WALTZ, Kenneth. “Nuclear Myths and Political Realities”. In WALTZ et al. The use of force: military power and international politics. Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield, 2004. p. 102-117. * Por Vivian Graça Barcellos Barreira
Kenneth Waltz nasceu no estado de Michigan, Estados Unidos, em 1924. Tinha então 35 anos quando seu primeiro livro O homen, o estado e a guerra foi publicado, em 1959. Ainda no contexto político internacional da Guerra Fria, Waltz publica mais um livro, Theory of International Politics. Outros livros mais recentes foram: Foreign Policy and democratic politics e The spread of nuclear weapons. A principal contribuição do autor norte-americano é a criação do neorealismo ou realismo estrutural. Atualmente é professor de Relações Internacionais na Universidade de Columbia e professor emérito de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Berkley. Nesse artigo “Nuclear Myths and Political Realities”, publicado originalmente pela American Political Science Review, em 1990, Waltz trata das armas nucleares na política militar e contrasta a lógica das armas convencionais com a lógica das armas nucleares. Seu principal argumento é que ao contrário do que pensaram alguns políticos e escritores sobre o futuro catastrófico das próximas guerras, elas, na verdade, não chegaram a acontecer, justamente, por serem demais catastróficas. O comportamento político norte-americano foi da “retaliação massiva” dos anos 50, passando pela MAD (mutual assured destruction) nos anos 60 até a “resposta flexível” dos anos 80, conforme ganhava peso a política de enfrentamento nuclear da União Soviética. A credibilidade do desencorajamento a propulsão de guerras deixou de ser um problema no mundo nuclear, afirma Waltz. Não se observava períodos de paz entre estados poderosos desde o Tratado de Westfália, em 1648. Nas guerras convencionais, é difícil saber quem vai ganhar, por conta das inúmeras variáveis. No mundo nuclear, a possibilidade de aniquilação não permite que ninguém nem mais tente. As armas nucleares eliminaram a estratégia de guerra, salienta Waltz, não há como garantir que na primeira ogiva que você joga no adversário, pode-se eliminar o arsenal nuclear inteiro dele.
A corrida armamentista tornou União Soviética e Estados Unidos incrivelmente poderosos militarmente, mas também deu a muitos outros países armas nucleares. Não importava que fossem poucas, o estrago dessas poucas seria enorme. Por conta disso, ficou mais fácil estados pobres e fracos travarem guerras entre si do que uma potência lutar com outra pela dominação. A escalada para a dominação foi muito amenizada. Sobre os conflitos menores que envolveram Estados Unidos e União Soviética, como a Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962, Waltz explica que tudo foi feito para evitar o último passo, o absoluto, porque lá estava a utilização das armas nucleares. Por isso, a crise se estendeu tanto. O autor menciona ainda John Foster Dulles, Secretário de Estado norteamericano, que conhecido por sua ojeriza ao mundo comunista, recuou para não entrar no conflito entre União Soviética e Hungria em 1956. O principal mito nuclear era a guerra vindoura, mas havia outros. Como, por exemplo, acreditar que a União Soviética estava incrivelmente abastada de armas nucleares e pior, era agressiva, sua vontade mesmo era o enfrentamento nuclear. Outro mito partiu do então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que afirmou que os sistemas de defesa contra armas nucleares tornariam essas armas obsoletas. A despeito dos que possam proferir que a Era Nuclear e o fim da Guerra Fria mudaram o sistema internacional e que o realismo perdeu sua utilidade, Waltz frisa que essas mudanças não mudaram o sistema internacional, que continua anárquico.
Bibliografia:
WALTZ, Kenneth. “Structural Realism after the Cold War”. In International Security, Vol. 25, No. 1 (Summer 2000), pp. 5–41
Entrevista com Kenneth Waltz ao Conversations with History; Institute of International Studies, UC Berkeley em 10 de fevereiro de 2003. Disponível em http://globetrotter.berkeley.edu/people3/Waltz/waltz-con0.html Acessado em 15/04/2009.