente, ela omite completamente o solene prenúncio de Deus, “certamente morrerás”. Quão verdadeira é a frase “E a história se repete”. Os inimigos de Deus hoje, estão trilhando o

mesmo caminho: Sua Palavra ou é acrescida, alterada, ou categoricamente negada. Tendo renunciado a única fonte de luz, o ato da transgressão se tornou a consequência natural. O fruto proibido é, agora, considerado desejado, apanhado, comido e, dado ao seu esposo. Esta é a ordem lógica. Assim é, em resumo, a explicação Divina da entrada do pecado no nosso mundo. O homem resistiu à vontade de Deus, rejeitou a Palavra de Deus, e abandonou o caminho de Deus. O registro Divino da Queda é a única explicação possível da atual condição da raça humana. Só ele já explica a presença do mal num mundo feito por um Criador beneficente e perfeito. Fornece a única explicação adequada para a universalidade do pecado . Por que é que o filho do Rei, no palácio, e a filha de um regenerado, num casebre, apesar de toda proteção que o amor e atenção do homem possam imaginar, manifestam, desde a infância, uma inconfundível inclinação ao mal e tendência para pecar? Por que é que o pecado é universal, e não há império, nem nação, nem família livre desta terrível doença? Rejeite a explicação Divina e nenhuma resposta satisfatória é possível para estas perguntas. Aceite e, vemos que o pecado é universal porque todos compartilham de uma linhagem comum, todos nascem de um mesmo tronco, “Em Adão todos morrem”. Somente o registro Divino da Queda explica o mistério da morte. O homem possui uma alma imortal, por que, então, ele deveria morrer? Ele (Deus) tinha soprado no homem o Sopro do Eterno, então, por que o homem não deveria viver neste mundo para sempre? Rejeite a explicação Divina e nos depararemos com um enigma insolúvel. Aceite, receba o fato de que, “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”(Rom 5:12 ), e temos uma explicação que vai ao encontro de todos os fatos do caso. II- SATANÁS E A QUEDA Aqui, pela primeira vez na Escritura, nós nos deparamos com aquele personagem misterioso – o Diabo. Ele é apresentado sem qualquer explicação em relação à sua história precedente. Para nosso conhecimento de sua criação, sua existência pré-adâmica, a posição superior que ele ocupava, e sua terrível queda, dependemos de outras passagens, notadamente Is 14:12-15, e Ez 28:12-19. No capítulo anterior, lições importantes foram ensinadas a respeito de nosso grande Adversário. Aprendemos qual é a esfera de suas atividades, o método de aproximação e qual a forma de suas tentações. E aqui, também, tomamos conhecimento da certeza de sua irrevogável derrota e destruição. Contrária à concepção popular, que faz Satanás o autor de todos os pecados da carne, e que atribui a ele algo que nosso Senhor claramente

declarou como assuntos provenientes do coração humano, nós somos aqui informados, que a esfera de sua atuação é o “reino religioso ou espiritual”. Seu objetivo principal é ficar entre a alma e Deus, afastar o coração do homem do seu Criador e inspirar confiança em si mesmo. Ele procura usurpar o lugar do Santíssimo, para fazer de Suas criaturas seus voluntários e filhos. Seu trabalho consiste em colocar suas mentiras no lugar da Divina verdade. Gênesis 3 nos dá uma amostra de suas atuações e do método que ele emprega. Estas coisas são escritas para nosso aprendizado, pois suas atividades, e o reino no qual ele trabalha, são o mesmo hoje do que o que eram no Jardim do Éden. O método de aproximação de Satanás era o mesmo que é agora. ”Na verdade, disse Deus?” Ele começa lançando dúvida sobre a Palavra Divina! Ele questiona sua veracidade. Ele sugere que Deus não queria dizer o que Ele tinha dito. E assim é hoje. Cada esforço que está sendo feito para negar a inspiração Divina das Escrituras, cada tentativa apresentada para desconsiderar a sua autoridade absoluta, cada ataque à Bíblia que nós, agora testemunhamos em nome da erudição, é somente uma repetição desta antiga questão, “Na verdade, disse Deus?” Em seguida, ele substitui a Palavra de Deus pela sua própria palavra, “É certo que não morrereis” (v4). Vemos o mesmo princípio ilustrado nas duas primeiras parábolas em Mateus 13. O Senhor Jesus vai semeando a semente que é a Palavra de Deus, então o Maligno imediatamente o segue e semeia o joio. E o que é lamentável é que enquanto os homens se recusam a acreditar na Palavra do Deus vivo, não obstante eles são suficientemente crédulos para aceitar as mentiras de Satanás. Assim era no começo, e assim tem sido sempre. Finalmente, ele ousa repercutir desfavoravelmente a bondade de Deus, e por em dúvida Suas perfeições. “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (v5). Em outras palavras, o Diabo, aqui, sugere que Deus estava despoticamente retendo do homem alguma coisa que seria vantajoso para ele, e, como isca, apresenta a promessa de que, se Eva crer apenas na sua mentira e não na Palavra de Deus ela será vencedora, e obterá o conhecimento e sabedoria negadas a ela anteriormante. O mesmo atrativo está sendo exposto por ele diante dos olhos dos devotos do Espiritismo e da Teosofia, mas não vamos adentrar este assunto agora. Deve-se observar que na tentação, um triplo apelo foi feito à Eva, correspondente à natureza tripartida da constituição humana. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer” (v6) - apelando para os sentidos do corpo; “agradável aos olhos” – apelando para a natureza dos desejos, as emoções, que tem seus lugares na alma; “e árvore desejável para dar entendimento” — apelando à inteligência, que está centrada no espírito (cf . I Cor 2:11). Assim, tomamos conhecimento, aqui, de um fato profundamente importante, isto é, que Satanás trabalha do exterior para o interior, o que é justamente o contrário da ação Divina. Deus começa Seu

trabalho no coração do homem, e a mudança causada no coração reage e transforma a vida exterior. Mas Satanás começa com o exterior e, através dos sentidos do corpo e emoções da alma, trabalha posteriormente o espírito e a razão para tal é que normalmente ele não tem acesso direto ao espírito do homem como Deus tem. Esta mesma linha seguiu-se em alusão ao nosso abençoado Senhor. “Manda que estas pedras se transformem em pão” (Mt 4:3) – apelando aos sentidos do corpo; “Atira-te abaixo”, um desafio à Sua coragem ou um apelo à natureza emocional da alma. “...prostrado me adorares” – um apelo ao espírito, porque nós adoramos o Pai “em espírito e em verdade”. III – A QUEDA E O HOMEM O primeiro efeito da Queda sobre Adão e Eva foi a compreensão de sua vergonha. “Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus...”. Pelo pecado, o homem obteve aquilo que não tinha antes ( ao menos em operação) , isto é , a consciência – um conhecimento de ambos, do bem e do mal. Isto era algo que o homem não caído não possuía, pois o homem foi criado num estado de inocência e inocência é ignorância do mal. Mas tão logo o homem participou do fruto proibido, tornou-se consciente do seu pecado, e seus olhos foram abertos para ver sua condição de caído. E consciência, e instinto moral, é algo que é agora comum à natureza humana, isto é, é inerente ao homem, o que testifica sua condição caída e pecadora! Mas não somente a consciência testemunha a perversão do homem, como é também uma das marcas da obra de um Criador pessoal. A consciência não pode ser realização do homem. Ele não teria estabelecido voluntariamente um acusador, um juiz, um perseguidor, de próprio peito. De onde, então, isto procede? Não é mais o resultado da educação, mas também é razão ou memória, embora possa ser cultivada como ambas. Consciência é a calma, serena voz de Deus na alma, testemunhando o fato de que o homem não é seu próprio mestre, mas responsável por uma lei moral que ou aprova ou reprova. Ao se conscientizarem de sua vergonha, Adão e Eva imediatamente se esforçaram em esconder sua nudez, cosendo aventais de folhas de figo. Este ato foi muito significativo. Ao invés de procurar por Deus e abertamente confessar sua culpa, eles tentaram se esconder de Deus e deles mesmos. Assim tem sido sempre o caminho do homem natural. A última coisa que ele irá fazer é confessar diante de Deus sua condição perdida e arruinada. Consciente de que algo está errado, ele procura se abrigar atrás de sua justiça própria e confia que sua boa obra vai compensar as más. Ir à igreja, práticas religiosas, atenção às leis, filantropia e altruísmo são as folhas de figueira que muitos, hoje, estão tecendo em aventais para cobrir sua vergonha espiritual. Mas, como aqueles que nossos primeiros pais costuraram juntos, eles não suportarão

o teste da eternidade. Quando muito, eles não são mais do que coisas do tempo que rapidamente se desintegrarão no pó. Uma passagem no Evangelho ilustra o que estamos considerando agora – nos referimos a uma outra figueira, aquela na qual nosso Senhor não achou fruto. Que surpreendente a lição que nos é ensinada pela comparação dessas duas Escrituras! Por que nos contaram que Adão e Eva coseram folhas de figueira juntos? E por que somos informados de que era uma figueira que nosso Senhor amaldiçoou? Não foi para que nós as associássemos? A figueira foi a única coisa que nosso Senhor amaldiçoou enquanto Ele estava aqui na terra, e não pretendemos tomar conhecimento daquela Sua ação, e que aquela que o homem se utiliza para esconder sua vergonha espiritual está diretamente sob a maldição de Cristo, não tem frutos e está condenada a secar rapidamente! Mas estes aventais feitos por Adão e Eva não removeram seu senso de vergonha, pois quando ouviram a voz do Senhor Deus, “se esconderam” Dele. A consciência do homem então, não o trouxe para Deus – para isto, deve haver a obra do Espírito Santo – antes ela o apavorou e o distanciou de Deus. Nossos primeiros pais procuraram se esconder. Novamente percebemos quão características e representativas foram suas ações. Pelo menos, tinham uma vaga concepção da distância moral que havia entre eles e o Criador. Ele era Santo, eles pecadores, consequentemente tinham medo Dele e procuravam fugir de Sua presença. Assim é com o nãoregenerado hoje. Apesar de toda sua vanglória, práticas religiosas, revestimentos auto-fabricados, os homens são apreensivos e medrosos. Por que é que a Bíblia é tão desprezada? É porque aproxima mais o homem de Deus do que qualquer outro livro, e os homens ficam inquietos na presença de Deus e querem se esconder Dele. Por que é que o sacerdócio público da Palavra é tão pouco assistido? As pessoas vão apresentar muitas desculpas, mas o verdadeiro motivo é que estes serviços trazem Deus para perto de si e isto os torna desconfortáveis no seu pecado, procurando, então, fugir Dele. Quão evidente fica, então, de que todos compartilhamos do primeiro pecado e morremos em Adão. A posição na qual o primeiro homem ficou foi federal; e por ter tido uma postura representativa leva ao fato de que todos seus filhos compartilham sua natureza e perpetuam sua transgressão. Quando Deus procurou Adão e o trouxe face a face com sua culpa, foi-lhe dado justa e total oportunidade de confessar seu pecado. “Comeste da árvore de que te ordenei que não comêsseis?” E qual foi a resposta? Como Adão valeu-se desta oportunidade? No lugar de uma confissão consternada do seu pecado, ele se desculpou – “E disse o homem: a mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. E foi o mesmo com Eva: “Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? E a mulher respondeu: A serpente me enganou, e eu comi”. Foi, então, feita uma

tentativa de atenuar o pecado passando a responsabilidade para outros. Que verdade maravilhosa para o século 20! Que provas honestas são estas da inspiração Divina! Mas a própria desculpa que o homem dá é a base de sua condenação. Temos uma outra ilustração deste princípio na parábola das bodas de casamento. “Comprei um campo e “preciso” ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por excusado” (Lc14:18). Onde estava o “preciso”? Exatamente igual, ele preferiu sua própria gratificação a aceitar o convite de Deus. Assim foi com Adão – “a mulher que tu me deste” – a desculpa que ele fornece é exatamente a base para sua condenação. “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comestes da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”. Todos esses subterfúgios foram inúteis, e o homem ficou face a face com o Santo Deus e estava convicto de sua culpa e vergonha indizíveis. Assim será no grande trono branco. Achamos, então, que os efeitos da Queda (até onde nós os consideramos) sobre o homem foram quadruplicados: a descoberta de que algo estava errado com ele mesmo; o esforço para esconder sua vergonha pelos próprios meios; medo de Deus e uma tentativa de se esconder de Sua presença; e, ao invés de confessar seu pecado, a necessidade de desculpálo. Os mesmos efeitos são observados hoje pelo mundo.

IV – A QUEDA E DEUS “E chamou o Senhor Deus a Adão e lhe disse: Onde estás?” É , sem duvida, bonito esse registro da graça Divina. Esta não era a voz de um policial, mas o chamado de um amor compassivo. Negro como se apresenta este cenário, serve apenas para revelar, mais claramente, as riquezas da Graça de Deus. Nossos primeiros pais foram altamente estimados, abençoados com tudo o que o coração poderia desejar e tiveram apenas uma única restrição colocada sobre a sua liberdade para testar sua lealdade e fidelidade ao Criador – como foi temível a queda, e quão terrível o pecado! E se Deus os tivesse entregue “aos eternos agrilhões sob as trevas” como Ele fez aos anjos quando pecaram? E se a sua ira os tivesse consumido instantaneamente? Não teria sido muito rigor? Teria sido simplesmente mera justiça. Era tudo o que eles mereciam. Mas, não. Na Sua infinita condescendência e abundante graça, Deus dignou-se a ser aquele que busca, e desceu ao Éden bradando, “Onde estás”? W. Griffith Thomas resumiu convincentemente o sentido desta pergunta com as seguintes palavras: “A pergunta de Deus a Adão ainda soa no ouvido de cada pecador: “Onde estás?” É o chamado da justiça Divina, a qual não pode fechar os olhos ao pecado. É o chamado do pesar Divino,

que aflige o pecador. É o chamado do amor de Deus que oferece redenção do pecado. Para cada um de nós o chamado é reiterado, “Onde estás”? Tudo o que está registrado em Gênesis 3 tem muito mais do que um sentido restrito. A atitude e ação de Deus no Éden foram típicas e características. Não foi Adão quem procurou Deus, mas Deus quem buscou Adão. E esta tem sido a ordem desde aquele dia. “Não há quem busque a Deus” (Rom 3:11). Foi Deus quem buscou e chamou Abraão enquanto ele ainda era idólatra. Foi Deus quem buscou Jacó em Betel quando ele estava fugindo das conseqüências dos seus erros. Foi Deus quem buscou Moisés enquanto era fugitivo em Midiã. Foi Cristo quem buscou os apóstolos enquanto eles estavam envolvidos com a pesca, para que Ele pudesse dizer, “Vocês não me escolheram, mas Eu os escolhi”. Foi Cristo que, no seu amor inefável, veio para buscar e salvar aquele que estava perdido. É o pastor que procura a ovelha, e não a ovelha que procura o pastor. Quão verdadeiro é “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro”. Que possamos apreciar mais profundamente a maravilhosa condescendência da Divindade dobrando-nos tão humildemente como se nos interessássemos e buscássemos os vermes mais inferiores do pó. “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gen 3:15). Novamente aqui, contemplamos a abundante riqueza da Graça de Deus. Antes de julgar, Ele manifestou Sua graça; antes de expulsar os culpados do Éden, ele deu a eles uma bendita promessa e esperança. Embora Satanás tivesse levado a cabo a queda do homem, anuncia-se que Alguém viria e feriria sua cabeça. O pecado veio pela mulher, então por ela deveria vir o Salvador. Por ela veio a maldição, então por ela viria Aquele que suportaria e removeria a maldição. O paraíso foi perdido por causa da mulher, no entanto, deveria nascer dela Aquele que o resgataria. Oh, que graça – o Senhor da Glória era para ser a Semente da mulher! Temos aqui o começo e a semente de toda a profecia. Seria fora de nossa alçada, agora, tentar qualquer coisa que não um simples resumo do conteúdo deste maravilhoso versículo. Mas, três coisas devem ser cuidadosamente observadas. Primeiro, diz-se que deve haver inimizade entre Satanás e a mulher. Esta parte do versículo é constantemente desconsiderada por comentaristas. No entanto, é de profunda importância. A “mulher” aqui, tipifica Israel – a mulher cuja Semente prometida veio – a mulher de Apocalipse 12. Os filhos de Israel, sendo o canal designado através do qual o Messias estava para vir, tornaram-se objetos da continuada inimizade e ataque de Satanás. Todos os estudiosos das Escrituras sabem perfeitamente de que maneira maravilhosa esta profecia já se cumpriu. As “fomes” mencionadas em Gênesis, foram os primeiros esforços do inimigo para destruir os pais da raça escolhida. O decreto do Faraó para matar todos os primogênitos; o ataque Egípcio no Mar

Vermelho; o ataque aos cananeus em terra; o plano de Haman, todos são exemplos desta inimizade entre Satanás e a “mulher”, enquanto a contínua perseguição dos Judeus pelos gentios e a futura oposição da Besta testemunham a mesma verdade. Segundo, aqui são referidas duas “sementes” — um outro item que geralmente é despercebido – “tua semente” e “sua semente” – a semente de Satanás e a semente da mulher – o Anticristo e Cristo. Todas as profecias convergem para estas duas pessoas. Na primeira destas expressões, “tua semente” (semente de Satanás), temos mais do que uma alusão à natureza sobrenatural e satânica do Anticristo e seu caráter. Desde o começo, o Diabo tem sido um imitador, e o clímax não será atingido até que ele, ousadamente, imite a união hipostática das duas naturezas de nosso abençoado Senhor – Sua natureza humana e Sua natureza Divina. O Anticristo será o Homem do Pecado e o Filho da Perdição, literalmente, a “semente” da serpente, – assim como o Senhor é o Filho do Homem e o Filho de Deus em uma só pessoa. Esta é a única conclusão lógica. Se a “sua semente” termina em uma única personalidade – o Cristo – então, através de cada princípio de interpretação do som (*), “tua semente” deverá culminar em uma única pessoa – o Anticristo. “Sua semente”, a semente da mulher. Temos aqui o primeiro relato que se refere ao nascimento sobrenatural de nosso Salvador. Foi profetizado que Ele deveria entrar neste mundo de uma maneira sem igual. “Sua semente” – a semente da mulher, não do homem! Do cumprimento exato desta profecia, tomamos conhecimento dos dois registros inspirados que nos é dado no Novo Testamento sobre a maravilhosa concepção. Uma “virgem” conceberia uma criança e 4 mil anos depois desta predição inicial, “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gal. 4:4) . No terceiro item desta profecia maravilhosa, faz-se referência a uma dupla “pisadura” – a Semente da mulher ferirá a cabeça da Serpente, e a Serpente ferirá o seu calcanhar. A última cláusula desta profecia já se tornou história. O ferimento no calcanhar, pela Serpente, na semente da mulher é uma referência simbólica ao sofrimento e morte de nosso Salvador, que foi “ferido pelas nossas transgressões e iniquidades”. Mas, a primeira destas cláusulas aguarda ser cumprida. A pisadura da cabeça da Serpente acontecerá quando o Senhor retornar à terra em pessoa e em poder, e quando “o dragão, aquela velha serpente, que é o Diabo e Satanás deverão ser amarrados (presos) por mil anos (o Milênio) e atirados no mais profundo do abismo (Apoc. 20:2,3). Novamente dizemos, que importante prova este versículo nos fornece da Divina Inspiração das Escrituras! Quem, senão Ele, que conhecia o final desde o começo, poderia dar um perfil exato da história subsequente, e acondicioná-la nos limites deste versículo!

“Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu” (Gen 3:21). Para explicar e expor adequadamente este versículo, muitas páginas deveriam ser escritas, mas, necessariamente, devemos nos contentar com poucas linhas. Este versículo nos dá um quadro típico da salvação de um pecador. Foi o primeiro sermão do Evangelho pregado pelo próprio Deus, não em palavras, mas em símbolo e ação. Foi uma expressão em palavras do modo pelo qual uma criatura pecadora pudesse retornar e se aproximar de seu Divino Criador. Foi a declaração inicial do fato principal que diz: “sem derramamento de sangue não há remissão”. Foi uma ilustração abençoada de substituição – a morte do inocente no lugar do culpado. Antes da Queda, Deus tinha definido o salário do pecado: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gen 2:17). Deus é justo, e como Juiz de toda terra Ele deve fazer justiça. Sua lei tinha sido quebrada e a justiça exigiu a execução de sua penalidade. Mas a justiça deveria sobrepor-se à graça de Deus? Não há nenhum meio pelo qual a graça possa reinar sobre a justiça? Deus seja louvado que há , e houve. A graça quis poupar o ofensor e, porque a justiça requer morte, alguém deveria ser morto em seu lugar. O Senhor Deus vestiu Adão e Eva com peles e, para obter estas peles, animais devem ter sido sacrificados, a vida deve ter sido tirada, o sangue deve ter sido derramado! E foi neste sentido que a vestimenta foi fornecida para o caído e arruinado pecador. A aplicação do tipo é óbvia. A morte do Filho de Deus foi prefigurada. Porque o Senhor Jesus deu sua vida pelas ovelhas, Deus pode ser, agora, o justo e o justificador daquele que crê em Jesus. Que belo e perfeito é o tipo! Foi o Senhor Deus quem proveu as peles, coseu-as e vestiu nossos primeiros pais. Eles não fizeram nada. Deus fez tudo. Eles foram inteiramente passivos. A mesma verdade abençoada é ilustrada na parábola do filho pródigo. Quando o peregrino tomou o lugar de uma criatura perdida e desgraçada e assumiu seu pecado, a graça do coração do pai foi revelada. “o pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o” (Lc 15:22). O filho pródigo não teve que providenciar sua roupa, nem mesmo vestiu-se, tudo foi feito pelo pai. E assim é com cada pecador. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós; é Dom de Deus” (Ef 2:8). Bem, podemos louvar, ‘Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça” (Is 61:10). E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gen 3:24). Este foi o auge da condenação Divina do primeiro pecado. Depois que a sentença do julgamento tinha passado primeiro

sobre a serpente, depois sobre a mulher e, finalmente, sobre o homem, e depois que Deus graciosamente deu a eles a preciosa promessa de sustentar seus corações e fornecer uma vestimenta para cobrir sua vergonha, Adão e Eva foram colocados para fora do Paraíso. O significado moral aí é evidente. Era impossível para eles permanecerem no jardim e continuar se relacionando com o Senhor. Ele é santo, e aquele que está maculado não pode entrar na Sua presença. O pecado sempre resulta em separação. “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós” (Is 59:2). Aqui vemos o cumprimento da ameaça de Deus. Ele anunciou, “no dia em que comeres, certamente morrerás”. Morrer, não apenas fisicamente –há algo infinitamente pior do que isto – mas morrer espiritualmente. Assim como a morte física é a separação da alma do corpo, a morte espiritual é a separação da alma de Deus. –“Este meu filho foi morto (separado de mim) e vive novamente – restaurado para mim.”. Quando se diz que pela natureza somos “mortos em delitos e pecados”, é porque os homens estão “ alienados da vida de Deus pela ignorância que há neles, por causa da cegueira de seus corações” (Ef 4:18). De maneira semelhante, aquela morte judicial que aguarda todo o que morre em seus pecados – a “Segunda Morte”— não é aniquilação como muitos estão falsamente ensinando (1), mas separação eterna de Deus e eterno castigo no lago de fogo. Assim, aqui em Gen 3 temos a própria definição de Deus sobre a morte – separação Dele, evidenciada pela expulsão do homem do Éden. O impedimento do caminho para a árvore da vida ilustrou uma importante verdade espiritual. De algum modo peculiar, esta árvore parece ter sido um símbolo da Divina presença (Prov 3:18), e o fato de que o homem caído não tivesse direito de acesso a ela enfatizou a distância moral em que ele permaneceu de Deus. O pecador, como tal, não teve acesso a Deus, porque a espada da justiça impediu seu caminho, assim como o véu no Tabernáculo e no Templo impedia a entrada do homem à Divina presença. Mas, louvado seja Deus, que Alguém nos abriu um “novo e vivo” caminho a Deus, sim, aquele que é Ele mesmo o Caminho (João 14:6). E como isso se cumpriu? A justiça retirou sua espada! Ou melhor, embainhou-a na lateral do nosso adorado Salvador. Sem dúvida, aquela solene, mas preciosa palavra em Zacarias 13:7 : “Desperta, ó espada contra o meu Pastor”, relembra Gênesis 3:24. E porque o Pastor foi derrotado por completo, as ovelhas são poupadas, e no Paraíso de Deus comeremos da fruta da árvore que Adão foi impedido de comer (Ap 2:7). Sintetizando, então, esta importante divisão de nosso assunto – Deus e a Queda – descobrimos uma exposição de Sua condescendência em procurar o homem; uma evidência de Sua graça ao dar uma profecia abençoada e a promessa de sustentar e animar (alegrar) o coração do homem; uma demonstração de Sua graça ao providenciar uma vestimenta para a

vergonha do homem; uma manifestação de Sua santidade em punir o pecado do homem; e uma prefiguração típica da urgente necessidade de um Mediador entre Deus e o homem. CONCLUSÃO A filosofia de vida, como interpretada pela escola Darwiniana, afirma que o pecado é meramente uma imperfeição e limitação presentes que desaparecerão gradualmente à medida que a raça humana sobe a colina da vida. As hipóteses evolucionistas, contudo, não somente negam o ensinamento de Gênesis 1, como também repudiam os fatos registrados em Gênesis 3. E aqui está o principal ponto e propósito do ataque de Satanás. Os argumentos enganosos de nossos teólogos modernos não somente tem tentado minar a autenticidade dos relatos da Criação, como tem tido sucesso em cegar o ponto de atração do Evangelho. Ao negar a Queda, a necessidade imperativa do Novo Nascimento foi cancelada. Pois, se o homem começou na base da escada moral – como os evolucionistas nos fazem crer – e está, agora, vagarosa mas, certamente, subindo em direção ao céu, então tudo o que ele precisa é educação e desenvolvimento (cultura). Por outro lado, se o homem começou no topo da escada, mas pelo pecado caiu até a base – como a Bíblia declara – então ele está em necessidade urgente de regeneração e justificação. Assim, o assunto levantado é vital e fundamental.

V – A QUEDA E A HISTÓRIA HUMANA Uma vez que somos inteiramente dependentes da revelação que Deus nos tem dado de Sua Palavra para o conhecimento do início da história humana e, uma vez que Sua Palavra tem absoluta autoridade e é para ser recebida com fé inquestionável, e uma vez que as Sagradas Escrituras não necessitam de apoio com argumento e lógica humanos, ainda assim um apelo à história e experiência tem o seu interesse e valor. Este é o caso no que diz respeito à Queda. E vamos, agora, afirmar que o ensino de Gênesis 3 está comprovado e sustentado pelos grandes fatos da história e experiência humanas. 1. A TEORIA DA EXPERIÊNCIA HUMANA Leia os anais da história, examine os relatos policiais, estude a vida nas favelas de nossas grandes cidades e, depois pergunte, como é que o homem, o rei da criação, designado e ajustado para ser seu próprio líder e

senhor, poderia ter caído mais do que os animais? Raramente são necessárias ilustrações para mostrar o quanto o homem tem caído, pois todos que conhecem a corrupção que realmente existe sob a fina vestimenta fornecida pelas formalidades da moderna civilização, estão penosamente cientes da degradação e desolação que existem em todos os aspectos. Um animal não abandonará seu filhote como acontece agora, freqüentemente, com filhos ilegítimos que são descartados pelos próprios pais. Os animais do campo fazem multidões de seres humanos se envergonharem, pois na época de acasalamento eles mesmos se confinam com seus companheiros, com exceções somente entre os animais que o homem parcialmente domesticou! Nenhum animal vai beber água suja e envenenada, no entanto, milhares de homens e mulheres bem educados são anualmente envenenados com álcool. Mas, qual a causa desses efeitos? Qual a verdadeira explicação destes tristes fatos? Como é que o rei da criação caiu mais do que os animais do campo? Somente uma resposta é possível – PECADO, a QUEDA. O pecado entrou na constituição humana; o homem é uma criatura caída e, como tal, capaz de qualquer baixeza e maldade. 2. AS CONTRADIÇÕES DA NATUREZA HUMANA O homem não regenerado é um ser composto. Dois princípios estão na ativa dentro dele. Ele é uma auto-contradição. Num momento ele faz aquilo que é nobre e louvável, no outro, aquilo que é desprezível e baixo. Às vezes ele é dócil com aquilo que é bom e nobre, mas com mais freqüência ele se entrega aos prazeres do pecado. Em alguns estados conscientes da mente, assemelha-se a Deus, em outros, é claramente um filho do Diabo. De onde vem este conflito entre o bem e o mal? Por que esta dualidade perplexa em nossa constituição comum? Somente uma explicação vai de encontro a todos os fatos. Por um lado, o homem é “descendência de Deus”; mas por outro, o pecado entrou pela Queda e arruinou a obra do Criador. 3. A UNIVERSALIDADE DO PECADO Por que é que o filho do Rei, no palácio, e a filha de um regenerado , num casebre, apesar de toda proteção que o amor e atenção lhes dispensam, manifestam uma inconfundível inclinação em direção ao mal e tendência a pecar? Por que é que a hereditariedade e o ambiente, educação e civilização são impotentes para mudar esta ordem? Porque todos são pecaminosos! Por que é que não há nação, tribo, família, livres da

contaminação do pecado? Somente a Palavra de Deus resolve este problema. Todos tem uma origem comum (Adão) ; todos compartilham de uma herança comum (a Queda); todos entram num legalismo comum (pecado). 4. A EXISTÊNCIA DA MORTE “Há um evento que aconteceu a todos”, mas por quê? Fomos criados por um Deus Eterno, possuímos uma alma imortal; por que, então, o homem não deve continuar a viver nesta terra para sempre? Por que deve haver situações como decadência e destruição? Por que o homem deve morrer? A ciência não pode fornecer respostas a estas perguntas, e a filosofia não oferece explicação. Somos novamente calados pela Palavra de Deus. O salário do pecado é a morte, e a morte é universal porque o pecado é universal. Se alguém perguntar: por que o pecado e a morte são universais, a resposta é “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; e assim, a morte passou a todos os homens, pois todos pecaram”. 5. A ATUAL PARALISIA DA RAÇA HUMANA Cada ser e organismo está sujeito à necessidade de se tornar diferente daquilo que é – em uma única palavra, deve crescer. Não somente os animais e as plantas, mas os cristais também obedecem a esta lei e, como mostra a história, é difícil ver por que a humanidade, que forma um todo orgânico, não segue esta lei. A única solução para este problema é que o homem não está, agora, no seu estado normal e original: ele não é mais como Deus o criou. Aquele que nega a Queda não tem luz sobre este profundo mistério. Não resta dúvida que, se o homem nunca tivesse caído, ele teria continuado a crescer em conhecimento, bondade e felicidade: de fato, teria se tornado mais e mais semelhante a Deus. Enoque, o homem que andou com Deus e aquele que Deus o tomou para si depois de Ter vivido um grande ciclo de 365 anos – um ano em um dia – é um exemplo de ser humano que cumpriu seu destino e, muito provavelmente, um tipo do que o destino de todos os homens poderia ter sido. Mas, ai de mim! O homem caiu, por conseguinte o progresso e avanço no sentido final tornaram-se impossíveis. O fato de que o homem não tem progredido, ou melhor, não está progredindo agora, pode ser visto através da comparação dos campos do empreendimento humano de hoje, com aqueles de dois ou três mil anos atrás. Na literatura, não surgiu nada que se compare ao livro de Jó, ou que possa competir com Salmos. Em Filologia – que é um teste seguro do desenvolvimento intelectual e da vida mental de um povo, não há

linguagem moderna que esteja à altura do Sânscrito. Na Arte, tudo o que há de melhor, tomamos emprestado dos Gregos antigos. Na Ciência, ainda estamos muito atrás dos projetistas e construtores das Pirâmides – um recente exame de algumas múmias revelou que os Egípcios estavam à nossa frente até mesmo em Odontologia; em Ética, o maravilhoso sistema formulado por Confucios é superior a qualquer coisa que tenhamos hoje fora da Bíblia. Em civilizações gigantescas, ninguém superou os Babilônios e os Fenícios, que viveram centenas de anos antes da era cristã ter começado. Na legislação, a habilidade forense e organizacional dos romanos nunca foram superadas. Fisicamente, podemos ser comparados, em desvantagem, com os antigos. Então, aqui está um fato totalmente demonstrado, que, como um todo organizado, nossa raça não está fazendo um progresso real e mostrando nenhum sinal de crescimento. E repetimos: é o único entre todos os organismos vivos que não está crescendo – crescendo, não, desenvolvendo. Então, qual é a causa desta paralisia? Como podemos explicá-la exceto pela explanação fornecida na Palavra de Deus, a saber, que este organismo teve uma terrível queda, está arruinado e quebrado, e não está agora no seu estado normal e original! Assim, se a Queda é um fato histórico e a única explicação adequada da história humana, o que sucede? Primeiro, o homem é uma criatura caída; segundo, ele é um pecador; terceiro, ele precisa de um Salvador. Então, este é o fundamento do apelo do Evangelho. Por natureza, o homem é alienado de Deus, sob condenação, perdido. Qual é, então, o remédio? A resposta é, Uma nova criação. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2Cor 5:17). Não é o cultivo da velha natureza que é necessário, pois ela está arruinada pela Queda, mas a recepção de uma natureza completamente nova que é gerada pelo Espírito Santo. “Você deve nascer de novo”. Qualquer coisa que não enfatize este ponto é sem valor e inútil.

VI – A QUEDA E CRISTO Nenhum estudo de Gênesis 3 seria completo sem meditar sobre o assunto com o Senhor Jesus diante do coração. Muitas passagens na Palavra unem Adão e Cristo e, por isso, cumpre-nos compará-las e contrastá-las cuidadosamente. Ao pensar em Cristo e na Queda, uma linha tripla de pensamento pode ser desenvolvida. Primeiro, um contraste entre o primeiro e o segundo homem no seu caráter e conduta. Segundo, o próprio Cristo suportando a Maldição da Queda. Terceiro, Cristo invertendo os efeitos da Queda e produzindo o que há de melhor. Vamos tratar destes pensamentos nesta ordem.

Foi sugerido por alguém, que, ao comer do fruto proibido , Adão lançou reprovação ao amor de Deus, Sua verdade e Majestade. Criado à imagem de Seu Criador; vivificado pelo sopro da Divindade; colocado num meio ambiente perfeito; cercado de toda benção que um coração pudesse desejar; colocado em completa autoridade sobre toda obra realizada por Deus; provido de uma ajudadora e companheira adequada; feito como exemplo de todo o universo do amor e bondade de Jeová, e tendo recebido uma única ordem em que pudesse ter a oportunidade de mostrar a sua apreciação pela simples observância – ainda assim, ele dá ouvidos à voz do tentador e acredita na mentira do Diabo. “Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dela comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus sereis, sereis conhecedores do bem e do mal”(Gen 3:4,5). O que Satanás queria insinuar com estas palavras? Elas eram como se ele dissesse: Deus disse para você não comer desta árvore? Que crueldade! Ele está retendo de você a melhor coisa do jardim. Ele sabe muito bem que se você comer desta fruta, seus olhos serão abertos e vocês se tornarão como Deus. Em outras palavras, foi um apelo para desconfiarem de Deus, duvidar de Sua graça e questionar Sua bondade. Assim, ao comer a fruta proibida, Adão repudiou e desonrou o amor de Deus. Além disso, ele questionou e desonrou a veracidade de Deus. Deus havia lhe alertado claramente. Em linguagem inequívoca, ele havia alertado, “No dia em que dele comeres, certamente morrerás”. Adão não sabia nada da morte. Ele estava cercado somente de criaturas vivas. A Razão poderia ter argumentado que seria impossível a morte entrar numa terra maravilhosa como o Paraíso. Mas lá, ecoou a Sua Palavra, que não pode mentir, “Certamente morrerás”. A serpente, contudo, audaciosamente nega a palavra de Jeová e declara: “É certo que não morrereis”. Em qual palavra Adão acreditaria – na de Deus ou de Satanás? Ele confiou mais na última; ele ousou duvidar da primeira e o ato da Queda aconteceu. Assim, ao comer da fruta proibida, Adão repudiou e desonrou a verdade de Deus. Depois, ele negou a autoridade de Deus. Como Criador, Deus possui o direito inerente de emitir ordens e exigir de Suas criaturas absoluta obediência. É Sua prerrogativa agir como Legislador, Controlador, Governador, e definir os limites de liberdade de Seus súditos. E no Éden ele exercitou Sua prerrogativa e expressou Sua vontade. Mas, Adão pensou que tinha um amigo melhor do que Deus. Ele O considerou austero e despótico, como Alguém que invejava aquele que promoveria seus melhores interesses. Ele sentiu que, ao lhe ser negada a fruta desta árvore que era agradável aos olhos e boa para dar entendimento, Deus estava agindo arbitraria e cruelmente, de modo que ele decidiu valer seus direitos e livrar-se da sujeição ao governo Divino. Ele substituiu a palavra do Diabo pela lei de Deus; ele colocou seu desejo antes da ordem de Jeová. Assim,

ao comer a fruta proibida, Adão repudiou e desonrou a Majestade de Deus. Isso é o bastante quanto ao caráter e conduta do primeiro Adão. Retornando ao último Adão, achamos que tudo se coloca em direta antítese. Em pensamento, palavra e ação, o Cristo de Deus defendeu completamente o amor, a verdade e a majestade do divino, que o primeiro homem tinha tão intensa e deliberadamente desonrado. Como Ele defendeu o amor de Deus! Adão se refugiou no pecaminoso pensamento de que Deus negou-lhe aquilo que lhe era benéfico e, desse modo, questionou Sua benevolência. Mas como o Senhor Jesus reverteu aquela decisão! Ao descer a esta terra para procurar e salvar o que estava perdido, Ele revelou completamente a compaixão Divina pela humanidade. Na Sua consideração pelos afligidos, nos Seus milagres de cura, nas Suas lágrimas sobre Jerusalém, na Sua desinteressada e incansável obra da graça, ele mostrou abertamente a beneficência e benevolência de Deus. E o que podemos dizer do Seu sofrimento e morte no madeiro cruel! Ao dar a sua vida por nós, ao morrer na Cruz, Ele desvendou o coração do Pai, como ninguém. “Deus provou o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rom 5:8). Na luz do Calvário jamais podemos duvidar da bondade e graça de Deus. Como Cristo defendeu a verdade de Deus! Quando tentado por Satanás para duvidar da bondade de Deus, questionar Sua verdade e negar Sua Majestade, Ele respondeu a cada vez: “Está escrito”. Quando Ele entrou na sinagoga no dia de Sábado foi para proclamar os Oráculos Santos. Ao escolher os doze apóstolos, Ele, intencionalmente escolheu Judas, para que as Escrituras “pudessem ser cumpridas”. Ao censurar Seus críticos, Ele declarou que, pelas suas tradições, eles anulavam a “ Palavra de Deus”. Nos Seus últimos momentos sobre a Cruz, sabendo que todas as coisas tinham se cumprido, para que se cumprissem as Escrituras Ele disse: “Tenho sede”. Depois que Ele ressuscitou dentre os mortos e estava caminhando com os dois discípulos para Emaús, Ele “expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24:27). Em cada aspecto e em cada detalhe de Sua vida, Ele honrou e magnificou a verdade de Deus. Finalmente, Cristo defendeu completamente a Majestade de Deus. A criatura aspirou ser igual ao Criador. Adão irritou-se com a sujeição governamental que Jeová tinha posto sobre ele. Ele desprezou a lei de Deus, insultou Sua Majestade, desafiou Sua autoridade. Que diferença do nosso abençoado Salvador! Embora fosse o Senhor da Glória e igual a Deus, Ele não se fez importante e tomou a forma de servo. Oh graça sem par! Ele se submeteu à lei, e durante toda Sua permanência aqui na terra Ele se recusou a fazer valer os Seus direitos e sempre foi sujeito ao Pai. “Não a minha vontade”, era o Seu santo brado. Ou melhor, mais: “Ele se tornou obediente até a morte, e morte de Cruz”. A lei de Deus nunca foi tão

magnificada, a autoridade de Deus nunca foi tão honrada, as reivindicações do governo de Deus nunca foram tão ilustremente defendidas como durante os trinta e três anos em que Seu próprio Filho viveu entre os homens. Assim, em Sua própria pessoa, Cristo defendeu a insultada majestade de Deus. Voltamos, agora, a contemplar o próprio Cristo suportando a Maldição da Queda. Qual foi a punição que seguiu o pecado do primeiro Adão? Ao responder esta pergunta, nos restringimos ao capítulo anterior. Começando em Gênesis 3:17, podemos traçar uma conseqüência sétupla sobre a entrada do pecado neste mundo. Primeiro, a terra foi amaldiçoada. Segundo, em fadiga o homem obteria sustento dela todos os dias de sua vida. Terceiro, ela produziria espinhos e cardos. Quarto, o homem comeria o pão com o suor do seu rosto. Quinto, o homem retornaria ao pó. Sexto, uma espada flamejante impediu sua ida à árvore da vida. Sétimo, houve a execução da ordem de Deus que no dia em que o homem comesse do fruto proibido ele certamente morreria. Observe agora, como o Senhor Jesus suportou completamente a total conseqüência do pecado do homem. Primeiro, Cristo foi “feito maldição por nós” (Gl 3:13). Segundo, Ele estava tão profundamente ciente de Suas dores, que foi denominado “o homem de dores” (Is 53:3). Terceiro, para que pudéssemos saber o quanto, literalmente, o Santo suportou em Seu corpo as conseqüências do pecado de Adão, lemos: “Saiu, pois, Jesus trazendo a coroa de espinhos” (Jo 19:5). Quarto, em relação ao suor de Sua face com o qual o primeiro homem devesse comer seu pão, tomamos conhecimento em relação ao segundo homem, “E o Seu suor era como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22:44). Quinto, como o primeiro Adão deve retornar ao pó, assim o brado do último Adão, naquele maravilhoso Salmo profético foi: “Assim, me deitas no pó da morte” (Salmo 22:15). Sexto, a espada da justiça que impedia o caminho para a árvore da vida foi embainhada no lado do Filho de Deus, pois muito antes, Jeová tinha dito: “Desperta, ó espada, contra o Meu Pastor e contra o homem que é meu companheiro” (Zc 13:7). Sétimo, a reprodução da ordem original de Deus para Adão, a saber, morte espiritual (pois Ele não morreu fisicamente naquele mesmo dia) , que é a separação da alma de Deus, está testemunhada naquele mais solene de todos os brados, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46). Quão absolutamente o nosso abençoado Salvador se identificou com aqueles que estavam perdidos, tomou os seus lugares e o Justo sofreu pelo injusto! Quão notório é, que Cristo em Seu próprio corpo, realmente suportou a Maldição imposta pela Queda. Finalmente, devemos considerar, agora, Cristo revertendo os efeitos da Queda. Deus, sozinho, pode separar o bem do mal e até mesmo fazer a ira do homem louvá-lo. A Queda conferiu a Deus uma oportunidade de

mostrar Sua sabedoria e revelar as riquezas de Sua graça numa extensão que, ao que podemos ver, Ele nunca poderia ter feito, se o pecado não tivesse entrado no mundo. Na esfera da redenção, Cristo não somente reverteu os efeitos da Queda, mas por causa dela, conduziu para uma coisa melhor. Se Deus pudesse ter achado um modo em coerência com Seu próprio caráter de restaurar o homem à posição que ele ocupava antes de se tornar um transgressor, teria sido extraordinário triunfo, mas aquele em que, através de Cristo, pudesse realmente ser o vencedor, é um milagre extraordinário da sabedoria e graça Divina. Portanto, o caso é este: os redimidos ganharam mais através do último Adão do que perderam através do primeiro; eles ocupam uma posição mais exaltada; antes da Queda, Adão habitou num Paraíso terreno, mas os redimidos foram feitos para assentarem-se com Cristo nos lugares celestiais; pela redenção, eles foram abençoados com uma natureza mais nobre; antes da Queda, o homem possuía uma vida natural, mas, agora, todos em Cristo foram feitos participantes da natureza Divina; eles obtiveram uma nova posição diante de Deus; Adão era simplesmente inocente, o que é uma condição negativa, mas os crentes em Cristo são justos, o que é um estado positivo; compartilhamos uma herança melhor; Adão era senhor do Éden, mas os crentes são “herdeiros de todas as coisas”, “herdeiros de Deus e coherdeiros com Cristo”; pela graça, fomos feitos capazes de um júbilo mais profundo do que espíritos vivificados conhecem: a alegria do pecado perdoado, o compromisso da profunda consciência para a graça Divina. Os crentes em Cristo se deleitam em um relacionamento mais próximo de Deus do que era possível antes da Queda. Adão era simplesmente uma criatura, mas nós somos membros do corpo de Cristo – “membros do Seu corpo, de Sua carne e de Seus ossos”. Que maravilhoso! Fomos levados a uma união com o Divino, de tal modo que o Filho de Deus não se envergonhou de nos chamar de irmãos. A Queda forneceu a necessidade de Redenção, e pela obra redentora da Cruz, os crentes tem uma posição que o caído Adão nunca poderia ter alcançado. Verdadeiramente, “onde abundou o pecado, superabundou a graça”.

NOTA: (1) Em Apocalipse 20, depois que os não redimidos são ressuscitados, eles ainda são denominados “mortos” — para sempre, mortos para Deus mesmo enquanto vivem. [voltar] NOTA DO TRADUTOR: (*) — O texto bíblico usa o pronome possessivo “her seed” para a semente

da mulher e o pronome possessivo “thy seed” para a semente da serpente. [voltar] Fonte: Capítulos 4,5 e 6 do livro Gleanings In Genesis

Traduzido por: Mariângela Paranaguá Marcia C.C. Okimura ([email protected])

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