Publicado originalmente em www.eternoretorno.com A necessidade do pensamento complexo de Edgar Morin 17ago2008 Categoria(s): Filosofia Autor: adv
É difícil situar quem é Edgar Morin, ele perambula por todas as áreas e é exatamente a necessidade de não ficarmos limitados à especializações que é apontada em seu pensamento. Superar o pensamento linear e a nossa pretenciosa ingenuidade de acreditar que há um código exato em todos os fenômenos da qual podemos descobrí-lo através da razão são dois dos principais pontos abordados pelo pensador Edgar Morin, sociólogo de formação, nascido em 1921. O pensamento complexo tem como princípio a dialógica, isto é, compreende os contrários sem necessidade de exclusão. É um conhecimento voltado para o conhecimento: Todo o conhecimento supõe ao mesmo tempo separação e comunicação. Assim, as possibilidades e os limites do conhecimento revelam do mesmo princípio: o que permite o nosso conhecimento limita o nosso conhecimento, e o que limita o nosso conhecimento permite o nosso conhecimento. O conhecimento do conhecimento permite reconhecer as origens da incerteza do conhecimento e os limites da lógica dedutiva-identitária. O aparecimento de contradições e de antinomias num desenvolvimento racional assinala-nos os estratos profundos do real. - Meus Demônios, Edgar Morin)
Estou iniciando no pensamento de Edgar Morin, no entanto, sinto-me, já um pouco familiarizado, pois desde a adolescência aprendi, com a ajuda de Nietzsche, a conviver com os contrários sem excluí-los, a viver sob um pensamento circular e perspectivista sabendo que “verdade” e “mentira” são celas criadas por nós para aprisionar nós mesmos. A circularidade está presente no pensamento complexo, porém, este é sustentado, sobretudo, pela abordagem Sistêmica que compreende uma teoria que busca olhar para o “todo” e para as “partes” buscando relações entre elas, sabendo que o “todo” é diferente da soma das “partes” e estas por sua vez são diferentes do “todo”. O pensamento complexo, em meus primeiros contatos, parece-me que assume a posição de uma corrente teórica - teoria do conhecimento para o conhecimento que comporta sistematizações, de tal forma que penso estar ai a principal diferença para Nietzsche, visto que não podemos dizer que este filósofo criou uma teoria, pois seu pensamento não se enquadra em sistematizações. Infelizmente ainda estamos muito presos ao pensamento linear e as leis de causa e efeito; estamos acostumados a fazer de teorias e conceitos lentes únicas
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para ver o mundo e acreditar que, a “nossa teoria”, senão é a única correta, é a que melhor serve para compreender o mundo. Somos cada vez mais ignorantes especializados em especializações. No modo como estamos acostumados a raciocinar dizemos que determinado fenômeno “é assim”, no pensamento complexo avaliamos e dizemos que as coisas “estão assim”, isso significa eliminar o caráter fixo e imutável do conhecimento que temos sobre os objetos em prol de uma avaliação de um contexto que está constantemente em transformação. Para quem nunca ouviu falar do pensamento complexo sugiro o artigo abaixo do próprio Edgar Morin; neste artigo o autor busca apresentar de forma resumida, os principais aspectos do pensamento complexo além de apontar necessidades que urgem para esse modo de pensar. Edgar Morin possui uma vasta produção bibliográfica, a obra “Meus demônios” utilizada na citação acima é a bibliografia do autor; sua principal é “O método“, dividida em 6 volumes: • • • • • •
O método 1: a natureza da natureza O método 2: vida da vida O método 3: o conhecimento do conhecimento O método 4: as idéias O método 5: a humanidade da humanidade O método 6: Ética
Se pegarem um copo de vinho do Porto e o interrogarem, podem ter a certeza de que nesse vinho do Porto há partículas que se formaram nos primeiros segundos do Universo, ou seja, há cerca de sete a quinze milhões de anos; há também o hidrogênio, um dos primeiros elementos a ser formado no Universo, e produtos do átomo do carbono, formado quando da existência do sol anterior ao nosso. No copo de vinho do Porto, há a conjugação de macromoléculas que se juntaram na terra para dar origem à vida e há ainda a evolução do mundo vegetal, a evolução animal, até o homem, e a evolução técnica que permitiu ao ser humano extrair o sumo da uva e transformá-Io (…) Dito de outra maneira, num copo de vinho do Porto temos toda a história do Cosmos e, simultaneamente, a originalidade de uma bebida encontrada apenas na região do Douro. Somos filhos da natureza viva da terra e estrangeiros a nós próprios. Esta reflexão leva-nos a abandonar a idéia que considerava o ser humano como centro do mundo, mestre e dominador da natureza (…)” - Edgar Morin, Da necessidade de um
pensamento complexo. Artigo: Da necessidade de um pensamento complexo (Edgar Morin, trad. de Juremir M. da Silva)