O Vinho do Porto só tem um rival: F. C. do Porto O mítico estádio das Antas que em breve desaparecerá já tem nomeado o seu sucessor. Jorge Nuno Pinto da Costa ditou de sua lavra o nome de baptismo da nova casa portista. Estádio do Dragão, assim se chamará. Confesso que nunca me passou pela cabeça tal designação. Nem tinha que passar, convenhamos. Mas é pena que se tenha escolhido uma “assinatura” que pouco releva na história dos então “andrades”, hoje “dragões”. É verdade que o dragão está presente nas armas da “sempre invicta, nobre e leal cidade do Porto”, e integra o emblema do Futebol Clube do Porto. Apesar de ser uma “figura” mítica, o dragão não marca o imaginário, nem a história dos portistas. É um símbolo recente, da era “Pinto da Costa”, cujo significado só pode ser um. A “libertação” sem complexos face aos “mouros” e que começou justamente com essa outra figura já desaparecida e que foi José Maria Pedroto. Este é o verdadeiro “guru” de Pinto de Costa, aquele que um dia soltou o “grito de Ipiranga” dos portistas. A ele se deve tudo ou quase tudo que o Futebol Clube do Porto fez nestes últimos vinte a vinte e cinco anos. O “novo e refundado” Porto nasceu com José Maria Pedroto que teve um soberbo aluno e excepcional continuador – Pinto da Costa. Foi com Pedroto que o clube e a cidade começaram a ganhar auto-estima e a afirmar-se no plano nacional e internacional de forma incontestada e incontestável. Foi com José Maria Pedroto que chegámos à final da Taça das Taças com a Juventus. Infelizmente já muito doente não pôde dirigir, em campo, a equipa. Mas foi ele que traçou o plano da vitória que um árbitro, a que vulgarmente se chama “gatuno”, negou. Dois penáltis roubados ao F. C. Do Porto e o segundo golo da Juventus obtido de forma irregular. O Campeão soçobrou às mãos de um único homem, vestido de preto, mas não perante a poderosa Juventus. José Maria Pedroto merecia a honra e a glória daquela vitória antes de nos ter deixado. Tudo o que veio a seguir foi obra do Mestre. Durante muitos anos, até à vitória de Viena. Depois de Pedroto, até um “toco de vassoura” era campeão pelo Porto. Estava construída uma grande equipa e lançado um grande clube nos palcos internacionais.
Por tudo isto que aqui invoco, era merecida a homenagem a esse grande, entre os maiores, técnicos portugueses e mesmo mundiais. Pois foi nas Antas que Pedroto restituiu à família portista o orgulho de hoje ser dragão. Seria pois um acto de enorme nobreza, gratidão e humildade que Pinto da Costa se lembrasse agora de Pedroto. E todos os portistas o seguiriam na sua opção. Esta seria a grandeza que caracteriza os vencedores! Para mim, que nasci no dia da inauguração do Estádio das Antas, é com uma enorme saudade que vejo desaparecer a “Catedral”. Mas é a vida. E como a História não acaba aqui, estou de alma e coração com a nova “casa” do Futebol Clube do Porto. Que gostaria que fosse baptizada com outro nome. Estádio José Maria Pedroto. Esta seria a atitude que honraria o património da grande instituição que é o orgulho de milhões de portugueses. Lembrar e perpetuar a memória dos seus maiores. Mas não foi isso que sucedeu. Fico com a sensação amarga que Pinto da Costa prefere deixar páginas em branco no historial do Futebol Clube do Porto, ou rasgar algumas das mais inesquecíveis e emblemáticas. Ao jeito dos mesquinhos: Antes de mim o deserto, depois de mim o dilúvio! Mas não consegue, nem conseguerá nunca. Mesmo sendo também, por direito próprio, um dos maiores do meu clube tinha a enorme responsabilidade de não sofrer deste tipo de amnésia. Compreende agora, caro leitor, se o seu clube do coração é o nosso glorioso Futebol Clube do Porto, porque é que Pinto da Costa se “esqueceu” de Pedroto e se lembrou dessa bizarra designação de Estádio do Dragão. Pobre. Sem a carga afectiva e a alma de um nome grande! Como merecíamos e como merece o nosso Porto. Claro que Pinto da Costa, com a falsa humildade que se lhe conhece, sempre negou, antecipando-se, associar o seu nome ao novo estádio. Só para “tapar” outra qualquer hipótese. Nomeadamente a de Pedroto. Muito lhe custa a ele, Pinto da Costa, o nome que escolheu. O seu narcisismo fica ferido. Mas paciência! Esta é a factura da má consciência. E já agora uma pequena nota, para que tudo o que atrás disse seja perceptível. Um amigo meu, bem posicionado nas Antas, garantiu-me que alguém teria lembrado a Pinto da Costa o nome de Pedroto e que ele, de forma seca, terá
respondido: “Estás a brincar comigo”. Não posso garantir a veracidade. Vendo pelo mesmo preço que comprei. Por fim, um desejo. Que o Futebol Clube do Porto traga a Taça de Sevilha. Julgo que é muito justamente merecida. Onde quer que esteja, estou a ver o ar de felicidade do “Zé do Boné”. E se julgam que estou zangado com Pinto da Costa, descansem também aqueles que o querem ver pelas costas. Ele merece, como ninguém, erguer a Taça.