Textos Para O Jornal

  • May 2020
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  • Words: 2,130
  • Pages: 7
"Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando. É isso que faz o resto valer a pena" (Neil Gaiman) Sutil como uma folha que cai no outono, talvez seja assim que se pode definir o que é o tempo. Ou talvez pela velocidade com a qual ele passe. Hoje, olhando velhas fotos, revendo velhos clichês da minha vida (pleonasmos a parte) pude ver que o tempo passa muito rápido. Rápido demais até. Hoje percebi que a frase "tempo é dinheiro" não passa de uma mentira. Tempo é bem mais que dinheiro. Tempo é o que rege minha vida. Tempo, tempos e um tempo. Sinto-me como se já estivesse na estrada por um certo tempo. E ainda estou tão no começo dela... É quando se está longe de casa que se entende o que significa tempo. Tempo é algo precioso demais. Não pelos frutos materiais que ele pode gerar. Mas pelo que ele nos proporciona com as pessoas. Meu Deus! Quanto tempo eu gastei em vão! Pessoas que mereciam a minha atenção... Pessoas que mereciam minha dádiva mais preciosa... Poderia ter presenteado meu tempo. Não gosto da palavra investir... Soa como algo meio comercial... Você investe esperando algo em troca. Presentear parece algo mais interessante. Dar o seu tempo. Uma demonstração profunda de afeto. Porque todos os bens materiais se esvaem. O toque pode até deixar impressões, as palavras com o tempo são esquecidas, mas o tempo que não se nota passar, ah! Isso faz todo o resto valer à pena.

Sobre Estar Distante e estar perto.

Em primeiro lugar, distância é algo que pode representar várias coisas. Na Física, a distância mede quantitativamente o espaço existente entre dois pontos. No mundo moderno, porém, define-se a distância pelo intervalo de tempo no qual uma informação leva para chegar até o seu destinatário. É por isso que se diz que a globalização encurtou as distâncias.Com um clique, podemos "estar" em lugares remotos, sem nenhum custo, num intervalo de tempo ínfimo. Mas não é essa a distância que eu quero enfatizar. Talvez nem seja algum conceito já definido de distância, mas sim o MEU conceito de distância. Estar distante para mim é estar alheio a mente de um indivíduo. Sim, meu conceito de distância toma como referencial indivíduos. Não é um conceito físico nem geográfico. É psicológico. Hoje eu pude perceber o quão distante eu estou de algumas pessoas. Existe um hiato em nossa comunicação. Exemplo: quando eu estou perto de alguém, não necessariamente estou do lado dessa pessoa. Porém, consigo dialogar com essa pessoa de uma maneira ao menos parecida. Quando eu estou distante, mesmo que eu esteja do lado daquela pessoa, não consigo me comunicar propriamente. É como se nossos espaços estivessem distintos (meu conceito de espaço será definido em outro texto). E mais uma vez me lembro que estou distante de algumas pessoas... Estar distante não é algo necessariamente ruim. Algumas vezes, é necessário que se esteja distante, pois é nessa distância que as relações são provadas. Um relacionamento baseado puramente no contato, ou seja, que não persiste na distância, não é um relacionamento estável. É apenas afinidade temporária... E por isso estou distante de algumas pessoas. Para que eu possa pensar. Sim, é necessário um certo distanciamento, para fins de análise. Pois quando se está muito próximo da questão analisada, o seu espaço e o dela se fundem, tornando impossível qualquer juízo claro. Estou distante também porque preciso expandir meu espaço. E esse espaço só pode ser expandido através de novas intersecções. Pois, se me prendo as antigas, jamais conseguirei realizar novas. A segurança das antigas proximidades algumas vezes é maléfica, inibindo o surgimento de novas, pois, ao mínimo sinal de incompatibilidade, recorreremos às antigas, e nos fecharemos nelas. Por isso estou distante. Não por ódio, nem por amor. Apenas para poder refletir. Perdoem-me se deixei alguma impressão errada. Fellipe Lima

Pequena Autobiografia

Alteridade. Uma palavra nova que aprendi essa semana. O que só reforça minha crença(que para alguns é uma tese.Como não possuo nem os argumentos nem a autoridade destes, resumo-me a classificar esse pensamento como crença...).Alteridade é o oposto de identidade.Não é ser o Eu. É ser o Outro... Ah, a minha crença, esqueci-me dela. Creio que Jesus morreu na cruz por meus... Ahn... Pera, não é essa... Ah, lembrei. É a crença de que a palavra em si vem depois do que ela representa.Alteridade, no meu caso, é um exemplo.Antes de eu aprender a palavra, senti o que ela significava. O que me interessa porém não é a discussão lingüística sobre a idéia de significante e significado. O cerne deste texto é a exposição do seguinte pensamento: durante toda a minha vida (ou pelo menos a parte consciente dela) eu me senti sempre como o Outro. Eu nunca fui o Eu (calma, eu ainda não fiquei louco, acho...). A questão principal é que eu sempre me senti como um estranho a mim mesmo. Sinto-me como o Outro, aquele terrível ser( sendo designado, por exemplo, na língua nipônica pela palavra "Oni" que também significa "demônio"). Freqüentemente comparo-me. Porque essa é a função do Outro. Ser parâmetro de comparação para o Eu, para que este possa se equiparar (pois não há o Eu sem o Outro (crença novamente, desta vez parafraseando Martin Bueber). Então, se eu (minúsculo proposital) sou o Outro (maiúsculo idem), quem é o Eu? Resposta estranha: o outro. Aqueles externos a mim... pausa para reflexão... Pronto, estou pronto para continuar. Os fatos acima vieram me gerando problemas por muito tempo. Mas não agora. Agora eu resolvi mudar minhas atitudes. Cansei de viver como o Outro. Chegou a hora de viver o Eu. Chegou a hora de querer o que o Eu quer, e não o que o Outro quer. De comparar o mundo, para me encontrar. Pois antes eu estava perdido numa imensidão de vozes roucas. E todas elas tentavam me dizer o que Eu sou. É bem verdade que o Outro é condição para a análise do Eu. Porém, não deve ser o Outro a coisa em si, aquele que é dotado de existência, e sim o Eu. E então, lanço-me a terrível jornada que é existir. Mas dessa vez, volto minhas velas para novos ventos. Os ventos do meu verdadeiro Eu. Ventos estes desconhecidos. Porém, muito mais providenciais do que os ventos infernais do Outro. Fellipe Lima (escrito numa noite de euforia, num pequeno caderno por um ser altamente disfórico).

Crônica de uma saudade

Não, não lavei os pratos... Estão sujos desde aquele nosso último jantar. As velas ainda estão lá derretidas... A roupa ainda está jogada no chão. Tudo isso compõe A minha crônica de saudades Crônica esta com um começo que eu conheço... Mas com um fim sem fim. Um fim que eu acho que nunca chega. Ah, essa palavra... Saudades... Ao invés de voar da sua boca como a palavra tempo, ela fica presa na sua língua. Esperando o momento certo para poder sair. É como um vinho que espera virar vinagre... Talvez para poder curar as feridas... Talvez para poder zombar de alguém. Sei apenas que é amargo... E eu agora encontro-me perdido Em um mundo que não sei como entrei. Um mar de absinto, de fel. Que tento diluir em poesia e música. Mas não dá. E nesse mar sem fim, não há porto seguro Nem terra à vista. E tudo lentamente cede o gosto ao amargo torpor Da tua distância... Tudo vai perdendo a cor.

Fellipe Lima

Medo

Na nossa vida cotidiana, existe um elemento marcante em todas as relações. O medo.O medo é uma moeda de troca.É o câmbio da vida.Querendo ou não, toda a nossa vida é marcada por medos.Curiosamente, todos eles possuem a mesma fonte: o desconhecido.Quando crianças, temos medo do místico(e por que não dizer imaginativo) mundo que se oculta debaixo da cama(ou dentro do armário).O medo sempre se encontra onde não podemos ver.A essência do medo é a idéia de que aquilo que é objeto do medo pode se tornar real.Temos medo do amanhã que talvez não chegue, temos medo do nosso futuro, temos medo da morte... Mas então você me dirá: se você estivesse diante de um assassino serial com uma pistola, e ele estivesse prestes a atirar em você, você não teria medo? Sim e não. Teria medo de morrer devido a incerteza do que ocorrerá depois.Mas não teria medo dele.Teria consciência, o que não deixaria de me preocupar.Existe uma grande diferença entre o medo e a consciência.O medo é o terror do desconhecido.A consciência é o terror do imediato... O medo é uma moeda de troca nos relacionamentos afetivos. Não é a única, porém através dele pode-se obter resultados (não necessariamente bons resultados.). O medo de perder o amor, por exemplo, nos leva a uma tentativa incessante de agradar o ser amado. O medo de que tudo dê errado muitas vezes nos leva a desistir de um relacionamento... O medo é uma moeda de troca nas relações em geral. O medo do "outro" é a base da criação do estado.Temendo o livre - agir alheio, abrimos mão do nosso próprio, em favor de nossa sobrevivência. Apesar de amadurecermos, os nossos medos continuam sendo os mesmos.Ainda temos medo do oculto.Ainda temos medo do amanhã que pode nunca vir.Ainda temos medo de não sermos felizes.Ainda temos medo de não sermos bem-sucedidos.Temos medo de perdermos tudo...

Mais uma torrada, por favor... Eu queria escrever um daqueles textos bem cômicos, onde o final é uma frase do começo. E essa frase não teria "nada a ver", a princípio, com o texto.Você só iria descobrir o motivo da frase no final.Seria bem divertido.Mas hoje eu estou realmente sem paciência.É a vida do vestibulando... E é engraçado, porque o nervo responsável pelo equilíbrio (que está REALMENTE faltando) é o nervo vestibular... Irônico?.... Acho que sim. É irônico e seria engraçado se não fosse trágico... Todos os que passaram por essa fase sabem muito bem como é isso... É, é a nossa realidade. O brasileiro nasce sobe o signo da dificuldade.Com uma parca exceção daquelas pessoas "bem nascidas" , todos os brasileiros estão imersos numa realidade que é construída sobre o seguinte preceito: A vida É difícil. Os momentos fáceis são exceção. Dizem que o fogo refina o ouro. É, aqui no Brasil isso não se aplica. Se isto REALMENTE fosse verdade, deveríamos ser uma sociedade mais evoluída. Mas, ainda somos uma sociedade letárgica, paralítica.Tanta opressão, tantas dificuldades deveriam ter moldado uma consciência do coletivo.Do público. Mas ao invés disso, somos arquipélagos. Porque afinal, nenhum homem é uma ilha (oooohhhhh, que brilhante lugar comum...). Mas no tocante ao fato de concatenação política, somos todos ilhas.Eu me pergunto hoje que vestibular eu devo prestar,e subseqüente a isso, me pergunto a que matérias devo dar prioridade.Me preocupo em ser aprovado em uma boa universidade. Para isso, existem os cursos isolados. Mas essa não deveria ser a principal pergunta. Deveríamos nos perguntar por qual motivo o ensino público (com suas exceções) não consegue atender nossas necessidades. Por que escolas particulares? ... E você deve estar se perguntando: por que motivo então, você que está escrevendo tudo isso não faz nada? Eu o respondo assim: E você que está lendo o meu texto? Até quando este jogo irá se prolongar, eu não sei. E já que o final não é sabido, só me resta pedir à empregada que faça o meu café da manhã, pois terei mais um longo dia pela frente. E pedir a ela: mais uma torrada, por favor...

Globalização e Termodinâmica

Resolvi dar uma olhada em um dos meus e-books, um que trata sobre globalização. Engraçado, e-book... os livros por si só já são uma forma de integração, será até de globalização?. Na verdade, pelo que li, a globalização está longe de ser apenas a integração do mundo. Ela está relacionada a desintegração dos limites territoriais das empresas. Com a era do capital especulativo, quem se torna o verdadeiro dono da empresa não é mais seu fundador, e sim seus acionistas. Ah, os acionistas.Eles são os responsáveis pela desassociação entre a empresa e o espaço, podendo movê-la ao seu bel-prazer, não se preocupando por exemplo, com as pessoas que dependiam do emprego na mesma( conseqüência também da ausência de políticas trabalhistas efetivas), da empresa distribuidora e das demais empresas à aquela associadas. A globalização é algo paradoxal. Ao mesmo tempo em que integra o mundo ( Fazendo com que, por exemplo, eu possa ler o livro de Zygmunt Bauman), mas ao mesmo tempo, transforma algo material em algo imaterial... Permite o meu progresso, mas promove o regresso em algum ponto.Talvez a física se aplique à sociedade.Talvez a globalização nada mais seja que uma visível expressão da Entropia.Enquanto a ordem aumenta em alguns lugares, ela é reduzida drasticamente em outros...

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