76 - Na Biblioteca

  • July 2019
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76 NA BIBLIOTECA W.W. JACOBS

O fogo queimara debilmente na biblioteca, pois a noite estava úmida e morna. Era agora pouco mais que uma concha acinzentada e parecia desolado. Trayton Burleigh, ainda aquecido, ergueu-se de sua poltrona e, fechando um dos bicos do lampião, apanhou um charuto de uma caixa numa mesa lateral e voltou a sentar-se. O cômodo, que ficava no terceiro andar, nos fundos da casa, era uma combinação de biblioteca, estúdio e sala de fumar, e era o desespero diário da velha governanta que, com a ajuda de um criado, administrava a casa. Era um apartamento de solteiro e havia sido deixado para Trayton Burleigh e James Fletcher por um conhecido comum dos dois homens, uns dez anos antes. Trayton Burleigh sentou-se de volta em sua cadeira observando a fumaça de seu charuto com os olhos semicerrados. Ocasionalmente, abria-os um pouco mais e girava-os pela sala confortável e bem mobiliada, ou fixava-os com um brilho frio de ódio em Fletcher, sentado e fumando impassível seu cachimbo. Era uma sala confortável e uma casa valiosa, metade da qual pertencia a Trayton Burleigh, e mesmo assim ele

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deveria deixá-la pela manhã e se tornar um vagabundo e um nômade sobre a face da terra. James Fletcher assim tinha dito. James Fletcher, com o cachimbo ainda entre os dentes e falando pelo canto da boca, tinha pronunciado sua sentença. - Talvez não lhe tenha ocorrido, creio eu - disse Burleigh, de repente -, que eu poderia recusar seus termos. - Não - disse simplesmente Fletcher. Burleigh deu uma grande baforada e deixou a fumaça rolar lentamente de sua boca. - Eu vou sair e deixar você como proprietário? - continuou. - Você ficará aqui como o único dono da casa; você ficará como o único dono do escritório e representante da firma? Você é muito bom em acordos, James Fletcher. - Eu sou um homem honesto - disse Fletcher -, e levantar dinheiro suficiente para fazer frente a seus desfalques não me deixará de modo algum como vencedor, como você sabe muito bem. - Não há necessidade de empréstimos - começou Burleigh, impaciente. - Podemos pagar facilmente os juros e, no devido tempo, integralizar o capital sem que ninguém perceba. - Isto você sugeriu antes - disse Fletcher - e minha resposta é a mesma. Eu não serei cúmplice da desonestidade de homem algum; levantarei cada centavo a qualquer custo e salvarei o nome da firma - e o seu -, mas nunca mais vou vê-lo pisar novamente no escritório, ou sentar-se nesta casa depois desta noite.

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- Você não vai - gritou Burleigh, levantando-se num frenesi de ódio. - Eu não vou - respondeu Fletcher. - Você pode escolher a alternativa: desgraça e trabalhos forçados. Não cresça para cima de mim, você não vai me assustar, posso garantir. Sente-se. - Você decidiu tantas coisas em sua generosidade disse Burleigh, lentamente, voltando a sentar-se. Decidiu como vou viver? - Você tem duas mãos fortes e saúde - respondeu Fletcher. - Eu lhe darei as duzentas libras que mencionei e depois disso você terá que cuidar de si mesmo. Pode levá-las agora. Ele apanhou uma carteira de couro do bolso da camisa e tirou um rolo de notas. Burleigh, observando-o calmamente, esticou a mão e apanhou-as da mesa. Então, deu vazão a um súbito acesso de ódio e, amassando as notas em sua mão, lançou-as num canto da sala. Fletcher continuou a fumar. - A Sra. Marl saiu? - disse Burleigh, de repente. Fletcher concordou com a cabeça. - Ela vai passar a noite fora - disse, lentamente - e Jane também; foram juntas a algum lugar, mas estarão de volta às oito e meia da manhã. - Então você vai me deixar tomar mais um café da manhã na velha casa - disse Burleigh. - Oito e meia, oito e ...

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Levantou-se novamente da poltrona. Desta vez Fletcher tirou o cachimbo da boca e observou-o atentamente. Burleigh inclinou-se e, apanhando as notas, colocou-as no bolso. - Se eu vou ser lançado à deriva, não vai ser para deixá-lo aqui - disse ele, numa voz rouca. Atravessou a sala e fechou a porta; quando voltou, Fletcher levantou-se da poltrona e enfrentou-o. Burleigh pôs a mão na parede e, tirando uma pequena espada japonesa de seu estojo de marfim esculpido, andou lentamente em sua direção. - Eu lhe dou uma chance, Fletcher - disse, implacável. - Você é um homem de palavra. Acabe com isto. Deixe as coisas serem como antes e você estará salvo. - Largue isto - disse Fletcher, estridente. - Por ... eu falei sério! - gritou o outro. - Eu falei sério! - respondeu Fletcher. Ele olhou em volta no último instante em busca de uma arma. Então voltou-se de repente com uma súbita dor aguda e viu o punho fechado de Burleigh quase tocando seu esterno. A mão afastou-se novamente de seu peito e algo mais com ela. Demorou muito para se afastar. Trayton Burleigh foi repentinamente para muito longe e a sala escureceu. Ficou muito escuro e Fletcher fez uma tentativa de erguer as mãos. Em vez disso, deixou-as cair e desabou no chão.

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Ele estava tão imóvel que Burleigh mal percebeu que tudo estava acabado e ficou estupidamente à espera de que se erguesse novamente. Então ele tirou o lenço como se fosse limpar a espada, mas, pensando melhor, recolocou-o no bolso e jogou a arma no chão. O corpo de Fletcher ficou onde tinha caído, o rosto branco voltado para o lampião de gás. Em vida, ele havia sido um homem de aparência comum, para não dizer vulgar, agora ... Burleigh, com um sentimento de náusea, retrocedeu até a porta, até que o corpo ficou escondido pela mesa e, poupado da visão, foi capaz de pensar com mais clareza. Olhou cuidadosamente para baixo e examinou suas roupas e suas botas. Então atravessou novamente a sala e, desviando o rosto, apagou o gás. Algo parecia mover-se na escuridão e, com um grito baixo, ele se precipitou para a porta antes de perceber que era o relógio. Ele soou doze vezes. Burleigh ficou na beira da escada tentando se recuperar, tentando pensar. O lampião no piso inferior, a escada e a mobília, tudo parecia tão prosaico e familiar que ele poderia não perceber o que havia acontecido. Caminhou lentamente e apagou a luz. A escuridão da parte superior da casa estava agora quase aterradora, e, num pânico súbito, ele correu escada abaixo para o hall iluminado e, arrancando um chapéu do cabide, foi até a porta e caminhou para o portão. Com exceção de uma janela, as casas vizinhas estavam às escuras e as lamparinas resplandeciam numa rua silenciosa. Havia um pouco de chuva no ar e a estrada barrenta estava cheia de seixos. Ele parou no

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portão tentando criar coragem para entrar na casa novamente. Então, avistou uma figura surgindo lentamente da estrada e mantendo-se junto às cercas. A total compreensão do que havia feito atingiu-o quando ele se viu virando para correr da aproximação do guarda. A capa molhada brilhando à luz do lampião, o passo lento e pesado, fizeram-no tremer. Imagine se a coisa lá em cima não estivesse suficientemente morta e gritasse? Imagine se o guarda achasse estranho ele estar ali parado e o seguisse para dentro da casa? Ele assumiu um ar descuidado que não parecia descuidado e, quando o homem passou, desejou-lhe boa-noite e fez uma observação sobre o tempo. Antes que o som dos passos do outro estivesse totalmente fora de seu alcance, ele se virou e entrou novamente na casa sem que a sensação de ter companhia houvesse desaparecido por completo. O primeiro lance de degraus era iluminado pelo lampião de gás no saguão e ele subiu lentamente. Então, riscou um fósforo e subiu resolutamente, passou pela porta da biblioteca e, com dedos firmes, ligou o lampião em seu quarto e iluminou-o. Abriu um pouco a janela e, sentando-se em sua cama, tentou pensar. Ele tinha oito horas. Oito horas e duzentas libras em notas pequenas. Abriu seu cofre e tirou todo o dinheiro solto que encontrou e, caminhando pelo quarto, recolheu e colocou nos bolsos todos os artigos de valor que possuía. O primeiro horror tinha agora passado até certo ponto e foi seguido pelo medo da morte. Com este

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medo, ele se sentou novamente e tentou considerar os primeiros passos daquele jogo de habilidade do qual sua vida dependia. Ele tinha muitas vezes lido a respeito de pessoas de temperamento impetuoso que iludiram a polícia por algum tempo e eventualmente caíram em suas mãos por falta do mais elementar bom senso. Tinha ouvido dizer que elas sempre fizeram alguma asneira estúpida, deixaram para trás alguma maldita pista. Apanhou seu revólver numa gaveta e viu que estava carregado. Se acontecesse o pior, ele morreria depressa. Primeiras oito horas, duzentas libras a mais. No início, alugaria um quarto em algum distrito populoso e deixaria crescer a barba. Quando a poeira abaixasse, iria para o exterior e começaria vida nova. Ele sairia à noite e remeteria cartas para si mesmo ou, melhor ainda, cartões-postais que sua locadora leria. Cartõespostais de amigos entusiasmados, de uma irmã, de um irmão. Durante o dia, ficaria em casa e escreveria, tornando-se um homem que se diria jornalista. Ou, quem sabe iria para o litoral? Quem o procuraria de ceroulas, tomando banhos de mar e andando de bote com felizes mortais comuns? Ele se sentou e ponderou. Uma decisão poderia significar a vida e a outra a morte. Qual? Seu rosto queimou quando ele pensou na responsabilidade da escolha. Tanta gente ia para o litoral naquela época do ano que ele certamente passaria despercebido. Mas na praia podem-se encontrar conhecidos. Ele se levantou e nervosamente

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andou outra vez de um lado para o outro. Agora que significava tanto, não era tão simples quanto parecera. O pequeno relógio estridente sobre a lareira soou uma vez, imediatamente seguido pela nota mais grave do da biblioteca. Ele pensou no relógio, parecia a única coisa viva naquela sala, e estremeceu. Ficou pensando se a coisa deitada ao lado da mesa o ouvira. Ficou pensando ... Ele prendeu a respiração com medo. Em algum lugar lá embaixo uma tábua rangeu alto, depois outra. Ele foi até a porta e abriu-a um pouco, mas sem olhar para fora, ficou à escuta. A casa estava tão quieta que ele podia ouvir o tique-taque do velho relógio da cozinha lá embaixo. Abriu um pouco mais a porta e espiou. Quando o fez, houve uma súbita gritaria estridente na escada e ele recuou e ficou parado tremendo antes que pudesse perceber que o barulho tinha sido feito pelo gato. O grito era inconfundível; mas o que o teria perturbado? Estava tudo novamente em silêncio e ele foi outra vez para perto da porta. Teve a certeza de que algo se movia furtivamente pelos degraus. Ouviu as tábuas rangerem novamente e mais uma vez o corrimão rangeu. O silêncio e a expectativa eram horrorosos. Imagine se a coisa que havia sido Fletcher estivesse esperando por ele na escuridão? Ele enfrentou seus medos e, abrindo a porta, decidiu ver o que havia. A luz do quarto fluiu para o patamar e ele espiou assustado. Era imaginação, ou a porta do quarto de Fletcher, em frente, fechou-se

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quando ele olhou? Era isto imaginação, ou a maçaneta da porta realmente girou? Em absoluto silêncio e observando a porta enquanto se movia, para ver se nada saía e o seguia, continuou lentamente pelos escuros degraus abaixo. Então seu queixo caiu e ele se sentiu outra vez fraco e enjoado. A porta da biblioteca, que ele se lembrava perfeitamente de ter fechado e que, além disso, ele havia visto fechada quando subiu a escada para seu quarto, estava agora uns dez ou doze centímetros aberta. Imagínou haver um sussurro lá dentro, mas seu cérebro se recusava a ter certeza. Então, clara e inequivocamente, ouviu uma cadeira ser empurrada de encontro à parede. Rastejou até a porta, esperando passar por ela antes que a coisa lá dentro se desse conta de sua presença. Algo rastejou furtivamente pela sala. Num impulso repentino, ele pegou a maçaneta da porta e, fechando-a violentamente, virou a chave na fechadura e correu como louco escada abaixo. Um grito pavoroso veio da sala e uma mão pesada bateu nos painéis da porta. A casa rangeu com os golpes, mas acima deles soaram os gritos, altos e roucos, de medo humano. Burleigh, a meio-caminho em direção ao vestíbulo, parou com a mão no corrimão e ficou à escuta. A batida cessou e uma voz de homem implorou alto para que pelo amor de Deus o deixassem sair. Burleigh viu imediatamente o que havia acontecido e o que aquilo poderia significar para ele. Tinha deixado a porta do vestíbulo aberta depois de sua ida à rua e

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algum pássaro noturno errante tinha entrado na casa. Nenhuma necessidade de sair agora. Nenhuma necessidade de se esconder da corda do carrasco ou da cela do criminoso. O bobo lá em cima o salvara. Virouse e correu novamente escada acima exatamente quando o prisioneiro, em seus furiosos esforços para escapar, arrancou a maçaneta da porta. - Quem está aí? - gritou alto. - Deixe-me sair! - gritou uma voz frenética. - Pelo amor de Deus, abra a porta! Tem uma coisa aqui dentro. - Fique onde está! - berrou Burleigh rispidamente. Fique onde está! Se você sair, atirarei como num cão! A única resposta foi um violento soco na fechadura da porta. Burleigh ergueu sua pistola e, mirando na altura do tórax de um homem, atirou através do painel. O tiro e a madeira estilhaçada fizeram um único ruído, seguido de um silêncio sobrenatural, e então o barulho de uma janela apressadamente aberta. Burleigh fugiu apressadamente escada abaixo e, abrindo com violência a porta do vestíbulo, pediu ajuda aos gritos. Acontece que o sargento e o guarda de ronda tinham acabado de se encontrar no caminho. Correram para a casa. Burleigh, com explicações incoerentes, lançou-se pela escada antes deles e parou defronte à porta de biblioteca. O prisioneiro ainda estava lá dentro, ainda tentando arrebentar a fechadura da sólida porta de carvalho. Burleigh tentou virar a chave, mas a fechadura estava por demais danificada para permitir

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qualquer movimento. O sargento recuou e, ombros à frente, atirou-se à porta e arrombou-a. Ele entrou na sala aos tropeções, seguido pelo guarda, e dois raios de luz das lanternas em seus cintos dançaram pela sala. Um homem escondido atrás da porta correu para ela e no instante seguinte os três homens estavam embolados. Burleigh, parado na soleira, olhava friamente para dentro, guardando-se para a cena seguinte. Com exceção do esbarrão dos homens e da respiração ofegante do prisioneiro, não havia ruído. Um capacete caiu, quicou e rolou pelo chão. Os homens caíram, houve um grunhido soluçado e um estalo estridente. Um vulto alto ergueu-se do chão. O outro, de joelhos, ainda segurava o homem. O vulto de pé vasculhou o bolso e, riscando um fósforo, acendeu o lampião de gás. A luz caiu no rosto corado e na barba loura do sargento. Sua cabeça estava descoberta e seu cabelo desgrenhado. Burleigh entrou na sala e contemplou avidamente o homem meio-desmaiado no chão - um camarada baixo e gorducho com um rosto branco e sujo e bigode preto. Seu lábio estava cortado e o sangue escorria pelo seu pescoço. Burleigh olhou furtivamente para a mesa. A toalha tinha caído com a luta e estava agora no lugar onde ele deixara Fletcher. - Bom trabalho, senhor - disse o sargento, com um sorriso. - Foi sorte estarmos por perto. O prisioneiro ergueu uma cabeça pesada examinou-os com um inconfundível terror no olhar.

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- Muito bem, senhor - disse ele, trêmulo, enquanto o guarda aumentava a pressão do joelho. - Não cheguei a ficar nem dez minutos na casa. Por ... não fui eu. O sargento olhou-o com curiosidade. - Isto não quer dizer nada - disse, lentamente. Dez minutos ou dez segundos não farão diferença alguma. O homem tremeu e começou a choramingar. - Ele já estava aqui quando cheguei - disse, ansiosamente. - Anote isso, senhor. Eu tinha acabado de chegar e aquilo já era. Então tentei escapar, mas fui preso. - O que é que já era? - perguntou o sargento. - Aquilo - disse ele, desesperadamente. O sargento, seguindo a direção dos olhos pretos aterrorizados, inclinou-se para a mesa. Então, com uma exclamação aguda, puxou a toalha. Burleigh, com um grito agudo de horror, cambaleou até a parede às suas costas. - Tudo certo, senhor - disse o sargento segurandoo. - Tudo certo. Incline a cabeça. Ele o empurrou até uma cadeira e, cruzando a sala, encheu um copo de uísque e o trouxe para ele. O copo chacoalhou contra seus dentes, mas ele o bebeu com avidez e então gemeu fracamente. O sargento esperou com paciência. Não havia pressa. - Quem é, senhor? - perguntou afinal.

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- Meu amigo Fletcher - disse Burleigh, com um esforço. - Morávamos juntos. - Ele se virou para o prisioneiro: - Seu maldito! - Ele estava morto quando eu entrei na sala, cavalheiros - disse o prisioneiro, energicamente. - Ele estava morto no chão e, quando o vi, tentei cair fora. Deus me ajude que ele já era. O senhor me ouviu chamar, senhor. Eu não chamaria se eu o tivesse matado. - Tudo certo - disse o sargento, rispidamente. - É melhor segurar a língua, sabia? - Você fique quieto - advertiu o guarda. O sargento se ajoelhou e levantou a cabeça do homem morto. - Eu não tenho nada a ver com isso - insistiu o homem no chão. - Eu não tenho nada a ver com isso. Eu nunca pensei numa coisa dessas. Eu só fiquei dez minutos nesse lugar; abaixe isso, senhor. O sargento tateou com a mão esquerda e, pegando a espada japonesa, sacudiu-a para ele. - Eu nunca vi isso antes - disse o prisioneiro, debatendo-se. - Ficava pendurada na parede, disse Burleigh. - Ele deve tê-la arrancado de lá. Estava na parede quando deixei Fletcher pouco tempo atrás. - Quanto tempo? - inquiriu o sargento. - Talvez uma hora, talvez meia hora - foi a resposta. - Eu fui para o meu quarto.

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O homem no chão torceu a cabeça e olhou-o impaciente. - Foi você quem fez isto! - gritou ele, furioso. - Você fez isto e quer que eu leve a culpa. - Já chega - disse o guarda indignado. O sargento repôs gentilmente sua carga no chão. - Você segura a língua, seu diabo! - disse, ameaçador. Atravessou a sala até a mesa, colocou um pouco de bebida num copo e segurou-o. Então abaixou-o novamente e foi até Burleigh. - Sentindo-se melhor, senhor? - perguntou. O outro sacudiu debilmente a cabeça. - O senhor não vai mais querer isto aqui - disse o sargento. Apontou para a pistola que o outro ainda segurava e, tirando-a gentilmente de suas mãos, colocou-a no bolso. - Machucou seu pulso, senhor - disse ele, ansiosamente. Burleigh ergueu rapidamente uma das mãos, depois a outra. - Este aqui, eu acho - disse o sargento. - Acabei de ver. Pegou os pulsos do outro em suas mãos e, apertando-os de repente com a força de um alicate, sacou algo do bolso - alguma coisa dura e fria que

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estalou de repente nos pulsos de Burleigh e os manteve juntos. - Está tudo bem - disse o sargento. - Fique quieto. O guarda deu meia-volta assombrado. Burleigh saltou furiosamente sobre ele. - Tire estas coisas! - arquejou. - Ficou louco? Tireas! - Tudo no seu devido tempo - disse o sargento. - Tire-as! - gritou novamente Burleigh. Em resposta, o sargento segurou-o num aperto poderoso e, encarando seu rosto pálido e seus olhos brilhantes, levou-o à força para o outro lado da sala e empurrou-o para uma cadeira. - Collins - disse ele, severamente. - Senhor? - disse o subordinado perplexo. - Corra ao médico aí da esquina o mais depressa que puder! - disse o outro. - Este homem não está morto! Ele sussurou-me no ouvido o nome de quem o atacou. Quando o homem deixou a sala, o sargento apanhou o copo de bebida que tinha enchido e, ajoelhando novamente junto a Fletcher, levantou sua cabeça e tentou derramar um pouco em sua garganta. Burleigh, sentado em seu canto, assistiu como se estivesse em transe. Ele viu o guarda voltar com o cirurgião ofegante, viu os três homens se debruçarem sobre Fletcher e então viu os olhos do homem agonizante se abrirem e os lábios do homem agonizante

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se moverem. Ele tinha consciência de que o sargento tomava algumas notas num bloco e de que os três homens o olhavam diretamente. O sargento andou até ele e colocou a mão em seu ombro, e, obedecendo ao toque, ergueu-se e saiu com ele para a noite. Tradução de Celina Portocarrero

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