62 - A Casa Do Crime

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62 A CASA DO CRIME TRISTAN BERNARD (1866-1947 - França)

Um tal Samuel, que vivia de rendas no quartier de Saint-Simeon, foi encontrado por marinheiros à beira do canal. Vestia um saco e estava cortado em cinco pedaços. Encontraram sua cabeça, seu tronco, sua perna direita, sua perna esquerda e seu braço esquerdo. Só não encontraram seu braço direito. Circunstância que se explica pelo fato de que ele havia perdido esse braço com a idade de cinco anos. Samuel morava numa casa de veraneio, número 29 do Faubourg Cugnat. O procurador da República achou conveniente dirigir-se para esse endereço em companhia de algumas pessoas, magistrados e jornalistas, a fim de dar início às investigações. Era um velho procurador de faro sempre reputado como infalível. Chegaram todos diante de uma cerca de grades bem fechada. O chaveiro da expedição retirou da valise seus instrumentos e forçou a fechadura. - Observem - disse o procurador - que o assassino tinha uma chave da casa, pois o gradeado estava

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trancado. Trata-se, portanto, de alguém que gozava a intimidade do morador. - Mas ele não poderia ter entrado por outro lugar? arriscou alguém. - E o que diz o senhor destas pegadas? - respondeu o velho magistrado, friamente. Olhamos todos para o chão. Havia uma ligeira marca na areia da alameda, bem ao lado do portão. Por mais leve que fosse, não escapara ao olhar arguto do procurador. - São marcas de passos leves e que tentaram desmanchar - disse ele. Eis-nos perto da casa, ao fim de uma alameda sob a sombra das árvores. Tudo estava calmo, após a tragédia. As cortinas tinham sido hermeticamente fechadas. O serralheiro forçou uma segunda porta, numa espécie de plataforma. Um a um, entramos na antecâmera escura, que se foi iluminando pouco a pouco. A emoção nos dera um nó na garganta. Só o velho procurador permanecia impávido, enquanto o chaveiro forçava uma terceira porta. As cadeiras estavam cobertas com panos. Com um dedo certeiro, o velho cão de caça indicou um armário, onde devia estar a prataria. O armário estava vazio. O roubo, portanto, fora o móvel do crime. O chão da cozinha, onde sem dúvida acontecera o esquartejamento, devia ter sido lavado. Depois disso, o assassino, juntando uma parte da poeira existente nos móveis, a distribuíra em camadas iguais sobre o piso dos azulejos, tão bem

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distribuídas que nada revelavam da lavagem e todos os olhos se angariaram, a menos, é claro, os olhos experientes e alertas do velho juiz. E eis que, embaixo da escada de pedra, o dedo do procurador, apontando para o chão, dava a impressão de ter feito surgir um botão de calça. Um providencial botão de calça, marcado com o nome do alfaiate e que, indefectívelmente, desde a morte de Abel, cada assassino esquece no local do crime: "Aldibert, alfaiate". - Quem conhece esse alfaiate? O guarda municipal do quarteirão deve conhecê-lo. Onde está o guarda do quarteirão? Justamente naquele momento, chegava o guarda, resfolegante: - Senhor procurador! Não é no 27 Bis, é no 29 que morava o tal de Samuel. Faz quase uma hora que estamos lá em cima à sua espera ...

Tradução de Flávio Moreira da Costa

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