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Um dia todos irão para algum lugar.

Mas... para onde? A primeira pesquisa de experiência de quase morte baseada em testemunhos de inúmeras pessoas.

Nas bancas e livrarias!

Ou acesse www.escala.com.br /escalaoficial

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editorial Gláucia Viola, editora

Internação compulsória: entre a ética e a emergência

TÂNIA RÊGO/ AGÊNCIA BRASIL

O

combate à dependência química é uma constante em nosso planeta e sempre que acontecem ações públicas no Brasil que permeiam esse problema, reacende-se uma discussão antiga, que na verdade nunca FOISILENCIADA/FATODOMOMENTOOCORREUNACONHECIDAh#RACOLÊNDIAv EM3ÎO0AULO MASREmETEUMA SITUA¥ÎOPRESENTEEMTODOOPAÓS QUELEVANTAQUESTÜESASQUAISASOCIEDADECOBRARESPOSTASDElNITIVAS O que deve ser feito com as inúmeras cracolândias espalhadas em todo território nacional? Como devem ser tratados os dependentes químicos? A escolha governamental paulista incluiu, entre outras medidas, o pedido de autorização judicial para a realização das controversas internações compulsórias, que são formas legais para se internar uma pessoa mesmo contra sua vontade ou sob os seus protestos. A Justiça do Estado de São Paulo chegou a autorizar o pedido do governo no dia 26 de maio último, revogando-o dois dias mais tarde. Em seguida, a equipe da prefeitura anunciou que contrataria serviço de ambulâncias, que lCARIARESPONSÉVELPELOTRANSPORTEDEDEPENDENTESQUÓMICOSPARAOSLOCAIS  nos quais seriam examinados por uma equipe multidisciplinar. Esse grupo, então, avaliaria a necessidade ou não da internação compulsória. Os PORTA VOZESDOGOVERNOSEMPREPROCURARAMAlRMARQUETALPROCEDIMENTO seria aplicado, apenas, nos casos excepcionais, ou seja, não seriam regra, e para isso contariam com equipes multidisciplinares capazes de avaliar os quadros clínicos, com médicos, assistentes sociais, advogados, psicólogos, agentes de saúde e de segurança. !CONTECEQUEASITUA¥ÎO DEFATO ÏPOLÐMICAEAOTRATARDESSATRISTEEDIFÓCILREALIDADEÏNECESSÉRIOEVITARQUESE CAIAEMARMADILHASFÉCEISDERACIOCÓNIOSSIMPLISTAS ÌSVEZESATÏRASTEIROS EANÉLISESCARREGADASDEPAIXÎO QUE SEM dúvida, prejudicam a avaliação mais efetiva. O quadro é complexo e se torna ainda mais complicado na medida em QUESEOBSERVAOCLAMORPÞBLICOPORA¥ÜESRÉPIDASEDElNITIVAS ALIMENTADASPELAILUSÎODAERRADICA¥ÎODEUMDOS piores malefícios da sociedade moderna. A ética provoca uma imediata rejeição à adoção de categorias que falem em nome das pessoas. Dessa forma, se NÎOlCAREMBEMCLARASASCONSEQUÐNCIASDOREDUCIONISMO CARREGADASDEVALORESSOCIAIS IDEOLØGICOSECULTURAIS  CORRE SEORISCODEESCOLHERUMCAMINHOMARCADOPORUMAPERIGOSAAMBIVALÐNCIAAlRMAM SEE AOMESMOTEMpo, negam-se a preocupação e o valor dos sujeitos. Na verdade, é fundamental que a sociedade discuta o tema. No ENTANTO DEVE SETERSEMPREEMMENTEQUEASINTERNA¥ÜESPODEMSERNECESSÉRIASEJUSTIlCADAS SEINDIVIDUALMENTE e profundamente analisadas. Pessoas que usam drogas cronicamente vivem em permanente estado de emergência, que, em tese, autoriza, de certa forma, medidas também emergenciais. Nesse momento surge outra armadilha, que ÏACOMBINA¥ÎODEEMERGÐNCIAS NASQUAISASA¥ÜESPARAALIVIARMAL ESTARESATRAPALHAMUMAREmEXÎOMAISAPURADA e efetiva a respeito do problema. A seção Dossiê desse número da Psique Ciência&Vida apresenta um amplo material a respeito do assunto com o objetivo de elucidar a questão pelo olhar da Psicologia Social. "OALEITURAEBOAREmEXÎO 'LÉUCIA6IOLA www.facebook.com/PortalEspacodoSaber

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Se a ética não governar a razão, a razão desprezará a ética... José Saramago

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sumário CAPA

Ações de combate à dependência química reabrem antigas discussões sobre como tratar essa situação complexa

UT TERSTOCK SH IMAGEM DA CAPA:

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Internação compulsória e involuntária

28/08/2017

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MATÉRIAS Pequenos imperadores domésticos

08

A falta de limites na educação das CRIAN¥ASGERAMDIlCULDADEEMASSIMILAR as regras sociais inerentes à convivência

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Angústia na pós-modernidade

ENTREVISTA Tomás Bonomi e Bruno Espósito

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falam da atuação em casos graves que necessitam de uma elasticidade das linhas teóricas

!SOCIEDADEMUDOUSEUPERlL e a Psicanálise busca alternativas para aliviar as dores e angústias nesse novo cenário

A óptica sobre o feminino A articulação da problemática das representações sociais acerca do que é ser mulher

SEÇÕES

58

06 EM CAMPO 16 IN FOCO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 32 COACHING 34 LIVROS 50 CIBERPSICOLOGIA 52 NEUROCIÊNCIA

70

Discalculia e Acalculia Os discalcúlicos tem problemas com o conhecimento matemático. Já os acalcúlicos perdem habilidades já consolidadas

54 RECURSOS HUMANOS 56 PERFIL 64 DIVÃ LITERÁRIO 66 CINEMA 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE

Criação em conjunto O ser humano tem grande habilidade cerebral para criar sozinho e encontra ainda mais para criar em parceria

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giro escala

NOVO INDIVÍDUO

REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 129 Em mais um importante artigo publicado na edição 129 da revista &ILOSOlA, os professores Marcelo Cesar Cavalcante, mestre em Letras Vernáculas, e Rita de Cássia Silva Soares, doutora em Linguística, escrevem sobre os processos de argumentação e construção de cada cidadão. Para os acadêmicos, neste cenário de total mudança e transformação socioeconômica mundial, em que os teóricos da sociedade denominam a Era da Insegurança e da Incerteza, os elementos para a formação de um novo indivíduo, por meio da educação, vão ao encontro do preceito fundamental da Declaração dos Direitos Humanos que é o respeito à dignidade da pessoa humana. “As relações interpessoais são realizadas por trocas simbólicas caracte-

Em sala de aula: Discutir sobre uma escola sem partido pode?

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rizadas pela linguagem. É por meio da linguagem verbal que as pessoas trocam informações, compartilham crenças, opiniões, conhecimentos, constroem sua identidade e também (re)conhecem a identidade do outro. A linguagem é o primeiro elemento de mudança que deve SECONlGURARÌNOVAREALIDADEEAONOVO PERlLDEUMSUJEITODEDIREITOSEDEVERES  responsável e cidadão ético. Essa nova CONlGURA¥ÎO DA EDUCA¥ÎO EXIGE NÎO SØ a formação de conhecimento e informação, mas também é mister o desenvolvimento de processos formativos que levem à mudança de comportamentos, atitudes, mentalidade e valores dos difeRENTESSUJEITOSINCLUÓDOSNOPROCESSOEDU cativo”, descrevem no artigo idealizado especialmente para a capa desta edição.

DA ESPANHA PARA OS MOVIMENTOS SOCIAIS REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 71

Nova ordem urbana A problemática das migrações na História e na atualidade Tão irreal e verdadeiro Os caminhos com que a narrativa fantástica permeia e constrói a realidade

Convivendo com a

INCERTEZA COMO AS CIÊNCIAS SOCIAIS LIDAM COM A IMPERMANÊNCIA DAS COISAS E SEUS DESDOBRAMENTOS EM NOSSO DIA A DIA

As mudanças do PSB Da esquerda democrática ao centro pragmático Desenvolver e planejar a economia no Brasil As tentativas de Lula e Dilma sob um olhar teórico O que é propriamente religioso? Artigo debate necessidade de novas definições conceituais

ESTHER SOLANO FALA SOBRE A DINÂMICA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

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Para a maioria dos brasileiros, o NOME 'UADALAJARA REMETE Ì CIDADE MEXICANA SEDEDECINCODOSSEISJOGOS da épica campanha do tricampeonato mundial, quando Pelé, Rivellino, Tostão, Gerson, Jairzinho e outros craques brilharam no gramado do estádio Jalisco. Entretanto, na Espanha, localizado na Província de Castilla-La Mancha, EXISTE UM PEQUENO E ANTIGO MUNI cípio homônimo, fundado pelos árabes por volta dos séculos VIII e IX. Provinciana e religiosa, é terra natal de pintores, escritores E DA LÓDER SOCIALISTA 0URIlCACIØN #AUSA pié. É também nesse lugar que nasceu uma das principais intelectuais do momento – a socióloga e professora Esther 3OLANO 'ALLEGO $E ESTILO lRME NAS AR gumentações e gentil na fala, Esther é inmUENCIADORANOUNIVERSODACIBERPOLÓTICA e também dos movimentos sociais.

Esther rumou aos 19 anos para Madri. .ACAPITAL INICIOUUMAASCENDENTETRAJE tória acadêmica na Universidad Complutense, tornando-se graduada, mestra e doutora em Ciências Sociais. A pesquisadora parecia ter o destino traçado: embarcar rumo ao nosso país. Aqui ela faria a sua história – e também a História, sendo pesquisadora e participante ativa dos movimentos que abalam o Brasil desde 2013. Lecionou na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e atualmente é professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coautora de um livro sobre o movimento Black Bloc, Esther não foge à luta. Coloca suas ideias sem rodeios ou teorizações inócuas. “Temer no Planalto, Gilmar no STF, Joesley em Nova York. Rafael Braga na cadeia”, escreveu certa vez no Facebook. Entrevista completa na edição 71 da revista 3OCIOLOGIA. psique ciência&vida

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em campo

por Jussara Goyano

LINGUAGEM E PERFORMANCE LÍNGUA ESTRANGEIRA INFLUENCIA TOMADA DE DECISÕES. MAS DE QUE FORMA?

PARA SABER MAIS Sayuri Hayakawa, David Tannenbaum, Albert Costa, Joanna D. Corey, Boaz Keysar. Thinking more or feeling less? Explaining the foreign-language effect on moral judgment. Psychological Science, 2017. 6

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INTELIGÊNCIA MÚLTIPLA As habilidades cognitivas são positivamente relacionadas, o que permite aos pesquisadores resumir as habilidades das pessoas em uma ampla gama de domínios como um fator, conhecido como “g” ou “inteligência geral”. Em um novo estudo, cientistas comparam diferentes explicações propostas para o fator “g” e, após testes com 785 adolescentes, propõem que este ocorre de acordo com o desenvolvimento dos indivíduos, em um processo chamado de mutualismo, no qual as habilidades cognitivas se ajudam ao longo do amadurecimento. Melhores habilidades de raciocínio, por exemplo, permitem que os indivíduos melhorem seu vocabulário com mais rapidez – e melhores vocabulários estão associados a uma melhoria na capacidade de raciocínio. O achado favorecerá novas pesquisas de novos metódos educacionais e a lida com diversos distúrbios que possam afetar a “inteligência geral”. PARA SABER MAIS Rogier A. Kievit, Ulman Lindenberger, Ian M. Goodyer, Peter B. Jones, Peter Fonagy, Edward T. Bullmore, Raymond J. Dolan. Mutualistic coupling between vocabulary and reasoning supports cognitive development during late adolescence and early adulthood. Psychological Science, 2017; 095679761771078. www.portalespacodosaber.com.br

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IMAGENS: 123RF

Um estudo da Universidade de Chicago com a participação de cientistas de DIFERENTESNACIONALIDADESFOIALÏMDASPESQUISASANTERIORESQUEVERIlCARAMCOMO OUSODEUMASEGUNDALÓNGUAAFETAANOSSACOGNI¥ÎO1UEISSOINmUENCIAANOSSA tomada de decisões eles já sabiam. A atenção dos pesquisadores voltou-se, então, ao nosso desempenho emocional sob processamento do idioma estrangeiro em um momento de escolha. No experimento realizado, voluntários deveriam decidir se hipoteticamente matariam um indivíduo empurrando-o em frente de um trem para salvar outros cinco sujeitos, enquanto se comunicavam em sua língua nativa ou em um segundo idioma NOQUALFOSSEMmUENTES!QUELESQUESECOMUNICAVAMEMLÓNGUAESTRANGEIRASEMOS TRARAMMUITOMAISDISPOSTOSASACRIlCARAPENASUMDOQUEAQUELESQUEUSARAMSEU idioma nativo. Mais importante: eles não hesitaram em decidir por aquela morte. A conclusão inicial foi a de que, frente a dilemas cruciais como esse, o uso da língua estrangeira favoreceria uma decisão mais utilitária. Como essa decisão se liga ANOSSASEMO¥ÜESEACABABENElCIANDOUMMAIORNÞMERODEPESSOASEMPROLDA vida foi a grande questão a se investigar. Na visão dos pesquisadores, porém, o que parecia ser uma escolha centrada meramente na lógica do bem comum poderia também ser o uso da língua afetando nossa capacidade de prever cenários de forma mais emocional, ou nossa deliberação baseada em tabus de nossa própria cultura, espécie de memória afetiva de certa forma ligada a nossa língua nativa. Os cientistas testaram, então, outras hipóteses para saber se a decisão tomada envolvia mesmo tal lógica ou outros pontos críticos. Voluntários bilíngues, escolhidos de maneira a criar a mesma combinação de idiomas frente às várias situações apresentadas, continuavam sempre tomando a decisão mais utilitária. Mas suas motivações não eram exatamente o bem geral, mostrando que uma maior propensão à quebra de tabus culturais (no caso, matar ou ferir alguém) era o que estava em jogo. Os voluntários eram favorecidos pelo uso de uma língua que os distanciasse de suas raízes e dos valores culturais ligados a esse tipo de situação, oferecendo o gatilho lógico e emocional que ocasionaria a decisão mais utilitária. Resta saber, agora, se tal esquema prevalece também em cenários reais.

DIFERENÇAS ENTRE GÊNEROS

MULHERES TÊM CÉREBROS MAIS ATIVOS QUE OS DOS HOMENS

PARA SABER MAIS Daniel G. Amen, Manuel Trujillo, David Keator, Derek V. Taylor, Kristen Willeumier, Somayeh Meysami, Cyrus A. Raji. Gender-based cerebral perfusion differences in 46,034 functional neuroimaging scans. Journal of Alzheimer’s Disease, n. 1, 2017

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DIETA CONTRA O ENVELHECIMENTO INGERIR POUCAS CALORIAS GARANTE A MANUTENÇÃO DO RITMO CIRCADIANO E RETARDA O ENVELHECIMENTO EM RATOS

Comer menos e mais adequadamente parece ser receita de longevidade e juventude segundo pesquisa realizada com ratos e publicada recentemente na revista Cell. No estudo, conduzido por pesquisadores do Centro de Epigenética e Metabolismo da 5NIVERSIDADEDA#ALIFØRNIA OMECANISMOQUEINmUENCIAORITMO circadiano – ou o relógio biológico do corpo – é esmiuçado. É afetado pelo metabolismo da energia dentro das células, que, por sua vez, é afetado pelo o envelhecimento dos animais e pela dieta a que são submetidos. A equipe envolvida testou um mesmo grupo de camundongos aos 6 meses e aos 18 meses, extraindo amostras de tecido de seu fígado, órgão que atua como a interface entre nutrição e distribuição de energia no organismo. As células mais antigas PROCESSAVAMAENERGIADEFORMAINElCIENTEEORITMOCIRCADIANO do indivíduo era alterado. No entanto, em um segundo grupo de ratos idosos que receberam uma dieta com 30% menos calorias por seis meses, o processamento de energia nas células não foi alterado. Segundo os cientistas envolvidos, a situação pode ser extrapolada para o organismo humano e deve guiar estudos adicionais envolvendo pessoas para corroborar tais achados em nível celular. PARA SABER MAIS Guiomar Solanas et al. Aged stem cells reprogram their daily rhythmic functions to adapt to stress. Cell, v. 170, n. 4, p. 678, 2017. Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na Unifesp. E-mail: [email protected]

ARQUIVO PESSOAL

IMAGENS: 123RF

-AIS DE  MIL EXAMES DE INEUROIMAGENS lZERAM parte de estudo publicado recentemente no Journal of Alzheimer’s Disease, mostrando que os cérebros das muLHERES SÎO SIGNIlCATIVAMENTE MAIS ATIVOS EM MUITAS áreas do que os dos homens, especialmente no córtex pré-frontal, envolvido com foco e controle de impulsos, e na região límbica, ligada ao humor e à ansiedade. Os centros visuais e de coordenação do cérebro, no entanto, são mais ativos nos homens. As imagens eram tanto de pacientes saudáveis como daqueles com trauma cerebral, distúrbios bipolares, do humor, esquizofrenia / distúrbios psicóticos e transtorno DEDÏlCITDEATEN¥ÎOEHIPERATIVIDADE4$!( 5MTOTAL de 128 regiões do cérebro foram analisadas sob a realização de tarefas que exigiam concentração. Compreender diferenças entre as atividades cerebrais de homens e mulheres lança luz a distúrbios que afetam os homens e as mulheres de forma diferente. As mulheres têm taxas SIGNIlCATIVAMENTE MAIS altas de Alzheimer, depressão, e distúrbios de ansiedade, enquanto os homens têm mais TDAH e problemas relacionados a conduta e encarceramento. Segundo cientistas, OSACHADOSEMRELA¥ÎOAOAUMENTODOmUXOSANGUÓNEO do córtex pré-frontal nas mulheres podem explicar por que as mulheres tendem a apresentar maior empatia, inTUI¥ÎO COLABORA¥ÎOEAUTOCONTROLE/AUMENTODOmUXO sanguíneo nas áreas límbicas do cérebro das mulheres explicaria, em parte, por que elas são mais vulneráveis à ansiedade, depressão, insônia e distúrbios alimentares.

psique ciência&vida

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TOMÁS BONOMI E BRUNO ESPÓSITO

UMA NOVA

PROPOSTA Tomás Bonomi e Bruno Espósito fazem parte de uma geração de psicanalistas da era pós-escolástica, ou seja, se dedicam a uma leitura rigorosa de Freud e de outros psicanalistas sem se prender a uma única linha teórica

T

rajetórias semelhantes unem Tomás Bonomi e Bruno Espósito. Ambos, ao lado do colega Bruno Mangolini, comandam o conexoesclinicas.com.br. Logo na apresenTA¥ÎODOBLOG ÏPOSSÓVELOBSERVARADElNI¥ÎODOTRA balho por eles desenvolvido e um pouco da visão que têm sobre o universo da psique humana. “A clínica é como a subjetividade, não pode ser apreendida isoladamente, ambas existem a partir de suas ligações, seus elos, nexos e sentidos. Além disso, são feitas através de uma inclinação a algo, de um debruçar-se interessado. Suas condições de apreensão ocorrem essencialmente nas intersecções com o campo familiar, político, social, econômico e institucional. É entre essas forças que a clínica e a subjetividade se fazem, conectando os ELEMENTOSDISPERSOSECONlGURANDOUMAZONACO MUMv#OMESSAlLOSOlADEATUA¥ÎO ELESCRIARAM o blog, no intuito de estabelecer conexões com as pessoas que lidam com as variadas formas da subjetividade humana.

Bonomi é psicanalista, psicólogo formado na PUC-SP e acompanhante terapêutico. Mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP), com capacitação em Psicoterapia no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Atende crianças, adolescentes e adultos em consultório particular e faz parte da equipe de acompanhamento terapêutico do Instituto A Casa. Atuou por seis meses na Clínica Le Courtil, na Bélgica, junto a adolescentes com psicopatologias graves. Espósito também é psicólogo formado na PUC-SP e especialista em Saúde Mental pelo Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp. Atuou no campo da saúde mental pública e privada, tratando de pacientes com transtorno mental grave e seus familiares, por meio de diferentes estratégias de atendimento (psicoterapia individual, grupos terapêuticos, terapia de família etc.). Psicanalista, formado pelo Instituto Sedes Sapientiae, atualmente atua em consultório particular, em especial com crianças, adolescentes e adultos, e como psicólogo no Centro de Referência da Infância e da Adolescência (Cria-Unifesp). Lucas Vasques é jornalista e colabora nesta publicação.

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ARQUIVO PESSOAL DO ENTREVISTADO E 123RF

Por Lucas Vasques

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Bonomi e Espósito atuam como psicanalistas não só no setting do consultório, mas também em casos graves que necessitam de uma elasticidade da técnica

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POR EXEMPLO A RELAÇÃO DA PERVERSÃO COM A TRANSGRESSÃO, OS ATOS TRANSGRESSIVOS NA ADOLESCÊNCIA E A IMPUTABILIDADE DOS ESQUIZOFRÊNICOS DIANTE DA LEI.

PODE DETALHAR MAIS ESSA RELAÇÃO? BONOMI: Um dos pontos estruturantes da teoria psicanalítica refere-se à concep¥ÎODOSUJEITOCOMOUMSEREMCONmITO Aliás, essa concepção de Freud rompeu radicalmente com o pensamento hegeMÙNICO DA ÏPOCA lM DO SÏCULO 8)8 E COME¥ODO88 QUECONCEBIAOINDIVÓDUO como fruto da razão na esteira da tradição iluminista. Mas do que se trata esse CONmITO 0ARA &REUD  O SER HUMANO TERIA em sua essência o imperativo de satisfazer todas as suas necessidades mais primitivas, seria, grosso modo, um modelo de satisfação análogo ao dos animais. Para conseguir viver em sociedade, o ser humano teve que se organizar de maneira a encontrar alguma forma de artifício que mediasse as relações. As leis foram, portanto, condição necessária para a existência da raça humana enquanto civilização e, como lei fundamental, Freud nomeia a INTERDI¥ÎOAOINCESTO/CONmITOINERENTEÌ espécie humana residiria entre a necessidade que temos de realizar nossos desejos e as leis que nos impedem disso, mas que, sem elas, viveríamos em uma situação de

barbárie – pré-civilizatória. A partir dessa ontogenia da espécie humana, a Psicanálise irá se debruçar de diversas maneiras sobre as relações das leis com a subjetividade. Jacques Lacan foi um dos psicanalistas que produziram os trabalhos mais expressivos sobre essa temática. Uma das maiores contribuições de Lacan refere-se à formulação de categorias psicopatológicas a partir do referencial das estruturas psíquicas divididas em neurótica, perversa e psicótica. Para Lacan, uma das formas encontradas para diferenciar as estruturas psíquicas reside na relação que os sujeitos têm com a lei. O sujeito neurótico (a gran-

As leis foram condição necessária para a existência da raça HUMANA/CONmITO residiria entre a necessidade que temos de realizar nossos desejos e as leis que nos impedem disso, mas que, sem elas, viveríamos em uma situação de barbárie

A primeira realização do bebê é a formação de uma unidade narcísica, o que faz com que ele consiga uma primeira distinção entre eu e o outro

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de maioria das pessoas) teria conhecimento das leis e optaria ou não por obedecê-las, sabendo dos riscos que corre e, muitas vezes, acompanhados do sentimento de culpa. Dentro dessa estrutura haveria uma INlNIDADEDEDINÊMICASDERELA¥ÎOCOMA lei, desde aqueles que, para se organizar mentalmente, necessitam ter uma vida inteira baseada no seguimento de toda e qualquer lei, passando pelas pessoas que, PARASEAlRMAR PRECISAMIRCONTRAASLEIS  ou até mesmo os indivíduos que tentam MODIlCARASLEISAOSEUFAVOR0ARA,ACAN  na estrutura perversa, a relação dos sujeitos com a lei residiria em uma dinâmica regida pela ótica do gozo. Tais indivíduos viveriam sobre a égide das leis, mas, contrariamente aos neuróticos, teriam prazer e não medo ou culpa ao transgredi-las. Aqui temos que tomar cuidado para não cairmos em formas simplistas, como dizer que na estrutura perversa os indivíduos seriam sujeitos sem caráter, “monstros sem coração”. Há uma grande complexidade nessa temática, e o que gostaria de dizer é que a forma como são vivenciados prazer e dor nesses indivíduos ainda levanta muitos enigmas para diversas áreas do conhecimento. Uma referência interessante para OLEITORQUESEINTERESSAPELOTEMAÏOlL me Ninfomaníaca, de Lars Von Trier (2013). Por último, queria falar um pouco sobre a estrutura psicótica. Aqui também residem grandes polêmicas no que concerne às relações com a lei, justamente pelo fato de que nesses casos uma concepção de lei mais ampla que estamos utilizando se confunde e se entranha com as leis jurídicas stricto sensu. Nessa estrutura psíquica, quando alguém se encontra em um episódio psicótico, isto é, com vivências delirantes e alucinatórias, tal sujeito não compartilha da mesma realidade que todos. Sendo assim, nesses casos a discussão sobre a noção de responsabilidade perante as leis torna-se muito difícil e complexa.

DO PONTO DE VISTA DA PSICANÁLISE, VOCÊ ACREDITA NA CHAMADA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA DO BEBÊ, NA QUAL O PAI É RESPONSÁVEL POR UMA RUPTURA NA RELAÇÃO DUAL

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E 123RF

EM UM DE SEUS ARTIGOS, VOCÊ DIZ QUE NA PSICOLOGIA E NA PSICANÁLISE EXISTEM MUITOS ESTUDOS QUE RELACIONAM AS CATEGORIAS PSICOPATOLÓGICAS COM A LEI, COMO

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MÃE-BEBÊ, O QUE REPRESENTARIA A ORIGEM DO PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO DAS LEIS?

BONOMI: Para a Psicanálise, ao nascermos não chegamos ao mundo com uma unidade do eu já constituída. Este seria um processo complexo que passaria por algumas etapas. Em poucas palavras, diria que inicialmente há o momento em que o bebê não se percebe como um indivíduo, sendo assim sua mãe e/ou cuidador principal é vivenciado como sua extensão. A primeira realização do bebê seria o estabelecimento de uma unidade narcísica delimitada por seu corpo, assim conseguiria haver uma primeira distinção entre eu e o outro. Mesmo essa distinção tendo sido realizada, o bebê vivencia o mundo não mais como sua extensão, mas ainda como se fosse o centro de tudo. Para o bebê, sua mãe existiria exclusivamente para a função de satisfazer os seus desejos, obedecendo à fórmula choro igual a leite. Nesse sentido é que o pai seria o responsável pela ruptura da relação dual MÎE BEBÐ .A VERDADE  PRElRO PENSAR EM uma função paterna, ou seja, qualquer que seja a pessoa que intercede nessa relação dual e imprima ao bebê uma primeira marca de interdição: sua mãe não existe só para você. Esse momento seria fundamental no desenvolvimento do psiquismo, quando o bebê passa a vivenciar limites/leis que lhe foram impostos de fora e passa a ter que lidar com o fato de que ele não é tudo para o outro. Nesse sentido, uma primeira de muitas experiências de castração.

OUTRO

TEMA ABORDADO COM PROFUNDI-

OS

JOGOS ELETRÔNICOS, EM SEU ATUAL NÍ-

VEL DE DESENVOLVIMENTO, EXTRAEM CADA

EM CONTRAPARTIDA, OS JOGOS PODEM FUN-

VEZ MAIS SEUS CENÁRIOS E SITUAÇÕES DA

CIONAR COMO ESPAÇOS OPORTUNOS PARA O

NOSSA PRÓPRIA VIDA COTIDIANA.

DE

JOVEM “ENSAIAR” OS DESAFIOS QUE ENFREN-

FORMA MAXIMIZADA, TENTANDO TORNAR

TARÁ AO LONGO DA VIDA, ESTIMULAR SUA

ESSAS SITUAÇÕES MAIS

MAS

“APETITOSAS”

DO

CRIATIVIDADE E ATÉ DESENVOLVER SUA CA-

QUE A REALIDADE, PROVOCANDO UM EFEI-

PACIDADE DE COOPERAÇÃO?

A QUESTÃO DOS JOGOS ELETRÔNICOS E SEUS

TO DE SEDUÇÃO EM QUEM JOGA E ATÉ UM

EFEITOS, ESPECIALMENTE ENTRE OS JOVENS.

AFASTAMENTO DA REALIDADE.

COMO RESUMIRIA O CONCEITO DE -REALIDADE, NO QUAL SÃO CRIADAS

HIPER-

HOJE PODEM LANÇAR OS JOGADORES EM UM

CÓPIAS

CAMINHO SEM VOLTA DO HIPER-REAL?

BONOMI: Sim! Nos jogos, experimentamos emoções que, normalmente, não conhecemos no dia a dia. Como nas brincadeiras de faz de conta, vivemos através de personagens (avatares) situações fantásticas que podem estimular a criatividade. Algumas pesquisas feitas com jogos digitais apontam para um considerável desenvolvimento do pensamento através da solução de enigmas e a gestão de diversas tarefas ao mesmo tempo, além do estímulo do trabalho em grupo por meio dos modos multiplayer.

PERFEITAS DE SITUAÇÕES E CONTEXTOS, QUE ACABAM SUBSTITUINDO A VIDA REAL?

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E 123RF

ilusão. Daí ser uma característica própria desse conceito uma confusão entre real e imaginário. De acordo com Baudrillard, um dos teóricos mais importantes sobre essa temática, a hiper-realidade diria respeito a um mundo cópia, um mundo do pragmatismo das coisas, um mundo sem ilusões.

de fatores até a concretização de um quadro de dependência. Digo moralista, pois, QUANDOAlRMAMOSQUEUMJOGOPOSSALEVAR a um caminho sem volta, estamos dando toda a potência a um objeto e excluindo a parte do indivíduo na questão. E não faltam DISCURSOS E NARRATIVAS AlRMANDO QUE SE um adolescente joga muito um simulador de guerras ele será levado a comprar uma arma e sair atirando nas pessoas. SimplesMENTE NÎO HÉ NENHUMA PESQUISA CIENTÓlca que comprove isso. Contudo, sabemos que um jovem que realmente joga diversas horas todos os dias, associado a quadros depressivos, em que suas relações interpessoais são muito frágeis e/ou violentas, de modo que os jogos são sua única fonte de prazer e de contato afetivo, tal situação poderá gerar uma confusão entre o real e o virtual. São situações raras, mas existem. No entanto, ressalto mais uma vez que não foram os jogos, por si só, que causaram tal cenário. Um fenômeno mais comum diz respeito aos jovens que se refugiam de situações que lhes causam ansiedade e medo, jogando videogame ou navegando na internet. Ao jogar, encontramos uma segurança que não temos na realidade. Não é raro encontrar adolescentes que preferem estar em CASAJOGANDODOQUEENFRENTAROSDESAlOS que as relações sociais lhes impõem.

É

DADE POR VOCÊ DENTRO DA

PSICANÁLISE

Para a Psicanálise, ao nascermos não chegamos ao mundo com uma unidade do eu já constituída. Este seria um processo complexo que passaria por algumas etapas. Inicialmente o bebê não se percebe como um indivíduo, sendo assim sua mãe é vivenciada como sua extensão

BONOMI: O hiper-real diz respeito a uma realidade que seria mais do que o real. Explico-me: na hiper-realidade, com a ajuda da tecnologia, os espaços e objetos são neurolinguisticamente programados de modo que você possa se sentir na vida tal como ela é, quando, na verdade, está imerso em uma www.portalespacodosaber.com.br

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OS JOGOS DE

BONOMI: Não, os jogos por si só não têm a potência de lançar os jogadores em um caminho sem volta. Para mim, esse é um pensamento ingênuo ou um tanto moralisTA3ERIAOMESMOQUEAlRMARQUEOÉLCOOL e as drogas são causadores da dependência química e do alcoolismo, quando, na verdade, sabemos que tais fenômenos são bastante complexos e que envolvem ampla gama

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PODE CITAR EXEMPLOS CONCRETOS

DE SITUAÇÕES COTIDIANAS EM QUE A HIPER-

-REALIDADE SE FAZ PRESENTE? ESPÓSITO: Exemplos de hiper-realidade não faltam no mundo contemporâneo: a comida industrializada é vendida como a mais caseira do mundo, “igualzinha à da vovó”, mas nem sequer tem os ingredientes originais; os reality shows que aparentam mostrar cenas absolutamente cotidianas de uma família ou um grupo, embora essas pessoas sejam personagens milimetricaMENTEPRODUZIDOSEMAQUIADOSOSlLMES DAINDÞSTRIAPORNOGRÉlCA QUEREPRODUZEM e exaltam a atividade sexual a ponto de o consumidor investir mais no simulacro do QUENOSEXOEMSIEOSPERlSDE)NSTAGRAM das celebridades, mas também os das pessoas comuns seriam, a meu ver, o exemplo mais perfeito e atual do hiper-realismo. O QUE PODE SER FEITO PARA EVITAR QUE O JOVEM SE APRISIONE NO HIPER-REAL E COMO PROCEDER CLINICAMENTE DEPOIS QUE ISSO ACONTECER?

BONOMI: Não há uma fórmula dada sobre como prevenir os jovens desse “aprisionamento no hiper-real”. Contudo, normalmente os jovens que manifestam esses SINTOMAS APRESENTAM GRAVES DIlCULDADES afetivas. No meio virtual encontram uma forma mais segura de viver, pois sentem-se oprimidos pelo contato direto com outras pessoas e pelos imperativos sociais,

O sujeito neurótico (a grande maioria das pessoas) teria conhecimento das leis e optaria ou não por obedecê-las, sabendo dos riscos que corre e, muitas vezes, acompanhados do sentimento de culpa 12

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Para Lacan, na estrutura perversa, a relação dos sujeitos com a lei residiria na dinâmica regida pela ótica do gozo. Tais indivíduos viveriam sobre a égide das leis, mas, contrariamente aos neuróticos, teriam prazer e não medo ao transgredi-las

e originária no paciente. Digo única e originária, pois, diante de uma falência subjetiva, em que toda a economia libidinal do sujeito está voltada ao virtual, o estabelecimento de um contato afetivo “ao vivo” tem a potência de produzir novas aberturas e possibilidades de existência, ou seja, expandir o universo de ligações pulsionais, tornando esse psiquismo um pouco menos repetitivo e preso às velhas relações objetais. Nesse sentido, é fundamental a presença de um terapeuta que acredite e reconheça que sim, há vida naquelas telas e que o sujeito em questão se encontra em intenso sofrimento.

VOCÊ

ACHA QUE A SUPEREXPOSIÇÃO DAS

CRIANÇAS, AINDA NA PRIMEIRA INFÂNCIA, A TABLETS E COMPUTADORES PODE INFLUENCIAR, DE FORMA SIGNIFICATIVA, EM UMA DE-

como ter que trabalhar, estudar, ter amigos e manter relações familiares. Já no meio virtual, podem desenvolver uma vida mais excitante e criativa, além de conseguirem conquistar feitos que não conseguiriam por outros meios, como por exemplo um relacionamento afetivo, ser reconhecido por um grupo de pessoas como um ótimo jogador, ser um youtuber e até mesmo ter sua vida curtida por diversas pessoas através das redes sociais. Portanto, penso que uma forma de prevenção seria a de estimular e proporcionar situações e momentos em que as relações afetivas possam se desenvolver. Enquanto pais, temos a grande responsabilidade de não só estabelecer reLA¥ÜESAFETIVASCOMNOSSOSlLHOS QUELHES assegurem um mínimo de segurança narcísica, como também demonstrar o quanto podemos desfrutar de nossas próprias relações interpessoais. No que tange aos casos de jovens que já desenvolveram esse quadro (lembrando aqui que estou falando de casos graves, os quais não se apresentam com tamanha frequência), acredito que a direção de tratamento sempre passará pelo desenvolvimento de uma relação transferencial com o terapeuta. Ao conseguirmos constituir uma relação mínima de empatia ECONlAN¥A PENSOQUEESSAPROTO RELA¥ÎO pode imprimir uma marca subjetiva única

PENDÊNCIA VIRTUAL FUTURA?

BONOMI: ! PRINCÓPIO  NÎO POSSO AlRMAR isso, pois precisaremos ainda esperar mais alguns anos, talvez décadas, para poder mensurar os efeitos da exposição das crianças, ainda na primeira infância, a tablets, celulares e computadores. De qualquer forma, é praticamente consenso entre OS PROlSSIONAIS DA SAÞDE DE QUE HAVERIA malefícios – desenvolvimento de ansiedade e irritabilidade – em uma exposição a esses aparelhos numa idade anterior aos dois anos. Inclusive, é essa a recomendação da associação de pediatria, tanto dos EUA QUANTO DO "RASIL 0OSSO AlRMAR QUE UMA criança dessa idade perde muito ao trocar momentos de relações afetivas reais por momentos de lazer e distração diante da tela. No início da vida, as crianças aprendem, majoritariamente, através da imitação de seus cuidadores. Esse contato e a troca real de experiências são fundamentais para o desenvolvimento psíquico infantil. Logo, somente com uma idade mais avançada a criança tem capacidade de aprender algo com os aparelhos. Parece-me plausível a HIPØTESEDEQUECRIAN¥ASQUElZERAMMUI to uso da tela nos momentos de espera, vazio e ócio – ocasiões às quais os pais normalmente lançam mão dos gadgets – terão MAIS DIlCULDADES EM LIDAR COM SITUA¥ÜES www.portalespacodosaber.com.br

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VOCÊ

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de frustração, assim tornando-se pessoas mais irritáveis e ansiosas. Agora, me pareCEPRECIPITADOAlRMARQUEESSASSITUA¥ÜES levarão a uma dependência virtual futura. Temos que tomar cuidado ao julgar determinados comportamentos: por exemplo, a forma pela qual usamos o celular, hoje, com certeza seria mal interpretada e qualilCADADEZANOSATRÉS

O FILÓSOFO E SOCIÓLOGO FRANCÊS JEAN BAUDRILLARD É CONSIDERADO O CRIADOR DO CONCEITO DA HIPER-REALIDADE. ELE DISSE CERTA VEZ O SEGUINTE: “NÃO VEJO O BRASIL COMO UM PAÍS HIPER-REAL. TALVEZ PORQUE O BRASIL NÃO POSSA PASSAR PELO PRINCÍPIO DE REALIDADE. PORTANTO, SE ELE AINDA NÃO PASSOU PELA REALIDADE, NÃO PODE SE TORNAR HIPER-REAL, PORQUE O HIPER-REAL É MAIS QUE O REAL, UM TIPO DE CONFUSÃO ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO”. COMO VOCÊ OBSERVA E ANALISA ESSA AFIRMAÇÃO? BONOMI: Ao fazer essa observação, Baudrillard explica que antes de pensar o Brasil como hiper-real: “O Brasil está mais próximo do jogo da ilusão, da sedução dessa relação dual, mas confusa... E que não há essa forma de abstração que é a hiper REALIDADE %NlM  ESSA FORMA DE TRANSmutação no vazio, de perda de substância, de referência, de perda de tudo isso”. Para OlLØSOFO ACULTURAEOMODODEVIDADOS brasileiros estariam bastante calcados em elementos simbólicos, tais como a dança, o jogo, os cultos, a música e na forma como os brasileiros habitam seus corpos. A parTIR DESSES ELEMENTOS  "AUDRILLARD CLASSIlCA o Brasil como o “império das ilusões”, no SENTIDOAlRMATIVODOTERMO COMOSEAINda houvesse um espaço subjetivo que não estivesse inteiramente subjugado à materialidade das coisas. Característica esta que seria encontrada com maior facilidade nos países hiper-industrializados, como OS %5! !CREDITO QUE TAL AlRMA¥ÎO FOI feita no contexto da Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). De lá para cá, posso dizer que vivemos outra realidade no âmbito do desenvolvimento da internet e dos aparelhos eletrônicos. Ou seja, as diferenwww.portalespacodosaber.com.br

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ças citadas acima, que Baudrillard via entre OS PAÓSES  A MEU VER  DIMINUÓRAM SIGNIlcativamente, muito porque as formas de aplicação da hiper-realidade parecem ter se desenvolvido e se disseminado mundo afora. Acho interessante a ideia da cultura brasileira como portadora de algo do primitivo, que ainda não foi completamente DOMESTICADO E MASSIlCADO PELO CAPITALISmo moderno, desde que esse primitivo não seja visto a partir da dicotomia civilização x barbárie. Porém, talvez por ter vivido minha vida inteira em uma megalópole como 3ÎO0AULO TENHODIlCULDADESEMENXERGAR ESSA TAMANHA DIFEREN¥A PROPOSTA PELO llósofo entre a cultura brasileira e a cultura dos centros urbanos do hemisfério Norte.

DESDE A DÉCADA DE 1990, QUANDO A INTERNET ERA RESTRITA A UMA MINORIA, A DIVISÃO DO MUNDO EM REAL E VIRTUAL JÁ ERA TEMA DE TEXTOS DE

BAUDRILLARD. ANTES

MESMO DA POPULARIZAÇÃO DA REDE E DE SUAS FERRAMENTAS MAIS INTERATIVAS, COMO AS REDES SOCIAIS, O AUTOR JÁ IMAGINAVA AS CONSEQUÊNCIAS QUE ESSA MIGRAÇÃO PARA O ON-LINE ACARRETARIA NA VIDA DAS PESSOAS.

DE

por exemplo, aproximando quem está distante, favorecendo articulações políticas e comunitárias, permitindo expressões criativas e singulares das pessoas. Por outro lado, essa potência virtual pode ser usada – e frequentemente o é – como espaço de compensações sintomáticas e defensivas de quem navega. Na internet, temos um vasto espaço de procrastinação, de escusas para não encontrar alguém de carne e osso, de expressão da agressividade mais primitiva através da proteção do anonimato, ou mesmo de moldar o mundo à nossa maneira, EMTESEhDRIBLANDOvOCONmITOQUEÏVIVER em um mundo de diferenças, pois nas redes VOCÐ PODE lLTRAR AQUILO QUE VÐ 1UANTO A isso, pelo menos por enquanto, não há solução possível dentro da própria internet, ou seja, a pessoa precisará de alguma forma trabalhar suas questões e, por consequência, repensar seu uso do mundo virtual.

QUE FORMA VOCÊ COMPREEN-

DE ESSA MIGRAÇÃO E QUAIS OS EFEITOS NO COMPORTAMENTO PSICOLÓGICO DAS PESSOAS?

ESPÓSITO: !INTERNETEMAISESPECIlCAMENte as redes sociais podem potencializar e acelerar diversas aptidões humanas, como,

QUAL A SUA VISÃO, COMO ESPECIALISTA, SOBRE AS RELAÇÕES FORMADAS NA ATUALIDADE POR SITES E APPS? ESTAMOS MESMO EM UMA TRANSIÇÃO IMPORTANTE DE NOVA CULTURA DE COMPORTAMENTO? BONOMI: Penso que os sites de relacionamento e os apps ajudam a propiciar novos encontros. Temos desde a chance de conhecer pessoas do mundo inteiro, que compartilham de nossos interesses, até mesmo a possibilidade de encontrar com

Uma criança perde muito ao trocar momentos de relações afetivas reais por momentos de lazer e distração diante da tela de um tablet ou celular

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SEU PELA

BLOG CITA UMA PESQUISA REALIZADA

UNIVERSIDADE

DE

HARVARD,

QUE

EXAMINA DO QUE DEPENDEM A SAÚDE E A FELICIDADE.

PODE

DETALHAR OS RESULTA-

DOS DESSE ESTUDO?

ESPÓSITO: Os resultados da pesquisa apontam que a força e a qualidade dos relacionamentos interpessoais levam a uma vida mais saudável e feliz. A solidão é nociva à saúde mental e física dos seres humanos, assim como relacionamentos frios ou ex-

NAS BANCAS!

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Nos jogos, experimentamos emoções que, normalmente, não conhecemos no dia a dia. Como nas brincadeiras de faz de conta, vivemos através de personagens (avatares) situações fantásticas que podem estimular a criatividade cessivamente conturbados. Em suma, estar ligado amorosamente a um parceiro, amigos próximos e/ou familiares tendem AINmUENCIARNOSESTADOSDESATISFA¥ÎOEFE licidade, bem como no enfrentamento de adversidades ao longo da vida. É interessante que, como essa pesquisa dá tempo ao tempo, um fenômeno subjetivo como o amor se destaca como fator decisivo na qualidade de vida, frente a tantos outros índices que foram avaliados: condições físicas, carga genética, desempenho econômico e laboral.

SOB

PSICANÁLISE, COMO PODE SER DEFINIDA A FELICIDADE? ELA É UMA OU VÁRIAS, DEPENDENDO DE COMO AS PESSOAS A OLHAM E MANTÊM EXPECTATIVAS SOBRE ELA? ESPÓSITO: A felicidade é um estado, não é algo perene. Ao longo de uma vida, você passa por momentos em que se sente feliz, mas são momentos de relance, passageiros, pois nossa condição de ser desejante e de CONmITOIMEDIATAMENTEJÉNOSLAN¥AAUM NOVODESAlOOUAUMANOVAFORMADEVER a situação. Em nossa cultura, existe uma exigência de perseguição a uma suposta felicidade, mas esta poderia ser representada como uma miragem: você a avista, mas quando a alcança, não era nada daquilo que vislumbrou. Por isso, nos remetemos Ì PESQUISA DE (ARVARD SEU ÐXITO PROlS SIONAL E lNANCEIRO NÎO REPRESENTA NENHU ma garantia de felicidade, e nesse sentido mais vale estar atento às formas de amar e se relacionar. Ao invés de vislumbrar a FELICIDADECOMOUMlM UMAMETAASERAL cançada, é fundamental atentar ao meio, ao PROCESSO!DISPOSI¥ÎODEENCARARDESAlOS  de experimentar sensações novas, o humor ou mesmo a capacidade de enxergar a positividade existente, mesmo em momentos difíceis pelos quais passamos, são alguns dos indícios de que nossa energia psíquica ESTÉmUINDO APTAACONEXÜESERECONEXÜES  CONlGURANDO UMA SITUA¥ÎO DE DISPOSI¥ÎO ao bem-estar ou à felicidade. A ÓTICA DA

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poucos cliques um parceiro(a) sexual a poucos metros de casa. Contudo, não necessariamente são encontros com grande profundidade afetiva. Existe, sim, a possibilidade de encontrarmos “o amor de nossas vidas” ou grandes amigos via internet, mas essa não é a regra. Apesar de enxergar na cultura atual de comportamento formas mais fugazes de relação, encontros que se encerram em si mesmo, não penso que as RELA¥ÜES HUMANAS SE MODIlCARAM DRASTI camente com o advento dessas tecnologias. Acho complicado concluir o que quer que seja sobre esse assunto, pois as mudanças são extremamente velozes; é provável que em pouco tempo toda e qualquer relação seja moldada e intermediada pela tecnologia. Contudo, o que ainda vejo no CONSULTØRIOSÎOPESSOASQUETÐMDIlCULDA de em construir relações e sofrem pela falta do “olho no olho”.

das complicações do analisando, no que DIZRESPEITOÌmUIDEZDESUALIBIDOEASEU POSICIONAMENTODIANTEDOCONmITOnCONdição inerente ao ser social. A possibilidade de pensar junto esses bloqueios, o que já é uma forma de ligação afetiva, pode devolver parte da liberdade psíquica necessária para “estar mais inteiro” nas relações sociais, especialmente amorosas.

AS

REDES SOCIAIS SÃO CONHECIDAS COMO

O TERRENO DA FELICIDADE.

COMO VÊ ESSA

EXPOSIÇÃO E ATÉ QUE PONTO ESSA FANTASIA CONTRIBUI PARA O EFEITO INVERSO?

Na internet, há espaço de agressividade através da proteção do anonimato, ou mesmo de moldar o mundo p  HG oIƒ \    hG

PARA SE CHEGAR PELO MENOS A UM CERTO GRAU DE FELICIDADE , DIZEM ESPECIALISTAS, É NECESSÁRIO MANTER QUALIDADE NAS RELAÇÕES AFETIVAS, OU SEJA, É FUNDAMENTAL

MANTER

RELACIONAMENTOS

SÓLIDOS E CONSISTENTES.

ENTRETANTO,

O SER HUMANO ESBARRA O TEMPO TODO EM DIFICULDADES QUE EXIGEM SUSTENTAR

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ESSES RELACIONAMENTOS.

COMO SUPERAR

ESSAS DIFICULDADES?

ESPÓSITO: Esse é o ponto: nossa disposição ao bem-estar e à felicidade depende de uma situação muito elementar, que está na base da condição humana, que é a consistência das relações afetivas. Somos,

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portanto, necessariamente dependentes do outro para extrair qualquer tipo de prazer, mesmo no contexto de algum projeto profundamente pessoal. Ainda assim, o relacionar-se – em especial de maneira inTENSAnÏUMDOSMAIORESDESAlOSQUEENfrentamos ao longo da vida, muitas vezes motivando um sofrimento que pode levar à ruptura e ao isolamento. A Psicanálise é uma das estratégias presentes em nossa cultura para cuidar justamente disso, criando ou resgatando aquilo que Freud denominou como “a capacidade de amar e trabalhar”. A relação transferencial com o analista permite que advenham muitas

ESPÓSITO: As redes sociais motivam uma exigência de “estar feliz o tempo inteiro”, que não condiz em absoluto com nossa realidade cotidiana. A contrapartida desse ideal que se persegue e nunca se alcança é justamente uma autocrítica feroz, como se houvesse algo de muito errado consigo próprio, que impedisse de alcançar essa tal felicidade. Além do sofrimento oriundo dessa tendência autoacusatória, alimenta-se o sentimento de não pertencer a esse “grupo social das pessoas felizes”, que sequer existe a não ser como, VOCÐBEMDElNIU UMAFANTASIA#OMISSO  pode haver um recolhimento progressivo até um estado que, frequentemente, se nomeia como depressão. No limite, a rede social acaba por desconectar o sujeito, o que é a antítese de sua proposta.

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in foco

por Michele Müller

COMPREENDIDO O RESPEITO OFERECE O SUPORTE SOCIAL NECESSÁRIO PARA SERMOS LIVRES. MAS É A COMPREENSÃO QUE NOS RESGATA DA SOLIDÃO E NUTRE O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO 16

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O conforto de ser

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S

entir-se compreendido é diferente de se sentir respeitado. Respeito está entre os deveres, entre o que deve ser aprendido, ensinado e exercitado pela autoridade racional que controla as reações. A compreensão não se impõe: surge das estruturas geralmente escondidas nas profundidades do inconsciente; da disposição de se desprender dos conceitos e def inições que moldam o ego enquanto se oferecem ao outro, de forma generosa, tempo e atenção. Identif icar aquele que compreende é também uma capacidade que escapa das análises do intelecto. Exige, da mesma forma, tempo, atenção e entrega: só nos sentimos compreendidos quando nos mostramos por inteiro, sem o desgaste de sustentar o que planejamos ser. Nos sentimos compreendidos quando temos a coragem de revelar as fraquezas para descobrir que, ref letidas no outro, elas parecem menores e menos estranhas. O respeito oferece o suporte social necessário para sermos livres. Mas só a compreensão, encontrada nesses espaços entre nosso ideal e nossas falhas, nos resgata da solidão, possibilitando conexões mais gratif icantes. E solidão não signif ica estar sozinho – uma condição fundamental para se chegar ao nível de introspecção necessário para o autoconhecimento e capacidade de sustentar relacionamentos saudáveis. Signif ica não se sentir compreendido, não pertencer, estar desconectado de um mundo visto a partir de uma perspectiva em que ele se apresenta pouco acolhedor. Essa solidão pode ser necessária em uma certa dose, para que nos f ique evidente a necessidade de aprimorarmos as relações. Mas pode ser também a fonte dos estados depressivos mais devastadores e de diversos problemas de saúde. Segundo pesquisa recente publicada no Perspectives on Psychological Science, o isolamento

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social, seja real ou percebido subjetivamente, aumenta em 29% a chance de mortalidade precoce. A distorção da realidade provocada pelo isolamento nos leva a interpretar muitas reações alheias como rejeição, o que torna dif ícil a quebra desse ciclo. Mas se nos permitirmos correr riscos é possível descobrir que, de uma forma tão antagônica como qualquer grande verdade, é justamente nesses momentos de maior vulnerabilidade que as mais valiosas relações de amizade se constroem ou fortalecem.

RESPEITO ESTÁ ENTRE O QUE DEVE SER APRENDIDO, ENQUANTO A COMPREENSÃO, ENCONTRADA NOS ESPAÇOS ENTRE NOSSO IDEAL E NOSSAS FALHAS, POSSIBILITA CONEXÕES GR ATIFICANTES NATUR AIS O escritor irlandês John O’Donohue, em seu livro The Book Of Love, lembra que a amizade verdadeira é a “que melhor ref lete a tua alma”, aquela que traz o conforto da compreensão, uma das formas que o amor assume. “Quando você se sente compreendido, você está em casa. A compreensão nutre o sentimento de pertencimento. (…). O amor é a única luz que pode ler verdadeiramente a as-

sinatura secreta da individualidade do outro.” Talvez a mais vital forma de conexão, justamente por oferecer compreensão, a amizade pode não ganhar o valor que merece em um mundo que, cada vez mais, cultua as manifestações românticas do amor e amplia a def inição da palavra amigo para muito além das relações signif icativas e engrandecedoras. Para o escritor Andrew Sullivan, em Love Undetectable: Notes on Friendship, Sex and Survival, essa espécie de negligência da nossa cultura com relação à amizade, a falha no reconhecimento desse vínculo como instituição social crítica e como experiência moral enobrecedora, possivelmente se dá pelo fato de se desenrolar, quase sempre, de forma silenciosa e gradativa. Silêncio que se quebra quando sofremos a perda inesperada de um amigo. “Quando somos forçados a pensar sobre aquilo o que realmente importa é que começamos a considerar o que a amizade signif ica de verdade”, escreve. Assim como nas relações românticas, esperar que um amigo compreenda todos os lados da nossa individualidade é sustentar a amizade sobre a delicada balança que traz a expectativa de um lado e a frustração do outro – um equilíbrio que depende mais do nosso próprio amadurecimento que dos acontecimentos externos. A vantagem da amizade é que ela se distribui livre e levemente entre cada pessoa que, em determinados momentos e situações da vida, nos enxerga como realmente somos. Quando damos a esse amor o valor que ele merece, temos sempre um amigo que nos revela, sem precisar declarar, que explicações são desnecessárias: ele compreende.

Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br

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psicopositiva

por Lilian Graziano

A glamourização da CHATICE

A

Psicologia é múltipla por natureza. Engana-se quem atribui tal característica apenas em FUN¥ÎO DE SUAS CENTENAS DE LINHAS TEØRICAS .OSSA CIÐNCIA TAMBÏM DISPÜEDEVÉRIASTEORIASSOBREMOTIVA¥ÎO  liderança e até mesmo sobre personaliDADE  O QUE PODE SER DIFÓCIL DE COMPRE ender para alguém não acostumado com

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as características das ciências humanas. 0OR EXEMPLO  POUCOS TEMAS FORAM MAIS controvertidos na Psicologia do que o da inteligência. Por décadas considerada como o exato sinônimo do raciocínio LØGICO MATEMÉTICO LEIA SE 1)  A INTE ligência passou a ser explicada, a partir dos anos 80, por meio de capacidades distintas (inteligências múltiplas) que va-

riavam da chamada inteligência linguística à (pasmem!) naturalística, na qual inteligente seria o indivíduo capaz de reCONHECEREVALORIZARAmORAEAFAUNA*É nos anos 90, com a teoria da inteligência emocional (IE), a conciliação entre razão e emoção passa a ser vista como uma valiosa maneira de tornar o indivíduo um ser competente do ponto de vista social, www.portalespacodosaber.com.br

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em tempos de politicamente correto eles se multipliquem com espantosa rapidez. !S CARACTERÓSTICAS ACIMA MENCIONA DASPODEMTORNARBASTANTEDESAlADORAA TAREFA DE IDENTIlCARMOS UM PSEUDOINTE LIGENTE 0ORÏM  HÉ DE SE CONSIDERAR QUE O MAIOR DESAlO DESSA TAREFA CONSISTE JUSTAMENTENOFATODEHAVERCERTASSEME lhanças entre tal espécime e as pessoas de inteligência genuína. !LÏM DE UM DISCURSO ELABORADO  NA medida em que muitas vezes a capaciDADE DE FAZER PERGUNTAS DESCREVE ME lhor a inteligência do que a prontidão para respondê-las, é compreensível que algumas características humanas, como a capacidade crítica e o chamado espírito questionador, sejam vistas como sinônimos de inteligência, o que até certo PONTO FAZ TODO SENTIDO -AS APENAS ATÏ CERTOPONTO!SUPERVALORIZA¥ÎODACRÓTI ca e do espírito questionador pode levar a nada mais do que a glamourização não da inteligência, mas de algo bem menos SOlSTICADOQUEISSOAMAISPROSAICADAS CHATICES )SSO  AO LADO DO QUE JÉ DISCUTI nesta coluna e a que chamo de glamourização da tristeza (que explico como HERAN¥A BYRONIANA  ESTARIA POR REFOR¥AR o comportamento de hordas de sujeitos chatos e depressivos, exatamente aqueles a quem chamo de pseudointeligentes, que continuarão a existir enquanto houVERPESSOASQUEACREDITAMQUEAFELICIDA de é uma bênção dos mansos, daqueles que pensam menos, que criticam menos e que, portanto, teriam menos a contribuir COMASOCIEDADE#OMOSEOMAUHUMOR FOSSEUMAVANTAGEMEVOLUTIVA COMOSEO OTIMISMONÎOFOSSETAMBÏMRESULTADODE UMA PROFUNDA ANÉLISE CRÓTICA ACERCA DAS POSSIBILIDADESDEÐXITO#OMOSEOMUN DOFOSSEOUBRANCOOUPRETO ENÎOUMA COLE¥ÎODEPOSSIBILIDADESQUASEINlNITAS de cinzas... e de azuis, é claro!

Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. [email protected]

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psicopedagogia

por Maria Irene Maluf

Ferramentas da

EDUCAÇÃO

A

inteligência é construída pela riqueza de estímulos que a criança recebe no dia a dia, pela afetividade, atenção, interação e envolvimento de seus pais, assim como pelo seu tempo organizado com atividades adequadas, qualitativa e quantitativamente à idade, por normas de comportamento claramente estabelecidas, por rotinas e limites que desenvolvem as noções de hierarquia e lhe dão segurança e autoestima. O cérebro humano tem inegável superioridade no quesito de conceber e utilizar ferramentas. Como inicialmente não éramos providos de grande velocidade para a caça, depois das ferramentas, que nos permitiram extrair vegetais, construímos os primeiros instrumentos PARASUPRIRESSADIlCULDADEEPODERMOS obter carne através da caça. Passamos para uma alimentação rica em proteínas, especialmente a cozida, que promoveu um extraordinário desenvolvimento de nosso cérebro, e o homem criou então a sua ferramenta mais espetacular: a linguagem falada, que impulsionou a transmissão dos conhecimentos, inclusive mais tarde, na forma escrita. Ferramentas nos fazem progredir também em educação. Mas é preciso ponderações. É comum vermos nas revistas, na internet, na TV muitos artigos e pro-

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gramas com aconselhamentos sobre educação infantil, quase todos interessantes a um tipo de público em particular: os pais. É grande o mérito desse trabalho, que ajuda muitas famílias, alertando-as e orientando-as quanto à forma como CONDUZEMACRIA¥ÎODESEUSlLHOS SUB sidiando nesse assunto tão importante quanto delicado. 1UANDOESCRITOSPORPROlSSIONAISSÏ rios, experientes, com anos de estudo e prática na área, constituem material de inegável utilidade e valor. São verdadeiras ferramentas, pois, em linguagem acessível, traduzem e levam para a experiência do dia a dia intrincadas teorias e resultaDOSDEPESQUISASCIENTÓlCASNASÉREASDA educação, da Psicologia, entre outras. Por isso, podem e devem ser ouvidas, lidas e aproveitadas. Mas essas orientações feitas de modo genérico jamais eliminam a neCESSIDADEDEUMAREmEXÎOEADEQUA¥ÎOÌ realidade de cada família e cada criança. %NEMDABUSCADEUMPROlSSIONAL QUAN do as dúvidas dos familiares impõem siTUA¥ÜESCADAVEZMAISCONmITUOSAS A máxima “cada caso é um caso” se aplica perfeitamente bem à educação, dada a singularidade do ser humano, desde o momento de seu nascimento – senão antes – e durante os primeiros anos. É no início da vida que todo aparato genético e neurológico, em conta-

to com as experiências vivenciadas no meio ambiente, desenvolve cada criança cognitiva, social, biológica e emocionalMENTE  CONSTRUINDO UMA CONlGURA¥ÎO COMPORTAMENTALQUEDIlCILMENTEPODE RÉSERMODIlCADAMAISTARDE Como cada cultura e cada família têm uma forma diferente de vivenciar essas questões e um tipo distinto de ambição educacional, o leque da diversidade, já imenso frente às questões biológicas e emocionais, se multiplica. Por essa razão, os mais importantes aconselhaMENTOS PROlSSIONAIS  REGRAS E NORMAS  que em tese foram pensados para favorecer a educação das crianças, não devem ser tomados como uma bula de remédio que cura qualquer doença, porque isso não funciona dessa forma. As peculiaridades do ser humano passam pela genética, pelos aspectos culturais trazidos pela origem da família, pelo MOMENTOAFETIVO SOCIAL lNANCEIRO CULTU ral, por condições de saúde física e mental, que delimitam características e determinam necessidades diferenciadas de compreensão e de ações educativas, principalmente nos primeiros cinco anos de vida. Se assim não fosse, gêmeos seriam exatamente iguais, e todos sabemos que não é assim: o contato e a troca com o meio e a maneira como cada qual recebe essa INmUÐNCIAVIVENCIADANASEXPERIÐNCIASDE www.portalespacodosaber.com.br

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PESQUISAS RECONHECIDAS MOSTRAM QUE A CONSTRUÇÃO DA INTELIGÊNCIA É INFLUENCIADA POR ASPECTOS GENÉTICOS E AMBIENTAIS EM MEIO A UM COMPLEXO DE TROCAS DE EXPERIÊNCIAS DE VÁRIAS ORDENS

IMAGENS: 123RF E SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL

OS ACONSELHAMENTOS PROFISSIONAIS, REGRAS E NORMAS, QUE VISAM FAVORECER A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS, NÃO DEVEM SER TOMADOS COMO UMA BULA DE REMÉDIO QUE CURA QUALQUER DOENÇA vida, sejam sensoriais, motoras, psíquicas, cognitivas, vão moldar pessoas diferentes, que precisam de um olhar personalizado, de observação e educação pensadas especialmente para elas. Em educação, há ferramentas importantíssimas, que são os valores socialmente aceitos pela cultura onde a criança crescerá e que fazem parte dos padrões éticos e morais de comportamento dos cidadãos, das famílias. Até aí, todo aconselhamento de bom senso é bem-vindo, assim como os de hábitos gerais de saúde e higiene, de conservação de alimentos, datas de vacinação etc., feitos estes últiMOSPELOSPROlSSIONAISDASAÞDE www.portalespacodosaber.com.br

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Mas – e essa é a diferença – há coNHECIMENTOS ESPECÓlCOS  FERRAMENTAS individualizadas, cujo domínio se circunscreve a especialistas da educação e da Psicopedagogia e que, para serem bem aplicados, não dispensam o contaTO PROlSSIONAL DIRETO COM CADA FAMÓLIA e sua criança, sua história, objetivando resolver as questões e desenvolver toda potencialidade infantil.

Adquirir destreza nessas ferramentas especializadas, de forma aprofundada, exige longos estudos e anos de prática: como motivar, modelar, reforçar comportamentos positivos, desenvolver mudanças no campo da aprendizagem e do comportamento, de forma séria, diretiva EElCAZ¡UMTRABALHOPROlSSIONAL SIN gular, que não pode ser substituído por aconselhamentos genéricos. Então, qual a importância deste e TANTOSOUTROSARTIGOSESCRITOSPORPROlS sionais de diferentes áreas, para orientar as famílias? Respondo aqui: são, antes de TUDO  REmEXÜES OU ALERTAS  QUE BUSCAM sinalizar, de forma generalizada, a ajuda mais indicada aos pais quando a dúvida ÏARESPEITODAEDUCA¥ÎODOSlLHOS

Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. [email protected]

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Imperadores DOMÉSTICOS Ao longo dos anos foi surgindo uma geração de crianças mimadas e autoritárias, sem limites definidos, que está intimidando e exaurindo pais e educadores

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ritos, birra, jogar-se no chão, mandar e bater encorpam a trama de comportamentos das crianças sem limites defi nidos. A presença dessas crianças na prática clínica vem aumentando, encaminhadas pela escola ou trazidas pelos pais, que se encontram exauridos emocionalmente. Mas o que de fato está acontecendo com as crianças para se comportarem de maneira autoritária, mandona e desrespeitosa com os pais e professores? Um dos fatores apontados por psicólogos e pedagogos (2015) são as mudanças socioculturais da última década, que levaram os pais a terem menos tempo para permanecer com os fi lhos e, por isso, ficam mais propensos a aceitar as birras e a superproteger, compensando, assim, a sua ausência. Outro condicionante é o modelo de educação autoritária, na qual os pais foram submetidos, ou seja, ambientes de muita repressão,

mágoas e culpa. Para fugir dessa matriz e não replicá-la, muitos pais acabam afrouxando as rédeas e tornam-se reféns emocionais dos fi lhos ao serem lenientes com caprichos e birras deles. Quando os pais são indulgentes, os filhos desenvolvem a crença de que tudo podem e transformam-se em imperadores domésticos, cujo comportamento é transferido para a sala de aula e na relação com demais colegas.

Lilian Zolet é psicóloga e psicoterapeuta. Pós-graduada em Saúde Pública, com ênfase na Saúde da Família, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental. É autora do livro Síndrome do Imperador: Entendendo a Mente das Crianças Mandonas e Autoritárias e coautora do livro TCC em Crianças e Adolescentes: Guia de Referência de Ferramentas e Estratégias Terapêuticas, com o qual ganhou o prêmio Bernard Rangé, instituído pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).

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O médico psiquiatra e referência em matéria de comportamento humano no Brasil, Içami Tiba (2010), afirma: “Os pais, não sabendo ser pais, estão sendo dominados por crianças temperamentais, que querem fazer o que querem, e os pais não têm condições de impor limites e disciplina, porque temem perder o amor dos fi lhos. Isso não é pai que se preze, porque ele se torna refém do seu medo e o filho pequeno acostuma a reinar, a mandar nos pais”. Pode-se imaginar que quando a criança não aprende com os progenitores que ela não pode ter tudo o que deseja, no seu tempo e ao seu modo, terá dificuldade em assimilar as regras sociais inerentes à convivência. Com isso, a probabilidade desse infante infringir as regras sociais será alta. É possível observar isso na escola, a exemplo de a criança xingar o professor, roubar brinquedos, não aceitar as orientações, bater nos colegas, não querer fazer as tarefas, mentir e outros tantos comportamentos muitas vezes negligenciados pelos pais. Tais pais têm dificuldade em dizer “não” e inserir consequências para os comportamentos errados da criança com medo de ferir ou traumatizar emocionalmente. O efeito para essa falta de www.portalespacodosaber.com.br

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Por Lilian Zolet

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Pode-se imaginar que quando a criança não aprende com os seus progenitores que ela não pode ter tudo o que deseja, no seu tempo e ao seu modo, terá dificuldade em assimilar as regras sociais inerentes à convivência social Para Rutter apud Kaplan (1997), existem quatro modelos de pais: 1) Autoritários: caracterizados por posturas rígidas e regras inflexíveis. 2) Permissivos: caracterizados por posturas indulgentes e ausência de limites. 3) Indiferentes: caracterizados por posturas negligentes e falta de envolvimento. 4) Recíprocos: caracterizados por posturas de cooperação e compartilhamento na tomada das decisões, com um comportamento dirigido de modo racional (limites definidos).

limite é que os pais estão ensinando ao fi lho que ele pode ter tudo e que os outros vão servi-lo para suprir suas necessidades, tornando-os verdadeiros imperadores domésticos. O médico Içami Tiba (2010) ressalta: “Os fi lhos dessa geração foram criados sem noção de padrões de comportamento e limites, formando uma geração de “príncipes” e “princesas” com mais direitos do que deveres, mais liberdade do que responsabilidade, mais “receber” do que “dar” ou “retribuir”, colocando voz de mando na casa, na escola, com os amigos e na sociedade”. O termo síndrome do imperador ou imperador doméstico tornou-se popular pelos profi ssionais da área da saúde, principalmente por psicólogos, pedagogos e pediatras, para elucidar os comportamentos de mando, birra e agressividade de algumas crianças, que submetem os pais aos seus caprichos. O sistema diagnóstico mais amplamente utilizado pelos profi ssionais, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), classifica esse repertório de comportamentos disfuncionais (padrão frequente e persistente de humor raivoso/irritável, questionador/desafiante 24

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ou de índole vingativa, com duração de pelo menos seis meses, preenchendo ao menos quatro sintomas de qualquer das categorias descritas no manual) como transtorno desafiador de oposição (TDO), compondo a classe dos transtornos disruptivos.

Transgressão de normas

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s transtornos disruptivos são conhecidos pelos profissionais da área da saúde como sendo os comportamentos associados à transgressão de normas, desafiadores e antissociais, que causam muito incômodo nas pessoas por serem problemas externalizantes, de grande impacto no ambiente social, em geral com implicações severas (Koch; Gross, 2005; Veiga, 2007). Dessa maneira, crianças disruptivas geram sentimentos negativos muito fortes nos outros, como raiva, frustração e ansie-

dade, ocasionando prejuízos sociais graves (Friedberg; McClure, 2001). Os imperadores domésticos lideram a casa, xingam os pais, babás e professores, escolhem a comida que vai ser feita, definem o que deve ser assistido na TV, a hora de ir dormir e acordar, as atividades do dia, se querem ou não fazer a tarefa da escola e estudar para a prova. Também mandam nas brincadeiras fazendo com que as demais crianças obedeçam às suas ordens, choram e se atiram ao chão, batem a cabeça na parede, jogam os alimentos ou cospem no rosto dos pais, agridem e ameaçam psicologicamente os progenitores quando seus caprichos não são atendidos. Geralmente, esses comportamentos costumam apresentar relevância por volta dos 7 anos de idade. Entretanto, o desrespeito e a desobediência começam a aparecer bem antes. Cabe lembrar

A presença de crianças que adotam comportamentos agressivos e cheios de vontade na prática clínica vem aumentando, encaminhadas pela escola ou trazidas pelos pais

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ŒModelos de pais Œ

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que toda criança em algum momento de sua trajetória vai desobedecer alguma orientação. Isso faz parte da curiosidade e do ciclo de aprendizagem do infante. Quando se trata da síndrome do imperador tais comportamentos são frequentes e intensos, resultando em sérios prejuízos nas relações interpessoais, afetando a casa, a escola e os amigos. Em crianças entre 2 e 3 anos, a desobediência é comum, pois ela é muito pequena e a percepção do real e dos próprios sentimentos ainda é inadequada. Entretanto, é justamente nesse estágio que os pais devem ajudar a criança a organizar e a administrar as emoções e os comportamentos. Para isso, os pais devem adotar algumas posturas orientativas para que a criança aprenda padrões de comportamentos mais adequados (Calçada, 2014). Os pais são os primeiros exemplos para a criança, e esta molda seus comportamentos de acordo com o que absorve e assimila das pessoas e dos ambientes onde convive. Quando os pais não orientam a criança ou até mesmo quando validam o erro, esses comportamentos ditos como disfuncionais aumentam de intensidade até chegar à desobediência total, ocasionando a síndrome do imperador. Se não corrigidos, a criança poderá desenvolver o transtorno de conduta ou mesmo se transformar em uma personalidade antissocial na adultidade. Do ponto de vista dos teóricos psicodinâmicos, a origem dos comportamentos disfuncionais se dá pela qualidade do relacionamento da criança com seus pais. Se os pais são indulgentes, os filhos crescem acreditando que podem fazer qualquer coisa, sem responder pelos efeitos. Enquanto que se os pais são abertamente restritivos, as crianças se desenvolvem acreditando que, para satisfazer suas necessidades, devem tomar o que desejam, independentemente das consequências. Nessas situações, o elemento comum é a frustração. E, em muitos casos, a frustração leva à agressão (Holmes, 1997). www.portalespacodosaber.com.br

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Na escola, o problema se manifesta em xingar o professor, roubar brinquedos, não aceitar as orientações, bater nos colegas, não querer fazer as tarefas e mentir

O termo síndrome do imperador ou imperador doméstico tornou-se popular, principalmente por psicólogos, pedagogos e pediatras, para elucidar comportamentos de mando e agressividade de crianças que submetem os pais aos seus caprichos Já os pesquisadores da aprendizagem sugerem que os comportamentos inadequados são aprendidos pela imitação e gratificação. Holmes (1997) comenta que diversas pesquisas em Psicologia indicam que indivíduos que observam agressão em outros, subsequentemente desempenham mais atos de agressão. Nessa mesma linha, pesquisas evidenciaram que mães que usaram comportamentos mais agressivos na educação dos filhos tiveram, em geral, crianças mais agressivas do que as que usaram métodos menos hostis. Ou seja, a punição somente pareceu promover mais agressividade em vez de reduzi-la.

Vínculos

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psiquiatra e psicólogo Bowlby (1989) comenta que todos os seres humanos estabelecem vínculos afetivos fortes uns com os outros desde os primeiros anos de vida. É por meio da qualidade desse vínculo inicial que a

criança modela a percepção de si mesma, do outro e do mundo, refletindo diretamente nos modelos de relacionamentos futuros. Para a autora Rodrigues (2015), as pessoas que cuidam da criança transmitem de modo consciente ou inconsciente informações que darão a base ou alicerce para o desenvolvimento da personalidade do infante. Por meio do embalar, do cuidar, do pegar, do falar os adultos estão apresentando o mundo para a criança. Se os pais são afetivos, cuidadosos e pacientes, a criança acredita que o mundo é seguro e a sensação de segurança é aprendida. Entretanto, se há negligência nos cuidados primários, falta de incentivo e afeto, olhar punitivo demasiado, ambiente agitado e falta de limites realistas, a criança aprende que o mundo é perigoso, estressante, e a instabilidade será instaurada por meio de esquemas disfuncionais. psique ciência&vida

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Os imperadores domésticos lideram a casa, xingam os pais, babás e professores, escolhem a comida, definem o que deve ser assistido na TV, a hora de dormir e acordar, se querem ou não fazer a tarefa da escola e estudar para a prova Em síntese, os esquemas disfuncionais são padrões emocionais e cognitivos autoderrotistas iniciados no desenvolvimento desde cedo e repetidos ao longo da vida. Em grande medida, a dinâmica familiar de uma criança é a dinâmica de todo o seu mundo remoto (Young, 2008). Outras influências, de amigos, escola e cultura ao derredor, tornam-se cada vez mais importantes à medida que a criança se desenvolve e podem contribuir para o desenvolvimento de esquemas. Entretanto, não serão tão profundos e poderosos quanto os esquemas formados no berço familiar. Devido a esse fator, ressalta-se a importância do protagonismo e exemplarismo dos pais no cenário da família. Grande parte dos pais comete erros na educação de seus fi lhos, porque re-

Com estímulos saudáveis e a orientação quanto aos limites realistas, aos poucos a criança vai criando novas formas de olhar a si mesma, os outros e o mundo

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força os comportamentos inadequados da criança, muitas vezes de maneira inconsciente, na tentativa de dar proteção e afeto. Porém, tal postura é deslocada e prejudicial. Um exemplo disso é quando a mãe dá o doce que a criança deseja, enquanto esta se joga no chão e chora compulsivamente. O que a criança aprendeu com essa atitude da mãe? “É com escândalo que posso ter tudo o que quero.”

Mudança

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utra situação é quando o fi lho considerado travesso, um belo dia, obedece a seus pais prontamente. Por sua vez, os pais falam, “não fez mais que a obrigação” e ficam bravos pelos comportamentos anteriores. O que a criança aprendeu com essa atitude dos pais? “Não adianta me esforçar,

eu nunca vou dar orgulho para os meus pais.” Quando não valorizamos as posturas positivas da criança, ela tende a não repetir os acertos. Quando os pais discutem, brigam e xingam na frente da criança, o que a criança está aprendendo com os pais? Ela aprende a ter raiva e ansiedade e replica tais impulsos nas relações com os outros. Outro aspecto importante de mencionar é que há casos em que os pais se esforçam para orientar quanto aos valores morais e éticos, inserindo a disciplina no cotidiano, conjuntamente com o afeto. Entretanto, a criança demonstra comportamentos de maldade e crueldade. Mas como explicar isso? Estudos da Neurologia, Neurociências e Psicologia abordam que não há um único fator que leva a criança a desenvolver tais comportamentos. Mas, sim, um somatório de aspectos ambientais, mesológicos e genéticos. Ou seja, há crianças que devido à falta de orientação quanto aos limites agem assim, mas há outras que possuem essa atitude devido aos aspectos genéticos. Diante de toda essa gama de teorias e pesquisas, cabe a seguinte reflexão: como é possível saber quais fatores estão interferindo no comportamento da criança? Primeiramente, é essencial buscar a orientação de psicólogos, pediatras e psiquiatras, pois estes possuem ferramentas terapêuticas que podem otimizar o diagnóstico preciso quanto aos fatores mencionados e, acima de tudo, darão orientações para a resolução do problema da criança e da família. Pois nenhuma criança é igual à outra e não há receita de bolo em se tratando da mente humana. Mas é possível auxiliar essa criança? Sim. Por intermédio dos estímulos saudáveis, como o reconhecimento dos talentos da criança, a orientação quanto aos limites realistas e o fornecimento de um ambiente acolhedor, estável e estimulante. Com isso, pouco a pouco a criança vai criando novas formas de olhar a si mesma, os outros e o mundo. www.portalespacodosaber.com.br

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INFANTIL

PARA SABER MAIS

CINCO TAREFAS ESSENCIAIS PARA A SAÚDE PSICOLÓGICA DOS FILHOS

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Por isso é importante ter em mente que pais com ausência de limites, com posturas rígidas ou, até mesmo, que demonstram falta de envolvimento com os filhos são indicadores para a criação de imperadores domésticos.

Pais recíprocos

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ual tipo de pai, então, seria o ideal? Os chamados “pais recíprocos”. Eles cooperam com os fi lhos, compartilham suas decisões, têm limites definidos, coerência na educação e conseguem manter um relacionamento aberto com as crianças. O ideal é equilibrar dois fatores: a validação pelo bom

e acordo com o psicólogo Jeffrey Young (2008), há cinco tarefas primárias da educação parental essenciais para a saúde psicológica e emocional dos filhos: 1) Conexão e aceitação: estabelecer vínculo seguro com a criança; fornecer estabilidade, cuidado e aceitação. 2) Autonomia e desempenho: respeitar e propiciar a autonomia da criança, assim como validar seu desempenho, suas habilidades e talentos. 3) Limites realistas: orientar quanto às regras de casa de modo assertivo e afetivo, esclarecendo sobre posturas adequadas e inadequadas. 4) Auto-orientação: incentivar a curiosidade, o desenvolvimento de novas habilidades, mantendo sempre o diálogo, o incentivo e os limites realistas. 5) Autoexpressão: dar abertura para a criança expressar seus sentimentos, por intermédio da escuta ativa.

Se os pais são afetivos e pacientes, a criança acredita que o mundo é seguro. Entretanto, se há negligência, falta de incentivo, olhar punitivo demasiado, a criança aprende que o mundo é perigoso, estressante comportamento e a aplicação de limites realistas pelo comportamento indesejado; tudo isso dentro de um ambiente terno e carinhoso. Dessa maneira, ao serem observados na criança comportamentos assíduos de birra, mando e desrespeito em diversas situações, assim como dificuldade dos pais em lidar com o fi lho, de-

ve-se procurar rapidamente um psicólogo. Esse tratamento poderá realizar testes específicos, como propor psicoterapia para a criança e psicoeducação para os pais. Nesse sentido, cabe a reflexão da frase do famoso fi lósofo romano, Sêneca (4 a.C.): “A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”.

REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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ŒTranstorno de conduta Œ Conjunto de alterações comportamentais apresentado, especialmente, em adolescentes que são agressivos, desafiadores e antissociais, o transtorno de conduta também faz com que o jovem viole os direitos básicos do outro. Assume uma face mais grave quando comparado ao transtorno desafiador opositivo. Com maior incidência em pessoas do sexo masculino, acredita-se que cerca de 9% dos meninos e 4% das meninas com menos de 18 anos sofram do problema. www.portalespacodosaber.com.br

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CALÇADA, A. Comportamentos agressivos na primeira infância. Revista Psique, capa, ano IX, ed. 108, p. 26, 31, São Paulo, dez. 2008. FRIEDBERG, R. D.; MCCLURE, J. M. A Prática Clínica de Terapia Cognitiva com Crianças e Adolescentes. Porto Alegre: Artmed, HOLMES, D. Psicologia dos Transtornos Mentais, ., São Paulo: Artmed, NOLTE, D. L.; HARRIS, R. As Crianças Aprendem o que Vivenciam, p. 1, 2, 14, 15. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. RODRIGUES, M. Educação Emocional Positiva: Saber Lidar com as Emoções É uma Importante Lição, ., ,Novo Hamburgo: Sinopsys, TIBA, I. Disciplina na Medida Certa, p. 28, 29, 108. São Paulo: Integrare, YOUNG, J. Terapia Cognitiva para Transtornos da Personalidade, 3. ed., p. 22, 25, 27-35, 64. Porto Alegre: Artmed, 2003. Box psique ciência&vida

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MODERNIDADE

ANGÚSTIA:

a patologia da vida pós-moderna

A sociedade contemporânea mudou o perfil do homem, e a Psicanálise é um caminho no qual o sujeito busca alternativas para aliviar suas dores e criar uma responsabilidade por si e também pelos outros nos. As mudanças contínuas que acontecem no mundo estão defi nindo o modo de ser do homem pós-moderno. Freud, criador da Psicanálise, em sua obra memorável de 1930, coloca que o homem tem sua própria natureza de lidar com o “mal-estar da civilização”, e a forma de amenizar esse estado está centrada no estabelecimento de relações saudáveis entre os seres, que começam com as relações parentais. Para que haja uma constituição psíquica saudável é preciso um modelo familiar equilibrado, pautado no afeto amoroso, no amparo e na lei que interdita a demanda de gozo infi ndável do infante. A criança nasce totalmente dependente de um adulto, este que mantém sua sobrevivência, e daí surge a constituição psíquica que se dá na primeira infância (0 a 9 anos). Isso

Araceli Albino é doutora em Psicologia pela Universidad Del Salvador (Buenos Aires, Argentina). Presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo – SINPESP. Pós-graduação na PUC em “Psicanálise e linguagem”. Especializações em: Psicoterapia/Psicodinâmica de adultos e adolescentes; Psicopatologia Psicanalítica e Clínica Contemporânea; Professora e Coordenadora do curso de Formação em Psicanálise do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Psicanalíticas.

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significa que a criança precisa de uma relação afetiva que a ampare, proteja e signifique o mundo interno e externo. E nesse processo é necessário que o adulto imponha limites que protejam a criança, garantindo sua evolução física e psíquica. É o sujeito adulto que faz isso, nenhuma outra coisa substitui essa relação. Mesmo havendo o estabelecimento desses laços, as pessoas estão fadadas a lidar com as frustrações, com a dor, com a incompletude; nas relações humanas, algo sempre escapa, pois todos são seres culturais. A cultura impõe suas condições, ninguém fica fora dela. Pode-se observar esse movimento ao longo da história da humanidade. Por exemplo, pode-se citar o modelo da sociedade vitoriana, que predominou até o início do século XX, que era um modelo de sociedade repressora, impunha valores morais rígidos, fundados no poder patriarcal. A sociedade era organizada de uma forma vertical, pois a lei maior era do “pai”, e não podia ser questionada. Essa organização social deixou seus

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sociedade pós-moderna vem se transformando de uma forma galopante. O homem que a opera é um ser tomado pela sua própria ânsia de sempre se superar e está sentindo na pele os reflexos de sua criação. De um lado tem-se o avanço científico e tecnológico, que facilita a vida do homem, e de outro lado tem o dilema de ter que enfrentar os efeitos colaterais de sua própria criação. Hoje, as pessoas se deparam com uma sociedade narcísica, onipotente, onipresente, onisciente, centrada no modelo do capitalismo selvagem, que está deixando o sujeito suspenso no estado de desamparo, pois acabou por centrar-se apenas em si mesmo, esquecendo de que existe um outro que é essencial em uma relação entre huma-

Por Araceli Albino

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Freud anuncia que o ser não é o da consciência, é determinado por uma “coisa”, denominada inconsciente, que imputa suas ações. Ele diz que o homem é um ser de desejo e não da consciência

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ŒHumanidade perdida? Œ Em linhas gerais, as características do pós-moderno passam pelo desencanto social em relação à religião, política e ciência. A ideia de verdade e progresso passou a ser questionada. A comunicação e o consumo são aspectos essenciais dessa etapa da humanidade, e o que importa é o imediato, o aqui e agora. Existe um grande interesse pelo alternativo, e o sujeito substitui os projetos coletivos por ações absolutamente individualistas.

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rastros registrados nas neuroses (histeria, neurose obsessiva e fobias). Hoje, houve uma ruptura com o modelo vitoriano. As mudanças vêm ocorrendo desde os anos 1960, abrindo novos vértices para a constituição da sociedade pós-moderna, que se pauta na liberalidade sexual, social, política e cultural da vida moderna. A modernidade impõe suas condições ao sujeito, cuja principal característica foi o indi-

vidualismo. Nesse modelo o outro foi perdendo espaço e consistência, a relação interpessoal ficou diluída, liquidificada. O homem modelo é o da consciência, herdeiro do cartesianismo e do discurso das ciências. Ele se empodera do conhecimento e traz a tecnologia como instrumento de transformação. Freud surge nessa época, anunciando que o ser não é o da consciência, é determinado por uma “coisa”, psique ciência&vida

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MODERNIDADE

BALEIA AZUL DÁ MARGEM A TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

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fenômeno jogo da Baleia Azul surgiu, supostamente, em uma rede social da b G   G    : P  G  G   ‚IG  G  suicídios entre os adolescentes em vários países. Levantamento indica que o jogo está diretamente relacionado a nada menos do que 100 casos de suicídio, havendo  GI IG G ƒ  IG  G GG 9 GIG hashtags do jogo. O nome Baleia Azul se refere às baleias encalhadas, supostamente suicidas. Esse animal pode pesar 177 toneladas e medir 30 metros de comprimento, considerado o maior animal do mundo. Entretanto, estudos mostram que são suicidas, e seu encalhe ocorre por razões ainda não esclarecidas. Uma das hipóteses é a falha de ecolocalização. Enquanto o jogo deixa suas vítimas, fornece subsídios para inúmeros teóricos da conspiração. Alguns, inclusive, garantem que se trata de uma campanha promovida por ucranianos. O jogo se baseia na relação entre

G‚GIG  bGGG9GG  G   completar, sendo a última o suicídio. Acredita-se que o criador seja o russo Filipp Budeykin, que aliciava jovens para esses grupos. Ele está preso na Rússia e declarou que seu objetivo era fazer uma “limpeza na sociedade”.

A sociedade pós-moderna se organizou horizontalmente. O poder do “pai” foi quebrado, a lei enfraquecida. Os desdobramentos disso se dão pela falta de limite, incapacidade de lidar com as frustrações, desamparo, violência. É a sociedade robótica denominada inconsciente, que imputa suas ações. Ele diz que o homem é um ser de desejo e não da consciência. É uma mudança de paradigma na concepção do entendimento humano. A ideia do homem soberano, racional e detentor de todo saber é abalada. Freud anuncia que o comportamento do homem está atrelado a uma representação inconsciente que ele não domina. O movimento pulsional ultrapassa os limites da consciência, o que pode ser constatado pelos sintomas que trazem sofrimento, e este, se não consegue evitar. Esse movimento desejante é dinâmico e incessante e vai defi nir as características da vida pós-moderna. O homem moderno empoderado do seu narcisismo traça o psiquismo 30

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da geração pós-moderna. Hoje, há uma busca infi ndável de realização de desejo. Desejo, para a Psicanálise, é diferente de vontade, é um impulso inconsciente que atende o princípio do prazer. Este, por sua vez, é insaciável, insólito, inefável. Não há limite para o gozo, tornando-o um processo mortífero que aprisiona. Essa é a característica da modernidade. A sociedade pós-moderna se organizou horizontalmente. O poder do “pai” foi quebrado, a lei enfraquecida. Agora, os desdobramentos disso se dão pela falta de limite, incapacidade de lidar com as frustrações, desamparo, violência, empobrecimento da subjetividade e o esvaziamento interno pela falta de simbolização. É a sociedade robótica.

Relações parentais

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Psicanálise mostra que o sujeito é constituído a partir das relações parentais. Para tal é necessário que haja um adulto com afeto amoroso e uma lei que ampare e proteja esse infante. Freud denomina como uma lei primária de castração, que é primordial para que haja a organização subjetiva de um ser humano. Para que se tenha desejo é necessário que haja uma falta, e isso é o que a sociedade pós-moderna quer eliminar totalmente. Essa cultura prega que se pode ter todos os prazeres possíveis, ela fornece todos os objetos para o sujeito gozar, estão disponíveis no mercado, estão à mostra nas vitrines, nas esquinas, nas ruas; quem tem dinheiro compra, quem não tem tira de quem tem e compra. Se adoecer, também tem como comprar a cura, pois a doença está mercantilizada pelos laboratórios, que fabricam as pílulas mágicas. O consumo desenfreado, a flexibilidade das ideias e dos costumes, o pensamento fragmentado e automatizado, a falta de ideais políticos e sociais, a vulnerabilidade e o despreparo emocional abrem caminho para o desapontamento amoroso

JAN BAPTIST WEENIX/WIKIPEDIA

PARA SABER MAIS

Œ Cartesianismo Œ A origem do cartesianismo se refere a Descartes, filósofo, físico e matemático francês, considerado o pai da Filosofia moderna, cujo nome latino era Cartesius. O ponto de partida é a busca por uma verdade primeira, que não possa ser colocada em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método. O pensamento cartesiano começa duvidando de tudo, convencido de que a opinião tradicional e as experiências da humanidade são guias pouco confiáveis. O método, então, é isento da influência de ambos fatores.

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e criam uma onda de medo, dúvida e desamparo. Esse modus operandi da pós-modernidade desfavorece a formação de laços saudáveis, instalando vínculos patológicos. Diante desse cenário, o homem depende cada vez menos do outro e instala a lei do vale-tudo. O afeto amoroso está cedendo lugar para o agressivo. Trata-se de uma sociedade que valoriza os meios e não os fins e, em consequência, os valores morais e éticos estão fragilizados e superficiais. As ofertas são infinitas para que o sujeito possa tapar os buracos deixados pelo esvaziamento da subjetividade. A sociedade esvaziada de linguagem simbólica convoca o ato, e a objetivação ocupa o lugar da subjetivação – é o que se tem observado como sintoma da atualidade. O discurso está cedendo lugar para a imagem, para o imaginário, criando um terror sem nome que faz com que o sujeito vá para o ato para se aliviar do alto grau de angústia.

No divã

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clínica psicanalítica está repleta de queixas referentes a mutilações, atitudes passionais, dependências químicas, consumismo, síndrome de pânico, explosões violentas, alto grau de somatizações físicas e mentais, podendo chegar no ponto máximo do ato, que é o suicídio. Recentemente, a mídia vem divulgando o jogo da Baleia Azul, no qual jovens entram em um jogo de morte, pois o máximo é tirar a própria vida. É, sem dúvida, algo preocupante, mas é preciso pensar que isso é apenas o reflexo da loucura social que está sendo produzida. Esse modelo convoca atos violentos, como morte, assassinatos e suicídios, pois acaba sendo a forma que se encontra para aliviar a dor da angústia, provocada pela impotência, da fissura, aniquilamento e falta de completude fusional dos amantes. A sociedade está doente por falta de simbolização, de discurso de ética.

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A transformação imposta pela sociedade pós-moderna apresenta o avanço tecnológico e o dilema de ter de enfrentar os efeitos colaterais de sua própria criação

A sociedade esvaziada de linguagem simbólica convoca o ato e a objetivação ocupa o lugar da subjetivação. O discurso está cedendo lugar à imagem, criando um terror sem nome que faz com que o sujeito alcance alto nível de angústia É fundamental pensar novos vértices, que possam conduzir a vida humana a voltar-se para o processo de humanização. Para tanto, precisa-se de esforços interdisciplinares, pois o sujeito está acometido por comorbidades múltiplas, que favorecem a prevalência da pulsão de morte.

Relação segura

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Psicanálise é um processo terapêutico especifico, que tem como pilar o estabelecimento de uma relação segura e de confiança entre paciente e analista. Traduz-se pela transferência, pautada pela ética e conduzida pela técnica. Esse processo permite que o paciente tenha uma experiência singular e, no processo transferencial com o analista, vai encontrar um campo para se reinventar. A transferência é um termo técnico que Freud utiliza para definir a re-

lação paciente-analista. Nesse campo o paciente direciona para o analista as vivências de protótipos infantis experienciados com as figuras parentais. Como o inconsciente não tem tempo, espaço, limite, contradição, o analista pode trabalhar em tempo real os afetos ligados às figuras parentais, possibilitando que o sujeito faça uma reorganização psíquica. A Psicanálise é um caminho que o sujeito pode buscar para aliviar sua dor e criar uma responsabilidade por si e pelos outros, além de novos segmentos da sociedade, como saúde, família, sociais, políticos etc. É preciso que as pessoas se movimentem no sentido de refletir sobre os danos causados ao homem, e buscar uma nova maneira de preservá-lo, porque sem o homem não se tem sociedade, não se tem nada. A sociedade está doente, sangrando, e é imprescindível união para curá-la. psique ciência&vida

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coaching

por Eduardo Shinyashiki

Sair da

ZONA DE CONFORTO

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iver de forma consciente e encarar os desaf ios que surgem durante a vida não são tarefas fáceis. Mesmo que bem planejadas, as metas nem sempre são alcançadas pelas pessoas. Mudar de emprego e obter uma posição melhor na empresa, por exemplo, são objetivos comuns entre

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os prof issionais. Mas quantos deles realmente se dispõem a fazer o que é nec essário para c resc er na c arreira? Há pessoas que focam nas dif iculdades e duvidam da própria capacidade. Esses tipos de pensamentos, além de limitarem a visão aos pontos negativos, colaboram para a desistência, antes mesmo de tentar o novo.

Isso nada mais é que uma forma de defesa, já que, por não exigir o esforço necessário para o rompimento de barreiras, a atual situação transmite uma sensação de estabilidade. Toda novidade, geralmente, traz nas pessoas três sensações básicas negativas: inadequação, ridículo e desvalorização. Provavelmente, você www.portalespacodosaber.com.br

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A NOSSA MEMÓRIA INCONSCIENTE NOS OBRIGA A PENSAR E AGIR DE FORMA AUTOMÁTICA. POR ISSO NÃO É FÁCIL MUDAR, MAS É PRECISO FOCAR NOS OBJETIVOS COM A PREDISPOSIÇÃO DE ENFRENTAR O DESCONHECIDO DE FORMA POSITIVA

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já passou por situações em que f icou exposto a uma delas. Essas sensações acontecem porque a tendência do cérebro é sempre buscar a rotina. Ele é naturalmente conf igurado para gerar uma série de repetições e, para nos proteger, cria alguns sistemas – ou seja, os nossos hábitos, o que nos faz escovar os dentes, por exemplo, sem precisar aprender todos os dias como fazê-lo. É importante que se diga que essa busca do cérebro pela rotina não é algo totalmente ruim, pois economiza tempo e ajuda a preservar a espécie, além do que, estar sempre em estado de ale rta se ria muito e stre ssante para qualquer um. O lado negativo, porém, é que isso engessa a forma como vivemos. Voltando às sensações negativas, a inadequação é muito comum nos tímidos. Por medo da exposição e do sentimento de desvalorização diante de outras pessoas, eles alimentam a postura reservada, e as situações novas e os momentos em que deveriam se destacar tornam-se torturantes. Esse é exatamente o mesmo caso daquele funcionário que se destaca por seus bons resultados, porém se apaga em uma reunião externa. O medo de ouvir um “o que você acha DISSO� OU �QUAIS SÎO AS SUAS SUGES TÜESPARAQUEFA¥AMOSISSO�IMEDIA tamente faz com que tenha a sensação de uma possível rejeição. Como resposta, por mais que domine o assunto, ele conf igura o seu pensamento para f icar invisível em situações consideradas de grande exposição. Por trás de tudo isso, está o pensamento: “É melhor passar despercebido do que ser exposto, pois o que importa é bater as metas”. Outra consequência da inadequação é o receio frequente do abandono, que se manifesta nas inseguranças e tem origem na memória inconsciente. Dentro dela existem traumas do passado, experiências dolorosas e www.portalespacodosaber.com.br

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A FÓRMULA NEUROLÓGICA DO SUCESSO SE ENCONTRA NA INTENCIONALIDADE: TER ATENÇÃO DIRECIONADA E INTENÇÃO CONSCIENTE SOBRE AQUILO QUE QUEREMOS, CRIANDO UMA REPRESENTAÇÃO INTERNA DESSA META limitadoras, feridas não cicatrizadas que precisam ser cuidadas e curadas. É como passar por um relacionamento que não deu certo e carregar apenas as lembranças ruins, deixando-as contaminar as próximas relações. Com esse cenário em mente, a pessoa cria barreiras que impactam na intensidade do amor, até que ele deixe de existir. A trajetória faz com que destrua aquilo que deseja por trazer à tona apenas os pontos negativos do relacionamento anterior. Por conta disso, em algumas situações de mudança, o cérebro é obrigado a construir caminhos e, dessa forma, os medos tornam-se inevitáveis. Essas situações são comuns a todos que, por exemplo, buscam um emprego, iniciam um relacionamento ou enfrentam um novo desaf io na empresa em que atuam. Como, então, encarar sem receios essas sensações que surgem no cotidiano? O sentimento é inevitável e involuntário! O importante é criar

ferramentas que ajudem a enfrentar as situações de frente, pois, quando não temos o foco no objetivo, surge a desmotivação para esfriar o ímpeto de atingir o resultado. Assim, sem que se perceba, o compromisso com o sonho, aos poucos, cai no esquecimento e deixa de ser prioridade. Quem opta por seguir esse caminho, geralmente, não evolui, pois não consegue interpretar o cenário e acaba por escolher apenas os padrões conhecidos. Esses padrões o condicionam a encontrar apenas aquilo que está habituado a enxergar, como as possibilidades de fracasso e sofrimento. Não há fórmulas mágicas para mudar, mas precisamos utilizar ao máximo a nossa vontade consciente, direcionar a atenção para o novo comportamento e ter uma prática mental e f ísica persistente, constante e repetitiva, a f im de deixar os novos traços permanentes em nosso cérebro. Muitas vezes, fazemos poucas e fracas te ntativas e , logo e m seguida, desistimos. A fórmula neurológica do sucesso se encontra na intencionalidade: ter atenção direcionada e intenção consciente sobre aquilo que queremos, criando uma representação interna, uma imagem mental tão real que começamos a formar no nosso cérebro novas conexões para arquivá-las como lembranças, as quais estarão à disposição para ser utilizadas quando necessário. Nesse momento, a mudança visualizada na mente está f isicamente presente no cérebro. Invista mais no inesperado caso queira resultados diferentes para questões antigas. A resposta do que fazer estará sempre dentro de nós.

Eduardo Shinyashiki é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o crescimento e a autoliderança das pessoas. www.edushin.com.br

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livros

Por Lucas Vasques

Gerenciando a raiva (pavio curto)

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Chamar alguém de explosivo e aceitar comportamentos irascíveis são atitudes corriqueiras, mas que merecem atenção. Distúrbio pouco falado no Brasil, o transtorno explosivo interMITENTE4%) SECARACTERIZAPELADIlCULDADEDEGERENCIAROSENTIMENTODERAIVA GERANDO uma manifestação impulsiva de comportamentos agressivos. Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo: Transtorno Explosivo Intermitente aborda a temática com leitura simples. Escrita pela psicóloga Vânia Calazans, a obra é guiada de forma que o leitor imagine o paciente que possui o distúrbio, esclarecendo o que é uma atitude normal de uma série de comportamentos patológicos. Vânia explica de que forma essas explosões ocorrem: “No momento do ataque de raiva, a pessoa acredita que essa era sua única alternativa, mas passado algum tempo aparecem os sentimentos de culpa, vergonha, arrependimento, tristeza”. Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo: Transtorno Explosivo Intermitente Autora: Vânia Calazans Editora: Sinopsys No de páginas: 160

Os vários aspectos do desenvolvimento (leituras propostas pela Psicologia) O livro Psicologia e Desenvolvimento Humano tem como proposta trabalhar os vários aspectos do desenvolvimento humano, dentro das muitas leituras que a Psicologia propõe. Inicialmente, trabalha infância e adolescência no tempo atual, no qual as relações são rápidas e pautadas pela tecnologia. Em seguida, a visão que se tem sobre a terceira idade e as perspectivas de Freud e a Psicanálise, Piaget, Vygotsky e, por último, o behaviorismo. Em um primeiro momento, a obra leva em consideração a Psicologia e sua história; em um segundo, a infância no momento atual, QUEPASSAPORUMASÏRIEDETRANSFORMA¥ÜES!ADOLESCÐNCIAESUASCRISESAPARECEMNOTERCEIRO capítulo; já o envelhecimento como processo que implica, em várias dimensões, aspectos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, é trabalhado em seguida, buscando ampliar a visão do leitor quanto à velhice e sua valorização. Psicologia e Desenvolvimento Humano Autor: Emérico Arnaldo de Quadros Editora: Vozes No de páginas: 184

Sofrer por antecipação (pensamento acelerado) Existem muitas pessoas, especialmente nos tempos atuais, que têm como característica o fato de sofrerem por antecipação. Outro problema frequente no mundo moderno é acordar cansado, como SEANOITEDESONONÎOTIVESSEFEITOOMENOREFEITONOSASPECTOSFÓSICOEMENTAL.ORMALMENTE PROlS SIONAISCOMESSEPERlLNÎOTOLERAMTRABALHARCOMPESSOASLENTAS!LÏMDISSO TÐMDORESDECABE¥A OUMUSCULAR ESQUECEMDASCOISASCOMFACILIDADE ENTREOUTRAS1UEMSEIDENTIlCOUÏPORQUEPROVA VELMENTESOFREDASÓNDROMEDOPENSAMENTOACELERADO30! #ONSIDERADAPELOPSIQUIATRA!UGUSTO Cury como o novo mal do século, suplantando a depressão, ela acomete grande parte da população mundial. Em Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século, o leitor entenderá como funciona a mente HUMANAPARASERCAPAZDEDESACELERARSEUPENSAMENTO GERIRSUAEMO¥ÎODEMANEIRAElCAZERES gatar sua qualidade de vida. Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século Autor: Augusto Cury Editora: Saraiva No de páginas: 160 34

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Dependência quimica em pauta

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A fronteira entre a internação compulsória e a involuntária

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Uma das principais dificuldades encontradas dentro de um cenário no qual a pessoa é usuária de droga é como definir qual o limite de autonomia que esses dependentes químicos devem experimentar

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O QUE FAZER com dependentes químicos? Governos municipal e estadual de São Paulo desenvolveram ações na Cracolândia e reabriram uma discussão antiga a respeito de como tratar as pessoas que frequentam essas áreas de consumo de drogas

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m 21 de maio de 2017, os governos municipal e estadual de São Paulo lideraram um movimento que, nas palavras do prefeito, tinha como objetivo “acabar com a Cracolândia”. Os desdobramentos dessa ação reacenderam uma discussão que nunca silenciou: o que fazer com a(s) cracolândia(s)? O que fazer com dependentes químicos? A escolha dos governos incluiu, dentre outras medidas, o pedido de autorização judicial para realização de internações compulsórias, práticas previstas na legislação brasileira (artigo 6º da Lei no 10.216 de 2001). A Justiça do Estado autorizou o pedido do governo em 26 de maio, revogando-o dois dias mais tarde. Na sequência, a equipe da prefeitura informou que contratará serviço de ambulâncias para realizar o transporte de dependentes químicos, ou “viciados” (conforme o veículo de imprensa consultado) para os locais nos quais serão examinados por uma equipe multidisciplinar, que avaliará a necessidade ou não da internação compulsória. As no-

tas do governo sempre refirmam que tal procedimento será aplicado somente nos casos excepcionais, não será uma regra, e reiteram que as equipes multidisciplinares serão compostas por médicos, assistentes sociais, advogados, psicólogos, agentes de saúde e de segurança. Mas a ênfase da ação do governo esteve, principalmente, na utilização da força policial. Ao abordar tal situação, é necessário escapar totalmente das armadilhas de raciocínios simplistas e afetos absolutamente apaixonados. A situação é complexa e se torna ainda mais complicada na medida em que se observa o clamor público por ações rápidas e definitivas, alimentadas pela ilusão da erradicação do mal. Birman (2009), em Cadernos Sobre o Mal, convida a pensar, de uma perspectiva psicanalítica, nas diversas problemáticas que a agressividade, a violência e a crueldade assumem no que chama “trágica cena da atualidade”. O autor está correto, pois esse cenário é uma questão complexa e interdiscipli-

nar, que exige um esforço de complementaridade entre saberes, discursos, técnicas e ações. Lacan nos informa em seu seminário sobre Ética, retomando a importância do texto freudiano O Mal-estar na Civilização, que “é com o homem, com uma demanda humana permanente, que estamos envolvidos em nossa experiência a mais cotidiana” (p. 17). Uma Ética que coloca em evidência o cuidado com cada homem em sua singularidade, sem, e é importante que se frise, sem indicar um caminho prescritivo de comportamentos, mas sublinhando o compromisso responsável que a pessoa faz consigo e com os outros. Essa Ética faz rejeitar de cara a adoção de categorias que falem em nome dos indivíduos. Assim, se não se reiterar exaustivamente as consequências do reducionismo do uso de categorias particulares carregadas de valores sociais, ideológicos, culturais na caracterização de pessoas, está se adotando um caminho marcado por uma perigosa ambivalência: afirma e nega a preocupação e o valor dos sujeitos ao mesmo

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Por Gustavo Gil Alarcão

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Dependência quimica em pauta

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ROVENA ROSA/EBC/FOTOSPÚBLICAS

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As recentes ações aconteceram em São Paulo, mas a concentração de dependentes de drogas é uma situação recorrente em todo o território nacional e que pede medidas públicas muito bem avaliadas

A Psicanálise ajuda a pensar situações nas quais os mecanismos de defesa usados contra sentimentos são negados à própria pessoa, funcionando como uma parte sintomática que não pertence à pessoa e que ela tem muita dificuldade em reconhecer tempo. A discussão não é sobre a autonomia na internação do dependente químico, mas sobre a autonomia na internação de pessoas que dentre outras características e descrições fornecidas em geral pelo, e não por si próprio, são chamados de dependentes químicos. Não se trata de preciosismo, chatice ou mero uso de palavras: trata-se de uma posição ética, fundamental no trato da questão. E somente a permanente lembrança dessa armadilha evita cair na consequente banalização das vidas. Colocam-se e retiram-se va38

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lores na vida do outro, e quando ele representa muito daquilo que menosprezo estou a um passo de usá-lo como bem entender, como constata Hannah Arendt, em A Banalidade do Mal. Nesse sentido, é preciso reformular a questão. Disseca-se a proposta em três planos de discussão concomitantes e interativos: a existência, a autonomia e a ação. Os custos e os preços de existir na lógica da “trágica cena contemporânea”. A relatividade da autonomia individual em qualquer grupo humano. O significado das ações e

suas consequências na construção das subjetividades e da sociedade. Atalhar essa complexidade conduz à cristalização dos sintomas e fixação da sociedade em estados desfavoráveis. Esses planos estão imersos na tensão entre o coletivo e o individual. A cada momento surge a condição de analisar com maiores detalhes onde está o acento grave da responsabilidade, se não se partir de preconcepções reducionistas ingênuas ou violentas. Há casos e casos. Negar que a miséria social contribua decisivamente para o estado de desesperança e falta de sentido de vida de muitas dessas pessoas é um erro equivalente à negação de responsabilidades individuais em casos de violências e abusos. O trabalho é justamente identificar a pertinência e adequação das melhores leituras e interpretações para as situações em questão. www.portalespacodosaber.com.br

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LT. ARNOLD E. SAMUELSON/WIKIPEDIA

Œ A banalidade do mal Œ Ô I G G G ` IG ¢ ^ IG GÔ #GG    ‡
G    GGI¢ pondentes para cobrir as sessões e Hannah Arendt representou a revista The New Yorker: ÈI G9 ¢  9 :

A experiência mostra que não há como erradicar o que perturba. Pode haver, com muito trabalho, a integração das partes, e o reconhecimento da imensa imperfeição, que ressignifica o valor dos próprios sentimentos que haviam sido expulsos

Problemática atual

ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL

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m interessantíssimo estudo etnográfico, realizado entre 2011 e 2012, pela equipe do professor Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, abordou exatamente esse trabalho. Foi a campo, esteve na região central da capital paulista, chamada de Cracolândia, para conversar com as pessoas que lá viviam, ou frequentavam. Logo na introdução do texto, a equipe informa que é necessário repensar a forma de se referir às pessoas que usam drogas, porque essa maneira já explicita posições preconcebidas, ela “demarca uma posição de crivo sanitário ideológico de caráter parcializado e reducionista, cujo resultado é a

reprodução do dualismo moral que permeia o debate atual sobre as drogas ilícitas” (Adorno, p. 5). Adorno e equipe constatam o fato de que muitas pessoas encontraram na Cracolândia um lugar existencial, um locus no qual suas vidas anônimas adquirem sentido e significado, laços afetivos e, pasmem os mais desavisados, o uso de drogas deixa de ser o principal elo entre as pessoas, e delas com esse espaço urbano. A busca por um lugar existencial prescinde de julgamentos morais, éticos e valorativos (bom ou ruim). Ela se inscreve no mesmo plano das demais necessidades humanas e, como estas, não é uma potência que emana exclusivamente de cada um, mas um elo entre desejos. As necessidades humanas subvertem as lógicas mecanicistas do mundo

Dependência quimica em pauta

A Psicanálise ajuda a pensar situações nas quais os mecanismos de defesa utilizados contra sentimentos, afetos ou ideias que se tem e que perturbam são literalmente negados e cindidos da própria pessoa, funcionando como uma parte sintomática que aparentemente não pertence à pessoa e que ela tem muita dificuldade em reconhecer. Essas partes que são cindidas acompanham como sintomas, perturbam, não deixam seguir sossegado, ou como diria Freud, não deixam amar e trabalhar. Assim como no plano individual, a sociedade funciona no plano coletivo. A experiência mostra que não há como erradicar aquilo que perturba. Pode haver, com muito trabalho, a integração dessas partes, e o reconhecimento da imensa imperfeição, que ressignifica o valor dos próprios sentimentos que haviam sido expulsos. A internação voluntária, involuntária ou compulsória é sempre insuficiente no laborioso trabalho de integração psíquica que precisa, necessariamente, ocorrer em cada um, o que não retira completamente o valor dessa prática.

A própria condição humana, do ponto de vista da teoria psicanalítica, surge no momento em que se estabelece uma censura, recalque, que organiza o psiquismo através da repressão de determinados aspectos

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dossiê “mundo do crime”, não se davam conta do engodo e da ilusão da qual, tristemente, se tornavam vítimas e cúmplices: uma realidade externa violentamente injusta e muito pouco colaborativa. A Psicanálise ajuda a reconhecer e pensar a potência das forças destrutivas que habitam cada ser humano: todos, vítimas e algozes. Ninguém está imune, não há vacina e, tampouco, um calibrador interno que, automaticamente, diga o quan-

A internação voluntária, involuntária ou compulsória é sempre insuficiente no laborioso trabalho de integração psíquica que precisa, necessariamente, ocorrer em cada um, o que não retira completamente o valor dessa prática

to de cada sentimento é adequado e pertinente em cada situação. Trata-se de um longo e trabalhoso processo de amadurecimento, reconhecimento e discriminação, nos quais um organismo humano se torna uma pessoa. A violência interna encontra limite e aconchego no cuidado, no trabalho do outro que contém e dá novos significados a atos concretos. A existência se dá na possibilidade de ser recebido, amado e cuidado. A miséria social imprime de saída instabilidades que destituem esse lugar necessário. Não há referências positivas, não há histórias com as quais se identificar: o mundo do desejo que chega pelas TVs e pelas notícias dos outros não é o mundo que os olhos dessas pessoas enxergam. A droga apresentada precocemente como objeto transicional proporciona o entorpecimento frente às dores que sequer chegam a ser reconhecidas e abre as portas para a quebrada (lugar onde moram). “Eu não tenho nada para dar para ele”, disse-me a mãe de um adolescente. Frase marcante que denunciava o deslocamento de significados ultraprecoce com os quais convive a maior parte da população pobre do país, justamente aquela sobre a qual incidem as mais truculentas medidas e ações. Negar a importância desse vasto e profundo problema da sociedade brasileira na discussão de qualquer aspecto que envolva nossa população é agir silenciosamente para a manutenção das abissais e intoleráveis diferenças que constituem nossa sociedade.

Autonomia

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m uma sociedade, a autonomia é sempre relativa, dado o acordo implícito em aceitar as regras e leis. Não se pode fazer simplesmente o que se quer, sem observar dewww.portalespacodosaber.com.br

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e inscrevem todos em cadeias de significados. Incrivelmente as necessidades tomam caminhos que são construídos pela circulação inconsciente das marcas dos encontros com nós mesmos, com o outro, com a natureza. Pode ser chocante imaginar que alguém encontre seu lugar no mundo que parece degradado, violento, insensível. Como é possível enraizar-se num lugar como aquele, com pessoas como aquelas, vivendo em tais condições? Durante 10 anos trabalhei como médico de adolescentes na Fundação Casa, que abrigava adolescentes internados compulsoriamente por terem cometido crimes. Eles me ensinaram que a fome existencial, ou, em outras palavras, a necessidade de se sentir alguém, de ser olhado, admirado e amado, é tão necessária quanto a fome das células e tecidos do corpo. Na situação de alguns desses adolescentes custou-me aceitar e entender que muito antes dos crimes (a grande maioria, tráfico de drogas) o que buscavam era um lugar de significado para suas vidas. Mas, na medida em que suas vidas adquiriam algum valor, e se envolviam mais com o

Dependência quimica em pauta

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Muitas pessoas encontram na Cracolândia um lugar existencial, um locus no qual suas vidas anônimas adquirem sentido, laços afetivos, e o uso de drogas deixa de ser o principal elo entre as pessoas, e delas com esse espaço urbano terminados pontos, e se ultrapasso alguns limites, estou submetido às consequências. Cabe ressaltar que o acordo implícito, nosso pacto civilizatório, no qual suspendemos a avidez e a emergência dos atos pelo respeito às regras, pressupõe que nesse processo, além de aceitar a castração da liberdade dos “meus” atos, “tenho” o direito receber os benefícios dessa troca: respeito, proteção e cuidado. A legitimidade de fazer valer o acordo acompanha necessariamente o rigor com que cumpre sua parte nesse acordo. No caso da sociedade brasileira, a falha em cumprir o mínimo desse acordo torna capenga a punição sobre as transgressões. A própria condição humana, do ponto de vista da teoria psicanalítica, surge no momento em que se estabelece uma censura, recalque, que organiza o psiquismo através da repressão de determinados aspectos. Diferentemente dos demais animais, não seríamos arcos ref lexos de nossos instintos, mas sim usinas de transformação dos instintos humanos, que desde sempre são atravessados pelo prawww.portalespacodosaber.com.br

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Negar que a miséria social contribui para o estado de desesperança é um erro equivalente à negação de GH  G    G G ÈI GGH

zer e pelo desejo. Igualmente aos demais animais haveria uma fonte de vida que animaria o corpo. A autonomia seria uma conquista na qual a pessoa, de posse de recursos que a humanizaram, estaria em condições de escolher, nomear-se e nomear seus desejos. São processos individuais que não respeitam prescrições e tampouco prognósticos. Encontra-se de tudo, inúmeras possibilidades de aquisição de autonomia, inclusive a falta de tal condição. A lei acolhe as situações psíquicas que determinam incapa-

cidades individuais de julgar e decidir. Não é necessário negar, trata-se de um avanço social, produzido pelo diálogo entre os campos, que a justiça pode constatar que, em determinada situação, alguém age movido por impulsos que não se submeteram aos crivos da realidade, os filtros de nossos desejos. Cada sociedade determinará o que é a incapacidade e qual sua extensão, aparentemente todas possuem essa categoria. A autonomia ref lete o grau de capacidade ou incapacidade psíquica de uma pessoa. Estar ou ser incapaz psique ciência&vida

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A discussão é sobre a autonomia na internação

G9È descrições fornecidas por outro e não por si, e são chamadas de dependentes químicos

A busca por um lugar existencial prescinde de julgamentos morais e éticos. Ela se inscreve no mesmo plano das demais necessidades humanas e, como estas, não é uma potência que emana exclusivamente de cada um, mas um elo entre desejos

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As internações são dispositivos usados pela Medicina e pela Psiquiatria ao longo da história. No caso da Medicina em geral, a

PARA SABER MAIS

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importante ressaltar a necessidade de se evitar uma arapuca constantemente armada no cenário brasileiro atual, que é o de enfrentar conflitos ou pela dinâmica da guerra ou pela dinâmica da complacência. Na guerra, o inimigo é uma ameaça e a vitória deve vir a qualquer preço. Na complacência, a necessidade de permanente sintonia enfraquece a potência de afirmações à custa de acordos de conveniência, nos quais se sabe de antemão que são falsas soluções, remendos. No caso em questão, não se trata de politizar rasteiramente o tema da dependência química, fazendo da maneira escolhida para enfrentá-la apenas mais uma das bandeiras que diferenciam as escolhas políticas de cada envolvido no processo. Trata-se da tal da polarização, que tanto tem prejudicado as análises mais profundas do país. Por isso, é imprescindível, como sociedade que busca amadurecer, aprender com as experiências e, sem a necessidade de ganhos secundários, colocar o dedo nas feridas.

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significa não poder responder juridicamente no mesmo plano que os demais, significa que a culpa e a responsabilidade devem ser relativizadas, quando não retiradas da própria pessoa. Tais situações serão sempre evocadas quando a sociedade discute os limites de responsabilidade de seus indivíduos e também de seus governos. Uma intoxicação aguda por qualquer substância certamente afeta a capacidade crítica de qualquer pessoa, retirando-lhe sua plena condição de decidir. Ela é suficiente para isentar as responsabilidades de alguém? Usos crônicos de drogas certamente podem afetar a mesma capacidade crítica. São argumentos suficientes? A análise não pode se restringir a esses fatos exclusivamente, já que é nítida a indiscutível correlação entre a autonomia individual e a vida social, seu lugar existencial e seu processo histórico.

internação está indicada (e bem indicada!) quando há necessidade de cuidados hospitalares. Espera-se que um hospital tenha mais condições de cuidar de determinadas situações do que a pessoa e seus familiares, o que, em geral, se confirma. Claro que há situações complexas como, por exemplo, a situação de pessoas com doenças graves em estágios avançados, cujas ações médicas curativas podem se tornar desnecessárias, mas não as ações que promovam cuidados e conforto, como a prescrição de analgésicos, antibióticos e outras medidas. No caso da Psiquiatria, não se pode fazer uma transposição literal acerca do significado de uma internação. Mais uma vez a história, com a farta documentação acerca de absurdos, e inclusive crimes ocorridos em instituições psiquiátricas, fez a sociedade mundial rever a naturalidade com a qual se encarava a internação (Arbex, 2015). A mudança de paradigma foi radical e a opção em escala global foi a de se promover uma série de medidas anterio-

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res à internação, culminando no Brasil com a Reforma Psiquiátrica (Tenório, 2002). Jamais se pretendeu abolir a prática da internação, mas diferenciá-la radicalmente de medidas de restrição de liberdade punitivas. Uma internação, mesmo que compulsória, jamais pode ser equiparada à prisão de uma pessoa. A privação da liberdade é um ato extremo e usá-lo como medida de cuidado requer total consciência acerca de seu significado. Não se pode negar a necessidade de internar alguém, inclusive involuntariamente. É fato real que em determinadas circunstâncias a possibilidade de escolher está limitada. É também fato real que imposições que contrariam a vontade das pessoas, e a nossa própria, inclusive, podem ser benéficas. É também fato que esses limites ficam muito tênues e delicados e a história mostra que vários dos acontecimentos mais bárbaros dos quais se tem notícia ocorreram com a anuência e justificativas médicas. A Medicina sem história se www.portalespacodosaber.com.br

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Œ 'GIGGU IG Œ  HG  'GIG    diálogo` IIGU IG G+ IG¢ nálise, bem como as consequências I^ IG G G GhÔ: * ¢   `   IGGI G G ¢ hÔ GG^ IG9     G  ¢

 I     GG G9  implicações éticas para a direção da IG: U G HG  G GhÔ 'GIGGGGU IG ` G G+ IGP 9I G¢

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torna um campo frágil. Nazismo alemão, fascismo italiano, segregações raciais norte-americanas ao longo do século X X, comunismo soviético, comunismo romeno, ditaduras latino-americanas foram todos contextos que usaram do dispositivo das internações psiquiátricas como parte de políticas de estado, adotadas coletivamente e cujos resultados são amplamente conhecidos. As internações podem ser necessárias e justificadas, se individualmente e profundamen-

Dependência quimica em pauta

As necessidades humanas subvertem as lógicas e inscrevem todos em cadeias de significados. Elas tomam caminhos que são construídos pela circulação inconsciente das marcas dos encontros com nós mesmos, com o outro, com a natureza

te analisadas. Para finalizar, é importante apontar um último elemento que percorre toda discussão. A prática da internação remete diretamente à noção de gravidade. Em Medicina, qualquer noção de gravidade significa o risco de perder a vida, logo se cria um estado de emergência. Nesse contexto praticamente qualquer ato está naturalmente autorizado, já que ele se coloca como um ato de proteção da vida, um ato de legítima defesa da vida. A Medicina contemporânea usa e abusa dessa noção para se consolidar como o campo de discursos sobre a vida. Embora válida em determinadas situações, essa fórmula não é uma equação que pode ser aplicada em todas as situações. E, no campo da construção da subjetividade e, portanto, das autonomias, os estados de emergência dificultam muito o desenvolvimento do pensamento e da ref lexão. Pessoas que usam drogas cronicamente vivem em permanente estado de emergência, que autoriza, de certa forma, medidas de emergência como forma de cuidado. Aí, há outra armadilha, uma combinação mortífera de emergências nas quais as ações para aliviar mal-estares de ambos os lados impedem justamente uma ref lexão mais apurada e, por consequência, mais efetivas sobre os problemas em questão.

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No limite entre AUTONOMIA e internação COMPULSÓRIA O tratamento de dependência química necessita de uma rede de serviços com níveis de complexidade diferentes. É um processo de recuperação psicossocial. Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPs A D), por intermédio da portaria 336 de 2002, ancorada na Lei n o 10.216 de 2001. Uma avaliação do CR M de São Paulo mostrou que 25,3% dos CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) não tinham retaguarda para emergências médicas; 31,3% deles não tinham retaguarda para emergências psiquiátricas; 42% não contavam com retaguarda para internação psiquiátrica; 27,4% não mantinham articulação com recursos comunitários para a reintegração profissional; 29,8% não mostraram integração com outros serviços da comunidade; 45,2% dos CAPs avaliados não realizavam capacitação das equipes de atenção básica e 64,3% não faziam supervisão técnica para os membros dessas equipes; 16,7% não tinham responsável médico;

mesmo entre aqueles que tinham responsável médico, 66,2% não possuíam registro no Cremesp; 69,4% dos entrevistados disseram que a maior dificuldade das equipes era a insuficiência do quadro de pessoal. Portanto, os resultados da combinação do aumento de uso de substâncias psicoativas pela população brasileira, falta de serviços especializados e falta de experiência na gestão desses serviços são uma mistura explosiva. Isso se traduz na baixa eficiência e eficácia dos serviços, apesar dos investimentos realizados nessa área. E temos que ressaltar que, em função de políticas públicas equivocadas no passado, de cunho manicomial, existe entre alguns setores profissionais muita resistência a respeito da internação, deixando serviços de atendimento sem re-

(G G !P G G+G \ I`G9 G ÈI GGG +  G G G/ 9 G G $G ¤/ 9IG G GI G G‚¤/  G   G9$GG9I G G `  , I I G GhÔ-Gb (G G$ËI G  IÈI G9 GG +  G G$G  G/ 9I G G I GI G, G/ G ¤/  G I^ IG G^ IGG G¢":

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dependência química é uma doença crônica com alto grau de complexidade e seu tratamento é um processo de longo prazo e, dificilmente, um único equipamento de saúde consegue reunir todos os recursos necessários nas diversas fases de tratamento. É necessário que se crie uma rede de serviços com níveis de complexidade diferentes, que atenda o paciente nas diversas fases do processo de recuperação, tais como ambulatórios, serviços para desintoxicação, para intervenção na crise, tratamento das comorbidades psiquiátricas associadas ao uso de substâncias, e para apoio social. O sistema público de saúde só recentemente conseguiu se organizar para financiar programas de tratamento e criou os Centros de

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Por Maria de Fátima Rato Padin

Dependência quimica em pauta

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hGIÏ IG9G  ÈI G química tem um alto grau de complexidade e seu tratamento é um processo de longo prazo, que exige uma rede de serviços

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Parceria

TÂNIA RÊGO/ AGÊNCIA BRASIL

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om esse grave panorama em relação ao uso do crack, o governo de São Paulo iniciou, em parceria com a Justiça, um plantão jurídico para tratamento compulsório de dependentes químicos no centro da capital. A medida gerou polêmica e atraiu críticas de ativistas de direitos humanos, contrários à internação forçada e que temiam o uso da polícia para levar viciados para tratamento. As autoridades de São Paulo afirmam que a participação da polícia na ação nunca esteve nos planos do governo e que a internação compulsória seria empregada apenas em casos extremos. Como nos casos dos

* IGIGG GI  G G 9 P I GI GGI 9 por isso, envolvem-se em delitos para conseguir dinheiro

taguarda para internação psiquiátrica. Essa resistência, observada na prática, precisa ser mais bem compreendida para que a indicação da internação seja apenas função da necessidade dos pacientes e não uma questão ideológica. Essa questão é mais complexa e exige discussão mais aprofundada e não é de fácil solução. 46

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Analisando o novo padrão de uso da cocaína no Brasil, chega-se à conclusão de que o crack trouxe problemas, como aconteceu nos Estados Unidos alguns anos atrás. O uso vem acompanhado do aumento da criminalidade, pois com seu efeito estimulante de alto potencial de produzir dependência, com efeito intenso e rápido, os usuários têm necessidade de continuar o uso a qualquer custo e, por isso, envolvem-se em pequenos delitos para conseguir dinheiro. O baixo preço e grande disponibilidade têm forte apelo para usuários mais jovens e que tendem a se desorganizar mais rapidamente, social e psiquicamente, com a droga. Segundo levantamento nacional, 4,5% dos adultos (5,6 milhões de brasileiros) já experimentaram cocaína ou crack, sendo que 2% (2,3 milhões de pessoas) usaram no último ano; 1% (1 milhão de pessoas) relatou uso de crack no último ano; 48% dos usuários preenchiam critérios para dependência.

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O mercado das

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 GhÔ\ GP IGG 9  9    b GGG: O país é o segundo maior mercado de cocaína do mundo, além de ser o primeiro do ranking no mercado do IGI:   9 =C   €  ¢ G      G  I 

 ^ I‡,ˆ@;Ú  familiares não sabem o que é CAPs : * G d A=Ú  P  de maconha experimentaram a droga G  GG 
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O sistema público de saúde só recentemente conseguiu se organizar para financiar programas de tratamento e criou os Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPs AD), por intermédio da portaria 336, ancorada na Lei no 10.216 de 2001

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usuários que vivem nas “cracolândias” e entram em surto psicótico em face do consumo contínuo e abusivo do crack e não têm condições de decidir sobre a submissão aos tratamentos possíveis. É nesse cenário devastador que a lei prevê a possibilidade de internação compulsória. Ressalve-se, entretanto, que, para que essa internação aconteça, são necessários laudo médico e decisão judicial. Medidas que têm por objetivo resguardar direitos e preservar a vida

PARA SABER MAIS

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egundo dados de 2004 da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 2 bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas. O uso indevido de álcool é um dos principais fatores que contribuem para a diminuição da saúde mundial, sendo responsável por 3,2% de todas as mortes e por 4% de todos os anos perdidos de vida útil. Os índices analisados em relação à América Latina, mostra que cerca de 16% dos anos de vida útil perdidos neste continente estão relacionados ao uso indevido de álcool, número quatro vezes maior do que a média mundial. O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, promovido pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) em 2005, em parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idade entre 12 e 65 anos, preenchem critérios para a dependência do álcool e cerca de 75% já beberam pelo menos uma vez na vida. Os dados também indicam o consumo de álcool em faixas etárias cada vez mais precoces e sugerem a necessidade de revisão das medidas de controle, prevenção precoce e tratamento.

Na área da prevenção do uso de álcool e outras drogas, a Editora Synopsy lançou em 2016 o livro de histórias terapêuticas Toninho e a Falsa Poção da Felicidade, que contempla os fatores de risco para DQ preconizados pelo National Institute on Drug Abuse (NIDA). A prevalência do uso de substâncias ilícitas, álcool e tabaco durante a gestação tem crescido no Brasil e no mundo nos últimos anos, segundo Lenad 2012 e National Survey of Drug Use and Health. Os fatores associados ao abandono do serviço pré-natal e abrigo social para gestantes usuárias de substâncias psicoativas em uma maternidade pública de São Paulo são: ausência de contato com familiares, anos de estudos menor que 8 anos, filhos vivos, companheiro usuário de drogas, usuárias de crack e poliusuárias diárias.

)IGG G9GP   GIG¢PI G9P condições de saúde e desorganizados mentalmente www.portalespacodosaber.com.br

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Dependência quimica em pauta

Os resultados da combinação do aumento do uso de substâncias psicoativas, falta de serviços especializados e falta de experiência na gestão dos serviços são uma mistura explosiva. Isso se traduz na baixa eficiência dos serviços

do cidadão. Os estados de direito democráticos reconhecem a internação compulsória e preveem leis específicas para tais circunstâncias, e é de responsabilidade dos profissionais que atuam em saúde mental reconhecê-las. Segundo a secretária de Direitos Humanos da Prefeitura Municipal de São Paulo, a promotora pública Eloísa Arruda, é também importante esclarecer que as internações compulsórias não violam os direitos fundamentais de ir e vir de uma pessoa. Ao contrário, elas podem acontecer para assegurar e garantir os direitos fundamentais psique ciência&vida

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dossiê PARA SABER MAIS

 -..-.$*) * & Œ 27% usaram todos os dias ou mais de 2 vezes por semana no último ano. Œ 14% dos usuários de cocaína já injetaram a droga alguma vez na vida. Œ 78% dos usuários consideram fácil conseguir cocaína. Œ 10% venderam alguma parte da cocaína que possuíam. Œ O uso em áreas urbanas é quase 3x maior que em áreas rurais. Œ O Brasil representa 20% do consumo mundial de cocaína/crack. à vida, à integridade física do dependente químico e à segurança de todos os cidadãos. A Lei Federal n o 10.216/2001, no seu artigo 6º, especifica quais os tipos de internação possíveis, ou seja, internação voluntária – aquela que se dá com o consentimento do usuário, internação involuntária – aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro, e internação compulsória – aquela determinada pela Justiça.

Prazo máximo

Gilberto Gerra, médico, chefe do Departamento de Prevenção às Drogas e Saúde do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), revela que a internação compulsória deve ocorrer pelo prazo máximo de algumas semanas, e só se justifica quando o dependente apresenta comportamento perigoso para a sociedade ou para si próprio. Defende o acompanhamento contínuo, mesmo após a fase de desintoxicação. Autor do documento “Da coerção à coesão: tratando a dependência às drogas por meio de cuidados à saúde e não da punição“ do UNODC, Gerra diz que o tratamento do vício do crack não é feito com remédios, e sim com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Ele afirma, ainda, que os países democráticos devem “estar atentos” ao sistema de internação com-

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Segundo levantamento GI G9?9@Ú  G ‡@9A  €

HG  ˆ P experimentaram cocaína ou crack, sendo que =ÚGGb  Ge?CÚ P  preenchiam critérios para dependência pulsória para não transformar isso em uma rede de tratamento para lidar com o problema. “O Brasil precisa investir recursos para oferecer serviços que funcionem e ofereçam acompanhamento médico completo, proteção social, comida e trabalho para os dependentes”, afirma. De acordo com ele, o Brasil tem bons profissionais no campo do tratamento das drogas, mas faltam especialistas, e a rede médica nessa área é insuficiente.

Estudos sugerem que, pelo menos, o tratamento obrigatório a curto prazo pode proporcionar benefícios em minimização de danos, e pode ser positivo para, pelo menos, algumas pessoas, em comparação com o tratamento, por exemplo, na Suécia, onde 30% dos tratamentos psiquiátricos são coercitivos. Nas últimas duas décadas, muitos países adotaram novas leis que regulam o uso de medidas coercivas em doenças psiquiátricas. Essas leis foram guiadas pelo princípio da autonomia: os pacientes são considerados autônomos, a menos que existam provas suficientes para o contrário. E algumas medidas coercivas não devem ser interpretadas como uma violação da autonomia, mas sim como uma maneira de proteção e de fornecer cuidados – a permanência em um ambiente livre de drogas pode ser um bom começo para entrar em um tratamento. A eficácia das medidas coercivas não é menor, e às vezes até maior, do que a eficácia de medidas voluntárias e, portanto, a coerção pode ser benéfica a longo prazo. Já no caso das internações involuntárias, há, como grande motivação, mães desesperadas por terem seus filhos presos ao submundo das drogas, com doenças clínicas importantes, como tuberculose, Aids, em surtos psicóticos, gestantes, sem autonomia e, muitas vezes, sujos, vagando pelas PARA SABER MAIS

0$*'Ü)$" + '*R'**' Œ 22% da população brasileira foram vítimas de violência na infância, sendo que

em 20% dos casos o abusador havia bebido.

Œ 6% da população brasileira foram vítimas de violência doméstica, sendo que

em 50% dos casos o agressor havia bebido.

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SUS

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lém disso, um dos princípios preconizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é que cada cidadão deve receber cuidados de acordo com a sua necessidade. A dependência química, que em determinadas ocasiões apenas o tratamento ambulatorial não é suficiente para a melhora do paciente, requer a necessidade de internação em locais especializados de tratamento, visando ampliar o acesso a uma linha de cuidados mais abrangente. Pois, nos casos mais graves, geralmente o usuário de drogas encontra-se vulnerável socialmente, em más condições de saúde e desorganizados mentalmente. Segundo o professor Ronaldo Laranjeira, diretor do Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas da Unifesp, os altos índices de consumo de drogas fazem com que as funções cognitivas não estejam íntegras, impactando na memória, na atenção, na capacidade de pensar e www.portalespacodosaber.com.br

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JUAREZ SANTOS / FOTOS PÚBLICAS

ruas e impotentes para ajudá-los. E veem a internação como única alternativa para salvar seus filhos.

Dependência quimica em pauta

Os estados de direito democráticos reconhecem a internação compulsória e preveem leis específicas para tais circunstâncias, e é de responsabilidade dos profissionais da saúde GI IÈ¢G IIP¢GP IG quando necessário

/P  GpIGIË GoG I` I9  GII^9Ô ÈI h€  I HGH ÔGGG

de executar tarefas normalmente. Portanto, seu julgamento e poder de decisão são fortemente comprometidos. É dever do médico buscar o melhor para o paciente, provendo

assistência em saúde de qualidade. E não utilizar todos os recursos de que o usuário necessita em sua assistência é, literalmente, uma omissão de socorro.

! Ü)$- AVILLA, Rosa Marina; SURJAN, Juliana; .*+$)9(G G !P Ge)!$ ', Martha; ' )% $ , Ramos Ronaldo; ($.-/#$ *9-G - : dGIGI G    G  G G IG IHGI G G :The American Journal on Addiction Psychiatry9:<¢?9=;
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ciberpsicologia

Por Igor Lins Lemos

Anonimato e curiosidade: o uso do SARAHAH

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plicativos que funcionam como redes sociais anônimas não são novidades. Apesar disso, a cada ciclo de poucos meses, novas propostas são lançadas e milhões de usuários voltam a apostar nesse tipo de reverberação da cibercultura. O objetivo desses recursos tecnoló-

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gicos é permitir ao usuário receber perguntas e comentários sem que o autor DELASSEJAIDENTIlCADO!LGUNSEXEMPLOS são o Curious Cat, o Secret e o Ask.fm. A nova febre é o Sarahah. O quantitativo de downloads deste aplicativo, que SIGNIlCAFRANQUEZA EMÉRABE JÉPASSOU o YouTube, Instagram e o Whatsapp. Ape-

sar do objetivo do Sarahah ser positivo (nas palavras do criador), os usuários NÎO ESTÎO  MAIS UMA VEZ  APROVEITANDO essa oportunidade de forma virtuosa. A criação desse recurso não reverberou em manifestações de sujeitos que possam gerar críticas e feedbacks positivos (mesma ideia do Secret, que foi cancela-

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AS PESSOAS POSTAM EM REDES SOCIAIS O QUE CONSIDERAM O MELHOR DE SI, ASSIM COMO SÃO CAPAZES DE EXPRESSAR, EM PERFIS FALSOS OU NÃO, O LADO MAIS PRECONCEITUOSO E AGRESSIVO DE SEU SER

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do após a ocorrência frequente de ciberbullying). Mas por qual motivo? Kallas (2016) menciona que o conceito de intimidade, de espaço público e privado mudou. Antes, segundo a autora, protegidos entre paredes de nosso quarto, líamos, escrevíamos nossos diários, nossos poemas e os trancávamos no espaço mais protegido do olhar alheio, como uma preciosidade que só a nós pertencia. O espaço privado era bem diferenciado do espaço público. Sabe-se que com o uso do Facebook, Instagram e outras redes sociais muitos podem, inclusive, acompanhar ao vivo o que estaMOSFAZENDOEONDEESTAMOS ISSONÎOÏ novidade. Kallas (2016) revela que hoje ESCREVEMOS OS DIÉRIOS EM BLOGS  EXPO MOSNOSSAINTIMIDADENAINTERNET EXIBI mos imagens das situações mais banais no Instagram, montamos um espetáculo de nós mesmos e buscamos o olhar do outro e sua aprovação por meio de curTIDAS!INTIMIDADETEMSEDEIXADOINlL trar pelas redes. A perda dessa intimidade, associada ao uso de aplicativos que permitem o ANONIMATO  INFELIZMENTE  GEROU CRÓTICAS NEGATIVAS¡POSSÓVELVERIlCAR POREXEM plo, em diversos endereços eletrônicos, a grande quantidade de comentários ofensivos ou irrelevantes dirigidos ao receptor das mensagens no Sarahah. Kallas (2016) comenta que as pessoas postam em redes sociais o que consideram o melhor de si, ASSIMCOMOSÎOCAPAZESDEEXPRESSAR EM PERlSFALSOSOUNÎO OLADOMAISPRECON ceituoso e agressivo de seu ser. O ciberespaço, segundo a autora, propicia que pessoas anônimas postem e compartilhem seus pensamentos, suas ideias, músicas, dotes artísticos, vídeos que se tornam virais, dentre outros elementos. -EGALE E 4EIXEIRA   HÉ QUASE 20 anos, alertam que os processos de subjetivação são fundamentalmente desconhecidos e descentrados do indivíduo, mas são fabricados no registro social, já que estamos imersos em uma sociedade marcada e constituída pela informática, pela comunicação a distância, pela www.portalespacodosaber.com.br

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A PERDA DA INTIMIDADE, ASSOCIADA AO USO DE APLICATIVOS QUE PERMITEM O ANONIMATO, GERARAM CRÍTICAS NEGATIVAS. É POSSÍVEL VERIFICAR A QUANTIDADE DE COMENTÁRIOS OFENSIVOS OU IRRELEVANTES DIRIGIDOS AO RECEPTOR invasão dos computadores em todos os espaços, desde os públicos até os privados. Os computadores e as redes digitais ESTÎOCADAVEZMAISPRESENTESEMNOSSO cotidiano. Mais ainda, parece estar se delineando um caminho onde praticaMENTETODASASQUESTÜESEOSFAZERESDA ORDEMPÞBLICAPODERÎOSERREALIZADOSNA esfera do privado, determinando desse modo um certo tipo de relação entre os INDIVÓDUOSEOSOBJETOS¡POSSÓVELREmE tir então: com uma quebra tão notável da esfera do privado, o Sarahah pode funcionar como um catalisador do anonimato, ou seja, como uma tentativa de QUEBRARAEXPOSI¥ÎOPÞBLICADOUSUÉRIO POR MEIO DA NÎO IDENTIlCA¥ÎO DO MES mo? Ou será que esse tipo de aplicativo AUMENTAAEXPOSI¥ÎOETORNAAINDAMAIS pública a intimidade daquele que recebe os comentários? Sabe-se que apesar do aparente benefício do anonimato na internet, ele provoca outros tipos de problemas. De acordo com Silva Barbosa, Ferrari, Boery e Filho (2014), há uma frequente divulgação e/ou manipulação de fotos e vídeos cotidianos sem o consentimento de seus proprietários na internet, os casos de bullying virtual, estelionato,

PEDOlLIA  AS MANIFESTA¥ÜES PRECONCEI tuosas e depreciativas contra minorias. %MBORA ESSES PROBLEMAS JÉ EXISTISSEM antes do advento do mundo virtual, na internet podem adquirir maiores proporções, atingir um maior número de pessoas, causar danos mais sérios e difíceis de serem remediados, afetando a esfera das relações humanas em todos os seus âmbitos. Na soma dos posicionamentos dos autores e das avaliações em relação ao Sarahah VERIlCA SE QUE A MAIORIA DOS USUÉRIOS AINDA NÎO UTILIZA DIVERSAS RE des sociais com um caráter positivo, ou SEJA  AO INVÏS DE UTILIZAR ESSA OPORTUNI dade como possibilidade de crescimento PESSOALOUDORECEPTOR EXISTEUMASÏRIE de comentários pejorativos, degradantes e, como dito anteriormente, inócuo. De forma paralela, os usuários que são atingidos pelos ataques de terceiros, seguros pelo anonimato, podem, se vulneráveis mentalmente, desenvolver problemas na autoestima e ansiedade. Em alguns casos, esses ataques são gatilhos para o desenvolvimento de psicopatologias, PORISSOCABEUMAREmEXÎOPARAQUEPOS SAMOSUTILIZARASNOVASREDESCOMUMA perspectiva madura e virtuosa.

Referências: KALLAS, M. B. L. M. O sujeito contemporâneo, o mundo virtual e a psicanálise. Reverso, Belo Horizonte, v. 38, n. 71, 2016. MEGALE, F. C. S.; TEIXEIRA, J. Notas sobre a subjetividade em nossos tempos. Psicologia:  ÈI G+‚Ô, v. 18, n. 3, 1998. SILVA BARBOSA, A. et al. Relações humanas e privacidade na internet: implicações bioéticas. Revista de Bioética y Derecho, n. 30, 2014. Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: [email protected]

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neurociência

por Marco Callegaro

Psicopatas

MENTEM melhor?

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A CAPACIDADE DE APRENDER RAPIDAMENTE A MENTIR PODE SER UMA ESTRATÉGIA FAVORECIDA PELA EVOLUÇÃO NO CASO DE PSICOPATAS

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psicopatia, ou transtorno de personalidade anti-social, é um conjunto de características de personalidade que envolve charme superf icial, falta de culpa ou remorso, desrespeito por normas ou obrig ações, baixa tolerância a frustração, entre muitos outros traços. Existe considerável discussão sobre quais são os traços mais essenciais e def inidores deste condição, bem como a ideia de que talvez existam diferentes tipos de psicopatia. Seg undo alg uns pesquisadores, podemos falar em psicopatia primária, que exibe o traço de dominância sem medo, geralmente com razoáveis habilidades sociais e bom desempenho no trabalho, e a secundária, que envolve impulsividade auto centrada, onde o auto controle é muito baixo e não existe consideração pelos outros. Independentemente dos diferentes tipos de personalidade anti-social, a mentira é frequentemente associada a esta condição. Psicopatas de fato mentem melhor? Será a mentira uma estratégia superdesenvolvida no processamento mental de pessoas com psicopatia? Apesar da psicopatia ser caracterizada por faltar com a verdade e tendência a manipular os outros através de mentiras, ainda não está claro se, de fato, indivíduos com elevada psicopatia realmente mentem melhor que as pessoas da população em geral. Um estudo procurou investig ar essa questão, focando na capacidade de aprender a mentir em uma tarefa experimental. A pesquisa comparou pessoas com alta intensidade de traços de psicopatia com aqueles que apresentavam baixa intensidade. Os resultados mostraram que os sujeitos com alto nível de psicopatia aprendem muito rapidamente a mentir, de forma que parece ser uma capacidade natural, pronta para ser aprimorada pela experiência. A diferença enwww.portalespacodosaber.com.br

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tre os dois g rupos foi notável, uma g rande diferença de performance na capacidade de mentir, que ocorreu em função de uma espécie de treinamento em mentir realizada no laboratório. Antes do treinamento, não havia diferença entre os dois g rupos, mas os indivíduos com alta psicopatia dispararam na frente em termos de performance depois de duas experiências de treinamento.

ESTUDO APONTA QUE PERSONALIDADES ANTISSOCIAIS PROCESSAM A MENTIRA COM MAIS RAPIDEZ E FACILIDADE, DE FORMA DIFERENTE DO USUAL Os participantes do estudo olharam fotos de rostos humanos, e em alg umas dessas fotos recebiam um pedido do pesquisador para mentir que não haviam visto aquela pessoa anteriormente. O interessante é que os cérebros dos sujeitos foram escaneados através de neuroimagem, e o tempo de reação aos estímulos foi medido, para se poder avaliar sua performance. Pesquisas anteriores sobre mentira já haviam identif icado que o cérebro precisa se esforçar mais para mentir do que para falar a verdade. A média de tempo de reação para se

falar a verdade em pessoas da população em geral é de menos de meio seg undo, enquanto a mentira leva um seg undo ou mais. Para mentir, o cérebro necessita suprimir a verdade, além de construir a falsa versão. Normalmente, a mentira recruta uma série de processos cerebrais como sistema atencional, memória de trabalho, controle inibitório e resolução de conf litos. Portanto, várias áreas associadas a essas funções e padrões de processamento são ativadas mais fortemente quando uma pessoa está mentindo. Isso foi verif icado nos indivíduos que apresentavam baixo nível de traços de psicopatia, mas, curiosamente, não foi encontrado nos sujeitos com alta psicopatia. Pelo contrário, os indivíduos altamente psicopatas mostraram redução de atividade nessas áreas, como se estivessem naturalmente propensos a ter facilidade para processar a mentira. Uma conceitualização recente na pesquisa da personalidade antissocial envolve o reconhecimento de que os indivíduos de alto funcionamento com traços elevados dessa característica têm funções executivas tão preservadas ou superiores a indivíduos com baixa intensidade de psicopatia. De forma geral, o funcionamento de redes neurais envolvidas no processamento cog nitivo é superior em psicopatas, embora pesquisas tenham demonstrado atividade reduzida em circuitos cerebrais lig ados ao processamento emocional, com um possível descompasso entre o processamento de emoções e dos aspectos cog nitivos.

Referências: SHAO, R.; LEE, T. M. C. Are individuals with higher psychopathic traits better learners at lying? Behavioural and neural evidence. Translational Psychiatry, n. 7, e1175, 2017; doi:10.1038/tp.2017.147 25 jul. 2017. Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

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recursos humanos

por João Oliveira

Novas LEIS, novas CONDUTAS

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udo começa em uma manhã de sábado no Estádio de São Januário, Vasco da Gama, que estava completamente lotado para as comemorações do Dia do Trabalho. Era o dia 1o de maio de 1943 e o então presidente Getúlio Vargas assinava a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho –, o Decreto Lei no 5.452 – já quase no final do período do Estado Novo (1937 a 1945). Uma revolução que surge para unificar toda legislação trabalhista que até o momento existia no Brasil. Inspirada no perfil da legislação trabalhista italiana de Benito Mussolini, “Carta del Lavoro”, a CLT cria a regulamentação das relações coletivas e individuais do trabalho. Logo no início do Estado Novo houve uma preocupação com a unificação das Leis Trabalhistas em prol da classe operária, vários juristas foram convocados para montar o projeto da lei que atendesse as necessidades de proteção do trabalhador dentro do contexto que foi chamado de “estado regulamentador”. Foram 13 anos de trabalho para que a CLT fosse finalizada com seus oito capítulos que cuidam de forma abrangente e específica dos direitos de grande parte dos grupos trabalhistas brasileiros. Em seus 922 artigos podem ser encontradas muitas informações que são valiosas para a segurança da classe tra54

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balhadora em sua relação com o universo patronal, como: identificação profissional, duração (jornada) do trabalho, salário mínimo, férias anuais, segurança e medicina do trabalho, proteção ao trabalho da mulher e do menor, previdência social e regulamentações de sindicatos das classes trabalhadoras. Desde sua criação em 1943 até os dias atuais a Consolidação das Leis do Trabalho já sofreu muitas mudanças em seu texto para se adaptar aos ditames da modernidade. Uma das alterações ocorreu em 22 de dezembro de 1977 em seu Capítulo V com uma nova redação dada pela Lei nº 6.514 que altera o capítulo “Segurança e Higiene do Trabalho” agora intitulado “Da Segurança e da Medicina do Trabalho”. Assim, a CLT passou a versar sobre medidas de prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Essa atribuição administrativa é dada ao Ministério do Trabalho e Emprego para a fiscalização e normatização da matéria (artigos 155, 156 e 159). Estamos em 2017, 40 anos depois dessa última grande alteração, com um mercado dinâmico e novos perfis de atuação. O trabalhador mudou tanto quanto a própria tecnologia, e essa nova reforma trabalhista já havia ocorrido na prática em vários setores à margem da lei. Algumas empresas já dividiam as férias em três períodos e outras, por exemplo, já tinham acordo com

os funcionários para diminuição do tempo da pausa para almoço e, em consequência, saíam mais cedo do trabalho. Em um contexto geral, alguns advogados afirmam que a reforma está prejudicando em muito o trabalhador que tem o perfil tradicional. Aquele que se desloca até o local de trabalho e cumpre uma agenda de horários rígidos. A reforma não afeta, de modo direto, os principais direitos tradicionais, tais como o 13º salário, férias, o aviso prévio etc. Mas o ataque indireto pode ser pesado, embora sutil: afetando os sindicatos e sua representatividade dos trabalhadores, diminuindo os poderes e reduzindo o seu campo de atuação. Assim, consegue afastar a principal barreira que seria de proteção dos trabalhadores, pois passa a jogá-los na negociação direta com os empregadores. São duas grandes mudanças que podem ser prejudiciais para o funcionário em favor do empregador: 1) após homologar no sindicato o trabalhador não terá direito a pleitear na justiça, mas não estão levando em consideração que ao ser demitido o trabalhador que sacar o FGTS para sobreviver durante um período, e somente poderá sacar o FGTS caso seja homologado, assim está “obrigado ao trabalhador aceitar a homologação”. 2) a formação de grupo econômico, pois mesmo que um www.portalespacodosaber.com.br

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A REFORMA TRABALHISTA VAI EXIGIR UM INVESTIMENTO MAIOR EM QUALIFICAÇÃO. ISSO NÃO É DE TODO RUIM, AFINAL SEMPRE HÁ ESPAÇO PARA MELHORIAS EM QUALQUER PERFIL DE ATIVIDADE FUNCIONAL

IMAGENS: 123RF E YOUTUBE.COM

EM UM CONTEXTO GERAL, ALGUNS ADVOGADOS AFIRMAM QUE A REFORMA PREJUDICA O TRABALHADOR QUE TEM O PERFIL TRADICIONAL. JÁ PARA OS QUE TÊM CONTRATO HOME OFFICE, A HISTÓRIA É BEM DIFERENTE determinado sócio participe de duas empresas no mesmo segmento e uma seja condenada a pagar uma indenização ao ex-funcionário, a outra não poderá ser responsabilizada, ou seja, o sócio pode montar 10 empresas para um segmento específico, para contratar 10 funcionários, não pagar seus direitos, que a outra empresa não será responsável por tal indenização. Para os trabalhadores do século XXI, em seus home offices a história é bem diferente: a nova legislação favorece esse perfil laboral criando a possibilidade de uma estruturação de carga horária adequada à função. A negociação entre as partes permite criar inúmeras possibilidades que podem dar elasticidade aos, até agora, www.portalespacodosaber.com.br

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chamados freelancers. A viabilidade de contratos sob medida de demanda sem criar carga extra ao empregador deve alavancar novas demandas e ampliar o número de “funcionários” com esse perfil. Dessa forma, quem detém qualidade em sua produção estará seguro no ambiente competitivo a partir de agora, desde que tenha habilidades comerciais. Assim, qualquer um que deseje se manter

(onde quer que esteja) deverá imprimir maior excelência em sua atividade. Diante dessas alterações os departamentos de RH deverão estar preparados para o impacto direto na cultura organizacional das instituições. O melhor caminho, sem dúvida, é o esclarecimento de todos os detalhes da nova legislação através de um bom processo comunicacional. Desde já palestras e treinamentos devem estar na pauta de qualquer empresa que deseje manter seu índice de produtividade. As dúvidas e questionamentos sem o devido esclarecimento são como ferrugem em qualquer engrenagem. Colaboraram para elaboração deste texto os advogados trabalhistas Flávio Branco e Tatiana Lima Falcão

João Oliveira é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).

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PERlL

Por Anderson Zenidarci

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Isolamento e

GENIALIDADE ISAAC NEWTON É CONSIDERADO UM DOS MAIORES ESTUDIOSOS DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE, PORÉM SEMPRE SOLITÁRIO, COM SUSPEITA DE SOFRER DE SÍNDROME DE ASPERGER 56

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MUMAPEQUENAALDEIADA)NGLATERRACHAMADA7OOLSTHORPE )SAac Newton (1642-1727) nasceu prematuro. Quase morreu ainda NASPRIMEIRASSEMANASDEVIDA,OGOlCOUØRFÎO,OGOlCOUØRFÎO,OGOlCOU órfão de pai. Sua mãe, ao casar novamenTE PREFERERECOME¥ARAVIDASEMELE#OM dois anos foi morar com sua avó. Foi uma criança muito quieta, observadora e sem RELACIONAMENTOS DE AMIZADE -ANIFEStava interesse por atividades manuais. !INDAMENINO FEZUMMOINHODEVENTO QUEFUNCIONAVAEUMQUADRANTESOLARDE PEDRA  QUE HOJE ESTÉ NA 3OCIEDADE 2EAL DE ,ONDRES #OM  ANOS INGRESSOU NA 5NIVERSIDADEDE#AMBRIDGE$URANTEOS QUATRO ANOS DE ESTUDOS  DESENVOLVEU E aprofundou suas aptidões matemáticas. Mas um fato inédito e histórico aconteCEU 0OR DEZOITO MESES A UNIVERSIDADE lCOU FECHADA EM CONSEQUÐNCIA DA EPIDEMIA DE PESTE BUBÙNICA  QUE ASSOLOU A )NGLATERRA EMATOUUMDÏCIMODA POPULA¥ÎO%LETEVEQUEVOLTARPARACASA  E NESSE PERÓODO  TOTALMENTE RECLUSO NA FAZENDAONDEMORAVASUAAVØ FEZASDEScobertas mais importantes para a ciência: DESENVOLVEUASLEISBÉSICASDOMOVIMENTO ESTUDOUOSCORPOSCELESTES DESCOBRIU ALEIFUNDAMENTALDAGRAVIDADE INVENTOU OSMÏTODOSDECÉLCULODIFERENCIALEINTEGRAL TAMBÏMESTABELECEUOSALICERCESDE SUASGRANDESDESCOBERTASØPTICAS !PØSAEPIDEMIAVOLTOUPARAAUNIVERSIDADE AGORANÎOMAISCOMOALUNO MAS como professor de Matemática. Passou a DEDICAR SEÌPESQUISADOSRAIOSLUMINOSOS #ONCLUIUQUEALUZÏORESULTADODOVELOZ MOVIMENTODEUMAINlNIDADEDEMINÞSCULASPARTÓCULASEMITIDASPORUMCORPOLUMINOSO%QUEALUZBRANCARESULTADAMIStura das sete cores básicas. Inventou um NOVOSISTEMAMATEMÉTICODECÉLCULOINlNITESIMAL APERFEI¥OOUAFABRICA¥ÎODEESPELHOSELENTES FABRICOUOPRIMEIROTELESCØPIOREmETOR DESCOBRIUASLEISQUEREGEM os fenômenos das marés, numa época em que as atividades econômicas dependiam DA NAVEGA¥ÎO MARÓTIMA %STABELECEU TRÐS www.portalespacodosaber.com.br

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WILLIAM BLAKE/WIKIPEDIA

Retrato feito em 1795 por William Blake intitulado “Geômetra divino”, em homenagem à Newton, considerado um ícone de descobertas tais como: a luz branca resulta da mistura das sete cores básicas e a lei da gravidade universal

NEWTON ERA ABSOLUTAMENTE OBCECADO POR SEUS ESTUDOS. TINHA POUCAS RELAÇÕES SOCIAIS E BAIXA EMPATIA COM AS PESSOAS. O AUTISMO PODE TER SIDO UM DE SEUS DIAGNÓSTICOS TERESSEPELAESCATOLOGIAEOTEMADOlM do mundo. 0ASSOUOSÞLTIMOSVINTEANOSESTUDAN DOECOMPOUCOCONTATOSOCIAL$EDICAVA

SEMUITOASEUSESTUDOSEVÉRIASVEZESDEI XAVADESEALIMENTAR BANHARETAMBÏMDE DORMIRPORCAUSADISSO%RAABSOLUTAMEN te centrado e obcecado quando se interesSAVAEMALGO(OJESEACREDITAQUESOFRIA DESÓNDROMEDE!SPERGER%LASECARACTE

RIZAPORUMAMUTA¥ÎONOFUNCIONAMENTO do cérebro, criando comportamentos diferentes das pessoas normais. Era considerado “estranho e esquisito”, com poucas RELA¥ÜESSOCIAIS BAIXAOUNENHUMAEMPA tia com as pessoas. O autismo entra como POSSÓVELDIAGNØSTICODIFERENCIAL Em 1727, poucas semanas antes de SUA MORTE  QUEIMA PESSOALMENTE VÉRIAS CAIXASCHEIASDESEUSMANUSCRITOS/QUE poderia haver escrito para que fosse neCESSÉRIA TAL ATITUDE ! VERDADE Ï QUE SE SUSPEITA QUE O MATERIAL QUEIMADO Ï RE FERENTE A ESTUDOS OCULTOS DE ALQUIMIA E TEOLOGIA/QUEESSEGÐNIONÎOQUISQUE soubéssemos sobre seus estudos, teorias ECONCLUSÜES.EMDÉPARAIMAGINAR SO MENTE DÉ PARA LAMENTAR TAL ATITUDE %LE MORREUAOSANOS DEPOISDEPASSARAL GUM TEMPO SOFRENDO DE GOTA E DE UMA INmAMA¥ÎO PULMONAR %RA UMA PESSOA DIFÓCIL  ARREDIA E DE POUCAS FALAS  DE NE nhum contato afetivo, mas um dos homens mais famosos do mundo.

Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas.

ARQUIVO PESSOAL

hLEISDOMOVIMENTOv OUhLEISDE.EWTONv !PRIMEIRALEIDIZQUEhUMCORPOEMRE pouso permanece em repouso se não é forçado a mudar, um corpo que se move continuará a mover-se com a mesma veLOCIDADE E NO MESMO SENTIDO  SE NÎO FOR FOR¥ADOAMUDARv!SEGUNDALEIhMOSTRA que a quantidade de força pode ser medida por uma proporção de mudança observada no movimento”. Essa proporção é OQUESECHAMADEACELERA¥ÎOEREFERE SE Ì RAPIDEZ DO AUMENTO OU DA DIMINUI¥ÎO DAVELOCIDADE!TERCEIRALEIDIZQUEhTODA ação causa uma reação, e que a ação e a REA¥ÎOSÎOIGUAISEOPOSTASv$ESCOBRIUA hLEIDAGRAVITA¥ÎOUNIVERSALv É considerado um dos maiores estudiosos da história da humanidade. Sempre SOLITÉRIO FOIAUTODIDATAATÏOPONTOQUEA ciência da época tinha o que acrescentar ao seu conhecimento, depois foi observa¥ÎO DEDU¥ÎOECÉLCULOS%NlM UMGÐNIO MUNDIALMENTE RECONHECIDO %M  A rainha Ana nomeou-o diretor da Casa da -OEDA%MFOIELEITOPRESIDENTEDA 3OCIEDADE2EAL QUECONGREGAVAOSMAIS CÏLEBRESPENSADORESDAÏPOCA TORNANDO

SEVITALÓCIO%M AMESMARAINHALHE CONCEDEUOTÓTULODEh3IRv&OIOPRIMEIRO CIENTISTAARECEBERTALHONRARIA -ASEAPESSOA)SAAC.EWTON0OUCO SEEXPLORAESSEASPECTO.ÎOHÉREGISTROS DEQUE.EWTONTEVERELA¥ÜESPRØXIMAS  EM NENHUMA ESFERA  COM MULHERES 3E ALGUMDIASEAPAIXONOU FOIPORUMHO MEMn.ICOLAS&ATIODE$UILLIER UMJO VEMEBELOMATEMÉTICOSUÓ¥O#ARTASEN TREOSDOISREVELAMALGUMARELA¥ÎOQUE durou quatro anos e se rompeu drasticaMENTESEMNENHUMAEXPLICA¥ÎOPÞBLICA .ÎOMAISSEFALARAMEEVITAVAMESTAREM NO MESMO LUGAR 3ABE SE QUE .ICOLAS Fatio teve, na sequência do rompimenTO  UM RELACIONAMENTO HOMOSSEXUAL MAIS hVISÓVELv  QUE DUROU MAIS DE DUAS DÏCADAS.EWTON PORSUAVEZ PASSOUA estudar profundamente os escritos bíBLICOS OBCECADOPORCØDIGOSSECRETOSE PROFESSAISDA"ÓBLIA EMESPECIALSOBREO LIVRODE$ANIELEOÞLTIMOLIVRODA"ÓBLIA !POCALIPSE!PRESENTAVAUMGRANDEIN

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PSICANÁLISE

A forma pela qual a mulher e o feminino são representados se altera ao longo dos tempos; na Renascença, por exemplo, ela era destinada a amar e obedecer o marido

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SER MULHER Na atualidade, com o desenvolvimento do capitalismo, o corpo feminino aparece coisificado, como objeto de consumo

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Por Luciana Moutinho

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ensar a representação social da mulher na contemporaneidade implica o resgate da localização do feminino historicamente. Trata-se de um conceito que tem desenvolvimentos históricos e culturais e que não pode ser encarado como “natural”. A maneira como a mulher e o feminino são representados se modifica através dos tempos. Enquanto recorte histórico é possível partir, por exemplo, de um período que marca rupturas importantes na sociedade, o período da Renascença (Arriès et al., 1991, p. 7-581), período este em

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Luciana Moutinho é psicanalista, psicóloga de formação e mestre em Psicologia Social pela PUC-SP. Atende em consultório particular e organiza cursos livres de Psicanálise. Professora e supervisora universitária na faculdade Anhanguera e supervisora clínica na Faculdade de Medicina do ABC – Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica.

que a mulher era destinada a amar e obedecer o marido. Os estudos do historiador Phillip A rriès enumeram o desenvolvimento do lugar da mulher na sociedade (entre outras temáticas). É possível acompanhar com o autor que historicamente a mulher tem sido desprivilegiada no que concerne aos espaços sociais. Se na Idade Média a mulher era alvo de perseguições religiosas, na Era Moderna existe um discurso amoroso, sem as sublimidades da religião, e ele se adaptará às exigências de uma sociedade de consumo para reforçar a definição da mulher como um objeto precioso possuído por aquele que a ama (A rriès; Duby et al., 1986, p. 228). Faz-se de suma importância o questionamento sobre esses lugares simbólicos destinados ao feminino, tendo em vista o desafio de pensar em contingência ao tempo atual; ou seja, sem a facilitação do psique ciência&vida

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historiador que tem a superação das condições estudadas implícitas em sua pesquisa. A teoria crítica em Ciências Humanas, principalmente da Escola de Frankfurt, se baseia no marxismo para entender a sociedade, enquanto dividida em classes, e também na teoria psicanalítica para tratar das questões dos sujeitos em diálogo com as questões do social, sem criar rupturas entre ambas as perspectivas. De acordo com Olgária Matos, “essa teoria crítica realiza uma incorporação do pensamento de fi lósofos tradicionais, colocando-os em tensão com o mundo presente” (Matos, 1993, p. 13). Essa mesma teoria (crítica) também possibilita, enquanto “arma teórica” (Matos, 1993, p. 5), a desestabilização do império da lógica

Freud lida com a questão do feminino pela via política; estabelece seu método de associação livre no tratamento da histeria do século XX, dá a palavra às mulheres

ŒIdade Média Œ

A Idade Média, período citado no texto, no qual a mulher era alvo de perseguições religiosas, teve início na Europa com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Esse período estendeu-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano. A Idade Média se caracteriza pela economia rural, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada.

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ORAZIO GENTILESCHI AND GIOVANNI LANFRANCO/NATIONAL GALLERY OF ART

O filme trata de uma trama trágica no seio de uma família: após o suicídio da esposa e o estupro da filha, o médico cirurgião plástico, dr. Robert Ledgard, decide se vingar do malfeitor transformando-o em uma mulher, o que faz através de inúmeras cirurgias capitalista no mundo globalizado e da desmarginalização das discussões de temáticas rechaçadas pelo sistema, sendo esse o papel das Ciências Humanas e Sociais enquanto forma de resistência à ideologia do capitalismo e do patriarcado. Na atualidade, com o desenvolvimento do capitalismo, e o fetichismo da mercadoria, o próprio corpo da mulher aparece reificado (coisificado), como objeto de consumo. É possível articular esse tema à obra cinematográfica A Pele que Habito, do cineasta espanhol Pedro Almodóvar Caballero. Apenas para contextualizar, o filme de Almodóvar trata de uma trama trágica no seio de uma família,

em que, após o suicídio da esposa e o estupro da filha, o médico cirurgião plástico, dr. Robert Ledgard, decide se vingar do malfeitor (Vicente) transformando-o em uma mulher, o que faz através de inúmeras cirurgias. O médico estava desenvolvendo uma pele artificial, que serviria para amenizar as deformidades da esposa causadas por queimaduras que sofreu e que desfiguraram sua aparência, mas ela se suicida, não dando tempo de ele finalizar suas tentativas. Essa obra abre espaço para o questionamento acerca do feminino e de suas modulações representativas na cultura, bem como da cultura enquanto atrelada a um determinado momento histórico: a contemporaneidade. Dentre alguns estudos já produzidos sobre a obra de Almodóvar, há o de Cascaes e Martins (2013), que irão destacar o aspecto de dominação masculina representado na obra e que dialoga com um modelo social ainda atuante na visão das autoras. Em uma cena, a fi lha do médico cirurgião se encontra a sós com Vicente em uma festa, e mesmo tendo no início correspondido às investidas do rapaz a moça passa a resistir e demonstra não querer ir adiante com as preliminares e trocas de carícias, o que é repudiado por Vicente, que considera apenas o seu desejo de consumar o ato sexual. Essa cena assinala uma característica ainda atual, de acordo com as autoras citadas, que ilustra uma sociedade de “binarismos hierarquizados marcados pela dominação patriarcal. Neste contexto, especialmente a mulher sofre variadas formas de discriminação em uma evidente relação de subordinação e controle sobre o diferente” (Cascaes; Martins, 2013, p. 2). Para inserir uma ref lexão psicanalítica sobre o filme de Almodóvar dentro do contexto atual, político e social, cabe ainda ressaltar que a Psicanálise, desde Sigmund Freud (1856-1939), seu criador, aborda a

FERDINAND SCHMUTZER/WIKIPEDIA

PSICANÁLISE

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FERDINAND SCHMUTZER/WIKIPEDIA

Construção do feminino

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ssa afirmação de que o complexo de Édipo não produz a mulher, do ponto de vista da estruturação social, quer dizer ainda que a mulher não se constrói apenas pela via da identificação social (relação triangular: pai, mãe, criança etc.). No filme

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A resolução do complexo de Édipo é, para Freud, do lado masculino, a identificação à ordem dos possuidores do falo, enquanto que para o feminino ele não consegue resolver a equação; não determina qual a maneira feminina de resolução do Édipo de Almodóvar é possível sublinhar algumas tentativas de construção do feminino que são fadadas ao fracasso, por se tratarem justamente de uma construção que vem do Outro. O dr. Robert tenta transformar Vicente em uma mulher, não apenas através das inúmeras cirurgias e procedimentos aos quais o submete, mas também busca que Vicente assuma uma posição feminina para com ele, e, apesar de o desfecho da trama parecer bastante enigmático, é evidente que Vicente resiste. “Sei que respiro’’ é a frase que ele escreve nas paredes de seu quarto. Respirar é o que o mantém na posição ética de seu desejo e de sua existência enquanto não determinada pelo outro (o médico), é o único espaço que possui enquanto ação, inclusive de seu corpo, que o coloca na posição de assumir o controle e não de ser controlado.

ALTE NATIONALGALERIE/WIKIPEDIA

questão do feminino pela via política. Freud, ao estabelecer seu método de associação livre no tratamento da histeria do século XX, dá a palavra às mulheres de sua época e privilegia o discurso da singularidade acerca de seus sintomas e desejos. Elabora uma nova teoria sobre a sexualidade, que esbarra na impossibilidade de representar unicamente pela via do falo o que é uma mulher, ou seja, de representá-la pela via do que pode ser compartilhado na cultura de forma genérica (representação social); o falo é uma forma representativa de poder, via de regra masculino, limitado e nomeável (Mezan, 1982, p. 107). A resolução do complexo de Édipo é, segundo Freud (1924), do lado masculino, a identificação à ordem dos possuidores do falo, enquanto que para o lado feminino o pai da Psicanálise não consegue resolver a equação; ou seja, não determina ao certo qual seria a maneira feminina de resolução do Édipo, apenas de sua entrada (a entrada da menina no Édipo) através do complexo de castração, e em seus estudos deixa a questão do feminino em aberto. Freud tentou transpor essa explicação [a do complexo de Édipo, grifo do autor] para o lado feminino, não sem deparar com muitas surpresas e desmentidos. É importante assinalar, entretanto, que, no final, reconheceu o fracasso de sua tentativa. Seu famoso O que Quer uma Mulher? confessa isso, no final, e poderia traduzir-se assim: o Édipo produz o homem, não produz a mulher (Soler, 2006, p. 17).

Œênfase Œ Ser uma mulher enfatiza o uma enquanto apontamento do singular. Tal posição, de acordo com a Psicanálise (Soler, 2006, p. 181), não se sustenta pela via da fantasia. Fantasia essa que é compartilhada no laço social. Pensar o que é uma mulher implica, segundo essa visão, pensar a mulher uma a uma.

Seria Vicente com toda sua resistência uma metáfora da própria posição da mulher na sociedade? Uma vez que a mulher não pode ser construída apenas pela via da identificação e que ela não pode ser apenas construída ou pensada pelos elementos simbólicos da cultura, Vicente, ao ser obrigado a estar nessa posição, metaforiza a resistência feminina aos saberes e lugares estabelecidos pela sociedade para a mulher ainda hoje? Cabe uma ref lexão. Talvez um dos elementos mais valiosos da arte, e da oitava arte em consequência – a de que se trata aqui – seja justamente a possibilidade de levantar questionamentos e enigmas a serem ref letidos. A Psicanálise, de maneira muito parecida, também se interessa por ref lexões e enigmas acerca do humano. Freud inicia o questionamento sobre o feminino, mas não chega a concluir a teoria sobre o tema, ele o introduz na cena de seus estudos clínicos e, logo, dá espaço para estudá-lo cientificamente, mas não tem tempo de finalizá-lo. Outros psicanalistas deram continuidade aos estudos freudianos. Um desses psicanalistas que vão se atentar bastante aos estudos do feminino e do que é ser uma mulher é o francês Jacques Lacan (1901-1981).

Demanda de amor

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e acordo com a psicanalista Collete Soler (2006, p. 28), Freud enfatizava a demanda de amor como propriamente feminina. Lacan (...) ressalta que, na relação dos desepsique ciência&vida

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PSICANÁLISE PARA SABER MAIS

A TEORIA CRÍTICA DA ESCOLA DE FRANKFURT

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Escola de Frankfurt, criada na primeira metade do século XX, teve seus princípios baseados na união de um grupo de intelectuais, pensadores e estudiosos, os quais se reuniram para elaborar o pensamento que foi chamado de teoria crítica. Tratava-se de uma crítica bem embasada e fortalecida da sociedade, contestando a forma pela qual a civilização da época encarava seus problemas. A sociedade vivia um período de grande instabilidade e muitas problemáticas políticas e econômicas dominavam o cenário. Os pilares que conseguiam G G IG  !G ‚  ` G G G GhÔ  ‚‚G   IG G OG GHG G  ‚`  G G IP I9 H como a utilização de doutrinas que criticavam aspectos que permeiam a vida em sociedade, como o sistema econômico vigente – o capitalismo –, a arte, o I9G ` GG^ IG: 9GG  HG I^ bG temáticas, o grande foco da escola eram o trabalho e a forma como se davam GGh€G GOIG:* ` I   G  principal deles: Theodor Adorno, que incitou a participação de muitos outros, tais como Walter Benjamin, Marcuse, Otto Apel, Max Horkheimer, Jürgen Habermas, Leo Lowenthal, entre outros representantes de renome.

A Psicanálise se interessa por reflexões do humano. Freud inicia o questionamento sobre o feminino, mas não chega a concluir, ele o introduz na cena de seus estudos e, logo, dá espaço para estudá-lo cientificamente, mas não tem tempo de finalizá-lo jos sexuados, a falta fálica da mulher vê-se convertida no benefício de ser o falo, isto é, aquilo que falta ao Outro. Para Lacan, de acordo com Soler, a falta feminina já está positivada. Em outras palavras, a falta fálica, ou como mencionado a impossibilidade de ser simbolizada e localizada apenas pela via fálica, potencializa a mulher, dizer que ela tem sua falta positivada é afirmar que sua falta possibilita a criação e a construção singular de sua posição. É um signo cultural o quanto a mulher se coloca sempre na tentativa de ser única, essa é a sua falta positivada. É possível pensar em situações banais, nas quais o feminino alcança destaque justamente pela via da 62

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singularidade, enquanto o masculino pela via da generalização. Um bom exemplo, talvez um pouco batido mas útil, é o de uma festa onde as mulheres tentam estar o máximo possível diferentes e singulares em relação a suas vestimentas, enquanto os homens procuram estar o mais parecidos e discretos. Qualquer detalhe extra, como a cor da roupa ou acessório, chama a atenção e fragiliza a masculinidade. Eis aqui um fator limitante e também opressor para aqueles que estão do lado masculino na sociedade. A partir do exposto é possível articular a problemática das representações sociais do feminino na contemporaneidade, com a posição

da Psicanálise acerca da posição feminina e do que é ser uma mulher, uma vez que esta última coloca a resposta na via de uma construção idiossincrática; ou seja, ser uma mulher é para a Psicanálise, desde sempre, o enfrentamento político aos discursos já reinantes e aos lugares simbólicos já estabelecidos (representações sociais). O filme A Pele que Habito traz à tona o questionamento sobre o que é ser uma mulher, os enfrentamentos de estar na posição feminina e os desdobramentos sociais que enfatizam desde períodos como a época medieval ou a Renascença, citados anteriormente, até a atualidade, onde é possível perceber os determinantes sociais masculinos e a indispensável resistência feminina que aponta para a construção de seu próprio lugar e espaço, enquanto enfrenta a desconstrução desses outros lugares e espaços predeterminados pela cultura. REFERÊNCIAS A Pele que Habito. Direção: Pedro Almodóvar Caballero. Espanha: Paris Filmes, 2011. 1 DVD (117 minutos, colorido, legendado, português). ARRIÈS, Phillip; DUBY, Georges et al. História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. CASCAES, Tânia Rosa F.; MARTINS, Guaraci da Silva Lopes. “A linguagem cinematográfica e a normatização da sexualidade: dialogando com A Pele que Habito de Pedro Almodóvar”. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos) Florianópolis, set. 2013. Disponível em: Acesso em: 20 ago. 2015. FREUD, Sigmund. A dissolução do complexo de Édipo [1924]. In: Obras Completas, v. 19. Tradução Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. MEZAN, Renato. Sigmund Freud. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1982. MATTOS, Olgária C. F. A Escola de Frankfurt: Luzes e Sombras do Iluminismo. São Paulo: Ed. Moderna, 1999. SOLLER, Colette. O que Lacan Dizia das Mulheres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. www.portalespacodosaber.com.br

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MOMENTO DO LIVRO

$ SULPHLUD LPSUHVVmR p D TXH ÀFD QmR tenha dúvida disso. E ela tem muito a ver FRPDVLPSDWLDTXHYRFrGHVSHUWD 6HPVLPSDWLDQmRKiHVSDoRSDUDGHVFR EULUTXtPLFDQRVUHODFLRQDPHQWRVKXPDQRV

e aumentam as chances de uma relação naufragar já no início. No entanto, se nas mais diversas situações do cotidiano você não consegue a FRQÀDQoDORJRQRFRPHoRLVVRQmRVLJQL ÀFD TXH VHMD PHQRV FRPSHWHQWH RX FRQ ÀDQWHTXHRXWUDVSHVVRDV7DOYH]QmRWHQKD LQYHVWLGR WHPSR QHVVD KDELOLGDGH VRFLDO 0DV DLQGD Ki WHPSR SDUD ID]HU LVVR 3RU PHLRGHGH]SDVVRVPXLWRVLPSOHV)UDQN 1HXPDQQ UHYHOD FRPR D VLPSDWLD RFRUUH HPRVWUDTXHFDGDGHWDOKHSRGHDPSOLDUR VHXDVSHFWRDWpPHVPRQRGLDDGLDGRPL QDQGRDDUWHHPDSHQDVGXDVVHPDQDV3RU ÀPROLYURDSUHVHQWDDVFLQFRVDLDVMXVWDV PDLV IUHTXHQWHV H DSRQWD FRPR HVFDSDU delas com elegância. &DULVPDpVHUYLVWRFRPRDOJXpPFRQÀ iYHOTXHWDPEpPpXPDTXDOLGDGHGLUHWD PHQWHOLJDGDjVLPSDWLD

Livro: A Força do Carisma Número de páginas: 174 Editora: Lafonte

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divã literário

por Carlos São Paulo

Vítima de nossas próprias CRIAÇÕES

N

a mitologia grega, há um lugar relacionado ao f im da vida e ao mundo das profundezas que é inacessível a uma visão superf icial. Esse lugar chama-se Hades. Quem entra no Hades jamais poderá sair. Esse lugar mitológico manifesta-se no decurso de nossa existência para assinalar as separações, o todo trágico do cotidiano ou o inferno na vida das pessoas. Em Nápoles, também existe um mundo semelhante, que se chama Gomorra. O jornalista Roberto Saviano viveu uma experiência como Hércules, um herói mítico que conseguiu entrar e sair do Hades. Ele foi até o mundo subterrâneo de Gomorra e conseguiu sair de lá para nos contar, em detalhes, o universo criminoso dos negócios dessa máf ia que tem os seus tentáculos apoiados em diversos países. Depois de publicar esse relato no livro Gomorra: a História de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana, uma obra de não f icção, Saviano perdeu a liberdade e precisou viver sob escolta policial para conseguir sobreviver. Talvez o Saviano que foi ao Hades não voltou mais, pois o que retornou é um outro, mais amadurecido.

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Gomorra é um exemplo de como o homem é uma vítima de suas próprias criações. Lá, regidas pelo pecado da idolatria, a violência e a tirania têm o dinheiro como uma divindade. Essa divindade não atende a totalidade para que a relação do homem com a natureza que lhe habita possa harmonizar-se. Precisamos de uma Imago Dei que contemple todas as nossas dimensões naturais. O dinheiro só contempla Phobos, o deus do poder, e exclui Eros, a dimensão do amor. O deus dinheiro é venerado pelas ideias que regem o comércio, a propriedade e o lucro. Tais ideias recorrem à violência física, já que palavras não conseguem expressá-las. É como no mundo dos répteis: só o mais hábil chega ao topo e sobrevive à luta competitiva. O desaf io é permanecer lá no topo o maior tempo possível. O culto a esse deus exige as forças DIVINAS E DAIMÙNICAS DAS IDEIAS DE El

Gomorra: a História de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana Autor: Roberto Saviano Editora: Bertrand Brasil Ano: 2008 Nº de páginas: 350

ciência e crescimento para manter a vitalidade dessa cultura. Nos campos DE EXTERMÓNIO DO NAZISMO  A ElCIÐNCIA máxima foi exterminar e queimar 20 mil corpos duas horas depois que os humanos ainda vivos desembarcaram. Não poderia haver atrasos, nem movimentos inúteis, ou qualquer outra complicação. Nesse culto, crescer ou morrer pendula à revelia dessa divindade como a f igura mitológica do deus Chronos, que é fértil para criar os seus f ilhos e ef iciente para engoli-los. A humanidade parece empurrada para o futuro a cada 24 horas, sacrif icando-se em nome desse deus que, a depender da cultura, adquire nomes como dólar, euro, libra etc. Dessa forma cria-se o sistema. Esse sistema subjuga os homens a uma vida conduzida por atos quase que automáticos, como se cada membro fosse uma peça que não faz falta ao sistema, ao mesmo tempo em que esse aparelho precisa dessas peças facilmente substituíveis que engolem o próprio criador. Tirania é a única ORA¥ÎOQUEFAZSENTIDO#OMODIZOl lósofo inglês John Locke: “Tirania é o poder absoluto e arbitrário que um homem tem sobre outro para tirar-lhe a vida no momento em que lhe agradar”.

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EM GOMORRA, SOB O PECADO DA IDOLATRIA, A VIOLÊNCIA E A TIRANIA TÊM O DINHEIRO COMO UMA DIVINDADE. E ELAS TRAÇAM O ENREDO INSTIGANTE DESTA OBRA, QUE CONTA A HISTÓRIA DE UM JORNALISTA INFILTRADO NA MÁFIA ITALIANA

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QUANDO SOMOS TIRANOS DE NÓS MESMOS, PROJETAMOS ESSA CONDIÇÃO EM GOVERNANTES TERRÍVEIS SEM SE DAR CONTA DO QUANTO EXERCEMOS UM ABSOLUTISMO PARA GOVERNAR NOSSA VIDA PESSOAL

A tirania governa por meio de gruPOSCOMOAMÉlAOUOPODERPÞBLICO  que tomou para si a condição de usar direitos e imunidades para praticar negócios escusos. Quando somos tiranos de nós mesmos, projetamos essa condição em governantes terríveis sem nos darmos conta do quanto exercemos um absolutismo para governar nossa vida pessoal e viver uma tirania sem perceber. Talvez não tenhamos consciência dessa forma de atuar, mas lCAMOShVICIADOSvEMPRÉTICASGANAN ciosas que envolvem um contínuo de ações danosas a nós mesmos e à nosSA FAMÓLIA  PERDENDO SE NUMA mORESTA cheia de almas que não conseguiram dar sentido às suas vidas. www.portalespacodosaber.com.br

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Entre o passado e o futuro, há uma lacuna que ocupamos. Essa posição leva a uma luta entre os avisos do passado e o receio de surpresas desagradáveis do futuro. O passado talvez se estenda além do dia em que fomos concebidos, pois temos uma história antes de chegarmos ao mundo. O futuro também poderá ir além de nossa existência e se estender no inf inito. Será que sabemos alguma coisa sobre as ideias que prevalecem em uma dada cultura e, como um organismo

de imunidade baixa, tomamo-la como nossa? Tais ideias, espalhadas em nossa psique como livros empoeirados, em dado momento, poderão ser abertos e fornecer energia suf iciente para que os homens de uma sociedade possam criar, sem perceber, um sistema para destruí-los. Assistimos, no Brasil atual, a criação de um grande aparelho para venerar a todo custo a divindade dinheiro. Essa situação educa nossas crianças escrevendo tais acontecimentos naquele que será mais tarde um livro empoeirado que torcemos para nunca ser aberto, porém admitimos que tais lições sejam registradas nessa obra. Pedimos ao sagrado, a um Deus da totalidade, que no seu último capítulo possamos ensinar uma lição de justiça. Para isso, torcemos para que nenhum desses líderes atuais, vinculados ao grande sistema de corrupção, seja contemplado com uma vitória nas urnas como um prêmio por ter participado de uma organização que ajudou a deteriorar mais ainda os nossos valores éticos e morais.

Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. [email protected] / www.ijba.com.br

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cinema

Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps

Interferência

terapêutica /2/4%)2/$%GYPSY#/.342œ)35! 42!-!!0!24)2$/3%15°6/#/3 %%22/3$%#/.$54!$%5-! 02/&)33)/.!,%-03)#/,/')!! 3¡2)%02/0š%0%.3!2.!¡4)#!$/ !4%.$)-%.4/03)#/4%2£0)#/

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m Gypsy, série criada pela novata Lisa Rubin e que traz Naomi Watts como protagonista, representando a psicoterapeuta Jean Holloway, o espectador se verá frente a um bom representante do gênero, em que não será preciso assassinatos ou entidades sobrenaturais para ser levado a bons sustos. !CENAlNAL QUANDOENlM*EANDIZQUALLINHASEGUEEMSEUSSU postos tratamentos, para os estudiosos da Psicologia será assim uma lNAIRONIA%SPERAMOSQUENÎOALIMENTEASJÉULTRAPASSADASCONTENDAS entre as diferentes correntes que compõem o vasto campo de estudos DESSACIÐNCIATÎOHUMANA EQUESIRVAAPENASPARAFAZERVERQUEACLÓNI CA AOLONGODAPRODU¥ÎOCINEMATOGRÉlCA JÉALIMENTOUBONSROTEIROS EEXCELENTESPRODU¥ÜES)NÞMEROSlLMESJÉCONSTRUÓRAMPERSONAGENS como psicoterapeutas e/ou psicanalistas que arrepiaram as transfeRÐNCIASALHEIAS!SPROlSSÜES DEMANEIRAGERAL EMSUASCARICATURAS  OUSEJA PELOEXAGERODASMÉSEXPERIÐNCIAS TÐMSERVIDODEBONSMOTES PARAAPRODU¥ÎOFÓLMICAnQUECONlRMEMISSOOSADVOGADOS MÏDICOS  psicanalistas e psicoterapeutas de modo geral.

)NDEPENDENTEMENTEDALINHAQUEESTEJAMOSFOCANDO ASÏRIESER ve muito bem para pensar na ética do atendimento psicoterápico, na importância que, por exemplo, a Psicanálise costuma colocar em seu CONHECIDOTRIPÏDAFORMA¥ÎOESTUDOTEØRICO ANÉLISEPESSOALEATEN DIMENTODECASOSSUPERVISIONADOS.EMTODASASLINHASCONCORDAM QUANTOAOINVESTIMENTODOPSICOTERAPEUTAEMRELA¥ÎOASEUPRØPRIO TRABALHOPSICOTERÉPICO ALGUMASVEEMCOMOOBRIGATØRIONAFORMA¥ÎO EOUTRASENTENDEMQUESOMENTEOSUJEITOPODERESOLVERSOBRESUAPRØ PRIADEMANDADETERAPIAETEMPODELA%SSAÏUMADISCUSSÎOQUEMUI TASVEZESSECONFUNDEENTREASLINHASDENTRODAQUILOQUESECOSTUMA CHAMARDEhCAMPOPSIv (ÉENTREOSLEIGOSUMACERTAILUSÎODEPENSARNAlGURADOPSI coterapeuta como uma coisa única, até porque não interessa, na www.portalespacodosaber.com.br

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Jean Holloway (Naomi Watts) é uma psicoterapeuta que trabalha em uma clínica em modelo de equipe, mas como em    GG 9G‚I ÈI G    G I G GOP IG

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em sua atuação. Nesse sentido, a série é PONTUALMENTE IRÙNICA  E *EAN  A PRØPRIA CONCEITUA¥ÎODOQUELEMOSCOMOhSELVA GEMv&REUD Psicanálise Selvagem). Jean Holloway é uma psicoterapeuta QUETRABALHAEMUMACLÓNICAEMMODELO DEEQUIPEVEREMOSQUEFAZEMENCONTROS DEGRUPOENTREOSPROlSSIONAIS RECEBEN DO ALI UMA SUPERVISÎO DE UM CHEFE DA CLÓNICA&RANK$EAL EOPINIÜESENTREOS COLEGAS%SSEÏUMMODELOEXCELENTEDE supervisão, mas, como em tudo que diz

RESPEITOAOFAZERPSI SUAElCIÐNCIADEPEN de muito do grau de comprometimento QUESEALIAÌPRÉTICA%MSUAVIDAPRIVA DAÏCASADACOMUMADVOGADO -ICHAEL (OLLOWAY "ILLY #RUDUP  E TEM UMA ÞNICAlLHA $OLLY-AREN(EARY 6IVEA FAMÓLIATAMBÏMEMMODELOTIPICAMENTE TRADICIONALMORAMEMUMDOSSUBÞRBIOS DE.OVA9ORK #ONNECTICUT ECONVIVEM com seu grupo lá basicamente formado pelos outros casais pais dos amigos de $OLLY*EANE-ICHAELVIVEMARETOMADA de um casamento que atravessou uma CRISE E EM QUE HOUVE UMA INlDELIDADE DELE !OS POUCOS O CONmITO ENTRE O CA sal será explicado de forma mais densa, EOhCLICHÐvDATRAI¥ÎOMASCULINA COMO Jean nomeia o fato, será entendido com uma complexidade maior e decorrente DA PRØPRIA INCAPACIDADE DELA EM ESTAR COMPLETAMENTEhDENTROvDOVÓNCULOCOM -ICHAEL %SSA AGITA¥ÎO ANGUSTIADA DE *EANTRANSBORDARÉPARASUAPRÉTICACLÓNI ca, fazendo com que passe a buscar no real mais informações sobre o que escuta NO ESPA¥O DA CLÓNICA ! VIDA E CONmITOS de seus pacientes servirão como desculpa PARAQUELEVEÌPRØPRIAVIDAUMAENERGIA e agitação da qual se ressente pela falta. /UTROPONTOINTERESSANTEDASÏRIE QUE APRESENTAAQUESTÎOSEMFECHARNENHUMA conclusão, é representado pela carismática personagem interpretada tão bem pela PEQUENA-AREN(EARY QUEGIRAEMTORNO DAlLHA$OLLY UMAMENINAQUECOMUNICA SUA DIlCULDADE EM LIDAR COM OS MARCA dores de identidade de gênero, sentindo-se muito mais confortável e feliz quando se aproxima de modelos que são recoNHECIDOSCOMOhPARAMENINOSv INCLUSIVE na questão do corte do cabelo, que ergueRÉUMABELACENAENTRE*EANE$OLLYJÉNO CLÓMAX DA SÏRIE 3EUS PAIS BUSCAM LIDAR COM ISSO SEM MAIORES ESTRANHAMENTOS  MAS A hENGESSADAv COMUNIDADE NA QUAL

Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. Autores do livro  GG Gd   ƒ : Participam de palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br

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ESTÎOINSERIDOSPROMOVERÉALGUNSEPISØ dios nada fáceis ou agradáveis de lidar. /CASALPARENTAL TODOOTEMPO TEMQUE ESCOLHERENTREALIMENTARCORDIALMENTEOS LA¥OSCOMOSVIZINHOSOUENFRENTARCOM mais vigor a segregação que eles querem IMPORÌSUAlLHA/PAIPARECEMAISTRAN QUILOAOLIDARCOMISSO JÉ*EANEVIDENCIA UMA DIlCULDADE MAIOR DECORRENTE DE sua necessidade de parecer socialmente como um modelo perfeito. A personagem de Jean é um primor na aparência de total adequação, desde o vestuário até a forma sempre professoral com que se dirige aos outros nas reuniões sociais ou NAESCOLADAlLHA

0%2&)3%)$%.4)$!$%3 *EANCOME¥ARASUAESTRANHAJORNADA AOSEMISTURARNOACOMPANHAMENTODE SEUPACIENTE3AM$UFFY+ARL'LUSMAN  CUJA QUEIXA PRINCIPAL GIRA EM TORNO DE sua relação de codependência com sua EX NAMORADA  3IDNEY 0IERCE 3OPHIE #OOKSON  QUE ELE VÐ COMO UMA SEDU TORAMANIPULADORA!PESARDISSO 3AMA DESCREVE COM O OLHAR DA PAIXÎO  COMO UMA MULHER AVENTUREIRA E ESTIMULANTE que o fazia sentir uma vibração perante a VIDAJAMAISSENTIDAANTESDELA4ALVEZAÓ TENHASIDOOGANCHO AISCAQUEFAZCOM 68

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que nossa protagonista, cansada de sua vida rotineira e comum, entre na espiral DESITUA¥ÜESINSØLITASQUECRIARÉAPARTIR de seu contato com pessoas que antes apenas povoavam as falas de seus paCIENTES-UITOCURIOSA CRIAUMASITUA¥ÎO PARACONHECERASENSUAL3IDNEY-AISAO lNALDASÏRIElCARÉSUTILMENTECOLOCADO que a situação na verdade era uma repetição mais grave de um padrão anterior JÉEXECUTADOPOR*EAN-UITORAPIDAMEN te e sem maiores explicações entrará em

!3¡2)%3%26% 0!2!0%.3!2.! )-0/24ª.#)!$/ #/.#%)4/15% !03)#!.£,)3% #/345-!#/,/#!2 %-3%5#/.(%#)$/ 42)0¡$!&/2-!—§/ %345$/4%œ2)#/  !.£,)3%0%33/!, %!4%.$)-%.4/ $%#!3/3 350%26)3)/.!$/3

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CENA-ELISSA3AUGRAVES+ERRY#ONDON  RECÏM SAÓDADEUMHOSPITALPSIQUIÉTRICO e que parece ter sido uma experiência ANTERIORSOBREAQUAL*EANHAVIAINCLUSIVE SIDOINQUIRIDAJUDICIALMENTE A outra paciente que sofrerá a interferência de Jean representa uma mãe RECÏM ENVIUVADA #LAIRE2OGERS"REN DA6ACCARO RESSENTIDADOAFASTAMENTO DE SUA lLHA 2EBECCA 2OGERS "ROOKE "LOOM  E COM DIlCULDADES EM LIDAR COM A VIDA E A SOLIDÎO APØS A SUA RE CENTEPERDA-ÎECOBRADORAEINVASIVA  REMETE *EAN ÌS SUAS PRØPRIAS DIlCULDA des em uma relação muito ambivalente COM SUA MÎE  .ANCY "LYTHE $ANNER  %SSE NÞCLEO DA SÏRIE  QUE Ï COMPOSTA na verdade pela problemática de três pacientes, remete todo o tempo a que se entenda a explosiva relação de Jean com sua mãe, que, embora tente reiteradamente se aproximar, recebe o distanCIAMENTODAlLHA QUEAINDASERESSENTE de uma mãe bastante ausente, distante E CÓNICA DE SUA INFÊNCIA *EAN IRRITA SE porque Claire não consegue enxergar SUAPARTENODISTANCIAMENTODAlLHA E  tratando da condução do tratamento no GRUPODEDISCUSSÎOCLÓNICA SEUSUPERVI SORLHEALERTARÉQUANTOAALGOQUESERÉ na verdade tudo que ela não estará apta APÙREMPRÉTICA ELELHEDIZh*EAN LEM bre-se de que nosso dever não é fazer o TRABALHOPELOPACIENTEv%LADIZQUENÎO acredita mais no que Claire conta sobre A lLHA 2EBECCA !COMPANHAREMOS EN tão as manobras de Jean para se aproxiMARDE2EBECCAECONHECÐ LA INCLUSIVE ACONSELHANDO A EM RELA¥ÎO A SUA MÎE  paciente de Jean, sem que Rebecca saiba com quem está falando. A terceira paciente que Jean se enVOLVERÉ NA HISTØRIA Ï A JOVEM !LLISON !DAMS,UCY"OYNTON UMAJOVEMDE PENDENTE QUÓMICA QUE ESTÉ ENVOLVIDA E SOBODOMÓNIODEUMNAMORADOQUETRA lCA DROGAS !FASTADA DE SUA MÎE -AR GARET !DAMS 3HAE $LYN  QUE SUPOS tamente enfrenta um câncer e não sabe que ela abandonou a faculdade. Logo no começo da série encontrará Allison den-

TRO DO SEU CONSULTØRIO  FORA DO HORÉRIO marcado, dizendo que buscou refúgio ali da violência do namorado, e Jean deixará que ela durma por um tempo. Nesse NÞCLEODECERTAMANEIRACONHECEREMOS um pouco das questões de Jean durante SUA JUVENTUDE !O QUE PARECE TAMBÏM BASTANTE CONFUSA E CONmITUADA  LONGE DOSCUIDADOSDEUMAMÎEQUEACOLHES SE SUA ANGÞSTIA %M RELA¥ÎO Ì SITUA¥ÎO dessa paciente, Jean ultrapassará todos os limites enquanto terapeuta, tudo que não se deve fazer do lugar abstinente do psicoterapeuta ela fará, agindo diretaMENTEJUNTOÌVIDADAPACIENTE DIFERENTE DOSCASOSDE3AME#LAIRE EMQUEELASE envolverá com as pessoas que seriam o problema da vida deles, respectivamente 3IDNEYE2EBECCA SEMQUEELESTENHAM A MÓNIMA NO¥ÎO DAS ATIVIDADES DE SUA terapeuta com elas.

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-!.)05,!—§/%-0!54! /ENVOLVIMENTOAMOROSOSEXUALEN TRE*EANE3IDNEYTOMARÉGRANDEPARCE la da série. Cenas de muita ousadia e DE FRANCA SEXUALIDADE / JOGO QUE ELA imprime nessa relação é perigosamente FASCINANTE*EANÏUMAMULHERCUJAVIDA sexual parece ocupar grande parcela DE SEU INVESTIMENTO SUA RELA¥ÎO COM o marido é bastante aquecida, longe de QUALQUERDISTANCIAMENTOQUEJUSTIlCAS se no senso comum sua busca por uma RELA¥ÎO FORA %LA MANTÏM SEU MARIDO -ICHAEL SEMPRE CULPADO COM COBRAN ças que faz em relação a sua traição, e MANTÏMTAMBÏMUMADESCONlAN¥APOR conta de sua nova assistente, a sensual !LEXIS -ELANIE ,IBURD  )NICIALMEN te faz parecer que ela sofre de algum GRAUDEhDELÓRIODECIÞMEv OQUEPODE AQUECERADISCUSSÎOEMTORNODASAÓDA QUEBUSCAAOSERELACIONARCOM3IDNEY 3ABEMOSQUENESSESQUADROSAQUESTÎO DEUMIMPULSOHOMOERØTICORECALCADO costuma alimentar o sintoma. Aos poucos Jean se verá enredada pela teia de manipulações e mentiras que plantou, dispendendo tempo e energia para tentar evitar que descubram suas

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gunda temporada, estava prevista, mas RECENTEMENTE A .ETmIX INFORMOU O CAN CELAMENTO/ESPECTADORlCARÉSEMSABER SEHOUVEALGUMACONSEQUÐNCIAOUPUNI ¥ÎO POR SUAS GRAVES FALHAS  SUA QUEBRA no sentido mais protetor em relação ao PACIENTE  PORQUE  AlNAL  A NEUTRALIDADE e distanciamento nada mais são do que medidas protetoras para que uma psicoterapia possa contemplar uma imparcialiDADEQUEABRACAMINHOPARACADAPACIEN TEENCONTRARFRENTEÌSSUASDORESAMELHOR nova composição que for capaz de realizar, agora não mais sob a batuta de alguMAFORTElGURAQUEOINVADADILACERANDO suas possibilidades de encontrar-se em si mesmo, como outrora algo ou alguém fez, impedindo o enfrentamento e a desCOBERTADEUMASAÓDACRIATIVAESAUDÉVEL %NTRE UMA FRIEZA DESAFETADA DE UM psicoterapeuta e uma intervenção ligada, NOSENTIDODEQUEHÉAFETO MASDEVIDA mente interditada em seu excesso, existe ESPA¥O PARA MUITA DISCUSSÎO 1UE ESSA interessante série possa alimentar muitos necessários debates a respeito.

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DISTÚRBIOS ISTÚ ST OS

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Conhecendo

ACALCULIA e DISCALCULIA

Os discalcúlicos têm inteligência dentro dos padrões ou até acima da média, mas encontram problemas unicamente com o conhecimento matemático Por Ana Maria Antunes de Campos

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ou uma professora de Matemática atípica, porque só consigo resolver uma equação ou conta usando papel e lápis, ainda faço contas usando os dedos e para gravar qualquer informação eu preciso escrever.” Relato da professora de Matemática Ana Maria. Assim como muitas crianças e adolescentes, a professora teve sérios problemas com o aprendizado matemático por mudar constantemente de escola. Entretanto, essas dificuldades foram passageiras, não impossibilitando a continuidade nos estudos e, principalmente, não interferindo na sua escolha de graduar-se em Matemática. Hoje, infelizmente, encontram-se muitas crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem em Matemática

por diversos motivos, como de ordem psicossocial, pedagógica e outras que, infelizmente, possuem um distúrbio neurológico relacionado com a aquisição da linguagem matemática. Esse distúrbio é conhecido por discalculia. Discalculia vem do grego e significa dis + calculo, ou seja, dificuldade ao calcular. Os discalcúlicos apresentam dificuldades específicas em Matemática, como tempo, medida, resolução de problemas etc. Acomete pessoa de qualquer nível de QI, logo, é importante salientar que o discalcúlico tem uma inteligência normal, ou até acima da média. Seu problema está relacionado unicamente com o conhecimento da Matemática. Até o momento, não existe uma prevalência maior em meninos ou meninas e acredita-se que cerca de 5% a 7% da população tenham discalculia.

Esse distúrbio não acontece por falha no sistema de ensino, por problemas psicológicos, como, por exemplo, a separação dos pais, perda de um ente querido ou por recorrente mudança de escola/cidade, como ocorreu com a professora Ana Maria. A discalculia não é oriunda de problema emocional, pedagógico e social, pois nesses casos seria considerada uma dificuldade de aprendizagem em Matemática, algo transitório. Vale destacar, também, que a discalculia não é ocasionada por um dano cerebral, como o acidente vascular cerebral ou alguma outra lesão no cérebro. Em tais casos, a perda das habilidades

Ana Maria Antunes de Campos é neuropsicopedagoga e pesquisadora em Educação Matemática, Discalculia e Dificuldade de Aprendizagem em Matemática. Autora dos livros Discalculia – Superando as Dificuldades de Aprender Matemática, Jogos e Discalculia – uma Nova Perspectiva para Discalculia e Raciocínio Lógico: Atividades para Auxiliar Crianças e Adolescentes (ambos publicados pela Wak).

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DISTÚRBIOS

matemáticas decorrente desses problemas é conhecida como acalculia. Acalculia é a perda das habilidades que já estavam consolidadas e em desenvolvimento, Segundo Garcia (1998), as lesões estão relacionadas ao hemisfério esquerdo parieto-temporal e parieto-occipital, e afetam o raciocínio lógico. As características da acalculia são o prejuízo na leitura e escrita de números; cálculo mental; disposição espacial dos números, como alinhar os números em uma coluna; dificuldade de saber quantas semanas tem o ano; dificuldade de saber qual número é maior ou menor; dificuldade de ler e escrever os números de complexidades diferentes. Segundo Rosselli e Ardila, 2002, os estudos demonstram associação entre acalculia e afasia. Afasia é a perda da fala

ou da articulação das palavras. A acalculia também se torna mais visível em adultos e idosos que sofreram acidente vascular e traumatismo craniano. Nesse caso, a intervenção deverá seguir o mesmo critério que se utiliza para crianças e adolescentes, adaptando as atividades de forma a contemplar a necessidade do indivíduo adulto. Até o momento, não se sabe ao certo o índice de pessoas com acalculia, pois o seu diagnóstico se confunde com outras comorbidades, como afasia, apraxia e síndrome de Gerstmann. Desse modo, compreender a diferença entre discalculia e acalculia é importante para ajudar a criança e o adolescente de forma eficaz. Assim, a acalculia é uma comorbidade adquirida, diferente da discalculia, cuja definição se baseia em critérios comportamenPARA SABER MAIS

OS QUATRO SINTOMAS DA SÍNDROME DE GERSTMANN

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istúrbio neurológico caracterizado por lesões no giro angular do hemisfério cerebral dominante (geralmente o esquerdo), a síndrome de Gerstmann recebe esse nome em homenagem a Josef Gerstmann, mas também pode mudar sua denominação para síndrome angular, por recomendação da comunidade científica. O problema geralmente é causado por isquemia cerebral, traumatismo ou AVC. Os prejuízos na capacidade de leitura e reconhecimento costumam ser bem incapacitantes, especialmente nas áreas educacionais e profissionais. Essa síndrome se caracteriza por quatro sintomas principais: disgrafia/agrafia - dificuldade/ incapacidade de se expressar pela escrita; discalculia/acalculia - dificuldade/ incapacidade de compreender Matemática; agnosia digital - incapacidade de distinguir os dedos da mão; desorientação em relação à esquerda e à direita. Não há cura para a síndrrome de Gerstmannn e o tratamento é apenas sintomático e psicoeducativo. Terapias ocupacional e psicológica podem ajudar a diminuir a dificuldade em ler, escrever e calcular.

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ŒDéficit seletivo Œ O primeiro estudioso e autor a introduzir o termo discalculia do desenvolvimento foi Ladislav Kosc, já no ano de 1974. Seu objetivo foi diferenciá-lo da simples dificuldade matemática adquirida ao longo do período educacional por inúmeras possibilidades. Butterworth foi outro importante pesquisador da área, que entendeu a discalculia como um déficit seletivo e específico de uma capacidade para entendimento de números, que leva a uma ampla gama de dificuldades em aprendizado sobre números e aritmética.

tais e de exclusão, não existindo, ainda, claros marcadores biológicos para o diagnóstico clínico. Contudo, estudos recentes demonstram que um dos fatores tem procedência genética. Cerca de 40% das crianças e adolescentes que têm discalculia podem ter dislexia, porém isso não é uma regra, já que é possível apresentar diversas patologias ao mesmo tempo, como apresentar hiperatividade e discalculia, dislexia e discalculia e assim por diante. Todavia, discalculia e acalculia vão além de problemas relacionados com a Matemática. São de origem psicossocial, pois a criança que apresenta essas comorbidades tem toda sua vida desestruturada, com prejuízos sociais, emocionais e psicológicos. Ladislav Kosc teria descoberto a discalculia em 1974. Na época, ele classificou a discalculia em seis tipos: verbal - dificuldades para nomear as quantidades matemáticas, os números, termos, símbolos e as relações; practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens, matematicamente; léxica - dificuldade na leitura dos símbolos matemáticos; gráfica - dificuldade na escrita de www.portalespacodosaber.com.br

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A discalculia não é oriunda de problema emocional, pedagógico e social, pois nesse caso seria considerada uma dificuldade de aprendizagem em Matemática, algo transitório. Vale destacar, também, que a discalculia não é ocasionada por um dano cerebral

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símbolos matemáticos; ideognóstica dificuldade em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; operacional - dificuldade em fazer cálculos e na execução de operações. A neurociência nos mostra que vivência, motivação e estímulos ativam as conexões cerebrais, auxiliando o processo de aprendizagem referente à Matemática. Estudos neurocientíficos demonstram que existe uma parte do cérebro especializada em reconhecer números. Esses estudos ainda não foram concluídos, mas os estudos de neuroimagem funcional apontam que as áreas responsáveis podem ser as seguintes: parte inferior esquerda do lobo parietal, que é a área cerebral responsável pela representação de domínio específico de quantidades, das funções verbais, espaciais e do foco de atenção para a resolução de operações de quantidades, grandezas, proporções e números. A primeira rede neural tem a participação do lobo frontal inferior esquerdo e do giro angular bilateral, áreas envolvidas na representação linguística (símbolos numéricos, conceitos e regras), que são ativadas durante tarefas de cálculos exatos e funcionam de suporte no gerenciamento de operações aritméticas sucessivas que envolvem a participação de memória operacional e rotinas de memória verbal. O suco intraparietal bilateral é a estrutura anatômica-chave envolvida na realização de todas as tarefas de natureza numérica, juntamente com outras áreas como o giro angular esquerdo, o córtex frontal medial bilateral e o sistema parietal bilateral póstero-superior. Não basta só conhecer as áreas cerebrais ou a neurociência, neurobiologia, tudo isso é importante, mas, acima de tudo, é preciso levar em conta que nem todos aprendem da mesma maneira e que existem, segundo Gardner (1995), várias formas de inteligência, como a musical, lógico-matemática, interpessoal, linguística etc. É necessário aceitar que cada pessoa é diferente da outra, respeitar as limitações de cada www.portalespacodosaber.com.br

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Acalculia é a perda das habilidades que já estavam consolidadas e em desenvolvimento. As lesões estão relacionadas no hemisfério esquerdo parieto-temporal e parieto-occipital, que afetam o raciocínio lógico uma e procurar ajudar essas crianças e adolescentes a terem um aprendizado significativo e de sucesso.

Quando surge

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discalculia torna-se aparente durante o segundo ou terceiro ano do ensino fundamental. Entretanto, desde a educação infantil a criança já apresenta dificuldades em compreender símbolos numéricos, algarismos arábicos e va-

lores cardinais. Quando associado a um QI elevado, a criança consegue acompanhar o mesmo nível dos seus colegas durante os primeiros anos escolares, e o problema só vai se manifestar após o quinto ano de escolaridade. Independentemente de ter discalculia, acalculia ou dificuldades de aprendizagem em Matemática, é importante um diagnóstico precoce, que aumenta as chances de sucesso na intervenção e minimiza os efeitos deletérios, como o abandono escolar e a depressão. As dificuldades específicas de cada indivíduo devem ser mapeadas, e torna-se necessário o planejamento de um ensino eficiente e direcionado às dificuldades específicas do discalcúlico, um professor dedicado e uma família acolhedora. Os critérios de diagnósticos da discalculia são pautados nas dificuldades apresentadas pelas crianças e adolescentes, devendo ser levado em conta se as dificuldades persistem por mais de seis meses; se estiverem substancial e quantitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica da pessoa, conforme testes padronizados; se as dificuldades se iniciarem durante os anos escolares, especialmente desde a pré-escola, sendo necessário documentar essas dificulda-

Existem situações em que as crianças apresentam

‚I G  G G em Matemática por um distúrbio neurológico, que recebe o nome de discalculia

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DISTÚRBIOS de neuroimagem e os relatos médicos. Até o momento, não existe cura para essas comorbidades, mas a intervenção eficaz, estimulação e reabilitação pedagógica, psicopedagógica e psicológica, com atividades para reaprender ou contornar as dificuldades relacionadas à Matemática, proporcionarão um tratamento adequado, lembrando que devem ser pautadas nas necessidades individuais de cada um.

Recursos

des. No entanto, o diagnóstico deve ser feito idealmente após o segundo ou terceiro ano do ensino fundamental. Importante lembrar que essas dificuldades não podem ser explicadas por deficiências intelectuais. O diagnóstico deve ser feito através de uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo, neuropediatra, neurologista, pedagogo e pediatra). Porém, para que esse diagnóstico ocorra é necessário que a criança já tenha sido exposta ao conhecimento matemático. As crianças com discalculia conseguem entender alguns conceitos matemáticos, mas têm grande dificuldade em trabalhar com números, fórmulas e enunciados. Elas podem reconhecer e compreender símbolos matemáticos, mas vai ser difícil resolver um problema. Algumas dificuldades apresentadas pelo discalcúlicos: visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior; conservar a quantidade, o que a impede de compreender que 1 quilo de café é igual a quatro pacotes de 250 gramas; compreender os sinais de soma, subtração, divisão e multiplicação (+, –, ÷ e x); sequenciar números, como, por exemplo, o que vem antes do 13 e depois do 15 (antecessor e sucessor); classificar números; montar operações; entender os princípios de medida; lembrar as sequên74

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cias dos passos para realizar as operações matemáticas; estabelecer correspondência um a um, ou seja, não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras; dificuldade de compreender os números cardinais e ordinais. Entretanto, pessoas que têm acalculia também apresentam, às vezes, as mesmas características. O que irá fundamentar o diagnóstico são os exames

As características da acalculia são o prejuízo na leitura e escrita de números; cálculo mental; disposição espacial dos números, como alinhar os números em uma coluna; dificuldade de saber quantas semanas tem o ano; dificuldade de saber qual número é maior ou menor

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Há vários problemas semelhantes, como a afasia, que é a perda da fala ou da articulação das palavras. Assim como a acalculia, é mais frequente em adultos e idosos

intervenção para discalculia, acalculia e dificuldades de aprendizagem deverá ser pautada em recursos materiais (uso de calculadoras, jogos e atividades lúdicas, caderno quadriculado, imagens, contação de histórias, questões claras e objetivas etc.); recursos metodológicos (métodos, técnicas de ensino organizativas, planejamento, adequação de conteúdos e avaliativas); recurso multiprofissional (fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo, neurologista, neuropediatra, pedagogo, psiquiatra, terapeuta etc.). Sem a intervenção adequada, as crianças podem arrastar, ao longo de sua vida, sérias dificuldades aritméticas, daí a importância e a necessidade da realização de uma intervenção precoce e eficaz. Desse modo, a intervenção deve se pautar nas características peculiares de cada indivíduo, de modo a reabilitar seus comprometimentos aritméticos e potencializar as habilidades já apresentadas. Não é insistindo na mesma coisa feita em sala de aula e repetindo o conteúdo que a criança irá aprender Matemática. É preciso ensinar a criança a aprender a manipular os números de diferentes perspectivas, evitando procedimentos rotineiros, e um ensino mais prático do sentido do número e com um tempo maior para desenvolver a atividade. O aprendizado acontece de maneira lenta, logo a compreensão sobre as habilidades matemáticas é dificultada, e um novo olhar, uma alteração nas ações em sala de aula podem minimizar tais dificuldades.

O diagnóstico deve ser feito através de uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo, neuropediatra, neurologista, pedagogo e pediatra). Porém, para isso é necessário que a criança já tenha sido exposta ao conhecimento matemático Valorizar os conhecimentos e habilidades conquistados durante o processo de aprendizagem, mostrando as barreiras já vencidas, é uma ferramenta para despertar o interesse em aprender, e isso trará de volta a autoestima e bem-estar dessas crianças e adolescentes. É preciso intervir, motivar, estimular e cuidar para que esses alunos não se sintam impotentes diante do aprendizado, criando uma relação afetiva que contribua para o desenvolvimento educacional desses alunos. O professor será um mediador entre a teoria e a prática em sala de aula, e ajudar os colegas a respeitar a individualidade dos alunos com discalculia será a sua tarefa. Os discalcúlicos precisam de apoio, afetividade e socialização.

Alfabetização

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Matemática é uma linguagem, e como tal a criança precisa ser alfabetizada matematicamente. A criança que compreender a relação da Matemática com a vida não terá medo, e sim desejo de descobri-la. Segundo Luria (1984), é fundamental existir a habilidade visuoespacial, tanto para o cálculo quanto para o desenvolvimento das operações aritméticas, e ainda para a distinção entre aspectos procedurais (regras/procedimentos) e conceituais (que são compreendidos) envolvidos na Matemática. Desse modo, crianças e adolescentes com acalculia e discalculia podem e devem utilizar dos recursos visuais para adquirirem as habilidades e competências matemáticas. Por isso, os jogos de tabuleiro e on-line são tão utilizados na intervenção. Aprender com a ludicidade significa construir conhecimentos por

www.portalespacodosaber.com.br w.p ale p od saber. m

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meio de vivências prazerosas e potencialmente significativas, tendo o jogo, o brinquedo e a brincadeira como base da aprendizagem. Através dos jogos, é possível reforçar conhecimentos e habilidades conquistados e valorizá-los durante o processo de aprendizagem, mostrando as barreiras já vencidas. É uma ferramenta para despertar o interesse em aprender e isso trará de volta a autoestima e o bem-estar dessas crianças e adolescentes. Para que crianças aprendam a fazer a leitura do mundo através da Matemática será fundamental compreender os fundamentos do discurso matemático (palavras, sinais, símbolos, procedimentos, habilidades etc.) e como aplicá-los para resolver problemas em uma variedade de situações, entendendo, assim, sua função social. As crianças que conceituam o número (para tal é necessário trabalhar: correspondência, comparação, sequenciação, classificação, seriação, ordenação, inclusão de classe, conservação e

ŒJogos on-line Œ A inteligência pode ser estimulada de diversas maneiras, em crianças e adultos. Entretanto, conhecer as estratégias certas para desenvolver cada uma das habilidades e perceber os limites de cada criança são fundamentais. Os jogos de tabuleiro on-line podem potencializar o aprendizado em muitos casos. Uma pesquisa recente, com crianças de 8 a 10 anos, na Califórnia, Estados Unidos, comprovou que jogos de tabuleiro on-line podem melhorar o Quociente de Inteligência (QI) dos jovens.

enumeração) não terão dificuldades nos anos advindos. Claro que é preciso levar em conta as experiências, vivências e o meio social que a criança está inserida, pensando se a mesma está sendo estimulada e motivada ao aprendizado. Isso posto, devemos utilizar o brincar, o lúdico, imagens, jogos e brinquedos, com a finalidade de auxiliar o processo ensino-aprendizagem das crianças e adolescentes, pois quando a criança compreende a função social da Matemática ela acaba desmistificando a fábula de que a Matemática é para poucos e de que não serve para nada.

REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. CALÇADA, A. Comportamentos agressivos na primeira infância. Revista Psique, capa, ano IX, ed. 108, p. 26, 31, São Paulo, dez. 2008. FRIEDBERG, R. D.; MCCLURE, J. M. A Prática Clínica de Terapia Cognitiva com Crianças e Adolescentes. Porto Alegre: Artmed, HOLMES, D. Psicologia dos Transtornos Mentais, ., São Paulo: Artmed, NOLTE, D. L.; HARRIS, R. As Crianças Aprendem o que Vivenciam, p. 1, 2, 14, 15. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. RODRIGUES, M. Educação Emocional Positiva: Saber Lidar com as Emoções É uma Importante Lição, ., ,Novo Hamburgo: Sinopsys, TIBA, I. Disciplina na Medida Certa, p. 28, 29, 108. São Paulo: Integrare, YOUNG, J. Terapia Cognitiva para Transtornos da Personalidade, 3. ed., p. 22, 25, 27-35, 64. Porto Alegre: Artmed, 2003. Box psique ciên psi ciência&vida da

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CRIAÇÃO & COCRIAÇÃO

Se o ser humano tem grande habilidade cerebral para criar sozinho, naturalmente tem, ainda mais, para criar em parceria ou em grupo. A criatividade individual está relacionada à intuição; a coletiva, à união tro de um campo eletromagnético. Os pensamentos são apenas algumas das infi nitas emissões que se inter-relacionam dentro desse campo.

Criação

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neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis é, atualmente, um dos grandes nomes da neurociência no mundo. Como outros neurocientistas, também demonstrou que o pensamento é uma onda eletromagnética. Um de seus principais trabalhos é sobre a interface cérebro-máquina, que foi apresentada na abertura da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, com o primeiro chute de bola sendo realizado por um paciente tetraplégico, utilizando-se de um exoesqueleto conectado ao seu cérebro. Esse invólucro obedecera aos sinais eletromagnéticos emitidos conscientemente pelo voluntário, para que sua perna pudesse chutar a bola. E chutou. Seus experimentos tornaram-se uma terapia revolucionária, para recuperação de movimentos em pessoas paralisadas. Contanto, ainda infere uma série de outras questões, tal como a da

Daniel Lascani é jornalista, palestrante, pós-graduado em Psicologia Junguiana (PUC-Rio). Leader Coach do IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, autor e palestrante do projeto social Comunidade Profissional, coautor do livro O Impacto do Coaching no Dia a Dia (Bookstart), diretor do Instituto Lascani (www.institutolascani.com.br).

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absoluta realidade eletromagnética em que vivemos. Historicamente, a evolução humana, em todos os seus aspectos, social, tecnológico, psicológico, mostra a habilidade do ser humano em criar. Assim como na religião há o termo: “imagem e semelhança de Deus”, tal semelhança está no dom de criar, em todos os sentidos, bem como mental e materialmente; e de cocriar, por intermédio das parcerias humanas; e, ainda, da procriação de novas vidas. Na Grécia Antiga, a mente era considerada a alma; nas reli-

AUTOR DESCONHECIDO/WIKIPEDIA

H

á muitos anos, neurocientistas do mundo inteiro estudam o cérebro humano bem como seus circuitos neurais, e, ainda, a correspondência, de tais circuitos, com a Psicologia. Após algumas décadas de constante pesquisa, foi possível confirmar um número de 86 bilhões de neurônios cerebrais, que, diariamente, se equivalem aos nossos milhares de pensamentos. Trata-se de um composto de energia, em que emerge a nossa consciência. O psicoterapeuta Carl Gustav Jung descreveu nossa mente como energia psíquica: “O fato psíquico merece ser considerado como um fenômeno em si, pois não há motivo nenhum para concebê-lo como um mero epifenômeno, embora esteja ligado à função cerebral, do mesmo modo como não se pode considerar a vida somente como um epifenômeno da química do carbono” (Carl Gustav Jung, A Energia Psíquica). O pensamento é mesmo uma energia, uma energia eletromagnética. Toda a realidade das pessoas está den-

Por Daniel Lascani

Œ+ I GG^ IGŒ Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, responsável pela criação da Psicologia Analítica. Jung propôs e desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, arquétipos e o inconsciente coletivo. Seu trabalho tem sido influente na Psiquiatria e Psicologia, entre outras áreas do conhecimento humano.

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MENTE CRIATIVA

Œ"\I G GŒ Termo geralmente usado para descrever o mundo antigo grego e áreas próximas. Tradicionalmente, Grécia Antiga abrange desde 1.100 a.C. até a dominação romana, em 146 a.C. Entretanto, é importante lembrar que a história da Grécia começa desde o Período Paleolítico, passando pela Idade do Bronze com as civilizações cicládica, minoica e micênica. Alguns autores citam outro período, o pré-homérico para incorporar mais um trecho histórico à Grécia Antiga.

giões, a iluminação. Cientificamente, na neurociência, são nossas sinapses; na Psicologia, nossa criatividade. Durante a vida as pessoas sempre têm pensamentos criadores, que surpreendem a elas mesmas. Tais ideias criativas vão desde coisas pequenas, pessoais, até descobertas revolucionárias, para  diferentes áreas. Toda a evolução é um processo de criação. Tanto de forma neurológica quanto psicológica, o cérebro é um hardware, e a mente, um software, ambos desenvolvidos para criar. Em uma análise mais profunda e individual, dentre diversas ocasiões em que se pode perceber o potencial de criação, há um expressivo sinal, sobre a tendência do ser humano em ser criador, que é o processo no qual se transpassa todas as noites, antes de dormir, no momento em que se passa do estado de vigília para o de sono. Quase sempre, antes de adormecer, todos pensam em milhares de coisas, e depois de um tempo os pensamentos se misturam e, enfim, dorme-se. Muitas vezes, dentro desse processo, antes de transcender para o sono, acontece, repentinamente, de despertar, por lembrar de alguma coisa; daí, retorna-se ao estado de vigília, e o processo de adormecimento rei78

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*Ï G GG 9  I G9GG G ËI GG\ I GGG G: G\GG  I GhÔ:,G GG I9G G¢ G GI I 99IG    HG 9       nicia-se novamente. Esse fenômeno, de acordar no meio da passagem da vigília para o sono, por lembrar de algo, ocorre porque se sai da zona de criação e vai para a da lembrança. Também significa que se trafegam as sinapses, com mais facilidade, sobre pensamentos relativos à criação do que à memória. Tanto é que se criam pensamentos a ponto de relaxar até adormecer. Ou melhor, ao que parece, somente se adormece quando se está, psicologicamente, nessa esfera. Enquanto se está lembrando de algo, se permanece em alerta. Na prática, surpreendentemente, isso significa que lembrar dá mais trabalho do que criar. As pessoas ficam mais confortáveis na zona da criação do que na da memória. Por outro lado, isso também explica o fenômeno da mentira, principalmente

entre as fases da infância até chegar na adulta. A mentira é uma forma de criação. Quando se amadurece, ganha-se mais autoconhecimento, e, com um ego mais equilibrado, diminui o impulso de mentir. Ao envelhecer, as pessoas costumam ter muito mais problemas sobre a perda de memória do que sobre a capacidade de se criar algo novo. Além de parecer ter mais facilidade de criar do que de lembrar, quando analisado no campo coletivo, esse processo se multiplica sempre que se interage nas mentes, em harmonia, com o outro. Essa multiplicação entre as mentes humanas evoca o processo de cocriação.

Prática do pensamento

O

termo cocriação foi citado pela primeira vez em 2004. EntretanPARA SABER MAIS

UM DOS PRINCIPAIS CIENTISTAS DO MUNDO É BRASILEIRO

P

G G9  \ I (  ) I  P   I G 9 G  G -I  ‚I  IG9I =;I  GG  ƒ  :)I  G9 Nicolelis estuda o cérebro, órgão responsável pelos movimentos, pensamentos, ‚9 :/G G I G   G GGhÔ   HG  Ô as possibilidades abertas por eles, que incluem a chance de pacientes paraplégicos e tetraplégicos de voltarem a ter movimentos. Para atingir esse objetivo foi necessário, antes, separar a mente do corpo. O pensamento é uma onda elétrica pequena, espalhando-se pelo cérebro durante alguns milissegundos. Apesar de serem muito fracas, é possível medir essas ondas com a ajuda de eletrodos conectados aos cérebros de cobaias. Mas o que torna essa atividade cerebral intrigante é o fato de que elas são uma espécie de código. Assim, a equipe do neurocientista conseguiu “ler” esses códigos e reproduzir em um artefato mecânico, com braços e pernas robóticas, o movimento que o cérebro pretendia executar no corpo do animal, criando, assim, uma interface cérebro-máquina que dispensava o corpo da cobaia.

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to, nas áreas corporativas, bem como nas de marketing, voltado à cultura da responsabilidade compartilhada. Mas muitos autores históricos já o haviam mencionado, em uma ótica mais psicológica. O consagrado escritor norte-americano Napoleon Hill, por exemplo, defendia o fenômeno da cocriação através do conceito da mente mestra: “Cada pensamento emitido por um cérebro é imediatamente apanhado e interpretado por todos os outros que estão em contato com o cérebro transmissor. Através da fusão de duas ou mais mentes, num espírito de perfeita harmonia, o princípio da química mental pode ser organizado de modo a desenvolver poder suficiente para tornar possíveis, aos indivíduos cujas mentes estejam associadas, realizações verdadeiramente extraordinárias”  (Napoleon Hill, A Lei do Triunfo).

Habilidade da mente

O

s fenômenos da criação e da cocriação fazem retornar ao fenômeno eletromagnético do pensamento. Em tempos atuais, o eletromagnetismo explica, por exemplo, tanto um chute em uma bola com ajuda de um exoesqueleto quanto o processo de cocriação, descrito por Napoleon Hill, que, consiste na união de duas ou mais mentes a formar uma mente única, ainda mais poderosa. Na prática, a mesma neurotransmissão que ocorre internamente no cérebro acontece, também, com o cérebro do receptor, com quem se relaciona. Toda neurotransmissão pode ser compartilhada e propagada entre duas ou mais pessoas. Quando se consegue alinhar com o outro o mesmo alinhamento neurológico que se vivencia internamente, acontece o fenômeno da cocriação. E a mesma força eletromagnética que gera uma neurotransmissão dentro do cérebro, entre os neurônios, pode, também, se magnetizar com outros cérebros. No campo da Física esse processo é explicado pelo estudo que é chamado de espectroscopia, que mede www.portalespacodosaber.com.br

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Depois de décadas de pesquisa, neurocientistas concluíram que existem 86 bilhões de neurônios cerebrais, que, diariamente, se equivalem aos milhares de pensamentos

*II GhÔ I G G  G =;;?: G9GPGIG G9G  OIG GGH  G IG  G G: (G G ` I P G G I G 9G` IGG  I` IG a absorção, a reflexão e a transmissão entre ondas eletromagnéticas. É possível reconhecer momentos de cocriação em diversas situações, pessoais e profissionais, tais como em um bom diálogo entre uma mãe e seus filhos; entre um psicanalista e seu paciente; entre um coach e o seu coachee, e assim por diante. Esses são exemplos em que a cocriação não deve ser um fenômeno ocasional, mas sim proposital. Qualquer pessoa, principalmente em posição de liderança, deve servir ao seu receptor tendo como objetivo gerar o fenômeno da cocriação. Grandes grupos, grandes empresas, grandes canções e outros grandes feitos foram criados pelo ser humano,

em parceria com outros seres humanos. Uma consciência cria; e uma consciência coletiva cocria. No campo científico, por exemplo, estudos como os da Física, Biologia, Psicologia, Medicina,  dentre outros, não teriam como evoluir se não fosse por diversas mentes pensantes, influenciando umas às outras, com suas graduais descobertas. Segundo os escritos bíblicos, até mesmo Jesus Cristo uniu-se a doze outros homens para fazer seu legado. Por fim, se o ser humano tem grande habilidade cerebral para criar sozinho, naturalmente tem, ainda mais, para criar em parceria ou em grupo. A criatividade individual está sempre relacionada à intuição e à criação; a coletiva, à união e à cocriação.

REFERÊNCIAS JUNG, Carl G. Energia Psíquica. Petrópolis: Vozes, 2002. NICOLELIS, Miguel. Muito Além do nosso Eu. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. HILL, Napoleon. A Lei do Triunfo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015. psique ciência&vida

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em contato

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PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _ Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes.

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CONSELHO EDITORIAL AICIL FRANCOÏPSICØLOGA MESTREEDOUTORAEM0SICOLOGIA #LÓNICAPELA5300ROFESSORANO)*"!ENA%SCOLA"AHIANA DE-EDICINAE3AÞDE0ÞBLICA 3AVADOR "! ANA MARIA FEIJOOÏDOUTORAEM0SICOLOGIAPELA 5NIVERSIDADE&EDERALDO2IODE*ANEIRO AUTORADE LIVROSEARTIGOSCIENTÓlCOS PARECERISTADEDIVERSAS REVISTASERESPONSÉVELTÏCNICADO)NSTITUTODE0SICOLOGIA &ENOMENOLØGICO %XISTENCIALDO2* ANA MARIA SERRA Ï0H$EM0SICOLOGIAETERAPEUTA COGNITIVAPELO)NSTITUTEOF0SYCHIATRY 5NIVERSIDADEDE ,ONDRES$IRETORADO)NSTITUTODE4ERAPIA#OGNITIVA)4#  ATUAEMCLÓNICA FAZTREINAMENTO CONSULTORIAEPESQUISA 0RESIDENTEHONORÉRIA EX PRESIDENTEEFUNDADORADA!"0#

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ANDRÉ FRAZÃO HELENEÏBIØLOGO MESTREEDOUTOR EM#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIA E!TEN¥ÎOPELA5NIVERSIDADEDE3ÎO0AULO ONDETAMBÏMÏPROFESSORNOCURSODE"IOCIÐNCIAE COORDENAO,ABORATØRIODE#IÐNCIASDA#OGNI¥ÎONO Instituto de Biociências. CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRAÏPSICØLOGO DOUTOREM3AÞDE-ENTALPELA5NICAMP PØS DOUTORADOEM 3AÞDE-ENTALPELA5NIVERSIDADEDE"ARCELONA %SPANHA  PROFESSORASSOCIADODE0SICOLOGIADA5NIVERSIDADE&EDERAL de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social. DENISE TARDELI GRADUA¥ÎOEM0SICOLOGIAE0EDAGOGIA -ESTRADOEM%DUCA¥ÎOEDOUTORADOEM0SICOLOGIA %SCOLAREDO$ESENVOLVIMENTO(UMANO AMBOSPELA530 0ESQUISADORANAÉREADA0SICOLOGIA-ORALE%VOLUTIVA 0ROFESSORAUNIVERSITÉRIA DENISE GIMENEZ RAMOSÏCOORDENADORADO0ROGRAMA DE%STUDOS0ØS 'RADUADOSDA05# 30EMEMBRODA 3OCIEDADE"RASILEIRADE0SICOLOGIA!NALÓTICA

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KARIN DE PAULA PSICANALISTA DOUTORAPELA05# 30  PROFESSORAESUPERVISORACLÓNICAUNIVERSITÉRIAEDO#%0  autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise EDEVÉRIOSOUTROSARTIGOSPUBLICADOS LILIAN GRAZIANOÏPSICØLOGAEDOUTORAEM0SICOLOGIA PELA530 COMPØS GRADUA¥ÎOEM0SICOTERAPIA#OGNITIVA #ONSTRUTIVISTA¡PROFESSORAUNIVERSITÉRIAEDIRETORADO )NSTITUTODE0SICOLOGIA0OSITIVAE#OMPORTAMENTO!TUA EMCLÓNICAECONSULTORIA LILIANA LIVIANO WAHBA PSICØLOGA 0H$ PROFESSORADA 05# 300RESIDENTEDA3OCIEDADE"RASILEIRADE0SICOLOGIA !NALÓTICA#OEDITORADArevista Junguiana. Diretora de 0SICOLOGIADA3EREM#ENA 4EATROPARA!FÉSICOS MARISTELA VENDRAMEL FERREIRAÏDOUTORAEM!UDIOLOGIA PELA5NIVERSITYOF3OUTHAMPTONn)NGLATERRA MESTREEM $ISTÞRBIOSDA#OMUNICA¥ÎOPELA05# 30 ESPECIALISTAEM 0SICOTERAPIA0SICANALÓTICAPELO)NSTITUTODE0SICOLOGIADA530 MÔNICA GIACOMINI PRESIDENTEDA3OCIEDADE"RASILEIRADE 0SICOLOGIA(OSPITALARnBIÐNIO%SPECIALISTAEM 0SICOLOGIA(OSPITALAR PSICØLOGACLÓNICAJUNGUIANA PSICØLOGA DO)NSTITUTODE/RTOPEDIAE4RAUMATOLOGIADO(#&-530 ESUPERVISORATITULARDO!PRIMORAMENTOEM0SICOLOGIA Hospitalar em Ortopedia. PAULA MANTOVANIÏGRADUADAEM0SICOLOGIAPELA 5NIVERSIDADE0AULISTA PSICANALISTA CONSULTORAEDITORIAL DOPROGRAMADEENTREVISTASDA&.!#EMEMBRO CORRESPONDENTEDO%SPA¥O-OEBIUSDE0SICANÉLISEDE 3ALVADOR"!  PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo PSICØLOGO GRADUADOPELA5NIVERSIDADE%STADUAL0AULISTA5NESP E DOUTOREM0SICOLOGIA3OCIALPELA530¡TAMBÏMPROFESSOR DA&UNDA¥ÎO'ETULIO6ARGASEDA%30-

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Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP CEP: 02725-050 – Telefone - (11) 4114-0965 EDITORA: Gláucia Viola EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Ana Maria Antunes de Campos; Araceli Albino; Daniel Lascani; Gustavo Gil Alarcão; Lilian Zolet; Lucas Vasques Peña; Luciana Moutinho; Maria de Fátima Rato Padin. REVISÃO: Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Guido Arturo Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas.

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psiquiatria forense

por Guido Arturo Palomba

Embasamento científico ON-LINE NINGUÉM PODE NEGAR QUE O COMPUTADOR É FUNDAMENTAL PARA O FUNCIONAMENTO DE MUITAS ÁREAS DA VIDA DO HOMEM CONTEMPORÂNEO, MAS É PRECISO MUITA ATENÇÃO AO CONHECIMENTO DISPONÍVEL NA REDE

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Ditam as regras que os psiquiatras deVEM SEGUIR PARA CLASSIlCAR OS DOENTES  encaixando-os nos supostos diagnósticos. Por exemplo, quando aparece o CØDIGO& OUSUÉRIOlCASABENDOQUE o digitador refere-se ao “transtorno biPOLARv)SSOSEVERIlCAEMSITES ÏUSADO em videoconferências, blogs, revistas ELETRÙNICASESPECIALIZADASOUNÎOETC% o médico, em vez de ir aos livros-textos atemporais, nutre-se da fartura de informações da internet sobre o F 31, a qual Ï CAPAZ DE DISPONIBILIZAR LHE hA ÞLTIMA DESCOBERTA DA CIÐNCIAv  QUE AMANHÎ SE TORNARÉ PENÞLTIMA E ASSIM POR DIANTE E TUDO DE MANEIRA MUITO RÉPIDA .ESSE contexto e diante de tal procedimento, OPROlSSIONALAPEGADOÌTELA CRIAUMA falsa sensação de estar sempre atualizaDO E DESPREZA O CONHECIMENTO BÉSICO da especialidade, erigido lentamente em VÉRIOSLIVROS TEXTOS É exatamente na ausência deles que se encontra uma das “pragas” que atacou a cultura médica, de modo especial, a Psiquiatria, erodindo suas bases secuLARMENTEMOLDADASEHODIERNAMENTEESQUECIDASOUTROCADASPELOCONHECIMENTO RELÊMPAGODISPONÓVELEMALGUMhWWWv /SLIVROSCLÉSSICOSDE0SIQUIATRIANÎO estão defasados, da mesma forma que os

DE &ILOSOlA EDITADOS HÉ CENTÞRIAS CONTINUAMTÎOMODERNOSEÞTEISCOMONAS épocas em que apareceram no mundo. Alguma pessoa ousaria dizer que Aristóteles, Kant, Descartes e outros de igual envergadura não podem ser mais debatiDOSHOJE3EALGUÏMTIVERACACHIMÙNIADE AlRMARQUESIM CERTAMENTEESTARÉENTRE aqueles que dizem que Kraepelin, KretsCHMER  "LEULER E *ASPER ERAM ZAGUEIROS da antiga seleção alemã de futebol. Não, eles são considerados pais da Psiquiatria, da tipologia, da esquizofrenia e da psicopatologia, respectivamente. Ademais, formam, ao lado de outros craques, a seleção universal dos grandes pensadores da psiQUE QUECRIARAMACIÐNCIA ARTECHAMADA Psicologia-Psiquiatria. E quem os ignora, sem os nutrientes que esses gênios trouxeRAMPARAESSAÉREADOCONHECIMENTOHUMANO ESTARÉDESNUTRIDOERAQUÓTICOPARA ENFRENTAREESCOLHEROQUEREALMENTEPODE ser aproveitado dessa enorme quantidade de coisas boas, ótimas, ruins e péssimas que as redes oferecem. Guido Arturo Palomba é psiquiatra forense e membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo.

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esde o bar da esquina até o mais desenvolvido centro de pesquisas, constata-se a utilização do computador, sem o QUALNÎOSEACOMPANHAORITMOEMQUE OMUNDOCAMINHA A sociedade é competitiva, fato que FAZPARTEDANATUREZADOHOMEM!SSIM  OS COMPUTADORES E SUAS INlNITAS POSsibilidades são ferramentas poderosas E INDISPENSÉVEIS TANTO PARA O DIA A DIA QUANTOPARAOPROGRESSO0ORÏM NOBOJO DESSA AlRMA¥ÎO PODE ESTAR IMPLÓCITO O germe da decadência em alguns setores DOCONHECIMENTOEDACULTURA Com a globalização da internet (ou a globalização pela internet), os livros passaram a ser questionados quanto à SOBREVIVÐNCIA % ATÏ HÉ QUEM DIGA QUE esses estão fadados ao desaparecimento completo. Na Psiquiatria, por exemplo, é PRECISO RECONHECER QUE OS LIVROS FORAM SUBSTITUÓDOS QUASETOTALMENTE PELOSSUBprodutos da internet globalizada, a ClasSIlCA¥ÎO)NTERNACIONALDE$OEN¥AS#)$  EO-ANUALDE#LASSIlCA¥ÎOE$IAGNØSTIco (DSM, sigla em inglês), sem os quais a Psiquiatria contemporânea não existiria. !#)$EO$3-SÎOCATÉLOGOSUNIversalizados, que trazem códigos para caracterizar os transtornos mentais.

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