Veronica Azeredo Ufop

  • October 2019
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  • Pages: 7
FILOSOFIA PARA CRIANÇA UM ELO ENTRE O CONHECIMENTO E A REFLEXÃO: uma proposta Verônica Pacheco de Oliveira Azeredo* [email protected]

Nossa sociedade passa por um momento cultural em que as pessoas têm recebido muita informação, oportunizando o “conhecer muito” e permitindo o “pensar pouco”. O objetivo da Filosofia é fazer um elo entre conhecimento e reflexão, para que as nossas escolhas e ações cotidianas priorizem o homem

e suas relações. E a proposta do

diálogo filosófico na escola propicia uma nova alternativa sobre a imagem da vida humana, uma imagem sobre a liberdade humana de auto transformar-se, de auto-recriar-se por meio da reflexão, diálogo

do

e da ação: “É necessário reconhecer como prioritário o

interesse do indivíduo em obter um melhor controle da sua própria vida, pois não há melhor incentivo que ver nossa vida se aperfeiçoar com o nosso pensar sobre ela.” (LIPMAN, 1994, p. 12). Conhecer a nós mesmos, a nossa vida é essencial para que saibamos qual é o nosso objetivo, qual é o sentido da nossa existência. O programa de Filosofia Para Crianças tem como objetivo o de desenvolver as habilidades cognitivas: o pensar bem. Segundo Lipman (1994), por meio das habilidades cognitivas e sociais

as

crianças aprimoram sua forma de pensar e agir no mundo. E o aperfeiçoamento do pensamento propicia um pensamento de ordem superior, que é alicerçado pelas suas próprias suposições

e

implicações, consciente das razões e provas que sustentam esta ou

Especialista em Filosofia e Existência; Mestranda em Filosofia pela Universidade federal de Ouro Preto – UFOP; Professora de Filosofia do Centro Universitário do Leste de Minas - UNILESTE-UBEC; Assessora de Filosofia da Escola Educação Criativa / End.: Rua Alfa 871 – Bairro CasteloIpatinga-MG CEP 35160-068 Telefone: 031-3825-30-95 *

aquela conclusão. Dessa forma, os alunos

despertam e envolvem

com a investigação, a criticidade, a autonomia e a razoabilidade. Assim participar de um diálogo é explorar as mais variadas possibilidades, descobrir as alternativas, reconhecer outras perspectivas e estabelecer uma comunidade de investigação.(...)Se o indivíduo tem que ser estimulado a pensar por si, ele parece afirmar que não há melhor maneira de pôr tal atividade em prática do que conversando entre si num espírito de razoabilidade. (LIPMAN, 1994, p. 13).

É preciso compreender que ser razoável não significa o uso da racionalidade pura, mas ser capaz de também fazer julgamentos. A escola deve proporcionar uma educação que invista na razoabilidade, isto é , que seja acrescentada a ela o julgamento. Deve priorizar o contexto no qual os alunos aprendam a usar a razão para que possam crescer capazes de raciocinar, "(...)se fundamentar na razão significa um número maior de futuros pais razoáveis, cidadãos mais razoáveis e fatores mais razoáveis em geral." (Lipman, 1994, p. 22). A razoabilidade está intimamente relacionada com os julgamentos que são orientados por padrões, critérios e razões. Tendo como fio condutor o programa de Filosofia Para Crianças de Matthew Lipman, a Escola Educação Criativa implantou, desde 1996, em seu quadro curricular, a Filosofia, para todos os anos do Ensino Fundamental e do 1º e 2º ano do Ensino Médio. Ao organizar os diálogos

filosóficos,

os

alunos

foram

aprendendo

sobre

o

compromisso com o diálogo, com o grupo, com as aulas, que a Filosofia exige perguntas reflexivas e o diálogo filosófico se preocupa com o uso correto da razão e procura compreender os conflitos. Dessa forma o espaço escolar foi apurando o diálogo, favorecendo o discurso, que aliás,

é nossa principal forma de relação com os

outros. Pensar melhor em sala de aula implica em pensar através da linguagem e ensinar o raciocínio que é um aspecto do pensamento

que pode ser submetido a critérios de avaliação, pode haver critérios válidos e não válidos, bem fundamentados, apresentando razões convincentes, definições defensáveis, organização de explicações, descrições e argumentos coerentes: Os fundamentos da lógica, assim como os fundamentos da sintaxe, formam uma parte intrínseca da linguagem cotidiana e adquirir habilidade na linguagem significa ter, ao mesmo tempo, adquirido a lógica e a sintaxe que estão dissolvidas nesta linguagem. (Lipman, 1994, p. 47)

Lipman afirma que, a melhoria na qualidade do pensamento está em ensinar a criança a palavra e o que elas exprimem, e fragmentos

de

uma

palavra.

O

conhecimento

não ensinar ocorre

pelo

desvelamento dos significados das palavras, e a linguagem é como um enfeitiçamento do mundo, quando é tomada de forma alheia a suas próprias regras. Dizer o desconhecido é lançar sobre o outro um feitiço, hipnotizá-lo e prendê-lo através do laço de sua ignorância, impossibilitando dessa forma, a comunicação, a comunhão entre as pessoas. E o diálogo filosófico permite um maior aprofundamento nas discussões, o desvelar dos conceitos, dos sentidos e as habilidades de raciocínio e da investigação desempenham o papel de aquisição de significado no processo da linguagem. Segundo Cunha(2002), por meio do filosofar as crianças passam a atribuir significados às palavras e a compreenderem o núcleo comum que exprimem sentido a essas palavras, mesmo que estejam sendo empregadas em contextos diferentes. Além disso: O filosofar com as crianças permite que elas construam significados enquanto formam a consciência de si, mobilizando simultaneamente elementos dos domínio afetivo e cognitivo. Habilidades de diálogo e pensamento vão consolidando, de um lado, competências crítico-reflexivas sensíveis a critérios de verdade ou justiça (...).(CUNHA, p.23, 2002)

Percebe-se que por meio do diálogo filosófico, as crianças ampliam a sensibilidade para o pensamento abstrato. E na medida em que elas são estimuladas para o diálogo, a reflexão, a investigação, a argumentação julgamentos

e e

o

suas

questionamento escolhas.

“O

são

aprimorados

aprimoramento

de

seus suas

competências para julgar e escolher corresponde a julgar e escolher de maneira mais atenta, mais criteriosa e mais significativa.” (CUNHA, p. 24, 2002) Nas aulas de Filosofia da Escola Educação Criativa, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, foram

inseridas a história da Filosofia,

temas filosóficos e exercícios de habilidades cognitivas e sociais. O programa, posteriormente gerou uma apostila, cujo nome é “Parando Para Pensar”, de minha autoria,

que é utilizada na Escola pelos

alunos

material

do



desenvolvimento

ao



das

ano.

O

habilidades

empregado

cognitivas

e

para

sociais

o foi

principalmente, livros de literatura, textos sobre a história da Filosofia e de temas filosóficos, que

foram elaborados por mim, e serviram

como apoio para o conhecimento da história da Filosofia, para a reflexão, a investigação e discussão filosófica. As apostilas “Parando Para Pensar”, utilizadas pela Educação Criativa, abordam temas filosóficos, a história da Filosofia, exercícios de habilidades cognitivas e sociais. Existem adesivos que acompanham a apostila, que estão relacionados com os exercícios das habilidades cognitivas e sociais. Os adesivos contribuem para estimular a execução do exercício, relacionar a imagem com a habilidade, além de proporcionar um prazer estético. No início de cada bimestre, os alunos, estudam um pouco sobre a história da Filosofia e o tema filosófico abordado naquela etapa. A distribuição ocorre da seguinte forma: no 2º ano, o filósofo Matthew Lipman; no 3º ano, o filósofo Sócrates; no 4º ano, o filósofo Platão e finalmente, no 5º ano, o filósofo Aristóteles. Os textos sobre a história da Filosofia procuram enfatizar a teoria do filósofo que está relacionada com o tema. Assim,

os alunos passam a conhecer um pouco sobre a história da Filosofia e criam vínculos com os filósofos, refinando seus conhecimentos e ampliando a aprendizagem sobre a cultura. E compreendem melhor a origem da disciplina que estudam. O material de apoio para as discussões são principalmente, livros de literatura, de autores como Ruth

Rocha, Sílvia

Orthof entre outros.

Portanto, as novelas

filosóficas desenvolvidas por Lipman não são usadas nesta escola. Na Educação Criativa, as aulas de Filosofia contribuíram para o desenvolvimento intelectual dos alunos. A linguagem tornou-se mais elaborada e com maior encadeamento lógico. Os alunos passaram a ouvir os colegas, observando como eles e o professor levantam hipóteses, identificam pressuposições, exigem razões umas das outras e se envolvem em interações intelectuais críticas. Entenderam que no diálogo filosófico o raciocínio superficial não acontece sem ser questionado. As professoras também verificaram que as crianças adquiriram maior segurança para falar e se expressarem durante as aulas, percebendo que ao encadearem logicamente seu pensamento se tornaram mais exigentes, não se deixando levar pela opinião do outro sem antes terem clareza para concordarem ou discordarem. A Filosofia ocupa-se das questões fundamentais que intrigam os seres humanos que buscam apreender o sentido da totalidade. É com este entendimento que esse trabalho é desenvolvido. Os alunos são inseridos nessa atividade reflexiva fundamental, para que

possam

perceber o significado de estar-no-mundo, compreender os outros e a si mesmos. Considerações finais A Filosofia desde o seu nascimento, educa o homem. Platão aprendeu com Sócrates, Aristóteles com Platão e assim sucessivamente, educamos e somos educados. Entre tantos ensinamentos que Platão recebeu de seu mestre, creio que o essencial foi a primazia do

diálogo e que o filósofo é um eterno aprendiz. E a educação que se apóia na liberdade e na autonomia em busca da dignidade humana deve recorrer à experiência grega e aplicar seu ensinamento, pois nossa sociedade vive momentos de grande acesso ao conhecimento, mas com pouco acesso à sabedoria. Lipman afirma: O objetivo de um programa de habilidades de pensamento não é transformar as crianças em filósofos, em tomadores de decisões, mas ajudá-las a pensar mais, ajudá-las a serem indivíduos mais reflexivos, ajudá-las a terem mais consideração e serem mais razoáveis. As crianças que foram ajudadas a serem mais criteriosas não só têm um senso melhor de quando devem agir, mas também de quando não devem fazê-lo. (LIPMAN, 35, 1994.)

Segundo Lipman,

o desenvolvimento das habilidades cognitivas

proporciona um ambiente escolar onde as crianças aprendem a escutarem melhor, a estudarem melhor e a se expressarem melhor. Para o filósofo, o aprimoramento das habilidades de pensar e do diálogo, amplia nas crianças, a capacidade da descoberta de significados. E para ele, as crianças que não conseguem perceber o significado de suas próprias experiências, que acham o mundo fragmentado e perturbador são mais propensas a buscarem atalhos para alcançarem experiências plenas. A educação não é imune ao seu tempo e estamos vivenciando momentos de grande tensão e questionamentos sobre a nossa postura diante dos conflitos, da violência, das escolhas, das ações humanas e da fragmentação das relações. E a proximidade entre o diálogo e a perspectiva de uma racionalidade contextual, cuidadosa, solidária

à

argumentação

das

boas

razões

e

aberta

à

intersubjetividade pode resgatar-nos para modos de relacionamento com o conhecimento, com a tecnologia e conosco mesmos, de modo criterioso e menos conflituoso. O homem possui a capacidade fundamental de dialogar com a realidade e habitar nesse diálogo. A linguagem oportuniza o encontro

com a realidade, mas é

preciso buscá-la por meio da fala, do

discurso, proferindo palavras. Por meio da linguagem o ser humano cria a si mesmo, a sociedade, a cultura. Ao dizer ao outro quem é ele e

quem é o outro são produzidos significados e estabelecidas as

relações entre as pessoas e o mundo. Portanto, a Filosofia , por meio do diálogo filosófico é uma proposta oportuna para a educação. Pois ensinar Filosofia para crianças, é prepará-las por meio de um conjunto de conhecimentos sobre as bases para pensar a vida, de uma forma mais válida e compatível com a liberdade e felicidade humana. Referência bibliográfica BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar. 13ª ed. Petrópolis: Vozes: 1996. _________Filosofia para principiantes. 15ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996. CUNHA, José Auri. Filosofia na Educação Infantil: fundamentos e métodos. Campinas, Alínea, 2002. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 1995. DANIEL, Marie-France. A Filosofia e as Crianças. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Nova Alexandria, 1997. LIPMAN, Matthew et all. Filosofia na sala de aula. 2ª ed. Trad. Ana Luísa Falcone. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. _________Filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990. _________O pensar na educação. 2ª ed. São Paulo: Nova Alexandria, 1997. KOHAN, Walter Omar e WAKSMAN, Vera. Filosofia para crianças. Petrópolis: Vozes, 1999, Vol II.

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