Testemunho

  • April 2020
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TESTEMUNHO O meu nome é Ana Sofia, tenho 28 anos e nasci em Santarém. Os meus pais, depois de casados, esperaram 4 anos para conseguir ter o primeiro filho, uma vez que a minha mãe perdeu os 2 primeiros fetos. Durante o tempo da terceira gravidez, que a minha mãe passou praticamente de cama em casa, rezava todos os dias o terço a N. Senhora de Fátima, pedindo-lhe, como só uma mãe pode e sabe, que a ajudasse a ter aquele bebé e prometendo que o ensinaria a amar muito o seu Filho, Jesus. Mais tarde ela viu como N. Senhora lhe tinha “pegado na palavra”! Nasci eu e passados três anos o meu irmão. Juntos crescemos num ambiente familiar muito bom. Era uma jovem cheia de sonhos e planos para uma vida profissional e familiar. Um dia uns amigos convidaram-me para participar num retiro de promoção vocacional em Coimbra. Não tinha intenções de mudar os meus planos, mas aceitei... O sacerdote que orientava o retiro disse-nos que "Deus tem uma vocação para cada um de nós e só seremos verdadeiramente felizes se a descobrirmos e a seguirmos com generosidade". Não sei o que estas palavras causaram nos outros jovens, mas para mim foram como uma semente lançada à terra... Compreendi que o amor de Deus por mim era tão grande que desde toda a eternidade Ele tinha traçado um plano de amor e de felicidade para mim. No fim do retiro passámos pelo Carmelo, pois a vocação à vida Contemplativa tinha sido, entre todas, a que mais dificuldade tivemos em entender. Entrar num Convento (coisa que eu pensava já não existir!!!), falar com uma Irmã, saber um pouco da vida de uma Carmelita, foi algo muito forte para mim... Lembro-me que me saiu, sem querer, uma pergunta: “A partir de que idade é que se pode entrar?” A Irmã respondeu: “17...” e dentro de mim algo ecoou : daqui a um ano já posso entrar! Mas, no mesmo segundo, calei esta “voz” que achei sem sentido. Chegada a casa, aceitei o desafio e comecei a procurar avidamente o meu lugar na Igreja. Todos os dias brotava espontaneamente em mim a pergunta: "Que queres de mim, Senhor?", e ia deixando que Ele me falasse pelos acontecimentos, pelo meu grupo de jovens, por pessoas experientes em questões vocacionais... Comecei por me sentir atraída pelas missões, gostava de ir para um país distaste –África apaixonava-me -, colocar a minha vida à disposição daqueles que mais necessitavam... mas também ali, na minha cidade, havia muitos que precisavam de ajuda e eu, apesar de estar comprometida em várias actividades de voluntariado, não podia chegar a todo o lado. Achei que tudo era importante e senti-me pequenina diante do muito que havia para fazer pelos outros. Um dia decidi escrever à Ir. Lúcia, que já sabia estava no Carmelo em Coimbra. Pedi-lhe que rezasse por mim, para encontrar a minha vocação. Foi grande a minha surpresa quando recebi uma carta dela! Tão grande que nem consegui abrir a carta, foi a minha mãe que a abriu e leu o que ela dizia sobre a beleza da entrega a Deus, do valor da oração e que, se eu quisesse podia fazer uma experiência de discernimento vocacional no Carmelo. A resposta da minha mãe foi logo : “Não!” Eu, porém, fique a pensar e a lembrar-me da visita ao Carmelo. Bem conversadas as coisas consegui que os meus pais me deixassem ir passar um mês de férias ao Carmelo em troca de ir para a praia com os meus amigos (minha primeira grande renuncia vocacional!) Gostava de perceber se a minha vocação era a de falar de Deus aos homens, na vida missionária, ou a de falar dos homens a Deus, na vida contemplativa. A experiência no Carmelo foi muito marcante para mim e achei que tinha encaixado como uma peça de um puzzle no lugar certo! No entanto sair de casa aos 17 anos era muito difícil e decidi esperar pelos 18, terminar os meus estudos, prometendo a Deus e a mim mesma que voltaria. Um ano de espera ajudou-me a crescer no meu desejo de entrega a Deus e aos Irmãos pelo apostolado da oração, só que muitos outros “chamamentos” foram aparecendo na minha vida e, a certa altura coloquei tudo em questão. Eu tinha um grande amor, que me prendia, talvez mais que a família e mais que tudo o resto, uma paixão louca por cavalos! Precisamente neste ano o meu equitador achou que eu estaria à altura de competir nos concursos Hípicos e quis-me preparar. Embora a minha preferência fosse equitação

e embora sabendo que não me devia comprometer, não tive coragem de recusar. Não sabia o que era mais difícil: esquecer a minha vocação ou os cavalos, até que Deus mo revelou... Um dia, numa aula, como tantas outras, ao tentar saltar um dos obstáculos maiores a égua negou-se por duas vezes, só à terceira consegui que ela saltasse, mas o salto foi de tal maneira violento que eu fui atirada da sela, dei uma cambalhota no ar e cai de costas no chão. Senti-me toda partida, sem forças e pensei: “Estou paralítica para o resto da vida.” Ali no chão, em breves segundos eu vi passar a minha vida passada, presente e futura... não me preocupou nada o ficar paralítica, mas senti uma tristeza horrível por tudo o que já não podia fazer, por, de cadeira de rodas, já não poder entrar no Carmelo... Uma única saída, rezar. Mas num momento destes não se encontram palavras, o coração vai mais rápido e lembro-me de pedir ajuda a N. Senhora, de dizer a Jesus que não Lhe seria mais infiel se Ele me ajudasse a levantar. Quando abri os olhos e me levantei, todos os meus colegas fizeram festa, porque era a minha 7ª queda e, segundo se dizia, só se é bom cavaleiro depois de 7 quedas! Para mim a festa foi outra, a de encontrar a mão de Deus presente na minha vida, a de ter a certeza que Ele vela por mim e me ama com um amor infinito e com muita paciência! Brevemente ia fazer 18 anos, era Junho e o fim do ano lectivo estava muito próximo, os meus pais perguntaram-me o que é que eu queria de prenda de maior idade. Pedi-lhes que me apoiassem e ajudassem a seguir a minha vocação no Carmelo. O meu pai, que sempre se tinha recusado dar-me um cavalo só para mim, disse logo: “Está bem, eu dou-te o cavalo!” Não havia mais nada a fazer, estava decidida e nada me faria voltar atrás, nem que me dessem o mundo inteiro! Ao ler um livro sobre a Carmelita Isabel da Trindade descobri que ela tinha entrado no Carmelo no dia 2, 1ª sexta-feira do mês de Agosto de 1901. Olhei para o calendário e vi que em 1996 o dia 2 de Agosto também era a 1ª sexta-feira do mês. Encontrei nesta pequena coincidência mais um sinal de Deus e marquei a minha data de entrada para este dia. Antes de entrar disse ao meu pai que, no Carmelo se reza pela conversão dos pecadores e que eu ia rezar pela conversão dele, uma vez que ele era apenas baptizado e não tinha nada de prática religiosa. Ele não acreditava na minha vocação, dizia que eu era muito alegre e que não era “ave de gaiola”, acreditava que depois de algum tempo eu voltaria para casa. Vi que os meus pais sofreram pela nossa separação, mas admiro-os porque não fizeram nada para me impedir de seguir a voz do Senhor, apenas me disseram que se quisesse voltar para casa teria sempre as portas abertas. No Carmelo pedi a Deus a conversão do meu pai e para minha surpresa um ano depois ele diz-me que se esteve a preparar e que ia receber a Comunhão e o Crisma. Desde aí ele nunca mais faltou um Domingo à Missa e conseguiu compreender melhor a minha vocação. O meu pai tornou-se assim, para mim, o meu primeiro “filho” e ajudou-me a perceber o valor da maternidade espiritual que permite à Carmelita abraçar a humanidade inteira como a “filhos queridos”. Agora, que já conheço um bocadinho mais do “plano de amor” que Deus tem para a mim desde toda a eternidade, não sei como Lhe agradecer por tudo e digo como a B. Isabel da Trindade que “achei o meu Céu na terra, porque o Céu é Deus e Deus está dentro de mim!” Passados 10 anos vejo que a descoberta da minha vocação não era a meta final da minha busca, mas o início de uma aventura radical, onde pela oração e entrega diária nas mãos de Deus ganha quem dá a vida pela causa de Cristo e dos irmãos mais necessitados. Ir. Ana Sofia de Maria e da Trindade O.C.D. Carmelo de S. Teresa Coimbra

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