A 12

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A12 NACIONAL

DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO

SUCESSÃO

Números derrubam mito do grande palanque peemedebista Resultados da eleição de 2006 não mostram relação entre apoio do partido e desempenho de candidatos Daniel Bramatti

O valor do PMDB como aliado nas eleições de 2010 costuma sermedidoporseuenraizamento pelo País: 1.201 prefeitos, 97 deputados federais, 9 governadores.Masosresultadosdaúltima disputa presidencial não comprovam a tese de que a máquina peemedebista influencia oseleitoresdeformasignificativa. De concreto mesmo, o que o PMDB tem a oferecer aos précandidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) é seu tempo no rádio e na televisão: 5 minutos e 46 segundos divididos em dois blocos, três dias por semana. Em 2006, o PMDB não lançou candidato a presidente nem apoiou formalmente os dois principais concorrentes: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Mas vários líderes regionais peemedebistas colocaram a máquina do partido a serviço de um ou outro candidato – com resultados discutíveis. Em Santa Catarina, por exemplo, o governador Luiz Henrique, candidato à reeleição,pôsoPMDB a trabalharpelacandidaturaAlckmin.Otucano venceu no Estado, com 54,5%dosvotos nosegundo turno – mas também venceu no vizinho Paraná, onde o peemedebista Roberto Requião, outro quedisputavaa areeleição,ade-

riu a Lula. Luiz Henrique exercia influência direta sobre 114 prefeitos eleitospelo PMDBdois anos antes. Se a máquina peemedebista fizesse diferença na eleição, a lógica indicaria uma vitória mais folgada de Alckmin nessas cidades. Mas os númerosmostramocontrário:otucanoteve, em média,51,8% dos votos nos municípios com prefeitos do PMDB, 2,7 pontos porcentuais a menos do que obteve no Estado como um todo. Das 114cidades, Alckminperdeu para Lula em 51.

Quércia e Jarbas reconhecem que influência de prefeitos é pequena O fenômeno também ocorreu no lado oposto. Lula contou com o apoio do governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), desde a largada da campanha. Nos municípios governados por peemedebistas, porém, sua média de votação foi inferior à do Estado (82,3% contra 86,8%). Os números não autorizam, por outro lado, a conclusão de que o PMDB mais atrapalha do que ajuda – apenas não há evidências de que sua influência é decisiva. Em Goiás, por exemplo, onde contou com o apoio de Maguito Vilela, um dos caciques locais do PMDB, Lula teve uma performance levemente superior nas cidades governadas pelo partido (trêspontospor-

centuais acima da média). Da mesma forma, Alckmin se saiu um pouco melhor nos municípios peemedebistas em Mato Grosso do Sul (um ponto acima da média), onde teve como aliado André Puccineli, candidato vitorioso ao governo estadual. PODER

“A influência dos prefeitos é mínima”, reconheceu o senador Jarbas Vasconcelos (PMDBPE). “O importante na eleição é o tempo de TV do partido.” Exgovernador de Pernambuco, ele lembra que derrotou Miguel Arraes, em 1998, quando o adversário do PSB contava com o apoio de 140 dos 186 prefeitos do Estado. Apesar de dever grande partedeseu poderno partidoà proximidade com prefeitos do interior paulista, Orestes Quércia também admite que o fato de o PMDB governar mais de milcidadesnãoétãodecisivo em termos eleitorais. “O partido co-

manda, em geral, prefeituras pequenas”, disse ao Estado o ex-governador de São Paulo. A performance eleitoral do próprio Quércia é outra mostra do baixo poder de influência dos prefeitos, mesmo em uma eleição estadual. Em 2004, o PMDB ganhou 87 prefeituras em São Paulo, e o PP outras 28. Como candidato de uma aliançados dois partidos ao governo, em2006, Quércia tinha,portanto, uma base forte em 115 das 645cidadesdoEstado.Mas venceu em apenas três, nenhuma governada pelo PMDB ou pelo PP. Teve apenas 4,6% dos votos no total, resultado não muito distante da média obtida nos municípios comandados por seus correligionários (5,7%).

Pode haver várias razões para a ausência de relação direta entre o desempenho eleitoral de candidatos e o apoio de um partido a eles. A primeira hipótese é que os eleitores desconsiderem a opinião de líderes locais no momento de escolher quem vai definir os rumos do País. Também pode haver falta de empenho na campanha. E é possívelqueumpolíticodesconsidere a orientação do partido ao apoiar um candidato – no PMDB, marcado por divisões, isso não seria surpreendente. Márcia Cavallari, diretora executivado Ibope,lembraque, numa eleição presidencial, os eleitores são movidos pelas grandes questões do País, e não pelo microcosmo de sua cidade. “Prefeitos são muito mais importantes na eleição de deputados. Épor isso que os parlamentares sempre visitam suas bases, reforça o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. ●

Guerra por minutos Tempo de 5 minutos e 46 segundos por dia será maior contribuição do PMDB a José Serra ou Dilma Rousseff se partido fizer aliança com um deles

FOTOMONTAGEM BASEADA EM OBRA DE SALVADOR DALI ‘A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA’ – 1931 / FOTOS: DIDA SAMPAIO e MARCOS DE PAULA/AE

FRASES

Jorge Picciani Presidente da Assembleia do Rio (PMDB)

No Rio, alas resistem a aliança com Dilma Apoio de Sérgio Cabral a petista não convence partido Luciana Nunes Leal RIO

O entusiasmo do governador Sérgio Cabral no apoio à candidatura de Dilma Rousseff para aPresidênciadaRepública–reiterado a cada visita da ministra ao Estado – não contagiou o PMDB do Rio. O partido não se entende. Nem a ala mais próxima do governador garante apoioincondicional à candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É uma resposta à insistência do petista Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), em lançar sua candidatura ao governo, como adversário de Cabral, que tentará a reeleição. Candidato ao Senado na chapa de Cabral e aliado do governador especialmente na articu-

lação com parlamentares e prefeitos do interior, o peemedebista Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa, diz que “o quadro nacional é muito complexo e passa pelo PMDB do Rio”. “Em primeiro lugar, defendo o que é bom para o meu partido”, diz Picciani. “O governador Cabral vai continuar a defenderaaliançacomopresidente Lula, com a ministra Dilma. Já eu não posso dar a mesma garantia. Se o PT insistir em esticar a corda e disputar o governo, não sei se o PMDB do Rio vai defender candidatura própria (a presidente), se vai querer ficar livre.” CONVENÇÃO

O presidente da Assembleia lembra que o Rio tem 84 dos

808delegadosnaconvençãonacional, o maior peso entre todos os Estados. Minas Gerais, onde PMDB e PT também estão em conflito, tem o segundo maior número de votos. As insatisfações estaduais e as divergênciasinternaspodem levaropartido a não formalizar a coligação com Dilma, o que impediria a indicação do candidato a vice e tiraria da candidata petista o tempo de TV do PMDB. NoRio,boa partedosdeputados federais do partido não se alinha com Cabral e nem sequer fará a campanha da reeleição estadual. Há muitas reclamações de que o governador nãodialogacom osparlamentares.“Eu não votonoCabral”, reclama o deputado Eduardo Cunha, candidato à reeleição. “Vou cuidar da minha vida e

“O governador Cabral vai continuar a defender a aliança com o presidente Lula, com a ministra Dilma. Já eu não posso dar a mesma garantia. Se o PT insistir em esticar a corda e disputar o governo, não sei se o PMDB do Rio vai defender candidatura própria (a presidente), se vai querer ficar livre”

Eduardo Cunha Deputado (PMDB-RJ) “Eu não voto no Cabral. Vou cuidar da minha vida e dar apoio à ministra Dilma, à candidatura da base aliada. O Cabral não defende o partido no Rio. É um governo dos amigos dele, não é partidário”

dar apoio à ministra Dilma, à candidatura da base aliada. O Cabral não defende o partido no Rio. É um governo dos amigos dele, não é partidário.” Picciani minimiza as divergências e defende o governador. “O Cabral circula muito bem em todo o Estado. No final, as divergências diminuem e o partido se une. Vamos fazer uma aliança robusta em torno do governador”, aposta. Existe ainda no PMDB o grupo ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, ex-presidentedopartido noRioe agorafiliado ao PR. Por causa das regras da fidelidade partidária, continuam no PMDB sua mulher, a ex-governadora Rosinha, atual prefeita de Campos (Norte Fluminense), e sua filha Clarissa, vereadora pelo Rio. O deputa-

do federal Geraldo Pudim obteve garantia da direção do PMDB que não perderá o mandato e deverá ingressar no PR. Garotinho também deverá ser candidato ao governo, formando o terceiro palanque de Dilma no Estado. OPOSIÇÃO

Há vinte dias, durante uma viagem ao Rio, a ministra conversou com Cabral, Picciani e outros peemedebistas. O presidente da Assembleia aconselhou a ministra a não desprezar amovimentaçãopolíticadaoposição, que articula a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) ou do deputado Fernando Gabeira (PV) e um palanque parao tucano José Serra nadisputa presidencial. Mostrou que Garotinho tem votos no eleitorado mais pobre e menos instruído, mas grande rejeição

Candidatura de Lindberg Farias pode dificultar entendimento nas classes A e B. Por fim, disse que Lindberg, ao insistir na disputa com Cabral e nos benefícios do palanque triplo para a ministra no Rio, acaba favorecendo a oposição. Lindberg tem apoio da maior parte do PT fluminense para sua candidatura. Promete atrair para Dilma o eleitor que rejeita o governador e o PMDB, especialmente depois da crise do Senado e das ações do senador Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente do suplente de Sérgio Cabral, em defesa do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). O PMDB ofereceuaoPTa outra vagadecandidato ao Senado na chapa de Cabral. Até agora, no entanto, o prefeito de Nova Iguaçu mantém a disposição de se candidatar ao governo. ●

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