Estávamos sentados lado a lado enquanto as folhas do jameloeiro balançavam suavemente. O barulho dos carros da avenida ao lado se silenciaram à medida que a atenção dos enamorados se voltava à lua cheia. As mãos ansiosas e ávidas por calor, dedilhavam sorrateiramente pelo chão procurando o caminho mais fácil até se encontrarem. Os dedos se entrelaçaram e a cada toque, ela involuntariamente contraia as mãos, fato que a fazia sorrir, mas era um sorriso espontâneo e ímpar, que revelava o grau de inocência que permeava o clima daquele pueril casal. De que forma Deus havia orquestrado aquele momento eles não poderiam precisar, pois estavam sendo tragados pelo frenesi do momento, seguindo os impulsos naturais da alma de qualquer apaixonado, e assim foram se aproximando. E maravilhado com a imponência do olhar dela, ele se sentiu fragilizado. Foi a primeira vez que sua essência mortal se deparou com a personificação do que há de mais sublime em um ser. A assinatura de Deus é a perfeição. As faces se aproximaram, ele não resolveu fechar os olhos, queria capturar todos os momentos daquele ato. Mal sabia ele que aquele era o desfecho da sua vida amorosa. Seus lábios se encostaram e a intimidade entre eles fez com que se abrissem, dando espaço para a comunhão de suas línguas. Ah, se ele soubesse que aquele seria o melhor momento de sua existência... ...O ser humano é inconveniente. A felicidade traiçoeira o inebriou com promessas de um futuro promissor. A tristeza, que estava a par da situação, cavalgou ferozmente com seu cavalo indomável e enquanto o garoto dormia, completamente extasiado, fora levado ao vale da depressão. Ao acordar, se sentindo estranhamente fraco lembra que teve um sonho à noite passada. Nesse sonho uma pessoa colocava algo em seu bolso e falava: - Esse é um presente do Destino. Pouco tempo depois o garoto sumiu. Não pode se despedir de sua amada, pois o destino o soprou como uma névoa ao vento. O presente do destino era um ticket que o levou ao Trem do Esquecimento na Estação da Indiferença. Os trilhos da saudade eram percorridos com muita dor, a paisagem com o tempo mudava, mas o coração do passageiro continuava sempre o mesmo.