ESTADO DE MINAS - QUINTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2003
PÁGINA 19
GERAIS
❚ ACIDENTE
❚ TENSÃO
Carregamento de galinhas saqueado
EM PROTESTO CONTRA O FIM DE REGALIAS E FALTA DE REVISÃO DE PENAS, PRESOS AGRIDEM AGENTES PENITENCIÁRIOS. É O QUARTO MOTIM ESTE ANO EM CONTAGEM, GRANDE BH
Um acidente no km 436 da BR-381, em Sabará, Região Metropolitana de Belo Horizonte, ontem, fez a alegria de dezenas de moradores. Apesar da morte das duas pessoas que estavam no caminhão, placa GXM-7187, de Divinópolis, Centro-Oeste, a carga espalhada foi disputada. O veículo transportava 3,6 mil galinhas e, após o resgate dos corpos pelos bombeiros, os moradores avançaram sobre as aves. O motorista do caminhão, Wanderley Vieira Guedes, de 33 anos, e de seu ajudante, que não portava documentos, morreram presos nas ferra-
gens. Guedes ainda manteve um curto diálogo com os bombeiros do 3º Batalhão. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente não teve testemunhas e, provavelmente, o motorista perdeu o controle do caminhão e caiu em uma ribanceira. Com a queda, as galinhas ficaram espalhadas no mato, e a multidão de curiosos que acompanhava o trabalho dos bombeiros avançou assim que o resgate foi concluído. O tumulto aumentou ainda mais, pois uma nuvem de poeira e penas subiu, enquanto dezenas de pessoas corriam atrás das galinhas.
FOTOS EULER JUNIOR
AMEAÇA
Criminosos, armados com facas e chuços, destelharam um dos pavilhões da Nelson Hungria, e só aceitaram negociar no início da noite
Condenados fazem cinco reféns durante rebelião LETÍCIA ABRAS
BR-381
Caminhão transportava 3,6 mil aves e caiu em ribanceira
❚ LIGAÇÕES
INTEGRANTE DO GRUPO CRIMINOSO QUE ATUA EM SÃO PAULO É PRESO EM ITAPEVA
PCC ataca no Sul de Minas LÍVIA STÁBILE
Ademir Aparecido Redondo, de 30 anos, conhecido como Grilo e integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização que atua principalmente em São Paulo, foi preso em Itapeva, a 466 quilômetros de Belo horizonte, e transferido, ontem, para Campinas (SP). Ele e mais seis comparsas estavam há 60 dias no município de Extrema, divisa de Minas Gerais com São Paulo, onde praticaram vários roubos em casas, banco e lojas das cidades da região. Ademir é um dos bandidos mais procurados em São Paulo e é conhecido pela polícia paulista como o “general” da facção criminosa. Ele é acusado de ter matado um policial militar e dois civis, além de ter praticado vários outros crimes. Amadeu Mendes Cardoso, de 28, natural de Extrema, também foi capturado pela polícia. “A criminalidade aumentou quase 100% com a chegada da quadrilha na região", disse o delegado de Extrema, Carlos Eduardo. O carro usando pela quadrilha levou a polícia aos bandidos.“Eles sempre usavam um Tempra vinho”, disse. Os roubos começaram em
março. Hotéis-fazenda, companhias de ônibus, casas e posto bancário em Monte Verde eram os principais alvos. “Só descobrimos tratar-se do Grilo depois que liguei para a polícia de Campinas, pois ele usava uma outra identidade", explicou o delegado. Após seguir a rotina da quadrilha, a polícia descobriu que eles mantinham bases em Itapeva, Camanducaia e Extrema. "Conseguimos mandados de busca, apreensão e prisão e, então, fomos atrás”, afirmou Carlos Eduardo. O grupo usava armamento pesado, com fuzil AK 47, pistola nove milímetros, revólver calibre 38, carabina calibre 44, espingarda calibre 32, munição. Jóias, cheques e armas roubados também foram encontrados nas casas usadas pela quadrilha. Ademir foi preso em Itapeva, Amadeu, em Extrema e Ricardo Maciel Preto Godói, acabou sendo detido em Campinas. Valdemir Sampaio Sena, foragido do presídio de Marília, em São Paulo e os três irmão mineiros João Aparecido Batista, Leandro Benedito Batista e Júlio Batista da Silva, já estão com a prisão preventiva decretada, mas estão foragidos.
FERNANDA ODILLA E LANDERCY HEMERSON
Pela quarta vez neste ano, detentos da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de BH, se rebelaram e fizeram agentes reféns, levando-os para o telhado da unidade, onde fizeram ameaças. Ontem, os 108 presos do pavilhão 2 renderam cinco funcionários, entre eles o vicediretor de Disciplina, Rui Franco Júnior, às 11h30, quando o almoço seria distribuído. À noite, após dez horas de negociação, o diálogo com os rebelados foi suspenso, para ser reiniciado na manhã de hoje. O coronel Reinaldo Martins, que comandou a negociação, deixou o presídio por volta das 21h30 e garantiu que os cinco reféns estavam bem, sem ferimentos que necessitassem de atendimento médico. Além do vice-diretor, os presos dominaram o chefe de Disciplina da equipe, Cosme Dorivaldo Ribeiro Santos, e os agentes Odilonaldo Ferreira Santos, Anderson Aparecido de Almeida e José Marcelo de Souza. A estratégia da polícia é vencer os presos pelo cansaço, negociando
CONTROLE
PMs entraram no presídio para tentar evitar que a rebelião se espalhasse até a exaustão. No início da noite, atendendo reivindicações dos rebelados, um grupo de três internos se reuniu para negociar a portas fechadas com a juíza da Vara de Execuções Penais, Vanessa Barbosa, um promotor de Justiça, um defensor público e o coronel Reinaldo Martins. A ausência da Justiça na Nelson Hungria, para acompanhar o andamento das penas, é uma das reclamações dos rebelados. Eles querem ainda a volta do banho de sol diário, celas indi-
viduais e o fim de maus-tratos, de acordo com o major Zoé Ferreira dos Santos, comandante da companhia da PM na Nelson Hungria.
TIROS Pouco depois do início da rebelião, 150 policiais militares do Batalhão de Contagem, do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e do Batalhão de Polícia de Eventos (BPE) cercaram o prédio e deram tiros com balas de borracha para tentar evitar que a manifestação se espa-
lhasse para outros pavilhões. O clima ficou tenso e os detentos agrediram os cinco reféns com pedaços de telha, ameaçandoos com facas e chuços. No início da tarde, os rebelados “desenharam” uma cruz sobre o telhado, com as telhas mais escuras. “Indicativo de morte, mas não acreditamos que isso vá acontecer”, sustentou o major. Desde a última rebelião, em abril, os presos perderam regalias de anos. Não podem ficar mais fora das celas das 7h às 19h nem receber quantas visitas quiserem no pátio. O banho de sol foi limitado a poucas horas por semana e somente dois parentes ou amigos são recebidos dentro das celas nos finais de semana. “O problema todo começou aí”, diz a mulher de um dos internos do pavilhão 2, cujos detentos, desde abril, dividem suas celas com presos do pavilhão 1. “O prédio está em reforma, por isso as celas do pavilhão 2 deixaram de ser individuais. E os sentenciados reclamam que na hora de um deles receber visita, o outro precisa sair”, explica o major Zoé, certo de que esse foi um dos principais motivos da rebelião.
❚ INVASÃO
Ex-deputado dominado por ladrões O ex-deputado federal pelo PMDB Genésio Bernardino viveu momentos de apreensão, no começo da noite de terça-feira, quando três homens armados invadiram sua casa, rua Levy Pereira Coelho, bairro Santa Lúcia, Centro-Sul de BH. O ex-deputado, os dois filhos e o prefeito de Manhumirim, Leste de Minas, Erval de Azevedo Mendes (PMDB), foram mantidos
reféns pelos assaltantes por alguns minutos, até que um vizinho desconfiou da movimentação estranha na casa e acionou a Polícia Militar, que prendeu Erivaldo de Paula Domingues, de 28 anos. Jonathan Flávio de Paula, de 21, foi preso pouco tempo depois, no Morro do Papagaio, CentroSul, mas o terceiro assaltante, conhecido como “Negão”, escapou. Segundo o ex-deputado, que
já foi secretário de Estado em Minas Gerais e diretor-geral do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), os ladrões chegaram à casa às 18h. Eles fugiram com duas sacolas cheias de objetos da casa, mas o prejuízo ainda foi avaliado. “Eles renderam o caseiro, que estava do lado de fora. Depois entrar, fizeram ameaças o tempo todo, perguntando pelo
cofre no qual eram guardadas as jóias e o dinheiro. Eles pensaram que eu era rico. Coitado de mim, estou muito longe disso”, lamentou o funcionário De acordo com ele, o pior momento foi quando os assaltantes levaram os reféns para o banheiro e começaram a discutir qual deles seria morto primeiro. “Eu comecei a viver hoje, novamente”, completou.
❚ PMS PUNIDOS
Comissão quer rever expulsões de 22 policiais JOSÉ LUIZ BORRIERO
PERIGOSO
Grilo, que praticou assaltos em Minas, foi transferido para Campinas
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa decidiu marcar audiência com o governador Aécio Neves para solicitar que ele reabra o processo da Polícia Militar que levou à exclusão de 22 policiais de Montes Claros, em 2002. Requerimento tratando do assunto foi apresentado pelos deputados Arlen Santiago (PTB), Célio Moreira (PL) e Sargento Rodrigues (PDT), e
aprovado pela comissão, ontem, em audiência. Para pedir a reabertura do processo, os deputados basearam-se na Constituição do Estado, que estabelece como competência privativa do governador “relevar, atenuar ou anular penalidades administrativas impostas a servidores civis e a militares do Estado, quando julgar conveniente”. Os policiais foram denuncia-
dos por participar de suposto esquema de corrupção, envolvendo comércio ilegal de carvão no Norte do Estado. Porém, sustentam que foram expulsos de forma arbitrária, sem direito a defesa e a partir de provas obtidas de maneira irregular. A Comissão de Direitos Humanos recebeu documentos que podem inocentar pelo menos oito militares punidos. Representando o comandan-
te-geral da PMMG na audiência da comissão, coronel PM Álvaro Nicolau, o tenente-coronel Ricardo Santos Ribeiro rebateu dizendo que não percebeu nos autos do processo administrativo nenhum ato ilegal. Esses autos, segundo ele, já foram encaminhados à Justiça Militar, e os atingidos podem acionar o Poder Judiciário sobre as supostas irregularidades.