EESSCCOOLLAA SSEECCUUNNDDÁÁRRIIAA DDEE AALLCCOOCCHHEETTEE E FA
TÉCNICO ADMINISTRATIVO
Unidade de Competência STC_7 Sociedade, Tecnologia e Ciência - Fundamentos
Texto de Apoio N.º3
SORTE E TRABALHO METÓDICO II: A DESCOBERTA DA RADIOACTIVIDADE Na reunião de 20 de Janeiro de 1896 da Academia das Ciências, Henri Poincaré anunciou em Paris o conteúdo do artigo original de Roentgen. Entre os presentes encontrava-se o físico (filho e neto de físicos) Antoine Henri Becquerel (1852 - 1908), o qual, entusiasmado com os resultados que vinham além-Reno, pós-se logo a testar diversos corpos fosforescentes, que brilhavam intensamente durante algum tempo após serem expostos à luz solar directa, tentando, sem sucesso, que essa fosforescência impressionasse uma chapa fotográfica revestida de cartão preto, tal como os raios-X haviam feito.
Becquerel lembrou-se, então, da longa associação da sua família com a fosforescência de sais urânios e perguntou-se se essa fosforescência conteria raios-X. Foi justamente essa associação (que, a curto prazo, demonstraria ser perfeitamente esdrúxula) entre raios-X e compostos de urânio que o levou à descoberta da radioactividade, tão pouco tempo após o anúncio de Roentgen.
A 24 de Fevereiro de 1896, Becquerel submete um trabalho à Academia das Ciências, no qual anuncia os resultados de uma experiência na qual uma chapa fotográfica envolta em duas folhas de papel preto muito espesso (de maneira que o filme não recebesse luz solar durante um dia de exposição), sobre o qual papel e colocada uma lamina de um sal de urânio fosforescente, todo esse conjunto sendo exposto à luz solar durante várias horas:
“Ao se revelar, subsequentemente, a chapa fotográfica, observa-se a silhueta das substâncias fosforescente surgindo em negro no negativo. Se uma moeda, ou uma folha metálica [...] for colocada entre o material fosforescente e o papel, a imagem desses objectos aparecera no
negativo. [...] A substância fosforescente em questão emite radiações que atravessam papel opaco à luz.”
Na semana seguinte, a 2 de Março, Becquerel estava de volta à Academia, mas agora para anunciar uma surpreendente descoberta que viria a demonstrar-se muito mais importante do que Roentgen e que viria a alterar irreversivelmente os destinos da humanidade. Naqueles poucos dias, Becquerel dera-se conta que o efeito descrito acima nada tinha a ver com fosforescência.
Tudo se deveu, mais uma vez, ao acaso, que fez com que durante aqueles dias de Inverno o Sol se tivesse mantido oculto atrás das nuvens em Paris. Sir William Crookes, o famoso físico experimental inglês, que, por mais de uma vez, se descolara ao laboratório de Becquerel pode desenvolver as suas próprias pesquisas descreveu o que se passara:
“Ele havia planeado uma outra experiencia, na qual, entre a chapa e o sal de urânio, havia interposto uma folha de papel preto e uma pequena fina cruz de cobre. Ao levar o conjunto para a luz solar, o Sol havia-se ocultado, de modo que foi levado de volta para o armário escuro e aí deixado até outra oportunidade de insolação. Mas o Sol manteve-se oculto atrás das nuvens durante vários dias e, cansado de esperar (ou com a inconsciente previsão dos génios), Becquerel revelou o seu filme. Para sua surpresa, em vez de nada encontrar; como esperado, o filme tinha-se obscurecido tão fortemente como se o urânio tivesse sido previamente exposto a luz solar, com a imagem da cruz de cobre brilhando a branco contra o fundo negro. Este foi o fundamento da longa série de experiencias que levaram às notáveis descobertas que tornaram os raios de Becquerel uma expressão comum em Ciência[...]”
Durante o mês de Maio ficou claro para Becquerel que todos os sais de urânio, mesmo aqueles que não eram fosforescentes, davam lugar à nova radiação e que nada tinha a ver, nem com a fosforescência, nem com os raios - X. Aliás, com a continuação das suas experiencias, nas quais lançou mão de uma variedade de sais de urânio, o que mais intrigou Becquerel desde logo foi a peculiaríssima espontaneidade da emissão, com a total ausência aparente de uma “cause excitatrice”
A explicação do fenómeno da radioactividade viria a exigir um longo caminho da física, que passaria pela árdua compreensão do núcleo atómico.
Em 1903, Becquerel recebeu metade do Premio Nobel de Física, a outra metade então sido atribuída ao casal Pierre e Marie Curie.
Na manhã de 16 de Junho de 1945, a humanidade deflagrou o primeiro artefacto nuclear nas areias de Alamogardo, no Novo México, e, desde então não houve como voltar a fechar essa caixa de Pandora.