Trabalho de Eclesiologia A disciplina na Igreja PRF. Ronilson Gil de Souza
Semin.: Marcelo Gomes
Introdução Hoje se faz bastante necessária a organização institucional da Igreja, haja vista toda a carga negativa e nociva da sociedade pós-moderna e todo vento de doutrina que surgem dia após dia, fazendo com que a disciplina eclesiástica delimite parâmetros de reverência e padrões de comportamento dentro da Igreja enquanto instituição. Em oposição ao termo disciplina, podemos encontrar o termo tolerância que está bastante em voga atualmente em algumas igrejas ditas Cristãs. Mas até onde devemos ser tolerantes com o mau comportamento fora e dentro da Igreja? E o que dizer de pessoas que em nome do apego a letra da lei tem aplicado de maneira errada a disciplina eclesiástica trazendo a toda a igreja mais males do que benefícios? A verdade é que não podemos deixar impune todo e qualquer ato de natureza pecaminosa dentro e fora da Igreja, já que hoje, a vida dicotômica dos membros do Corpo de Cristo tem causado grandes prejuízos a Igreja e fazendo com que o termo disciplina tenha uma conotação de arbitrariedade quando punidos e em caso de exclusão, logo encontram refúgio no seio de outra igreja, sem questionamentos, sem carta do seu antigo pastor e ainda por cima se outorgando razão.
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Objetivo do estudo Nosso objetivo com relação a esse trabalho de pesquisa é dispormos de maneira sintetizada todos os pormenores que envolvem a disciplina na igreja mostrando assim que há toda uma organização no sentido de coibir atos inadequados no âmbito da Igreja, reabilitar os membros que cometem infrações ou até mesmo desligá-los da instituição caso não haja arrependimento outros requisitos previstos na disciplina de cada Igreja.
Um tiro no próprio pé Nosso objetivo não é dizer que no caso de necessidade do uso da disciplina eclesiástica está descartada a tolerância e o amor, pois essa prática tem levantado acusações a Igreja Cristã dizendo ser ela o único exército que atira em seus feridos. Mas por outro lado o excesso de tolerância tem colocado em dúvida a autoridade na igreja sob o pretexto de que a correção compete a Deus. Existem vários casos de mal-entendidos na aplicação da disciplina eclesiástica, causando prejuízos consideráveis à causa do Senhor, colocando em oposição tanto aquele que aplica quanto aquele que recebe a punição, mas na maioria dos casos observamos que os malentendidos são por falta de conhecimento da disciplina o que infelizmente faz de um meio para correção um grave problema.
Necessidade da disciplina e seus erros freqüentes Biblicamente a autoridade constituída pela Igreja está apta a punir de maneira disciplinar os membros da igreja como instituição, mas o que vemos em não poucas oportunidades, são erros na aplicação da correta disciplina sobre as quais discorreremos a partir de agora. Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – Trabalho de Eclesiologia
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Disciplina para fins escusos
Infelizmente vemos que em diversos casos a disciplina é confundida com despotismos, e aquele que a aplica vê como uma oportunidade de manipulação de fatos para obtenção de vantagens. Usaremos aqui o exemplo mais conhecido, que é a disciplina usada pela Igreja Católica Romana medieval, que com seu poder Téo – político fazia do povo massa de manobra e a aqueles que se opunham, eram rotulados de hereges, bruxas ou inimigos da santa igreja de Cristo, e logo lançados na fogueira da inquisição ou eram torturados das mais diversas formas imagináveis. Mas esse espírito medieval ainda permanece em alguns ditos “ministros de Deus”, que fazem exatamente a mesma coisa que antes: Manipulam o povo com intuito de obterem privilégios.
Disciplina e a descriminação
Observemos aqui, dois aspectos da descriminação: O primeiro é o abandono que muitas vezes acontece por parte das lideranças e dos membros da Igreja com aqueles que estão disciplinados os entregando a própria sorte como se houvesse uma desistência na luta pela reintegração desse membro caído. Hebreus cap. 12 vers. 7 diz o seguinte: “É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como aos filhos; pois qual é o filho a quem o pai não corrija?” Se Deus ama a que a quem ele corrige, é obrigação da Igreja amá-lo também, para que esse na se sinta demasiadamente triste e não seja presa fácil de satanás.
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Disciplina e a arbitrariedade Não obstante dos erros mais comuns da aplicação da disciplina eclesiástica está à arbitrariedade, esse é bem mais comumente usado por aqueles que são alvos da disciplina, quando fazem as seguintes perguntas: “Com que direito fazem isso?”, “Não somos todos pecadores?” Sim, há casos de arbitrariedade tais como podemos ver no tópico acima a respeito do despotismo, mas é importante que todos os membros da Igreja de Cristo tenham consciência de que a verdadeira autoridade da disciplina não está naquele que a aplica, mas naquEle que a ordena e tão só o ministro do Senhor aquele que foi revestido da autoridade para executá-la, logo esses questionamentos são inválidos pois quem esta sendo disciplinado, o está por ser uma ordenança de Deus para o seu bem, segundo vemos em Provérbios 6 vers. 23 “Porque o mandamento é uma lâmpada, e a instrução uma luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida”.
Necessidade da disciplina e sua correta aplicação
Aquele que ordena a disciplina é o mesmo que estabelece padrões a serem seguidos no exercício da mesma, esse padrão consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12. 4-13). Como dissemos anteriormente a disciplina deve ser aplicada pelo ministro do Senhor observando este caráter paternal, vejamos o que diz o Código de disciplina que se encontra no Manual Presbiteriano, capitulo I, (Natureza e finalidade).
“Art.1 - A Igreja reconhece o foro íntimo da consciência, que escapa à sua jurisdição, e da qual só Deus é Juiz; mas reconhece também o foro externo que está sujeito à sua vigilância e observação.
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Art.2 - Disciplina eclesiástica é o exercício da jurisdição espiritual da Igreja sobre seus membros, aplicada de acordo com a Palavra de Deus. Parágrafo Único - Toda disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, erros ou faltas, promover a honra de Deus, a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e o próprio bem dos culpados. Art.3 - Os membros não-comungantes e outros menores, sob a guarda de pessoas crentes, recebem os cuidados espirituais da Igreja, mas ficam sob a responsabilidade direta e imediata das referidas pessoas, que devem zelar por sua vida física, intelectual, moral e espiritual.”
O termo Hebraico rasUm é usado no antigo testamento como sinônimo de “instruir” (Pv 3. 1-3), “corrigir” (Pv 22-15 ou 23-13)
ou “castigar” (Is 53-5) e no novo testamento é
freqüentemente usado analogicamente como a correção dos filhos feita pelos pais, e a correção que vem do Senhor. (Hb 12. 1-10 e Ap 3-19) .
Os passos da disciplina Objetivo da disciplina Segundo as Sagradas Escrituras a disciplina na Igreja tem um objetivo triplo, que são:
1. Restabelecer o pecador 2. Manter a pureza da Igreja 3. Dissuadir outros da prática do pecado Esses três propósitos apontam para os passos a serem seguidos na correta aplicação da disciplina eclesiástica.
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Abordagem individual
"Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;" (Mateus 18: 15) Esse texto nos ensina que a confrontação é o primeiro passo para a admoestação, porém ela deve ser feita em amor para que não haja uma reação agressiva por parte daquele que esta sendo argüido. Mas também sinaliza o texto com uma possibilidade de que se o irmão nos ouvir, o ganhamos, mas, sobretudo Deus foi glorificado e problema resolvido sem prolongamento.
Admoestação privada
Caso não haja reconciliação do pecador ou não seja demonstrada uma mudança de atitude, a Bíblia recomenda que sejam tomadas consigo algumas testemunhas e volte a ter com o transgressor a fim de obter um testemunho confiável, para que em caso de persistência no erro, uma medida mais enérgica venha ser tomada, levando em consideração o testemunho de mais de uma pessoa. A princípio pode parecer que o intuito de se chamar mais algumas pessoas para persuadir o agressor um à tentativa de coação ou intimidação, mas se atentarmos para o que diz Números 35 – 30 veremos que a palavra de Deus a muito requer que o testemunho seja não só de uma só pessoa, mas sim de várias afim de que haja imparcialidade no veredicto. "Todo aquele que matar alguma pessoa, conforme depoimento de testemunhas será morto; mas uma só testemunha não testemunhará contra alguém, para que morra."
Pronunciamento público Esse ponto é bastante polêmico, pois trata de uma pública admoestação e afastamento de funções caso o infrator ocupe algum cargo em sociedades dentro da igreja e também implica com relação aos Sacramentos que serão suspensos para este indivíduo. Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – Trabalho de Eclesiologia
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Vemos muita demagogia nesse aspecto por parte de pessoas que acham desnecessário o pronunciamento público, porém estas mesmas pessoas não analisam o fato de que aquela pessoa que esta sendo temporariamente afastada de suas atividades sociais e sacramentais, já teve anteriormente duas oportunidades de se redimir perante Deus, mas, no entanto preferiu ofender publicamente o corpo de Cristo, portanto deverá ser também advertido publicamente. A atitude dos membros da Igreja nesse caso deve ser de resignação, oração e deve-se evitar comentários desnecessários.
Exclusão pública
O último recurso da disciplina é a excomunhão (do latim ex, “fora”, e communicare, “comunicar”), neste caso o ofensor é privado terminantemente de todos os benefícios da comunhão, e ainda por cima é tido como gentio (a qual não era permitido entrar nos átrios Sagrados do templo do Senhor) e publicano (que eram considerados traidores e apostatas. Lc 19. 2-10). "E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." (Mateus 18: 17). Estes não têm mais comunhão Cristã, pois se recusam a viverem como tal e também recusam a obedecerem aquele que foi investido da autoridade para a admoestação, neste caso recusam ao próprio princípio Cristão que se encontra em Romanos 6: 16 "Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?"
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Conclusão Concluímos aqui essa breve explanação sobre a disciplina na igreja trazendo uma afirmação de Laney que diz o seguinte: “A disciplina é como um medicamento muito forte, pode trazer a cura ou trazer maior dano”. É preciso fazermos uma reflexão sobre a disciplina na igreja a as sua implicações, sendo ela aplicada da forma como requer as Sagradas Escrituras, será essa como um remédio na dose certa, mas sendo ela por contenda, particularidades ou como abuso de autoridade será como um veneno injetado na veia. Devemos amar aquele que caiu e cuidar para que não caiamos também, mas, sobretudo zelar pela sã doutrina e pelos preceitos Bíblicos que forma entregues a nós pelo Supremo Pastor. "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia." (I Coríntios 10: 12)
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Bibliografia SANTOS, Valdeci da Silva, Fides Reformata 3/1 (1988) Disciplina na Igreja. PRESBITERIANO, manual, Editora Cultura Cristã.
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