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ESTADO DE MINAS - DOMINGO, 18 DE MAIO DE 2003
GERAIS
❚ VIOLÊNCIA
ANTÔNIO OLIVEIRA SILVA, DE 59 ANOS, FOI ASSASSINADO NA MADRUGADA DE ONTEM, EM IBIRITÉ. POLÍCIA ENCONTROU OBJETOS DE VALOR JUNTO AO CORPO E DESCARTOU SUSPEITA DE LATROCÍNIO. SEIS MOTORISTAS JÁ FORAM MORTOS ESTE ANO. SINDICATO DA CATEGORIA PEDE MAIS POLICIAMENTO
Mistério cerca morte de taxista MARCELO PORTELA
Nem mesmo as operações pára-pedro – blitze específicas para táxis – realizadas pela Polícia Militar na sexta-feira, em 13 pontos da Grande BH, foram suficientes para impedir a morte de mais um taxista na Grande BH. Antônio Oliveira Silva, de 59 anos, foi assassinado na madrugada de ontem na rua Tabajara, no bairro Lago Azul, em Ibirité, região metropolitana. Este foi o segundo taxista assassinado em condições misteriosas em dois dias. Durante
o ano, seis motoristas já foram mortos na região metropolitana, principalmente em latrocínios. O número representa um aumento de 50% neste tipo de crime, se comparado com os quatro homicídios ocorridos durante todo o ano passado. Antônio, que dirigia o táxi Palio, de placa GWV-4944, levou um tiro na cabeça por volta das 3h de ontem e morreu na hora. A polícia suspeitou que ele havia sido vítima de um latrocínio – matar para roubar –, mas, com a chegada da perícia, foi constatado que R$ 89 e o re-
lógio de Antônio não foram roubados, o que levou a polícia a descartar a hipótese. Na noite de quinta-feira, o policial militar reformado e taxista Geraldo Pereira da Silva, de 52, também foi assassinado na Grande BH. Depois de receber um telefonema informando-o que sua mulher estaria traindoo no Motel Thaiti, em Betim, na região metropolitana, Geraldo seguiu para o local – armado – com o também taxista Décio Gualberto Marcelino, de 46. Ao chegarem em um ponto de ônibus perto do motel, segundo Dé-
cio, eles foram surpreendidos por dois homens que estavam em uma moto e atiraram em Geraldo, atingido por quatro tiros na cabeça e um no peito. Os assassinos fugiram e ainda não foram identificados. O diretor da Comissão de Segurança do Sindicato dos Taxistas, Olinto Soares, afirma que o relaxamento no policiamento na capital, aliado à falta de orientação dos motoristas, são os principais fatores para o aumento do número de mortes. Ele revela que, na tentativa de reduzir o índice, o sindicato e a
PM vão voltar a produzir a Folha do Táxi, jornal da categoria que traz um detalhamento dos locais e horários de policiamento na cidade. “Se o motorista está orientado sobre os locais onde tem uma viatura, por exemplo, ele pode seguir para lá se suspeitar de algum passageiro”, observa. Ele salienta ainda a necessidade de uma seleção, pelos próprios motoristas, dos passageiros que vão levar, principalmente durante a noite. “Às vezes, é um traficante ou um usuário que está indo para um ponto de dro-
gas e o taxista se envolve sem querer por não saber quem é o passageiro”, diz. Ele ressalta ainda a ajuda que pode dar, por exemplo, uma central de rádio, através da qual o trabalhador pode pedir socorro em caso de problemas. “Hoje, o taxista é como um caixa rápido para o bandido. Ele é assaltado quando chega em uma boca-de-fumo, porque o bandido não tem dinheiro e qualquer coisa serve para ele comprar a droga”, afirma. “E é morto na descida porque o cara já está drogado e sem dinheiro”, completa.
❚ BRIGA
❚ INVESTIGAÇÃO
CRIME OCORREU NA FAVELA SERRA PELADA, EM SANTA LUZIA, E AINDA DEIXOU UM FERIDO
EXECUÇÃO DE QUATRO HOMENS INTRIGA A POLÍCIA, QUE COMEÇA A APURAÇÃO AMANHÃ. PARA AMIGOS, APENAS UM DOS RAPAZES TINHA ENVOLVIMENTO COM DROGAS E OS OUTROS MORRERAM “DE GRAÇA”
Revolta no enterro de vítimas de chacina GISLENE ALENCAR
EULER JÚNIOR
FACA
Corpo de José Alves Pereira foi encontrado no beco do Délcio
Pagode acaba em duplo homicídio O final de semana começou violento na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Somente no final da noite de sexta-feira e nas primeiras horas de ontem foram registrados cinco assassinatos na Grande BH. O crime mais grave aconteceu na favela Serra Pelada, no bairro Baronesa, em Santa Luzia, onde um pagode regado a cachaça e cerveja terminou com dois homens mortos e um terceiro internado. O crime, de acordo com as primeiras apurações da Polícia Militar, ocorreu durante uma briga logo depois da festa, por volta das 5h de ontem. O gari José Alves Pereira, de 37 anos, o servente Edson de Jesus, de 28, e seu tio, o pedreiro Hamilton de Jesus, também de 37, voltavam para casa quando foram atacados pelos assassinos. Segundo a polícia e moradores, o crime foi praticado por sete ou oito pessoas que também participavam do pagode. Os moradores não souberam dizer o que causou a briga e contaram apenas que houve muita discussão e gritaria durante a madrugada na rua Nova, onde, na manhã de ontem, foi encontrado o corpo de Hamilton. A perícia do Instituto de Criminalística da Polícia Civil esteve no local e constatou que o pedreiro foi morto com oito facadas nas costas e no rosto, além de receber várias pedradas pelo corpo. De acordo com os peritos, pelas características dos cortes, os assassinos usaram um canivete ou um punhal para matar a vítima.
Pouco abaixo, no beco do Délcio, os moradores encontraram o corpo de José Alves, que foi assassinado com 28 facadas. O servente Edson de Jesus, já na unidade de Pronto Atendimento (PA) de Santa Luzia por causa de cinco facadas que levou na perna, revelou à polícia o que teria provocado o crime. Ele diz que, há alguns dias, brigou com um rapaz identificado apenas como “Tim”, e que ambos fizeram promessas mútuas de acertarem as contas depois. Ele disse que ontem, quando voltavam do pagode, encontraram “Tim” e uma turma de amigos, que tentaram cumprir a promessa do rapaz. Ele disse que, enquanto lutava com “Tim” conseguiu escapar, apesar das facadas na perna, mas os outros não tiveram a mesma sorte. Os suspeitos continuam foragidos. Já os outros homicídios registrados na Grande BH não têm sequer um suspeito. Um deles é o de Fábio Luiz dos Santos, de 24, que foi executado dentro de sua casa, na rua São José Paraopeba, em Brumadinho. A casa foi arrombada durante a madrugada de ontem e Fábio foi morto com três tiros ainda em cima de sua cama. Outro assassinato registrado pela polícia, o de Flábio da Silva, de 19, morto com um tiro no fim da noite de sexta-feira, no bairro Cachoeirinha, Nordeste de BH, está sendo atribuído a uma gangue rival, mas também não há suspeito.
A Delegacia de Homicídios começa a investigar amanhã a execução de quatro homens, encontrados, na madrugada de anteontem, na zona rural de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o delegado João Bosco Rodrigues Silva o trabalho terá início com os depoimentos dos familiares das vítimas, que foram identificadas na noite de sexta. Em um clima de indignação e revolta, os corpos de Alessandro Perreira da Silva, de 21 anos, Cleiton Caetano da Cruz, de 26, e dos irmãos Paulo César de Freitas, de 26, e Rogério de Freitas, de 31, foram enterrados, no final da tarde de ontem, no Cemitério da Paz, Noroeste da capital. Os quatro eram amigos e moravam no bairro Santa Cecília, no Barreiro, em Belo Horizonte. Todos eram casados e tinham filhos. Os familiares estavam atônitos com a crueldade com que os rapazes foram executados. “Eu nunca esperava enterrar dois filhos juntos. A violência está em todo lugar e nós não temos segurança”, indignou-se o pai, que pediu anonimato por medo de represálias. Todos eram casados e tinham filhos. Os corpos das vítimas foram encontrados com diversas perfurações a tiro na estrada rural, próximo ao bairro Bandeirinhas, amarrados e um deles, al-
CARLOS ALTMAN
DOR
Protesto marca enterro de Alessandro, Cleiton, Paulo e Rogério gemado. Nenhum estava com documento de identidade. No bolso de um deles, os policiais encontraram uma folha de papel
com anotações de quantidade de droga e valores, cujo total era de R$ 40 mil, mas já haviam sido pagos R$ 29 mil.
Para alguns parentes, os rapazes, com exceção de Paulo, morreram “de graça”. “Apenas o Paulo tinha envolvimento com drogas e era considerado um dos traficantes que atuava na região”, revelou um primo de Cleiton. Familiares contaram que Alessandro, que já morou em Betim, ligou para o Paulo, na noite de quinta-feira, pedindo ajuda porque a moto havia quebrado no bairro Cidade Industrial, em Contagem. Paulo teria chamado o irmão e Cleiton, que eram motoboys, para acompanhá-lo. Amigos acreditam que os assassinos tenham abordado Alessandro e o forçado a ligar para Paulo, armando uma emboscada. Apenas uma, das quatro motos usadas pelas vítimas, foi encontrada na avenida Amazonas, na capital. Ainda na madrugada de sexta, homens arrombaram a casa de Paulo e reviraram tudo. De acordo com parentes, a folha de papel estava no bolso de Rogério. As famílias esperam que o caso seja solucionado rapidamente, temendo sofrer represálias. No dia da chacina, a principal hipótese da polícia era acerto de contas de tráfico de drogas. Essa foi a terceira chacina em Betim, em menos de seis meses. A cidade ocupa o quinto lugar no ranking dos municípios mais violentos do Estado, com taxa de 4,44 crimes violentos por 1 mil habitantes.
❚ ACIDENTES
Saldo violento nas estradas mineiras
CRISTINA HORTA
SUSTO
Carreta carregada com cimento tombou na BR-040, perto de Moeda
Três pessoas morreram em dois acidentes de carro, na tarde de ontem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No mais grave, o caminhão GZC 9252, de São Paulo, e o Gol GWB 7179, de Contagem, bateram de frente, na BR-381, município de Roças Novas, provocando duas mortes. A motorista do gol, Márcia Pimenta Gomes e a passageira Rejane Pimenta Gomes ficaram presas às ferragens e morreram no local. Outros três passageiros do gol sofreram várias fraturas e foram levados para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, na capital. As causas do acidente são desconhecidas. Em Esmeraldas, o motorista do Chevete GNH 9252, Jo-
sé Domingos Ramos, de 32 anos, morreu depois que o carro capotou. As duas passageiras não tiveram ferimentos.
BR-O4O Uma carreta scania, que transportava cimento, conduzida por Leonardo Lombardi, tombou por volta das 5h45 da manhã de ontem, na BR-040, próximo ao trevo de Moeda. O motorista contou que um pálio, que seguia em direção ao Rio de Janeiro, bateu em caminhão baú, e depois na carreta, que ia no sentido Belo Horizonte. Ele não conseguiu controlar o veículo, que virou. O automóvel estava com cinco mulheres, que sofreram lesões leves.
OBITUÁRIO PAULO SARAIVA FILHO Faleceu no dia 13 deste mês, aos 52 anos. Era filho de Paulo Saraiva e Maria de Lourdes Ferreira Saraiva. Casado com Neusa Costa Santos Saraiva, deixa os filhos Paulo Neto, Isabel e Antônio Emídio.
HEITOR NUNES DA MATTA Faleceu no dia 18 do mês passado, aos 81 anos. Deixa a esposa Carmem Dolores Aguilar Nunes e os filhos Sônia, Fátima, Alexandre, Jussara e Carmem. Missa de 30° dia hoje, na catedral de Guanhães.