10 - Cultura

  • June 2020
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10 Cultura

Florianópolis, outubro de 2009

Rock em SC ganha espaço e desafios

Festivais em hiato, projetos que acabam. Ainda assim os proletariados do ritmo seguem com guitarras plugadas Viver de rock no Brasil não é moleza. Aquela sonhada vida com a típica tríade “sexo, drogas e rock’n roll” se tornou de vez a mais completa utopia. Para quem tem que batalhar por conta própria então, a fantasia é totalmente impossível. Falta grana, falta um público sólido e fiel que prestigie sua música, faltam bons lugares pra tocar. A cena independente de Santa Catarina, embora tenha conseguido nos últimos tempos conquistar um avanço meio tímido, aos trancos e barrancos, pareceu enfrentar um retrocesso neste ano. Dois dos festivais mais importantes do estado – o Rural Rock Fest e o Tschumistock - foram cancelados, e o Clube da Luta, projeto que reunia bandas autorais de Floripa, teve seu fim decretado. Mas esse tal retrocesso aparente é tido como tal apenas a olhos mais superficiais e desavisados. No underground catarinense, os projetos e iniciativas dos músicos continuam

aumentando – em número e alcance. “Sinceramente, eu vejo que não há crise, pelo contrário, há uma reação em curso pelo estado, em cidades como Joinville, Blumenau, Rio do Sul, onde as bandas estão se mobilizando”, avisa o jornalista Marcos Espíndola, guru das bandas do estado, que divulga as novidades da cena todo dia em sua coluna no jornal Diário Catarinense. Pode não haver crise, de fato, mas por que os festivais no estado não dão certo? E por que isso acontece aqui se no resto do Brasil o negócio cresce e ganha força? A resposta pode ser resumida a uma frase: falta dinheiro e apoio institucional. Também não é possível comparar o Rural e o Tschumi com os festivais do resto do país, principalmente os

ligados a Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin). O perfil é bem diferente, sem o clima “hippongo” e totalmente independente que os daqui têm, com acampamento e contato direto com a natureza e sem vinculo comercial com marcas ou mídias. As dificuldades financeiras prejudicam o crescimento dos festivais, que são ignorados pelos editais culturais do governo do estado, por representarem temáticas artísticas não comerciais e não convencionais. Algo marginal ao significado de “cultura” para as autoridades catarinenses. “Creio que a classe governante só vê esse tipo de iniciativa como trampolim eleitoral e as empresas têm medo de associar seu nome à palavra ‘rock’”, afirma Vinícius Zimmerman, vocalista e guitar-

“Os músicos não adotam uma postura profissional e encaram o ofício como um hobby”

rista da banda Da Caverna e organizador do Rural. Vinícius acredita também que falta mobilização da classe artística: “O que eu vejo é que, na maioria dos casos, os artistas ainda encaram seu oficio como hobby. Falta uma postura de profissional da arte”. Já Rafael Tschumi, que encabeça a realização do Tschumistock, observa ainda outros fatores: além da falta de apoio do poder público, os festivais têm que enfrentar uma forte burocracia, encarar o preconceito da comunidade com o evento, e ainda convencer toda uma nova geração habituada aos videogames e aos celulares a participar. dos fetivais. “Essa geração é formalizada ou formatada demais para fazer coisas diferentes, fora da rotina. Escutar mp3 em casa ou no porta-malas do carro parece ser muito mais interessante do que assistir a um show ao vivo”. Marcelo Andreguetti

Novos projetos procuram impulsionar os festivais alternativos em Santa Catarina Na capital, o Clube da Luta acabou, mas a motivação do “término” de atividades está longe de ser o insucesso. “Durante sua existência, [o Clube] cumpriu sua missão, tanto que hoje a produção musical regional é considerada pauta relevante a ser discutida e analisada”, afirma um dos fundadores, o guitarrista Gustavo Barreto, da banda Sociedade Soul. O evento, que usava principalmente a casa de shows Célula para divulgar bandas e artistas locais com produção autoral, deu lugar para o projeto Escute!, de mesmas intenções, porém com uma perspectiva mais profissional, envolvendo a criação de um selo e produtora. Para Barreto as razões para a fórmula do Clube não ter funcionado são várias, mas o guitarrista critica principalmente o preconceito do público com aquilo que acontece por perto: “É a falta de vontade política, de identificação cultural de um

povo tão diversificado e o desinteresse generalizado de conhecer o que está próximo de nós”. A criação do Escute! é um sinal de que os músicos independentes do estado estão reagindo e mantendo acesa a chama do rock catarinense. Exemplo disso são os “coletivos”. Um coletivo reúne produtores, músicos e artistas numa espécie de “troca solidária”. Através da permuta de favores que envolvem estratégias de divulgação, oportunidades de tocar em eventos e gravar em estúdio, os coletivos ajudam a promover a música independente no esquema “a união faz a força”. Assim também surgiu o SConectada, iniciativa de músicos do estado que, através do mapeamento dos diversos coletivos catarinenses, pretende organizá-los de maneira estratégica, do ponto de vista político e funcional. “Queremos saber quem são os players da cadeia pro-

dutiva, o que fazem e o que temos em comum, para solidificar a cena dentro e fora do estado”, diz Guilherme Zimmer, baterista da banda Cassim & Barbaria. Junto com o guitarrista Eduardo “XuXu”, Zimmer integra o coletivo Insecta, da capital. E é do Insecta que parte outra iniciativa de colocar Floripa na rota dos festivais indie nacionais, o Floripa Noise – Experimente!. O evento tenta buscar o sucesso experimentando, vai além dos festivais mais “urbanos” de outros estados, e não irá se limitar a poucos dias. De 13 a 21 de novembro, o Floripa Noise acontece por toda a capital, com diversas atrações. XuXu, que junto com Zimmer organiza o festival, destaca o espírito colaborativo que o caracteriza: “O Noise quer buscar a sintonia de produtores atuantes da cidade, dos artistas e da imprensa, que consigam enxergar no evento um acontecimento relevante culturalmente.”

Divulgação Da Caverna

Vinicius Zimmerman, organizador do Rural Rock, critica a falta de mobilização dos artistas em SC Rafael Tschumi

A primeira edição do Tschumistock aconteceu em 1996 sem nenhum vínculo com marcas e mídias Divulgação Da Caverna

E o trabalho da cena independente catarinense não para por aí. Ainda tem o Rock SC, um portal para divulgação dos clipes das bandas locais e o MPB – Música para Baixar, que tem entre os militantes o músico Jean Mafra, do Samambaia Sound Club, entre outros. Numa cena tão competitiva e cruel como a da música, onde a indústria fonográfica mal consegue se segurar sob suas pernas, essas pequenas iniciativas individuais animam os músicos a permanecerem firmes, fazendo da coletividade das ações a sua melhor arma. Como disse XuXu, “se botar a cabeça pra pensar direitinho, muita coisa pode ser feita, sem necessariamente depender de um caminhão de dinheiro ou de uma ou duas pessoas”. É a lógica marxista invadindo a música: se o mercado vai mal, o melhor a se fazer é socializar. (M.A.) O projeto Escute! pretende divulgar os artistas locais e autorais, criando um selo e uma produtora

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