Sequestro John E Mack

  • October 2019
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Sequestro John E Mack as PDF for free.

More details

  • Words: 193,958
  • Pages: 356
ENCONTROS COM EXTRATERRESTRES John E. Mack, M. D. Planeta Colecção Documentos Planeta/2 Edições Temas da Actualidade, S. A. R. António Pedro, 111-2° Frente 1100 Lisboa Direcção-Geral: José Nobre Editor: Mário Matos Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer meio e em qualquer forma, sem autorização prévia e escrita do editor. Direitos reservados. Título original: Abduction: Human encounters with aliens © 1994 by John E. Mack, M. D. Tradução: Ana Cecília Simões e Carla Pires © Tradução portuguesa: Edições Temas da Actualidade, S. A. Capa: Simone Benvenutto Paginação e fotolito: L. M. - Artes Gráficas, Lda. Impressão: Tilgráfica - Sociedade Gráfica, S.A. - Braga Depósito legal: 84343/94 ISBN: 972-748-014-4 PARA BUDD HOPKINS,

que mostrou o caminho ÍNDICE AGRADECIMENTOS PREFÁCIO 1. SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 2. SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS: UMA PANORÂMICA 3. LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 4. «PESSOALMENTE NÃO ACREDITO EM OVNI» 5. O VERÃO DE 92 6. UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 7. SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTAREM 8. LIBERTAÇÃO DO ASILO DE Loucos 9. SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 10. PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 11. A MISSÃO DE EVA 12. A MONTANHA MÁGICA 13. AViAGEMDEPETER 14. UM SER LUMINOSO 15. ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 16. INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA

1 33 59 79 107 131 167 207 237 257 285 313 347 397 437 459

AGRADECIMENTOS Há muitas pessoas a quem estou grato pela ajuda que me prestaram neste trabalho. Alguns contribuíram para a preparação do manuscrito e outros facultaram informações e ideias. Outros prestaram-me apoio pessoal directo. Alguns contribuíram de diversas destas formas. Outros fizeram o favor de não me criticarem pelas costas, quando foram confrontados com um tema susceptível de alterar radicalmente a sua percepção da realidade. Obviamente, não posso citar todos estes indivíduos, mas eles saberão reconhecer-se. Desejo agradecer a Míriam Altshuler, Wait Andrus, Michael e Isabel Blumenthal, Thomas E. Bullard, John Carpenter, Blanche Chavonstie, David Cherniak, Jerome Clark, Barbara Corbisier, Joan Erikson, C. Richard Farley, Penelope Franklin, Mary Westbrook Geha, Bill Goldstein, David Gotiib, Stanislav Grof, Hugh Gusterson, Joanne Hager, Richard Haines, Judith Herman, Robert e Joan Holt, Budd Hopkins, Linda Moulton Howe, Barbara Marx Hubbard, David Jacobs, Douglas Jacobs, Eric Jacobson, C.B. Scott Jones, Honey Black Kay, Gurucharan Singh Khalsa, Thomas e Jehane Kuhn, Roberto Lewis-Fernandez, Robert Jay Lifton, Caroline MacLeod, John Miller, Malkah Notman, Joseph Nyman, David e Andrea Pritchard, Joseph Regai, Kenneth Ring, Laurance Rockfeller, Mark Rodeghier, Rudolf Schild, Timothy Seldes, Vivienne Simon, Karen Speerstra, Joel Speerstra, Ervin Staub, Myron Stocking, Richard Tarnas, Keith Thompson, George Vailiant, Jacques Vallee, Roger Walsh, Kenneth Warren, Karen Wesolowski e Jennie Zeidman. Desejo agradecer especialmente a Pam Kasey, cuja participação neste projecto o tornou possível; a Dominique Cailimanopulos, pelo seu cuidado e apoio em muitos aspectos do meu trabalho; a Pat Carr e Leslie Hansen, pela sua indispensável colaboração na criação deste livro; e à minha mulher, Sally, pelo seu amor e apoio durante todo o tempo que durou a produção deste livro. Finalmente, e talvez mais importante que tudo o resto, desejo agradecer aos sujeitos das experiências, tanto àqueles que são directamente citados nestas páginas, como a todos os que me fala-

ram destes fenómenos, pela notável coragem demonstrada ao partilharem as suas histórias. PREFÁCIO Um autor que se lança num empreendimento tão manifestamente inovador como este tem inevitavelmente de interrogar-se acerca das possíveis ligações com o seu trabalho anterior. Para mim, a ligação reside no tema da identidade — quem somos nós, no sentido mais profundo e mais lato. Em retrospectiva, este tema tem estado comigo desde o início, dominando as minhas abordagens clínicas dos sonhos, dos pesadelos e do suicídio de adolescentes e as minhas pesquisas biográficas, bem como os estudos relativos à geração das armas nucleares e aos conflitos etnológicos e, mais recentemente, a psicologia transpessoal, com a qual tenho estado envolvido. Segundo entendi, o fenómeno dos sequestros obriga-nos, se nos permitirmos toma-lo a sério, a reexaminar a nossa percepção da identidade humana — a olhar para o que somos, de uma perspectiva cósmica. Este livro não é apenas sobre OVNI ou sequestradores alienígenas. É sobre o modo como estes fenómenos, simultaneamente traumáticos e transformadores, podem alargar a nossa compreensão de nós mesmos e a nossa percepção da realidade e revelar o nosso potencial oculto como exploradores de um universo rico em mistérios, significados e inteligência. Quando exploramos fenómenos que existem à margem da realidade aceite, as palavras existentes tornam-se imprecisas ou necessitam que lhes seja dado um novo significado. Termos como «sequestro», «alienígena», «acontecimento» e mesmo «realidade» necessitam de ser redefinidos, sob pena de se perderem distinções subtis. Neste contexto, classificar demasiado literalmente as recordações como «verdadeiras» ou «falsas», pode limitar o que poderíamos aprender sobre a consciência humana, a partir das experiências de sequestross relatadas nas páginas que se seguem. Sequestro CAPÍTULO UM SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO No Outono de 1989, quando uma colega me perguntou se queria conhecer Budd Hopkins, repliquei: — Quem é ele? Ela disse-me, então, que era um artista que vivia em Nova Iorque e trabalhava com pessoas que diziam ter sido levadas por seres alienígenas para naves espaciais. Na altura, comentei qualquer coisa no sentido de que ele devia ser doido e todos os outros também. Porém, ela negou insistentemente, dizendo que se tratava de um assunto real e muito sério. Em breve chegou um dia em que tive de ir a Nova Iorque por qualquer outra razão — foi a 10 de Janeiro de 1990, uma dessas datas que não esquecemos porque marcam uma mudança decisiva na nossa vida — e ela levou-me a conhecer Budd. Nada nos meus então quase quarenta anos de experiência no campo da psiquiatria me tinha preparado para o que Hopkins tinha a dizer. Fiquei impressionado pelo seu calor, a sua sinceridade, a sua inteligência e o seu interesse pelas pessoas com quem tinha trabalhado. Mas mais importantes ainda foram as histórias que ele me

contou, de pessoas vindas de todos os pontos dos Estados Unidos que tinham aparecido para lhe relatar as suas experiências, depois de terem lido um dos seus livros ou artigos, ou de o terem ouvido na televisão. Estas histórias correspondiam, algumas até ao mínimo pormenor, às contadas por outros «sequestrados» ou «sujeitos de experiência», como são designados. A maior parte das informações específicas que os sequestrados fornecem sobre os meios de transporte de e para as naves espaciais, 2 SEQUESTRO as descrições do interior das próprias naves e o procedimento dos alienígenas durante os sequestros nunca foram veiculadas, quer em livro, quer por intermédio dos meios de comunicação social. Além disso, estes indivíduos eram provenientes de várias partes do país e não tinham comunicado uns com os outros. Noutros aspectos, pareciam bastante sensatos, tinham-se revelado relutantemente, temendo o descrédito ou a completa ridicularização das suas histórias, com que se haviam já defrontado no passado. Tinham vindo visitar Hopkins à sua própria custa e, salvo raras excepções, nada tinham a lucrar materialmente com o facto de relatarem as suas histórias. Num caso, uma mulher ficou espantadíssima quando Hopkins lhe mostrou o desenho de um ser alienígena. Perguntou-lhe como conseguira retratar o que ela vira, quando apenas tinham começado a falar. Quando ele explicou que o desenho tinha sido feito por outra pessoa, oriunda de outra região do país, ficou muito preocupada, porque, deste modo, a experiência que ela quisera acreditar tratar-se apenas de um sonho, parecia agora assumir foros de realidade. A minha reacção foi, em alguns aspectos, semelhante à desta mulher. O que Hopkins tinha, sobretudo, encontrado nos mais de duzentos casos de sequestro, que estudara ao longo de um período de catorze anos, eram relatos de experiências que apresentavam características de acontecimentos reais: narrativas altamente pormenorizadas, que não apresentavam padrões simbólicos óbvios, choques traumáticos, emocionais e físicos, por vezes deixando pequenas lesões nos corpos dos sujeitos da experiência, e grande coerência das histórias, até aos mínimos pormenores. Mas se estas experiências eram, em algum sentido, «reais», então estavam em aberto uma série de novas questões. Qual a frequência destes acontecimentos? Se existia um grande número de casos destes, quem ajudava estes indivíduos a lidar com tais experiências e qual o tipo de apoio ou tratamento mais adequado? Qual a resposta dos especialistas em saúde mental? E, mais basicamente, qual a origem destes encontros? Estas e muitas outras questões serão abordadas neste livro. Em resposta ao meu interesse óbvio, embora algo confuso, Hopkins perguntou-me se eu próprio gostaria de conhecer alguns destes sujeitos de experiências. Concordei, com uma curiosidade mesclada de ligeira ansiedade. Um mês mais tarde, Hopkins marcou-me encontro, em sua casa, com quatro sequestrados, um homem e três mulheres. Todos eles contaram histórias semelhantes dos seus SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 3 encontros com seres alienígenas e das experiências de sequestro. Nenhum deles parecia psiquicamente perturbado, excepto num sentido secundário, isto é, no sentido de se mostrarem perturbados em consequência de algo que, aparentemente, lhes acontecera. Nada sugeria que as suas histórias fossem ilusórias, fruto de má interpreta-

ção de sonhos ou produto da fantasia. Nenhum deles parecia o tipo de pessoa capaz de inventar uma história estranha para atingir qualquer objectivo pessoal. Sentindo o meu óbvio interesse, Hopkins perguntou-me se queria que me passasse os casos da área de Boston, onde já tinha conhecimento de bastantes. Mais uma vez, concordei e, na Primavera de 1990, comecei eu próprio a receber sequestrados na minha casa e em hospitais. Nos mais de três anos e meio em que tenho trabalhado com sequestrados, falei com mais de cem indivíduos, indicados para avaliação de sequestros ou outras experiências «anómalas». Destes, setenta e seis (de idades compreendidas entre os dois e os cinquenta e sete anos, sendo 47 mulheres e 39 homens, incluindo três rapazes com menos de oito anos) satisfazem os meus critérios, bastante restritos, para casos de sequestro: recordação consciente, ou sob hipnose, de ter sido levado por seres alienígenas para uma nave estranha, relatada com a emoção adequada à experiência descrita e sem qualquer perturbação mental aparente, à qual a história pudesse ser atribuída. Realizei entre uma e oito sessões de hipnose diferentes, com a duração de várias horas, com quarenta e nove destes indivíduos, e desenvolvi uma terapêutica de aproximação, que explicarei resumidamente. Embora me sinta em dívida e tenha um grande respeito pêlos pioneiros neste domínio, como Budd Hopkins, que tiveram a coragem de investigar e comunicar informações que chocavam frontalmente com a realidade consensual da nossa cultura, este livro baseia-se largamente na minha própria experiência clínica. Dado que este tema é tão controverso, não existe, virtualmente, qualquer autoridade científica aceite que eu-possa citar em apoio dos meus argumentos e conclusões. Portanto, vou relatar o que aprendi directamente dos meus próprios casos e, em seguida, farei interpretações e tirarei conclusões com base nestas informações. A experiência de trabalhar com sequestrados afectou-me profundamente. A intensidade das energias e emoções envolvidas, à medida que os sequestrados revivem as suas experiências, não tem paralelo em nenhum outro dos meus trabalhos clínicos. O imedia4 SEQUESTRO tismo da presença, do apoio e da compreensão necessárias influenciaram a forma como encaro a psicoterapia em geral. Além disso, acabei por compreender que os fenónemos de sequestro têm significativas implicações filosóficas, espirituais e sociais. Sobretudo, mais do que qualquer outra pesquisa que tenha levado a cabo, este trabalho obrigou-me a desafiar a visão prevalecente do mundo ou a realidade consensual, na qual cresci acreditando e que sempre apliquei nos meus estudos clínico-científicos. De acordo com esta visão — diversamente apodada de paradigma científico ocidental, newtoniano / cartesiano ou materialista/dualista — a realidade baseia-se fundamentalmente no mundo material ou naquilo que pode ser apreendido pêlos sentidos físicos. Nesta óptica, a inteligência é sobretudo um fenómeno do cérebro humano ou de outras espécies evoluídas. Se, pelo contrário, a inteligência for entendida como característica do próprio cosmos, a percepção constitui um exemplo de «subjectivismo» ou uma projecção dos nossos processos mentais. Aquilo que os fenómenos de sequestro me levaram a entender (diria, agora, que inevitavelmente) é que participamos num universo, ou universos, cheios de inteligências, das quais nos separámos, tendo perdido os sentidos através dos quais poderíamos

conhecê-las. Tornou-se também evidente para mim que a nossa restrita visão do mundo, ou paradigma, se encontra por detrás da maior parte dos grandes padrões destrutivos que ameaçam o futuro da humanidade — cobiça negligente dos grandes grupos de empresas, que perpetua as diferenças entre ricos e pobres e contribui para a fome e a doença, violência étnica e nacionalista, que dá origem a mortes em massa e poderá resultar num holocausto nuclear, e destruição ecológica a uma escala que ameaça a sobrevivência dos ecossistemas terrestres. Existem, evidentemente, outros fenómenos que levaram a questionar a visão materialista/dualista prevalecente. Entre estes incluem-se as experiências de quase morte, as práticas de meditação, o uso de substâncias psicadélicas, as viagens dos xamãs, as danças de êxtase, os rituais religiosos e outras práticas, susceptíveis de abrir a nossa mente àquilo a que, no Ocidente, chamamos estados de consciência anormais. Mas, segundo penso, nenhuma destas práticas nos fala na linguagem que melhor conhecemos, isto é, a linguagem do mundo físico. Porque os fenómenos de sequestro nos atingem, por assim dizer, no local onde vivemos. Entram abruptamente no mundo físico, SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 5 quer sejam ou não deste mundo. Portanto, o seu poder de alcançar e alterar a nossa consciência é imenso. Todos estes problemas serão mais largamente discutidos nos exemplos de casos clínicos, que constituem o corpo do livro, e, especialmente, no capítulo final. Uma das questões mais importantes no âmbito da investigação dos sequestros tem sido saber se o fenómeno é fundamentalmente recente — relacionado com as visões de «discos voadores» e outros objectos voadores não identificados (OVNI) nos anos 40 e com a descoberta, em 1960, de que estas naves tinham ocupantes — ou se é apenas o capítulo moderno de uma longa história de relacionamento da humanidade com veículos e criaturas vindos do céu, que remonta à antiguidade. SERES VINDOS DO ESPAÇO OU DE OUTROS DOMÍNIOS AO LONGO DA HISTÓRIA H A ligação entre seres humanos e seres oriundos de outras dimensões tem sido ilustrada, desde há milénios, por mitos e histórias de várias culturas. Contrariamente à metafísica pós-renascentista, predominante nas sociedades ocidentais, e que coloca o homem no centro da criação, acima e separado das outras formas de vida, existem outros povos em todo o mundo que comunicam, frequentemente e por vários meios, com inteligências não humanas e espíritos. Esta comunicação e os mitos por ela criados são parte integrante das cosmologias de muitas culturas não ocidentais, constituindo para elas uma espécie de esqueleto ontológico, do qual depende o equilíbrio da cultura, dos costumes e do estilo de vida. Ao longo da história, muitas sociedades entenderam a consciência como algo mais potente do que nós, ocidentais, a consideramos — como uma peneira ou um receptor/transmissor de comunicação com forças, nem sempre visíveis, além de nós mesmos. O dogma contemporâneo ocidental de que estamos sós no universo, relacionados apenas connosco próprios, é, na realidade, uma perspectiva minoritária, uma anomalia. Através de várias épocas, os homens relataram os seus contactos com uma multiplicidade de deuses, espíritos, anjos, fadas, demó-

(*) Dominique Cailimanopulos investigou e escreveu a maior parte desta secção c da seguinte. 6 SEQUESTRO nios, gnomos, vampiros e monstros marinhos. De todos eles se disse que vieram para ensinar, comandar, perturbar ou fazer amizade com os humanos, com diferentes disposições, motivos e objectivos. Enquanto muitos destes seres pareciam estar em casa na Terra, a maioria vinha visitar-nos vinda de outros habitais ou dimensões. O céu, em especial, tem sido escolhido como abrigo dos seres não humanos e tornou-se o símbolo da dimensionalidade extraterrestre, especialmente quando, recentemente, as fronteiras da Terra pareceram encolher. Como notou Ralph Noyes, «costumávamos povoar a Terra de espíritos e deuses. Agora, eles foram expulsos e o céu é o seu porto de abrigo» (Noyes, 1990). Em Truk, nas ilhas Marshall, o povo acredita tradicionalmente num mundo exterior que corresponde em alguns aspectos à moderna concepção de espaço exterior. É um mundo de mistério e de poder, um mundo ao qual os seres deste mundo devem a sua própria existência. Além do mais, existia um constante diálogo entre os seres deste mundo e os habitantes do mundo exterior dos espíritos (Goodenough 1986, pág. 558). Da mesma forma, os Índios americanos da tribo Hopi eram, segundo a tradição, educados pêlos Kachinas, seres espirituais vindos de outros planetas, que lhes ensinaram técnicas agrícolas e lhes deram as directrizes morais e filosóficas que enformaram a cultura Hopi (Clark e Coleman 1975, pág. 215). O povo da Irlanda acreditava que as fadas ou os elfos não eram terrenos, mas sim originários de outros planetas. Frequentemente, as fadas viajam pêlos céus em naves aéreas em forma de nuvem, chamadas «barcos de fada» ou «navios fantasma» (Rojcewicz 1991, pág. 481). Mircea Eliade, o famoso mitólogo, documentou amplamente o significado simbólico da distinção entre céu e terra, como ilustrativa, quer da separação, quer da ligação entre o mundo dos humanos e o mundo dos espíritos. Segundo Eliade, «os mitos arcaicos de todo o mundo falam da existência primordial de uma extrema proximidade entre o Céu e a Terra. In illo tempore, os deuses desceram à Terra e misturaram-se com os homens, e estes, por seu lado, podiam ascender ao Céu, subindo uma montanha, uma árvore trepadeira ou uma escada, ou mesmo sendo levados por pássaros» (Eliadel957.pag.59). Estes mitos de ascensão, afirma Eliade, estas imagens de uma qualquer ligação entre a terra e os céus, encontram-se em muitas triSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 7 bos (incluindo tribos australianas, de pigmeus e do Árctico) e foram elaborados tanto por culturas nómadas, como por culturas sedentárias, e transmitidos directamente às grandes culturas urbanas orientais da antiguidade. Quando o Céu foi bruscamente separado da Terra, quando a árvore da Liana que ligava o Céu à Terra foi cortada, ou quando a montanha que tocava o céu foi aplanada, então o estado paradisíaco terminou e os humanos entraram no estádio actual (Eliadel957.pag.59). «Com efeito, todos estes mitos nos mostram o homem primitivo gozando de uma beatitude, espontaneidade e liberdade que, infelizmente, perdeu em consequência do pecado original — ou seja,

daquilo que se seguiu à causa mítica que originou a ruptura entre o Céu e a Terra... Imoralidade, espontaneidade e liberdade, a possibilidade de ascender ao Céu e encontrar-se com os deuses, a amizade com os animais e o conhecimento da sua linguagem. Estas liberdades e capacidades foram perdidas em consequência de um acontecimento primordial: o pecado do homem, expresso como uma mutação ontológica da sua própria condição, bem como um cisma cósmico» (Eliade 1957, pág. 61). Só membros especiais de cada cultura, como os xamãs, puderam continuar a movimentar-se entre o Céu e a Terra, entre os homens e o mundo dos espíritos. Os Koryaks da Sibéria recordam a era mítica do seu Grande Corvo, quando os humanos podiam subir ao Céu sem dificuldade: nos nossos dias, acrescentam, só os xamãs podem fazê-lo. Os Baikiri do Brasil pensam que, para os xamãs, o Céu não é mais alto do que uma casa, de forma que conseguem alcançá-lo num piscar de olhos (Eliadel957.pag.65). Existem inúmeros mitos, contos e lendas relacionados com seres humanos ou sobre-humanos, que voam para o Céu e viajam livremente entre a Terra e o Céu. Ainda segundo Eliade, «as razões do voo e ascensão são comprovadas a todos os níveis das culturas arcaicas, tanto nos rituais e mitologias dos xamãs e dos extáticos, como nos mitos e folclore dos outros membros da sociedade, que não pretendem distinguir-se pela intensidade das suas experiências religiosas. Muitos símbolos e significados relacionados com a vida espiritual e, sobretudo, com o poder da inteligência, estão associados às imagens de «voo» e «asas». Todos eles exprimem uma ruptura com o universo da experiência quotidiana... tanto a transcendência como a liberdade são obtidas por meio do voo» (Eliade 1957, pág. 105). 8 SEQUESTRO Poderia parecer que os actuais sequestrados por OVNI são os continuadores de uma tradição vastamente documentada de ascensões e comunicações alienígenas. Porém, os sequestros por alienígenas e os seus efeitos nos sequestrados possuem uma singularidade própria. Peter Rojcewicz, especialista em folclore, comparou a experiência dos sequestrados ou sujeitos de experiência de hoje com outros fenómenos aéreos e de sequestro e alude à possibilidade de existência de uma inteligência, um espírito, uma energia, uma consciência, que preside às experiências OVNI e de encontros extraordinários de todos os tipos, cuja forma e aspecto se adaptam ao ambiente das épocas (Rojcewicz 1991). Rojcewicz cita a longa história das visões de fenómenos aéreos invulgares e de seres ou objectos luminosos. Nos tempos antigos, eram visões de «carros celestiais, carroças que voavam para o céu, palácios voadores que brilhavam e se moviam pêlos céus... Existem também muitas descrições diferentes de escudos flamejantes no céu, como triângulos. Cruzes flamejantes foram também avistadas nos céus da Europa ocidental.» O mesmo autor nota também a presença de nuvens ou de luzes nebulosas em torno de objectos invulgares , incluindo OVNI, bem como o aparecimento espontâneo de imagens religiosas luminosas no céu, frequentemente testemunhado por milhares de pessoas. Nos Estados Unidos, ainda no século passado, os americanos testemunharam o aparecimento de navios — escunas e barcos — a navegar no céu (Rojcewicz 1992). Jerome Clark, após uma cuidadosa investigação das naves avistadas nos anos 1890, concluiu que os veículos espaciais observados frequentemente nos

Estados Unidos poderiam estar relacionados com os OVNI contemporâneos, mas interpretados de acordo com a tecnologia e mitologia da época (Clark 1991). Segundo Mário Pazzaglini, um psicólogo que, desde há alguns anos, se tem interessado pelas experiências de sequestro, nos últimos dez mil anos foram registadas manifestações de natureza «relacionada com OVNI», começando com uma gravura de Ezequiel no Antigo Testamento, que representa uma visão que inclui anjos, rodas, luz e nuvens (Pazzaglini 1992). Fenómenos celestes invulgares foram igualmente registados pêlos Romanos, pêlos Gregos do século IV e na Idade Média. Manifestando-se por vezes sob a forma de estrelas, fogos no céu, cruzes, luzes ou raios de luz, era frequente as aparições desaparecerem simSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 9 plesmente ou deixarem uma marca. Muitas destas visões foram observadas por milhares de pessoas e interpretadas como milagres religiosos. Muitas vezes, estes fenómenos enquadram-se perfeitamente nas crenças espirituais já existentes dos próprios observadores. O fenómeno de seres humanos sendo transportados para outras dimensões tem também uma longa história na maioria das culturas. Os tibetanos desde há muito que acreditam que os homens podem separar-se do seu corpo astral e viajar «sem corpo» durante horas ou dias seguidos. «Têm experiências em lugares diferentes e depois regressam.» Os tibetanos distinguem vários graus de subtileza ou grossura, ou de densidade dos seres. «A mente ou a consciência produzida pela matéria mais densa não pode comunicar com estas coisas subtis. Em alguns, é possível observar o nível mais denso da mente sendo dominado e a mente mais subtil tornando-se mais activa. Então surge uma oportunidade, uma hipótese de comunicar ou mesmo de ver um outro ser, mais subtil do que a nossa mente ou o nosso corpo». (Dalai Lama 1992). Exemplos contemporâneos de tais entidades no Ocidente poderiam ser os «espíritos guia», de que muitos falam. As descrições desses espíritos, que aparecem a indivíduos ou a intermediários, variam grandemente. Rojcewicz inclui os fenómenos de sequestro por OVNI numa vasta categoria de experiências paranormais, que inclui as experiências de quase morte, poderosas experiências psíquicas, místicas, espirituais e de viagens astrais e encontros com uma multiplicidade de seres — tais como bruxas, fadas, lobisomens — que, frequentemente, originam no indivíduo uma transformação substancial dos respectivos valores e orientação. A questão de saber se e porquê estes eventos ocorrem permanece, evidentemente, sem resposta. Há muita discussão até mesmo sobre como formular tais questões. O ponto mais frequentemente debatido, se os sequestros acontecem realmente, conduz-nos ao centro das questões sobre percepção e níveis de consciência. A questão mais candente é a de saber se existe alguma realidade independente da consciência. Ao nível da consciência pessoal, poderemos apreender a realidade directamente ou estamos necessariamente limitados pêlos nossos cinco sentidos e pela mente que organiza a nossa visão do mundo? Existe uma consciência colectiva, partilhada, que opera para além da nossa consciência individual? E se esta consciência colectiva existe, como é influenciada e como é determinado o seu conteúdo? Serão os 10

SEQUESTRO

sequestros por OVNI produto desta consciência colectiva? Se, como acontece em algumas culturas, a consciência atravessa todos os elementos do universo, qual o papel desempenhado por acontecimentos como os sequestros por OVNI e outras experiências místicas nas nossas mentes e no resto do cosmos? Não é fácil responder a estas questões. Talvez tudo o que possamos fazer neste momento seja reconhecer as questões, enquanto escutamos o relato das experiências daqueles que se deslocaram para além da nossa concepção de «realidade» culturalmente partilhada. A experiência de ser raptado por OVNI, embora única em muitos aspectos, apresenta algumas semelhanças com outras experiências dramáticas e transformadoras, sofridas por xamãs, místicos e cidadãos vulgares, que tiveram encontros com o paranormal. Em todos estes domínios experimentais, a consciência vulgar do indivíduo é radicalmente alterada. Ele, ou ela, é iniciado num estado existencial fora do comum que, no final, dá origem a uma reintegração do eu, uma concentração espiritual ou entrincheiramento em estados e/ou conhecimentos até então inacessíveis. Por vezes, o processo é desencadeado por uma doença ou por um qualquer acontecimento traumático e, outras vezes, o indivíduo é simplesmente empurrado para estados existenciais, dos quais ele, ou ela, emerge com novos poderes e sensibilidades. «Durante a iniciação, o Xamã aprende a penetrar noutras dimensões da realidade e a permanecer aí; os seus ritos iniciáticos, seja qual for a sua natureza, dotam-no de uma sensibilidade capaz de percepcionar e integrar estas novas experiências... através dos sentidos estranhamente apurados do Xamã manifesta-se o sagrado» (Eliade 1957, pág. 66). Tal como muitos dos sequestrados, o iniciado apura a sua nova sensibilidade ao serviço da sabedoria, que poderá ser utilizada pelo seu povo. A revelação não está apenas ao alcance daqueles que buscam a iluminação, mas pode bater a qualquer porta, em qualquer momento. No início deste século, um certo Dr. Buche descreveu o que parece ser um certo tipo de experiência arquetípica: «Ele e dois amigos tinham passado a tarde a ler Wordsworth, Keats, Browning e, especialmente, Whitman. Encontrava-se num estado de quase gozo passivo. Subitamente, sem qualquer aviso, viu-se envolvido numa nuvem cor de fogo... e, quando mal se apercebera, a luz estava dentro de si próprio. Imediatamente a seguir foi tomado de um estado de exaltação, de uma imensa alegria, acompanhada de uma iluminação SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 11 intelectual impossível de descrever. O seu cérebro foi momentaneamente atravessado por um raio de esplendor bramânico, deixandolhe para sempre um sabor celestial» (Eliade 1965, pág. 69). A experiência de interiorização daquilo que é primeiramente apreendido como uma luz exterior acontece frequentemente durante lampejos místicos ou viagens transcendentais, de que resulta um renascimento espiritual. Talvez possamos esboçar uma analogia com os encontros com OVNI, em que o sequestrado é inicialmente «surpreendido por um raio de luz», divisa uma nave brilhante e, em seguida, é levado para dentro dela. Os sequestrados brasileiros, especialmente, parecem ter percepcionado nuvens luminosas, frequentemente vermelhas, associadas a naves espaciais (Story 1980). O místico ou o xamã, tal como o sequestrado, efectua uma peregrinação, geralmente com ardor, a fim de receber uma nova dimensão de experiência ou de conhecimento. Isto envolve um

renascimento que, por vezes, é extremamente penoso, um regresso a um estado sobrenatural, primordial, para recondicionar a consciência do sujeito da experiência. O caos psíquico daí resultante é uma metáfora do caos pré-cosmogónico, amorfo, mas penetrante. O sequestrado é um Dante moderno, cujas bases ontológicas se desenleiam. Regressado à sua cama ou ao seu carro, depois de ter passado algum tempo com os alienígenas, luta para construir novamente a sua visão do mundo. A maior parte das vezes, empreende esta viagem sozinho e frequentemente a sua falta nem sequer é sentida por aqueles que poderiam ajudá-lo a encontrar as suas coordenadas. Jacques Vallee, talvez o mais culturalmente abrangente dos investigadores de ovnilogia, trata da história internacional dos encontros com OVNI nos seus dois livros Dimensions e Passport to Magonia. Ao descrever centenas de visões de objectos vindos do céu e dos respectivos ocupantes, através do tempo, dos continentes e das sociedades, refere a aparentemente inexplicável presença de discos na simbologia de diversas civilizações: os Fenícios e os primeiros Cristãos, por exemplo, associavam-nos à comunicação entre Deus e os anjos. Compara alguma da fenomelogia dos encontros com OVNI a relatos históricos de experiências de natureza mística. Geralmente, os raios de luz aparecem, tanto nos encontros com OVNI como com seres espirituais (Vallee 1988, pág. 34). No que diz respeito aos próprios seres, Vallee salienta muitas analogias entre as aparições de seres não humanos, de formas mutáveis e aéreos, ao 12 SEQUESTRO longo da história. Estes seres apresentam-se aos homens sob milhares de formas diferentes; possuem poderes extraordinários e, frequentemente, pretendem compartilhar de e/ou roubar qualquer coisa pertencente aos humanos, desejam comunicar com eles ou muito simplesmente pregar-lhes partidas. E Vallee conclui: «Os ocupantes dos OVNI, tal como os elfos de antigamente, não são extraterrestres. São habitantes de outra realidade» (1988, pág. 96). Vallee acredita que a interacção dos sequestrados com os alienígenas faz parte de «um mito muito antigo e divulgado em todo o mundo, que formou as estruturas das nossas crenças, as nossas expectativas científicas e a nossa ideia de nós próprios» (1988, pág. 99). Escreve este autor: «O poder atribuído aos ocupantes dos OVNI já foi posse exclusiva das fadas»(l 988,pág. 134). Vallee traça um paralelo entre as aparições religiosas, a crença nas fadas, as aparições de seres semelhantes a anões com poderes sobrenaturais, as histórias de naves espaciais avistadas nos Estados Unidos no século passado e as actuais histórias de aterragem de OVNI (1988, pág. 140). Especula largamente: «Ou devemos levantar a hipótese de que uma raça avançada, vivendo algures no espaço e no tempo, nos tem vindo a apresentar, nestes últimos dois mil anos, óperas espaciais tridimensionais, no intuito de guiar a nossa civilização? Se é assim, eles merecem os nossos agradecimentos?... Ou, ao contrário, estamos perante um universo paralelo, uma outra dimensão, habitada por raças humanas e para onde poderemos viajar à nossa custa, para nunca mais regressar ao presente? Serão essas raças apenas meio humanas, de forma que para manterem o contacto connosco têm de miscigenar-se com os homens e mulheres do nosso planeta? Será esta a origem das muitas histórias e lendas em que a genética desempenha um grande papel: o simbolismo da Virgem no ocultismo e na religião, os contos de fadas

envolvendo parteiras humanas e crianças trocadas, as implicações sexuais dos relatos de discos voadores, as histórias bíblicas de casamentos entre os anjos do Senhor e mulheres terrenas, cujos filhos eram gigantes? Nesse universo misterioso existirão seres mais avançados que projectam objectos que podem materializar-se e desmaterializar-se ao sabor da sua vontade? Serão os OVNI «janelas» e não «objectos»? Não há nada que possa apoiar estas assunções e, no entanto, tendo em vista a continuidade histórica destes fenómenos, é SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 13 difícil encontrar alternativas, excepto se negarmos a realidade de todos os factos, como seria preferível para a nossa paz de espírito. (1988, pág. 143-144).» Quando os factos são frágeis, inconsistentes ou incoerentes, os seres humanos apressam-se a preencher as lacunas, assegura Vallee. «Uma vez que muitas observações de fenómenos OVNI parecem coerentes em si mesmas, mas são, ao mesmo tempo, inconciliáveis com o conhecimento científico, gerou-se um vácuo lógico, que a imaginação humana tenta preencher recorrendo à fantasia» (1988, pág. 145). Por fim, Vallee aconselha que nos mantenhamos abertos para aprender com estes fenómenos, que ainda não compreendemos. «Estas observações inexplicáveis não têm necessariamente de corresponder a uma visita de seres extraterrestres, mas podem ser algo ainda mais interessante: uma janela para dimensões desconhecidas do nosso próprio mundo» (1988, pág. 203). «Acredito que os fenómenos OVNI constituem prova da existência de outras dimensões, além do espaço e do tempo; é provável que os OVNI não sejam provenientes do espaço normal, mas de uma outra dimensão que se encontra à nossa volta e cuja perturbante realidade nos temos, teimosamente, recusado a admitir, apesar das provas disponíveis desde há séculos» (l 988, pág. 253). OS FENÓMENOS DE SEQUESTRO POR OVNI NO MUNDO Outra questão diz respeito à distribuição dos sequestros no mundo, ou dos relatos dos fenómenos, o que pode ser um assunto completamente diferente. Os sequestros por OVNI têm sido mais frequentemente relatados e recolhidos nos países ocidentais ou nos países dominados pela cultura e pêlos valores ocidentais. Na medida em que os fenómenos de sequestro podem ser vistos como ocorrendo no contexto da crise ecológica global, que é resultado da concepção do mundo materialista/dualista ocidental, é possível que o «remédio» esteja a ser administrado, primeiramente, no local onde é mais necessário — nos Estados Unidos e nos outros países industrializados do Ocidente. Relacionado com este, estaria o facto de em muitas culturas a entrada no mundo físico de veículos, e mesmo o contacto 14 SEQUESTRO com criaturas, aparentemente vindas do espaço ou de outra dimensão, não ser provavelmente tão notória como em sociedades em que a interacção entre o mundo dos espíritos ou «além» e a nossa existência física seria considerada fora do comum. A primeira publicação de um caso de sequestro teve lugar no Brasil, referindo o alegado sequestro do filho de um rancheiro, António Vilas-Boas, em 1957. Porém, os relatos de aparições de OVNI em todo o mundo ultrapassam em muito o número de verdadeiros sequestros. O livro mais abrangente sobre sequestros na

Europa foi compilado em 1987 por Thomas Bullard, um especialista em folclore da Universidade de Indiana (Bullard 1987). Bullard faz uma lista de sequestros registados em dezassete países, incluindo a Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Inglaterra, Finlândia, França, Polónia, África do Sul, União Soviética, Espanha, Uruguai e Alemanha Ocidental. Os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar com um grande número de sequestros, imediatamente seguidos da Inglaterra e do Brasil, em grande parte devido à disponibilidade de hipnotistas e terapeutas praticantes que, nesses países, têm trabalhado com sequestrados. Para ilustrar este ponto, a China pode gabar-se de ter o maior número de testemunhas da aparição de um OVNI — em 24 de Agosto de 1987, cerca de um milhão de chineses viram simultaneamente um OVNI em forma de espiral (Chiang 1993) — mas não há qualquer registo de um interrogatório subsequente de testemunhas individuais. Porém, a exploração terapêutica das experiências de sequestro está a vulgarizar-se. Em Maio de 1993, a segunda maior cadeia de televisão alemã apresentou um documentário de quarenta e cinco minutos sobre o fenómeno dos sequestros, que conquistou o mais alto prémio televisivo da Alemanha. Apesar de, na sequência desta transmissão, dois terapeutas terem oferecido gratuitamente os seus serviços aos sequestrados, só vinte pessoas responderam. Como em toda a parte, o sequestro continua a ser uma experiência assustadora, com a qual muitos preferem não ser confrontados, a menos que os sintomas resultantes do encontro o exijam. Mesmo os relatos das aparições de OVNI são, em todo o mundo, rodeados de segredo. Os arquivos respeitantes a OVNI do Ministério da Defesa espanhol foram divulgados em 1992. Estes arquivos continham, sobretudo, relatos de visões de OVNI por pessoal da Força SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 15 Aérea. Ainda há muito a fazer, no sentido de convencer outros países a agir de modo semelhante, abrindo os arquivos classificados referentes a este assunto. Em alguns países, onde as pessoas mantêm toda a espécie de crenças em seres sobrenaturais, as experiências de sequestro são confundidas, ou simplesmente relacionadas, com outras visitações. Cynthia Hind, uma investigadora da África do Sul, afirma: «As suas reacções são provavelmente semelhantes às que os ocidentais teriam em face de fantasmas; não necessariamente aterrorizados (ou nem sempre), mas certamente circunspectos relativamente ao que vêem» (Hind 1993, pág. 17). Os sequestrados europeus parecem manter contacto com uma maior variedade de entidades do que os americanos. Estas entidades incluem desde homens muito pequenos a seres altos e encapuçados, indivíduos nus de ambos os sexos e seres humanóides com cabeças, pés e mãos das mais variadas formas. Recentemente, um casal de holandeses descreveu os seus visitantes como seres pequeninos que apareciam com as cores do arco-íris — verde, cor-de-laranja e violeta (comunicação pessoal, 1992). Mas as características gerais das experiências de sequestro mantêm-se. Na maior parte dos casos, os sequestrados são compulsivamente atraídos na direcção de uma luz potente, geralmente quando estão a conduzir ou a dormir na sua cama. Invariavelmente, mais tarde, são incapazes de saber o que aconteceu durante um período de

tempo «perdido» e normalmente apresentam cicatrizes físicas e psicológicas desta experiência. Estas cicatrizes vão desde pesadelos, ansiedade, agitação nervosa crónica, depressão e, mesmo, psicoses, até verdadeiras cicatrizes físicas — costuras e marcas de incisões, arranhões, queimaduras e feridas. Alguns encontros são mais sinistros, traumatizantes e misteriosos. Outros parecem ter uma intenção terapêutica e educativa. Muito frequentemente, segundo os sequestrados, são aconselhados a não relatarem as suas experiências. Em Porto Rico, Miguel Figueroa, por exemplo, afirmou ter recebido telefonemas ameaçadores um dia depois de ter visto cinco pequenos homens cinzentos no meio da estrada (Martin 1993). Ainda menos documentadas do que as experiências em si são as suas consequências. Ao trabalhar com sequestrados, Gilda Moura, uma psicóloga brasileira, relata as capacidades paranormais revela16 SEQUESTRO das por muitos sequestrados brasileiros depois de um encontro, incluindo maiores capacidades telepáticas, clarividência, visões e a recepção de mensagens espirituais, normalmente relacionadas com a ecologia mundial, o futuro da humanidade e a justiça social. Muitos dos sequestrados decidem alterar as suas profissões, depois da experiência (Moura, na imprensa). É provável que com a divulgação das técnicas terapêuticas e de hipnose, em experimentação nos Estados Unidos, muitas mais informações acerca das experiências dos sequestrados na Europa venham a ficar disponíveis, nos próximos anos. Certamente que, no resto do mundo, o fenónemo OVNI não é desconhecido, como o prova a proliferação de gabinetes e organizações de pesquisa dedicadas ao estudo dos OVNI. OS SEQUESTROS NA ACTUALIDADE A história moderna dos sequestros começa com a experiência de Barney e Betty Hill, em Setembro de 1961 (Fuller 1966). Os Hill, um casal respeitável, inter-racial, com um casamento estável, vivendo em New Hampshire, há mais de dois anos que sofriam de sintomas perturbadores, quando, reluntantemente, consultaram um psiquiatra de Boston, Benjamin Simon. Barney sofria de insónia e Betty tinha pesadelos frequentes. Ambos se encontravam num estado de ansiedade tão persistente que a continuação da sua vida normal se tornou intolerável, sem analisarem as perturbadoras repercussões daquela noite de Setembro em que tinham perdido duas horas, durante o seu regresso de umas férias em Montreal. À excepção da angústia provocada pelo incidente descrito, o Dr. Simon não encontrou sinais de qualquer doença psíquica. Os Hill contaram que, na noite de 19 de Setembro de 1961, o seu carro foi obrigado a parar por pequenos seres humanóides cinzentos, com olhos estranhos. Antes disso, tinham reparado numa luz que se movimentava erraticamente e, em seguida, numa estranha nave. Com os binóculos, Barney conseguira divisar as criaturas no interior da nave. Os Hill sofriam de amnésia relativamente ao que lhes tinha acontecido durante as horas perdidas, até se terem submetido a repetidas sessões de hipnose sob a orientação do Dr. Simon. Nos seus encontros, o Dr. Simon recomendou-lhes que não revelassem um ao SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 17 outro pormenores das memórias que estavam a emergir. Segundo os

Hill, depois de terem sido retirados do carro, foram levados para uma nave, contra a sua vontade. Cada um deles relatou que, no interior da nave, foram colocados sobre uma mesa e submetidos a exames, aparentemente médicos, incluindo a recolha de «amostras» de cabelo e de pele. Inseriram uma agulha no abdómem de Betty e foilhe feito um «teste de gravidez». Recentemente, os investigadores descobriram que também foi retirada uma amostra do esperma de Barney, um facto que tanto ele como John Fuller, que mais tarde escreveu acerca do caso, ocultaram, porque Barney o considerou demasiado humilhante para ser referido (Jacobs 1992). Os seres comunicaram com os Hill telepaticamente, por forma não verbal, «como se falassem em inglês». Foi-lhes dito para esquecerem o que tinha acontecido. Apesar de o Dr. Simon estar convencido de que o casal Hill experimentara um tipo de sonho ou fantasia partilhado, uma espécie de folie à deux (l), mantiveram a convicção de que tais acontecimentos eram reais e não comunicaram um ao outro os pormenores concordantes dos seus relatos, durante o período de investigação dos seus sintomas. Barney, que faleceu em 1969 com quarenta e seis anos de idade, mostrou-se particularmente relutante em acreditar na realidade da experiência, com medo de parecer irracional. «Gostaria de poder pensar que tudo não passou de uma alucinação,» disse ao Dr. Simon, quando este o pressionou. Mas, no final, Barney concluiu: «Testemunhámos e tomámos parte em algo diferente de tudo o que tínhamos visto antes» e «estas coisas aconteceram-me realmente». Betty, que continua a falar publicamente da sua experiência, também acredita na realidade destes acontecimentos. Em 1975, a televisão americana apresentou um filme sobre o caso Hill, The UFO Incident, com James Eari Jones no papel de Barney. Nos anos seguintes ao testemunho dos Hill, um número considerável de livros e de artigos relataram experiências de sequestro vividas por outros indivíduos (Lorenzen e Lorenzen 1976; Lorenzen e Lorenzen 1977; Haisell 1978; Fowler 1979; Rogo 1980; Druffel e Rogo 1980; Bullard 1987, pág.s 1-15; Clark 1990, pág. 2). Porém, foi a investigação pioneira levada a cabo pelo artista e escultor novaiorquino Budd Hopkins, durante mais de duas décadas, com centenas de sequestrados, que deu consistência aos fenómenos de sequestro. O primeiro livro de Hopkins, Missing Time, publicado em 18 SEQUESTRO 1981, falava dos períodos de tempo perdidos e outros sintomas relacionados que indiciam a ocorrência de experiências de sequestro, bem como dos pormenores característicos dessas experiências (Hopkins 1981). Hopkins descobriu também que essas experiências de sequestro estavam provavelmente ligadas ao prévio aparecimento inexplicável de pequenos golpes, cicatrizes e marcas de instrumentos cirúrgicos; as narrativas sugeriam até que pequenos objectos ou «implantes» poderiam ter sido inseridos nos narizes, pernas e outras partes do corpo das vítimas. No seu segundo livro, Intruders, publicado em 1987, Hopkins definiu os episódios sexuais e reprodutivos que surgiram associados aos fenómenos de sequestro (Hopkins 1987). O historiador da Universidade de Temple, David Jacobs, completou o padrão básico dos relatos de uma experiência de sequestro (Jacobs 1992). Jacobs identifica fenómenos primários, como sejam o exame manual ou instrumental, a análise visual e os procedimentos urológicos e ginecológios; fenómenos secundários,

que incluem exames por intermédio de máquinas, visualização e apresentação de crianças e, finalmente, fenómenos subordinados, entre os quais várias actividades e procedimentos de carácter físico, mental e sexual. A meu ver, nenhum destes trabalhos trata adequadamente das profundas implicações dos fenómenos de sequestro ao nível da expansão da consciência humana, da abertura da percepção a realidades situadas para além do mundo físico palpável e da necessidade de alterar o nosso lugar na ordem cósmica, se pretendermos que os sistemas vivos da Terra sobrevivam aos violentos ataques do homem. Sondagens relativas à predominância dos fenómenos de sequestro por OVNI nos Estados Unidos, incluindo um inquérito conduzido pela organização Roper entre Julho e Setembro de 1991, que visou cerca de seis mil americanos, indicam que várias centenas de milhar, ou mesmo milhões, de americanos poderão ter sido sujeitos a experiências de sequestro ou relacionadas com sequestros. O inquérito Roper foi criticado, com o argumento de que os indicadores de possível sequestro utilizados — como, por exemplo, o avistamento de luzes estranhas, tempo perdido ou uma sensação de voar — podem, de facto, não significar que tenha ocorrido um sequestro. Porém, uma dificuldade muito mais séria na determinação da predominância de sequestros decorre do facto de nós realmente não saberSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 19 mós o que é um sequestro — por exemplo, não sabemos em que medida é que um sequestro é um acontecimento do mundo físico ou apenas uma estranha experiência subjectiva com manifestações físicas. Um problema ainda maior reside no facto de a memória se comportar de forma verdadeiramente estranha em relação às experiências de sequestro. Como, por exemplo, nos casos de Ed (Capítulo 3) ou de Arthur (Capítulo l), a recordação de um sequestro pode permanecer no inconsciente até, muitos anos mais tarde, ser despertada por outra experiência ou situação que seja associada ao acontecimento original. Numa situação como esta, o sujeito da experiência poderia ser colocado no lado negativo da escala antes do despertar e no lado positivo, depois do despertar. QUEM SÃO OS SEQUESTRADOS? Os esforços no sentido de caracterizar os sequestrados como grupo não foram bem sucedidos. Parecem provir, como que aleatoriamente, de todos os estratos sociais (Bullard 1987; Hopkins 1981, 1987; Jacobs 1992, pág. 327-328). A minha própria amostra inclui estudantes, donas de casa, secretárias, escritores, homens de negócios, profissionais da indústria de computadores, músicos, psicólogos, uma recepcionista de um nightcluh, um guarda prisional, um acupuncturista, uma assistente social e um empregado de uma bomba de gasolina. No início, pensei que predominavam as pessoas das classes trabalhadoras, mas isto parece ser um artifício decorrente do facto de estas pessoas, com menos a perder do ponto de vista económico e social, se mostrarem menos relutantes em revelar as suas experiências. Ao contrário, os sequestrados com uma posição profissional e política proeminente temem a humilhação, a rejeição e a ameaça que a revelação pública das suas experiências poderá constituir para a sua posição. Um dos homens com quem trabalhei deixou-me uma nota com um número de telefone e uma caixa postal de uma cidade onde não vivia. Não me disse o seu verdadeiro nome, até se

ter estabelecido uma certa confiança entre nós. Uma figura política famosa, bem conhecida nos círculos OVNI como testemunha de um sequestro, lançou mão de todas as armas ao seu alcance para evitar a identificação e o embaraço públicos (Hopkins 1992). Os esforços desenvolvidos no sentido de identificar uma psicoSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 21 Da mesma forma, no caso dos sequestrados, não existe nenhum padrão aparente de estrutura familiar e de interacção. Quando comecei este trabalho, fiquei surpreendido com o número de sequestrados que eram provenientes de lares desfeitos ou em que um ou outro dos pais era alcoólico. Porém, muitos dos meus casos são oriundos de famílias perfeitamente estáveis. Também parece existir um mau relacionamento entre alguns dos sujeitos de experiência e os respectivos pais e um certo número deles queixa-se de frieza e falta de carinho no seio das famílias (por exemplo, Joe, Capítulo 8). A alguns dos sequestrados foi dito que uma mulher alienígena era a sua verdadeira mãe e, de certo modo, eles chegam mesmo a sentir que isso é verdade, isto é, que «não são deste mundo» e que os seus pais terrenos não são os seus verdadeiros pais. Encontrei casos em que a criança sujeita ao sequestro parece ter singrado melhor na vida do que as outras crianças da família, atribuindo o facto ao calor e afecto que lhe foram dispensados pêlos alienígenas durante a sua vida. Parece que, como sucede por exemplo nos casos de abuso sexual (ver abaixo), os seres alienígenas manifestam interesse pêlos sofrimentos humanos e podem desempenhar uma espécie de papel curativo. Serão necessárias investigações cuidadosas no sentido de provar esta possibilidade. Tenho a sensação de que, como grupo, os sequestrados são indivíduos anormalmente abertos e intuitivos, menos tolerantes do que é habitual face ao autoritarismo social e mais flexíveis na aceitação da diversidade e das experiências estranhas vividas por outras pessoas. Alguns dos meus casos relataram uma grande variedade de experiências psíquicas, o que também foi notado por outros investigadores (Basterfield, na imprensa). Mas aqui temos a considerar dois aspectos relativamente aos efeitos das experiências de sequestro: por um lado, o segmento determinado da população de sequestrados que primeiramente me procurou e, por outro lado, os resultados do nosso trabalho conjunto. Medidas subtis, tais como testes de abertura, de intuição e de capacidade psíquica, destinados a distinguir os sequestrados como grupo de uma amostra correspondente de indivíduos não sujeitos a tal experiência, terão ainda de ser desenvolvidos ou aplicados ao campo da investigação dos sequestros. Na literatura relativa aos sequestros, foi também sugerida uma ligação ao abuso sexual (Laibow 1989). Porém, aqui, dois erros relacionados com a recordação imperfeita de experiências traumáti22 SEQUESTRO cas, ou o inverso — experiências traumáticas de um certo tipo (sequestro) abrindo a mente para a lembrança de outros traumas (abuso sexual) — podem conduzir ao falso empolamento desta ligação. Por exemplo, trabalhei com uma mulher que consultara um habilitado psicoterapeuta devido a problemas relacionados com presumível abuso sexual e incesto. Várias sessões de hipnose não revelaram quaisquer sinais de tais acontecimentos. Porém, durante uma das sessões, lembrou-se de um OVNI que aterrara perto da sua

casa quando tinha seis anos de idade e do qual saíram seres alienígenas típicos, que a levaram para bordo da nave. Pela primeira vez durante o tempo de terapia, mostrou emoções fortes, e especialmente medo. O terapeuta que me referiu este caso afirmou estar «limpo», isto é, não estava directamente familiarizado com os fenómenos de sequestro e não suspeitava que ela pudesse ter tal história. Não existe um único caso de sequestro, de que eu ou outros investigadores tenhamos tomado conhecimento (por exemplo, Jacobs 1992, pág. 285), por detrás do qual se tenha ocultado uma história de abuso sexual ou qualquer outra causa traumática. Mas o inverso tem ocorrido frequentemente — histórias de sequestro têm sido reveladas em casos investigados devido a abusos sexuais ou outros de natureza traumática. Aparentemente, o abuso sexual é uma das formas de sofrimento humano que, pelo menos do ponto de vista dos sujeitos de experiência, levou os alienígenas a intervir de modo protector ou curativo. Uma mulher de trinta e cinco anos, por exemplo, lembrava-se conscientemente de ter sido vítima de abuso sexual pelo seu pai quando tinha quatro anos e de, depois, ter chorado na cave. Vários seres alienígenas familiares — recordava-se de ter encontros desde os catorze meses de idade — «vieram ter comigo para ver se eu estava ferida, porque eu tinha dores», arranjaram-lhe roupa interior («não a adequada») e «apertaram-me as sandálias» — disse-me ela. Também foram desenvolvidos esforços no sentido de relacionar os fenómenos de sequestro com abusos em rituais satânicos (Dean, na imprensa; Wright 1993) e com múltiplas desordens da personalidade que, à semelhança do abuso sexual, estão relacionadas com traumas psicológicos em que o mecanismo da dissociação é utilizado (Frankel 1993; Ganaway 1989; Spiegel e Cardena 1991). Porém, é fundamental compreender que a dissociação é um meio do qual a personalidade se serve para combater a experiência traumáSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 23 tica, cortando uma parte de si mesma, a fim de manter as emoções perturbadoras fora do consciente e permitindo, assim, ao resto da mente funcionar tão bem quanto possível. A dissociação por si só nada nos diz acerca da origem ou do conteúdo da experiência traumática inicial. Os sequestrados poderão usar a dissociação como uma forma de lidar com as suas experiências ameaçadoras, isto é, para mante-las fora do consciente, e este pode mesmo ser um mecanismo de defesa muito vulgar entre os sequestrados (Jacobson, na imprensa). Mas o facto de utilizarem este mecanismo de defesa nada nos diz sobre a natureza da experiência traumática original. Sinto, por vezes, que nós, os profissionais da saúde mental, somos como generais, acusados de travar sempre a última guerra, invocando os diagnósticos e os mecanismos mentais com os quais estamos familiarizados quando somos confrontados com fenómenos misteriosos, principalmente se forem susceptíveis de alterar o nosso modo de pensar. Os primeiros casos que me foram referidos na Primavera de 1990 confirmaram o que Hopkins, David Jacobs, Leo Sprinkle, John Carpenter e outros pioneiros que investigaram os fenómenos de sequestro já tinham descoberto. Estes indivíduos contavam ter sido levados, contra a sua vontade, por seres alienígenas, por vezes atravessando as paredes das suas casas, e sujeitos a elaborados procedimentos intrusivos, que pareciam ter como objectivo a reprodução.

Em alguns casos não muito frequentes, testemunhas independentes confirmaram a sua ausência física durante o período do sequestro. Estes indivíduos não sofriam de qualquer desordem psiquiátrica aparente, à excepção dos efeitos da experiência traumática, e relatavam com grande emoção aquilo que para eles constituía uma experiência absolutamente real. Além disso, estas experiências estavam algumas vezes associadas ao avistamento de OVNI por parte de amigos, familiares e outros membros da comunidade, incluindo jornalistas e repórteres, e frequentemente tinham deixado marcas físicas no corpo dos indivíduos, como, por exemplo, golpes e pequenas feridas, com tendência a sarar rapidamente e que, aparentemente, não seguiam qualquer padrão psicodinamicamente identificável, como acontece, por exemplo, com os estigmas religiosos. Em resumo, estava a lidar com um fenómeno que, na minha opinião, não podia ser explicado psiquiatricamente, mas que simplesmente não se enquadrava na moldura da concepção do mundo, 24 SEQUESTRO segundo o pensamento científico ocidental. Então, as minhas opções eram esticar e torcer a psicologia para além de limites razoáveis, menosprezando os aspectos do fenómeno que não podiam ser explicados psicologicamente, como as marcas físicas, os acontecimentos com crianças e mesmo bebés e a ligação aos OVNI, e insistindo numa explicação psicológica, coerente com a ideologia científica ocidental predominante. Ou podia deixar em aberto a possibilidade de o nosso modelo consensual da realidade ser demasiado limitado e de um fenómeno como este não poder ser explicado dentro dos seus parâmetros ontológicos. Por outras palavras, pode ser necessário um novo paradigma científico, a fim de compreender o que está a acontecer. TRABALHAR COM OS SEQUESTRADOS Com este dilema em mente, entrei em contacto com Thomas Kuhn, autor do clássico de 1962, The Structure of Scientific Revolutions, que analisa a forma como os paradigmas científicos se modificam, para ouvir o seu conselho sobre as minhas investigações. Conhecia Thomas Kuhn desde a infância, porque os pais dele e os meus eram amigos em Nova Iorque e tinha muitas vezes sido convidado para festas de Natal em casa dos Kuhn. Achei muito útil o conselho que ele e a mulher, Jehane, que é altamente especializada nos domínios da mitologia e do folclore, me deram. O que achei mais útil foi a observação de Kuhn de que o paradigma científico ocidental tinha assumido a rigidez de uma teologia e que este sistema de crenças era mantido por estruturas, categorias e polaridades da linguagem como real/irreal, existe/não existe, objectivo/subjectivo, intrapsíquico/ mundo exterior e aconteceu/não aconteceu. Sugeriu-me que prosseguisse as minhas investigações, até ao ponto de ser capaz de me libertar de todas essas formas de linguagem, limitando-me a recolher as informações em bruto, sem tentar integrar o que aprendesse numa determinada visão do mundo. Mais tarde, poderia analisar o que tivesse descoberto e verificar se era possível alguma formulação teórica coerente. E este foi, mais ou menos, o método que tentei seguir. Quando um possível sequestrado vem visitar-me, seja recomendado pela rede OVNI, por outro profissional da saúde mental ou por inicitiva própria, depois de ter ouvido falar do meu trabalho através dos meios de comunicação social, explico-lhe que, para mim, ele ou SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO

25

ela é um co-investigador. Embora os sequestrados compreendam que estou empenhado na investigação do fenómeno, explico-lhes que a minha primeira responsabilidade é para com a sua saúde e bem-estar. O método geral de investigação e terapêutica que utilizo tem evoluído no decurso destes três anos e meio e está ainda a modificar-se (Mack 1992). Faço uma entrevista inicial para triagem, que geralmente tem a duração de hora e meia. Durante esta sessão, obtenho uma história de fenómenos possivelmente relacionados com sequestro e tento saber o mais possível sobre a pessoa e a respectiva família. Por vezes, entrevisto também outros membros da família, que podem ou não ser igualmente sujeitos de experiência. Os sequestrados podem ter muitas recordações conscientes das suas experiências, mesmo sem recurso à hipnose. Na nossa primeira entrevista, um homem de dezanove anos lembrava-se de pormenores de um sequestro acontecido quando tinha quatro anos. Contou-me ansiosamente como tinha sido «apanhado», ao meio-dia, numa clareira atrás de sua casa por alienígenas cinzentos e levado para uma nave espacial. Conseguiu descrever o OVNI em forma de prato e os próprios seres, com grande pormenor. Na nave, não podia mover-se e foi forçado a deitar-se num cubículo, onde o banharam numa luz semelhante a laser e lhe retiraram uma amostra de pele, com um instrumento cilíndrico. Depois disso, foi libertado e disseram-lhe para correr por um caminho que conduzia ao bloco de apartamentos onde vivia. Porém, muito frequentemente, os sequestrados dizem sentir fortemente que grandes partes das suas vidas estão fora das suas recordações conscientes e, no entanto, afectam grandemente a sua vida quotidiana. Embora, em geral, saibam que estas experiências podem ter sido traumáticas e que a sua recordação poderá ser perturbante, a maioria dos sequestrados que conheci opta por investigar até ao fim as respectivas experiências. É muito mais difícil, segundo eles, sentir que existem episódios importantes da sua vida mental e experiências que estão fora do seu alcance, do que confrontar-se com o que possa ter acontecido, por mais perturbadores que sejam esses acontecimentos. A indução de um estado não habitual, nos meus casos uma forma modificada de hipnose, parece ser altamente eficaz para trazer as experiências ocultas dos sequestrados para o nível do consciente, bem como para aliviar a carga do seu impacto traumático. Não compreendo muito bem porque é que isto é tão dramaticamente verdadeiro. Os sequestrados parecem entrar facilmente em transe, embora

26 SEQUESTRO eu não conheça qualquer estudo que tenha feito a comparação com outros grupos, especialmente de sobreviventes de outros traumas. Por vezes, a mais simples ou modesta das técnicas de relaxamento é suficiente para reavivar muitas memórias. É como se a hipnose desfizesse, actuando como uma espécie de imagem no espelho, inversa da alteração original da consciência psíquica, as forças de repressão que foram impostas na altura do sequestro. Estas forças repressivas são sentidas pêlos sequestrados como sendo algo mais do que apenas as suas próprias defesas protectoras. Podem sentir que cerca de noventa por cento da energia que os impedia de recordar resultava de uma desconexão exterior da memória, por qualquer meio utilizado pêlos próprios alienígenas. Segundo os sequestrados, os alienígenas dizem-lhes frequentemente que eles não se lembrarão, ou não deverão lembrar-se, do que aconteceu. Por

vezes, explicam-lhes que é para a sua própria protecção e, na realidade, especialmente no caso de crianças pequenas, a contínua recordação consciente de experiências dolorosas ou traumáticas poderia interfir com a vida quotidiana (por exemplo, Jerry, Capítulo 6). Quando colaboram comigo, recordando os sequestros, os sujeitos de experiência podem sentir que estão a desobedecer especificamente às recomendações dos seres alienígenas, aos quais muitas vezes se sentem ligados a um nível muito profundo. Quando assim é, compete-me assegurar-lhes que, tanto quanto sei, nunca adveio qualquer mal da recordação destas experiências, quando feita num contexto de ajuda adequado. Já tem sido sugerido que os sujeitos de experiência sentem que «não devem» lembrar-se destes eventos e que a sua ligação aos seres alienígenas é uma manifestação da «síndrome de Estocolmo», segundo a qual um refém ou vítima acaba por simpatizar com o(s) perpetrador(es), como forma de manter alguma capacidade de intervenção numa situação intoleravelmente coerciva. Esta analogia pode ser útil para explicar as primeiras manifestações de ultraje dos sujeitos de experiência, mas torna-se ineficaz quando avançamos para níveis mais profundos de descoberta. Conforme resulta claramente da análise dos casos, os sequestrados acabam por sentir uma identificação mais autêntica com os objectivos do fenómeno em geral, do que acontece, por exemplo, na situação dos reféns. A economia e a história da recordação dos fenómenos de sequestro constituem um dos seus aspectos mais interessantes. A recordaSEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 27 cão pormenorizada de experiências que nunca penetraram no nível do consciente pode ser desencadeada, anos e mesmo décadas mais tarde, por qualquer coisa vista ou ouvida, que tenha uma qualquer relação, por mínima que seja, com o sequestro em si. Qual a combinação de factores sequestrado/alienígenas que determina o momento da recordação, incluindo o momento em que os sujeitos de experiência decidem investigar as suas histórias e quem deve contálas, é algo que ainda escapa à nossa compreensão. As informações apresentadas neste livro são, necessariamente, afectadas por esses factores. O tipo de hipnose ou de estado não habitual que utilizo foi alterado pela minha formação e experiência no método de respiração holotrópica, desenvolvido por Stanislav e Christina Grof (Grof 1985,1988, 1992). O método de respiração de Grof utiliza a respiração profunda e rápida, música evocativa, uma forma de ginástica e o diagrama mandala, para a investigação do inconsciente e crescimento terapêutico. Devido à sua ênfase na respiração, o método de Grof tem muito em comum com as antigas práticas de meditação. Descobri que a concentração na respiração, como auxiliar da concentração e integração associadas à hipnose, é inestimável no trabalho com sequestrados. Isto está relacionado com a extraordinária intensidade das energias envolvidas — aparentemente ligada ao poder da experiência original — que se manifestam em sensações corporais, movimentos e fortes emoções, especialmente terror, raiva e tristeza, que se verificam à medida que a recordação da experiência de sequestro emerge. Depois de uma indução simples, que inclui imagens tranquilizadoras, relaxamento sistemático de todas as partes do corpo e regresso frequente da atenção à respiração, encorajo o sujeito de

experiência a visualizar um local confortável e relaxante, ao qual poderá regressar automaticamente em qualquer momento da sessão. Isto permite ao indivíduo mediatizar o ritmo do recordar e reforça a prioridade que atribuo ao seu bem-estar. Devido ao carácter imprevisível e repetitivo destas experiências, concluí que é melhor não utilizar a palavra «seguro» para descrever este refúgio imaginário. Para muitos sujeitos de experiência, especialmente nos primeiros estádios de revelação, não existe qualquer «segurança» e sugeri-lo é negar todo o poder da experiência. Como sucede muitas vezes com os sobreviventes de outros 28 SEQUESTRO acontecimentos traumáticos, que procuram trazer esses acontecimentos para o nível consciente, os sequestrados querem lembrar-se. Por vezes, existe o perigo de que o desenrolar da narrativa, a recordação dos acontecimentos que rodearam o sequestro, seja mais rápido do que a reconstrução das defesas dos sequestrados, o que pode fazer que se sintam esmagados e traumatizados. Através da concentração na respiração durante o processo de indução e durante a própria sessão de hipnose, o sujeito da experiência poderá manter-se em terra firme e enfrentar as suas experiências com maior força. No início da sessão, explico ao sequestrado que estou mais interessado na sua integração das experiências recordadas, do que em «obter a história». A história, como explico, surgirá por si própria, a seu tempo. Tendo alcançado juntos um estado de relaxamento (muitas vezes algo mesclado de apreensão) e estabelecido os métodos de compassar e fundamentar a recordação, passamos ao processo de recuperação da memória. Os capítulos seguintes apresentam pormenorizadamente vários exemplos desta parte da sessão. Ao ler estes relatos, é útil notar a forma como o regresso à concentração na respiração em momentos difíceis, muitas vezes reduz o medo, radicando a memória na percepção pura e acalmando o pensamento interpretativo. Além disso, em momentos de especial aflição durante a sessão, posso colocar gentilmente a minha mão no ombro do sequestrado, para o assegurar da minha presença. Mas, ao facultar este apoio, é necessário ter cuidado para não criar uma réplica confusa da intrusão original, que qualquer contacto físico com um sujeito de experiência que se encontre nas profundezas da recordação de um trauma pode originar. No fim da sessão, o sujeito da experiência pode sentir uma grande tensão ou espasmos em certos grupos de músculos — especialmente, não se sabe porquê, nas mãos — e, assim, um método de exagero de tensão, tal como o desenvolvido pêlos Grof, pode ser adequado para libertar a tensão ou os espasmos que perdurem. Neste momento, também dispendemos algum tempo a conversar sobre o material que emergiu. Esta conversa ajuda a trazer o material mais completamente para o nível do consciente normal e a incrementar o processo de integração. E também neste momento que muitos sujeitos de experiência começam a debater-se com problemas de precisão e de significado e, muitas vezes, perguntam-me como deverão encarar as memórias recuperadas por meio da hipnose. SEQUESTRADOS POR OVNI; INTRODUÇÃO 29 Esta questão foi atentamente estudada tanto na comunidade de estudos OVNI, como na terapêutica. Os críticos e os cépticos citam

trabalhos sobre a imprecisão das recordações sob hipnose e a possibilidade de o sujeito de experiência estar a desenvolver um processo de recordação para agradar ou submeter-se às expectativas do hipnotizador, a fim de questionarem a própria realidade dos fenómenos de sequestro. Penso que estas críticas não podem ser fundamentadas. Daniel Brown, um notável especialista em matéria de pesquisas sobre a hipnose, verificou, após leitura cuidadosa da literatura sobre as recordações das vítimas de trauma sob hipnose, que simplesmente não existem estudos sobre a precisão da memória relativos aos indivíduos para os quais os eventos em questão têm significado ou importância fundamentais. Em vez disso, as conclusões relativas à imprecisão da recordação sob hipnose foram baseadas em estudos em que foi criado um contexto ambiental e a memória foi testada relativamente a acontecimentos de significado periférico para o sujeito (comunicação pessoal, 18 de Outubro de 1993). Portanto, estes estudos podem não ser aplicáveis aos sequestrados, que estão altamente motivados para recordar com grande exactidão ocorrências da maior importância para eles. Se, tal como suspeito, o fenómeno de sequestro se manifesta no mundo físico espaço/tempo, mas não lhe pertence num sentido literal, as nossas noções de precisão da recordação relativamente ao que aconteceu ou não aconteceu (o conselho de Kuhn para suspender as categorias parece ser de aplicar aqui) podem não se aplicar, pelo menos no sentido físico literal. Nestas circunstâncias, o relato da experiência pela testemunha e a determinação clínica da genuinidade desse relato poderá ser o único meio de avaliar a realidade da experiência. Assim, a descoberta de John Carpenter de que os sujeitos de experiência, sequestrados em conjunto e, mais tarde, hipnotizados separadamente, fornecem coerentemente relatos do que lhes «aconteceu» nas naves, semelhantes nos mínimos pormenores, torna-se ainda mais notável (Carpenter 1993). Recorrendo aos critérios da adequação emocional e de uma narrativa coerente com aquilo que eu próprio sei sobre a forma como os sequestros em geral se processam, julgo que os relatos feitos sob hipnose são normalmente mais exactos do que os recordados conscientemente. Veremos, por exemplo, no caso de Ed (Capítulo 3), como a sua recordação consciente de um sequestro ocorrido quando era um adolescente continha bravatas e acontecimentos 30 SEQUESTRO agradáveis compatíveis com a sua auto-estima de adolescente. Quando, com dificuldade, a mesma experiência foi recordada mais pormenorizadamente sob hipnose, verificou-se ser algo humilhante e totalmente incompatível com a auto-estima de um adolescente. A sugestão de que o sequestrado tenta agradar ao hipnotizador durante a sessão e, por isso, inventa toda a história — porque, presumivelmente, o hipnotizador está ali para descobrir um sequestro _ esquece a grande angústia que os sequestros causam aos sujeitos de experiência e como é forte a sua resistência a trazer novamente para o consciente tudo aquilo por que passaram e, mesmo, a aceitar a realidade do fenómeno. Como poderemos ver nos últimos capítulos deste livro, por vezes era-me necessário invocar cada pedaço da nossa aliança e cooperação para convencer o sequestrado a continuar a penetrar nas profundezas da experiência esquecida. Além disso, os sequestrados são peculiarmente pouco sugestionáveis. Para desmentir tais críticas, eu e outros investigadores tentámos repetida-

mente enganar os sequestrados sugerindo-lhes elementos específicos — por exemplo, os alienígenas tinham cabelos ou havia cantos nas salas das naves — mas fomos sempre confrontados com uma contradição directa dos nossos esforços. Os defensores da controversa ideia da «síndrome da falsa memória» como explicação para as recordações de sequestro terão de arranjar uma explicação para este facto, bem como para os pontos salientados na página 43. Esta discussão, assim como as minhas conversas com os Kuhn, levantam interessantes questões epistemológicas, que nos acompanharão ao longo deste livro, especialmente as relacionadas com a consciência como instrumento do conhecimento. Neste trabalho, como aliás em qualquer investigação clinicamente sólida, a mente do investigador ou, mais precisamente, a interacção entre as mentes do cliente e do clínico, é o meio de obtenção do conhecimento. Porém, temos então de salientar que, embora a nossa análise e formulação posteriores sejam feitas tão objectivamente quanto possível, as informações originais são obtidas de forma não dualística, isto é, através do desenrolar intersubjectivo da interacção investigador-sequestrado. Assim sendo, a experiência, o relato dessa experiência e a recepção dessa experiência através da mente do investigador são, na ausência de verificação física ou de «prova» (sempre bastante subtil nos fenómenos de sequestro, como veremos mais adiante), os únicos meios possíveis de sabermos dos sequestros. SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 31 Quando os sujeitos de experiência me interrogam acerca do estado da sua experiência sob hipnose, tudo o que lhes posso dizer é que os elementos que compõem a sua história aparecem também, repetidamente, nas histórias de outros indivíduos que não são loucos. Reparo que os sentimentos e emoções que me revelaram parecem bastante verdadeiros e pergunto-lhes se têm alguma explicação para uma tal intensidade de sentimentos. Por fim, digo-lhes que não tenho respostas e peco-lhes para considerarem a realidade das suas «memórias». No fim da sessão, peço aos sujeitos da experiência para telefonarem, a mim ou à minha assistente, Pam Kasey, que está presente durante quase todos os encontros, para marcarmos uma próxima discussão. Normalmente eles telefonam e, quando não o fazem, telefonamos nós. Estamos interessados em saber como é que o sujeito da experiência manejou os intensos sentimentos que emergiram durante a sessão, se surgiram outras memórias e como é que estão a suportar aquilo a que chamo o «choque ontológico» dos eventos do sequestro. Porque, até à violenta libertação ocorrida durante a sessão de hipnose, os sequestrados ainda podiam agarrar-se à possibilidade dessas experiências não passarem de sonhos ou de sofrerem de uma doença mental curável. A negação nunca desaparece por completo e é possível que o choque se repita, mesmo depois de várias sessões de hipnose, especialmente se um segundo sequestrado faz um relato independente do seu testemunho ou da sua experiência durante um sequestro conjunto, coincidente com o relato do primeiro. Reuniões regulares de um grupo de apoio, realizadas numa atmosfera amigável e privada, onde o convívio é possível, são um aspecto importante do meu trabalho com os sequestrados, especialmente porque os membros deste grupo se sentem extremamente isolados e incapazes de comunicar, excepto com outros sujeitos de experiência, sobre um aspecto central das suas vidas sem medo da rejeição ou do ridículo. No grupo, os sequestrados encontram um

conjunto de indivíduos com experiências semelhantes. No grupo, os sequestrados podem partilhar aquilo que experimentaram, ou estão ainda a experimentar, podem manter-se a par do que está a suceder no domínio dos OVNI/sequestros em geral e podem explorar os diversos significados e implicações possíveis das experiências nas suas vidas, quer individual, quer colectivamente. Embora um ou mais investigadores profissionais estejam presentes durante as sessões do grupo de apoio, é importante que os 32 SEQUESTRO sequestrados desenvolvam uma rede própria de entreajuda, que funcione fora das reuniões regulares. Por vezes, isto implica reuniões de grupos mais pequenos; noutras ocasiões, o contacto telefónico é suficiente. Como já salientei, os sequestrados normalmente não são indivíduos mentalmente perturbados. Porém, passaram por experiências fortemente traumatizantes ou desconcertantes, sentem-se isolados perante a estrutura das crenças dominantes na sociedade e necessitam, frequentemente, de muito apoio das pessoas que conhecem ou estão familiarizadas com o fenómeno dos sequestros. Muitas vezes, é útil a um sequestrado ter uma relação permanente com um psicoterapeuta, familiarizado com estes fenómenos. Quando comecei a trabalhar neste campo, existiam muito poucos profissionais de saúde mental envolvidos no assunto, e alguns estavam a fazer um mal considerável, ao tentarem enquadrar as experiências numa categoria de diagnóstico conhecida, geralmente numa qualquer outra forma de abuso traumático. Porém, esta situação está a mudar, e na área de Boston, como em outras áreas metropolitanas, existe um número crescente de clínicos despertos para a realidade dos fenómenos de sequestro e aptos a trabalhar com estas pessoas, embora poucos estejam preparados para levar a cabo a libertação das experiências dos sequestrados através da hipnose. Programas de formação, iniciados em 1992 sob a liderança e com o apoio de um empresário de Lãs Vegas, Robert Bigelow, foram organizados em várias cidades americanas sob a direcção dos investigadores de sequestros John Carpenter, Budd Hopkins e David Jacobs, e estão a levar os fenómenos de sequestro ao conhecimento de muitos especialistas de saúde mental. Ao falar com outras pessoas que trabalham com sujeitos de experiência, fui levado a concluir que o mais importante durante uma regressão, assim como em todas as interacções com os sequestrados, é a forma de conter as energias dessas experiências. Isto implica um certo grau de calor e empatia, a crença na capacidade do indivíduo para integrar essas experiências desconcertantes e retirar delas um significado e, ainda, uma vontade de entrar no processo de co-investigação e arriscar-se a ser transformado pelas informações. Evidentemente que se trata de qualidades indispensáveis em qualquer relação, mas que se tornam fundamentais neste trabalho, onde todos, sequestrado, investigador e terapeuta, somos levados até ao limite. CAPÍTULO DOIS SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS: PANORÂMICA INDICADORES DE SEQUESTRO Embora alguns sequestrados se lembrem de uma única experiência

dramática, quando um caso é cuidadosamente investigado verifica-se geralmente que os encontros começaram a ocorrer na primeira infância. As indicações da ocorrência de sequestros na infância incluem a recordação de uma «presença», de «homenzinhos» ou outros pequenos seres no quarto, recordações de luzes intensas inexplicáveis no quarto ou noutras salas, uma sensação de vibração ou de zumbido no cenário da experiência, sensações de se sentir flutuar pelo corredor ou para fora de casa, avistamento de OVNI em grande plano, sonhos vívidos de ter sido levado para um quarto ou cela estranhos, onde foram efectuados procedimentos intrusivos, e períodos de uma hora ou mais (Hopkins 1981) em que os pais não conseguiram encontrar a criança. Acordar paralisado, com uma sensação de terror e sentir pequenos seres ou uma presença no quarto são indicadores normais, tanto em crianças como em adultos. Por vezes, os seres alienígenas são recordados como companheiros de brincadeiras amigáveis, ou mesmo curadores (no caso de Carlos, por exemplo, o sequestrado sentia que tinha sido literalmente curado de uma grave pneumonia por seres alienígenas). Muitas vezes, na primeira infância, os alienígenas são protectores, mas os encontros tornam-se mais sérios e perturbadores à medida que a criança se aproxima da puberdade. Mas mesmo crianças muito pequenas (como é o caso de Colin, o filho de Jerry, cuja história é contada no Capítulo 6), podem sentir-se aterrorizadas pela experiência de serem afastadas da família e levadas para o céu contra a sua vontade e submetidas a procedimentos 34 SEQUESTRO dolorosos. Frequentemente, os filhos contam aos pais estes encontros, que a criança sabe serem reais, mas os pais dizem-lhes que foi apenas um sonho. Por fim, acabam por aprender a «esconder-se» e, muitas vezes, resolvem nada dizer a ninguém até que, como adultos, decidem investigar as suas experiências. Os sequestros podem ser recorrentes nas famílias, às vezes durante três ou mais gerações (Howe 1989). Também, neste caso, os caprichos da memória — a peculiar mistura de defesas psicológicas e de um aparente controlo das recordações por forças comandadas pêlos alienígenas — tomam difícil o desenvolvimento de estatísticas significativas respeitantes ao número ou percentagem de parentes envolvidos. Nos casos de Jerry e Arthur (Capítulos 6 e 15), por exemplo, os sujeitos de experiência contactaram-me, depois de uma conversa com uma criança da família afectada ter despertado as suas memórias. Pais que, finalmente, acabam por reconhecer o avistamento de OVNI próximos e mesmo experiências de sequestro, começam sempre por negar as suas próprias experiências, e mesmo as dos seus filhos, não desejando ser lembrados dos seus próprios traumas causados pelo sequestro. Por vezes, as crianças vêem um dos pais na nave, mas quando confrontam o pai ou a mãe com essa experiência, estes podem não se recordar de que foram raptados. Ou pode acontecer o contrário — um pai, como nos casos de Joe e de Jerry, ou qualquer parente mais velho, pode lembrar-se de ter sido raptado com um filho ou qualquer parente mais novo e sentir-se profundamente perturbado por não ter conseguido proteger a criança; inversamente, uma criança também pode estar zangada com um dos pais ou um parente mais velho, que podem ou não lembrar-se do sequestro, por este não a ter protegido. Embora as experiências de sequestro ou relacionadas com sequestros possam ocorrer durante toda a vida do sujeito, o padrão e a periodicidade desses encontros não são claros. Alguns sequestra-

dos pensam que eles ocorrem em períodos de tensão ou de especial abertura ou vulnerabilidade. Mas isto não constitui de modo nenhum uma certeza. Um dos aspectos mais perturbantes do fenómeno, tanto para os investigadores como para os sujeitos de experiência, embora por diferentes razões, é a imprevisibilidade da sua repetição. Existem outros sintomas que são inconscientemente associados a determinados elementos das experiências de sequestro. Estes também podem indicar uma provável história de sequestro, mas não são em si mesmos definitivos. Entre eles, contam-se um sentimento SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 35 geral de vulnerabilidade, especialmente à noite, medo de hospitais (relacionado com os procedimentos intrusivos executados nas naves), medo de voar, de elevadores, de animais, de insectos e de contactos sexuais. Poderá vir a verificar-se que determinados sons, cheiros, imagens ou actividades, perturbadores sem qualquer razão aparente, estão relacionados com a experiência de sequestro. Insónia, medo do escuro e de estar sozinho à noite, tapar as janelas contra os intrusos, dormir com a luz acesa (em adulto) e sonhos e pesadelos angustiantes de estar numa nave estranha ou em quartos fechados, são sensações vulgares entre os sequestrados. Erupções estranhas, cortes, marcas de bisturi ou outras lesões podem aparecer de um dia para o outro ou hemorragias nasais, dos ouvidos ou do recto, que por si só não chamam a atenção, mas que poderão ser significativas quando associadas a outros fenómenos relacionados com o sequestro. Outros sintomas, que mais tarde pode provar-se estarem especificamente relacionados com aspectos da experiência de sequestro, incluem dores nos seios e problemas urológicos e ginecológicos, especialmente dificuldades inexplicáveis durante a gravidez e sintomas gastrointestinais permanentes. Para um médico como eu, formado segundo a tradição ocidental, a investigação dos casos de sequestro apresenta desafios especiais, uma vez que a maior parte das informações obtidas não se enquadram nas noções de realidade aceites. A tentação é aceitar algumas experiências, sobretudo aquelas que parecem fazer algum sentido à luz do nosso paradigma de espaço/tempo, e rejeitar outras como «demasiado remotas», isto é, muito afastadas do que sabemos ser possível de um ponto de vista físico. Dado que todo o fenómeno é tão bizarro do ponto de vista ontológico ocidental, parece bastante ilógico dar crédito a algumas experiências, porque, pelo menos superficialmente, nos parecem mais familiares, e rejeitar outras com base na sua estranheza. Os meus critérios para incluir ou dar crédito a uma observação de um sequestrado são, simplesmente, saber se o que me foi relatado foi sentido como real pelo sujeito e se me foi comunicado de modo sincero e autêntico. TRÊS CATEGORIAS DE INFORMAÇÕES Ao aplicar o modelo acima descrito, tive necessidade de distinguir três categorias ou níveis de informação. Em primeiro lugar, encon36 SEQUESTRO tra-se o que poderá ser chamado nível das porcas e parafusos. Diz respeito a fenómenos como o visionamento ou a localização por radar de OVNI, fenómenos de luz e som a eles associados, os pedaços de terra queimada que por vezes deixam, abortos e lesões ou implantes deixados nos corpos dos sequestrados a seguir às respectivas experiências. Aparentemente, estes são fenómenos que ocorrem no universo familiar da ciência ocidental e que podem ser estudados

pêlos seus métodos empíricos. O campo da ovnilogia — o aparecimento de OVNI — visava principalmente os fenómenos directamente observáveis, até à descoberta da síndrome do sequestro. Em segundo lugar, estão os fenómenos que «parecem poder» ser entendidos dentro do nosso universo espaço/tempo, desde que possuamos os conhecimentos científicos e tecnológicos e a capacidade para o fazer. Estes poderiam ser «fenómenos extraterrestres», que sugerem tecnologias milhares de anos mais avançadas que a nossa. Estes fenómenos não são, pelo menos teoricamente, incompatíveis com uma espécie de extensão das leis físicas definidas pela ciência ocidental. Esta categoria incluiria o modo como as naves chegam até nós (os «sistemas de propulsão»), a forma como podem acelerar a velocidades incríveis, bruxuleando no céu ou desaparecendo subitamente de um ecrã de radar, o meio pelo qual os alienígenas fazem as pessoas «atravessar» portas, janelas e paredes, o desligar da memória e da consciência dos sequestrados e de potenciais testemunhas e outras formas de controlo da mente, a criação de fetos híbridos humanos e alienígenas, vistos ou trazidos aos sequestrados nas naves, e a criação ou encenação de imagens intensamente vívidas de paisagens, sentidas pêlos sequestrados como reais (por exemplo, Catarina, Capítulo 7). Embora não compreendamos os mecanismos através dos quais estes efeitos são conseguidos, eles não implicam, em si, uma alteração fundamental do paradigma. Avanços espectaculares no domínio da física, da biologia, da neurologia e da psicologia poderiam, provavelmente, explicá-los. Finalmente, existem fenómenos e experiências relatadas pêlos sequestrados, para as quais não podemos encontrar qualquer explicação na ontologia espaço/tempo de Newton/Descartes, ou mesmo de Einstein. Entre estes incluem-se o aparente domínio das viagens telepáticas pêlos alienígenas e, por vezes, pêlos próprios sequestrados (como Paul descreve no capítulo 10), a sensação dos sequestrados de que as suas experiências não ocorrem no nosso universo SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 37 espácio-temporal ou de que o espaço e o tempo «foram abolidos», a ideia que os sequestrados experimentam de que existem muitas outras realidades por trás desta, por detrás do «véu» (uma palavra que utilizam frequentemente), a profunda sensação de abertura ou de regresso à origem das coisas e à criação ou consciência cósmica, que os sequestrados sentem como uma inexprimível luz divina ou «Lar» (outra palavra que usam muito), a sensação dos sequestrados de terem uma dupla identidade humana e alienígena, isto é, de que eles próprios são de origem alienígena (por exemplo, Peter, Joe e Paul nos Capítulos 13, 8 e 10) e a intensa recordação de experiências da vida passada, incluindo os grandes ciclos do nascimento e da morte. Além disso, os alienígenas parecem ser grandes peritos em mudar de forma, aparecendo muitas vezes, inicialmente, aos sequestrados sob a forma de animais — mochos, águias, esquilos e veados encontramse entre as criaturas que os sequestrados viram inicialmente — ao passo que as próprias naves podem parecer helicópteros ou, como no caso de um dos meus clientes, sob a forma de um canguru demasiado alto, que apareceu num parque quando o sequestrado tinha sete anos. A ligação a espíritos de animais é muito intensa para muitos dos sequestrados (por exemplo, Carlos e Dave, Capítulos 14 e 12). Esta dimensão xamânica exige estudos mais profundos. Estes fenómenos não podem ser entendidos dentro do modelo das leis definidas pela

ciência ocidental, embora, tal como indiquei, sejam totalmente compatíveis com as crenças desenvolvidas, há milhares de anos, por outras culturas não ocidentais. FENOMENOLOGIA: O QUE NOS DIZEM OS SUJEITOS DAS EXPERIÊNCIAS? O resumo da fenomenologia dos sequestros, apresentado na secção seguinte, será desenvolvido em pormenor nos exemplos de casos. COMO COMEÇAM os SEQUESTROS? Normalmente, os sequestros começam nas casas ou quando os sequestrados se encontram em carros. Em alguns casos, o sujeito da experiência pode estar a passear no campo. Uma mulher foi levada 38 SEQUESTRO de um carro de neve, num dia de Inverno. Algumas crianças foram levadas do pátio da escola. A primeira indicação de que um sequestro está prestes a ocorrer pode ser uma intensa luz branca ou azul inexplicável, que invade o quarto, um estranho zumbido ou zunido, uma apreensão inexplicável, a sensação de uma presença não habitual ou mesmo a visão de um ou mais seres humanóides no quarto e, evidentemente, a visão de uma nave estranha nas proximidades. Quando um sequestro começa durante a noite ou, como é vulgr, durante as primeiras horas da manhã, o sujeito da experiência pode pensar, de início, que se trata de um sonho. Mas perguntas cuidadosas revelarão que o sujeito não tinha sequer adormecido, ou que a experiência começou num estado consciente, depois do despertar. Quando o sequestro começa, o sequestrado poderá sentir uma subtil mudança no seu estado de consciência, mas este estado é tão real, ou ainda mais, do que o seu estado «normal». Por vezes, verifica-se um momento de choque e de tristeza, quando o sequestrado descobre, na primeira entrevista ou durante uma sessão de hipnose, que aquilo que considerava comodamente como sendo um sonho foi, na realidade, um qualquer tipo de experiência bizarra, ameaçadora e vívida, que então poderão recordar ter ocorrido várias vezes e para a qual não têm qualquer explicação. Depois do contacto inicial, o sequestrado é geralmente «levado a flutuar» (é a expressão mais utilizada) pelo corredor, através da parede ou das janelas da casa, ou através do tejadilho do carro. Ficam normalmente atónitos quando descobrem que estão a passar através de objectos sólidos, experimentando apenas uma ligeira sensação vibratória. Na maior parte dos casos, o raio de luz parece funcionar como uma fonte de energia ou «rampa» para transportar o sequestrado do lugar onde o sequestro se inicia para um veículo que está à espera. Normalmente, o sujeito da experiência é acompanhado por um, dois ou mais seres humanóides, que o conduzem à nave. Num dos primeiros momentos deste processo, o sujeito descobre que foi adormecido ou totalmente paralisado por um toque da mão ou de um instrumento utilizado por um dos seres. Os sequestrados podem ainda conseguir mover a cabeça e, normalmente, ver o que está a acontecer, embora geralmente fechem os olhos, a fim de poderem negar ou evitar a realidade da experiência que estão a viver. O terror associado a este estado de impotência mistura-se com a natureza assustadora de toda a estranha experiência. SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 39 Quando os sequestros começam no quarto, o sujeito da experiência, inicialmente, não vê a nave espacial, que é a fonte da luz e que se

encontra fora de casa. As dimensões dos OVNI variam desde apenas uns poucos metros até vários quilómetros de largura. São descritas como prateadas ou metálicas e em forma de charuto, de prato ou de catedral. Luzes intensas, de cor branca, azul, cor-de-laranja ou vermelha emanam do fundo da nave, estando aparentemente relacionadas com o sistema de propulsão, e também das aberturas em forma de vigias, que circundam a parte exterior. Depois de serem retirados de casa, os sequestrados vêem normalmente uma pequena nave espacial, assente sobre longas pernas. Primeiro, são levados para esta nave, que então se eleva até uma segunda nave maior ou nave «mãe». Noutros casos, são transportados, pelo céu nocturno, directamente para a nave maior, e vêem a casa ou o chão lá em baixo afastando-se dramaticamente. Neste momento, ou mais tarde, o sequestrado normalmente resiste e luta, tentando impedir a continuação da experiência, mas esta atitude pouco mais faz do que dar ao indivíduo a sensação vital de não ser apenas uma vítima passiva. No domínio da investigação, discutese se os sequestros podem, ou não, ser impedidos e até mesmo se será boa ideia tentar fazê-lo (Druffel, na imprensa). Existem pequenas variações quanto ao que é sentido nesta fase do sequestro. Arthur (Capítulo 15), por exemplo, descreveu a sua subida para um OVNI numa espécie de filamento em arco, que se estendia da nave até ao carro que a sua mãe guiava, quando o sequestro começou. TESTEMUNHOS INDEPENDENTES Ocasionalmente, há testemunhas independentes dos sequestros, mas trata-se de um facto raro e limitado por natureza. Tal como em muitos outros aspectos do fenómeno, a evidência pode ser constrangedora, mas ao mesmo tempo loucamente subtil e difícil de corroborar com a quantidade de dados exigidos para uma prova firme. Os maridos ou mulheres, por exemplo, são normalmente «desligados», enquanto o outro cônjuge está a ser raptado e, por isso, «dormem» durante toda a ocorrência. Muitas vezes, o sequestrado fica completamente frustrado quando os seus gritos não conseguem acordar o parceiro, que poderá estar num estado de inconsciência mais profundo que o sono, parecendo como morto. 40 SEQUESTRO Hopkins investigou um caso, que é agora muito discutido, em que uma mulher, sem ser solicitada, lhe relatou como, da ponte de Brookiyn, assistiu ao sequestro de Linda Cortile, que foi retirada por seres alienígenas do seu apartamento do décimo segundo andar em East River e levada para uma nave espacial que em seguida mergulhou nas águas do rio (Hopkins 1992, na imprensa). Este relato correspondia exactamente ao que Mrs. Cortile dissera ter-lhe acontecido, quando Hopkins lhe recuperou a memória de um sequestro sucedido em Novembro de 1989. Tanto quanto sei, este é o único caso em que um indivíduo, não tendo sido ele próprio raptado, relatou ter testemunhado um sequestro, durante o próprio acontecimento. As testemunhas de um sequestro são frequentemente, também elas, raptadas, que podem estar envolvidas no mesmo acontecimento, o que levanta questões acerca da «objectividade» do observador. Por vezes, segundo os relatos, a falta do sequestrado pode não ser notada, pêlos membros da família ou outras pessoas, durante cerca de meia hora ou mais ou, em casos raros, durante dias, como aconteceu no famoso caso Travis Walton (Walton 1978; Tormé 1993). Mas nestes casos ninguém os viu a serem levados para uma nave espacial e não existe qualquer prova convincente de esse

sequestro ter sido a causa do seu desaparecimento. Um dos meus primeiros casos, uma jovem de vinte e quatro anos, foi raptada quando era ainda adolescente, juntamente com uma amiga, de um quarto na cave da casa dessa amiga, depois da meianoite. Os pais das raparigas ficaram em pânico quando não as conseguiram encontrar durante a noite. Segundo ambas as raparigas (falei com a outra rapariga, que confirmou o relato da minha cliente), os pais foram ao quarto às primeiras horas da manhã e verificaram que as raparigas não estavam lá. Por volta das seis horas, tinham ambas regressado ao quarto. Num outro caso, a filha de oito anos de um dos meus clientes vítima de sequestro, que provavelmente também foi raptada, verificou que a mãe desaparecera do quarto, quando a procurou durante a noite. A mãe contou-me que tinha tido uma experiência de sequestro no momento exacto em que a filha lhe disse ter dado pela sua falta. De manhã, a filha disse à mãe: «O papá estava lá e os cobertores do teu lado estavam puxados para baixo, mas tu não estavas lá.» Outra das minhas clientes foi raptada do dormitório da universidade, com uma companheira de quarto. Viu realmente a compaSEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 41 nheira de quarto regressar pela porta através da qual tinha sido levada. Quando os seres devolveram a companheira, a minha cliente observou: «A cabeça dela pendia e os cabelos também, de modo que pensei que estava morta.» Mas também ela própria foi raptada, pelo que a sua credibilidade como testemunha independente pode ser questionável. A observação independente de um OVNI perto do local onde um sujeito de experiência diz ter sido raptado é outra forma de prova, especialmente se o próprio sequestrado não tiver visto a nave. Veremos que no caso de Catherine (Capítulo 7), ela ficou chocada ao descobrir na manhã seguinte, através dos meios de comunicação social, que um OVNI tinha sido observado a viajar pela mesma estrada a norte de Boston pela qual se vira obrigada a conduzir durante a noite. O seu passeio de carro terminou num sequestro, que teve lugar num bosque junto a um subúrbio, situado a cerca de 24 quilómetros a noroeste de Boston, mas Catherine nunca viu o próprio OVNI, excepto no ar junto ao carro, quando o sequestro estava já a acontecer. Peter (Capítulo 13) contou ter sido tirado de uma casa no Connecticut e levado para um OVNI, enquanto três amigos seus, que passeavam lá fora, testemunharam o aparecimento de um OVNI, mesmo por cima da casa. A prova é mais fraca, porque as três testemunhas não se lembraram de ir a casa verificar se ele realmente não se encontrava lá. DENTRO DAS NAVES: Os SERES Por vezes, os sequestrados lembram-se de ter sido levados para dentro da nave, entrando pela parte inferior ou por portadas ovais situadas na extremidade, embora geralmente não se lembrem do momento em que entraram na nave. Depois de estarem lá dentro, primeiro, podem encontrar-se num pequeno quarto escuro, uma espécie de vestíbulo. Mas são rapidamente transportados para um ou mais quartos maiores, onde irão ocorrer os vários procedimentos. Estes quartos estão brilhantemente iluminados, com uma luminosidade difusa proveniente de fontes de luz indirecta nas paredes. A atmosfera poderá ser húmida, fria e, ocasionalmente, cheirar mal. As paredes e tecto são curvos e, normalmente, brancos, embora o chão possa

parecer escuro ou mesmo negro. Consolas de computador e outros 42 SEQUESTRO equipamentos e instrumentos ladeiam as paredes dos quartos, que poderão ter varandas e vários níveis e alcovas. Nenhum dos equipamentos ou instrumentos é exactamente igual àqueles que conhecemos (Miller, na imprensa). A mobília é escassa, compondo-se quase só de cadeiras que se moldam ao corpo e de mesas de um só pé, que podem inclinar-se para um lado e para outro durante os procedimentos. O ambiente é geralmente esterilizado e frio, mecanizado e semelhante ao de um hospital, excepto quando ocorre qualquer espécie de encenação mais complexa. Muitos outros pormenores respeitantes ao interior das naves, bem como aos próprios processos de sequestro, serão facultados nas histórias dos casos. Dentro das naves, os sequestrados vêem normalmente mais seres alienígenas, que estão ocupados no desempenho de diversas tarefas relacionadas com a supervisão do equipamento e com os procedimentos de sequestro. Os seres descritos pêlos meus clientes são de diversas espécies. Aparecem como entidades luminosas, altas ou baixas, que podem ser translúcidas, ou pelo menos não completamente sólidas. Já foram vistas criaturas reptilianas (Carlos, Capítulo 14), que pareciam estar a executar tarefas mecânicas. Por vezes, auxiliares humanos são vistos a trabalhar em conjunto com os humanóides alienígenas. Mas as entidades mais vulgarmente observadas são, sem qualquer dúvida, os pequenos «cinzentos», seres humanóides com uma altura que varia entre 90 cm e l metro. Os cinzentos são principalmente de duas espécies — pequenos zangãos ou trabalhadores semelhantes a insectos, que se movem ou deslizam como robôs fora e dentro das naves e executam várias tarefas específicas, e um líder ligeiramente mais alto ou «médico», como os sequestrados geralmente lhe chamam. Também são vistas «enfermeiras» fêmeas e outros seres com funções especiais. Normalmente, sentem que o líder é homem, embora também tenham sido vistas líderes do sexo feminino. A diferença de géneros é mais determinada por um sentimento intuitivo, que os sequestrados têm dificuldade em traduzir por palavras, do que pelas características anatómicas. Os cinzentos têm grandes cabeças em forma de pêra, com uma protuberância atrás, longos braços com três ou quatro dedos compridos, um torso magro e pernas delgadas. Os pés geralmente não são vistos directamente e costumam estar calçados de botas inteiras. Os órgãos genitais externos não costumam ser vistos, salvo raras excepções (Joe, Capítulo 8). Os seres não têm cabelo nem orelhas, as suas SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS: PANORÂMICA 43 narinas são orifícios rudimentares e a boca uma estreita fenda, que raramente se abre ou exprime emoção. Os traços mais notórios são os grandes olhos pretos, curvados para cima, mais redondos no centro e rasgados na extremidade exterior. Parecem não possuir esclerótica nem pupilas, embora ocasionalmente o sequestrado possa ver uma espécie de olho dentro do olho, com o negro exterior esbugalhado. Os olhos, como veremos nos relatos dos casos, têm um poder constrangedor e os sequestrados desejam, frequentemente, evitar olhá-los directamente, devido ao temor opressivo do seu próprio sentido de ser, ou perda de vontade, que os invade quando o fazem. Além das botas, os alienígenas vestem, geralmente, uma espécie de túnica de uma só peça moldada ao corpo, escassamente adornada.

Uma espécie de capa ou capuz também é notado frequentemente. O líder ou médico é ligeiramente mais alto, talvez com o máximo de um metro e cinquenta de altura, e tem traços semelhantes aos dos cinzentos mais pequenos, só que pode parecer mais velho ou mais enrugado. Está indubitavelmente encarregado dos procedimentos dentro da nave. A atitude dos sequestrados face ao líder é normalmente ambivalente. Normalmente, descobrem que só conheceram um ser líder na sua vida, sentem-se muito ligados a ele, experimentando uma forte, e mesmo recíproca, relação de amor. Ao mesmo tempo, ressentem-se do controlo que ele exerceu sobre as suas vidas. A comunicação entre os alienígenas e os humanos é telepática, mente a mente ou pensamento a pensamento, sem necessidade de uma linguagem específica comum aprendida. PROCEDIMENTOS Os procedimentos que ocorrem dentro das naves foram descritos pormenorizadamente na literatura sobre sequestros (Bullard 1987; Hopkins 1981, 1987; Jacobs 1992), pelo que serão aqui brevemente resumidos, embora muitos deles sejam descritos pormenorizadadamente nos exemplos de casos. Têm de ser classificados em dois tipos: físicos e informacionais. O sequestrado é normalmente despido e, depois de nu ou vestindo apenas uma peça de roupa como, por exemplo, uma t-shirt, é obrigado a deitar-se numa mesa moldável ao corpo, onde a maior parte dos procedimentos são executados. O sujeito da experiência 44 SEQUESTRO pode ser o único submetido aos procedimentos durante um determinado sequestro, ou pode ver um, dois, ou mais seres humanos sendo submetidos às mesmas intrusões. Os seres parecem estudar interminavelmente os seus cativos, observando-os extensamente, frequentemente com os grandes olhos perto das cabeças dos humanos. Os sequestrados sentem como se o conteúdo das suas mentes fosse totalmente conhecido e mesmo tomado. Pele, cabelos e outras amostras do interior do corpo são retiradas, utilizando vários instrumentos que os sequestrados, por vezes, conseguem descrever muito pormenorizadamente. Os instrumentos são utilizados para penetrar praticamente em todas as partes dos corpos dos sequestrados, incluindo o nariz, os seios, os olhos, os ouvidos e outras partes da cabeça, braços, pernas, pés, abdómen, órgãos genitais e, mais raramente, o peito. Foram descritos extensos procedimentos, aparentemente cirúrgicos, executados dentro da cabeça, que, segundo os sequestrados, parecem alterar o sistema nervoso. Os mais comuns e, evidentemente, mais importantes desses procedimentos relacionam-se com o sistema reprodutivo. Instrumentos que penetram no abdómem ou que envolvem os próprios órgãos genitais são utilizados para retirar amostras de esperma dos homens e para retirar ou fertilizar óvulos nas mulheres. Algumas sequestradas sentem ter sido engravidadas pêlos seres alienígenas e, mais tarde, libertadas de uma gravidez alienígenahumana ou humana-humana. Vêem os pequenos fetos serem colocados em recipientes nas naves e, durante sequestros posteriores, poderão observar as incubadoras em que os bebés estão a ser criados (tal como Catherine, Jerry e Peter, entre os meus casos). Os sujeitos de experiência poderão igualmente ver crianças híbridas mais velhas, adolescentes e adultos, que, segundo lhes é dito pêlos alienígenas, ou intuitivamente pressentido, são seus filhos. Algumas

vezes, os alienígenas tentam que as mães humanas peguem ao colo e alimentem estas criaturas, que podem parecer bastante indiferentes, ou então encorajam as crianças humanas a brincar com as híbridas, como aconteceu, por exemplo, com Catherine. É desnecessário dizer como isto é perturbador para os sequestrados, pelo menos a princípio, ou quando recordam pela primeira vez as suas experiências. O seu terror poderá ser, de algum modo, mitigado, quer pela garantia dos alienígenas de que nada de mal lhes sucederá, quer por quaisquer meios de redução da ansiedade ou SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMIGA 45 semelhantes a anestésicos, por eles utilizados. Estes meios envolvem instrumentos que afectam a «energia» ou as «vibrações» (palavras que os sequestrados usam frequentemente) do corpo. Estes procedimentos poderão diminuir bastante o medo ou as dores dos sequestrados e, mesmo, induzir estados de considerável relaxamento. Porém, noutros casos, não são totalmente bem sucedidos e o terror, a dor e a raiva irrompem apesar dos dispositivos de extinção das emoções. Como demonstrarei em pormenor em vários dos casos descritos, a natureza traumática — e semelhante à de uma violação — das memórias de sequestro, ou mesmo do processo em si mesmo, poderá alterar-se, à medida que os sequestrados atingem novos níveis de compreensão do acontecido e que a sua relação com os próprios seres se altera, ao longo do nosso trabalho. Em suma, o aspecto puramente físico ou biológico do fenómeno de sequestro parece estar relacionado com um qualquer tipo de técnica genética ou quase genética, tendo por objectivo a criação de descendência híbrida humana/alienígena. Não temos qualquer prova da existência de alterações genéticas induzidas pêlos alienígenas no sentido estritamente biológico, embora seja possível que tal tenha ocorrido. A IINFORMAÇÁO E A ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA O outro aspecto importante relacionado com os fenómenos de sequestro tem a ver com a transmissão de informações e a alteração da consciência dos sequestrados. Não se trata de um processo puramente cognitivo, mas sim de algo que atinge profundamente a vida emocional e espiritual dos sujeitos da experiência, alterando completamente a sua percepção de si próprios, do mundo e do seu lugar nele. Estas informações dizem respeito ao destino da terra e à responsabilidade dos homens pelas actividades destrutivas que estão a ter lugar no planeta. São transmitidas através da comunicação telepática directa entre as mentes, acima referida, e através de imagens apresentadas, nas próprias naves, em monitores semelhantes a ecrãs de televisão. As informações podem começar a ser transmitidas quando os sequestrados são ainda crianças ou adolescentes (ver Arthur, Capítulo 15, e Ed, Capítulo 3), mas as suas implicações só mais tarde são totalmente compreendidas. O investigador parece ter um papel importante ao possibilitar que os sequestrados recordem e 46 SEQUESTRO compreendam o significado das informações que têm estado a receber durante os sequestros que tiveram lugar ao longo de muitos anos. Cenas da terra devastada por um holocausto nuclear, vastos panoramas de paisagens e águas poluídas e sem vida e imagens apocalípticas de enormes terramotos, tempestades de fogo, inundações e, mesmo, fracturas do próprio planeta, são mostradas pêlos alienígenas. Estas imagens são intensamente perturbadoras para os

sequestrados, que têm tendência para as considerar literalmente como verdadeiras antecipações do futuro do planeta. À medida que o futuro holocausto é apresentado, são atribuídas tarefas a alguns dos sequestrados, como, por exemplo, alimentar os sobreviventes, ou então, como nos livros proféticos da Bíblia, é-lhes dito que alguns perecerão, enquanto outros serão levados para outro lugar, a fim de participarem na evolução da vida no Universo. Alguns investigadores dos sequestros pensam que estas imagens não são apresentadas com o objectivo de alterar o curso da história do planeta, de uma forma positiva. Ao contrário, segundo defendem, os seres pretendem estudar as reacções dos sequestrados e levamnos a acreditar que estão preocupados com o nosso destino, enquanto tentam conquistar o nosso planeta, tendo o seu sido presumivelmente destruído por um apocalipse da ciência e da tecnologia, semelhante àquele que poderá atingir-nos (várias comunicações pessoais, 1990-1993; e também Scott, Capítulo 5). Além disso, defendem ainda que, se os alienígenas estivessem verdadeiramente preocupados com o nosso bem-estar, se manifestariam de forma mais imediata e interviriam directamente nos nossos assuntos, a fim de melhorar a situação. Os próprios alienígenas, quando confrontados com este argumento, dizem que ainda não estamos preparados para reconhecer a sua existência e que os trataríamos agressivamente, como inimigos, tal como fazemos com tudo o que é diferente e que não conseguimos compreender. Mas o mais importante, dizem os alienígenas, é que os seus métodos são diferentes. Não desejam impor mudanças coercivamente, mas antes através de uma alteração das consciências, que nos levem a escolher, por nós mesmos, um outro caminho. Alguns sequestrados recebem informações sobre futuras batalhas pelo destino da terra e o controlo da mente humana, travadas entre um ou mais grupos de seres, alguns dos quais são mais evoluídos ou «bons» e outros, menos evoluídos ou «maus». SEQUESTROS POR ALIENIGENAS:PANORÂMICA 47 Normalmente, os sequestrados lembram-se de menos pormenores do seu regresso à terra do que do próprio sequestro. Normalmente, são devolvidos à cama ou ao carro de onde tinham sido retirados, mas por vezes são cometidos «erros». Podem ser colocados a quilómetros de distância das respectivas casas. São casos raros e não tive conhecimento directo de nenhum, embora Budd Hopkins me tenha falado de alguns. São mais vulgares os pequenos erros, como por exemplo, colocar o sujeito de experiência virado para o lado contrário da cama, com o pijama ao contrário ou do avesso, ou com falta de alguma peça de vestuário ou jóia. Por vezes, parece que os alienígenas querem dizer qualquer coisa ou que estão a divertir-se. Um dos meus casos, um bebé de dois anos, foi metido na cama e bem aconchegado depois de um sequestro, o que os seus pais e irmã diziam não ter feito e que ele, evidentemente, não podia fazer sozinho. Hopkins conta um caso em que dois sequestrados foram colocados nos carros errados. Quando seguiam pela auto-estrada, os dois condutores reconheceram os respectivos carros. Foram «raptados novamente» e devolvidos aos carros certos (comunicação pessoal, Dezembro de 1992). Depois do sequestro, o sujeito da experiência pode ter vários graus de recordação do acontecido. Por vezes, o acontecido será lembrado como um sonho. O sequestrado pode acordar com golpes inexplicáveis ou outras lesões (a membrana do nariz ou da língua

retiradas, como num dos meus casos), pequenos inchaços sob a pele, uma dor de cabeça ou uma hemorragia nasal. Normalmente, os sujeitos da experiência ficam bastante cansados e sentem-se como se tivessem sido sujeitos a uma grande tensão. ASPECTOS Físicos Os fenómenos físicos que acompanham os sequestros são importantes, mas só adquirem importância na medida em que confirmam as próprias experiências, uma vez que os efeitos são tão subtis que não convenceriam do seu significado um clínico com formação ocidental. Por exemplo, embora os sequestrados tenham a certeza de que os cortes, cicatrizes, marcas de bisturi e pequenas feridas recentes que aparecem nos seus corpos depois das experiências estão relacionadas com os procedimentos físicos efectuados nas naves, estas lesões são por si só demasiado triviais para serem clinicamente significativas. Da mesma 48 SEQUESTRO forma, as sequestradas experimentam frequentemente a sensação de terem estado grávidas e de terem sido libertadas dessa gravidez durante um sequestro, mas não existe ainda nenhum caso em que o desaparecimento de um feto relacionado com um sequestro tenha sido confirmado por um médico (Druffel 1991; Miller e Neal, na imprensa; Neal 1992). Muitos sequestrados repararam que os instrumentos eléctricos ou electrónicos — aparelhos de televisão, rádios, relógios eléctricos, atendedores de chamadas, luzes eléctricas e torradeiras — funcionam mal em relação com os sequestros ou simplesmente quando os sujeitos de experiências estão perto. Porém, é quase impossível provar que essas avarias estejam relacionadas com o processo de sequestro ou, mesmo, que elas ocorreram. Os sequestrados sentem muitas vezes que lhes foi introduzido no corpo uma espécie de objecto auto-direccional, especialmente na cabeça, mas também noutras partes do corpo, para que os alienígenas possam segui-los ou vigiá-los, da mesma forma que nós, segundo eles próprios dizem, seguimos os animais com o auxílio de vários dispositivos. Estes chamados implantes podem ser sentidos como pequenos inchaços sob a pele e, em diversos casos, foram recuperados pequenos objectos e analisados bioquimicamente e com auxílio de microscópios electrónicos. O físico do MIT David Pritchard, que também analisou um implante retirado do pénis de um homem, escreveu sobre os critérios para analisar e determinar a natureza de tais objectos (Pritchard 1992). Eu próprio estudei um pequeno objecto de arame, com cerca de l a 2 cm de espessura, que me foi dado por uma das minhas clientes, uma mulher de vinte e quatro anos, depois de ter saido do seu nariz, a seguir a um sequestro. Análises elementares e fotografias de microscópio electrónico revelaram uma interessante fibra entrançada composta de carbono, silicone, oxigénio, nenhum nitrogénio e vestígios de outros elementos. Uma análise de carbono isótopo não teve resultados significativos. Um colega, biólogo nuclear, disse que o «espécime» não era um objecto biológico natural, mas poderia tratar-se de um qualquer tipo de fibra fabricada. Era difícil saber o que fazer a seguir. Não há provas de que qualquer dos implantes recuperados seja composto por elementos raros, ou por elementos vulgares combinados de forma estranha. Em conversa com um engenheiro químico e outros peritos, afirmaram-me que seria extremamente difícil obter

SEQUESTROS POR ALIENIGENAS:PANORÂMICA 49 um diagnóstico positivo quanto à natureza de qualquer substância desconhecida, sem possuir mais dados sobre as suas origens. Mesmo nas melhores circunstâncias, seria difícil provar, por exemplo, que uma determinada substância não tinha uma origem terrestre ou até biológica humana. Partindo do princípio de que, de facto, tais objectos foram deixados no corpo humano por seres alienígenas, o que é virtualmente impossível provar, não seria difícil para os alienígenas, tendo em conta todas as outras coisas miraculosas de que aparentemente são capazes, adaptar um pequeno objecto ao corpo humano, criando-o de acordo com os princípios químicos do próprio corpo. Se fosse este o caso, as análises não revelariam nada de anormal. Esta foi, na realidade, a minha experiência no caso de Jerry (Capítulo 6), que sentia intensamente que dois pequenos nódulos, que apareceram no seu pulso depois de uma experiência de sequestro, não estavam lá antes. Concordou em que um cirurgião meu colega os retirasse, mas o laboratório de patologia não encontrou nada de especial no tecido. Houve uma grande agitação entre os investigadores de sequestros, quando o primeiro implante foi «descoberto». Finalmente, aqui estava a primeira prova física e concreta da realidade dos sequestros, um objecto real proveniente do mundo alienígena, a arma de fogo capaz de calar os críticos. Agora já não estou tão seguro de que o fenómeno se vá revelar deste modo. Esperar que assim seja pode mesmo constituir uma espécie de «erro nos tipos lógicos». Por outras palavras, pode ser um erro esperar que um fenómeno, cuja natureza é tão subtil e cujos objectivos poderão ser alargar e expandir os nossos meios de conhecimento para além das propostas puramente materialistas da ciência ocidental, revele os seus segredos a uma epistemologia ou metodologia que opera a um nível inferior de consciência (esta ideia é aprofundada no caso de Eva, Capítulo 11). Assim, uma teoria susceptível de começar a explicar os fenómenos de sequestro teria de ter em conta cinco dimensões básicas, que são: 1. O elevado grau de coerência dos relatos pormenorizados de sequestros, feitos com a emoção adequada a experiências reais, por observadores aparentemente de confiança. 2. A ausência de doenças do foro psiquiátrico ou de outros fac50 SEQUESTRO tores psicológicos ou emocionais susceptíveis de explicar o que foi relatado. 3. As alterações físicas e as lesões que afectam o corpo dos sujeitos das experiências e que não seguem qualquer padrão psicodinâmico evidente. 4. A ligação com OVNI observados por testemunhas independentes, durante a ocorrência dos sequestros (e que o próprio sequestrado pode não ver). 5. Os relatos de sequestros de crianças com apenas dois ou três anos de idade (ver Colin no Capítulo 6). IMPACTO E SEQUELAS DOS SEQUESTROS É desnecessário dizer que os sequestros afectam profundamente as vidas daqueles que os sofrem. Estes efeitos são traumatizantes e perturbadores, mas também podem ser transformadores, conduzindo a

mudanças pessoais significativas e a um crescimento espiritual. Saber se este elemento de transformação é intrínseco ao próprio fenómeno do sequestro, dependendo em parte do trabalho terapêutico de informação com o investigador, ou se é um produto marginal da aceitação da natureza traumática das experiências, é uma das questões que serão exploradas neste livro. TRAUMA O aspecto traumático tem quatro dimensões. Em primeiro lugar, estão as próprias experiências. Ser paralisado, levado contra a sua vontade por seres estranhos para um quarto fechado e sujeito a procedimentos intrusivos, que se assemelham a uma violação, sendo alguns deles especialmente humilhantes para a dignidade humana, é, sem dúvida, altamente perturbador. A esta luz, chega a ser surpreendente que os sequestrados em geral não estejam ainda mais perturbados emocionalmente. Em segundo lugar, os sequestrados experimentam uma permanente sensação de isolamento e afastamento em relação aos que os rodeiam. Quer recordem ou não conscientemente todas as particularidades da sua experiência, os sequestrados sentem sempre que são SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 51 de algum modo diferentes ou «estranhos», que não pertencem a esta sociedade, mesmo que, pelo menos superficialmente, pareçam estar bem integrados. Em crianças, foi-lhes frequentemente dito que os eventos relacionados com os sequestros eram apenas sonhos, ou mesmo que estavam a mentir; por isso, os sujeitos das experiências aprendem a guardar estes assuntos para si e sentem-se muito sós com as suas experiências. Um inteligente sequestrado de apenas oito anos olhou para mim incredulamente, quando lhe perguntei se tinha falado aos seus amigos nestes «encontros», que ele conseguia distinguir perfeitamente dos sonhos, mesmo os relacionados com OVNI. — Não, não conto a ninguém que não conheça muito bem. Não quero que saibam que tenho encontros. Penso que muitas das pessoas que conheço ficam com medo quando ouvem histórias de terror... Acho que a maioria das pessoas são do género 'Eh! Isso é demasiado esquisito!' De facto, este rapaz é muito popular entre os seus colegas e professores, que não vêem nele nada de invulgar. Também como adultos, os sequestrados aprendem a não falar das suas experiências, excepto no maior segredo, sabendo que o mais provável é depararem com cepticismo e falsas interpretações, senão mesmo com uma directa ridicularização. Em terceiro lugar, os sequestrados sofrem aquilo a que chamo «choque ontológico», à medida que a realidade dos seus encontros os invade. Como todos nós, foram educados na crença de que os homens se encontram sós no universo e de que simplesmente não seria possível que outros seres inteligentes penetrassem no nosso mundo sem utilizarem uma forma muito avançada da nossa tecnologia e obedecendo às nossas leis físicas. Os sequestrados tendem a alimentar a esperança de encontrar uma explicação psicológica para as suas experiências, mesmo quando me afirmam que o acontecido é tão real como a conversa que estamos a ter. Finalmente, os traumas relacionados com os sequestros são invulgares, porque podem repetir-se a qualquer momento. A maior parte dos traumas, como os relacionados com experiências de guerra, violação ou maus tratos na infância, são finitos: acontecem e,

depois, terminam, mesmo que persistam durante um determinado período do tempo. Mas os sequestros são imprevisíveis e a sua repetição durante a vida de um indivíduo não segue qualquer padrão previsível. Os pais sequestrados procurarão investigar pela primeira vez 52 SEQUESTRO as suas próprias experiências, quando descobrem que um ou mais dos seus filhos estão a ter experiências de sequestro. A descoberta de que não conseguem corresponder às suas responsabilidades protectoras enquanto pais leva-os a romper com a recusa e a confrontar-se com as suas próprias experiências, a fim de melhor poderem ajudar os seus filhos. Além destes efeitos traumáticos específicos a longo prazo, os sequestrados também podem sofrer de outros sintomas a longo prazo que, embora mais subtis, também estão relacionados com as experiências de sequestro. Estes sintomas incluem vários tipos de fobias, das quais já falámos anteriormente, como o medo de hospitais e de agulhas, bem como dores de cabeça, dores nasais, dores nas pernas, perturbações gastrointestinais e urológicas-ginecológicas e perturbações sexuais (Jerry, Capítulo 6). Face a estas sequelas patológicas, não deixa de ser irónico que tantos sequestrados tenham experimentado ou testemunhado curas de várias doenças, desde pequenas feridas até pneumonias infantis e, num caso que me foi relatado em primeira mão, a atrofia muscular de uma perna, resultante de uma poliomielite. É interessante notar que nem todos os sequestrados são sujeitos aos procedimentos intrusivos e traumáticos que se considera serem característicos do fenómeno (por exemplo, Arthur, Capítulo 15). Não acredito que isto seja simplesmente uma questão de resistência ou de recusa. Alguns indivíduos parecem ser, à partida, «seleccionados» para serem instruídos, mesmo «iluminados», uma espécie de «reprogramação», como disse uma mulher, por seres que são, normalmente, de uma espécie mais subtil ou iluminada. Talvez estes indivíduos, que aparentemente são dotados de qualidades de liderança espiritual, tenham uma consciência diferente, tenham menos medo — ou estejam dispostos a ficar descontrolados e a ultrapassar o seu terror — do que os outros sequestrados. É uma questão que merece um estudo mais aprofundado. Tal como veremos em vários dos casos apresentados neste livro, uma história de sequestro pode criar uma situação de grande tensão numa relação matrimonial ou em qualquer relação intima. Isto é verdade, especialmente, quando um dos membros do casal é um sujeito da experiência, enquanto o outro, não só não o é, como tem dificuldade em aceitar a realidade das experiências do cônjuge. As relações também podem romper-se quando um dos membros do casal sofre um desenvolvimento pessoal significativo, directa ou indirectaSEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 53 mente resultante das suas experiências, e o outro fica mais ou menos para trás (Eva, Capítulo 11). ASPECTOS DA TRANSFORMAÇÃO E DA ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA Neste livro, dedicarei mais atenção aos aspectos da transformação e do crescimento espiritual resultantes dos fenómenos de sequestro, do que tem sido feito em outros livros da especialidade. Existem várias razões para esta decisão. Em primeiro lugar, creio que esta vertente do fenómeno tem sido, quer negligenciada, quer conside-

rada incompatível com a dimensão traumática de um sequestro, como tem sido frequentemente descrita. Em segundo lugar, tenho a sensação de que esta área, tão pouco investigada, é de uma importância considerável. Por fim, e do meu ponto de vista muito interessante, é a minha experiência pessoal como psiquiatra no tratamento de sequestrados: aparentemente, no meu trabalho recebo mais informações deste tipo do que outros investigadores. Não percebo muito bem porque é que isto acontece. Talvez o meu conjunto de casos tenha sido pré-seleccionado, com tendência para os indivíduos que, ao procurarem a ajuda de um psiquiatra, aprofundam a sua compreensão da experiência, através da exploração da sua consciência. Provavelmente, os sequestrados sentem que estou disposto a ouvir relatos de experiências ou informações que poderiam ser consideradas como «demasiado avançadas» por outros investigadores. De facto, a minha própria evolução pessoal pode ter-me tornado mais receptivo às informações que eles procuram transmitir. De qualquer forma, tento ser o mais escrupuloso possível, tentando não dirigir os clientes para qualquer direcção determinada, de forma que se, durante as nossas sessões, surgirem informações relevantes para os aspectos espiritual ou de alargamento da consciência dos fenómenos de sequestro, isso aconteça livre e espontaneamente e não em resultado de interrogações específicas da minha parte. Uma vez que uma grande parte deste livro diz respeito às dimensões espiritual e de transformação do fenómeno de sequestro, neste ponto limitar-me-ei a salientar resumidamente os tipos de experiência que podem ser colocados nesta categoria. De importância capital é a mudança que tem de ocorrer nas relações entre o sujeito da expe54 SEQUESTRO riência e os seres alienígenas, para que as informações susceptíveis de alterarem a consciência possam ser recebidas. Embora a relação com os alienígenas possa ser amigável ou mesmo íntima na primeira infância, tende a transformar-se numa relação mais traumática e perturbadora quando a puberdade se aproxima e o «projecto» de reprodução híbrida tem início. Quando as intrusões traumáticas começam a ter lugar, os sequestrados tendem a sentir-se vítimas de seres hostis, que os observam friamente ou como meros espécimes de um projecto que serve exclusivamente as necessidades dos alienígenas. À medida que a natureza das suas relações se altera, podem sentir-se traídos pêlos seres alienígenas. Mas à medida que aprofundamos o nosso trabalho, especialmente à medida que a inteligência alienígena é compreendida e os sequestrados começam a aceitar a sua falta de controlo do processo, a qualidade assustadora e opositora da relação parece ceder lugar a uma relação de maior reciprocidade, na qual há lugar para uma comunicação útil entre humanos e alienígenas e de que podem derivar mútuos benefícios. Os sequestrados podem mesmo vir a experimentar um amor profundo pêlos seres alienígenas — em certos aspectos, mais intenso do que o experimentado nas relações humanas — e sentir que este amor é correspondido. A ligação estabelecida através do olhar parece desempenhar um papel importante na evolução deste processo. Por exemplo, ao passo que, inicialmente, os sequestrados sentem um amargo ressentimento para com os alienígenas por terem utilizado o seu esperma e óvulos no projecto de hibridização, mais tarde, poderão vir a sentir que estão a participar num processo fundamental para a criação e evolução da vida.

Alguns poderão argumentar que uma tal mudança na atitude dos sequestrados face à situação de impotência que o sequestro implica não passa de uma mudança defensiva. Poderia ser considerada como uma tentativa do ego para manter uma sensação de domínio, oferecendo voluntariamente o que de qualquer forma seria obtido pela força, ou uma tentativa de reduzir a dissonância cognitiva, acreditando que os custos emocionais de uma tal experiência traumática poderiam ser compensados pela dádiva de algo de bom e positivo ao universo. Por outro lado, é possível que, ao penetrarem na abaladora experiência do sequestro, os sequestrados consigam ter acesso a experiências de significado transpessoal, amor universal e ligação, que tornem possível uma tal compaixão. SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 55 Como acontece em tantos aspectos do fenómeno do sequestro, também no domínio das experiências de transformação e crescimento espiritual é difícil separar as causas dos efeitos, ou mesmo raciocinar em termos causais. Por exemplo, será que um sequestrado recebe (e comunica) informações sobre uma vida passada, porque a sua consciência está aberta à possibilidade dessas ocorrências? Ou será que a emergência da memória consciente de uma vida passada, facilitada pelo nosso trabalho em conjunto, traz ao de cima um horizonte pessoal mais vasto e um alargamento do sentido de si mesmo, relativamente ao tecido mais vasto da consciência do universo? O facto de a relação entre os sequestrados e os alienígenas poder evoluir tão dramaticamente no tempo leva-me a questionar a categorização dos seres em seres construtivos, bons e amáveis, e seres enganadores e hostis, dedicados à conquista do nosso planeta: a ideia, por exemplo, de que os seres luminosos são bons e atenciosos, ao passo que os cinzentos são frios e indiferentes. Este género de taxinomia tem muitos laivos do tipo de polarização que caracteriza os grupos humanos ou as relações étnico-nacionais e, por isso, pode ter muito pouco em comum com a forma como funcionam as relações inter-espécies ou inter-dimensões, para lá da terra. Além disso, é vulgar que os sequestrados observem, simultaneamente, seres luminosos e pequenos cinzentos (Arthur, Capítulo 15) ou seres reptilianos e outras espécies de seres (Carlos, Capítulo 14), durante o mesmo sequestro. É possível que estejamos em presença de processos de relação interligados ou recíprocos, evolutivos por natureza e difíceis de apreender nos termos lineares das nossas polaridades. Os tipos de experiência durante os sequestros que, aparentemente, estão relacionados com o crescimento pessoal e a transformação são os seguintes: l. «Tentar passar», por exemplo, acontece quando se experimenta todo o medo e raiva associados à impotência e à utilização intrusiva de instrumentos nas naves. Quando isto acontece, torna-se possível o reconhecimento e a aceitação da realidade dos seres e estabelece-se uma relação recíproca, a partir da qual são possíveis o crescimento pessoal e a aprendizagem. A «morte do ego» seguem-se outros níveis de transformação. 56 SEQUESTRO 2. Os alienígenas são reconhecidos como intermediários ou entidades intermédias entre o estado completamente materia-

lizado dos seres humanos e a fonte primordial da criação, ou Deus (no sentido de uma consciência cósmica, e não de um ser personificado). Deste ponto de vista, os sequestrados por vezes comparam os alienígenas a anjos ou outros «seres da luz» (incluindo os «cinzentos»). 3. Os sequestrados podem realmente sentir que estão a regressar à sua origem cósmica ou «Lar», um reino indizivelmente belo, situado, ou não, para além do espaço e do tempo, tal como os conhecemos. Quando isto sucede durante uma sessão de hipnose, há um sentimento poderoso, de inexprimível alegria, quase orgíaco. Ao contrário, os sequestrados podem chorar de tristeza quando sabem que têm de deixar o seu lar cósmico, regressar à terra e materializar-se de novo. 4. Durante as sessões, as vidas passadas são revividas com grande emoção, adequada ao que está a ser recordado. E mais provável isto suceder quando o investigador apresenta sugestões, durante as sessões em que estão a ser lembrados encontros da infância. São ouvidas queixas ou simples observações acerca de estar «novamente» na Terra, estar «de volta» ou ter «regressado» (acerca das quais faço, então, perguntas). As vidas passadas recordadas parecem ser relevantes para o desenvolvimento pessoal e para a evolução do sujeito da experiência, como observei nos casos de David e de Joe. 5. As experiências de vida passada dão aos sequestrados (e ao investigador) uma perspectiva diferente sobre o espaço e sobre a natureza da identidade humana. Os ciclos de nascimento e morte, ao longo de grandes períodos de tempo, podem então ser revividos, dando um sentido diferente, menos egoísta, à continuidade da vida e à insignificância do tempo de vida de um indivíduo, numa perspectiva cósmica. A consciência é sentida como algo que não morre com o corpo; a noção de uma alma independente do corpo adquire relevância. 6. Uma vez aduirida a noção de independência entre a consciência e o corpo, tornam-se possíveis outros tipos de experiência «transpessoal», nomeadamente a identificação da consciência com uma quantidade virtualmente infinita de seres e entidades, através do espaço e do tempo e ainda mais para além. SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:PANORÂMICA 57 Entre os meus casos. Paul (Capítulo 10), por exemplo, sentiu-se, durante as nossas sessões, identificado com os dinossauros ou répteis semelhantes de outra era e sentiu estar presente no local da queda de um OVNI, há várias décadas, quando seres alienígenas foram destruídos pelo medo e agressividade dos homens. Um outro sequestrado, um jovem brasileiro, compreendeu que os seus encontros com alienígenas o levavam a identificar-se com os mitos e entidades espirituais do folclore da sua cultura, dos quais a sua formação científica e intelectual ocidental o tinha afastado. 7. Um aspecto distinto, mas muito importante, deste tipo de experiência transpessoal é a sensação que os sequestrados experimentam de possuir uma dupla identidade, alienígena e humana. Na sua identidade alienígena descobrem-se a si mesmos realizando muitas das coisas que os «outros» alienígenas lhes fazem, bem como a outros seres humanos; por exemplo, estudar as suas mentes e mesmo levar a cabo procedimentos

reprodutivos. A identidade alienígena parece estar de qualquer forma ligada à alma da entidade humana e uma das tarefas com que o sequestrado se defronta é a tentativa de integração das suas identidades humana e alienígena, que assume o carácter de uma reintegração espiritual da sua humanidade. 8. A recordação das suas experiências de sequestro leva os sequestrados a abrirem-se para outras realidades, situadas para além do tempo e do espaço, reinos que são descritos diversamente como situados por detrás de um «véu» ou de qualquer outra barreira, que os manteve numa caixa ou num estado de consciência limitado ao mundo físico. Quando interrogados acerca destas experiências, os sequestrados têm dificuldade em encontrar palavras que descrevam o que aconteceu e falam do «colapso» do espaço/tempo, da irrelevância das noções de espaço e de tempo e do estar em vários tempos e lugares, simultaneamente. Para os sequestrados, o resultado de todas estas experiências é um novo e alterado sentido do seu lugar no universo cósmico, mais modesto, respeitoso e harmonioso relativamente à terra e aos seus sistemas vivos. Emoções como a reverência, o respeito pêlos mistérios da natureza e um sentido mais elevado do sagrado do mundo

58 SEQUESTRO natural, são experimentadas, juntamente com uma profunda tristeza pela aparente inevitabilidade da crise ambiental na Terra. Um dos casos de John Carpenter descreveu-se a si própria como «filha do universo», depois de ter tomado consciência das suas experiências de sequestro. O significado e as implicações destas mudanças de consciência para os futuros possíveis da humanidade serão debatidas, mais completamente, nos exemplos de casos e no capítulo final. Os treze casos apresentados neste livro — oito homens e cinco mulheres — foram seleccionados entre setenta e seis sequestrados. Procedi às entrevistas com base nos critérios seguintes: 1. As suas histórias, embora complexas em alguns aspectos, pareceram-me suficientemente claras para permitir uma narrativa coerente. 2. Cada caso parece ilustrar, de forma profunda, um ou mais dos aspectos fulcrais do fenómeno dos sequestros. 3. Cada uma destas pessoas estava disposta a deixar contar a sua história, utilizando ou não o seu verdadeiro nome. 4. Conhecia estes indivíduos bastante bem. No entanto, há sequestrados que conheço há mais tempo e com quem tenho trabalhado mais profundamente. Se optei por não contar as suas histórias, foi apenas porque não poderia fazer justiça à riqueza das suas experiências de uma forma suficientemente clara e concisa. A sequência dos casos reflecte, em regra, uma espécie de progressão, de histórias mais simples para narrativas multidimensionais mais complexas. O último caso sugere o que o fenómeno dos sequestros poderá vir a significar para a transformação das nossas instituições e da nossa vida colectiva. CAPÍTULO TRÊS LEMBRAR-TE-ÁS

QUANDO PRECISARES DE SABER E d tem cerca de quarenta e cinco anos, é técnico numa empresa de alta tecnologia no estado de Massachussetts e é casado com Lynn, uma escritora com quem partilha um grande interesse pela ciência e pela tecnologia. Num dia do Verão de 1989, Ed e Lynn passeavam pela Estrada Marginal em Ogunquit, Maine, um caminho junto aos rochedos, que bordeja a costa rochosa ao longo de vários quilómetros. Subitamente, Ed sentiu que estava a ficar tenso, melancólico e retraído. Em seguida, começou a transpirar, ficou preocupado e apertou estreitamente a mão de Lynn. Não sabia qual a razão da sua perturbação. Ed andava a praticar meditação e acredita que isso pode ter contribuído para a recuperação final de memórias significativas. Ed também tivera algumas experiências assustadoras na infância, provavelmente relacionadas com sequestros. Estas experiências serão comentadas no contexto da sua sessão de hipnose. Desde criança que tinha um medo invulgar de consultórios médicos e operações — «tudo o que se relacione com medicina» —, mesmo antes de uma amigdalotomia, aos nove anos de idade. Segundo nos diz, certo dia, à beira-mar, um dia ou dois depois do passeio em Ogunquit, a seguir a um dia de descanso, «lembrei-me». Ed começou a recordar-se de uma experiência passada no Verão de 1961, quando ainda estava na escola secundária. Ao longo dos meses seguintes, recordou-se de mais pormenores, através daquilo a que chamou flashbacks. Ed tinha algum interesse por aquilo a que chama «inteligência alienígena». Em consequência das suas memórias, passou a interessar-se pelo fenómeno dos OVNI e compareceu 60 SEQUESTRO a uma conferência da MUFON (Mutual UFO Network, uma organização não-governamental), em New Hampshire. Várias pessoas que conheceu através desta rede sugeriram-lhe que me contactasse e, assim, telefonou-me em Julho de 1992. Desde então, entrevistei Ed e Lynn durante várias horas e hipnotizei-o, com o objectivo de recuperar mais pormenores da sua experiência da escola secundária. Ele e Lynn frequentavam também o grupo de apoio. O caso de Ed é importante, fundamentalmente, por duas razões. Em primeiro lugar, a periodização da sua experiência da adolescência e a memória dela indiciam um processo de recepção de informações, armazenamento, recuperação e integração, com grande objectivo e poder potencial. Em segundo lugar, a narrativa que Ed conseguiu recuperar num estado de consciência alterado parece, pelo que sabemos dos fenómenos de sequestro, ser muito mais plausível do que a história que poderia contar conscientemente. Este facto serve de suporte ao argumento segundo o qual a hipnose é o melhor meio para recuperar memórias de sequestros, que sejam simultaneamente significativas e verdadeiras em relação à experiência real (seja qual for a origem destas experiências), sugerindo que, pelo menos no caso dos sequestros por OVNI, a hipnose pode ser uma ferramenta mais esclarecedora do que falseadora. Seguidamente, começarei por contar a história do sequestro do jovem Ed, tal como ele a recordou no nosso primeiro encontro em 23 de Julho de 1992. Em seguida, fornecerei mais pormenores, que Ed recuperou sob hipnose a 8 de Outubro, e que dão significado e coerência às suas experiências e vida subsequentes. Ed também se recorda, embora menos claramente, de visitas que aconteceram na sua primeira infância.

Em Julho de 1961, Ed, o seu amigo Bob Baxter e os pais deste fizeram uma viagem pela costa do Maine, no carro dos Baxter. Numa noite húmida de nevoeiro, pararam num local onde a costa era rochosa, Ed não se lembra exactamente onde, excepto que era para norte de Portiand. Os Baxter ficaram numa cabana, enquanto os rapazes dormiram perto, no carro, que tinha bancos rebatíveis atrás. O carro estava estacionado a cerca de noventa metros do mar. Ed e Bob tinham estado a conversar acerca de como se sentiam «excitados» e «especularam sobre os grandes encontros que iam ter na praia». Ed pensava que estava a dormir quando «de repente estava a pairar sobre o precipício» numa «bolsa» que tinha «uma espécie de LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 61 bolha de vidro por cima». Estava nu num pequeno quarto de paredes curvas e transparentes. O quarto estava quente e seguro, mas Ed conseguia ver a espuma a bater e «ouvir o vento a soprar lá fora». Pensa ter ouvido também acordes de uma música clássica, leve e harmoniosa, vinda talvez das casas próximas. Não tem quaisquer dúvidas de que isto aconteceu realmente, embora classifique a experiência como «para além da linguagem». Na bolsa com Ed estava uma pequena e delgada figura feminina, com longos cabelos lisos e finos, de um louro prateado. Embora Ed não consiga lembrar-se especificamente de nenhuma experiência de sequestro anterior, a figura «tinha aspecto familiar» e ele tinha memórias de infância vagas e «muito sinistras» de «alguma coisa vinda dali». A entidade feminina tinha uma boca e um nariz pequenos, grandes e intensos olhos escuros e uma cabeça de forma «mais ou menos triangular», com uma fronte «bastante larga». «Tive a sensação desconfortável de que, cada vez que ela olhava para mim, podia ver dentro de mim.» Achou-a «atraente de uma forma pouco usual» e sentiu-se «um pouco envergonhado». Talvez pressentindo isso, a figura «deu-me uma espécie de cobertor ou de grande toalha, ou qualquer coisa assim.» Parecia adivinhar os seus pensamentos sem ele dizer nada assegurando a Ed, por exemplo, que estavam seguros e que não cairiam pelo precipício nas rochas lá em baixo. Ed estava sexualmente excitado e o ser feminino «sentiu a minha excitação». Embora fosse «pouco claro» sobre o sucedido, Ed disse «tivemos relações». Segundo Ed, este acto foi «semelhante» às relações sexuais humanas, com «carícias nos seios», introdução do pénis na vagina e participação activa de ambos os sujeitos. E interessante notar que, embora Ed fosse virgem nesse tempo, não se recordava desta experiência e ainda se sentia como se fosse virgem quando, algum tempo mais tarde, teve relações sexuais. Depois das relações sexuais, que Ed classificou de «satisfatórias» e «muito boas», sentiu que ela desejava passar aos «assuntos sérios — sabe como é, primeiro, cuidamos das necessidades físicas imediatas e depois começa a lição». A sua atitude era do género «agora vamos ao que interessa... como uma professora. Pode sossegar os alunos contando-lhes uma história ligeira, quando eles entram na sala de aulas, só para que fiquem calmos, concentrados e, então, guia-os para... Depois começou a explicar-me as coisas». Ed queria escrever o que ela dizia, para poder lembrar-se mais tarde, mas ela 62 SEQUESTRO não deixou e «trabalhou com a minha percepção por tomada de consciência, como de mente a mente.» Pressentindo a sua frustração,

ela tranquilizou-o: «Lembrar-te-ás quando precisares de saber». Nesta entrevista, as recordações de Ed acerca do conteúdo das informações que esta entidade feminina lhe transmitiu foram apenas esquemáticas, mas lembra-se de ter ficado «aturdido», «de boca aberta». Tivera uma educação católica romana tradicional, frequentando a catequese até ao quarto ano, e nada do que lhe tinham ensinado o tinha preparado para receber mensagens de tal importância espiritual e cósmica. De algum modo, o ser alienígena abriu a consciência de Ed. «Ela ligou-me às minhas emoções, e num momento qualquer da primeira parte do encontro, talvez durante o relacionamento sexual, obteve como que uma ideia clínica da minha tipografia emocional/mental, ou, então, a minha concordância para passar à segunda parte. Olhou para mim e perguntou: — Bem, achas que podes aguentar a segunda parte?» Algumas das informações diziam respeito «à forma como os humanos se conduziam em termos de política internacional, do ambiente, da violência em face uns dos outros, da comida e tudo o mais. Continuava a explicar que as leis do universo são assim, e que era como se estivéssemos a conduzir do lado errado da estrada, o que vai acontecer inevitavelmente, sabe?... Como se fosse assim: aqui estão as leis e esta é a forma como os humanos conduzem os seus negócios e... pum! pum! é inevitável...» O pai de Ed era engenheiro mecânico profissional numa grande empresa da região de New England e a ideia de Ed, inculcada pela sua família «padrão», era vir a ser «técnico», seguir electrónica e ajudar a «vencer os malditos comunistas... Temos de desenvolver mais e melhor tecnologia, para dar cabo dos malditos comunistas, antes que eles dêm cabo de nós.» Embora as informações fossem praticamente novas para Ed, de qualquer modo, «faziam sentido para mim». Tinha «uma aproximação científica face às coisas» e «ela explicava as coisas em termos lógicos e científicos... esclarecendo uma série de conceitos interrelacionados, que estas são as leis do universo, e especificando detalhadamente estes conceitos. E aqui estão vocês, génios do planeta, a fazer isto e aquilo e esta é a forma como as coisas deviam funcionar e vocês estão em desarmonia e num ponto qualquer as coisas entrarão em desequilíbrio. Mais tarde ou mais cedo. E eu estou ali, oh, meu Deus. E como se ela me tivesse dado este segundo, este mecanismo LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 63 de segurança, incorporando-o profundamente em mim... E eu apenas estava ali sentado, como se, como se, oh meu Deus, é como um trauma... uma preocupação profunda e ansiosa sobre o caminho pelo qual eu via os humanos enveredar... um trauma do mundo». Falaram a Ed do caminho «altamente destrutivo» que os humanos seguiam e que também tinha sido destrutivo para o «planeta dos humanóides». Ed sente que a sua mente foi permanentemente alterada por este encontro.»Como hei-de dizer? Ela disse que, com a minha concordância, eu seria... as minhas emoções, a minha cognição, todas as minhas percepções, seriam modificadas, e que a minha forma de comportamento seria ligeiramente diferente. A melhor analogia que encontro é com a alteração de parte da arquitectura de software e de uma parte do hardware de um computador. Ao princípio, quando nos sentamos para trabalhar, podemos não reparar, mas depois dizemos — espera aí, agora o software está a trabalhar de forma diferente, mais rapidamente. Tem maior capacidade». Ela também garantiu a Ed que deixaria de se sentir traumatizado pelas

visitas de alienígenas negativos. «Ela pressentiu na minha mente uma espécie de preconceito contra encontros anteriores com um tipo negativo de alienígenas e disse, 'Sim, sim, sim, isso é tudo passado. Eles não voltarão. Não conseguirão atingir-te novamente.'» Ela «referiu-se ao... seu próprio povo, alienígenas positivos, como um grupo vindo de outro lugar» e explicou que a equipa que a acompanhava funcionava como seu «pessoal de assistência». A seguir ao encontro, Ed achou-se a fazer afirmações intuitivas e algo impulsivas sobre assuntos sociais, políticos e científicos e «os outros rapazes olhavam para mim e diziam, 'Bolas, como ele é estranho.'» Embora não especialmente dotado no sentido académico convencional, Ed apercebeu-se de que tinha uma opinião instintiva sobre a física e a química modernas e sobre temas como a teoria da relatividade de Einstein, micro e macro realidades, a curvatura do espaço e os paradoxos das leis científicas. Também se apercebeu de que conseguia falar destes temas com outros adolescentes da sua escola secundária, de forma que eles diziam: «Sim, isso faz sentido». As mudanças sofridas por Ed pareceram intrigar os seus professores. A intenção de Ed era tornar-se num super técnico patriota, mas depois de ter entrado na Faculdade de Engenharia sentiu-se «emocionalmente gelado» e «zangado, frustrado e desesperado». Depois de frequentar a Faculdade de Engenharia durante menos de um 64 SEQUESTRO semestre, transferiu-se para uma pequena escola de arte, onde tentou «perceber o que faz evoluir a civilização, tentando compreender a natureza e a estrutura da civilização humana». Descobriu um interesse pelo «esplendor da história, Roma, Grécia e tudo isso» e pelo que chama «a busca maior». Embora Ed não tenha consciência de outros encontros, hoje sente que a sua experiência de adolescente permaneceu dentro de si e, por vezes, teve recordações instantâneas ou vislumbres da angra, ou de outro lugar geográfico, onde tudo aconteceu. Quando tinha entre vinte e trinta anos tornou-se de certo modo um solitário. Sentia-se atraído por fotografias de mulheres louras e, por vezes, quando andava de bicicleta «sempre que via uma mulher delgada com longos cabelos louros tentava pedalar mais depressa, para a ver melhor» e pensava «Será ela?». Mas ficava desapontado ao verificar que «não era ela». Tanto Ed como sua mulher, Lynn, têm ascendência nórdica. Conheceram-se numa organização cultural onde ambos estudavam literatura e história do Norte da Europa. Lynn sentiu-se «como seja o conhecesse há muito tempo». Além do seu comum interesse pela ciência e pela tecnologia, pela natureza e pela vida ao ar livre, Lynn tem cabelos louros. Depois de cinco anos a saírem juntos, casaram no fim dos anos setenta. O casal não tem filhos, embora ainda estejam a tentar tê-los. Têm tido alguns problemas de fertilidade, que podem ou não estar relacionados com o sequestro, incluindo três ou quatro abortos espontâneos. Lynn também recorda um episódio de tempo perdido e outras experiências, que a fazem suspeitar de que também teve encontros. Quando conheci Ed, ele estava a tentar encontrar o seu próprio «nicho», estava «perdido no deserto» e a «bater com a cabeça nas paredes». Lynn pensa que esta situação pode ter contribuído para a dificuldade de ter filhos, porque «temos estado numa espécie de animação suspensa, esperando que a luz se acenda». Ed sempre se sentiu especialmente próximo da natureza, dos bos-

ques, das árvores e das plantas, e sente que consegue «falar com as plantas». Sente que está empenhado numa «corrida desesperada pela terra», uma necessidade de reunir as peças do que sabe ser «uma construção», e que foi desafiado para o fazer. Praticou meditação e estudou filosofia oriental, na sua luta para encontrar o caminho certo. Tanto ele como Lynn sentem que o «tempo de Ed no deserto» pode ter valido a pena e que entre todas as coisas que experimentou, poderá LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 65 encontrar a forma de conciliar os seus compromissos ecológicos e espirituais com as suas capacidades tecnológicas e científicas. No final da primeira sessão, discutimos o facto de a experiência de adolescência de Ed ter ocorrido dois meses antes do caso de Betty e Barney Hill, que deu início à moderna história dos sequestros e, com alguma dificuldade, manifestou o desejo de ter acesso a outras memórias, especialmente das informações que a fêmea alienígena lhe transmitiu na cápsula, através de hipnose. Depois do nosso encontro inicial, Ed sentiu que estava a ficar cada vez mais perturbado «em nome do futuro» por causa da «instabilidade ecológica» e dos «ataques à terra». Cada vez mais, desejava receber directrizes sobre o que poderia fazer e sentia-se pressionado a descobrir mais sobre «o que foi que ela me disse?» Sentiu-se esmagado por um sentido de responsabilidade, do género «Não sou como o sobrinho de John Kennedy ou algo assim... Tenho esta intuição de que o que ela me disse é terrivelmente importante, importante para o meu desenvolvimento — e também, até tenho medo de o dizer, para o desenvolvimento da terra. Quer dizer, não sou nenhum líder messiânico, com milhares de seguidores». Estava decidido a mergulhar mais profundamente na sua experiência daquela noite no Maine, recorrendo à hipnose e, assim, marcámos uma sessão para o dia 8 de Outubro, onze semanas depois da nossa primeira entrevista. Antes da regressão, eu e Ed revimos em pormenor a qualidade enevoada daquela noite de Julho, a localização do automóvel em relação ao mar (a cerca de 9 metros, do outro lado da estrada), as cabanas em que pernoitaram os pais de Bob e a natureza suavemente rochosa da costa onde estavam a passar a noite (quando comparada com o terreno mais áspero e abrupto da baía costeira em que a bolha estava alcandorada). Obriguei-o a descrever os assentos rebatíveis do carro e os preparativos dos dois rapazes para a noite, os quais analisei ainda em maior pormenor durante a própria sessão de hipnose. Quando estava a falar em preparar-se para adormecer nessa noite, referiu-se aos medos nocturnos que experimentava, talvez desde os quatro anos, quando acordava aterrorizado, a gritar pêlos pais, depois de ter sonhado estar a caminhar «na direcção de um campo, em cima de carris de comboio e, então, os carris desapareciam numa espécie de noite escura, iluminada pelas estrelas». Durante o período em que teve este sonho, experimentava «uma ansiedade profunda em relação a adormecer à noite» e tinha medo de estar sozinho no quarto às escuras. 66 SEQUESTRO Depois da indução do estado de relaxamento hipnótico, tentei obter de Ed mais pormenores sobre os preparativos dos rapazes para a noite. Ele falou sobre as preocupações maternais de Mrs. Baxter acerca do calor e do conforto dos rapazes e lembrou-se de ter dormido num saco-cama, enquanto Bob dormira com cobertores. Recordou novamente a sua conversa sobre raparigas («ainda éramos

virgens». Lembrava-se do ruído dos carros a passar na estrada, do nevoeiro «a fechar-se» e de que «se sentia ligeiramente desconfortável lá no fundo, com problemas ou qualquer coisa, não sei». Quando Ed estava a explicar que estava «a devanear, a mergulhar nos meus pensamentos», sentiu «uma espécie de zunido» na base da cabeça ou na parte superior do pescoço e descobriu que estava «a ficar assustado», à medida que as memórias desse momento começavam a voltar. As sensações de zunido aumentaram e Ed disse: « Sinto qualquer coisa à volta do carro». Pensa ter estado a dormir, mas não tem a certeza, talvez a sonhar que «estava a fazê-lo» com uma bela adolescente de uma das praias da área. Mas, então, viu uma ou duas figuras através das janelas do carro, «um casal de uma espécie de humanos, mas estranhos, os seus olhos são grandes! Está a ver, não são aranhas, penso que não estou a sonhar». As figuras «não parecem seres humanos normais». Tinham «grandes olhos cinzento-escuros ou pretos e bocas pequenas e intensas. Qualquer coisa parecida com orelhas... Neste maldito nevoeiro não consigo perceber muito bem qual o vosso aspecto, vocês são espertos. Sabem como utilizar a camuflagem». Os seres eram de um «tipo ligeiramente diferente» de tudo o que já tinha visto. Na sessão, o medo de Ed aumentou e lembrou-se de se ter sentido «apenas mortificado, como se alguém estivesse prestes a assaltar-me e eu tivesse de lutar como o diabo pela maldita da minha vida». Enquanto a sensação de zunido persistia «na base do crânio», Ed sentiu-se a flutuar para fora do carro. Emitiu uma espécie de grunhido à medida que a sua ira voltava, mas depois sentiu-se relaxado e mesmo «feliz», o que o surpreendeu. Dois ou três dos seres estavam «a olhar para mim» e Ed experimentou «uma sensação de flutuação e todo o meu corpo está a começar a flutuar. Estou a flutuar, estou a flutuar, estou a flutuar! Porque é que estou a flutuar?» Neste momento da sessão, Ed sentiu-se confuso e tentou «manter o controlo do que estava a acontecer». Encorajei-o a ficar com a sua expeLEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 67 riência. Então, viu-se rodeado por um nevoeiro cinzento, «a sensação de zunido a penetrar mais em todas as partes do meu crânio» e teve «a vaga consciência de uma mudança de cenário... Isto está sem dúvida muito mais à frente que o programa de televisão One Step Beyond», notou Ed. «Continuo a tentar controlar a situação, mas estou a tentar não a controlar. A minha mente não quer prosseguir e voltar para lá». E depois disse: «Estou como que a saltar por toda esta estrutura celular de tipo atómico e estou a ver, estou a começar a penetrar nela. Acabei de entrar. Continua a vir e a vir e a vir». Em seguida, Ed sentiu-se «a descer por um túnel de tempo» e literalmente «a viajar» sem «qualquer ponto de referência»... Tenho consciência de qualquer processo de transposição... Tenho consciência de um qualquer movimento de qualquer tipo». Continuou a lutar («As leis da rua dizem que devemos lutar como o diabo»), mas compreendeu rapidamente que as suas regras não se aplicavam e que «estão a dominar-me de qualquer maneira», de forma que «não tenho escolha, só posso deixar que aconteça» e «aconteceu mesmo». A seguir, Ed sentiu-se «muito rígido» e «lá fora num lugar qualquer da linha costeira, a flutuar, num lugar qualquer». Lembra-se de ouvir «as ondas a bater» e sentiu-se cada vez mais perplexo acerca do facto de «estar a mover-se sobre as águas, em algum lugar da

costa, sem quaisquer meios de propulsão visíveis», embora tivesse «um estranho sentimento de que eles estavam algures à minha volta». Sentiu que os seres eram «muito gentis» sem «intimidação mental» ou «rudeza no tratamento físico que me dispensaram», mas «decididamente, nós é que mandamos, muito obrigado». Ed teve a sensação de estar a mover-se mais ou menos à velocidade de um automóvel, talvez a uns oitenta ou noventa quilómetros por hora, e conseguia distinguir lá em baixo «casas e luzes na estrada, talvez um carro ou outro, uma luz de porta, talvez uma televisão». Estava embaraçado com a ideia de que alguém podia vê-lo. «Meu Deus, se alguém olha para cima e vê um tipo qualquer de pijama a flutuar, que estranho... Eu ficaria bem embaraçado se a minha mãe alguma vez soubesse. Jesus! A decência e tudo o resto.» Ed achou estas recordações tão extraordinárias que perguntou em voz alta: — Será que estou a enganá-lo? — Não sei. Está? — perguntei eu. — Não, não — disse ele -, porque isto continua a vir-me à cabeça 68 SEQUESTRO e eu sinto... eu, a minha própria sinceridade diz-me que não estou apenas a inventar tudo isto. É só que não se enquadra... Quero dizer, isto parece um argumento do Twilight Zone... Não se parece com nada que eu tenha visto na televisão ou no cinema. Ed notou que estava «a aproximar-me dum afloramento de terra e das ondas e tudo e estou a ver uma espécie de bolha luminosa, em forma de catedral». E em seguida, «estou a ser arrastado no sentido de que não tenho controlo sobre o meu corpo... para o fundo... algures no fundo sinto que estou a passar e não sei como atravessei o fundo, mas aqui estou». Evidentemente, isto era fisicamente possível porque a nave parecia estar «apenas ali suspensa», salientandose do afloramento rochoso. «Algumas partes estão perto da rocha e outras estão só, como que estão apenas por cima da rocha». Dentro do veículo, Ed reparou numa luz azul-prateada brilhante. Sentiu que a sua visão estava limitada e ficou zangado. «Detesto sentir-me sem qualquer controlo. Detesto isto. Detesto isto, bolas! Detesto isto! Tão estúpido, tão tremendamente estúpido, meu Deus! Como poderei explicar isto a alguém?» Sentiu uma dor na parte frontal da cabeça e ficou confuso, «física e mentalmente desorientado... A minha carteira está em casa. Não tenho nenhuma identificação.» Teve também uma erecção, que o embaraçou: «isto não fez parte da minha educação». Havia «pelo menos meia dúzia» de seres no quarto, a que chamou «anfiteatro» e «uma espécie de sala de operações» e «há umas luzes brancas em volta». Um dos seres parecia ser «o médico-chefe, o que mandava». Aquele «transmite vibrações que indicam tratar-se de uma fêmea». Aos outros chamou «zangãos» ou «pessoal auxiliar que andava de um lado para o outro a fazer isto e aquilo». O ser feminino tinha longos cabelos prateados e grandes olhos negros, sem pupilas nem íris. Estava a olhar para Ed «com aqueles grandes olhos temos e sensuais, que transpiram uma sexualidade amável, como se ela fosse uma mulher muito sensata e madura, dizendo-me telepaticamente 'Eu controlo a situação'. Ela vestia uma «espécie de camisola, parecida com um vestido», aberta no pescoço e que lhe cobria os braços e os ombros. Reparou que «tinha seios... Talvez tenha uma espécie de pendente ou medalhão pendurado numa cadeia em volta

do pescoço, ou um alfinete, não percebo muito bem». O ser feminino transmitiu-lhe o nome pelo pensamento e Ed perguntou-lhe: «Como é que me conheces?» e observou «Acho que és LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 69 muito sexy». Embora ela estivesse a fixá-lo («ela olha directamente para dentro de mim»), Ed sentiu que ela não o deixava olhar para ela. Ele pareceu querer fazer um som com a garganta, mas «não saía» e voltou a sentir que estava «completamente dominado», tal como no início. Sentiu-se «afundar num nevoeiro cinzento» como se estivesse «embrulhado». O ser disse a Ed: «Estás bem. Não lutes, não lutes»; ela sabia do seu medo e «estava a ler a minha mente como um livro aberto». E disse: «Eu sei o que te aconteceu quando eras mais novo», e assegurou-lhe «essas coisas não voltarão a acontecer-te». O medo dele diminuiu: «De uma forma ou outra, estás a conseguir convencer-me de que estás aqui para velar pelo meu bem-estar. Não sou apenas a tua cobaia» (tal como tinha sentido no passado). Ed recordou-se de ter sentido uma espécie de estímulo sexual forçado. «Ela está a encher a minha cabeça de imagens eróticas... Ela está a provocar-me uma erecção, de uma forma ou outra, ela está a dar-me... está a excitar-me». O ser feminino sabia que Ed desejava ter relações sexuais. «Ela lê nos meus pensamentos como num livro e pode virar as páginas a seu bel-prazer». Mas, com uma «expressão alegre», ela disse qualquer coisa como: «Oh sim, gostarias disso, não gostarias? Mas não é assim que vai ser.» E começou a explicar que precisavam do seu esperma para «as suas necessidades... para criar bebés especiais» e «para o trabalho que estamos a fazer para ajudar as pessoas do teu planeta». Ed continuou a lutar contra a sua impotência e falta de controlo, mas estava de certo modo amolecido e persuadido de que estava a ser utilizado para qualquer fim útil. Colocaram uma espécie de «tubo» ou «recipiente» sobre o pénis de Ed e ele sentia-se «agora muito relaxado». Experimentou uma sensação de massagem ou fricção, gradualmente mais intensa. «E uma coisa muito macia, parecida com uma mão. Quero acreditar que é a mão dela». Depois de ele ter ejaculado, ela disse-lhe em pensamento: «Está bem, está muito bem», querendo dizer que «tinham obtido uma boa amostra». A seguir, Ed sentiu-se quente e a transpirar. Assim terminou a primeira parte da experiência. Embora Ed sentisse que «eles começaram por me manipular a fim de me colocarem numa posição em que me pudessem dizer o que pretendiam», bem depressa começou a pensar: «Está bem, convenceram-me de que o que fizeram foi um grande bem, que eu não compreendo lá muito bem.» E da alienígena fêmea disse: «Tens qualquer coisa que me faz confiar, és muito terna, carinhosa e queres ajudar». E depois, com70 SEQUESTRO pletamente atónito, acrescentou: «Nunca me aconteceu nada assim na minha vida». Neste momento, a cena mudou e Ed sentiu-se como se «estivesse num espaço diferente... Antes era mais como uma sala de operações», mas «agora, subitamente» estava na «bolha de paredes transparentes», da qual se tinha lembrado conscientemente, antes da sessão de hipnose. Não se lembrava de «como fui de um sitio para outro». A entidade feminina «quer falar comigo» e Ed sentiu medo do que se iria seguir. «Sinto que estou a ficar sério. E assim como quando o médico ou o professor chega e diz 'agora vamos ao que

interessa... agora é a parte séria... achamos que agora já podemos dizer-te como as coisas são'». Reparou que o ser feminino, «a pessoa que fala», vestia uma «túnica prateada, que parecia de metal. É uma espécie de tecido, entrançado ou tricotado, com qualquer coisa brilhante por cima, e consigo ver os seus seios a sobressair por baixo». Ela tinha «uma expressão suave» e «olhava para mim de forma muito carinhosa». Ed sentiu que o interior da sua cabeça e os seus olhos «ardiam e giravam», quando ela começou a falar com ele, mostrando-lhe várias coisas. Os restantes quarenta a quarenta e cinco minutos da nossa regressão hipnótica foram preenchidos com as recordações de Ed das informações recebidas durante o sequestro. É possível que a sequência do nosso diálogo não reproduza exactamente a ordem pela qual estes pensamentos e imagens lhe surgiram nesse momento. A narrativa estava cheia de imagens apocalípticas. O ser comunicou-lhe telepaticamente, por meio daquilo a que Ed chama «termos alegóricos», uma mensagem de «instabilidade do nosso planeta, instabilidade eco-espiritual e emocional... As erupções vulcânicas são um sinal... São uma alegoria de colunas de raiva a subir. Não são ejaculações de êxtase, mas erupções de angústia. Tem cuidado. Ondas de erupção, a bater, a inundar, a engolir tudo à tua volta». Ed protestou: «Porque é que me falas em alegorias? Não sou poeta.» Porém, a comunicação prosseguiu inexoravelmente. «Ondas altas, a bater, placas que se deslocam, instabilidade, a Terra a tremer de angústia, a gritar, a chorar diante da estupidez dos humanos ao perderem o contacto com a sua alma mais profunda». Ela disse-lhe: «Tu ainda tens uma hipótese, Ed. Tens uma profunda sensibilidade». Ele protestou novamente: «Mas os professores sempre me criticaLEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 71 ram pela minha gramática e pela minha ortografia». Porém, ela insistiu: «Tens uma grande sensibilidade, Ed. Tu entendes as coisas. Podes falar com a Terra e a Terra fala contigo». Ed confirmou-me que, na realidade, quando era ainda pequeno, costumava brigar com a mãe porque gostava de andar pêlos bosques (pelo que ela por vezes o castigava, mandando-o para a cama sem jantar ou batendo-lhe). «As coisas falavam comigo», disse ele, «os animais, os espíritos... Eu sinto a terra. Consigo sentir a interacção da natureza». A luta com a mãe continuou («Só os rapazes maus vão para os bosques», dizia ela), mas Ed não tinha medo. O ser feminino, cujo nome Ed recorda agora como qualquer coisa parecida com «Ohgeeka» ou «Ageeka», escolheu estas qualidades e salientou as responsabilidades que Ed tinha perante os seus dons e poderes. «Escuta a terra, escuta a terra, Ed. Tu podes ouvi-la e podes ouvir a angústia dos espíritos. Podes ouvir os gritos de dor dos desequilibrados. Isso salvar-te-á, salvar-te-á... Vão acontecer coisas», disse ela, mas ele tinha de «ouvir os espíritos», mesmo que fosse escarnecido, e não devia sentir-se esmagado. «Ela concedeume uma visão instantânea... abriu aquele canal e aumentou o volume de som. Alguns (dos espíritos) choram, enquanto outros são alegres. Ela limitou-se a fazer-me passar por tudo em poucos segundos. 'Podes ver , ouvir e sentir tudo isto. Os outros podem pensar que és louco'. A própria terra», disse-lhe ela, «está furiosa connosco devido à nossa estupidez» e «a própria pele da Terra vai esmagar, matar alguns insectos» que não sabem como «trabalhar em simbiose har-

moniosa» com ela. Perguntei a Ed como iriam acontecer estas mortes. «Convulsões da Terra», disse ele, «quase como se a terra nos vomitasse ou cuspisse de si... Ver-se-ão livres de uma parte de nós». Entretanto, o ser continuou a dizer a Ed que ele tinha «muito a fazer» e que tinha de «ouvir a música da natureza, os delicados sons da natureza. A música terá sentido para ti e trará às tuas emoções, intuições e palpites uma rara harmonia. Tu tens um dom para os palpites, as intuições e as emoções.» Ed, imbuído da doutrina hierárquica da igreja católica romana em que foi educado e segundo a qual «Deus fala com o Papa, o Papa fala com os padres, que, depois, falam com o meu pai e a minha mãe», reagiu cinicamente: «Claro, o melhor é abrir um consultório de bruxaria, pôr um turbante na cabeça e cobrar dez dólares por consulta». Porém, o ser insistiu, ignorando o 72 SEQUESTRO seu sarcasmo e dizendo-lhe que tinha deveres para com os dons com que tinha nascido. Neste momento, Ed recorda-se de ter, realmente, visto os espíritos, sob a forma de «pequenas criaturas alegres e brincalhonas, que andavam por ali, saltando de um lado para o outro». Pedi-lhe que os descrevesse «São como formas de energia... de diversos tipos diferentes. Há muitas formas e cores» (neste ponto, Ed riu-se). Achava «hilariantes» as «contorsões» e «coisas divertidas» que eles eram capazes de fazer. Pedi-lhe que me desse um exemplo. Eles podem «voar», disse ele, e «alterar as leis da natureza», com o que parecia querer significar que podem mudar de forma. Um dos espíritos «está a falar comigo». Tinha cabelos longos e prateados e uma cabeça demasiado grande e media apenas 30cm ou 40cm, como um «microanão». O espírito disse.»Bem, sabes, eu assumi esta forma para que pudesses ver-me e falar-me. Mas se não quiser, não tenho que ter esta forma e posso transformar-me de múltiplas formas... Assumi esta forma mais ou menos engraçada, para que te sintas divertido e à vontade junto de mim, porque eu conheço certo tipo de criaturas das quais tens medo, como as aranhas e, em especial, as cobras. Por isso, apresentei-me assim!» Em seguida, Ed compreendeu que, de certa forma, também ele e os outros seres humanos «tinham poder para alterar as leis da natureza, desde que tenham acesso a certas partes do seu ser», o que o assustou. Perguntei-lhe de que é que tinha medo. «Oh, meu Deus, se eu estrago tudo e uso este poder no momento errado...» «Tens razão, Ed, tens razão», disse-lhe o ser feminino. E ele continuou a repetir as suas palavras. «Tens de aprender como, quando e onde utilizar este poder, de outra forma mandar-te-ão embora, vão internar-te! Dão-te um nome e internam-te, internam-te, internam-te. E dirão aos teus pais que o pobre Ed era muito promissor, mas aconteceu qualquer coisa, que pena». «E ela repetiu estas palavras, de forma a metê-las na minha cabeça». O ser falou-lhe ainda do modo de cultivar a sua mente, avisando-o, por exemplo, do perigo que podia representar para os seus poderes intuitivos o estudo da ciência na sua forma académica ortodoxa. «O processo tradicional e racional de educação da mente obliterará estas outras coisas, cujas infinitas possibilidades vislumbraste», disse ela. Pedi a Ed que me dissesse mais acerca do que lhe tinha sido dito ou mostrado relativamente a estas possibilidades. Ele falou de ter visto

LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 73 «como são feitas as leis do universo» e «qualquer coisa acerca do momento em que o universo é criado». Mais uma vez ela o avisou sobre o mau uso da sua compreensão. «Vês agora a emboscada do planeta», disse ela. Neste momento da sessão, Ed sentiu-se «impedido de ver» mais. Perguntei-lhe o que tinha visto da criação do universo. Ed: Uma luz branca, incrivelmente ofuscante e ardente. JM: Ela mostrou-lhe isso? Ed: Sim. JM: Como foi para si? Ed: Quase demasiado. Mas foi como... merda! Há um certo acorde ou passagem na Décima Sinfonia de Mahier, que é assim como uma abertura, e já está. É como o nascimento de uma galáxia. E mesmo, é mesmo... é mesmo isso. «Mas», disse ela, «não quero que vejas demais. Tens de saber. Tens de ser sensato sobre como, onde e quando falas sobre isto. Existem aqueles que poderiam utilizar a tua mente com objectivos insensatos». Guiei-o novamente para os vislumbres que tivera da angústia dos espíritos. Além da «inocente brincadeira com a natureza, a forma como deveríamos ser», Ed lembra-se de ter visto «entidades de formas distorcidas, espíritos que estão agora aqui, porque o homem tem causado tanto mal e tanta dor, a si mesmo, aos outros e à Mãe Natureza». Foram-lhe mostradas «formas grotescas... Horrorosas. Há formas escuras, cinzentas e malignas que eles estão a tentar curar e equilibrar. Foi preciso um grande esforço (da parte dos espíritos sãos), para impedir estas formas malignas de crescer, em tamanho e em maldade». A entidade feminina continuou: «Vocês estão a distorcer, a criar uma grande maldade, a tentar... Nós estamos a tentar controlá-los e levá-los outra vez a brincar. Já viste como são deformados e malignos, Ed. São massas horrendas, cinzentas e distorcidas. Já viste como estas formas de energia são tão simpáticas e alegres, parecem tão saudáveis e, depois, temos estas outras aqui». Ed falou ainda das informações que recebeu sobre as consequências de estarmos «a pilhar o planeta». As formas malignas, destrutivas, foram criadas pelo desequilíbrio da «mente humana colectiva... entes escuros e cinzentos que apenas chegam, engolem e destroem tudo. Ficam frenéticos e varrem tudo no seu caminho, tudo que esti-

74 SEQUESTRO ver ao seu alcance». Perguntei-lhe se lhe tinham dito qual seria o resultado final. «Eles continuarão o seu caminho», disse ele, «até conseguirem eliminar toda esta energia negativa e regressar ao estado normal de felicidade. Têm de os eliminar do seu sistema, tal como se retira o pus de uma ferida. Enquanto o pus não for totalmente retirado, não se curará». Perguntei-lhe o que seria necessário fazer, o que lhe disseram que deveria fazer. Ele respondeu de modo pessoal, em termos do que lhe fora dito sobre a sua própria sobrevivência, em face das futuras «mudanças cataclísmicas da terra». «Ela diz-me, mostra-me, que tenho dentro de mim os instrumentos necessários à minha sobrevivência. Tenho mais esta dimensão. Posso optar por escutá-la ou não... Devo escutar a minha alma interior e profunda e escutar a terra.» Ed compreendeu que a sua companheira, Lynn, sabia intuitivamente o que o ser lhe dissera e «isso não a perturba nada».

Perguntei-lhe se a mulher da bolha sabia que, um dia, Lynn apareceria na vida dele. «Ela sabia», disse ele. «deu-me a sensação de que um dia uma certa coisa não falada iria acontecer,» e que a sua tarefa, e de Lynn, seria «ensinar os outros seres humanos que poderiam ouvir... Há aqueles que vão ouvir antes de alguma coisa acontecer e que se prepararão». Perguntei-lhe se lhe tinham sido dadas algumas informações sobre se ainda era possível evitar o cataclismo. «Não, não, não», disse ele, «não há suficientes. Só muito poucos escutarão, mas aqueles que escutarem e puderem trabalhar de acordo com as leis da natureza sobreviverão, para ensinar outros, do outro lado, que então escutarão e dirão: 'Oh, caramba, fomos tramados naquela altura!'» Expressei as minhas dúvidas quanto ao que ele queria dizer quando falava em «cataclismo» — seria no sentido literal, físico ou num sentido metafórico? Ele respondeu que haveria «uma série de convulsões geológicas e metereológicas». Achando tudo isto bastante deprimente, perguntei-lhe como é que estas informações sobre os espíritos poderiam ajudá-lo, a ele e a outras pessoas, a sobreviver. Sem hesitação, ele respondeu que «os espíritos da terra criarão paraísos seguros» para os sobreviventes. Perguntei-lhe qual seria a utilidade, uma vez que tudo ia ser destruído. Ele disse que se tratava mais de uma reconstituição, e não apenas de destruição, um reequilíbrio, e repetiu que «os humanos têm de aprender a trabalhar neste planeta de acordo com as leis da natureza e a não pilharem a terra», a utilizar LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 75 as «matérias-primas» da «forma que devem ser utilizadas». Então, «a terra equilibrar-se-á por si mesma». Continuei confuso acerca da literalidade de tudo isto e das várias distinções possíveis entre catástrofe física e espiritual. Ed teve alguma dificuldade em entender a minha confusão e disse: — Uma pessoa tem de se equilibrar espiritualmente a si mesma. Para ouvir estas mensagens, tenho de me equilibrar a mim mesmo espiritualmente. Quando ouvir estas mensagens saberei, ao nível físico, onde deverei ir trabalhar, aqueles lugares da terra que serão ainda sagrados e acessíveis. Neste momento, estávamos ambos a ficar algo cansados e concordámos em terminar a sessão. Depois de o ter despertado da regressão, Ed observou que estas informações sempre tinham estado «diante dos seus olhos», tal como «numa página», mas que tinha «passado por cima delas... Ela sempre as teve ali para mim», mas «eu tinha medo de olhar para elas». Ed sentiu-se espantado com aquilo que me tinha dito e falou da responsabilidade que representava transmitir o seu «acesso a outra dimensão», o seu conhecimento e preocupação com o eminente colapso dos sistemas planetários, em termos susceptíveis de serem entendidos pela sociedade em geral. Vê-se a si próprio como um homem médio normal, mas possuidor de informações extraordinárias. — É como tentar ser simultaneamente o Super-Homem e o Clark Kent. Não é possível andar sempre por aí de capa e meias. Temos de ser uma espécie de Clark Kent. — E continuou: — O amor é a chave. Amor e compaixão pela terra ou pêlos seres da terra, sejam corpóreos ou incorpóreos. Não se trata, porém, do amor dos sentidos, mas sim de uma espécie de amor mais profundo. Tanto Ed como Lynn entendem perfeitamente a razão pela qual a entidade feminina «travou» as suas memórias e a possibilidade de

contar a sua experiência. «Se eu tivesse regressado e... começado a falar» sobre o seu conhecimento das leis da natureza poderia ter sido «levado para fabricar a bomba do milénio». Ainda está na dúvida sobre como poderá ser útil: — Quem é que vai dar ouvidos a um técnico discreto? Ed não sentiu este encontro e a recuperação das memórias com ele relacionadas como declaradamente perturbador: — Não sinto o que me aconteceu como uma experiência traumática, como sucede com as outras pessoas do grupo de encontro (ele 76 SEQUESTRO tinha frequentado o meu grupo de apoio a outros sequestrados algumas semanas antes), que foram usadas como cobaias. Pelo contrário, sentia como se «uma grande nuvem, um véu, tivesse sido retirado da minha consciência, que sempre lá tivesse estado». Depois, conversámos ambos sobre a forma de, como disse Lynn, «agir de modo responsável». Uma coisa em que concordámos foi na necessidade de Ed conversar com outros sujeitos de experiência, a fim de partilhar informações e estreitar as relações dentro da sua comunidade crescente. COMENTÁRIO Embora não seja invulgar que um sujeito de experiência se lembre de um único encontro principal, é curioso que o de Ed tenha ocorrido quando era ainda adolescente e que não tenha sido recordado durante quase trinta anos. As forças envolvidas na implantação, armazenamento e recuperação de informações permanecem como um dos mistérios centrais de todo o fenómeno dos sequestros. Como vimos, o sequestro de Ed quando era adolescente parece ter trabalhado subtilmente na sua mente ao longo de toda a sua vida, tornando-o de certo modo diferente, talvez mais intuitivo ou sintonizado com a natureza, do que os seus coetâneos. Contudo, continuamos sem saber qual a causa e qual o efeito, se não foi a sua própria receptividade natural que o predispôs para ser escolhido como sujeito de sequestro, o que quer que isso signifique. Também não compreendemos inteiramente porque é que muitas das memórias dessa anterior experiência regressaram subitamente. Contudo, parece que, enquanto homem amadurecido, ele está agora em melhor posição para aplicar os seus conhecimentos a qualquer forma de chamamento da terra, combinando as informações relacionadas com o sequestro com os seus dons psicológicos e com a sua capacidade profissional. Ainda não sabemos como é que ele e Lynn o farão. A doação forçada de esperma para um qualquer programa de reprodução inter-espécies, ainda mal compreendido, é característica dos sequestros masculinos. A mensagem sobre o desastre ecológico acompanhada de poderosas imagens apocalípticas também é vulgarmente transmitida pêlos alienígenas a sujeitos humanos. O que é de certo modo invulgar no caso de Ed é a quantidade de pormenores LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 77 que lhe foram transmitidos no decurso de um único sequestro e o facto de ele ter, originalmente, recebido estas informações no verão de 1961, dois meses antes do sequestro de Barney e Betty Hill, em Setembro desse mesmo ano. Grande parte daquilo que foi dito ou mostrado a Ed sobre o colapso dos sistemas de vida planetários e sobre a violação das leis da natureza pelo homem é bem conhecido, pelo menos no seio do movimento ambientalista. Um livro bem

documentado, como Beyond the Limits ofGrowth (Meadows 1992) de Donella Meadow, evidencia claramente as consequências, se não as causas, da contínua destruição do ambiente da terra. O que se torna particularmente interessante é o poder dessas informações para uma pessoa como Ed. A sua aprendizagem não foi puramente intelectual. As realidades que lhe foram transmitidas pelo alienígena feminino, acerca do desastre ecológico e espiritual iminente como consequência da desarmonia entre o homem e a natureza, foram profundamente sentidas em todo o seu ser. Como ele próprio disse, todo o seu ser, «toda a sua percepção», foi alterado pelo encontro. Não é muito claro o grau de literalidade com que devemos encarar as visões apocalípticas de Ed. Têm a qualidade de tradições proféticas, o aviso de um desastre e a necessidade de uma mudança radical. Claro que não sabemos se se trata de uma previsão concreta ou de um apelo à acção e à mudança. O facto é que Ed tomou estas informações de forma suficientemente séria para alterar a sua vida e dedicá-la a comunicar a outros, que o queiram ouvir, o que aprendeu. Os encontros directos de Ed, durante o sequestro, com espíritos que mudam de forma, mas que têm uma forma, é interessante, por representar a concretização de forças emocionais negativas, sob a forma de espíritos demoníacos ou malignos. A visão ocidental do mundo não tem lugar para tais criaturas, tendendo a encará-las como produtos da fantasia ou projecções da mente, embora a crença na sua existência seja perfilhada por diversas outras culturas em todo o mundo. Por exemplo, numa reunião realizada na índia, em Abril de 1992, na qual participei juntamente com um pequeno grupo de profissionais, que foram convidados para discutir os fenómenos de sequestro com líderes tibetanos, os lamas viam os seres alienígenas como espíritos, que haviam sido perturbados pela invasão e destruição do ambiente da terra, onde eles também habitam. Um médico tibetano explicou-me que, em consequência da nossa ignorância, materialismo e agressividade, manifestados na profanação do pla78 SEQUESTRO neta, estes espíritos tinham ficado aborrecidos e irritados e estavam a causar «perturbações negativas». Uma figura espiritual, líder entre os tibetanos, também encara os alienígenas como espíritos, que ficaram tão pertubados quando o Homem destruiu os reinos que habitavam, que foram obrigados a vir para o meio de nós, em busca da nossa compaixão e transformação. Finalmente, é necessário ainda dizer uma palavra sobre o uso da hipnose no caso de Ed. Antes do meu primeiro encontro com ele, Ed tinha-se recordado de muito do seu sequestro de adolescente. Mas a sua memória consciente anterior à regressão tendia a simplificar a experiência e, ainda mais significativo, a dourar a narrativa de forma mais conforme com a auto-imagem e os desejos de um adolescente, do que aquela que recordou penosamente durante a nossa sessão de hipnose. Muitos dos pormenores mais embaraçosos, relativos à impotência e à perda de controlo, só foram lembrados sob hipnose. Em especial, o feliz episódio das agradáveis relações sexuais mantidas com uma fêmea alienígena, cooperante e sexualmente activa, deu lugar à retirada, forçada e bastante humilhante, de uma amostra de esperma, enquanto o ser assistia aprovadoramente. Este segundo cenário, obviamente mais perturbador, é muito mais típico das experiências masculinas de sequestro e, portanto, mais credível. Tudo isto sugere que, pelo menos no caso de Ed, as informações

penosamente recordadas sob hipnose são mais fiáveis do que a história contada conscientemente, que parece ter sido inconscientemente retocada para se adaptar aos desejos e à auto-estima de Ed. Há ainda outros pormenores obtidos durante a sessão de hipnose, relacionados com o transporte para a nave, o número de alienígenas (o líder feminino e os seus assistentes, em vez de uma única «mulher» alienígena), as duas salas (a sala semelhante a uma sala de operações e o quarto em forma de bolsa) em vez de uma bolsa só, e a grande quantidade de informações transmitidas pela fêmea alienígena, que tornam a história obtida durante a regressão mais credível, ou pelo menos mais coerente, com outras histórias de sequestros. CAPÍTULO QUATRO «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» Sheila N. era uma assistente social de quarenta e quatro anos quando foi encorajada a contactar-me no Verão de 1992 por um psiquiatra do hospital onde estivera internada pouco tempo antes. Procurava compreensão e alívio da tensão causada por aquilo a que chamava «sonhos eléctricos», que tinham começado há mais de oito anos, a seguir à morte da sua mãe. O psiquiatra que assistira Sheila durante sete anos encorajou-a a consultar-me, mas foi o conhecimento e interesse que o psiquiatra do hospital tinha no meu trabalho que nos aproximou. O caso de Sheila ilustra alguns dos problemas que os psiquiatras e outros profissionais da saúde mental enfrentam ao trabalhar com sequestrados. Sheila era muito ligada à mãe e, por isso, a sua morte e os acontecimentos que rodearam os sete dias de hospitalização que a precederam, em Janeiro de 1984, foram profundamente perturbadores para ela. A mãe de Sheila tivera um ataque de coração cinco anos antes e, em 1984, foi hospitalizada para ser submetida a uma arterioctomia, uma operação cirúrgica destinada a limpar o fluxo de sangue arterial para as coronárias. De início, tudo correu bem, mas depois sobreveio uma hemorragia cerebral, que levou à sua morte alguns dias mais tarde. Sheila não conseguiu compreender qual a relação entre a operação cirúgica e as suas implicações fatais e sentia que os médicos tinham sido rudes e pouco cuidadosos com a mãe. Sentia também que a vida da mãe fora artificialmente mantida por tempo desnecessário, depois de já não haver esperanças e que, deste modo, lhe tinham roubado a dignidade. Este tratamento insensível era especial80 SEQUESTRO mente perturbador para Sheila devido à história de incesto entre a sua mãe e o seu avô. Segundo Sheila, a mãe tinha sido «roubada da sua dignidade na infância pelas exigências sexuais do pai». Sheila também estava zangada e triste porque, três dias após o enterro, a campa da mãe ainda se encontrava aberta, com a tampa do caixão à vista e apenas coberta de terra. Depois da morte da mãe, deu-se um afastamento entre Sheila e o marido, que ela considerava incapaz de a consolar no seu desgosto. — O Jim não sabe lidar com a doença. Ele tem de ser feliz — disse ela. Nos dias que se seguiram ao funeral da mãe, Sheila sofreu muito. Andava pelas ruas à noite, sentindo-se muito irritável, como se «nada pudesse doer tanto», mas incapaz de chorar. No dia 9 de Fevereiro, quatro semanas depois da operação da mãe, Sheila escre-

via no seu diário que havia muita actividade nos céus à noite: «há mais aviões do que carros». Também começou a ter sonhos que se repetiam e nos quais se sentia aterrorizada, incapaz de se mover, e o seu corpo vibrava, como se estivesse «cheio de electricidade». Ao princípio, chamava-lhes «sonhos espirituais» e faziam-na sentir-se como se alguma coisa ou alguém controlasse o seu corpo, como se estivesse «possuída» por demónios. Mais tarde, passou a encarar os sonhos como sequestros. — Agora (mesmo antes de nos conhecermos), descrevo-os como se todo o meu corpo fosse atravessado por electricidade. Independentemente do nome, a experiência destes sonhos não mudou. Segundo Sheila, os sonhos vulgares são «mais fragmentados», enquanto nos sonhos em que via seres alienígenas parecia existir «uma progressão natural em determinada direcção.» Um dos sonhos, que Sheila pensa ter ocorrido em Março de 1984, cerca de dez semanas após a morte da mãe, foi diferente dos outros, relativamente a determinados pormenores de que se recorda. Antes do nosso primeiro encontro, Sheila escreveu-me acerca dele. Acordei com um grande ruído e luzes intermitentes. O ruído era um som extremamente agudo e permaneceu assim durante todo o tempo. Fui surpreendida pela precisão das luzes vermelhas intermitentes. As outras portas do quarto, bem como a porta da casa de banho, estavam abertas. Podia ver toda a extensão do corredor e «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 81 parecia que as luzes vinham das janelas, de todos os lados da casa ao mesmo tempo. Nesta altura, eu estava deitada de costas. Estava muito assustada. Finalmente, ergui-me sobre os cotovelos. Vi vários pequenos seres semelhantes a pessoas a caminharem no corredor, uns atrás dos outros. Parecia que todo o seu corpo era prateado. Reparei em alguma coisa azul no primeiro da linha, abaixo do ombro direito. Parecia ser o reflexo de qualquer coisa, embora no corredor não haja nada azul. Eram baixos, com braços e pernas delgados. À medida que se aproximavam do quarto, o terceiro ou quarto da fila ergueu a mão direita. Eu sabia que vinham ter comigo, mas nunca os tinha visto antes. Pareciam bambolear (mas mais tarde provou-se que isto era um efeito causado pela intermitência das luzes). Eram muito desajeitados ao andar (outro efeito das luzes). Em Outubro de 1984, nove meses depois da morte da mãe, o afastamento entre Sheila e o marido tinha atingido um ponto em que ela decidiu mudar-se para um quarto separado. «Tentei várias vezes discutir com o meu marido as razões da minha tristeza, mas ele nunca me ou viu.» Também sentia que não poderia contar-lhe os seus estranhos sonhos e mudou-se para outro quarto, em parte para o «proteger» e «permitir que ele dormisse». Ele não protestou quando Sheila se mudou e, desde então, nunca mais dormiram no mesmo quarto. Pouco tempo depois, Sheila pediu ao pastor da Igreja Metodista que frequentava que lhe aconselhasse um psicoterapeuta, mas surgiram dificuldades quando este, contra a vontade dela, insistiu em discutir o seu caso com o pastor. Frustrada com a falta de progressos registados nas consultas semanais e sentindo-se incapaz de confiar no seu psicoterapeuta, o desespero de Sheila agravou-se. Em Julho de 1985, soube que, de acordo com a opinião dos

médicos, o pastor, em quem confiava, tinha uma esperança de vida que não ia além dos cinco anos, devido a um cancro diagnosticado quatro meses antes. Além da perda da mãe e da doença fatal do pastor, desde Novembro de 1983 Sheila tinha sofrido a perda de outros amigos íntimos e familiares. Recusando-se a aceder aos pedidos de Sheila, o terapeuta continuava a insistir em falar com o pastor e com o marido dela acerca do seu trabalho conjunto. Sentindo-se completamente só e desolada, em 17 de Julho de 1985, 82 SEQUESTRO Sheila comprou uma embalagem de aspirinas e ingeriu vinte comprimidos «com a intenção declarada de os tomar todos». À excepção de um desconforto físico generalizado e de um zumbido nos ouvidos, Sheila não sofreu quaisquer outros efeitos secundários. Pouco tempo antes de eu a ver pela primeira vez, Sheila escreveume: «O suicídio não é a minha forma habitual de enfrentar as situações» e «quero garantir-lhe que não tenho intenção de desistir em nenhuma circunstância». Imediatamente a seguir a este episódio, Sheila começou a consultar um psiquiatra, o Dr. William Waterman. Embora parecesse ter resolvido o seu desgosto pela morte da mãe, Sheila continuava a sentir-se incapaz de entender ou obter alívio quanto aos sonhos eléctricos, que continuavam a atormentá-la. Um deles, particularmente perturbador, ocorreu na Noite de Ano Novo de 1989. Estivera a dormir no andar de baixo, enquanto a filha, Beverly, e Jim dormiam lá em cima, nos respectivos quartos. Tal como em 1984, ouviu um grande ruído e sentou-se na cama sentindo o corpo «cheio de electricidade... Alguma coisa me obrigou a deitar de novo,» mas não se lembra de ter visto novamente os pequenos seres semelhantes a pessoas. Seis meses depois do episódio da Noite de Ano Novo, Sheila escreveu ao Dr. Waterman: «Antes de l de Janeiro de 1990, pensava que todas «aquelas coisas» que entravam no meu quarto eram apenas símbolos de um sonho. Desde então, acabei por reconhecer que a hostilidade e a agressividade que experimentei estão relacionadas com os repetidos 'sonhos espirituais'. No meu sonho, 'aquelas coisas' não estavam a brincar, e eu também não.» Um artigo que Sheila encontrou no jornal local em 1985, e que mais tarde recuperou, falava do aparecimento de OVNI na cidade em que a sua mãe tinha sido enterrada. Como escreveu ao Dr. R., um dos médicos que consultou para fazer terapia por hipnose: «Este artigo levou-me a perguntar qual o envolvimento que a minha mãe poderia ter com tudo isto». Mais tarde, Sheila começaria ajuntar as peças, os aparecimentos com tudo o que tinha ouvido, lido ou visto sobre sequestros, e começou a perguntar-se se, na verdade, os seus sonhos eléctricos seriam realmente sonhos e se, na realidade, o seu persistente medo da noite estaria ainda relacionado com o desgosto pela morte da mãe. A 14 de Julho de 1990, Sheila escrevia ao Dr. Waterman: «Há muito tempo que lhe disse acreditar firmemente que «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 83 estes sonhos vão para além do sentimento de perda, mas simplesmente não tinha nada a acrescentar a isso». Determinada a «vencer o meu medo da noite a todo o custo» e desejando desesperadamente «acabar com estes sonhos», Sheila e o Dr. Waterman experimentaram outros métodos, especialmente for-

mas de recuperar memórias ocultas. Consideraram e rejeitaram a hipótese de uma entrevista com Amytal. Finalmente, e com relutância da parte de Sheila, no Verão de 1990, mediante recomendação do Dr. Waterman, contactou um psiquiatra do hospital-escola de Boston, o Dr. G., especialista no uso terapêutico da hipnose, a fim de explorar a origem dos seus sintomas e obter algum alívio para a sua ansiedade. Ele pediu a outro psiquiatra, o Dr. R., que tinha interesse em aprender mais sobre hipnose, para telefonar a Sheila. Um cuidadoso estudo sobre o caso de Sheila incluía, além da sua história, uma avaliação neuropsicológica de uma possível epilepsia do lobo temporal e um estudo completo de uma noite de sono. Na nota em que dirigia Sheila para a neurologia comportamental, o Dr. R. escreve que num dos sonhos de Sheila «ela está sentada na cama e vê várias pequenas figuras: a primeira encontra-se aos pés da cama e a segunda junto da porta. Caminham de forma desajeitada e têm a forma de pequenos corpos humanóides». Noutro sonho, continua ele, «estava deitada com um cobertor por cima e viu duas destas pequenas figuras sobre ela». O psicólogo que efectuou a avaliação neuropsicológica descreveu as perturbações de sono de Sheila, mas salientou que «nega outros sintomas normais de depressão». O psicólogo conjugou um incidente passado na escola secundária, em que Sheila sofreu um ferimento pouco grave no lado direito da cabeça, que originou náuseas e uma ligeira sensibilidade durante vários dias e alguma dificuldade de concentração durante os testes, «variabilidade do funcionamento da atenção» e «perturbação motora», e sugeriu «um possível diagnóstico de Perturbação Hiperactiva de Déficit da Atenção». Numa cópia deste relatório, que me enviou, Sheila escreveu ao lado destas palavras: «Nunca acreditarei que sofro disto». Reparando na tensão de Sheila durante o exame, junto com a sua história, os psicólogos consideraram igualmente a possibilidade de uma «doença da ansiedade» e de uma tensão pos-traumática «devida ao trauma da morte da mãe, aos pesadelos e à sua exagerada reacção de pânico». Porém, concluíram: «Os testes de inteligência revelaram 84 SEQUESTRO que Mrs. N. é uma mulher extremamente inteligente, com um nível acima da média.» O estudo completo de uma noite de sono revelou «nada de assinalável, excepto ansiedade e insónia». De acordo com os seus registos, entre Agosto de 1990 e Julho de 1992, Sheila teve vinte e quatro consultas com o Dr. R. e/ou o Dr. G., que incluíram pelo menos sete sessões de hipnose. As consultas tinham geralmente a duração de uma hora e as sessões de hipnose entre quinze e vinte e dois minutos. Numa carta que me escreveu, o Dr. G. falava da preocupação de Sheila, quando a viu pela primeira vez, pelo facto de o túmulo ter ficado aberto durante a noite e referiu que ela expressara a sua tristeza pela morte da mãe e outros aspectos da história aqui registada. No seu diário, Sheila escreveu que, em 1991, o Dr. G. lhe dissera que, embora a hipnose pudesse ser útil na «produção de novo material», não «garantia recordações exactas» e «pode ser um prolongamento de uma fantasia ou experiência pessoal». O tratamento centrava-se sobre o impacto sofrido com a operação, a morte e o funeral da mãe e em métodos cognitivos/comportamentais destinados a diminuir a angústia dos seus «sonhos», especialmente convencendo-a de que «não eram reais».

«Nunca me senti segura», disse Sheila deste processo de tratamento. Em Maio de 1992, Sheila aceitou uma receita de Klonopin, 5 mg, para combater a ansiedade, e em Junho, outra de um antidepressivo, Wellbutin, 100 mg, para tomar ao deitar. Continuou a tomar ambos os medicamentos até ao princípio de Agosto. No entender de Sheila, o Dr. G. continuou a ligar os seus sonhos à depressão. Na carta que me dirigiu, o Dr. G. sublinhou que a hipnose pode não revelar memórias exactas e escreveu também que «é difícil saber se ela está sujeita a ilusões ou tem convicções religiosas profundas». Disse que a minha prontidão em aceitar o que pessoas como Sheila dizem vai «muito para além da neutralidade» e comentou que, apesar da minha gentileza, simpatia e apoio para com Sheila poderem ter conduzido a uma melhoria terapêutica, isso «não confirma necessariamente as teorias em torno dos OVNI e dos sequestros». Discuti todos estes assuntos com o Dr. G., que concordou generosamente em marcar uma série de Sessões Plenárias no seu hospital, para continuar a discuti-los num ambiente médico académico. Durante as Sessões, muito frequentadas, foram discutidos os temas suscitados pelo caso de Sheila. O Dr. G., com base nas suas «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 85 pesquisas relativas a outro tipo de casos, duvidou novamente de que a hipnose pudesse conferir credibilidade aos relatos dos sequestros de Sheila. As complexas questões que se colocam em torno da memória e da hipnose nos casos de sequestro são comentadas nas páginas 24 e 25. Sheila disse a Júlia, outra sequestrada com quem conversou longamente antes de eu ter oportunidade de a ver, que, sob hipnose, via «um esqueleto sem nariz e sem boca», «um ferro torcido» com uma pega e um bico rotativo «como uma perfuradora», um rectângulo de 30cm x 45cm, cor de pão torrado, com cortes horizontais, que lhe provocava um verdadeiro pânico, e também se recordava de os seus braços serem esticados e amarrados com um tubo de borracha. Em notas que me enviou no princípio de Janeiro de 1993, Sheila escrevia: «Não falei destes acontecimentos ao Dr. G. no momento próprio, porque tive medo que ele os rejeitasse, deixando-me só com o que estava a acontecer. No entanto, falei-lhe do assunto em geral, bastante tempo depois do facto. Ele perguntou-me como é que eu reagira na altura. Disse-lhe que os tinha imediatamente substituído por uma imagem de um maravilhoso jardim de flores cheio de beija-flores. Ele elogiou a minha atitude e eu tomei este elogio como um encorajamento para esquecer o medo». Num determinado momento, no decurso da avaliação e tratamento, quando Sheila lhe mostrou o artigo sobre o aparecimento de OVNI em 1985, o Dr. G. respondeu-lhe, segundo ela me contou: «Pessoalmente, não acredito em OVNI». Em duas ocasiões em que estavam sós, mais uma vez segundo Sheila, o Dr. R. perguntou-lhe: «Você não acredita realmente em marcianos, pois não?» Sheila afirma nunca ter usado a palavra «marcianos». Achou estes comentários «condescendentes» e afirma que minaram a sua confiança nele (O Dr. G. e o Dr. R. negam ter feito estas afirmações). Sheila escreveu-me contando como tinha sido difícil para ela desafiar um «profissional», com aquilo que ela julgava serem erros. «Eu precisava tanto de ajuda que estava sempre com medo de a perder», escreveu ela, «mesmo quando sabia que não estava realmente a ser ajudada». A 31 de Julho de 1992, escreveu a ambos os psiquiatras,

dando por terminado o seu tratamento com eles. Diz que teria preferido falar pessoalmente com cada um deles, mas «tínhamos dificuldades nas marcações desde que eu tinha começado a trabalhar a tempo inteiro». Ambas as cartas, das quais me deu cópias, são elogiosas, 86 SEQUESTRO corteses e francas. Ao Dr. G. falava de «momentos em que senti uma falta de compreensão e de aceitação... Com o tempo», afirmava ela, «acabei por concluir que existe uma relação entre o sonho único e aqueles que se repetem. Eu desejava desesperadamente acreditar que não era assim. Isto simplesmente não faz sentido no mundo tal como eu o conheço. Sinto que uma compreensão clara desta relação é a única maneira possível de eu me libertar de tudo isto». Sheila reparou também num paradoxo em relação ao sonho de Março de 1984 e perguntou: «Porque é que eu adormeci quando todos os outros sonhos aterrorizadores me despertam? Porque é que o cenário deste sonho era o meu próprio quarto, se era precisamente aí que me encontrava?» E, finalmente, a questão fundamental: «Foi uma experiência real e, se foi, o que aconteceu que me é tão doloroso recordar?» Na sua carta ao Dr. R., Sheila agradece-lhe o sentimento de segurança que a sua presença lhe transmitia durante as sessões de hipnose e, em seguida, vai ainda mais além do que na carta ao Dr. G., ao falar da sensação de realidade que tinha acerca da presença dos seres no seu quarto no episódio de 1984 e do padrão aparentemente intencional do seu posicionamento no quarto. Também ela ecoava a experiência de tantos sequestrados, ao escrever: «Que pensamento terrível e assustador o de que não podemos proteger a nossa própria filha (referindo-se à suspeita de que Beverly também tinha tido experiências de sequestro) na privacidade do nosso próprio lar». E, ao despedir-se, Sheila concluía: «Penso que o nosso trabalho em conjunto acabou realmente no dia em que o Dr. G. disse: 'Pessoalmente eu não acredito...' Eu sei o que vi e só posso dizer que esta experiência mudou a minha vida... uma das primeiras perguntas que o Dr. G. me fez», continuou ela, «foi se eu tinha uma imaginação criativa. Levei oito anos para chegar aqui, portanto, acho que a minha resposta é 'NÃO'... Eu vou compreender isto», terminava, «ou morrerei tentando». Ao responder, cuidadosamente, à carta de Sheila, o Dr. G. desejava as melhoras e aconselhava-a a esquecer os seus sonhos mais perturbadores e a tomar um tranquilizante fraco, a fim de obter «algum repouso» da sua angústia. Pouco depois de ter escrito estas cartas, Sheila falou com o psiquiatra e amigo, Dr. T, que a encorajou a contactar-me. Em Maio, tinha gravado a mini-série da CBS sobre sequestros, Intruders (Intrusos). Embora ela própria não tivesse sido capaz de a ver, trouxe consigo a fita para o encontro com o Dr. T., que supostamente seria «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 87 sobre um projecto que era uma extensão da sua tese de mestrado. Pondo de parte a discussão planeada, Sheila declarou que tinha outro assunto a discutir, nomeadamente, ligar, possivelmente escrevendo um livro, as suas experiências respeitantes ao sequestro com profissionais de saúde mental à questão da satisfação do paciente. Contou ao Dr. T. as suas experiências e a sua luta para obter ajuda sobre como lidar com elas e deu-lhe a gravação da mini-série, que ele muito apreciou. Sobre a experiência de Março de 1984, disse-lhe que havia a possibilidade «de não ter sido um sonho». A 12 de

Agosto, Sheila e o Dr. T. encontraram-se novamente e, nessa altura, eleja tunha feito a comparação entre a história de Sheila e os casos relatados em The Intruders. Disse a Sheila: — Escrever o livro é um dos caminhos; e este é outro — e deu-lhe o meu nome e número de telefone. No dia seguinte, ela telefonou para o meu consultório. Não pude ver Sheila durante várias semanas e pedi a Julia para falar com ela. Encontraram-se a 27 de Agosto e Sheila achou a conversa muito reconfortante; ajudou-a a confirmar a possibilidade de existir uma relação entre os sonhos eléctricos e a experiência de Março de 1984. Sheila disse que, na noite anterior ao seu encontro, Beverly contara que tinha acordado às cinco horas da manhã «terrivelmente assustada», com uma inexplicável luz verde a brilhar no quarto através das persianas de uma grande janela, criando um efeito intermitente e iluminando a parede oposta à cama. O encontro com Júlia foi a primeira vez que Sheila sentiu que alguém a tinha ouvido e compreendido. No dia l de Setembro, Júlia disse-me que Sheila lhe tinha telefonado para lhe dizer que, na noite anterior, tinha tido outro sonho eléctrico, no qual ela tinha sido paralisada, com grande dor, através de uma agulha inserida na anca até ao osso. Sentia-se terrivelmente assustada e desesperada e eu concordei em encontrar-me com ela, assim que as minhas marcações o permitissem. Alguns dias mais tarde, falámos longamente ao telefone e o nosso primeiro encontro — uma sessão de quatro horas, que incluiu uma revisão da história de Sheila e uma longa sessão de hipnose — foi marcado para 21 de Setembro. Sheila cresceu numa pequena cidade a oeste de Boston. É a filha do meio entre cinco irmãos. «A minha família de origem é fechada», escreveu-me Sheila numa das suas cartas. O pai era piloto das linhas 88 SEQUESTRO aéreas comerciais e, quando Sheila era pequena, estava muito tempo ausente. Embora reformado, ainda viaja muito, agora especialmente entre o Maine e a Florida. Não admite ter alguma vez visto um OVNI, disse Sheila, «e também não acredita neles». «Quando éramos jovens, a minha mãe nunca perdia uma oportunidade de nos ensinar as regras de etiqueta», escreveu-me Sheila, depois de ter revisto o primeiro rascunho do meu resumo do seu caso. «Era uma verdadeira senhora e sempre se esforçou por nos dar bons exemplos». Na opinião de Sheila, a mãe «protegeu-nos muito», quando as crianças estavam a crescer, o que pode estar relacionado com o caso do incesto. Em pequena, Sheila frequentava a igreja presbiteriana, depois a igreja congregacionista e, na escola secundária, começou a ir com os amigos à igreja metodista, onde conheceu o pastor que seria o primeiro a aconselhar-lhe ajuda psiquiátrica após a morte da mãe. Em criança, frequentou a escola dominical e a Bíblia tornou-se importante para ela. Hoje, Beverly frequenta uma escola cristã. Sheila sempre encarou Deus como uma «fonte de energia», mas as experiências de sequestro ou, mais precisamente, a forma como essas experiências complicaram o desgosto após a morte da mãe, desafiaram a sua fé. Segundo a Bíblia, disse-me Sheila pouco depois da primeira regressão, «amarás a Deus mais do que a teus pais. Eu estava zangada comigo mesma, porque não era isso que eu sentia». Na infância e na adolescência, Sheila gostava de música e de

desportos e tinha uma vida social activa. «Gosto de estar com as pessoas», disse ela. Conheceu o marido, Jim, que é agora professor, quando era ainda aluna do segundo ano da escola secundária e ele já estava na faculdade. Depois da faculdade, Jim alistou-se no Exército por três anos e encorajou Sheila a sair com outros homens, o que ela fez, mas «o meu coração não estava lá». Perseguiu Jim activamente, escrevendo-lhe todos os dias, enquanto ele estava na tropa. «Ele tentou passar-me para o irmão», mas «eu continuei ali». Bastante depreciativamente, afirma que quando Jim saiu da tropa «todos os seus amigos da escola secundária e da faculdade estavam espalhados por aí e eu era a única que ficara». Casaram-se em 1970 e Beverly nasceu em 1975. Sheila afirma que tinham um bom casamento, até à morte da mãe e ao começo dos sonhos eléctricos. Sheila frequentou a faculdade e a escola de assistência social no Massachusetts, obtendo o seu primeiro diploma em 1980. Com persistência caracte«PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 89 rística, quando as circunstâncias o permitiram, voltou à escola, obtendo a licenciatura em 1991. Na altura do nosso primeiro encontro, estava a trabalhar na unidade psiquiátrica de adultos num hospital geral a oeste de Boston. A primeira recordação que Sheila tem de experiências eventualmente relacionadas com o fenómeno dos sequestros é um incidente ocorrido quando tinha menos de seis anos. Durante a noite, ela e o irmão viram qualquer coisa, a que chamaram o «Desajeitado». Mais tarde, Sheila escreveu-me que «o 'Desajeitado' tinha sem dúvida a mesma aparência dos seres que entraram no meu quarto» (em 1984). Outro incidente ocorreu entre os seis e os oito anos. «Vi alguém a sair do armário» do quarto, disse ela. Sheila gritou e os pais acorreram, revistaram o quarto e tranquilizaram-na dizendo que ela tinha tido um pesadelo, mas «acho que eu tinha as minhas dúvidas... senti que era real». O ser era bastante alto e parecia uma sombra. Caminhou na direcção da janela e desapareceu. Até hoje, Sheila mantém sempre a porta do armário fechada. Mesmo antes da nossa primeira regressão, já associara este ser às entidades que viu no seu quarto em 1984. «Era o mesmo que entrar no quarto há oito anos». Nos primeiros anos da adolescência, Sheila seguia num carro com a mãe e um ou dois dos seus irmãos, enquanto o pai e as outras crianças seguiam num segundo carro (com cinco crianças, levavam sempre dois carros), numa visita aos seus avós paternos. Todos os que iam no mesmo carro que Sheila viram uma luz brilhante, parecida com um relâmpago, mas direita, um pouco acima e paralela ao horizonte. «Foi apenas uma daquelas coisas inexplicáveis». Antes de começar a terapia em Novembro de 1984, Sheila contou a sua experiência de Março de 1984 à sua irmã Melissa. Melissa levou-a a sério, abraçou Sheila, pediu pormenores e contou-lhe as suas próprias experiências do mesmo género. Porém, até 1989, Sheila continuava a recusar a possibilidade de que pudessem ser reais. Como ela salientou: «Não me espanta nada que aqueles que não passaram pela experiência tenham tanta dificuldade em acreditar». O que Melissa contou a Sheila foi um incidente ocorrido quando ela tinha sete ou oito anos e Sheila treze ou catorze. Melissa viu «qualquer coisa enorme e prateada no céu», que a perturbou de tal modo que começou a tremer e a chorar. Quando contou ao pai, ele resolveu o assunto dizendo: «É apenas um dirigível. Não te preocupes». Depois de adulta, Melissa continuou a sentir-se perturbada por

90 SEQUESTRO esta recordação e procurou um hipnoterapeuta, mas sempre que estava quase a reviver a experiência, começava de novo a tremer e a gritar. Melissa, de quem Sheila se sente muito próxima («ela é maravilhosa»), disse à irmã que, sob hipnose, conseguiu distinguir reflexos de outras cores associadas ao objecto, azul numa ocasião e «rosa-alaranjado» noutra, mas devido ao seu terror a hipnose não deu grandes resultados. Quando Melissa tinha vinte e poucos anos, viu uma bola de luz entrar pelo seu apartamento, «saltar pelo quarto», ir pelo corredor, para outro quarto e «atravessar uma parede». Estava com um amigo e ambos ignoraram o fenómeno, até que Melissa disse: «Espera aí, as cortinas estão fechadas. Não é a luz de um carro a descer a rua». Conforme Sheila contou: «Seguiram a luz pelo quarto, até ela sair por onde entrara». Quando Sheila contou a uma prima de seu pai que vinha consultar-me, a prima disse-lhe que, uma vez, vira um OVNI no pátio do vizinho e que Laura, a irmã mais velha de Sheila, tinha tido uma experiência «com um grande ruído e luzes vermelhas» muito parecida com a de Sheila. Mas Sheila e Laura são muito diferentes e Laura nunca lhe contou este incidente. O aparente envolvimento da filha de Sheila, Beverly, nos fenómenos de sequestro é um importante componente da determinação de Sheila em explorar as suas experiências. Tal como muitos sequestrados que têm filhos, Sheila está profundamente preocupada com o facto de não poder proteger a filha. Quando Beverly tinha apenas catorze ou quinze meses e ainda dormia no berço, Sheila lembra-se de acordar a meio da noite e descer as escadas no escuro, o que era muito pouco habitual nela. Viu «qualquer coisa branca atravessada na escada» e perguntou-se o que poderia ter deixado ali. Quando acendeu a luz, viu que era Beverly, a dormir profundamente, vestindo o pijama, sem nenhum cobertor. Quando Beverly tinha cerca de oito anos, Sheila levou-a ao pediatra por causa de uma possível infecção nos ouvidos. O médico retirou um objecto, mais ou menos do tamanho de uma borracha de lápis, «cheio de porcaria» e deitou-o fora. Beverly insistiu, chorando, que não colocara qualquer objecto no ouvido, mas, no entanto, disse Sheila que, desde que se lembra, tapa sempre este ouvido com o lençol e o cobertor para não ficar exposto. Como é característico das crianças sequestradas, quando era pequena, Beverly sangrava do nariz frequente e inexplicavelmente. «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 91 Encontrei-me com Sheila a 21 de Setembro, 12 de Outubro e 23 de Novembro, para regressões hipnóticas. O dr. Waterman esteve presente na segunda e terceira sessões. Como ainda não a tinha visto, uma parte da nossa primeira consulta foi dedicada a esclarecer pormenores sobre a família de Sheila, a sua história pessoal e as experiências pelas quais ela e a família tinham passado e que poderiam estar relacionadas com sequestros. Inicialmente, parecia ser uma mulher bastante tímida, ansiosa e de voz suave, claramente determinada a enfrentar todas as provações para se encontrar comigo. A sua ansiedade, como descobri mais tarde, era aumentada pêlos elementos perturbadores das suas anteriores experiências com médicos. A

sua preocupação com o controlo e o medo de o perder tornaram-se evidentes desde o início. Antes de iniciar a primeira regressão, cujo objectivo era a recuperação das memórias relacionadas com a experiência de Março de 1984, Sheila e eu revimos as suas memórias conscientes do episódio e eu pedi-lhe para esboçar o esquema dos quartos e a forma como se organizavam para dormir na sua casa. Mesmo antes do início da regressão, Sheila estava a falar-me da mudança da sua fé religiosa e dos sentimentos de solidão que experimentava. Nas sessões de hipnose, Sheila falou muito suavemente, enquanto os movimentos do seu corpo exprimiam uma intensa energia, que correspondia às «tremendas» pressões e outras forças que a dominavam. Antes da segunda sessão, pedi a Pam Kasey para tomar notas descrevendo esses movimentos e eu relatá-los-ei nesse aspecto. Sob hipnose, Sheila começou imediatamente a dizer, numa voz muito suave, que sentia medo «do barulho e das luzes». Fi-la regressar a um momento anterior dessa noite e pedi-lhe para descrever o processo de ir para a cama. Ela disse que tinha ido para a cama por volta das onze horas, depois do marido, e tentou sem sucesso que ele a abraçasse (nessa altura ainda dormiam na mesma cama). Pensa ter adormecido virada para o lado esquerdo, mas aquilo de que se lembra realmente a seguir é de estar acordada, de costas, e de ouvir um som muito alto e agudo — «não consigo gritar mais alto do que esse som» — e ver uma luz vermelha uniforme e intermitente «vinda de todas as janelas para todo o lado... Jim parecia morto», disse ela. «Tinha a boca aberta e as luzes davamlhe uma cor estranha». Nesta altura, Sheila ficou tão assustada, que tive de a tranquilizar e dizer-lhe que os seres não entrariam no 92 SEQUESTRO quarto em que nos encontrávamos. Mais tarde, ela escreveu-me: «A maior vantagem disto foi obter a certeza de que não estava só. Eu sabia que você estava lá». Sentindo-se confusa, Sheila levantou-se sobre os cotovelos e viu diversas «daquelas coisas» a caminharem pelo corredor. Um deles ergueu a mão, como para fazer sinal aos outros. Com a respiração ofegante, e encorajada por mim a respirar profundamente e a concentrar-se em si própria, Sheila descreveu três figuras com «braços e pernas delgados» que entraram em fila no seu quarto. Dois deles ficaram aos pés da cama e as luzes intermitentes e o ruído cessaram quando estes dois seres a fitaram, «apenas a olhar». Com um terror crescente, Sheila disse-me que se queria deitar novamente, para que os seres não a vissem, mas compreendeu que era inútil. «Eu sei que eles virão ter comigo. Sinto-o», disse ela. Dois dos seres vieram para junto dela e outro ficou a vigiar Jim. Ela olhou para os olhos deles e viu «poder», mas não conseguiu falar mais disso. Sheila compreendeu, então, que grande parte do seu terror provinha do facto de já ter visto antes os seres («Eu conheço-os»). O medo pareceu atingir um crescendo, enquanto o seu corpo estremecia em horríveis convulsões e as coxas rolavam, ora tensas, ora distendidas. Os seus olhos são «tão feios», disse ela e referiu que tinha medo de que os seres lhe tocassem. Agitando-se e voltando-se de um lado para o outro, Sheila viu uma luz branca mesmo por cima dela e sentiu que os braços eram mantidos aos lados. «Isto não é o meu quarto», anunciou ela e gemeu, «Quero ir para casa. Não sei como vim até aqui». Havia, agora, muitos seres «indo e

vindo. E difícil contá-los, porque estão por toda a parte.» Sentiu que tinha sido obrigada a «deitar-se» e disse que os seres «tiraram a minha energia...Há poder naqueles olhos», declarou ela. Qualquer coisa lhe tocou no abdómen e «eles não me largam os braços. Fazem sempre isso». A seguir, sentiu uma «pressão horrível» e a dor de «qualquer coisa quadrada» a penetrar no corpo através da parte inferior da parede abdominal. «O assustador é que não temos o controlo», diz ela. Com a minha ajuda, Sheila fez o possível para esquecer os seus modos senhoris e exprimir toda a raiva e humilhação que obviamente estava a sentir. Mas tudo o que conseguiu foi dizer que gostaria de dar pontapés aos seres, atá-los e «mandá-los para casa». Descreveu as suas «cabeças gordas», sem cabelos e «de formato estranho» e afirmou: «Eles não gostam de nós». «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 93 A coisa mais assustadora nestes seres são os olhos, disse Sheila. «São tão grandes... São diferentes». Cansada, dando risadinhas e tentando um trocadilho, Sheila disse: «Talvez eles venham de Deus, com grandes templos!» (l) Já no fim da regressão, pedi a Sheila para descrever o lugar onde se encontrava. «Não parece o meu quarto», disse ela. «Sinto que estou sobre uma mesa», que é «dura». Sente «calor no corpo», da «luta» e de «tentar fugir». Voltou a falar do «poder dos olhos», especialmente daquele a quem chama «'o chefe'... Ele controla com os olhos. Todos o respeitam». A experiência de «só os olhos dele e os meus» foi como uma «programação neurolinguística», acrescentou Sheila. Eles «tomam o controlo e depois já não temos energia para lutar». Antes de interromper, pedilhe para dar a sua opinião sobre a realidade daquilo por que tinha passado. «Eu sei que aconteceu», disse ela um pouco tristemente. Como parte da minha rotina de acompanhamento, falei com Sheila no dia seguinte. Ela sentia-se «confusa» e «vulnerável, agora», porque a experiência tinha parecido «tão real». Estava determinada a evitar estes «sonhos». Disse-lhe que não sabia como ajudá-la a fazer isso, mas que poderia auxiliá-la a aceitar as suas experiências. Ela concordou em «juntar-se a mim no mistério». O Dr. Waterman tinha ouvido uma das minhas conferências sobre sequestros e estava aberto à possibilidade de o caso de Sheila ser um exemplo deste fenómeno. Organizou os seus horários de forma a poder estar presente na nossa regressão seguinte. Antes de induzir o estado de hipnose, na presença do dr. Waterman, discuti com Sheila o modo como ela pensava que ele encarava as suas histórias do sequestro. «Penso que ele acha que pode ser verdade», disse ela. Em seguida, ele falou do seu fascínio e pouco conhecimento do fenómeno e relacionou a curiosidade que sentia com a sua própria formação metodista. Concordou com algo que eu dissera, do género «a sociedade tentou apagar (foi o termo que ele usou)» o «lado espiritual» das nossas vidas e afirmou que se sentia «apoiado por isto. Tem um importante significado pessoal». Quando chegou a segunda regressão, Sheila parecia mais autoconfiante. Apesar do medo, da recordação das emoções perturbadoras da primeira regressão e de um sentimento de «tremenda violação pessoal» quando «alguém pode entrar na nossa própria casa e invadir o nosso espaço», estava determinada, quase ansiosa, por continuar. «Já vivi demasiado tempo com isto», declarou. Mais 94

SEQUESTRO

tarde, Sheila escreveu-me, dizendo como a primeira regressão tinha quebrado o seu isolamento, validado a sua experiência e alimentado a sua força e determinação. Ao rever o que tinha acoontecido durante a primeira sessão, disse: «Não me interessa o que os outros possam pensar. Sei o que vi». Falou, com desapontamento, de um amigo em quem confiava e a quem tinha contado as suas experiências de sequestro. Mas o amigo «não acredita em mim», disse Sheila, e lamentou que «as pessoas tenham um universo distinto que conhecemos e não queiram trabalhar com nada que vá para além desses limites». Passámos em revista a primeira sessão, que ela recordava de modo bastante exacto, excepto que, agora, achava que o instrumento quadrado introduzido na sua parede abdominal era «rectangular», medindo aproximadamente 2,5 cm por 5 cm. Conscienciosa como habitualmente, Sheila assegurou-me que não tinha tido intenção de «mentir», mas estava tão desconcertada pela dor que não conseguia falar claramente. Pediu-me «uma direcção, um objectivo» e sugeri-lhe que explorássemos mais aprofundadamente o incidente de Março de 1984, recomeçando no ponto em que tínhamos ficado. Sheila descreveu novamente as luzes intensas, o ruído, o seu medo e confusão e como se sentira frustrada por não conseguir acordar o marido. Falou de seres a entrarem no quarto e virem para junto da sua cama e concentrou-se, mais uma vez, nos olhos do chefe. «Ele assusta-me», disse ela, mas «tenho de vê-lo melhor». Agora, os olhos pareciam pretos, e não castanhos, e olhar para eles fazia-a sentir que «há todo este negro à minha volta». Sentia que «não podia respirar», estava «manietada (sem poder mover-se)» e «coberta de matéria negra... sentia-me como se estivesse dentro de uma caixa preta». Teve a sensação de ter adormecido durante «dois segundos» e «a seguir, vi uma luz, só branca, no topo... é demasiado intensa». Depois, estava em cima da mesa, «sinto-me óptima» por um momento, antes de ficar muitíssimo assustada, quando lhe mostraram «agulhas... pêlos olhos». Os movimentos do corpo de Sheila e outros comportamentos, descritos por Pam Kasey nas suas notas, contam a história desta experiência revivida, muito mais poderosamente do que as palavras. Abria e fechava as mãos e esticava os braços. As pernas contraíam-se e as sobrancelhas franziam-se. Os ombros ficavam tensos e tremia quase convulsivamente. A respiração tornava-se ofegante e, em «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 95 seguida, acalmava. Por vezes, registavam-se longos silêncios e ligeiros movimentos inquietos. As agulhas foram espetadas «mesmo na minha testa». A princípio, foi doloroso, mas «depois relaxei». As agulhas espetadas na cabeça pareceram provocar a dormência da mão e do braço direitos. A seguir, o chefe caminhou na direcção dela com qualquer coisa que parecia um leque «com uma agulha... Tento detê-lo porque tenho medo», disse ela. Depois, as pernas ficaram tensas e estremeceram, enquanto ela descrevia a aproximação do instrumento parecido com um leque. As suas pernas estavam «ligeiramente abertas», a esquerda esticada e a direita dobrada, quando uma das figuras espetou a agulha do leque no lado da perna esquerda. Sheila queria gritar, enquanto dizia: «Tira-a daqui. Tira-a daqui», mas só conseguiu gemer suavemente, mesmo com o meu encorajamento. Mesmo depois de a agulha ter sido retirada da sua perna, ainda a sentia «rígida e dorida».

Depois disto viu «muitos» dos seres «debruçados sobre ela». Sentia-se embaraçada por estar sem roupas. A seguir, havia «qualquer coisa a vir sobre mim», que parecia uma máquina de barbear com «uma coisa preta em baixo... Consigo ver que estão a segurá-la», disse ela, enquanto um dos seres «continua a colocá-la em mim» e a arrastá-la sobre o seu abdómen da esquerda para a direita, fazendo-a sentir frio. Isto parecia ser o rectângulo preto de que já falara antes. O corpo ficou mais tenso e agitado e Sheila gemeu, enquanto falava do instrumento parecido com uma máquina de barbear que estava a ser espetado «no meu lado direito, muito em baixo, mais ou menos onde deve estar o ovário direito ou o apêndice», enquanto «tentam segurar a minha perna direita em baixo». Sentiu uma dor intensa enquanto o instrumento era mantido naquele sítio. Sheila disse: «Tenho de me equilibrar... Parece que vão chegar ao outro lado!... Pode imaginar um elefante em equilíbrio numa só perna?» — quer dizer, numa só perna sobre o seu abdómen. Em seguida, teve a sensação de que um instrumento no exterior do seu corpo estava «a sugar qualquer coisa de dentro de mim». Após alguns minutos, o corpo de Sheila ficou mais calmo e puxou impacientemente pela camisa, enquanto declarava: «Tenho calor». Não «se preocupou com tomar atenção» ao que fora retirado do seu corpo através das paredes do abdómen. Porém, deixou claro que «vi o rectângulo preto». Falou novamente do seu medo, raiva e dor e, em seguida, disse: «Vejo os olhos deles. Não quero vê-los mais». 96 SEQUESTRO Neste momento, a cena mudou e foi mostrada a Sheila qualquer coisa que se assemelhava a uma enorme janela de vidro colorido vermelho, com vigas cruzadas castanhas e douradas a separar as vidraças, que se arredondavam vastamente na direcção de uma cúpula; estas janelas cobriam todo o comprimento de uma extensa parede. A sensação que teve foi: «Estou realmente aqui». A cúpula em forma de cone era tão pavorosa em toda a profundidade que se erguia acima de Sheila que, «assusta-me olhar para ela». Ao mesmo tempo, a imagem parecia muito bela, como «as luzes do norte... uma fonte de ouro puro». A sensação de profundidade parecia ser dada por encaixes em forma de disco que se erguiam em espiral. Quando perguntei a Sheila o que tornava isto tão assustador, ela só conseguiu dizer: «É como um poder. Não posso dizer mais nada». Ela disse: «Quero ir para casa», e não se lembrava de mais nada. «Eles tiraram-me a memória». Depois de sair da regressão, Sheila disse que se sentia triste, o que a princípio atribuiu ao facto de se sentir «como se não estivesse vestida» e de estar tão descontrolada. Tentanto recuperar os seus modos senhoris, Sheila disse: «O desodorizante não serviu de nada nestas circunstâncias. Estou encharcada». Mas, muito mais significativamente, comentou como era perturbador descobrir que «o meu corpo não me pertence». O dr. Waterman ficou impressionado com o poder e a aparente autenticidade daquilo porque Sheila passara durante a sessão e, no decurso das semanas seguintes, lutou com a sua mudança de opinião acerca do caso de Sheila, de forma a poder ajudá-la melhor, «juntando-se a nós no mistério». Numa chamada telefónica de acompanhamento, Sheila exprimiu a sua gratidão pelo nosso trabalho, falou do isolamento que sentira devido ao facto de ninguém acreditar nela e manifestou a sua determinação «de forçar um sen-

tido de responsabilidade» na profissão psiquiátrica relativamente às experiências de sequestro. Falou também do seu desejo de realizar investigações, no sentido de integrar a sua experiência com os prestadores de cuidados médicos relativamente ao sequestro com a satisfação do paciente. Vários dias depois da regressão, Júlia e Sheila mantiveram uma longa conversa telefónica. Sheila queria saber se eu acreditava nela e tinha várias questões sobre hipnose e sobre os processos de recordação e de esquecimento. Queria saber se poderia haver distorções na hipnose e o que impedia as suas memórias de virem à superfície por «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 97 si próprias, sem recurso à hipnose. Interrogava-se se poderia ser o medo. Júlia concluiu: «Fiquei muito impressionada com a força que Sheila manifestava. Esta Sheila parece outra pessoa. Consegue manter uma conversa por sua própria conta, quando antes era demasiado tímida e insegura, sempre a conter as lágrimas. Para mim, este é o aspecto mais fascinante de todo o fenómeno dos sequestros, a forma como a aceitação do que está enterrado na memória pode afectar toda a nossa vida». Antes de começar a terceira sessão de hipnose, à qual o dr. Waterman também assistiu, revimos o que tinha acontecido durante as seis semanas decorridas desde o último encontro. Apenas três noites antes, às três horas da manhã, Sheila tivera outro sonho «como os eléctricos», no que chamou um estado «semi-consciente»: — Acordei muito depressa, ouvi alguém a respirar de forma estranha e senti uma mão no meu lado. Saltou, gritou de terror, acendeu a luz e não viu ninguém. No entanto, a pressão de uma mão na sua anca e um «breve dique», que interpretou como o som de respiração, pareciam totalmente reais. Embora agora ela se sinta forte mesmo à noite, em algumas noites, como a anterior, Sheila sente-se aterrorizada pela sensação de que «está alguém no quarto, apesar de não conseguir ver ninguém». Fica especialmente perturbada com a falta de controlo e com a certeza de que não pode proteger Beverly. Definiu exactamente o sentimento da maioria dos sequestrados, quando afirmou: — Vivemos sempre com uma certa dose de receio de que tudo possa acontecer novamente. Depois desta conversa, falámos sobre a primeira experiência de Sheila no meu grupo de apoio («as pessoas encontram-se em diferentes níveis», comentou ela com muita exactidão). Os sujeitos de experiência «estão todos no mesmo barco», observou, «um barco que, nesta altura, eu já não posso recusar». Em seguida, falou do impacto «esmagador» produzido pela aceitação da sua experiência e da dificuldade de encontrar nela alguma coisa de positivo. «Não sei se quereria viver toda a minha vida sob o domínio de outrem», disse. Sentia alguma dificuldade em viver com as implicações daquilo que estava a descobrir nas sessões de hipnose, «apenas que existem poderes maiores... como, nós, seres humanos, somos insignificantes» e «que nós talvez tenhamos transformado (sic) uma barreira qualquer». Sobre os próprios seres, 98 SEQUESTRO perguntava: «De onde vêm eles?» E o mais perturbador para Sheila, «pior do que o leque e a agulha e o tubo e a máquina de barbear e que as agulhas na minha cabeça, era a escuridão... É uma

terrível experiência do negro», disse ela. «Olhar para os olhos deles para tentar perceber como tinham ido ali parar e, em seguida, ficar tudo coberto de negro». Sheila tinha decidido aprofundar a experiência da Noite de Ano Novo de 1989, na qual tinha experimentado a «electricidade» e sentido que «algo me obrigou a deitar de novo», mas não tinha visto os seres. Antes de começarmos a hipnose, recordou-se de ter acordado por volta da meia-noite e novamente ao quarto para a uma, a ouvir um ruído e sentido «como se alguém tivesse posto as mãos nos meus braços e pernas». Estenderam-me de barriga para baixo no sofá, estenderam-me. Sentei-me e não vi nada. Fiquei louca de medo. Estava aterrorizada por estar sozinha.» No princípio da regressão, revimos os acontecimentos dessa Noite de Ano Novo. Numa entrada do seu diário de 12 de Janeiro de 1990, Sheila escrevera: «Desde então fico sempre aterrorizada à noite. Foi o pior (sonho) que tive em muito tempo». Nessa noite, o pai de Sheila, a sua irmã Melissa e a filha de Melissa, Kimberley, tinham vindo passar a noite com Sheila, Jim e Beverly. Saíram por volta das onze horas e Sheila foi para a cama às onze e meia «porque estava zangada». Beverly tinha acabado de convencer Sheila a trocar os quartos, porque o de Sheila era maior e tinha telefone. Explicando que não tivera tempo de preparar o anterior quarto de Beverly para ela própria dormir, Sheila decidiu dormir no andar de baixo num grande sofá, no solário. Trouxe uma almofada do andar de cima e tapou-se com uma manta afegã, sentindo-se triste por a sua mãe já não estar ali. Sheila escreveu no seu diário que enquanto se preparava para se deitar «estava louca de medo. Estava aterrorizada por estar sozinha». O solário, que fica destacado num dos lados da casa, estava «tão longe de Jim e Beverly». Lembrou-se do zumbido do humidificador e de ouvir o balouçar do pêndulo de um relógio do andar de baixo. Crê que, apesar do medo, conseguiu adormecer. Foi acordada cerca da meia-noite — o relógio do vídeo marcava 12.02, segundo as suas notas de 12 de Janeiro de 1990 — e assustada por «fogos de artifício», que pareciam provir do outro lado da rua, onde «havia visitas. Estavam a receber nessa noite». Em seguida, foi assustada por uma luz que entrava no quarto e disse: «É demasiado brilhante». «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 99 Então, a luz «desapareceu». Ainda estava acordada quando o relógio deu meia-noite e meia hora. Fi-la regressar ao momento em que olhara para o relógio do vídeo e perguntei-lhe o que fizera a seguir. Disse que permanecera junto da janela e olhara para fora, para a luz de um poste no caminho de carros do vizinho, concluindo que a luz que vira no quarto provinha dessa fonte. Então, apesar de um medo tão forte que a fazia tremer, lembra-se de se ter deitado novamente no sofá para fugir ao medo. Lembra-se de olhar para o grande órgão que se encontrava na sala próxima e de ver as plantas do quarto. O seu medo estava a crescer, tanto durante a experiência que estava a recordar, como na própria sessão. Deitada sobre o lado esquerdo, Sheila tentou fechar os olhos. Apesar do seu terror, disse que conseguira adormecer. «Levou algum tempo. Estava muito cansada». Salientando novamente como se sentia só, tão longe de Jim e de Beverly, Sheila disse: «Vi novamente aquela luz. Tentei localizá-la». Parecia vir de um dos lados da casa. «E muito intensa. Nessa altura, olhei para ela e ficou completamente negra». Ela

tinha medo da luz e perguntou-me o que fazer para a mandar embora. Então, dentro da luz, viu qualquer coisa cor-de-laranja e rosa com uma «mancha negra». Agora deitada de costas e já não de lado, Sheila sentiu uma luz tão forte que me perguntou: «Acendeu alguma luz?» A seguir, encontrou-se no meio de «qualquer coisa cinzenta que me rodeava completamente e parecia névoa». Na entrada do seu diário de 12 de Janeiro de 1990, Sheila escrevera: «cinzento e em forma de V... Não os consegui ver». E continua: «Mas havia dois em cada ponto — o meu pescoço, os meus dois antebraços e a cerca de 15 cm de cada um dos meus tornozelos — cinco conjuntos de dois, no total. Só posso dizer que me magoaram e que estes dois conjuntos eram perfeitamente simétricos — podia sentir a sua presença de qualquer dessas formas, mesmo depois de ter acordado. Pareciam tão reais». Tinha a respiração ofegante e estava a arfar e sentia que estava de pé, mas que gostaria de deitar-se. Disse que «não sentia frio», como se estivesse dentro «de uma espécie de bolha cinzenta à temperatura do quarto sem paredes definidas ou um tecto plano». Então disse abruptamente: — Acabei de ver os olhos deles. Quero fugir deles. Estão mesmo à minha frente.

100 SEQUESTRO — Onde? — perguntei-lhe. — Junto da coisa cinzenta — seguiu-se uma luta, na qual Sheila se sentia compelida a olhar para os olhos deles, mas também os evitava e desejava «mandá-los embora». Comentou como os olhos eram «grandes» e «intensos» e «nunca os vejo pestanejar». Compelida a olhar para eles, reconheceu: «Eu vi os olhos». Embora esta admissão, ou o facto de olhar para os olhos, ou ambas as coisas, a fizessem sentir mais relaxada, Sheila sentiu, simultaneamente, que isto a fazia «sentir-se como se estivesse louca, como se não soubesse o que estou a fazer, como se fosse psicótica ou qualquer coisa do género, como se estivesse desligada da realidade». Quase a chorar, Sheila descreveu o terror de perder o controlo. «Eles estão a controlar-me», disse ela. «Tenho de me render». Sentia-se «explorada» por eles, mas ao mesmo tempo «que dependiam uns dos outros». Os seus pensamentos regressaram à luz «demasiado intensa» que a aterrorizava. Então, Sheila viu qualquer coisa «cor-de-laranja» do lado de fora da janela, «muito perto do chão». Com muita dificuldade, apesar de muito encorajada por mim, só conseguiu dizer: «Vi uma grande massa oval, cor-de-laranja». Sheila pediu «para voltar aos olhos e falar de como era depender deles... Eles acabaram de dizer-me isto», disse ela depois de ter perdido o controlo. Reconhecendo que nem ela nem eu entendíamos realmente o que.isso significava, Sheila disse: «dependemos um do outro. Tenho de aceitar a sua (do ser) presença na minha vida» ou, pelo menos, «que ele venha visitar-me durante a noite». Sheila não acredita que ele possa «vir visitá-a durante o dia». Quando lhe perguntei como é que estas informações lhe tinham sido comunicadas, disse: «Sei apenas. Sei o que ele pensa. Ele comunica, nas não sabe dizer como». Ela não estava satisfeita com isto — «Não gosto dele ali» — mas aceita a verdade que acabou de percepcionar. Sheila teve grande dificuldade em se acalmar e sentar-se, de-

pois do fim da hipnose. Era evidente que ligava os olhos à escuridão que tinha experimentado nas regressões anteriores. «Os olhos são assustadores. Bem, eu estava a olhar para os olhos deles e, de repente, estava rodeada de escuridão. Estava tudo negro». Desta vez, não se sentiu rodeada de escuridão quando olhou para os olhos; achou mesmo que tinha ficado mais tranquila, mas achou a ideia de que «dependemos um do outro» assustadora, porque «não «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 101 são amigáveis. Não os convidaríamos para uma festa». Perguntouse se eles seriam «enganadores... Não se pode depender de alguém que é enganador. Não se pode ter confiança neles». Mas não tinha a certeza disto. Conversámos sobre o modo como a interdependência surge, quando perdemos o controlo. — Quando fitei os olhos deles — estávamos a falar de depender uns dos outros — e comecei a pensar na teoria dos sistemas, sabe, a ecologia... Mas agora que estou acordada, penso que é muito difícil acreditar que eles andam por aí... Penso que eles estão aqui mesmo durante o dia, embora não os veja — Sheila continuou a debater-se com o problema do controlo. — Não vejo onde está o equilíbrio, como quando olhamos para os olhos deles e, a seguir, eles tomam o controlo e nós temos de o ceder e é então que ficamos dependentes uns dos outros. Mas, pensando logicamente, não entendo onde está o equilíbrio. Continuámos a falar do desejo humano de «controlar» e das suas consequências destrutivas. — Para alcançar o equilíbrio, temos de ceder — disse ela. Os seres humanos «foram socializados para controlar» durante o dia. E acrescentou: — É o controlo diurno. Durante a noite, cedemos em favor desse equilíbrio perfeito. Terminámos com a questão de saber se o facto de se ceder o controlo durante a noite poderia ser compensado durante o dia. — Acho que sim — disse Sheila. — Como? — perguntei. — Bem, essa é a pergunta a que eu não sei responder — disse ela. O dr. Waterman ficou impressionado com o que aconteceu nesta sessão e nos dias que se seguiram. Sheila continuou a integrar o que surgira nesta sessão, especialmente nos seus encontros. Recordou-se de alguns pormenores perturbadores, nomeadamente relativos aos pontos em forma de V, que aliás tinha anotado no diário de 12 de Janeiro de 1990, mas que não tinham surgido durante a nossa sessão. Mesmo assim, o Dr. Waterman achava que Sheila parecia uma «outra pessoa», sorrindo, preocupando-se com ele (o pai tinha-lhe morrido recentemente) e muito mais segura de si própria. Mais tarde, ela escreveu-me dizendo que estava impressionada com as 102 SEQUESTRO grandes mudanças de perspectiva do dr. Waterman: «opiniões mudadas — algo está diferente». Vi-a no grupo de apoio a 14 de Dezembro, três semanas depois da última sessão. Parecia mais enérgica, com um olhar brilhante e directo e disse que se sentia mais esperançada. Falámos dos seus esforços para ajudar outra sequestrada, que, ao começar a compreender a sua experiência, se debatia

com um sentimento de impotência, tal como sucedera a Sheila. COMENTÁRIO E difícil para nós admitir que não sabemos alguma coisa. Em psiquiatria há uma tendência, talvez bastante natural, para tentar enquadrar os dados psicológicos e os fenómenos emocionais nas categorias conhecidas. A absoluta incerteza é muito desagradável. No caso de Sheila, o aparecimento dos «sonhos eléctricos» e de outras características típicas dos estados traumáticos, a seguir à morte da mãe, originaram uma certa lógica, que apontava para uma explicação do seu caso baseada na não aceitação do desgosto, depressão ou uma situação de stress pós-traumático relacionado com a morte da mãe, de quem se sentia, realmente, muito próxima. No entanto, diversos esforços terapêuticos orientados neste sentido não conseguiram aliviar a perturbação de Sheila e, no final do Verão de 1992, ela estava cada vez mais desesperada. Em retrospectiva, o caso de Sheila apresentava várias características que não se enquadravam no diagnóstico de uma reacção retardada ao desgosto ou de depressão, por si sós. Embora ansiosa relativamente aos perturbadores e intrusivos sonhos eléctricos, o seu principal sintoma, nada neles apontava para uma preocupação com a perda, a separação ou outras características do desgosto pela morte, nem estavam presentes a profunda perda da auto-estima e o sentimento de culpa que normalmente acompanham a depressão clínica. Mesmo a impulsiva tentativa de suicídio em Julho de 1985 foi provocada por um verdadeiro problema de confiança num terapeuta, num momento em que se sentia particularmente desesperada e solitária. Na realidade, Sheila apresentava características de uma situação de stress pós-traumático, com ansiedade generalizada, sonhos perturbadores e dificuldade em dormir. Mas a questão a resolver diz respeito à origem destes problemas. A morte da mãe perturbou Sheila, «PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 103 assim como o afastamento do marido. Porém, quase nada nas suas reacções a estes acontecimentos — aos quais parecia ter-se adaptado razoavelmente bem — ou no conteúdo dos seus sonhos sugeria que aqueles fossem a principal fonte do seu contínuo estado de trauma. Uma avaliação neuropsicológica efectuada no início do ano de 1991 provou o estado de ansiedade de Sheila, mas não evidenciou quaisquer sinais de depressão e descreveu-a como «funcionando acima da média no nível superior». Não se descobriu nenhuma outra causa para o seu trauma, excepto as experiências de sequestro. O caso de Sheila apresenta as características típicas dos fenómenos de sequestro. Estas características incluem sonhos aterradores que parecem mais reais do que os pesadelos vulgares, memórias — algumas conscientes e outras surgidas sob hipnose — da entrada de seres humanóides no seu quarto de cama e de ser levada para um recinto estranho e submetida a procedimentos intrusivos aparentemente cirúgicos. Em três sessões de hipnose, lográmos apenas aflorar superficialmente os acontecimentos que Sheila parece ter vivido. No entanto, acompanhá-la na exploração do mistério destas experiências, dando-lhe a oportunidade de exprimir os poderosos afectos reprimidos a elas associados, parece ter sido eficaz do ponto de vista terapêutico. Poder-se-ia argumentar que as melhoras clínicas de Sheila resultaram da confirmação de um conjunto de crenças falsas ou ilusões. Porém, nada na mente determinada de Sheila indica que ela tenha

tendência para o pensamento ilusório ou que seja sugestionável. Além disso, os indivíduos psicóticos com ilusões normalmente não melhoram quando as suas ilusões são confirmadas, uma vez que têm de investir demasiada energia psíquica no sistema de crenças, em prejuízo de outras funções. Podemos, ainda, considerar as vantagens resultantes do facto de alguém se integrar numa comunidade de crenças, como acontece em certos grupos religiosos, mas os fenómenos de sequestro desafiam todas as crenças da sociedade contemporânea e Sheila, tal como quase todos os sequestrados, não acolhe de bom-grado a ideia de que estas intrusões, seja qual for a sua origem, existam na realidade. Assim sendo, Sheila só pode sentir-se ainda mais traumatizada ao ter de aceitar a realidade das experiências de sequestro. Finalmente, temos a considerar o testemunho do dr. Waterman, inicialmente um céptico relativamente aos sequestros, mas disposto a trabalhar comigo. Conhecendo Sheila há mais de sete 104 SEQUESTRO anos, considerou autênticas as suas respostas sob hipnose, reflectindo fortes experiências traumáticas, sem qualquer outra origem aparente, além da relatada por Sheila durante as sessões. Os fenómenos de sequestro desafiam as noções de real da comunidade científica ocidental. Para nós, estes acontecimentos simplesmente não são possíveis. No entanto, até ao momento, não dispomos de qualquer explicação convencional para as experiências vividas pêlos indivíduos como Sheila. A própria Sheila escreveu ao dr. G. sobre o seu caso: «Simplesmente não faz sentido no mundo tal como eu o conheço». Mas como Freud disse uma vez, a teoria não impede que os factos aconteçam. Tudo o que nós, que nos dedicamos à saúde mental, podemos exigir de nós próprios neste momento é manter as nossas mentes abertas, quando tivermos de lidar com fenómenos que não compreendemos, como a síndrome do sequestro por alienígenas, e tentar não dar explicações prematuras. Faríamos bem em seguir o mote de Sheila, como ela escreveu ao dr. Waterman em 1991: «Deixei para trás o meu DSM III-R». Ouvir, mesmo sem saber, mas com vontade de explorar pode ser uma grande ajuda. Embora Sheila tenha mais dificuldade do que outros sequestrados em recuperar a memória das suas experiências e em ultrapassar o seu conteúdo traumático, demonstra estar no início de um processo de transformação, com o qual já estou familiarizado. Em associação com a sua própria cedência de controlo, começa a reconhecer as consequências negativas para si própria enquanto indivíduo, e para o equilíbrio ecológico do planeta, que a nossa luta pelo poder e pelo domínio provocaram. Ainda não sabemos se esta alteração da sua consciência é simplesmente um produto marginal da sua tentativa de ultrapassar as experiências traumáticas ou se é intrínseco ao próprio fenómeno do sequestro. A este respeito é interessante que a experiência de Sheila ao aceitar a sua interdependência em relação aos seres alienígenas, seguida da sua preocupação pela ecologia da terra, tenha ocorrido quando foi obrigada a fitar os olhos do chefe alienígena e a ceder o controlo. O fenómeno dos sequestros por alienígenas constitui um manancial de informações potencialmente rico para a nossa compreensão de nós mesmos e do universo que nos rodeia e do qual participamos. Mas para disponibilizar estes conhecimentos, temos primeiro de admitir a nossa grande ignorância acerca da natureza e dos seus segredos. Tal como Sheila escreveu ao dr. R.: «Um dia, talvez oiça

«PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 105 outra pessoa contar-lhe uma experiência semelhante. Também não tenho qualquer explicação 'científica' para isto, mas isso não significa ignorância. Podemos admitir que a psiquiatria não tem todas as respostas para a compreensão das doenças mentais; então, porque deveríamos acreditar que a ciência tem capacidade para explicar tudo o que acontece neste mundo?» CAPÍTULO CINCO O VERÃO DE 92 Scott tinha vinte e quatro anos quando nos encontrámos pela primeira vez, depois de ele ter manifestado interesse em juntar-se ao meu grupo mensal de apoio aos sequestrados. Na altura, estava em tratamento com uma psicoterapeuta devido aos estados de ansiedade resultantes das suas experiências de sequestro, e ela pensou que o grupo poderia ajudá-lo, dando-lhe oportunidade de conhecer outros sujeitos de experiência e permitindo-lhe partilhar os conflitos decorrentes dos seus encontros. Então como agora, a minha política é encontrar-me pessoalmente com os sequestrados, antes de os incluir no grupo. O caso de Scott ilustra as dramáticas transformações pessoais possíveis, quando um sequestrado se defronta com a realidade das suas experiências de sequestro e com as poderosas emoções que lhe estão ligadas. Scott também faz parte do número crescente de sequestrados que descobrem uma dupla identidade humana e alienígena, no decurso do seu trabalho exploratório. Scott é um jovem alto, robusto e franco, cujos modos levemente joviais escondem um cuidado e uma sensibilidade subjacentes, qualidades que se tinham expandido na altura em que o conheci. Embora Scott tenha resistido à educação formal, manifesta uma inteligência forte e indisciplinada. Scott trabalha como actor e realizador e colabora com o pai no seu negócio de reparação de automóveis; é ainda um construtor talentoso, tão capaz de reparar pianos, como automóveis. Toca piano desde criança e pretende ser autor de canções. Também desejava ser piloto, mas «todos os tratamentos médicos» a que foi submetido em consequência das experiências de sequestro 108 SEQUESTRO dificultaram a realização desse desejo. «Sempre me mantive ocupado», diz Scott, «para tirar da ideia o que 'me tem acontecido'». No Verão de 1992, Scott atravessou um período em que o seu habitual sentido de auto-defesa, vigilante, animal e carregado de medo (chamando a si próprio um «maníaco da segurança» e temendo todas as noites ser raptado, Scott electrificou a casa onde vive sozinho, com um alarme rádio que activa à noite, instalou câmaras de vigilância em vários locais como «meio de intimidação» e um microfone na porta da frente com um altifalante junto da cama, para poder vigiar durante a noite), deu lugar a sentimentos de vulnerabilidade, impotência e afastamento da sua família. «Sentia-me completamente aberto para qualquer um me derrubar, ou fazer o que quisesse». Em vez da pessoa controlada que sempre fora, Scott descobriu que «o 'verdadeiro' era o indivíduo descontrolado... Fiquei assustado», disse ele. «Quero dizer que senti que podia ser destruído. Não me sentia nada seguro... O chão que eu pisava era terrivelmente escorregadio». Foi esta abertura, a entrega do controlo, que preparou o caminho para a transformação da relação de Scott

com as suas experiências de sequestro e para mudanças profundas na sua forma de sentir a sua própria consciência e identidade. A irmã de Scott, Lee, dezanove meses mais nova, é também uma sequestrada, embora tenha sido mais lenta a recuperar as memórias das suas experiências. Durante muitos anos, agarrou-se à possibilidade de que o seu medo da intimidade sexual fosse resultante de abuso sexual por parte do seu pai ou outra pessoa. Uma história cuidadosa tornou impossível consubstanciar qualquer possibilidade de abuso sexual que pudesse explicar os seus medos, enquanto uma sessão de hipnose, que realizámos em Novembro de 1992, revelou uma experiência perturbadora, ocorrida durante os primeiros anos da adolescência, durante a qual Lee foi transportada para bordo de um OVNI por seres alienígenas, uma sonda foi introduzida na sua vagina e retirado um qualquer tecido, talvez um óvulo. Dez dias depois desta sessão, Lee embarcou para uma viagem de vários meses à Índia, previamente planeada, com o objectivo de alcançar o desenvolvimento espiritual e, especialmente, para estudar o budismo tibetano. Depois de ler o meu relato do caso do irmão, que a mãe lhe tinha enviado para a índia, Lee pensou que o meu breve resumo das suas experiências a apresentasse demasiado como uma vítima. «Eu O VERÃO DE 92 109 quero ajudar dando a conhecer a minha história, para que as pessoas sejam informadas». Gostaria de ver um relato «melhor aperfeiçoado» para «retratar uma série de encontros que, não só originaram traumas físicos e sexuais, como oferecem uma oportunidade única de desenvolvimento espiritual e de sensibilidade face a todos os seres sensitivos, desde os insectos até aos seres de outras dimensões e sistemas planetários... Este ajustamento», continuou ela, «far-me-ia sentir menos como uma vítima de violação intergaláctica e mais como eu a entendo (presentemente): uma experiência de algo que quase fez explodir a minha cabeça com a expansão da consciência. Sinto-me estranhamente grata». Num ponto anterior da carta, Lee escrevera: «O budismo tibetano enquanto filosofia reconhece grande parte dos encontros espirituais e «consciência» que os sequestrados experimentaram». A mãe de Scott e de Lee, Emily, de quarenta e oito anos, trabalha em compra e venda de propriedades e apoia o negócio do seu marido, Henry. É possível que seja também uma sequestrada, mas o mais notável acerca de Emily, e este é um aspecto importante deste caso, é a extraordinária firmeza e apoio que deu aos seus filhos. E a única mãe que assiste regularmente às reuniões do meu grupo de apoio e, embora tenha sofrido profundamente com as perturbações relacionadas com o sequestro dos seus filhos, Emily aceitou totalmente a realidade daquilo que eles contam. Além disso, tem um sentido profundo e intuitivo de que o processo que estão a sofrer é um processo de desenvolvimento pessoal e de iluminação final. Esta atitude, seja qual for a sua razão última, é única na minha experiência com os pais dos sequestrados. O pai de Scott, Henry, é mecânico há vinte anos e iniciou recentemente um outro negócio. Henry é cauteloso ao falar dos seus sentimentos e opiniões, mas também apoia os filhos. Acredita naquilo que eles contam, mas tem uma atitude do tipo «provem-me», perante o fenómeno dos OVNI e dos alienígenas. Scott tem um irmão, Robert, que não declarou qualquer envolvimento com os fenómenos

de sequestro. Emily conta que Robert ouve de forma «desligada», mas atenta, quando o assunto é abordado em casa. Robert é casado e tem três filhos, duas raparigas gémeas de três anos e um rapaz de ano e meio (em Janeiro de 1993), nenhum dos quais parece estar envolvido no fenómeno dos sequestros. Scott sente-se grato pela sua vida familiar de modo geral positiva, e não consegue ligar as suas expe110 SEQUESTRO riências de sequestro a quaisquer traumas ocultos ou outros aspectos com ela relacionados. «Olho para a minha família e para o modo como cresci e não encontro nenhuma ligação», diz ele. Quando encontrei Scott pela primeira vez, ele debatia-se há vários meses com um trauma relacionado com uma experiência de sequestro ocorrida em Abril de 1990, na qual viu conscientemente pequenos seres («os tipos pequeninos») no seu quarto. Ligou esta experiência com a recordação de ter visto esses mesmos seres no seu quarto e um «disco voador» lá fora, quando tinha dez anos. Através de organizações ligadas aos OVNI e de uma longa cadeia de recomendações, foi finalmente aconselhada a Scott uma terapeuta. Ela ajudou-o bastante e, no decurso do seu trabalho, que incluiu várias sessões de hipnose, ele recuperou a memória de experiências de sequestro ocorridas quando tinha apenas três anos. Desde Novembro de 1991 que Scott assiste regularmente às reuniões do grupo de apoio e temo-nos mantido em contacto, mesmo fora destas reuniões. Realizámos duas sessões de hipnose em Março e Dezembro de 1992, em que Scott procurava descobrir e exprimir mais intensamente as suas emoções ocultas e explorar um modelo de cura mais investigante e menos terapêutico. Pormenores da história dos primeiros anos de Scott foram obtidos a partir dos registos clínicos do Centro Médico do Hospital Infantil de Boston, desde que aos catorze anos foi examinado devido a «episódios confusos anteriormente classificados como ataques». Quando tinha seis meses, a mãe participou que ele sofrera um ataque associado a uma febre e afirmou que no seu quinto aniversário tivera um «ataque generalizado», sem febre, mas acompanhado de dores de ouvidos. Nessa altura, não foi observado por um médico, mas telefonaram ao seu médico assistente e o ataque foi atribuído à «excitação» do dia. Agora, Scott vê esse momento como um «ataque de pânico posterior ao sequestro». A primeira experiência de sequestro da qual Scott se recordou ocorreu quando tinha três anos. No Verão de 1991, com a ajuda de hipnose, ele e a sua terapeuta estavam a explorar acontecimentos relacionados com o período em que tinha nove anos, quando «saltei para trás, para quando tinha três anos e estava a brincar lá fora na lama... e de repente... bum! Voltei-me, estava a brincar com os meus camiões, e eles estavam ali.» Pelo canto do olho, viu dois seres aparecerem do nada e, em seguida, uma espécie de barra «cobriu-me». O VERÃO DE 92 111 Lembra-se de correr para a mãe. Depois de ter sido devolvido, sentiu-se frustrado porque não conseguia contar o que tinha acontecido. «Vi umas formigas grandes lá fora», disse ele. Ao recordar esta experiência, Scott estava tão alarmado («Saltei literalmente para fora do sofá»), que interrompeu as sessões de hipnose até à sua primeira sessão comigo. A partir dos oito anos, Scott foi levado repetidamente a médicos,

especialmente neurologistas, para análise e tratamento de frequentes dores de cabeça latejantes, que começaram quando tinha seis anos, e de uma espécie qualquer de «indisposições» ou «ataques», que foram muito mal explicados como ataques de «estranhos sintomas», «devaneios» ou «episódios confusos». Inicialmente, Scott foi descrito como «um inquieto rapaz de oito anos». As dores de cabeça foram diagnosticadas como «enxaquecas atípicas» e tratadas com analgésicos fracos (para aliviar as dores). Um primeiro electroencefalograma (EEG), durante este período, mostrou uma ligeira anormalidade, mas os que se lhe seguiram estavam todos normais. No decurso dos anos seguintes, Scott foi tratado com doses substanciais de vários medicamentos anti-convulsivos, que deram poucos resultados. Uma anotação de doente externo do hospital regista «alucinações visuais» desde os doze ou treze anos, em que Scott afirma ter visto um triângulo colorido a girar e «imagens como a de uma mulher ('figura feminina', segundo Scott) inclinada sobre a sua cama, carros, cenas exteriores, etc». Quando Scott tinha dezasseis ou dezassete anos, o diagnóstico dos ataques deu lugar a «componentes psicoemocionais», as dores de cabeça tinham-se tornado originariamente em «tensão» e as alucinações foram descritas como «sentimentos paroxísticos»; os electroencefalogramas continuavam normais. Aos dezoito anos foi considerado como sofrendo de depressão e «indiferença». Aos dezanove anos, a medicamentação anti-convulsiva foi interrompida e terminaram as consultas médicas. Scott ressentia-se daquilo que mais tarde veio a considerar como procedimentos médicos inadequados e desnecessários. «É simplesmente incrível a quantidade de tretas médicas», disse ele quando nos encontrámos pela primeira vez, e no grupo de apoio, um ano mais tarde, pôs objecções ao que chamava de «medicação ao calhas». A excepção dos medos nocturnos, da melancolia, da dificuldade de concentração e outros sintomas, que levaram os pais a consultar 112 SEQUESTRO tantos médicos para tentar compreender o que se passava, Scott sente que teve uma infância feliz, com muitos amigos e actividades. Os sintomas de base de Scott têm uma relação complexa, mas não muito clara, com as experiências de sequestro da sua infância. Scott pensa que eram «instantâneos», memórias revividas dos sequestros anteriores. Emily perguntou-se repetidamente «Onde é que eu estava?», quando Scott e Lee sofriam os sequestros; no entanto, em comparação com a maioria dos pais de crianças sequestradas, Emily e Henry foram particularmente protectores. «É espantoso», escrevia-me Emily em Fevereiro de 1993, uma semana depois da sua própria primeira sessão de hipnose, na qual a profundidade da sua dedicação aos filhos foi confirmada, «que tudo isto estivesse a acontecer mesmo debaixo dos nossos olhos, por assim dizer, e que aparentemente não tenhamos dado por isso — pelo menos, conscientemente — e lembrar os comentários de Scott acerca de vê-los no seu quarto, um disco voador lá fora, o cão posto a dormir, correndo para o nosso quarto e Henry a ir lá fora, com a arma, para ver o que se passava. Lembramo-nos disto tudo, mas estava no fundo da memória até que tudo ressurgiu, há alguns anos atrás, quando Scott perguntou: 'Lembram-se de quando eu era miúdo?' e nós respondemos: 'Claro que sim!'». Mais tarde, Emily escreveu-me que ela e Henry receavam um assaltante ou um intruso

e também que pensaram que Scott tivera um pesadelo. Scott lembra-se que os encontros da sua infância tendiam a ocorrer quando ele e Lee estavam a brincar lá fora, ao passo que Lee se lembra de «uma pequena fossa» junto à casa, onde ela e Scott costumavam brincar frequentemente e que, agora, ela crê ter sido um dos locais dos sequestros. Lee diz que «costumávamos gostar muito daquele sítio», mas quando era adolescente deixou de ir lá. «Pensava naquele lugar como um lugar especial». Quando Pam Kasey visitou a família na sua casa do Massachussets, em Março de 1992, Scott e os seus pais falaram do aparecimento de vários OVNI, testemunhados por toda a família ao longo dos anos. Scott lembra-se de «ter visto uma nave» quando tinha oito ou nove anos e de o ter contado ao tio. Mas uma experiência de sequestro, que ele qualifica de «grande» e que tinha permanecido «enterrada» na sua memória até surgir numa sessão de hipnose com a sua terapeuta, começou no seu quarto, quando ele tinha dez anos. Scott viu um «disco voador lá fora» e, em seguida, viu vários O VERÃO DE 92 113 seres entrar no quarto. Puseram o cão, que estava no corredor, a dormir, «de qualquer forma, com o bastão... Depois de terem acabado comigo», Scott ficou com medo «porque sabia que eles iam subir para o quarto dos meus pais». Scott recorda: «Corri lá para cima — depois do acontecimento — e contei-lhes o que tinha sucedido e disse que estava um disco voador lá fora e o meu pai foi buscar a arma. Estava cheio de medo — todos estávamos — pegou na arma e foi lá fora e não havia nada, para além da natureza». Scott recorda, ainda: «Quando era criança, tinha muito medo de que matassem os meus pais». Para ele, os seres pareciam «ter um poder maior que os pais». Apesar dos seus temores, Scott também sentia que os seres eram «mais sábios do que os pais», embora não tenha a certeza se isto se referia «aos próprios seres» ou «à sabedoria criada por toda a experiência». Scott descreve a «telepatia» que experimentava durante os encontros como «um canal de dois sentidos. Eles lêem os nossos pensamentos e nós podemos ler os deles. É bastante traumatizante devido à estranheza da sensação». A experiência de sequestro seguinte de que Scott se recorda refere-se a uma figura feminina inclinada sobre a sua cama, quando ele tinha doze ou treze anos, e que foi mencionada mais atrás na ficha de paciente externo do hospital. Mais ou menos por esta altura, Scott foi aconselhado a consultar um psicólogo, para determinar se existia alguma causa emocional que justificasse as suas perturbações. Mas mesmo através de uma demorada psicoterapia, não foi possível determinar a sua origem. O encontro com a figura feminina, que foi parte de uma experiência de sequestro, será relatado em pormenor, quando falarmos da segunda sessão de hipnose comigo. Scott não se lembra de quaisquer outras experiências de sequestro, até Abril de 1990, quando viu conscientemente várias entidades no seu quarto, depois de, previamente, ter sentido a presença delas na sua mente. «Quem quer que fossem essas pessoas, não eram deste mundo», afirmou ele no nosso primeiro encontro. «Eram os mesmos. Eu sabiao», disse ele, que tinham estado no seu quarto quando tinha dez anos. Alarmado com a experiência, procurou ajuda, tal como foi anteriormente explicado. Em várias sessões de hipnose com a sua terapeuta, Scott recordou-se de ter ficado aterrorizado, quando um instrumento semelhante a uma torneira foi colocado no seu pénis, «fios» ou «cabos»

ligados aos testículos e uma amostra de esperma retirada, enquanto ele jazia, aterrado e paralisado, numa mesa dentro de um OVNI. 114 SEQUESTRO Depois da nossa consulta inicial e depois de Scott ter assistido a várias reuniões do grupo de apoio, a sua curiosidade acerca das próprias experiências de sequestro aumentou e pretendeu explorá-las mais profundamente, porque «afectaram tanto a minha vida». Entretanto, a sua vida pessoal estava a complicar-se. Quando o conheci, Scott falou-me de uma situação de tensão na sua relação com a namorada, da sua tendência para «se agarrar» e «não largar». Na reunião do grupo de apoio de Janeiro de 1992, Scott disse que embora inicialmente o tivesse apoiado em relação às suas experiências de sequestro, deixara de o fazer «quando realmente foi necessário». Mais ou menos nesta altura, Scott teve a oportunidade de partilhar o seu conhecimento directo dos sequestros, ao vivo, na cadeia de televisão CBS de Los Angeles, onde o documentário dramatizado em dois episódios sobre este fenómeno, Intruders, estava a ser filmado, para ser exibido em Maio. Durante duas semanas, no mês de Fevereiro, Scott ia ao estúdio todos os dias, o que achou bastante estimulante. Deu uma valiosa contribuição para a compreensão dos fenómenos de sequestro a todo o elenco e a toda a equipa de filmagens e travou amizade com uma actriz, cuja filha poderá ter tido encontros. Na reunião do grupo de apoio de 24 de Fevereiro, Scott, acabado de regressar de Los Angeles, falou do pressentimento de que estamos a ser «preparados para» qualquer coisa, que talvez existisse um «plano» qualquer, que nós não dominamos e que «outros» estão a «dirigir o espectáculo... Ultrapassar a fase do trauma revelou as verdades, o lado espiritual oculto sob as experiências», e continuou a falar de «um poder superior» que operava nas suas experiências. Scott recordou que «mesmo quando me acontecia em criança» sentia que tinha de tentar «ser capaz de ficar no mesmo quarto sem entrar em pânico, sem ter medo». O episódio de Abril de 1990, disse ele, «foi um passo em frente em termos de intensidade, sobretudo, e quase como um teste, mas existe declaradamente essa raiva, meu Deus... uma raiva de lutar contra ser tocado, ser controlado por outrem». Nesta reunião, Scott falou ainda de ultrapassar «a parte traumática» e de desenvolvimento pessoal. As suas experiências de sequestro, segundo ele, tinham-no feito compreender que existe «uma quantidade considerável de informações na minha cabeça que não consigo compreender». Sugeriu que os alienígenas nos estão «a ajudar a crescer de forma a podermos compreendê-las... Estão a forO VERÃO DE 92 115 mar-nos até chegarmos ao ponto em que possamos compreendê-las e lidar com elas». Depois desta reunião, Scott optou por realizar a sua primeira sessão de hipnose comigo, a fim de ultrapassar definitivamente e, conforme esperava, ir para além da dimensão traumática dos sequestros e descobrir o seu significado mais profundo, tanto para ele, como para os outros. Scott chegou a minha casa no dia 16 de Março com Ann, a actriz que conhecera em Los Angeles. Antes de Scott entrar, comigo e com Pam, no quarto do andar de cima, onde, nessa altura, eu efectuava as regressões, conversámos um pouco na sala sobre o que a experiência de desempenhar tal papel significara para Ann, a sua oposição às

partes sensacionalistas e inexactas do argumento e os seus delicados esforços no sentido de manter a integridade do papel desempenhado. Antes de iniciar a regressão falámos dos temores de Scott e das suas possíveis experiências de sequestro posteriores aos acontecimentos de Abril de 1990, na qual concordámos em nos concentrar. Não tinha recordações de sequestros distintos, mas falava de uma vaga «coisa de tipo nebuloso», de uma luz azul que entrara uma noite no seu quarto, inexplicáveis marcas como que de agulhas que apareciam frequentemente nos seus braços e a forma como, em diversas manhãs, lhe faltava misteriosamente a peúga esquerda. Scott falou do medo da morte e da solidão e de se sentir como «algo fechado numa gaiola, um animal, uma cobaia». Passámos em revista os pormenores da experiência de Abril de 1990 e Scott resumiu mais uma vez os pormenores mais assustadores das sessões de hipnose anteriores com a sua terapeuta. Assegurei-lhe que o não deixaria quando estivesse a sentir-se enjaulado e só durante a nossa sessão. Depois da indução hipnótica, Scott começou quase imediatamente a dizer que se sentia «zangado». Em seguida, reviu os acontecimentos daquele fim de tarde de Abril, antes de o sequestro começar. Tinha bebido um par de vodcas com laranja, tocado piano e falado da sua vida em geral com o pai e a mãe, que estavam na sala a ver televisão (na altura ainda vivia com os pais). Foi para a cama um pouco mais cedo do que o habitual — às dez horas — porque se sentia frágil e vulnerável acerca do curso da sua existência. Enquanto se preparava para dormir e «se enfiava na cama», Scott sentiu-se ansioso sobre a filmagem de uma nova cena que estava planeada para o dia seguinte. Scott lembra-se de estar a ler uma revista e, antes de adormecer, 116 SEQUESTRO sentir que os seres estavam «lá, no meu pensamento». À medida que o seu medo aumentava na nossa sessão, Scott falou de perda da intimidade mental e de como tais sentimentos eram familiares. O quarto não tinha porta e uma luz inexplicável provinha da vizinha sala de lavagem e secagem de roupas. A respiração de Scott era agora alta e ofegante, enquanto falava de «seis deles» com cabeças «direitas» e «angulares» que «me perseguiam». Em seguida, viu uma «vareta de ponta redonda» aproximando-se na sua direcção, que Scott relaciona com a forma como foi anestesiado. «Eles sabem que estou consciente», disse Scott, e «puseram-me a dormir», tocando-me com uma vareta atrás da orelha, para que «não pudesse mover-me». Neste momento, o «zumbido» que soava aos seus ouvidos tornou-se num som de campainha e «perdi o controlo do meu corpo». A seguir, tudo o que Scott viu foi um aparelho de televisão «a fritar». Recordações da sua vida passaram-lhe rapidamente diante dos olhos, como «tantas vezes» sentira acontecer durante os sequestros, e sentiu que lutava para proteger a sua mente «para que não pudessem tocá-la». Depois disto, perdeu literalmente a consciência, embora estivesse a repetir «o mais rápido possível 'Tenho de me lembrar, tenho de me lembrar'». A seguir, Scott lembra-se de estar deitado numa mesa, na presença de duas figuras que pareciam médicos, com uma estranha pele matizada de branco e moreno, usando «óculos» e vestindo batas brancas, e vários seres mais pequenos, vestindo «fardas do exército». Os seres tinham olhos profundos e escuros, ligeiramente oblíquos, contornados de cinzento. «Odeio-os» porque «me tiraram à

minha mãe quando eu era pequeno», disse Scott e «por não me dizerem quem são». «Eles têm curiosidade acerca de mim» e «eu tenho curiosidade, mas odeio o que me fizeram». —O que fizeram?—perguntei. — Usaram-me. A seguir, os seres colocaram uma «coisa parecida com uma torneira, com força de sucção» sobre o pénis de Scott. Este instrumento estava ligado, por meio de um tubo, a uma caixa que se encontrava ao lado da mesa. Neste momento, Scott estava com tanto medo que teve uma espécie de experiência fora do corpo, uma vez que se viu a si próprio deitado, a cabeça sobre uma almofada que parecia um bloco e quatro dentes a serem premidos contra o seu pescoço, mesmo abaixo da nuca, que ele também sentia que estavam a ser O VERÃO DE 92 117 empurrados. Scott pensa que eram uma espécie de «eléctrodos», utilizados para controlar e manipular os seus movimentos e sentimentos. Nesta altura da nossa sessão, tal como no mesmo momento da experiência, Scott sentia-se calmo, embora zangado, quando pensava naquilo que lhe tinham feito. Encorajei Scott a concentrar-se através da respiração e a exprimir todos os sentimentos que estivessem perto da superfície. Soltou um longo rosnido, enquanto falava do puro terror que sentira, da sensação de violação e do medo de ser magoado fisicamente. Reparou na sua tendência para construir rapidamente muros de protecção. O quarto estava agora mais iluminado e, pela primeira vez nesta sessão, falou dos «fios» ligados aos seus testículos. Eram estes «fios», observou Scott, combinados com o instrumento de sucção colocado no pénis, que estavam a estimular a erecção e «estavam a fazer que acontecesse» e a «tirar coisas», ou seja, o seu «esperma». «Toda esta experiência», disse Scott, «parece inacreditável». Os seres informaram Scott telepaticamente de que estavam a «retirar mais liquido branco» com um objectivo. Estavam a utilizálo «como pai... a tirar os meus qualquer coisa... os meus bebés». Scott sabia que «todo o líquido» que lhe retiraram seria utilizado para «fazer bebés». Neste momento, Scott foi tomado de uma intensa vergonha e eu expliquei-lhe que não tinha nada de que se envergonhar, porque se vira confrontado com poderes ou formas de energia contra os quais era totalmente impotente. «Estou zangado» disse ele, gemendo de novo, mas «não posso lutar... Eles sabem muito precisamente o que estão a fazer», salientou Scott, «é por isso que o encobrem. Não querem que nos recordemos». Fiz Scott regressar novamente ao aspecto traumático e vergonhoso da experiência. Mais uma vez, ele vacilou ao reviver a sua humilhação. «Não me lembro. É demasiado doloroso», disse ele, «demasiado emotivo... Não tive escolha», admitiu, «a culpa não é minha». Mas acrescentou rapidamente: «Eu devia ter...» — Disparate — disse-lhe eu e repeti o que já lhe tinha dito sobre os poderes do universo que estão para além do nosso controlo. Mais uma vez, Scott expressou a sua raiva e eu assegurei-lhe que «não havia nada que pudesse ter feito». Depois disto, Scott recorda-se de ter sido «deixado na cama» no seu quarto, sentindo-se assustado e também zangado, mas não se lembrava como tinha regressado. Tinha a sensação de que os seres 118

SEQUESTRO

tinham estado «a mexer na sua cabeça», deixando informações de um tipo a que ele não tinha acesso. Depois de sair da regressão, Scott foi surpreendido pelo poder das emoções experimentadas. «Nunca senti essas emoções antes, nunca, nunca». «Soube bem», disse ele, exprimir com a sua própria voz e o seu próprio corpo emoções tão fortes e reprimidas. A intensidade da sua raiva preocupava-o um pouco. «Tenho um medo de morte dos danos que possa causar», disse ele. «Toda a experiência», afirmou, «quando é novamente vivida pelo corpo liberta estas coisas. Nós somos os padrões emocionais que estruturam as coisas e as nossas reacções». Também estava intimidado com a intensidade e luminosidade da luz que tinha visto, quando se encontrava sobre a mesa. Em consequência da regressão, sentia que tinha mais acesso, a partir desta realidade («normal»), às experiências vividas durante o sequestro. Scott ficou também com a sensação, vulgar entre os sequestrados, de que a sua mente tinha sido manipulada «electricamente» ou que tinham interferido nela. Tinha consciência de que ainda havia «muros por toda a parte» e de que havia muito mais coisas dentro dele, de que gostaria de recordar-se. O período de nove meses entre as nossas duas regressões foi, para Scott, um tempo de rápidas mudanças. Trouxe Ann, que ainda estava em Boston uma semana depois da primeira regressão, à reunião do grupo de apoio realizada a 23 de Março. Informaram o grupo acerca do progresso da mini-série. Durante a reunião, Scott manifestou um interesse crescente por temas filosóficos e religiosos, tais como «quem controla» e as possíveis ideias de Deus. Por essa mesma altura, Scott apareceu várias vezes na televisão, incluindo um horrível espectáculo num canal de Boston, em que foi humilhante, mas não invulgarmente, apresentado como um jovem que tivera relações sexuais com alienígenas. No decurso da Primavera, Scott começou a ter grandes dificuldades em conciliar o estímulo e a tensão relacionados com as suas múltiplas aparições em público e teve reuniões mais frequentes com a sua terapeuta, a propósito desta situação. A sua terapeuta e eu discutimos o caso e eu recomendei Scott a uma psiquiatra do meu hospital, para que lhe receitasse um tranquilizante fraco, para ajudar a reduzir a tensão. Ela descreveu Scott como inicialmente deprimido, ansioso, «muito vulnerável» e confuso acerca daquilo que lhe acontecera. Pareceu-lhe ser uma pessoa traumatizada, que tinha sofrido «uma espécie diferente de O VERÃO DE 92 119 trauma», manifestando a hipervigilância e a dificuldade de relaxamento «característicos dos sobreviventes de outros traumas». Relativamente à história do sequestro, «Não sei o que pensar», disse ela. «É óbvio que qualquer coisa de mau lhe aconteceu». Uma das consequências da crise de impotência e vulnerabilidade de Scott no Verão de 1992 foi reunir o apoio da sua família, especialmente da mãe e da irmã, que começaram a assistir às reuniões do grupo de apoio. Em Setembro, Scott sentia-se claramente melhor, falava, no grupo de apoio, da necessidade do sentido de humor, e continuava a queixar-se da constante intrusão da presença alienígena na sua mente, uma espécie de perda de privacidade. Emily, de forma comovente, contou ao grupo «como dois dos meus filhos foram afectados» e falou da pouca compreensão que tivera do «extremo terror» que Scott vivera durante os sequestros. Em Outubro, Scott falava mais corajosamente de afastar o medo e da sua

luta para «aceitar» as suas experiências. Durante o Outono de 1992, Scott falou cada vez mais da dimensão espiritual das suas experiências de sequestro. Na reunião do grupo de apoio de 9 de Novembro contou como «o contacto com eles» tinha «aberto qualquer coisa em mim... É quase como se nos fosse dada a possibilidade de saltar para um reino espiritual, para o qual nem sequer estamos preparados — como os Yogis, que têm de executar tantas tarefas para alcançar um determinado ponto». Lee, que estava prestes a partir para a Índia, falou dos «sofrimentos que as pessoas frequentemente experimentam às mãos dos seus professores espirituais». A reacção instintiva de medo que Scott experimentava relativamente aos encontros com os alienígenas era uma «reacção natural» ao «nível da espécie», quando confrontada com algo tão profundo e estranho. Não podia «imaginar ninguém a reagir de modo simpático ou a sentir-se seguro», pelo menos inicialmente. Mas para o fim da reunião, Scott perguntou: «Quais são as minhas opções?» e disse ao grupo: «Mesmo assim, o que eu penso muitas vezes é no quanto estou zangado e preocupado e no quanto o meu ego foi afectado ou afastado e, então, a única maneira de pensar sobre isto se quisermos sobreviver é procurar ou encontrar o que possa haver de positivo na experiência, mas, meu Deus, como é difícil para mim nesta altura... Mas esta parece ser a única pista capaz de me manter vivo». A 16 de Dezembro de 1992, encontrei-me com Scott a seu 120 SEQUESTRO pedido, para rever o seu percurso e, de acordo com o estado das coisas, planear outra regressão. Nessa sessão, Scott disse-me que uma noite, cerca de dez dias antes, como parte da sua crescente receptividade à presença alienígena, tinha pedido aos seres para «me darem um sinal» de que realmente existiam. Cerca das duas ou três horas da manhã, num estado de semi-consciência, experimentou a sensação de que «alguém estava a tocar-me por trás». Ficou extremamente assustado, mas o toque continuou — «quase como se estivessem a brincar comigo». A materialidade da resposta ao seu pedido alarmou Scott: «Pedi-lhes que me mostrassem alguma coisa e eles fizeramno... de certo modo», disse ele. Discutimos — as conversas com os sequestrados encaminham-se frequentemente nessa direcção — a questão de saber se os seres humanos em geral estavam preparados para se aperceberem da presença alienígena. Tal como muitos sequestrados, Scott sentia que a nossa atitude destrutiva face a qualquer coisa desconhecida ou estranha tornaria perigoso para os alienígenas manifestarem-se mais obviamente. Muitos sequestrados começam a seguir um caminho espiritual mais explícito, à medida que se conseguem abrir à profundidade e significado das suas experiências. O próprio Scott, além da sua curiosidade crescente acerca da dimensão espiritual do fenómeno, tinha começado a consultar um perito em acupunctura e, mais recentemente, um curandeiro xamã. Estava também a desafiar cada vez mais claramente o modelo tradicional de tratamento. Sobre alguns dos terapeutas que consultara, Scott disse: «Eu sentia que podia curar, que podia ajudá-los mais do que eles a mim, embora isto pareça uma total arrogância». O seu pedido de realizar outra sessão de hipnose fazia parte do desejo de Scott ultrapassar os traumas causados pêlos sequestros e estabelecer uma relação mais recíproca e mutuamente comunicante com os seres alienígenas. Marcámos a

sessão para daí a cinco dias. No início da sessão, falámos mais uma vez de como Scott se sentira assustado, carente e vulnerável, mas no entanto mais vivo, durante o Verão. Embora tivesse tido recentemente uma experiência de sequestro, resolvemos fazer uma regressão de «fim aberto». Nos últimos meses, eu tinha chegado à conclusão de que, durante o transe, a sabedoria da própria psique levaria o paciente onde ele necessita de ir e de que o processo de cura, aceitação e reunião de informações é melhor alcançado se não tomarmos como objectivo O VERÃO DE 92 121 um dado sequestro. Antes da regressão, Scott falou do seu «medo de se deixar ir» e da sua determinação de não se «conter» durante esta sessão. No começo da regressão, depois de diversas pausas de cerca de trinta a sessenta segundos, Scott disse sentir a presença de «um deles», de pé junto a uma mesa sobre a qual estava deitado de costas. Tinha treze anos e disse que nunca tinha encarado ou recordado o que lhe acontecera nessa idade. Apercebeu-se de um tubo cilíndrico, que calculou medir cerca de 10 cm de diâmetro e que fazia parte de uma máquina colocada junto a uma parede. A imagem do tubo, que parecia apontado ao seu peito, era perturbadora e apresentava-se alternadamente mais ou menos esbatida na sua consciência. Também vislumbrava imagens de outras «ferramentas», como por exemplo um instrumento em forma de banana, que se encontrava numa mesa próxima. Em breve se recordou de ter visto uma figura feminina não humana transportando um tabuleiro com vários cilindros, cada um deles contendo um pequeno bebé... «em tubos de ensaio... Estou verdadeiramente furioso», disse Scott, «não sei o que eles estão a fazer». A «mulher», que se tinha aproximado bastante dele (lembremo-nos da «alucinação» que Scott tivera aos doze ou treze anos de uma figura feminina inclinada sobre a sua cama), saiu do quarto e Scott compreendeu que os alienígenas — provavelmente esta figura — tinham estado a retirar as suas «sementes», para fazerem os bebés que lhe tinham sido mostrados. Scott compreendia agora que o medo o impedira de olhar directamente para os seres, embora tivesse atribuído este facto aos seus artifícios. Também especulou se, caso se tivesse recordado de ter visto os seres durante esta (ou estas) experiência(s), o teria podido contar aos pais, quando os alienígenas lhe disseram para não o fazer. Porque ele fazia «parte da família», explicara um dos seres. — Se faço parte da família deles, porque é que estou aqui? — perguntou Scott. Encorajei-o a explorar essa questão. Ele continuava a obter imagens de um cilindro oco, com cerca de 15 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, com um fluído claro lá dentro. «Quero ser um deles» e «quero ser eu mesmo», disse Scott, «mas não posso ser ambos». — Porque não? — perguntei. — Porque então não me sentiria em casa em nenhum dos lugares. 122 SEQUESTRO A seguir, Scott lembrou-se de ter sido levado para uma enorme sala subterrânea com paredes de rocha, num dos «muitos» elevadores rápidos. Estava calor ali, mas «era melhor do que o lar», porque «eles sabem tudo sobre mim. Não há segredos». No entanto, «é assustador»

e dá uma «sensação esquisita». Nesta altura, senti que Scott estava a avaliar a realidade do que estava a acontecer com a sua mente analítica e encorajei-o a limitar-se a contar a história em bruto, deixando os juízos de valor para mais tarde. «Não consigo simplesmente acreditar que eles estão aqui», disse Scott. «Quando me vêm procurar sabem tudo o que eu sei». Disse ainda que se sentia mal porque eles não o deixavam falar destas experiências. «Porque é que eles não ficam?», perguntou-se ele. Não recebeu qualquer resposta a esta pergunta, excepto que eles e nós «ainda não estamos preparados». Disse que os seres estão a atravessar um processo de mudança física, «a fim de poderem respirar aqui. Eles não respiram da mesma forma que nós.» Scott revelou outros problemas que resultariam para ambas as espécies, se a presença maciça dos alienígenas se manifestasse demasiado cedo. — Ainda não atingimos a velocidade deles — disse ele. — Eles pensam muito mais depressa do que nós e vão fazer tudo para não nos magoarem. — Como é que o facto de pensarem mais depressa nos poderia magoar? — É confuso quando eles nos falam com as mentes — respondeu ele — demasiada informação. As nossas mentes não são utilizadas para esse tipo de contacto. Seria uma sobrecarga sensorial. A partir deste momento, a sessão teve uma viragem interessante. Scott admitiu que ele próprio insistira em negar a existência dos alienígenas e eu pedi-lhe para averiguar exactamente o que é que estava a negar. Para minha surpresa, ele respondeu «negar que sou um deles». Admitir a existência dos seres significava que ele teria de experimentar uma espécie de sentimento «vazio», uma nostalgia de outro domínio. «Eu sempre soube», disse ele «que era diferente, que não era deste mundo». Quando era criança, recorda Scott, «estava sempre a querer fugir. Não conseguia entender. Podia fugir para qualquer lugar, mas nunca lá chegava». Sabia que os seres não habitam o nosso sistema solar. Foi então que Scott entendeu porque nunca quisera olhar directamente para os seres. Com algum esforço, disse: O VERÃO DE 92 123 — O meu lado humano não quer ver isto. — Isto, o quê? — perguntei. — Eles... O lado humano — continuou ele — não consegue encarar o outro lado. O ser humano que há nele tem uma reacção de medo «como um animal... Eles parecem animais e nós agimos como animais amedrontados. É o instinto. No entanto, sublinhou ele, os homens têm de «parar» e compreender que os alienígenas, a quem em criança chamava «tintos» devido aos seus grandes olhos pretos, «estão vivos» como nós. Temos de entender que, apesar de «parecermos diferentes» e «pensarmos de modos diferentes... somos todos vida.» A memória de Scott passou, então, para a visão apocalíptica de que os sequestrados falam cada vez mais. O mundo conhecerá em breve grandes mudanças. Os alienígenas só virão «quando for mais seguro». Mas isso não acontecerá enquanto não houver «cada vez menos» seres humanos, que morrerão de doença, especialmente formas mais contagiosas de SIDA que atingirão as proporções de uma peste. Estas coisas eram aterrorizadoras e muito tristes para Scott e também sentia que não «lhe era permitido» falar sobre elas. Embora

se mostrasse firme nas suas convicções acerca disto, disse: «só espero estar errado». Nesta altura da sessão Scott passou a percepcionar as coisas do ponto de vista dos alienígenas e viu a terra como um corpo azul, abaixo dele. Tinha escolhido vir à Terra, vindo de outro planeta, porque «estava mais perto do nosso mundo». Não sabia o nome desse planeta, mas era amarelo, em grande parte desértico e com falta de água. Outrora, houvera árvores e água, mas qualquer coisa relacionada com a «ciência» — não sabe bem o quê — «correu mal» e o seu povo «foi para os subterrâneos». Scott sentiu-se «indisposto» por dentro e soluçou, enquanto contava como a ciência tinha «destruído o nosso planeta». Naturalmente, senti curiosidade em saber se Scott tinha mais informações sobre o que acontecera e como. Mas ele não sabia mais nada, excepto que a espécie alienígena «sabia o que ia acontecer» antes da destruição ter lugar, mas parece ter sido impotente para a impedir. Depois da regressão, Scott lembrou-se que a destruição tinha ocorrido «devido a qualquer coisa que construíram, mas não puderam deter» e que, no seu planeta, os alienígenas vivem num «ambiente artificial». Depois de alguma resistência, Scott acabou por admitir que a intenção dos alienígenas era «viverem aqui» (na Terra), mas sem 124 SEQUESTRO nós, a menos que «os homens mudem», caso em que «talvez seja possível vivermos juntos». Em seguida, comparou os costumes dos humanos com os dos alienígenas. Os seres humanos «são solitários» e «não partilham». No reino alienígena «ninguém está no seu próprio mundo» e «todos sabem tudo, não há segredos». Fiz-lhe perguntas acerca de si próprio. «Eu sou um deles», disse ele, mas quando veste a sua identidade humana limita a sua capacidade de amar e partilhar, devido à «sua própria ignorância». — E que mais? — perguntei. «Tradição», todo o «centro da minha vida, da minha independência», disse ele. Devido ao «medo de serem magoados, não obterem aquilo que desejam, medo de não receberem», os seres humanos têm dificuldade em se «abrir e acreditar que é bom dar e sentir amor.» A mudança «tem de começar por algum lado», disse Scott, e eu perguntei-lhe se tinha algum papel de chefia a desempenhar, como intermediário entre as duas espécies. «Vai haver tanto para fazer» disse ele e vai «levar tanto tempo». Perguntei-lhe se pensava que ainda havia tempo. «Sim, penso que sim», respondeu ele. Scott estava a ficar cansado, por isso, perguntei-lhe se havia mais alguma coisa que quisesse dizer antes de terminar. — Terá de ser feito de uma forma ou de outra — disse ele. — O que é que tem de ser feito?— perguntei. — Se não mudarmos, as coisas mudarão sem nós — e em seguida acrescentou, muito triste: — Não me parece que possamos viver com elas. Depois da regressão, Scott sentiu-se atrapalhado, por causa do que tinha revelado. Tinha dificuldade em acreditar nas informações que recebera, porque «não há nada que as reforce enquanto estamos a crescer». Um reino «não tem nada a ver com o outro», disse ele e só muito raramente, se é que alguma vez, somos «confrontados» com a existência do lado dos alienígenas. O medo simplesmente não existe na «consciência» desse «lado» e, assim, lá existe uma maior liber-

dade. No entanto, é difícil para Scott e faz que se sinta triste e assustado «admitir alguma coisa sobre» o mundo alienígena, especialmente que faz parte dele. Porque isso significa que «não sou um de nós (humanos)». Então, conversei com Scott acerca da possibilidade de conciliar as suas identidades humana e alienígena e ele recordou-se de como «não funcionou quando eu era criança... Não é O VERÃO DE 92 125 assim que as pessoas vivem», disse ele. «As pessoas são diferentes». Falei-lhe de quatro ou cinco outros «agentes duplos» com quem estava a trabalhar e da possibilidade de se juntarem todos num grupo, o que ele achou uma boa ideia. Depois desta sessão, Scott sentiu um grande alívio, como se lhe tivessem tirado de cima um enorme peso. Lembrava-se de que, desde a mais tenra infância, sentia que tinha «duas personalidades» e falou de como isso sempre o fizera pensar que era «doido». Presentemente, acredita que as suas dúvidas e a sua recusa das experiências alienígenas foi um processo destrutivo na sua vida e interroga-se acerca do papel que a telepatia poderá desempenhar na existência da dupla identidade. Antes de concluirmos, Scott, Pam e eu falámos ainda de qual poderia ser o objectivo do projecto alienígena/humano. «Não acho que eles queiram ver-se livres de nós. Penso que estão a conquistar uma parte de nós». Então, «eles terão tudo o que nós temos e tudo o que eles têm». Mas há dificuldades na conciliação das nossas duas espécies, porque «você e eu, tal como somos, talvez não possamos miscigenar-nos». Em seguida, especulámos acerca da relação entre a presença activa dos alienígenas no nosso planeta e a destruição acelerada e catastrófica do ambiente da vida na terra. «Não é uma mera coincidência», disse Scott. Dadas as informações recebidas, Scott duvida que possamos sobreviver à «nossa catástrofe» tão bem como os alienígenas sobreviveram à sua. «Para eles não se tratava dos primeiros passos da ciência. Quero dizer, a sua ciência já estava bastante avançada quando aquilo aconteceu, o que quer que fosse... Eles tinham os recursos necessários» para sobreviver. Pressionei Scott para que dissesse mais do que sabia acerca da relação entre as nossas duas espécies. «Não é apenas preto e branco», disse ele, «os dois lados. Há uma correspondência entre os dois». A minha última questão estava relacionada com a sua relutância em olhar para os olhos dos alienígenas. Ele respondeu-me que quando estava a experimentar a perspectiva alienígena, sentia que estava a ver a realidade através dos olhos deles. Mas como humano «estava assustado porque estaria a olhar para mim mesmo». — Para si mesmo, quem? — perguntei-lhe. — Como um deles — replicou. Pressionei-o para dizer o que é que isso tinha de tão assustador, mas ele não sabia. Limitou-se a acrescentar: 126 SEQUESTRO — Toda a minha vida tem sido inútil. Quero dizer, tudo o que fiz foi insignificante. — Comparado com quê? — perguntei-lhe. — Se eu tivesse compreendido isso (a sua complexa dupla identidade) há muito tempo — respondeu ele.

No dia seguinte à regressão Scott disse-me que se sentia «em paz» e que «todas as minhas perguntas simplesmente desapareceram muito depressa. É espantoso». A 8 de Fevereiro disse ao grupo de apoio que «agora se sentia bastante auto-suficiente». A 23 de Dezembro escreveu-me uma carta, acompanhada de um cartão de Boas Festas. Depois de escrever enfaticamente acerca do «enorme» peso que pensava estar associado ao «que você sabe», punha-me a par de outras informações, que haviam surgido depois da regressão. «O sucesso na terra implicaria uma incrível mudança», escrevia ele, «uma mudança da gratificação do ego para o desejo de ser bem sucedido, mas um desejo de nos libertarmos da falha humana». A dificuldade está, continuava ele, em «erradicar as falhas humanas sem destruir a própria máquina. Estão muito estreitamente ligadas. As dores do crescimento são intensas, mas necessárias». Falando com a sua voz alienígena, escrevia em seguida: «As nossas capacidades intelectuais e o âmbito da nossa visão são demasiadas para os humanos compreenderem. Os tradutores, como eu próprio, são necessários para estabelecer o contacto... Sempre soube. Sempre neguei (a sua identidade alienígena). Sempre quis esquecer, mas não é o que sou. A realidade chega através da espessa muralha das defesas humanas. O estudo da luta entre a consciência humana e alienígena prossegue. Estão a conciliar-se, cada uma delas a aprender com a outra... Agora estou em paz. Compreendo que o conflito continuará dentro de mim, mas atingi o ponto de viragem em que o meu poder de não controlar vence o da minha natureza humana». E a carta prosseguia: «Temo os humanos mais do que qualquer outra coisa. Tentámos muitas vezes mudar-vos. Muitos membros da nossa espécie foram destruídos nesse processo... Devo dizer que o ser humano tem emoções muito elevadas, por vezes demasiado para que eu possa processá-las. Somos muito sensíveis, mas as nossas emoções não são tão primitivas como as vossas. Num certo sentido, as vossas emoções são recreativas. Estamos satisfeitos por sermos capazes de sentir mais do que habitualmente. O nosso fascínio (pêlos humanos) reside nisso. O nosso processo evolutivo limitou as O VERÃO DE 92 127 emoções menos importantes do que a compreensão, mas as vossas emoções são para nós como rebuçados para uma criança. São como uma droga que muito apreciamos». E a carta concluía: «E interessante que seja precisamente isso que vos toma tão perigosos para nós. Não creio que seja seguro para mim revelar-me já. Serão necessários alguns anos. Sinto que há muitas coisas que desejo transmitir e sinto que, muito em breve, deveria realizar-se um encontro das mais altas autoridades humanas connosco.» Embora, a seguir à regressão, tivesse passado por algumas noites de ansiedade, nos meses seguintes Scott encaminhou-se rapidamente no sentido de alcançar uma maior paz de espírito, um sentido de energia e objectivos mais elevados, a conciliação entre as suas naturezas humana e alienígena e um aprofundamento da compreensão do que para ele significavam as experiências de sequestro. Tinha confiança nas informações que recebera e transmitira nas nossas regressões e sentia que, pela primeira vez, conseguira encarar as suas implicações, de forma franca e realista. COMENTÁRIO O caso de Scott é ilustrativo dos vários níveis a que podemos pensar nos fenómenos de sequestro. Num desses níveis, Scott é, ou foi, um

sequestrado tipicamente traumatizado. Sofreu o terror, a impotência, a paralisia e a instrumentalização — especialmente a humilhante extracção forçada de esperma para fazer bebés (a que mais tarde assistiu durante a regressão) — que se seguiram à recordação de vários sequestros sucedidos durante a infância, associados, pelo menos numa ocasião, ao aparecimento de OVNI. Mas além desta dimensão claramente física, Scott sofreu igualmente uma significativa transformação pessoal, resultante de uma mudança de atitude face às suas experiências. De inestimável importância em todo este processo foi o apoio dos pais de Scott, especialmente da mãe, Emily (ela própria uma possível sequestrada), que assistiu a conferências sobre o tema dos sequestros, esteve presente regularmente nas reuniões do meu grupo de apoio e se ofereceu para ser submetida a hipnose, a fim de compreender mais profundamente as suas próprias experiências e o modo como poderia ajudar mais completamente Scott e a irmã, Lee, que é também uma sequestrada. 128 SEQUESTRO Através da sua constante atitude inquisitiva, da sua busca de um significado espiritual e, sobretudo, da sua disposição de se confrontar repetidamente e ultrapassar o seu terror, Scott conseguiu alcançar uma considerável paz de espírito e uma compreensão mais profunda do processo de sequestro. Ultrapassando a sua recusa e aceitando a base instintiva e natural do terror físico e do ressentimento, Scott conseguiu abrir a sua mente a informações importantes, respeitantes a um mais amplo sentido da sua própria identidade, e assumir a responsabilidade do seu papel de «tradutor» entre os nossos dois mundos. Um período crucial deste processo foram os meses do verão de 1992, quando tinha vinte e quatro anos. Nesse período, Scott conseguiu reconhecer, no mais fundo de si próprio, a sua vulnerabilidade e impotência frente ao poder das energias alienígenas, bem como o facto puro da sua falta de controlo. Em seguida, tal como me escreveu mais tarde na sua carta de Natal, descobriu o seu «poder de não controlo». Scott sente que os seus poderes psíquicos aumentaram em resultado das suas experiências. Tal como aconteceu no caso de muitos sequestrados com quem trabalhei recentemente, o reconhecimento total da realidade da presença dos alienígenas levou Scott a compreender que sempre tivera uma espécie de dupla identidade e que é capaz de se sentir simultaneamente humano e alienígena. A perspectiva alienígena, que aparentemente sempre esteve incorporada na sua consciência, não lhe era acessível, até ter cedido a ilusão do controlo. Deste ponto de vista, Scott, tal como outros sequestrados, conseguiu perceber perfeitamente como a nossa espécie é perigosa, não apenas para os próprios alienígenas, mas para todas as formas de vida da terra, especialmente desde que utilizamos tecnologias destrutivas tão impensadamente. Na sua identidade alienígena, ele compreende como o medo e a fúria, que não fazem parte da experiência alienígena, limitam a nossa capacidade de amor e de ligação. Saber que ele próprio é «um deles» permitiu a Scott experimentar as formas pelas quais as nossas duas espécies estão, de certo modo, ligadas (segundo ele diz, há uma «correspondência» entre nós), razão pela qual estamos apenas a começar a entender. É difícil saber o que pensar de algumas das informações que Scott transmitiu na segunda regressão. Como outros sequestrados, ele fala de outro planeta, do qual os alienígenas proviriam, e que terá

sido destruído pela «ciência», tornando-se árido e sem vida. Além O VERÃO DE 92 129 disso, avisa-nos acerca do despovoamento da terra por meio de uma catástrofe natural, especialmente uma forma mais contagiosa de SIDA. Este tipo de visão apocalíptica é vulgar entre os sequestrados, mas não temos qualquer meio de determinar se se trata de uma autêntica previsão no mundo físico — certamente, não entra em conflito com o que está presentemente a suceder no planeta — ou se representa uma espécie de profecia metafórica ou uma chamada de atenção. A questão torna-se mais fácil (ou mais difícil, dependendo do ponto de vista) pelo facto de, nos reinos da consciência e da existência para os quais os sequestrados viajam durante as suas experiências, a distinção entre o literal e o metafórico, ou entre o objectivo e o subjectivo, aparentemente perder a sua importância. Finalmente, há uma pungência em Scott e na sua família, devido à busca vã e intrusiva, levada a cabo durante toda a sua infância e adolescência, de uma explicação clínica convencional para as suas experiências de sequestro. Horas sem fim de exames médicos, testes e outros procedimentos deram como resultado diagnósticos errados e tratamentos inadequados. Suspeito que, no próprio momento em que estou a escrever estas palavras, uma qualquer criança sequestrada algures está a ser levada, pela mão de pais ansiosos, a um médico, completamente ignorante em matéria dos fenómeno de sequestro, tal como o eram os pais de Scott quando ele era criança. Esperamos que, através da «tradução» de sujeitos de experiência como Scott e de pais como Henry e Emily («e médicos», acrescentou Scott), que estejam dispostos a considerar a possibilidade de realidades acerca das quais, nas palavras de Scott, dispomos de «poucos conhecimentos», outras crianças possam ser poupadas ao trauma provocado pela ignorância e pela recusa. CAPÍTULO SEIS UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS Os procedimentos intrusivos de natureza sexual e reprodutiva que são um aspecto central dos fenómenos de sequestro podem afectar profundamente a vida íntima e o bem-estar geral dos sequestrados. Se não se conhece a fonte da «alienação» e se procuram explicações psicossexuais convencionais, os problemas podem tornar-se mais profundos e as tensões experimentadas pêlos sequestrados e pêlos seus entes queridos, provavelmente, aumentarão. Por outro lado, se a origem da disfunção for identificada, serão possíveis consideráveis vantagens terapêuticas. Este problema é bem ilustrado pelo caso de Jerry. Jerry, que se descreve a si própria como uma «dona-de-casa vulgar», tinha acabado de completar trinta anos quando telefonou para o meu consultório, nos princípios de Junho de 1992. Quando me encontrei com ela pela primeira vez, Jerry recordou conscientemente uma luta com vários sonhos em que entravam OVNI, sequestros e outras experiências relacionadas, que durava desde os seus sete anos. A instâncias de sua mãe, Jerry tinha relutantemente classificado todos estes acontecimentos como «pesadelos», até ver o meu nome e a indicação «Universidade de Harvard» nos agradecimentos da mini-série da CBS sobre os sequestros, Intruders, e «pensei, bem, aquele homem pode ser de confiança, e anotei o seu nome». Igualmente, por recomendação de um amigo, a sua mãe tinha lido um dos livros de Budd Hopkins e disse a Jerry que os relatos dos

sequestros se assemelhavam às suas experiências. Os nossos encontros incluíram quatro sessões de hipnose. Além disso, Jerry mostrou-me centenas de páginas do seu diário, que tinha 132 SEQUESTRO começado a escrever vários meses antes de me contactar. Estas incluíam pormenores das suas experiências de sequestro, poemas e a discussão de grandes ideias filosóficas relacionadas com o profundo processo de transformação que estava a sofrer. Jerry é a segunda de quatro filhos e, em criança, vivia numa área rural perto de Kansas City, no Missouri, onde o pai trabalhava numa fábrica de lacticínios. O seu irmão mais velho, Ken, também teve experiências peculiares na infância, incluindo a visão de estranhas luzes brancas e azuis do lado de fora da janela e terríveis «pesadelos» de «alguém» a entrar no seu quarto quando estava acordado. Pouco tempo antes de ela se encontrar comigo, Jerry e Ken falaram das suas experiências e Jerry descobriu que «ele tem sido perseguido por eles durante toda a sua vida». Além disso, na sua primeira regressão, Jerry viu o irmão mais novo, Mark, ser raptado com ela, quando era ainda um bebé e ela tinha sete anos, mas não lhe falou das suas experiências. Os pais de Jerry divorciaram-se quando ela tinha oito anos. Depois da separação, o pai ficou no Missouri e, durante muitos anos, Jerry teve pouco contacto com ele. Recentemente, têm conversado longamente e Jerry sente que estão a ficar mais próximos. Depois do divórcio, a mãe de Jerry, que tem trabalhado sempre como assistente social, mudou-se com os quatro filhos para Macon, na Jórgia. Jerry manteve-se próxima da mãe e, ao longo dos anos, confiou-lhe importantes experiências. Durante os últimos anos da infância e adolescência de Jerry, a família mudou-se várias vezes, mas sempre na Jórgia. «Talvez fôssemos ciganos pelo coração», sugere ela. Fez parte das Pequenas Escuteiras e, mais tarde, das Escuteiras e foi para acampamentos de Verão, onde teve lições de equitação, gostando muito de montar e de lidar com cavalos. Mais tarde, descobrimos que Jerry identificava os potros com os seus «olhos escuros e amendoados», com seres alienígenas híbridos. Embora os professores lhe dissessem que era uma estudante com capacidade para frequentar a universidade, Jerry deixou a escola secundária no início do décimo ano, quando um professor de inglês impôs aos alunos que fizessem trabalhos de nível universitário, que ela não conseguia acompanhar, e a escola se recusou a transferi-la para outra turma. Depois de sair da escola, teve vários empregos em lojas e em escritórios. Dado que a sua formação escolar se limita ao nono ano, tanto Jerry como os seus amigos ficaram surpreendidos com o «fluxo» de UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 133 poemas e de informações complexas que ela começou a escrever, há cinco ou seis anos. A sua escrita intensificou-se muito em Novembro de 1991, a seguir a uma poderosa experiência de sequestro. «Não sei de onde isto vem», disse ela. Na verdade, a sofisticação e a articulação dos seus escritos parecem estar bastante para além do seu nível escolar. Palavras cujo significado desconhece ocorrem-lhe enquanto escreve, mas quando as procura num dicionário, descobre que elas se enquadram num conjunto coerente de ideias. Jerry sentia que muitas das suas ideias não vinham de dentro de si mesma, mas

de uma outra fonte qualquer. Ficou tão chocada com a comunicação que recebeu dos próprios seres, logo a seguir ao sequestro de Novembro de 1991, que queimou os seus primeiros cadernos. O primeiro casamento de Jerry foi com Brad, quando tinha dezanove anos e estava grávida da sua filha, Sally. Jerry nunca o amou e divorciaram-se em 1986. Jerry afirma que o seu ex-marido tinha «brincadeiras» sexuais com crianças, incluindo sexo oral, mas não penetração. De início, Jerry pensou que isto resultava da sua própria aversão pela sexualidade. «Agora já não acredito que isto seja verdade», escreveu ela numa entrada do diário em Janeiro de 1993. «Em vez disso, ele poderia ter tido um caso com outra mulher. Havia qualquer coisa nele que o levava a preferir fazer o que fazia e, provavelmente, eu escolhi-o a ele, porque subconscientemente pressenti nele qualquer coisa que me poderia ser favorável. Talvez sexualmente ele não representasse uma ameaça para mim. Com ele, poderia facilmente evitar enfrentar o meu medo do sexo. Na realidade, ele aceitou perfeitamente a ideia de um casamento sem sexo». Em 1989, Jerry casou pela segunda vez, com Bob. Bob trabalha como carpinteiro. Jerry ama Bob e deseja manter com ele uma relação afectiva e sexual normal. No seu diário, escreveu: «Agora tenho um casamento muito melhor, com um homem cujos desejos sexuais são normais e que deseja ter comigo uma relação sexual normal». Mas as suas experiências de sequestro tornaram isto impossível. «Repito a mim própria que o meu marido está inocente e que não me vai magoar como os seres fazem», escreveu Jerry em Janeiro de 1993. «Repito a mim própria que é diferente, que ele me ama e não me vai magoar. Tento ter pensamentos positivos, mas quando chega a hora do sexo, tudo é inútil. Tudo se esvai e eu volto a ter medo. Os meus sentimentos durante a relação sexual são os mesmos sentimentos de quando sou raptada. Sinto-me assustada, usada e que tenho de 134 SEQUESTRO suportar isso (noutras alturas, ela afirmou que ter relações sexuais é como «ir ao ginecologista ou ser violada»). Também penso que, a qualquer momento, vou ser magoada. Uma sensação de impotência e a incapacidade para controlar a situação. Parece-me que me sinto mais segura quando consigo dizer não ao meu marido e ele respeita isso. Quero desesperadamente resolver este problema. Só que não sei como fazê-lo». Os temores da intimidade de Jerry alargaram-se mesmo a ser apenas tocada e, muitas vezes, afogava no álcool o seu desgosto e frustração. «Só bebia, quando pensava que ia ter relações sexuais», escreveu em Setembro de 1992. Partindo do princípio que o seu problema sexual tinha origem num incesto ou qualquer abuso sexual anterior, Jerry e o ex-marido consultaram três conselheiros matrimoniais diferentes. Numa determinada ocasião, os seus «pesadelos» foram classificados como «qualquer coisa que tentava vir à superfície», mas nada de positivo aconteceu e Jerry desistiu das consultas. Enquanto o ex-marido tinha medo de tudo o que fugia ao normal e não teria dado ouvidos às suas experiências de sequestro, Jerry sente que o seu actual marido e a família a apoiavam e compreendiam, pelo menos a princípio. Bob assistiu à nossa primeira regressão e ficou profundamente afectado pela evidente autenticidade da experiência da mulher. Mas a incredulidade da família de Bob pareceu cercá-la, de tal forma que Jerry começou a sentir-se cada vez mais isolada e só com as suas experiências, confiando quase exclusi-

vamente em outros sequestrados, em Pam e em mim, para lhe darmos apoio. O afastamento dos seus parentes por afinidade foi particularmente doloroso. «A família dele já não se relaciona comigo como costumava», disse-me Jerry em Março de 1993. «E isto é muito doloroso, sabe, porque eles são praticamente a minha única família e eu não gosto que pensem em mim como uma excêntrica ou uma doida». Porém, «não há como voltar atrás. Tenho de aprender a viver com isto», diz ela. Todos os três filhos de Jerry parecem estar envolvidos nos fenómenos de sequestro. Desde os seis anos que Sally, nascida em 1981, tem terríveis pesadelos e grita «Não me toquem. Deixem-me em paz». Quando tinha nove ou dez anos, sofria frequentemente de hemorragias nasais inexplicáveis. Também viu OVNI enchendo o céu, nos seus sonhos ou fantasias, e comentou com Jerry que talvez os alienígenas escolham determinadas famílias. Sally tem «sonhos» UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 135 em que vê toda a família indo para um convés e uma nave espacial a chegar e «muitas criaturas pequenas à sua volta». Num outro sonho, uma rapariga alienígena com um arco vermelho «preso à cabeça» apareceu na sua janela e pediu-lhe para ir brincar lá para fora. Ela diz que foi brincar com a rapariga e que esta lhe mostrou uma nave espacial. Depois de um dos mais recentes pesadelos de Sally, Jerry encontrou-a em cima dos cobertores, com a camisa de noite puxada para cima e sem roupa interior. Sally estava como embriagada e Jerry não conseguiu acordá-la. Em Junho de 1993, Sally ficou assustada quando perdeu inexplicavelmente um período de cerca de uma hora, enquanto estava a cronometar-se para ler um livro para a escola. Olhou para o relógio que marcava 6.02 horas, leu durante o que lhe pareceram alguns minutos, voltou a olhar e viu que eram 6.58 horas. «Como é que isto pode ser?», perguntou ela, alarmada, à mãe e Jerry procurou uma explicação, dizendo que ela devia ter estado a dormir. Mas Sally insistiu que não fora assim. Matthew nasceu em 1983. Tinha medo dos bonecos da Rua Sésamo, a que chamava «wo-wos», que entravam por uma janela. Quando os bonecos alienígenas eram apresentados, Matthew chorava e pedia à mãe para apagar a televisão. O Becus, um dos bonecos, tinha «grandes olhos assustadores», segundo dizia Matthew. Também tinha medo de um anúncio de iogurtes em que se via um OVNI a descer e a aterrar. Quando este anúncio era apresentado, Matthew corria para fora da sala e, mais uma vez, pedia à mãe para apagar a televisão. Falava do sonho de um disco voador em forma de pirâmide, que falava com ele e tinha olhos. Ambas as crianças reagiram intensamente à imagem de um alienígena, quando Jerry lhes mostrou os cartões do Teste Hopkins de Reconhecimento de Imagens (HIRT), que obteve de uma amiga, também sequestrada. Sally «ficou sem respiração» e pôs os dedos na boca. Assustado, Matthew perguntou: «A Sally viu isso?» e «O que é que ela fez?» Colin tinha três anos em Fevereiro de 1993. O seu envolvimento foi intenso e está bem documentado nas notas de Jerry, nas suas conversas comigo e na análise cuidadosa de outro psiquiatra infantil. Jerry também testemunhou a sua presença durante os seus próprios sequestros. Numa entrada do diário com data de 14 de Agosto de 1992, quando Colin tinha dois anos e meio, Jerry escreveu que o ouvira chorar e falar consigo durante a noite. Foi ao quarto dele e encontrou-o sentado na cama. «Parecia bem acordado». Pediu sumo,

136 SEQUESTRO que ela lhe trouxe, e, depois, «começou a papaguear acerca de luzes lá fora e mochos com olhos». Apontou para a janela e disse: «Olha para os olhos». Jerry sentiu-se «muito esquisita porque, pouco antes, nessa mesma noite, tinha tido a forte sensação de que eles andavam por ali». Levou Colin para o andar de cima, para dizer a Bob o que tinha visto, mas este «ficou zangado e disse que Colin devia ter tido um pesadelo». Normalmente, Colin dorme profundamente, notou Jerry, e «nunca pede para dormir connosco nem costuma acordar de noite». Mas nessa noite, pela primeira vez, não quis dormir na cama dele e insistiu em dormir com os pais. Este comportamente continuou durante várias noites e, a 29 de Outubro, Jerry escreveu no seu diário que Colin falava frequente e consistentemente acerca «daquelas coisas». Quando Jerry e Colin estavam juntos lá fora, Colin olhava para o céu, fazia perguntas sobre a lua e as estrelas e, a seguir, falava acerca dos «mochos aterradores com olhos grandes» que «caíam do céu» ou «flutuavam» até ao chão. Por vezes, mostrava o aspecto dos olhos, rodeando os seus próprios olhos com as mãos dobradas em forma de C. Certa vez, Colin começou «a mexer-se muito, a correr, a gritar e a dizer que eles o obrigavam a comer determinada comida e que o atacavam (usou realmente essa palavra)», magoando especialmente o dedo do pé. Colin falava também acerca de naves espaciais, planetas e estrelas. Certa noite, subiu para a cama da mãe e reparou numa pequena imagem da terra na capa de um livro. «É o planeta Terra», disse ele e «vai-se embora» e «a casa vai-se embora». Apontando para o tecto, disse: «Eles dizem adeus, até logo». Depois, saltou da cama e representou uma cena, falando ansiosamente. «Os mochos com olhos grandes caem e saltam e eu salto» e «há uma nave espacial e eu saio da nave espacial... O meu dedo do pé dói», disse ele e «os olhos grandes assustam-me, mamã». Depois disto, Jerry encontrou realmente sangue num dos dedos do pé de Colin e uma unha torcida. A 8 de Novembro, encontrei-me com Colin, agora com dois anos e nove meses, e com os pais na minha casa, enquanto os irmãos brincavam no pátio das traseiras. Fiquei com a impressão de que era um rapazinho meigo e vivo, mas revelou pouco dos seus medos. Chamou «tigre» que gosta de morder ao jacaré de brinquedo (mais tarde perguntou à mãe: «Porque é que os tigres correm atrás de nós?» e pareceu ter substituído o mocho de grandes olhos pelo tigre). Estava especialmente interessado no globo que tenho no escritório e UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 137 queria localizar-se nele. Mostrei-lhe os cartões HIRT e Colin só reagiu fortemente ao cartão representando o alienígena, a que chamou o «homem assustador», e depois disso ficou mais ansioso. A 15 de Novembro, Jerry escreveu no seu diário que, durante a noite, Colin gritara «Ai! Ai!» várias vezes. Quando ela e Bob entraram no quarto para o ver estava a dormir profundamente, mas na manhã seguinte disse que os «mochos monstros» lhe tinham magoado a perna. Colin subiu para a cama dos pais, apontou para o tecto e disse: «O que é aquele barco, aquele grande barco no céu?» Na entrada do seu diário de 28 de Janeiro de 1993, Jerry escreveu que as angustiantes experiências de Colin pareciam ocorrer todas as semanas ou de duas em duas semanas. A 25 de Janeiro, quando ela e Colin estavam na casa de banho e ela se estava a prepa-

rar para ir almoçar com Bob, Colin disse várias vezes, em voz assustada e zangada: «Não quero voltar para a nave!» Em seguida, de pé na sanita, com os dentes e os punhos cerrados e obviamente angustiado, disse várias vezes: «Perco-me, e não gosto disso». Acalmando-se, disse: «Nasci lá e caí das estrelas». Quando Jerry lhe pediu para repetir o que dissera, Colin acrescentou: «Nasci na nave espacial e estava escuro». Depois, ficou novamente tenso e sacudiu-se. Ela perguntou-lhe como é que fora para a nave espacial e Colin pôs as mãos em círculo à volta dos olhos e disse: «Os olhos». Quando Jerry lhe perguntou se havia mais alguém com ele na nave espacial, ele respondeu: «Sim, vejo o Rei. Vejo o Rei e ele é Deus». Jerry perguntou-se de onde viria a sua capacidade de expressão, aparentemente superior à normal na sua idade. Na noite de 27 de Janeiro, Colin apareceu no quarto dos pais e subiu para a cama, para junto deles. Jerry achou isto estranho, pois fechara a cancela da porta do quarto e ninguém se lembrava de a ter aberto. Entretanto, um monitor destinado a captar os sons provenientes do quarto da criança começou a emitir sons estranhos e agudos, acendendo e apagando de tal modo, que Colin pediu a Bob para o desligar. Em vista da sua permanente angústia, e porque eu desejava saber se uma análise independente encontraria uma explicação psicopatológica convencional para os sintomas de Colin, pedi a um colega psiquiatra infantil, competente e — pensava eu — de vistas largas, que não estava especialmente familiarizado com os fenómenos de sequestro, para analisar Colin. Este médico encontrou-se com Colin 138 SEQUESTRO e a família em Fevereiro e enviou-me o seu relatório em Março. O Dr. C. não encontrou nada de especialmente notável no historial de Colin, para além da história dos seus encontros; considerou-o como «um rapaz muito engraçado e cativante» e detectou poucas tensões matrimoniais entre Jerry e Bob, excepto no que dizia respeito às experiências de sequestro de Jerry. Colin brincou com bonecos e mostrou interesse por uma cobra que comia dedos das mãos e dos pés. Contou que o seu dedo do pé tinha sido magoado, mas demonstrou pequena perturbação quanto ao facto. Embora o Dr. C. não encontrasse qualquer explicação para os problemas de Colin, interrogava-se se poderiam estar ligados a um qualquer incidente, ainda não descoberto, talvez relacionado com interacções com o irmão, que tinha uma história de abuso sexual e com quem Colin partilhara o quarto durante algum tempo. Perguntava-se, ainda, se os sintomas de Colin poderiam estar relacionados com imagens televisivas de naves espaciais e do planeta Terra, embora a assistência a programas de televisão fosse restrita. As perturbações de Colin pareceram enfraquecer depois desta análise e o Dr. C. foi de opinião que, de momento, não seriam necessárias outras intervenções, embora se tivesse oferecido para continuar a ver Colin, se os medos persistissem. Um dos efeitos desta análise foi dividir ainda mais Jerry e Bob, quanto à origem dos problemas de Colin. O facto de o Dr. C. não ter conseguido encontrar uma explicação mais convencional para os sintomas de Colin fortaleceu a opinião de Jerry de que estavam relacionados com os sequestros por OVNI. Bob, porém, achou que o facto de o Dr. C. procurar uma origem traumática mais convencional dentro da própria família era mais tranquilizador, uma vez que sempre negara a realidade dos

sequestros, pelo menos no que dizia respeito ao filho mais novo. Em Junho, depois de ver um livro com um alienígena na capa, Colin comentou. «É um Rocketeer. Vai para cima e vem para baixo». Jerry tem a sensação de que os sequestros e outros fenómenos relacionados têm acontecido durante toda a sua vida. Sempre soube que as experiências, que tanto a sua mãe como outras pessoas classificavam imediatamente de pesadelos, eram intensamente reais. Por isso, sempre viveu com um forte sentimento de solidão e com a sensação de que não tinha outra opção, excepto negar uma «parte importante da minha vida». O aparecimento de marcas de bisturi, cicatrizes, nódoas negras e outras pequenas lesões a seguir às UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 139 experiências de sequestro ajudaram-na a confirmar a realidade de tudo aquilo porque passou ao longo dos anos, antes de encontrar uma comunidade de sujeitos da mesma experiência e de investigadores familiarizados com o fenómeno. A primeira experiência de sequestro de que Jerry se recorda conscientemente ocorreu quando tinha sete anos e ainda vivia em Kansas City. Este episódio será relatado em pormenor em ligação com a sua primeira sessão de hipnose. Antes disto, Jerry lembra-se de ter visto uma espécie de luz estranha, uma nave espacial e pequenos seres cinzentos e delgados, do lado de fora da janela. Quando disse à mãe que vira estas coisas, afirmaram-lhe que tinha sido um pesadelo, mas Jerry «disse-lhe firmemente que não estava a imaginar ou a sonhar, que era real». «Vi luzes, vi a nave, vi-os», disse Jerry no nosso primeiro encontro e «nunca disse, nem uma só vez, que se tratava de um sonho ou de um pesadelo». A permanente insistência de sua mãe em afirmar que estas experiências, que ela pensava serem reais, não passavam de sonhos, fizeram Jerry duvidar do seu próprio sentido da realidade. Durante a primeira regressão, quando estava a falar do sequestro ocorrido quando tinha sete anos, Jerry indicou que tinha tido encontros anteriores. Não se lembrava que idade tinha, mas lembra-se que era pequena e que «antes não tinha medo quando os vi pela primeira vez. Pensava que eram engraçados... Estavam muitos» do lado de fora da janela, «muito felizes» e encorajaram-na a «ir brincar». Quando tinha nove anos e estava num motel, antes de se mudar para a Jórgia, Jerry lembra-se de sentir uma presença no quarto e de ter a assustadora sensação de que «alguém acabara de se sentar na minha cama». Quando tinha oito anos teve uma significativa e traumatizante experiência intrusiva, que abordámos na quarta sessão de hipnose. Um episódio ainda mais perturbador, que explorámos pormenorizadamente na segunda sessão de hipnose, ocorreu na Jórgia quando Jerry tinha treze anos. Acordou aterrorizada e lembra-se de ter sentido uma pressão sobre o abdómen e sobre a área genital e de não poder mover-se. «Dentro da minha cabeça, eu estava a gritar», recorda Jerry, mas não sei se emitia realmente algum som. «Alguém estava a fazer alguma coisa», recorda ela, mas era «qualquer coisa estranha». Embora se lembre de ter pensado: «Serão assim as relações sexuais?», sabia com certeza que «não se tratava de uma pessoa». Cerca de duas semanas antes de termos explorado este episódio 140 SEQUESTRO durante a regressão, Jerry escrevera no seu diário que os seus problemas com a intimidade e a sexualidade tinham começado logo a

seguir a esta experiência. Estava a sair com o seu primeiro «namorado a sério», que era cerca de dois anos mais velho que ela. Jerry descobriu que estava «aterrorizada com a ideia de fazer qualquer coisa mais do que beijar», ao passo que antes, já tinha namorado e «experimentado carícias e nada disso a tinha incomodado, nem um pouco». Os pais estavam a dormir e Jerry e o namorado estavam no quarto dela. Ele sugeriu que «fizessem mais do que beijar-se e abraçar-se». Desejando «libertar-me» do «medo de ser tocada em qualquer das minhas partes íntimas» permitiu-lhe que «me tocasse entre as pernas, por assim dizer». Mas então «passei-me completamente. Fiquei absolutamente tensa. Todo o meu corpo estava rígido como uma tábua. Tive numa espécie de ataque de pânico. Estava a suar e a tremer e o meu coração batia velozmente. Olhei para a minha mão e de súbito ela começou a encolher e a enrugar-se. Começou a ficar cinzenta. Eu estava petrificada. Não sei o que fiz a seguir, mas o que quer que fosse assustou suficientemente o meu namorado para que ele acordasse a minha mãe. Ela veio e acalmou-me». Jerry não falou a ninguém deste incidente, mas escreveu: «Desde então, tenho aversão pelo sexo». Nos anos seguintes, Jerry teve vários «pesadelos», nos quais acordava paralisada, ouvia «zumbidos, tinidos e sussurros» na sua cabeça e via seres humanóides no quarto. «Na realidade, estavam a fazer-me perder muitas horas de sono», escreveu ela. Num episódio, em 1987, viu maravilhosos «resplendores e faíscas» que pareciam ter sido atirados para o quarto, mas gritou de terror quando viu dois pequenos seres vestidos com uma espécie de «trajo ou uniforme» brilhante, a flutuar sobre a sua cama. Pensa que gritou e tentou acordar Bob, que era então seu noivo, «mas ele não se mexeu». Enquanto os seres se aproximavam, Jerry ficou ainda mais assustada e «em seguida o nada» e «não me lembro de nada a seguir». Numa regressão posterior com outro terapeuta, na qual investigaram este episódio, Jerry ficou profundamente comovida quando recordou que lhe mostraram duas meninas gémeas, que ela pensa serem suas descendentes híbridas. Em 1990, Jerry sofreu a mais traumática das suas experiências de sequestro. Ainda não investigámos este episódio sob hipnose, devido à intensidade do terror e da dor a ele associados, mas Jerry UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 141 recorda-se conscientemente de muitos dos pormenores. Ela e Bob tinham acabado de comprar um apartamento duplex em Plymouth, no Massachussetts. Não se lembra de como o episódio começou, excepto que sentiu uma presença e algo a bater-lhe no ombro. Foi levada para uma sala circular, brilhante e parecendo de metal, e que continha o que parecia ser equipamento. Enquanto estava suspensa na posição vertical e estavam a ser efectuados testes, Jerry recorda que o seu colar se desprendeu do pescoço e caiu no chão. Comunicou telepaticamente com um ser alto, de cabelo «alourado», que parecia ser o chefe. Quando lhe disse que o colar se soltara, ele respondeu que já vira e acenou a um ser mais pequeno para que o apanhasse. Disseram a Jerry que não poderia reavê-lo imediatamente, porque estava «contaminado» e os seres colocaram-no numa «bolsa que parecia plástica». O chefe prometeu que o colar lhe seria devolvido noutra altura. Alguns meses mais tarde, a mãe de Jerry encontrou (Jerry contara-lhe o episódio do colar) o que Jerry pensa ser o mesmo colar, numa caixa, na Jórgia.

De início, Jerry não estava assustada durante este episódio e estava satisfeita por poder conversar com os seres. O chefe perguntou-lhe «como tinha sido a medicação até aí» e ela cometeu o erro de dizer «bem». Logo a seguir, efectuaram um procedimento qualquer na parte posterior da sua cabeça, acima do pescoço, que lhe provocou a dor mais excruciante que jamais experimentara, «mesmo pior do que o parto... Pensei que estavam a matar-me», disse ela e lembra-se de ter gritado: «Como pudeste? Perguntaste-me como ia a medicação». Além da própria dor, Jerry sentiu espasmos musculares, que estavam completamente fora do seu controlo e se estenderam das pernas aos músculos faciais. Gritou para que eles parassem e sentiu-se cheia de ódio e de raiva. «Eu pensava que de certa forma eles eram seres perfeitos e ternos. Como poderiam ter-me feito aquilo? Estava tão aterrorizada. Depois disso, desmaiei. Quando acordei, estava novamente na minha cama». Embora normalmente Jerry adormeça virada de lado e enrolada numa posição de auto-defesa, acordou deitada de costas. O corpo estava muito rígido e direito, as mãos cruzadas sobre o peito e os pés virados para cima e muito juntos. Ainda em pânico, Jerry tentou acordar o marido, mas não conseguiu. A seguir telefonou para a mãe, para a Jórgia, porque «precisava de dizer a alguém o que tinha acontecido». Num dos três episódios de 1991, Jerry lembra-se de ter sido 142 SEQUESTRO levada por seres mais altos, mais parecidos com os humanos, louros e de pele clara, para o que parecia ser o topo de um edifício muito alto, com equipamentos iluminados lá dentro. Teve a sensação de estar numa praia ou à beira-mar, porque ouvia o vento e a batida das ondas, sentia a brisa e cheirava a maresia. No alto deste edifício, foram mostradas a Jerry imagens de mísseis e de outras armas. Ela sentiu que isto era muito importante. Também lhe mostraram uma espécie de máquina triangular, que se tornava circular quando girava e que «talvez tivesse alguma coisa a ver com voos». Asseguraram a Jerry que nunca mais esqueceria o que lhe tinha sido mostrado messa ocasião. No dia seguinte, descobriu-se a fazer triângulos com papel, com lápis ou com palitos e a «fazê-los girar, girar, girar». Em Novembro de 1991, Jerry acordou, sentindo novamente uma presença. O quarto estava inundado de uma luz cor-de-laranja avermelhada, que começou rapidamente a esmorecer. No dia seguinte, a sua mente parecia estar «ligada no volume máximo», a transbordar de pensamentos. Jerry sentia-se como se estivesse cheia de informações «de carácter universal», «coisas espirituais, estranhas para mim». Depois disto, como já dissemos, Jerry começou a escrever abundantemente. Durante o mês e meio seguinte, os seus escritos incluíram cem poemas, ao passo que antes «nunca tinha escrito um poema na minha vida». Jerry achava a pressão destes pensamentos e da escrita bastante esmagadora e disse: «Não sei de onde vêm». Nos meses anteriores à nossa primeira sessão de hipnose, a 11 de Agosto de 1992, Jerry continuou a ter experiências de sequestro, incluindo um episódio apenas três semanas antes, no qual Jerry se lembra conscientemente de ter visto a aproximação de um OVNI e de ser levada para a nave por seres humanóides cuja atitude ela sentiu ser afectuosa e benevolente. Aí, Jerry viu prateleiras cheias de instrumentos e de frascos, esteve sentada numa cadeira ou numa mesa e manteve um diálogo complexo com alienígenas, que teve a sensação de serem «muito para além do que nós pensamos que é ser inteligente

ou mesmo génio». Um deles explicou-lhe que vinham «de um futuro tão longínquo» que ela jamais poderia compreender. Jerry lembra-se de ter dito para si própria: «Isto é bestial. Consigo ver tudo e estou tão consciente». No seu diário, concluía: «Estava convencida sem qualquer sombra de dúvida de que o que estava a viver era real. Eles olhavam para mim, com o seu sorriso adorável de quem sabe tudo e dziam simplesmente: 'sim'. E, então, eu disse, bem, se isto é real, isso signiUMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 143 fica que de certa forma eu estou a viver uma vida dupla... Tive a sensação de que havia uma razão específica para o facto de eu, e outros como eu, não termos consciência desta realidade, pelo menos não tanta como desta realidade, que temos aqui e agora». Bob acompanhou Jerry à nossa primeira sessão de hipnose. Veio como céptico, mas disse que ou «ela está a mentir-me» ou «está realmente a acontecer» e «ela não é nada mentirosa... É a pessoa mais honesta que encontrei em toda a minha vida». Não obstante, a resistência de Bob revelou-se em certa medida quando ele disse que «tinha adormecido» durante a transmissão da maior parte da minisérie Intruders, que continha algumas cenas de sequestro arrepiantes. Antes de iniciarmos a regressão, revimos várias das experiências de sequestro de Jerry e, em seguida, ela falou da sua busca de uma Igreja com a qual sentisse mais em comum do que o Catolicismo, em que foi educada. «Tenho como que flutuado entre religiões com os amigos», disse. Uma igreja protestante local pareceu inicialmente a Jerry e Bob bastante confortável, mas «eles queriam mudar completamente as nossas vidas» e, nas suas palavras, «fizemos uma pausa e, até aqui, estamos a gostar». Jerry ficou especialmente perturbada quando descobriu que não podia falar a ninguém da igreja acerca das suas experiências de sequestro, pois todos encaravam o fenómeno como «totalmente mau, coisa do diabo». Deus, diziam eles, «nunca criaria seres parecidos com esses», o que voltou Jerry contra a Igreja, uma vez que, em sua opinião, os alienígenas são «outra inteligência, outro ser, outra realidade... Não sinto que eles sejam necessariamente bons ou maus». Uma vez, quando Jerry contou a vários homens da igreja que tinha tido uma experiência de desmaterialização, eles «foram directamente falar com o superior, que lhe disse: 'Bem, nunca mais faça isso'». Depois, falámos sobre a curiosidade de Jerry acerca do episódio do Missouri, quando tinha sete anos, e decidimos concentrar-nos nele. Revimos cuidadosamente a localização da casa, que ficava numa colina junto de um pequeno ribeiro e de pastagens de gado, e a disposição das salas da casa. Jerry e a irmã mais nova partilhavam o mesmo quarto, dormindo em beliches. Em transe, as primeiras imagens de Jerry foram do seu quarto de paredes cor-de-rosa e de estar no chão, vestindo a sua comprida camisa de noite de flanela. A casa estava muito silenciosa e ela recorda-se de se sentir ansiosa e saltou para fora do quarto, para o 144 corredor. Uma estranha luz «Não devia ter medo deles, crescente, Jerry sentiu-se corredor e, depois, para a

SEQUESTRO brilhante enchia o quarto e Jerry pensou: porque os conheço». Apesar do medo compelida a sair do quarto, primeiro para o sala de estar. Lá fora, na direcção de que a

luz parecia provir, Jerry viu cerca de trinta a quarenta pequenos seres e recuou, cheia de terror. Não conseguiu mexer-se, enquanto vários dos seres passavam através dos vidros e entravam na sala. «Eu não saí, por isso eles tiveram de entrar», disse ela. Jerry sentiu que eles estavam a ficar impacientes com ela e «arrancaram-me» da posição de agachada. «Não quero sair pela janela», disse ela, quando a pressão se tornou mais forte. Para espanto de Jerry, os seres levaram-na pela janela «e em seguida subi muito depressa». Como se estivesse «parada no céu», Jerry via o topo da sua casa, as árvores e o chão lá em baixo. «Quase fiquei sem respiração, de subir tão depressa». Havia uma «coisa grande por cima de mim», para dentro da qual a levaram. Apesar da coerção, Jerry sente que participou de certa forma no processo, mas «no entanto, não sei como». A chorar nesta altura, Jerry viu que dois dos seres levavam também «a flutuar» o seu irmão Mark, ainda bebé, e ficou preocupada porque «ele devia estar com medo», embora parecesse estar a dormir. Jerry pretendeu fugir, mas compreendeu que estava «mais ou menos paralisada da cintura para baixo». Respirando pesadamente durante a sessão, com a voz a tremer, Jerry descreveu esta paralisia como uma vibração dolorosa. A seguir, uma «tremenda vibração» estendeu-se às suas mãos e «tenho medo que tome conta do meu corpo todo». Assegurei-lhe que o reviver da experiência não a magoaria. «A vibração é tão forte. Não a compreendo», gemeu ela, temendo não ser capaz de respirar. «Não posso fazer nada» e «estou preocupada com o Mark», gritou ela. As poderosas vibrações pareciam abanar todo o corpo de Jerry. «Está bem, podem-me fazer isto a mim, mas não é justo que o façam a ele», disse ela, «ele ainda é um bebé! Odeio-os por isso... A princípio, pensei que eram bons». A chorar, enquanto recordava uma experiência de sequestro anterior, Jerry disse: «Eu pensava que eles eram engraçados e que só queriam ir lá para fora brincar». A sala redonda da nave, para a qual Jerry e Mark foram levados em primeiro lugar, estava escura de início. Depois, Jerry reparou que tinha «a forma de uma catedral. Na realidade, é branca... Tem varanUMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 145 das. Tem vários níveis, que sobem até muito alto. As pessoas e as máquinas estão lá mesmo em cima». Há duas mesas curvas na sala, uma para Mark e outra para Jerry, nas quais os colocaram. «Ele parece pequenino» sobre a sua, observou ela. «Limitei-me a olhar para Mark e a dizer-lhe para se portar bem e não se mexer», disse Jerry por entre as lágrimas. Podia cair ou qualquer coisa», acrescentou, preocupada. A seguir, Jerry viu um pequeno ser «muito escuro», debruçado na balaustrada «só a olhar» para ela e reparou que, por trás dele, estava um ser mais alto e mais claro, a que chamou «o chefe». Parecia mais velho, «enrugado e firme», com uma «cara simpática» e um «tipo de sorriso permanente», vestia um fato amarelado de uma só peça e tinha apenas um tufo de cabelos viscosos, branco-amarelados. As mãos eram «longas e magras». Este ser comunicou o nome dela, «Jerry», como se a conhecesse, o que ela achou assustador, especialmente quando compreendeu que ele também lhe parecia familiar. Tudo isto fez que a recordação lhe parecesse ainda mais real. Respirando com dificuldade e com o corpo a tremer, Jerry gritou: «Oh, não sei se posso fazê-lo!... Até agora era apenas um sonho»,

disse ela, mas se admitisse que este ser é ou era real, então, «tudo o mais seria também real». A mãe «estava errada», quando insistia em dizer que esta experiência era apenas um sonho, disse Jerry. «Tenho de parar de pensar sobre aquilo que toda a gente diz... Tenho de viver a minha própria vida. Não posso continuar a agradar à minha mãe». acrescentou ela. «Tenho de defender» o que aconteceu, disse Jerry, «quer as pessoas pensem que eu sou doida, quer não». O chefe perguntou a Jerry «se a medicação estava bem até aí», mas ela não compreendeu. Em seguida, Jerry recordou um procedimento extremamente agonizante, implicando a inserção de «qualquer coisa afiada» como uma «agulha» num dos lados da sua cabeça, o que evidentemente demorou algum tempo e contra o qual «não havia medicação». Gritou desesperadamente e transpirou abundantemente, com o corpo a contorcer-se de dor, enquanto tentava libertar-se das suas recordações. «Penso que isto me vai matar», disse ela. Assegurei-lhe que a recordação não a mataria e encorajei-a a gritar, enquanto descrevia o instrumento que estava a ser guiado, a partir de um «ângulo elevado» até ao lado do seu pescoço. «Parem de me magoar», gritou ela muito alto e queixou-se de espasmos e outros movimentos incontroláveis nas suas pernas (que eu podia observar). 146 SEQUESTRO Depois, arquejando, Jerry gritou de terror: «Não posso para-la! Aiiii! Aiiii! Odeio fazer isto! Parem! Parem!» Os altos gritos e a violenta agitação de Jerry continuaram, e ela gritou: «Estão a virá-la! Estão a virá-la! Ohhhh! Está dentro de mim! Foi o que ele enfiou dentro de mim. Aiiii! Aquela coisa! Espetaram aquela coisa dentro de mim!» Tranquilizei Jerry o melhor que pude, dizendo-lhe que se sentiria melhor quando tudo acabasse. «Está a sair», disse ela. «Há uma fuga. Sinto que está qualquer coisa a pingar na minha garganta». Ela não tinha a certeza se era sangue, saliva ou outra coisa qualquer. «Estão a deixar-me descontrair. Eles são horríveis. São cruéis. Pensava que tinham feito mais qualquer coisa. Oh, (num murmúrio) não previ isto.» Jerry lembrou-se que, nessa altura, lhe tinham dito que tinham colocado uma espécie de um pequeno objecto dentro dela, «para a controlar», sem qualquer outra explicação, além de «temos de fazer o que temos de fazer». «Penso que ainda cá está», disse ela. «Não me lembro de mo terem tirado». Depois disto, Jerry sentiu-se fraca e cansada. Não sabia o que tinham feito a Mark, mas disse: «Se lhe fizeram o mesmo, mato-os». Jerry lembra-se pouco do que se seguiu. O chefe foi-se embora, enquanto ela ficava na mesa durante alguns minutos. Depois, viu raios e pontos de luz vermelha e amarela. Não se lembra de como voltou para casa, nem se lembra de ter sido capaz de contar à mãe, ou a qualquer outra pessoa, quaisquer pormenores do trauma, nessa altura. Enquanto a regressão terminava, Jerry e eu especulámos sobre os mecanismos de defesa que, até agora, poderiam tê-la impedido de se lembrar desta experiência angustiosa. — Estou encharcada — disse Jerry ao sair do transe. — Nunca pensei que pudesse fazer-me isso, para me levar a desabafar. Vários minutos depois da sessão ter terminado, Jerry continuava a sentir os braços e as pernas «esquisitos» e comentou que se sentia «como se alguém me tivesse ligado a uma máquina vibratória... como se alguém me tivesse posto dentro de uma máquina e eu fizesse parte dessa máquina». Evidentemente que a «medicação» se referia a este processo vibratório, mas como não o sentia na cabeça

nem no pescoço, as vibrações não diminuíram a dor. Então, Jerry lembrou-se de que, quando o anestesista tentara dar-lhe uma injecção na medula para reduzir a dor durante o nascimento de Colin, ela gritara, porque parecia ser «algo semelhante» ao que lhe acontecera na nave. Esta sessão confirmou a convicção infantil de Jerry de que UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 147 o alegado «pesadelo» de quando tinha sete anos, era na realidade «a recordação» de qualquer coisa que «deve ter acontecido nessa altura». Bob, também ele em estado de choque devido ao que vira a sua mulher sofrer, disse no fim da sessão: «É muita, muita coisa para aceitar. Ao princípio, eu não tinha a certeza e depois vi que isto estava a incomodá-la tanto quanto se viu, a dor e tudo. Aí comecei a ficar um pouco preocupado». Mas, em seguida, descobriu uma forma de «ficar sentado. Primeiro, estava grudado à cadeira e, depois, tive de começar a levantar-me...» No dia seguinte ao da sessão, Jerry e eu tivemos uma conversa telefónica de acompanhamento. Ela manifestou-se chocada pela forma vívida como tinha revivido a experiência de sequestro. «Pensei que só teria umas poucas recordações», disse ela. Jerry comentou como sempre se tinha sentido relutante em ver ou recordar os próprios seres alienígenas. Isto era demasiado aterrorizador, porque «conhecemos aquilo que já vimos». Sentia-se confusa quanto à intensidade da dor e perguntava-se se alguns dos elementos da sua experiência de 1990 se tinham misturado com a experiência de infância que acabáramos de investigar. No seu diário, Jerry tentou distinguir os elementos da experiência de quando tinha sete anos dos da experiência de 1990, mas estava em desvantagem, porque não tinha explorado o incidente mais recente sob hipnose. Nas semanas seguintes, Jerry descreveu no seu diário vários outros sequestros, passados e presentes, sonhos relacionados, «sonhos vívidos do aparecimento de OVNI» e experiências de viagens astrais, estimuladas pela regressão. Foi também durante este período que Colin começou a contar as suas experiências, que Jerry registou no seu diário. Seis dias depois da regressão, escreveu: «Sinto que, desde a regressão, parte do longo e pesado fardo que tenho carregado foi aliviado». A 27 de Agosto, observou o aparecimento de uma coluna ou feixe de luz em frente às escadas da sua casa e pensou em telefonarme, mas não o fez. A 21 de Setembro, Jerry registou pela primeira vez um sonho que se repete, sobre um cavalo que ela desejava trazer para casa, para tratar dele adequadamente. No fim do sonho, Jerry sentia-se «privada da oportunidade de estar com o cavalo e tratar dele». Em Setembro, começou a reflectir sobre os seus temores sexuais e relacionou-os, pela primeira vez, com o trauma dos sequestros. Foi o desejo de vencer estes medos e «ter uma relação sexual normal» que levou Jerry a solicitar uma segunda sessão de hipnose. 148 SEQUESTRO Este encontro ocorreu a 5 de Outubro e Jerry afirmou expressamente o seu desejo de descobrir porque é que sempre tinha evitado o sexo «a todo o custo». A irmã de Bob, Anna, esteve presente durante a sessão. Jerry optou por explorar o episódio em que, aos treze anos, tinha ficado aterrorizada com uma pressão exercida sobre o seu abdómen e área genital. Antes de iniciar a regressão, recordámos as circunstâncias que rodearam o episódio, que provavelmente ocorreu no outono de 1975, quando Jerry estava no início do oitavo ano.

Embora o episódio tivesse sido aterrorizador, Jerry não o contou a ninguém, nem mesmo à mãe. Sob hipnose, a primeira recordação de Jerry foi a de acordar com o quarto iluminado por uma luz branca e brilhante. Sentiu uma presença que a assustou e pensou: «Se eu ficar muito sossegada, eles não conseguirão apanhar-me». Os seres tentaram tranquilizá-la, dizendo-lhe para não ter medo, mas não deu resultado porque «eles são tão mentirosos». Embora «eu não queira vê-los», Jerry reparou em dois seres, «um atrás de mim e outro mesmo aqui (ao lado dela)». Disseram-lhe que tinha de ir com eles e ignoraram os seus protestos. «Agarraram-me pêlos braços», disse Jerry, e ela sentiu um contacto «gentil, macio como veludo, mas frio». Este toque pareceu sossegála e, a seguir, Jerry viu-se «apenas a ir com eles. Devagar, a subir devagar. É estranho. Não sei como é que eles podem fazer isto». Com um ser de cada lado, levaram Jerry a flutuar «pela janela, como se fosse uma parede. É como se não estivesse lá». Sentiu novamente «aquela sensação de paralisia», enquanto era arrastada para uma grande nave. «Este arrastamento assustou-me», disse Jerry, enquanto a respiração se tornava mais rápida e superficial. Foi levada através de uma abertura para «a mesma estúpida sala» onde «acontecem as coisas más». Dois seres estavam a fazer qualquer coisa com uma mesa, «a prepará-la ou algo do género. Não tenho qualquer controlo». Um ser mais alto, que ela tem visto «muito» desde os seus cinco anos, mas que não gosta de reconhecer, disse-lhe para não ter medo, mas apesar disso o medo dela aumentou. «Será que eles não entendem o que estão a fazer?» protestou Jerry. Quando era uma criança pequena tinha confiado neste ser, mas agora sentia que ele a tinha traído. «Ele não tem paciência nenhuma», e apesar dos seus protestos «eles puseram-me na mesa de qualquer forma. Não podemos discutir com eles». Jerry sentiu-se «embaraçada» diante dos alienígenas, quando lhe UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 149 despiram o pijama. «E como se eles pensassem que são médicos ou qualquer coisa assim. Não creio que sejam médicos». Agora deitada de costas, Jerry sentiu-se um pouco mais «tranquila» e menos assustada. Um dos seres colocou as mãos sobre os olhos dela e premiu qualquer coisa «parecida com um tubo» contra a parede do seu abdómen, acima do umbigo. Com o instrumento ainda enterrado no abdómen, o ser tirou a mão dos olhos dela e Jerry sentiu-se mais relaxada e, também, sonolenta e cansada. A seguir, reparou que um dos seres empunhava um objecto brilhante em forma de ferradura com uma pega, enquanto os outros lhe dobravam os joelhos para cima e os separavam. Agora a chorar, disse: «Vão tapar-me os olhos novamente. Porque está ele a fazer isto? Acho que não quero saber. Não quero saber o que eles fizeram». Jerry disse aos seres que ia contar à mãe, mas eles disseram que o não faria. «Se ela estivesse aqui, não os deixava fazer isto», lamentou-se Jerry pungentemente. Os seres insistiram em dizer que ela não contaria nada, porque não se lembraria. Nesta altura perguntei-lhe se «não se importava de se lembrar agora». Ela disse que não, mas exclamou: «Não é justo!», com o que eu evidentemente concordei. «Tentaram fazer que eu pensasse que se tratava apenas de um pesadelo», queixou-se ela. «O que é que eles pensam, que eu sou apenas um animal, ou qualquer coisa assim?» O medo de Jerry aumentou mais uma vez, quando ela sentiu uma «pressão» dentro da vagina. Contrapôs que, apesar dos seres lhe

terem assegurado repetidamente que não se lembraria, estava, de facto, a recordar-se agora do que tinha sucedido. A seguir, Jerry gritou e gemeu, soluçando. «Eu só quero a minha mãe», enquanto sentia «qualquer coisa arredondada lá dentro», uma «sensação de rigidez e de compressão... Porque é que eles estão a fazer isto?», gritou Jerry. «Não vou deixá-los fazer isto de novo!» Encorajei-a a exprimir as suas emoções. «Porque é que isto não acaba? Parem!», gritou ela. Finalmente, esta parte da provação terminou. Jerry sentia como se tivessem colocado qualquer coisa no mais fundo do seu corpo, para além da vagina, talvez através do útero. Depois de adulta, Jerry sofreu um aborto, o que apresentava algumas semelhanças com estes procedimentos. Viu o instrumento em forma de ferradura a ser retirado do seu corpo e lutou com a recordação do que ele transportava. «Não quero continuar», protestou ela. Assegurei-lhe que eu estava ali e deixei-lhe a escolha. «Não pode ser», disse ela num murmúrio. 150 SEQUESTRO «Oh, não posso acreditar. Sou jovem demais para isto, só tenho treze anos.» Disse-lhe que não devia ser feito, mas que, de um ponto de vista estritamente biológico, ela tinha idade suficiente. «Não sei», gemeu ela. «Oh, oh, isto não pode ser, não pode ser. Eu tenho de ser... Não sei». O que Jerry viu foi um «bebé», que era «muito pequeno e magro». Os seres pareciam muito satisfeitos com os seus esforços e mostraram-lhe esta criatura, que tinha talvez vinte e cinco centímetros de comprimento. Ela não se apercebeu de muitos outros pormenores, excepto que as mãos eram pequeninas e que a cabeça parecia muito grande comparada com o resto do corpo. O bebé foi colocado numa «coisa cilíndrica» de plástico transparente, ficando a flutuar numa espécie de fluído. «Porque quereriam eles fazer isto?», exclamou Jerry. «Não entendo. Sou muito jovem para ter um bebé. Eles só me disseram para não me preocupar. Não tenho de cuidar dele». Perguntei a Jerry que espécie de ligação sentia em relação ao feto e ela respondeu: «Penso que eles me fizeram sentir que não é meu. É deles. É uma parte deles». Enquanto Jerry jazia sobre a mesa durante cerca de meia-hora, os alienígenas pareciam estar «a tratar do pequeno bebé». Em seguida, trouxeram-no até junto dela, para que o pudesse ver. Os seres queriam que Jerry se sentisse orgulhosa por ter gerado esta criatura. Mas ela sentia-se zangada, confusa, usada e traída. Jerry continuou a exprimir a sua intensa sensação de choque e incredulidade. «Eu nem sequer sabia que tinha qualquer coisa assim dentro de mim!», disse ela com uma débil gargalhada. «Se iam fazer isto, deviam pelo menos ter-me dito», acrescentou ela. Perguntei-lhe se lhe tinham dado quaisquer outras informações sobre o que se tinha passado. O «chefe», disse ela, «disse-me que era lindo e que um dia eu compreenderia, mas tinha a ver com a criação». — A criação de quê? — perguntei-lhe. — Penso que de um novo ser. Uma nova raça ou uma nova... Não sei. Ele realmente não disse nada de específico. Disse apenas que «num momento do seu próprio tempo» ela compreenderia. «Disseram que era lindo. Era maravilhoso» e «devia apenas acreditar que estava relacionado com a criação». Nesta altura, Jerry começou a discutir consigo mesma sobre se deveria ou não dizer-me o nome do chefe, que aparentemente sabia. Dizê-lo, segundo ela, faria com que ele parecesse mais real, dando-

-lhe uma identidade mais forte. Uma vez, quando Jerry estava a UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 151 escrever, ele pareceu falar com ela e perguntou-lhe: «'Negas?' — Penso que ele desejava que eu admitisse que ele era real. Penso que ele desejava que eu me recordasse». O nome veio-lhe à memória como algo parecido com «Moolana». Quando a sessão estava a chegar ao fim, Jerry lembrou-se de que a tinham ajudado a vestir-se, mas só tinha uma recordação «muito vaga» da forma como regressara a casa e voltara para a sua cama. Acordou deitada de costas e, na altura, lembrava-se apenas que um dos seres estivera debruçado sobre ela, «feito pressão sobre o seu estômago» e «fizera qualquer coisa nas suas partes intimas». Assim, a sua memória consciente juntara o início do sequestro ao que acontecera na nave. Ao rever a sua experiência, Jerry reparou que não tinha qualquer controlo sobre o que tinha acontecido. Tal como no sequestro ocorrido na sua primeira infância, que exploráramos na primeira regressão, Jerry sentia que «não teria conseguido suportálo», caso se recordasse conscientemente deste episódio traumatizante. Mas agora sentia que «tinha de dizer a alguém» e que «eles iniciaram» esse processo. Quando saiu do estado de transe, Jerry sentia-se relaxada, mas continuou a manifestar a sua indignação para com os alienígenas. «Eles não tinham o direito de fazer o que fizeram e são bastante arrogantes por o terem feito... Apenas para tirar... eles não sabem, não nos conhecem suficientemente bem, para saber que uma rapariga de treze anos não faz essas coisas?... E para os seus próprios objectivos. Estão a ser bastante egoístas». Mas, ao mesmo tempo, sentia que era «um instrumento ao serviço dos seus desígnios», Jerry sentia também que estava a participar num plano que vinha de «um lugar mais elevado». «Tenho a sensação de que não são apenas eles». A seguir, Jerry falou da crescente resistência de Bob a aceitar a realidade das suas experiências, sobretudo, segundo ela acreditava, devido às implicações que para ele adviriam do facto de o seu filho mais novo, Colin, também estar envolvido. Então, lembrou-se de que ela e Colin têm a mesma deformação genética num dos dedos dos pés e que Colin se queixara que «o mocho mordeu o meu dedo do pé», enquanto o dedo do pé deformado de Jerry foi igualmente examinado durante uma das suas experiências. Depois, Jerry associou isto a um raio de luz azul prateada em que reparara recentemente numa noite, quando se preparava para dormir, e viu a palavra DNA em grandes letras a negro e ouviu a frase «a característica mar152 SEQUESTRO cante», que tem um significado no domínio das pesquisas genéticas, de que Jerry não entende absolutamente nada. Falámos acerca da influência desta experiência de sequestro sobre a sua vida sexual. Jerry foi educada com uma atitude de aceitação relativamente a «casar, ter relações sexuais e ter bebés», disse ela. «O sexo significa casar, ter filhos, acarinhar, amar e partilhar». Mas é óbvio que «eles (os alienígenas) não fazem nada disso». Eles «não têm qualquer respeito pêlos sentimentos, pelo amor ou pelas relações entre as pessoas...» Quando tem relações sexuais, Jerry recorda-se das experiências de sequestro traumáticas, como a que acabámos de recordar. «Quando tenho relações sexuais, é assim que sinto. Sinto que eles estão a fazer aquilo. Sinto-me como se tivesse

de sorrir forçadamente e suportar o que está a acontecer. É como se, de cada vez, revivesse tudo... Eu transfiro, eu sei... Não tenho qualquer controlo sobre isso... Nunca soube de onde provinha esta sensação». No fim da sessão, Jerry mostrou-me uma pequena cicatriz circular e indentada que tinha no abdómen e que associava aos procedimentos que acabava de recordar. Até este momento, não soubera «qual a sua origem», mas parecia ter a certeza que era o resultado de um dos seus sequestros. Não consegui saber de Anna, que parecia um pouco atordoada, qual a sua reacção a esta sessão. Nos dias que se seguiram a esta regressão, Jerry atravessou um período difícil. Tinha dificuldade em adormecer, chorava muito e procurava sem sucesso uma explicação alternativa. Segundo disse Jerry, Anna estava completamente perturbada pelo que vivera durante a sessão. Não podia «acreditar» naquilo, mas dissera a Jerry: «Não estás a mentir». O cepticismo de Anna tornou mais difícil para Jerry a tentativa de integrar a experiência. Entretanto, consultara um outro terapeuta, que vivia mais perto do que eu, a fim de reviver mais activamente as suas memórias. Porém, as breves sessões de hipnose com este terapeuta, que prosseguiram durante o Outono e o Inverno, em vez de a ajudar, pareceram agravar o seu trama. «Estou a recuperar mais memórias do que aquelas que posso suportar», escreveu ela no seu diário, em Janeiro. O terapeuta encorajara-a a recuperar as suas memórias mais depressa do que ela se sentia preparada para fazer, pressionava-a para realizar sessões semanais e ameaçava-a com consequências negativas, caso se recusasse a fazê-lo. Jerry sentia-se sobrecarregada e procurava ajuda nas reuniões mensais do meu grupo de apoio. Também a incitei a «abrandar» e, em seguida, a UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 153 parar com as sessões do outro terapeuta, visto que a recuperação que ocorria era acompanhada de pouca aceitação. Jerry registou fielmente no seu diário as experiências do Outono e do Inverno. Os seus temores a respeito de Colin, acima mencionados, deram origem às análises já descritas. Ela própria teve vários sonhos acerca de guerras nucleares, nos quais se verificava um pânico generalizado e se ouvia a ela própria a dizer: «Deve ser o Armagedão». Num destes sonhos, olhava lá para fora, para o nada, e via um OVNI, que se movia lentamente com uma espécie de raio e ia disparando para a terra. Inundada pelas recordações dos sequestros que iam surgindo durante as regressões com o seu terapeuta, Jerry escreveu sobre a «destruição» dos «mecanismos de defesa» e a natureza extraordinária de uma experiência ameaçadora, que pode repetir-se imprevisivelmente a qualquer momento. «Pergunto-me se alguém que não tenha sido sequestrado», escreveu ela nos princípios de Janeiro, «poderá de alguma forma compreender o que significa não ter a mínima ideia de quando irá ocorrer o próximo sequestro» e «gostaria de saber como é que a mente funciona quando uma pessoa fica sujeita a um trauma contínuo e sabe que isso poderá nunca acabar». No fim de Janeiro, Jerry teve aquilo a que chamou um «sonho do cavalo», no qual procurava o «meu cavalo» numa sala que parecia um laboratório, com piscinas formadas de pequenos cubículos ou tanques. Quando olhou para estes, sentiu-se triste. «É quase patético». Reparou num dos cavalos que estava mais próximo dela. Quando virou a cabeça, ele olhou-a com «grandes olhos escuros». «Estes pequenos cavalos estavam todos ligados a uns fios dentro de água. Todos tinham braços e pernas compridos e eram muito

magros. Parecia que não conseguiam segurar as próprias cabeças, mesmo que quisessem. Mas este voltou a cabeça e olhou directamente para os meus olhos. Não tenho a certeza do que senti quando ele o fez, mas senti nos seus olhos uma consciência que estava muito para além do que poderia imaginar que fosse capaz». A 4 de Março de 1993, Jerry veio consultar-me, acompanhada de uma amiga íntima, que também era uma sequestrada. O objectivo da sessão era rever o que estava a acontecer na sua vida e fazer planos para o futuro. Jerry falou da sua sensação de ostracismo e isolamento, especialmente do afastamento da família de Bob e da necessidade de uma comunhão de entendimento em torno do fenómeno dos sequestros. Recordava-se agora de abortos inexplicáveis que a 154 SEQUESTRO mãe e a irmã tinham sofrido. Uma maior discussão acerca do sonho dos pequenos cavalos levou Jerry a ligar este sonho a um outro, com bebés híbridos, aos quais a prendiam fortes laços. «És a nossa mãe», diziam as meninas e sentira o mesmo laço com um dos pequenos cavalos, que, segundo ela agora pensa, representava uma criança humana ou híbrida. Jerry desejava uma terceira sessão de hipnose, porque ainda havia, segundo ela dizia, «alguns» sequestros «que continuavam a perturbá-la». Pensava especialmente no doloroso episódio de 1990, no qual «gritei, gritei e gritei» e no encontro de 1991, do qual ainda recordava o cheiro a maresia e o som das ondas na praia. Porém, a sua psique «escolheu» um incidente ocorrido em Setembro de 1992, que teve um impacto especialmente fundo na sua vida íntima. Encontrámo-nos a 27 de Maio e Jerry veio sozinha. Antes do início da regressão, falou do crescente afastamento que sentia em relação à família do marido, que a levou a decidir deixar de falar das suas experiências de sequestros, excepto quando eles perguntavam alguma coisa. A sogra, disse ela, «não consegue aceitar. Pensa que se eu for boa rapariga e disser as minhas orações, tudo passará». Porém, Jerry interroga-se acerca do que poderá ter afectado as suas experiências de sequestro, uma vez que se sentia como se fosse «caça livre». No entanto, tinha a sensação que o facto de não ter medo tornava as experiências piores. Recorda-se de que, uma vez, estava mais tranquila e «não lutou» e «essa não foi dolorosa... Eles fizeram coisas. Fizeram qualquer coisa ao meu braço que o fez inchar. E mostraram-me coisas... Acho que senti mais a comunicação, senti-me mais capaz de falar com eles e fazer perguntas e não me lembro de nenhumas respostas». Jerry não acha que eles queiram «causar-me medo, dor ou agonia» e «bem no fundo penso que o que eles fazem é, de qualquer forma, necessário». Está relacionado, disse ela, com «a aproximação das raças, dos seres, ou qualquer coisa do género, a fim de fazer outra criação». Isto «era muito importante», disse ela, e «como pessoa isolada, em comparação com esta coisa enorme que está suceder, deveria ver para além de mim mesma e saber que é para o bem de todos». Ao mesmo tempo, Jerry reparou que, durante o último ano, tinha aprendido a pensar de modo mais independente. «Penso que deitei fora algumas das minhas velhas crenças», disse ela e já não se limita a seguir «cegamente outra pessoa ou organização». Como UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 155 católica, tinha sido educada para sentir que estava a «desobeder a

Deus», quando seguia «os meus próprios instintos» ou fazia perguntas que desafiavam os dogmas da igreja. Quando nos preparávamos para iniciar a regressão, Jerry estava deitada de lado toda enrolada, e não inclinada para trás como é habitual. Então, ela explicou que é assim que se deita à noite: «Penso que posso encolher-me, tapar-me e fazer de conta que não estou cá». Para sua surpresa, a atenção de Jerry focou-se, não sobre os sequestros de que tínhamos estado a falar, mas num episódio ocorrido em Setembro de 1992, em que uma luz dourada, tão brilhante que fazia doer os olhos, tinha inundado o seu quarto. Os seres alienígenas pareceram descer flutuando, através das persianas, para dentro do quarto. «Eles têm um aspecto realmente estranho. Os olhos... Odeio-os. Odeio-os», disse ela. «É como se pudessem ver através de nós... Vão para dentro de nós», o que lhe dava «um sentimento enervante realmente estranho». Evitou olhar para eles, porque «é difícil pôr em palavras. É como se pudesse perder-me e sentisse que não tinha qualquer controle». Mais uma vez, os seres tranquilizaram-na telepaticamente. «Acho que nunca me habituarei à sua maneira de fazer as coisas», disse Jerry. «Nunca chegarei ao ponto de me sentir bem ao sair pela janela». Jerry não gosta da sensação e é curiosa a forma «como eles conseguem manipular a matéria, matéria sólida». Jerry estava novamente aterrorizada, enquanto era levada pela janela para uma cela familiar. «Conheço esta sala», disse ela. Experimentava «sentimentos mistos» relativamente ao chefe, que ela já conhecia. «Ele fala comigo e os outros não», mas tinha maus presságios quanto ao que aconteceria quando ele estivesse ali. À medida que o medo dela crescia, sugeri uma forma de reduzir a sua ansiedade. Ela deveria dividir a sua consciência, de forma que a Jerry Um, aliada a mim, observasse a Jerry Dois na sala. Utilizando este mecanismo, Jerry Um «observou» Jerry Dois despida sobre a mesa, impossibilitada de mexer os braços e as pernas, numa sala coberta de «muitos, muitos, muitos, muitos» recipientes rectangulares, «como gavetas de um armário», com «pouco espaço entre eles». Dentro destas gavetas ou «incubadoras», como lhes chamou mais tarde, estavam centenas de «não sei se poderei chamar-lhes bebés ou não, mas eram pequenos como penso que são os fetos». «Bastante para a direita» e «na direcção do fundo» estava um pequeno feto ou bebé, que Jerry pensava ser seu. O nosso meca156 SEQUESTRO nismo não estava agora a resultar, porque Jerry achava que «não posso ser emocionalmente indiferente... Isto dura desde os meus treze anos», disse ela e calculou que, ao longo dos anos, tinham sido executados cerca de cinquenta «procedimentos», envolvendo a implantação ou remoção vaginal de alguma coisa. «Acontece em ondas», disse ela, «Durante um tempo eu vou» e «não acontece nada» e, depois, «eles chegam e parece que é sempre assim». Lembra-se de ter sido levada algumas vezes — não sabe bem quantas — para ver o que pareciam ser seres híbridos. «É a parte que mais detesto», disse ela, «Penso neles, os pequenininhos, como cavalos». — Parecem cavalos? — perguntei. — Só nos olhos — e «são magros, com pernas compridas, sabe», como poldros, disse ela. — E assim que penso neles. Recordava-se especialmente das raparigas gémeas, que sentira serem suas filhas, mas não se lembra de ter sido levada para as ver até terem mais ou menos o tamanho de Colin, que agora tem três anos.

Jerry pensava que durante o episódio específico que estávamos a investigar um embrião tinha sido implantado no seu corpo. Pensava assim porque o episódio fora relativamente breve — «esses são os rápidos». Os alienígenas informaram-na que retiram o ADN de um macho humano — «o esperma pode ser do meu marido» ou de outra pessoa — e que o combinam com um óvulo. Depois de combinarem as substâncias genéticas do homem e da mulher, os alienígenos alteram o embrião de uma forma qualquer, talvez adicionando um dos seus próprios princípios genéticos. A seguir, este embrião alterado é inserido no corpo feminino, nesta ocasião o de Jerry, para «gestação». Regressando à sua memória deste sequestro, Jerry descreveu o modo como os seres lhe abriram as pernas, «como numa consulta normal de ginecologia», mas como estava paralisada não foram necessários estribos. Em seguida, foi introduzido um tubo comprido na sua vagina e sentiu «um beliscão». Ela sabia que esta fora uma das ocasiões em que haviam inserido um embrião dentro dela «porque já passei por isto antes e reconheço a rotina». O chefe retirara um embrião de uma das gavetas e levou-lho. «Da outra maneira» (quando retiram um feto do seu corpo) é «pior do que metê-lo cá dentro», porque nesse caso sentem-se espasmos dolorosos. Jerry relacionou a violação que sofrera durante o sequestro com o facto de não querer que o marido lhe tocasse. Segundo disse, UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 157 estava a começar a perceber «como acabara por associar as duas coisas...», como as experiências de sequestro semelhantes a violações tinham interferido com a sua vida íntima. «Arruinaram essa parte da minha vida», disse ela. «Não sei o que é fazer amor, porque estou sempre ainda demasiado tensa e com medo da dor e porque associo o sexo à dor». Depois, acrescentou: «Não acredito que eles tivessem a intenção de estragar a minha vida sexual». Antes de terminar a nossa exploração deste episódio, perguntei a Jerry se se lembrava de mais alguma coisa. «Gostaria que não me tivesse perguntado isso», disse ela, e acrescentou: «Não gosto que eles me toquem. Tocam-me em todo o lado... Por vezes, tocam-me devagarinho e eu gostaria também de ignorar isso... Estou a lembrar-me de quando o meu marido me toca, em qualquer lado e eu o afasto... Não é porque não o ame. Eu amo-o, mas nunca soube o que era. Nunca entendi... Sinto-me tão mal», disse ela; «Ele é um homem muito, muito carinhoso e gosta de ser abraçado e tocado e eu não posso fazer isso. Tenho medo de ser tocada. Só gostaria de saber como é quando nos sentimos bem com isso». Trabalhámos mais um pouco, para tentar distinguir entre os aparentemente frios procedimentos dos seres alienígenas e a atenção carinhosa e terna do marido. «Eles apenas fazem o que têm de fazer sem qualquer respeito pêlos meus sentimentos, e ele respeita em absoluto os meus sentimentos», disse ela, mas «parece que eu reajo da mesma maneira». Até agora, por vezes, sentia-me optimamente ao dizer não ao meu marido, porque era como se, através dele, fizesse parar os alienígenas. «Provavelmente, choraria durante dias e dias», disse Jerry, se ao menos conseguisse deixar que o marido a abraçasse. Falámos mais um pouco da sua solidão e da necessidade de ser abraçada e acariciada «de modo seguro, quente, mais ou menos como a minha mãe costumava abraçar-me. Oh, como eu gostava disso. Há muito tempo que não deixo que isso aconteça... Eles

meteram-se entre nós», disse ela. Uma «alienação de afectos», disse eu e Jerry ficou encantada. Perguntei a Jerry se recordava mais alguma coisa deste episódio. Jerry lembrava-se de ser levada por um corredor escuro para outra sala pequena com uma mesa, para cima da qual os alienígenas a empurraram apesar da sua resistência. Depois de vários alienígenas terem observado o seu abdómen, ficou novamente paralisada e eles fizeram uma palpação dolorosa dos seus pés, braço direito e mão 158 SEQUESTRO direita. O «mais alto» veio ter com ela e ela sentiu-se grata, porque ele a ajuda, tranquilizando-a e tocando-a «por vezes no ombro... não me importo que ele me toque», disse Jerry, mas «não gosto quando ele me fita nos olhos, porque parece ver dentro de mim. É demasiado...» — Demasiado quê? — Não sei. E como se alguém tivesse rastejado para dentro de nós e soubessem tudo de nós... Parece que me perco e ele parece entrar e eu não gosto. — Há algum aspecto de que goste? — perguntei. — Sim, por vezes, acho que sim — respondeu Jerry. — É um pouco como se ficasse envergonhada, porque se trata de uma espécie de sensação sexual... Não sou eu. É ele — continuou ela — e não tenho qualquer controlo. Enquanto os pés de Jerry eram esquadrinhados com agulhas, pediram-lhe que olhasse para um ecrã perto do seu rosto, que parecia um aparelho de televisão. Ficou furiosa ao ver que no ecrã estavam a passar filmes familiares, que a mostravam a dançar com Colin. Um dos seres estava a fixá-la, observando as suas reacções ao testemunhar esta cena intima de família. Ela ficou furiosa com esta descarada invasão da sua privacidade. Nesta altura, Jerry notou que havia uma espécie de máquina num dos seus dedos dos pés, entorpecendo-o. Era aquele dedo que tinha um ligeiro defeito, tal como o de Colin, «arqueado» e dobrado para baixo. «Ele herdou este meu defeito», comentou ela e os seres pareciam «curiosos ou a estudar» isso. A seguir, mostraram-lhe uma imagem ou uma pintura de Jesus, vestindo uma túnica branca. Mais uma vez, os seres pretendiam estudar as suas reacções ao ver esta imagem, mas a seguir Jerry ficou sonolenta e não se lembra de mais nada. Regressou ao quarto onde estavam as suas roupas e vestiu-as com a ajuda dos seres, porque tinha muito sono. A seguir, viu uma «imagem» de si própria a «flutuar através da grande árvore do pátio e directamente pela janela, até à cama», ainda com dores na mão. Bob estava a dormir, como obviamente estivera durante toda a experiência. Antes de terminar a sessão, passámos mais uma vez em revista a forma como Jerry misturara as suas experiências de sequestro com a intimidade humana. O seu ex-marido insistira que ela devia ter sido vítima de abuso sexual e, por isso, «consultámos vários conselheiros matrimoniais», tentando sem sucesso descobrir um perpetrador UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 159 humano. Jerry pensa que se tivessem conseguido descobrir «qualquer pessoa, como o meu pai ou o meu padrasto», ela teria tido muito menos dificuldade em resolver os seus conflitos sexuais. A convicção de Jerry quanto à realidade destas experiências foi aumentada

pelo facto de o seu irmão mais novo experimentar os mesmos problemas quanto à intimidade física. «A pobre da mulher dele» chora e chora, disse Jerry, «'ele não me toca, nem me deixa tocar-lhe'... Acho que também aconteceu qualquer coisa com a filha mais velha deles». A filha mais velha do irmão contou uma história sobre «uma luz na janela e na sala é onde aparecem os monstros». No final da sessão, Jerry disse: «Estou realmente convencida de que eles existem. São reais e estão a interagir connosco, mas, evidentemente, não sob uma forma a que estejamos habituados... Há uma razão para fazerem isto», acrescentou. Ela sente que eles estão a «criar — seja o que for que lhe queiram chamar — uma outra civilização totalmente nova». Não sabe «se eles vão pegar nela e levá-la para outro sítio qualquer ou se vai ser implantada aqui». Jerry, tal como outros sequestrados, tem sonhos acerca do fim do nosso mundo e relaciona o seu papel de «geradora» com esta eventualidade. Marcámos uma quarta sessão de hipnose para daí a cinco semanas, a l de Julho, para prosseguir o esforço de Jerry no sentido de «separar» o amor e a intimidade sexual com Bob das memórias das suas experiências de sequestro. A sua consciência da origem do problema tinha ajudado «um pouco», mas tinha «de continuar a repetir a mim mesma uma e outra vez» que «ele não é eles». Antes de iniciar a regressão, eu e Jerry planeámos uma estratégia, pela qual concordámos em que, no decorrer da sessão, eu reforçaria especificamente a distinção entre os traumas que eventualmente emergissem e que tivessem sido perpetrados pêlos alienígenas e a memória dos seus contactos íntimos com Bob. Esta estratégica terapêutica atraía Jerry, especialmente porque os membros da família lhe estavam sempre a dizer que ela devia apenas «aceitar que essa é a tua maneira de ser» e «Bob tinha começado a apoiar», aceitando que «talvez eu tenha que deixar de querer sexo». Começámos a sessão, concentrando-nos no encontro sexual que Bob e Jerry tinham tido no sábado à tarde («Parece que me sinto melhor durante o dia», explicara ela), cinco dias antes. Colin estava a dormir e disseram às outras crianças para não os incomodarem. Pedi a Jerry para recordar essa tarde e para 160 SEQUESTRO relatar quaisquer pensamentos intrusivos que lhe tivessem ocorrido na altura ou que surgissem nesse momento. Surgiram «instantâneos de recordações» de um incidente ocorrido quando Jerry tinha oito anos, quando, acompanhada por vários membros da família, regressava durante a noite de uma visita à tia. Jerry tinha adormecido e acordou, descobrindo que o carro tinha parado no meio da estrada. Ficou com medo, porque viu «um rosto à janela, mesmo aqui, muito perto» e uma nave acinzentada, parecendo de metal, a pairar nas proximidades, mesmo acima do chão, com «luzes provenientes da parte debaixo». A mãe, que vinha a conduzir o carro, um dos irmãos e a irmã pareciam estar a dormir. O rosto do ser tinha «uns olhos que pareciam maus ou coisa assim». Em breve, Jerry descobriu que os seus pés e pernas «estavam dormentes» e que não podia movê-los, enquanto continuava a ouvir no seu pensamento: «Está tudo bem». A seguir, sentiu «uma espécie de picada de abelha», que lhe provocou «uma sensação estranha» ao longo do ombro e do antebraço esquerdo e a fez adormecer. Quando acordou, Jerry encontrava-se deitada de costas, aparentemente sozinha, num sítio escuro que não reconheceu. Estava tão

assustada, que os dentes lhe batiam. O ser que tinha visto do lado de fora do carro estava «novamente junto do meu rosto, apenas a olhar para mim... Deve ser o diabo», disse Jerry, «porque só consigo pensar como é feio». O ser disse-lhe que «ia só fazer umas coisas e que depois eu podia ir para casa». Depois, sentiu uma sensação de aperto na garganta, como se fossem as mãos do alienígena, e teve medo que «ele me matasse». Depois disto, um outro ser forçou-a a virar-se de lado e pareceu estar a examinar-lhe as costas. Embora o seu medo daquilo que os seres poderiam fazer fosse muito grande, Jerry sentia-se «como se os conhecesse... não confio neles», queixou-se ela, porque «nós nunca sabemos o que eles vão fazer». «Não gosto que eles me toquem», disse ela, enquanto se recordava de ter sido repetidamente tocada nas costas. Senti como que várias «pequenas agulhas» e um «pequeno beliscão». O terror de Jerry provinha do facto de, ao contrário do que sucede «quando se vai ao consultório do médico, em que nos dizem e nós sabemos o que está mal e a minha mãe está comigo», nesta situação «não sei o que se passa, e sinto que em qualquer momento eles vão magoar-me». Depois, Jerry lembrou-se que «puseram-me novamente de costas» e «ficaram apenas a olhar» durante mais algum tempo. Jerry sentiu-se temporariaUMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 161 mente «melhor, porque eles não estavam a fazer nada», mas «tenho a sensação que está a acontecer qualquer coisa atrás de mim». Jerry sentiu-se terrivelmente embaraçada, quando me contou que o chefe lhe abriu as pernas, para «me examinar, e trouxe uma luz, uma luz muito forte, e eu penso o que é que eles irão fazer. Não gosto disto. É que está tudo bem quando eles se limitam a examinar e a tocar, mas não gosto disto. São as minhas partes íntimas e acho que eles não deviam fazer nada aí e acho que a minha mãe não ia gostar disto». A princípio, eles estavam «só a olhar» para dentro da sua vagina, mas a seguir «puseram lá qualquer coisa», que era «mais ou menos quando for mais velha, o ginecologista, sabe, mais ou menos assim». Este procedimento foi doloroso e Jerry gritou pela mãe, mas «isso não os fez parar». «Acabou muito depressa» e depois de verem e «examinarem», o ser que executou o procedimento olhou para o chefe e disse «não» ou deu qualquer outra resposta negativa a uma pergunta daquele. Jerry interpretou isto como significando que ela ainda não estava preparada para as suas manipulações reprodutivas. Pareceu a Jerry que este exame vaginal fazia parte do exame geral que os seres realizaram. Esta experiência foi mortificante para Jerry. A seguir, sentia-se como «uma boneca de trapos, como se não pudesse, como se não tivesse qualquer controlo sobre o meu próprio corpo». Nesta ocasião, Jerry conseguiu descrever a estranha luz em forma de gancho que foi colocada dentro dela, mas foi incapaz de recordar as sensações experimentadas no momento. «Nessa altuara (aos oito anos) não conhecia certamente a palavra 'violação'», disse ela, «mas foi qualquer coisa assim». Perguntei a Jerry se alguma vez soubera se o seu hímen estava intacto, mas ela respondeu que, quando era criança ou adolescente, nunca tocara ou examinara as partes genitais, talvez, em parte, devido ao trauma desta experiência. Jerry foi «sempre muito pudica» a respeito do seu corpo e, por vezes, a mãe comentava isso. A seguir, perguntei-lhe expressamente se não fora também feito um exame anal. Ela não tivera intenções de mo revelar, porque «é pior

do que o outro» e ocorreu antes do exame vaginal. «Limitei-me a omiti-lo», disse ela. Perguntei-lhe porque é que era pior. «Apenas fazê-lo», disse ela, foi «completamentç nojento» e muito mais incómodo. 162 SEQUESTRO Neste momento da sessão, Jerry sentiu-se fortemente abalada pela forma como as suas reacções aos avanços de Bob eram marcadas pêlos «cenários» das suas experiências de sequestro. Fez um movimento circular com a mão para descrever o modo como as memórias dos sequestros eram despoletadas pelo simples facto de Bob lhe tocar e como as experiências alienígena e humana estavam estreitamente ligadas. Por exemplo, quando Bob lhe acaricia as costas, ela lembra-se do toque/palpação dos alienígenas. «Quando ele começa com as carícias, a fita começa a correr na minha cabeça», disse ela. Quando ele lhe abre as pernas antes da relação sexual, ela recorda-se de quando os alienígenas lhe abrem as pernas sobre a mesa. Na sua mente, o acto sexual equivale às sondagens genitais forçadas nas naves, que não consegue interromper, e quando diz não e interrompe o Bob, é como se interrompesse os alienígenas, «mesmo sabendo que nunca conseguirei que eles parem». Em seguida, delineámos uma estratégia a aplicar ao relacionamento intimo, que acentuasse as diferenças entre as experiências de sequestro de Jerry e a sua relação com Bob. Em primeiro lugar, deveriam discutir e concordar previamente que ela tomaria a iniciativa dos preliminares e da própria relação sexual, depois de um longo período de conversa afectuosa, e que teria a opção de interromper esse encontro, a qualquer momento e sem sentimentos de culpa. Ela conduziria as carícias de Bob, que deveriam ser lentas e suaves, concentrando-se nos seios (nos quais os alienígenas não tocam), contrastando com os toques rápidos, semelhantes a alfinetadas, dos alienígenas. Ela iniciaria as carícias genitais e, quando o pénis de Bob estivesse erecto, ela pôr-se-ia em cima dele, conduzilo-ia para dentro de si e seria o parceiro mais activo, o que, segundo Jerry me assegurou, ele gostaria. Seria ela a controlar e comandar todas as fases. No final da sessão, resumi a Jerry as duas fases da estratégia que debatêramos — uma ênfase psicológica sobre a distinção, na sua mente, entre as experiências alienígena e humana e uma estratégia de acção, que reforçaria esta distinção. Ela estava ansiosa por dar início ao plano. Salientei também como deveria ter sido especialmente traumatizante a penetração anal e genital do seu corpo, quando Jerry tinha apenas oito anos. Porque nessa idade, ainda mais do que aos treze anos, uma criança não tem possibilidade de compreender ou registar conscientemente tais experiências, uma vez UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 163 / que a sua mente é demasiado imatura. Assim, a memória mantém-se profundamente enterrada no inconsciente, afectando os sentimentos e os comportamentos posteriores de uma forma que a pessoa não consegue compreender. Cinco dias depois da última regressão, Jerry passou pelo meu consultório, depois de uma outra consulta no hospital. Parecia bem e feliz e disse que a estratégia estava a resultar. Dois dias mais tarde,

Pam telefonou-lhe e ela disse que «tudo o que fizemos teve sucesso absoluto». Ela tentou com Bob aquilo que havíamos sugerido, esperando ficar ansiosa. «Mas nada disso aconteceu». Ele fez tudo o que ela lhe pediu, tranquilamente, e apreciou as iniciativas dela. Agora, Jerry tem a certeza de que aquilo que a perturbava nada tem a ver com ele, porque, se assim não fosse, a sua actividade sexual tê-la-ia incomodado. Ficou radiante, porque nenhuma das antigas sensações perturbadores regressou. Bob está muito feliz com a mudança. «Não posso acreditar», disse ele. Vários meses depois, a mudança ainda se mantinha. COMENTÁRIO O caso de Jerry serve como exemplo de uma vasta gama de fenómenos de sequestro. Foi vítima de uma série de procedimentos intrusivos, complexos, de carácter reprodutivo, na nave alienígena, incluindo a inserção e remoção do que pareciam ser fetos de uma espécie qualquer e teve encontros com entidades híbridas. Ao mesmo tempo, experimentou o desenvolvimento pessoal intenso e a abertura espiritual e filosófica que acompanham frequentemente as experiências de sequestro. É interessante que os seus escritos filosóficos e poéticos tenham antecedido o seu trabalho comigo e não possam, por isso, ser atribuídos à nossa relação ou interacção. Todos os seus três filhos, de dois matrimónios diferentes, parecem estar envolvidos nos fenómenos de sequestro. A representação mental dos bebés híbridos como cavalos ou potros, de início inconsciente, lembra-nos a variedade de formas animais, incluindo veados e diversos tipos de pássaros, sob as quais os alienígenas podem aparecer aos sujeitos de experiências. Para Colin, os alienígenas eram mochos do céu. Este complexo simbolismo poderá ser fruto do poder inconsciente da mente para disfar164 / SEQUESTRO çar os elementos ameaçadores, ou poderá ser induzido pêlos poderes de alteração da mente dos próprios alienígenas. Outra possibilidade seria a existência de um qualquer tipo de ligação profunda entre os seres alienígenas e os espíritos dos próprios animais, semelhante às ligações entre homens e animais que são comuns nas práticas xamânicas. Os sequestros de Jerry, iniciados na infância, foram para ela profundamente traumatizantes e os seus elementos intrusivos, com carácter de violação, reprodutivos e sexuais estavam profundamente enterrados na sua mente. Uma vez que a memória destas experiências se mantinha no inconsciente, Jerry não conseguia distinguir os aspectos físicos da intimidade e sexualidade humanas dos traumas provocados pêlos alienígenas. Consequentemente, Jerry era incapaz de gozar, ou mesmo de suportar, os contactos físicos com o marido, com quem mantinha uma relação de amor mútuo. A descoberta das memórias nucleares relativas às experiências traumáticas relacionadas com os sequestros, no decurso de quatro longas sessões de hipnose, permitiu a Jerry separar psicologicamente a actividade sexual humana das actividades reprodutivas dos alienígenas e permitiu-nos igualmente conceber estratégias capazes de reforçar esta distinção. Jerry e Bob puderam, então, gozar de uma actividade sexual satisfatória. E difícil, para quem não esteve presente durante estas regressões hipnóticas, avaliar a intensidade emocional das experiências traumáticas sofridas por uma sequestrada como Jerry. As suas expres-

sões verbais de raiva e de ultraje e as contorções do seu corpo são notáveis. Mas para além destas expressões catárticas, que permitem a aceitação das memórias traumáticas, o caso de Jerry é igualmente bem ilustrativo das outras dimensões do trauma provocado pêlos sequestros — o permanente isolamento pessoal, a incredulidade filosófica e o facto de novos episódios poderem atingir o sujeito, ou os seus filhos, a qualquer momento. Jerry é especialmente eloquente quando fala deste último aspecto. Ela terminou um poema chamado «Regressão», escrito durante o inverno de 1992-93, com as linhas seguintes: «Esta maravilhosa técnica alivia os traumas do passado/com um defeito embora, terá fim com o último?/porque ao contrário de outras vítimas de violação, incesto ou mesmo de traumas de guerra/nunca somos libertados do nosso contínuo e incansável melodrama do outro mundo». UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 165 Apesar do grande sofrimento que as experiências de sequestro lhe causaram, Jerry, como muitos outros sequestrados, agarra-se à ideia de que havia alguma coisa de grande valor, uma dimensão criativa, «uma razão específica», para o processo de sequestro — talvez a criação de uma nova raça de seres, na qual ela participou. É difícil saber se tais ideias correspondem a uma autêntica compreensão pelo próprio sequestrado, se são implantadas pêlos seres alienígenas ou se são o resultado de uma espécie de identificação com o agressor. Jerry, como muitos outros sequestrados, abriu a sua mente e o seu coração a preocupações filosóficas e espirituais importantes, que se exprimem de forma absoluta nos seus escritos. Numa entrada do diário de Novembro de 1992, Jerry contou um sonho em que viu a futura destruição da terra por uma guerra nuclear. Que tais preocupações com a terra e o seu destino eram anteriores ao nosso trabalho, provamno claramente as entrados do diário datadas de Dezembro de 1991, seis meses antes de ela me telefonar. Escrevendo como se estivesse a receber informações de uma outra fonte, ou voz, perplexa e perturbada, Jerry descreveu as belezas das floresta tropicais brasileiras, mas a seguir exprimia a sua preocupação: «esta floresta está a morrer de uma morte lenta... Porque é que este lugar tão lindo está a ser destruído?», continuava. «Começámos a investigar mais profundamente e descobrimos que não era o lugar que estava a morrer. Eram os seus habitantes que o estavam a matar. Então, ficámos muito preocupados com isto e continuámos a explorar o resto da terra e os seus habitantes. Estava a suceder exactamente a mesma coisa em todo o lado. Foi então que decidimos que era preciso fazer alguma coisa. Mas o quê? Como?... Será que a humanidade detesta tanto o seu próprio futuro que seria capaz de o destruir?», perguntava-se ela. Os escritos de Jerry incluem considerações sobre uma vasta gama de temas existenciais, incluindo a natureza do tempo, do espaço e do próprio universo; os grandes ciclos do nascimento, da morte e da criação; os mistérios da verdade, do espírito e da alma e os limites da ciência material. Ela acreditava que teria de escrever um livro sobre o Universo, a Alma, Deus e a Eternidade, com base nas ideias que lhe ocorriam, e organizou a sua comunicação por capítulos. Por vezes, parecia deter-se, assombrada com o poder das informações que estava a receber e a responsabilidade implícita que a acompanhava. Numa entrada de Dezembro de 1991, escrevia: «Mas porque é que teriam escolhido uma insignificante dona de casa

166 SEQUESTRO como eu para um trabalho tão importante? E quem é que vai compreender, e mesmo comprar, o livro?». A resposta que recebeu foi que ela própria escolhera o seu papel. Numa entrada datada de 22 de Novembro de 1991, Jerry escreveu, do ponto de vista da força criativa arquetípica do universo: «Imagina que a tua essência, a tua alma, fazia parte de um todo e, como parte desse todo, decidias dar à luz, criar. Então, davas à luz o teu pensamento de criação e transformavas o pensamento em matéria. Enquanto este nascimento se solidificava, decidias que irias continuar a criar e, depois de algum tempo, decidias voltar a ser um todo. Mas para voltares a ser um todo, terias de juntar todos os fragmentos ou peças do teu ser inteiro. Para poderes voltar a ser um todo, então, terás de ser capaz de entender que terás de criar e dar à luz esse pensamento. E para regressares à tua forma original, terás de inverter novamente o processo». Em seguida, Jerry comparava este processo à «união entre um homem e uma mulher. Os dois pensam criar um bebé. Então, o seu pensamento transforma-se em matéria, sob a forma de uma criança». Alguns dos escritos de Jerry relacionam-se com a ligação entre o mundo material e o mundo espiritual e com as limitações de uma forma de conhecimento puramente técnica ou tecnológica. Por exemplo, numa entrada de Novembro de 1991, escreveu: «Os dados técnicos não conduzem à descoberta de outros seres. Os dados espirituais, sim». Um mês mais tarde, escrevia: «Ciência: viagem manifesta no tempo e no espaço Espiritualidade: viagem não manifesta no tempo e no espaço Ciência: viagem limitada Espiritualidade: viagem não limitada Ambas válidas Que bilhete vais comprar?» Jerry demonstrou uma grande coragem e determinação no confronto com o poder perturbador das suas experiências de sequestro, face à comunidade incrédula que a rodeava. Também desenvolveu consideravelmente a sua capacidade para conhecer a sua própria mente e pensar por ela mesma, apesar, ou devido ao, seu isolamento. Estas qualidades foram captadas num poema a que chamou «Decisão», escrito no Inverno de 1992-93. Escreveu sobre a sua bataUMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 167 lha para vencer os medos e o secretismo e o silêncio que sempre a tinham oprimido. Tinha escolhido, dizia ela, «nunca mais» permitir que as suas experiências de sequestro «tomassem conta dela... Pelo menos, terei a dignidade», concluía, «de saber e possuir a minha própria memória.»

«Todos os seres do tanque eram idênticos. As molduras dos tanques estavam embutidas na parede», segundo Catherine que, neste desenho, se retratou a si própria acompanhada de dois seres. CAPÍTULO SETE «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» Catherine era uma estudante de música e recepcionista de um nightclub, com vinte e dois anos, quando me telefonou pedindo ajuda, em Março de 1991, depois de um episódio, sucedido algumas semanas antes, que a confundiu. Numa noite dos fins de Fevereiro, terminara o trabalho cerca da meia-noite e dirigia-se para casa. Porém, estranhamente, em vez de parar na sua casa em Somerville, perto de Boston, continuou a conduzir na direcção do norte, dizendo a si própria: «Acho que vou dar um passeio» e que «faria alguns quilómetros de estrada» com o seu carro novo. Quando regressou a casa, tinha perdido um período de quarenta e cinco minutos, que não conseguia justificar.

No dia seguinte Catherine acordou por volta do meio-dia, «deu uma passagem pelas notícias» e viu «qualquer coisa sobre um OVNI que tinha sido avistado na noite anterior». Alguns dos comentadores dos noticiários tentaram explicar o objecto avistado sobre Boston como sendo um cometa ou um meteorito, mas o objecto deslocava-se horizontalmente em relação ao cimo das árvores e Catherine disse para si própria: «É um tipo de meteoro muito estranho» e «um cometa vem do céu, esmaga-se e é tudo». Por outro lado, um polícia e a mulher contaram que o objecto se tinha detido lá em cima e lançado uma luz sobre eles. Um dos canais de TV mostrou um mapa do trajecto do objecto, desde o sul do Massachussetts até ao nordeste do estado (Barron 1991, Chandier 1991). Chocada, Catherine compreendeu, então, que embora não se lembrasse de ter visto o OVNI, «tinha viajado na mesma direcção». Ironicamente, tinha andado uiti170 SEQUESTRO mamente a ler sobre OVNI e «estava meio à espera de ver um OVNI, meio à espera de nunca ver nenhum». Uma inexplicável hemorragia nasal — a primeira da sua vida — ocorrida pouco tempo depois do episódio mencionado, foi um dos factos que a perturbaram e contribuiu para que me contactasse, além do facto de ter respondido positivamente à maior parte das questões indicativas de possíveis encontros com OVNI, num livro sobre raptos. Na nossa primeira sessão, Catherine pediu desculpa, temendo estar a fazer-me perder tempo. Recordou um sonho, quando tinha nove anos, em que estava paralisada e aterrorizada, enquanto «uma espécie de criaturas» com dedos compridos, mais largos nas extremidades, surgiam atrás dela e a agarravam. A mão da criatura era fria. No seu terror, Catherine queria gritar e «chamar pela minha mãe, mas não consigo. Não consigo dizer nada». Também se lembrou de um outro sonho, no Natal anterior de 1990, quando estava de visita à mãe na casa do Alasca, em que se encontrava numa nave espacial com paredes curvas e na sala em que ela se encontrava havia qualquer coisa «parecida com um grande lago de peixes». Não tinha a certeza de que isto tivesse sido realmente um sonho. Fiz um ligeiro exercício de descontracção com ela, a fim de a ajudar a recordar pormenores do passeio da noite. Catherine lembrava-se das estradas por onde tinha passado e sentiu medo quando se recordou de ter passado duas vezes por uma área florestal em Saugus, cerca de dezasseis quilómetros a norte de Boston. Também afirmou que tinha muito medo de agulhas. Finalmente, admitiu que estava numa espécie de crise quanto à sua carreira, sentindo que «não estou a utilizar todas as minhas capacidades». Tanto Catherine, como eu sentimos que este primeiro encontro — que, em retrospectiva, era bastante sugestivo de experiências de rapto por OVNI — era equívoco e eu sugeri-lhe que observasse que outras memórias surgiriam nos dias seguintes e pedi-lhe que me telefonasse dentro de uma semana. Como ela não telefonou, eu telefonei-lhe e ela disse-me que se sentiria tola por me telefonar, que nada mais tinha surgido e que ela andava preocupada a preencher «curricula», para avançar na sua carreira. Durante nove meses não soube nada de Catherine, até que ela me escreveu uma carta dizendo que agora tinha «impressões (memórias era uma palavra demasiado forte)» do Natal de 1990, «de uma nave no campo» por trás da casa da sua mãe no Alasca. Por outro lado, tinha entrado em pânico ao ver

«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 171 o filme Communion {Comunhão}, baseado no livro de Whitiey Strieber, há seis meses tinha visto uma luz estranha numa nuvem deslocando-se através do horizonte e tinha descoberto uma pequena cicatriz recta sob o queixo, para a qual não tinha nenhuma explicação. Tudo somado, «estava a interrogar-se demasiado acerca do assunto para deixar andar» e tinha decidido que «gostaria de ver se seria possível trazer qualquer coisa para a luz, para minha própria tranquilidade de espírito». Ao longo dos oito meses seguintes, realizei cinco sessões de hipnose com Catherine e falei frequentemente com ela. Durante as sessões, explorámos pormenorizadamente várias das suas experiências de rapto e emergiram emoções extremamente intensas. Catherine tem frequentado regularmente o nosso grupo de apoio mensal e tornou-se uma auxiliar valiosa para outros sujeitos de experiência. Na realidade, alterou a sua carreira e actualmente está a frequentar a faculdade de psicologia. O caso de Catherine é significativo, devido à clareza de observação que traz a muitos dos fenómenos de rapto por OVNI. Mas, além disso, demonstra as formas pelas quais o crescimento pessoal e a transformação do próprio fenómeno podem ocorrer, em resultado de uma mudança na atitude e na visão do sujeito da experiência face aos encontros, especialmente no que diz respeito ao terror a eles associado. Catherine cresceu no estado do Orégon, em Portiand e nas cidades circundantes, mudando-se frequentemente devido ao trabalho do pai como inspector. Este reformou-se com uma doença de coluna, quando Catherine era ainda criança, e ficou limitado a realizar trabalhos de reparação e de carpintaria em casa e pequenos trabalhos para outras pessoas. Também tinha um problema de alcoolismo; quando estava embriagado desaparecia frequentemente e era dado a súbitas explosões de fúria. Uma vez, quando Catherine se recusou a limpar o quarto, ele colocou todas as suas coisas num monte de lixo e pegoulhes fogo. Os pais divorciaram-se quando Catherine estava na universidade. Actualmente, praticamente não tem contactos com o pai. A mãe de Catherine, Susan, é professora e trabalha com crianças deficientes. Quando Susan estava na faculdade viu um OVNI («luzes no céu que fazem coisas que os aviões não fazem»), cujo aparecimento foi testemunhado por mais três dezenas de pessoas. Susan, preocupada com a filha e curiosa acerca do meu trabalho com ela, telefonou-me de sua casa no Alaska rural, para onde a família se 172 SEQUESTRO mudou durante a adolescência de Catherine. Fiquei impressionado com a sua sensibilidade e abertura de espírito face às experiências de Catherine. Manifestou acreditar na possibilidade da existência de vida extraterrestre, que poderia assumir formas inesperadas. O único irmão de Catherine, Alex, é oito anos mais novo do que ela. Catherine pensa que ele também pode ter tido experiências de rapto, mas não tem a certeza. Apresentava uma marca inexplicável na mão esquerda, com a mesma forma de ferradura que as duas cicatrizes que Catherine tinha, também na mão esquerda, e que ela pensa estarem relacionadas com o rapto. Esta marca, entretanto, desapareceu. Susan descreve Catherine como «um espírito livre, um pouco diferente», durante os seus anos de crescimento. Em busca de outras origens possíveis para o seu trauma, perguntei a Catherine se não poderia ter sido vítima de abuso sexual na infância, estupro ou qual-

quer outra violação. Contou-me que, quando tinha cerca de quatro anos, um amigo de infância da família pôs a mão entre as suas pernas e tocou nos seus órgãos genitais. Foi uma experiência perturbadora: «ali estava aquele homem mais velho, que eu pensava ser tão maravilhoso e em quem confiava tanto, de quem os meus pais também gostavam tanto e foi como se... fiquei abalada». Nem Catherine, nem a mãe pensam que ela possa ter sido sexual ou fisicamente maltratada pelo pai ou por outros membros da família. A primeira experiência de rapto de que Catherine se recorda ocorreu quando tinha três anos de idade. As memórias foram despoletadas conscientemente, isto é, emergiram sem hipnose, por uma cena perturbadora de um pesadelo da mini-série da CBS, Intruders, em que uma das mulheres sequestradas vê um cão a ladrar à janela do seu quarto, que se «transforma», ou esconde a memória, de um ser alienígena. Catherine lembrou-se de acordar a meio da noite e ver um ser à janela, com uma luz azul a entrar no quarto, por detrás dele. A casa da família era uma casa móvel de um único andar e Catherine calculou que «este tipo de aspecto estranho do lado de fora da janela» teria de ser bastante alto ou estar a flutuar, porque a janela se situava muitos centímetros acima do chão e o dorso magro da entidade era visível na janela. Descreveu o ser como tendo «grandes olhos negros, um queixo pontiagudo — a sua cabeça é como uma lágrima invertida. A boca é uma linha, não consigo ver muito bem o nariz do sítio onde estou, mas não se parece com um nariz humano. É apenas um alto. Vejo «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 173 narinas, mas não tão grandes como as nossas. Não parece usar quaisquer roupas. Parece não ter cor própria, embora tenha um tom azul proveniente da luz atrás dele. É como se estivesse iluminado no fundo». O ser pareceu passar através da janela e «materializar-se no fim do feixe (de luz azul)». Quando «o raio entrou e tocou o chão», diz Catherine, «tive a sensação de estar a flutuar acima da cama, como se estivesse a ser levitada, pela porta fora para o corredor». Tanto na altura, como durante a nossa entrevista, Catherine sentiu um grande terror. «É como se os monstros tivessem vindo para me levar. Mas são reais. Não posso fazer nada... Eu estava a chorar pela minha mãe e tentava gritar para ela vir, mas não podia mexer-me. As palavras não saíam». Catherine sentiu que, quando tentava gritar pela mãe, os seres faziam qualquer coisa que diminuía o seu terror, que pareceu ser menor depois de começar a flutuar. Depois, viu cinco ou seis seres semelhantes ao que vira na janela «na sala, movendo-se rapidamente de um lado para o outro e não sei exactamente o que eles estavam a fazer... Parecem estar a agarrar nas coisas e a olhar para elas, voltando a pô-las no lugar». Depois destas voltas pela sala «parece que subitamente (os seres) se organizaram outra vez e estão todos em fila. Pararam todas as actividades. A sala estava muito clara («...não há dúvida que tem uma tonalidade azulada...»), mas era o meio da noite e não devia haver nenhumas luzes acesas». Catherine lembrou-se que foi, literalmente, levada a flutuar pela porta principal, com a cabeça para a frente, e viu que «lá fora também está claro. É o meio da noite, mas está claro». No campo em frente da casa «está uma espécie de navio», e «parece emitir muita luz, mas há mais luz do

que poderia emanar». Mais tarde, a mãe de Catherine disse-lhe que o parque das caravanas tinha grandes luzes azuis fluorescentes. A nave tem «a forma de um disco. Parece ter luzes por toda a parte, mas não tenho a certeza que seja assim». A nossa conversa acerca deste episódio terminou aqui, mas, como é característico da memória dos raptos, Catherine recordou-se de muitos mais pormenores no decorrer das semanas seguintes. Três meses e meio depois desta entrevista, contou-me mais coisas acerca deste episódio, numa carta. Tinha uma imagem nítida de um dos seres que se encontravam na sala «pegando numa chávena de chá, segurando-a a alguns centímetros do rosto, olhando para ela atenta174 SEQUESTRO mente e voltando a pô-la no lugar». Lembra-se, também, de ser flutuada «pela sua frente (do ser que tinha estado à janela) e para fora da porta do quarto, para o corredor e para a sala» e, em seguida, «pela porta da frente». Em seguida, Catherine descreveu o que aconteceu na nave, tema que não tínhamos abordado na nossa anterior conversa: Eles levaram-me para uma sala redonda, na nave, com um longo banco à volta de todo o perímetro, excepto a porta. O banco estava todo coberto por uma almofada vermelha. Estão lá outras crianças, talvez, cinco ou seis, todas com menos de dez, anos. Um ser feminino, alto, entra e diz-me: «Queres brincar?» Tenho a sensação de que poderia ser educadora de infância ou chefe de um centro de dia. Estou confusa e com sono, mas respondo: «Está bem». Ela parece satisfeita com esta resposta. Olho para as outras crianças: são mais velhas e mais altas. A sala parece muito clara. Ela vai para o outro lado do quarto, donde tinha vindo, e volta trazendo alguma coisa. Parece ser uma bola de metal e flutua. Atira-a pela sala, fazendo-a ricochetear nas paredes e algumas das outras crianças também tentam atirá-la, mas não tão graciosamente. Batem nas paredes e há um som metálico quando bate. Quando isto acontece, ela emite uma sensação de divertimento. Quando chega a minha vez, pergunta-me: «Queres tentar?» e eu respondo: «Sim!», porque quero exibir-me perante todos aqueles miúdos mais crescidos. Ela dá-me uma vara metálica, com cerca de 30 centímetros de comprimento, ou talvez um pouco maior. Tem cerca de 2 centímetros de diâmetro, e há uma antena grossa e curta a sair da parte superior. É de um cinzento prateado e macia. A antena tem cerca de 9 centímetros de comprimento, com uma pequena bola na ponta. A vara funciona como um controlo remoto e deve ser apontada à bola para guiá-la, mas, para a controlar, é necessário também que nos concentremos. Assim, faço-a parar, deixo-a pairar, depois atiro-a e páro-a completamente, depois de um movimento muito rápido, e estou afazê-lo muito melhor do que os mais crescidos. Os miúdos mais velhos que foram mal sucedidos deitam-me olhares fulminantes e sinto neles uma sensação de frustração. Um minuto depois, o ser feminino vem tirar-me a vara, porque a minha vez acabou e, então, diz-me que me saí muito bem, mas que tenho de parar porque estou a fazer as outras crianças sentirem-se mal, porque eu sou mais «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 175 nova e eles não foram tão bem sucedidos. Tenho uma sensação de que sou especial — especial para ela porque fiz tudo tão bem e sou tão pequena e ela tem orgulho em mim, porque me saí melhor do que

era esperado. Há mais uns dois miúdos que têm a sua vez e, depois, ela leva a bola e a vara para o sítio onde os tirou. Quando regressa, diz para todos nós: «Foram todos muito bem. Estamos muito satisfeitos com os vossos progressos individuais». Sinto-me orgulhosa. Sim, esta história continua, mas por enquanto é tudo quanto me lembro. O encontro seguinte que Catherine recordou ocorreu quando tinha sete anos e emergiu inesperadamente durante a nossa terceira sessão de hipnose, em que a regressão tinha um fim aberto, ou seja, não procurávamos a memória de um episódio determinado. A sessão começou com Catherine a ver-se a si própria a caminhar com duas amigas na direcção da casa delas, levando uma grande caixa de rebuçados. Ela vestia um uniforme de escuteira. Um dos dedos da sua mão esquerda doía e tinha uma bolha com uma forma esquisita, o que tornava mais doloroso transportar a caixa. Enquanto faláva-mos da forma como as três raparigas e a mãe das amigas tinham andado de casa em casa a vender os rebuçados, ocorreu à mente de Catherine a imagem de uma mulher que tinha pavões e da alameda onde eram guardados. Então, ela recordou um acontecimento da semana anterior, quando estava na casa de uma das amigas e se sentiu estranhamente impelida a sair e a caminhar por esta alameda para ver os pavões. Estava um tempo chuvoso e a alameda estava enlameada. Catherine estava com medo de que a senhora saísse de casa e gritasse com ela «porque eu sei que não devia estar aqui». Estava a atirar pedras aos pavões, para os fazer mostrar as suas lindas penas, quando viu «uma pequena coisa branca». Esta coisa era, afinal, «um homem pequeno que estava ali. Parece espantado. Tem uma grande cabeça, uns grandes olhos e não tem cabelo nenhum». Disse-lhe que queria levá-la a algum lugar, mas ela sentiu que não devia ir porque a mãe lhe ensinara: «Não devo ir com pessoas que não conheço, e eu não o conheço». A figura disse-lhe que não fazia mal, mas ela sentiu-se amedrontada e zangada, «porque disse-lhe que não queria ir e ele vai levar-me de qalquer maneira». Catherine tentou fugir, mas o ser tinha «a mão no meu braço» e ela não podia libertar-se. Na sessão, 176 SEQUESTRO Catherine começou a chorar como uma criança indefesa e repetia lamentosamente: «Não o conheço e ele vai levar-me de qualquer maneira!» Ainda a chorar, Catherine disse: «Ele está a levar-me para cima. Estamos a voar... Posso ver as coisas todas lá em baixo. É assustador. Não deveria acontecer. Ele ainda tem a mão em mim. Posso ver tudo lá em baixo e não devia ser assim». Depois, passou por um «buraco» para «o meio desta sala». Catherine pensou em bater na pequena figura, que era «tão alta como eu», mas «não conseguia mexer-se». Ele parecia estar a rir-se. «Ele achava engraçado que eu quissesse bater-lhe», o que ela sabia «porque era como se o ouvisse dentro da minha cabeça». Dentro da sala, o homem pequeno foi a outra sala buscar qualquer coisa e trouxe-a. «Eu perguntei: 'O que é que vais fazer com isso?' e ele disse-me: 'Vou fazer apenas um pequeno corte'. E eu digo: 'Porquê?' E ele responde: 'Porque precisamos de uma amostra'. E eu disse: 'NÃO! NÃO! Não podes cortar-me \ E ele responde: 'Tenho de fazê-lo'. Eu disse: 'Não, não tens nada! É uma maldade! Não tens de fazer-me isso a mim!' Ele disse: 'É para investigação científica'. E eu disse: 'Não podes cortar outra coisa?' E ele

respondeu: 'Não, porque precisamos de sangue». Ele fez um pequeno corte no quarto dedo da sua mão esquerda, que doeu menos do que Catherine esperava. Com um instrumento «parecido com um conta-gotas» feito inteiramente de metal, recolheu uma pequena quantidade de sangue. Insistindo que «tínhamos de obter a amostra», o ser disse que a ia levar de volta. «Mas não me disseste porquê», insistiu Catherine. E ele respondeu: «Estou a investigar o teu planeta». «O que é que há de errado com o meu planeta?», perguntou ela. «Estamos a tentar impedir os danos», respondeu ele. «Que danos?» perguntou Catherine. «Os danos causados pela poluição», explicou ele. «Não sei nada disso», disse ela. «Hás-de aprender», respondeu ele. «E a seguir estamos novamente a descer. Estou a chegar perto do chão, mais perto, ainda mais perto, já estou no chão e quero fugir, mas não consigo mexer-me. Ele diz: 'Voltaremos a procurar-te'». Catherine achou-se novamente na alameda dos pavões. «Vou a correr, a correr, passo pêlos pavões, em direcção à estrada», até parar «no sítio onde deveria estar». Catherine calculou que deviam ter passado cerca de quinze minutos e ninguém parecia ter dado pela sua falta, quando voltou ajuntar-se a um grupo de crianças que estavam «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 177 a ver desenhos animados, na casa de outra amiga. A memória do que tinha acabado de suceder-lhe pareceu desvanecer-se rapidamente. Talvez «eu a tenha bloqueado», sugere Catherine. Quando chegou a casa da amiga já estava a desvanecer-se. Quando voltou para casa «pensava apenas que tinha estado lá fora». Parece que a dor causada no dedo pelo transporte das grandes caixas de rebuçados foi o ponto de partida para a memória do episódio de rapto, que tinha ocorrido uma semana antes. Ainda hoje, Catherine apresenta uma pequena cicatriz em forma de ferradura no dedo anelar, para a qual não tem outra explicação além do incidente descrito. O episódio seguinte que Catherine relaciona com o fenómeno OVNI ocorreu quando ela tinha quinze ou dezasseis anos. Relaciona-se com luzes inexplicáveis na colina situada por trás da casa móvel, em que vivia com os pais e o irmão. Não parece ter ocorrido qualquer rapto. Quando Catherine e Susan estavam de regresso a casa, viram «pequenas luzes» que se moviam paralelamente umas às outras, junto ao chão. A mãe parou o carro e ficaram a ver por alguns minutos, enquanto, segundo Catherine, as luzes faziam «coisas estranhas», que um avião não faria. Embora depois de estar em casa Susan pareça ter perdido o interesse pelo acontecido, sugeriu: «Talvez fosse um OVNI» e recordou o que ela própria vira quando estava na faculdade. Ainda fascinada, Catherine continuou a observar da janela um complicado movimento de três ou quatro luzes na colina «todas a dançarem lá em cima». Num determinado momento, desceram rapidamente todas ao mesmo tempo, mas Catherine não conseguiu que a mãe se interessasse pelo fenómeno. «Eu disse: 'Mãe, o que é que está a descer da colina?'» Embora inconclusiva, esta experiência pareceu condensar a sensação de solidão e isolamento de Catherine em relação ao fenómeno dos raptos por OVNI. Esta sensação foi reforçada pela impressão de que a mãe «pensa que é tudo imaginação minha». Ansiava por abandonar a sua «cidade absolutamente rústica situada no meio de coisa nenhuma», esperando que «talvez estas coisas não aconteçam se estiver numa grande cidade». Sem o apoio de ninguém, Catherine

perguntava-se: «Estas luzes. Podia ter sido... Quem sabe? Pode ter sido imaginação». O «sonho» do Natal de 1990 parece ser a primeira experiência de rapto da idade adulta de que Catherine se recorda. A história desenrolou-se no decurso das nossas duas primeiras regressões hipnóticas. 178 SEQUESTRO A casa móvel da mãe situa-se numa área deserta, a uns nove ou dez quilómetros de uma pequena cidade do centro-sul do Alasca. Atrás da casa situam-se vastos campos. O dia de Natal calhou a uma terçafeira e Catherine lembra-se de que o «sonho» ocorreu um dia ou dois depois. Antes da hipnose, Catherine lembrava-se de acordar na manhã seguinte com uma «imagem na minha cabeça, de estar numa sala numa nave... Passei cerca de dez minutos deitada na cama, tentando lembrar-me de tudo o que podia sobre isso e gravá-lo na minha memória tanto quanto fosse possível. Sabia que era muito importante lembrar-me. Não sabia porquê. Uma parte de mim dizia que era apenas um sonho, nada de especial. Mas a outra parte dizia que não, que era muito importante. Tens de te lembrar o mais que puderes disto». Catherine pensou no sonho durante todo o dia, para ver se conseguia recordar-se de mais pormenores, mas nessa altura não lhe foi possível. Mais tarde, lembrou-se dos pormenores mencionados no início deste capítulo. Sob hipnose, revimos pormenorizadamente o esquema da casa, a chegada de Catherine antes do Natal, a visita do pai na véspera de Natal e as actividades tranquilas e sem história do Dia de Natal e do dia seguinte. Agora, enquanto se recordava de ter acordado com a impressão de ter visto «uma nave», sentia que «na realidade, não parecia ser um sonho». Sentia-se também «um pouco nervosa» na sessão. Encorajei-a a «manter o seu nervosismo» e tranquilizei-a quanto à sua segurança neste momento. Em seguida, Catherine disse: «Lembro-me de ter acordado no corredor a meio da noite e de olhar pela janela da sala e ver uma grande nave lá fora, no campo das traseiras». Catherine pensa que, nessa altura, estava num estado de «mais que semi-adormecimento». O campo parecia um pântano gelado no Inverno e a nave estava «pousada no chão», entre o atrelado e várias grandes árvores. «É como um disco, mas mais largo que um disco no meio e de metal prateado. É maior do que o atrelado». Reparou também em luzes individuais em volta dos bordos da nave («luzes brancas, como que entalhadas», observou ela depois da sessão). A sua primeira reacção foi: «Não devia estar ali». Na sessão, a ansiedade de Catherine começou a crescer. Vestindo apenas uma «grande t-shirt larga» e descalça, «posso verme a calçar um par de pesadas botas da minha mãe e a vestir um dos seus grandes casacos grossos e a sair lá para fora». Ofegante, Catherine dizia agora: «Sinto-me como se soubesse que tenho de «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 179 abrir a porta e sair. Não quero abrir a porta». Reparei na sua ansiedade, ofereci-lhe apoio e deixei-lhe a escolha de continuar ou não a relatar as suas recordações. Corajosamente, ela decidiu: «Vou continuar. Vejo a neve e está escuro... Limito-me a ficar ali, com a porta aberta, a olhar lá para fora, para a neve. Está escuro... É o que vejo. O carro da minha mãe está ali, à esquerda». Na sessão, Catherine começou a recordar (ou antes, a reviver) que se sentia entorpecida e

com um peso no peito. Começando a soluçar e a arquejar, disse: «Agora, começo a sentir o rosto entorpecido. Os meus braços começam a ficar muito pesados. O entorpecimento está a chegar às minhas mãos. Sinto um grande peso no peito e no estômago. Os meus pés começam também a ficar entorpecidos... como se tivesse tomado novocaína», disse mais tarde. Depois de ter ficado durante algum tempo na soleira da porta, Catherine disse ter começado a sair de casa «na direcção da nave». Mas tinha dificuldade em caminhar porque «tinha o corpo todo dormente». Reparou que «há criaturas lá fora», junto da nave. Pedi-lhe que as descrevesse. «São cinco e parece que não trazem roupas vestidas. Deviam estar vestidos porque estamos no Alasca. E pleno Inverno e está frio». As criaturas eram todas «exactamente do mesmo tamanho. Estão em fila... Parecem brilhar, um brilho dourado. Iluminam ligeiramente a neve à sua volta... Têm cabeças muito grandes». Catherine sentiu «na cabeça» que os seres estavam «à minha espera» e, apesar do entorpecimento das pernas e dos braços, percorreu hesitantemente quase todo o caminho até à nave, descrevendo estes momentos a soluçar, cheia de pânico, o que implicou que eu a confortasse longamente. À medida que se aproximava da nave, os seres «rodearam-me num semicírculo. Estou a tentar olhar para eles e não consigo. Não consigo ver os seus rostos. Os braços deles são muito compridos. Não parecem ter nenhumas das nossas características corporais. Não têm mamilos, nem umbigo, nem nada». Não tinham cabelo nem dentes visíveis e os seus rostos eram inexpressivos. Em seguida, Catherine declarou: «Sei que fui lá, mas não posso entrar ali», querendo dizer que não podia enfrentar na sessão o que lá se tinha passado. Descreveu uma rampa de metal, colocada num ângulo de quarenta e cinco graus, «dividida de forma a constituir uma única rampa grande». Neste ponto da sessão, era evidente que o terror de Catherine crescera de tal forma que ela não conseguia continuar a sua história. Falei-lhe desses sentimentos, aconselhei-lhe 180 SEQUESTRO um método de respiração e relaxamento e perguntei-lhe se queria parar por ali nesse dia. Ela disse: «Sinto que não consigo. Sinto um enorme peso no peito. Está tudo a fugir. Estou completamente aterrorizada, só de pensar em entrar». Depois de reconhecer ainda melhor o seu medo, sugeri um truque ou um jogo, no qual ela ficaria no princípio da rampa e enviaria um boneco-espião, com os olhos fechados, que entraria na nave com instruções para abrir os olhos quando lhe mandássemos e contar tudo o que via. Ela concordou e o «espião» falou de «um curto corredor de entrada oval e paredes a descerem, curvadas aos lados — como se estivéssemos no interior de um ovo. É tudo metálico». O boneco podia ver que existiam outras salas, mas não via «nenhumas entradas nem nada». Nessa altura, Catherine já estava disposta a entrar na nave «por si mesma». Pensou que tinha como que «deslizado pela rampa acima». Reparou noutros pormenores das paredes curvas e da forma da primeira sala, a que chamou «apenas uma entrada». Havia luz, «mas não um candeeiro ou qualquer coisa assim». Viu uma abertura oval para outra sala e disse: «Vou para aquela sala, mas ainda não fui», e acrescentou: «Pode enviar um espião para aquela sala. Eu não vou entrar naquela sala. Vou olhar lá para dentro, mas nada mais». Concordei com isto, mas encorajei-a a colocar o espião mais sob o seu controlo. Ela disse: «Ele é invisível e nada lhe pode acontecer,

porque eles não sabem que ele está lá». Ele era também, «um miúdo», um rapaz. Na sala, o espião viu «uma grande quantidade de painéis e instrumentos e outras coisas científicas, mas nada parecidas com o que nós temos. Existe uma espécie de plataforma no meio da sala. Não é muito grande, tem talvez metade do tamanho da sua sala de estar no andar de baixo e pode ainda ver-se a curva do exterior da nave, tal como na outra sala... Está tudo calmo. Há qualquer coisa no tecto, sobre as pessoas que se encontram no meio da sala. Parece girar em longos gonzos, como os nossos candeeiros de secretária, que podemos apertar e desapertar e girar na direcção pretendida. E está aqui outro ser. Está à espera, e penso que é uma espécie de médico ou de examinador clínico. E há também toda a espécie de instrumentos, botões e painéis, ao longo das paredes. Há um espécie de balcões ao longo de todas as paredes, excepto a da entrada... A mesa do meio é como um sólido, não como uma mesa que tem espaço por baixo, mas está presa ao chão e é como uma espécie de grande bloco sólido». «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 181 Agora parecia mais calma, o que parecia corresponder a uma mudança no decurso da própria experiência. Vestindo «apenas a tshirt e as botas, parece que não tenho o casaco», Catherine foi «levada a flutuar» para dentro desta sala e «sei que devo deitar-me na mesa». Sentindo-se confusa, Catherine notou que isto «agora não parece muito surpreendente», sugerindo que a experiência podia serlhe familiar. «Eles obrigam-me a deitar, mas eu não quero. Sinto qualquer coisa a vir... O tipo médico vem e olha para mim... curiosidade clínica. Sou apenas um espécime, não como uma amiga ou uma conhecida... Parece-me que vai acontecer qualquer coisa má». Nesta altura, Catherine quis interromper a narrativa e eu concordei. Antes de terminar a regressão, falámos um pouco mais sobre as suas recordações. Ela pensou que poderia ter visto a mãe na nave, durante um rapto anterior. Descreveu os pescoços, pequenos e muito magros, dos cinco seres que tinha visto, além do médico. «A primeira vista, pareceria que não podiam suportar as grandes cabeças. Na verdade, os seus corpos parecem bastante frágeis». Pareciam não usar quaisquer roupas e a pele era «um pouco esbranquiçada, como que pálida... Depois de entrarem comigo, foram para diferentes pontos da nave, como se cada um tivesse uma tarefa diferente a desempenhar». Depois da sessão, Catherine discutiu a realidade da experiência. — Pensei que estava a inventar tudo, até ter começado a chorar. Ainda não recordo o acontecido como uma memória real, tal como me recordo de ter ido trabalhar ontem... Oh, meu Deus! — exclamou. — A ideia assusta-me! Claro!.. — E acrescentou: — Bem, estou disposta a admitir que talvez nem tudo seja imaginação minha. As minhas reacções a outras situações fazem mais sentido se isto tiver acontecido. Não sou, portanto, uma pessoa totalmente irracional, o que é um alívio! Não parece um sonho. Parece mais real do que um sonho, mas não tão real como estar a falar consigo — e acrescentou, ainda: — Não consigo imaginar de que forma é que isso (isto é, inventar tudo) poderia beneficiar-me emocional ou psicologicamente. Não vejo qualquer razão para tal. Esta é, aliás, uma observação que salienta um aspecto central do debate em torno das experiências de rapto. Fazendo o papel de advogado do diabo, sugeri que tais experiências poderiam fazer dela uma pessoa mais interessante, dramática ou excitante. Ela objectou que

«se eu de facto vivi esta maravilhosa experiência, a quem poderei contá-la que não olhe para mim como se eu fosse completamente 182 SEQUESTRO doida? A fim de «me acalmar», notou Catherine, «digo para mim mesma que 'é imaginação tua'». Uma indicação decisiva para Catherine da realidade da experiência foi a força e a autenticidade das suas emoções, para a qual não descobrimos qualquer outra origem. «Não me parece provável que estivesse a soluçar sem qualquer razão aparente, se não estivesse ali qualquer coisa. Não sou dada a ataques de choro sem razão». Igualmente persuasivo para ela nestas recordações iniciais foi a sensação de estar a ser obrigada, contra sua vontade, a levantar-se no meio da noite e sair para o Inverno do Alasca na direcção da nave. «Eu não decidi levantar-me e fazer isso». As próprias experiências provocaram-lhe a sensação de ter sido «completamente violada. E a forma como eu imagino que se deve sentir uma vítima de violação». Finalmente, reparei noutra característica das suas lágrimas, uma espécie de tristeza. Ela sugeriu auto-piedade, mas eu pensei que fosse algo de mais profundo. Afirmando, então, a sua forma de sentir aquilo a que chamo choque ontológico, Catherine disse: — Ah, já compreendi... Tinha de entender!!! Oh, meu Deus! Para a apoiar na sessão de hipnose seguinte, Catherine trouxe uma jovem amiga sua do nightclub em que trabalhava. Um ponto que não lhe saía da cabeça, e que nunca tinha sido esclarecido, era o de saber se estava, ou não, a usar as suas lentes de contacto durante o episódio do Natal de 1990. Ela não se lembra de as ter colocado, mas conseguia ver distintamente durante toda a experiência, ao passo que sem as lentes «tudo deveria parecer apenas um grande borrão». Catherine sentira-se frustrada desde a última sessão, por não ter conseguido obter uma resposta decisiva quanto à realidade da sua experiência. Sem qualquer prova física concreta, à semelhança de tantos outros sequestrados, sentia-se como não reconhecida pela ciência e pela sociedade e, portanto, em perigo de ser considerada «louca». Se tivesse sido violada, notava ela, «poderia ir à polícia. Nesse caso, haveria provas. Seria possível efectuar análises e as pessoas não olhariam para mim como se tivesse perdido o juízo, quando lhes dissesse 'Aconteceu-me isto'». Catherine iniciou a segunda regressão, recordando resumidamente os passos que a levaram a ser obrigada a deitar-se na mesa. Salientou a surda iluminação da sala e sentiu novamente a perda de toda a vontade própria. O chefe ou «examinador», embora mais alto do que os outros, não era, porém, mais alto do que ela. A sua pele «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 183 parecia «muito macia, esbranquiçada, cinzenta» e não parecia usar quaisquer roupas. «Ele está a olhar para mim, tal como se olha para uma rã antes de a dissecar». Observando a sala à sua volta, Catherine reparou que tudo era metálico, «como alumínio polido, mas mais escuro». Outros seres movimentavam-se em volta, parecendo executar «tarefas específicas», como «puxar alavancas e botões, verificar e preparar coisas». Os seus movimentos eram «muito leves, mais ou menos como os dos gatos. Muito graciosos e flexíveis». Catherine começou a ficar cada vez mais perturbada, arquejando e chorando, enquanto descrevia a forma como um dos seres lhe abriu as pernas e o examinador fixou o seu rosto e órgãos genitais.

Reparou que estava nua. O examinador disse «qualquer coisa ao ser que está à minha direita e este foi ao lado direito da sala buscar qualquer coisa e o examinador pôs a mão na minha perna, na minha anca, e tenho uma sensação de frio — mas diferente da sensação de mãos humanas frias. Quero dizer, é ainda mais frio. Não gosto, e o outro regressa e dá o instrumento ao examinador». Com muito apoio da minha parte, Catherine acaba por falar de como foi incapaz de resistir. «Ele está a fazer-me isto e eu não posso fazer nada», disse ela a soluçar lamentosamente. «Tem a mão sobre a minha anca esquerda e segura isto com a sua mão esquerda. Parece uma espécie de cone, mas com qualquer coisa na ponta e vai pô-lo dentro de mim», soluçou mais alto. Com a voz quebrada, Catherine continuou: «Colocou-o dentro de mim. É frio. É ainda mais frio do que a mão dele. Sinto qualquer coisa a subir dentro de mim, mais fundo e mais fundo ainda. Parece que há qualquer coisa a subir pêlos intestinos. Parece ir tão longe como isso». Embora o instrumento pareça estar a ser empurrado «muito mais para dentro» do que a vagina, «não dói. Só sinto que não devia estar lá. Eles nem sequer me pediram!!!» Enquanto o instrumento era movimentado do seu lado direito, na região do ovário, durante cerca de dez ou quinze segundos, de acordo com os cálculos de Catherine, teve a sensação de que «estavam a tirar amostras». Depois de o instrumento ter sido retirado, o examinador entregou-o a um «assistente», que «o levou para onde o tinha ido buscar antes». Embora não tenha visto nada de definitivo, Catherine teve uma forte sensação de que lhe tinham sido tiradas «amostras de tecido» do útero, da cerviz e, talvez, das trompas de Faiópio. Depois disto, perguntei a Catherine se tinham feito mais alguma 184 SEQUESTRO coisa ao seu corpo nesta altura e fiz uma espécie de «inventário». Ela descreveu um instrumento de metal, «talvez com trinta centímetros de comprimento», que tinha sido introduzido cerca de dois centímetros numa das narinas. Um pouco chocado, disse-lhe que, desse modo, teria atingido o cérebro. «Era mesmo para isso», respondeu ela. «O examinador veio com essa coisa na mão, que tinha uma espécie de pega na extremidade. Era um instrumento longo e flexível, e ele inclinou-se sobre o meu ombro direito sem olhar para mim. Estava a olhar para a minha narina e enfiou-o o mais que pôde. Não gostei, porque não podia respirar muito bem, e, a seguir, ele bateu em qualquer coisa atrás e limitou-se a empurrá-lo e empurrou-o através do que quer que fosse». A soluçar e a gemer, com a voz novamente quebrada, Catherine disse: «Senti qualquer coisa a partir-se dentro da minha cabeça. Quando ele empurrou, partiu qualquer coisa e, depois, empurrou ainda mais, ainda mais para cima». O procedimento foi incómodo, mas não realmente doloroso. «Gostava de saber o que é que eles partiram... Não sei nada de anatomia, mas ele partiu qualquer coisa, para chegar ao meu cérebro. Não sei o que foi. Gostava de saber se vai curar-se». Em resposta à sua preocupação acerca de ter «ouvido qualquer coisa a estalar» na sua cabeça, tentei tranquilizar Catherine, afirmando que duvidava que houvessem sido causados quaisquer danos permanentes no seu cérebro. Mais tarde, Catherine comentou que «tinha medo que houvesse fragmentos de osso no meu cérebro». Perguntei a Catherine o que vira depois da sonda ter sido retirada. Ela disse que havia um pouco de sangue, tanto no ins-

trumento como na sua narina, mas não viu se fora retirada mais alguma coisa. O examinador deu o instrumento ao assistente, que o levou «para o lado mais afastado da sala, de onde viera, e fez qualquer coisa, que não consigo ver o que é». Foi nesta altura que, em resposta a uma pergunta minha, Catherine observou que podia ver tão bem como habitualmente, quando tinha as lentes de contacto, mas pensava que não as tinha consigo. Neste contexto, surgiu na sua mente uma imagem do examinador «a olhar para o meu rosto. Está a escrutinizar... como se estivessem a tentar imaginar o que mais precisarão de fazer». Encorajei-a a falar-me sobre os olhos dele, que ela apenas podia ver «muito, muito, muito vagamente» e achava desagradáveis. No entanto, conseguiu recordar: «São muito, muito grandes. Muito, «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 185 muito maiores do que os nossos e não pestanejam e estão como que colocados obliquamente na cabeça. E são completamente negros... Não vejo pupilas, nem retina, nem esclerótica, nem nada. São apenas pretos». Perguntei-lhe o que é que os olhos tinham de tão perturbador. «Penso que talvez seja o facto de não se importarem», respondeu ela, «serem como que apenas científicos. Uma espécie de curiosidade. Não estão a olhar para mim como uma pessoa. Estão a olhar para mim como um objecto de experiência. Quer dizer, como se realmente se importassem com a minha morte, mas apenas porque isso lhes estragaria a experiência, não porque se importem comigo como pessoa ou com qualquer outro». A sensação, disse Catherine, era de «impotência total. Estou assustada, porque sei que eles não se importam comigo e não tenho qualquer controlo sobre o que está a acontecer e sobre aquilo que ainda vai acontecer. Eles pensam que são superiores a nós... Foi outra das coisas que percebi. Superioridade total... Nem sequer me disseram qualquer coisa, ou 'levanta-te da mesa', como o outro. Foi apenas a atitude». Perguntei-lhe se esta atitude era principalmente do examinador ou de todos. «Principalmente do examinador», disse ela, «mas dos outros também». Depois disto, vários seres deixaram Catherine sair da mesa e conduziram-na para outra sala. Mais uma vez, ela ficou ansiosa e viu apenas escuridão dentro da sala, embora tenha a certeza de ter visto mais qualquer coisa. Em seguida, travámos o seguinte diálogo: JM: Qual é agora a causa da escuridão? Catherine: (muito suavemente) Não quero saber. JM: Não quer saber? Quer saber? Desculpe, não consegui ouvir. Catherine: Quero saber, mas acho que é demasiado assustador. JM: O que aconteceu naquela sala é demasiado assustador? Catherine: O que vi lá é demasiado assustador. Decidindo que gostaria de ter ajuda para recordar, Catherine concordou em tentar o jogo que tínhamos jogado da última vez e enviar um «espião» para a sala, munido de uma lanterna, que deveria acender dois segundos, durante os quais observaria o que se passava e faria o relato. O que o espião viu foi chocante para nós ambos. Ao longo de toda a parede do lado esquerdo, havia «estojos», empilhados em filas, do chão ao tecto, atingindo cerca de dois metros e qua186 SEQUESTRO renta de altura. Havia umas quatro ou cinco filas na vertical e cerca de oito ou dez na horizontal, da esquerda para a direita, perfazendo

no total cerca de quarenta estojos. «Sei que cada um dos estojos contém qualquer coisa. Todos contêm o mesmo», disse Catherine, mas não houvera tempo para dizer exactamente o quê. Demos ao espião mais dois segundos. Desta vez ele viu «uma espécie de criaturas, mas que parecem deformadas. Cada estojo contém uma destas coisas». Catherine disse que passara por esta sala, a caminho de um outro sítio, e estava agora disposta a contar o que vira durante esses poucos segundos, com a ajuda do espião com uma lanterna. Nos estojos estão «uma espécie de versões bebé deles mesmos». Estão «todos dentro de um líquido» e «todos a olhar para fora» e «os estojos estão iluminados por trás». Parece não haver mais nada na sala. As criaturas estão despidas e «parecem estar de pé... Como bonecas dentro de caixas de plástico. É assim que eles estão». Depois da regressão, Catherine descreveu os estojos «como uma exposição numa montra de uma loja de brinquedos. Enchem tudo de Barbies e podemos ver através das embalagens de plástico e elas estão todas ali, de pé». No cimo de cada estojo, podia ver «o nível da água (ou) lá o que é. Mas eles estão completamente submersos nesse liquido. As cabeças são grandes e com a mesma proporção em relação ao corpo que os próprios entes alienígenas. São como miniaturas.» Depois de atravessar a sala dos estojos, Catherine foi conduzida por dois dos seres ao longo de uma passagem, «curvando para a direita, como se seguisse a extremidade da nave» e através de uma porta, para outra sala. Ainda vestia apenas a sua t-shirt. Em seguida, entrou numa sala que era muito maior que qualquer das outras que vira antes. Era atravessada por um caminho que também curvava para a direita, mas as proporções confundiram-na. «Consigo ver o ponto onde a extremidade da nave deveria estar à esquerda, mas está bem longe, a cerca de quinze metros de distância. Não compreendo como pode estar tão longe, porque a outra sala tinha apenas uns três metros de largura e esta está assim tão longe». Catherine achou-se «numa floresta... estou confusa, mas é assim. Está na sala e existem árvores e rochas e sujidade e outras coisas para a esquerda. Consigo ver tudo do local onde estou. Não vamos para esse lado. Estamos a dar a volta para a direita. Como é que posso estar na floresta?» Incrédula, Catherine exclamou: «Não faz sentido!», porque «embora haja floresta em toda a volta», ela «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 187 continuava a ver as paredes curvas da nave. «Não encaixaria. Não funcionaria». Depois da regressão, Catherine reflectiu que «tinha olhado bem para longe» e «podia ver as paredes, mas não fazia sentido naquele contexto». Disse que a floresta até cheirava a floresta e tinha pinheiros. Calculou que tinha «o tamanho de um ginásio da escola secundária». Finalmente, foi conduzida novamente para a sala por onde tinha entrado e foram-lhe devolvidas as suas roupas. «Levam-me pela rampa abaixo e estão a encaminhar-me de volta pelo campo e pela pequena colina, até à porta. Abrem a porta e eu entro, tiro as botas e o casaco e acho que eles não entraram comigo, por isso voltei para a cama e dormi». A mãe de Catherine parece ter continuado a dormir durante todo o episódio. O «tanque» que Catherine se lembrava de ter visto anteriormente na nave parecia ser uma versão deformada dos estojos cheios de liquido da sala que ela viu na nave. Depois de a ter retirado completamente do estado de regressão, discutimos em conjunto a realidade das recordações de Catherine.

«Não me parece que seja um sonho», disse ela, «mas acho que não deveria lembrar-me. É por isso que não parece completamente real». Do mesmo modo, acrescentou: «Parece-me que também não queria acreditar... Mas lembro-me... Assusta-me pensar que é real». Só na terceira regressão é que Catherine pareceu preparada para falar do episódio ocorrido em Fevereiro de 1991, no qual tinha sido compelida a guiar na direcção de um bosque junto da cidade de Saugus, a norte de Boston. Fora este comportamento, cuja estranheza a tinha perturbado, que a levara a contactar-me. O encontro de Saugus é, de certa forma, a experiência de rapto principal do caso de Catherine. Ela tinha acabado de falar das luzes inexplicáveis atrás do atrelado da família, quando tinha quinze anos, e eu perguntei-lhe «onde iria se quisesse investigar mais profundamente». Foi então que Catherine se recordou do passeio de cerca de dezasseis quilómetros, entre Somerville e Saugus. «Sigo estradas por onde nunca tinha andado. Só pelo prazer de o fazer». Conforme se dirigia para norte, «estava sempre a olhar para o céu e a pensar em OVNI. Tinha pensado bastante no assunto nas últimas semanas. Mas tinha andado a ler alguns livros sobre isso e, assim, pensei que era essa a razão. Estava meio desejosa de ver um OVNI e meio desejosa de não ver nenhum». Pensou no que deveria fazer quanto ao seu trabalho, se deveria mudar-se para Nova Iorque, para se distrair, «mas o 188 SEQUESTRO meu pensamento regressa sempre aos OVNI». Seguiu as indicações que conduziam à Saugus Iron Works, ficou cinco minutos no parque de estacionamento e, em seguida, compreendeu que «não faz sentido». Cada vez mais perdida, passou por uma zona residencial e chegou a uma área arborizada. Sentiu-se ansiosa ao atravessar esta área, mas pensou que era esse o caminho de volta à auto-estrada e «tenho de seguir». Catherine tranquilizou-se, dizendo a si própria que «se alguém tentasse assaltar o carro» poderia acelerar e «atropelá-los». Catherine atravessou a área florestal, mas percebeu que não era esse o caminho para a auto-estrada e que teria de voltar para trás. Ainda mais ansiosa do que da primeira vez, voltou a atravessar a me'sma área, observando: «Penso que aconteceu alguma coisa, mas não sei o quê». Nesta altura, interrompi a sua narrativa e pedi-lhe para regressar mais devagar à experiência de atravessar o bosque pela segunda vez e para me falar de todas as sensações que surgissem. Ela disse: «Não quero estar ali... Tenho de continuar a guiar... Começo a ficar novamente entorpecida». Embora «o meu pé se mantivesse firmemente no pedal» e o chão fosse plano, o carro estava a abrandar. O carro parou e o entorpecimento aumentou até ao ponto em que «todo o meu corpo parecia adormecido». Embora Catherine conseguisse ver as luzes da estrada para além dos bosques, à sua volta estava mais claro «do que devia estar». Incapaz até de mexer as mãos, sentiu «qualquer coisa a aproximar-se das traseiras do carro, do lado esquerdo, o lado do motorista, como uma luz vinda dessa direcção». Alguma coisa chegou à porta e abriu-a, mas Catherine: «não posso olhar para lá... Está ali qualquer coisa. Penso que é um deles. É uma mão estendida para me agarrar... É comprida e magra, de cor muito clara, e só tem três dedos». A figura «pressiona-me com a mão para me guiar e eu saio». Sentiu que não tinha escolha. «Se eu tivesse podido escolher, teria acelerado dali para fora como o diabo». A seguir, «estou a dar a volta por

trás do carro e o ser está atrás de mim para a direita, enquanto o carro fica à esquerda». O ser tinha «grandes olhos negros amendoados» e «brilhava». Ela acha que a luz que vinha da parte de trás do carro emanava do brilho do próprio ser. Pressentindo o seu medo, o ser fez qualquer coisa, talvez com a sua «enorme mão», para a acalmar. Embora achasse «de certo modo reconfortante, o facto de ele não querer que ela estivesse assustada», «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 189 ao mesmo tempo «não gosto nada de sentir que ele tem poder sobre mim». O ser levou Catherine por um caminho ao longo da estrada e, em seguida, «ou ele me levou para o bosque e estava lá qualquer coisa, ou então subimos, mas não tenho a certeza do que sucedeu». Notando a sua perturbação e também que estávamos ambos cansados, sugerilhe que terminássemos a sessão e ela concordou imediatamente. Depois de a ter retirado do estado de hipnose, Catherine soluçou suavemente devido à sensação de impotência que experimentara e à crescente compreensão «de que há mais verdade nisto do que fantasia... Não costumo começar a chorar assim». Pedi a Catherine para indicar mais concretamente a causa da sua profunda tristeza. Ela disse: — Porque me sinto impotente e sinto que eles podem apanharme sempre que quiserem e fazer-me o que lhes apetecer e eu não posso fazer nada contra isso. E este é um pensamento absolutamente aterrador. Sugeri: — Você sente que não é dona da sua própria vida. Ela respondeu: — Apenas dentro de uma pequena moldura, mas no grande esquema das coisas, sinto que não sou, isto é, que não tenho controlo... É tudo por causa deles — disse ela. — A minha ideia fundamental antes de tudo isto era que cada um é senhor do seu próprio destino, que cada um é responsável pelo seu próprio despertar, pela sua compreensão da natureza da realidade!... Acreditava piamente nisto. A investigação mais aprofundada do rapto de Saugus teve lugar na quarta regressão de Catherine, mais de cinco semanas mais tarde e depois de ela ter visto o primeiro episódio da mini-série Intruders. Nesta altura, Catherine encontrava-se altamente motivada para saber «tudo», declarando enfaticamente: «Penso que é melhor saber do que não saber». Começava também a ficar preocupada com «os problemas globais», ou seja «com a forma como estamos a destruir o planeta». Segundo Catherine, estas ideias podem ter surgido a partir de «impressões que tenha escutado» ou «coisas que me foram realmente ditas». Recordando o rapto dos seus sete anos, recuperado na sessão anterior, Catherine lembrou que o ser lhe tinha dito que «'precisamos de descobrir os efeitos da poluição no teu planeta'. Isto fezme pensar muito. Fez-me pensar se isto se deve ao facto de estarem realmente interessados em manter o planeta intacto por qualquer 190 SEQUESTRO razão, ou se apenas o querem manter intacto para que os seus espécimes não morram todos a meio da experiência». Ao mesmo tempo, Catherine também se mostrava preocupada com o destino da terra. «Acho que eles têm razão. Se não fizermos qualquer coisa imediatamente, vai ser o suicídio para todos nós. Estou mais preocupada em manter-me viva, a mim, aos meus ami-

gos e a todas as pessoas do planeta, porque isso é uma boa coisa a fazer, do que com o facto de um grupo de pequenos safados, que chegam aqui e me levam, perderem a sua experiência. As nossas motivações são completamente diferentes, embora os objectivos possam ser os mesmos». Mas, acrescentou ela, «toda a experimentação genética é uma grande parte, mas não é a história toda... É difícil explicar, mas o plano é muito maior que esse». Mas se não prosseguirem as actividades reprodutoras/genéticas, «então poderão continuar, mas esta é apenas uma etapa». Depois desta discussão, Catherine mostrou-se determinada a continuar a investigação. «Preciso de saber sobre Saugus, porque é uma coisa enorme, enorme», disse ela. No início da regressão, Catherine recordou resumidamente os acontecimentos que a levaram a sair do carro em Saugus, com um pormenor adicional: quando a porta do carro se abriu, pensou para si própria: «Oh, meu Deus! É um deles!» Nesse momento, compreendeu que a sua viagem em direcção ao norte fora compulsiva e que «eles fizeram-me pensar que os motivos eram outros». Lembrando-se de estar num local dos bosques, não muito distante do carro, Catherine recordou o que se seguiu. «Ele está a levar-me para cima, para cima na diagonal. Parece que estamos a voar. Não estamos a subir em linha recta. Seguimos também na horizontal.' Isto é muito depressa! Porque é que estamos a ir tão depressa? Parece-me que vou cair do feixe! Vou cair lá em baixo!' E ele limita-se a parecer dizer 'Não, não vais'. Tudo está a andar mais depressa lá no chão e nós estamos os dois a subir, e estamos a chegar à nave». A nave era «enorme. Todos deviam poder vê-la e não sei porque é que não vêem. Está coberta de luzes. Parece de metal prateado, mas está coberta de luzes. É diabolicamente grande... Ele está a levar-me para dentro. Estamos numa entrada. Há mais alguns deles à espera. Parece que agora estão aqui quatro. Estão a puxar-me as roupas... Estou irritada! 'Parem com isso! Sou perfeitamente capaz, de fazer isto sozinha, muito obrigada!' e eles parecem assumir uma ati«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 191 tude aborrecida». Catherine pensou (não podia falar) «qualquer comentário ordinário, como por exemplo, 'por que não vão alugar um filme pornográfico?'. Mas eles não percebem, não sabem o que é um filme pornográfico. Penso que não entendem o conceito de voyeurismo, nem nada disso». Despida, Catherine foi conduzida pêlos seres a uma sala enorme, «do tamanho de um hangar». Catherine ficou espantada, «ao ver aqui centenas de mesas! Há aqui centenas de humanos e estão a fazer coisas a todos eles». Os seres conduziram-na através desta sala e ela viu filas de mesas de ambos os lados, separadas por mais ou menos metro e meio, estando muitas vazias e cerca de um terço ou metade ocupadas por seres humanos, sobre os quais estavam a ser executados vários procedimentos. Calculou ter visto ao todo entre uma ou duas centenas de seres humanos nessa sala. Sob as mesas, viu gavetas nas quais, segundo pensa, estavam guardados instrumentos. Catherine foi para uma das mesas e reparou num homem negro de barba, à sua esquerda. Foi forçada a sentar-se e o exame começou. «Estão a passar os dedos pela minha coluna, como se estivessem a contar as vértebras dorsais». Com um sentimento de repulsa pelo contacto, exclamou (mentalmente): «'Para que diabo é isso?' 'Para termos a certeza que está tudo bem', respondeu ele. 'Eu podia ter-te

dito isso'», disse ela zangada. «Estão a apalpar-me os braços, as pernas, os tornozelos, o pescoço, as coxas». Catherine fez mais perguntas acerca dos objectivos deste exame. Disseram-lhe: «Pode haver muitas coisas que não sabes». Um ser mais alto veio ter com ela, olhou-a e disse-lhe que fazia demasiadas perguntas, que é bom cooperar e que o que estão a fazer «não é mau. É necessário. 'Tentamos não magoar ninguém'. Embora pensasse que se tratava de «respostas de merda», fizeram-na sentir mais calma e «mais cooperante». Quando o ser a fitou nos olhos, Catherine sentiu que não tinha outro remédio senão fitá-lo também. Perguntei-lhe como tinha sido essa experiência. «Acho que ele sabe tudo sobre mim. Sabe exactamente o que estou a pensar. Está a responder às minhas perguntas, mesmo antes de eu pensar nelas», tal como quando me disse que este processo era necessário, «mesmo antes de eu perguntar». Fitar os olhos do ser é «assustador» para Catherine, «mas, então, algumas partes de mim como que são derrotadas. Sinto-me apenas calma e em paz». Além disso, Catherine sentiu que «a figura quer conhecerme como pessoa. Estou a tentar pensar 'Porquê, tu não te importas 192 SEQUESTRO comigo enquanto indivíduo'. Mas é difícil pensar isto. E difícil. E difícil pensar qualquer coisa que seja contra aquilo que ele quer que eu pense». O ser insistiu: «Não, eu quero conhecer-te. Preocupo-me contigo». A luta de vontades continuou. A sua resistência era «fazer que ele trabalhasse mais arduamente do que ele pensava que deveria». A sua mente disse «tretas», quando o ser «tentou dizer-me que me amava». Finalmente, ela concedeu: «Talvez ele tenha razão. Talvez eu simplesmente não compreenda... Talvez eu tenha errado ao pensar que ele estava a mentir... Simplesmente não os compreendo. É por isso que penso assim». Ela insistiu no pensamento de que ele não sabia o que significava gostar de alguém e ele respondeu: «Não, nós sabemos. Só que não o sentimos tão intensamente como vocês». Agora, a discussão aparentemente tinha terminado. «Ele ganhou, por isso vai-se embora. Dá a volta, até aos pés da mesa, e pergunta-me: — Agora estás preparada? — Para quê? — pergunto eu. — Chegou o momento — responde ele. — Gostaria que respondesses a uma coisa — digo eu. — Não deves fazer tantas perguntas. Ele diz-me que vão tirá-lo e eu penso: 'Tirar o quê?' Um deles traz um carrinho com uma espécie de tanque. Parece um cilindro e está cheio de um líquido claro. Está a levantar-me os pés e a abrir-me as pernas e eu penso: 'Meu Deus, que será que eles vão fazer?'». Encorajei Catherine, que estava obviamente muito perturbada, a respirar fundo e a concentrar-se novamente. Assegurei-a da minha presença e afirmei-lhe que o pior estava «quase a terminar». O que se seguiu foi a experiência mais perturbadora da história recuperada dos raptos de Catherine e os minutos mais difíceis do meu trabalho com ela. Enquanto ela soluçava e arquejava, por vezes gritando histericamente ou manifestando a sua raiva, tive de assegurar-lhe repetidamente que estava ao seu lado e exprimir o meu pesar por tudo o que lhe acontecera, ao mesmo tempo que lhe pedia pormenores. A minha impressão era que Catherine estava decidida a ir até ao fim, apesar de estar a reviver uma experiência altamente traumatizante.

O ser alto introduziu na sua vagina «um grande instrumento de metal», o que a perturbou intensamente. Em seguida, pegou numa «versão» mais comprida e mais fina deste mesmo instrumento «e «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 193 introduziu-o também dentro de mim!» Ela sentiu que ele estava a tentar chegar a qualquer coisa dentro do seu corpo, a fim de o separar. Soluçando compulsivamente, ela disse: «Oh, meu Deus, meu Deus. Está a tirá-lo. Sinto-o a cortar». Com breves perguntas neutrais que eu ia intercalando para extrair o que ela estava a ver ou a sentir, em conjunto com várias expressões de encorajamento, Catherine contou: «Ele está a cortar dentro de mim. Sinto-o... Eleja o tem. Tira para fora este novelo... Ele retira o que colocou lá dentro e vem qualquer coisa ligada à outra extremidade. Parece um feto... Estou a vê-lo». Perguntei-lhe quantos meses calculava que ele tinha e Catherine respondeu «Eu diria que cerca de três meses, mas não sei o suficiente para ter a certeza. Tem mais ou menos o tamanho de um punho». Perguntei a Catherine se o feto parecia humano. Ela disse: «E difícil de dizer. Os olhos são como os deles». O examinador «parece orgulhoso. Tenho essa sensação (fez uma pausa). Ele retira o outro instrumento de metal, aquele que estava a manter as minhas pernas abertas» e «entrega-o ao ser pequeno que conduz o carrinho com o tanque, que o leva». O examinador estava a dizer a Catherine: «'Devias estar orgulhosa' e eu continuo a pensar: 'Porquê?'» Sentia que tinha sido usada como uma «incubadora». Pensou: «'Mentiste -me, sacana desgraçado! Não te ralas nada comigo'. E ele respondeu: 'Não é verdade, eu preocupo-me contigo' Ele insiste! E eu digo: 'Maldito sacana. Como te atreves? Como pudeste fazer-me isto?' Ele vem para o meu lado da mesa e olha-me nos olhos... Tento lutar contra ele!» Catherine estava outra vez muito zangada, a gritar, e muito perturbada. «Ele está a tentar fazer o mesmo que fez antes. Não voltas a fazer-me o mesmo! Não voltas», gritou ela. «Ele diz: 'Porque é que resistes? Porque é que estás a tornar tudo tão difícil para todos?' E eu respondo: 'Por que diabo é que vocês arruinaram a minha vida?' (a soluçar). Ele diz: 'Nós não arruinámos a tua vida. Nem sequer te vais lembrar'. E eu digo: 'Tretas! Vou lembrar-me^ e ele pôs a mão na minha cabeça e eu sinto-me como se... (parou) 'Não me voltarás a fazer o mesmo. Não deixarei'. Tento lutar, mas sinto que estou a ser vencida'», com o que Catherine queria dizer que estava a acalmarse. Mais uma vez lhe foi dito que era «necessário» e que «no final, seria pelo melhor» e «eu digo 'Nem sequer me vão dizer qual é a finalidade? Como saberei?' e ele responde: 'Não podemos dizer-te'. 194 SEQUESTRO E eu digo: 'Vocês nunca dizem nada de nada. A quantos seres humanos fizeram o mesmo?' e ele responde: 'A um grande número'». Catherine sentiu que, apesar do seu grande esforço para lutar contra a influência do ser, estava «a perder» e estava positivamente afectada pela garantia de que eles se importavam com ela, tinham «pena que isto a tivesse magoado» e «não tinham desejado fazê-la sofrer». Depois de mais comunicações sobre o «significado» das experiências dos alienígenas, planos ou projectos — nenhuma destas palavras parecia correcta — e mais garantias de que «não vão magoar-me», Catherine disse simplesmente: «Vocês deviam ter-me

pedido». Também lhe disseram novamente que ela não se recordaria de nada. Então, perguntei-lhe como era possível que ela e eu estivéssemos a recuperar estas memórias e ela respondeu que, uma vez que eles tinham feito o que tinham a fazer, já não interessava. Depois de a ter mais uma vez tranquilizado, tanto com os olhos, como com palavras, para que «se acalmasse», o examinador saiu e os «pequenos» retiraram Catherine da mesa e conduziram-na novamente através da sala cheia de mesas. Olhando em volta, para as pessoas nas mesas, Catherine sentiuse triste «por todos eles» e sentiu «que deveria dar início a um motim ou qualquer coisa do género, mas que não podia fazê-lo». Levaramna novamente para a primeira sala em que tinha entrado e onde as suas roupas tinham ficado. «Vesti as minhas roupas e eles tentaram a ajudar-me, mas a minha reacção é do género: 'São o diabo das minhas roupas, façam favor de me deixar vesti-las'. Tentaram ajudar-me, mas tudo o que conseguiram foi atrapalhar. Nessa altura, estavam a olhar-me de soslaio. Na realidade, não queriam ofender-me mais. Estavam com um pouco de medo de mim». Embora no seu estado de paralisia Catherine não pudesse expressar completamente os seus sentimentos, «eles podiam sentir a presença dessas emoções e ficam um pouco assustados, porque como não podem sentir assim tão intensamente, não sabem lidar com isso, especialmente agora que o mais alto não está aqui. Acho que eles não têm capacidade para me acalmar, se eu ficar novamente perturbada». Ao sair da nave «para este buraco vazio, deveríamos cair directamente lá em baixo, mas não. Regressamos em diagonal». Um dos seres levou Catherine «a flutuar» até ao lado do passageiro do carro e caminhou com ela até ao banco do condutor. A porta ainda estava «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 195 aberta, com as chaves na ignição e ela pensou: «Podiam ter-me roubado o carro». A porta fechou-se aparentemente sozinha — ela não se recorda exactamente de como isto aconteceu — e Catherine afastou-se dos bosques, reparando que eram 2.45 horas da manhã e que tinha perdido cerca de quarenta e cinco minutos, sem qualquer explicação. Enquanto guiava para fora dos bosques, sentia-se ansiosa e também «estúpida». Com o medo, corria para casa a grande velocidade, seguindo a mais de 160 Km/h («Queria ver qual a velocidade máxima que o carro dava»), o que também serviu para «libertar alguma agressividade». Quando chegou a casa, foi directamente para a cama e adormeceu. Na manhã seguinte, viu na televisão as notícias sobre um OVNI ou «cometa», que tinha seguido a rota que ela se vira compelida a seguir e telefonou a uma amiga, que estava em tratamento com um terapeuta, a quem contou a história de Catherine. Este terapeuta conhecia o meu trabalho e providenciou para que Catherine me contactasse. Depois da nossa primeira entrevista, Catherine não me telefonou, conforme tínhamos combinado. No entanto, eu telefonei-lhe cerca de uma semana depois. «De certo modo, isso fez-me entender que você estava interessado e que eu não estava completamente doida ou a inventar coisas». Depois da regressão, Catherine, Pam Kasey e eu considerámos a hipótese de ela ter sido engravidada com este feto durante o rapto do Natal, no Alasca. Contra esta possibilidade, estava o facto de o feto parecer demasiado bem formado para uma gravidez de apenas dois

meses. Catherine lembrou-se de outro episódio nos fins de Outubro ou princípios de Novembro de 1990, «que na altura não fazia sentido». Catherine tinha-se achado a guiar no meio da noite por estradas desertas e parara numa área de repouso da auto-estrada. «Estava realmente aterrorizada por estar ali, porque mais uma vez estava à espera de qualquer coisa». Esperou durante cerca de quinze minutos, mas não se lembra de ter acontecido qualquer outra coisa antes de regressar a casa. Pelo Natal, Catherine tinha engordado um pouco, mas começou a perder peso depois do rapto de Fevereiro. Não se recorda de ter experimentado quaisquer outros sintomas de gravidez e não investigámos mais profundamente o episódio de Outubro. Reflectimos novamente sobre a realidade da sua experiência. Catherine tinha lido recentemento o livro de David Jacobs, Secret Life (Vida Secreta), que inclui histórias de traumas reprodutivos, e 196 SEQUESTRO perguntava-se se «não estarei talvez a aproveitar material daí», embora nunca se tenha considerado uma pessoa sugestionável. Pam comentou que, mesmo antes de ler o livro, Catherine lhe tinha contado que pensava que o episódio de Saugus «estava relacionado com um feto». Em seguida, Catherine perguntou a si própria «porque que motivo,» se estas memórias não são autênticas, «estaria eu a inventar estas histórias bizarras e traumatizantes?» No final, Catherine concluiu que tinha apenas duas hipóteses: ou estava «doida», ou «não sei que mais pode ser, se não que isto aconteceu mesmo». Por fim, discutimos a sinceridade das expressões de carinho e afecto do examinador. Catherine conseguia reconhecer que, do ponto de vista dos alienígenas e do seu empenhamento na sua experiência, eles poderiam sentir um certo afecto, como aquele que sentimos por um animal de estimação que esteja a ser utilizado em experiências. Mas para ela, isto «não era desculpa, porque eles sabem, sabem muito bem, que a nossa consciência é maior. Eles sabem o que estão a fazer! Sabem o quanto é traumatizante para nós e não se ralam nem um bocadinho». Dois dias depois desta sessão, Catherine escreveu-me uma nota de agradecimento pela ajuda que estava a receber «num momento em que a minha percepção da realidade está profundamente abalada». No decurso dos dois meses seguintes, Catherine lutou com muitas questões relacionadas com as provas físicas, susceptíveis de confirmar os seus encontros, com a sua realidade e, sobretudo, com as mudanças de consciência que melhor lhe permitiriam adaptar-se ao fenómeno e, até mesmo, manter um diálogo mais intenso com os alienígenas. Encontrámo-nos a 27 de Julho de 1992, para discutir a forma como a sua atitude tinha mudado e que ela atribuía, em parte, ao que tinha aprendido nas suas conversas com outros sequestrados. Continuava a ser alvo de visitas e, possivelmente, de raptos. Relativamente a fenómenos físicos, notámos um pequeno inchaço perto da orelha direita, que Catherine não sabia como explicar. Numa noite de meados de Julho, ela desenhou três círculos na sua própria perna, para se lembrar de pedir aos alienígenas para ver a sua escrita, o que, se lhe fosse permitido, aumentaria a sua confiança na realidade das suas experiências, além de estar relacionado com o seu desejo de conseguir uma maior troca de informações mútuas. Porém, na noite em que desenhou os círculos (15 de Julho de 1992), foi novamente visitada («Eles desceram e paralisaram-me») e ficou

«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 197 tão assustada que se esqueceu de colocar as suas questões. Como depois apurámos, foi raptada nessa noite (ver o relato da quinta regressão). Embora a realidade das suas experiências, conforme as recordámos nas sessões, «esteja a subir cada vez mais e mais», Catherine concluíra que «não fazem parte da consciência normal», isto é, ocorrem num, ou reflectem, um estado de consciência extraordinário. Isto implicava que «tenho que alterar ainda mais a minha visão do mundo». Catherine tinha igualmente decidido que «a minha reacção a tudo isto irá determinar a natureza de toda a experiência... Se ficar totalmente petrificada e os insultar, transformando-me, basicamente, num animal hostil, então, será assim que me tratarão», observou ela. «Se, ao contrário, me mantiver calma e racional, poderemos conseguir muito mais, pelo menos no que diz respeito à minha compreensão de tudo isto». Com o objectivo de dominar o medo e de se sentir «menos como um animal encurralado», Catherine andava a imaginar «a coisa mais terrível que lhe poderia acontecer». Mas, «em vez de se deixar enlouquecer e continuar a ter as mesmas horríveis experiências», deveria «cooperar e não lutar tanto, porque isso apenas me faz perder ainda mais o controle, reparar em menos coisas e ficar ainda mais envolvida no medo e na luta, em vez de estar mais atenta e ter menos controle físico e mental, quando poderia dialogar com eles, obter respostas directas e levá-los a mostrar-me alguma coisa que me possa ser útil». Com a finalidade de controlar as suas reacções «animais» e «subir um degrau na escala evolutiva», Catherine desenvolveu aquilo a que chamou «ladainha para não ter medo... Se ficar assustada por qualquer razão, devo manter-me sentada e repetir 'Não tenhas medo, não tenhas medo, não tenhas medo'. E funciona». Depois de várias sessões de meditação, no decurso das quais imaginou intencionalmente alienígenas a entrar no seu quarto, descobriu que tinha maior controle sobre o seu terror e que podia acalmar-se. Recentemente, Catherine chegou à conclusão que os alienígenas «são espiritual e emocionalmente mais avançados do que nós» e, por isso, «não têm necessidade de ser tão emotivos quanto nós». Isto significa que «se quiser aprender alguma coisa útil com eles, tenho que lidar com eles ao seu próprio nível». E significa também a necessidade de erguer «um núcleo de força interior». Isto «não é qualquer coisa que alguém possa tirar-me facilmente». Catherine não espera 198 SEQUESTRO que os procedimentos invasores sejam interrompidos, mas acha que poderá diminuir o seu efeito traumático. «Não estou exactamente a dizer», acrescenta, «aqui têm o meu corpo, façam o que quiserem. É mais uma compreensão do que vai acontecer». Convidá-los a «mostrarem-me os seus escritos, porque desejo aprender mais sobre eles e sobre o meu papel no seu plano» é «um conceito totalmente diferente» de gritar com eles, perguntando 'Porque raio estão a fazer-me isto, malditos bastardos'». Talvez «respondam a esta pergunta» e «eventualmente talvez até possa ajudá-los, porque terei uma maior participação no seu plano». Catherine atribui as alterações da sua consciência, «este crescimento espiritual e psíquico», ao impacto «supremo e imenso» das próprias experiências de rapto. Na altura do encontro de Julho de 1992, Catherine já tinha notado diversas mudanças em si própria, que eram o resultado

directo da sua diferente atitude face às experiências de rapto e da sua maior receptividade psicológica em geral. Os próprios raptos funcionavam como uma provocação. «Tem que haver alguma experiência que altere totalmente todas as coisas e o modo como as encaramos», observou ela. Catherine atribui a sua capacidade para tirar partido do impacto das suas experiências de rapto ao trabalho exploratório que tem desenvolvido em relação a elas. Tem reparado que possui capacidades intuitivas maiores do que as outras pessoas. Consegue «sentir as auras das pessoas», os campos de energia que nos cercam e que algumas pessoas mais sensitivas conseguem ver, e está mais perfeitamente sintonizada com os estados emocionais dos outros, o que ela acha «muito útil... na realidade, quando me vou encontrar com alguém, posso analisar as pessoas e perceber se estão a tentar enganar-me ou se estão a ser realmente sinceras e amáveis no que dizem. Posso adivinhar as suas intenções... Estas experiências tornam-nos mais receptivos a tantos níveis», conclui ela, «abrem-nos tantas outras possibilidades. Toda a gente possui este tipo de capacidades, mas abafamo-las porque a sociedade nos diz: 'Não, isso não existe' e recusa tudo. E agora, estou novamente receptiva a tudo». Um dos fenómenos mais difíceis com que Catherine e outros sequestrados têm de lidar é um fluxo virtualmente constante de experiências sensoriais, especialmente raios de luz («coisas com electricidade estática», chamou-lhes ela em certo momento), a intrusão de imagens padrão coloridas (por exemplo, enquanto está a escrever à máquina) e, em menor grau, zumbi«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 199 dos, zunidos e outros sons. Gradualmente, estas sensações visuais têm vindo a dimimuir e as auditivas a aumentar. As alterações neurofisiológicas subjacentes a estas sensibilidades são desconhecidas. Só a 26 de Outubro nos foi possível marcar uma nova regressão, a fim de explorar as experiências de 15 de Julho. No nosso encontro de 27 de Julho, Catherine afirmara saber que «algo» acontecera cerca das duas horas da manhã, «porque tinha olhado para o relógio». Anteriormente nessa noite, além dos círculos que desenhara na perna esquerda com um marcador de tinta permanente, Catherine tinha igualmente escrito: «Mostrem-me a vossa escrita». Viu luzes estranhas a jorrar pela janela («como se alguém tivesse um grande projector do lado de fora»)e teve a sensação de que havia seres no quarto — «um deles vinha na minha direcção com um grande bastão com uma luz na extremidade e apontando-o para mim, e esta recordação é apenas um meio-sonho». Percebeu que a perna direita e, em seguida, todo o seu corpo estava a ficar entorpecido. «Tentei gritar: NÃO!, mas não consegui. As palavras não saíam. Não conseguia emitir qualquer som e o que saía era sufocado, como 'AHHHHHH'». Parecia estar demasiado paralisada de medo, para conseguir seguir completamente o seu novo entendimento do fenómeno. No início da sessão de 26 de Outubro, Catherine começou a perguntar-se se os sujeitos de rapto seriam escolhidos devido a possuírem melhores auras ou campos energéticos, vibratórios, que os protegem de «infâncias atribuladas». Catherine, Pam e eu especulámos, durante alguns minutos, acerca da possível relação entre o fenómeno do rapto e uma maior vulnerabilidade e sofrimento na vida dos sujeitos de experiência. Pelo menos no caso de alguns sequestrados, os alienígenas parecem entrar nos campos de energia ou responder «a certas vibrações de uma alma trémula». Falámos também das

possíveis dimensões da realidade, das quais os fenómenos de rapto poderão emanar, e dos diversos «agravamentos sensoriais» que tinham ocorrido na vida de Catherine desde o nosso último encontro formal. Ela exprimiu o desejo de saber «porque é que estas coisas estão a acontecer» e concordámos em tentar procurar significados na regressão, bem como a narrativa das suas experiências. Imediatamente antes de iniciar a regressão, Catherine disse que a procura de um significado parecia «o passo lógico seguinte... pelo menos noventa por cento do tempo, estou para além da fase do não estou louca, da fase do isto estará realmente a acontecer e da 200 SEQUESTRO fase do estou a imaginar coisas, bem como das fases de recusa e de estar completamente aterrorizada, quero dizer, é como uma progressão lógica. Na regressão hipnótica, a quinta, Catherine começou por experimentar novamente a entrada de luzes no seu quarto, «como um enorme projector», e ouviu novamente o que pareciam ser vozes humanas do lado de fora do quarto. Tentou acordar do seu estado de semi-adormecimento, mas sentiu que «eles não me deixam». Mais uma vez, lhe transmitiram mensagens tranquilizadoras e ela estava «furiosa, porque eles fazem sempre isto!» A chorar, exclamou: «Nunca me deixam lembrar-me realmente de nada e até já lhes pedi que o fizessem». Dois dos seres retiraram-na da cama a flutuar, «colocando-me no feixe de luz». Disse-lhes para não magoarem o gato, que estava «escondido» depois de ter «fugido rapidamente pelas escadas acima». Catherine sentiu que o forte controle que os seres estavam a exercer sobre ela se destinava a impedi-la de reagir. Ela acha que a sua oposição «os torna muito nervosos». Catherine disse: — Se alguma vez me pedirem para fazer qualquer coisa que pretendam, talvez eu esteja mais disposta a colaborar, embora eu esteja a tentar sentir-me menos assustada e levá-los a falar mais comigo, mas eles continuam a não querer. E eu tento fazer-lhes perguntas às quais penso que irão responder e continuo a receber as mesmas respostas evasivas de treta. Não obstante, Catherine afirmou que num rapto ocorrido há duas semanas, relativamente ao qual o «bloqueio» da memória era ainda demasiado forte para ser explorado, os seres lhe tinham transmitido algumas informações significativas, em resposta ao seu pedido para «me mostrarem o fim». Regressámos ao feixe de luz e ela descreveu a forma como passara através da janela, da varanda e de uma árvore. Viu o seu prédio de apartamentos ficar cada vez mais pequeno e a cidade a recuar por baixo dela. Enquanto subia, sentiu que, embora vestisse apenas roupa interior, a energia do feixe a mantinha quente. Foi levada de costas através de «um buraco no chão» de uma nave e achou-se numa sala, com uma parede mais arredondada do que as de outras salas em que tinha estado. «Eles querem falar-me de qualquer coisa», sentiu. Havia uma quantidade de outros seres «a andarem de um lado para o outro» e alguns seres humanos a ser levados para

«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 201 vários lugares da nave. Os seres conduziram-na ao longo de um largo corredor, que rodeava a nave e Catherine pôde ver as estrelas

«apenas ali penduradas», através de uma janela. Perguntei-lhe se, nessa altura, ainda estava meio a dormir ou já estava completamente acordada e ela respondeu: «Nenhuma dessas coisas exactamente... depois de me terem posto no feixe, parece que passei para este outro estado de consciência que, na realidade, não é nenhum deles». Perguntei-lhe como era esse outro estado de consciência e em que é que diferia do «nosso estado normal de consciência». Catherine respondeu: «É como se tivesse acesso a uma parte completamente diferente de mim mesma, à qual não tenho acesso no meu estado normal de consciência». Neste estado alterado de consciência, Catherine sabe «mais deles. Sei mais acerca deles. Não é como se soubesse mais ou menos que talvez tenha acontecido qualquer coisa, como quando estou acordada». O saber, disse ela, é tão real como no estado normal de consciência. «É a mesma coisa que saber alguma coisa aqui, mas é simplesmente assim, a porta foi fechada no meu espírito e eu não tenho a chave, mas eles têm». No estado hipnótico, Catherine estava completamente presente neste outro reino de informações. Catherine pensou, irritadamente, que esta longa viagem através do corredor curvo seria desnecessária, se a tivessem simplesmente trazido pelo outro lado da nave e ficou com a impressão que os seres estavam, como sempre, irritados com a sua atitude inquisitiva e rebelde. Chegaram a outra sala com uma porta de correr, que deslizou para cima. A sala pareceu transformar-se, de uma sala típica de uma nave com mesas, paredes curvas e talvez um ecrã de visualização, numa sala de conferências completamente decorada com tapetes de lã, painéis de mogno e um grande ecrã de visualização. Tal como Catherine recordou, quando estava a ver a gravação desta sessão, teve a impressão que «quanto mais pensava numa sala de conferências de uma grande empresa, mais esta se lhe assemelhava», mas quando compreendeu que tudo não passava de uma espécie de encenação, as «imagens da sala de conferências desvaneceram-se, para mostrar apenas as imagens anteriores e, finalmente, a sala real». Durante a regressão, ela tinha consciência da simulação de uma sala de conferências e contestou o facto de eles estarem a encenar isto, apenas em seu benefício. Porém, disseram-lhe que, «Temos que ter uma conferência, por isso, tens que pensar que se trata de uma confe202 SEQUESTRO rência e, então, levamos-te para uma sala de conferências, para que possas estar num estado de espírito mais sério, em vez de começares com o tipo de comentários espertalhões que fazes habitualmente». — Quando isto aconteceu — comentou Catherine — eu estava a começar a não lutar contra eles. Estava mesmo no começo. Não estava onde estou agora. Portanto, era uma situação muito diferente. Eu relacionava-me de uma forma diferente do que faço agora. Ela sentiu que aqueles truques «patetas» se adequavam ao seu nível de consciência do momento. Depois de ter ultrapassado as encenações teatrais, a sala regressou à forma original e disseram a Catherine que se sentasse numa pequena cadeira de metal frio. Em seguida, foram-lhe mostradas, no ecrã, cenas da natureza, «como uma câmara a dar uma panorâmica de uma floresta — árvores, um veado, musgo, sujidade e agulhas de pinheiro pelo chão — e tenho esta sensação de que é tudo tão belo, tão belo». Mas sentiu que as suas emoções estavam a ser manipuladas e ofereceu resistência, fazendo com que «eles tivessem que trabalhar mais arduamente».

Olhando para trás, Catherine pensou que isto «era bom, porque me fazia sentir que tinha um pouco mais de controle sobre a situação e, se eles quisessem que eu ouvisse o que tinham a dizer-me, teriam que falar-me como a um ser igual a eles e deixar de utilizar todos estes truques manipuladores». Foram apresentadas no ecrã «outras cenas da natureza, como o Grand Canyon e como, está bem, óptimo, já vi isto na televisão. Vai para o deserto. Vão aparecer as pirâmides. Vejo mais coisas egípcias, antigas, hieróglifos e imagens, imagens de faraós e outras coisas, e estou a experimentar esta sensação, esta era a tua vida... Sou como, Oh! Bestial... É mais ou menos como uma viagem pelas minhas vidas passadas.» Nesse momento, Catherine sentiu-se intrigada, «porque gosto muito do antigo Egipto, por isso é óptimo, se eu realmente estive lá». Em seguida, mostraram-lhe a imagem de pinturas tumulares vulgares, com a tinta a pelar, «mas a seguir mudou para uma imagem de mim mesma a pintá-las». Mas nessa encarnação ela era homem e observou esta cena «isto faz sentido para mim... Não é um truque. Estas informações são úteis. Não são eles a empurrar um monte de merda como tudo o mais». Agora, Catherine sentia qua a sua insistência numa troca de informações mais recíproca fora finalmente compensada. Então, pedi a Catherine que me dissesse mais sobre esta imagem «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 203 de si própria como pintor no túmulo de uma pirâmide egípcia. Em resposta às minhas perguntas, ela facultou-me uma grande quantidade de informações, que parecia saber enquanto pintor, o qual tinha um nome parecido com «Akremenon». Catherine poderia ter obtido algumas destas informações lendo livros vulgares sobre o Egipto. Porém, certamente que não teria conhecimento de outros pormenores, como por exemplo, o processo de fabrico da tinta, que ela parecia conhecer muito bem e está de acordo com o relato de um certo texto. Ela descreveu ainda a cor da pele do homem, as suas vestes («apenas uma tanga enrolada à volta do corpo») e o penteado, que indicava o estatuto mais alto de servidor real, quando comparado, por exemplo, com o de um escravo. O mais espantoso nesta conjuntura era o facto de a experiência de Catherine ser absolutamente transpessoal, isto é, ela não estava a fantasiar sobre o pintor; ao invés, ela era Akremenon e podia «ver as coisas completamente do ponto de vista dele, em vez do meu próprio ponto de vista». Catherine descreveu a luz da sala onde estava a pintar (perto do exterior, uma espécie de passagem labiríntica que conduzia ao túmulo), aquilo que Akremenon estava a pintar (o penteado azul da mulher de um faraó, que usava um vestido branco e segurava uma pequena jarra como oferenda, num acto de adoração ao deus dos mortos, Anúbis, a fim de ser enterrada e ganhar a vida eterna juntamente com o faraó), outro artista que estava a pintar qualquer coisa «lá mais abaixo», o seu prazer ao executar este trabalho («podia estar muito pior, se tivesse que estar a cortar blocos de calcário para o exterior») e as raras pedras azuis «oriundas de um dos países conquistados», que desfazia para fabricar a tinta. Akremenon tinha aprendido o ofício com um pintor mais velho, quando era ainda rapaz. Depois de concluir esta cena, «tenho que pintar um monte de avisos lúgubres para os ladrões de túmulos». O nome da esposa era Tybitserat e Catherine chamou ao faraó, que afirmou pertencer ao Império Médio e ser de importância

«mediana», Amen Ra (o que é um pouco confuso, visto Amon Ra ser o nome de uma importante divindade egípcia e não de um faraó), mas acrescentou: «Para ser completamente honesto, isso não me interessava nada, desde que a minha posição estivesse segura, não me importava nada». Mais tarde, ao rever o meu manuscrito, Catherine escreveu que era difícil lembrar-se do nome do faraó, uma vez que isso «não era um factor essencial para o que estavam a tentar 204 SEQUESTRO mostrar-me. Não era esse o significado ou objectivo dessa vida. Eu podia até estar a confundir uma quantidade de outras vidas!» Ela crê que o faraó mudou de nome e «se livrou de vários deuses». (Talvez Catherine se esteja a referir a Akhenaton, o faraó do Império Novo, que abandonou o politeísmo e abraçou o monoteísmo). Catherine também sabia muitos pormenores relativos ao tamanho adequado das várias figuras do painel que estava a pintar («as pessoas comuns são pequenas, as pertencentes à realeza são maiores e os deuses são os maiores de todos») e sobre os complexos problemas de proporcionalidade que os pintores enfrentavam, em resultado do afastamenteo dos deuses antigos pelo faraó. Depois de lhe mostrar a cena do Egipto, um dos seres perguntou a Catherine: «Compreendes?» O que ela compreendeu então foi que «tudo está interligado», canyons, desertos e florestas. «Uns não podem existir sem os outros e eles estavam a mostrar-me numa vida anterior, para me demonstrarem que estou ligada a isso, como estou ligada a todas as outras coisas, e que não posso separar as coisas como tenho tentado fazer». Para Catherine, isto significa que «Não posso continuar da mesma forma que antes, e não posso continuar a combatê-los como tenho feito, porque também estou ligada a eles. Quando luto contra eles, estou apenas a lutar contra mim própria e contra a minha ligação a todas essas coisas, contra as quais não podemos lutar. Está ali». Ela perguntou aos alienígenas porque é que precisavam de utilizar tanto «teatro» para lhe mostrar isto e eles responderam: «Tara te fazer entender, compreender as implicações. Para te colocar no estado de espírito adequado'. E eu sinto-me, finalmente, como se estivéssemos a progredir!» Com este episódio, Catherine também pareceu compreender que determinadas emoções, como «amor, protecção, ajuda, compaixão», são «a chave», enquanto outras, como a ira, o ódio e o medo «não são úteis», especialmente o medo. «O medo parece ser o pior de todos. Eles estavam a tentar ajudar-me a vencer o medo e era por isso que me assustavam tanto, porque eventualmente eu acabaria por ficar cansada disso e ultrapassá-lo-ia, para poder passar a coisas mais importantes». Pedi-lhe para explicar melhor como é que assustá-la tanto poderia ajudá-la a ultrapassar o medo. Ao fim de algum tempo, o corpo humano não pode suportar mais, explicou ela, «porque é como se estivéssemos sempre em sobrecarga e, em segundo lugar, cansamo«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 205 nos muito simplesmente, uma vez que não conseguimos concentrarnos em qualquer outra coisa... Quando ficamos saturados», acrescentou, «então, ultrapassamos o medo... Temos que decidir conscientemente ultrapassá-lo... É quando finalmente dizemos que não é possível continuar assim que ultrapassamos o medo... Decidimos libertar-nos desse medo... Foi como se eu tivesse expli-

cado a mim própria porque é que já não me ajudava continuar imersa no terror». Pressionei-a, para que explicasse com mais precisão o processo de transformação da forma como experimentava o medo. «Às vezes, ainda fico assustada», disse ela, «É como se tivesse que empurrar-me para o nível seguinte. Tenho que dar o próximo passo, alcançar a plataforma seguinte... Deixamos ir. Isto é, sentimos o medo, mas deixa-mo-lo passar por nós e passou... já não nos agarramos a ele como antes... Eu tinha chegado ao ponto em que decidira passar ao nível seguinte». O que Catherine tinha aprendido durante este rapto fora «a lição seguinte», que se seguia naturalmente às alterações emocionais que Catherine sofrera, «na semana anterior» a este rapto. Antes de terminarmos a regressão, Catherine disse que a meta seguinte ou «papel» seria «mostrar aos outros o caminho para além do medo... É assim como se, depois de termos aprendido uma lição, estivéssemos preparados para mostrar o caminho aos outros». Disse também que afirmara novamente aos seres que «a montagem teatral barata para explicar as suas razões», quando criaram a ilusão de «uma grande sala de conferências global», era perfeitamente desnecessária. Mas eles insistiram que «Teve muito maior impacto sobre ti, do que se te tivéssemos simplesmente dito que se tratava de uma sala de conferências». Ela pareceu finalmente aceitar que «eles têm as suas razões e não devo questioná-las». Também chegámos à conclusão que a sua teimosa auto-afirmação e constantes perguntas, embora «tivessem tomado tudo muito mais duro do que poderia ser», podem ter sido elementos produtivos do seu processo de desenvolvimento. Mantendo-se fiel a si própria até ao fim, Catherine pensou novamente, enquanto a conduziam de volta pelo corredor: «Podíamos simplesmente sair pelo outro lado». Em seguida, «Nós seguimos e continuamos no mesmo sítio» e o chão «parece desintegrar-se sob os nossos pés e descemos pelo feixe e, bolas!, outra vez através das coisas, o que é muito desconcertante, e põe-me de novo... Meto-me na cama, deito-me, puxo as cobertas até meio e um deles puxa o resto». 206 SEQUESTRO Por fim, ela observa de passagem que o feixe de luz, quando desce, é azul, mas é branco no fim dos raptos, quando ela regressa nele. Enquanto revíamos a sessão, Catherine, tal como outros sequestrados, sugeriu que aquilo que experimentara «não parece pertencer ao nosso espaço/tempo», o que para ela constituía «apenas outro exemplo» de como «todas as coisas estão ligadas e nós estamos ligados a elas». Na reunião seguinte do grupo de apoio aos sequestrados, que se realizou duas semanas depois desta sessão, Catherine partilhou as suas ideias sobre a forma de lidar com o terror associado às experiências de rapto, uma vez que vários membros do grupo pareciam estar encurralados pelas respectivas reacções de medo. «Acho que tudo depende da forma como interagimos com eles», disse ela. «Se eles vêm ter connosco e a nossa primeira reacção é a de um rato de laboratório assustado e nos enrolamos num canto da cama, tentando esconder-nos, como um rato no canto da gaiola, e eles tiverem vindo para nos levar por qualquer razão, eles tratar-nos-ão exactamente dessa maneira. Mas se reagirmos como Tudo bem, vamos negociar. Vamos tentar uma forma qualquer de interacção significativa'. Penso que, nesse caso, eles terão uma reacção muito mais respeitosa e tratar-nos-ão mais como seus iguais, do que se reagirmos imediatamente de forma aterrorizada». Mais tarde, ela partilhou também o

processo de combater o medo («chegando aquele ponto de saturação, em que ficamos tão fartos que temos de o ultrapassar»), que tinha aprendido na última regressão. Depois, disse Catherine, «seguirão para o nível seguinte e aprenderão o que houver para aprender nesse nível. Mas o medo é a barreira que não nos deixa avançar para mais nada». COMENTÁRIO O desenrolar do caso de Catherine seguiu o seu sentido de necessidade e o seu desejo de saber mais acerca das suas experiências. Consequentemente, um certo número de áreas ainda permaneciam por explorar, quando este texto foi escrito. Por exemplo, numa conversa havida em Outubro de 1992, Catherine disse a Pam Kasey que tinha tido uma «visão», que «atravessou a minha cabeça uma e outra vez», em que se via num quarto de crianças com muitos berços. Uma enfermeira trouxe um dos bebés a Catherine e disse-lhe que devia «SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 207 pegar-lhe. Ela sentiu repulsa e nojo e disse à enfermeira que não queria. «Foi muito difícil não começar a chorar durante a aula, quando tive esta visão», disse Catherine. Não analisámos em pormenor estas imagens. Não obstante, o caso de Catherine ilustra muitas das características dos fenómenos de rapto por alienígenas. A sua candura e coragem, a sua capacidade para reter pormenores, a articulação directa das suas experiências e, sobretudo, o seu espírito de teimosia e autocrítica, conferem à sua história um valor muito especial. De início, Catherine estava pronta a rejeitar como inconsequentes as sugestivas experiências, que já conseguia recordar conscientemente. Procurou ajuda relutantemente e considerou como sonhos experiências de rapto que, mais tarde, viria a sentir serem reais, embora vividas num outro estado de consciência. À medida que recordava, com intensa emoção, mais e mais pormenores das suas perturbadoras experiências, Catherine agarrou-se às suas dúvidas quanto à realidade das mesmas, procurando comigo explicações convencionais, até que, a seguir à quarta regressão, acabou por reconhecer, numa nota, que «as minhas concepções da realidade foram abaladas». O melhor instrumento do crescente reconhecimento, por parte de Catherine, da verdade de tudo o que lhe acontecera, foi o seu sentido de si própria como pessoa pouco dada a expressar sentimentos fortes sem um sólido apoio em experiências reais. A aceitação da realidade das suas experiências, qualquer que venha a provar-se ser a sua origem última, permitiu a Catherine lidar mais eficazmente com os poderosos afectos e sentimentos materiais que as acompanham, especialmente terror, raiva e desgosto, e alcançar um nível de consciência mais elevado ou mais criativo. De especial importância para a transformação pessoal de Catherine foi a sua decisão de deixar que os seus medos «saturassem» completamente o seu ser, quando os encontros ocorriam, em vez de combater agressivamente as energias ameaçadoras personificadas pela presença e actividades dos alienígenas. Isto não significou uma rendição incondicional aos objectivos dos alienígenas, mas constituiu, sim, o reconhecimento da necessidade de ceder o controlo, perante forças misteriosas às quais não podia opor-se eficazmente. A mudança de atitude de Catherine, do combate antagónico — uma posição que foi útil inicialmente, para manter algum sentido de integridade e iniciativa pessoal — para uma espécie de aceitação

208 SEQUESTRO activa, teve várias consequências. Permitiu-lhe experimentar um considerável desenvolvimento pessoal, expresso no desejo, que já está a realizar, de ajudar outros sequestrados a lidar com as suas próprias experiências, e por uma profunda preocupação com o destino do ambiente da terra. Durante os raptos, foram-lhe dadas informações sobre a poluição da natureza e o colapso dos ecossistemas vivos interligados da terra. Embora Catherine não confie nas motivações dos alienígenas para tentarem deter estes processos (talvez eles pretendam apenas proteger o seu laboratório e os seus sujeitos de experiências), pode compreender que partilhamos com eles o mesmo objectivo de preservação da terra. A atitude de aceitação e receptividade de Catherine parece ter começado a dar frutos, quanto ao seu desejo de estabelecer uma relação mais recíproca com os alienígenas, ou pelo menos de obter algumas respostas para algumas das suas questões. Em vez de lhe ter sido dito, como acontece com tantos sequestrados, que ainda «não está preparada para saber», recentemente, Catherine teve experiências menos traumáticas e foi-lhe revelada a qualidade de interligação entre os ecossistemas vivos da terra, durante os seus encontros com os alienígenas. Também lhe foi significativamente demonstrada, embora esta ideia seja dificilmente aceite pelo espírito ocidental, a interligação de toda a consciência, tal como foi expressa na experiência (convincente para ela) de uma anterior encarnação como pintor da corte egípcia. Tal como sucede em todas as narrativas de rapto, o caso de Catherine levanta mais questões do que as respostas que oferece. Por exemplo, qual é a tecnologia ou o processo — dificilmente sabemos as palavras correctas — pelo qual as nossas mentes podem ser deliberadamente induzidas a ver uma floresta numa nave espacial, ou uma sala de conferências, em vez de uma sala mais nua, «típica» das naves? E, finalmente, na história de Catherine somos confrontados, tal como em muitos outros casos de rapto, com questões acerca do verdadeiro objectivo ou significado do projecto ou experiência de reprodução híbrida, que são perturbadoramente evidentes nas experiências de Catherine. Ela descreveu filas de bebés híbridos numa espécie de incubadora e falou de uma enorme sala com centenas de mesas, sobre as quais seres humanos são submetidos a procedimentos, em que não concordaram em participar. CAPÍTULO OITO LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS Joe, um psicoterapeuta de trinta e quatro anos, com um consultório de orientação profissional, escreveu-me em Agosto de 1992, dizendo que «tivera várias experiências com ET desde a primeira infância» e sentia uma necessidade urgente, «assustado como estou», de «arejar esses armários». Como criador e chefe de programas de aventuras na natureza, Joe ajuda outras pessoas a vencer os seus medos, incluindo o medo do escuro. Ao mesmo tempo, reconhecia que, na altura em que me contactou, estava a tentar combater «o meu próprio medo da escuridão». Cerca de três meses antes de me contactar, enquanto um massagista trabalhava no seu pescoço, Joe teve subitamente uma visão de estar deitado numa mesa, rodeado de pequenos seres com grandes cabeças, um dos quais estava a espetar

uma agulha no seu pescoço. Gritou de terror e tornou-se-lhe impossível continuar a negar a força perturbadora das suas experiências. Soube do meu interesse pêlos fenómenos de sequestro, através de outro sequestrado e também da colega de quarto de uma das minhas assistentes, e escreveu-me uma carta resumindo as suas experiências. Quando me encontrei com Joe pela primeira vez, a sua mulher estava grávida de um mês do seu primeiro filho. A investigação dos encontros de Joe com alienígenas, durante a gravidez e o parto da sua mulher e o desenvolvimento do seu próprio papel como pai, proporcionaram-nos uma rica oportunidade de estudar a relação dos fenómenos de sequestro com a consciência que Joe tinha dos ciclos do nascimento e da morte ao longo do tempo, incluindo a recordação de uma dramática experiência de uma vida passada. Em quatro ses210 SEQUESTRO soes de hipnose, realizadas entre Outubro de 1992 e Março de 1993, uma antes e três depois do nascimento do seu filho Mark, investigámos a complexa dimensão das relações de Joe e Mark com os seres alienígenas e Joe lutou para integrar na sua própria identidade os elementos alienígenas. A libertação e o desenvolvimento pessoais ocasionados por esta integração constituem um aspecto notável do caso de Joe. Joe, o sétimo de oito filhos, nasceu e cresceu numa pequena cidade do Maine. O pai, que vendia cabedal e linhas para fábricas de calçado, morreu da doença de Alzheimer, um ano antes de eu conhecer Joe. Joe classifica a sua família de origem irlandesa como «tipicamente Católica Romana» e afirmou que eram manifestamente felizes, mas na realidade disfuncionais, e que os seus pais eram frios e «emocionalmente rígidos... não me beijavam ou abraçavam frequentemente» e «passava muito tempo fora de casa, onde me sentia aceite e em segurança». «Crescemos brincando fora de casa», disse ele a um grupo de um seminário de que eu era professor, no Hospital de Cambridge. «Caçávamos, colocávamos armadilhas, pescávamos». Joe, tal como outros sequestrados, sente que a sua relação com os seres a que chama «os ET» lhe proporcionou afecto, apoio e amor, «quando mais ninguém se preocupava com isso». Joe descreve a mãe, Julie, com uma pessoa medrosa, que inicialmente não queria ouvir contar as suas experiências com os ET, ficando assustada e agitada quando ele tentava falar-lhe delas. Joe lembra-se de acordar os pais uma noite, quando era criança, para lhes contar uma experiência assustadora e de lhe terem dito que «foi só um pesadelo». Joe não crê que qualquer dos seus irmãos tenha tido também encontros de sequestro. «Tenho falado com eles», diz ele e recebido «reacções variadas, desde a negação à aceitação». Entre os oito e os quinze anos, Joe gostava de passar as noites de verão fora de casa, dormindo numa varanda com o seu irmão mais novo, que não acredita necessariamente nos fenómenos de sequestro, mas que lhe disse recentemente «sempre tiveste medo de OVNI». Na adolescência, Joe tomou consciência de como se sentia isolado e solitário, «era principalmente a melancolia social da puberdade». Recordando esse tempo numa das suas regressões, Joe disse: «Não consigo relacionar-me com ninguém, não me consigo enquadrar». A mulher de Joe, Maria, é psicoterapeuta e cinco anos mais veLIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS

211

lha do que ele. Conheceram-se num centro de formação de terapia alternativa e, quando o conheci, estavam casados há cinco anos e meio. Há dois anos que tentavam ter filhos, mas Maria tinha sofrido dois abortos. «Num sonho muito lúcido», Joe viu dois bebés, pêlos quais sentiu muito amor, e interroga-se se não seriam fetos concebidos por ele e Maria, que os extraterrestres raptaram. Joe identificava-se intensamente com a gravidez da mulher e, na sua carta de Agosto, escrevia-me: «À semelhança do trabalho de parto que a minha mulher vai sofrer, começo a sentir 'contracções' que aumentam de intensidade e são dolorosas quando resisto». Por outro lado, depois do nascimento de Mark, experimentava frequentemente a velha sensação de não se enquadrar, sentindo-se como «uma quinta roda». Segundo Joe, Maria, que não deve ser uma sequestrada, temno apoiado no que diz respeito às suas experiências, e afirma que procuram um no outro amor e compreensão. Desde a sua adolescência, Joe tem procurado a compreensão espiritual e tem participado e ensinado numa quantidade de actividades relacionadas com o desenvolvimento pessoal, incluindo vários grupos de trabalho de cura de espírito/corpo, psicosíntese e diferentes formas de meditação, e é também membro de uma igreja espiritualista. Quando tinha vinte anos, viveu sozinho, durante um ano, numa floresta do norte do Maine. Como terapeuta, Joe trabalhou na recuperação de alcoólicos e de vítimas de abuso sexual e de incesto. Há vários anos que chefia aquilo que uma das brochuras descreve como «oficinas de trabalho em equipa, treino de pessoal e reformas personalizadas», que são facultadas tanto para indivíduos como para organizações. E também um consultor respeitado de vários grupos de orientação profissional, especialmente daqueles que organizam excursões à natureza, incluindo as escolas «Outward Bond». No entanto, por detrás da sua busca pessoal e da sua competência profissional, Joe sempre pressentiu a presença de forças negras, que escapam ao seu controle e estão associadas às suas experiências com ET. Cerca de dez anos antes de nos conhecermos, um dos consultores espirituais de Joe disse-lhe que um dia ele «trabalharia com pessoas de outros planetas». Desde sempre, Joe tem tido sonhos em que contacta com seres alienígenas. Por vezes, acordava com o pénis a doer. Nas suas regressões, lembrou-se de experiências em que o esperma lhe fora «extraído mecanicamente» e «Também vi bebés que eu senti que 212 SEQUESTRO estavam a mostrar-me por serem, em parte, meus». Joe pensa que os ET começaram a interagir com ele «quando ainda estava no ventre» e, na nossa última regressão, lembrou-se de ter visto os seres à volta da cama do hospital, quando tinha apenas dois dias de vida. Como muitas outras pessoas com uma história de experiências de sequestro, Joe tinha em criança muitas hemorragias nasais inexplicáveis. Quando era muito pequeno, tinha repetidamente um pesadelo em que uma bruxa, como a de O Feiticeiro de Oz, entrava a voar pela janela do seu quarto, o obrigava a olhar para os seus «olhos enormes» e o fazia «subir para a vassoura, hipnotizando-o... Depois de a ter olhado nos olhos, pertencia-lhe completamente e ela podia levar-me». Durante a infância, Joe sempre se sentiu fascinado, mas também aterrorizado, pêlos OVNI. Dormia fora de casa, mas tinha dificuldade em adormecer, porque tinha «medo que, assim que adormecesse, viesse alguém para me levar».

Outras experiências da infância e da adolescência foram surgindo no decurso das sessões de hipnose, incluindo uma experiência ocorrida no período entre os treze e os quinze anos, que mais adiante será descrita em pormenor. Durante a adolescência, Joe continuou a ter medo de OVNI e de seres alienígenas. Uma vez, quando tinha dezasseis ou dezassete anos e estava a experimentar LSD, entrou em pânico quando viu uma «pequena nave», a uma distância de cerca de cento e oitenta metros, «com alguém lá dentro a olhar para mim». Ele pensou «que estava a vigiá-lo» e «afastou-se um pouco do caminho e caiu sobre as árvores». Durante este mesmo período teve uma outra experiência, em que olhava para um espelho de uma casa de banho e sentia que estava «a afundar-se, a afundar-se, a afundar-se... De repente», disse ele, «estava a olhar por uma janela e não era eu. Era um alienígena que estava a olhar-me cara a cara. Tinha a cabeça redonda, a pele muito rugosa, como que verrugosa e áspera, e penso que era cinzenta ou verde» com «talvez uma boca pequena, um pescoço fino e, depois, BANG! A realidade da imagem atingiu-me. Fiquei simplesmente doido, porque me senti terrivelmente vulnerável. Não era como encontrar uma pessoa qualquer e dizer 'Olá, o meu nome é fulano. Como está?' Eu senti que estava ali alguém de uma outra dimensão, que podia fazer um gesto qualquer e aí ia eu, passei à história. Vão encontrar os sapatos de Joe na casa de banho». A dor e o medo intensos que Joe sentiu, em ligação com a memóLIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 213 ria surgida durante a sessão de massagens em Maio de 1992, levou-o a procurar a minha ajuda. Joe disse ao grupo do seminário: — Enquanto um terapeuta estava a massajar-me o pescoço, tive uma recordação que me tirou completamente a respiração. Lembrei-me de estar deitado sobre uma mesa, mais ou menos desta altura, mas não tão larga, e de estar rodeado de pessoas pequenas com grandes cabeças, que estão a espetar uma agulha no meu pescoço. Estou aterrorizado. Estou a gritar e quase fiquei despedaçado nesse momento. Joe também se sentia ansioso com o próximo nascimento do seu filho e a sua nova qualidade de pai. A nossa primeira sessão de hipnose teve lugar a 9 de Outubro, cerca de dez dias antes do dia indicado para o fim da gravidez de Maria. Joe falou de sonhos ansiosos com OVNI, de seres alienígenas e de procedimentos executados numa mesa, numa sala subterrânea talhada na rocha. A própria Maria sonhara que «o bebé nascia e falava» das suas próprias viagens numa nave espacial. Joe falou também de outros sonhos complicados e negros, envolvendo cobras, peixes e pássaros míticos, mulheres sexualmente ameaçadoras, deuses míticos e cavalos alados. Vastas paisagens varridas pelo vento e cenas que pareciam simultaneamente épicas e saídas de contos de fadas, aumentavam a sua sensação de perda de controle, de impotência e de medo, à medida que o momento do nascimento do filho se aproximava. As imagens da agulha a ser espetada no seu pescoço, durante a sessão de massagens na primavera, regressou e Joe disse: «Quero libertar-me de uma parte deste medo» na sessão. Passámos em revista as várias experiências de sequestro da sua vida, mas acabámos por optar por uma regressão de fim aberto, na qual o seu inconsciente haveria de sugerir a sua própria direcção e centro. A primeira imagem de Joe sob hipnose foi a de um ser não humano com um rosto triangular e uma grande testa, um queixo

estreito e grandes olhos escuros e em forma de elipse. «Está a convidar-me para ir com ele», disse Joe, «Afasta-se e arrasta-me consigo. Tem braços longos e delgados. Deus! Tem umas costas largas e magras». Respirando pesadamente e com uma perturbação crescente, disse: «Pode mover-se suavemente. Pode mover-se rapidamente. Quer que eu me deite na mesa. Olha-me profundamente nos olhos, dizendo-me para me descontrair». Agora num murmúrio, Joe disse que estava «assustado», porque «Sei que eles vão fazer qualquer coisa... Dói-me a coluna. As minhas virilhas estão em fogo». 214 SEQUESTRO Pressentindo que o seu medo era maior do que a sua capacidade para lidar com ele, pedi a Joe para localizar esta experiência no tempo e no espaço. Ocorrera na sua casa, quando Joe era um «jovem adolescente», talvez com catorze ou quinze anos. Começou ao fim da tarde, quando ele se sentia isolado e «muito só». Inquieto e sentindo necessidade de ir «lá para fora e estabelecer ligação», Joe passeou atrás do celeiro, nas traseiras da casa, com se tivesse sido «atraído» para o local por uma força «verdadeiramente subtil». Passou pelo celeiro («por vezes, à noite, o celeiro é um pouco assustador») e olhou para cima, para as estrelas. «Foi então que a nave aterrou. Desceu directamente. Bum! Ali estava ela. Pequena». A nave era «mais ou menos redonda, mas oblonga. Parecia um ovo», um «ovo em pé». A nave era «perfeitamente simétrica... mais oblonga na parte de cima» e «estava a cerca de um metro e vinte do chão», apoiada numa espécie de «pé». Joe sentiu-se assustado, quando uma figura delgada, com a face «toda iluminada», usando um fato negro, de uma só peça, colado ao corpo, se aproximou dele. Sentiu que já tinha acompanhado esta figura, a quem chama «Tanoun», muitas vezes anteriormente e, neste momento, o seu maior medo é não querer regressar novamente à terra. Joe sentiu-se impelido a ir — nesse sentido, não há escolha — mas «tenho maior consciência de que posso escolher ir e não sou obrigado a regressar». Sentiu uma rigidez no pescoço, à medida que o medo que sente relativamente às suas fidelidades divididas entre os reinos alienígena e terrestre, aumentava «no meu coração». Soluçando, Joe disse: «Não estou sozinho com ele. Eu sei. Tudo bem. Mas ele não está lá todos os dias». O ser comunicou-lhe que tinha de regressar para «trabalhar com eles (os seres humanos)» e que «tenho que ter um pé em cada um dos mundos». Com o seu «rosto muito redondo bemjuntinho ao meu», Tanoun pôs a mão no ombro de Joe — «ele é muito reconfortante» — e «meio caminhámos, meio flutuámos» para a parte inferior da nave, que parecia «muito maior por dentro do que por fora». Tanoun levou Joe por um corredor até uma grande sala com uma mesa, sobre a qual já fora várias vezes colocado. Com uma mão na sua cabeça e outra na sua anca, o ser tranquilizou Joe, que sentia que «este tipo gosta mesmo de mim e, de certa forma, não sinto isso em mais sítio nenhum e é um pouco assustador», porque o fazia sentir-se «diferente de toda a gente». Joe estava deitado de costas na mesa, com os LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 215 braços ao longo do corpo, e reparou que estava vestido com uma túnica «branca, metálica». Evitou olhar para os olhos do ser, a fim de reduzir a intensidade da ligação, pela qual no entanto ansiava. «Abrir-lhes completamente o meu coração» tornaria a relação com

os seres «mais real e tornar-me-ia mais semelhante a eles, o que é muito difícil de aceitar». Além de Tanoun, que era «o chefe», oito a dez seres ligeiramente mais pequenos rodeavam a mesa. «O que está à minha esquerda» empunha uma grande agulha, com cerca de trinta centímetros de comprimento, com uma espécie de cabo, fazendo Joe prever uma dor intensa. Tanoun disse-lhe para olhar «para dentro dos seus olhos» e descontrair perdendo-se neles, mas Joe temia «desaparecer» e «não voltar» se se deixasse ir completamente. «Ele está a convidar-me para ir mais além, mas eu tenho medo. É como se estivesse dentro dele — dentro da sua cabeça, dos seus olhos». A agulha penetrou no lado esquerdo do pescoço de Joe, abaixo da orelha, «quase encostada ao meu crânio». Foi muito doloroso, mas a dor diminuía quando «eu olhava mais fundo os olhos dele». Depois de introduzida, a agulha foi movimentada e a dor cessou. Joe sentiu simultaneamente que «estão a tirar um bocadinho de qualquer coisa e estão a pôr qualquer coisa lá dentro», que tornará «mais fácil seguirem-me». Joe disse: «Estão a colocar na minha mente uma imagem de qualquer coisa pequena, prateada, com a forma de um comprimido, que estão a colocar cá dentro» e da qual «saiem quatro fios muito, muito pequeninos». Depois de removerem a agulha, disseram a Joe: «Estamos perto. Estamos contigo. Estamos aqui para te ajudar. Estamos aqui para te guiar e para te ajudar a vencer nas alturas difíceis». Depois, Joe foi levado ainda mais para a frente pelo corredor, a «outro ET», que lhe pareceu «um chefe». Estava sentado numa cadeira, rodeado de luzes que pareciam irradiar dele próprio. Este ser era mais alto do que os outros e tinha um rosto mais humano. «Está a pôr as mãos sobre a minha cabeça, como se estivesse a baptizar-me. Gosta de mim — está a transmitir-me energia, a abençoar-me, a dar-me qualquer coisa para me ajudar a sobreviver aqui... Está a dar-me força e sabedoria, e eu sei que não estou só. Sou amado e posso estabelecer relações» tanto com eles, como na Terra. A soluçar, Joe contou que lhe tinham dito que «estarão mais perto se eu deixar. Não preciso de estar tão longe... É só uma questão de tempo até estar tudo bem». 216 SEQUESTRO Tendo experimentado a luta para ser simultaneamente alienígena e humano, ao regressar à terra, Joe sentia-se confuso. Joe compreendeu que «a parte de mim que está à minha espera por trás do celeiro parece-se com eles». Esta era «a parte de mim que não queria ir e eu afastei-me dessa parte de mim, precisamente porque se parece um pouco com eles». Em breve, «estava sozinho atrás do celeiro» sentindo-se «um bocado confuso». Quando regressou, sentia o corpo rígido e desconfortável. «Não sei onde pertenço», disse ele. Durante este sequestro, Joe recebeu uma «visão» inacreditável, «indo para dentro dos olhos deles, estabelecendo uma ligação com eles e abandonando toda e qualquer forma de separação», uma sensação de como seria ir completamente para o mundo dos ET ou alienígenas. «Iria para fora de mim próprio» e iria «para qualquer lugar» — para «mundos, espaços, planetas, distâncias». — O seu corpo, a sua consciência, ou ambos? — perguntei. — Sem o meu corpo e, por vezes, com o meu corpo. Transformo-me no vento. Transformo-me no espaço. Rodo, giro, abrando, caio...». Sob a forma alienígena, Joe podia experimentar diversas energias, «gotas dançantes, orquestras e música, cair, bater, lugares

inóspitos, lugares escuros, vasto, vasto, vasto... Sinto a benção. Sinto o amor. Sinto-me ligado. Sinto-me inseguro. Estou naquilo que quero estar. Danço. Há dança por toda a parte... danço com outros seres, outras luzes, outras energias. É tão diferente da vida de todos os dias, de ser apenas Joe — que a integração se torna extremamente difícil quando regressa à Terra. Joe não se lembra exactamente como regressou ao ponto de partida atrás do celeiro. Lembra-se de caminhar para o celeiro e, em seguida, para casa e para o andar de cima, para dormir. Mas momentos antes de sair completamente do estado de transe, Joe lembrou-se que Tanoun lhe dissera: «O teu filho é um de nós», incluindo no «nós» o próprio Joe na sua identidade alienígena. O filho de Joe e Maria, Mark, nasceu a l O de Novembro, cerca de três semanas depois da data esperada. Mais ou menos uma semana depois do nascimento de Mark, Joe escreveu, numa nota que me dirigiu: «Enquanto escrevo, mãe e filho dormem juntos, finalmente em casa, após cinco dias no hospital. Mark Joseph nasceu de cesariana (necessária devido à posição errada e a uma infecção), na passada quinta-feira, e ver a operação levou-me a fechar o ciclo com

LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 217 as minhas próprias experiências a bordo de OVNI. Foi interessante, esclarecedor e tranquilizador, e deu-me uma maior confiança e aceitação de todo o processo». Uma segunda sessão de hipnose foi marcada para 30 de Novembro. Primeiro, falámos dos acontecimentos relacionados com a hospitalização e o nascimento, que tinham sido particularmente tensos para ambos os pais. Mark parecia ter falado com a sua mãe quando se encontrava ainda no ventre e ela teve vários sonhos, em que Mark lhe comunicava o nome que deveriam dar-lhe. Joe falou de uma experiência de sequestro, que ocorrera duas noites depois de ter trazido Mark e Maria do hospital e no qual dois seres estavam ao seu lado e enviavam «um tiro, como que uma explosão de energia» para a sua cabeça, utilizando um instrumento cego, o que o deixou «confuso» e desorientado. Maria estava com ele, mas não se lembra de ter visto o bebé. Esta foi «a experiência mais consciente que tive até hoje». No início desta segunda regressão, Joe falou da sua preocupação de não sobrecarregar Maria com as suas experiências ET, apesar da receptividade dela, da sua própria resistência a aceitar o seu poder na vida dele e dos sentimentos de vulnerabilidade que criavam. «Tenho medo de enfrentar uma parte de mim», disse ele. Com grande emoção, à beira das lágrimas, Joe falou da sua perturbação ao descobrir o quanto estava «intimamente envolvido» com os seres alienígenas, «de parceria», uma espécie de «agente duplo... a trabalhar com eles», traindo assim os seus semelhantes na Terra. «Estou dividido», disse ele. «Levo esta vida secreta e a vida secreta é que passei muito tempo com eles». Mas mais do que isto, o que perturbava Joe era a sensação de ser um parceiro voluntário dos seres alienígenas, na utilização involuntária de seres humanos para um projecto de reprodução. Ainda na «noite passada» tivera uma experiência, em que vira a grande cabeça de uma criança alienígena, de olhos enormes, lindos e escuros, com a qual sentira uma especial ligação. Embora pressentisse que o projecto de hibridização poderia valer a pena, «um factor de evolução»

(«sempre que misturamos, obtemos mais força»), não tinha a certeza de qual a espécie que mais beneficiaria. Quase a chorar na sua perturbação, Joe disse que tinha a sensação de ter tido recentemente uma experiência sexual numa nave, «com uma mulher que o não queria». Decidimos tentar obter mais informações sobre isto durante 218 SEQUESTRO a regressão, para que Joe pudesse expandir a consciência do seu complexo papel duplo e aumentar o seu livre-arbítrio. No princípio da regressão, Joe viu «uma sucessão de imagens» numa nave espacial, uma grande variedade de «pessoas», que pareciam descender de um conjunto caótico de genes. Alguns destes seres eram feios, mesmo horrendos. Parecia uma espécie de «Organização das Nações Unidas» interplanetária. O choque provocado deu a Joe um sentimento «harmonioso», como se lhe estivesse a ser demonstrado que «estão todos em boa companhia». A sua própria forma mudava constantemente, «como um camaleão». Sentia-se «mais confortável numa forma semelhante à deles... algo translúcida», com uma cabeça grande e grandes olhos elípticos, dorso comprido e delgado, de cor cinzento-clara, as mãos ligeiramente palmadas, com braços e dedos longos — quatro dedos, sendo um polegar. — Uau! Sinto que estou dentro de mim. Sinto-me muito elegante e gracioso. Tenho a impressão de que já não caminho; movo-me simplesmente, quase como se nadasse. Está a abrir-se uma parte da nave que se assemelha a uma válvula do coração. Sinto que há muito, muito espaço. «Etéreo», «fluído» e uma sensação de «vastidão» foram algumas das expressões utilizadas por Joe para descrever como era tomar a forma alienígena. Sentia-se «incrédulo», duvidando da sua própria experiência e perguntando-se como poderia esconder de si mesmo que «Também existo aqui, na nave... Sinto-me muito mais confortável». Então, sentiu que havia um combate renhido entre a sua «humanidade» e a identidade humanóide, que até aí tinha mantido em separado. No entanto, sentia-se também «mais completamente integrado como ser humano» do que a maioria dos alienígenas. Joe chamava à raça de seres a que pertencia na sua identidade humanóide a «fraternidade» ou o povo «Obasai». Para estas formas, os processos de pensamento são intuitivos e «não lineares... Sinto que os meus pensamentos estão ao alcance de todos e que não há nada a esconder. Não há vergonha. Há uma sensação de unidade e podemos ter ideias e opiniões diferentes que, no entanto, continua a existir sempre um elemento de harmonia... Esta parte da nave», disse ele, «destina-se à integração... passa muito tempo em volta da Terra». Outros projectos não estão relacionados com a Terra e envolvem «outras dimensões, outras galáxias», mas «o tempo e o LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 219 espaço não constituem problema». Para viajar, «basta pensar que estamos lá». Em seguida, Joe contou uma experiência que tivera apenas alguns dias antes como «Orion», a sua identidade humanóide. Sentiu-se com uma altura de cerca de dois metros, embora soubesse que podia tornar o seu corpo mais alto ou mais baixo. Trouxeram-lhe uma mulher loura, com cerca de trinta e cinco anos, à qual chamou «Adriana», para que ele «fizesse amor com ela» e «depositasse nela

a sua semente». Embora pressentisse que «ela estava envolvida há muito tempo», perturbava-o, pelo menos na sua identidade humana, que uma parte dela estivesse aterrorizada. Segundo Joe, Adriana andava a passear o cão à noite quando fora sequestrada e encontrava-se num «estado de adormecimento», quando os seres a transportaram para a nave a flutuar. «Uma parte dela enlouqueceu quando viu a nave», disse Joe. Sentiu-se gentil e carinhoso com Adriana, acariciou-lhe a cabeça, assegurou-lhe que «gostamos de ti» e encorajou-a a descontrair-se. «Não manteria relações com ela sem um qualquer grau de cooperação ou concordância da sua parte». Adriana foi colocada numa plataforma ligeiramente elevada, com a cabeça mais alta do que os pés. Foi mantida num estado de adormecimento ou sonho («eles criam mentalmente esta espécie de teia... envolvem-na na sua doce e suave energia»), enquanto era despida por pequenos seres. «Há aquela parte aterrorizada dela que não deseja em absoluto que isto esteja a acontecer» e, quando esta resistência «vem à superfície», os seres controlam-na através de uma espécie de «massagem» de energia. O acto sexual ou reprodutivo em si foi breve. Três ou quatro dos seres observavam, enquanto Orion inseria o seu pénis, pequeno e «quase vazio» (erecto, «mas não realmente duro, não, sabe, completamente inflexível... apenas conseguia entrar»), talvez com metade da grossura de um pénis humano, na vagina de Adriana. Os testículos eram «apenas uma espécie de inchaços» no seu corpo. «Não são pendentes nem nada disso». Embora Joe sentisse uma certa ternura e amor, «não há excitada paixão... não é uma relação rítmica, entrando e saindo. Parece-se mais com um simples abraço embalador... muito suave e meigo», bastante «natural... como uma relação familiar». Joe pensou se teria «mudado de forma, porque quando me deitei sobre ela não era maior do que ela e só balançava um pouco de um lado para o outro... Não demora muito tempo. É mais como uma ten220 SEQUESTRO tativa. Não tenho que alcançar o momento em que o meu corpo está preparado para se libertar. Posso apenas introduzi-lo e ejacular». Um líquido claro «escorre». Embora Joe, ou Orion, acariciasse Adriana ternamente, ela parecia estar dividida. Uma parte dela «está completamente presente» e «a interacção é maravilhosa», mas a sua parte atemorizada, «atormentada», sentiu-se violada. Os actos reprodutivos como este, disse Joe, são «necessários», para que «os humanos não percam a sua raça, a sua semente e a sua sabedoria», porque os «seres humanos estão em apuros... Prepara-se uma tempestade», uma catástrofe «electromagnética», resultante das tecnologias «negativas» que os homens criaram. A semente fertilizada de Adriana, por exemplo, será retirada «de dentro dela» e «em seguida, produziremos um bebé, que terá em si muito de humano» e «criá-lo-emos» como «um dos nossos... Se os humanos se extinguirem totalmente, teremos os seus filhos». O objectivo deste programa de miscigenação, disse Joe, era evolutivo, para perpetuar a semente humana e «cruzá-la» com outras espécies, nas naves ou em qualquer outro lugar do cosmo. Joe falou com tristeza da inevitável e progressiva deterioração da terra. Morrerão muitos seres humanos, mas a espécie não será erradicada. Joe sentia-se em conflito quanto às informações que estava a revelar. Por um lado, como «pai» e «homem de negócios» temia o ridículo, caso tornasse públicos os conhecimentos de que dispunha.

Por outro lado, experimentava um sentimento de urgência para com os seus semelhantes humanos. Mas a sua parte «desconfiada, medrosa e egocêntrica» impede-o de assumir total responsabilidade pelo que sabe. O seu «lado humano» tem dúvidas e, por vezes, receio de que os seres de olhos escuros sejam «sinistros» e «malévolos», com «renegados» de outras naves, que brincam connosco, «para nos transformarem em bom gado de reprodução». Porém, quando se assume como Orion, não sente nada disto. Depois de sair do estado de transe, Joe sentiu-se chocado com o que tínhamos descoberto e previu que necessitaria de muito apoio, para conseguir conciliar as complexas e perturbadoras dimensões da sua identidade. Sentia-se «um pouco incrédulo» ao descobrir que estava a viver «uma existência dupla», mas a força emocional da sessão, em conjugação com a clareza objectiva com a qual Joe sentia ser Orion, convenceram-no da autenticidade daquilo por que acabava de passar. Como homem educado numa família de irlandeses LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 221 católicos, para quem as emoções eram «ocultas», Joe ficou atónito ao ver como as suas experiências de sequestro se tinham tornado num «escape», tornando-o receptivo a uma vasta gama de sentimentos intensos. Ficou particularmente preocupado com a perturbação causada a Adriana, e a outros seres humanos, por actos como o de Orion. No fim, Joe sentiu que a sessão só viera confirmar a sua permanente sensação de que «deveria ter nascido noutro tempo ou noutro planeta». A sessão foi simultaneamente comprovativa e confusa para Joe. No decurso das semanas seguintes, lutou com a tarefa de conciliar as suas identidades humana e extraterrestre, com a tensão de ser pai pela primeira vez e, sobretudo, com a sua impressão de que Mark também estava de algum modo ligado ao mundo alienígena. Para investigar estas áreas, marcámos uma quarta sessão de hipnose para o dia 4 de Janeiro de 1993. No início da sessão, Joe falou dos seus próprios sentimentos de carência, que a presença de Mark estava a afastar, e da falta de carinho que sentira enquanto criança. A sua relação com Maria parecia estar «suspensa, tanto emocional como sexualmente», uma vez que ela estava ocupada com Mark. Além disso, Joe «não os sentira», aos ET, nos últimos tempos, e sentia a falta do «seu amor e apoio», o que tornava mais prementes os seus sentimentos de tristeza e solidão. Ao mesmo tempo, enquanto «a minha realidade foi abalada» pela confirmação dos encontros com ET, «o meu coração foi alargado pela presença deste pequeno ser maravilhoso... Como poderei equilibrar as minhas necessidades, as necessidades do bebé e as necessidades de Maria» e os «níveis mais profundos» que estão a ser revelados pelas experiências ET, pergunta-se Joe. Por vezes, sente que está a ser «dado», como um baralho de cartas. Joe pretendia explorar sob hipnose «a minha ligação a eles», mas ao mesmo tempo não queria «abandonar o meu filho», tal como agora se sentia «abandonado por eles». Antes de começar a regressão, Joe contou-me um sonho recente, no qual um bebé sem vida era retirado dos destroços de um avião. Pegou no bebé, lavou-o com água lamacenta e reparou que havia algo de estranho nas suas costas. Em seguida, entregou-o a outra pessoa para que tomasse conta dele. Joe relaciona isto com a sua impressão de que Mark é «de lá... encarnado», isto é «em parte ET»,

e tem medo que eles venham e o «tirem dos meus braços... não pode222 SEQUESTRO rei suportar que venham para o levar», disse ele. Sentia-se vulnerável e inseguro e preocupava-se ainda mais com a ideia de não conseguir «proteger» Mark, perguntando a si mesmo se deveria fazê-lo. A primeira imagem de Joe sob hipnose foi a de um ET, mostrando-lhe «um tabuleiro onde colocam os bebés para os pesar». Também viu bebés em assentos altos, que pareciam humanos, à excepção dos grandes olhos e das órbitas ossudas. «Os ET são carinhosos e meigos com os bebés» e três cinzentos, um dos quais era «o mesmo que tem trabalhado muito comigo», estavam a alimentá-los com «um líquido verde claro», colocando nas suas bocas a extremidade de um tubo cilíndrico de prata e vidro e deixando-os mamar. Um dos bebés era Mark, gordo como na «vida real». Mark estava a fixar os olhos dos ET e parecia descontraído. Os seres lavaram os bebés com um líquido verde, como que para darem energia aos seus corpos. O líquido parecia ser a mesma substância que davam aos bebés para beber. Os ET pareciam ter «uma relação primária» com Mark e com os outros bebés e «não vão deixar-me interferir na sua relação com ele». Joe tinha a sensação que, uma vez, também ele passara por uma experiência semelhante e sentia pena de Mark, pois sabia que «há uma parte dolorosa» que o espera. Explicou que «nós (Joe, os ET e, em parte, até Maria) tínhamos construído esta relação com ele, antes de ele nascer de nós (Joe e Maria)». O próprio Mark fora antes um ET cinzento, mas a sua consciência ou alma «passaram do ET para ser um ser nascido como nosso filho... e isto não foi uma coisa fácil para ele». Existem riscos para a alma de Mark, salientou Joe, em «ser humano, passar para este corpo... Está a fazer um grande esforço». Pedi-lhe para explicar melhor. «É quase como vestir um fato de mergulho e o respectivo equipamento, é como adoptar uma existência mais densa, correndo o risco de ficar encurralado nela. Pode colar-se a nós... Começamos a acreditar naquilo que o nosso corpo nos diz e esquecemo-nos da forma de nos desligarmos energeticamente dele... de que somos maiores do que ele». Manter simplesmente uma existência física pode ser «totalmente absorvente». O medo e a preocupação com a protecção e a sobrevivência do seu corpo físico poderiam levar Mark a esquecer-se de que «é mais do que o seu corpo» e que «não é uma questão de vida ou de morte para ele, se o seu corpo se magoar ou morrer, ou se não for socialmente aceite». Se a energia de Mark acaso vier a concenLIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 223 trar-se totalmente no seu corpo, «o medo será esmagador e ele ficará simplesmente preso». Levei Joe de regresso ao que tinha testemunhado, enquanto os seres trabalhavam com Mark. Estavam dentro de uma nave no escuro, «provavelmente para que Mark não se distraia com outras coisas». Joe vestia apenas uma t-shirt e Mark estava de fralda. Os ET estavam a fazer uma espécie de «remodelação» de Mark, para que «mais dele», mais da sua energia, pudesse manifestar-se. «Ele consegue estabelecer ligação com eles... A um certo nível, ele sabe o que está a acontecer... a sua alma é tão madura como a nossa, mas também esqueceu... tratar-se-á, então, de um processo de pôr esse nível de consciência novamente a funcionar». Joe viu os seres «encosta-

rem cristais à sua cabeça», movendo-lhe as mãos e «fazendo incidir uma luz nos seus olhos e na mão... era como se uma luz brotasse dos seus olhos e viesse reflectir-se nas mãos. Estão a ajudá-lo a estabelecer essa ligação... Deitaram-no de costas e estão a esticá-lo, movimentando os seus braços e pernas». Estas intervenções permitiriam a Mark estar mais ligado, ter menos medo e sentir «mais alma, mais energia e mais coração». Uma vez que a nossa qualidade física é «muito densa», é necessária «muita consciência» para expandir os nossos conhecimentos para além do saber técnico, até à verdadeira sabedoria. Para libertar os poderes latentes, temos que «levitar o nosso corpo» e viver sem comer. Joe sentia o peso da sua responsabilidade, como uma espécie de «doador», entregando Mark ao seu próprio processo evolutivo, ao mesmo tempo que se assegurava que «ele não esquece... Ele conta comigo para o ajudar a recordar-se». No seu papel na Terra, Joe sente-se como um homem acerca do qual leu, que passou à «clandestinidade» dando entrada num asilo de loucos, a fim de descobrir os abusos aí cometidos, mas que acabou por ficar lá preso, quando todas as pessoas que o conheciam lá fora morreram. Joe comparou o seu combate solitário para se vender a si próprio e abrir caminho materialmente, ou seja a própria existência humana, à vida num asilo de loucos. «Vamos fingir, fingir que tudo é magnifico. Vamos fingir que não somos todos tão rígidos, tão tensos, que nem conseguimos caminhar direitos. Vamos fingir. Sabe, tu ajudas-me e eu ajudo-te». Como, interrogava-se ele, havia de educar Mark neste asilo de loucos, de forma a preservar o seu espírito. Nesta altura, a atenção de Joe voltou-se para a sua própria dor e 224 SEQUESTRO solidão e para a sua relação com os seres. Sentia-se fortemente isolado, como se se tivesse fechado «dentro do seu próprio núcleo» como um «ovo que é apenas duro e escuro». Recordava-se das mãos dos ET sobre ele e sentia que «estava a desmaterializar-se ou qualquer coisa assim», à medida que as energias acumuladas se iam libertando. Tinha sete ou oito anos e estava num grande espaço, talvez subterrâneo. Sentia-se dividido entre as suas identidades extraterrestre e humana. A metade extraterrestre tem «as mãos nos meus rins, nas minhas costas» e a metade humana «está a tentar descontrair-se, tornar-se receptiva e estabelecer ligação com a outra metade. Oh, meu Deus! É quase sexual». Nesta altura, Joe exprimia uma intensa emoção, emitindo sons como «Ohhhhh» e «Ahhhhh». Estes sentimentos, uma espécie de combinação de excitação com uma agradável libertação de tensão, tornaram-se mais fortes, enquanto Joe falava de energia a passar pelo seu corpo. «A minha metade ET é a mais imutável, a que se altera menos, e como que dirige o espectáculo. É ela que detém a maioria das informações sobre todos nós. Facilita tudo. Oh, mas também está a ficar curada». Uma onda de intensa energia passava pela sua coluna e invadia todo o seu corpo. A princípio, sentiu-se «fragmentado», mas a «luz, sinto-a como uma luz», uniu ambas as partes. Joe pareceu continuar a absorver energia em «lentos impulsos», que lhe davam uma profunda satisfação. À medida que sentia as suas metades ET e humana integrarem-se uma na outra, Joe sentia-se menos só. Também podia estabelecer uma ligação com Mark. «É como se estivesse mais sintonizado no seu comprimento de onda». Perguntei-lhe qual era a fonte da energia

que parecia estar a absorver. «Sou eu mesmo, a nossa alma, a nossa essência» ou «o meu ser ET». Ele esteve sempre aqui, simplesmente, «eu não estava energizado para ele. Estava fechado e separado de mim». Perguntei a Joe o que acontecera durante o período dos sete, oito anos, mas ele só conseguia lembrar-se de que tinha sido um «tempo difícil». Enquanto falava de libertar outros blocos, sentia novas ondas de energia a atravessarem o seu corpo. Sons mais expressivos eram emitidos, enquanto sentia «todos estes tremores. Arrepios... a passarem, a passarem, a passarem através de mim. Sinto-me a inchar como um balão completamente cheio». Estas agradáveis sensações pareciam começar na região dos rins e irradiar para todo o corpo. LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 225 Depois disto, o coração de Joe abriu-se para Maria e, em seguida, sentiu-se a atravessar e a fechar uma porta de vidro, com a visão e o som de maravilhosos acordes. Fiz-lhe perguntas acerca da relação que mencionara entre a sua alma e a sua metade ET. A metade ET, disse ele, «é como outra manifestação da minha alma». Em seguida, acrescentou: «Sinto que acabei de integrar todas as minhas partes na direcção da unidade». Foi surpreendido por uma poderosa visão em que olhava para baixo e via o seu próprio corpo, «como numa sala de espelhos» e se via a si próprio «a muitos níveis diferentes». A experiência era intensamente «bela», enquanto Joe «caminhava por entre estes diversos componentes de mim próprio». Os níveis «estavam ajuntar-se» segundo uma ordem «harmoniosa». «Parecia uma autêntica integração». Joe sentia que agora poderia viver com Mark no asilo de loucos. «A partir de um lugar mais imutável», poderia «conduzi-lo através da sala de espelhos». Neste ponto da sessão, Joe já não se sentia dentro da nave. Em vez disso, pensava estar «apenas no espaço» ou em «várias dimensões» — não conhecia a palavra correcta. Um ser «cinzento» pareceu sorrir para ele e perguntou: «Então, como te sentes?» E Joe explicou: «Não estou dividido, sinto-me optimamente. É como uma unidade». Pensou que, embora os ET tivessem participado no processo de integração, «ela torna-se maior do que eles, ultrapassa-os». Algo mais recíproco parecia estar a acontecer, aproximando-os também «da unidade, aproximando-os da criação». A ligação ET-humanos «permite-lhes tornarem-se mais do que ET e humanos... Trabalhar connosco parece dar-lhes a possibilidade de se elevarem ainda mais». O ET que lhe perguntou como se sentia, parecia genuinamente interessado, por si mesmo. Depois da regressão, eu e Joe conversámos sobre as implicações da sessão relativamente à paternidade de Mark. Ele sentia que, agora, poderia «acompanhá-lo» mais integralmente, ajudá-lo a «manter-se forte e ligado» ao seu «ser mais elevado». Joe sentia que, para si mesmo, as experiências de sequestro, especialmente tal como tinham sido reveladas nesta sessão, constituíam uma «espécie de rito de passagem», uma «etapa de crescimento», no sentido de se tormar «mais humano». Sentia que, como ser humano, tinha participado «numa experiência que se tinha tornado amarga», uma espécie de aberração da criação divina. Regressámos à imagem da nossa cultura como um asilo de lou226 SEQUESTRO cos. Joe viu-se a si mesmo a embalar Mark para o adormecer às duas

horas da manha, «sentindo a presença dos ET» e «verdadeiramente adaptado à ideia de eles virem para o levar», porque agora eles estão a ajudar Mark a ficar mais ligado «à sua própria alma». Joe chamou à totalidade do projecto alienígena/humano uma «reconstituição... a criação de uma outra realidade», na qual «existe a opção da humanidade». «Uma etapa necessária da minha transformação», disse ele, era «o sofrimento do meu lado humano... Agora estou mais integrado. Não há dúvidas acerca disso», concluiu ele, «Sinto que, assim, serei um pai muito melhor». Esta sessão teve profundas repercurssões para Joe nas semanas que se seguiram. Continuou a sentir as «partes fragmentadas» de si mesmo ajuntarem-se e um aumento da «energia e amor da minha alma». Quatro dias depois da sessão, teve uma espécie de crise de energia, ou «kriya», evocada durante uma massagem. Transpirou, tremeu e sentiu dores intensas deslocando-se de um lado para outro do seu corpo, começando na região dos rins e fluindo para a coluna vertebral e para a cabeça. «Eu gemia e rolava de um lado para o outro, esmagado pela dor física e emocional experimentada». Os seus «guias ET» seguravam-lhe as mãos e a cabeça e Joe sentia-se submerso em visões do seu passado «um tabuleiro circular completo, contendo entre sessenta e setenta slides, mostrando outras tantas experiências diferentes... Era como se os ET mantivessem os meus olhos abertos e manipulassem o tempo, de forma que eu experimentava cada tabuleiro em um ou dois segundos... Eu sentia que eles controlavam as mudanças multidimensionais». Maria entrou várias vezes na sala, mas ele não quis falar com ela, com medo de interromper o processo. Achou-se, simultaneamente, a defrontar iradamente os seus pais enquanto criança e a sentir compreensão, compaixão e aceitação perante eles. Joe passou os dois dias seguintes a recuperar desta experiência. No terceiro dia, teve uma visão de uma «bola de cabelo vaginal gigante. Era vulgar, repugnante e suja. Não conseguia distinguir muita coisa, apenas duas pernas e uma zona cabeluda. A princípio, fiquei nauseado, mas não a abandonei. Depois, transformou-se no cabelo de uma deusa que nascia. Tinha cabelo longo, preto e cinzento, agora limpo e penteado, a sair dos lábios vaginais. Eu podia «ver» lá para dentro e distingui o rosto belo, sábio, jovem sem idade, da minha deusa, o meu eu feminino. Senti uma onda de amor, de conforto e de LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 227 calor na ligação com ela, e soube que o seu nascimento era a minha integração do masculino/feminino. Foi uma visão maravilhosa». «A conclusão de tudo isto é que me tenho sentido muito mais concentrado e estável. É muito mais fácil descortinar o que é melhor para mim — como posso amar-me e respeitar-me melhor, àquele que é selvagem, ultrajante, mal-educado e divino, aquele que cada vez está mais evidente. Sinto que os meus guias ET têm desempenhado um grande papel em tudo isto e que me querem 'inteiro e curado', isto é, de pé e pronto a correr, preparado para partir, quando a catástrofe geográfica acontecer». «Uma das últimas coisas que fiz, na segunda-feira de manhã, foi telefonar a um dos meus sócios e apresentar-lhe a hipótese de tomar conta de uma grande parte do meu trabalho na empresa. Tudo isso deixou de parecer importante — não é para isso que estou a ser preparado». Durante as semanas que se seguiram, Joe continuou a ter algu-

mas experiências ET e a recordar contactos anteriores. Sentia que estava a lutar para desenvolver uma relação mais cómoda com os seres, a quem encarava como mentores espirituais, semelhantes e ajudantes. «Quando me sinto vulnerável, eles estão sempre presentes junto de mim. Sinto a sua autêntica compaixão e compreensão». Comparou-os a «psicoterapeutas sensitivos», que «nos impelem a crescer», mas «não nos tratam com luvas de pelica». Pareciam, mesmo, arranjar forma de o contactar, quando ele sentia uma especial dor emocional. Joe começou também a encontrar-se com outros sequestrados do nosso grupo, em busca de contactos e de apoio. Nos meados de Fevereiro, combinei com Joe ir falar das suas experiências de sequestro a um grupo de um seminário de psiquiatria, no Hospital de Cambridge. Nesta «revelação» pública, perante um grupo não iniciado, maioritariamente constituído por psiquiatras e outros profissionais de saúde mental cépticos, Joe conseguiu contar a sua história, de forma desarmante e convincente, deixando todo o grupo curioso e mais aberto à expansão da sua realidade. No fundo, Joe falou da «inacreditável quantidade de terror» que ainda enfrentava, especialmente devido à falta de controle, mas reiterou a sua crença em que o objectivo último da relação alienígena-humana será «uma situação de benevolência». Joe solicitou uma quarta sessão de hipnose, a fim de recuperar as memórias dos seus contactos com ET durante a sua própria infância, 228 SEQUESTRO de forma a poder «sentir-se a si próprio a unificar-se» ainda mais, aprofundar a sua compreensão de Mark e reforçar o seu papel enquanto pai. Encontrámo-nos a l de Março. Antes da regressão, Joe comentou que estava nervoso, salientando que «sempre que entro numa sessão, regresso mais apoiado e é como se o mundo estivesse diferente». Tem sido difícil, embora «electrizante», ver o mundo «como um lugar consciente e intelectualmente compreensível... Não trocaria o meu lugar por nada desta vida», disse ele. «Mas é também assustador». Joe contou um sonho complexo que tivera recentemente, no qual Mark se transformara num «bebé ET muito magro e branco, mesmo diante dos meus olhos»! No sonho, haviam-lhe dado Mark, mas entregara-o, com um sentimento de culpa, a três mulheres, num quarto subterrâneo. Afirmou que, durante esta sessão, queria regressar ao «tempo em que era criança nesta vida, quando era recém-nascido e estava ainda mais ligado à parte de mim que é ET do que agora». Perguntei a Joe se pretendia iniciar a sessão com a expectativa de onde pretendia que a regressão o levasse. Não obstante, a sua primeira imagem foi a de ser um bebé com dois dias, sozinho numa cama de hospital e sentindo-se vulnerável e inseguro. A soluçar e a gemer, deu voz a uma sensação de «vazio» no seu abdómen. «Oh, meu Deus! Nunca me senti tão só! Ohhh! É tudo tão estranho, tão frio... como o isolamento. Tão ohhhh. Está tudo tão longe. Tudo. E desagradável! É luminoso. É barulhento. Não me sinto nada acarinhado». Estava lá uma enfermeira, que «ajuda, mas é como se não me visse realmente. Muda-me as fraldas, limpa-me, dá-me de comer», mas não estabelece nenhuma ligação comigo. Está aqui um ET familiar. Tem olhos negros, com «uma luz azul». A enfermeira parecia não reparar no alienígena, mas o bebé sentia confiança e «o seu amor por mim... Ele (o alienígena) parece uma parteira... tranquilizando-me, tocando-me, trazendo-me de volta, dizendo que está

tudo bem». Os olhos do alienígena mudaram «como nuvens a correrem no céu». Joe viu preocupação, desgosto e compaixão no seu rosto. A enfermeira saiu e Joe viu uma fêmea alienígena junto de si. «Parecem meus pais», disse ele, «São eles que realmente me acarinham, que realmente me dão amor e me ajudam a sentir bem». Os alienígenas tranquilizaram Joe, dizendo-lhe que tinham estado com ele nos dois primeiros dias, mas «que fora eu que partira, que parecera não os ver... Tivera tanto medo durante o nascimento LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 229 que esquecera tudo o mais. Esquecera-os. Sinto que eles me pegam ao colo, e quando nasci, isto, é como um rio, estar nesta corrente. E este rio arrastou-me e eu fiquei com medo». Tive o pressentimento que Joe estava a falar do próprio processo de nascimento e pedi-lhe que falasse de como era nascer. Então, ele começou a contorcer-se, a respirar ruidosamente, a tossir e a engasgar-se, a arquear o dorso, a encolher os ombros e a fazer caretas. «Tenho medo», disse ele. Perguntei-lhe onde estava. «Estou a mover-me». — Onde? — No canal do nascimento. É estreito! Tenho medo apenas! Não quero sair! — Emitindo gemidos mais altos, sons trémulos e engasgados e arquejos a cada inspiração, ele disse — Estou a sair! Oh, meu Deus! Então, pedi-lhe que tentasse dar expressão ao seu medo. — É como se eu quissesse fazer isto (deixar o ventre e nascer) — disse ele — e sei que isso significa estar só e eu quero estar só, como se quisesse fugir da minha mãe. E tenho medo! Meu Deus! Tenho medo de me perder. Ahhhh! Assegurando-lhe que agora estava seguro, perguntei-lhe se se lembrava do parto, por exemplo, se for assistido por um médico ou uma parteira. — Foi um médico — disse ele — Fiquei com tanto medo que desliguei! Fui para dentro de mim! Desliguei-me de tudo. Deus! Mergulhei fundo dentro de mim próprio. É um lugar assustador para se estar. Oh, meu Deus, não posso acreditar (agora, soluçava) que voltei !0hhhhhh! Perguntei-lhe se «regressara» a algum lugar onde já estivera. — Siiim! — disse ele. Perguntei-lhe onde e ele disse: «Oh, meu Deus, é um lugar tão horrível!» Pedi-lhe que me falasse desse lugar tão horrível. Com emoção e convicção intensas, Joe contou-me que tinha sido um poeta chamado Paul Desmonte, numa aldeia perto de Londres, na época da Revolução Industrial. Desmonte fora preso, torturado e morrera na prisão, por ter blasfemado contra a situação política e religiosa. Levei Joe a falar dos pormenores da sua detenção, tempo de prisão e conflito com as autoridades. Na prisão, passou fome, foi pontapeado e espancado com bastões e cintos, tendo ficado com costelas e dedos partidos. Eventualmente, acabaram por «se cansar de brincar comigo, uma vez que eu já não respondia, já não lhes dava a 230 SEQUESTRO satisfação de gritar». Perguntei-lhe como morrera. «Alguns diriam que morri de fome. Eu diria que morri de desespero». Depois de seis a oito meses na prisão, deixou de comer a pouca comida que lhe davam e a experiência tornou-se «numa espécie de cura». Pedi-lhe para explicar. Ele disse: «Tive que enfrentar a verdade da minha pró-

pria escrita. Sim, eu acreditava no que acreditava. Acreditava que o homem era maior, mas nunca fui mais além. Sempre assumi essa posição e lutei, lutei, lutei. Mas quando fiquei só, tinha que explorar o significado dessa grandeza». — E o que é que descobriu? — perguntei-lhe. — Os meus próprios medos. Os meus próprios juízos. Os meus próprios preconceitos e comecei a experimentá-los. Então «aqueles ET» regressaram. Joe atribuiu o seu regresso à sua luta para se abrir a um sentido maior de si próprio, ao facto de se ter libertado «da minha amargura» e à sua batalha corpo a corpo com as autoridades. Descobriu que não era «um simples mortal encerrado na prisão física de um corpo e na prisão física de uma cela, que posso viajar e voar para além destas paredes». À medida que «se suavizava», tomava consciência «deles» (os seres) e já não se sentia só. Neste momento, Joe ficou assoberbado por sentimentos de espanto e admiração. «Oh, Deus! Quer dizer que não estou só?», perguntou ele, como se falasse com o próprio universo. Parecendo falar como Paul Desmonte, disse que «com todas as fibras do meu ser temi a vastidão. Temi o desamparo. Oh, meu Deus, a vastidão de tudo. Não posso esconder-me! Não posso esconder-me de mim próprio. Não posso esconder-me dos outros. É essa a minha vergonha. É o meu sentimento de indignidade que quero esconder dos outros, porque não desejo que eles o vejam». Pedi a Joe que contasse o que tinha acontecido desde o momento em que os ET tinham regressado, até à morte de Paul. Ele disse que tinha medo de os perder novamente e que ele próprio se perdeu «nesta transição» para a morte. Encorajei-o a fixar-se no momento da transição. «Tenho medo de o sentir. Oh, meu Deus!», disse ele. Assegurei-lhe que estávamos com ele e que tudo correria bem. Então, Joe entregou-se a um estado difícil de descrever. Não era muito diferente do processo de nascimento, pelo qual passara anteriormente. Gemia e tossia, chamava Deus e queria ser abraçado. Sentia como «se estivesse a ser espremido para fora do meu corpo... Estou a contrair-me. Ohhh! Não estou completamente presente. LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 231 Estou um pouco assustado e começo a endoidecer. Não quero endoidecer». Gemendo e tossindo mais intensamente, Joe gritou: «Ahhhhhhhh! Oh! Ohhh, meu Deus. Estão a puxar-me». Encorajei-o a deixar-se ir. Em breve, parecia reanimado. Diversos seres alienígenas estavam à sua volta, fazendo-lhe cócegas, tocando-o e esfregando-o. Rindo, disse: «É bom estar aqui». Parecia «maravilhoso». Joe ainda tinha uma espécie de corpo, como se estivesse na Terra, mas mais simples, mais leve, «mais magro». «E bom estar de volta», continuava a repetir. «Isto é muito mais real!» Pedi a Joe que me explicasse, a mim, uma «pessoa presa à Terra», como era esse outro reino. «Há um fio dourado que liga todas as vidas umas às outras», disse ele, «e ao qual nós, como tudo o que vive, estamos ligados. E esse fio alimenta-nos, não só na medida em que o deixamos, como independentemente de o negarmos, sempre o suficiente para, pelo menos, continuarmos a existir. É um mundo de opções e este mundo, o seu mundo, começa a fazer opções que respeitam essa conexão, mas viajaram para muito longe dele. Nunca perdido, não sem razões para ser explorado, explorar o que é viver sem esta conexão». Perguntei-lhe se sabia porque razão tinha via-

jado para tão longe. «Para explorar os seus limites exteriores», respondeu ele, para ver «para quão longe da nossa origem» podíamos ir. «Muitos estão cansados» dessa viagem e «estão agora a trabalhar, a fluir e lutar para regressar à sua origem». Perguntei a Joe porque tomara a «opção» de voltar, através desta específica mãe terrestre. Joe disse que tinha voltado ao «lugar mais assustador para enfrentar» o seu medo da indignidade, que não podia continuar a esconder. Os ET, de cujo o amor e carinho se tinha afastado, tinham-lhe prometido manter-se junto dele. Com a ajuda dos seus guias espirituais, tinha escolhido a sua mãe, precisamente «porque seria duro» e «denso». O seu medo, rigidez, tensão, necessidade de se ocultar e pretensão eram «um reflexo das minhas», disse ele. Sugeri a Joe — uma das raras ocasiões em que me permiti fazer uma interpretação a um sequestrado — que a sensação de contracção no ventre de Julie e o terror da solidão, quando não conseguia ligar-se a ninguém nas primeiras horas após o nascimento, o tinham levado a desligar-se da sua origem, assombrando a sua vida. «Temos que nos conhecer um ao outro, eu e o feto», disse ele «e tudo começou a ficar mais apertado e mais denso, mais denso, mais 232 SEQUESTRO denso... Eu queria nascer», continuou ele, «sair daquele ventre, distanciar-me daquela mulher», mas no seu medo só conseguiu «apertar-me cada vez mais e, então, desliguei-me de tudo». À medida que a regressão se aproximava do fim, Joe falou mais da confusão, do isolamento e do desespero que tinha sentido neste «mundo horroroso». O seu medo mais profundo é de voltar a desligar-se de tudo e «perder-se da sua origem e deles». Abrindo os braços e respirando profundamente, disse: «Escolheria a unidade ou a loucura? A escoilha tem que ser necessariamente a unidade». Antes de sair do estado de transe, Joe falou ainda dos seus sentimentos de desamparo e vulnerabilidade e da dificuldade de integrar o seu ser espiritual, enquanto residia na densidade de um «corpo físico». Quando «regressou» à sala, sentiu uma onda de energia e de «leveza». Acolheu a sua vulnerabilidade. «É belo», disse ele. «E como o que vejo em Mark. Sabe? Ele é incrível! Ali está ele, não tem nada a esconder e é assim que eu me sinto agora». Também se sentia como se estivesse «a acordar num estupor alcoólico» e compreendesse que tinha estado a «viver com um batedor». Mas agora sentia-se «suficientemente forte e suficientemente estável», seguro de que «não voltaria atrás» (isto é, que não voltaria a separar-se da sua origem). Na conversa depois da regressão, Joe referiu-se novamente aos alienígenas como «parteiras», que o ajudaram a manter-se ligado à sua divindade. Tinha a visão de um ser num rio veloz e de a corrente se ter tornado demasiado forte. Os alienígenas estão numa espécie de rocha na margem e «eu agarro-me a eles». Eles querem que ele «se mantenha ligado através disto», em vez de se perder no seu medo. Até há pouco tempo «uma parte de mim mantinha-se fechada» para eles. Agora, tem «consciência deles» e «está ligado a eles». Acha que o seu ser familiar é «belo» e consegue ver «as emoções que perpassam pelo seu rosto» como «nuvens movendo-se a grande velocidade». Reflectiu novamente sobre a rectidão de Paul Desmonte e a forma como, quando foi vencido e não dispunha de outros recursos, enfrentou a verdade do seu antagonismo e se suavizou. Foi neste momento que os seres alienígenas, que lhe eram familiares mesmo

então, voltaram e «eu pude vê-los». Embora tivesse sido martirizado antes de poder compreender o seu potencial. Paul Desmonte foi bem-sucedido, na medida em que conseguiu «que a aldeia falasse durante algum tempo». LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 233 COMENTÁRIO O caso de Joe inclui todas as características normais dos fenómenos de sequestro, mas leva-nos também até ao limite extremo do nosso conhecimento e da nossa compreensão. As suas experiências desafiam uma das nossas distinções ou categorias ontológicas fundamentais — a separação entre a consciência e o mundo físico. Desejamos saber se os OVNI e os seus ocupantes são, ou não, provenientes do nosso mundo físico. Para Joe, como para todos os sequestrados, as suas experiências têm a qualidade de serem originárias do exterior, de ocorrerem no mundo exterior. No entanto, algumas delas desafiam claramente esta noção. Por exemplo, a visão atemorizadora de um OVNI e respectivos ocupantes, durante uma experiência de adolescência com LSD, parece um puro produto da consciência. Ao mesmo tempo, as experiências relacionadas com o sequestro vividas por Joe são tão reais — ou até mais reais, segundo ele disse em certa ocasião — do que as que ocorrem no plano puro da realidade física, e ele não apresenta quaisquer sinais de perturbações psíquicas ou de que tais experiências sejam fruto de qualquer tipo de psicopatologia. Virtualmente, como em todos os casos de sequestro, este deixa-nos a opção de procurar — em vão, penso eu — formas de explicar os fenómenos dentro da nossa tradicional visão do mundo ou, então, de acabar com a separação rígida entre o psíquico e o real, entre o interior e o exterior, abrindo as nossas mentes a novas possibilidades ontológicas. A investigação do caso de Joe teve lugar no contexto da gravidez da sua mulher, do nascimento do seu filho, Mark, e da assunção do seu novo papel de pai. Os temas do nascimento, da morte e do renascimento são uma constante da sua história. Os seus próprios sentimentos de vulnerabilidade foram suscitados pelo desamparo e pelas necessidades do seu filho recém-nascido. Mas, além disso, o aparecimento do bebé na vida de Joe abriu a sua consciência à recordação da sua permanente relação com os ET, que seriam agentes de amor e carinho, bem como de traumas. Mark, tal como o próprio Joe, tem uma dupla existência alienígena e humana, mas está mais perto da sua ligação ou origem alienígena do que Joe. Através de Mark, Joe descobriu a sua própria identidade dupla alienígena e humana. No centro da identidade extraterrestre de Mark está a separação 234 SEQUESTRO entre o seu corpo e o seu eu ou alma. Durante a terceira regressão, Joe testemunhou longos procedimentos durante os quais os alienígenas, entre outras coisas, massajavam e alimentavam Mark, com o objectivo de o manter ligado à sua origem divina e impedi-lo de confundir ou limitar a sua noção de si mesmo ao seu corpo ou ego humano. Pareceu a Joe que os ET eram agentes da sensibilização de Mark, remodelando-o virtualmente como um ser com uma identidade simultaneamente alienígena e humana integrada. A responsabilidade de Joe como pai é manter Mark ligado ao seu ser superior. O perigo para Mark neste mundo, que Joe comparou a um asilo de lou-

cos, seria sucumbir à limitação de consciência, que resulta da competição, das intrínsecas pressões financeiras e, especialmente, das aparências de civilidade que são o carimbo oficial do mundo dos negócios. Os seres alienígenas parecem ter servido de «parteiras», tanto para Joe como para Mark, libertando-os da casa de loucos que é a nossa cultura e levando-os a um outro estado de consciência, mais compatível com a viabilidade da vida no planeta. Os alienígenas foram também os agentes da integração e sensibilização do próprio Joe. Na segunda regressão, descobriu que possuía simultaneamente as identidades humana e alienígena, o mesmo que muitos sequestrados estão a descobrir acerca de si próprios, e que é uma espécie de agente duplo, funcionando como uma ponte entre a terra e os reinos de onde provêm os seres. Durante esta regressão, Joe sentiu igualmente que tanto as naves, como o reino alienígena, eram a sua casa, onde se sentia mais à vontade e experimentou a tentação de nunca mais regressar. Mas a sua tarefa humana tem sido integrar as dimensões ou partes alienígena e humana de si mesmo e tornar-se num ser ligado, para além do seu ser material ou ligado à terra. Na terceira regressão, Joe viveu a intensa experiência de sentir as suas metades humana e alienígena unir-se, numa expansão estática e profunda, uma espécie de ritual de passagem, que incluiu simultaneamente sequelas aterrorizadoras e agradáveis, que alargaram e aprofundaram o processo nas semanas que se seguiram. As experiências de Joe, especialmente as relacionadas com o nascimento de Mark, demonstram dramaticamente a separação ou descontinuidade entre a sua alma e o seu corpo. A leveza da experiência da alma no «espírito» ou em «outro reino» — faltam-nos as palavras — contrasta com a densidade do corpo físico, tal como é sentido no domínio terreno. LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 235 Joe e muitos outros sequestrados sentem que os alienígenas estão muito mais ligados à origem divina, ou anima mundi, do que os seres humanos, que lutam para ultrapassar a sua extrema separação. Por isso, a aproximação dessas dimensões do seu eu traz virtualmente consigo, por definição, a própria profunda ligação de Joe com a divindade, uma sensação de unidade com todos os seres — essencialmente a sua sensibilização. Curiosamente, os seres alienígenas parecem, inversamente, desejar uma mais profunda ligação com os seres humanos, como se a maior densidade do nosso corpo ou físico constituísse para eles uma qualquer espécie de apelo. Para Joe, como muitos outros sequestrados, a profunda ligação que se processa por meio dos grandes olhos escuros dos alienígenas é uma parte fulcral do processo de ligação e evolução alienígena/humana. Joe, como virtualmente todos os sequestrados homens, sofreu experiências de sequestro traumáticas, envolvendo a manipulação forçada dos seus órgãos genitais e a tomada de amostras de esperma, como parte do projecto de miscigenação humana/alienígena. Mas Joe, na sua identidade alienígena, também se sentiu participante, como agente, desta experiência genética ou reprodutiva, permitindonos uma rara visão do lado alienígena (embora misturada com a sua percepção humana) do processo de hibridização. Sentiu-se de certo modo culpado — talvez se misturem aqui sentimentos humanos — por copular com uma mulher, depositando nela a sua «semente». Sentiu amor por esta mulher durante o acto, mas é compreensível que uma parte dela se sentisse violada.

Através das suas próprias experiências, Joe pareceu ter acesso a informações acerca dos órgãos genitais dos alienígenas e do processo pelo qual estes seres depositam uma semente, ou qualquer outra espécie de substância reprodutiva, num corpo humano. Joe, como muitos sequestrados, recebeu informações dos alienígenas de que este processo de hibridização tinha como objectivo a criação de uma nova espécie, que representaria uma revigoração da vida, uma etapa da evolução. «Vigor» parece uma estranha palavra neste contexto, se pensarmos nas indiferentes crianças híbridas, vistas por tantos dos sequestrados a bordo das naves. Segundo Joe, a actual direcção das actividades humanas na terra conduzirá à extinção da nossa e de muitas outras espécies. Conforme aprendeu, o processo de hibridização era um meio de preservar a substância genética humana, embora sob qualquer outra forma. O que nós, evidente236 SEQUESTRO mente, também não podemos saber é em que realidade acontece tudo isto. Finalmente, na quarta regressão, Joe teve uma profunda experiência de uma vida passada. Este material surgiu em resultado de uma opção feita por mim de pegar na frase «Voltei», proferida por Joe quando se estava a ver com um bebé de dois dias. Isto implicou da minha parte, pelo menos uma certa receptividade à possibilidade de experiências de vida passada e «regresso» à terra de outro domínio. Caso contrário, poderia ter ignorado a frase e ter-lhe pedido, por exemplo, para continuar a falar da sua experiência como um bebé de dois anos e dos eventos subsequentes. A experiência de vida passada não parecia arbitrária. Ao invés, reflectia Joe (como Paul Desmonte) exprimindo os seus valores e a sua verdade, mas partindo de uma atitude arrogante, de uma consciência limitada e polarizada, evocando antagonismos e tendo como consequência o martírio. Presentemente, ele acolhe os mesmos valores, a fé nas maiores possibilidades humanas, mas a sua consciência evoluiu até ao ponto em que consegue comunicar a sua verdade, de uma forma que acolhe igualmente aqueles a quem desejaria persuadir. A experiência de vida passada pareceu ter importância, não pelo facto de ser outra existência distinta, mas antes por reflectir uma etapa da evolução da consciência de Joe, dentro de um período de tempo superior à duração de uma única vida humana. Esta sessão também se mostrou notável devido à similaridade entre as intensas experiências do nascimento de Joe para esta vida e da sua morte como Paul Desmonte. Em ambos os casos, manifestou-se uma intensa emoção, medo e, em última instância, libertação, à medida que ocorria a transição de um estado para o outro. A impressão que tive foi da vida como um ciclo de nascimento e morte, de transições de um estado para o outro, evoluindo ao longo do tempo, e, numa perspectiva mais vasta, dificilmente distinguíveis umas das outras. Os seres alienígenas — ET, como Joe lhes chama — parecem ter estado com ele, ou pelo menos disponíveis, como protectores e guias da sua evolução espiritual ao longo do tempo, aparecendo quando a sua consciência se abria e expandia, como aconteceu antes da morte de Paul, e desaparecendo quando a sua psique se contraía, como sucedeu depois do seu nascimento do ventre de Julie. Esta observação poderá vir a revelar-se importante, para aumentar o conhecimento das condições fisiológicas em que os seres

LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 237 humanos são, ou não, capazes de sentir a presença alienígena na sua vida. Se, de facto, os seres alienígenas estão mais próximos da fonte divina ou anima mundi do que os seres humanos em geral parecem estar, então, é possível que a sua presença entre nós, embora cruel e traumática em certas ocasiões, possa fazer parte de um processo maior, que pretende fazer-nos regressar a Deus, ou o que quer que decidamos chamar ao princípio criador, depois de, como disse Joe, «uma viagem que nos levou até muito longe», «uma viagem de que muitos estão cansados e estão agora a trabalhar, a fluir e a lutar para regressar à sua origem». A própria viagem de Joe deu origem a notáveis alterações na sua vida. Tem sido capaz de entregar muitas das tarefas diárias do seu negócio a um assistente, o que o deixa livre para seguir a sua vocação espiritual e terapêutica. Está disposto a «revelar-se», a tornar-se público como professor da evolução da consciência. Está disposto a reconhecer as suas experiências ET, bem como a sua identidade, e a partilhar abertamente estes conhecimentos com outras pessoas. Joe e eu já nos apresentámos juntos em muitas ocasiões. Fico sempre impressionado pela forma objectiva e não ameaçadora como ele consegue conduzir uma audiência através das suas próprias dúvidas e consciência emergente, que ele, efectivamente, abriu a inteligências e experiências que estão a mudá-lo profundamente, bem como talvez a milhões de americanos. CAPÍTULO NOVE SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA Sara era uma estudante universitária de vinte e oito anos quando me escreveu a solicitar uma sessão de hipnose. Planeava viajar em breve e pretendia ser hipnotizada antes de partir «de modo a libertar algumas emoções e informação que sentia estarem quase à superfície, e atenuar alguns sentimentos de ansiedade e confusão que se tornavam cada vez mais intensos.» Nesta descrição foram omitidos muitos pormenores respeitantes ao dossier de Sara com o objectivo de proteger o seu anonimato. Na sua carta. Sara afirmava que dois anos antes, durante uma massagem de tratamento a uma dor que tinha na base do crânio «senti que pequenos seres comunicavam telepaticamente comigo.» Descobriu também que fazia desenhos espontaneamente, usando uma caneta em cada uma das mãos («Nunca tinha utilizado a mão esquerda.») que interpretou como sendo seres extraterrestres, tendo em conta especialmente os seus olhos. Os desenhos também incluíam corredores de ligação e «uma espécie de campo corporal ténue» que parecia «um corpo delicado de uma entidade.» Sara faz parte do crescente grupo de sequestrados que, a nível espiritual, se interessam por compreender as suas experiências. A busca de uma explicação e o esforço para alargar os limites da sua própria consciência, permitiram-lhe atingir um conhecimento profundo num curto espaço de tempo. Na referida carta. Sara dizia também que começara recentemente a «receber informações que ligavam outras entidades a questões como a preservação do planeta e as transições ecológicas, especialmente as reversões polares e geomagnéticas.» O 240 SEQUESTRO desejo de servir, «de fazer algo construtivo pelo mundo», é vitalmente

importante para Sara, embora ainda não saiba como. Sara cresceu na periferia de uma cidade industrial. Classifica de «convencional» a sua educação protestante e considera-se empenhada em viver a realidade da forma mais transparente possível. Nunca experimentou drogas nem bebidas alcoólicas. Atribui este facto às suas experiências de contactos e considera que, desde que parou de consumir cafeína, chocolate e açúcar quase na totalidade, as suas experiências tomaram-se muito mais conscientes e claras. O pai de Sara já não é vivo. Embora fosse um homem inteligente, Sara suspeita que sofria de dislexia e crê que isso interferia com a sua capacidade de expressão escrita necessária para um maior sucesso profissional. Era um homem frustrado que abusava fisicamente da mãe de Sara e era verbalmente agressivo para ambas. Sara assistiu a várias discussões entre os dois e viu por vezes o pai bater na mãe. Assustada com o temperamento do pai, Sara ia para outro quarto para evitar que ele lhe batesse. Sara recorda que o pai era carinhoso para ela quando era pequena, mas afastou-se quando ela começou a destacar-se na escola. Ao contrário do pai, a mãe de Sara é uma pessoa bastante bem sucedida profissionalmente. Sentia uma ligação especial ao seu avô materno, que morreu quando Sara era adolescente. Era «muito benevolente» e «costumávamos ficar sentados durante horas, ali sentados e eu lia para ele... Era para mim uma fonte de apoio, um verdadeiro e bom modelo.» Durante cerca de dez anos após a sua morte. Sara tinha muitas vezes a sensação que o avô estava no quarto com ela, especialmente quando se encontrava na secretária a trabalhar. Recorda-se de um quarto «engraçado» da casa do avô. Ia frequentemente para esse quarto quando era criança, fechava a porta e sentava-se lá dentro durante muito tempo. Num estado «semi-acordado», Sara sentia uma espécie de «energia indistinta» no quarto, mas de nada mais se lembra. Sara foi uma criança intelectualmente precoce e aprendeu a ler muito cedo. Sentia uma inclinação especial por mistérios e por livros sobre fantasmas e espíritos. A sua família ia à igreja quase todos os domingos. «Eu não gostava da ideia do pecado original. Para mim não fazia sentido... Gostava muito do Espírito Santo». Descevia-o como «o tecido que liga toda a realidade.» Por volta dos onze ou doze anos, Sara começou a encarar as questões teológicas como forma SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 241 de resolução da dicotomia entre o bem e o mal, e começou a fazer leituras sobre outras religiões. Antes de se licenciar, participou em trabalhos sobre percepção extra-sensorial. Persistia o seu interesse em ligar as descobertas da ciência física à exploração da espiritualidade e da consciência humana. Numa ocasião, experimentou sensações eléctricas no corpo. Noutra ocasião «parecia que saía do meu próprio corpo e que não conseguia regressar, e isto durou cerca de dois dias.» Ficou bastante assustada com esta experiência. Depois de terminar o curso. Sara casou com Thomas. Sentia-se cada vez mais insatisfeita devido ao convencionalismo da sua vida em comum. «Achava errado tudo o que eu dizia sentir», disse Sara. Permaneceram casados durante alguns anos devido ao grande amor que os unia. Sara desejava, para além disso, um tipo de vida «ordenado e confortável.» Sara adoeceu gravemente cerca de um ano depois do casamento.

Embora não haja qualquer evidência exterior que o prove. Sara estabelece ligação entre a presença transcendental na sua vida e esta doença, bem como com uma dor intensa no pescoço e cabeça que sentiu depois. («Eles deixaram-me arrasada», disse ela). Certa tarde, quando dava um passeio com Thomas, deixou repentinamente de ter força nas pernas e sucumbiu. Ficou com febre quase instantaneamente. O seu estado era bastante grave e foi forçada a pedir dispensa do trabalho. A convalescença foi prolongada e durante esse período Sara e Thomas foram-se afastando e por fim divorciaram-se. Não tinham filhos e Sara desconhece que tenha estado grávida. Sobre a doença. Sara afirma «Foi para meu próprio bem», um intervenção que parece tê-la conduzido para o actual caminho espiritual. Cerca de cinco meses antes de me escrever, conheceu um jovem chamado Miguel. Quando se encontraram pela segunda vez para almoçar, Miguel começou imediatamente a falar sobre o tema dos OVNI e disse-lhe ter visto uma nave espacial (esta espécie de sincronia ou faculdade de fazer descobertas é comum entre sequestrados). Sara refere-se a Miguel como o seu «amigo extraterrestre». Miguel afirma ter visto em sonhos seres de outros planetas e Sara tem a sensação que ele pode mesmo ser um «representante» duma espécie diferente. Por vezes fica tão apático que o seu comportamento lhe lembra o das crianças sequestradas que vira nas naves. Estivera numa incubadora quando era bebé e, de acordo com Sara, revelava 242 SEQUESTRO por vezes uma «extrema necessidade». Também gostava de conversar com ele sobre as suas experiências de contactos. A história do sequestro de Sara cruza-se com recordações de vários tipos de experiências paranormais. Tem uma memória muito precoce — «com seis semanas de vida ou menos» — de «me pegarem ao colo, mudarem-me de lugar e olharem-me». Crê que «alguém tirou uma fotografia... Foi assim como o primeiro momento de consciência de mim mesma,» disse ela. «Fecho os olhos e consigo lembrar-me.» Experiências relacionadas com fantasmas «foram uma constante durante toda a minha infância,» e recorda que se iniciaram antes dos seus quatro anos de idade. «Tornei-me a principal contadora de histórias de fantasmas.» Por vezes inventava as suas histórias tendo como ponto de partida retratos, inventando pormenores e contando «histórias da vida passada» baseadas em recriações imaginativas das suas vidas. Concentrava-se nos olhos dos retratos e ficava «hipnotizada». O retraio adquiria uma «viva agitação» e ganhava contornos «tridimensionais.» Para além das histórias de fantasmas. Sara e as suas amigas de infância costumavam brincar àquilo que ela chama de «sessões espíritas». Uma vez, quando passavam a noite juntas, pediu à sua melhor amiga Annie, que era também a mais pequena, para se deitaino chão e disse «'Vamos tentar levitar-te' — não sei como é que eu conhecia a levitação e pusémo-nos todas em círculo. Acho que consegui comunicar com ela e comecei a dizer qualquer coisa, e por fim algo do género «agora sim» e então a rapariga começou a subir.» Cada uma das crianças presentes «teve a sensação que algo de estranho se passara» e depois disso ninguém falou sobre o incidente. Sara recorda «essa noite de uma forma muito nítida». «Oh, meu Deus! Nessa noite o quarto estava todo muito estranho... Havia muita electricidade naquele quarto. Acho que as crianças nem tiveram consciência disso.» Perguntei-lhe se tinham conversado com alguém

sobre o sucedido. «Acho que nem lhes passou pela cabeça contar.» Parecia-lhe que «tinham combinado não contar». Há dois anos, Sara perguntara à rapariga se tinha flutuado. «Conseguimos levitar-te?» e a rapariga dissera que sim e que todas tinham ficado cheias de medo com aquela experiência. Mais tarde, durante a regressão. Sara associou este conhecimento e capacidade para realizar experiências de levitação com as naves espaciais, tanto no seu espaço interior como exterior. «Sinto SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 243 que estou a levitar à volta da nave», disse ela, «como se alguém me estivesse a dar uma lição sobre levitação. Como se exemplificassem 'Oh, consegues levitar!' E a partir daí, deixam-me levitar, deixam-me brincar, basicamente. Deixam-me basicamente levitar à volta da nave e para cima e para baixo.» Apesar de ter parado de inventar histórias sobre fantasmas quando tinha nove anos, Sara continuou a sentir, de vez em quando, uma presença em casa. Recorda que «quando tinha treze anos passava a vida a sentir coisas em casa, como se estivessem a subir as escadas... Na verdade, não olhava com muita atenção. Metia-me debaixo dos lençóis rapidamente. Mas costumava dizer, bem alto, para dentro de mim mesma — nunca dizia em voz alta. Dizia 'Ainda não estou pronta! Desculpem-me, mas só tenho treze anos, esperem'. Isso acontecia muito. Muito, muito mesmo.» Durante o nosso primeiro encontro, Sara referiu-se à forte dor na cabeça e no pescoço que mencionara na carta que me escrevera. Abrindo-se um pouco mais sobre o assunto, afirmou que uns dois anos antes, durante a terapia física «comecei a ver uma série de imagens dentro da minha cabeça que por vezes pareciam estar a conversar comigo». Fechava os olhos e «via esses pequenos seres aqui neste canto da minha cabeça, e pareciam luminosos, amarelos e luminosos, arredondados... Depois de começar a ver esses tipos a dor desaparecia.» As figuras «eram amareladas e redondas e algo benevolentes ... A sensação mais envolvente que senti foi a de calma. Eles eram tão calmos.» Possuíam corpos «muito brilhantes» com grandes cabeças. Não consegue lembrar-se de nenhum traço facial relevante, nem mesmo dos olhos. Contudo, sentiu-se (e sente-se) amada e sente amor por eles. «Parecia que estava em casa», disse ela, «era aquela sensação ideal, hummm, como uma família calorosa.» Depois do contacto inicial com estes seres, que ela chamava de «seres luminosos». Sara começou a pôr a mão sobre um determinado ponto na parte de trás da cabeça quando a dor começava a tornar-se intensamente desconfortável e «estabelecia ligação» com os «seres luminosos.» Pôs-lhe o nome de « escuta» e descobriu que esse procedimento ajudava a reduzir a dor. Sara relatou também duas experiências ocorridas seis meses antes do nosso encontro. Durante uma delas, «alguma coisa» parecia estar a olhar para ela da porta do quarto quando ela estava deitada na cama, uma presença que foi confirmada pela pessoa com quem se 244 SEQUESTRO encontrava na altura. «Só consigo dar uma ideia geral. Era muito magro. Muito magro. É tudo o que consigo lembrar-me.» Durante um incidente distinto, sentiu algo no seu quarto, junto à cama. Esta presença também foi confirmada pelo homem acima referido. Embora na altura tenha sido emocionalmente difícil, Sara sentou-se

e tentou contactar a entidade, com amor e compaixão. Depois, o espírito pareceu dissipar-se. Cerca de uma semana antes de rumar para Leste para se encontrar comigo. Sara sofreu um acidente de viação, em consequência do qual voltou a sentir a dor intensa na cabeça e pescoço, que surgira cinco anos antes. Devido a esse acidente, viu-se obrigada a adiar por vários dias a viagem. Miguel ia a conduzir o carro e ficou tonto. Começou a «sentir-se aturdido» com distorção da visão e ambos sentiram como que uma força «magnética» a empurrar o veículo. O carro saiu da estrada, em direcção a um aterro e «cambalhotou.» Sara sofreu um entorse cervical e distensão dos tendões e ligamentos, e foi transportada de ambulância para o hospital. No período que se seguiu ao acidente, Sara fechava os olhos e conseguia diferenciar, para além dos «seres luminosos», um segundo tipo de entidades. Quando «fecho dos olhos, vejo-os... Vejo esses tipos... lá em baixo, numa pequena fila, três ou quatro tipos pequenos e escuros. Pareciam produzir sons inarticulados.» Mais tarde, acrescentou «parecia-me que esses tipos estavam dentro da minha cabeça.» Em contraste com «os seres luminosos», estes eram referidos como «frenéticos». Pouco depois deste acidente, sentia necessidade fazer a sua «escuta» diariamente e apontava por escrito toda a informação que obtinha. Achava que isso evitaria outros acidentes. Alguns dias depois do acidente, Sara e Miguel tiveram uma experiência na qual uma inexplicável luz verde/amarela penetrou no quarto. Sara afirmou que Miguel não era habitualmente medroso mas que ambos ficaram aterrorizados e que ele pareceu perder os sentidos durante o tempo em que durou o incidente. Sara sentiu-se como se estivesse «fisicamente presa» e incapaz de se mover. Viu «três coisas pairando sobre mim» que pareciam «três cabeças cobertas por mortalhas» e pensou «há alguma coisa, escura, estamos a comunicar. Isto é a sério. Qualquer coisa como isto, como... preciso de me organizar e começar a apontar tudo.» Então «todas aquelas coisas pareceram dissipar-se.» Sara observou também um objecto invulgar no céu. Certa vez ela SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 245 e uma amiga viram «uma coisa estranha pairando sobre elas.» Sara observou e «durante uma fracção de segundo senti que... senti que estava lá e que estava aqui. Senti que estava dentro da nave espacial, olhando para mim própria. Senti que estava em dois lugares ao mesmo tempo e pus-me a pensar «Oh, uau! Isto abre novas perspectivas, regressamos para nos observarmos a nós próprios.» Noutra ocasião viu uma coisa parecida com uma estrela. «Mas não era altura própria para as estrelas aparecerem. Parecia de tarde. Muita luminosidade. Muito baixa, mas a uma certa distância.» Pouco tempo depois «Fiquei farta daquilo. Do género: se não vai acontecer nada, então vou para casa. Meti-me no carro e comecei a conduzir; então aquilo aproximou-se de mim, aproximou-se de mim muito rapidamente e voou por cima de mim... Parecia uma estrela cadente. Era extremamente brilhante.» Naquele momento pensou «Meu Deus, tenho que contar ao Miguel!», mas não o fez e «foi como se me tivesse esquecido daquilo tudo.» Sara desejava cada vez mais ser hipnotizada porque pretendia «...conhecer a verdade... Não pretendo conhecer uma história que eu inventei ou que outra pessoa qualquer inventou,» dizia ela «Eu quero mesmo saber! Quero mesmo saber! É a única coisa que é

importante», mesmo que «seja uma coisa muito complicada ou mesmo encoberta ou outra coisa qualquer.» Queria «entender quem eram aqueles pequenos tipos.» Em resumo. Sara quer ser responsável pelas suas próprias experiências. «Para lhe dizer a verdade», disse ela, «não sei se acredito em mim própria... Há uma parte de mim que acredita realmente, de verdade. Mas há uma outra parte que não acredita, e sinto que essa parte está a destruir-me.» As primeiras palavras de Sara após entrar em transe foram «Vejo a casa do meu avô... Oscilo entre ela e a minha cama branca de dossel que estava em casa dos meus pais quando eu era pequena. Estou a lembrar-me perfeitamente de sonhos de quedas, uma série de sonhos que tive nessa cama, depois acordava repentinamente e agarrava-me às traves da cama para não cair ainda mais. Parecia que me tinham deixado cair, ou que tinha caído de um sítio muito alto para cima da cama. Tive muitos sonhos destes e costumava acordar com a sensação de ter estado às portas da morte.» Pedi-lhe para descrever o que sentiu depois disso; respondeu-me que se lembrava «de qualquer coisa em prata e uma espécie de cabo, uma coisa parecida com o cabo de um elevador a que me agarrei quando caí.» A seguir viu ima246 SEQUESTRO gens de «um material branco e brilhante» e de «um lugar de onde caí.» Depois mudou de cenário «estava num campo e olhava para o que parecia ser uma nave espacial a cerca de trinta metros, e eu estou cá fora, sozinha no campo.» A nave era «uma coisa branca em forma de cúpula» e tinha «uma coisa em cima e uma entrada vertical» e «difunde uma luz... Vejo uma série de coisas parecidas com esqueletos, um cruzamento entre um esqueleto e um insecto rastejante. Ou seja, andam para cima e para baixo nesses planos inclinados... Vem dali uma luz — uma das portas está aberta para baixo e dela sai luz, iluminando a pequena criatura que anda para cima e para baixo no plano inclinado e que se parece um pouco com um esqueleto compacto. Tem na cabeça uma espécie de bolha, mas parecem-me filamentos — depois volto a escorregar através de uma coisa qualquer até à cama... Vertical. As descidas eram sempre na vertical. Tão rápidas! Quase violentamente rápidas.» Sara lembra-se que costumava acordar aterrorizada depois destas descidas abruptas da nave, «de tal maneira aterrorizada que podia ter morrido... Aquilo não era muito seguro... Era bom agarrar-me à trave senão não acertava na cama», disse ela. As associações que se seguiram tinham a ver com um cilindro comprido, brilhante, branco e com a sensação de estar a bater com a cabeça num «alçapão». Parecia-lhe que estava a recuar no tempo, em direcção a «um lugar em que estava morta.» Depois viu um ser sentado no que parecia ser uma grande cadeira prateada ou trono de metal. Reconheceu-o, apesar da sua cabeça ser «a coisa mais bizarra que alguma vez vi». Tinha uma «esfera à volta da cabeça. É translúcido e estou a olhar para a parte de dentro do rosto de um esqueleto. O interior do esqueleto não é exactamente igual ao de um esqueleto humano... Tem à volta esta espécie de filamento exterior em forma de auréola e o sorriso é um tanto repugnante, como o sorriso de um esqueleto. Mas, sabe, não me sinto assustada. Não têm mau aspecto e são simpáticos. São simpáticos... Nenhum está a tentar assustar-me. Eles não têm culpa de ter este aspecto.» Tal como muitos outros sequestrados. Sara pôs um nome a esta

entidade familiar. Chama-lhe Mengus. «É da família, é benevolente,» disse ela. Em seguida, recordou-se primeiro dos seus dez anos e depois dos cinco anos, dentro da nave («Sou mais pequena do que ele»), «mesmo em frente de» Mengus, «mesmo junto dele.» SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 247 Comunicava com ele em inglês, «de uma forma vaga, como se estivesse dentro da minha cabeça... tanto telepática como verbalmente». «Ele apenas fazia uma espécie de aceno com a cabeça.» Perguntou a Mengus «o que é que vocês estão a fazer na Terra?», ao que ele respondeu: «Oh, estamos apenas a observar.» Seguidamente Sara viu na nave uma coisa parecida com um painel de controlo, como o cockpit de um avião, mas ainda mais metálico. «Parece que estou a flutuar sobre esta coisa» e perguntou a Mengus o que era aquilo. Ele disse-lhe que «este é o nosso sistema de transporte.» Ela carregou em várias coisas «mas está tudo desligado, não causei estragos... Sabe, parecia que me deixava experimentar. E mesmo benevolente... tipo: é uma menininha, está só a ver e isso é óptimo» Sentia «...um verdadeiro clima de aconchego e benevolência... misturado com uma sensação de inflexibilidade. Está sério. Este tipo é terrivelmente sério.» Mengus disse algo do género «Agora és nova, mas isto é uma espécie de preparação e é extremamente importante... Estamos lentamente a mostrar-te o caminho, mas isto não é uma brincadeira e não se trata apenas de voar por aí, isto é um assunto sério, por isso presta atenção.» Mengus dizia «apenas isto: 'Não estragues'.» Escutava atentamente o que Mengus lhe dizia porque sentia que ele gostava muito dela e considerava que «não há margem para erro... Tenho a estranha sensação que agora ele está morto» disse ela, «sinto-me triste.» Perguntei a Sara porque é que sentia que Mengus estava morto. Replicou: «Consigo interpretar a sua vibração, e quando agora pretendo encontrá-lo é como se estivesse morto e tivesse sido reciclado [ver no capítulo 10 a explicação que Paul dá sobre o que acontece quando um ser morre] já não consigo aceder a ele e ele sente-se morto.» Mengus «era mesmo simpático. Parecia de facto o meu primeiro professor.» Tinha a «estranha sensação que um dos pequenos bonecos que desenhei, os bebés, eram... uma reencarnação de Mengus.» Voltando às suas experiências enquanto criança, Sara referiu-se aos fenómenos de flutuação/levitação referidos anteriormente e ao facto de sentir que estas capacidades, embora «muito divertidas», vinham de uma «vida passada». Não eram «divertidas no sentido convencional» mas faziam parte da nossa evolução. «Compreendi perfeitamente que o verdadeiro divertimento pode ser sinónimo de muito trabalho e transformação. «A energia vibracional dos seres 248 SEQUESTRO translúcidos era, segundo Sara «muito mais elevada do que a energia que se sente aqui... Possuíam simplesmente muito mais consciência! Não mantinham tudo oculto no seu inconsciente. Estavam despertos, simplesmente. Despertos e responsáveis, receptivos, concisos e precisos e tinham os olhos abertos... Bem como os seus corações. Não tinham medo e não eram mesquinhos e egoístas em relação ao amor e isso é muito agradável. Eles eram tão, tão, tão simpáticos... Tenho a impressão que tinham uma coisa translúcida na parte de trás da cabeça... Sabe que a nossa cabeça não é translúcida, é coberta por

cabelo e tudo. Nós tapamos todas as nossas pequeninas coisas que não queremos que os outros vejam e eles são simplesmente mais abertos. Conseguimos ver lá para dentro e, como são telepáticos, não têm segredos. Resultado: cada um deles vale mais quando está com os outros. Do mesmo modo, também não estão em contradição. Eu gosto disso. Meu Deus! Como eu gosto disso! Gostava de poder estar com eles de novo.» Sara sentia que para estar com aqueles seres, pelo menos daquela maneira feliz e inocente, teria de recuar no tempo, «até um período anterior a esta vida... Acho que vou tentar», disse ela. De seguida, deu consigo a voar numa nave espacial branca com uma série de pequenas janelas. Voava sobre uma área deserta — «Estamos só a voar a grande velocidade por aí e consigo ver lá para baixo e é tão maravilhoso... Não sei se alguma vez me senti tão feliz na vida, assim sem restrições, para sempre, feliz. Uau! Estamos sobre uma elevação e há aqui uma grande extensão de deserto e vejo este vermelho, amarelo e cor-de-laranja e, ao nível das sensações, é tudo simplesmente formidável. É simplesmente delicioso.» Nessa vida, o seu corpo era como o de um esqueleto, «como Mengus... E arrepiante e os ossos são um tanto pequenos, e o corpo é frágil e um tanto barulhento. Anda-se de uma maneira muito desarticulada». Sara ficou de novo maravilhada com a capacidade de manobra que sentia dentro do veículo espacial, de como era «agradável passear por aí.» Tendo por base esta perpectiva extraterrestre da vida passada, Sara falou das coisas «estúpidas» que os humanos fazem e da tentação de discutir com eles directamente. Mas «é muito mais útil ser subtil e certificarmo-nos que eles reflectem sobre isso.» Os seres humanos são «tão egocêntricos que não mudarão. Não mudaram. Têm essa coisa do ego a que gostam de se agarrar e tornam-se mesmo ameaçadores...» Mas há também coisas «preciosas» nos SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 249 seres humanos. «Conseguem sentir o cheiro das flores, por exemplo. E isso é simplesmente incrível e conseguem sentir o sol sobre a pele.» Enquanto ser extraterrestre «eu estava a operar de uma forma que tinha menos em conta a parte física e por isso tornamo-nos mais leves a determinado nível... Há algumas vantagens. Uma delas é a de não se cair nessas coisas como as depressões. Mas, por outro lado, torna-se um bocado desarticulado e um pouco distante... O sentido do olfacto não existe da mesma maneira. Não se consegue cheirar profundamente, por exemplo» observou ela. Mas por outro lado, os extraterrestres têm uma «visão mais ampla» e possuem maior discernimento e paciência. Do mesmo modo «Vocês têm essa coisa sobre a cabeça que [vos impede] de ter acesso telepaticamente a qualquer tipo de informação. Por isso têm essa espécie de flexibilidade informativa. O que quero dizer é que vocês conseguem obter qualquer informação que precisem.» Para Sara, o objectivo do seu voo sobre o deserto era o de inspecionar o planeta em termos de «recursos planetários», de modo a «saber quais as possibilidades de sobrevivência de uma área como esta» no caso de haver um «enorme abalo planetário.» A área deserta parecia ser um potencial «ambiente estável» em caso de uma erupção maior, por ser alta e plana. Quando encarnou um ser extraterrestre e conseguiu voar, sentiu que «ia para um lado e para outro», entre as formas humanas e as extraterrestres, como se estivesse a tentar tomar uma decisão. A identidade do corpo humano é esteticamente

agradável devido à «estrutura e outras coisas», ao mesmo tempo que se sentia atraída por uma perspectiva mais ampla ligada à identidade extraterrestre. Sara regressou ao presente e continuou a descrever uma enorme e sinistra nuvem negra que cobria o céu e que parecia exercer uma influência magnética sobre si própria «como se lançasse alcatrão escuro, negro sobre a minha cabeça.» Pareceu-lhe que a nuvem era uma projecção da consciência negativa e das vibrações dos seres humanos. O seu impacto debilitava-a e fazia-a sentir-se uma vítima. A nuvem funcionava como uma máscara ou escudo destinado a esconder uma espécie de artefacto idêntico ao que os seres humanos desenhariam se fabricassem naves espaciais. Essa nave era a fonte da vibração negativa e era pilotada por um ser humano. Sara achava que era uma completa «estupidez.» «Sinto uma completa aversão por tudo isto», disse ela. O «objectivo» daquela aeronave era, se250 SEQUESTRO gundo ela, «aparentemente a guerra», mas não a guerra para matar pessoas. A guerra era direccionada para as «cabeças das pessoas... uma guerra para controlar as pessoas.» Sentiu «um desejo enorme de me proteger daquilo tudo.» De seguida, Sara recordou as experiências de «levitação», «flutuação» e «impulsão» ocorridas durante a sua infância no quarto com a cama de dossel. «Era como se alguém estivesse quase a atirar-me para cima e para baixo.» Eram dois «tipos parecidos com o Mengus» que estavam a fazer isso. Parecia que existia um campo magnético entre os dedos deles e o seu corpo. O impulso «era divertido... eu ria-me» e depois os seres falavam um com o outro, «comigo não» e saíam pela janela, colocando primeiro a cabeça. Estas visitas eram amigáveis, «como se aparecessem para tomar chá» mas depois de acabar a faculdade os seres «enfureceram-se» porque ela estava a levar uma «vida convencional e estúpida... uma existência com poucas perspectivas», especialmente quando arranjou um emprego no ramo do comércio. Sara ligou esta experiência a outra que teve mais tarde. Estava deitada a apanhar sol quando «senti uma coisa a pairar sobre mim». Viu uma figura que era «um cruzamento entre um ser Mengus e uma pessoa. Era humano na forma, mas mais leve e flutuava livremente». Sara recebeu uma comunicação através desse ser, «Isto é muito importante». Disse-lhe que a intenção não era agressiva, era apenas uma espécie de teste sobre a «compatibilidade genética ou coisa do género», uma «infiltração», «um teste de viabilidade», «uma fusão dimensional.» Pedi a Sara que explicitasse melhor o conceito de «fusão dimensional». Descreveu-me então aquilo que para mim é a imagem central da nossa primeira sessão. «É como uma nave», disse ela « uma folha de celofane translúcido.» Há «como que um vidro enorme que se estilhaça», e uma incisão «de uma lâmina fina» que separa a dimensão física/Terra do reino donde provêm estes seres. Neste contexto, pedi-lhe que me desse mais pormenores sobre o contacto. O ser tinha «um leve contorno de um pénis, mas não era idêntico a um pénis físico», e penetrou no seu corpo. A experiência não tinha nada a ver com o que conhecia sobre relações sexuais humanas. «O próprio ser estava agressivo e eu não gostei dessa parte. Ele não se envolveu emocionalmente durante toda a relação... Parecia mais um cientista a explorar o território.» Perguntei-lhe se tinha havido actividade orgiástica. «Foi

SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 251 muito, muito, muito mais subtil» respondeu ela. «Não se passou inteiramente nesta dimensão» disse Sara, «por isso não pode ser avaliado quer por palavras quer em termos físicos, porque de facto não se passou aqui. Foi metade aqui e a outra metade noutro sítio qualquer.» Depois desta experiência Sara afirmou ter-se sentido « como que ludibriada». O ser não «me contou a história toda e o que disse foi mais ou menos 'Eh, confia em mim, é importante'.» Em seguida acrescentou: «Se um ser se está a projectar sobre uma folha de celofane e [o] celofane se projecta sobre esta realidade e eu posso ficar ali a ver, eu sou capaz disso.» Perguntei-lhe se realmente isso tinha acontecido com ela («servido de intermediária»). «Sim», disse ela, acontecera há cerca de duas semanas. Tinha ido fazer ski. Havia um espelho grande no seu quarto de hotel. Levantou-se a meio da noite e no lugar do espelho apareceu um corredor. Tentou andar por esse corredor, mas bateu com a cabeça no vidro. Miguel não a tinha acompanhado nessa viagem mas «no momento em que choquei com o corredor ele estava no quarto e tentei gritar 'Miguel', mas não consegui. Não me saía nada.» Partilhava o quarto com uma amiga praticante de ski, que também viu uma silhueta no quarto. Paradoxalmente ela «limitou-se a adormecer de novo.» A pancada doeu-lhe muito, mas, assim que o espelho se abriu, a dor resultou também da «interpenetração das dimensões». Era como se surgisse «um ser que se parecia com o Miguel» ou «um disfarce do Miguel». O ser tinha olhos «escuros e penetrantes, negros, negros» e «era parecido com um insecto» com uma «cabeça muito grande» e «um pequeno corpo enrugado... que usava um fato para parecer maior... Magoou-me» disse Sara, «mas o objectivo fundamental não era magoar-me». Pretendia «explicar alguma coisa através da demonstração», nomeadamente que «toda esta interpenetração dimensional existe.» O «bater com a cabeça serviu para demonstrar 'Eh! Isto é fisicamente real'» De outro modo, muitos humanos ficam muitas vezes «densos» e/ou demasiado preocupados para serem contactados. «Em termos de espécie». Sara achou-se «compatível» com os seres do tipo de Mengus, mas o ser do quarto de hotel parecia ser um representante de outra espécie com a qual Miguel esteve em contacto, talvez numa outra vida. Segundo Sara, estas duas espécies estavam a tentar estabelecer ligação entre si e a sua ligação com Miguel demonstrava-o. Sara afirmou que cada espécie tem o seu 252 SEQUESTRO próprio «plano de vibrações», de modo que quando duas espécies se querem contactar têm de «criar um novo plano vibracional de interacção.» Isto pode ser exemplificado através da relação humana que, de facto, ultrapassa a barreira da espécie. Era uma forma de aperfeiçoar um número infinito de coisas, através de «um pancada maravilhosamente concisa.» Pedi a Sara para falar um pouco mais sobre o ser que ela vira no quarto de hotel. A cabeça era a parte mais proeminente do corpo, com um «brilho difuso», parecida com a de um «réptil», parecida «em parte, com a das cobras, das serpentes» e muito alongada. «Veias vermelhas» faziam que a cabeça se parecesse com «um corpo virado do avesso.» A criatura não era «má. É bastante simpática.» Parecia quase «um ser marinho, um molusco ou um caracol mas sem

a concha.» Parecia vulnerável, necessitando da sua «compreensão» e «cooperação.» Admitir que a criatura existe na realidade «ultrapassa os meus limites de aceitação e de tolerância... abrir o meu coração a uma coisa que não é igual a mim. Isso é bom para mim. Preciso de conhecer isso. Preciso de aprender e de fazer alguma coisa nesse sentido.» Considerou que o ser tinha sido «amável» ao «vestir» o fato de Miguel de modo a conseguir maior intimidade. Quando Sara o olhou nos olhos viu «muito amor» e sentiu que era recíproco. Também observou um olhar «um tanto triste» e «fatigado», como se estivesse a dizer «Já chega!», e concluiu: «Eles estão fartos que tenham medo deles... Sinto pena daquele tipo.» Acabámos aqui a sessão de regressão e o espírito de Sara começou a duvidar da sua própria experiência e a procurar formas de «explicada [a sessão]. Pode ser desilusão ou imaginação», disse ela. Mas logo acrescentou: «Também não é imaginação. Creio que é real. É mais real do que imaginário. Mas é real como num holograma... como se fosse projectado, mas não sei. Bati com a ca... e depois regressei, 'Meu Deus! Doeu, não foi?'... Passou-se alguma coisa comigo, por isso foi real,» concluiu Sara «toda aquela dor que parecia uma queimadura, a arder...» Depois de voltar à nossa realidade, as duas realidades pareceram-lhe «mais a par» ou «muito mais iguais.» Sara disse posteriormente que a fusão das espécies tinha como objectivo principal provocar a «evolução pessoal» para alcançar a «compreensão universal.» A dor intensa serviu para penetrar na densidade da recusa humana, alcançando-nos quando estamos «adormecidos». A dor é «o limite da tangibilidade física». Cada espécie SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 253 contribui com alguma coisa para a fusão. Sara disse que, por exemplo, os seres do tipo de Mengus são espiritualmente mais avançados do que os humanos, que têm de se «Mengusizar mais». As criaturas do tipo de Mengus procuram aperfeiçoar-se mais fisicamente, «a capacidade de cheirar», por exemplo. Quando duas espécies se fundem, cada uma delas retém alguns dos seus elementos originais. Este processo de cruzamento das espécies envolve um «grande, grande, grande amor.» Para Sara, o amor dos seres humanos é, na maior parte das vezes, muito mais possessivo, envolvendo emoções como o ciúme. Este amor interespécies é «mais incondicional... Acho que é a única razão da nossa existência, entendida em todos os seus sentidos.» Algumas semanas mais tarde. Sara escreveu-me a agradecer a minha ajuda e dizia que, após a sessão, «as coisas pareciam ter acalmado bastante». Cerca de seis semanas depois da sessão, encontrei-me com Sara durante quase uma hora para integrar algumas revelações posteriores à sua regressão e para falar sobre hipotéticas formas de revelação do seu chamamento. Depois de falarmos de investigações corriqueiras sobre OVNI, sequestros e assuntos do género. Sara sugeriu que talvez os extraterrestres estivessem a adoptar características tecnológicas «para se tornarem mais acessíveis para nós» utilizando por exemplo meios idênticos «a aviões, para tornar as coisas mais fáceis.» Tal como muitos outros sequestrados com quem tenho trabalhado, Sara considerou que as cataclísmicas mudanças físicas ocorreram cedo de mais no nosso planeta e colocou a hipótese de virem a ser as preocupações ecológicas e ambientais o factor de união da humanidade, ajudando-nos a ultrapassar as fronteiras étnicas, culturais e outras.

Disse que por vezes chorava com saudades de «casa», mas que, para ela, «isso nada tem a ver com os meus pais terrestres». Isso acontece «numa dimensão diferente». Sente falta de um sentimento de ligação mais profundo. Conversámos depois sobre a forma que tinha essa outra «casa» e o que ela significava. «O lar é dimensional e não espacial», disse ela. «O conteúdo é quase cem por cento emocional», acrescentou. Era-lhe difícil explicar isto de forma coerente. «E tudo... o sentimento do amor é o maior... suporte incondicional da vida. Não me refiro à vida humana, mas a criatividade... uma espécie de amor mais maduro. É arrebatador. Quando se sente isso, e quando se sente essa ligação, o sentimento do amor é extraordinário.» 254 SEQUESTRO Quando acede a este ou a outros estados de contacto, sente-se «muito feliz». Diz que «parece que o campo magnético à minha volta muda completamente... como se o espaço ou outra coisa estivesse a flutuar, como se pudesse assistir a um abalo térmico ou algo no género. A sensação é essa.» Sara afirma também que este estado é de tal maneira familiar que sempre o aceitou como real e que se concentrasse mais vezes a sua atenção nesse sentido, muitas outras coisas adicionais se tornariam acessíveis. Apesar da alegria que sente quando entra noutra dimensão, Sara considera que não teria sido «eticamente correcto atravessar», totalmente ou demasiado depressa, o abismo entre os dois planos. Disse que «no passado parecia que tinha um compromisso, como um estudante em regime de intercâmbio», o compromisso de passar um ano no estrangeiro, para assim poder vir à Terra. Estava, com efeito, «num programa de penetração», «conseguira recursos» e tinha «uma responsabilidade» na sua execução. De uma maneira ou de outra. Sara expressa um desejo de utilizar a «ecologia como uma forma de ajudar as pessoas a fazer uma... transição... As pessoas têm de redefinir filosoficamente o conceito que têm de ambiente. As pessoas pensam 'Oh, o meu ambiente'. Mas é como se o ambiente fosse [completo]... o ambiente é infinito. E possui um número infinito de características, que vão das físicas até às emocionais e psíquicas, até as que cruzam vários planos e secções... Cada um de nós é o seu próprio ambiente... É um conceito muito mais alargado do que a maioria das pessoas pensa», considerou. Em seguida. Sara referiu-se à dificuldade que a espécie humana tem manifestado para aceder a um conceito de amor incondicional, «criativo e vivo», que ela relaciona com todas as formas «como nos diferenciamos uns dos outros», como é o caso da criação de barreiras de género, de etnia e de religião. A ecologia podia ser usada para descobir «traços comuns» e para «transformar as consciências... Se na verdade, na mais absoluta verdade, fazemos o que é melhor para nós próprios, estaremos a fazer o que é melhor para o mundo. As duas coisas são sinónimos.» Sara observou que ainda sente «necessidades emocionais.» Utilizando a sua metáfora sobre os estudantes em regime de intercâmbio desta para outra dimensão, referiu: «Posso conseguir umas férias em casa, ou estar em dois lugares ao mesmo tempo» mas afirma que pode ser mais útil alcançar um estado de consciência em SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 255 que «não me interesse realmente se vou para casa ou não. Aí posso ir para casa porque não preciso de ir para casa.» Falou depois sobre a

forma como o seu trajecto espiritual a conduziu ao encontro do seu próprio espaço, onde é capaz de «dar amor», tanto «ali (na outra dimensão), como «aqui» na Terra. DISCUSSÃO Num dos nossos encontros. Sara perguntou-me se eu achava que o rumo do seu pensamento e da sua experiência reflectia algo de psicopatológico — «Se se trata de pura imaginação.» Assegurei-lhe que outros sequestrados se tinham debatido com as mesmas questões filosóficas. Partilhei com ela algumas das minhas especulações sobre as implicações do fenómeno do sequestro e reflecti sobre o alcance que tinham experiências como as suas. Sara preocupara-se desde a infância com questões filosóficas e espirituais, e era dotada, aparentemente desde muito cedo, de alguns poderes paranormais, como a capacidade de levitar outra criança, ou pelo menos de induzir a tal. Estas preocupações e capacidades pareciam estar intimamente ligadas com os contactos que manteve ao longo da sua vida com seres extraterrestres, precocemente manifestados durante a infância através da figura tutelar que baptizou de Mengus, referido como o seu primeiro professor. As experiências do sequestro de Sara, divertidas e alegres enquanto criança, mas sempre extremamente sérias a um outro nível, surgem directamente relacionadas com o seu crescimento pessoal e espiritual e com a sua determinação em ir ao encontro de um chamamento que lhe fornecesse suficiente capacidade de acção, tendo em conta o seu desejo de servir o planeta o mais possível. Ultimamente, contudo, Sara crê que o fenómeno do sequestro, na sua essência, emerge de um lugar que se situa para além do plano físico e não pode ser compreendido apenas através da tecnologia. Tudo parece indicar que os encontros de Sara foram, desde a infância, uma espécie de preparação ao nível da consciencialização para o trabalho de uma vida que ela se esforçava por realizar. Esta tarefa aparece ligada à referência a um conceito alargado de ecologia e «ambiente» que desse origem a uma alteração do paradigma: da consciência da divisão e separação para o da abertura, criatividade e 256 SEQUESTRO amor incondicional. Sara relaciona a sua própria evolução nesta direcção com os seus contactos e o seu papel como uma espécie de estudante de intercâmbio entre o universo não-físico do qual emanavam os extraterrestres ou «seres luminosos» e a terra onde ela se empenhou em viver. Sara tentou repetidamente ao longo das nossas sessões expressar por palavras o processo através do qual os seres extraterrestres conseguem entrar no nosso universo físico e como é que ela, por sua vez, consegue aceder ao deles. Uma imagem forte é a da poderosa membrana de celofane que se estilhaça, originando uma incisão através da qual se torna possível algum contacto com a outra dimensão nãofísica. Ela própria consegue aceder a este outro universo e anseia entregar-se quase por inteiro ao outro domínio que, tal como tantos outros sequestrados, considera ser o «Lar» e o lugar dos seus pais verdadeiros. Mas sentia constragimento em passar totalmente para o outro lado devido aos constantes desafios terrenos para ultrapassar as suas necessidades egoístas, especialmente o desejo de ser amada. Sara, como outros sequestrados, está consciente que a transformação da sua própria consciência e a partilha deste processo é uma subtil contribuição a um nível mais alargado. É assim que ela coloca a

questão: «Se fizermos o que é bom para nós próprios, estaremos a fazer o que é bom para o mundo.» Sara, talvez como outros sequestrados, participa numa espécie de projecto de fusão e evolução das espécies. É provável que o objectivo deste projecto seja a criação de novas formas de vida que estejam espiritualmente mais envolvidas e menos agressivas, e a manutenção simultânea das capacidades sensoriais marcantes que acompanham a densa estrutura da existência humana física. Uma parte da nossa longa sessão de hipnose envolveu as memórias de um contacto com um ser extraterrestre, vividas parte na nossa realidade física, parte numa dimensão não-física. A característica mais difícil de entre os vários tipos de contactos interdimensionais e interespécies descritos por Sara é a diferente frequência vibracional em que vivem os seres de outras dimensões e os ajustamentos de raiz que devem ocorrer de modo a que se dê o contacto. Grande parte da extrema exaustão física que Sara e outros sequestrados sentem durante as suas regressões pode estar relacionada com a libertação física destas incongruências vibracionais outrora reprimidas, por vezes durante toda a vida, por poderosas forças opressoras que poSARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 257 dem advir tanto da psique humana como possivelmente do controlo imposto pêlos próprios seres extraterrestres. Alguns dos momentos mais intensos durante a primeira regressão de Sara ocorreram quando ela se lembrou do embate ou «choque» doloroso que ocorreu quando confundiu um espelho do seu quarto de hotel com um corredor aberto, um «erro» que pode ter sido engendrado pêlos próprios seres. Imediatamente a seguir a este embate e ao doloroso impacto. Sara foi capaz de reconhecer no seu quarto um representante de outra espécie de seres extraterrestres, que se pareciam mais com répteis, possivelmente ligado ao seu amigo Miguel, como ela estava ligada à espécie do tipo de Mengus. O lado intensamente físico deste tipo de experiência parece servir para que Sara e outros seres humanos sejam forçados a entender a realidade das entidades e dos domínios sobre os quais a nossa cultura ocidental ensinou, durante os séculos recentes, que não podem, que não devem mesmo existir. Contudo, esta espécie de choque ontológico e físico pode constituir um primeiro passo essencial no processo da evolução da consciência humana que parece constituir a essência do fenómeno do sequestro extraterrestre. CAPÍTULO DEZ PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS Paul tinha vinte e seis anos quando, numa conferência sobre OVNI em New Hampshire, se dirigiu a mim e se apresentou. Era um jovem sensível e bem parecido, pertencente ao crescente grupo de sequestrados que eu conhecia e que tinham descoberto que eram dotados de dupla identidade como seres extraterrestres e como seres humanos. Paul acreditava, desde o início dos nossos contactos, que tinha como missão «ser um exemplo» de amor e abertura, e de fazer que os seus semelhantes vencessem os medos que nos oprimem e que nos impedem de utilizar as capacidades que temos. O objectivo do nosso trabalho em comum era o de fazer que Paul fosse capaz de descobrir a essência da sua complexa identidade e que se tornasse inteiramente responsável pelo seu poder transformador e concilia-

dor. Depois da nossa entrevista inicial, realizámos duas sessões de hipnose e Paul participou em duas sessões do grupo de apoio. Num pequeno grupo. Paul, Pam Kasey e outros sequestrados exploraram os poderes conciliadores das suas energias comuns. Quando nos conhecemos, Paul vivia com os pais e geria o seu próprio negócio de publicidade. Trabalhava para ganhar dinheiro suficiente para alugar um apartamento só para si. Tal como muitos sequestrados que conheci, Paul veio ter comigo depois de uma série de perturbantes consultas com uma profissional de saúde mental, com quem continuou a encontrar-se até poucos dias antes de o conhecer. Primeiro recorrera à Dra. T., uma psicóloga, com o objectivo de explorar experiências «estranhas» que o levaram a duvidar da sua sanidade, incluindo uma em que, depois de fumar 260 SEQUESTRO marijuana durante cinco horas, começou a ver «uma espécie de ser» nas escadas de sua casa. Pretendia também certificar-se se as suas experiências estariam ligadas ao avolumar de dificuldades. Teve consultas irregulares com a Dra.T. durante cerca de um ano e meio. A terapia incluía quatro ou cinco sessões de hipnose com o objectivo de reavivar a memória de um possível abuso sexual perpretrado pela sua avó paterna, mas que contudo não chegou a vir à superfície. O que realmente emergiu foram encontros adicionais com seres invulgares, ocorridos quando tinha três anos, que se revelaram fortemente reais e que tiveram um «fortíssimo» impacto na sua visão do mundo e em «tudo o que aprendi». Com o prosseguimento das sessões. Paul descobriu que estava a ficar cada vez mais «consciente» de uma «ligação com uma coisa parecida com um ser extraterrestre», que a Dra. T, talvez compreensivelmente, não conseguia estruturar. Certa vez, numa das sessões. Paul pediu que lhe dessem uma prova da existência desses seres ou das energias que lhes estavam associadas, a que se seguiu uma sonora pancada junto à porta do consultório. A Dra. T. assustou-se, mas quis aprofundar o que acontecera. Paul teve curiosidade em certificar-se do que se passara e sentiu um «crepitar» eléctrico na sala, mas descobriu que não havia nada visível atrás da porta. A Dra. T. tinha os olhos abertos de medo e Paul teve de tentar acalmá-la. Sentia que alguma coisa «ia acontecer» à Dra. T. durante o fim-de-semana seguinte e disse-lho. No iníco da sessão seguinte a Dra. T. não se referiu ao assunto e Paul perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa. A Dra. T. respondeu que a sua cama tinha sido misteriosamente impelida para cima e para baixo. Disse-lhe que ficara aterrorizada e, segundo Paul, tentou ignorar o que tinha acontecido, não se esquecendo contudo de tirar de casa «os espíritos do mal.» Segundo Paul, ela acreditava que nada «que fosse bom ou inteligente se apresentaria de uma forma agradável.» Apesar de achar que a Dra T. estava a refreá-lo porque considerava assustador o material do sequestro, uma série de memórias vieram à tona durante as sessões de hipnose por ela realizadas. Paul afirma que, por exemplo, numa das sessões iniciais «esperava ver a minha avó abusar de mim ou qualquer coisa parecida, quando de repente... vi a nave e eu estava fora dela, na parte de trás, a chaminé e aqueles pequeninos seres a subir e parecia que eu ia passar-me» (na nossa primeira sessão de regressão exploraremos em pormenor este episódio que se passou quando Paul tinha seis anos e meio).

PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 261 Na última sessão antes de terminar as consultas com a Dra T., Paul conseguiu recordar um sequestro ocorrido quando tinha dois ou três anos de idade, a julgar pelo facto de vestir um pijama inteiro com botões à frente, que a sua mãe confirmou ser o que Paul usava para dormir naquela altura. Viu-se «em cima de uma mesa» e «aquilo assustou-me terrivelmente». Recordava-se que o ser entrara no seu quarto, «pegou na minha mão», comunicou-lhe que «tinha de ser forte» e passou com ele «através da porta.» Paul só se lembra de «fragmentos de uma nave», mas não se recorda como foi parar lá dentro. De cima da mesa viu que a sala seguinte parecia ser feita de uma liga de metal uniforme e que os objectos da sala pareciam ser inamovíveis. Quando se tentou levantar, um ser fez pressão com dois dedos sobre a sua cabeça e empurrou-o para trás, aparentemente sem esforço, e ele ficou temporariamente calmo. Perguntei a Paul se conseguia ver o ser. «Ainda não. Mas no minuto seguinte já consegui» disse ele. A criatura vestia um «fato» inteiro com «uma espécie de pespontes... De repente voltou-se, como um clarão. Moveu-se tão repentinamente! Estou a olhar para a sua cabeça e parece normal. Parece ter olhos grandes, talvez pretos e estou 'bem' [suspirou] e agora deito-me para trás.» Pensou: «Bom, está bem. Obviamente que ele não quer que eu olhe para ele.» Tendo por base muitos outros casos, sugeri que talvez fosse ele que não quisesse olhar, o que considerou ser «muito provável» uma vez que estava cheio de medo. Depois viu dois outros seres de pé atrás dele e pensou: «O que é que está a acontecer? Porque quererá alguém falar comigo aqui?» Em seguida Paul olhou para baixo e viu «que ele começara a fazer qualquer coisa na minha perna» com os «dedos muito, muito compridos. Ele ou ela — não sei ao certo — pareciam dois dedos e um polegar e estava a gostar de sentir a minha barriga da perna, muito suavemente para cima e para baixo e então de repente senti mesmo a minha perna, a barriga da perna, era como se fosse, era dor e era como 'Ai, a minha perna dói-me mesmo'.» Paul não se lembra de ver nenhum instrumento, mas lembra-se de sentir a perna «entorpecida», como se «tivesse sido injectada com alguma coisa.» Paul descreveu mais tarde a dor na perna que revivera durante a sessão com a Dra T., «depois de isso ter acontecido tudo começou a acalmar e ele começou a erguer-me» e o ser estava a «levar-me para fora» quando a Dra T. disse «'Pronto, o nosso tempo esgotou-se' e eu pensei «está bem». Quando a sessão terminou. Paul ainda sentia a 262 SEQUESTRO dor na perna e a Dra T. perguntou-lhe «'Sente-se bem?' e eu 'Claro que me sinto bem.' Percebe o que eu quero dizer? Não sei. Foi mais: acho que sim. Consigo andar. Consigo ir de carro para casa, ou outra coisa qualquer.» Houve uma troca de impressões sobre a possibilidade de realizar uma sessão mais longa, mas a ausência de respostas e o facto de Paul ter a impressão que a Dra T. tinha extrema dificuldade em lidar com o impacto do material do sequestro, levaram-no a interromper a terapia. Pelo telefone Paul fez uma última tentativa para pedir ajuda, alguns dias antes de nos encontrarmos. Deu-lhe a conhecer a sua diculdade em lidar com as memórias que surgiam (dificuldades em «estruturá-las»), mas como ela própria tinha incertezas sobre o que fazer com as histórias do sequestro, parecia não ter nada a dizer excepto, na verdade, «telefone-me quando precisar».

O facto de Peter manter durante tanto tempo este relacionamento terapêutico improdutivo não tinha apenas a ver com o facto de haver pouca gente qualificada para lidar com questões ligadas aos sequestrados. Tem também ligação com o facto de, durante a sua vida, sempre se ter sentido sozinho e mal preparado para receber ajuda e da sua tendência crónica, comum aos filhos dos alcoólicos (os seus pais tinham ambos problemas com a bebida) para proteger os adultos à sua volta das suas próprias angústias. Uma das razões que o levaram a interromper o tratamento com a Dra T. deveu-se à sua preocupação em protegê-la das angústias que o seu caso lhe estava a criar. Antes de terminar a nossa primeira sessão, Paul referiu que se sentia «estrangeiro» («toda a minha vida disse à minha mãe que tinha sido adoptado») e como era difícil «pessoas como eu ajustarem-se e adaptarem-se ao que as rodeia, caso seja aqui que pretendem viver e sobreviver.» Relacionou isto com o clima emocional negativo e hostil que encontrou ao nível social e expressou o desejo de «ser um instigador do que é positivo» e tornar-se «um exemplo do que cada um pode fazer» para conseguir a livre comunicação. «O modelo está ali» disse ele, mas «este mundo fechou-o numa caixa. Tenho de abri-la.» Paul suspeitou durante muitos anos que o marido da sua mãe não era o seu pai biológico. De acordo com Paul, o seu «pai» era estéril e a sua mãe mantivera um caso prolongado com outro homem com quem esperava casar, mas que acabou por ficar com a mulher porque esta tinha leucemia. Paul pressionou-a várias vezes e, por fim, ela cedeu e confirmou as suspeitas de Paul; isto aconteceu um ano antes PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 263 de nos conhecermos. A descoberta que «o meu pai não era o meu pai verdadeiro» fez aumentar, como é óbvio, o sentimento de «não pertença a este lugar». O pai de Paul (marido da mãe) tinha dificuldade em controlar os seus impulsos. Isto pode ter ligação com o facto da «sua» mãe, de acordo com o que ela lhe contou, «lhes ter tirado as roupas [a ele e ao irmão] e ter feito coisas abusivas». Por vezes batia-lhe com uma correia «sempre que alguma coisa o aborrecia». Também é provável que se tenha associado a certas pessoas e «tivesse intimidades com o meu irmão [três anos mais novo do que Paul], mas isso já passou. Não teve consequências». A mãe parecia-lhe uma pessoa medrosa. Paul acha que ela se sentia intimidada pela grande curiosidade e inteligência dele. «Tentava refrear-me», disse, e fazia-o duvidar das suas próprias capacidades intelectuais. Claro que esta preocupação se agravava devido aos seus contactos relacionados com o sequestro. «Tenho de me adaptar pois não quero preocupar ninguém. Percebe o que eu quero dizer? Especialmente porque se trata da nossa mãe. Vou ter de ocultar isto». No dia em que viu o ser nas escadas de casa (que acima se descreve) Paul contou à mãe esta experiência. Ela admitiu que, quando estava no cimo das escadas, «sentiu um medo terrível que a fez parar a meio. Ia a descer as escadas e parou.» Para Paul, esta foi a «confirmação por parte de outra pessoa de que algo se passava», mas a sua mãe negara que tinha visto alguma coisa. Tivera, certa vez, uma ausência temporal de duas horas e só deu por isso quando Paul a questionou, mas não deu muita importância ao assunto. «Disse-lhe: Mãe! Duas horas a meio do dia! Não questionou o acontecido?» A irmã de Paul descreveu um OVNI que vira juntamente com a mãe, mas os pormenores relatados foram vagos.

Quando nos encontrámos com Paul para a nossa primeira sessão de hipnose, começámos por rever o seu disciplinado programa de meditação e as tensões que sentia durante esse processo. Falou da vontade de desenvolver as suas potencial idades psíquicas e da alteração do estado de consciência, e do profundo conhecimento que atingia durante a meditação. Expressou o desejo de «saber mais sobre o meu passado», especialmente para descobrir «quem eram aquelas pessoas» do encontro dos seus seis anos e meio de idade. Antes de continuar a falar sobre isso, Paul referiu-se a um incidente assustador que ocorrera um mês antes, durante a madrugada ou início da manhã. Estava a sonhar e acordou quando ouviu uma 264 SEQUESTRO sonora pancada, como se tivesse sido alguma coisa «junto ao contentor do lixo em frente à casa.» Foi à janela e como não viu nada, voltou para a cama. Adormeceu e voltou a acordar e teve a certeza que «havia alguma coisa no quarto.» Mas quando sentiu «algo em cima de mim» e descobriu que não se conseguia mexer, ficou aterrorizado. «Senti-o ao longe, mas depois aproximou-se muito e disse: Ai! Isso é perto demais! Perto demais! Afasta-te!... Como estou a atravessar esta dimensão tento descobrir onde está essa coisa, e estava a examiná-la, como se estivesse na ponta do meu nariz... conseguia senti-la mesmo aí... a cerca de dez ou doze centímetros do meu nariz.» Quis abrir os olhos, mas pura e simplesmente não conseguiu. «Passei pelo sono outra vez» (é um paradoxo do terror relacionado com o sequestro) e depois quando acordou foi capaz de se «libertar» e olhar, mas «não havia nada ali.» Embora já estivesse totalmente consciente. Paul «estava a suster a respiração e não conseguia falar» e esteve sem se conseguir mexer durante mais algum tempo. Embora não tivesse visto qualquer ser durante este incidente, sentiu contudo «algo [que] tinha mesmo feito alguma coisa». Embora mais tarde tivéssemos sido tentados a explorar este incidente, regressámos ao episódio dos seis anos e meio, ocorrido durante o Outono de 1972. Como é meu procedimento habitual, recapitulámos pormenorizada e antecipadamente o contexto em que ocorreu o contacto, para que eu tivesse uma orientação quando o incidente fosse explorado durante a hipnose e não interrompesse as suas associações com questões factuais que o pudessem distrair. Muita desta informação emergira durante as sessões com a Dra T. Passámos em revista a planta da casa, a localização do quarto e a forma como a sua mãe o aconchegou na cama nessa noite. Paul não se lembra de ter adormecido, mas recorda-se de ter olhado para o escritório, de se ter levantado e ter andado em direcção às portas de correr de vidro que separavam o seu quarto do pátio traseiro. Dentro de si, uma voz familiar disse-lhe para sair como se «tivesse um encontro com alguém naquele lugar.» Enquanto descrevia o seu comportamento nessa noite falava como se fosse o Paul adulto que observava as acções do rapazinho a partir «dos seus próprios olhos... Não sinto o que ele sente» disse «mas compreendo o que ele sente.» A criança saiu para o átrio, olhou para cima e viu uma «nave» que parecia estar a passar mesmo em cima da sua casa. «Era como se aquilo tudo estivesse iluminado», PAUL: A UNIÃO ENTRE DOIS MUNDOS 265 disse Paul. Era redondo «como um círculo perfeito... grande... terrível, maior na horizontal que na vertical, «comprido e plano» na

ponta. Ela [a criança] decidiu para onde nós podíamos ir [o «nós» refere-se à criança e ao adulto que a observa, como se fossem um só]. Descemos as escadas [do átrio] e fomos para a chaminé [refere-se a uma estrutura que se encontrava no pátio traseiro] e depois sentámo-nos.» A criança foi para dentro da chaminé e parecia que «estávamos à espera de alguém.» «Eu [Paul fala de novo enquanto rapazinho] não tinha realmente nenhuma ideia do que estava para vir e fiquei aterrorizado quando comecei a perceber que alguém estava ali.» Paul [adulto] observa que «tinha de haver mais claridade porque eu conseguia ver tijolos dentro da chaminé, do tipo de carvão vegetal... Tinha de ir com ele [Paul enquanto criança] porque eu estou — nós estamos — de certo modo ligados, e então saímos e aí encontrámos dois grupos que subiam pêlos dois lados da casa. «Os seres eram pequenos, com a altura de uma criança de seis anos, um deles aparentando ser um pouco mais alto. Havia cerca de quatro ou cinco seres em cada grupo. «Não eram humanos», disse Paul, contudo, quando «começaram a aparecer» a criança sentiu-se mais à vontade e «estava emocionado» por estar com eles. Tocavam-no e abraçavam-no, e a criança sentia «uma grande calma» e «familiaridade», tal como acontecia com o Paul adulto neste exacto momento da sessão. Os apontamentos de Pam Kasey desceviam os movimentos corporais de Paul durante a regressão. São comprovadores da intensidade da sua experiência. «Paul está a ter uma série de reacções corporais a esta informação, uma tensão involuntária perante cada novo dado, frequentemente uma gargalhada nervosa, respiração profunda, uma espécie de convulsão e em seguida relaxa até ao dado seguinte. Faz esgares, franze as sobrancelhas e enruga-as, cerra os dentes — depois uma gargalhada, abana a cabeça enfaticamente, nervoso, sério, saturado, sobrecarregado. Mais tarde torna-se cada vez mais difícil — corpo contorcido, tenso, abana e acena com a cabeça, levanta-se da almofada, face contorcida, muda a expressão em cada um ou dois segundos — braços de lado, mas as mãos cerradas, aberta, fazendo gestos.» No início da regressão conduzi Paul até àquela noite e encorajei-o a encarnar o rapaz de seis anos e meio, em vez do adulto que o observava. «Parei», disse ele, «Penso que sinto medo... à medida que

266 SEQUESTRO tento ser ele torna-se cada vez mais intenso.» Quando encorajava Paul para sentir o medo. Paul sentiu logo um torpor na face, que se espalhou pelo abdómen, peito e mãos. À medida que o medo aumentava viu «um grande olho à minha frente... as mãos sobre mim» e a sensação de estar a «encolher... Há outros ali», continuou, «não me deixam sentir nada.» Depois, sentindo que estava nu, deitado de costas numa sala com um tecto em forma de cúpula, viu «instrumentos e um banco». Agora com o corpo todo entorpecido, Paul disse «Conseguia olhar pela janela... O espaço... Via estrelas. Via montes de estrelas... Parece que se move». Uma vez mais, Paul teve dificuldade em estabelecer ligação entre o adulto que observa e a criança que está a viver a situação — «tudo me impede de estabelecer a ligação» —, mas foi capaz de dizer «Consigo ser eu». Depois sentiu «chapas, que pareciam grades que me empurravam o estômago para baixo.» Descreveu, a meu pedido, um dos seres humanóides. Não tinha cabelo e os olhos eram

grandes e negros, aparentemente sem íris. O nariz era «achatado, como o dos macacos» e a boca parecia ter escamas à volta, coisas parecidas com pratos nos lábios». O ser deixou-o subir e conduziu Paul através de uma porta. «Estou a andar cá fora. Estamos a olhar para os controlos da nave. E uma nave. E uma nave! E uma nave!» O ser parecia-lhe ser «um amigo», mostrou-lhe os controlos e disse-lhe: «Dentro da nave és como eu.» A princípio Paul não percebeu; mais tarde o ser explicou-lhe que «tu és daqui.» Em seguida, enquanto outras figuras humanóides observavam, o ser conduziu-o um pouco mais para baixo, para uma estrutura «parecida com um coador» junto ao centro da grande nave. Disse a Paul: «É aqui que nos juntamos». A figura que acompanhava Paul indicou-lhe uma cama, parecida com as dos humanos, com lençóis, mas «flutuante». Disse-lhe «Estes são os teus aposentos. É o teu lugar. É aqui que ficas quando andamos nestas viagens.» De facto, os «aposentos» pareceram-lhe familiares, porque calculou ter estado ali «setentas vezes». De vez em quando. Paul sentia-se confuso e descrente, mas diz: «Sinto que estou lá. Sinto que este é o quarto que ele me indica que estou lá dentro quando vou para onde ele me conduz.» Neste ponto, perguntei a Paul qual era a duração e a frequência de todas estas visitas. Respondeu-me: «Ele está a dizer que estão todas ligadas, que é a mesma coisa.» PAUL: A UNIÃO ENTRE DOIS MUNDOS 267 — O que é a mesma coisa? — As vidas. É tudo a mesma coisa... Está fechado. Está fechado em relação à minha vida. Está fechado por agora... Estava na nave antes de vir para aqui [isto é, para a Terra]. Paul atravessava naquele momento o que pode ser descrito como o ultrapassar de uma barreira informativa, e sentia de forma aguda a tensão e a libertação do seu corpo descritos nos apontamentos de Pam Kasey. «Está sempre a alterar-se e torna-se muito confuso», disse Paul. «É fácil para ele [para o ser] e para mim, mas aqui não consigo expressar o significado [ou seja, no contexto da perspectiva racionalista ocidental que a minha pergunta pode ter tido para ele]». Neste ponto, o ser comunicou a Paul que ele devia «dizer-me tudo o que eu quisesse saber.» A nossa sessão transformou-se então numa exploração da dupla identidade de Paul, da natureza humana segundo a perspectiva de um extraterrestre e das relações entre os humanos e os extraterrestres ao longo do tempo. Paul era «uma espécie de espião» colocado na Terra com um objectivo: «Ele [o extraterrestre] diz que o teu espírito é daqui [ou seja, da nave e não da Terra]. Diz que esta é a origem e a que as sementes do ser humano têm a ver com a forma como é feita a integração, mas tu és daqui.» «A origem», disse Paul, está «naquele Planeta. São muito pacíficos, muito pacíficos. Não são como aqui. Eles antes foram mortos, aqui. «Perguntei a Paul onde era esse Planeta. «Está bem. Está bem. Está bem. Não tens nada de saber. Eu também não. Posso saber. Está bem. Está bem. Está bem. Consigo vê-lo. É vermelho e é — mas é azul. É diferente. Gira, como Júpiter gira.» O planeta está «neste universo», mas «mais longe do que imaginas.» Perguntei como é que os seres iam de um lugar para outro.» E uma questão de esperança», disse ele. «A energia envolve-se em si própria e está-se em qualquer lugar... tudo se envolve, inverte-se e envolve-se em si mesmo... Como cada um de nós se consegue mover

de cada vez ou como um grande número de pessoas... Ninguém deve saber. As pessoas ainda não devem saber isso.» Pedi-lhe para explicar porquê. Falando como um extraterrestre, respondeu: «Já fomos feridos aqui... O teu povo feriu-nos.» Paul acrescentou: «Está na vossa natureza serem violentos» e referiu-se à necessidade humana de «controlar tudo» e de nos isolarmos dos outros seres, incluindo dos próprios extraterrestres. «Os humanos são apenas outra forma. Vocês são uma outra forma de energia. Pensam que são independen268 SEQUESTRO tes da vida e não podem ser assim. Estão a causar mortes. Estão a causar muitas mortes e é a vossa própria morte. E nós estamos a tentar ajudar-vos, mas viemos e fomos mortos por muitos de vós.» Paul continuou, dizendo que gente como ele próprio estava «aqui para fazer a integração, lentamente... porque se chegamos e tentamos interromper-vos isso não terá resultados. Não teve resultados anteriormente.» — Anteriormente, quando? — perguntei. Paul continuou, como se tivesse ignorado a minha pergunta: «Vocês já são muito violentos, são muito violentos e hostis. Isso já está demasiado imbuído na vossa natureza e têm de encarar isso a sério. Têm de perceber isso, e é preciso um pouco de tempo... Nós não podemos avançar sem mais nem menos. Não podemos avançar assim. Temos de fazer a integração como aconteceu agora.» Tentei trazer Paul ao que acontecera nos seus aposentos da nave, mas ele desviou-se e persistiu na sua luta no sentido de entender «a informação que tem estado fechada dentro de mim... Ultrapassa o nosso entendimento.» Senti que não tinha outra hipótese senão deixá-lo prosseguir. Falou depois dos problemas que os extraterrestres tiveram durante os seus contactos com seres humanos. «Aqui há muitos como nós [ou seja, seres com dupla identidade]», disse ele. «Quando avançamos, tudo se resume ao poder. Aqui estão todos muito absortos com o poder.» Referiu-se à dificuldade que a nossa espécie tem «de se abrir aos outros.» Como ser humano, mas identificando-se também como extraterrestre, sentiu aqui «muitos problemas». Tentou ajudar os seres humanos, mas sentiu-se atacado. «Tudo o que é novo é atacado... Tento fazer aquilo que devo para ajudar-vos, mas sinto-me atacado... Os seres humanos consideram-se únicos e acabou-se. Mas há muito mais... Há tanta vida e no entanto os humanos querem a morte. Escolhem a destruição, preferem-na à vida, ao contacto, à criação. Isto aqui é um inferno... Todos tentam explicar-vos isso. Tentaram dizer-vos que este lugar precisa de abertura. Os seres humanos continuam fechados em si próprios.» Seguidamente, Paul referiu-se em tom profético à teimosia humana, à recusa em aceitar o que se fez e à recusa em receber ajuda. «E por isso que pessoas como nós, ao chegar aqui, são apanhadas nesta engrenagem e depois ficamos doentes como vocês.» Os seres extraterrestres conseguem «colocar-se no vosso plano físico», mas também conseguem «estabelecer contacto com outros que não estão PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 269 no vosso plano». Isto faz que «aceitem outros» e «comuniquem e se integrem... Os seres humanos», continuou, «nem sequer conseguem fazer a integração de coisas que estão no mesmo plano, quanto mais uma coisa de um plano diferente. Vocês nem sequer são capazes de aceitar a vida à vossa volta.» Segregação, isolamento e medo carac-

terizam a atitude humana perante a vida, concluiu Paul. Paul considerou que era difícil existir duplamente, como humano e como extraterrestre. «É difícil fragmentarmo-nos desta maneira» disse ele. Enquanto humano, sente as grandes «pressões da vossa sociedade humana... É demasiado. É muito desgastante. E simplesmente desgastante.» Referiu-se em seguida à forma como desenvolvemos uma espécie de «concha» protectora, tornando-a «uma coisa isolada... Era suposto essa concha ser uma coisa insignificante. É uma coisa insignificante e vocês agarraram-se a ela. Como se fosse uma nova criação vossa. Uma coisa totalmente nova. Como se fosse um pequena camada. É uma pequena camada e vocês consideram-na o vosso mundo todo... É como se fosse uma camada de aparência.» Quando tentava responder às minhas perguntas, Paul sentiu-se a «balançar» ou a «saltar» para trás e para a frente, da sua identidade ou perspectiva extraterrestre para a humana, tarefa que se afigurava difícil. O fluxo dos seus pensamentos parecia traçar o seu próprio rumo, quase independente das minhas perguntas. «Qual é o objectivo de controlar uma coisa que nem sequer entendem em primeiro lugar? O que é que estão a controlar?... Não compreendo... Vocês não controlam nada», continuou. «Se tiverem em conta a frequência e a energia e a forma como está estruturada em volta da forma, se começarem a ir mais fundo e começarem a entender a evolução, a forma como se liga à estrutura molecular — isso leva uma eternidade! É mais do que conseguem abarcar, e também se tentou dizer-vos isso e vocês não o entenderam.» — E o que é isso? — A consciencialização — respondeu ele. — Formas superiores de consciencialização... Não vão entender o infinito, mas está aí.» Paul afirmou que os seres extraterrestres conseguem aceder a esta consciência superior que «passa através de vós» e que se trata de uma inteligência que existe e se movimenta em direcção a qualquer lugar. — De pessoa para pessoa, de nação para nação, de mundo para mundo? — perguntei. 270 SEQUESTRO — De universo para universo — disse ele. — Em cada um dos níveis há consciência. É infinita. Mais tarde, explorámos o tipo de informação relativa a esta consciência superior, informação essa que ele tinha recebido durante os sequestros. «Começa por ser uma energia de que não se dá conta», explicou; mas em seguida evolui e «começa a tornar-se inteligível.» Pode «ramificar-se para diferentes dimensões... absorvendo formas, tal como uma célula absorve outra célula e adquire uma nova forma. A energia reflecte uma outra forma; absorve uma nova forma e integram-se mutuamente. Comunicam entre si e compreendem-se. Aprende e desenvolve-se. Cria. Isto é criação activa, e torna-se cada vez mais inteligente. Cresce. Tem mais para escolher, mais possibilidades de escolha. «Paul falou de seguida de como a substância e a energia «flecte» ou se altera de uma para outra em várias formas. Relacionando este processo criativo com a sua opinião sobre a intransigência humana, acrecentou: «Vocês não querem sofrer mudanças e crescer. Para vocês a mudança é sinónimo de medo. Mudança significa destruição. Têm tantas ideias pré-concebidas sobre a forma como se processa! Vocês aguardam. Mudam durante um segundo e em seguida ficam a aguardar eternamente. Ficam à

espera para sempre.» Curiosamente, Paul revelou que a inteligência dos extraterrestres não entende realmente porque é os seres humanos são tão destrutivos e resistentes à mudança, e perguntei-lhe se os comportamentos físicos intrusivo que fazem no corpo se destinam a obter informações sobre isso. «Em parte», disse e informou que a «intromissão» e o olhar se destinam a compreender, ajudar e «adaptar», mas acrescentou sem dar qualquer explicação que «se cometeram erros.» Em última análise, «nós [Paul enquanto extraterrestre] não compreendemos porque é que vocês são tão arrogantes e ainda não aprenderam. Isso coloca-nos alguns problemas complexos. Um organismo que chega a este estado de destruição devia parar e aprender consigo mesmo. Devia perceber... como se o esticássemos até ao máximo e soubéssemos que ia dividir-se... não compreendemos porque é que escolheram a destruição.» Acrescentou que a intervenção e a mudança são possíveis mesmo sem entendimento. «Podemos alterar as coisas, mas vocês vão ter de aceitar mais mudanças que surgem. As mudanças vão surgir a um ritmo rápido e vai ser-vos difícil mudar... Agora as inteliPAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 271 gências estão por aqui... isso mantém níveis em aberto.» Admitiu que já alterámos alguns, mas que a nossa «natureza humana» resistirá a mudanças futuras. Expressei a minha impaciência e pergunteilhe como é que eu e Pam podíamos participar para provocar essa mudança. Explicou que lhe era difícil assumir um papel «parecido com o de um espião» que exibia «diferentes níveis... Há muitas coisas à vossa volta sempre a bater a essa porta e depois pára. Já conteceu antes. Já aconteceu muitas vezes.» Apesar do percurso feito, os seres humanos ainda se isolam. «Esse conhecimento da evolução, esse processo de aprendizagem, é-vos inerente. As vossas memórias ascendem aos primórdios. Os primórdios, se é que conseguem abarcar isso. Eu consigo, porque sou em parte humano e torna-se difícil para mim.» Nesta altura da sessão, em que ambos nos apercebíamos como os humanos estavam «desequilibrados» e «perdidos», Paul parecia sentir uma grande tristeza. Num tom nostálgico, referiu que se sentia «muito confortável aqui na nave... Quero ir para casa. É aqui na nave. É o meu lar. O meu lar é ali.» (Muitos sequestrados dizem o mesmo). Recordei-lhe a sua incredulidade ao ver pela primeira vez os seus «aposentos». Respondeu que «não é difícil para o meu verdadeiro eu aceitar. Sei isso. É difícil para Paul-concha aceitar.» O planeta a que se referira antes era a sua casa de origem e os «aposentos» eram «onde fico quando viajamos, quando fazemos explorações». Paul entende agora que lhe fora mostrada «uma distância temporal maior» do que anteriormente supusera, incluindo as vidas passadas. Lutando com a incredulidade face ao que vivera, que se exprimia através de gargalhadas nervosas, movimentos corporais tensos e comentários esporádicos do tipo «isto é maior do que eu pensava» ou «isto é tão estranho». Paul explicou como «chegámos a este planeta» há milhares de anos. «Estabelecemos contactos anteriormente» com «formas primitivas de vida... Agora mostram-me dinossauros, de certo modo... Isto é muito antigo. Répteis... Oh, meu Deus! Conseguimos estabelecer contacto com aquela forma.» — Com a forma réptil? — perguntei. — Sim. Aquela forma era mais inteligente que os humanos —

disse ele, rindo. Perguntei-lhe como é que isso lhe fora comunicado na nave. «Não sei», respondeu, «É como se fosse uma memória, em certa medida. E difícil. É difícil porque eu agora sei que consigo estabelecer contacto de novo.» 272 SEQUESTRO — Com quem? — perguntei. — Com os meus irmãos naquele planeta. No espaço. Na nave. Sugeri que chamássemos «irmãos» aos extraterrestres, já que Paul se referia a eles como «a minha gente» ou «os meus irmãos.» Nesta altura da sessão as imagens chegavam-lhe à mente com tal velocidade que lhe era impossível estruturá-las, pelo que o encorajei a encontrar o seu equilíbrio e a demorar o tempo que quisesse. Afirmou que «a forma de réptil era muito inteligente, uma forma de energia que tinha atingido com êxito aquela fase.» Perguntei-lhe o que lhes tinha acontecido. «Evoluíram simplesmente até este ponto. Preservaram-se para novas formas de vida», disse ele. «Oh, são capazes de predizer o tempo. São capazes de sentir o tempo. Sabem o que vai acontecer no futuro. Elas [as criaturas com forma de répteis] sabem. São tão compassivas. São capazes de compreender, de ter compaixão em relação ao futuro da vossa existência.» Seguidamente, Paul sentiu ondas de energia a atravessar-lhe o corpo, empurrando o abdómen e fazendo que as suas mãos se parecessem com «agulhas». Afirmou que se sentia «bem» e «de certo modo integrado». As memórias a que estava a aceder não eram «estranhas», eram «muito claras». Estávamos a chegar ao fim da nossa sessão e perguntei-lhe de que maneira as memórias que ele recuperara hoje nos poderiam ser úteis a nós, enquanto seres humanos em luta para compreender as suas tendências violentas. A sua primeira resposta foi que as memórias de hoje o estavam a ajudar a «compreender melhor quem sou eu de facto... Sou um cruzamento entre — é-me difícil compreender isto — o que eu conheço de mim próprio e os irmãos que estiveram comigo, aquilo a que os humanos chamam de extraterrestres». Não conseguiu encontrar a palavra, mas ocorreu-lhe que seria qualquer coisa do género: pessoas «TA». As pessoas «TA» evoluíram durante muito tempo, mas de uma forma diferente dos humanos, disse Paul. Quando fizeram a «integração convosco» não esperavam que ela fosse tão problemática. Perguntei-lhe porque é que eles tinham decidido fazer essa integração. «É assim que a criação funciona», afirmou ele, mas «os humanos não estão preparados para isso, e nós estamos... nós queremos aprender.» Perguntei a Paul porque é que a evolução da relação entre extraterrestres/humanos tinha actualmente tanta importância. Respondeu-me que, em termos de evolução, estávamos actualmente mais PAUL: A UNIÃO ENTRE DOIS MUNDOS 273 preparados para aceitar o contacto. «A perspectiva ou evolução humana atingiu um grau de inteligência que lhe permite aceitar outras coisas, mas está na fronteira. Hesita entre ir para a frente ou para trás.» Enquanto falávamos sobre estes assuntos. Paul sentiu uma intensa e quente energia que lhe passava pelo corpo e se concentrava nas mãos. Perguntei-lhe quais os requisitos necessários para «atravessar» a fronteira. «Aceitar tudo» disse ele. Há «muita coisa» para aceitar. Isto significava, em termos do seu próprio crescimento, aceitar de forma mais absoluta a sua identidade TA,

«aquilo que sou. É muito difícil estar no meio», acrescentou. — Estou no meio. Não sou apenas uma pessoa TA. Não sou apenas um ser humano — disse ele. — Isto é difícil! Há mais gente a descobrir que está no meio.» Dava a sensação de que cada uma das expressões de abertura aos elementos da sua complexa identidade, bem como a responsabilidade daí resultante, lhe provocava uma tensão adicional no corpo. «Pode demorar muito. Estou a ficar cansado», disse. Sentia-se invadido por sensações intensas de calor e «os meus órgãos» pareciam estar a ser picados por alfinetes e agulhas, especialmente o estômago, peito, face e mãos, que relacionou com os grandes «saltos de crescimento». As minhas mãos apertavam intensamente as suas e isso ajudava-o a libertar a energia quente bloqueda nas suas mãos. Quando o processo de regressão estava a terminar. Paul afirmou que se sentia «bastante melhor», muito «equilibrado». Falámos sobre a responsabilidade em relação à sua dupla identidade e sobre a energia associada à informação que estava a processar. Talvez a concha que construíramos, mesmo a parte mais destrutiva, não fosse tão formidável, sugeriu ele. O orgulho, o medo, «a questão do ego», eram «becos sem saída» que ao princípio tinham a ver com a sensibilidade, transformando-se depois numa coisa «parecida com um cancro» que «se fecha em si mesmo». A «unificação» entre extraterrestres/ humanos pode criar um novo equilíbrio, ser um passo no sentido da evolução, uma espécie de mutação cósmica no interior «do equilíbrio da criação e da destruição.» Quando recapitulámos a sessão. Paul falou com admiração sobre a quantidade de «memórias antigas» que armazenara na sua consciência, como é o caso da inteligência réptil e da perspectiva virtualmente ilimitada que isso podia originar. Mas os seres humanos perderam o poder «incrivelmente inteligente» ou a utilidade desse 274 SEQUESTRO banco da memória. Por exemplo, «as pessoas limitam-se a olhar para eles, do tipo, oh, o dinossauro tem um cérebro pequeno, pequenino e membros anteriores flácidos. Come, dorme e mexe-se. É o que faz. E foram mortos por um meteoro devido ao atraso no conhecimento. E claro que vão relacionar isso com o facto de não terem mãos como nós e o resto, por isso não podiam construir uma casa como nós fizemos. Isto é incrível. É de um egoísmo! Para ser inteligente tem de ser igual a vós. Não sabem nada sobre eles... têm ossos, sabem. Não sabem. Não sabem nada sobre eles... Creio que foi assim durante muito tempo, mas não sabemos nada sobre o reino animal. Nada. E contudo, está à nossa volta e existe definitivamente comunicação... E a inteligência da energia que produz a forma?» Estive fora da sala durante alguns minutos e no final da sessão Paul ficou a falar com Pam sobre a domesticação de animais como expressão da nossa necessidade de «controlar tudo à nossa volta devido ao medo», sobre a perspectiva estreita da identidade humana e sobre a cultura «retorcida», competitiva e intolerante que construímos. A nossa segunda sessão de hipnose teve lugar seis semanas mais tarde. Antes de iniciar a regressão. Paul falou sobre o desejo que sentia de ultrapassar posteriormente os impedimentos intrínsecos com vista à sua transformação pessoal e à execução da sua missão. Especificando melhor, sentia que durante a sua vida tinha estado imerso em sistemas disfuncionais, começando por uma família que muitas vezes respondia à sua necessidade de amor e apoio com abu-

sos e «manipulação com vista à submissão» e acabando imerso em sistemas políticos e sociais que restringiam a sua capacidade de amar. O seu sonho era destruir as barreiras do medo entre as pessoas e criar «uma rede de linhas de comunicação» com vista à construção de novas estruturas baseadas no amor e na conciliação. Mas receava as pressões dirigidas contra todos os que tentam colocar-se contra os limites da família, «um incrível ataque que toda a sociedade move contra a tua pessoa, só porque tentas encontrar uma outra saída». Preocupava-se com o que me poderia acontecer. «Vai toda a gente ficar cheia de medo do que estás a fazer, sem se importarem que pode vir a ter êxito.» Paul referiu que necessitava de sentir confiança no clima emocional da casa antes de «se abrir» mais, e acrescentou que prescrutara uma certa inquietação no rosto da minha esposa relativamente ao sequestro, sensação essa que se atenuara após uma curta conversa PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 275 que ambos tiveram antes da sessão começar. Tornava-se evidente que se tinha criado entre nós uma base de confiança e que eu estava, até certo ponto, a ser avaliado pela bitola do seu desapontamento em relação a anteriores conselheiros e também enquanto superior representante autorizado do sistema social hierarquizado que tanto o preocupava. Depois de isolarmos estas preocupações, tentando em conjunto separar as verdadeiras preocupações das que eram engendradas por ele, conseguiu-se atingir a base de «confiança necessária» ao prosseguimento da sessão. Concordei que era natural que ele tivesse necessidade de testar a minha credibilidade, ao que respondeu que «o teste» não tinha de ser necessariamente «hostil» ou «uma prova violenta. Se assim fosse, certamente que a verdade se perderia... Sei que provém de um lugar profundo», disse ele, «e quando lhe falo sobre o que se está a passar, sobre o que está a acontecer, sinto-me de facto seguro.» Antes de iniciarmos a regressão. Paul falou sobre a luta intensa que travou quando confrontou os seus medos com os das outras pessoas relacionadas com o fenómeno do sequestro. Pam apresentou-o a muitos outros sequestrados com dificuldades idênticas, mas, embora isso o auxiliasse, a sua experiência de que «toda a gente põe coisas cá fora» deixou-o como que «perdido». Conversei com Paul sobre a «jornada heróica» em que embarcara, e ele falou depois «dessa dúvida revoltante e do medo que está aqui.» Durante a regressão, Paul quis «entrar» na dor que sentia «aqui mesmo no meu coração, aqui no meu peito.» Referindo-se à viagem até minha casa naquela tarde, Paul contou: «Chorei durante todo o caminho. Estava mesmo a sentir tudo. A dor do mundo, simplesmente... Quando estacionei aqui à frente, as lágrimas corriam-me pela face... Custa-me chorar em frente das outras pessoas.» Perguntei-lhe se tinha sido capaz de chorar em frente ao pai.» Provavelmente», disse ele, mas teria sido um choro de derrota. «Ao chegar aqui, choro de dor» disse. Por fim perguntei-lhe até onde queria ir. «Sem dúvida» que queria «aceder» àquela dor. «Ela vai saltar do meu peito, e agora estou no meu caminho. Nunca tive tanta certeza.» Durante a hipnose, a primeira imagem que surgiu na mente de Paul tinha a ver com uma recente experiência de sequestro. Numa nave, uma figura com um capuz pegou-lhe na mão e conduziu-o por uma porta e por um hall até uma sala escura. Na sala estava uma luz

276 SEQUESTRO acesa e ele foi atado a uma cadeira. A figura tinha um grande ponteiro e mostrou Paul num ecrã a apanhar uma tareia de uma pessoa da sua família. Em seguida «ele está a mostrar-me o mundo» e «todas estas pessoas estão a morrer. Está a dizer-me que sou eu que tenho de resolver a situação». A figura disse: «Já sei como» e «está dentro de todos nós e é dessa maneira que se dissemina.» A cena mudou e Paul regressou ao tempo em que era rapaz. Tinha cerca de doze anos e estava na cave de sua casa quando este episódio começou. «Estou a lutar. Estou a lutar sozinho. A coisa com que estou a lutar sabe que estou aqui, mas acho que de certa forma estou protegido. Porque ela pode simplesmente sair e matar-me. Acho que quer fazer isso, embora, definitivamente pareça querer dar um golpe em direcção a ele, só para ser travado por uma espécie de barreira protectora. Mas não pode fazer isso. Tem de fazer isso de outras maneiras. Está a tentar. Vai separar-me, bocadinho em bocadinho... Já travámos antes esta batalha. É por isso que ainda estou aqui. Diz que luta assim com todos.» A batalha pareceu-lhe mítica, como se estivesse «em confronto com a destruição que queria acabar com a criação (algumas pessoas chamam-lhe Satã)», disse ele. «Estou a gritar, mas acho que não está aqui ninguém.» Na escuridão. Paul apercebeu-se da presença de uma criatura brilhante, não-humana que olhava para ele e que ele apelidou de «simbolista... Exerce grande controlo sobre os humanos» e quer «destruir» Paul. Mas ele não vai «desaparecer» porque está protegido por uma «força criativa» que o ampara. Mais uma vez sente um entorpecimento que se espalha por todo o corpo e sente-se indefeso. Mas a criatura não o consegue matar porque «sei bastante sobre mim próprio e de onde provém toda a minha força. Não me pode desligar.» A morte chegaria através do «isolamento», mas Paul estava «atado atrás» por «cordas» que a criatura estava a «tentar cortar.» Reconhecendo que estava a falar simbolicamente. Paul disse que as cordas, que «me uniam a mim mesmo» foram cortadas pela criatura. Ao contar isto. Paul sentiu um grande alívio no corpo e disse: «É muito doloroso. É muito doloroso estar aqui. Magoa.» Paul já não se encontrava na cave da sua casa e estava agora deitado de costas na sua cama à noite e sentiu «coisas... a moverem-se à minha volta.» Não se conseguia mexer e viu «uma coisa no armário» com uma «cara horrorosa» como «aquela personagem do filme O exorcista que o assustou terrivelmente em criança. Tentou acender PAUL: A UNIÃO ENTRE DOIS MUNDOS 277 uma luz, mas retrocedeu em direcção à escuridão do armário. Paul queria «ir atrás dela sozinho.» Agora completamente na escuridão, Paul conseguiu mesmo assim ver a figura «encostada a um canto. Sinto-lhe a respiração ali. De certa maneira é perigoso, mas penso que lhe bateram muito.» Preferiu estender a mão à criatura. Deu-se uma alteração da consciência e Paul voltou de novo para o seu quarto. «Ai! Ui! Está bem. Está tão partido! Parece partido. Os seus braços não se mexem devidamente. Não se movem como os meus. É pegajoso. Não pareço eu. Não consigo, não consigo, não consigo entender. Ele quer que eu compreenda.» A criatura tentou comunicar com Paul e tocar-lhe, «e isso está a pôr-me nervoso... está a falar de mim. Está a tentar dizer-me alguma coisa sobre a minha pessoa». A figura disse a Paul que «isto sou eu» e que ele (Paul) tem «o poder de fazer isto, e não percebo porque é

que eu tenho. Não entendo porque é que eu tenho.» Mais uma vez o corpo de Paul ficou entorpecido e encontrava-se no bosque com a criatura e conversavam. A figura pareceu então ficar mais pequena, «com cerca de um metro e vinte, e parecia-se «um pouco comigo. Tinha um a espécie de olhos e nariz», só que «mais achatado... e pequeno» e orelhas «que pareciam buracos na cabeça... oh, que estranho aspecto!» A cabeça era grande em relação ao corpo, «muito, muito magro.» A figura estendeu uma mão com dois ou três dedos e um polegar em direcção a Paul e «só pretendia falar comigo. Não percebia porque é que eu estava nervoso!» — Porque é que estás nervoso? — prossegui. — Tenho, tenho medo! Tem um ar mesmo estranho!... É totalmente diferente de mim! O ser «continua a tocar-me» e Paul não percebia porquê. «Quer que eu entenda o que ele tem para dizer. Quer que eu compreenda como posso ser eu. Está a tentar ajudar-me a ser eu próprio.» Calcula que tinha cerca de nove anos quando esta experiência se deu. Ainda no bosque, viu uma nave por detrás da criatura. «Está sempre a inclinar a cabeça, mas eu não posso, não posso, não posso falar com ele. Não sei o que lhe hei-de dizer.» A figura estendeu as mãos em direcção a Paul e quer «que eu as segure». Mas ele estava cheio de medo e não conseguia «abrir-me como ele pretendia... É tão diferente.» A figura puxou Paul para dentro da nave. «Oh, meu Deus!», disse Paul quando se sentiu a passar literalmente pela porta da nave — «de certo modo isto é líquido, mas ainda está ali.» Pri278 SEQUESTRO meiro estava escuro dentro da nave. Tinha o corpo na posição de sentado enquanto vários seres tacteavam o seu corpo como «se estivessem confusos com alguma coisa.» Embora sentisse que de algum modo lhes dera autorização para eles lhe tocarem, resistiu à comunicação, o que para eles era difícil de entender. Os seres queriam que Paul se deitasse sobre a mesa, e ele assim fez. Estava sem roupa, não se podia mover e sentia frio. «Não entendo», disse Paul, aterrorizado e confuso. «Estão a abrir-me.» Usando o que parecia ser uma espécie de luz, os seres fizeram uma incisão com cerca de vinte centímetros de profundidade na sua perna direita, acima do joelho. A abertura de dois centímetros «soltou» o que tinha no interior, expondo músculos, ligamentos e osso, mas deitou pouco sangue — «Devia sangrar! Porque é que não está a sangrar?» O procedimento era indolor, mas o facto de estar a ver a sua perna aberta aterrorizava-o. «Estão a olhar lá para dentro da perna», disse. Em seguida, «estão a tirar um bocado do meu osso». Utilizando «apenas a luz» os seres fecharam a ferida e «agora vamos conversar.» Aterrorizado e só, Paul sentiu dificuldade em respirar, como acontecera na nossa sessão. Achava que os seres tentavam, mas não conseguiam compreender porque é que ele estava tão terrivelmente aterrorizado. Os seres explicaram-lhe que há «uma relação entre nós» e que «Eu sou deles.» Neste ponto da sessão. Paul sentiu um desdobramento da sua consciência. Como extraterrestre compreendia que eles estavam a tentar ajudá-lo, como ser humano «tenho problemas em entender quem eu sou» em «explicá-lo às outras pessoas.» A operação à perna e «muitas» outras coisas que aconteceram antes e actualmente, tinham-lhe sido feitas pêlos seres com o objectivo de «mudarem coisas dentro de mim», de modo a que se transformasse

«numa espécie de ligação» que pudesse «apresentá-los» à minha pessoa e aos outros seres humanos. Mas sentia receio pêlos seus «novos amigos», receio que «eles se magoassem» porque «todos têm medo deles.» Paul afirmou que os extraterrestres lhe tinham ensinado muitas coisas, como por exemplo «como é que eu penso» e «como é que a energia funciona dentro de mim». Pedi-lhe que explicasse. «É uma coisa muito poderosa... O pensamento tem um grande impacto sobre a direcção que essa energia toma e eles ensinam-me a saber para onde quero dirigir essa energia. Ensinam-me a usá-la. Ensinam-me a PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 279 senti-la no meu corpo. Ensinam-me a senti-la nas outras pessoas e nos outros corpos. Estão a ensinar-me a sua tecnologia.» — Como por exemplo? — perguntei. — A maneira como conseguem curar-se quando se cortam ou magoam — disse Paul. De facto. Paul (tal como muitos sequestrados) fora sempre hábil fisicamente e, à medida que recuperava as memórias dos seus contactos com extraterrestres, desenvolvia ainda mais essa capacidade. A sua capacidade para transmitir aos outros as suas destrezas de uma maneira simples é invulgar. Pam Kasey vira-o a utilizar metáforas sobre a experiência comum para que as pessoas conseguissem mudar o conhecimento de um lugar do corpo para outro ou para se abrirem à solução de um problema. Recorrendo a perguntas simples, consegue também ajudar as pessoas a tomar consciência da informação que já recebem e que até aí ignoravam. A sua capacidade para ensinar, observada por Pam e por outros, é extraordinária. De seguida, Paul explicou que «quando estão a explorar, por vezes alguns morrem», mas conseguem «ser apanhados» e « são trazidos de novo» (ou seja, à vida) através da energia dos outros seres. «Absorvem-no [ao que morreu], tal como à energia que é a consciência» de um ou mais dos outros seres, isto porque o que morreu «não era suposto morrer agora». Deu depois um exemplo de quando «a nave embateu com violência» no «deserto» depois de «terem sido atingidos por nós» e em que «havia dois deles mortos.» Nesta altura na sessão, Paul estava confuso ao sentir que estava presente no local do acidente. «Estou aqui com eles. Sinto que sou amigo deles. Sei quem disparou sobre eles. Porquê? Porque é que os atingimos? Porque é que eles os atingiram? Isto não está certo. Homens fardados. Mostram-me quem os atingiu. Não pertenço àquele grupo. São militares. São soldados. Atingiram-nos. Eles [os seres] ficaram feridos. Não posso ajudá-los». — O que aconteceu depois? — Os jipes estão todos a vir. Vamos descolar. Vamos deixar os restantes. Perguntei-lhe se era um deles ou se tinha uma forma humana ao que Paul respondeu: «Sou humano. Temos de deixar o local do acidente», continuou. «O exército está a chegar e eles vão levar tudo. Vão levar a nave; vão levar a nave.», mas reparou que os seus irmãos extraterrestres estavam «feridos de medo daqueles homens... Eles 280 SEQUESTRO [os extraterrestres] têm de me mostrar isto», disse ele. «Não gosto de ver.» «Porquê?», perguntei. «Não quero ser humano. Não quero ser humano. Tenho pena de ser humano. Não queria magoá-los.» Paul

explicou que estava noutra nave que veio socorrer os mortos e tinha nove anos na altura em que presenciou este acidente. Paul sentia-se angustiado porque alguns dos seus «amigos» mortos não puderam ser «levados» e foram abandonados no deserto. Quisera ajudá-los e sentia-se triste que «sofressem por causa do medo das outras pessoas... da ignorância daqueles seres humanos.» Paul afirmou que a sua vida é dedicada a fazer que «o conhecimento venha à superfície», mas para conseguir isso «tenho de gostar de mim e deixar-me ficar aqui». Durante a sessão, Paul sentiu o seu coração a «abrir-se um pouco mais... está calor», disse. «As coisas estão a misturar-se» e sentia que «a paz e o amor... se alastram... O planeta [a Terra] vai crescer, preocupando-se connosco», mas «eu sou o começo. Tenho de aceitar o que aprendi «especialmente que a conciliação se inicia no coração e depois «alastra para fora». Os seres extraterrestres mostraram-lhe que «o ódio aos outros» fazia mal ao coração e que «a força para crescer» estava «à minha volta... Eles [os extraterrestres] ensinaram-me a utilizar isso [o conhecimento]». O seu único papel era, segundo afirmou, funcionar como uma ponte de ligação entre os extraterrestres e o mundo dos humanos. «Querem que eu forme um grupo que se possa encontrar com eles. Querem que deixemos de ter tanto medo deles, que sejamos abertos, que compreendamos» que entremos numa «troca» de amor. E necessário que ele e os outros humanos confrontem os seus medos, caso queiramos «mudar este lugar em que vivemos, em que vivo... Há muito para fazer», acrescentou. «Tenho de ajudar nesse sentido. E preciso da vossa ajuda.» Quase no final da sessão. Paul referiu-se à sua própria «necessidade de crescimento» e expressou o seu amor por mim e por Pam. «Confio em vocês os dois para me ajudarem. Porque será que achamos tão difícil amarmo-nos uns aos outros?» Depois falámos sobre a ligação entre uma história pessoal de sofrimento, como era a da sua vida, ou mesmo na experiência com os extraterrestres, e a relutância ou incapacidade para abrir o coração. Antes de terminarmos, conversámos sobre o que parecia ser a consciência de Paul sobre um incidente que aparentemente ocorrera em Roswell, no Novo México, em que um veículo espacial parecia ter colidido, poucos dias antes das primeiras observações de «discos PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 281 voadores» da nossa era actual. Paul disse que os extraterrestres não estavam à espera da recepção hostil que tiveram. «Senti que eles vinham de braços abertos e foram recebidos com violência... consta que foram amaldiçoados e isso veio lançar a confusão. Eles não nos compreendem de todo. Começaram a entender-nos agora.» Mas esta recepção inicial tornou a relação «realmente difícil.» Uma vez que em termos de tempo biográfico Paul nasceu dezanove anos depois do acidente de Roswell, perguntei-lhe como conseguira estar presente no local, pelo menos através da sua consciência, (se de facto se estava a referir a esse incidente). «Não sei», respondeu. «Deixei-me ir. Acho que me vou deixando ir, o que é bom em termos de aceitação da informação.» Eu questionava a consciência como uma espécie de «estrutura contínua» que nos permite ir «a qualquer lugar em certas condições.» A resposta de Paul foi complexa. Estava de acordo comigo, mas acrecentou: «Quando a atingimos, parece que muda de direcção. A energia consegue-se, quando se morre, parece que nos retraímos um pouco até ao âmago dessa consciência, e a memória de quem somos pertence ainda

muito a este lugar e está ainda muitíssimo incorporada nessa energia. Muitíssimo! E retrocede ao conjunto e o conjunto retrocede novamente e aí voltamos... As memórias estão ali, mas é como se empurrasses de novo para trás e novamente adquires forma...é como se sentisses essa independência porque estás de tal maneira direccionado num sentido, com um objectivo, como se retrocedêssemos molecularmente e atraídos por aquilo a que estamos ligados... As linhas que nos ligam ao sítio a que realmente pertencemos têm um poder ameaçador. E muito grande. Mas é que quando estamos a ser puxados para a frente, nos esquecemos do que está para trás. É isso que eu acho que me prende. De certo modo, talvez sejam essas as cordas que eu sinto atrás de mim. Não tenho a certeza.» Perguntei-lhe que forma tinha durante este episódio. Se tinha o corpo de um rapazinho de nove anos ou se era apenas uma espécie de consciência. Disse que sentia «muitíssimo que era completamente eu e então tudo mudou à minha volta para me dar um exemplo do que estava a acontecer, para me ajudar a compreender, não é? E assim estou muito consciente de quem eu sou, mas tudo continuava a mudar de forma tão radical que a informação se torna muito espontânea.» Era como se o seu corpo estivesse literalmente na nave durante este acontecimento. «Era como se estivesse lá. Era tudo tão real!» 282 SEQUESTRO Revendo outros aspectos da sessão, Paul referiu que «aquela coisa pegajosa e desconjuntada» era a exteriorização do seu medo do desconhecido. A imagem na nossa sessão era parecida com a temida imagem do filme O Exorcista que, em criança, o aterrorizou durante semanas. «Quando os conheci [os extraterrestresi e lhes toquei, e foi do tipo 'Oh, são tão pegajosos!' E frios e tudo isso, e ainda fiquei mais aterrorizado.» Os extraterrestres pareciam resistir, opondo-se mesmo à confusão sobre a identidade ou à falsa atribuição que aqui ocorreu. Por exemplo, quando levavam Paul pela floresta até à nave, sentiu a comunicação passar através deles dizendo que estavam «em sintonia» e interrogou-se «o que há de errado? Então? Eu sou quem eu sou e vocês são vocês e qual é o vosso problema? E eles tentavam introduzir o seu pensamento. Eles não querem tomar conta de ti». Sentia que olhavam para ele como que a dizer: «Porque não estás a comunicar comigo? Como é possível não aceitares quem tu és?» Conversei com Paul sobre a dificuldade que os seres humanos têm em aceitar e conhecer a fonte de poder da qual provimos. Respondeu-me que « aceitar outro ser humano como fonte de informação é muito difícil. Pior ainda é aceitar, por exemplo, não-humanos como nossa fonte de informação, como guru, como professor — o que quero dizer é que é espantoso o que eles me ensinaram, agora que aceito isso cada vez mais. Podem ter-me mostrado onde está a força criacional. Foram eles, em grande medida, os responsáveis pela minha ligação a ela.» Paul reflectiu sobre a sua experiência de «dúvida total» sobre a realidade destes contactos com extraterrestres, que relacionou com a limitada «definição de Deus» que lhe foi dada em pequeno, numa altura em que os seus pais saltavam «de religião em religião.» Mesmo assim, Paul sempre pensou que «interiorizara a ligação com uma fonte. A terminologia e o resto é imaterial.» Reflectiu, com receio, sobre a «inacreditável» tecnologia que aprendera durante os seus encontros com extraterrestres, especialmente a «quantidade de informação» que recebera sobre as curas. «Enchi cadernos com isso», disse, «e é muito sólido.»

No final da sessão, tive de sair da sala durante alguns minutos para tratar de assuntos da casa. Paul, sentindo-se vulnerável, questionou Pam sobre a possibilidade de eu me sentir «desapontado» e disse: «O John sabe mais do que diz». Isto surgiu como uma espécie de projecção, já que Paul afirmara que sentia que «podíamos ter ido mais lomge... podíamos ter simplesmente continuado. Não preciPAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 283 sava de parar». Pam reassegurou-lhe que o trabalho empreendido em conjunto era profundo, que eu não estava desapontado e que a minha saída temporária tinha a ver com outras coisas; quando regressei à sala confirmei a explicação dada por Pam. Alguns dias mais tarde, uma outra sequestrada, Julia, uma jovem com quem trabalhara durante quase três anos, telefonou-me e falou-me de Paul, que vira pela primeira vez no nosso grupo de apoio. Embora não se conhecessem «na Terra», Julia achava que o conhecia muito bem dos encontros nas naves (é muito comum entre sequestrados dizerem que viram ou estiveram com outros sequestrados que conheceram nas naves). Julia referiu a personalidade «superpoderosa» de Paul, que «transpira amor». Ele é «sólido», disse e muito «centrado». No contexto da nave. Paul tem uma «presença» e um poder qualitativamente similar ao do «meu médico» — que é a principal figura extraterrestre dos seus sequestros — à de qualquer dos outros seres extraterrestres. Isso sente-se particularmente no que diz respeito à sua capacidade para conciliar e ensinar pessoas como ela própria «a fazer desaparecer o desespero e a mágoa». Teve a impressão, partilhada por outros, de que possuía uma grande capacidade para arcar com a dor resultante do sofrimento das pessoas e a expurgá-las dessa dor, especialmente usando as mãos. Julia nunca falara individualmente com Paul e não conhecia, como é óbvio, nenhum pormenor das nossas sessões. DISCUSSÃO O caso de Paul é ilustrativo do crescente número de sequestrados para quem a natureza traumática das suas experiências não constitui o foco central do problema e que procuram, ao invés, comunicar a informação que receberam durante os seus contactos com seres extraterrestres. As nossas duas sessões de regressão incluíram incidentes traumáticos, especialmente o choque do abandono e a operação de dilaceração da sua perna, incidentes que Paul considera terem menos interesse do que o acesso ao conhecimento que recebeu durante oss seus sequestros. Essa informação tem a ver com questões como o medo humano e a destruição, a nossa resistência à mudança, a necessidade de abrir o coração e o poder transformador do amor, transporte espacial, as tecnologias de cura que aprendeu com os 284 SEQUESTRO extraterrestres, a natureza da consciência (especialmente enquanto fonte da criação) e a sua dupla identidade humana/extraterrestre e o seu papel de conciliador e de elemento de ligação entre os dois mundos. Um tema central do material de Paul é a extrema e implacável característica destruidora dos humanos que, embora baseada no medo, permanece um mistério para os próprios extraterrestres. Para eles, é como se tivéssemos escolhido deliberadamente a morte em vez da vida, e as suas experiências constituem, por um lado, um esforço para compreender os nossos procedimentos perversos e teimosos e são, por outro lado, uma espécie de intervenção para nos

retirar do caminho da destruição para o da criação. E difícil saber como avaliar a informação que Paul recebeu. Em primeiro lugar, como ele próprio diz, se é difícil aceitar o poder e o conhecimento dos «gurus» quanto mais o de criaturas como estas que têm uma aparência tão estranha e que «abalam» a nossa noção de realidade. Para Paul, bem como para todos nós que estamos expostos directa ou indirectamente a este fenómeno, a primeira tarefa é aceitar a sua própria experiência. As descrições feitas desafiaram por vezes a realidade de espaço/tempo, como aconteceu com a capacida de estar «presente» em 1947, em Roswell, na figura de um rapazinho de nove anos de idade, dezanove anos antes de ter nascido. Esta viagem no espaço/tempo apenas tem sentido se concebermos a realidade como uma espécie de holograma da origem do universo, capaz de criar a matéria e a própria forma e à qual Paul, e potencialmente cada um de nós, tem acesso se abrirmos e «deixarmos passar» essa informação universal essencial ou estrutura energética. De facto, muito do material recolhido durante as sessões tem a ver com a forma e com o poder criador da identidade da consciência e com a imperiosa necessidade de nos abrirmos às suas infinitas qualidades. O que tornou as comunicações de Paul tão interessantes e persuasivas foi a intensidade das sensações e do movimento corporal e a sensação que acompanhava cada novo pensamento. Era como se a tarefa do hipnotizador, ao trabalhar com ele, fosse facilitar o acesso de Paul ao conhecimento que estava armazenado no seu interior e que afectava poderosamente o seu corpo quando chegava ao nível do consciente e podia então ser comunicado. A noção de consciência como uma fonte infinita de energia e de forma à qual todos os seres têm acesso, torna talvez inapropriado considerar cada comunicação PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 285 de Paul — como, por exemplo, a sua presença em Roswell — em termos do que é literalmente factual ou que «aconteceu» concretamente, em termos lineares de espaço/tempo. Considero que isto não satisfará aqueles que ainda estão presos a uma visão da realidade limitada ao universo físico quadridimensional. Por outro lado, pode ser útil desafiar a nossa espistemologia restrita e divulgar os nossos critérios de avaliação da informação destinada a incluir o poder ou intensidade com que algo é sentido e comunicado e a potencial utilidade que o conhecimento pode ter em relação aos nossos dilemas contemporâneos. Aplicando estes critérios, é de crer que a informação a que acedeu durante as nossas sessões foi vivida intensamente por ele, como aconteceu connosco (Pam e eu), que fomos os receptores. Além disso, as implacáveis mensagens sobre a necessidade de mudança, da necessidade da mente humana e da abertura do coração, e das catastróficas consequências resultantes de termos confundido a «concha» da nossa defesa com o conjunto da identidade humana — mensagens que abarcam a essência da informação que Paul recebeu e partilhou — são todas elas comunicações de grande valor prático no contexto da presente crise global. Finalmente, a questão do próprio Paul e do meu papel no seu desenvolvimento e abertura pessoal. Aqueles que o conhecem para além do campo terapêutico, como Pam, Julia e outros sequestrados, são testemunhas das suas extraordinárias capacidades intuitivas e curativas. Veio ter comigo para que eu o tornasse capaz de libertar

os seus poderes das restrições da supressão (palavra que usava tanto em relação à preocupação da sua mãe devido à sua inteligência e capacidades, como em relação à incapacidade da sua anterior terapeuta para fazer o tratamento do material relacionado com o sequestro) resultantes de vários conjuntos de forças. Incluía-se aqui a repressão das ideias e das memórias fechadas dentro de si (uma resposta adaptável se considerarmos a sua intensidade, a necessidade que Paul sentia de funcionar normalmente na realidade de todos os dias e a ausência de um contexto de suporte no qual se sentisse seguro para libertar informação tão invulgar), a natureza ontologicamente destruidora da própria informação e o simples poder das energias envolvidas, que exigiam a criação de um forte contexto de apoio e confiança, que permitisse a Paul libertar o que tinha dentro de si. 286 SEQUESTRO Paul assume-se como uma ponte entre dois mundos. Sente profundamente que possui tanto uma identidade humana como extraterrestre. O trabalho com vista à integração destas suas duas dimensões básicas — um desafio que muitos sequestrados que vivem esta vida dupla têm de enfrentar — é formidável e constitui um aspecto central do nosso trabalho. Para Paul, como para outros sequestrados que sentem ter acedido à fonte da energia criadora do cosmos, a sua identidade humana e participação é terrivelmente dolorosa, especialmente perante as instituições destruidoras ou sistemas de vida que criámos. «O Lar» para ele, como para muitos sequestrados, é na nave ou entre «eles». Contudo, simultaneamente Paul sente fortemente que lhe foi conferida uma missão, ou que foi escolhido, para uma tarefa na Terra: a de contribuir, como exemplo de abertura e amor, para a evolução e transformação da consciência humana. O meu papel, o que Paul me atribuiu, é o de facilitar a sua capacidade para aceitar e viver com a terrível responsabilidade que ele e outros como ele têm face a uma cultura que oferece resistência ao conhecimento de quem eles são e do que tentam realizar. CAPÍTULO ONZE A MISSÃO DE EVA Aos trinta e três anos de idade, Eva trabalhava como controladora aérea quando leu um artigo publicado no Wall StreetJournal que descrevia o meu trabalho com os sequestrados. Telefonou para o meu consultório e disse que gostaria de ser entrevistada porque «poderia estar a passar pelo mesmo tipo de coisas» que os sequestrados descreviam no artigo e porque «isso importante para muita gente.» Numa conversa telefónica posterior, Eva disse a Pam Kasey que «sentia a presença de entidades de noite e de dia... sonhos com» seres no seu quarto, que «aí permanecem» quando acorda, e recordava incidentes da sua primeira infância e da última fase da adolescência em que não se podia mexer porque a sua vagina estava a ser examinada por anões que, sem saber como, tinham entrado no seu quarto. Os seus invulgares encontros levaram-na a interrogar-se se estaria «louca». Quando nos encontrámos pela primeira vez, Eva já tinha decidido seguir um rumo espiritual, apesar de sempre se ter considerado uma «pessoa muito lógica» e destas experiências contrastarem com as noções da realidade comum. Tencionava, contudo, descobrir as verdades que estavam na base das suas experiências, uma deter-

minação que se ajustava ao perfil que traçara de si própria como pioneira a quem cabia «missão global» de ajudar os outros. Eva sentia-se muito só na luta que travava para entender as suas experiências, até ler o artigo do Wall StreetJournal. No dia anterior à sua entrevista telefónica com Pam Kasey, Eva escreveu no seu diário «Tento cooperar à minha maneira. É difícil. Não tenho ninguém com 288 SEQUESTRO quem falar. Ninguém com quem chorar, que me dê ânimo, compreensão. É um fardo muito pesado para se transportar sozinha. Como posso ajudar Sara [a sua filha]? Só tem seis anos.» Embora as suas experiências com o sequestro estivessem a perturbá-la, Eva sentia desde o princípio do nosso trabalho que havia um objectivo a atingir e que ela era um «veículo» através do qual podia ser transmitida a informação proveniente de uma fonte superior. Fizemos três regressões: em Janeiro, Fevereiro e Março de 1993. Eva, a mais velha de três irmãos, era natural de Israel. O seu pai é banqueiro e investidor em imobiliário, e o seu trabalho exige viagens constantes. Até ao fim da adolescência viveu com a família em Inglaterra, Venezuela, Florida e Nova Iorque. Casou-se em 1980 e fixou-se nos Estados Unidos em 1985. Durante a infância, sentia a sua criatividade ser sufocada pela necessidade de se submeter às exigências do pai, pessoa que ainda respeita, mas que qualifica de reservada («Não é uma pessoa carinhosa» disse-me ela quando a interroguei sobre a possibilidade de abuso sexual durante a infância). Eva foi sempre uma pessoa consciente com um forte sentido de ajuda, à custa da sua própria liberdade e imaginação, se necessário. David, o marido de Eva, trabalhava como engenheiro electrónico numa grande empresa de fotografia. O seu casamento era de algum modo tradicional, já que recaía sobre si a responsabilidade pelas tarefas da casa e pelas crianças, enquanto David, como principal ganha-pão, trabalhava durante longas horas na empresa. O «meu compromisso em relação a mim própria», bem como o seu forte sentido de responsabilidade, estabeleceram como condição que ninguém seria molestado pelo seu processo de evolução pessoal. Só depois da segunda regressão, em Fevereiro de 1993, nove meses depois do seu primeiro telefonema para o meu escritório, é que contou ao marido as suas experiências invulgares, tendo-lhe falado também no trabalho que ambos levávamos a cabo. Receava que David não entendesse as suas experiências e que pudesse ficar perturbado com a informação, criando-se assim uma tensão desagradável na relação entre ambos. Eva e David tinham dois filhos. Aaron, com nove anos, e Sara. Depois da nossa primeira sessão de regressão, em Janeiro de 1993, mostrou-se preocupada em relação a Sara, que estava a ter as suas póprias experiências relacionadas com o sequestro. Cerca de três ou quatro vezes por ano, acordava depois de ter «maus sonhos.» Uma A MISSÃO DE EVA 289 noite, por exemplo, um mês ou dois antes desta sessão. Sara acordou a meio da noite a gritar pela mãe. Eva foi ao seu quarto e Sara primeiro disse-lhe que tinha tido um sonho mau, mas depois disse que tinha visto um fantasma a «voar pelo quarto» que era todo branco e que «me queria levar» e «eu não queria ir». Acreditava que Sara estava «completamente acordada» e estava «cheia de energia» devido ao que acontecera, embora não tivesse falado nisso na manhã

seguinte. Eva não crê que Aaron tivesse os mesmos problemas, já que «está todo virado para os computadores e naves espaciais» que constrói no computador e «a sua imaginação é tão rebelde» que «se acordasse a meio da noite para me contar um sonho, eu não saberia se era verdade ou imaginação.» A primeira experiência de sequestro de se lembra ocorreu quando tinha quatro ou cinco anos e vivia em Israel. Partilhava o quarto com a sua irmã mais nova, que parece ter acompanhado a experiência de Eva. Mais pormenores sobre este encontro serão fornecidos no relato da primeira regressão. Antes de falar com Pam Kasey, Eva escrevera no diário que tinha começado a ler o livro de Whitiey Strieber intitulado Communion, mas interrompeu-o para «não ser influenciada por ninguém nem por nada... Aí, alguma coisa disparou na minha memória» e lembrou-se de acordar de noite e ver «três 'anões', com menos de um metro de altura». Tinham uma pele castanha escura e enrugada e cabeças triangulares. Estavam junto à sua cama e tocavam nos seus órgãos genitais com o que pareciam ser «dedos, a investigar, como se examinassem» sem forçar e sem intenção de premência ou intensidade sexual. Sentiu-se indefesa e não se conseguiu mexer, e quando tentou gritar nenhum som saiu, pelo menos no início. Eva escreveu no diário: «Andavam pelo espaço entre a parede (parede exterior) e a porta (como se andassem através da parede) e desapareceram precisamente quando a minha mãe entrou no quarto. Disse-lhe que havia anões no quarto, que tinham passado através da porta. Ela olhou. Não viu nada, obviamente. Disse-me que era um sonho e que voltasse a adormecer. Tive medo. Não acreditei nela. Tinha a certeza que eram reais. Vi-os. Ouvi-os. Senti-os. A primeira vez que me lembrei disto foi ontem à noite. Não sei o que me fez reviver isso. Estou a escrever isto agora porque o sinto. Nas minhas veias. Como se estivesse a acontecer. E sei que é verdade porque tenho inchaços em todo o lado». 290 SEQUESTRO Dez dias depois do nosso primeiro encontro, em Outubro de 1992, Eva escreveu no diário que ia de carro para Boston a ouvir a gravação da sua sessão quando se começou a lembrar de mais pormenores do seu sequestro da infância. Quando chegou à parte em que tentava gritar pela mãe «Saltei do assento do carro» e «de repente, ao olhar para as luzes da auto-estrada, uma imagem surgiu à minha frente. Lembrei-me de uma nave parecida com esta [desenhada no diário]. Era grande, de cor cinzenta, metálica. Voava junto a mim. Depois-vi um rosto feminino com olhos grandes (redondos e escuros) e verdes (como sobrancelhas) — verde claro à volta da zona dos olhos e que chegava quase à ponta [desenhado no diário]. Depois a imagem desapareceu.» A recordação foi breve, durou segundos, mas foi muito nítida, cheia de pormenores, incluindo as linhas, forma e estrutura da nave. Eva lembra-se também de outro incidente durante a infância, quando tinha cerca de seis anos, que agora relaciona com as suas experiências de sequestro. Teve uma pneumonia e foi levada para um quarto das urgências de um hospital. As luzes brilhantes assustaram-na e despoletaram uma memória de sequestro. No registo do diário do dia 22 de Maio de 1992, escreveu: «Não é como uma única lâmpada do dentista. São várias. Em cima de ti. Como pequenos projectores. E tu estás na cama, indefesa. E estranhos à tua volta.

Tocando, sentindo, investigando, experimentando. STOP. Nada mais.» Quando o médico do hospital lhe disse para se deitar numa cama e tirar a camisa interior, ela recusou. A mãe disse-lhe para tirar, mas mesmo assim não se deitou nem tirou a camisa. Embora gritasse aterrorizada «eles forçaram-me... Detestei terrivelmente». Sob acção da hipnose, Eva lembrou-se de ver uma nave espacial cerca de um ano depois, na área relvada atrás do conjunto de apartamentos em Inglaterra, onde a família vivia na altura. «É muito baixa, e tem mais ou menos três, três coisas de fogo a sair da ponta. É cinzenta e na ponta tem, uma espécie, oh, algo parecido com janelas com uma luz a sair». Eva acredita que «eles bloqueram a minha memória para que não conseguisse lembrar-me... Não te lembras absolutamente de nada», disse ela. «Senão isso interfere com a tua rotina diária.» Eva crê que os extraterrestres «têm um mecanismo de perseguição» e relata, como prova, uma experiência ocorrida quando tinha cerca de nove anos e se encontrava ainda em Inglaterra. Estava a A MISSÃO DE EVA 291 fazer saltos mortais em barras horizontais, falhou um, caiu e bateu com a cabeça «violentamente». Afirma ter sentido que «algo se mexia» dentro da sua cabeça «alguma coisa que lhes permitia perseguir-me...» Perguntei-lhe se sentia isso a mexer, como é que ela sabia. «Sei e pronto», disse. «Tiveram um sinal» com o acidente e voltaram e «corrigiram». Perguntei novamente como é que ela sabia. Respondeu-me: «Sei.» Dois outros incidentes ocorreram aos dezanove anos, na altura em que integrava o exército israelita. Num deles, que recordou em pormenor durante a nossa primeira regressão, sentiu «como se alguém me tivesse dado um tiro, uma máscara de gás, não sei o quê, para eu ficar adormecida» e quando estava a acordar ouviu murmurar na sala (na altura estava sozinha no apartamento dos pais) e «havia uma mulher e dois ou três homens à volta. Estava outra vez paralizada... totalmente imóvel» e «senti algo entre as minhas pernas... estava cheia de medo mas, ao mesmo tempo, tentava ser lógica e analisar a situação. Senti a mulher e o homem em cima de mim.» Na altura não relacionou isto com «algo extraterrestre... Pensei que eram ladrões e esperei que saíssem.» Quando se sentiu capaz de se mover de novo e olhou à sua volta, não havia ninguém ali. O outro incidente ocorreu quando estava no controlo aéreo, no turno da noite. Numa hora morta — talvez às três da manhã — baixou a cabeça para passar pelo sono e então «vi-me a flutuar do tecto... A minha consciência estava lá em cima. O meu corpo físico estava cá em baixo.» Uma «voz disse: Vem comigo, é bom» e «sabia que naquela altura era uma opção de vida ou de morte.» Embora soubesse que não tinha nenhuma doença fatal o certo é que o seu coração batia acelerado e «suava que nem uma louca». Continuou: «Eu não estava interessada em morrer e disse 'Não, não vou.'» Eva «sabia» que podia ter morrido, mas não compreende porquê e considerou este episódio confuso. As duas experiências ocorridas durante o mês que antecedeu a leitura do artigo doWail Street Journal parecem justificar o interesse pelo seu conteúdo. No primeiro incidente, descrito no registo do seu diário do dia 14/15 de Abril, acordou durante a noite e viu um «rectângulo violeta, como uma passagem para dentro/para fora de algum sítio que não era visível, talvez uma outra dimensão». Viu em se-

guida «a parte de cima do corpo de algumas pessoas vestidas de branco e que estavam em frente à minha cama.» Fechou momenta292 SEQUESTRO neamente os olhos, pensando «é imaginação minha.» Mas «quando os abri de novo... ainda ali estavam. Compreendi que, em certa medida, era real... Tive a sensação que me estavam a 'trazer a casa' — qualquer que ela seja». No dia 6 de Maio, oito dias antes de ler o artigo, Eva escreveu no diário: «A noite passada, quando fui para a cama, queria tanto encontrar-me com eles. Pedi, implorei um encontro. Ofereci-me (o meu corpo) para ser examinada de modo a facilitar o seu conhecimento sobre nós, terrenos. Quando estava quase a adormecer senti uma tontura estranha. Uma perda de gravidade, como se estivesse a rodopiar num furacão, como se estivesse a ser chupada para dentro de alguma coisa. Sabia que podia acabar com aquilo tocando fisicamente no meu marido que estava ao meu lado na cama. Mas sabia que o meu desejo se estava a realizar e não queria que aquilo parasse. De repente senti (vi?) uma luz azul-clara a envolver-me. Era azul-clara, contudo havia uma luz branca dentro da luz azul-clara. Era uma luz que acalmava, contudo alguém que eu conheço conduzirme-á ao grande conhecimento. Era magnético. Aquilo que senti não pode ser traduzido por palavras. As palavras são limitadoras. Quando senti/vi a luz as tonturas/rodopios pararam. Fiquei em branco. Não dormi bem. Sei muitas coisas. Acordei duas ou três vezes nessa noite, sendo-me difícil adormecer de novo. Estava inquieta. De manhã, quando acordei, estava tão cansada! Como se tivessse viajado toda a noite. Espero ter viajado. E espero que um dia me lembre destas viagens e tudo sobre elas para poder usar o conhecimento para ajudar a humnidade.» Na manhã seguinte, o marido de Eva, que parecera dormir durante todo o incidente, disse-lhe ter ouvido um «estrondo» durante a noite. Sentia-se «cheia de energia» e cheia de «amor e esperança». Mas estava assustada ao mesmo tempo e escreveu no diário: «Sinto que estou realmente a enlouquecer. Não posso contar ao David. Vai pensar que enlouqueci. Estava tão assustada. Não conseguia dormir. Não sabia o que fazer. Tenho de pedir ajuda?! Alguém com quem possa falar. Agora sou eu, o papel e a caneta. Mas preciso de alguém humano que me ouça. Sem me julgar. Sem expectativas. Nem acusações. Alguém com explicações, talvez.» Continuou, declarando confidencialmente que os seres não nos querem fazer mal, que estão aqui para ajudar e que «Eu amo-os.» Nas semanas que antecederam o meu primeiro encontro com A MISSÃO DE EVA 293 Eva, em Outubro de 1992, teve várias outras experiências intensas que envolviam a sensação de presenças estranhas ou a percepção consciente de entidades invulgares, incluindo «seres de uma dimensão totalmente diferente.» Durante a sessão de hipnose com um vedor de outro estado que também se dedicava ao mesmo tipo de trabalho, Eva sentiu-se recuar no tempo, a «160 ou 180 anos atrás» e a «movimentar-se de uma dimensão para outra», sentindo «uma diferença nas vibrações de energia», situada «num planeta, numa estrela, numa galáxia diferente — não sei o seu nome.» No registo do seu diário de 22 de Setembro, que escreveu depois de voltar de uma aula sobre conciliação energética, Eva explicou que «vivia simultanea-

mente duas dimensões... tinha a sensação instintiva», continuava o diário, que «estava numa dimensão superior onde o tempo linear é irrelevante.» Apesar das dificuldades de marcação da consulta, tivemos por fim o nosso primeiro encontro no dia 15 de Outubro de 1992. A maior parte da informação acima registada foi fornecida nesse encontro, no qual Eva manifestou também o seu desejo de se submeter à hipnose para poder explorar as suas experiências. «É por isso que estou aqui», disse ela. Mas houve novamente problemas com a marcação das sessões e também adiamentos, pelo que a nossa primeira regressão só ocorreu a 18 de Janeiro de 1993. Mas, durante as semanas anteriores a essa sessão, «as coisas começaram a vir à superfície». No dia 6 de Dezembro, Eva registou no seu diário uma intensa experiência ocorrida na noite anterior. «Estava quase a dormir. Mas ainda não totalmente. Deitei-me de barriga para baixo, com a cabeça para o lado esquerdo. Tinha os olhos fechados. Pelo canto do olho vi uma nave espacial cinzenta [desenhou a nave e os símbolos que vira]. Entrei em pânico. Quis gritar. Não consegui. Sentia que era capaz de interromper a experiência, mas «ganhei coragem e decidi 'viajar' para tentar obter o máximo de informação possível para P.C. [devia ter sido K] e para J.M.» A seguir a isto «fiquei às escuras» e « depois lembro-me de estar deitada sobre uma superfície dura. Talvez duas pessoas na sala... Mantenho os meus olhos firmemente fechados porque tenho medo de abri-los.» «Lembro-me que 'eles' (?) ou eu, não tenho a certeza de quem, estará com um traje/vestido com muitos botões pelas costas abaixo. Estava em posição fetal, de costas para eles. Eles estavam a 294 SEQUESTRO fazer-me qualquer coisa na espinha. Toda a minha espinha estava dorida e fria. Era horrível! Parecia que estavam dentro do meu corpo com um instrumento muito afiado (seringa?) e que o enfiavam entre a minha carne e a pele. A sensação de dor persistia. Numa determinada altura, comecei a mexer-me, tentei resistir, embora ao mesmo tempo tivesse medo das consequências. A certa altura, com os olhos fechados, fiz uma tentativa para obter mais informações. O ar era húmido. A superfície onde estava era dura e um pouco escorregadia. Tinha a sensação que o quarto não estava bem iluminado, mas não tenho a certeza porque tinha os olhos fechados.» «Continuei a resistir e percebi, em determinada altura, que estavam a terminar a situação/experiência. Antes de bloquear de novo, lembro-me que vi este símbolo [desenha-o] a vermelho. Não era a primeira vez que via isto... Lembro-me que a seguir estava na cama, a escutar o meu marido. Estava em posição fetal! Adormeci deitada de barriga para baixo. Sentia-me novamente dominada pelo pânico, coisa que não ancontecera anteriormente. Queria acordá-lo e dizer-lhe que fora «levada» para algum lugar. Também sabia que ele nunca acreditaria em mim. Pensaria que era louca. Pensei talvez em telefonar a P.C. ou a J.M. Não queria incomodá-los. Eram 5h30m da manhã. No dia seguinte, senti-me abalada. Ainda me sinto. Tento relaxar, aceitar e, de algum modo, encontrar um sentido para isto.» Sentiu-se «irritadiça durante dois dias» e tentou «esquecer o assunto.» A 22 de Dezembro, Eva fez referência no seu diário à relutância que sentira em escrever os pormenores do incidente anterior como se «ao escrever estivesse a legitimar toda a ocorrência e eu, na altura,

não estava preparada para isso.» Teve sintomas de frio e de gripe e interroga-se se não teriam sido «causados pelo 'sequestro' e ter estado 'semi-nua', e a injecção de sei lá o quê, etc. O facto de estar despida e me terem injectado uma substância estranha pode ter causado uma reacção. PS. Ninguém da minha família teve sintomas de frio/gripe na altura.» Seis semanas mais tarde, no decorrer da discussão sobre este incidente, Eva disse que a intensidade das sensações físicas que tivera convenceram-na que o incidente «era real... Tinha sensações. Senti que me magoavam. Senti dor. Estava frio.» A sua primeira sessão de hipnose realizou-se a 18 de Janeiro de 1993. Sentia ansiedade e também curiosidade. «Adoro o desconhecido», disse ela, e conversámos sobre a sua determinação em continuar, apesar das dificuldades de marcação durante as férias. Antes de A MISSÃO DE EVA 295 induzir a regressão recapitulámos o incidente da infância quando os «anões» entraram no seu quarto, bem como o recente episódio, acima descrito. Em estado de transe, Eva disse logo que estava deitada sobre «uma coisa dura» com «algo em cima de mim, pareciam hieróglifos.» Sentiu medo e ouviu-se a si própria a gritar. Uma figura vestida de preto e verde saiu do que parecia ser um elevador cinzento. «Está frio no quarto... Ele diz-lhes para parar. Dão-me qualquer coisa, parece que estou a ser chupada para dentro de uma luz branca e já não o vejo. É de manhã. Sou uma criança em Israel. Não me lembro de nada e só ouço a minha mãe a dizer-me para me levantar para ir para a escola, para me vestir.» Eva, sob minha orientação, retomou a experiência nocturna. «Quando me traziam de regresso», viu uma nave cinzenta, em «forma de cúpula» com luzes vermelhas, sobre a varanda do seu apartamento do quarto andar. A parte superior da nave parecia ser um aro circular que girava e emitia «uma espécie de luz ou energia» e «é o seu meio de transporte.» Viu três seres que pareciam anões, com pele castanha e «toda enrugada», envergando fatos verde-azeitona e castanho escuro avermelhado com cintos pretos. Não tinham cabelo e as cabeças eram em forma de pêra, os olhos eram muito escuros, «como breu» e narizes «moles». Embora a sua mãe verificasse quase todas as noites se as portas estavam todas fechadas, quando Eva gritou por ela, os seres fugiram por uma abertura na porta do seu quarto. Quando Eva falou à mãe sobre os anões e de como tinham saído pela porta, a mãe respondeu-lhe: «O que é que estás a dizer?», a porta estava fechada, e «é um sonho». Eva insistiu que tinha visto os seres a sair e a mãe repetia «'é um sonho. Volta a dormir'. E foi o que fiz.» Interessava saber se Eva se conseguia lembrar do início da experiência. Disse que o pai deve ter lido ou inventado uma história para as adormecer, a ela e à irmã, e depois deixou-as sozinhas. A cama tinha uma grade para evitar que Eva caísse. Foi acordada por um «zumbido» e os seres, que eram mais pequenos do que os humanos, apareceram primeiro ao pé da grade, «e depois apareceram umas coisas parecidas com holofotes no quarto», vindas de fora. Os seres pareciam saber «quem procurar» porque «continuam a chegar». Sentiu medo, «até de chamar a minha mãe» e fechou os olhos, virada para a parede numa posição fetal («a melhor posição defensiva») para «que aquilo se fosse embora». Ouviu murmurar e os seres 296

SEQUESTRO

injectaram-lhe nas costas uma coisa parecida com uma agulha para a sossegar. Desta vez — o primeiro incidente que Eva conseguiu recordar — saiu a flutuar da sua cama em posição horizontal sobre uma espécie de padiola de lona e madeira. Depois foi «sugada» para a escuridão exterior e para o topo da nave iluminada que era «como um feixe luminoso com energia especial» emanando do interior do aro, no topo da nave. Eva sentiu um misto de terror e confusão quando viu a sua varanda e o edifício do lado, como se estivesse fora de casa. Eva estava na «sala de observação», no interior da nave, sobre uma mesa com «gente pequena e luzes» à sua volta. Havia «muitos botões vermelhos e verdes... parecidos com os dos sistemas computorizados. Mas era diferente.» Os seres pequeninos lembravam-lhe os anões da Branca de Neve e pareciam mais brilhantes do que os que tinham estado no seu quarto. Um dos seres comunicava com os restantes — e não directamente com Eva — numa voz «muito parecida com a nossa», e dizia que o seu objectivo era «fazer experiências comigo», não ia fazer mal algum. Eva estava «em estado de choque», sentia-se indefesa, quando os seres tocaram nas suas pernas, espinha, pescoço e testa com «coisas afiadas» como se «estivessem a tentar entender». Conseguiu ver um instrumento prateado com a ponta redonda que foi inserido na sua testa. Um fluido branco ou amarelo pingou-lhe sobre o nariz. Os seres pareciam-lhe tão excitados quanto divertidos «porque continuavam a comunicar uns com os outros» animadamente. Talvez estivessem «a acelerar demasiado... a exagerar», porque o líder chegou, disse-lhes alguma coisa e «calmamente, calmamente pararam... Concordava com o objectivo original, mas é uma situação idêntica à do professor que sai da sala de aula e as crianças começam a brincar e a fazer as suas coisas.» O regresso reverteu o processo de sequestro; pareceu-lhe que descia «por uma rampa de volta à minha cama». Aí «eles estavam junto à grade para se certificarem que eu estava bem». Quando «readquiri fisicamente os movimentos, gritei e eles fugiram.» Depois de recordar esta experiência, Eva ficou com a sensação que não era «a primeira». Embora não se lembrasse de pormenores, sentia que alguma coisa tinha acontecido quando tinha dois ou três anos de idade. Tem a certeza que os seres são capazes de a «perseA MISSÃO DE EVA 297 guir» e recordou os incidentes ocorridos quando tinha nove anos, anteriormente descritos, em que procederam à «correcção» de um implante que se tinha deslocado durante uma queda. Tem a impressão que as memórias do sequestro da infância foram bloqueadas pêlos extraterrestres. Perguntei-lhe directamente qual a experiência que recordava a seguir. Respondeu: «Tinha dezanove anos, em Israel, estava no exército, e estava a dormir. Aconteceu a meio da noite no apartamento dos meus pais, sozinha, acordei porque ouvi murmúrios, senti e ouvi sons que me pareceram pessoas a entrar no meu quarto e na sala de estar e pensei talvez ladrões ou coisa do género, por isso não me mexi.» Eva sabia que as janelas estavam fechadas e a porta, que «chia quando se abre», estava trancada. Ficou imóvel quando viu «três seres ali em pé... Estavam a murmurar, e um deles saiu do quarto e o outro voltou; tocavam-me entre as pernas e eu não entendia porque não estava a sonhar». Em pânico, Eva tentou gritar, mas

não conseguiu emitir um som sequer. Sentiu que uma espécie de dedos examinavam o interior da sua vagina. «Não era agradável. Não conseguia compreender», disse Eva. Pensou que talvez fossem os seus próprios dedos, mas «tinha as mãos ao lado das coxas». Não sabia se esta experiência ocorrera no seu apartamento ou noutro lugar. Manteve os olhos sempre fechados, embora sentisse muita luz através das pálpebras, e pensou que era de manhã cedo. A posição do seu corpo era contraditória. «Quando tomei consciência do que estava a acontecer, parecia que estava de lado, mas quando aconteceu estava de costas. Não sei.» Depois desta experiência acabar, Eva tentou esquecê-la e só a relacionou com as experiências de infância depois de me contactar. Calcula que foram dez os encontros que teve até aos dezoito anos e que «se interessam mais pêlos seres humanos adultos do que crianças.» A partir daqui, Eva deixou de utilizar o discurso directo para relatar as suas experiências e começou a falar das razões da actuação dos extraterrestres e do significado do fenómeno da sequestro, tendo por base informações que eles lhe forneceram. «O seu objectivo é viver em harmonia. Não querem tirar-nos nada. Querem estudar-nos para ver como podem comunicar... Há diferentes dimensões, mundos dentro dos mundos», acrescentou «e ir de um para outro é como a montanha russa. É preciso utilizar toda a energia e depois vais para outra dimensão, onde a realidade é diferente. Na transição 298 SEQUESTRO de uma realidade para outra, sentimo-nos a contrair e a expandir ao mesmo tempo... É como se, por um lado, fôssemos parte de tudo, e por outro, tudo fizesse parte de nós», mas «ao mesmo tempo, contrais-te num ponto infinitesimal.» Isto é «absurdo, porque são duas ideias em conflito», mas este absurdo contém o «segredo da mudança de uma dimensão para a seguinte.» A partir daqui e até ao final da regressão, Eva adoptou uma perspectiva diferente e passou a usar apenas o pronome «nós», como se encarnasse o ponto de vista da comunidade extraterrestre. «E como se não fosse eu a falar», disse. Sentiu dificuldades ao nível físico devido à intensidade da experiência neste domínio e as dores que sentia nas mãos tinham origem nas energias bloqueadas. Os seres extraterrestres tinham ido embora e ela via a estrutura de um triângulo branco. «É muito intenso», disse ela. «Podem causar danos» ao corpo humano. Os seres emanam «de diferentes dimensões, para além da física», observou Eva «e precisam de alguém que esteja mais perto do ser humano que, de certo modo, seja capaz de comunicar fisicamente com eles... A informação que conseguem retransmitir», disse Eva, «possui tamanha intensidade que precisam de algo que a refreie». Os contactos com os seres humanos servem precisamente para isso, ou seja, para abrandar a transmissão de informação. Eva acrescentou que a informação fornecida pêlos seres extraterrestres provém de outra inteligência, de um domínio que está para além do mundo físico. Mas a maior parte das pessoas menospreza isso, rejeitando por medo o que dizem ser pensamentos «loucos» ou simplesmante «imaginação». Para haver receptividade em relação a esta informação é necessário que os seres humanos sejam capazes de pôr de lado as suas preocupações diárias, como o trabalho, as crianças, o casamento — a nossa habitual «inconsciência». Contudo, insistiu Eva, é importante que ultrapassemos a nossa necessidade de poder e controlo a este nível, e que tomemos consciência que existe

vida noutros lugares, embora «não necessariamente sob a forma física.» Um dos problemas que sentem quando nos contactam, disse ela, é que os seres humanos precisam de ter a «prova física» através dos «cinco sentidos», coisa que «nós» estamos «a tentar fornecer». Isso é difícil porque nós não «somos constituídos por informações físicas... Não nos situamos na dimensão espaço/tempo. Não temos forma nenhuma... Somos todas as coisas. Podemos dizer Eu ou Um. Não interessa... Somos uma ramificação do Eu» ou «o que vocês A MISSÃO DE EVA 299 associam a Deus.» Ela própria é «um veículo através do qual podemos transmitir essa informação». Quando a regressão acabou, Eva agradeceu-me «por nos ter deixado fazer ouvir» e teve medo de abrir os olhos. Depois de sair do estado hipnótico, Eva disse que a experiência lhe parecera autêntica. «Era eu. Sei que era eu», disse ela. «Mas era um outro eu.» Referiu-se à dificuldade em integrar o mundo que conheceu através dos contactos, com a sua vida doméstica. «Agora estou a passar por tudo sozinha», disse. Acrescentou que não falara com o marido sobre as mudanças ocorridas. «Ele só sabe umas coisas», disse. Convidei-a a partilhar a sua experiência no meu grupo de apoio mensal, e Eva agradeceu e acedeu participar. Depois falou sobre a recente experiência da sua filha, do «fantasma» que voava no seu quarto. Quando a sessão se aproximava do fim, Eva referiu-se ao torpor que sentia permanentemente nas mãos, mas de resto estava bem. Considera-se uma «pioneira» e uma «guerreira» que gosta de «desafios». Mas ao mesmo tempo sentia-se «triste porque não compreendo o que se está a passar.» Mostrou-se relutante em falar da nova informação que está a receber, com medo que os outros não compreendessem. Falei-lhe do esforço que fazia para aprender a encontrar maneiras de falar sobre a informação que estava a receber. Depois da sessão, Eva teve uma súbita, mas intensa dor de cabeça, que desapareceu instantaneamente . Depois sentiu-se bem. Ouviu a gravação da sessão e disse sentir-se agora mais capaz de aceitar a realidade das suas experiências. Estava especialmente satisfeita por poder falar sobre as suas experiências com alguém que «acreditava que não eram invenções.» Sentia-se cheia de energia, mas queria ser capaz de a controlar melhor. Escrever o diário — quinze páginas por dia — ajudava-a muito. Foi marcada outra regressão para 22 de Fevereiro, um mês após a primeira, com o objectivo de integrar as experiências de sequestro na sua vida diária de esposa e mãe. Antes de começar a regressão, Eva falou sobre a dificuldade de lidar com «o lixo que estava acumulado», referindo-se à tensão entre a sua rotina «conservadora» e a expansão intuitiva do seu auto-conhecimento, relacionado com o sequestro. Com um filho e uma filha, Eva sentia que tinha completado um «círculo» e que estava agora preparada para se centrar da sua «missão global, particularmente o seu papel como «uma comunicadora entre a humanidade e o 300 SEQUESTRO resto — ET, OVNI, o que quer que lhe chamem — com uma inteligência superior». Falou de seguida do crescente recalcamento da sua criatividade e da já mencionada necessidade de agradar aos outros. Talvez a sua missão fosse a de ser uma conciliadora, especulou, fazendo que as pessoas se libertassem dos efeitos doentios dos siste-

mas institucionais. Poucos dias antes do encontro, Eva teve a visão de um triângulo de luz branca e amarela com o vértice para baixo (símbolo comum do princípio feminino ou arquétipo da Grande Mãe) com círculos no seu interior (que representam usualmente a universalidade, o conjunto). Antes de iniciar a regressão, Eva referiu o desejo de se lembrar melhor das suas experiências, de se «abrir» ao serviço do seu eu superior e de «deitar fora o lixo». Mais uma vez, Eva mostrou dificuldade em navegar entre aquilo a que chamamos «o mundo que constitui a realidade para a maior parte das pessoas» e os novos domínios da sua experiência. «Para mim, são ambos reais», disse ela. Durante os primeiros minutos da regressão, Eva falou abstractamente sobre as dimensões da realidade, sobre o que é possível perceber e falar, da verdade cósmica e outros tópicos similares. Mas o ponto principal da sessão foi a sua intensa luta para integrar a sua rotina diária e a vida relacionada com o sequestro, especialmente os problemas de comunicação aberta com o marido. A sua primeira imagem foi a de círculos pretos rodeados de luz dourada, que brilhavam como «manchas solares» e que «vinham direitos à terra». Algumas pessoas eram capazes de se aperceber disto, disse ela, mas para outras isto não existia. Descreveu o objecto como a «energia» que «não pode ser apreendida através dos cinco sentidos, mas que contudo é real. Tal «objecto pode ser apreendido por aqueles que conseguem harmoniza-se com aquela dimensão da comunicação e será invisível para os restantes». Para apreender para além da dimensão física, é preciso desejar essa comunicação, disse ela. Alterando para a forma «nós», Eva referiu a dificuldade na transmissão de informação sobre aqueles assuntos que estão «para além do tempo e do espaço lineares.» Parecia que estava quase a discutir comigo, como se eu fosse protagonista de uma filosofia materialista. «Se tu apreendes, isso existe; se não apreendes, não existe. O mesmo se passa aqui [ou seja, com os círculos negros e dourados]. Estás a tentar apreendê-los dentro de certas limitações, mas eles situam-se para além disso...E como existir e, ao mesmo tempo, não existir, e tu A MISSÃO DE EVA 301 tentas fazer que digamos que existe ou que não existe». O debate prosseguiu à volta da identidade do «Eu» de Eva (pessoal) e do «nós» (extraterrestre/universal) O objecto preto/dourado, segundo o relato de Eva, era denso, e tinha dentro várias energias e cores, verde, amarelo e vermelho. «A forma como te descrevi o objecto», disse ela, «é como se tivesse um interior e um exterior, e aquilo tem limites, mas realmente não tem. Por isso é-nos difícil colocá-la [Eval dentro ou fora dela.» Essas cores, prosseguiu Eva, representam diferentes frequências ou «níveis de energia, mas na verdade o vermelho não existe, nem o amarelo, nem o verde, nem nenhuma das outras cores.» Prosseguimos mais um pouco neste tema e Eva falou sobre a informação relacionada com a «verdade cósmica», confiança, comunicação através de cores, vibrações e outras mais. Mas cedo desceu à Terra, observando que sofria de um «velho hábito» de «não acreditar em si própria» e do quanto lhe era difícil aceitar as suas novas facetas que tinham estado «ocultas». Tinha «uma doutrina muito rígida e terrena», notou ela. Encorajei-a a falar sobre isso e Eva respondeu rudemente: «Acredito que, número um, as minhas responsabilidades centram-se na minha família e filhos e

em todas essas coisas mundanas rotineiras. Número um. Depois disso, considero-me livre para fazer o que me apetecer ou para manifestar aquilo em que acredito desde que NINGUÉM, e sublinho e acentuo, NINGUÉM saia magoado deste processo, física, emocional ou mentalmente. E se estas duas coisas forem atingidas, então tudo o resto está bem. Eis a sua doutrina.» Com a definição nítida do contorno do dilema de Eva, foi-nos posssível proceder a uma investigação mais profunda. Disse que a sua doutrina não funcionaria a um nível cósmico, que ela teria dificuldades em navegar entre as suas responsabilidades terrenas e o seu Eu superior usando um suporte tão rígido. Eva sugeriu que poderia ser a «Supermulher», mas eu insisti que a evolução espiritual não pode ocorrer sem dor, envolvendo por vezes aqueles que amamos. A discussão continuou de uma forma um tanto argumentativa durante algum tempo, com considerável resistência (Eva chamou-lhe «tensão dinâmica») por parte de Eva, recusa da sua luta e reafirmação do seu «compromisso pessoal em relação a si própria» no sentido de não magoar ninguém, ao mesmo tempo que reafirmava a sua motivação em ir para a frente. 302 SEQUESTRO Encorajei-a a comentar o que sentia fisicamente. Disse-me que era difícil quando «se é um corpo, mas não se é um corpo» e que eu a estava a confundir. Pedi-lhe para me dizer novamente o nome do marido e ela perguntou-me porque é que isso era relevante e aí referiu «pancadas na cabeça» como «se fosse alguém com um martelo» e «o meu coração a bater depressa». Mais recusa da dor, confusão e a recusa de a distraírem de mais considerações abstractas com o objectivo de considerar o seu corpo perseguido, mas Eva admitiu «desafios» para «transcender ao passo seguinte». De seguida, teve consciência «ela está [sic]a. sentir a dor do lado direito... É a dor de Eva. Sinto-a agora. Não dói, mas é uma dor.» Mas disse: «Tu é que a criaste!» Recuámos até ao seu compromisso de «não magoar ninguém» e admitiu com a fala bastante enrolada o problema de conciliar os compromissos assumidos fora da «encarnação» ou «tempo e espaço lineares» com os que operam «dentro dessas limitações de espaço e de tempo.» Durante a sessão, a ruptura deu-se quando perguntei a Eva quais eram os «custos» no âmbito da sua missão global, do facto de não falar com o marido e filhos sobre as suas experiências. «Se fosse em dólares, você não conseguiria pagar», foi a sua resposta. Depois acrescentou rapidamente: «Estamos a brincar.» Falou em seguida sobre a vulnerabilidade do marido, especialmente em seguir uma carreira ligada aos negócios. E «um grande homem», mas parece ter aceite a «perspectiva terrena» dominante» e os «sistemas de crença» desta cultura e está a trabalhar numa empresa, e «aqui está a sua mulher — ou que pensa que é sua — como acontece com a maioria dos homens da nossa sociedade — é uma propriedade — eis a sua mulher a fazer essas grandes viagens, viagens cósmicas... Como é que isso o afecta?», perguntou. Percebi como a questão era sensível e perguntei-lhe até que ponto o facto de não lhe ter falado sobre as experiências a «fragmentava». «Por vezes isso deixa-a [sic] despedaçada» admitiu Eva, acrescentando que «ela se sentia mal» no emprego, mas não o largava devido à «situação financeira». Encorajei Eva a falar na perspectiva do «Eu» e questionei-me sobre os sacrifícios que estava a fazer devido ao seu compromisso

pessoal. Opôs-se à palavra «sacrifício», mas concordou que «algo não estava bem». Falou seguidamente sobre os seus planos para largar o emprego, sabendo que isso deixa David «assustado», e reafirmou a sua determinação de ajudar os outros. Dir-lhe-ia: «Isto sou eu. A MISSÃO DE EVA 303 Isto é parte de mim e isto é o que eu amo. E se não és capaz de aceitar, significa que não és capaz de me aceitar conforme sou.» Quer «desesperadamente» utilizar a sua criatividade, disse, e tem de encontrar uma «base, um compromisso comum» com David para ser capaz de levar adiante a sua missão global. Referiu de seguida os contactos tristes que tivera no passado quando tentara comunicar a David a sua determinação em seguir o seu próprio caminho. Falar com David sobre os seus encontros com extraterrestres seria, segundo as suas previsões, o desafio mais difícil de todos. «É como aquelas manchas solares do início da sessão», disse «aquele anel dourado. Deixou de haver uma margem definida». Tentara ocultar os encontros dentro da «sua pequena carteira» com «uma fechadura, onde guardava o diário, as cassetes e o resto». Mas as chamadas telefónicas do nosso grupo começaram a surgir e, gradualmente «deixou de controlar o segredo». David sabia, por exemplo, que ela consultava um psiquiatra. Assim, a «linha de fronteira» entre o que «ele deve saber e o que não deve saber» é «questão de percepção» e «essa linha de fronteira vai diminuir e desaparecer.» Tencionava contar-lhe «resumidamente» os seus encontros. «Não são necessários muitos pormenores — dizer-lhe que existem, que há comunicação superior e um sentido da missão global, isso será suficiente». Exprimi as minhas dúvidas se seria assim tão simples e conversámos sobre as tensões que a esperavam. Curiosamente, considerou a perspectiva interessante e desafiadora. Quando terminávamos a regressão, Eva pediu para ficar sozinha durante cinco minutos. A seguir, falou sobre um livro infantil, escrito em hebraico, intitulado Soul Bird que se referia a um pássaro que existe dentro de cada ser humano que contém muitos compartimentos, «um compartimento para a ira, um compartimento para a alegria, um compartimento para o ciúme, para o amor, para o ódio, e nós somos os únicos que temos a chave desses compartimentos. E decidimos que compartimentos queremos usar em qualquer altura.» Reflectiu um momento e disse: «Será que devo abrir mais compartimentos?» Falámos da oportunidade e depois os seus pensamentos regressaram a David. Quem sabe se para realizar sua missão, não iria causar dor alguém? Talvez fosse o que David queria. «Se calhar é uma coisa que está a criar para si próprio, para transcender, como pessoa, para o nível seguinte.» Estava a pensar dizer-lhe a verdade sobre a sua experiência de forma mais completa, pois achava que ele 304 SEQUESTRO só mudaria a sua visão das coisas «com uma espécie de desafio maior». Quando a sessão estava a chegar ao fim, falámos sobre as restrições particulares que o ambiente colectivo coloca na evolução da consciência das pessoas. A seguir a esta sessão, Eva sentiu de novo uma intensa dor de cabeça e esteve cheia de sede durante um dia ou dois, o que associou com a libertação de energia e com a sua abertura à «informação cósmica». Numa carta escrita duas semanas depois da regressão, falava-me sobre a sua atracção pêlos «desafios do desconhecido

(consciente)». Em notas escritas no diário, registadas três dias depois da sessão, falava de planos para ir a Israel durante o Verão e de experiências de vidas passadas, incluindo um sequestro, encarnando um rapaz de cinco ou seis anos do século dezassete (descrita no relatório da nossa terceira sessão de hipnose, a 15 de Março). Descrevia também como sentiu o colapso de espaço/tempo relacionado com os encontros («o passado e o futuro estão a ocorrer agora e para sempre»), o desejo de paz e entendimento globais e apontou outras considerações filosóficas e espirituais sobre a evolução da consciência e «verdades cósmicas» inspiradas na audição da gravação da sessão de 22 de Fevereiro. Escrevendo na voz nós/ela de dimensão cósmica, Eva descreveu a necessidade que os seres tinham de «adaptar a nossa comunicação de níveis superiores de vibrações aos níveis de vibração terrena (verbal)». Para deste modo «abrandar» e «vibrar em níveis mais subtis... é preciso prática... Estamos agora a usar a tempo inteiro o corpo de Eva, com o seu consentimento. Em termos terrestres, Eva não partiu, mas misturou-se connosco para que os seus poderes terrenos sejam realçados, por assim dizer.» Eva chamou a atenção para as limitações em usar palavras para descrever experiências tão profundas, especialmente a relação do plano de existência terrestre com outras realidades. Registou no diário que, depois da sessão, ia falar com David sobre as suas experiências. «Ele não mostrou muito interesse. Não deu mostras de qualquer forma de apoio. Não fiquei surpreendida. Não esperava outra coisa. Não sou rancorosa. Aceito totalmente. A minha hipótese: sente rejeição e mágoa.» Embora David insinuasse que fazia parte do jogo, Eva disse-me mais tarde que tinha dúvidas se a sua pretensão de envolvimento era genuína. David disse que eles deixaram uma marca no seu pé, que eram anões e que os tinha A MISSÃO DE EVA 305 visto, mas não pareceu revelar muito interesse. «Se é uma experiência séria ou não, o tempo o dirá... Contudo, acrescentou que eles deviam contactá-lo. Tinha muita informação para dar. Sugeriu também que, para me ver livre do medo, devia ensinar-lhes um jogo que pudéssemos jogar juntos. E eles ensinavam-me um jogo deles. É interessante notar que o medo quase desapareceu na manhã seguinte. E o sinal vermelho no meu nariz apareceu dois dias depois disso. É como um sonho, só que a proposta foi aceite por ambas as partes e o medo desapareceu por si.» Pouco depois da sessão de Fevereiro, Eva sonhou também com casas a arder, que interpretou como sendo uma representação do «'lixo' queimado que precisava de ser destruído por causa das outras pessoas.» Enviou também dois registos do seu diário, escritos durante o Verão anterior. Num deles descrevia que estava fora do «planeta Terra» e via uma nave espacial rodeada por uma luz dourada. Conseguia comunicar telepaticamente com as entidades que estavam lá dentro e teve a noção que era muito amada e que acabaria por se reunir a eles. «Era eterna, com uma mente jovem». No outro registo descrevia uma vida passada como adolescente dos anos 30 ou durante a Segunda Guerra Mundial. Viu um bebé nos seus braços e acredita que esta experiência explica o seu amor por todas as crianças. Numa nota datada de 9 de Março que acompanhava uma oferta de fruta ou outro alimento em comemoração do Purim, festa da libertação judaica, Eva escreveu: «Graças a ti e a

outros, estou a aprender a controlar as energias de forma mais produtiva.» Marcámos uma terceira regressão para o dia 15 de Março. No início da sessão Eva contou que, antes de uma conferência realizada na sua escola de energia e salvação, foi dormir um pouco, mas não conseguiu adormecer, sentiu-se inquieta, ouviu música e «então começou». Encarnou um rapaz de cinco ou seis anos de idade nas montanhas, algures na Europa. Vivia com o pai, um homem rude, de cabelo loiro, numa cabana de madeira. Descreveu a roupa, incluindo os pormenores do desenho dos seus aventais brancos. «Tínhamos na cabeça uma coisa parecida com um yarmulke, parecido com um boné ou algo do género.» Virou-se para a esquerda e viu um «disco, uma nave espacial». Pareceu-lhe que tinham passado poucos minutos e «caminhei em direcção a essa nave espacial seguida pelo meu pai e estava muito frio. Ou seja, não se conseguia mexer, não conse306 SEQUESTRO guia falar. Parecia que estava gelado.» Ainda encarnando o rapaz, viu «um daqueles anões a sair». Depois estava dentro da nave, que levantou voo quando olhou pela janela para o pai, que «descongelara» e olhava para cima com lágrimas nos olhos. «Parecia que tinha percebido. Parecia que sabia desde sempre» que «eu lhe fora dada fisicamente através da concepção», mas que, noutro sentido, eu não era sua filha. «Limitou-se a aceitar o que estava a acontecer.» «Recordo de novo aqueles anões», continuou Eva, «os mesmos que eu me lembro quando tinha quatro ou cinco anos. Os olhos eram, novamente, muito escuros, mas vi neles muita emoção, muita compreensão, muito amor. Como se tivéssemos voltado por causa de ti, qualquer coisa do género, e depois lembro-me da cor de alfazema e é tudo.» De qualquer maneira, sabe que isto se passou no ano de 1652. Mais tarde, esta experiência serviu para a convencer que não «era daqui», não era «terrena». Os «ET», disse «têm capacidade para entrar na nossa dimensão espacial e temporal e para sair sempre que queiram». Relacionou esta capacidade com a experiência de 1652. «É como se eu fosse trazida para a terra — não sei porque é que fui trazida durante cinco ou seis anos, ou outra idade qualquer que tinha na altura, e depois fui levada para outra dimensão sem espaço e sem tempo como os conhecemos.» Nesta vida, Eva é «uma forma de energia a que foi dado um corpo para cumprir uma determinada missão» e que está relacionada com uma espécie de experiência total « de vida terrena.» Conversámos depois sobre as dificuldades de percepção e comunicação entre os seres extraterrestres ou espíritos de cultura e as formas terrenas, e sobre as escolhas que as nossas almas fazem «entre as probabilidades infinitas que temos à disposição», como é o caso da encarnação na Terra, num determinado tempo e lugar. Recapitulou depois as conversas que teve com David sobre as suas experiências. Falara com ele e com outras pessoas «sobre coisas que nunca antes imaginara». David parecia «que estava em estado de choque no início», seguido de um comportamento de «recusa total». Actualmente refere-se em tom um tanto ou quanto sarcástico «aos teus amigos do outro lado» que «são isto, aquilo ou aqueloutro». Eva descreveu outras experiências relacionadas com o sequestro durante as quais foram utilizarados «outros procedimentos, cirurgias, chame-se o que se quiser», para remover os blocos de energia.

A MISSÃO DE EVA 307 Reparou que as manchas azuis e vermelhas na mão, peito e outras partes do corpo não tinham desaparecido. Através da hipnose, Eva esperava saber mais coisas sobre a encarnação de 1652 e preveni-a para que não tentasse rotular cada uma das experiências. «No fundo», sugeriu ela, talvez «nós já saibamos para onde vamos antes de chegar aqui.» Acrescentou que mesmo os ET que «vemos fisicamente não passam de uma forma que adquirem para entrar nesta dimensão... Qualquer que seja a sua proveniência», disse, «não é esse o aspecto físico que têm». As suas almas podem manifestar-se de diferentes formas. «Por isso é que nós temos imagens diferentes» dos seres. Algumas pessoas dizem que são vermelhos, cinzentos, castanhos, com rugas, sem rugas, o que quer que seja — é uma combinação da sua aparência bioquímica energética e dos nossos meios de percepção... Mas há uma base comum», acrescentou. Durante a regressão, a primeira imagem que teve foi a da encarnação numa menina de quatro ou cinco anos, que nadava com golfinhos seus amigos, dentro de uma gruta. Uma força puxou-a para fora de água, mas «os golfinhos ficaram à espera». A menina foi puxada da «memória da origem» do seu ser para um domínio «de crescimento e responsabilidade». Esta perda de memória é necessária, disse ela, «porque se, no mundo físico, a memória da origem estivesse mesmo ali, não haveria a iniciativa de experimentar, e assim tudo retrocederia.» Fi-la regressar à experiência da menina na gruta. «Ela está sempre a voltar, a encarnar para cumprir uma missão», disse Eva. Com um ar um tanto ou quanto abstracto continuou: «a constituição energética da menina alterar-se-á com a experiência.» A sua energia tornar-se-á mais subtil e elevada «até que, de uma certa perspectiva, se possa dizer que não há vibração de energia. O processo é todo o mesmo e recomeça novamente.» Os sequestrados, segundo Eva, «são almas que escolhem a probabilidade da forma física para os seus objectivos individuais.» Mas através das suas experiências «readquirem a memória da origem... O processo de sequestro é um dos que permite readquirir a memória.» A «própria experiência de sequestro» segundo afirmou «é um mecanismo que se destina a remover» as «estruturas que impedem o contacto com a origem» e que se destina também a «purificar o veículo físico de forma a servir para recuperar uma memória melhor e dá-la conhecer aos outros.» A «tortura física e emocional» dos sequestros 308 SEQUESTRO faz parte de um processo de equilíbrio. Afirmou que «nunca senti realmente medo» e «se houve medo, isso teve mais a ver com o facto de não ser capaz de entender o que se estava a passar, e não o medo em relação a algo horrível, escuro, mau e desconhecido. De certo modo, o processo foi-me sempre familiar.» Perguntei o que é que ela queria dizer com familiar. O sequestro «sente-se como familiar. É como estar em casa. Tudo é conhecido», disse ela. Perguntei-lhe até onde chegava a sua memória dos sequestros. Mencionou vidas passadas no tempo da I e da II Guerras Mundiais e «muito antes disso, em Marrocos». O seu «esforço» em cada momento destinava-se a «ajudar a humanidade a vencer a cegueira». Pedi-lhe que falasse sobre Marrocos. Encarnara a figura de um comerciante rico, Omrishi de seu nome, do início do século XIII, que tentava «fazer trabalho de sapa» entre os oficiais corruptos

pertencentes à família real reinante que dominava o governo da cidade. Omrishi era muito conhecido devido à sua riqueza e às suas «ideias e ideais» reformistas. Organizou grupos de milícias para conseguir uma maior igualdade económica para os habitantes da cidade e tentou infiltrar-se no governo local com os seus apoiantes. Um dos pontos do seu plano era criar o caos na cidade de modo a facilitar o derrube da família reinante, obrigando-os à fuga, mas foi traído por uma mulher que escutou uma das conversas sobre o golpe e transmitiu-a aos oficiais. Homens a cavalo, vestidos de preto com lenços brancos — «os guarda-costas da família reinante» — vieram à tenda de Omrishi para o prender. As mulheres à volta dele choraram e as crianças esconderam-se, pois sabiam o que ia acontecer. Foi levado para um edifício de pedra branca que cheirava mal porque as pessoas vomitavam e urinavam ali. Queriam decapitar Omrishi e disseram às pessoas para se juntarem no centro da cidade para verem a execução, pois queriam «infundir ainda mais medo». Depois da prisão, Omrishi foi retirado da cela para ver onde se realizaria a decapitação. Na manhã seguinte, às dez horas, «levaram-me, puseram a minha cabeça em cima daquela coisa e trás.» Foi uma sensação de «alívio, liberdade», de «uma alegria crescente, dilatada... Não se consegue descrever», disse ela. «Só sentia uma luz branca, dourada». Viu uma pomba a libertar-se de uma gaiola «que era eu, simbolicamente... É a minha alma.» Pedi a Eva para falar mais sobre a «viagem» da sua alma e os seus pensamentos regressaram à menina a nadar com os golfinhos. A MISSÃO DE EVA 309 Isto representa o «trajecto da alma da criança» que regressa «de tempos a tempos, à dimensão física», por várias razões. Uma delas é «experimentar a vida física, o corpo físico, as sensações e percepções físicas, sentimentos, emoção, dor e tudo o que o mundo físico oferece». Além disso, a «compreensão através da experiência» possibilita que as almas «voltem de tempos a tempos» à forma física «para prestar ajuda aos que ainda não se lembraram». Omishiri, por exemplo, plantou «uma semente no coração das pessoas» e «em termos de tempo terrestre, a semente dará uma árvore e a árvore dará frutos.» Perguntei a Eva qual era o papel do sequestro neste processo. «Limpar o corpo, o corpo físico, para permitir que passe mais informação», respondeu. «Eles [os extraterrestres] sempre estiveram aqui. Conseguir apercebermo-nos deles é uma questão de evolução», disse ela. «Há alturas no processo de evolução da humanidade em que eles estiveram presentes, mas nós não fomos capazes, não era adequado, não era a altura adequada para nos apercebermos deles.» Omrishi apercebeu-se deles não através da nave espacial, mas através de «uma comunicação superior» e meditação através da qual recebeu orientação. «Todas as pessoas recebem orientação», disse Eva, «mas a maior parte não ouve.» Os sequestrados «estão a um nível que os torna capazes de purificar... de transmitir informação... Os sequestros são muito reais, fisicamente falando», disse Eva, mas as pessoas não devem dar muita importância a esse aspecto. «Devem equilibrar a informação para a compreender como um todo, e não andar a tentar provar se existem ou não existem.» O principal deve ser «a informação dada pêlos sequestrados... Essa informação deve ser reunida e desenvolvida no plano físico, para ter utilidade. Tentar provar a sua

existência é pura perda de tempo.» (Eva falou dos limites da minha própria indigência e do amor incondicional, «uma tensão cósmica» e aconselhou-me a «fazer um retiro» num lugar isolado, sem ninguém, para fazer um balanço destas polaridades e «para ligar o seu ser com o cosmos.» Referiu que existiam em mim sentimentos de tristeza e de solidão e disse: «Precisa de saber que nunca se está só. É só solicitar o contacto e sentir-nos-á», ou seja, «sentirá todos os seres não-físicos que estiveram sempre a guiá-lo».) Esta sessão foi, para Eva, a mais poderosa de todas. O seu impacto, disse-me ela dois meses depois, «é indescritível». Sentia-se 310 SEQUESTRO «muito bem» com os resultados, como se fosse um «actor e espectador ao mesmo tempo». Encarava a sua vida como Omrishi como fazendo parte da evolução do seu papel pioneiro de contribuir para a «mudança pacífica» com vista «à harmonia entre as pessoas.» Duvida que Omrishi, na sua perspectiva de homem do século XIII, tivesse consciência «de todos os cambiantes da situação». Apenas procurava fazer «alguma coisa pelo seu povo naquele lugar.» Iniciou um «contacto», mas o objectivo maior de provocar a paz e a igualdade para as pessoas ficou para o futuro. DISCUSSÃO Eva é uma pioneira com uma missão global de paz e conciliação. As suas permanentes experiências de sequestro são um veículo poderoso de evolução da sua consciência e servem para a manter em contacto com o seu objectivo maior. Sentiu os contactos de sequestro como fontes importantes de «informação» que emanavam de dimensões que estão para além ou fora da realidade física. Considera-se «uma forma de energia a quem foi dado um corpo para levar a cabo uma determinada missão.» Tal como muitos sequestrados, Eva tinha encontros perturbadores, mesmo aterradores, com seres extraterrestres. Mas a determinação de se entregar ao processo, de renunciar à necessidade de controlo e de resistir à sua intensidade e significado, tornou-a capaz de ultrapassar o medo e os traumas e de encontrar o balanço interior e o poder pessoal. Eva tinha o hábito de escrever o seu diário a seguir às experiências de sequestro que a deixavam tão cansada que desejava ter sido levada «numa viagem.» Nas descrições constantes do seu diário sobressai uma imagem consistente do objectivo evolutivo do relacionamento extraterrestres/humanos, pelo menos da forma como isso afecta a nossa consciência. Descreve repetidamente o acesso, facultado através dos sequestros, a outra dimensão (ou outras dimensões) de existência, uma realidade alargada, na qual não cabem os conceitos humanos de espaço e de tempo. Este domínio é rico em paradoxos — no sentido, por exemplo, de expansão até ao infinito e de contracção num único ponto ao mesmo tempo. Embora tenha facilidade de expressão, sentiu que as palavras não transmitiam a beleza e o poder inefáveis deste domínio espiritual. Os sequestrados, disse, são almas que «escolheA MISSÃO DE EVA 311 ram a probabilidade da forma física» e a as experiências de sequestro são um veículo para recuperar a memória da origem do ser, da qual a nossa cultura nos afastou. A própria Eva, como muitos outros sequestrados, parece existir tanto sob a forma corporal-humana como extraterrestre. Durante as

nossas sessões, quando ela se entranhava profundamente nas suas experiências de sequestro, a identidade extraterrestre ou outra qualquer sobrepunha-se. Então falava na perspectiva de um «nós» cósmico que estava em contacto com uma consciência superior que se traduzia em paz e harmonia no plano terreno. Essencial para esta expansão da consciência é o colapso das fronteiras, o triunfo da separação dos humanos entre si e das entidades, incluindo dos próprios extraterrestres, que povoam os domínios espirituais. Sob «outra» perspectiva, Eva está consciente dos níveis de energia superiores ou mais intensos em que se situam os seres extraterrestres e do complexo problema de ajustar a sua intensidade no sentido descendente, de modo a que se manifestem na terra. Eva sente que mesmo as formas físicas que os fenómenos do sequestro conseguem adquirir — seres humanóides, naves espaciais, passagem do nosso corpo através das paredes — podem representar adaptações de formas de energia superior aos requisitos perceptivos da limitada consciência humana, uma tecnologia que pretende chegar a nós através do recurso a uma linguagem que nós somos capazes de entender. Os extraterrestres, ou a fonte da qual emanam, tem de criar formas físicas para que nós sejamos capazes de os reconhecer. A reencarnação de experiências com vidas passadas é uma parte do processo de expansão da consciência de Eva, para além de uma percepção da realidade puramente física ou materialista. Neste domínio, os seres extraterrestres funcionam como energias espirituais ou guias, ao serviço da evolução da consciência e da identidade. O rumo da sua missão pessoal pode ser detectado através das experiências com vidas passadas que relatou. Encarnando Omrishi, por exemplo, um rico mercador marroquino do século XIII, Eva manifesta a sua preocupação em relação à justiça e igualdade, embora numa escala restrita; ao encarnar um rapazinho do século XVII, descobre que a sua alma não pertence aos seus pais terrestres, mas a um domínio do ser que é mais amplo. Para Eva, a integração da sua evolução pessoal, vivida através dos seus encontros, com as suas responsabilidades domésticas tem 312 SEQUESTRO sido uma tarefa formidável e um importante aspecto do nosso trabalho. O compromisso que assumiu consigo mesma no sentido de não magoar ninguém provocou inevitavelmente uma tensão entre a sua vida espiritual e o relacionamento com o marido, pessoa imbuída no espírito conservador do mundo dos negócios. Eva procurara manter estas vidas totalmente separadas, mas a fragmentação do seu eu atingira os limites do tolerável. Um livro de histórias da sua infância, intitulado Soul Bird, que falava da divisão dos sentimentos que cada um tem dentro de si, pareceu ter servido para Eva encontrar a paz que procurava. Sentia-se por fim capaz de suportar a angústia de ter de falar ao marido, David, sobre os seus contactos e, embora tivesse ficado desapontada com a sua resposta inicial, ficara sensibilizada com o facto de ele ter dado uma sugestão prática sobre a forma de comunicar com os extraterrestres e ter também dado a entender que mantivera uma espécie de contacto com eles. Embora bastante reservada quando nos conhecemos, Eva estava gradualmente a encontrar maneiras de falar com as outras pessoas sobre a verdade e poder das suas experiências e conhecimento. A última regressão de Eva iniciou-se com a memória de uma rapariguinha a nadar com golfinhos numa gruta, e que devia sair dali

para assumir outras responsabilidades mais adultas. «Está escuro, mas não está escuro... Brincamos juntos e eles são meus amigos», disse ela. Esta imagem, a que voltámos mais tarde durante a sessão, pareceu-lhe representar a viagem da alma através da experiência do tempo, dos ciclos do renascimento e morte, da encarnação e do regresso ao espírito. A imagem não tem uma dimensão temporal e está intimamente relacionada com a missão de Eva, uma encarnação do sonho de paz, harmonia, igualdade e jovialidade, em relação aos quais tinha comprometido a sua vida. Eva alertou-nos para o facto de estarmos a considerar os fenómenos de sequestro em termos materialistas demasiadamente estreitos, e estarmos a gastar as nossas energias em busca de provas que atestem veracidade desses fenómenos recorrendo métodos das ciências físicas. Depois da terceira sessão de regressão, escreveu-me a dizer que os implantes, por exemplo, não constituem a prova definitiva que os investigadores de sequestros procuram. Para que o nosso corpo os aceite é necessário que sejam compostos por substâncias que não sejam rejeitadas pêlos nossos tecidos, ou seja, têm de conter elementos que sejam similares aos da Terra. E, acrescentaria eu, é A MISSÃO DE EVA 313 pouco provável que um fenómeno desta inteligência, subtileza e sofisticação ceda os seus segredos a um método de investigação que deriva de uma consciência que opera a um nível muito mais baixo. «Eu pessoalmente contínuo a acreditar», escreveu Eva, «que devemos centrar a nossa atenção na comunicação bilateral sob determinada forma e em determinado nível com os nossos amigos extraterrestres, aprendendo, aceitando e integrando a sabedoria extraterrestre no nosso mundo e cultura. Não tem qualquer sentido dispender tempo, dinheiro e energia unicamente para fornecer provas da existência dos extraterrestres».

Um instumento destinado à investigação desenhado na posição aberta, da autoria de Júlia, e o mesmo instrumento fechado, tal como foi desenhado por David. Os dois desenhos foram feitos em separado. CAPITULO DOZE

A MONTANHA MÁGICA D ave, um jovial técnico de saúde de trinta e oito anos que trabalhava numa comunidade isolada do centro-sul da Pensilvânia, entrou em contacto telefónico comigo em Junho de 1992, a conselho do seu professor de Karaté e de Tai Kwan Do (Chi) que conhecia o meu trabalho e que achava que as experiências do seu pupilo podiam ter relação com os fenómenos que eu estava a estudar. Não me encontrava disponível quando Dave telefonou pela primeira vez, e a minha assistente pô-lo em contacto com Júlia, uma sequestrada com quem tinha trabalhado durante dois anos. Júlia falou várias vezes com Dave e encorajou-o a escrever-me sobre as suas experiências. Nessa carta, escrita em Julho e pouco antes de uma intensa experiência de sequestro em que viu um ser a olhar para ele pela janela, Dave fazia referência a possíveis sequestros que datavam dos seus três anos de idade, a uma inexplicável cicatriz em forma de meia-lua que lhe tinha aparecido no corpo, a vários episódios de perda da noção de tempo e a uma nítida observação de um OVNI aos dezanove anos. Para além disso, falou sobre os treinos de Karaté e os exercícios de controlo das experiências Chi que fazia durante e depois do período de aulas, sob a orientação do seu professor, Mestre Joe. No final da carta, acrescentou sem comentários: «Gostaria de ser hipnotizado». Falámos ao telefone no dia 23 de Julho e Dave relatou-me outras memórias conscientes da sua experiência de sequestro ocorrida duas semanas antes, entre as quais a sensação de ter alguma coisa espe316 SEQUESTRO tada no ânus, bem como o olhar interessado, controlador e familiar da criatura da janela, que lhe parecera uma mulher, e recordando-se também de acordar, depois do episódio terminar, fora do seu lugar na cama, enroscado na mulher. As experiências de Dave incluem os elementos traumáticos que são comuns nos sequestros por OVNI. O seu caso tem contudo um interesse especial devido à íntima ligação entre as experiências de sequestro e os seus treinos para a abertura e domínio da energia Chi, que Dave define como sendo «a força que penetra no Universo e da qual provém a realidade.» Quando ocorreu esta abertura, Dave ficou estupefacto com o número de sincronias — acontecimentos na sua vida que pareciam estar significativamente ligados — que o cercavam. Possuindo desde a infância um interesse vivo e prático pelo que o cercava, os encontros de sequestro de Dave e as experiências com as energias originais fizeram-no sentir um profundo respeito pêlos poderes da natureza. Dave tinha sido levado para um lugar próximo de sua casa, a Montanha Pemsit, ligado à tradição e magia dos indígenas americanos, e onde ocorreram muitas das suas experiências. Para Dave, o universo tinha-se transformado num lugar cheio de mistério e estranha inteligência. À medida que tomava consciência do poder e da realidade das suas experiências, incluindo duas reencarnações a que acedêramos na nossa última regressão, Dave transformava-se num líder da sua comunidade no que se refere à exploração de experiência anómalas. Conseguiu atrair outros sequestrados e estava a considerar a hipótese de mudar de profissão para poder fazer hipnose com eles e liderar grupos de apoio. Interessava-se muito pela natureza e pela fotografia, e enviou-nos, a mim e a minha mulher, maravilhosas

fotografias de flores selvagens tiradas por ele. Com o objectivo de explorar as suas experiências, Dave deslocou-se a Boston e tivemos o nosso primeiro encontro no dia 13 de Agosto de 1992. Dave cresceu numa pequena comunidade fechada com cerca de vinte casas, situada numa encosta junto ao Vale Susquehanna, na Pensilvânia — «é a zona das depressões e dos vales da Pensilvânia. Há fendas compridas e paralelas e aberturas nas montanhas por onde o rio passa. Acho que o rio já lá estava e depois é que se ergeu a montanha e se abriram as fendas.» A cidade situava-se no sopé da montanha. Os amigos de Dave vinham dos arredores e as mães «eram iguais às outras mães». Podia sair quando quisesse e entrar nas A MONTANHA MÁGICA 317 outras casas sem bater. «A minha avó vivia mais abaixo, o meu tio vivia ao lado. Ali era meu clã.» Dave era o mais velho de quatro rapazes. Os seus irmãos são mais novos que ele três, seis e nove anos, respectivamente. O avô tinha um negócio ligado à canalização, aquecimento e combustíveis e o pai trabalhava para ele como vendedor de combustível. Dave e a mãe foram sempre muito ligados. Todos os seus irmãos parecem ter tido experiências de sequestro, bem como o filho de um deles, que não se quis identificar. A avó de Dave era uma pessoa profundamente interessada na observação de aves, e Dave aprendeu com ela a identificar os pássaros. O seu amor pela natureza data dos seus tempos de criança, e foi com nove ou dez anos que começou a explorar as matas e a montanha junto a casa. Com cinco anos, acompanhava o pai à pesca e mais tarde começou a caçar e a colocar armadilhas. Já adolescente, «passava muito tempo na montanha ou em baixo na enseada». Crescia e desenvolvia uma grande afinidade pêlos índios americanos da região. «O veado branco», referia numa carta que me dirigiu, «é muito importante para os índios» e sentia-se profundamente ligado a eles. «Sabe, estou espiritualmente ligado ao veado. Parece que o veado é o meu animal totem», disse ele. Dave perdeu o olho direito quando tinha sete anos em consequência de uma brincadeira com paus, «luta de espadas», em que se envolvera com outro rapaz da vizinhança. Segundo Dave, os rapazes brincavam aos torneios com bocados de um ramo de uma árvore caída. A mãe de Dave disse-lhes para pararem e Dave pousou o pau e sentou-se no chão junto a uma árvore. O outro rapaz pegou na «espada» de Dave e partiu-a contra a árvore. Um dos bocados atingiu o rosto de Dave, cortou-lhe o olho e a zona em baixo do olho. Sangrava do olho e foi levado a um médico na cidade e depois ao hospital local. Dave foi operado e a anestesia geral foi dada com éter. O cirurgião não conseguiu salvar o olho, que foi removido. Dave não tinha sido informado previamente da possibilidade de perder a vista e ninguém lhe disse nada mesmo depois de acordar com um penso por cima da zona do olho. Não se recorda de ter feito perguntas sobre o que realmente tinha sido feito durante a operação, mas lembra-se de ter tido «pesadelos terríveis» nas noites que se seguiram, acompanhados de altos gritos, e os enfermeiros tinham de andar com ele 318 SEQUESTRO pelo corredor, para cima e para baixo, enquanto as outras crianças da enfermaria gritavam para «se calar». Só alguns dias mais tarde é que

o pai lhe disse que o olho tinha sido removido e que tinha de pôr «uma prótese». Mais tarde confidenciou-lhe que ficara tão transtornado depois de lhe contar o sucedido, que «foi para as escadas da frente do hospital e chorou... Disse-me que eu reagira melhor do que ele», disse Dave. O pai sofreu uma apoplexia há dez anos e antes disso tinha extrema dificuldade em exteriorizar emoções. «A partir daí é-lhe extremamente difícl controlar as emoções e por vezes chora.» O próprio Dave só muitos anos mais tarde exteriorizou a tristeza por ter perdido o olho, chorando na companhia da mulher. Dave lembra-se que na altura decidiu não se deixar afectar pela perda do olho. «Ainda consigo ver e não me dói», disse para si mesmo. Frequentava então a segunda classe e tinha apenas mais seis colegas na turma, numa pequena escola que tinha ao todo setenta e cinco alunos; «toda a gente sabia o que tinha acontecido e toda a gente me conhecia bem. Por isso, ninguém fez troça de mim». Mas mais tarde, no liceu, as turmas eram maiores e chamavam-lhe «estrábico», até aqueles que sabiam que ele só tinha um olho. Com dezassete anos, Dave frequentou a Universidade de Penn State durante um semestre, e depois completou os estudos numa universidade local. Começou a trabalhar antes de terminar o curso e a receber simultaneamente formação como técnico de saúde, já que, na altura, não existia uma escola disponível. Com vinte e cinco anos, aproximadamente, achou que estava preparado para casar e ter filhos, «mas só com trinta e dois anos é que encontrei a pessoa certa para casar.» A mulher de Dave, Carolina, é a mais velha de quatro irmãos. Queriam ter filhos logo depois de casar, mas a primeira casa em que moraram não tinha «espaço suficiente». Pediram um empréstimo para construir uma casa maior que acabou por custar mais do que inicialmente previram. Quando estava a construir a casa, Dave teve uma hérnia discai que o impediu de andar e que o manteve afastado do trabalho durante alguns meses. Quando mudaram de casa, em Junho de 1992, «tinham-se passado quatro anos, e já não sabíamos se queríamos filhos ou não.» Dave nega que as suas experiências com OVNI/sequestros tenham interferido com a sua vida sexual ou estejam relacionadas com a sua decisão de não ter filhos. O seu relacionamento com a esposa «é muito bom», afirma Dave. A MONTANHA MÁGICA 319 A primeira experiência que Dave relaciona com o fenómeno de sequestro deu-se quando tinha três anos de idade. Na carta de apresentação referiu que se lembrava de «três motociclistas a vir pela estrada na minha direcção, numa velocidade anormalmente rápida. Quando passaram por mim parece ter havido uma interrupção, e depois passaram por mim e seguiram em grande velocidade por um caminho, já fora da estrada, em direcção a casa de um amigo. Fui até lá e não os encontrei.» Na nossa primeira conversa, em Agosto de 1992, Dave acrescentou que os motociclistas pareciam vir ter com ele «muito depressa», que sentiu muito medo, e que os «os condutores» eram «pretos». Também se lembra de ter ficado «atónito» ao vê-los avançar a grande velocidade pelo passeio, especialmente porque o caminho termina num pátio de pedra e não tem saída. Também se lembra de ter sensações idênticas, «uma espécie de vibração, um formigueiro», às que sentiu durante os últimos sequestros. Explorámos em pormenor esta experiência durante a sua segunda regressão.

As recordações que Dave teve a seguir situavam-se nos seus doze anos. Estava a fazer as suas habituais explorações na mata da montanha junto à sua casa. Lembra-se de estar num caminho que ia até um cruzamento com dois outros caminhos, com o chão cheio de musgo e uma árvore em cima. «Olhava para aquilo com temor e dizia 'Isto é maravilhoso'! Olhei para cima, para os ramos da árvore e pronto, é tudo o que me lembro.» Há um lapso de tempo que não conseguiu recordar e só se lembra que a seguir «andava pelo pátio, por baixo da nossa casa.» Nas duas semanas que se seguiram, Dave regressou várias vezes à zona, mas não encontrou nem pegadas, nem o chão que recordara durante a experiência. Lembra-se de sentir que «o estado de consciência em que me encontrava» antes de ocorrer o lapso de tempo era, de algum modo, «diferente», mais forte, «mais agudo» do que o normal. Outro episódio idêntico ocorreu quando Dave se encontrava na cabana de Verão do seu tio. Andava por um caminho paralelo a uma velha linha de caminho de ferro, junto a um lago. Lembra-se de novo que olhou para cima, para o ramo de uma árvore e não se lembra de mais nada, «a seguir, só me lembro de estar a regressar para a clareira onde estava a cabana [do tio].» O que para Dave tinha sido um passeio de poucos minutos era na verdade um lapso de tempo de quarenta e cinco minutos e os seus tios e primos estavam «preocupa320 SEQUESTRO díssimos». Os primos disseram que tinham ido procurá-lo e quando ele voltou perguntaram-lhe onde tinha estado. Mas Dave não se lembrava de nada. Dave recorda que se interessava por «discos voadores» quando era criança e pensa que isso pode estar relacionado com a sua experiência dos três anos. Lembra-se também que «o meu pai tinha dito alguma coisa sobre pessoas que viram discos voadores e, a partir daí, senti-me fascinado por aquilo.» Na escola preparatória, Dave era um dos melhores alunos. Tinha catorze anos e, para entrar para o liceu, elaborou um trabalho final sobre OVNI, mas não se lembra do que escreveu. Na altura, falou à sua antiga catequista sobre o trabalho e ela respondeu que tinha visto OVNI a aterrarem e descolarem num lugar na montanha perto da casa onde ela vivia. Considera estranhas outras coisas ocorridas durante a sua adolescência. Quando tinha quinze anos, ele e o vizinho do lado encontraram uma gruta cuja entrada tinha trezentos metros de largura, situada junto «a um extremo da montanha, antes da vertente que desce até ao rio». O amigo quis entrar, mas Dave teve medo e disse: «Não, não vou entrar aí dentro.» «Não é uma área assim tão grande», disse Dave, mas nunca mais foi capaz de encontrar a gruta outra vez. Cerca de um ano depois, Dave ia de carro com amigos sob chuva intensa, durante a noite, a atravessar New Brunswick, no Canadá, a uma velocidade de cento e vinte quilómetros por hora quando um autocarro Greyhound que ia a cerca de cento e cinquenta quilómetros à hora «nos ultrapassou velozmente». Dave ia a dormir no banco de trás e acordou ao ouvir um dos amigos exclamar «'Oh, merda!' ou qualquer coisa parecida. Aperceberam-se apenas que «andámos cento e cinquenta quilómetros sem dar conta... a última vez que reparámos estávamos cento e cinquenta quilómetros atrás na estrada.» Nenhum dos rapazes deu conta do lapso de tempo, mas ouviram a notícia de um terrível acidente que envolveu um autocarro e no qual morreram sessenta e

cinco pessoas. Pouco depois de começar a frequentar Penn State, três semanas depois de acabar o liceu, Dave e o seu colega de quarto passaram mais de um dia sem se aperceberem que o tempo tinha passado. Deitaram-se num sábado e acordaram convencidos que era Domingo de manhã. Mas os colegas que viviam no mesmo piso do dormitório apareceram e disseram: «Oh, com que então faltaram à A MONTANHA MÁGICA 321 aula de Química, hem?» e eles ficaram surpreendidos quando lhes disseram que era Segunda-Feira de manhã. Quando Dave tinha dezanove anos, viu um OVNI muito perto que o deixou profundamente afectado. Estava com o seu irmão mais novo, Ralph, e com um amigo chegado, Jerry. Os seus pais tinham mudado de casa, moravam um pouco afastados do vale, num pedaço de terra lavrada situado na encosta de uma colina. Estava uma noite clara, e os rapazes estavam deitados no pátio, «apoiados nos cotovelos». Seguidamente «uma luz começou a aparecer para lá da montanha» no horizonte e «imediatamente deu uma curva em ângulo recto e começou a dirigir-se para o rio, e parou e começou a dirigir-se de novo para o vale e depois parou e começou a vir na nossa direcção. Dirigia-se para nós haja algum tempo mas nenhum de nós disse nada aos outros sobre isso, e então eu olhei para eles e percebi que eles também estavam a ver aquilo.» Os rapazes julgaram tratar-se de um jacto grande, mas acharam que voava demasiado perto do chão e era demasiado silencioso para ser um avião. Depois a nave parou mesmo em cima deles, um pouco à direita. Parou de novo e pareceu rodar «de tal maneira que a base ficou apontada para nós. Começou a aparecer uma luz azul e branca num anel de pontinhos (luzes) na base da nave. As luzes brilharam intensamente e projectaram-se para além do sítio em que estávamos [produziu um som sibilante para ilustrar] e depois parou. Aí a luz azul e branca tremeluziu na parte de trás da nave e depois começou a brilhar intensamente... Levantou voo com um movimento brusco, como se fosse catapultada. Levantou voo. Começou a mover-se velozmente. Continuou simplesmente a ir rapidamente, cada vez mais depressa e descreveu um arco no céu. Não voou em linha recta como um avião. Descreveu um ângulo de subida cada vez maior, e quando a vimos pela última vez, deve ter descrito no céu um ângulo de quarenta e cinco graus e contudo desapareceu no horizonte passados cerca de dez segundos. Depois do OVNI ter desaparecido, Dave disse «'Eh, pá, imagino onde aquela coisa está agoraV e Jerry disse 'Pode estar sobre a China!' e eu disse 'Sim, pode estar na lua.'» Depois os rapazes «correram que nem loucos até casa e dissemos aos nossos pais e irmãos para saírem.» Gritaram «Acabámos de ver uma coisa!» e todos correram lá para fora «mas não havia nada para lhes mostrar». Durante o encontro com a nave Dave teve a sensação que «talvez alguma 322 SEQUESTRO coisa fizesse ressalto para a frente e para trás, entre mim e a nave.. Senti uma espécie de vazio ali, uma confusão naquele instante... Interrogo-me se aquela luz azul produziu em nós algum efeito», disse ele. «Era uma luz azul e branca. Muito intensa.» Umas semanas mais tarde, Dave lembra-se de ter lido referências à observação de OVNI na sua zona, ocorridas na mesma altura em que viu a nave.

Jerry, que habitualmente é uma pessoa calma, só conseguia dizer vezes sem conta «Bem, uau.» Embora Jerry, que se apercebeu do encontro com o OVNI, não aceite as experiências de sequestro, Dave acredita que ele é um sequestrado. Ralph também ficou muito impressionado com a visão. Dave lembra-se de ter ficado profundamente admirado na altura e ter pensado: «Não pensei que o que quer que estivesse dentro daquilo pudesse ser humano». Crê também que viu um rosto na nave «a olhar para baixo na minha direcção» e quando mais tarde viu uma fotografia de um extraterrestre na capa da Communion ficou admirado porque «foi isto que eu imagimei que estava a olhar para mim, quando tinha dezanove anos.» Particularmente a cabeça grande, os olhos oblíquos e pretos coincidiam com a experiência de Dave. Na primeira carta, Dave referia que «considerava esta nave como a mais impressionante peça de tecnologia» que tinha visto. Começou a ler tudo o que encontrou sobre o desconhecido «à espera de encontrar a chave» para o que estava dentro da nave. Leu, em particular, os livros de Castaneda e reflectiu sobre «as capacidades pessoais para adquirir o poder mágico». Também se interessou pelo Budismo Tibetano e descobriu que «os Budistas Tibetanos sabiam objectivamente tudo sobre OVNI.» Aos vinte e cinco anos, Dave construiu uma pequena cabana numa zona isolada. Estava ainda inacabada quando se mudou para lá. Utilizou o quarto de dormir pela primeira vez duas semanas depois de se ter mudado. Deitou-se depois de ter posto um saco castanho de papel cheio de latas vazias de cerveja em frente à porta de entrada. Ouviu um barulho parecido com o de um animal a vir em direcção à casa e depois ouviu coisas a cair; depreendeu que o animal chocara com o saco com as latas de cerveja. Depois ouviu outros ruídos parecidos com o barulho de latas a serem arrastadas com a corrida do animal. Preocupado com a confusão que dali resultara, foi à janela, focou a lanterna na direcção do saco castanho e ficou surprendido ao ver que o saco estava de pé e não havia desordem. Ambos considerámos A MONTANHA MÁGICA 323 que o incidente era um embuste. Dave interrogou-se na altura se estaria envolvido «o espírito de alguma coisa», mas não relacionou o episódio com as suas experiências com OVNI. Em 1988, pouco depois de ler a Communion, Dave teve um sonho que, no seu entender, reflectia o poder do seu Chi. No sonho, um homem hispânico segurava um mastim que se precipitava ferozmente na sua direcção. O homem prendeu o cão dentro de uma gaiola por achar que assim era mais seguro para Dave. Depois pousou dois dedos da sua mão direita no ombro direito de Dave e ficou preso ao chão, como se tivesse um peso uma tonelada em cima. Depois o homem soltou o cão da gaiola e aí «resignei-me que ia morrer neste sonho que para mim era real. Para mim era como se não estivesse a sonhar.» Na sua primeira carta, Dave escreveu: «De repente fui assaltado por uma sensação de cólera que começava no peito e ia até ao umbigo. Aí saiu para fora do meu corpo sob a forma de energia. Parecia um foguete. Era incrível. Fui projectado para trás a grande velocidade. O homem e o cão foram atirados para longe de mim como se não fossem nada.» Dave aterrou na cama do lado oposto àquele em que tinha adormecido. Teria caído sobre a mulher, se ela não tivesse ido já para o trabalho. Durante os últimos anos, Dave e os seus vizinhos tiveram um

série de experiências relacionadas com OVNI e «coincidências estranhas». Por exemplo, Rob, um dos vizinhos de Dave, morreu num acidente de viação em Fevereiro de 1990, nove dias depois de ter ajudado os bombeiros a colocar uma chaminé na casa de Dave. Alguns anos antes, Rob vira uma enorme bola de luz na mata que ficava no fim da rua de Dave e depois, quando se dirigia para casa de Dave para poder ver melhor, teve um lapso de memória de quarenta e cinco minutos. Foram seis as vezes que Rob viu OVNI no campo atravessado pela estrada, no extremo da rua que conduzia à casa de Dave e disse-lhe também que «quando estava a observar os bombeiros vi um OVNI», e depois sentiu algo estranho e foi a correr ajudá-los. Em Outubro de 1990, o professor de Karaté de Dave, Mestre Joe, começou a trabalhar em part-time no departamento de Dave. Foi então que soube que ele era mestre de Karaté, cinturão preto de sétimo grau, e que conhecia «o saber secreto sobre esta energia [Chi], que aprendera com o seu instrutor, um mestre coreano que por sua vez aprendera num templo Budista, na Coreia.» Dizem que Mestre Joe se deitava em cima de vidros partidos e conseguia aguen 324 SEQUESTRO tar um camião de três toneladas a andar sobre o seu estômago. Dave começou a trocar impressões com Mestre Joe sobre o Chi, no Outono e Inverno de 1990-91, falou-lhe das experiências pré-cognitivas que andava a ter e iniciou lições de karaté nesse Inverno. Dave e Mestre Joe tentavam abrir canais Chi dentro de Dave, e isso provocava-lhe uma sensação de formigueiro. Diz-se que esse poder emana de uma área que os coreanos chamam a «Dungan», uma região por baixo do umbigo e que está relacionada com a vontade. De acordo com Mestre Joe, o «poder existe» nos dedos e em outras partes do corpo e o controlo Chi é exercido pêlos olhos e mente. «O meu objectivo com o Karaté», disse Dave, «é aprender a controlar o meu Chi». Na primeira carta que me escreveu, Dave referia que tinha tido cerca de quatro experiências Chi durante as aulas de karaté. Durante essas experiências viu-se a executar proezas invulgares. Uma manhã acordou de um sonho e «senti-me pronto para empurrar o Chi para a frente.» Para seu desgosto, acabou empurrando a mulher para fora, sem sentir contudo que lhe estava a tocar. Esta experiência ajudou-o a tomar a decisão de aprender a controlar as suas energias Chi. Em Setembro de 1991, Dave sentiu uma fortíssima sincronia que Mestre Joe crê estar relacionada com a sua energia Chi. Antes de ir de férias com a sua mulher a um parque nacional na Carolina do Norte, sonhou com uma rapariga que lhe fazia lembrar uma outra com quem estivera para casar. A relação tinha terminado quando ela se mudou para Massachusetts. Já no parque, Dave conheceu uma funcionária, Charlotte Hampton, em relação à qual se sentiu estranhamente ligado. Tabalhava na livraria do Parque Nacional e primeiro foi fria para ele, mas depois namorou-o. Sentiu que estava a estabelecer com ela uma estranha e intensa ligação energética através do contacto ocular, que lhe causou uma perda de consciência temporária. Comparou isto à forma como um feiticeiro ou um xamã são capazes de «atrair» uma pessoa recorrendo à vontade, e a seguir conseguem que haja um contacto. Esta rapariga era a mesma do sonho de há tempos atrás e também ela passara por várias experiências psíquicas ligadas com as experiências de sequestro de Dave.

A primeira sessão de hipnose foi realizada no dia 14 de Agosto de 1992, na manhã que se seguiu ao nosso primeiro encontro. Júlia também estava presente. Decidimos explorar a experiência de A MONTANHA MÁGICA 325 sequestro de 8 de Julho, que ocorreu logo depois de me ter escrito a sua primeira carta. Antes de iniciar a regressão, recapitulou a parte da experiência de que se lembrava conscientemente. Tinha passado uma tarde horrível em casa dos pais, a quarenta quilómetros de distância, a escrever uma carta no seu processador de texto. Saiu de casa dos pais à uma e um quarto da manhã e chegou a sua casa cerca da uma e meia. A sua mulher estava a deitada na cama grande, a dormir e só acordou quando ele se foi deitar às duas ou duas e meia. Depois de se deitar, ouviu um barulho na casa, «parecido com algo a chiar» e pensou para consigo: «Oh, eles vão vir esta noite». Pouco depois de adormecer, «no contexto de um sonho» (uma frase ambígua que Dave pronunciou várias vezes) estava «na nossa sala de jantar. Mas que não era exactamente igual à sala de jantar da nossa casa. A janela era numa parede diferente, etc.» Estava uma mulher grande com ele na sala e Dave sentiu «a presença deles». Estava dominado por uma sensação «que agora vejo que me é familiar, como a que tive quando os motociclistas vinham pela rua abaixo e tudo o resto». A vibração «começou no umbigo e subiu-me pelo peito acima, seguida de um forte formigueiro. Uma sensação de formigueiro muito forte.» A mulher puxou-o para o chão, como se pretendesse esconder-se dos seres extraterrestres e Dave sentiu que ainda tinha algum controlo, que era capaz de levantar a cabeça e olhou através de uma janela panorâmica para a mata. Viu então um ser feminino a olhar para ele, através da janela. Lembrou-se de outro sequestrado, o seu amigo Randy, a dizer-lhe: «São os olhos. Eles hipnotizam-te com os olhos... Não pensei no que ele me dissera até o meu olhar de espanto se fixar nos os olhos, e não conseguia deixar de olhar para os olhos. Estava cheio de curiosidade e olhei directamente para aquilo.» Dave só conseguiu ver «o canto superior direito da cabeça dela» que parecia dilatado. Uma espécie de manto parecia cobrir as partes da cabeça que não conseguia ver. «A pele tinha um aspecto muito macio e era cinzenta-clara.» Perguntei-lhe o que sentia ao olhar para os olhos. «Soube imediatamente de quem se tratava», respondeu. «Era aquele ser feminino que me pertencia e senti que a conhecia muito bem, e que gostava muito dela e que estava a olhar directamente para ela.» Naquele momento, Dave sentiu que «algo a ocultar-se, uma espécie de perda temporária de consciência ou algo parecido... Só sei 326 SEQUESTRO que a seguir estava deitado do meu lado da cama, todo enroscado em posição fetal. Estava enroscado na minha mulher, muito, muito apertado contra ela e todo enroscado como uma bola.» Dave percebeu depois que «não fora um sonho». Carolina virou-se e pôs um braço em cima dele. Teve a sensação «de que um ser podia estar mesmo atrás de mim e tive medo de me virar e olhar. Cerca de um minuto depois o medo passou e levantei-me de repente para ver as horas no despertador que estava atrás da minha mulher, em cima da mesinha de cabeceira e eram 4 horas da manhã.» Naquele momento, sentiu uma confusão nos seus pensamentos. «Achei que tinha sido seques-

trado», mas também teve a sensação que a mulher grande que estava na sala de jantar era «provavelmente apenas a minha mulher na cama comigo.» Começámos a regressão na casa dos pais de Dave, com a sua frustração ao escrever a carta e como «a emoção forte» que sentira «ao reviver, através da escrita da carta, tudo o que me aconteceu durante os últimos anos.» Sentia-se «contra aquilo tudo» e quando se deitou na cama e ouviu um ruído na casa, pensou: «Oh, eles vêm esta noite.» Depois ficou ansioso quando contou que se virou para o lado direito, para a mulher, e começou a adormecer, e a seguir estava numa sala do tamanho da sua casa de jantar com uma mesa comprida, diferente da sua. Uma luz vinda de um sítio qualquer iluminava a sala. Descreveu novamente a mulher grande (agora com um vestido escuro) e a grande janela panorâmica («só vidro laminado, no lugar em que abriam as janelas da nossa sala de jantar») com a mata lá fora. Uma vez mais sentiu a «presença deles», a «sensação que eles tinham chegado... É como uma sensação muito envolvente, muito forte. Não há nada que se possa fazer. Quando eles estão ali, controlam tudo e não se consegue lutar contra isso. Percebi que me estava a habituar àquilo. Por alguma razão, sinto que estou preparado de novo para isso.» A mulher puxa-o mais uma vez, mas Dave ergue-se e vê parte do rosto da «visitante» a olhar para ele pela janela. A pele tem um aspecto macio, parecido com o cabedal e é cinzenta-clara. «O meu olhar de espanto cruzou-se com os seus olhos e eu sei que é ela e sei que está a olhar para mim.» O olhar de espanto está «mesmo ali presente. Os olhos pareciam ser grandes, pretos, um tanto líquidos.» Neste ponto da sessão, Dave travava uma luta interior, tentando resistir «àquilo que querem que eu faça, ao que eles querem que eu A MONTANHA MÁGICA 327 faça». Disse-lhe que era necessário que se mantivesse controlado, para assim encontrar forças. Comparou a «aflição» e o «perigo» que agora confrontava, com as experiências Chi e com a alteração da realidade que por vezes sentia durante os treinos de karaté. Acontecia por exemplo quando treinava pontapés e outros movimentos e sentia um apagamento; descobria então que «já não se encontrava nesta realidade» e tinha de «continuar como se nada tivesse acontecido» pois não podia explicar isso aos outros colegas porque eles não eram capazes de entender o que estava a acontecer. «Tenho de me habituar a estas experiências extremamente estranhas. Acho que é a minha mente que não quer abandonar o conceito de realidade que lhe foi metido à força.» Esta luta e aquilo que ele denominava de «teimosia» começou a verificar-se entre nós. «Esta coisa anormal» era «ainda difícil de aceitar, ou é uma parte de mim que não quer perder o controlo [da] ideia de realidade que me foi metida à força.» Trouxe-o de novo até à janela, aos olhos do ser e à altura em que sentiu um «apagamento» quando estava a olhar para eles; pedi-lhe que me descrevesse os olhos. «São grandes e pretos, oblíquos e têm um aspecto líquido» e «olham cada um para seu lado... Reconheço o ser. É ela. Sei quem ela é. E como se fosse minha e eu dela. Sinto que isto é real. Gosto mesmo dela... Sinto que tem de ser especial, mesmo entre os outros» e «Sinto que ela me acha especial e que não assumo isso». Conversámos a seguir sobre a vergonha que tinha por usar uma «prótese no olho» e do sofrimento de ser gozado.

O ser feminino, que ele chamava de Velia, ama-o e aceita-o incondicionalmente, disse ele, mesmo só com um olho, e aceita o facto de ele por vezes fumar marijuana, em contraste, por exemplo, com uma namorada que teve aos vinte anos e que tinha tendência para ser crítica, formal e possessiva. Pedi repetidamente a Dave para se concentrar, aconselhando-o a respirar fundo e a concentrar-se na respiração. Assegurei-lhe que não precisava de se sentir envergonhado por não conseguir controlar-se. Dave continuou a lutar contra o apagamento que teve quando olhava para os olhos do ser. «Eu olho para ela durante algum tempo e depois eles ou ela aumentam o controlo, ou então deixam que seja total... Pergunto-me para onde me vão levar», disse ele, e eu encorajei-o a deixar-se ir. «Acho que há mais do que um», disse ele. E a chorar, numa mistura de medo e alívio, continuou: «Agora estamos fora de casa. Há muitos, mas não os con328 SEQUESTRO sigo ver. Não sei onde estamos. Acho que nos dirigimos para uma nave que está numa clareira que eu fiz há cinco anos.» Dave explicou que, antes mesmo de construir a casa, fez uma grande clareira a cerca de quarenta e cinco metros de distância, talvez como que, inconscientemente, estivesse a convidar um OVNI a aterrar ali. Dave descreveu a nave como sendo «grande e redonda. Tem um diâmetro com cerca de dezoito metros. Acho que em cima tem uma cúpula.» Deixando de opor resistência ao controlo, Dave afirmou ter sido metido na nave pela parte de baixo. Sentiu o medo aumentar durante a sessão quando referia que fora forçado a deitar-se sobre uma mesa de barriga para cima, numa sala redonda e cinzenta, onde havia um cheiro «parecido com o da terra». Juntaram-se vários seres à sua volta «para me fazerem alguma coisa». Naquele momento Dave estava paralizado, capaz de movimentar somente os olhos, e sentia uma espécie de «firme encorajamento» comunicado telepaticamente pêlos seres, tendo em conta a missão que ele tinha de cumprir. O ser feminino estava presente, «a ajudar-me», «mas acho que são os seres masculinos que estão a dirigir o espectáculo». A mulher comunicou telepaticamente que «ia tudo correr bem», atenuando a sua ansiedade. «Acho que me espetaram qualquer coisa no rabo e penso que era isso que me atormentava», disse Dave. «Senti que me levantavam as pernas e as abriam». Neste ponto da sessão senti que Dave estava envergonhado e embaraçado, como homem, por estar a ser submetido a um procedimento tão humilhante e falei-lhe demoradamente sobre as forças do universo em relação às quais não temos qualquer controlo, sobre a potencial delegação de poderes ao reconhecer a falta de energia e sobre a inaplicabilidade das noções convencionais de masculinidade neste contexto. Em seguida, falou sobre um instrumento flexível, talvez com cerca de um metro de comprimento, com «uma pequena gaiola de arame» na ponta, dentro do qual estava um pequeno objecto esférico. Cerca de «metade» deste objecto foi inserido no seu ânus, enquanto a mulher continuava a animá-lo. Dave referiu as sensações de violação e resignação, à medida que o procedimento continuava, bem como as sensações de «formigueiro». «Aquilo entrava para dentro de mim. Entrava em outras partes do corpo, não era somente no ânus», disse Dave. Encorajei-o a exteriorizar a angústia e a raiva em relação ao que lhe estava a acontecer, o que conseguiu apenas em parte. Parte da sua raiva pare-

A MONTANHA MÁGICA 329 cia estar relacionada com experiências similares que recuavam aos seus doze anos e talvez até aos três anos. O instrumento foi retirado cerca de dois minutos depois. Dave acha que este procedimento foi uma espécie de «teste informacional» para «controlar o que fazemos fisicamente, como nos mantemos, em que condições está o nosso corpo, se se está a deteriorar, ou se estamos bem de saúde». Depois Dave sentiu que um ser alto lhe espetava um objecto pontiagudo no lado esquerdo da cabeça, junto à parte central da têmpora e que, surpreendentemente, só o magoou «um pouco». A mulher, que estava «à minha direita» continuava a dizer «Estou a fazer tudo bem. Está tudo bem. Olha para mim e reage ao que eu reajo.» Sentia «que confiava totalmente neste ser.» Depois colocaram-lhe no pénis um dispositivo parecido com um êmbolo que estava ligado a um tubo; embora lhe fosse difícil falar sobre isso, Dave considerou que, apesar de tudo não era tão humilhante «como a coisa que foi espetada no meu ânus... Obrigaram-me a ejacular», disse ele, o que «me deu prazer, como acontece a qualquer homem. Só que as circunstâncias dispersavam-me, distraíam-me de qualquer prazer que podia ter com aquilo.» Finalmente, Dave crê que «me puseram qualquer coisa no estômago», um «dispositivo sensorial circular» com cerca de vinte centímetros de diâmetro, para «verificar alguma coisa lá dentro. Sentia alguma vibração. Não era desagradável», disse ele. O «exame físico» chega ao fim, mas «depois ela fala um pouco comigo ou comunica comigo», por exemplo, «que eu me estava a portar bem». Esta «troca» ocorreu quando Dave estava sentado na ponta da mesa com os braços ao lado e «as pernas a balançar». Houve também comunicação sobre uma espécie de missão que Dave tinha de realizar, pois «não estamos todos eternamente na Terra. Estamos aqui durante um tempo limitado, e temos de o aproveitar ao máximo, e isso explica porque é que, a partir daí, a morte passou a ter um grande significado para mim. Não vou ficar aqui para sempre». O ser feminino era de opinião que Mestre Joe era o guia de Dave, e «eu sei que tenho de continuar a fazer o que Mestre Joe quer que eu faça.» Depois de terminarem os procedimentos e a comunicação acima descritos, «os seres ampararam-me para descer da mesa e da nave». Os seres «levitaram-me ou coisa parecida» e acompanharam-no durante o trajecto até casa e através da porta fechada e trancada; aí 330 SEQUESTRO viu «um brilho lá fora» que vinha da nave na clareira. Os seres levaram-no a flutuar pelas escadas acima, passaram através da porta do quarto, e «colocaram-me» na cama, ao lado da esposa, que ainda estava a dormir. Logo que os seres se foram embora passando através do tecto inclinado ao lado do quarto, Dave moveu-se devagar para junto da mulher e «enroscou-se». «Eu só queria ser reconfortado», devido ao «que me tinha acabado de acontecer», disse ele. «Queria estar bem junto dela quando acordasse.» Depois da regressão, recapitulámos o que tinha acontecido. «Foi um inferno», admitiu ele. Quando lhe chamei a atenção por estar a contornar as situações difíceis sem se deter nelas, respondeu-me astutamente: «Pensa que eu suportaria passar por mais alguma coisa?» Sentia «que descarreguei um pouco, emocioalmente, sinto-me esgotado», mas surpreendido por se ter lembrado de tanta coisa.

«Não parecia estar mesmo lá, mas consegui lembrar-me de ter estado lá. Recordava agora que o OVNI tinha ficado suspenso no ar a cerca de três metros e meio de altura da clareira, e estava agora convencido que tinha «construído um sítio para eles descerem.» Cerca de duas semanas depois deste sequestro, Carolina disse a Dave que, uma semana após a sua experiência, tinha visto o que podia ser um rosto de extraterrestre no quarto e que tinha pensado: «Oh, é por ali que eles entraram, ou é por ali que eles entram.» Júlia, para dar apoio, disse-lhe que, depois de se submeter à hipnose, sentia, por vezes, uma ligeira depressão, mas acrescentou que «isto vai-se clarificar e continua-se para a frente... Nem tudo são rosas», disse ela, « e contudo, a mim faz-me bem lembrar-me das coisas. É libertador. É maravilhoso.» Ficou espantada com o facto de também ela ter tido períodos de comunicação com os seres sentada na ponta da mesa, com as pernas pendentes e os pés a balouçar. Parecia, de algum modo, frívolo, «depois do que eles faziam», um «pormenor incongruente» que «não encaixava». Júlia também se lembrou de um instrumento parecido com um tubo que tinha uma «gaiola» na ponta (ver desenhos da pág.). Depois disto, Dave informou que fazia tenções de regressar à Pensilvânia, notando que não gostava de conduzir depois de anoitecer. «A aproximação das luzes incomoda-me», disse ele; «Não suporto luzes brilhantes.» Dave chegou são e salvo e falei com ele pelo telefone no dia seguinte. Disse que se sentia «sem energia» devido ao seu trabalho em Boston e disse que falara com o seu amigo Jerry e com Carolina A MONTANHA MÁGICA 331 sobre as suas experiências e que eles ficaram de certo modo perturbados com o que Dave aprendera. Tinha deixado de opor resistência a algumas das suas defesas e as experiências pareciam-lhe «mais reais». Dois dias depois falou com Júlia, parecia animado, tinha «uma perspectiva clara da vida» e estava a tentar enfrentar uma «avalancha» de perguntas dos amigos. Júlia aconselhou-o a não revelar pormenores das sessões de hipnose. Disse que estava a pensar limpar a clareira atrás da sua casa, e ela resistiu à tentação de perguntar se isso era para facilitar a aterragem do OVNI. Dez dias depois, Júlia telefonou-lhe para saber como estava. Sentia-se ligeiramente deprimido depois da sua experiência de Boston, mas também porque queria fazer trabalho conciliador e achava que manter «vivas as pessoas mortas» através dos cuidados de saúde, não lhe «parecia certo». Disse que não tinha medo dos extraterrestres e afirmou que ao limpar a clareira atrás de casa pretendia «fazer que eles tivessem um lugar bonito para aterrarem». A 9 de Setembro, Dave escreveu uma carta a Júlia, dando início a uma correspondência que se prolongou durante o Outono e o Inverno e que documentava as suas experiências de sequestro, as coincidências aparentemente significativas e outras experiências importantes que envolviam os seus irmãos e outras pessoas da comunidade. Numa longa carta manuscrita que me endereçou, Dave dava conta de muitos pormenores das experiências de sequestro com colegas e amigos e acrescentava: «Conheço pelo menos 15 sequestrados nesta área, incluindo os meus 3 irmãos.» Tornara-se cada vez mais difícil dar apoio a doentes terminais com quem não podia comunicar e tinha reduzido o seu horário de trabalho. Sentia que a sua missão tinha a ver com a filosofia Chi, mas era-lhe difícil aceitar

«grandes responsabilidades». Era já cinturão azul em Karaté, «quase cinturão negro». Em Outubro disse-me por telefone que a sua esposa tinha visto um ser extraterrestre aos pés da cama. Numa outra longa carta, datada de Janeiro de 1993, Dave documentava pormenorizadamente as sincronias sobre as quais tínhamos falado ao telefone. Juntou fotografias de uma espécie rara de veado, metade albino, com uma coloração preta na parte de trás das orelhas e na cauda (conhecido como «malhado») que abatera em Dezembro. Afirmava que «se soubesse que era tão bonito, acho que não o teria abatido». O taxidermista a quem levou a pele afirmara que nunca vira nada igual. Quando, alguns dias mais tarde, telefonou a 332 SEQUESTRO Charlotte Hampton, esta disse-lhe que também vira um veado malhado no meio de uma manada que «corria à volta do sítio onde ela trabalha». Quando se aproximou deles, o malhado foi o único que não fugiu. Dizia também nessa carta que estava a planear encontrar-se com Charlotte Hampton em Gettysburg e acreditava que esse desejo podia estar relacionado com uma vida passada e «com sensações que tive há uns anos atrás, de uma possível participação na Guerra Civil.» Acrescentou que Júlia dissera «que a primeira vez que me vira pessoalmente de pé na sua sala de estar, viu-me de pé fardado com um uniforme de Condefederado.» Acreditava que, entre as duas e meia e as três da manhã, era sequestrado e sobre isso escreveu: «'Eu voltei' com uma enorme sensação de paz. Acho que isso aconteceu porque fui hipnotizado por si e resolvi a questão interiormente.» No início de Fevereiro, Dave disse a Júlia que «seis seres apareceram a Carolina, no quarto» por volta da uma da manhã, quando ele tinha saído para por a minha carta no correio. Acordou com os braços cruzados com força sobre o peito e viu os seres à volta da cama. De acordo com os apontamentos de Júlia, quatro deles «foram embora, passando através da parede atrás do armário de Dave (em direcção à clareira). Dois outros foram para trás da mesinha de cabeceira.» De acordo com Dave, Carolina estava furiosa com isto e só lhe contou quase vinte e quatro horas depois. Dave disse também que ela tencionava começar a frequentar aulas de hipnose para ajudar outros sequestrados. Dave voltou a Boston em Março para se submeter a mais sessões de hipnose. Queria explorar, em particular, as experiências de sequestro da infância que pareciam estar relacionadas com a Montanha Pemsit. Assistiram às duas sessões, que tiveram lugar alie 12 de Março, Júlia e também Kishwar Shirali, uma psicóloga clínica indiana profundamente interessada em fenómenos transpessoais e profunda conhecedora da mitologia Hindu. No início da primeira sessão revimos as experiências acima documentadas, ocorridas após a sua última visita em Agosto, e falámos sobre as sensações de temor e admiração que experimentamos quando se manifestam nas nossas vidas modelos e padrões de sincronia idênticos a estes. Dave falou do que estava a aprender sobre a filosofia Chi e das suas relações com a evolução espiritual humana, sobre a simetria de elementos, sobre as principais origens da energia A MONTANHA MÁGICA 333 do universo, sobre o papel das águias nas emanações espirituais, sobre a capacidade que os bebés têm de perceber outras realidades e

como os sonhos nos possibilitam aceder a essas realidades. Disse que estava a aprender a abrir o seu Chi e a controlá-lo através das mãos, conseguindo que ficassem quentes. A Dr1 Shirali referiu processos similares que conhecia relacionados com a meditação yoga e budista. Dave disse que falara com Mestre Joe sobre a possibilidade dos seres extraterrestres dominarem a capacidade de comunicar telepaticamente usando algo parecido com o Chi, sendo os seus alvos preferenciais as pessoas que alteraram a sua regulação de energia ou «ponto de reunião.» Quando perguntei a Dave o que queria fazer durante a regressão, replicou: «Quero descobrir coisas sobre a Montanha Pemsit» e «aparentemente está tudo ligado com o Chi e acho que, por alguma razão, o Chi está ligado com a experiência. A experiência que mais me persegue é a dos três motociclistas a descerem a rua na minha direcção, quando tinha três anos.» Todas as suas primeiras experiências envolvendo «visitantes» ocorreram na montanha que, para os índios americanos, é dotada de poder espiritual e significação, conforme Dave ressaltou novamente. Muitas pessoas que viveram perto da montanha acreditam também que se trata de uma «base OVNI». No início da regressão, os pensamentos de Dave foram até Sober's Holiow, um lugar onde ia pescar na companhia de Rob, de cuja morte falámos em Agosto, bem como sobre as suas experiências com OVNI, e de outro amigo cujo filho também morrera num acidente de viação. Este amigo é um sequestrado e Dave, antes de saber da morte do rapaz, vira-o durante uma experiência de sequestro dois dias depois da sua morte. Em seguida, Dave começou a chorar e lembrou-se de estar no pátio da sua casa de infância e ver o seu pequeno cãozinho Spotty ser atropelado por um camião. Sentiu medo de «estar com eles... Atravessei o pátio em direcção à estrada. São cerca de quatro passos. Até ao poste dos telefones. Eis que vêm os três motociclistas a descer a colina em grande velocidade. Estavam a cerca de noventa metros e apontaram na minha direcção.» Dave sentiu de novo a luta pelo controlo fazendo pressão sobre o estômago. Quando se interrogava sobre o que era tão aterrador, as (agora duas) motorizadas com três condutores negros «transformaram-se em seres». «Levaram-no flutuar» para trás de uma moita no A MONTANHA MÁGICA 335 deu: «Acho que sempre a conheci», querendo dizer «antes desta vida ou coisa parecida.» Neste ponto da sessão colocava-se-nos uma opção, face a duas alternativas que apresentei a Dave: ou avançar para o período «anterior a esta vida» ou explorar outras experiências associadas com a montanha. «Quero ir para a montanha», disse ele. O «fim da montanha» onde «estão expostas as camadas de rochas que constituem a montanha», «um lugar de grande poder», disse. «É por isso que eles vão para lá... Acho que eles vão para lá por causa da energia». Em seguida, Dave sentiu uma energia ardente que parecia irradiar da parte de baixo do umbigo para o resto do corpo e mesmo para fora, parecida com a que sentira aquando das suas experiências dos três e dos doze anos. Dave recordou-se de como ia até ao fim da montanha quando tinha doze anos. «Penso que os índios costumavam ir para lá. Sou um índio moderno.» Depois, «todas estas memórias querem surgir». Estava «de volta ao fim da montanha», sobre o Vale de Spangler, num atalho «por cima do celeiro de Matt... De repente fui deitar-me

debaixo da árvore», disse Dave, enquanto sentia o formigueiro pelo corpo. Vários seres «apareceram a flutuar à volta da curva» de um caminho habitualmente inexistente e que surgia agora ali numa ladeira íngreme da encosta da montanha. O seu temor aumentou de intensidade durante a sessão, à medida que se lembrava de se sentir «chocado e surpreso» porque os seres o fizeram flutuar, com os pés para a frente, ao longo do caminho. «São só setenta metros a partir do sítio onde eles começaram a flutuar-me até darmos a curva e eu vejo a nave». Estava num vale, suspenso no ar. «É espantoso», disse ele, embora «já antes tenha estado com eles nas naves». Embora fosse durante o dia, a nave, de forma esférica, parecia brilhar intensamente e Dave sentiu «medo e temor» por «eles serem tão poderosos». (Recordou-se de, aos catorze anos, ter falado com a sua catequista sobre o trabalho sobre OVNI e esta lhe ter dito que vira uma coisa parecida com o sol aterrar e descolar várias vezes do fim da montanha). Em seguida, os seres levaram-no a flutuar para dentro da nave, através da base, e colocaram-no sobre uma mesa que assentava num «pedestal com luzes coloridas que parecia erguer-se do chão e que era todo uma única peça.» A sala em que se encontrava e o tecto eram muito brilhantes e Dave viu uma espécie de painel de instrumentos à direita. Estava cheio de medo, à espera de algo pare336 SEQUESTRO eido com um «checkup». Viu cerca de seis seres, entre eles a mulher que já conhecia, vários mais pequenos e um homem que comandava. O ser masculino era parecido com a mulher, excepto os olhos que pareciam mais arredondados. Seguidamente, Dave parecia livre do medo, da paralisia e do desamparo que na altura sentira. Crê que tem treze anos, «em plena puberdade». A pior parte «do exame», disse ele, é quando eles «introduziram uma coisa qualquer no meu ânus. Já o tinham feito antes», acrescentou, «quando tinha doze anos». Dave estava determinado em «concentrar-se» na memória da experiência. Enquanto a mulher estava ao seu lado dando-lhe apoio, um dos homens afastou-lhe as pernas e «pôs essa coisa, com uns sessenta centímetros de comprimento, uma coisa parecida com as que são usadas para remover os canos de esgoto. Tem uma espécie de extremidade larga de arame ou algo parecido com uma estrutura de arame na ponta». Introduziram-na «muito mais fundo do que se pode pensar. Era para me testar», para «ver como me saía», acrescentou Dave. Sentia desconforto e humilhação, mas pouca dor, e «era uma situação idêntica à de um animal num zoo.» O medo e temor «ofuscavam» a ira que sentia. «Não se pode fazer nada» porque o poder deles é «total». Depois de andarem com o tubo à volta durante cerca de dois minutos, retiraram-no e os seres mostraram-se satisfeitos em relação à sua condição física. Dave compartilhou até certo ponto aquela satisfação face aos resultados do check-up, porque se sentia «de algum modo semelhante a eles» e sentia «que os conhecia... Admiro o seu poder», disse ele, e «sinto que sou tanto ou mais extraterrestre do que humano.» Questionei-o sobre a «semelhança» e o «sentimento de pertença», ao que respondeu que «são mais compatíveis com este mundo do que os humanos». Recordou a mudança para a escola preparatória quando troçaram dele por causa do «olho falso», e de ser considerado «esquisito» por pertencer ao quadro de honra e por ser inteligente. O ser feminino disse-lhe que «passaria por maus

bocados» por causa do olho, mas que «mais tarde, finalmente, isso deixaria de me incomodar.» Acrescentou também que ele tinha perdido o olho para aprender nesta vida «a viver com esse problema, porque tinha aprendido a viver com outras coisas mais». Isto envolvia uma espécie de preparação combativa, incluindo o seu trabalho com Mestre Joe com o objectivo de controlar o seu Chi. Mestre Joe, A MONTANHA MÁGICA 337 repetiu Dave, crê que Dave atrai os seres extraterrestres por causa da força do seu Chi. Dave interrogou-se novamente se os extraterrestres «nos conheceram antes, noutras vidas» e se ele os teria conhecido. Talvez «seja uma afinidade de muitos anos», sugeriu. «Talvez eles ajudem a reciclar almas ou coisa do género, e não se preocupem apenas com as nossas vidas individuais, mas com a totalidade das nossas vidas devido à sua relação com o desenvolvimento das nossas almas, com a evolução da terra.» Se tivesse nascido com uma «energia superior» cabia-lhe a responsabilidade de se tomar um professor, para «se aproveitar disso» e «para dar o exemplo aos homens mostrando que há muita coisa para além do que conseguimos ver, que a nossa parte espiritual é a mais importante... se as pessoas percebessem quão importante é a parte espiritual, não existiriam os problemas que temos... os limites do Chi dependem unicamente da imaginação», concluiu Dave. No final da sessão, a Dr" Shirali estava impressionada com o poder das experiências que Dave revivera e com a importância que adquiriam por nos permitir olhar para as coisas de maneira diferente. Também ela sentira um formigueiro nas mãos e nos pés, durante a sessão. Sugeriu que talvez fosse necessário passarmos por experiências «transcendentais» para despertarmos para a realidade das outras dimensões. Estava impressionada com a forma como o uso consciente da respiração durante sessão contribuirá para criar uma linha ou traço entre o «meu ser interior» e o de Dave. Júlia estava também profundamente emocionada com a sessão. «Tocaste em coisas sobre as quais tenho pensado muito ultimamente», disse ela a Dave. Referiu-se de novo à semelhança entre a sonda anal descrita por Dave e os desenhos de um instrumento similar que fizera dois anos antes. «Os instrumentos não têm qualquer semelhança com os que actualmente usamos», observou ela. Acrescentou que a sua filha de oito anos também tinha visto uma nave esférica. Concordámos encontrar-nos na manhã seguinte para continuarmos a explorar a questão aflorada por Dave no final da última sessão: se os extraterrestres «já nos conheciam de outras vidas anteriores». Júlia e a Dr° Shirali estavam de novo presentes, mas Pam Kasey não pôde estar connosco. Antes de induzir o estado de transe, encorajei Dave a deixar que as suas associações recuassem até aos seus três anos de idade quando conheceu o ser feminino e à sensação de ambos sentirem a falta um do outro. 338 SEQUESTRO A primeira coisa que recordou depois de uma longa pausa foi que era um índio americano, chamado Pantera-do-Vale, pertencente à tribo Susquehennock que vivia perto da Montanha Pemsit, e que estava a estudar para ser curandeiro. Isto aconteceu «antes dos índios conhecerem o Homem Branco», disse Dave mais tarde. O rapaz vivia junto ao rio, pescava sáveis e secava carne para o Inverno. As águias viviam nos rochedos, ao longo do rio. «A águia é mesmo

especial. A montanha é como um lugar especial. Os curandeiros vão para lá para terem visões, para viajar.» Quando se sentiu preparado, também ele subiu à montanha para ter visões e foi aí que conheceu Velia (a extraterrestre familiar) que era «uma amiga e protectora». Sentia-se triste porque tinha saudades de estar com ela e também porque alguma coisa ia acabar com a sua vida. Chorou um pouco quando se lembrou das guerras territoriais com os Iroquois e de «uma grande batalha à volta da Ilha de Holiowman». Usava pele de veado para cobrir o corpo e transportava arco e flecha e uma lança de guerra, e fazia a sua iniciação como guerreiro. A batalha foi confusa, com muita gritaria e ele foi ferido por uma seta que o atingiu a parte esquerda do peito, atravessando-lhe o coração. «Ardia, e depois ficou dormente. Estava simplesmente dormente.» Tossiu sangue que lhe encheu a boca e o sufocou. Depois perdeu a consciência e morreu. «Só sei que a seguir estava fora do meu corpo.» Viu o seu corpo em baixo, caído de costas e um dos guerreiros Iroquois a dobrar-se sobre ele e a cortar-lhe o escalpe. Depois sentiu-se «a flutuar no ar» e «dissipar-se, espalhando por todo o lado algo parecido com um nevoeiro de cristais... Gosto de ir para todo o lado. Fui disseminado de forma muito fina. Sentia paz. Penso que, de algum modo, Velia estava ali depois de me ter separado do meu corpo, quando estava a morrer», disse ele. Perguntei-lhe em que altura é que a tinha visto. Não a tinha visto de facto, mas «senti a sua presença». Depois de ter flutuado no ar «soube que ela estava ali», replicou. «Acho que já a conhecia antes», acrescentou. «Sou de opinião que, para os índios, é mais fácil morrer. É uma coisa mais natural, simplesmente tranquilizadora. Muito calma. A morte é apenas parte da vida, por isso não é difícil de aceitar, não tão difícil como para nós.» Dave estava um pouco surpreso por ter descoberto esta específica vida passada. «Nunca, nunca pensei que essa tinha sido uma das minhas vidas passadas.» Quando, durante a regressão, falou pela primeira vez sobre o incidente não foi capaz de se lembrar do nome do rapaz. A MONTANHA MÁGICA 339 Perguntei-lhe qual era a sua ligação a Velia depois de morrer. Respondeu: «Quando flutuei para fora do meu corpo, antes de me dissipar, ela disse-me que estaria ao meu lado, mesmo quando eu voltasse». Sentindo-se triste de novo, disse: «Depois nasci de novo em Virgínia». Quis saber a causa da sua tristeza, pois estava a chorar de mansinho. «Acho que vivi lá em algum sítio e estava mesmo feliz», mas «tive de ir embora.» Pedi-lhe para voltar para trás e que me contasse primeiro como é que passou do estado «dissipado» para o seu renascimento na Virgínia. «Foi simplesmente como se me tivesse juntado de novo e voltasse de repente para o mundo.» Insisti para que explicasse como é que tinha feito isso. Não tinha, de algum modo, de adquirir a forma física de novo? «Tive de ir para o útero de uma mulher», disse ele. A mulher chamava-se Mary Peg e tinha cabelo comprido, preto. «O meu pai chamava-se John», que descrevia como sendo um homem grande, de cabelo ruivo. Habitavam numa pequena cabana e viviam da exploração de uma pequena quinta. Perguntei porque fora Mary a escolhida e como é que ele entrara no seu útero. «Simplesmente entrei para dentro dela, numa noite de Inverno», disse ele, «estavam todos a dormir e havia ainda umas brasas acesas na lareira. Entrei no seu útero. Sabia que era para ali que queria ir. Quando me introduzi, ela ficou grávida. Estava deitada a dormir e eu entrei para dentro dela.» Interrompi-o neste ponto,

observando que para uma mulher engravidar é necessário que o óvulo seja fertilizado. Explicou-me que Mary e John tinham tido relações nessa noite e «que o óvulo se fertilizou após ambos terem feito amor» e «eu entrei dentro dela no momento em que o ovo foi fertilizado». Pus de lado a possível discrepância de ela se encontrar já a dormir quando ele «entrou» e perguntei: «E depois?» Dentro do útero de Mary estava «escuro e quente», o seu trabalho de parto foi curto e Dave lembra-se de «uma grande pressão» e de sair «de cabeça». Era o primeiro filho de Mary e o segundo, uma menina, não sobreviveu. Dave chorou ao lembrar-se da tristeza de Mary. «Acho que ela não viveu muito mais tempo» A tristeza também estava relacionada com a Guerra Civil e com a sua própria morte. «Vivemos ali na quinta, e eu cresci. Era um tipo grande e pensei que tinha de ir para a guerra». Era inteligente, bom cavaleiro e serviu como batedor ou espião do lado dos Confederados. Foi capturado pêlos soldados da União e enforcado aos dezanove anos. 340 SEQUESTRO Dave sugeriu que estas mortes durante guerras tenham relação com o facto de ele não ter ido para o Vietname. «Alguns tipos da minha idade foram para o Vietname. Desta vez não tive de ir. Fiquei frustrado nessas vidas passadas» porque não tinha chegado à idade adulta. «Não fui incorporado», disse-me ele mais tarde, por carta, em resposta à minha pergunta. Começaram a fazer o sorteio para a incorporação através das datas de aniversário, para determinar quem seria seleccionado primeiro e por que ordem. O meu aniversário era o 353° da lista e eles não chegaram até lá. Além disso, teria conseguido a desmobilização devido ao problema do olho.» Fi-lo recuar até ao seu relacionamento com Velia. «Eles» também não vivem eternamente, disse ele, mas Velia estivera sempre ao seu lado durante estes três períodos de vida. Disse que sente amor por ela. «Ela está sempre ao meu lado. É uma pessoa firme.» Crê que se encontrou com ela pela primeira vez ainda rapaz, quando encarnou num índio americano. Tinha talvez catorze anos, estava junto a um rio quando a viu a «flutuar sobre o rio, por um caminho.» Ficou surpreendido ao vê-la, «gelado de medo» por «não saber quem era ela.» Perguntei-lhe qual era o seu aspecto. «O de sempre», respondeu. «Tinha pele cinzenta, cabeça grande, olhos pretos grandes e disse que eu não a conhecia realmente... Era como se fosse um espírito... Analisou-me psiquicamente... Não tive outra alternativa. Deitei-me [mais tarde disse que ela «o tinha feito flutuar»] no chão. Conversou um pouco comigo. E a seguir foi-se embora.» Depois disso, «levantei-me do chão» e sentiu-se «feliz por aquilo ter acontecido — era como ser escolhido .» Falou com um curandeiro sobre o encontro com este ser e «ele chamou-os guardiões». O curandeiro «também descreveu as características ocorridas durante a experiência e que têm a ver com os escolhidos» e explicou que os guardiões «tentam que nos relacionemos com o nosso lado espiritual.» Perguntei como é que eles faziam isso. Respondeu-me: «Simplesmente andando por aí, através da exposição do nosso eu interior ao seu poder. Perguntei-lhe se se lembrava de mais alguma coisa relacionada com o encontro no vale.» Velia disse que se nós perdêssemos a ligação com a terra isso seria mau para nós... a ligação com a terra faz parte daquilo que é espiritual em nós, é parte da nossa vertente espiritual... parte do mundo

natural, parte da globalidade.» Ela disse-me (toda a comunicação foi telepática) que um dia iria A MONTANHA MÁGICA 341 aprender coisas sobre as águias. «Os índios achavam que as águias eram espiritualmente importantes, simbolizavam qualquer coisa, integravam o Grande Espírito.» Ela disse-lhe que «se preocupava comigo e que estaria sempre a observar-me». Depois do encontro com Velia, Dave viu uma pantera negra e crê que recebeu o nome de Pantera-do-Vale «porque», confessou-me ele mais tarde por carta, «foi vista uma pantera junto ao vale no dia em que eu nasci. Por isso, quando eu vi a pantera negra junto ao lago após a minha experiência, tomei isso como um bom augúrio. Era uma sincronia ocorrida numa vivência passada, idêntica às que sinto actualmente.» Perguntei-lhe se sabia mais coisas sobre Velia, que parecia existir sob alguma forma, tenha ou não encarnado numa ou noutra vida. Dave teve dificuldade em responder. «Acho que não é o mesmo quando se morre — como se a quiséssemos perseguir e ela não tivesse existência corporal», querendo dizer, penso eu, que mesmo que ela existisse sob uma forma não-corpórea, seria difícil encontrá-la, mesmo depois de nós (seres humanos) morrermos. Contudo «ela está sempre viva», mas a forma corpórea «não é uma parte importante do seu ser. Eles são mais, são mais espirituais... Querem que saibamos», acrescentou ele, «que não é a nossa parte material que tem muito interesse, que é aí que se levantam os problemas dos homens». Pedi-lhe para falar um pouco mais sobre isso. «Quando se é índio e se está muito próximo da terra, é-se realmente espiritual», disse ele, «e quando nos afastamos dela, tornamo-nos mais materiais, e isso em nosso detrimento.» Chegávamos ao fim da regressão e Dave sentiu-se triste quando recordou a sua proximidade com a montanha durante a sua adolescência e como imaginava que seria antes dos homens brancos chegarem. «Foi o que fez despoletar, nesta vida, a minha busca espiritual, pensando nisso a toda a hora... Ansiava por esses tempos em que tudo eram grandes árvores e tudo era puro... Foi essa a razão pela qual», explicou ele, começou a ler os livros de Don Juan, depois de observar um OVNI aos dezanove anos. Estava à procura do conhecimento dos índios americanos e admirava a proximidade que os índios tinham da terra. Depois da regressão, Dave lembrou-se que nunca quisera sair de casa enquanto os seus irmãos estavam a crescer, apesar de sentir que «devia estar já a viver por minha conta», e relacionou isto com a sua morte prematura durante as suas duas vidas anteriores por nós explo342 SEQUESTRO radas durante as sessões. «Não me queria separar dos meus irmãos, porque eram rapazes, sabe. Queria vê-los crescer, queria mesmo vê-los crescer.» Isto «começou a ser realmente importante para mim aos dezanove anos». Teria pensado na altura: «em breve terão a minha idade, e mudamos completamente entre os catorze e os dezanove anos. Queria ver cada um dos meus irmãos a atravessar essa fase de transição.» No dia anterior à última regressão, Dave revelou que certa vez tivera uma visão, vários anos antes, de ter sido um espião da cavalaria apanhado durante a Guerra Civil. Disse também que Mary, a sua mãe que vivia numa pequena quinta da Virgínia, era Charlotte

Hampton, mas «tive medo de dizer isto.» Isto deu origem a uma discussão sobre o estatuto de realidade das experiências das vidas anteriores. Avancei com a hipótese de se encarar a consciência como «uma estrutura contínua» e a possibilidade de podermos ser identificados com qualquer objecto do cosmos, dependendo da tarefa evolucionista em curso. A Dr'1 Shirali falou sobre o posicionamento Hindu face «à globalidade da coisa divina que também existe dentro de nós. O Brahma, o todo, a parte reflecte o todo e o todo está reflectido na parte... Não pode existir um tempo linear.» Dave concordou dizendo que só «alguma parte» dele tinha estado antes com Velia. Júlia, que estivera a recordar as suas próprias experiências durante as vidas passadas, emocionara-se bastante durante a sessão. Começou a chorar à medida que novos pormenores destas experiências lhe eram revelados e sentiu que ia ao «encontro das minhas próprias respostas.» Observou que mais do que uma pessoa «era potencialmente capaz de aceder à mesma vida.» Trouxe também os seus desenhos da sonda anal, que comparou cuidadosamente com o desenho feito independentemente por Dave; a única diferença era que o dela mostrava a sonda aberta enquanto o de Dave a mostrava fechada. «A única razão por que o vi aberto», disse ela, «foi porque o doutor mo mostrou aberto.» Dave chamou a esta sessão a «pedra de remate» que lhe permitiu estruturar uma série de coisas. Interrogava-me sobre a potencial ligação entre a sua infância e as mortes durante a adolescência, ocorridas no decurso das suas experiências em vidas anteriores. «Tenho trinte e nove anos, quase quarenta, e não me comporto como tal», disse ele. «Agora percebo porquê», notou ele, «não passo de um rapaz crescido». Os dezanove anos, disse ele no final do encontro, A MONTANHA MÁGICA 343 foram «sempre muito difíceis.» Quando ele, e depois os seus irmãos, atingiram essa idade, receara que «não conseguissem ultrapassá-la.» Falei com Dave poucos dias depois do seu regresso da Pensilvânia. As suas experiências durante as regressões tinham sido profundas e a sua assimilação era lenta. Sentia-se de algum modo isolado e andava muito a pé, para tentar «encontrar a explicação das coisas.» A sua esposa «não consegue penetrar nas coisas com a profundidade desejada» e Mestre Joe andava bastante ocupado, apesar de, à luz da teoria budista, considerar válidas as experiências de vidas passadas. No início de Abril, Dave escreveu-me uma carta que reflectia a integração que posteriormente fez do material obtido durante as regressões. «Isto faz que tudo nesta vida faça sentido», disse ele. «Nunca mais olharei para a Monranha Pemsit da mesma maneira», escreveu ele. «O que o cume da montanha encerra já não está envolto em tanto mistério.» Dave associou o seu relacionamento com Charlotte Hampton, que fora sua mãe durante a Guerra Civil, e a experiência actual entre os dois, com «a abertura dos meus canais Chi». Jantara com ela em Filadélfia a 25 de Março e «démo-nos tão bem que até estranhei.» Júlia disse-lhe que ela própria tinha tido uma irmã que morrera na altura em que Dave vivera em Virgínia, o que explicava a sua actual relação. «A sua investigação uniu-nos nesta vida», escreveu ele. No início de Junho tivemos uma longa conversa telefónica. Dave sentia-se bem e e havia progressos no seu trabalho com Mestre Joe. Tinha «encontrado as suas mãos» durante um sonho, o que, segundo lhe fora dito, constituiu um passo importante para o controlo do seu

Chi e tornou-o capaz de voar em sonhos. Muitas pessoas vinham ter com Dave para que ele as orientassse, incluindo um excelente praticante de Karaté de dezassete anos (aconselhado por Mestre Joe) e que tinha experiências de sequestro desde os cinco anos. Alguns dias mais tarde Dave disse a Pam que uma rapariga lhe dissera espontaneamente «que os seres tinham um lugar no cimo da montanha» e isso «emocionou-me muito». A leitura de um livro sobre uma mulher que se tornara xamã e passara por experiências de sequestro levava-o a estabelecer ligações entre o xamanismo e os sequestros. No final de Junho, Dave escreveu-me outra longa carta, cheia de «estranhas coincidências» e novas conexões entre as pessoas com quem actualmente se relaciona e as que conheceu em vidas anteriores. A espiritualidade dos índios americanos, o xamanismo, os estra344 SEQUESTRO nhos poderes da natureza, a alteração das realidades, o Chi, o karaté, o domínio dos sonhos, os sequestros com OVNI, as experiências em vidas passadas e uma multiplicidade de sincronias, tudo isto constitui para Dave um misterioso quebra-cabeças cujas peças, de acordo com Mestre Joe, está a aprender a encaixar. DISCUSSÃO O caso de Dave ilustra particularmente bem que o fenómeno de sequestro não pode ser considerado isoladamente. As suas experiências de sequestro estão ligadas a uma grande variedade de outras forças e energias naturais, em relação às quais Dave está ligado desde a sua infância. Inclui-se aqui a sua profunda reverência pela natureza e seus mistérios, uma ligação íntima com os índios americanos e com o xamanismo, um sentimento pessoal em relação ao significado espiritual de certos animais (especialmente águias e veados) e uma determinação no sentido de dominar o seu «Chi», entendido como a «força que penetra no universo do qual a realidade emana». A medida que Dave se foi abrindo para a realidade destes e de outros fenómenos naturais e ensinamentos espirituais, sentia que o mundo se transformava num lugar de admiração e temor e a terra num lugar cada vez mais sagrado. Esta abertura foi associada com uma série de «coincidências» aparentemente significativas (sincronias) que, consideradas no seu todo, sugerem um padrão de conexões, uma consciência de desígnio, no cosmos em que Dave vive. A Montanha de Pemsit, junto ao lugar onde Dave cresceu, é o centro da tradição e do saber dos índios americanos, um lugar com uma energia especial e que é associado por muitos dos seus habitantes aos próprios OVNI. A observação nítida, mesmo espectacular, de um OVNI junto à montanha, quando Dave tinha dezanove anos, testemunhado separadamente por um seu amigo e por um dos seus irmãos, e confirmado pêlos órgãos de informação locais, contituiu um ponto de viragem na vida de Dave. Depois desta experiência, durante a qual crê ter visto dentro da nave os olhos escuros de um ser extraterrestre a olhar para ele, Dave decidiu ler tudo o que encontrasse sobre o tema do desconhecido para saber o que ele encerrava. Chegou a descobrir escritos de budistas tibetanos que pareciam confirmar o que sabia sobre OVNI. A MONTANHA MÁGICA 345 As experiências de sequestro de Dave contêm intromissões familiares traumatizantes, humilhantes para um homem, que muitos sequestrados experimentaram. Inclui-se aqui a saída de casa contra

sua vontade, a extração de amostras de sémen e as aterradoras sondas anais que os extraterrestres repetidamente classificavam de check-ups, uma espécie de programa de protecção sanitária. Mas à medida que estas questões eram analisadas no contexto da sua acelerada evolução pessoal, o terror e a raiva de Dave eram substituídos pela admiração e receio que sentia e pela vontade de se entregar ao poder de um processo que não entendia. Neste contexto, Dave tornou-se cada vez mais consciente da forte ligação afectiva com um ser feminino a quem chamava Velia, que conhecia desde os seus três anos e, de acordo com o que descobrimos na sua terceira regressão, mesmo de vidas anteriores. Velia parecia ser a principal agente da evolução da consciência de Dave. As nossas investigações trouxeram à luz informação que ela partilhara com Dave telepaticamente sobre o perigo que a perda da ligação emocional e espiritual com a natureza constituía para a nossa sobrevivência e para o destino da terra. Velia foi o elo através do qual Dave conseguiu reforçar a ligação entre a sua identificação com a adoração que os índios tinham pela natureza e o seu acutal papel de líder local. Neste contexto, é interessante que tenha descoberto, durante a última regressão que os curandeiros indígenas americanos têm conhecimento dos seres extraterrestres e que os consideram «guardiões» ou protectores da natureza. E escusado dizer que nada disto faz sentido à luz do paradigma ontológico ocidental, no qual não cabem as forças ocultas da natureza, as inteligências presentes no cosmos que guardam o nosso destino, os seres que entram no nosso mundo com uma forma física, mas que não têm de facto essa constituição, vidas anteriores, e mesmo os próprios OVNI. Contudo, apenas uma pequena parte da personalidade de Dave pode ser usada para explicar as suas experiências de sequestro. É um homem prático, ligado à terra, que construiu a sua casa, respeitado pela sua comunidade, e que está há quinze anos no mesmo emprego. Não há nada nele que sugira uma tendência para a psicopatia, para as alucinações ou propensão para a fantasia. Tal como muitos sequestrados, Dave ofereceu muita resistência para aceitar as suas experiências de sequestro. Teve uma atitude de recusa durante a primeira sessão de hipnose, que chamou de «coisa anor346 SEQUESTRO mal», apesar de ter tido memórias conscientes de encontros extraterrestres antes dessa sessão. Poder-se-ia argumentar que as suas leituras tiveram influência nas suas experiências, mas aconteceu um processo inverso: foi à procura de informação nos livros depois de ter vivido uma experiência que não fora capaz de entender. O caso de Dave colocou-nos finalmente perante uma questão que tantos casos discutidos neste livro nos puseram. Como é que encaramos a própria consciência enquanto instrumento de conhecimento? Há uma ténue evidência física que corrobora as suas experiências — a observação de OVNI testemunhada por várias pessoas, uma inexplicável cicatriz em forma de meia-lua que apareceu depois de um dos sequestros, e um conjunto de acontecimentos que estão tão extensa e complexamente ligados, que não podem ser só fruto do acaso. Todavia, a evidência da existência de um outro mundo que não é visível, mas que é contudo extremamente influente, está largamente dependente, no seu caso, do relato das suas experiências, da ligação e intensidade afectiva com que os relata e do juízo do investigador sobre a sinceridade e genuinidade das suas comunicações.

Estou absolutamente convencido em relação a este último aspecto. Dave deixa-nos finalmente perante uma de duas opções: ou a rejeição de toda a sua experiência enquanto produto de uma espécie de aberração mental ou influência colectiva, ou a consideração da possibilidade da consciência ser um instrumento válido de conhecimento e reconhecer as limitações da visão da realidade que os métodos empíricos da ciência ocidental nos dão. As experiências de Dave ocorridas noutras vidas merecem um comentário especial, já que fornecem uma explicação alternativa em relação a certos aspectos da sua vida e personalidade que, de outro modo, teriam unicamente como base a sua biografia da vida presente. Não descobri nada em relação à sua vida familiar ou história pessoal que pudesse justificar um certo comportamento adolescente que parecia invulgar num homem de trinta e nove anos de idade. Não parecia ter, por exemplo, características de dependência que nos ajudassem a compreender a sua relutância em deixar a casa antes dos seus irmãos atingirem os dezanove anos. Contudo, as suas duas mortes ocorridas durante a adolescência das duas vivências anteriores, revividas com muita convicção emocional durante a terceira regressão, fornecem uma explicação possível para a sua ansiedade e para o seu medo de ser tornar inteiramente adulto. Poder-se-ia arguA MONTANHA MÁGICA 347 mentar, sob um ponto de vista tradicional, que as experiências nas vidas anteriores estavam relacionadas com uma imaginação superactiva sobre a vida dos índios americanos e sobre a Guerra Civil. Mas o oposto também é possível, ou seja, que as experiências anteriores de Dave, que continuam a atravessar a sua consciência, são uma fonte importante de imaginação. O caso de Dave ilustra profusamente um dos mais interessantes mistérios relacionados com o fenómeno de sequestro: a criação ou representação, presumivelmente pêlos seres extraterrestres ou por qualquer outra inteligência que os oriente, de realidades físicas alternativas (vejam-se também os casos de Catherine e Carlos, capítulos 7 e 14). A sua história está cheia de salas, como por exemplo a sala de jantar na sua primeira regressão, que não são de facto os quartos da sua casa, de cenários com grutas e linhas férreas que depois não existem na realidade. Há algo de assustador nisto. Porque isso nos coloca perante a arbitrariedade da realidade física em que estamos inseridos. E a alteração abrupta desta situação está nas mãos de uma outra inteligência que possui um poder maior do que o nosso para o fazer. A mensagem que o fenómeno de sequestro repetidamente nos parece ter transmitido foi a de que temos pouco controlo sobre a realidade que nos cerca. Finalmente, o caso de Dave diz respeito ao poder, o imenso poder ou energia, tanto física como espiritual, que reside na natureza. Através do prática do karaté e do Chi, Dave procura obter controlo sobre as expressões dessa energia dentro de si e procura dar um exemplo do seu domínio construtivo em relação à sua vida. Talvez seja esta a principal lição a tirar do seu caso. Na sua carta de 8 de Abril, referiu-se à montanha Pemsit como um «grande lugar de poder. Por isso é que os visitantes lá vão. O poder», dizia ele na carta, «é um mistério que nunca compreenderemos. Apenas podemos aprender a lidar com ele. Talvez seja disso que a humanidade precisa, aprender a manejar o poder.»

CAPÍTULO TREZE A ViAGEM DE PETER P éter, um antigo gerente de hotel recentemente formado em acupunctura, tinha trinta e quatro anos quando um colega, que assistira a uma palestra minha sobre sequestros no Hospital de Cambridge, lhe falou sobre a minha intervenção. «E possível que seja isso que eu também sinto», pensou, antes de me telefonar. Isto aconteceu em Janeiro de 1992 e encontrámo-nos pela primeira vez no dia 23 desse mês. O caso de Peter é um dos exemplos mais dramáticos da forma como a natureza das experiências de sequestro pode ser transformada, em conjunção com a evolução da consciência do experimentador. No início, os seus sequestros foram extremamente traumatizantes, como recordou nas nossas primeiras sessões de hipnose. Estas experiências, juntamente com a exploração que delas fizemos, transformaram-se gradualmente no elemento central de uma viagem espiritual que lhe permitiu ter a percepção de outras dimensões ou realidades que estão para além do mundo visível. É um dos sequestrados com quem trabalhei que descobriu uma identidade dual: humana/extraterrestre. O seu eu extraterrestre tinha consciência de ter participado de livre vontade no programa de desenvolvimento híbrido extraterrestre-humano e o seu caso coloca questões ontológicas sobre o estatuto desse processo. Peter é também um líder entre sequestrados, que decidiu «tornar públicas» as suas experiências, falando em conferências, na televisão e em programas de rádio com o objectivo de educar a comunidade. Entre Fevereiro de 1992 e Abril de 1993 realizámos sete sessões de hipnose. 350 SEQUESTRO Peter fora também assaltado por nítidas e perturbadoras imagens apocalípticas de destruição da Terra, e explorámos a possibilidade de as considerar como profecias literais ou como metáforas ou avisos de futuros possíveis. As experiências de sequestro de Peter representaram para ele uma espécie de «outra» vida em termos de poder e significado. A sua esposa, Jamy, acompanhou-o inflexivelmente durante o seu percurso; contudo, sentia que era inevitável que ele desse prioridade à sua vida relacionada com o sequestro. Esta situação criou tensões no seu casamento, uma situação que é normal quando um dos membros do casal está profundamente envolvido em experiências de sequestro. Peter é também um dos poucos sequestrados da minha amostragem que se submeteu a uma parafernália de testes psicológicos. A razão que determinou a sua escolha para realizar estes testes será explicitada no contexto desde depoimento. Peter foi criado numa família católica romana em Allentown, cidade do ferro na Pensilvânia oriental. O pai tivera uma paralisia, que lhe afectava o lado esquerdo do corpo, tinha debilidade muscular e coxeava devido à poliomielite que contraíra aos dois anos, mas trabalhou durante a maior parte da sua vida como gerente de uma loja. Tinha formação superior e frequentara medicina durante um ano, antes de deixar de poder sustentar a família. Tinha oitenta anos e estava reformado quando Peter me contactou. Escreviam-se regularmente. A mãe de Peter, que nascera e fora criada em Inglaterra, cuidava da casa e trabalhava numa fábrica de malhas. Peter contou ao psicólogo Dr. Steven Shapse que era o palhaço da aula, era desordeiro, e que começou a beber e a fumar marijuana

muito cedo. Tinha duas irmãs. Linda e Corinne, mais velhas que ele seis e três anos, respectivamente. Peter era muito chegado a Linda, «sem saber porquê.» Quando acabou o nono ano, Linda entrou para um convento para ser freira e lá ficou durante todo o liceu. Tinha visto um OVNI e acredita no que Peter conta sobre as suas experiências de sequestro, embora não admita as suas. Corinne não tem memórias deste tipo. Peter frequentou escolas públicas e paroquiais e acabou o liceu em Allentown em 1975. Fez o bacharelato em Penn State, na área de Formação Vocacional Industrial após terminar, em 1981, um curso de seis anos que lhe conferiu o diploma de cozinheiro profissional e professor de arte culinária. De 1982 a 1984 trabalhou num hotel novo em Big Island, no Havaí, onde conheceu a sua mulher, A VIAGEM DE PETER 351 Jamy, três anos mais velha do que ele. Jamy é profissional de Shiatsu, uma técnica japonesa de massagem corporal profunda e, tal como Peter, trabalha como terapeuta. É licenciada em psicologia. Têm uma relação unida, terna e confiante que lhes permite abordar plenamente os assuntos mais difíceis. O casal decidiu não ter filhos, pelo menos para já. Peter justifica-o em parte pelo facto de Jamy ter sido a mais velha de sete irmãos, numa família em que existiam problemas de alcoolismo. «Foi ela que teve de criar alguns dos irmãos e acho que não quer passar pelo mesmo de novo.» Peter gostaria de ter filhos, diz ele, mas acrescenta que possivelmente «existe algum destino traçado para mim, ou uma espécie de predeterminação na minha vida que está ligada a essa coisa dos extraterrestres, alguma coisa que eu tenho de fazer. Isso pode obstar à existência de crianças.» De 1986 a 1990 dirigiram um hotel de doze quartos e um restaurante numa ilha privada perto de St. Thomas, nas Ilhas Virgens americanas. Na Primavera de 1990 Peter veio para Boston acompanhado por Jamy para frequentar a Escola de Acupuntura de Nova Inglaterra, tendo terminado o curso em Maio de 1993. Na nossa primeira entrevista, Peter disse que sempre soubera da «existência de anjos da guarda. Sempre soube que existiam seres... Eu sou muito espiritual e sempre soube que conseguia comungar com Deus.» Também sempre soubera «que existiam OVNI» e «extraterrestres... Isso está dentro da minha cabeça desde pequenino». No contexto das suas regressões, Peter teve alusões de encontros com seres extraterrestres durante a infância e, durante a sua sexta regressão, teve imagens de si próprio, enquanto criança com cerca de quatro anos, a brincar com crianças híbridas, imagens essas que se repetiram até aos seus oito ou nove anos. No nosso primeiro encontro Peter disse que se recorda, ao nível do consciente, de ir a uma arrecadação que ficava no fim de um corredor da sua casa e sentir medo do que estava do outro lado da janela, junto à qual costumava sentar-se. Também se lembra dos seres o observarem enquanto brincava com as outras crianças ou «simplesmente a observarem o meu comportamento de criança». No início da terceira regressão recordou que se sentia feliz, como rapazinho que era, por ver os seres extraterrestres, por o terem escolhido e por flutuar «pela janela». Na terceira regressão, Peter reviveu também um sequestro traumatizante, ocorrido quando tinha dezanove ou vinte anos, durante o 352

SEQUESTRO

qual lhe foi retirada uma amostra de esperma, contra sua vontade. No decorrer do nosso trabalho, conseguiu lembrar-se também de visitas ocorridas durante o período em que vivia com Jamy no Havaí, numa parte desabrigada e isolada da ilha. Peter lembra-se de ver «alguma coisa do lado de fora da janela» da sua casa. Na altura «costumava pensar sempre que era uma coruja», que «costumava chamar por mim e dizer-me que chegou 'a hora'», mas agora crê «que não era uma coruja», mas sim um ser extraterrestre. «Sempre me senti muito próximo daquela coruja.» A experiência mais forte que Peter recordou ao nível do consciente, antes de nos conhecermos, ocorreu nas Caraíbas, durante o período de 1987-88. Recorda que, nessa altura, ia muitas vezes para a cama com medo, e que depois era acordado com um toque ou algo que «me batia na base da espinha». Durante a nossa primeira conversa lembrou-se que sentia terror, raiva, e recordou que ficou descontrolado quando uma luz inundou o quarto e ele sentiu uma «presença» à volta da sua cama. «Lembro-me de todo o meu corpo vibrar e agitar-se, talvez durante um, dois ou três segundos». Peter viu, pelo menos uma vez, seres pequenos e encapuçados no quarto e lembra-se de ter gritado furiosamente. Também tem uma recordação consciente de estar a caminhar pelo pátio, manobrado por eles, «inundado de luz», e de ter sido «içado» para uma «nave redonda» com uma «cúpula em cima» e que acendia luzes brancas, vermelhas e azuladas «em volta da nave» e que era visível «acima das copas das árvores, do lado de fora da casa.» Na altura, de acordo com o depoimento de Jamy, Peter disse que «eles tinham um holofote de raios laser que incidiu mesmo aqui [aponta para o meio da testa] e aquilo era tão brilhante que os olhos dele, sabe, parecia que doíam.» Jamy estava «inconsciente» quando Peter passava por estas experiências. Depois de uma delas, Peter lembra-se de ter ficado com duas pequenas lesões vermelhas atrás da orelha, semelhantes a borbulhas cicatrizadas, e que se distinguiam das picadas de insectos pela rapidez com que saravam e pela sua disposição simétrica. Durante a conversa, o terror de Peter foi aumentando até ao ponto de se sentir «bloqueado», incapaz de prosseguir, e decidimos então recorrer à hipnose para explorar profundamenete as suas experiências. Dois dias depois do nosso primeiro encontro, Peter disse a Pam que a única razão por que acredita que o que me disse «é verdadeiro é porque existiram emoções.» Descobriu que se estava a «distanciar» A VIAGEM DE PETER 353 do que nos contara e que «quer acreditar que é imaginação sua.» A primeira sessão de hipnose foi marcada para dia 13 de Fevereiro. Peter estava apreensivo antes do nosso encontro e as noites que o antecederam foram-lhe difíceis de passar, especialmente por Jamy estar fora. Comunicara durante um dos seus sonhos «com esses seres» sobre «o saber, o conhecimento e o poder interior que possuímos e que se situa para além do intelecto.» Tinha a «sensação» que os seres tinham receio do «poder que possamos ter». Peter escolheu explorar um incidente nas Caríbas, datado provavelmente de Fevereiro ou Março de 1988, que se iniciou com o aparecimento de dois seres junto à sua cama. À medida que os seus pensamentos começaram a recuar até esse tempo, Peter começou a sentir-se ansioso, «parecia que queria apertar o cinto de segurança». Assegurei-lhe que não o ia deixar sozinho e sem controlo sobre a sua experiência.

Hipnotizado, Peter recapitulou a localização da casa e do restautante do hotel onde foram jantar nessa noite, a ementa, e recordou-se de ter ido para a cama com medo «que alguma coisa fosse acontecer.» Lembra-se de acordar, enquanto Jamy ainda dormia, sentindo desejo de se tapar (dormia nu na altura). Apesar de se sentir ansioso e vulnerável, Peter levantou-se da cama e caminhou em direcção ao sofá que estava no outro lado do quarto e então viu «essa criatura pequenina... Está a acontecer de novo. Está sempre a acontecer. Continuo a caminhar e sinto-me humilhado. É principalmente isso que sinto. Tu [o ser] estás a olhar para mim e eu estou nu.» Também se sentia «descontrolado», «inferior», sem força e furioso. «Estou paralizado. Quero matá-lo, e não consigo fazer nada.» Não tinha força de vontade, porque «eles deixaram-me sem acção». Peter viu dois seres, e o que «controla as minhas sensações» é ligeiramente mais alto do que o outro. O cimo da sua cabeça chegava à altura do peito de Peter. Os seres eram magros e usavam fatos inteiros e justos com capuzes que pareciam ser feitos de licra ou látex. A fúria que sentia contribuía para aumentar o seu descontrolo. Peter deitou-se no sofá, compelido por uma força que parecia erguê-lo. O medo aumentava e encorajei-o a concentrar-se na respiração e a relaxar-se. «Eu sei que eles me vão atingir com essa luz, e depois disso é que é pior... A luz atinge-me na testa e então eu salto e depois disso as coisas acalmam... É nesse momento em que perco os sentidos, perco a memória, perco o controlo, e perco a noção que sou parte daquilo.» 354 SEQUESTRO O ser mais pequeno segurava num instrumento que se parecia «com as luzes intermitentes usadas pela polícia e que têm uma cobertura na ponta e está a agitá-lo». Vociferando, Peter gritou: «Agora vai bater-me. Vai bater-me». O ser maior «conhece a minha consciência. Sabe aquilo que eu sinto. Mas está indiferente» e «não quer que eu saiba o que ele vai fazer». Este ser controlava o «parasita mais pequeno... o estupor que lhe executa o trabalho mais sujo». O ser mais pequeno levantou a luz, «fixou-a nesse ponto e atingiu-me a testa com ela.» Depois disso, Peter, deitado no sofá, sentiu frio, agitação e arrepios de terror, já que o controlo das «minhas funções» fora «desactivado». Deu-se então uma alteração — tanto na altura do incidente como durante a sessão — e ele sentiu-se mais calmo. «Era como se o meu corpo tivesse sido separado do pescoço, da cabeça.» O medo e a sensação de humilhação desapareceram também, apesar da nudez. Depois «o tipo pequenino caminhou ao longo do sofá. Movimentou novamente aquela coisa, como se a agitasse por cima e por baixo de mim. Como é que ele conseguia fazer aquilo por baixo de mim?» A luz erguera Peter do sofá e ele «sentia-se mesmo leve». Ergueu-se apoiando-se nos braços, como se uma força o impelisse em direcção à porta. Olhou de cima para Jamy, que ainda estava a dormir, e «eu sei que ela está segura», o que também foi confirmado pêlos seres. Olhou mais de perto para um dos seres («É como se agora ele fosse meu amigo. Agora não tenho medo») cujo rosto era feio e distorcido. «Só consigo ver metade do seu rosto. É enrugado. E parecido com um daqueles bonecos animados do Disney... Tem sobrancelhas grossas. São mesmo grossas.» A pele da parte superior do rosto parecia grossa, com «protuberâncias» e «uma coisa parecida com três estrias, três sulcos. Tinha um ar quase cómico». Os olhos não eram grandes, mas muito escuros, «algo parecido com

uma mistura de azul e preto» e muito metidos para dentro do rosto, «como os dos animais, como os olhos de um guaxinim». O nariz era metido para dentro e «depois alargava». Seguidamente Peter flutuou sobre a área da sala de jantar e da cozinha e saiu para o pátio ou alpendre, iluminado por uma luz suave e clara que deixava ver as árvores das traseiras. Quando se afastou da casa, Peter conseguiu ver que a luz que o inundava provinha de uma pequena nave espacial. Enquanto ele e os seres «flutuavam», Peter só conseguiu ver uma luz branca quando olhava de cima, mas «sabia A VIAGEM DE PETER 355 que a ilha estava lá longe», no oceano e «as árvores todas cá em baixo». Quando olhou para baixo, viu o telhado de chapa da sua casa e espantou-se por não sentir medo, uma vez que normalmente receava as alturas. Agora sente que «isto é uma aventura» e está «realmente feliz por Jamy estar bem». Passou primeiro por uma nave mais pequena, que depois entrou por uma «abertura da base» de uma nave maior. Apercebeu-se depois que estava escuro, «como no interior de uma casa» e que a luz agora vinha de baixo. Estava tudo calmo, só se escutava uma espécie de murmúrio. Peter viu bancos e uniformes ou «fatos de treino parecidos com os que os praticantes de skate usam, ali pousados e pensei 'Porque é que não estão pendurados?'... Senti-me como que convidado para ir a casa deles.» Em cima de um banco redondo que parecia feito de um plástico duro e moldado estavam pequenos cacifos ou compartimentos. Peter deu uma volta, como se aquilo fosse uma visita, e sentiu-se «honrado... como se fosse uma pessoa especial» por «me deixarem ver as coisas... quero dizer que há ali outros humanos, mas não sei». Olhou pela janela de uma «sala que parecia ser a sala de controlo.» Conseguia ver outra ilha e «é maravilhoso porque o luar se reflecte na baía e depois há também as luzes dos outros hotéis. Consigo vê-las perfeitamente.» Peter viu «um outro ser que está numa mesa de controlo ou coisa parecida» e viu mais fatos pendurandos numa barra. A nave voou ainda mais alto e quando olhou por uma janela a terra parecia «apenas a cabecinha de um alfinete.» Peter ficou preocupado e sentiu-se confuso e perdido. «Onde estou eu? Onde está a Terra? Como é que eu vou voltar?» Peter estava incrédulo perante o que estava conseguir recordar e começou a questionar a sua experiência. Encorajei-o a «contar tudo de seguida» e disse-lhe que mais tarde interpretaríamos os resultados. Curiosamente, deixou de se sentir despido, embora estivesse sem roupa. Passou por uma espécie de «porta francesa» que dava acesso, em parte, para dentro de uma parede. Peter desceu dois ou três degraus e foi dar a uma sala inferior onde estavam cerca de cem homens e mulheres. «Não estão nus... Estão com fatos da cor da pele, fatos inteiros.» Tinha a sensação que «estava a entrar numa festa de sociedade, sem saber bem com quem ir falar». O ser mais alto que vira em primeiro lugar aproximou-se de Peter e comunicou-lhe telepaticamente: «todas estas pessoas vieram da Terra. Podes ir ter com elas. Estão aqui todas por tua causa», porque todos «tiveram 356 SEQUESTRO as mesmas experiências que eu estou a ter». Peter sentiu vontade de ir falar com um dos homens que estava a falar com uma mulher. O homem deu pela presença de Peter, mas disse «Ainda não. Você tem de ir. Ainda não.»

«Esta é a parte que eu não gosto», disse Peter. «Neste momento não me sinto bem». Pediu para ir à casa de banho e quando voltou disse: «Estou cheio de medo, John.» Virou-se para a direita e foi para outro quarto onde um dos seres «estava a trabalhar com mostradores ou coisa do género... Acho que vou chorar», disse Peter. «Estou cheio de medo. Parece que sou um rapazinho. Tenho a sensação que vão abusar de mim ou coisa parecida. Isso não é bom. Não tem graça.» Aconselhei Peter a respirar fundo de novo. «Esta sala transmite uma sensação de ambiente esterilizado, hospitalar, uma sensação agoirenta.» O chão era negro como azeviche, como obsidiana, e havia uma parede de vidro com seres humanos suspensos, como no filme Coma, e com capacetes na cabeça. «Dois seres» fiscalizavam o que se passava através de um «painel de controlo» ou na parede. Queriam que subisse uns degraus; Peter obedeceu e, quando estava junto de uma mesa, colocaram-lhe um «capacete prateado» ou «helmo» sobre a cabeça. Embora contra sua vontade, Peter deitou-se sobre a mesa, que era «a mais confortável em que alguma vez na vida me deitei. É como se moldasse o meu corpo... É a melhor mesa de observação que foi feita.» Um dos seres começou a emitir orientações a outro que por sua vez colocou a mesa com uma inclinação de quarente e cinco graus. «Detesto este tipo. Detesto quando ele dá estas ordens e sei que me vão magoar», disse Peter praticamente aos gritos. «Não quero contar-lhe o que aconteceu agora.» Juntaram-lhe as pernas e prenderam-nas com uma correia, enquanto um ser feminino lhe comunicava que «vai tudo correr bem» e ele teve consciência que «Sou apenas mais um entre centenas de milhares. Não estou sozinho». Depois sentiu «como se a minha força vital estivesse a ser puxada para fora pelo cimo da minha cabeça» e «Não sei o que vai acontecer mais... Quero parar», disse Peter, «Só quero descansar.» Entretanto, Peter era observado por vários seres: «observavam as minhas reacções.» Depois foi levado para outra mesa, uma mesa «fria, de metal gelado» que contornava o seu corpo, «uma grande invenção médica», disse ele num misto de receio e ironia. Prosseguiram as medidas e as observações, incluindo «endorfinas» ou A VIAGEM DE PETER 357 «algo do género no cérebro.» Depois, utilizando instrumentos que de certo modo se assemelhavam ao aparelho de fibra óptica que os dentistas usam, os seres examinaram a sua virilha, «mesmo aqui junto ao osso», e «introduziram-no através da pele.» Embora parecesse que o instrumento tinha atravessado a sua cavidade abdominal, curiosamente Peter não sentiu dores nesse momento. Os seus órgãos genitais estavam «simplemente afastados para o lado», e evidentemente não estavam envolvidos neste processo. «Estou espantado com a simplicidade tecnológica das coisas que eles usam e que nós ainda nem pensámos», disse Peter com sinceridade. Seguiu-se a parte mais humilhante e assustadora, quando «apalparam as minhas pernas «e introduziram um tubo no recto para retirarem uma amostra de fezes. Estes tipos não sabem mexer nas pessoas... parece que precisam de aprender a ter maneiras.» Introduziram ainda mais profundamente o tubo no recto e Peter sentiu que colocaram «um implante» ou um «dispositivo para recolha de informações» dentro dele. «Porque é que me sujeitam a isto?!!!», gritou Peter. «Agora vou ser seguido [quase a chorar], nunca conseguirei fugir. É assim que me sinto. Estou preso para sempre. Sinto-me como um animal marcado.

Sinto que eles colocaram uma coisa grande dentro do meu ânus, abriram e depois introduziram outra coisa qualquer através disso e então deixaram lá dentro. Tudo metido dentro de mim.» Neste momento, Peter sentia-se derrotado e humilhado e disse: «o que me aborrece mais é que eles sempre me disseram que iam fazer isto. Mostraram e exemplificaram.» Agora sentia «que não posso escapar. Sinto-me observado. É como se fosse um daqueles ursos polares a quem colocam uma coleira.» Sugeriu que isto está «sempre» a acontecer e que os seres retiram e colocam este e outros implantes repetidamente. Peter achava que este sequestro «era doutrinal. Era isto que me transformava num deles, num dos seus seres ou num dos seus animais... Neste momento, sinto-me mesmo sozinho e isolado e com medo», acrescentou. «Sinto-me derrotado.» Argumentei o melhor que pude que se tratava de sentimentos compreensíveis, mas que não podiam ser encarados como derrota. Quando a sessão se aproximava do fim, falámos mais sobre os sentimentos de humilhação e violação que Peter sentia. Apesar disso, Peter acha que, de algum modo, é «um participante voluntário» neste processo, «desejoso por ajudar estas pessoas a fazer a ponte entre o seu e o nosso mundo.» Crê também que «as outras pes358 SEQUESTRO soas, aquelas centenas de pessoas que se encontravam naquela sala, também são participantes voluntários neste processo.» Apesar de se sentir violado e traumatizado a um «determinado nível psicológico», a «um nível diferente compreendo que aquilo não me fez mal». Comparou este processo com a mulher em trabalho de parto; ela não está contra o bebé. «Aceita e participa. Não está contra o trabalho de parto; não está contra o bebé. Há manifestações de cólera. Há manifestações de ódio, manifestações dessas coisas todas. Mas isso é aceite como parte do processo de nascimento.» Neste momento, Peter não era capaz de dizer claramente qual a sua missão. Talvez fosse «para aceitar seres de outro planeta» com o objectivo de adquirir uma maior consciência do problema. «Trata-se de evoluir para uma consciência superior», sugeriu ele. Talvez que, para além do sentimento de violação, os sequestrados atinjam «uma sensação de bem-estar em relação a isso». Num cartão que me endereçou, escrito quatro dias após a sessão, Peter exprimia gratidão pela «maravilhosa experiência de abertura» e dizia que se sentia «menos assustado» e que compreendia «o que essas 'experiências' significam para mim.» Foi marcada uma segunda regressão para o dia 19 de Março. Nesta sessão, Peter vinha acompanhado por Jamy. Quatro dias antes, Peter tivera outra experiência de sequestro quando estava em Connecticut, em casa do seu amigo Richard. Tinha acabado de realizar uma sessão de trabalho sobre energia conciliadora e tencionava regressar a Boston nesse dia. Embora estivesse dentro de casa durante a experiência, três colegas suas, que também tinham passado ali a noite, viram nitidamente um OVNI sobre a casa quando estavam a dar um passeio. Uma delas, que entrevistei e que é provavelmente também uma sequestrada, registou no próprio dia o que vira: Quando estávamos a passear, a menos de cinco minutos de distância da casa, ouvimos um som espantoso atrás de nós, vindo do lado direito da casa de Richard, do lado de cima do rio — pensava que era do açude [água proveniente de um açude próximo] — isto não é um avião ou helicóptero, ou motor que conheça. Mas tinha uma energia e uma

aceleração espantosas junto ao rio e, ao pé de nós, tinha uma «velocidade retorcida» e desapareceu. Vi uma forma, bastante parecida com um crescente, um bocado escura por baixo e talvez um pouco alaranjada, a passar rapidamente por cima de mim em direcção à direita.» A VIAGEM DE PETER 359 Noutro apontamento, esta mesma mulher escreveu que associou mais aquilo com as asas de «um pássaro enorme» do que com um motor, e referia a excitação que sentira ao ver aquilo. Teve a certeza que «Peter se encontrava na nave», mas quando Pam lhe perguntou se pensou em olhar para a casa respondeu: «Peter não estava lá. Para mim, Peter não estava lá. Não estava lá ninguém» e não teve desejo ou necessidade de verificar! Peter tinha «despertado» recentemente desta experiência de sequestro e ficou extremamente chocado quando as mulheres entraram em casa e lhe contaram a experiência. Só quando se dirigia para Boston é que Peter lhes contou a sua história de sequestro. As outras duas mulheres também estavam impressionadas com o que viram. Segundo Peter, uma delas estava «comovida com todo aquele incidente.» Antes de iniciar a regressão, recapitulámos os pormenores da observação e falámos da recusa de Peter em acompanhá-las no passeio. A casa ficava situada numa zona maravilhosa e Peter planeara ir ao passeio. Tinha dormido mal, estava um pouco cansado por causa da sessão de trabalho «e então decidi não ir.» A casa era fria, a lareira estava acesa e Peter estava sentado junto ao fogo, tapado com um cobertor. «Rezei um pouco» e adormeceu de seguida quando eram cerca de 10hl5m, calculou ele, já que as mulheres saíram para o passeio exactamente às lOhIOm da manhã. «Despertou» às l lh05m, quando Richard, o dono da casa, estava a entrar pela porta. Quatro dias antes da regressão, Peter recuperou várias memórias conscientes do sequestro. Tinha visto os seres extraterrestres ao seu lado, lembrou-se «que tínhamos de nos despachar» e recordou pormenores do interior da nave. Sentiu ondas de terror e interrogou-se: «Porque é que isto não dói?» quando um dos seres «estava a fazer qualquer coisa no meu olho e eu sentia-o... No dia seguinte o olho doeu-me mesmo», disse ele mais tarde. «É espantoso». No dia anterior, Peter falou com o seu terapeuta sobre a experiência e ele pediu a Peter que se deitasse no chão e que expressasse as suas emoções através de um exercício bio-energético. Isto fez que se recordasse de pormenores das brincadeiras que fazia na arrecadação da sua casa quando era criança e «despoletou uma memória nítida da nave sobre o nosso pátio traseiro, por cima do telhado da nossa casa e do hábito que tinha de ir lá para fora.» Durante os vinte ou trinta minutos que se seguiram conversámos sobre as tensões que as experiências de sequestro de Peter criavam 360 SEQUESTRO na sua relação com Jamy. Jamy sentia-se excluída de muitas das coisas que se passavam com Peter e exprimiu receio que ele a deixasse. Peter referiu o quanto a sua vida de sequestrado «abala a própria base de todo o meu sistemas de crenças» e de como alterara radicalmente a sua vida. Jamy referiu que se sentia ineficaz: «deste modo, nada do que eu faço pode ajudar». Falei do quanto é difícil para as esposas que estão ao lado de alguém que tem a seu cargo uma missão totalmente absorvente e tentei apoiar Jamy nas suas preocupações. Peter

disse que «há um parte de mim que quer viver uma vida o mais normal possível e conservar tudo o resto no seu contexto», mas apelou a Jamy no sentido de ter em conta todo o apoio de que ele precisava face ao que estava a passar. Não houve uma resolução clara, apenas um compromisso de ambas as partes se manterem unidas e tentar serem sensíveis em relação ao que cada um vivia. A sessão tinha sido marcada antes da experiência de 15 de Março, mas, uma vez que Peter estava preocupado com isso, decidimos recorrer à hipnose para explorar mais este incidente. No início da regressão, revimos pormenorizadamente os acontecimentos da noite e da manhã que antecederam a experiência de sequestro, especialmente a sua decisão de não participar no passeio. Peter sentira um desejo incontrolável de estar sozinho, mas «Tenho medo de pensar, John, que estava em comunicação», que «me tenham dito para ficar». Quando estava sentado junto à lareira, Peter «só cabeceava». Não tinha a certeza se adormecera ou não, mas lembra-se de estar acordado, mas «noutro estado de consciência — é como se uma pequena parte do meu cérebro tenha consciência e é isso que tem vida», observou ele. «O que acontece é que o nosso corpo fica totalmente a dormir e depois algo faz um dique dentro da nossa cabeça e liga-nos com os seres.» Em seguida, ouviu sons. «Consigo ouvir a vibração», disse ele. «Sei que está uma nave atrás de mim». Agora está paralizado, consciente «do que se passa», mas «sem controlo sobre isso». Com os olhos fechados, Peter sentiu «uma presença... Depois, olhei para cima. Do outro lado do sofá está um ser e sei que tenho de ir. Sei que tenho de me apressar.» Levantou-se, a porta estava aberta e «o ser está à minha frente. É a pessoa azul. É o homem azul. Ele é azul. É muito escuro.» A nave «parece um pôr-do-sol» e Peter flutuou com um dos seres «à minha esquerda e o maior à minha direita», com os braços ao longo do corpo. Depois de estar lá dentro «a nave A VIAGEM DE PETER 361 começou a movimentar-se rapidamente. Estamos a descolar. Estamos a voar, vruum.» Seguidamente Peter passou por uma rampa e sentou-se numa coisa parecida com uma cadeira de rodas. Primeiro estava com medo, mas depois, curiosamente, relaxou quando um braço «flexível», «parecido com o braço duma cadeira de dentista», começou «a vir direiro a mim» com o instrumento que entrou no canto superior interno do seu olho esquerdo. «Está a entrar. Está a entrar. Conseguiram! Está a andar à volta. Está a rodar. E agora está a sair. Já está, eles estão excitados. Estão contentes. Conseguiram o que queriam... para eles sou apenas um bocado de carne», disse ele. «Odeio-os. Odeio isto. Como é que fazem uma merda destas? Não têm consideração por mim. Odeio isto.» Sentia que queria zangar-se com os seres, «mas não consigo.» Peter achou que o que eles queriam era «obter» informação. «Colocaram uma coisa dentro de mim para ver o que se passava e para perseguir a nossa memória... que de algum modo regista tudo o que se passa.» Acreditava que tinha um «pequeno dispositivo preto» dentro da cabeça», dentro do cérebro, talvez de um sequestro anterior, e que o instrumento flexível, que parecia metálico, comprido e estreito, «recuperava o objecto» (o dispositivo). Tinham «um painel amovível» que lê e decifra a informação. Peter tem a sensação que os seres estão interessados no que ele aprende no curso e «querem ver

se eu sou um líder com valor. Eles querem é conhecer as minhas reacções às situações que estão registadas no meu cérebro, que estão registadas nessa coisa que lhes pertence.» Neste ponto da sessão o timbre da voz de Peter mudou para uma espécie de murmúrio monótono e ele começou a falar segundo a perspectiva dos extraterrestres. «Nós», disse ele, queremos estudar as reacções químicas do cérebro, e queremos saber como as pessoas reagirão com o objectivo de «saber quando é que chegou a altura de estar presente... Porque ao medir os impulsos», prosseguiu a voz, «saberemos em que nível se produzirá o choque, pois assim seremos mais capazes de controlá-lo e desta maneira estaremos em sintonia com os seres [humanos] quando estiverem a atravessar o processo de choque, quando nos virem pela primeira vez». Adquirindo o seu tom de voz normal, Peter disse que os seres estão a trabalhar connosco, avaliando o que temos dentro do nosso cérebro para serem capazes de dizer como reagiremos quando eles aparecerem à nossa frente. 362 SEQUESTRO Fiz Peter recuar até aos sentimentos sobre o exame do olho. Expressou ressentimento e depois disse que sentia que estava «a ser preparado para alguma coisa». «Isto acontece desde criança.» Fiz-lhe perguntas sobre o seu papel de líder e ele referiu-se a um processo que se desenrola «em todo o mundo», através do qual «o conhecimento comum» sobre o processo de sequestro se está a desenvolver e que ele era uma das pessoas que «apoiaria» e que se sentiria «à vontade perante a possibilidade dos seres extraterrestres virem para este planeta». Foram sequestrados seres humanos «em todo o globo», disse Peter, e esses indivíduos, especialmente certos líderes, ajudarão a reduzir o choque que ocorrerá quando os seres extraterrestres se manifestarem na Terra. O controlo descrito por Peter destinava-se «a medir até que ponto a consciência se pode tornar disponível». Acrescentou que a memória das experiências de sequestro revelar-se-á nesse caso compatível com o choque que ele e outros possam integrar do conhecimento da existência dos seres. «Eles estavam excitados» nessa ocasião, disse ele, porque «eu atingi um certo nível». Peter não conseguiu lembrar-se dos pormenores do seu regresso da nave. Foi «colocado» no pátio exterior da sua casa e depois «o mais alto» conduziu-o através da porta. Peter sentou-se de novo na cadeira, tapou-se com o cobertor. «Olhei para o ser e ele olhou para mim. Sentei-me na cadeira e adormeci logo, e só me lembro depois de acordar e olhar para o relógio». Após a regressão, conversámos sobre a alteração do timbre vocal ocorrida durante a sessão. Recordou que isso começara há quatro anos nas Caraíbas, e que era como uma expansão da sua própria energia que permite que «a energia extraterrestre» passe através dele. Isto pode ocorrer, disse ele, quando «consigo entregar a minha mente, o meu ego». Peter (tal como outros sequestrados que têm esta capacidade — veja-se, por exemplo, o caso de Eva e Jerry — não confia toda a informação que recebe desta maneira, mas sente de facto que «provém de uma consciência superior, de um plano espiritual.» É o que está a acontecer actualmente, disse ele. «É uma comunicação ao vivo». Quando a sessão se aproximava do fim, Peter afirmou que achava possível que o reconhecimento «da existência de seres em outros mundos, e da existência de outras formas de vida», nos ajude a olhar de maneira diferente para a forma como lidamos uns com os

outros aqui na terra. Segundo Peter, estava a ocorrer «uma mudança A VIAGEM DE PETER 363 subtil» neste planeta que vem alterar a nossa maneira de pensar sobre quem somos e como vivemos. «O surgimento desses seres far-nos-á apreciar o que temos.» A sua missão, informou ele, era «entregar-se ao plano divino... É quase como sentir que os extraterrestres cuidam de mim. Têm um plano traçado para mim», disse ele no final. Não receava as mudanças que estavam a verificar-se. Embora, de várias maneiras, este processo exercesse controlo sobre a sua vida, Peter sentia que «de qualquer forma também me dá apoio». A sua consciência estava «abalada», e «por vezes é aterrador, e outras vezes sinto que tenho certezas e sinto-me seguro.» Foi marcada uma terceira regressão para duas semanas mais tarde, dia 2 de Abril. Peter queria enfrentar directamente o medo que sentia em relação aos seres e esperava «ser capaz de comunicar conscientemente com eles ou estar com eles sem sentir um terror tão grande.» Esta sessão foi uma das mais dramáticas a que jamais assisti. Tratava-se de um tipo de experiência que, sob o ponto de vista do investigador, não ajuda, mas convence-o que algo de verdadeiro e importante aconteceu com o paciente, quaisquer que sejam as provas disso. Antes de iniciar a regressão, revimos a sua situação pessoal. Sentia apoio por parte de Jamy e sentia-se confiante em relação à sua função emergente como profissional, mas continuava a sentir-se muito isolado e só «devido às experiências por que tenho passado durante estas regressões.» Embora Peter pensasse que íamos explorar as experiências de sequestro da infância ou as que ocorreram no Havai, decidimos deixar o seu «radar interior» escolher o trajecto do seu inconsciente. De facto, Peter começou por recordar, em estado de transe, um encontro no Havaí onde, cercado de luz, dois seres o levaram flutuando. Mas rapidamente «outra visão» tomou o lugar da anterior. Era agora uma criança, talvez com quatro anos, e «feliz por vê-los... adoro», disse ele, enquanto flutuava sobre o pátio de entrada; depois sentiu-se baralhado e excitado «porque consigo passar através da janela». Houve novamente uma alteração da cena («tantas memórias, John») e era uma criança mais velha, «talvez com oito anos, e sei agora que não vamos continuar a brincar mais. Agora há outras coisas para fazer. Há mais trabalho que eles querem desenvolver, mais experiências. Querem fazer qualquer coisa comigo. Agora querem colocar alguma coisa dentro de mim. E observam-me. Agora fui escolhido. Tenho de orientar a brincadeira das outras crianças, e não 364 SEQUESTRO sei bem o que vai acontecer... É como se agora fosse adulto e não pudesse brincar mais. Tenho de fazer alguma coisa.» A seguir, Peter recordou-se de estar «dentro da nave. Há uma parede de vidro onde todas as crianças brincam, e do outro lado eles estão a observar-nos. É como se fosse uma grande sala de recreio. E agora tenho de me ir embora.» Foi conduzido até à presença dos seres. «O ser mais alto, os seus dedos estão a tocar nos meus olhos, a abri-los e a olhar lá para dentro. Dizem-me para não ter medo. Comunicam com a minha mente.» Mais à vontade, sentou-se numa cadeira «parecida com a dos dentistas», e utilizaram a mesma máquina, «a que recordei da última vez», para examinar o interior do seu nariz. «Estão a reme-

xer. Mexeram em alguma coisa. Puseram-me uma coisa dentro do nariz [fazendo o gesto] por aqui acima. Dá a sensação que há uma coisa ali.» Isto fez que se recordasse de uma ocasião em que se recusou a ir para o hospital quando partiu o nariz em resultado de um acidente de viação, quando era ainda um caloiro na faculdade. «Ocorre-me agora que foi por causa disto que não quis ir.» Não era apenas a associação com o terrível método, mas também por «achar que sabia que tinha alguma coisa dentro do nariz e que não devia ir ao hospital.» Registou-se novamente um salto da memória. Peter é mais velho, o medo acentua-se, e sente que está «a evitar alguma coisa; está mesmo à superfície.» Falou sobre mudanças muito importantes que os seres lhe comunicaram que iam ocorrer «neste planeta». Eles possuem a capacidade de prever o futuro, disse ele, «e querem ajudar-nos a evitar o que está para acontecer... John, isto é muito estranho para mim», disse ele, enquanto era assolado por mais imagens de acontecimentos futuros. Aconselhei-o a respirar fundo e a deixar vir à tona toda e qualquer informação, sem julgamentos ou interpretações. A sensação de medo aumentou de novo, e eu insisti para que ele se concentrasse, deixasse o corpo descontrair completamente, relaxar e nomear o que quer que estava «a querer exprimir-se», incluindo os próprios julgamentos. Seguiu-se um dos mais perturbantes episódios que presenciei durante uma regressão. Peter gritou de terror e de raiva quando se lembrou de um episódio, ocorrido quando tinha cerca de dezanove anos, em que estava sobre uma mesa, «simplesmente ali deitado», e A VIAGEM DE PETER 365 lhe foi colocado um recipiente sobre o seu pénis, forçaram a ejaculação e lhe retiraram esperma. «Eles controlam os meus órgãos genitais, a minha pessoa», disse ele. «Estão a esgotar-me. Estou a relaxar. Eles estão felizes. Conseguiram o que queriam», exclamou amargamente. Perguntei-lhe se isto acontecera mais vezes. «Estão sempre a fazer isto», disse ele. «Cada vez que vêm, fazem uma recolha. Recolhem o meu esperma. Tiram as minhas sementes. Depois deixam-me ir embora.» Perguntei-lhe se não eram os mesmos seres que brincavam com ele em criança. «E diferente», respondeu. «Eles não se preocupam muito... Não sou eu que eles querem. Querem apenas a minha semente. Querem a minha essência». Já a chorar e muito agitado, Peter recordou que a sala era fria e que se sentiu completamente abandonado. «Quero lutar congeles», disse ele, mas «não sou capaz de fazer nada. Não sou capaz de ir contra isso.» Para atenuar o sentimento de vergonha e humilhação, assegurei-lhe que não havia de facto maneira de se opor àquela situação. «Todas as células do meu corpo estão a vibrar», disse Peter. «Está tudo em movimento. Tudo está a vibrar.» Perguntei-lhe onde se encontrava agora. «Estou em posição horizontal. Parece que estou aparentemente morto. Estou suspenso. Estou a viajar.» E óbvio que a sua mente o trouxe de novo até ao início do sequestro ou a uma outra do mesmo período. Referiu-se ao terror que sentia quando o elevavam, paralizado, rodeado de luz. «Estou suspenso!!! Eles apanharam-me!!!», gritou, respirando com dificuldade, lembrando-se «agora mais claramente» de ter sido levado para dentro da nave contra sua vontade e de só ser capaz de mexer a cabeça, enquanto sentia uma intensa vibração e agitação «dentro da minha pele.» Se não estivesse preso tê-los-ia atacado. Referiu-se «a este

ser pequeno que está à minha esquerda... Arrancava-lhe a cabeça, era o que faria. Matava-o. Lutava com ele com todas as minhas forças», explodiu ele furiosamente. Peter continuou a gritar, descarregando a sua fúria, dizendo que tinha sido levado para uma sala com uma «mesa de operações com as luzes todas por cima», da qual conseguia ver uma outra sala «através da parede de vidro à minha direita e há aí pessoas suspensas. Estão sobre as mesas, e têm novamente aquelas coisas na cabeça, aqueles discos de metal na cabeça... agora estou simplesmente suspenso.» Já mais calmo e a respirar normalmente, Peter contou que estava sobre uma mesa e que o submeteram a um procedimento 366 SEQUESTRO idêntico ao que descrevera durante a primeira regressão. Fizeram uma incisão por baixo dos seus testículos, à esquerda, «estão a examinar à volta da cavidade», e retiraram sémen utilizando um instrumento parecido com uma agulha ou tubo grandes. Um dos seres estava ao lado de Peter e disse-lhe que «se eu me descontraísse o seu procedimento seria outro». Mas utilizassem ou não o método cirúrgico, o certo é que «foram várias as vezes que eles recolheram o meu sémen de outra maneira» (ou seja, recorrendo ao método do recipiente por sucção) quando Peter era jovem. Depois de terminada a operação «agradecem-me. E agora estou simplesmente deitado em cima da mesa, a descansar... Eles sabem que é doloroso», mas dizem a Peter «está tudo bem» e «querem convencer-me que não devo ficar preocupado». Neste momento, Peter já dava mostras de cansaço e recordou, falando em voz muito baixa, que alguém «remexia» em baixo do braço e «estou marcado ou coisa parecida... Eles fizeram mais uma série de exames», disse, incluindo «a introdução de algo pela minha traqueia», mas «penso que já chega por hoje, John. Tenho de descansar.» A parte final da sessão foi dedicada à discussão do impacto que estas experiências tiveram na consciência de Peter. Relacionou a maior parte do terror que sentiu com a «expansão da minha consciência» até «ao ponto em que consegui aceitar os seres e aceitar o que estava a acontecer.» Acrescentou que o terror se destinava a «alargar a minha realidade». Considerei isto confuso, já que me parecia que, durante as suas experiências, Peter tinha aceite os seres como reais. Peter respondeu-me que «o processo em que nós [sequestrados e talvez outros] estamos inseridos tem como objectivo reportar tudo isto para o nível do consciente, para que nos lembremos das nossas experiências conscientemente, sem esta hipnose profunda.» Peter tentou novamente explicar-me onde queria chegar. «O terror», explicou, «tem mais a ver com a experiência que se ganha e que está acima da minha percepção da realidade do que com as experimentações ou diagnósticos físicos, ou seja lá o que for que eles fazem». Os sequestrados tendem a ficar arreigados «a um grau de terror que está para além da nossa percepção da realidade». A parte física da experiência é essencial para as mudanças ao nível do consciente. «Temos de experimentar primeiro ao nível físico, antes de o aceitar ao nível psicológico», disse ele. «O nosso corpo é submetido a uma experiência. Sente-se fisicamente o desenrolar da experiência A VIAGEM DE PETER 367 e então ela torna-se parte da realidade. Aceitar simplesmente a realidade não é a mesma coisa... Eles precisam de que nós alarguemos o

nosso conceito de realidade para poderem comunicar connosco, para que sejam capazes de chegar até nós», acrescentou. «É uma evolução da consciência.» Fazendo o papel de advogado do diabo, sugeri que eles talvez só quisessem o seu esperma para poderem ir propagá-lo no seu planeta e que se tratava apenas de um «conceito espiritual» pensar que eles estariam preocupados com a evolução da nossa consciência. Opôs-se por completo a este raciocínio. «Não há dúvidas sobre isso. Sei que estão a ajudar-me, a expandir a minha realidade e querem que isso aconteça para que possam comunicar comigo. Precisam que a minha consciência se expanda. Querem que o meu cérebro dê mais, para estar preparado.» — Com que fim? — perguntei. — Para que possam interagir com o nosso planeta. Para que possam interagir com a nossa força vital — respondeu ele. — Com que objectivo? — voltei a insistir. — Para evitar a extinção dos nossos seres — disse ele. Os nossos interesses e os deles pareciam estar a par, uma vez que Peter se referiu ao «direito adquirido» dos seres em relação ao nosso planeta, e à sua relutância, «comparável ao idoso que vê uma criança prestes a cometer um erro grave e não faz nada para evitar que se magoe.» Estamos perante um cataclismo», disse ele, « e eles querem ajudar-nos.» Mas «até que os sequestrados se assumam como tal e o aceitem e vivam com isso, eles não podem fazer nada.» A minha última pergunta tinha a ver com a proveniência das intenções dos seres: provinha deles próprios ou será que havia «uma espécie de força espiritual que estivesse por detrás de tudo». Peter achava que «há um poder superior que determina a sua forma de actuação», mas não sabia o que poderia ser. Tinha «a sensação» que «estes seres são reais, físicos, que dominam as noções de tempo ou espaço ou seja do que for. Eles sabem o que acontece. Conhecem as alternativas e estão aqui para nos ajudar, é quase como... guiar-nos para impedir que nos magoemos!» A medida que a sessão se aproximava do fim, Peter reiterou a focalização na parte física da experiência com vista à expansão da nossa percepção da realidade. «A memória física torna-a real», disse ele. «Há aqui duas coisas separadas». A extracção do sémen e o con368 SEQUESTRO troto são coisas distintas do processo de alargamento da consciência que as terríveis experiências físicas operam, embora os dois objectivos estejam interligados. Pam sugeriu que o corpo, ao constituir-se fisicamente, transforma-se na «nossa avenida de aprendizagem». Peter concordou «totalmente» com Pam. Os seres são como «anjos de Deus de uma maneira muito indirecta», são uma espécie de «mensageiros, ou formas de que Ele se serve para actuar, tal como Ele se serve de si, de mim ou de Pam... A forma pura da consciência ao nível espiritual é destituída do aspecto físico», observou Peter. «Por isso tem de encarnar fisicamente, de modo a viver todas as experiências do físico. É como se a consciência dissesse: 'Bem, o que é que eu quero aprender hoje?' e escolhe a Terra como lugar de aprendizagem das coisas físicas.» Foi marcada uma quarta regressão para seis semanas mai^tarde, no dia 14 de Maio. A última sessão ajudara Peter a aceitar as suas experiências, ao mesmo tempo que agudizou a sensação de solidão e isolamento. Contudo, «a agonia por que passei foi tão grande e real»

que «agora estou feliz por estar vivo.» Actualmente considera que «isto é real», não «é mais imaginação minha», ao mesmo que tempo que «não me considero anormal». Sentia-se mais «completo» e as experiências foram uma espécie de «dádiva», «recebi uma parte de mim mesmo». A compreensão da singularidade do seu percurso permitiu-lhe suportar o isolamento e a solidão. Antes disso, disse ele, «sentira-me isolado, e desligado das pessoas. Este trabalho permitiu focalizar esse aspecto». Agora «sinto-me único em termos existenciais, mas não me sinto só. Sinto-me único... Sinto que estou ligado ao todo, mas único.» Neste contexto, os próprios sequestros deixaram de ser «maus», tão «horríveis, traumatizantes e maus e cruéis e essas coisas todas.» Pedi a Peter para falar um pouco mais sobre a natureza da conexão que descobriu. «É como se eu fizesse parte de um continuum», disse ele, «parte de uma sequência. Como se fosse uma pérola entre muitas que fazem um colar ou algo do género. Sou uma delas, mas estou ligado ao todo. Posso ser feliz na minha singularidade... Era muito importante para mim estar ligado», disse ele. «Agora sei que estou ligado. De algum modo sei isso. É apenas um sinal maior... Este trabalho acelerou, de algum modo, todo o processo». Mais uma vez concordámos deixar o «radar interior» de Peter levá-lo até onde queríamos ir na regressão. A VIAGEM DE PETER 369 Peter sentiu medo de novo quando entrou em transe. Estava no Havaí, antes de viver com Jamy, e estavam quatro seres à volta da sua cama. O seu colega de quarto estava noutro quarto. Começou a chorar, sentiu-se dominado novamente pelo medo e pela raiva quando «Eles vão fazer aquilo outra vez. Eles vão fazer aquilo outra vez\ Estou farto de fazer isso de novo». Lembrou-se que lhe foi dado a escolher entre recordar a experiência ou não, mas «de qualquer modo eles vão apanhar-me.» Parecia que eles tinham voltado depois «de um longo vazio de tempo» e queriam ver «como eu crescera, e quem eu era... É como se quisessem ver se a experiência resultara.» Encontrava-se uma vez mais na nave, onde estavam a realizar-se experiências em muitos outros seres humanos. Peter, ofegante, observou que havia «um salto que é necessário que eu dê». Os seres «querem-me pelo que eu sou», disse ele. «Querem-me pelo que eu represento, pelo que tenho dentro de mim». Colocando a sua mão sobre o coração, disse: «Está aqui, está aqui, e eles querem-me pelo que está aqui... É como se estivessem a agarrar-se a uma coisa que está aqui. Está dentro de mim. É como se quisessem o meu amor. Querem que eu me preocupe com eles». Fiz referência ao medo e ao ódio que sentia. Ainda ofegante, disse: «Tenho de ultrapassar isso.» O processo ultrapassou as experiências, acrescentou. «Eles querem que eu os compreenda. Querem que eu compreenda o que eles pretendem. Estou a começar a vibrar.» Incitei-o a exteriorizar as vibrações. «Eles querem que eu compreenda», disse ele, «que aqui existe compreensão, verdade. Isto tudo tem um significado.» Apesar destas asserções positivas, a experiência foi novamente angustiante para Peter. «Quero que isto acabe», gritava, à medida que se intensificava o medo e a intensidade das vibrações no seu corpo. Dando gritos arrepiantes, disse: «Não quero ser vencido. Só quero sair. Não quero ir para as profundezas.» Tentei confortá-lo e apoiá-lo, e que encontrasse o seu equilíbrio concentrando-se na respiração.

Referiu de seguida que se sentia em paz enquanto flutuava ao lado dos pequenos seres, no exterior da sua casa do Havai em direcção a uma «grande nave». Quando descolavam, um dos seres masculinos, que estivera «sempre com eles — é ele que cuida de mim —» assegurou-lhe que ia tudo correr bem. «Confio nele», disse Peter. Considerava que era importante que eu soubesse que, apesar da sua angústia, os seres «não estavam aqui para magoar ninguém.» 370 SEQUESTRO Explicou que eles estão aqui há muito tempo e que «nos conhecem profundamente... Querem transmitir-nos a sua sabedoria», disse ele. «Conseguem prever o que nos vai acontecer e estão a observar-nos.» À medida que dizia estas coisas, na mente de Peter passavam «imagens rápidas» das pirâmides do Egipto e das «faces de Marte». Mas uma vez mais Peter foi dominado pelo medo e pela raiva, quando foi novamente levado para a sala de chão preto e forçado a deitar-se sobre uma mesa. Um ser com uns dedos parecidos com garras, compridos e ossudos, pousou a mão sobre o peito de Peter e olhou para os seus olhos. «Aqueles olhos. Aqueles olhos», disse Peter. Introduziram-lhe uma vez mais um tubo junto aos testículos, com o mesmo fim, e Peter estava mais calmo agora. Tinha «aprendido que não preciso de ter medo». Depois saiu da sala de experiências para outra sala onde estavam cerca de vinte pessoas, a maior parte das quais eram mulheres e crianças. O que agora foi revivido por Peter parece ser o seu regresso do sequestro ocorrida nas Caraíbas, relatada na primeira regressão. Atravessou a porta de uma nave maior para uma mais pequena que estava a descer. Seguidamente, o fundo da nave mais pequena abriu-se e Peter flutuou até ao pátio da sua casa. Observou-se a si próprio a entrar em casa e a deitar-se no sofá. Tudo isto, disse, «tem a ver com a minha masculinidade, por alguma razão. Tem a ver comigo. Eles querem-me. Querem o meu coração. Querem aquilo que tenho de mais sagrado... Operam sobre nós durante toda a nossa vida», observou Peter. «Gostam de pessoas abertas», qualquer que seja a idade, incluindo pessoas idosas, acrescentou ele. «Querem descobrir como é que hão-de proceder para que nos tornemos mais abertos para eles». Estão a tentar «descobrir o que toma uma pessoa mais aberta e menos medrosa que outra, e interessam-se genuinamente por nós.» Os seres têm medo de nós, segundo ele, porque «não têm aquilo que chamo de 'instinto assassino' que nós temos, e a capacidade de lutar e de nos matarmos uns aos outros. É disso que eles têm medo... é a coisa que mais os aterroriza, a nossa capacidade de ódio... É por isso que achavam estranha a raiva que sentia por eles quando faziam aquelas experiências. Não são capazes de a entender. Têm medo de nós.» Peter observou que «é a nossa percepção do que está a acontecer. Nenhum de nós se sentiu de facto magoado». Alguns sequestrados dizem que «têm cicatrizes e danos psicológicos e eu quero dizer 'Não vêem que estão confusos'... Os seres com quem trabalhei», A VIAGEM DE PETER 371 disse Peter, «estão aqui para descobrir como hão-de comunicar connosco e como hão-de encontrar uma base comum e uma abertura.» Aqueles a quem ele se sente ligado trabalham com crianças e «estimulam-nas, trabalham com elas e estudam-nas para descobrir como é que funcionam e o que as torna tão abertas e amorosas e carinhosas, e são essas as qualidades que os seres pretendem.»

Prosseguiu dizendo que muitas pessoas mais velhas tiveram sequestros em criança «e simplesmente não se lembram». Mais tarde os seres regressam e estudam as mesmas pessoas, já mais velhas, para ver quais as qualidades de abertura que preservam e como podem ajudá-las. «Eles estão a tentar estudar uma maneira de chegar até nós. Conhecem a nossa ira, o nosso ódio e a nossa capacidade para magoá-los.» Eles «evoluíram sem guerras... é quase como se a sua abertura fosse tão grande que lhes permitisse saber que facilmente os podemos magoar... Querem o nosso amor e querem saber como é que amamos, como nos preocupamos e temos tanta compaixão. Também estão aterrorizados com a nossa ira e a nossa capacidade de odiar e de matar e todas essas coisas, e estão a tentar separar as duas facetas.» Estão a tentar, «através de procedimentos genéticos», isolar «as melhores qualidades humanas e separá-las das outras e, de algum modo, diria que querem reincorporá-las na nossa raça... A questão do esperma e da reprodução... é uma tentativa de nos ajudar a atingir as mais altas qualidades da raça humana.» Eles não conseguem manifestar-se mais abertamente aqui na Terra porque nós podemos «optar por atacá-los». Se pretendemos «responder militarmente ou com acessos de cólera, então tudo estará perdido. Por isso é que eles são tão cautelosos. Não podem vir até aqui.» Perguntei a Peter como é que o nosso amor e a nossa abertura podem estar ao serviço dos seres. «Eles também são humanos», respondeu, e durante a sua evolução «seguiram um trajecto de uma quase intelectualização racional» e «perderam muitas das suas emoções e querem reconquistá-las. E por isso recorrem ao nosso planeta e à nossa raça... são humanóides. O ponto de partida da nossa evolução é o mesmo», mas «nós circunscrevemo-nos às nossas emoções e são elas que dirigem o nosso planeta... As nossas emoções determinam as nossas reacções enquanto raça.» Durante a sua evolução, os seres «optaram por reagir tendo como base o intelecto e a mente... Pretendem partilhar o seu crescimento intelectual connosco, desde que nós partilhemos as nossas emoções com eles.» Mas, ao mesmo 372 SEQUESTRO tempo, receiam o lado destrutivo das nossas emoções. «Podia ser um casamento quase perfeito», observou Peter. A última pergunta durante esta sessão teve a ver com a fixação do olhar nos olhos dos seres. Peter disse que a intensidade daquele olhar tem a ver com «o desejo de estabelecer ligação». Quando o ser «olha para mim... deseja ligar-se a mim, a nós, é só isso. Gostava que conseguissem entender-nos. Gostava que conseguissem sentir o que nós sentimos.» Perguntei-lhe o que é que os seres pretendiam de nós. «E como se os laços fraternais se tivessem desfeito. É algo parecido com uma amizade perdida, e nós simplesmente não entendemos.» Anseiam pelo amor, compaixão e pela alegria, «todo o espírito de conciliação que eles se apercebem que existe no planeta, toda a bondade que vêem aqui... essa capacidade de união entre humanos que eles tão pouco têm.» Perguntei-lhe se conseguia ver isso através dos seus olhos. «Há uma frieza nos olhos», replicou ele, «Há uma frieza e um simples vazio, mas para além dos olhos isso está lá — quase diria que há outro olhar para além do que é visível. E diria mesmo que esse outro olhar é triste e saudoso, e tenta confortar-me, mas ao mesmo tempo apela à minha ajuda. Quer estabelecer ligação comigo. Quer mesmo estabelecer ligação comigo. É como se estivesse a olhar para uma criança [soluçando]. É simplesmente como se

fosse um pouco mais velho e mais experiente e pudéssemos estabelecer uma relação, ou coisa parecida.» Questionei Peter sobre a tristeza que parecia estar a sentir e sobre os soluços. Respondeu que «a minha tristeza é tão grande que me sinto fraco e mutilado e não consigo fazer o que eles querem. Tenho tanto medo de não ser capaz de lhes dar o que eles realmente anseiam, que os meus soluços se comparam aos de alguém que não é capz de proteger aqueles que ama... É quase como mãe e filho», acrescentou. «É como uma mãe que não é capaz de amar, que não é capaz de se relacionar.» Estávamos a chegar ao fim da sessão. «Isto agora está a ir para além da experiência», disse Peter. Observei que para muitos sequestrados «é a percepção dos olhos que origina a resistência.» Respondeu-me que «há uma grande ânsia patente nos seus olhos. E comparável ao amor que não sabe como manifestar-se. O seu olhar revela uma grande compaixão por nós. Quando se olha pela primeira vez para os olhos», recordou Peter, «há uma sensação mecânica, fria, não-humana. É fria e indiferente, mas olhando fixamente, olhando melhor, como aconteceu A VIAGEM DE PETER 373 comigo, consegue-se ver mais para além. É como olhar para um ser humano. Vemos os olhos, mas depois de fixar o olhar, vemos a pessoa e é isso que acontece... Do outro lado está o ser, a criatura», concluiu. Nessa perspectiva, observei, «nós ainda não os encontrámos». Reiterou a sua afinidade, os nossos laços fraternais, as suas características humanas. «Tenho a sensação que eles foram ligeiramente afastados. Escolheram uma maneira diferente de criar... Têm emoções», reafirmou ele, mas «não tão desenvolvidas como as nossas, ou então já tiveram e perderam e agora é isso que temos para lhes oferecer, as nossas emoções... Eles não são de facto diferentes de nós», concluiu. Tinha tomado a decisão, em Maio, de pedir a um colega psicólogo para fazer uma série de testes psicométricos a Peter. Os testes psicológicos são demorados e caros, e não é prático que todos ou mesmo muitos dos pacientes com quem trabalhei os façam. Optei por pedir ao Dr. Steven Shapse, do Hospital McLean, de Harvard, para fazer os testes a Peter porque achei que os resultados poderiam ter valor científico. Na verdade conheço Peter bastante bem, pelo que atesto que não existe nenhuma psicopatologia manifesta ou oculta que explique um pouco, ou que possa estar na base das suas experiências. Algumas das suas experiências relacionadas com o sequestro, e os consequentes ajustamentos que foi obrigado a fazer, foram obviamente desgastantes. Contudo, Peter era uma pessoa saudável, estável e simpática, que tinha um excelente relacionamento com as outras pessoas. Considerava que se a minha opinião fosse confirmada por um psicólogo clínico qualificado, isso ajudaria a dissipar a ideia que os relatos dos sequestrados são consequência de distúrbios do foro psiquiátrico. Mesmo que alguns sequestrados revelem psicopatologias significativas, o facto de alguns, ou mesmo um, não o revelar pode fazer que se encontre uma explicação ao nível psiquiátrico para este fenómeno. Na altura em que solicitei ao Dr. Shapse para testar Peter, duvidei que daí resultasse uma explicação psiquiátrica, já que não existia nenhuma para qualquer dos casos que vira até ao momento. O Dr. Shapse encontrou-se com Peter por duas vezes, em Maio e

princípios de Junho, e para além da entrevista clínica, submeteu-o ao teste Wechsler Adult Inteiligence Scale-Revised (WAIS-R), um teste de inteligência média; ao teste Bender Visual Motor Gestait 374 SEQUESTRO (BVMG), que testa as disfunções cerebrais orgânicas, e ao teste Thematic Apperception (TAT); ao teste Rorschach Inkblot (RIBT), testes projectivos que revelam a natureza do funcionamento e da estrutura psicológicas. Segundo o Dr. Shapse, Peter «estava de óptima saúde, alerta, concentrado, inteligente, com capacidade de expressão e sem ansiedade visível». Não havia qualquer disfunção orgânica neurológica. «Revelou um strees situacional elevado e uma difícil vivência desse stress.» Peter manifestou tristeza durante o TAT e pareceu «estar a combater as forças do mal». O Dr. Shapse concluiu que «o mais significativo é a ausência de psicopatologia. Não se diagnostica nenhuma psicose ou desordem afectiva importante... É significativo o nível médio de preocupação sexual. O seu perfil singular sugere que sofreu abusos sexuais... Notou-se que os temas psicológicos latentes não têm realmente um impacto disfuncional.» Não foi feito diagnóstico psiquiátrico. «As tensões psicosociais» foram consideradas moderadas: «Recordações de experiências invulgares e perturbantes». Quando perguntei ao Dr. Shapse, em privado, quais destas conclusões podiam ser relevantes para a história de sequestro, ele respondeu-me: «Não vejo nada que prove isso»: A sugestão de abuso sexual era interessante tendo em conta os procedimentos traumatizantes impostos pêlos extraterrestres. Não havia nada na história de Peter que sugerisse abuso sexual perpetra por seres humanos. Com início em Junho de 1992, Peter começou a ter um papel de líder na comunidade de sequestrados, falando publicamente sobre as suas experiências e aparecendo na televisão. A 15 de Junho, participou num painel de sequestrados na Conferência de Estudos relacionados com o Sequestro no MIT, organizado pelo médico do MIT David Pritchard, e por mim. Durante a sua intervenção, que durou entre cinco a dez minutos, Peter referiu pormenores das suas experiências traumáticas que apreendera durante as regressões e passara «de um estado de fúria e de ressentimento terrivelmente profundos para a compreensão.» Falou, tal como antes o fizéramos, sobre o grande interesse dos seres na nossa «capacidade de sentir, de ter emoções, de sentir compaixão e preocupação e da nossa profunda espiritualidade, qualidades que nos tornam humanos e que estão presentes em todas as raças do planeta.» Acrescentou que o ponto central virtualmente exclusivo na dimensão traumática da investigação e tratamento do sequestro era resultado da nossa incapacidade para A VIAGEM DE PETER 375 «integrar estas experiências na nossa percepção consciente da realidade, porque nunca pensámos nisso em termos de possibilidade.» Perante uma audiência de cerca de oitenta investigadores, Peter afirmou que os extraterrestres não nos queriam fazer mal e que o seu propósito era «fazer-nos atingir um ponto onde possamos interagir conscientemente com eles e não encarar isso como uma coisa assustadora.» A 15 de Agosto, Peter foi filmado em minha casa, conversando comigo, pelo produtor David Cherniack, para um programa de uma hora, da televisão pública Canadiana, sobre o fenómeno do seques-

tro, intitulado «Sky Magic» e inserido na série Man Ali vê, da autoria de Cherniack. Durante essa conversa, Peter falou sobre a forma «instintiva e animal» como reagiu às suas experiências, sobre o facto de ter sido levado para um lugar onde se é «esticado de tal maneira que a nossa cabeça parece que vai explodir», sobre a transformação da qualidade do sequestro, das recordações que delas teve durante as regressões, sobre desmoronamento daquilo que ele pensava ser possível, de como achara «arrepiante o conflito com a realidade consensual» e sobre outros temas que focáramos nas nossas sessões. A parte mais dramática foi a audição de uma gravação de dez minutos do segmento mais traumatizante da regressão do dia 2 de Abril, durante a qual a câmara de filmar captou o medo, as lágrimas e o tremor estampados no rosto de Peter quando ele revivia o horror desses momentos. O programa foi transmitido no Canadá em Outubro e foi alvo de críticas favoráveis. Não foi transmitido nos Estados Unidos. Nos meses que se seguiram usei várias vezes, com o consentimento de Peter, esse segmento do video, inclusive numa sessão realizada no Departamento de Psiquiatria do Hospital Brigham and Women, em Harvard, com o objectivo de fazer sentir às audiências o poder emocional do fenómeno de sequestro. Deixei de apresentar o vídeo, quando se tomou evidente que muitas pessoas, incluindo os próprios sequestrados, consideravam o vídeo demasiado perturbador e criavam novas defesas em vez de se tomarem mais abertos à experiência. Quando o exibi num jantar promovido pêlos Skeptical Inquires de Nova Inglaterra, em Novembro, alguns dos presentes ficaram de tal modo perturbados que tiveram de se virar de costas para o ecrã e depois continuaram a inventar estranhas explicações sobre o fenómeno do sequestro. No dia 2 de Dezembro, eu e Peter discursámos na Divinity 376 SEQUESTRO School de Harvard, sobre «O Fenómeno de Sequestro por Extraterrestres» perante uma audiência de cerca de 250 pessoas. Dei uma visão geral do fenómeno e projectei o segmento do vídeo. Em seguida Peter falou durante cerca de dez minutos sobre as suas experiências, seguindo-se um período de uma hora de discussão com a audiência. Para nos prepararmos para essa sessão, falámos ao telefone uns dias antes. Peter referiu que tinha a sensação de estar «nu perante Deus», quando completamente aterrorizado e abandonado durante as suas experiências, sujeito a controlo e sem opção, mas contudo ligado a algo grandioso. Durante a sua intervenção, afirmou que a «viagem» lhe tinha permitido desobrir o seu «lugar no universo». Tinha a sensação que fora abandonado por Deus e reduzido a «nada mais do que uma amostra de esperma». Contudo, depois das regressões, sentia «uma enorme expansividade». Em total isolamento, descobriu a sua identidade com Deus e com o espírito. «A experiência de sequestro», disse ele, «permitiu-me sentir esse isolamento, mas também permitiu que me sentisse totalmente ligado com essa fonte individual.» Falou sobre a «identidade com Deus» que existe em pessoas espalhadas pelo mundo que partilham uma humanidade comum e que «lutam em conjunto para compreender os mistérios do mundo espiritual e a nossa ligação com esse mundo.» Mais tarde, continuou, «comecei a conhecer ao nível mais celular que nós não estamos sozinhos no universo, que Deus criou muitas criaturas à Sua imagem e semelhança.» Os seres extraterrestres «não

são muito diferentes de nós. Eles também lutam. Também questionam a sua existência. Também são muito inquisitivos. Também se alimentam. Procriam e morrem. Querem ser aceites pelo que são... Deus criou muito mais seres no universo do que podemos imaginar», continuou ele. «Tal como milhares de outros como eu que tiveram essa experiência e que viram criaturas de Deus com outras formas, sei no mais fundo de mim mesmo que os seres se parecem connosco de muitas maneiras». Descobriu através dos seus sequestros «que estou ligado a um processo de criação que é bem maior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar no contexto das minhas anteriores revelações ligadas a qualquer espiritualidade». Peter disse a Pam, e posteriormente a mim, que entre Maio e Novembro de 1992 se sentiu em paz, relativamente bem em relação às suas experiências de sequestro, estruturado interiormente e A VIAGEM DE PETER 377 «tinha resolvido todas as questões» com a família e amigos. Mas dez dias depois da exposição na Divinity School, Peter escreveu-me dizendo que desde Novembro último que queria «lembrar-se de mais coisas», e «ir mais fundo» e pediu para ser submetido a mais regressões. Dizia também que tinha passado nos exames nacionais de acupunctura. Marcámos a nossa quinta sessão de hipnose para o dia 14 de Janeiro de 1993. No início da sessão, Peter disse que tinha «lutado com aquilo» durante algum tempo, mas que se sentia pronto para «recordar algo maior e mais extenso». Tal como planeámos, centrámos o nosso trabalho no dia em que Peter estava no Havai e chegaram a sua casa «três pessoas» que ele identificou como «pessoas ligadas à religião, «sabe, daqueles das Testemunhas de Jeová, ou coisa parecida. Parece que estou a ver a cara da mulher», disse ela, «ali só a olhar para mim como se soubesse alguma coisa a meu respeito.» Peter estabeleceu uma ligação vaga entre esta recordação e uma experiência de sequestro ocorrida em Agosto último na Ilha de Namtucket. Estava de visita a um amigo, Craig, que exercia a profissão de guia. Durante a noite, Peter ouviu um barulho que o assustou, viu luzes e teve visões de um ser que flutuava pelo quarto em direcção à cama de Craig e depois voltava para junto de Peter e dizia: «'Pronto, agora podemos ir'. E partimos e voltámos.» De manhã, Craig disse ter ouvido também um barulho semelhante a uma tacada que associou com «jogadores de críquete», mas teve medo de se levantar para ir à casa de banho. Antes de iniciar a regressão, falámos da vida de Peter, nomeadamente sobre os progressos de Jamy como terapeuta e sobre a possibilidade de virem a ter filhos. Peter sentia-se mais confiante, sentia que «a determinado nível, alguém se preocupava comigo» e que «o caminho está a ficar desimpedido para que eu possa realizar o meu trabalho». Concordámos em aflorar os problemas novamente de uma forma aberta, sem nos centrarmos em nenhum episódio. A primeira recordação de Peter foi a de estar numa casa onde vivia no Havai, à noite, a olhar «para uma nave enorme que pairava sobre o campo de golfe». Na mesma altura, três pessoas «que pareciam dessas que andam a falar sobre religião ou coisa parecida», entraram pela porta da sua sala de estar. «Acho que estão a falar comigo sobre Deus ou sobre religião, e que querem converter-me ou coisa parecida... São eles!» exclamou Peter. «Há uma ligação entre eles e a nave. São a

378 SEQUESTRO sua forma humana. Voltaram de novo. Não consigo lutar com eles. Não consigo lutar com eles.» A sua atenção foi novamente desviada para Nantucket. Vê um ser a flutuar em direcção à cama de Craig e fica preocupado com ele, mas «agora é altura de ir embora... Estou sempre frio quando isto acontece», disse Peter, mas o quarto ficou envolto em nevoeiro, e embora «me faça gelar, também me acalma». Vieram dois seres na sua direcção, mas «agora é tudo mais subtil». Há «muita formalidade» e não é «necessário ter medo». Isto é «como se fosse um treino», uma «iniciação para a aceitação do que é realmente verdadeiro». Apesar disso, Peter sentou-se na cama a tremer de medo. Como se o seu «espírito» estivesse em cima, no canto do quarto, e ele pudesse olhar para o seu corpo sentado na cama. Os seres esperaram por ele e «não estão a forçar-me». Asseguraram-lhe que não aconteceria nada a Craig. Sentia o medo aumentar à medida em que recordava que lhe fora dada a possibilidade de escolher entre acompanhar ou não os seres, «passar através da parede, passar sobre este tecto do segundo andar.» Com o desenrolar da sessão, esta opção parecia adquirir um poder metafórico, envolvendo, segundo as palavras de Peter, a «escolha de transitar para o nível seguinte. É o nível seguinte se for com eles.» Falou de uma «grande teia» de ligação, «uma consciência do todo... Eu sou eles, e eles são a minha pessoa e há a nave!». Os seus pensamentos voltaram para a mulher à sua porta, no Havai que «continuava a olhar para mim... Eu não estava preparado para aceitar Deus ou Jesus ou outra coisa... O que me assusta», disse ele, «é que eles adquirem a forma humana quando vêm ter comigo. Entram pela minha porta adentro... Assusta-me que possa passar por alguém na rua e que seja uma merda dum extraterrestre ou algo do género.» A atenção de Peter desviou-se para Nantucket, onde estava sentado a balançar na cama, dobrado sobre as coxas e com os joelhos contra o peito. Tinha de decidir se queria ou não «levantar-se e mergulhar» através da parede em ângulo ou pelo telhado inclinado da casa; essa decisão significava passar «para outra dimensão... não é a mesma coisa que passar fisicamente através de uma parede. É como entrar num campo de energia... Desta vez não foram eles que me transportaram. Fui eu que passei... Estou a olhar lá para baixo e posso ver-me a levantar, dou um passo, dois passos, terceiro passo e entrei no campo. Um, dois, três», sussurrou. A VIAGEM DE PETER 379 — E o quarto passo? Houve um quarto passo? — perguntei eu. E difícil transmitir o que aconteceu a seguir na sessão. O quarto passo possui um grande poder simbólico. Significação e acção, passado e presente, acontecimento físico e metáfora pareciam estar contidos nesta escolha, que implicava afinal a sua participação voluntária. Sentado na beira da cama, Peter enfrentava o «terror da aceitação, da aceitação da responsabilidade». Em causa estava «um passo para a evolução, deixando para trás o animal.» Sentia que ao passar através da parede conseguia «transcender o tempo e o espaço». Desejava «soltar o grito de batalha» e «atacar», «ir com eles». Mas a luta prolongou-se durante muitos minutos. «Ninguém me pode ajudar», disse ele. «Já não é terror. Trata-se de uma opção», mas receava que «se dou este passo não haverá mais nada ali». Ao contrário do que acontecera em sequestros anteriores, os seres «não

vão fazer nada... para mim não existe nada senão este momento no tempo». Continuei a conduzir Peter até ao limite do que parecia ser um escolha individual, mas pouco mais podia fazer para além de estar ao seu lado. O quarto passo significava um salto de fé. E se ele o desse e «não encontrasse nada ali?», perguntava, vezes sem conta. «E se não há nada do outro lado da parede?» Para Peter isto era sinónimo de «falhar», que «tudo isto foi em vão, tudo o que está para trás foi em vão... E se não o der? E se eu ficar preso? E se eu só for até meio? E se eu não conseguir ir? Como é que eu posso confiar em vocês? Como é que posso confiar que consigo atravessar aquilo? E se não há ali nada?» Peter continuava a repetir estas e outras perguntas similares e eu apenas podia encorajá-lo a ir mais fundo nas suas dúvidas e nos seus medos. Gritava, gemia e o seu corpo começou a agitar-se à medida que se aproximava do momento crucial da sua opção existencial. Sentiu-se um certo abrandamento da tensão quando ele sarcasticamente observou: «Tenho medo das alturas. E se caio?» Finalmente disse: «Deixei-me levar através desta parede». Mas faltou-lhe convicção e a sua consciência voltou para a cama. «Está bem, vou levantar-me!», disse ele. «Estou a andar, estou a andar! Nem sequer estou a correr.» Articulou um som alto e sibilante quando o processo atingiu o seu clímax. A dúvida de Peter persistia. «Agora estou a balançar-me para a frente e para trás», disse ele, enquanto regressava ao quarto para ver se realmente ia passar através da parede. «Já passei através da parede?», perguntou. Desatei a 380 SEQUESTRO rir com isto. «Aconteceu tudo numa fracção de segundo», disse ele. Finalmente sentiu-se «totalmente calmo e convencido que passei através» como «Peter Pan», e viu os pinheiros em baixo. Já do lado de fora, Peter olhou para baixo. «Percebi que estava a flutuar, e vi o chão. Vi a casa de lado...Vi a nave em cima de nós.» Dentro «estavam todos os bebés, todas as crianças». Encontrava-se numa sala preta, «tipo mármore preto ou algo parecido». Ao longo de uma parede curva de um corredor que parecia ser o perímetro exterior da nave, havia pequenas luzes ao nível da cintura. Entrou numa sala onde havia três cadeiras e uma mesa, e «outra cadeira para mim na ponta... Imagens e mais imagens» surgiam, mas a consciência de Peter continuava a ser arrastada, numa altura em que Peter parecia querer evitar o que se ia seguir. Viu três seres. Um, mesmo à sua frente, tinha uma «testa mesmo grande» e parecia mais velho do que os outros dois. O que se encontrava à esquerda era um ser feminino. O terceiro ser era também um extraterrestre. Eram os três seres que o tinham visitado no Havai. Peter estava «ali para aprender sobre o futuro», disse ele. A sua testa larga estava unida com uma espécie de abertura no meio. Peter disse que «é o mesmo que superintendeu todas as operações... Acho que é o mais esperto, ou melhor, ele é definitivamente o patrão». O ser feminino era a sua professora. «Ela vai ser a minha guardiã, ou coisa parecida. Vai olhar por mim. Ela está, há alguma coisa que vai acontecer. Oh, meu Deus!» — O que é? — perguntei. «E que nós vamos... nós vamos foder». Medo, e não desejo, era o que Peter sentia neste momento. «Vou procriar com ela», disse ele. «Estou a ver que é aqui que eles queriam chegar»; isso mesmo foi-lhe comunicado principalmente pelo mais velho, a quem Peter tam-

bém chamava «O Sr. Sabe-Tudo» e «Cabeça de Bolha». «Eu não queria ter conhecimento disto», disse ele. «Parecia que ia rebentar». Peter ficou chocado quando soube que os bebés que vira a entrar para a nave eram os seus bebés extraterrestres ou híbridos e que ele estava «a procriar com extraterrestres... é para isso que usam o meu esperma», disse ele. O medo que sentia intensificou-se novamente, à medida que analisava as implicações da sua descoberta. Compreendeu que fizera várias vezes amor com uma extraterrestre. «Parece que ela é a minha verdadeira mulher — digo-o com sentiA VIAGEM DE PETER 381 mento. Ela é a pessoa a que estou realmente ligado e é com ela que eu vou estar ali, ou estar com, ou outra coisa qualquer.» Esta informação foi-lhe comunicada pelo «Cabeça de Bolha» e pela própria mulher extraterrestre, e ele assumiu-a com toda a convicção. Mas enquanto estava a falar sobre isto, Peter sentiu que a sua consciência «estava a ser separada do meu corpo físico, aqui por cima, olhando para mim sentado nesta mesa». Tudo isto se estava a tornar «demasiado» para Peter. «Não é o facto de fazer amor ou por se tratar de sexo», mas sim o facto de «procriar com ela», disse ele. «Oh, meu Deus, John. Desconfio que essa mulher também é humana, e que eles têm estado a retirar-lhe os óvulos e o meu sémen e ajuntá-los e a procriá-los aqui». Enquanto estava a reflectir sobre o que acabava de dizer, acrescentou: «Acho que não sou capaz de descrever como fiquei chocado, como fiquei surpreendido com o que acabava de ver... O pensamento mais aterrador que tive», disse ele, «é que ela pode ser uma extraterrestre e que eu a vejo como humana, e que estou a fazer amor com uma extraterrestre.» Perguntei a Peter porque é que era «tão horrível» a ideia de procriar com uma extraterrestre. «Eles querem que eu goste dela como um humano gosta ou ama uma coisa qualquer», replicou, «como eu gostaria de fazer amor com a minha mulher... Trata-se do meu sentimento de afecto em relação a ela e do meu amor por ela enquanto extraterrestre», continuou ele. «E a minha vida na terra, John? E a minha mulher?» Peter falou ainda sobre uma certa aversão física. «Não consigo abstrair-me do facto de ser com uma daquelas criaturas horríveis e feias que me aterrorizavam com a sua pele pegajosa, fria, que estou a fazer amor... Porra, não quero acreditar que estou a fazer amor com uma extraterrestre». Em seguida, Peter mostrou-se preocupado com o facto de ser separado da Terra e da sua «família terrena» e por perder a ligação «com todos os que amo, aqui». Ficou confuso quando pensou na «quantidade de crianças» que devia ter, tendo em conta as inúmeras amostras de esperma colhidas. Apesar da sua aflição em relação a tudo isto, Peter encarava este processo como um projecto com o qual concordara. «O primeiro passo», disse, «é simplesmente a criação de crianças, os zigotes, os infantes. O segundo passo é o emparelhamento dos pais», um da terra, outro extraterrestre. «Será assumido entre os dois um compro382 SEQUESTRO misso para que possam educar a criança tanto à maneira da Terra como dos extraterrestres.» Continuámos a falar sobre o choque que sentiu face à ideia de se tomar um «pai extraterrestre», embora reconhecesse que as crianças híbridas precisam de «uma mãe e de um

pai... Com o advento da destruição da terra, que nós sabemos que vai acontecer», disse ele, «serão estas as crianças que irão «repovoar» o planeta. Serão como as «sementes da papoila... vagens» que serão «espalhadas pela terra.» Tendo em conta o carácter estranho da sua informação, questionei Peter sobre o grau de convicção que sentia. «Cem por cento verdadeiro», disse ele. «Trata-se de aprendizagem. É do futuro que se trata, são essas as sensações. Não se tratava apenas de percepção, mas de algo que era real, tratava-se de sensações.» Recapitulámos o encontro encenado, com os três extraterrestres sentados em três cadeiras — o líder velho e sábio, a mulher humana/extraterrestre e o «extraterrestre original» à direita. Parecia que estavam ali para confirmar o compromisso de Peter perante um «casamento combinado» com o ser feminino.» Dava a sensação que se iam unir duas pessoas e que o objectivo dessa ligação as ultrapassava», disse ele. «Se não o fizer, a minha raça extinguir-se-à... Não se trata apenas da recolha do meu esperma. O que está em causa agora é se eu quero ser pai. Se quero ser um participante consciente da procriação». Esta decisão devia ter sido tomada «há muito tempo atrás, noutra vida», sugeriu. Peter estava convencido de que a sua companheira extraterrestre/ humana era a mulher que estivera em sua casa, no Havai. Tinha um aspecto bastante simples, com cabelo castanho-avermelhado, «despretensiosa, com uma aparência do tipo comum. Não era bonita. Não era feia. Realmente não me lembro bem da sua imagem.» Daqui derivou uma conversa sobre a sua luta para viver «em dois mundos paralelos». A sua existência noutro mundo confere-lhe, em relação a alguns aspectos, um grande poder. «Consigo ir mais fundo no que se refere a esta realidade», disse ele. «Actualmente o meu maior medo é ir para casa e dizer a Jamy: 'Bem, que tal correu a tua regressão hoje?'; 'Bem, vi a minha mulher extraterrestre e os meus filhos'» Quando a sessão se aproximava do fim, Peter falou sobre as potencialidades da sua vida laborai e das complexas responsabilidades que tinha. O quarto passo, «o passar através», representava um aprofundamento do seu compromisso em relação ao projecto de procriação, A VIAGEM DE PETER 383 especialmente no que se referia ao seu papel de pai, que incluía uma relação amorosa com o ser feminino «porque o processo parental envolve duas pessoas». Tem a ver com «a energia que é transmitida pêlos pais, os seus sentimentos, a ligação entre ambos, entre marido e mulher, ou entre companheiros, e que depois se transfere para a criança.» Peter acentuou a importância do processo parental para as crianças híbridas, depois dos seres terem «criado embriões» nas naves, ou em qualquer outro sítio em que se desenvolvam. Tinha sido uma sessão cheia de força, e no final recapitulei o que se passara e levantei questões que tinham a ver com os aspectos literais e metafóricos da experiência que Peter vivera. A sua luta tinha a ver, no seu entender, com um passo evolutivo, e «a aceitação e a escolha, a escolha consciente, de passar através da parede», representava o seu compromisso com esse passo. Alguns dias depois da regressão, Peter disse a Pam que tinha analisado juntamente com Jamy algumas coisas que tínhamos deixado encobertas durante a sessão, e que ela estava «perfeitamente bem» e que o apoiara. Sentia-se descontraído, confiante e «bastante forte» para «ir ainda mais fundo». Disse que as regressões tinham

tido o efeito de reduzir o «ego à sua dimensão». O terror e a raiva tinham desaparecido e ele conseguiu encontrar «espaço» para a ligação com os seres extraterrestres e para o «programa de procriação». Foi marcada uma sexta regressão para o dia 11 de Fevereiro, quatro semanas depois. Nessa sessão esteve presente Honey Black Kay, uma terapeuta que estava a estudar o fenómeno de sequestro. No início, Peter apresentou à D^ Kay um resumo do que tinha acontecido na sessão anterior e referiu que Jamy aceitava o processo em que estava inserido. Para Peter, tinha sido difícil aceitar a «profundidade da experiência», ao mesmo tempo que notava algo de «absurdo» naquilo que descobrira. «Deixei de desempenhar o papel de vítima para passar a ter um papel de participante», referindo que para isso fora importante vencer o medo de passar através da parede em Nantucket, durante a regressão de 14 de Janeiro. O seu comportamento durante esta sessão revelava um misto de impaciência e ansiedade em relação ao que estava para descobrir. Em estado de transe, Peter recordou primeiro que estava sobre uma mesa «na altura em que costumavam recolher o meu esperma», depois passou para os três extraterrestres/humanos que o visitaram no Havai, e recuou ainda mais até à experiência de Nantucket em 384 SEQUESTRO Agosto, que tínhamos explorado na última regressão. Uma vez mais, sentiu as emoções relacionadas com a sua decisão de «atravessar a parede» e o significado que tinham para ele. Sentiu mais uma vez as vibrações no corpo, quando se sentou na cama, e a perda de controlo resultante da passagem pela parede. Em relação ao programa de procriação, sentiu também uma certa «perda de identidade», quando descobriu que era, em certo sentido, «parte extraterrestre.» Durante a sessão, sentiu que «estava a começar a vibrar ao nível celular.» Peter gritou muito e bem alto, respirando de seguida de uma forma ofegante, quando se viu de novo sobre uma mesa, ao lado da qual estava a sua companheira extraterrestre/humana, que lhe disse algo parecido com isto: «Mais tarde saberás» e «esta parte não tem tanta importância». Sentiu que a sua mente se abria e que tinha «liberdade de escolha para recuar, em termos de memória, até onde eu quisesse». Reviveu uma vez mais a cena em que ia com os três seres por um corredor até uma sala. Disseram-lhe que «desde criança que concordara em fazer isto, e que optei por vir para aqui [para a Terra] e depois vieram primeiro ter comigo, e eu optei por brincar com os bebés, com os outros seres, com os extraterrestres». Os outros extraterrestres «observavam-me interagindo com eles e como eu não mostrava medo, ou qualquer outro problema em brincar com eles, perguntaram-me se queria continuar.» Disse que era a criança de quatro anos que queria continuar a brincar com as crianças híbridas, e acrescentou que era «mais uma interacção entre mim, simplesmente ali sentado, e elas, e há comunicação». Pedi a Peter para descrever as crianças híbridas. «Têm cabeças grandes e uma espécie de tufos de cabelo, e têm o corpo mais pequeno do que a cabeça», disse ele. «A pele é semelhante à nossa. E um pouco mais áspera, mas carnuda. Não é como a gordura dos bebés. É como a gordura dos velhos, e os braços são muito frágeis, mas têm barrigas grandes. São engraçados. São giros. Parecem bebés pequeninos.» Quando os três seres o visitaram no Havai, perguntaram-lhe novamente «se queria continuar». Embora, nessa altura, não estivesse «preparado para se recordar», «houve sempre

uma opção que tomei no sentido de prosseguir». Parecia que naquele momento se estava a desenhar uma opção, «mais alguma coisa», disse Peter, à medida que recordava ter sido conduzido através de um corredor onde «iam mostrar-me coisas». Enquanto caminhava pelo corredor, mostravam-lhe quadros dos dois lados. Viu explosões A VIAGEM DE PETER 385 nucleares, partes da Europa e dos Estados Unidos destruídas, «muita gente queimada, muita gente confusa... a raça humana alterando» a sua «forma» e «textura». Peter e a mulher, e os milhares de bebés que tinham gerado conjuntamente, eram «parte dessa mudança», parte do «repovoamento da terra». Perguntei-lhe porque é que esse repovoamento era necessário. «Por causa da destruição da terra, por causa do que está a acontecer, do que vai acontecer.» Pedi a Peter para falar mais sobre isso. Disse que «estava a desenrolar-se uma batalha» para decidir «quem iria controlar a terra», que envolvia «seres oriundos de todo o universo», não apenas «os seres com quem estou associado.» Isto «iniciou-se» há cerca de dois mil anos, mas agora «aproxima-se do seu fim». Não se trata de «bons e maus», explicou ele, mas sim de «diferentes possibilidades de avançar para diante». «Todo o processo de reprodução», no qual participava, era «uma parte integrante» desta revelação. Peter referiu-se a profecias, «revelações», e a pessoas «em estado de arrebatamento», como acontecia nos estados de êxtase descritos na Bíblia. Mas na sua opinião isto «não tinha nada a ver com religião», porque havia «naves preparadas para qualquer eventualidade. Tinha observado «este vazio negro» do futuro e tinha visto a terra em baixo «com pessoas a subir... Ver é uma coisa, saber é outra», disse ele. Sentia, ao mesmo tempo, a «perda de todos os que conheci, e de toda a ligação que tive com a Terra.» Peter opôs-se à palavra conquista, preferindo falar «de seres que vêm ajudar-nos a atingir a etapa seguinte da evolução. Vamos apagar o que ficou para trás», disse ele. «É um novo milénio da terra» que «sustém todo um outro mundo». Apercebeu-se que «estava em curso um negócio» que envolvia «forças poderosas que estavam de facto a negociar o futuro do planeta», os seus «dois mil anos seguintes». Quando estava deitado numa cama, Peter viu diante dele seres humanos nus, de pé ou «suspensos». Começou a comentar o que estava a acontecer usando palavras como «estranho» e «bizarro» e pedi-lhe que, por agora, se deixasse de juízos e comentários e que se limitasse a relatar a sua experiência «em estado bruto». Achava que era o ano 2010, e Peter via uma vez mais «pessoas a subir» durante um período em que «acontecia muita merda na terra» e as naves faziam viagens «lá para baixo». O seu papel neste contexto é «fazer bebés» com a mulher extraterrestre/humana com quem estava ligado, «consciencializar-se» de 386 SEQUESTRO todo este processo e «cuidar das crianças» juntamente com a mulher. Tornar-se-ia um líder de «uma tribo nova, original», uma «nova raça de humanos». Embora tivesse dito que aceitava o plano de repovoamento, Peter estava bastante preocupado com tudo aquilo, especialmente «com a destruição das populações da terra», que aconteceria «numa fracção de segundo». Peter afirmou que, apesar de nada se poder fazer para impedir isto, havia um lado positivo que era o de dar «uma segunda oportunidade» à humanidade. A tribo híbrida desce-

ria agrupada em «secções de pessoas» que eram colocadas em várias áreas da terra, basicamente uma «população transplantada» e avançada, com conhecimentos «de outro mundo», preparada para começar uma «vida nova... Todo um sistema» seria transplantado. Perguntei-lhe qual era o nosso destino, dos humanos «originais». Seriam preservados alguns humanos, mas as pragas, a peste e «todas essas coisas» destruiriam a «infraestrutura da civilização do homem tal como existe actualmente». Toda a sociedade se desmoronaria. Perguntei o que é que eu ou nós podíamos fazer face esta angustiante informação. Peter replicou que a minha participação activa no movimento anti-nuclear não era uma «coincidência», que implicava a possibilidade de uma espécie de esforço de prevenção. Mas disse que estávamos a olhar «de longe» para o futuro, não havia saída para a situação e que sentia «que estava num barco salva-vidas a olhar para o navio a afundar-se.» Peter preocupava-se com tudo isto, mas estava, ao mesmo tempo, resignado. Apesar da recorrência da sua visão, que sentia como real, acrescentou que «a determinado nível, estão a decorrer negociações sobre o futuro» englobando «todas estas diferentes possibilidades para a terra... Se houver consciencialização no universo, teremos garantias onde quer que nos encontremos», observou ele vagamente, e «se o mundo, conforme o conhecemos, acabar e outra, outra consciência humana, vier habitar a terra, então terá havido progresso». Afinal de contas, disse ele, a procriação entre humanos e extraterrestres implicava «em certa medida, a procriação no interior da nossa própria espécie.» A regressão acabou aqui. A Dr" Kay referiu que sentiu uma energia muito forte na espinha, durante toda a sessão. Peter, ao ver o nosso ar deprimido, disse: «Sinto que estão desiludidos». Reiterou contudo que as suas sensações tinham sido fortíssimas e que a sua «história» lhe parecera real. A parte final da nossa conversa teve a A VIAGEM DE PETER 387 ver com o estatuto de realidade da profecia de Peter. Opôs-se em parte à noção de «realidades prováveis» e à nossa capacidade para escolher um futuro diferente. Isto porque, durante esta regressão, Peter tivera nítida percepção que «nós não somos a única consciência que tem algo a dizer sobre o nosso futuro». Ao submeter-se ao controlo «de forças superiores», Peter afirmou que se sentia «muito mais livre» e «mais à vontade». Numa conversa telefónica que teve com Pam, três semanas depois da regressão, Peter afirmou que se sentiu incomodado durante algum tempo, especialmente porque se sentia muito isolado com a informação que possuía sobre «o fim da terra». Ninguém queria saber desse problema, disse, mas continuava a considerar «muito real» o processo evolutivo que presenciara na regressão, com extraterrestres e híbridos a descerem à terra. Peter continuou a sentir intensas energias conciliadoras, que relacionava com a sua ligação aos seres extraterrestres, e descobriu que conseguia fazer passar, de forma útil, essa energia a outras pessoas. Perguntou a Pam se podíamos marcar uma outra regressão. Encontrámo-nos para a sétima regressão no dia 22 de Abril. Peter começou por fazer o relato de uma sessão que tivera com a sua terapeuta e durante a qual se deitara no chão em posição fetal, abraçara-se a uma almofada, chorara e balançara-se, e encarnara um ser extraterrestre ou consciência que se apoderara de um corpo humano.

Perguntou a si próprio «Quem sou eu?» e sentiu que, até certo ponto, «perdia a consciência de mim mesmo... Sou uma alma individual que simplesmente apareceu nesta vida» e que entrou «no corpo de Peter». Noutras vidas, passadas e futuras, teria sido «outra coisa qualquer», mas «fui sempre o Peter. A minha alma é sempre a mesma... Na verdade, a minha alma é extraterrestre... Não sei bem o que é que isso quer dizer», disse ele, se teria sido «criado por eles ou se eles teriam possuído este corpo». Se fosse isso, «então sinto-me perdido, e pergunto: quem sou eu? Sou apenas um veículo de que eles se servem? Agora sou simplesmente uma máquina? Até onde vai a minha livre vontade? Isto vem alterar muito as coisas.» Em seguida, Peter descreveu pormenorizadamente a mudança, sobre a qual falara já a Pam, e que dizia respeito ao desenvolvimento das suas energias conciliadoras. Aconteceu na escola de Barbara Brennan, durante uma aula, quando a professora, ao notar que ele tinha uma coisa na orelha, lhe tocou na cabeça e ele sentiu «uma 388 SEQUESTRO coisa a explodir dentro da cabeça.» Sentiu mudanças vibratórias intensas no corpo, que a professora e os outros colegas da aula interpretaram como sendo vibrações fortíssimas no seu campo de energia. Depois de regressar a Boston, Peter reparou que, durante duas noites, todo o seu corpo «vibrou e agitou-se». Uma noite acordou ao ouvir uma ordem: «deves transmitir energia de uma certa vibração às pessoas. Era isso que eu devia estar a fazer.» Peter tinha sentimentos contraditórios sobre isto. Embora aceitasse até certo ponto e usasse com eficácia os seus elevados poderes, não tinha «nenhuma vontade de me levantar e dizer 'Estou a transmitir energia dos extraterrestres'». O objectivo que Peter traçara para esta sessão era «abrir-se para um aprofundamento do conhecimento». Conseguira «compreender ao nível físico» o fenómeno de sequestro. Pretendia agora operar «a uma nível mais espiritual». Embora sentisse que estava «quase a atingir um nível de compreensão mais profundo», Peter também «receava descobrir o que ia aprender.» As suas primeiras imagens durante a regressão diziam respeito a seres extraterrestres no seu quarto, a crianças e à sensação de ser um bebé ou feto, imagens essas que o deixaram perturbado. Sentiu a seguir que o seu próprio corpo era «exactamente o de um ser extraterrestre. Sinto que a minha cabeça é grande. O meu pescoço é muito magro. O meu corpo é magro. Os meus dedos são compridos. O meu corpo é baixo. Tenho uma cintura muito estreita. Tudo é comprido e magro, e sinto que estou ali a conversar com outro extraterrestre». Era «um deles» e a conversa ocorrera antes de ele vir para a Terra. Mas «o futuro passado» era «tudo o mesmo» e ele estava a «olhar para o passado e para o futuro ao mesmo tempo.» Peter sabia que era capaz de transcender o seu corpo, «receber informação e trabalhar com eles. Eu sou eles... Parece que vim para aqui [para a terra] por uma razão», disse ele. Conversava com a sua companheira extraterrestre que conhecia há uma «eternidade». Estavam a despedir-se, porque esta era «a última vez que nos íamos ver sob esta forma... Não quero deixá-la. Não quero ir embora», disse ele. «Agora estou a começar a ficar com medo. Tudo isto é novo.» Mas tinha de partir «porque tinha escolhido fazer isto para ajudá-la, para nos ajudar a todos.» O projecto de ajuda destinava-se a impregnar a sua companheira extraterrestre

«com o meu esperma humano, masculino, enquanto pessoa da A VIAGEM DE PETER 389 Terra.» Depois estava «deitado sobre a mesa e eles estão a recolher o meu esperma. Mas agora ela está ali. Está a olhar para os meus olhos e está a confortar-me.» Há também qualquer coisa que eles querem alterar — a minha estrutura molecular ou coisa parecida», disse Peter. Neste ponto da sessão Peter sentia o medo aumentar, gritou e gemeu, enquanto lutava com a sua «vontade de enfrentar» o que pudesse vir a seguir. Sentiu-se invadido por uma sensação fria e por uma «fina vibração» no corpo. Começou a ser assolado por imagens de grandes mudanças na Terra que ocorreriam antes do ano 2010, enquanto permanecia deitado sobre a mesa com «dois extraterrestres ao lado a falarem comigo» e dois outros seres «a trabalhar com outras pessoas na Europa e em África e no Leste. «Mas», acrescentou Peter de forma ambígua, «nós somos os seres que viemos para cá. Somos nós os que viemos para cá.» Depois sentiu que estava «no fundo do oceano» enquanto ocorriam grandes mudanças na plataforma continental e uma onda gigantesca engolia grande parte da Costa Leste, e o Golfo do México estendia-se para Sul. Perguntei a Peter qual tinha sido a fonte desta informação, em que qualidade a obtivera e que papel desempenharia dentro deste processo. Respondeu-me que a informação lhe chegara através dos seres extraterrestres, que o seu trabalho tinha a ver com a preparação para o futuro através da alteração da «estrutura energética» ou das vibrações das pessoas com quem ele iria trabalhar e, como extraterrestre revestido de forma humana, cabia-lhe o papel de procriar juntamente com a sua companheira extraterrestre/humana para produzir uma raça híbrida. Explicou que «quando sou levado de volta para as naves e o sémen ou os óvulos são recolhidos, retirados do nosso corpo físico humano, aí podem ser usados e misturados com o nosso sistema reprodutor.» Observei que, tendo em conta o que relatara, os seres híbridos pareciam bastante apáticos ou sem vida, e interroguei-me sobre a sua participação num processo de repovoamento. Respondeu-me que esta era, de facto, uma falsa percepção que tinha por base uma perspectiva humana e os limites do que somos capazes de aceitar. «Nesses termos, eles são completamente desprovidos de vida... Eles, os extraterrestres, são de facto nós e nós não somos desprovidos de vida. Isso apenas acontece com os nossos olhos... Não temos forma. Não somos como vocês», continuou Peter. «Estou a analisar isto simultaneamente como humano e como extraterrestre. É importante 390 SEQUESTRO para si ver-nos exactamente como somos, e conclui que somos desprovidos de vida porque não se trata de uma forma humana.» Eu não conseguia ver o seu espírito ou «ser», disse ele. Eu não estava, de certo modo, satisfeito com isto e perguntava porque é que não éramos capazes. A resposta de Peter confundiu-me, referindo-se às minhas ideias preconcebidas sobre o que entendia por vida, «a encarnação da alma, de Deus. O que se passa é que está a observar uma espécie diferente de homem, é só isso.» Referi que os seres híbridos me pareciam «necessitados de cuidados. Que «melhor maneira» havia, disse Peter, para que os seres humanos «nos aceitem [falava agora na primeira pessoa do plural, como extraterrestre] do que revelarmo-nos na nossa forma mais

carente... A bondade do coração», é «característica comum entre todos os humanos,» observou. «Sentem mágoa quando se lembram que fazem parte de nós e que eles estabelecem ligação com essa outra espécie, por assim dizer.» Os sequestrados humanos, explicou Peter, possuem também uma identidade extraterrestre, para que, ao estabelecer ligação com as crianças extraterrestres que geraram, «se desencadeie um conflito entre a memória da sua ligação com as suas espécies de origem [neste contexto, presumivelmente extraterrestres] e a sua ligação humana com aquele bebé, criança ou infante». Observei que isso devia ser terrível para os sequestrados, e ele concordou que «aos nossos olhos, era cruel». Ele próprio também se «sentia dividido» e o seu «lado humano oferecia resistência ao lado extraterrestre, lado esse que, sabe, tem tanta informação para dar...» Seriam criadas linhas, escadas ou túneis pêlos quais as pessoas poderiam passar em direcção ao futuro. Haverá «uma mudança no tempo» e será uma coisa parecida com «um véu que será atravessado pelas pessoas... A espécie humana continuará», mas sob uma forma diferente. «A terra transformar-se-á num lugar de interacção com outros seres», incluindo as crianças híbridas «que estão agora a desenvolver-se». Quando os humanos, que fazem «parte deste plano» fizerem a travessia do tempo e «da consciência, não haverá cólera ou ódio ou ressentimento» entre os sequestrados a quem «se mostrará as crianças... Aquilo que considera cruel», continuou ele, é apenas a mente humana a tentar compreender. Não fiquei totalmente convencido com isto, mas era tempo de prosseguir. Peter regressou ao tema da evolução humana e ficou novamente «com medo» quando começou a traçar uma espécie de cenário de A VIAGEM DE PETER 391 salvação. «Nem todos se adaptam a este processo de criação de um novo ser», disse ele. Haveria uma espécie de «triagem dos indivíduos que não se ajustassem àquele lugar». A mudança seria maravilhosa, uma vez que a consciência se abriria «para uma vibração mais agradável e elevada». O medo estava relacionado com o abandono «daquilo que conheço», mas «o meu lado mais espiritual sabe que todos aqueles seres, e todos os humanos que morrem, transcendem de facto.» O «passo seguinte» tinha a ver com «o processo que conduzia à preparação destas pessoas para passarem através do véu na devida altura.» Viu três formas que interagiriam sem véus entre qualquer dos grupos: encarnações humanas como nós, um misto de humanos e extraterrestres e os próprios extraterrestres. A visão de Peter era uma espécie de «Idade do Ouro do saber, da abertura e da oportunidade.» O próprio Peter recordou que, no fundo, «é quase a minha alma que é extraterrestre» e, quando encarnava, a sua tarefa consistia em usar os seus sistemas reprodutivos com vista à criação de uma espécie intermédia e «de certo modo, mudar as vibrações de outros humanos que estarão aqui quando ocorrerem as mudanças». As pessoas da sua idade eram a «primeira geração» neste processo. «As nossas crianças [híbridas] são a segunda geração... A parte assustadora», disse ele, era «a mudança radical ao nível do consciente» e que abrangia «na verdade, o trabalho», «a consciência de quem eu sou, pelo menos nesta encarnação». Sentia a «vastidão» de tudo isto e sentia também que esta informação provavelmente estava a operar mudanças em mim, de uma maneira importante, obrigando-me a reflectir «para além do paradigma clínico do 'que é a experiência'». Achava que podíamos estar

no «mesmo barco... o Dr. é um de nós», disse. «É um deles.» Peter achou esta sessão particularmente difícil e afastou-se durante alguns dias. Fora particularmente inquietante sentir, de uma forma muito forte, que era um extraterrestre, o que lhe parecia ser «uma loucura», e interrogou-se se outros sequestrados se sentiam da mesma maneira. Pam informou-o de que havia outros sequestrados com quem trabalháramos que tinham uma dupla-identidade similar. Solicitou um encontro comigo para tentar integrar a informação a que acedera durante a última regressão. O nosso encontro realizou-se no dia 19 de Maio e Peter partilhou connosco a «avalancha de dúvidas, desespero e interrogação» que sentiu depois da nossa última sessão. Analisámos juntos em que 392 SEQUESTRO nível de realidade devíamos inserir o que acabara de relatar. Peter disse que me considerava uma espécie de «parteira», e que depois de cada regressão conseguia atingir um nível de resolução, de «transformação». Nunca estivera tão convencido de que «existe por aí um poder que é maior do que eu, ou maior do que nós, e eles têm algum controlo sobre o meu destino e sobre o destino do planeta... A mentalidade ocidental, a estrutura sócio-económica em que cresci, não me apoia», disse ele. «Sou um homem diferente do que era antes das regressões», acrescentou. Agora está «confiante no universo... estou à espera de um apelo ainda maior, à espera de que algo mude.» «Estou ligado aos seres», disse ele, «e tenho a sensação de que eles estão ligados a Deus, seja Ele quem for... como intermediários, eles estão a fazer a mesma coisa que nós faríamos se deparássemos com uma espécie, fosse do que fosse, que estivesse em risco de extinção.» Tentaríamos «ajudá-los sem intervir directamente.» Os seres «agiram conjuntamente com Deus», sugeriu ele, com o objectivo de alcançar as «melhores qualidades da humanidade». Simultaneamente parecem ter «sido capazes de transcender o tempo e o espaço e prever a possível futura evolução do planeta», utilizando «a mitologia dos OVNI» para nos fazer «compreender que fazemos parte de algo muito maior». Peter sentia necessidade de se auto-analisar, e disse que estava a planear fazer um retiro de dez dias, acampando sozinho em Montana no final de Julho, com o objectivo de aprofundar algumas questões que o atormentavam desde a Primavera. A parte final da sessão foi preenchida com a análise das implicações práticas decorrentes das mudanças que se verificaram. Continuava a sentir-se isolado e só com as suas experiências. Embora o seu processo de transformação tivesse uma característica inexorável, receava perder a ligação com Jamy, e com «a função social segura e agradável» que teria enquanto «jovem culto» e um «acupuncturista profissional». Ainda esperava conseguir o apoio do pai e da irmã, mas não obtivera qualquer resposta depois de lhes ter enviado videocassetes contendo as suas palestras e depois de o terem visto na televisão a falar emotivamente sobre as suas experiências. Ele e eu, disse Peter «e outras pessoas deste grupo [de experimentadores e investigadores] estamos a ser puxados em direcção a alguma coisa, retirados da segurança do nosso mundo normal, e isso é inquietante». Peter acrescentou que, apesar de tudo, estava decidido a A VIAGEM DE PETER 393 proseguir a sua tarefa de provocar «uma mudança subtil nos nossos

campos energéticos.» DISCUSSÃO O caso de Peter leva-nos a reflectir sobre questões como o mistério da consciência, a evolução da identidade humana ou o aparente objectivo do próprio fenómeno do sequestro. As suas regressões parecem conter uma progressão, passando das intromissões traumáticas mais «padronizadas» para as experiências expirituais complexas que envolvem a abertura ou expansão da sua consciência e visões de possíveis futuros humanos. Recordações de acontecimentos puramente físicos, especialmente de acções invasoras unilaterais levadas a cabo pêlos seres, são totalmente substituídas por comunicações entre Peter e os seres, parecendo fazer parte de um complexo processo de aprendizagem recíproca. É interessante constatar que cada uma das regressões deixa raízes para a regressão seguinte, embora cada uma delas seja submetida a processos selectivos, accionados quer por Peter, quer pelo investigador. Como sempre acontece neste tipo de trabalho, a progressão de cada caso depende da abertura e da aprendizagem mútuas, tanto por parte do sequestrado como do investigador. Não se trata de um fenómeno linear, como a «persuasão» de uma testemunha ou cliente. É uma emergência rica, em parte inconsciente, interactiva ou intersubjectiva, criativa na forma como se revela e imperfeita nas limitações da sua objectividade. Há um problema curioso e inerente à noção de que as regressões reflectem uma certa progressão. Isto porque a maior parte dos sequestros — a análise da experiência de Nantucket, feita na quinta regressão em Agosto de 1992, é uma clara excepção — ocorreu antes de eu e Peter nos conhecermos. Se existe uma evolução da consciência evidenciada durante as sessões, isso significa que (l) Peter apreendeu de forma diferente experiências passadas; (2) a sua psique faz que os elementos do sequestro acedam ao nível do consciente, colocando-os ao serviço da sua presente evolução; (3) um pensamento mais abrangente: a mudança ao nível da consciência vem alterar, de facto, a natureza das experiências passadas. Como não sabemos em que nível de realidade ocorreram original394 SEQUESTRO mente estes acontecimentos, torna-se difícil escolher entre estas hipóteses. Convém fazer referência ao tempo gramatical usado durante as sessões. Peter e eu falámos sobre acontecimentos ocorridos presumivelmente no passado. Contudo, tal como acontece com a maioria dos sequestrados, naquele momento Peter revivia as experiências de forma tão intensa que as narra, durante a maior parte do tempo, no presente do indicativo. Se usei estritamente um tempo do passado durante as minhas contribuições na narrativa, posso deste modo ter introduzido uma voz distorcida. Em termos da reconstituição do vivido, a sua comunicação «ao vivo», usando a forma do presente, pode ser uma descrição mais fiel da ocorrência do sequestro, por se tratar de um acontecimento tanto real como psíquico (esta divisão pode, de novo, ser limitadora), do que a minha colagem a um tempo do passado da narrativa. A primeira regressão centrou-se numa experiência ocorrida em 1988, nas Caríbas, durante a qual Peter e, aparentemente, muitos outros seres humanos que ele viu dentro da nave, foram submetidos a uma investigação anal humilhante, bem como à introdução duma

espécie de implante que Peter acreditava tratar-se de um dispositivo destinado a mante-lo sob controlo. Mesmo durante a primeira sessão, Peter tinha a sensação de que era, de certo modo, um participante voluntário deste processo, apesar de se tratar de experiências traumatizantes. A segunda regressão e os acontecimentos ligados à observação, em Connecticut, chocaram particularmente com o esquema mental de Peter, já que existiram testemunhas independentes da sua experiência de sequestro no OVNI. A aparente investigação feita no seu cérebro, embora emocionalmente traumatizante, estava também ligada com a função de líder que Peter assumira, um teste à sua capacidade para se tornar um intermediário entre a Terra e o domínio extraterrestre, e que os seres escolheram para se manifestarem de forma mais directa. A terceira regressão, envolvendo a memória dramática e extremamente perturbadora da recolha forçada de uma amostra de esperma, serviu para explorar a relação entre a experiência corporal e a evolução da consciência. Peter precisava de sentir ao nível corporal, com todo o terror que isso envolvia, o facto puro e simples que ocorrera com ele. Só dessa maneira se tornaria capaz de reconhecer a existência dos próprios seres e tornar-se-ia assim capaz de aceitar A VIAGEM DE PETER 395 aquilo que ia subsequentemente aprender através da comunicação com eles. Na quarta regressão começámos por explorar o mútuo desejo de conexão entre nós e os extraterrestres, uma relação que implicava um amor não correspondido, que era sentido sobretudo através do contacto ocular. O processo híbrido de procriação parecia estar a proceder à selecção de qualidades como o amor e o apreço, em detrimento das tendências humanas destrutivas. Os extraterrestres redescobririam as emoções perdidas através do contacto connosco, nomeadamente a capacidade de amar sob uma forma mais física. Com eles aprenderíamos a alargar o nosso conceito de real e a expandir a nossa limitada consciência terrena. Depois da sua quarta regressão, com início em Junho de 1992, Peter transformou-se num líder entre os sequestrados no que diz respeito ao facto de comunicar livre e publicamente os factos ocorridos durante as suas experiências e a importância que tiveram no seu crescimento pessoal e espiritual. A quinta sessão foi a mais complexa. A sua passagem através da parede inclinada da casa em Nantucket, revelou-se uma poderosa expressão metafórica de uma transição da consciência, uma espécie de salto de fé em direcção a uma outra dimensão da realidade. Ao dar o fatal «quarto passo» que lhe permitiu ultrapassar a barreira, Peter tomou maior consciência da sua participação voluntária no programa de procriação extraterrestres/humano. Descobriu, novamente sentindo um certo choque e mesmo horror («E a minha vida na Terra, John? E a minha mulher?») que tinha uma companheira extraterrestre com a qual partilhava voluntariamente uma descendência híbrida com o objectivo último de repovoar a terra após «a sua destruição, tal como a conhecemos». Na sexta regressão, em Abril de 1993, Peter vivenciou o colapso do passado, presente e futuro, e sentiu que a sua consciência era capaz de transcender o corpo. Analisámos depois a mistura de seres humanos, extraterrestres e híbridos que existiriam na Terra, depois das mudanças que iriam ocorrer. Para além da destruição, Peter teve uma visão de uma espécie de «Idade do Ouro» da abertura e da aprendizagem. Para além do seu papel de procriador nesta etapa da

evolução, Peter sentia que os extraterrestres lhe concediam uma energia especial que era capaz de transmitir aos outros fazendo que as suas vibrações biológicas se alterassem e tornando-os capazes de passarem «através do véu» em direcção a outro futuro. O caso de Peter parece responder a certas questões que dizem 396 SEQUESTRO respeito à essência do fenómeno de sequestro extraterrestre ao mesmo tempo que, como é evidente, levanta outras. Parece querer dizer-nos que o objectivo da nossa evolução é a interacção extraterrestre/humana, tanto biológica como espiritual. Uma nova raça ou «tribo» está a ser criada, uma forma híbrida, um cruzamento entre a raça ou raças extraterrestres e os humanos. Peter, e outros homens e mulheres que com ele partilham uma dupla identidade extraterrestre/humana, parecem desempenhar um papel vital na criação da sua tribo ou tribos, procriando com uma companheira extraterrestre ou híbrida para dar origem a uma descendência que seja capaz de sobreviver num futuro de tipo pós-apocalíptico. Simultaneamente, Peter e outros como ele vivem um processo de expansão ou transformação da consciência que os fará passar de uma existência puramente terrena para se transformarem em «filhos do cosmos». Como professor, Peter tem também a função de alterar a consciência de outros seres humanos que participam ou venham a participar neste processo evolutivo. Embora tudo isto pareça ser bastante premeditado, há um outro aspecto do processo, que tem mais a ver com o relacionamento, que diz respeito à trabalhosa tarefa, simultaneamente traumatizante e alegre, que tanto os seres humanos como os extraterrestres têm de realizar com vista à fusão das suas qualidades e identidades. É evidente que tudo isto levanta profundos problemas ontológicos. Em que domínio da realidade se situa, por exemplo, este programa de procriação e a dupla identidade humana/extraterrestre? Embora para Peter e para muitos outros como ele, o processo seja demasiado real, nós não sabemos «onde» e «quando» qualquer deles ocorreu ou irá ocorrer. Nem sequer sabemos se estes termos são os mais apropriados. É como se seres que são semi-físicos e que provêm de uma outra dimensão, pretendessem (ou tivessem sido recrutados para esse fim, por uma outra inteligência «superior») encarnar de tal maneira que consigam compatibilizar-se biologicamente com os seres humanos. Mas nós não sabemos o que está realmente por detrás deste complexo processo, que parece desenvolver-se na fronteira entre a biologia e a espiritualidade. Se se trata de um processo totalmente «genético», no sentido que essa palavra tem para nós, não possuímos qualquer informação sobre as alterações genéticas introduzidas pêlos extraterrestres conducentes à fusão da nossa espécie. A VIAGEM DE PETER 397 Do ponto de vista ocidental, puramente científico e filosófico tudo isto deveria ser considerado um absurdo. Contudo, para Peter, cujo bom estado de saúde mental foi confirmado pelo contacto que tive com ele e pêlos testes formais a que se submeteu, estas experiências são tão nitidamente reais, tão amplamente estruturadas e consistentes, e corroboradas por uma série de informações do domínio do físico, que me parece que se não as tivermos em conta estaremos a transferir o fardo da responsabilidade epistemológica para o campo do cepticismo

As visões apocalípticas de Peter também colocam o mesmo problema da localização e definição ontológicas. Tratar-se-ão de imagens reais do que está para acontecer num período finito de tempo? Ou serão imagens proféticas poderosamente reencarnadas e projectadas nas mentes humanas (já que muitos sequestrados as sentiram) daquilo que, num sentido bioespiritualjá acontece no nosso planeta sob a forma de um eco-desastre emergente cujo impacto produz, como é óbvio, efeitos ao nível cósmico? Por outras palavras, será que estas imagens, que produzem em experimentadores como Peter um efeito tão forte que os levam a considerá-las literalmente proféticas e mesmo deprimentes em termos da perda de ligação com a Terra que é por eles vaticinada, são representativas de futuros possíveis baseados numa espécie de extrapolação do nosso percurso normal? São efectivamente estas as opções que nos são oferecidas por uma inteligência superior cujos métodos de intervenção são subtis, apelando à mudança através de um relacionamento com intermediários semi-reencarnados que fazem que nos revelemos a nós próprios ao mesmo tempo que alteram essa revelação? A 26 de Agosto, realizámos a oitava regressão, que forneceu uma espécie de post-scriptum para o seu caso. Durante a sessão, explorámos uma experiência de sequestro ocorrida umas semanas antes, no final do seu retiro em Montana. Recordou uma ligação profundamente emocional e sexualmente excitante com a sua companheira extraterrestre, que assumiu uma espécie de forma híbrida atraente. Deixou de ser uma troca simplesmente pragmática, uma junção de esperma e óvulos para criar um espécie nova. Tratou-se de uma união de prazer, embaraçosa em certa medida, entre um ser humano totalmente físico e outro ser obviamente desconhecedor das densidades do amor sexual. Contudo, Peter sentiu-se, na altura, desgostoso e revoltado no final da experiência e também quando estava a sair do estado de transe em que a reviveu. 398 SEQUESTRO O que isto sugere é que o relacionamento extraterrestres/humanos é algo que é muito mais complexo e completo do que um programa de procriação híbrida. Parece ser uma tentativa pouco convincente e difícil levada a cabo por uma inteligência que conhecemos muito pouco, para dar origem à fusão de duas espécies que parecem precisar e ansiar algo uma da outra. É uma experiência que, tanto quanto podemos determinar, é tão formidável, frustante e questionável como qualquer outra que tenha sido levada a cabo pelo seu criador. Porque diz respeito à junção de seres cujos espaços principais se situam presentemente em dimensões ontológicas separadas. Contudo, para tornar o assunto ainda mais complexo, os relatos de Peter e de outros sequestrados tornam evidente que nós e os seres extraterrestres derivamos, ou provimos, da mesma origem fundamental e que a nossa mútua ansiedade deriva do desejo de descobrir uma afinidade perdida (ver o relato da quarta regressão na pág. 371), de nos reencontrarmos e assim aproximarmo-nos uma vez mais da «Casa» cósmica que, à luz da experiência de Peter e de outros sequestrados, foi em tempos a nossa origem comum. CAPÍTULO CATORZE UM SER LUMINOSO Carlos * tem cinquenta e cinco anos, é casado e pai de três filhos já adultos: dois rapazes e uma rapariga. É uma pessoa extrema-

mente criativa, que se dedica quase diariamente ao desenho, à pintura, bem como à escrita de poesia, drama, ensaios académicos e até de um romance; também está ligado à produção e direcção de peças de teatro. E professor de belas-artes numa pequena universidade do sul e as suas aulas são muito populares; para além disso ministra fequentemente cursos suplementares a pedido de alunos interessados. Contribui de forma significativa para o desenvolvimento cultural da sua comunidade e estado, participando voluntariamente no sistema prisional estadual, bem como no trabalho com crianças deficientes, doentes mentais e idosos; dedica também a sua atenção a questões ambientais ao nível regional. Carlos escreveu-me em Julho de 1992, aconselhado por duas das pessoas envolvidas no caso Allagash (Fowler 1993), relacionado com a perda da noção de tempo, ocorrida no domingo de Páscoa do ano de 1990. «Perdi a noção do tempo durante seis (ou mais) horas, durante a tarde, quando escalava a encosta de uma montanha» nas Hébridas interiores, na ilha de lona, nos estreitos situados entre a Irlanda e a Escócia. Carlos já tinha explorado as suas experiências de contacto em várias sessões de hipnose, com a duração de dezassete horas, orien* Este capítulo é o resultado de uma colaboração literária invulgar entre Edward Carlos e eu. Ele é, na verdade co-autor deste capítulo. 400 SEQUESTRO tadas pelo Dr. Ward, um psiquiatra de uma localidade próxima. Encontrámo-nos várias vezes para conversar, durante o mês de Agosto, e realizei duas sessões de hipnose com a duração de seis horas. Embora, durante a nossa conversa, me referisse à sua experiência usando o termo «sequestro», Carlos preferia o termo «encontro» e considerava-se um «participante», e não uma vítima ou um sequestrado. Infere que é, em certa medida, um colaborador, um co-ceptor (em vez de receptor) do processo imagético e da partilha da experiência. Estas variantes de linguagem pressupõem uma atitude diferente na forma como um investigador-hipnoterapeuta se relaciona com os outros no campo da ovnilogia, bem como na maneira como um artista/participante apreende interiormente o fenómeno. O caso de Carlos toca ao de leve em vários mistérios que envolvem o fenómeno de sequestro. A sua experiência contribui para esclarecer algumas dimensões deste fenómeno e levanta novas e profundas questões sobre o assunto. Tal como muitos casos de sequestro, os objectivos correlativos são sugestivos e tantalizantes — observação de OVNI, terra queimada nos locais de aterragem dos OVNI, inexplicáveis cortes e cicatrizes surgidos após os sequestros e sobretudo fotografias dramáticas de um feixe luminoso proveniente das nuvens e que mergulhava numa baía em lona. Mas o peso da evidência assenta no relato das experiências, sob hipnose, de um homem inteligente, sensível e sincero, sem aparente perturbação mental ou distorção de pensamento ou percepção que, de forma empenhada, procura compreender a situação em que se viu envolvido. A informação que o caso de Carlos nos faculta permite duas leituras que, inicialmente, podem parecer contraditórias: por um lado, possibilita o conhecimento aprofundado de tecnologias que apenas faziam parte do nosso imaginário e que são controladas por uma inteligência mais avançada; e, por outro lado, coloca-nos perante realidades alternativas, domínios do ser que não integram a nossa

concepção do universo. Mas uma análise mais detalhada revela que esta distinção não é sustentável. A questão é que os avanços da tecnologia e a expansão das nossas noções de realidade são inseparáveis. O aspecto singular da investigação do fenómeno de sequestro, profusamente ilustrado com este caso, tem a ver com a necessidade da consciência humana se expandir de modo a que nos seja possível aceitar aquilo que suplanta a nossa capacidade tecnológica, bem como aquilo que está para além das nossa percepção da realidade. UM SER LUMINOSO 401 Através da hipnose, Carlos — que prefere ser chamado apenas pelo seu último nome — recordou muitas experiências de contactos, ocorridas a partir dos seus três anos e meio de idade. Torna-se, de certo modo, difícil separar as memórias conscientes de diferentes tempos e lugares de encontros, das que ele evocou sob hipnose a partir de Fevereiro de 1992. Como artista, Carlos é dotado de um grande sentido visual. Isto permite-lhe ser extremamente sensível à luz e energia das forças transmutadas, aspectos que são relevantes em relação ao seu caso e, quem sabe, em relação ao fenómeno de sequestro através de OVNI em geral. Carlos atravessou um período de experiências «visionárias» (o termo pertence-lhe), que hoje relaciona com os contactos que teve, e que foram aprofundadas durante cerca de trinta horas de hipnose. Em Novembro de 1970, um padre anglicano visitou uma exposição sobre de S. Miguel e os Anjos, e convidou-o a visitar a sua terra-natal com o objectivo de fazer um trabalho para a Igreja de S. Miguel e Todos os Santos em Tollcross, Edinburgo, que versaria também o tema do Arcanjo. Uma semana depois de estar na Escócia, o padre convidou-o a acompanhá-lo à ilha de lona. Embora não soubesse onde ficava a ilha e nem sequer tivesse ouvido falar a seu respeito, Carlos sentia que sempre desejara visitar esse local. Tinha imagens da história monástica da ilha, que lhe provocavam uma sensação agradável. Durante a viagem de comboio, Carlos pintou aguarelas da paisagem que observava da janela, e sentiu uma empada em relação àquela terra; começou a chorar, com a sensação que «pela primeira vez na vida estou a caminho de casa.» Embora tivesse recebido uma educação católica romana, Carlos nunca anteriormente se interessara por lona e nenhum dos seus familiares ouvira falar na ilha. Apesar disso, sentiu-se emocionado e excitado, tanto durante o trajecto como quando aí chegou noferry proveniente da ilhadeMull. Antes de abandonar Edinburgo, uma senhora idosa, escritora britânica famosa, autora de vários livros sobre lona e sobre lendas históricas escocesas, convidou Carlos para ir a sua casa para conversar sobre a viagem que ia realizar. Esta escritora aconselhou-o a ir à praia da Baía das Focas, na ilha de lona; nesse local devia cantar hinos para comunicar com as focas que, segundo a lenda local, possuíam as almas dos monges mortos durante as incursões dos vikings. Os actuais monges acreditam que a classe nobre da Escócia, de que 402 SEQUESTRO fazem parte e que foi enterrada na ilha, regressava sob a forma de sereias (as focas parecem-se muito com mulheres, com olhos grandes e cabelos compridos, emergindo das águas). Durante a primeira manhã em lona, Carlos palmilhou o quilómetro e meio de comprimento da ilha, desde a cidade de lona até à dita praia e entoou, por

brincadeira, cantos gregorianos em grego e em latim. Para sua surpresa, uma foca aproximou-se da praia e acompanhou-o durante os cerca de oitocentos metros que passeou ao longo da praia, e continuou a segui-lo quando regressava. Encantado com a atitude amistosa da foca e com a aparente autenticidade da lenda, Carlos admitiu: «Foi uma experiência nova e maravilhosa.» Na noite seguinte foi a um baile semanal tradicional da cidade, realizado no pequeno ginásio da escola da cidadezinha de lona; o baile iniciou-se à meia-noite. Dançou ininterruptamente durante quase duas horas, com mulheres que estavam de visita à ilha e que estavam hospedadas na abadia, localizada a uma pequena distância da cidade, e no final sentiu-se livre e aberto, «muito bem mesmo». Exuberante e cheio de energia, começou a correr, com o peito esticado e com os braços abertos «em cruz» por um caminho escuro e estreito, debaixo de uma chuva fria e abundante, até ao fim da doca que ficava no extremo da pequena cidade, no local onde desembarcara quando chegara à ilha. Embora estivesse muito escuro e «chovesse torrencialmente», Carlos viu à sua frente, no mar, uma neblina rosada em forma de bola, com cerca de um metro de diâmetro e «luminosa por dentro». A névoa luminosa parecia formar-se à sua frente, como se fosse um sinal que se dilatava no interior da sua própria visão. Viu um ténue relâmpago quando aquilo apareceu e depois se desenvolveu mesmo à sua frente, dando a sensação que envolvia a água e o céu escuro. Carlos afirma que não ingeriu bebidas alcoólicas durante o baile e que aquilo era tão real que ele acredita que qualquer pessoa que ali estivesse a veria, sem duvidar da sua veracidade. «Num segundo» ele estava dentro da bola e deu-se uma mudança de cena. Já não era um homem de trinta e quatro anos, mas um rapaz órfão de doze anos que se encontrava numa praia que ficava depois da abadia, numa ponta da ilha, a pouca distância da doca. Tinha a seu lado um amigo, que participara como modelo no trabalho sobre S. Miguel, posando para a figura de Adão na história do Paraíso e também para a figura de um dos Anjos. O amigo é «de facto» doze anos mais novo, mas nesta outra realidade, que Carlos chama de «visão», era também UM SER LUMINOSO 403 um órfão de doze anos. Era uma visão do século VI, do tempo de S. Colombo, que está historicamente associado a lona. Na visão havia dois monges da comunidade e os dois adoslescentes órfãos que os monges estavam a criar. Carlos reconheceu um dos monges como um outro jovem que posara em sua casa para as figuras de Dionísio e de Cristo. Não conhecia o segundo monge. Na visão, que era absolutamente real para Carlos, um bote aproximou-se da praia — uma praia pequena e enquadrada por duas estruturas de pedra ou «portões» — proveniente de um barco Viking, maior e feito de madeira (de facto, desde que a comunidade existe os vikings saquearam lona várias vezes). O monge que Carlos já conhecia caiu subitamente morto na praia, bem como a outra criança que caiu sobre ele «e compreendi que estava morto.» Tudo isto aconteceu de uma forma muito rápida e Carlos não percebeu como é que eles tinham sido mortos, se tinham sido atingidos por setas ou não. O monge sobrevivente correu então na direcção de Carlos, que saltou da duna em que estava sentado e agarrou Carlos pela mão, gritando que o seguisse pela praia. Correram até cair junto a uma pedra grande e saliente que ficava junto à duna que estava ao lado de um dos rochedos que formavam uma porta de entrada natural da praia.

Quando caíram, as vestes do monge «caíram» sobre Carlos, protegendo-o (Carlos não sabia se estava vivo ou não). Os vikings, «pensando que estávamos todos mortos», passaram ao lado, correndo pela praia acima até chegarem aos campos. A visão terminou e Carlos estava na doca, todo molhado, tendo regressado a seguir para o pequeno hotel onde ele e o padre estavam hospedados. Na manhã seguinte, antes de regressarem a Edinburgo, Carlos sentiu-se compelido a regressar à Baía das Focas onde entoou novamente cânticos gregorianos «para ver se a foca voltava». A manhã estava sombria e tempestuosa, chovera durante toda a noite e manhã. «Subi a uma península de grandes pedregulhos e rochedos perigosamente molhados, para olhar as águas escuras que pareciam ferver em grandes erupções à minha frente. Rodeado pela tempestade, cantei 'Dies Irae' e o 'Asperges Me' dos cantos gregorianos. Um enorme leão marinho branco com grandes presas brancas emergiu daquelas águas negras e eu fiquei terrivelmente assustado. Não compreendi isto. Era demais para mim!» Carlos regressou a Edinburgo e terminou o seu projecto, Michael's Triumph, pintando uma série de painéis translúcidos em 404 SEQUESTRO chiffon e cetim que reproduziam as características da luminosidade da ilha e representavam uma passagem do Apocalipse. Entre os pendentes estavam alguns nus masculinos em tamanho real que representavam os anjos caídos, posicionados atrás da figura central do Arcanjo Miguel. Durante cerca de vinte anos as autoridades eclesiásticas exibiram o painel maior (que media sete metros e meio por três metros, e cada um dos painéis suspensos com cerca de dois metros de altura) durante dois meses no Outono, do dia de S. Miguel até ao Dia de Todos os Santos, na altura da peregrinação anual à igreja em que participavam as paróquias de toda a Escócia. Dois meses depois de Carlos regressar à sua cidade-natal, o jovem monge que o salvara na visão apareceu na universidade na figura de um caloiro e dirigiu-se ao seu gabinete para se inscrever nas aulas de arte que ministrava. Carlos ficou espantado e incrédulo. Ambos sentiram imediatamente que se conheciam e ficaram amigos. Quando Carlos se apercebeu que, durante a visão, tinha de certo modo conseguido prever o futuro, isso afectou-o profundamente e serviu para reforçar a sua determinação de um dia regressar a lona. Nas veias de Carlos circula sangue espanhol, escocês, irlandês, alemão e judeu alemão. O seu apelido está de certo modo relacionado com a Armada Espanhola e com os seus desaires nas Hébridas irlandesas/escocesas, talvez ao largo da ilha de Mull, próxima de lona. Carlos cresceu numa cidadezinha da Pensilvânia ocidental, no seio de uma família católica. Os seus pais, cujos últimos anos de juventude foram passados em plena depressão, eram trabalhadores dedicados que se mantiveram na sua fé católica. Ambos tinham sido criados no campo e davam muita importância à formação escolar, uma vez que eles próprios tinham o nível liceal, como era típico nas cidades pequenas e no campo, na primeira parte deste século. A irmã de Carlos, dez anos mais velha do que ele, casou quando Carlos era ainda uma criança. Tinha quatro filhos e permanecera com a sua família na cidadezinha onde ela e Carlos tinham nascido. Quando Carlos completou os dezasseis anos, o pai, um comerciante que também trabalhava no caminho de ferro, morreu de ataque cardíaco durante o trabalho, e era um fumador. O confronto com a morte era uma constante na vida de Carlos e

este acontecimento afectou-o violentamente. Começou por passar por uma experiência traumatizante quando teve de acompanhar a mãe e a irmã à morgue do condado para identificar o corpo. «Nunca tinha estado numa morgue. Ao ver o meu pai sobre uma laje, em cima duma UM SER LUMINOSO 405 mesa e a minha mãe aos gritos, chorando e beijando-o, caí no chão e chorei.» Mas a mãe de Carlos continuou a gerir o armazém de mercadorias e mercearia até se reformar, e depois ajudava na preparação das refeições para os filhos. Carlos foi encorajado pela família a prosseguir os seus estudos, particularmente no campo das artes, e tirou três cursos e o equivalente a um quarto — incluindo uma licenciatura, direccionada para pintura e escultura; o equivalente a uma segunda licenciatura em Terapia pela Arte; e uma licenciatura em Artes Comparadas. Considera que foi graças à influência e encorajamento da sua irmã que desenvolveu as suas capacidades artísticas. Carlos casou aos vinte e seis anos e, depois de completar a sua licenciatura, ele e a mulher, professora de matemática, mudaram-se para uma comunidade universitária situada no cimo de uma montanha, no Sul, onde criaram os seus três filhos. Embora trabalhasse no ensino a tempo inteiro, Carlos continuava a dedicar-se às suas próprias produções criativas. Sofreu ao longo da sua vida de dificuldades respiratórias resultantes de alergias várias. Teve uma peneumonia quando tinha um ano de idade e a enfermeira informou os pais que ele estava clinicamente morto. Os pais, desesperados, levaram-no a correr para o hospital, onde se verificou que estava com uma pulsação muito fraca e foi colocado numa incubadora. Em estado de hipnose, com o Dr. Ward, Carlos recordou ter sentido que «a criança que eu fora morreu» e a «criatura luminosa» que anteriormente encarnara «apoderou-se do corpo do bebé... reeencarnar era muito doloroso», disse Carlos. Sentiu uma forte «resistência em apoderar-se de um corpo... Gosto de ter um corpo», continuou, acrescentando: «Mas eu não queria vir [para a Terra]. O corpo é propenso a muitos problemas. É como uma acalefa na praia; cada simulação é um micróbio que entra. A estrutura celular está sempre a mudar e a alterar-se. Crescer era difícil. Envelhecer é difícil. Todas as coisas que o corpo atravessa. E nunca está sossegado, nunca está verdadeiramente em paz.» Carlos descreveu, sob hipnose, a sensação que teve ao reentrar no seu corpo de criança com cerca de um ano de idade. «Senti-me a deslizar para dentro dele, como se estivesse a calçar umas meias e sapatos, ou a vestir umas calças. Meter-me-ia nos seus dedos das mãos e dos pés e nos músculos. Era um procedimento doloroso. Não gostava da sensação que causava; achava confuso; causava náuseas, era perturbante. Era um bebé gordo e sujo que não podia fazer nada. 406 SEQUESTRO Não tinha presença efectiva. Era uma dimensão diferente. Era uma tal descida!» Durante uma sessão de hipnose com o Dr. Ward, Carlos recordou que, apesar da dor da reencarnação quando tinha cerca de um ano de idade, de certo modo «oferecera-se para vir à terra física... Optei pela aceitação do corpo», disse ele. Quando lhe perguntei porque é que «concordara», ele referiu as suas responsabilidades enquanto professor e artista. A incapacidade dos seres humanos para cuidarem «adequadamente das suas potencialidades» preocupa-o muito,

assim como a destruição predadora do «jardim da Terra». Recorrendo à arte, Carlos ensina «'a estética do transcendente'... Através dos procedimentos artísticos estou a ajudar as pessoas a sentirem uma maior empatia, de modo que compreendam melhor que estas coisas não lhes pertencem, e que por isso não devem destruí-las.» A primeira experiência de contacto de que Carlos se lembra ocorreu no fim do Verão ou início do Outono de 1940, quando tinha três anos e meio, na mesma altura em que ocorreu a aurora boreal (luzes do norte). Estes acontecimentos eram bastante invulgares na Pensilvânia, e Carlos recorda-se que alguns dos seus vizinhos tiveram reacções apocalípticas. Carlos também se sentiu apavorado com esta experiência e essa forte sensação acompanhou-o durante toda a sua vida; afirma que o espectáculo das luzes coloridas no céu se reflecte na sua actual maneira de pintar. Carlos ficou de tal maneira intrigado com a ocorrência que recusou ir para a cama. «Fiquei furioso porque os meus pais me mandaram para a cama. Achava que aquela era a mais importante experiência de toda a minha curta vida e eles a mandarem-me vestir o pijama e a dizerem-ne para ir para a cama. Mas o meu pai trabalhava nos caminhos de ferro e levantava-se às quatro e meia da manhã para poder começar a trabalhar às seis. Eu não fui logo para a cama. Em vez disso fui espreitar pela janela. Depois gritei para os meus pais: 'Mamã, papá, estou a ver um anjo', ao que o meu pai respondeu: 'Que bom. Agora vai para a cama.'» A criança, Carlos, não conseguiu compreender a atitude dos pais naquele que era «o dia mais importante da minha vida». A imagem do anjo era «uma luz amarela ou uma névoa amarela» que vinha na sua direcção, e que associou com a imagem de um anjo de cabelos louros, andrógino, que vira junto à árvore de Natal da família e que o fascinava. Em criança, costumava brincar com essa imagem, transformando-a num avião, fazendo-a voar à volta do tronco da árvore, ou UM SER LUMINOSO 407 aterrando nos ramos ou na parte de cima da manjedoura. O anjo era a imagem mais forte que guardava dessa altura. Carlos recordou, em estado de hipnose, que «daquela forma de anjo amorfa e amarela» emergiu «uma das pequenas criaturas brancas e magras, de olhos grandes», um tipo de ser extraterrestre que vira em várias regressões hipnóticas. «Era uma pequena criatura mais ou menos da minha altura. Era magra, tinha a cabeça maior do que o corpo e os olhos muito grandes. Eram amendoados, como os dos gatos. «Os olhos eram», por vezes, de um azul brilhante, como se fossem iluminados por dentro.» A criatura era «careca, sem cabelo, sem características corporais relevantes. Das mãos é que não tenho bem a certeza. Acho que tive sempre a sensação que não eram mãos como as minhas, apesar de ter visto esta criatura várias vezes.» Em vez de dedos, parecia que tinha «garras ou tenazes. Nunca sei se eram dois, três ou quatro dedos, mas parece que eram dois.» Mais tarde, Carlos teve a impressão que estava a fazer confusão entre as «mãos» das várias criaturas que conhece e que acha que podem ser categorizadas em quatro raças ou espécies. Considera que as mãos a que se referiu são, muito provavalemente, daquelas criaturas maiores e robóticas que mudam de forma e de configuração conforme as funções que desempenham. Carlos considera que as várias espécies estão inter-relacionadas e são co-funcionais. A seguir, Carlos recordou que, quando era criança, se elevara «no ar numa imagem do espelho da criatura pequena» e saiu pela

janela e «voei» com o ser. «Levou-me a voar pelas colinas à volta da minha casa e voar era uma coisa maravilhosa para mim. Só pensava que aquilo era óptimo. Uma vez até me virei de costas e voltei à posição normal.» Voava ao lado da criatura e parecia que era sustentado e impulsionado pela energia da luz em que estavam imersos. «Tinha a noção das distâncias. Tive a noção do movimento, da cor, das neblinas profundas no céu. Conheci as estrelas distantes. Havia luzes por detrás das estrelas e dos planetas, lá para trás». Carlos por vezes tem a sensação de que mistura esta recordação do voo com memórias de ser elevado e transportado de um sítio para outro, como por exemplo para o interior de uma nave, através de um túnel de luz. Voar é um motivo recorrente de alguns dos seus sonhos mais nítidos. Quando estava a «viajar pêlos campos vizinhos» Carlos teve a sensação de que já tinha feito aquilo antes, «antes de ser bebé, pré-criatura», ou seja, antes de encarnar num corpo humano». Foi uma

408 SEQUESTRO «experiência pavorosa [palavra que Carlos usa frequentemente no decurso da nossa conversa]» andar desta maneira «de regresso à luz». É-lhe difícil descrever esta experiência que tem a ver com metamorfoses e mudanças transubstanciais materialmente corporais de forma e energia, experiência essa que se repetiu durante outros encontros. Considera que se «dissolve» literalmente ou que se «desfaz celularmente» através de um doloroso processo de «transformação da forma material em energia luminosa», ou seja, ele transforma-se no próprio céu ou na própria luz, que «perpassa através de tudo». A criatura acompanha-o no regresso ao «lugar luminoso da energia. «Trouxe-me até à minha origem — antes de encarnar no meu corpo, antes de me corporizar — que é luz, um lugar luminoso de energia». Segundo ele, «a própria criatura é apenas uma forma de luz, emergindo da própria luz.» Embora em certo sentido fosse geograficamente localizada, a experiência da luz era também «fora do espaço. Não tem em conta o espaço/tempo.» Perguntei-lhe onde é que a sua consciência estava localizada durante a experiência. «Eu estava consciente; foi uma experiência consciente, uma experiência espiritual pura. A alma é a sua perpetuação», afrimou ele. «A essência da experiência é a de uma energia que é pré-forma.» Carlos também tentou descrever a «beleza» do movimento. Ainda estava a falar sobre a experiência dos três anos e meio, mas eu suspeitava que Carlos estava a fazer associações com outros sequestros mais recentes. Carlos insistia que o acontecimento correspondia à sua descrição e o que evocara nesta sessão de hipnose não era uma mistura de associações de várias experiências. Acrescentou que outras experiências posteriores confirmaram esta imagística de luz da primeira sessão de hipnose. «Esta transformação pertence à minha segunda sessão de hipnose. O regresso à forma de luz-energia dos três anos e meio fazia parte de uma re-aprendizagem, para me ajudar a aceitar novamente a forma humana. A experiência da luz ocorreu repetidas vezes, pelo menos em três sessões de hipnose.» Carlos observou que «Estamos no interior da energia do universo. Somos esse movimento de energia e de luz, mas temos consciência dos seus 'limites'. A palavra 'limite' foi a melhor que consegui arranjar para expressar uma certa objectividade... Acho que tentei pintar esse sentimento ou sensação sem saber de facto que

estava a fazê-lo. É como nadar debaixo de água. Conseguimos ver UM SER LUMINOSO 409 formas, conseguimos captar a distância e conseguimos captar a luz. Mas não conseguimos ver o nosso corpo. De qualquer modo, o nosso corpo é água, por isso se conseguimos ver para além do alcance do nosso corpo então é porque é assim que ele é». A experiência foi «alegre, uma das experiências mais emocionantes que tive na vida. Acho que sempre pintei essa luz toda a minha vida. Literalmente.» Os trabalhos artísticos de Carlos eram frequentemente de grandes dimensões — quadros a óleo e desenhos com técnicas mistas — de céus, nuvens e paisagens. Estes quadros e desenhos fizeram parte de uma exposição intitulada A queda da luz, datada de Novembro de 1992; a peça introdutória é uma fotografia de uma queda de luz tirada durante a sua segunda visita a lona, durante um período de perda de consciência. Aos cinco anos Carlos contraiu uma pneumonia, teve febre alta e quase entrou em coma, correndo perigo de vida. Como o médico pensava que as suas infecções estavam relacionadas com alergias (e provavelmente por estar constantemente exposto ao fumo de cigarro), os pais percorreram a Filadélfia toda para fazer testes. Durante o período de hospitalização, Carlos foi «picado mais de duzentas vezes, talvez umas quatrocentas vezes» com o objectivo de determinar os possíveis agentes da alergia. Quando estava a meio dos testes, Carlos teve sarampo e isso obrigou-o a ficar de quarentena, impossibilitando-o de receber a visita dos pais. Este período foi muito traumatizante para Carlos. Durante a hipnose conduzida pelo Dr. Ward, Carlos recordou-se do que poderá ter sido uma experiência extra-corporal ocorrida durante este período de doença, em que recebeu a visita de três ou quatro pequenas criaturas com olhos grandes, parecidas com a criatura que o visitou quando tinha três anos e meio. Regressou novamente para um lugar de luz, energia ou poder, de onde podia observar o seu corpo, lá em baixo. Carlos atribui a recuperação da pneumonia à sua experiência de aplicação de uma energia luminosa terapêutica emitida para o interior do seu corpo pelas criaturas extraterrestres. Descreve o processo como «algo parecido com raios laser que entram no meu corpo através das solas dos meus pés e das palmas das minhas mãos, e possivelmente através da parte lateral do tronco, irradiando por todo o corpo, expandindo e mudando de cor à medida que a luz cobria todo o interior do meu corpo, curando-o.» Quando a febre cedeu «o 410 SEQUESTRO núcleo interior amarelo estava rodeado por uma massa alaranjada que, por sua vez, era envolta por várias camadas de cores que iam do rosa, à cor de malva e ao vermelho esbatido e a luz terapêutica tinha contornos de um azul vivo e faixas verdes na superfície interior da pele. A orla verde e azul era o ponto de ruptura, o arrefecimento, por assim dizer. Foi então que o meu corpo reagiu de novo, depois desta doença prolongada, muito prolongada.» Por fim, as criaturas «trouxeram-me. Regressei para dentro do corpo.» Tanto durante a sessão de hipnose, como durante a experiência, Carlos sentiu muita relutância em «voltar» para o seu corpo. «Chorava e soluçava porque não queria voltar para esta vida, para esta consciência. Mas as criaturas trouxeram-me.» Carlos lembra-se

que continuava a chorar e a gritar quando a sessão terminou e que tinha muita dificuldade em respirar e sentia comichão e alterações da temperatura do corpo. «Estava a chorar e depois fiquei furioso. Não conseguia controlar as minhas emoções». Quando ia pelo corredor, à saída do consultório do Dr. Ward, em direcção à casa de banho que ficava no outro extremo do edifício, Carlos sentiu-se violento e selvagem ao ponto de recear que podia matar alguém, «como um leão. Sentia-me xamanista». Com os cabelos compridos, até aos ombros, Carlos tinha realmente um aspecto leonino. Não recorda mais nenhuma experiência relacionada com o sequestro ocorrida durante a infância ou adolescência. Posteriormente, desde os seus tempos de estudante na universidade estadual Pensilvânia ocidental até à data presente, teve uma série delas. Ainda estudante, quando participava numa reunião de família, viu «uma nave espacial enorme — do tamanho de um campo de baseball — redonda, com o feitio de um disco, virada de cabeça para baixo sobre um outro disco, separados por uma faixa opaca de aspecto metálico, provavelmente com janelas, à volta da parte central da circunferência exterior. Era, ao contrário da faixa com janelas, de um metal prateado muito brilhante e que reflectia. Encontrava-me no quintal, acompanhado pela maior parte da minha família, à excepção da minha mãe, avó e tias, que se encontravam na cozinha. A nave espacial ficou parada sem se mexer durante pelo menos vinte minutos, tempo mais que suficiente para que todos a pudessem observar, tempo mais que suficiente para eu ir a casa, trazer a minha mãe para o alpendre para também poder ver. Depois a nave arrancou e desapareceu, completa e silenciosamente, em segundos. UM SER LUMINOSO 411 Um ano depois, Carlos viu durante a noite uma grande bola de fogo, «maior que o meu carro, mas não tão grande quanto a nave espacial», a cerca de um quilómetro e meio de casa. «A bola de fogo voava pelo campo, paralelamente ao meu carro, a alguns centímetros do chão e depois saiu disparada em direcção à mata, estilhaçando-se em quatro bolas de luz mais pequenas, que tomaram quatro diferentes direcções e desapareceram.» Primeiro, Carlos pensou tratar-se de um meteoro, embora a forma e o comportamento fossem diferentes. Não se recorda de ter parado, mas chegou a casa duas horas mais tarde do que devia. Lembrou-se vagamente de alguns pormenores de uma experiência de sequestro relacionada com este episódio. As suas memórias mais angustiantes, que por vezes lhe provocavam náuseas e outros sintomas físicos, têm a ver com os seus filhos — o casal tem dois filhos, actualmente com vinte e oito e vinte e seis anos, e uma filha de vinte e quatro que casou recentemente. Carlos chorou ao recordar o trauma de não ser capaz de protegê-los durante a sua juventude. «Não me consigo mexer e eles tiram-me os filhos dos braços», lamenta-se ele, tentando controlar os soluços. Afirma ter visto a filha dentro de uma nave, quando era menina, «tentando tocar em alguns dos instrumentos e eu não queria que ela fizesse isso. Eu estava cheio de medo porque ela estava a mexer naquilo!» Carlos desconfia que os seus problemas de saúde, incluindo as alergias e doenças respiratórias, estão relacionados com as sondas e os implantes dos sequestros. Foi operado duas vezes ao septo nasal devido a dificuldades respiratórias, sofre frequentemente de sinusite e de infecções respiratórias e usa continuamente descongestinantes

nasais. Quando Carlos tinha quarenta anos, foi-lhe removido um tumor do olho direito que teria origem, segundo julgou ao princípio, numa fuga de amianto na sua zona de trabalho na escola, mas que agora suspeita ter sido consequência das sondas e dos implantes dos sequestros. Considera que a cirurgia ao olho enfraqueceu a sua capacidade de focalização, obrigando-o a usar óculos. Desconhece também a causa de um quisto que lhe apareceu na testa, no sítio que corresponde exteriormente ao local onde lhe foi extraído o tumor. Apareceu-lhe, há alguns anos, um sinal ou equimose na zona genital que lhe foi diagnosticado como canceroso. Foi operado e o cancro foi controlado, mas Carlos atribui a cura à transmutação de energias luminosas ocorrida quando fazia jardinagem ou quando, diaria412 SEQUESTRO mente ao fim da tarde, pintava com aguarelas, relacionando-a também com as energias que lhe foram transmitidas através do processo de sequestro. Carlos considera que a identificação com outras espécies durante as suas experiências de sequestro também ajuda a criar e a desenvolver valores ecológicos. Sente uma atracção pela natureza desde a sua infância: «Sempre brinquei fora de casa. Cresci nas matas, imitando o Tarzan» — e sempre teve uma forte ligação aos animais. Recorda que, durante a sua juventude, sempre existiram cães e gatos na sua casa de campo. Nos seus tempos de escola e de liceu teve dois cavalos e passava horas a montar nas colinas da Pensilvânia. «Acho que me dou bem com os animais. Sinto que comunicamos.» Vive rodeado de cães e gatos, que o acompanham nos seus passeios diários pêlos lagos, pêlos campos e pelas matas das proximidades. Carlos defende os direitos dos animais e dedica muito do seu tempo a questões ambientais. Durante as sessões de hipnose com o Dr. Ward, Carlos reviveu algumas memórias do episódio de lona e dois contactos significativos; os restantes pormenores desta experiência foram evocados em duas regressões orientadas por mim, bem como através de conversas que ambos mantivemos. São várias as razões que impedem que a narrativa desse encontro seja cronologicamente coerente. A linearidade do seu pensamento é constantemente interrompida por associações que se distanciam no tempo. Para além disso, é comum que as experiências e memórias dos contactos tenham quebras na estrutura e na ordem espacial/temporal, mas isso é particularmente evidente nos relatos de Carlos. Quando uma experiência é tão rica em imagens, sensações e emoções, como é o caso do contacto de lona, torna-se praticamente impossível ordenar os acontecimentos cronologicamente. Onde foi possível estabelecer essa ordem, assim o fiz. Quando isso não foi possível, optei por apresentar uma sequência lógica e coerente dos temas básicos destas experiências, que duraram aproximadamente seis horas, sequência essa que em termos temporais não é necessariamente correcta. Começarei pêlos acontecimentos que Carlos recorda conscientemente. Carlos regressou a lona em 1990, vinte anos após a sua primeira visita, por razões profissionais — investigação sobre os hinos cristãos e sobre a poesia de S. Colombo e a possível relação imagística com a poesia druídica que venera a terra e o feminino que existe na UM SER LUMINOSO 413 natureza —, mas o seu desejo pessoal era o de «validar as experiên-

cias visionárias». Carlos pensava que se conseguisse encontrar uma determinada gruta que ele descobrira durante uma regressão hipnótica realizada um ano depois da sua primeira visita a lona, ou se conseguisse encontrar vestígios da porta de pedra, que não constavam de nenhum mapa da ilha, isso comprovaria a sua visão e a sua experiência de regressão. (Na regressão, ele e o jovem monge tinham-se escondido, rastejando por uma pequena gruta naquela noite escura e húmida.) Carlos planeava passar, no máximo, dois dias em lona. Mas um problema com o carro em Mull, durante o feriado da Páscoa, obrigou-o a prolongar a sua estadia em lona por mais dez dias. Foram estas as circuntâncias que determinaram o contacto que constitui o ponto central deste caso. Durante o seu primeiro dia na ilha, Carlos subiu aos rochedos que vira na visão. Sentia que sabia intuitivamente onde se situava a gruta, apesar de não a ter visto durante a sua primeira viagem. A maré estava cheia. Viu fissuras na rocha, mas não encontrou a gruta. Pensou então: «Isto foi imaginação», mas referiu «que isso me aborreceu terrivelmente.» Tirou algumas fotografias e foi-se embora. Regressou uma ou duas noites depois quando a maré estava mais baixa («Nunca pensei na maré»), andou à volta do rochedo por uma das estruturas rochosas mais próxima da pedra grande da praia junto à qual caiu, «e ali estava a gruta». Entrou e «agachei-me» dentro da gruta, tal como acontecera durante a visão. Esta descoberta teve um impacto incrível sobre ele. «Sentia-me optimamente», porque para ele significava «que as minhas experiências visionárias eram reais, que eram válidas e que eu estava a lidar com a verdade.» No Domingo de Páscoa, dia 15 de Abril, depois de ter estado em lona durante três ou quatro dias, Carlos iniciou uma viagem através da ilha montanhosa até à Baía de S. Colombo, um percurso de três horas com partida da cidade, passando pela Baía das Focas, para apanhar pedras verdes que tencionava levar para os filhos. Partiu ao meio-dia para poder estar de regresso antes do anoitecer, subindo pêlos planaltos até atingir o cume da montanha, na parte central e ocidental da ilha. Chegou a um planalto próximo do cume da ilha e desviou-se cerca de trinta ou quarenta passos para fora do trilho, para urinar contra um recife. Quando se virou para retomar o caminho sentiu-se estranhamente confuso e tonto, até mesmo com vertigens, e com dificuldades de andar. Tudo parecia diferente e ele não 414 SEQUESTRO reconheceu nada à sua volta, embora soubesse que estava na ilha. Primeiro não conseguiu encontrar o caminho e quando pensou que o tinha descoberto, não sabia onde estava. De repente viu que estava a andar na direcção oposta à que pretendia — para baixo, em vez de ir para cima. Quando se virou para continuar a subir a montanha, reparou que tinham passado provavelmente duas ou três horas («comigo os relógios não funcionam e por isso nunca uso») e que já era muito tarde para poder terminar o percurso que planeara efectuar em cinco ou seis horas até à Baía de S. Columbo e estar de regresso antes de anoitecer. Decidiu voltar no dia seguinte, virou-se, um tanto ou quanto vacilante porque ainda estava em estado de transe, e chegou pouco depois ao maercher, uma espécie de campo sobre a praia, de onde se via a Baía das Focas. Desse local, Carlos viu sobre a baía que se estendia à sua frente um grande e extenso raio de luz cor de pêssego que descia das densas nuvens até à água. Parecia-lhe «maravilhoso, terrível, misterioso e

inquietante.» Quando atingiu a água, o raio de luz descreveu um enorme círculo cor de pêssego do qual saiu uma névoa cor de pêssego. Viu milhares de faíscas dentro e fora do círculo «a saltar na água, por todo o lado, como aquelas centelhazinhas com que as crianças brincam no Quatro de Julho». (Posteriormente e sob hipnosse, Carlos descreveu o feixe de luz como uma «queda de luz» ou «um túnel» de ligação com uma nave espacial). Lembrou-se que trazia pendurada ao pescoço a máquina fotográfica equipada com lentes adequadas e tirou uma fotografia focando a água e recuando progressivamente para captar um ângulo que apanhasse o máximo possível do raio, das nuvens e do círculo na superfície da água. Carlos descreveu isto como «o mais impressionante acontecimento natural quepresenceei». Essa fotografia, que vi depois, mostrava raios de luz mais pequeninos, que Carlos não referira, e que irradiavam por baixo do raio maior para dentro da água. Era um slide. Depois de fazer uma cópia, Carlos mostrou-o a dois colegas do departamento de Física da universidade local. Começaram por dizer que o raio de luz podia ser um pilar solar, mas depois puseram essa hipótese de lado devido ao formato, ao arco amplo, à névoa e às faíscas dentro e fora da água, no ponto em que o raio atinge a água. Segundo os seus cálculos, o sol, naquela altura, punha-se mais para noroeste do sítio onde o raio caiu. Carlos também dá cursos de fotografia e não acredita que aquilo UM SER LUMINOSO 415 fosse um raio solar; chama-lhe «queda de luz» e nunca utiliza os termos «feixe luminoso» ou «raio de luz». O seu colega mais velho informou-se melhor sobre lona e disse-lhe, entusiasmado, que S. Colombo também tinha visto uma luz assim. Depois de tirar a fotografia, a luz aproximou-se e envolveu-o e ele «teve um apagamento», prostrando-se no chão. Não tem a certeza se esta era a mesma luz que vira ou se era outra que fora direccionada para ele, mas também era cor de rosa-pêssego. Quando «acordei» já anoitecera e estava sentado na praia «a cerca de cem metros de distância, completamente atordoado». Embora já não visse o raio de luz, vislumbrou uma nuvem «que brilhava e emanava um luz alaranjada». O sol já se tinha posto. Tirou outra fotografia (com pequenos raios de luz a sair da nuvem). Depois começou a encaminhar-se para a cidade, envolto pela escuridão. Ainda tirou outra fotografia, mas a luz já se esbatera e os raios tinham desaparecido. Surpreendentemente, Carlos não se lembrava de nenhuma destas ocorrências pouco tempo depois de as ter vivenciado. Caminhou pela montanha até à Baía de S. Colombo e, sorrindo, disse-me que «apanhei as pedras verdes». Só se lembrou do raio de luz quatro meses mais tarde quando viu pela primeira vez os slides da viagem. O encontro em causa, tal como foi evocado em estado de hipnose, começou com uma alteração da consciência, após ter urinado, e com a sensação que subia pela parte de baixo da nave, através de um túnel de luz do tipo laser. Na nave, encontrou-se com uma «pequena e delicada criatura» que o conduziu por uns corredores até ao seu interior. No início do encontro, a criatura parecia conduzi-lo de um sítio para outro, estendendo-lhe a mão. Estiveram envolvidos neste contacto vários tipos de seres. Havia «pequenas criaturas luminosas», como a que o acompanhou pela nave e o escoltou pêlos corredores. Lá dentro «andavam atarefadíssimos, muito ocupados, não me ligavam nenhuma» e realizavam várias tarefas. As suas cabeças eram redondas e

brancas, sem cabelo «como os carecas». Reparou que os olhos eram «de um azul brilhante e muito luminosos», e não pretos como a maior parte dos contactados refere; Carlos referiu contudo que a cor se altera, e que não se trata apenas de uma questão de percepção. «A cor está relacionada com a comunicação e o controlo». Parecia-lhe por vezes que os seus os olhos grandes eram revestidos por uma espécie de óculos protectores, especialmente durante a noite ou quando estavam fora da nave, e que isso podia fazer parte da 416 SEQUESTRO estrutura ocular ou ser alguma coisa sobreposta. «Não sei bem se isto faz parte do seu «corpo» ou se o que descrevo [sob hipnose] são de facto óculos protectores ou uma parte de um capacete.» Numa sessão de hipnose posterior fez referência a um capacete muito justo; antes disso, pedi-lhe que me descrevesse os olhos e «é possível que eu estivesse a descrever um só ou ambos. É como se estivesse a olhar através de óculos muito grosssos, mas vejo a sua composição, a carne viscosa. Os globos oculares ou lentes são transparentes e, por isso, quando as pessoas os vêem no escuro, pensam que são pretos.» Por detrás dos «óculos protectores» havia uma pupila vertical parecida com uma fenda, como têm os gatos, e uma íris grande e circular «com castanhos e vermelhos que andavam à volta», estreitando-se e alargando-se, contraindo-se e expandindo-se, «totalmente diferente do nosso globo ocular». As alterações de cor produziam-se «em toda a íris». Carlos achava que estas criaturas não se adaptavam a nenhuma descrição estereotipada e que algumas espécies pareciam andróginas. Reparou que, quando o examinavam, estava habitualmente presente uma entidade mais alta, «provavelmente um ser feminino» que parecia controlar alguns dos programas (ela acalmou-o quando ficou cheio de medo durante uma das sessões). Disse que era cinzenta, mas acrescentou que muitas vezes a névoa que a envolve muda de cor «irradiando um tom rosado, cor de malva, e laranja. Está sempre envolta numa névoa... É magra, parecida com as outras criaturas pequeninas, mas ela é mais alta e por isso parece mais alongada; tem os mesmos olhos e o nariz e a boca minúsculos». Carlos descreveu salas de vários tamanhos no interior da nave, com tectos curvos e com corredores de ligação. Chamou a uma das salas «uma rotunda; uma sala grande». Uma outra tinha «um plano inferior e outro superior», com «uma série de coisas parecidas com fios eléctricos no tecto», que faziam lembrar as veias do cérebro. Entre esses dois planos, havia uma zona com janelas ou ecrãs que formavam um círculo, na parte central da sala. As criaturas podiam andar por essa espécie de balcão e observar; era um espelho com duas funções: funcionava como lugar de projecção ou como ecrã. Era como se estas janelas/ecrãs fossem feitas de uma combinação de metal/cristal/espelho/vidro». Carlos disse que se quisesse representar isto artisticamente faria um céu com nuvens ou uma paisagem em tiras de plástico suspensas, umas em frente às outras. Já trabaUM SER LUMINOSO 417 lhara com chiffon e acrílico, depois do trabalho de Edinburgo, utilizando materiais similares, e considera que isso pode estar relacionado com esta percepção do ecrã que se fecha como uma janela. Continuou a fazer a descrição da sala: «Há um balcão, situado ao nível das janelas, com carris. Deste balcão partem plataformas incli-

nadas do cimo das máquinas que vão do balcão até ao chão da sala. Na base estão secretárias, de cor amarela e bege, com painéis sobre as secretárias. Nesse espaço situado mais abaixo estão pequenas criaturas atarefadas ou sentadas em frente aos painéis de controlo, na base das paredes inclinadas». Carlos lembrou-se que caminhara por esse balcão e que olhara para as janelas que abriam na horizontal. Durante a experiência em lona, bem como em outros sequestros, Carlos sentiu dores físicas muito fortes, medo e náuseas. Mas o que o perturbava mais eram as criaturas grandes, parecidas com robôs, com olhos grandes e negros e cujos rostos se assemelhavam aos dos répteis e insectos, e tinham o corpo parecido com o dos insectos. «Consigo encarar sem qualquer problemas os pequenos, que são muito alegres, ou os mais altos; mas os feios assustam-me e repugnam-me», disse ele. Os robôs com cara de réptil e corpo de insecto foram «trazidos» pela entidade feminina para desempenhar funções específicas. «Parece uma espécie de médica/filósofa/psicóloga. Isto é uma operação, mas é mais do que um mero exame físico», disse ele. A intervenção «complica-me o raio dos nervos», disse ele. Mas acrescentou que «não é a incisão; não é isso que faz doer. É o medo de não saber o que está a acontecer, pois embora isso já tenha acontecido antes e a sensação tenha sido a mesma, esquecemo-nos até certo ponto como foi, apesar de estarmos conscientes durante o nosso contacto com eles e vermos estas máquinas robotizadas aproximarem-se de nós com aquele aspecto tão esquisito e estranho.» Disse que sente náuseas quando o medo se intensifica, particularmente em relação à máquina réptil. «Olho para ela e vejo a criatura que me assusta e sinto náuseas, e a náusea é provocada pelo medo. Não tem nada a ver com o que eles estão a fazer... A criatura robotizada, como a entidade feminina, está envolta por uma névoa rosada. Tenho medo dela; é monstruosa. Tem corpo de insecto e características faciais dos répteis. Aproxima-se de mim... Olho para o lado. Parece uma larva metida dentro do casulo — uma máquina insensível, escura e assustadora. Vemo-la desta maneira porque para nós o seu revestimento é material e parece uma combinação de couro/metal. O 418 SEQUESTRO robô é um mecanismo operacional funcional, talvez uma criatura biomecânica; é uma construção mental feita por eles. Conseguem dar-lhe forma e então nós conseguimos apreendê-la.» Como a percepção indistinta desta criatura causou náuseas a Carlos durante a nossa primeira sessão de hipnose, sugeri que ele a pusesse de lado e continuasse a abordar outros aspectos da experiência que estávamos a analisar. Contudo, quando saiu do estado de transe hipnótico, Carlos disse que queria enfrentar os seus medos recorrendo à hipnose e que fora principalmente por isso que procurara a minha assistência. Considerava que era importante enfrentar o medo que sentia em relação a estas criaturas robotizadas; não tinha medo das outras espécies. As náuseas e o medo persistiram desde a primeira regressão hipnótica, disse ele, durante as quais nem sequer conseguira falar, mas, como era previsível, estavam sempre relacionadas com os exames ou com as cenas que envolviam os seus filhos ou quando era separado deles. Na nossa segunda sessão de hipnose Carlos foi capaz de confrontar estas percepções em pormenor e avançar para esta parte da experiência. Apesar da angústia que lhe estava associada, Carlos também encarou este contacto em lona como purificador, enriquecedor e

mesmo extático, um paradoxo que muitos trabalhos elaborados por investigadores referem como comum a outros sequestrados. O relato dos acontecimentos ligados à visão da luz cor de pêssego ilustra melhor este aspecto da sua experiência. Depois de ter tirado a primeira fotografia da queda de luz, Carlos recuou, olhando através da lente da máquina para ver se conseguia apanhar as nuvens sobre a baía. Depois lembrou-se que a luz, talvez um feixe luminoso, estava por cima dele e sentiu um «zumbido» no corpo e começou a cair. Caiu para trás em consequência do que parecia inicialmente ser umflash brilhante ou uma luz, «levantei as mãos para proteger os olhos da luz... Estava rodeado por este círculo enorme de névoa rosa-pêssego que dançava e se movimentava à minha volta, e depois fui levado ou elevado para a nave e acho que me despiram, mas não tenho a certeza. Estava num tempo diferente. Não sei como é que fiquei nu.» Neste ponto, tornou-se-lhe difícil distinguir as memórias dos vários contactos; ele sabia que, em determinada altura, a nudez era uma condição necessária para a realização dos exames durante o processo de contacto. Quando subia por este feixe luminoso, viu a «ponta da nave nas UM SER LUMINOSO 419 nuvens» e «continuava outra vez até à base». Depois disto, e já dentro da nave, viu entre cinco e nove «pequenas criaturas» em grupo. Estavam envoltos «por uma névoa branca, brilhante, luminosa... Sabia que estavam a tentar ensinar-me qualquer coisa. Os olhos foram a última coisa que vi, aqueles olhos azuis, e depois desapareceram completamente no nevoeiro ou neblina. Atravessaram um processo de alteração da cor antes de se transformarem completamente em luz e isso foi maravilhoso.» A referência ao nevoeiro fezme perguntar se ele estaria realmente na nave naquela altura. «Estou», disse ele. «A névoa era na nave». Mais tarde, Carlos disse que achava que a natureza enfática da percepção fazia parte da mensagem; através da sua prática como professor de arte, sempre deu muita importância à identificação com a natureza subjectiva dos «objectos» relacionados com o trabalho criativo. No início da nossa segunda sessão de hipnose, Carlos referiu ter tido sensações muito intensas quando revivia a experiência com a luz e que se apercebeu da sua natureza transformadora. Inicialmente, confundiu esta luz com o raio luminoso que veio na sua direcção e o «lançou para trás». Mais tarde, contudo, ao tentar clarificar estas experiências, Carlos afirmou que havia uma diferença entre a experiência da luz na qual «uma espécie de mudança física, celular, molecular, ocorreu no meu corpo» quando foi levado para a nave e «aquela experiência extática que deu a sensação de ser transformadora, também física, mas com um objectivo e com uma dimensão espiritual. O aspecto extático desta experiência, embora idêntica em algumas manifestações, era meditativamente provocador.» Descreveu sensações «maravilhosas» de formigueiro que originaram um orgasmo, durante o qual o seu corpo teve um espasmo convulsivo que durou quase meio minuto, antes do processo ser interrompido no momento em que ele arfava, gemia, gritava, arquejava e até rosnava. A intensidade da sua reacção fez que a cama, onde estávamos a realizar a regressão, abanasse violentamente. Quando esta experiência estava a chegar ao fim, Carlos estava «às escuras», mas conseguia «ver a luz». Não queria abandonar aquela sensação, mas a sua consciência já estava a reagir activamente à minha sugestão para

voltar. Enquanto conversávamos, Carlos continuou, durante mais algum tempo, com sensações de formigueiro e descreveu uma sensação de «vida» ou de paz vital. «Isto é vida!», afirmou ele. Qualquer experiência de sequestro pode ser interpretada, tal 420 SEQUESTRO como Carlos o faz, como uma forma de transmissão de informação — dos extraterrestres, ou do que quer que eles representem, até ao experimentador; do experimentador até à pessoa seleccionada para relatar a informação (neste caso eu); e, finalmente, do relator até aos seus leitores ou ouvintes. Em cada uma das fases, o relator selecciona e interpreta a informação que possui, dando mais importância a alguns dados do que a outros, processo que é já, em si mesmo, uma espécie de interpretação. No caso de Carlos, a informação sobre as tecnobiologias envolvidas na transmutação ou metamorfose do corpo-enquanto-matéria em formas de energia, parece constituir o significado principal ou o dado central da sua história. Isto constitui um dado importante para que possamos entender, por exemplo, como é que os seres humanos são transportados através das paredes ou das janelas quando se dirigem para as naves, ou como é que os seus corpos são levados para o espaço. Considero que é notável a quantidade de informação que lhe foi «facultada», ou que lhe foi fornecida sobre o funcionamento deste processo. Porque é que lhe foi facultada essa informação? A resposta a esta pergunta constitui um mistério. O facto de ele ser um artista extremamente sensível aos fenómenos que envolvem a luz é um aspecto a ter em conta. Mas isso não nos permite avançar muito. O sequestro de 15 de Abril, em lona, foi particularmente rico em informação sobre este procedimento. E Carlos também referiu que este era o lugar indicado para aprofundar as nossas pesquisas. Há duas fases no contacto de lona que são dignas de nota a este respeito. A primeira ocorre quando o raio de luz se aproxima de Carlos no início da segunda parte do sequestro, no momento em que está a ser levado para a nave. A segunda diz respeito a uma espécie de instrumentos de cristal na nave. Carlos afirma que os mecanismos cristalinos constituem um dos temas a que acedeu durante algumas sessões realizadas com o Dr. Ward. Parece ter a ver com a imagem televisionada/projectada de miniaturas holográficas, exibindo cenas da vida particular e colectiva para que ele as observe. Carlos identifica «centelhas de luz» que são «pequeninos núcleos essenciais do ser-energia», incluindo a queda de luz. Depois, o raio de luz envolveu-o — e ele relaciona isso com a energia sexual; como, por exemplo, o delirante orgasmo que reviveu durante a hipnose — o seu corpo parecia que estava «às camadas... expandindo-se e contraindo-se na neblina. Sentiu um formigueiro em todo o corpo e UM SER LUMINOSO 421 depois a sensação de que «o meu corpo se dissolveu ou difundiu na sua transparência... O corpo dissolve-se, pura e simplesmente, e sobe. Depois sou transparente. Sinto o revestimento interior transparente do corpo que não é físico, mas que está ligado a ele. É a forma, o molde da parte física». Acrescentou que «a estrutura molecular, a estrutura celular do corpo limita-se a ir para a luz... É a passagem de um estado do ser para outro estado do ser, mas transportamos o núcleo da forma residual... é como a imagem de um fantasma. A imagem é a memória do corpo e é clara, e está ali e tem forma e me-

xe-se (move-se intensamente numa certa direcção e com força); mexo-me; subo. A cabeça vai primeiro». Pergunto-lhe onde vai. «Vou para a luz, e a luz é um núcleo derretido, vulcânico, fogo líquido, mas é luz e é branca e a minha transparecia adapta-se a isso e há uma claridade prateada no meu movimento». A luz assemelha-se a uma membrana viscosa que se atravessa, mas que não é uma coisa sólida. É receptiva (o corpo na experiência de mudança de energia) e eu não sei; é como se tentasse imaginar como seria o orgasmo feminino. Quando ascendeu e entrou na nave, e mergulhou na luz que estava no seu interior, esta tornou-se cor-de-laranja, amarela e branca, uma espécie de «espectro da cor». Depois foi para a «rotunda» da nave espacial, e entrou para o nível do balcão. Pensava que, desta vez, tinha subido sozinho, mas quando chegou à nave viu dez ou doze pequenas criaturas brancas. Depois estava na sala grande e cheia de instrumentos a que já fez referência, com inúmeras criaturas todas atarefadas à sua volta. Nenhuma delas se apercebeu da sua presença e não havia nenhuma expectativa ou antecipação em relação à sua chegada, o que lhe dava uma sensação de anonimato. Contudo, uma das criaturas conduziu-o por uma rampa em direcção ao nível mais baixo onde havia uma base preta, feita de um material parecido com o mármore, uma espécie de plataforma ou corredor estreito que circundava uma plataforma central circular sobre a qual estavam estruturas de cristal. O piso assemelhava-se ao de um «salão de dança», feito de um «material compacto». Não era sólido, mas ele conseguia estar de pé lá em cima, com a sensação de que por baixo dele estava um espaço aberto, por baixo daquele chão preto e compacto. Este piso estava no interior da sala, mas do lado de fora da plataforma. Neste piso inferior, Carlos viu também pequenas «secre422 SEQUESTRO tárias» com botões que se assemelhavam a computadores, localizadas nos cantos exteriores daquela sala grande e com o tecto alto. Estavam pequenas criaturas sentadas nessas secretárias e trabalhavam com as máquinas. Mais acima, sobre as secretárias, via-se também uma plataforma com janelas; essa plataforma tinha o seu próprio corredor de acesso que ligava com o interior, mas tinha também uns carris. O corredor de acesso ou rampa da plataforma circundava toda a zona circular e tinha janelas para o exterior. Carlos deitara-se numa espécie de mesa que era também um «bloco de cristal» dentro do qual ou sobre o qual ele estava, posição que dependia, segundo esclareceu, do tipo de investigação que era feita na altura. O ser feminino, anteriormente referido, estava presente, «para dar apoio espiritual», e fez entrar as entidades com cara de réptil e corpo de insecto, tipo robôs, que realizaram individualmente «uma operação» que foi extremamente dolorosa e que foi levada a cabo com a ajuda de um instrumento que Carlos descreveu desta maneira: «Não sei de que são feitos estes cristais, parecem ter mais metal do que vidro, mas têm luz. Consigo vê-lo [um dos instrumentos de cristal usados durante os exames]. É parecido com um tubo quadrado de cristal com os lados cortados, de modo que as extremidades parecem ter oito faces, mas é grande no meio e pequeno nas pontas, como uma esquadria. E na ponta tem a forma de uma pirâmide. Projecta raios laser para dentro do corpo, mas parece mais uma agulha porque faz doer, e parece-se com uma agulha.» Carlos apontou algumas diferenças entre as memórias aparente-

mente sobrepostas que surgiram durante as sessões de hipnose. «A descrição do que sucedeu a seguir passa-se num outro tempo, que não tem nada a ver com a altura em que se deu a experiência de lona, durante a minha última vida; penso que se situa nos meus cinco anos, quando tive uma pneumonia. Penso que os 'pormenores pouco precisos' que são mencionados nos parágrafos anteriores, serão provavelmente associações de memórias, em particular com o contacto que tive quando era jovem e vi uma bola de fogo. Uma recordação revivida através da hipnose parece provocar simultaneamente mais do que uma memória, mas alguns dos processos de transformação diferem, aparentemente de acordo com vários objectivos e intenções. Há diferenças subtis que dependem da função da metamorfose ou da investigação que também creio que são metamórficas, ou seja, que são introduzidas mudanças funcionais. Aquelas que são centraUM SER LUMINOSO 423 das apenas em exames fornecem unicamente uma interpretação mais simples das experiências, uma explicação superficial que é mais facilmente imputada. A 'mesa' de cristal era usada durante os exames, pelo menos uma vez, mas provavelmente cada vez que um exame ocorre. É possível que outros 'participantes' se refiram a uma mesa e até se lembrem da mesa por se tratar de um objecto que tem a ver com a nossa experiência normal de vida, ou seja, aquele símbolo específico surge e nós inferimos que se trata de uma mesa per se... A estrutura de cristal grande, contudo, está situada no centro de uma área inferior circular e é um mecanismo diferente; é diferente em termos operacionais e funcionais dos instrumentos mais pequenos que são usados nos exames. A estrutura de cristal maior é normalmente utilizada em situações 'de aprendizagem', mas a aprendizagem é inerentemente metafórica, em contraposição à sua vertente verbal ou expositiva». Carlos considera que o tempo verbal e o pronome pessoal usado nas descrições são um pormenor valioso do processo de descrição do estado de transe, fazendo que o leitor ou o investigador preste uma maior atenção à forma como a memória interage com a percepção. Por vezes tem descrever a experiência que, no passado imediato da regressão hipnótica, acabou de testemunhar ou viver, mas utiliza duas perpectivas na sua verbalização: quando é aquele que vive a experiência e quando a descreve — o significado reflexivo do tempo é importante para Carlos. Considera que o processo hipnótico por um lado clarifica e ajuda a desencadear a memória, mas, por outro lado, baralha a interpretação devido às manifestações estruturais (por vezes) subtis das expressões vocais/verbais. Carlos prosseguiu o seu esclarecimento e recorreu aos parênteses para incluir na sua descrição alguns pormenores, com o objectivo de clarificar ou completar a contenção verbal das descrições em transe hipnótico. «Entrei naquele corpo — (interferindo numa) experiência que, em termos de luz, não era igual à que me curou da febre. Em primeiro lugar, a luz está no corpo. A luz é um núcleo dourado que atravessa os amarelos e os laranjas... o núcleo central está dentro de uma aura. (Isto acontece) Dentro do corpo. Isso (o mecanismo da luz) continua (invadindo e permeando o interior do corpo — músculos, tecido, órgãos, sangue, nervos, etc) até atingir o limite da pele; é então que a pele se dissolve, uma dissolução atómica celular, e então as orlas azuis e verdes estão nesse local (na derme e na

424 SEQUESTRO epiderme) e aquilo (a manifestação de luz, o mecanismo luminoso terapêutico) pode dar forma ao corpo e pode apoderar-se do corpo (ou seja, alterá-lo)». Este processo está associado ao prurido. Carlos tinha tendência para friccionar ou coçar o corpo durante a evocação hipnótica. Depois sentia «pressão, um aperto. O corpo sente-se apertado, mas, ao mesmo tempo, expande-se. Parece que o estão a encher... Estou a sentir isso agora, de uma maneira indistinta, mas é como se ficasse maior. A luz espalha-se; expande-se completamente. A luz branca derretida está no centro, onde antes estava o amarelo (e que se expandiu e agora se transformou). Vejo a luz (ordenada ou não) que é amarela, e então expande-se para o exterior tornando-se (ou seja, tendo sido ou provindo) branca no centro e amarela na orla exterior da neblina branca à medida que se expande, e aí o corpo abre-se e de repente libertamo-nos, e podemos ir para um de dois sítios. Neste momento sou uma luz dourada. Inicialmente via o dourado exteriormente. Eu... era interiormente. E o oposto do que habitualmente fazemos. Não sou eu que estou aqui de fora a observar o interior; pelo contrário, eu estou a ver o meu (próprio) interior (isto é, o interior do meu corpo) a partir da sua concha (isto é, a forma ou estrutura corporal como um contorno transparente da forma do corpo) que é clara (e) que desapareceu no momento da ruptura... Vi a minha forma cristalina-clara. É a imagem do fantasma que anteriormente referi (durante a sessão de hipnose), mas é clara». De algum modo, Carlos sente que este processo de transformação do seu corpo em luz está relacionado com «o processo de criação de (uma) alteração (operacional) e ocultação (ou tornar invisível) da nave espacial». Carlos descrevera já o processo da «minha transformação em luz» referindo que «senti uma dor incrível quando o meu corpo se alterou e parecia que o corpo estava a inchar e ficar tão cheio que rebentava; tive medo deste procedimento... parecia que o meu corpo estava a ser insuflado. Depois deixou de inchar e então somos luz.» A partir do momento em que se transformou em luz, a experiência passou a ser «alegre e feliz». Porém, antes de adquirir a forma física ou encarnar uma vez mais, «enquanto era luz, estava a dançar neste enorme espaço circular, primeiro sozinho e depois com as criaturas que também se tinham transformado da mesma maneira. Era uma ambiente alegre e eu estava muito feliz. Sentia-me maravilhosamente por ser esta luz e por estar a fazer este movimento, a dançar, e a partilhar... a partilhar esta alegria da encarnação com as UM SER LUMINOSO 425 criaturas, minhas companheiras.» Isto, por um lado, era uma celebração, mas Carlos considera que faz parte do programa de aprendizagem, e que a actividade é metaforicamente experimental. Carlos observou que este mecanismo de identificação empática com o outro é inerente à sua capacidade criativa, como à de qualquer outra pessoa, que a sua capacidade artística recria o processo metaforicamente experimental, transformando-o em imagem artística. Estabeleceu contudo diferenças em relação ao nível de criatividade em causa, que esse nível ou compreensão da criatividade como conteúdo ou significação é uma componente dos vários graus de entendimento humano. Nesse momento, Carlos sentiu que era uma luz dourada e asso-

ciou a energia que produziu a transformação com o «chão falso, de cor preta do 'corredor' que circundava as estruturas de cristal da plataforma localizada ao meio da rotunda. O chão é aberto e falso; a cor preta vem do fundo; mais ou menos; é um lugar de movimentos, que vêm do seu interior, uma energia ou movimento que sobem até ao sítio em que 'estou' ou flutuam e é como o ar, mas não é um poço de ventilação fria ou coisa do género... aquilo ionizou-me. Quero com isto dizer que é uma coisa parecida com uma ligação eléctrica feita em toda a parte exterior do meu corpo, e no interior do calor, por dentro da estrutura de cristal geradora dentro do espaço circular está o núcleo da luz. Uff! Finalmente consegui pôr cá fora!», isto é, verbalizar o processo, embora Carlos considerasse que o expressou atabalhoadamente. Depois de ler a transcrição anterior, Carlos comentou: «Creio que os seres humanos evitam compreender 'materiais' como a arte ou 'experiências' que possuem um significado, e aqueles que apreendem estas possibilidades têm tendência para procurar uma interpretação, em vez de captar o que é mais profundo... É difícil descrever verbalmente as experiências; têm mais a ver com a imaginação metafórica.» Acrescentou que há tantas imagens com origem na sua percepção/memória/imagística, que muitas vezes uma só palavra ou frase curta o remetem para a actividade e então, no momento em que tenta referir-se verbalmente a essa imagística, sente simultaneamente que está a travar outro conjunto de imagens vividas, enquanto está pronunciar uma palavra qualquer que remotamente se aproxime da descrição, de modo a estabelecer a ligação posteriormente. «Por vezes, não há palavras disponíveis para descrever a experiência... 426 SEQUESTRO não se pode comparar a hipnose a um diário de sonhos, quando um sonho nos faz acordar momentaneamente a meio da noite. Acordamos e as imagens residuais, embora ilusórias, estão na nossa mente, e aí tomamos nota de uma ou duas palavras esperando que sejam suficientes para, de manhã, desencadear o processo de memória e trazer tudo até ao nível do consciente. Durante a nossa segunda sessão de hipnose, Carlos sentiu que, durante os exames, lhe foram introduzidas sondas anais, mas isso pode não ter ocorrido durante esse sequestro, podendo tratar-se de uma evocação de outros tempos. «Eles estão a certificar-se que, dentro de mim, está tudo bem, eles estão a operar-me, isto é, examinam os meus órgãos, músculos, etc... Se houver alguma coisa que não esteja bem, o processo pode ser de cura (nem sempre).» Foram-lhe introduzidas sondas; raios de luz «inspeccionaram» o seu coração, costelas, e outras partes do seu corpo; «verificavam o meu bem-estar físico»; e «queriam certificar-se que eu tinha a constituição física que lhes permitisse continuar». «Fazem um exame minucioso utilizando raios de luz. Servem-se de novo da luz rosada... cores diferentes para fins diferentes». O próprio instrumento parecia metamorfosear-se em luz. «A luz entrou no meu corpo», prosseguiu, «vê, eles entram, e é como um instrumento, mas dissolve-se como eu me dissolvo, e isso faz parte deste processo, as metamorfoses; eles produzem a mudança recorrendo aos seus instrumentos tipo laser... Sinto muito calor», disse ele, «no meu coração; acho que está a curar alguma coisa. A desobstruir artérias ou coisa parecida.» Carlos disse que, por vezes, conseguem entrar «através da planta

dos meus pés.» Outras vezes, o exame faz-se através de orifícios do corpo. A sonda anal, por exemplo, dá uma sensação de «prurido» que se espalha pelo corpo todo enquanto dura a experiência. O prurido parece estar relacionado com a absorção da energia luminosa. Sugeriu que «é uma questão de luz, mas pode adquirir uma espécie de forma mais sólida do que aquilo que conhecemos. Faz o que tem de ser feito para saber como evoluo, utilizando instrumentos que são diferentes dos nossos, mas que para nós são agulhas... bem, não é doloroso (este procedimento) a não ser que tenhamos medo; é quase erótico, em termos totalmente corporais.» (Refere-se a todo o processo, e não apenas às sensações anais. Mas...) «Quando estão aqui (no ânus) sinto as radiações progredirem em direcções circulares, UM SER LUMINOSO 427 que partem do interior do ânus e vão não sei para onde — pelas pernas, pés, por aqui para cima [faz gestos indicando o tronco]... parece que toda a parte de trás/nádegas está quente e é deslocada e se expande com a sensação de calor que percorre o corpo. Sente-se comichão; dá comichão no revestimento exterior do corpo porque está a ser empurrada de forma idêntica àquela em que me libertei através da pele (em alguns dos outros processos e procedimentos da experiência metafórica). A radiação tem origem na sonda anal, mas sinto energia por todo o lado. Tem mesmo características de orgasmo, tal como a respiração é orgásmica e erótica, mas não é o mais forte, o orgasmo cósmico que ocorre quando me manifesto como espaço-luz e energia. Percebe, dá comichão e existe ali energia, e é erótico porque é o corpo.» Depois destas experiências e de outros tipos de exames, Carlos sugeriu que deve haver, por vezes, manifestações físicas ou sintomas que nada têm a ver com as criaturas, e de que só nos apercebemos depois do sequestro; considera que a cura é irónica, já que os procedimentos e instrumentos que utiliza deixam outras mazelas sintomáticas, tais como cicatrizes, verrugas, equimoses, inchaços e erupções cutâneas, em todo o corpo. Apesar de todas estas dificuldades, Carlos entregou-se a este processo. «Se as criaturas precisam de experimentar e pressionar e de (me fazerem) ejacular para dessa maneira compreenderem o processo contínuo do corpo, através das suas metamorfoses a este nível físico e terreno, então eu sei que sou um voluntário». Sente que «quando o meu corpo está a ser submetido a mecanismos experimentais envolvendo luz, eu fico cheio de energia; recebo novas energias. Não se trata apenas de uma cura. Se o meu corpo físico muda, isto é, se se verificam alterações celulares, as sensações físicas que daí resultam são compreensíveis. Então a cura que se processa no meu interior protege-me e torna a aprendizagem possível.» Quando está sob hipnose, Carlos parece ser capaz de compreender o processo de transformação das criaturas em luz. «Os corpos das pequenas criaturas brancas transformam-se em luz. Mas quando se tornam luz, começam por ser primeiro núcleos de luz, como se fosse luz derretida. O aspecto (do núcleo da luz) é sólido. Mudam de cor e projecta-se uma névoa à volta (do núcleo interior que está ao centro; à volta deste núcleo, imediatemente a seguir, está uma) neblina (mais densa e espessa do que a exterior). Os olhos são os 428 SEQUESTRO últimos a desaparecer (à medida que nos apercebemos do processo

de transformação das criaturas em luz) e então parece que elas desaparecem ou são absorvidas por isto». Afirma que elas, tal como ele próprio, e todos os humanos, que conclui serem uma fonte de energia-luz, «são criaturas luminosas», mas «biologicamente diferentes de nós... Somos e existimos através do nosso corpo, e elas são ou existem através daquilo de que são feitas». Há alturas em que Carlos sente que ele próprio é um extraterrestre, quando se sente isolado e quando também é identificado como um ser extraterrestre, que existe «em mais do que um nível de consciência», entendido como diferente, «um ser híbrido». Tanto ele como as criaturas são «intermediários entre a fonte de conhecimento do universo» e os seres da Terra. Tanto a sua transformação como a deles estão de algum modo ligadas. Durante o contacto e mesmo quando estavam separados, ele sentia estar dentro da cabeça ou do «capacete» das criaturas répteis ou de outras criaturas extraterrestres. «Sinto que estou a olhar através dos seus 'capacetes' (ou se o capacete é uma estrutura da cabeça do réptil, o seu crânio biótico)... Na verdade, não é um capacete». Persiste em usar esta palavra para referir alguma coisa que «eles colocam». Acrescenta que considera que há uma estrutura comparativa entre o formato da cabeça das criaturas bio robóticas e os capacetes que os outros usam. Acha que ambos têm funções idênticas. Na primeira sessão de hipnose com o Dr. Ward, pareceu-lhe que eles usavam máscaras ou filtros que lhes aumentavam a visão, o que pode ser relevante em termos do mecanismo do capacete e enquanto acessório do uniforme. «O capacete que usam ajuda-os a ver várias coisas, como a progressão das doenças, as formas ou manifestações da oxidação, confluências da atomização química, temperaturas, exposição ao rádio, órgãos internos, etc». Quando lhe foi dada a oportunidade de usar o capacete ou, pelo menos, de o examinar, «Olhei através do capacete e vi como um robô ou extraterrestre vê. Sinto que o que vejo é gravado. Olhando para fora, a partir do interior, os olhos do capacete-máscara são salientes». O capacete «tem a mesma forma (das cabeças dos extraterrestres, e a cavidade dos olhos ajusta-se à sua estrutura facial), por isso é que nos assustamos muito quando os vemos, porque têm um aspecto estranhíssimo... vemos olhos duplos, olhos escuros, observando-os com o capacete posto, a partir do exterior, embora possamos não reparar que eles UM SER LUMINOSO 429 estão a usar capacete. Os olhos verdadeiros da criatura e o capacete reflexivo ou 'olhos' máscara são vistos em simultâneo e isso pode ser desconcertante.» Dentro da «cabeça» robótica, Carlos sente que consegue ver a temperatura e outros processos biológicos. «Não é a mesma coisa que fazemos com os computadores e geradores eléctricos. Quando sou uma criatura» ou «quando estou dentro da 'estrutura' de observação da criatura (não é bem um uniforme ou fato) também estou a estudar.» — A estudar o quê? — Os humanos — respondeu ele. — Esperei cinquenta anos para dizer isto, sabe... O que as nossas pequenas televisões computorizadas fazem aqui na Terra assemelha-se ao que acontece dentro destes capacetes. Há mecanismos no interior da testa. Quando se ajusta à parte inferior da testa, por cima dos olhos, lá dentro estão os mecanismos, os meios que permitem alterar as várias maneiras de

ver. É como olhar para dentro do mecanismo que é o corpo humano... é como olhar para os vários componentes de um microchip de um computador ou de outro componente eléctrico. E há muitos dispositivos de ligação do tipo dos microchips em ambos os lados da testa. O interior do capacete está cheio deles... [hesita e depois acrescenta]: Não lhe vou dizer isto, acho que não... por agora. Mas sou capaz de ver o calor humano. Vejo à noite. Vejo a forma, e consigo ver o que quero dentro daqueles que são observados. Consigo transformá-los em luz... ou melhor, não é transforma- los em luz, mas sim pôr luz dentro deles e olhar à volta (isto é, o mecanismo permite ao seu utilizador projectar essa luz), para ajudar ou para curar». Concluí que ele se transforma num examinador ou analista, semelhante aos extraterrestres de olhos grandes. «Na Terra», disse Carlos, sob hipnose, «há alturas em que porções de tempo e consciência normal desaparecem e, durante alguns instantes, eu sou (eu transformo-me numa) uma criatura, mas não tenho consciência disso. (Talvez seja para intensificar o processo de aprendizagem)». Carlos sugere posteriormente que isto serve, pelo menos, para se identificar com outra espécie, quem sabe para induzir a uma eventual aceitação do seu estatuto e existência. «A informação ou os aspectos visionários transferem-se para imagens acessíveis.» Através da hipnose, somos capazes de inferir estas breves imagens perdidas do tempo. Carlos põe a hipótese de que isto 430 SEQUESTRO esteja relacionado com «alguma coisa anterior à minha vida, na fase de transformação em criatura. Reflecti sobre a possibilidade de me manifestar sob a forma humana e depois ofereci-me como voluntário para vir à Terra.» Esta capacidade para adquirir uma perspectiva extraterrestre, um acto de identificação, se não enforma, é pelo menos importante para a arte de Carlos e tem a ver com a suas capacidades curativas. Enquanto extraterrestre, tem a vantagem de poder olhar «pela janela (como se estivesse no balcão da nave) e ver a terra em baixo... É daí que vem o ponto culminante! O meu trabalho culminante...» Carlos interrompeu a narrativa neste ponto e reflectiu. Referiu-se depois a uma colecção de treze trabailhos de grandes dimensões, desenhos de paisagens de cumes de montanhas, nos quais utilizou uma mistura de vários materiais e referiu também uma série de quadros a óleo ainda maiores e inacabados, que integram um trabalho panorâmico enorme (quatro séries de treze trabalhos) destinado a um edifício que está a planear desenhar e construir, edifício esse que será um lugar de meditação, de oração e de consciencialização para os problemas ambientais. Simultaneamente, tem estado a trabalhar em sete séries de treze desenhos cada, subordinados ao tema Eros e Mer, que crê estarem relacionados com as suas experiências de lona. Carlos expôs a primeira série de desenhos na Cloud Meditation Chapei, em Novembro de 1992, uma exposição que percorreu, desde essa data, várias galerias. O nome desta exposição é Queda de luz —A Passagem Mística, apresentando à entrada as fotografias de lona. Carlos explicou que, em termos numerológicos e mitológicos, o número treze simboliza sabedoria — a sabedoria está associada à deusa Sofia; Carlos defende que a sabedoria é necessária no mundo de hoje devido à tendência humana gananciosa para reverter o processo natural, submetendo-o às normas

humanas. Carlos pretende que a sabedoria seja activada na terra, entre as outras espécies e no universo ecológico do qual fazem parte a terra e os seus habitantes. Para Carlos o número treze também simboliza abertura, um número irracional pertinente para as irracionalidades (não é a mesma coisa que não-racionalidades) do espírito criativo, que possibilita a recepção participativa, ao contrário do número doze que é um número fechado e formal. Considera que há um significado astronómico — planetário e solar — e também UM SER LUMINOSO 431 expressivo em termos religiosos; recorda-nos que os apóstolos ou discípulos eram doze mais Um. Depois de enumerar as ligações entre a experiência extraterrestre e a sua arte, Carlos continuou: «...Andei pelo interior da nave e observei a paisagem. Pensava que, como artista, a minha visão ou inspiração da terra como forma ou imagem de consciência provinha das paisagens da montanha, da subida às montanhas. Vejo toda a paisagem num ângulo de 360 graus enquanto ando à volta, de janela em janela. Sei que estas paisagens, para os meus companheiros humanos, são uma elevação espiritual; cada focalização ou momento de concentração nestas visões é um momento de inspiração. A essência espiritual adquire forma visual, e todas as pessoas se sentem bem quando vêem o pôr do sol ou o nascer do sol; o mundo natural anima-as. Isso pode ter efeitos terapêuticos. Normalmente estamos tão absorvidos nas nossas actividades que não temos tempo para viver a experiência da natureza como devíamos. Damos conta das belezas fenomenais como as nuvens ou o nascer do sol, dos veados no campo, dos peixes na água. Mas impomos frequentemente a nossa força e vontade sobre a natureza, alterando-a ou destruindo-a. Mas a mudança na natureza é uma força energética em cada manhã ou noite. Foi assim que fiquei curado do cancro. Meu Deus!, está tudo ligado. É espantosa, a integração; sabe?» Questionei-o sobre o cancro. «Bem, pintava com aguarelas todos os dias quando o sol se punha, disfrutando da mudança e alteração da luz do dia, até ao anoitecer; sentia-me impregnado pela luz, demarcando a minha existência física. A pintura relaxava-me e o cancro desapareceu. Também o trabalho de jardinagem, com as flores e a terra, me ajudou.» Quer esteja dentro da nave em lona, com um capacete de uma das criaturas, ou tenha uma visão da terra assumindo a perspectiva de uma das criaturas, a partir do céu, Carlos vê sempre muita beleza. «Vejo as ilhas a surgir. Vejo as neblinas a formarem-se, e vejo o sol a pôr-se ali. Vejo as nuvens a formarem-se. Isto é um paraíso.» Prosseguiu: «Vejo-me a mim próprio (agora, como tal e) como um pequena criatura, mas estou a observar... A Terra é um jardim, e estas criaturas são jardineiros no sentido que tem para nós essa palavra... Eu sou um professor e é isso que me dá a capacidade de comunicação e de desenvolvimento. A arte é muito real, funcional, espiritual — e agora a terra precisa realmente da significação da arte.» 432 SEQUESTRO DISCUSSÃO Nenhum de nós conseguiu separar as dimensões metafóricas e míticas da sua narrativa das que ocorrem em, ou são do, nosso, ou qualquer outro mundo físico concreto. Este caso apela para a anulação desta distinção que tem sido tão conveniente, senão mesmo essen-

cial, à percepção ocidental da realidade. Talvez seja suficiente dizer, no início da interpretação das suas experiências, que ele as considera extremamente reais, não dando resposta à questão do domínio ou universo a que pertencem. O quê ou quem são os extraterrestres, ou, como Carlos prefere, «criaturas» ou «seres luminosos», não sabemos. Simultaneamente, o profundo relacionamento entre Carlos e eles constitui o núcleo das suas transformações. «Eu sou um xamã/artista/professor», disse Carlos sob hipnose, atribuindo a sua evolução às experiências de contactos com extraterrestres. «Eles são os professores», prosseguiu, mas o relacionamento é, de algum modo, recíproco, porque «eles também estão realmente interessados em aprender connosco.» Carlos referiu que o xamã «utiliza técnicas para alterar a psique, e o que ele faz é jogar com o discurso emocional entre o professor e a comunidade, entre o xamã e o estudante, entre a pessoa que viaja e a pessoa que permanece e que passa a sua vida aqui. Ensina recorrendo à emoção e à experiência. Considera que o ensino e os resultados do processo implicam a transformação subtil do espírito. «O ensino, tal como a criação artística verdadeira, é uma actividade espiritual.» Como professor de belas-artes e teatro, Carlos procura incutir nos seus alunos uma experiência estética forte e transcendente, que os faça ver o lado selvagem, imenso e maravilhosos da natureza e da criação. A pintura e a escrita são meios que usa para chamar a atenção para os problemas ambientais. É uma pessoa politicamente activa na sua função de protector da terra e, pouco depois de regressar de lona, ajudou a criar um Partido Ecologista no Tenessee, participando na redacção dos estatutos e princípios. A sua mensagem centra-se na «plenitude do ser da terra». Mais uma vez, estabelece ligação entre a evolução da sua consciência terrena com as suas relações com as criaturas. «A sua função é a protecção» e «eles observam as minhas mudanças». Durante os seus contactos, Carlos esforça-se por dominar a sensação de separação da terra, procurando ligar-nos de novo a ela e fazer-nos entender a sua fragilidade. A UM SER LUMINOSO 433 experiência do contacto «enche a minha arte de... de imagens, dá significado à imagem da percepção mental da terra.» Há um outro elemento central no caso de Carlos, especialmente no que se refere às suas várias transmutações e metamorfoses, que é a luz em todas as suas exibições e manifestações energéticas. Em sua opinião, a luz é, uma vez mais, real, mas também metafórica, «uma metáfora adequada», como escreveu mais tarde, depois das nossas sessões realizadas em Agosto de 1992, «tanto para a energia criativa como para o espírito (16 de Setembro de 1992)». A luz para ele é inseparável do espírito e profundamente associada com a sexualidade a um nível cósmico. «O meu orgasmo cósmico, quando estava sob hipnose», escreveu ele, «foi físico e extaticamente espiritual — uma luta luminosa com a minha humanidade, a dimensão angélica com todas as suas demonologias imaginadas em luta com a minha humanidade.» Carlos tem consciência da relação que existe entre as suas experiências de contactos com as várias dimensões da sua transformação pessoal e crescimento espiritual. Vale a pena analisar estes processos pormenorizadamente. A experiência traumática dos aspectos do sequestro de um contacto, a sensação de abandono, o exame, e a dor fizeram que se abris-

se para a sua «condição de criatura luminosa» e contribuiu para que se abrisse ao «mundo do espírito... O espírito é o mundo. O espírito sou eu», diz ele. A dor e o trauma parecem por vezes inseparáveis da expansão da sua consciência sentida nos sequestros, especialmente quando está em causa a sua incapacidade para proteger os filhos. Tem consciência de que, quando acorda à noite e tem insónias, se levanta e deixa a mulher na cama para a proteger da intromissão no seu sono e no seu bem-estar. Contudo, o medo e o instinto de protecção são apenas alguns dos muitos sentimentos que os sequestros desencadeiam. Uma das emoções mais fortes vividas por Carlos foi o temor. Quase no fim da sua primeira sessão de hipnose comigo, afirmou «O temor é medo. Temor é mistério. Temor é êxtase. Quando uso a palavra 'temor', trata-se de uma peça essencial de pertença a um maior (mundo, universo, movimento, energia)... onde existem todas as forças de energia que são tensão e stress e movimento e energia e componentes eléctricos e moléculas atómicas e tudo isso. Isso é temor... Temos a capacidade de sentir temor, mas não sabemos lidar com 434 SEQUESTRO ele». Um mês depois, Carlos escreveu-me: «Sentir a presença permamente de um predador faz parte do medo, mas para mim existe um fascínio, ao mesmo tempo que mina a própria natureza predadora. O fascínio é inerente ao temor, fortemente sentido através da presença misteriosa e talvez sinistra.» A proximidade da morte parece fazer parte da vida de Carlos, e os temas da morte e do renascimento estão relacionados com as suas experiências extraterrestres, começando logo após o nascimento e durante a primeira infância quando «renasceu» num novo corpo com um ano de idade e quando a sua vida foi salva através dos poderes terapêuticos do ser extraterrestre, quando tinha cinco anos. «Os nossos trabalhos artísticos [incluindo os seus] estão recheados de morte», escreve ele. «A minha própria vida está recheada de morte. A minha vida tem sido testemunhar a morte, vezes e vezes sem conta.» A ligação íntima de Carlos com uma fonte cósmica que ele, como muitos outros sequestrados, chama «o Lar» fez que ansiasse morrer. «Rezo todos os dias para que isso aconteça», disse ele «há muito, muito tempo». Adora a sua existência física, mas a sua encarnação está recheada de dor e de perda, incluindo a perda de alguém de que gostava. Receia que «não me seja permitido morrer» e que «continue a envelhecer cada vez mais... A experiência humana é perda», diz ele, «mas não há nada material para perder porque está tudo aí. Mas, sabe, a perda pessoal é muito difícil, perdi tanta gente que amava nesta vida...» Os exames completos a que foi submetido (como tantos outros sequestrados) não se destinavam unicamente à investigação. Tem a impressão que eles alteraram a «estrutura energética» do seu corpo. «É uma operação, mas a operação é simultaneamente um exame enquanto ser humano que sou, constituído por músculos-carne-osso-estrutura. Eles sabem que há uma componente aqui que é um organismo conjunto. O conjunto do organismo é um receptáculo, uma modalidade sensorial... é como se fôssemos uma máquina, mas claro que não somos. Somos uma substância bio-real que possui modalidades sensoriais que possibilitam a percepção e a memória, que traça em nós uma história. Uma das minhas funções nisto tudo é ser analisado, e por vezes curado, e estou ligado ao meu ambiente, que inclui

todas as criaturas.» Carlos sente que o que lhe fizeram se destinava a preservar a sua estabilidade e integridade orgânica, «uma renovação», de modo a permitir que fosse um professor, ao mesmo tempo UM SER LUMINOSO 435 que se transformava numa espécie de híbrido extra-terrestre/ humano no processo. Considero, como investigador e hipnoterapeuta, que quando Carlos, sob hipnose, descreve estes complexos processos, nem sempre o faz de forma coerente. Carlos atribui isso, como atrás foi referido, a uma avalancha de imagens e pensamentos que chegavam quase em simultâneo. Quando começa a descrever uma, é «apanhado por outra». Articula apenas uma palavra ou frase e logo outra palavra ou frase ligada a outro pensamento ou imagem surge; pode recorrer a palavras específicas para descrever alguma coisa, mas estas podem não ser as mais adequadas à descrição. «É como escrever estenografia, usando uma palavra como elo de ligação ou como símbolo, como uma marca, para relacionar depois,» disse Carlos. Eis um exemplo do que ouvi na gravação de uma das sessões «Eu sou examinado e o exame...e as terapias...estão a forçar e a fazer experiências para descobrir as alterações do corpo molecular. Metamorfoses... difusão... é o processo que tenho de suportar mentalmente/fisicamente... na carne... de um ser físico, tendo em conta as direcções que temos de tomar... os processos... como naturais... e não transformar num processo não-natural que é demasiado racional ou demasiado não-racional ou demasiado irracional». Para Carlos, a nossa componente psíquica irracional é referencial ao processo criativo e à dimensão espiritual do ser humano; racionalidade e não-racionalidade são termos que, quando usados em conjunto, implicam um mecanismo duplo ou polarização do discurso verbal. Usa os parênteses para fazer os seus comentários para melhor explicitar o que diz: «Quando ma fazem uma incisão (isto é, quando me abrem, como costumam fazer durante as operações) ou sou examinado, ou me enfiam qualquer coisa,» diz Carlos, «trata-se (por vezes) de um reforço dos processos terapêuticos sobre a minha pessoa. Mas ele (isto é, o meu corpo) tem de ser examinado em cada uma das fases da minha permanência ali (isto é, a evolução e o desenvolvimento do meu lado físico), aqui (isto é, tendo em conta as alterações resultantes das experiências) de modo a que o processo cumpra os seus objectivos que têm a ver com a realiazação e a mudança... porque a metamorfose é uma mudança contínua, e nunca haverá uma estase neste domínio. Cada vez que há um contacto, há uma alteração.» Carlos considera que a sua abertura é um método de ensino e 436 SEQUESTRO comunicação, que a sua «abertura é não só um exemplo (enquanto forma de comunicação) e (opera no processo de comunicação) por... como (o processo de) osmose. E, paralelamente ao contacto com as criaturas, eu estou (também) continuamente a instigar e a sondar e a ensinar e a mudar toda a gente com quem eu (estou ou me ponho) em contacto (com) (através da troca de experiências, processos artísticos, etc.) da mesma maneira que sou afectado por cada uma das pessoas em cada uma das situações.» Em arte, Carlos está a «praticar» e a «reforçar a metamorfose» porque acredita que a sua «arte é tanto uma forma de exploração e partilha, uma forma exterior que se

manifesta através do processo criativo ao mesmo tempo que opera através» dele. Os seus contactos permitiram-lhe essencialmente alcançar uma profunda abertura espiritual, pondo-o em contacto com uma luz ou energia divina, a que chama «O Lar», e que é a fonte da sua terapia pessoal e poderes transformadores. Quando, durante as nossas sessões, Carlos se aproximava desta luz sentia-se invadido por emoções de temor e desejo de se fundir com a energia/luz/ser. Espaço e tempo desapareciam, e ele sentia que era energia pura e luz e consciência, numa eternidade sem fim, «uma experiência puramente espiritual... regresso à origem porque não sou apenas humano. Preciso de regressar à origem para poder continuar.» Carlos, como muitos outros sequestrados, desenvolveu uma forte consciência ecológica. Preocupa-se muito com a terra e com o seu futuro. Se isto é um subproduto não-intencional de um processo que nem ele, nem nenhum de nós consegue abarcar, ou se é uma parte integrante do fenómeno extraterrestre, é algo que obviamente não sabemos. Carlos não tem dúvidas que os extraterrestres, apesar dos métodos grosseiros e mesmo brutais que usam, estão a tentar dominar o nosso comportamento destrutivo. «Há cruzamentos de espécies. Não existe só a espécie humana ou a espécie animal. Se senti crueldade quando (utilizavam as suas máquinas, os seus robôs), também eles conhecem a nossa crueldade, a nossa vontade (isto é, a imposição da nossa vontade), os nossos limites — são auto-destrutivos, sendo por isso destrutivos em relação a todas as coisas.» A terra e os sistemas a que está ligada estão em perigo de «morte». Os extraterrestres «parecem-se com zangões muito pequeninos que integram uma complexidade muito mais vasta cujo objectivo é a sobrevivência». São «jardineiros da Terra», diz Carlos, «tentando UM SER LUMINOSO 437 por todos os meios ensinar-nos a encontrar uma plenitude, para que não sejamos dominados pêlos impulsos humanos que tendem para a extinção.» Querem que encontremos uma «plenitude no meio-ambiente que nos rodeia, uma plenitude do jardim Terra.» O caso de Carlos coloca-nos perante mistérios inatingíveis. Há contudo referências a significados, a modelos sobre os quais nos devemos deter. As suas experiências estão ligadas ao futuro da terra e ao rompimento do tecido cósmico que a destruição das suas formas de vida está a acusar. Durante a nossa primeira sessão de hipnose, Carlos afirmou que «se nós explodirmos, então este jardim do paraíso, mesmo com o seu instinto predador, esta estranha, maravilhosa bolinha no universo... se desaparece, é uma perda para todos porque constitui um dos elementos que permitem compreender a unidade das coisas.» Carlos considera que a terra é «essencial» para esta unidade do universo. «Não sei se existem outras como ela». Considera que estamos a chegar «à hora apocalíptica final» e isso deve ser «um confronto e um desafio... Nós, experimentadores deste apocalipse espiritual, formamos um paradigma de iniciação», disse-me ele por carta. «Estamos a ser iniciados, mas iniciámos.» Uma das «lições» que aprendeu durante as suas experiências de sequestro tem a ver com a necessidade dos seres humanos expandirem a sua empatia, para que haja uma maior identificação. «Se os seres humanos forem empáticos e aprenderem a identificar-se com os outros que são diferentes de si, conseguirão ser menos predadores e destrutivos.» Para que isso aconteça, torna-se necessário que

entendamos qual é o nosso lugar no universo. Carlos tem uma visão alargada e profunda que resulta das suas ligações extraterrestres e até da sua capacidade de ver através dos olhos dos extraterrestres. «Na última imagem que tive quando fui hipnotizado por si», dizia-me ele na carta, «retida pela minha memória imediata enquanto estávamos depois a conversar, vi-me a mim próprio de pé; era uma pequena criatura branca com uns enormes olhos azuis e luminosos, no balcão que circundava o interior da nave espacial. Olhava pela janela enquanto andava pela plataforma circular, e via este maravilhoso paraíso, a Terra, em todas as direcções.» Curiosamente Carlos compara as suas experiências de proximidade com a morte, com o fenómeno de sequestro extraterrestre, considerando que este último possui um poder transformador maior. Os contactos extraterrestres permitem aceder «à felicidade, e a expe438 SEQUESTRO riência de proximidade com a morte é... um lugar transitório que está no meio. E um lugar espiritual, de reunião.» A terapia física e emocional, que é para os extraterrestres um motivo de preocupação, é uma parte importante desta transformação. «Estamos doentes e depois ficamos curados. Cada processo terapêutico permite estabelecer e fazer a ligação com o crescimento emocional humano, tornando-me capaz de utilizar isso ensinando os outros.» CAPÍTULO QUINZE ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO Artur telefonou-me em Janeiro de 1993, a conselho de uma senhora com quem conversara sobre uma dramática visão de um OVNI, ocorrida quando tinha nove anos, e que também fora testemunhada por outros membros da sua família. Ela conhecia o meu trabalho com sequestrados e Artur sentiu curiosidade em explorar mais a fundo este incidente. Jovem empresário extremamente bem sucedido — tinha trinta e oito anos na altura em que me contactou — Artur possui casas maravilhosas em ambas as costas e está empenhadíssimo na democratização do capitalismo, com vista à criação de um ambiente seguro e à preservação do futuro do planeta. Tanto ele como outros membros da sua família atribuem o seu empenhamento social e ecológico, bem como o seu sentido de responsabilidade, ao efeito profundo e duradouro da sua experiência aos nove anos de idade. Escolhi este caso que agora começámos a analisar para fechar esta série porque ele nos oferece um exemplo positivo do futuro da humanidade, entre os vários possíveis que temos perante nós. Os nossos comportamentos colectivos, veiculados através de instituições, têm um impacto fortíssimo em termos ecológicos. Entre estas instituições comerciais com fins lucrativos, que têm um forte impacto em todo o globo, encontram-se talvez os mais poderosos agentes da destruição planetária que os seres humanos criaram. Por outro lado, uma gestão cuidadosa destas empresas, profundamente consciente da sua relação com o meio-ambiente, pode ajudar a travar a devastação e transformar-se num dos mais importantes instrumen-

440 SEQUESTRO tos que temos à nossa disposição para restaurar e preservar a saúde

do planeta. Se, tal como considera Artur, os seus contactos extraterrestres foram a causa da evolução do seu sentido de responsabilidade pessoal e empresarial, então ele e outros como ele têm muito para ensinar sobre o objectivo fundamental do fenómeno de sequestro. Artur está permanentemente a viajar por razões profissionais, e por isso o nosso contacto limitou-se a uma entrevista inicial, uma sessão de hipnose e alguns telefonemas. Participou também em algumas reuniões do grupo de apoio, durante alguns dias após a regressão. Artur é o quinto de seis irmãos pertencentes a uma família católica, influente e conservadora, oriunda da costa Leste, da qual fazem parte muitos juizes, advogados e homens de negócio famosos. O pai era um advogado famoso e a mãe uma importante agente imobiliária. Tem uma família muito numerosa que descreve como tradicional e também «extremamente fechada». Tanto ele como os seus irmãos foram criados como «meninos ricos e mimados» e tinham criados e criadas que lhes faziam tudo. Considera que alguns dos seus princípios lhe foram transmitidos por essas pessoas que trabalhavam em sua casa «e que eram de facto boas pessoas». Artur passou grande parte da sua vida numa herdade enorme, propriedade da sua família há mais de cem anos. Foi perto desta herdade que ocorreu o incidente dos seus nove anos. Não se recorda de nenhum tipo de incidente traumatizante ocorrido no ambiente bucólico onde passou a sua infância. Artur sempre devotou uma grande paixão à natureza, e passava muito tempo nas matas ou a pescar, dentro e fora da propriedade da família. Lembra-se que manteve sempre um relacionamento especial com os animais. Como o seu avô e bisavô abatiam e embalsamavam animais, Artur, uma espécie de S. Franscisco actual, comunicava com eles, incluindo porcos-espinhos, doninhas, marmotas, coelhos e pássaros. Contou-nos a este propósito uma história passada na quinta da sua ex-mulher. Ela tinha muitos coelhos na quinta e domesticava-os, deitando-se «com o queixo no chão»; nesta posição, os coelhos deixavam de ter medo do ser humano. Ficavam «muito quietos» e curiosos, aproximavam-se e «deixavam-nos coçar as suas cabeças.» Artur referiu que os coelhos têm um músculo atrás das orelhas e que, quando estão cansados, têm necessidade de o coçar e massajar, ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 441 mas que não chegam com as patas até lá. «Assim sendo, se pusermos um dedo entre a orelha e o músculo, e fizermos assim [demonstrou o gesto de coçar e esfregar) eles ganham confiança ao ponto de pôr o focinho no chão e ficam, como hei-de dizer... zonzos». Nesta «euforia» os coelhos lambem o nosso nariz e se continuamos a «acariciar» as suas cabeças, eles «entregam-se completamente e isso cria uma ligação». Artur contou esta história durante a primeira meia-hora do nosso encontro, como uma espécie de analogia para ilustrar a forma como podemos comunicar com os extraterrestres. «Comunicamos com estes seres telepaticamente, mas só se consegue fazer essa comunicação telepática eliminando o medo. O medo bloqueia a relação. Só seremos capazes de comunicar com eles, se nos livrarmos do medo» e de outras «emoções negativas... Se nos sentimos negativos, com medo, com raiva ou se temos intuitos destrutivos, ou outra coisa parecida, eles não comunicam... Eles simplesmente querem estabe-

lecer comunicação sem medos, e essa é uma das razões que torna difícil o contacto com os humanos.» Artur é de opinião que os seres estão a tentar induzir «essa espécie de euforia». Talvez isso seja «feito pela luz», mas, de qualquer modo, «eles são capazes de a induzir». Eles «falam numa língua diferente», mas «se a nossa reacção for de medo, negativa, eles não conseguem. Mas se a nossa reacção não for de medo, conseguimos comunicar com eles e a comunicação é em si mesma incrivelmente inspiradora. Não sei como descrever, mas sei, pelo menos é o que a minha família pensa, que isso afectou a minha vida, a forma como me relaciono e o meu comprometimento em relação a diferentes causas e coisas do género.» Artur também consegue «estabelecer ligação» com peixes, disse ele; «consigo fazê-lo com uma truta num rio». Os coelhos e outros animais pensam «de uma maneira tão profunda quanto a nossa», embora à sua maneira. «Nesse sentido é maravilhoso porque implica confiança, e há muito amor, confiança e afecto. E algo que é básico. Há ali uma energia vital». Durante a sua infância, Artur tinha tendência, como acontece com muitos sequestrados, para as infecções de garganta e sinusite. Também lia muito e lembra-se que, quando estava no terceiro, quarto e quinto anos de escolaridade, gostava de «participar em debates» com os professores «sobre religião e outros assuntos.» Artur criou uma série de empresas estáveis que, segundo as suas 442 SEQUESTRO estimativas, valem cerca de dez milhões de dólares. Cada uma delas investe em associações filantrópicas. Por exemplo, Artur e a sua ex-mulher utilizaram a maior parte dos lucros de uma empresa de pronto-a-comer, cuja venda rendeu quinze milhões de dólares, na compra de um pedaço de terra destinado a uma reserva de aves migratórias e doaram o resto do dinheiro a programas ligados à protecção da natureza e similares. Está actualmente a trabalhar com várias centenas de corporações dos E. U.A. autorizando-as a utilizar tecnologias especiais, com a condição de cederem uma percentagem a fundações particulares. «Qualquer pessoa pode criar uma empresa e ganhar milhões de dólares», disse Artur. O desafio é «descobrir como é que se pode canalizar isso para um objectivo mais nobre, que afecte as outras pessoas, fazendo que a empresa seja um modelo, que os seus produtos sejam exemplares.» Os resultados serão então recompensadores. «Não é só o dinheiro que motiva as pessoas», observou Artur. A sua ex-mulher coloca mensagens ecológicas nas embalagens de vários produtos e recebem milhares de cartas de agradecimento dos consumidores. Tenta responder pessoalmente a cada uma das cartas, mas embora isso seja meritório, «é egoísta», diz ele, «porque recebemos mais do que damos.» Um artigo publicado num jornal de Nova Inglaterra, datado de Março de 1993, descrevia pormenorizadamente as criativas actividades comerciais de Artur e da sua ex-mulher. O artigo falava dos imaginativos processos de reciclagem, incluindo um programa de reciclagem para os sem-abrigo, uma nova tecnologia de embalagem com mensagens concebida por Artur, e «pequenos textos» sobre o ambiente, que acompanhavam as embalagens. O artigo trazia uma citação da sogra de Artur que o apelidava de «infatigável» e o considerava «o tipo de pessoa que passa a vida a pedir-nos dinheiro, para depois o utilizar». Num contacto recente, em Agosto de 1993, (telefo-

nou para «fazer a marcação» e para saber quando seria a próxima reunião do grupo de apoio), Artur disse a Pam que vendera a sua nova tecnologia de empacotamento a grandes cadeias de empresas do ramo alimentar. Disse que «tinha muitos projectos na forja», como jardins colectivos de bairro, um projecto «por um capitalismo mais democrático» e uma «fundação destinada às mulheres» que estava a implementar com os lucros da venda da nova tecnologia de empacotamento. Artur considera que a falta de abrigo e a destruição do meio ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 443 ambiente são problemas críticos. Para compreender como era a vida dos sem-abrigo, viveu durante uns tempos na rua como um deles. Em sua opinião a falta de ozono e o crescimento descontrolado da população constituem as duas «principais» ameaças ao meio-ambiente. Em termos legislativos, Artur financia do seu próprio bolso algumas iniciativas que podem ter um impacto construtivo em termos ambientais «ao nível mundial». Investe também muito do seu «tempo a falar sobre estas questões com políticos com quem não simpatizo muito». Trabalhou incansavelmente para que questões e princípios relativos ao meio-ambiente e a direitos humanos integrassem importantes tratados e acordos internacionais. Artur afirmou que, há um ano atrás, pouco sabia sobre o governo federal ou sobre o sistema de comércio mundial, «mas houve algo que fez que isso se tornasse uma prioridade, e eu gastei muito do meu tempo e dinheiro para tentar influenciar tudo e todos, desde as eleições para o Congresso, até à conciliação de grupos que sempre foram rivais ou adversários, como os sindicatos e uma [importante associação industriall... Nem sequer os conheço. São-me totalmente estranhos. E nem sequer sei porquê. Sei que [istol fará sentido, e sei que é preciso fazer isto, mas é do tipo, está bem, é isto o que estou a fzer.» Artur afirma que ainda está «totalmente apaixonado» pela sua ex-mulher, Alice, e que ela continua a ser «a minha melhor amiga». Separaram-se amigavelmente porque ela queria viver numa quinta e «eu simplesmente não sou capaz de viver numa quinta... Penso que amar alguém», disse ele, «é fazer tudo para ajudar essa pessoa a realizar-se, e ser o mais feliz e saudável possível, e quando se atinge uma felicidade maior e se tem mais saúde, isso reverte em mais amor.» Alice é muito amiga de uma antiga namorada de Artur, e há um respeito mútuo pêlos sentimentos de cada uma. «É assim que procedo em relação à maioria das pessoas que são minhas amigas, seja homem ou mulher ou simplesmente amigos.» Desde os seus tempos de rapazinho até à adolescência, Artur sentia-se por vezes perdido durante algum tempo e regressava a casa tarde. Conhecia muito bem os milhares de hectares da herdade da família. Contudo achava, por vezes, que o tempo tinha passado demasiado depressa e dava com ele a andar por uma direcção diferente da que devia. Certa vez, talvez com seis ou sete anos, viu através das árvores o que pensava serem as luzes da casa, mas reparou 444 SEQUESTRO que estava a cerca de quinhentos metros de distância, as luzes eram «duas luzes brancas parecidas com holofotes, mas eram mais espaçadas e estavam em cima da árvore.» Não sabia onde estava («seja como for, fiquei completamente confuso» ) e «era muito mais tarde porque estava escuro». Artur recorda, pêlos menos, dois episódios

de apagamento do tempo, ocorridos no início da sua adolescência. Uma das vezes, estava a seguir o rasto de um veado na floresta e «horas mais tarde, estava no mesmo lugar de onde acabara de sair». Quando se lembrou que tinha visto os seres extraterrestres durante o episódio dos seus nove anos, eles pareceram-lhe «velhos amigos das brincadeiras». A experiência central da vida de Artur relacionada com OVNI ocorreu quando tinha nove anos. Embora tenhamos explorado pormenorizadamente este episódio recorrendo à hipnose, Artur evocou conscientemente uma grande parte no nosso primeiro encontro. Ele, a mãe, a irmã mais velha e um, ou talvez dois, dos seus irmãos voltavam para a casa da herdade, depois de irem ao cinema da cidade próxima. Calcula que tinham ido ver uma comédia «já que os nossos pais só nos levavam a ver comédias». A sua mãe ia a guiar, Artur e a irmã iam atrás, e o irmão mais novo, e talvez um dos mais velhos, iam à frente. Quando atravessavam uma estrada escura, já no campo, a mãe disse: «aquele avião está a voar extremamente baixo». Depois acrescentou, com a voz preocupada, «aquilo não é um avião» e obrigou toda a gente a baixar-se dentro do carro. «Vi a mão dela a descer e a empurrar-nos para baixo...», disse ele, e pensou «até que enfim que isto vai ser emocionante.» Artur e a irmã estavam metidos no espaço em frente ao banco de trás, e ele viu um objecto com cerca de «trinta ou quarenta metros» em cima do carro. «Tinha muitas luzes diferentes, mas não sei dizer qual a cor de cada uma das luzes, eram apenas luzes diferentes e coloridas.» A luz «aproximava-se da janela da minha mãe e da minha» e Artur achou estranho que a luz chegasse até ao chão mas não produziasse sombras. «Estava tudo cheio de luz», mas Artur sabia que o objecto que tinha visto «era a fonte de luz... Era uma luz impressionante. De um branco puro, se é que existe. Totalmente puro, e estava em todo o lado.» Estar envolto por aquela luz dava a sensação «que estávamos a nadar, que estávamos dentro de água e que a água era fosforosa.» Viu que o objecto tinha diferentes luzes, «como as luzes da árvore de Natal, mas não eram lâmpadas». ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 445 Lembra-se particularmente da cor vermelha, branca e «um violeta rosado.» A mãe e o irmão mais novo de Artur estavam cheios de medo, e a irmã estava confusa, mas ele estava sobretudo excitado. «Não senti medo. Na verdade, senti o oposto. Estava completamente eufórico, é a única maneira de descrever o estado em que fiquei, uma sensação melhor que o orgasmo, ou melhor que outra coisa qualquer, melhor do que ir pescar durante uma semana inteita.» A sensação que aquele encontro lhe provocou era difícil de descrever, «de uma benevolência quase total». Recorda-se de olhar para a sua família de uma perspectiva estranha, como se o carro fosse descapotável e ele pudesse estar a olhar para baixo, vendo-os dentro do carro, sem capota. A mãe deve ter estacionado o carro porque este estava parado na berma da estrada. Quando estava agachado dentro do carro, Artur pensou: «isto é mesmo fixe». A seguir sentiu uma espécie de comunicação proveniente do objecto. Estes pensamentos «chegaram até mim nas melhores condições, sendo possível descrevê-los sem problemas.» Disseram-lhe que «ia acontecer mais vezes» e que «o melhor que podia fazer para que isso acontecesse era não ter medo e ser recep-

tivo — um monte de coisas diferentes ao mesmo tempo. É difícil de descrever... Havia tristeza, no caso da aprendizagem falhar, e o contrário provocava alegria.» Quanto mais receptivo estivesse e quanto menos medo sentisse, «melhor compreenderia, mais profundamente sentia». Não se conseguia lembrar de ter visto os seres, mas imaginava-os «pequenos anjos brincalhões», seres luminosos que tinham «traços fisionómicos indefinidos.» Nesta altura e pela primeira vez durante a sessão, Artur começou a sentir-se ligeiramente ansioso, «apenas uma sensação instintiva». Tinha a sensação de estar dividido e parecia-lhe que «quando estou a comunicar isto não estou aqui, parece que estou noutro sítio». Mas não considerava que isso fosse «um tipo de medo ameaçador. É aquilo que é terrível. Não consigo compreender... Grande é uma palavra estúpida, mas é tão grande... Os temas» que achava que os seres estavam «a tentar comunicar» eram «novos e grandes e incrivelmente belos, mas compactos e não são do tipo a que estou habituado. Tenho um cérebro deste tamanho, e é como se eles estivessem a deitar água, começa a transbordar e nós dizemos: alto! Percebe o que estou tentar dizer?» Artur achava que a ansiedade que sentiu e a suave experiência 446 SEQUESTRO dissociativa que vivenciara serviam para «reduzir a velocidade» da informação que lhe estava a chegar. «Eles [os seres] sabem que conseguem maravilhar-nos», disse ele, «e a ansiedade é o muro ou outra coisa que está no meio... Se eles nos destroem ou se nos metem medo, deixam de poder comunicar connosco.» Artur não tem a certeza do tempo que o carro esteve parado. Demoravam cerca de vinte minutos para chegar do cinema até casa, e calcula que tenham saído às oito e meia ou nove. A avó estava à espera deles e era provável que ficasse preocupada se eles se atrasassem mais de duas horas, e por isso ele calcula que o incidente não tenha demorado mais de uma hora ou uma hora e meia, («normalmente parávamos para comer um gelado»). Artur não se lembra de ter reiniciado a viagem de regresso a casa. No carro ninguém falou, e a mãe não falou sobre o incidente nem à sua mãe, nem ao marido. Achou isto esquisito porque «na minha família, mesmo quando compramos um par de sapatos e nos enganamos no número, isso é falado, e por isso é incrivelmente esquisito, porque falamos de tudo». Tudo indica que nenhum dos presentes nessa noite falou sobre o incidente durante vinte e cinco anos até que, no Verão de 1989, se realizou uma grande reunião que juntou centenas de membros da família de Artur com o objectivo de comemorar o centésimo aniversário da propriedade da família. Durante este encontro, Karen, irmã de Artur, aproximou-se dele e perguntou-lhe se se lembrava de alguma coisa «sobre aquela noite em que regressavam do cinema.» Primeiro não se conseguiu lembrar de nada, e então ela perguntou: «A mãe lembra-se de alguma coisa?» Também não sabia responder, e então Karen «deu a sua perspectiva dos acontecimentos dessa noite... Contou um pouco, e foi como se disparasse uma coisa dentro de mim, e as peças começassem a encaixar-se». Karen contou-lhe que «o carro foi inundado por uma luz incrível» e a sua mãe estava muito assustada. Havia pormenores que coincidiam com o relato de Artur, acima transcrito. Disse que Karen «recorda-se de anjos. Ela tem uma queda por anjos.» Pam falou com Karen pelo telefone quatro semanas depois do nosso primeiro encontro com Artur. O seu relato é idêntico ao de Artur, excepto em relação à luz, que Karen refere como sendo

«branca azulada». Tal como Artur tinha dito, o seu brilho permitia ver o interior do carro «como se fosse dia». A reacção de Karen foi de surpresa, e ela não põe de lado a possibilidade de sequestro extraterrestre, mas não se recorda de outros pormenores. Ao contrário de ARTUR; UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 447 Artur, Karen acha normal que a mãe não tenha falado sobre o incidente. Quando «ela não compreende uma coisa, não fala nisso, pura e simplesmente.» Karen diz que o esquecimento do incidente tem mais a ver com «negligência» do que com medo. A partir do momento em que se conseguiu lembrar do incidente, Artur também começou a perguntar à mãe e aos irmãos do que se lembravam. Certa vez que foram jantar fora, na Primavera de 1990, e na presença dos seus dois irmãos mais velhos, das suas esposas, Karen, da namorada de Artur, da mãe e do seu irmão mais novo, Artur questionou a mãe sobre o incidente de 1964. Ela disse que vira um veículo do formato de um cigarro, «parecido com um dirigível», com «muitas luzes variadas» que ia à mesma velocidade do carro. Estava «cheia de medo», mas «por nós — era a sua maneira de ser». Lembra-se de estacionar e de tentar que os filhos se escondessem na parte de baixo dos assentos. O irmão mais novo de Artur também se lembrava das mesmas coisas. Também estava cheio de medo, lembrava-se da luz e de «ser empurrado para baixo», em frente do assento traseiro. Os dois outros irmãos não se lembravam do incidente e se calhar não estavam presentes. Artur tinha conhecido Donna, a sua namorada que estava presente nesse jantar de família, pouco depois da reunião de família. Ela contou-lhe um incidente ocorrido durante a sua infância, no qual vira um «anjo» no peitoril da janela e disse-lhe que ainda hoje continua a comunicar com anjos. Disse-lhe que sempre sonhara conhecer uma pessoa como ele. Depois disto, Artur falou-lhe das suas experiências e ela disse-lhe que as devia explorar mais, encorajando-o a contactar-me. Donna também acha que o envolvimento de Artur «em todos estes diferentes projectos e nestas causas» está relacionado com a sua experiência com o OVNI. Donna «e a minha irmã têm-me dito que tenho de ser eu a desvendar isto porque acham que isso afectou muito a minha vida e tenho curiosidade em saber se seria uma pessoa diferente se isto não tivesse acontecido.» Artur considera que, tendo em conta a informação que recebeu durante a sua experiência com o OVNI quando tinha nove anos, há «qualquer coisa que eu devo comunicar, mas não sei qual é a mensagem... A experiência dos meus nove anos de idade é o gatilho ou a chave que permite aceder a outra coisa qualquer... algo que é importante para as outras pessoas. É simples e elementar e parece que está dentro de mim, mas eu não sei como hei-de comunicar isso.» 448 SEQUESTRO Conseguiu marcar-se a regressão para 25 de Março, tendo em atenção o calendário de viagens de Artur. Depois do nosso último encontro, Artur falara com Ted, o irmão que não estivera presente no jantar realizado durante a Primavera do 1990. Embora Ted não se lembrasse se estava presente quando ocorreu o incidente de 1964, estava «absolutamente convencido que algo de significativo ocorreu ali.» Ted põe a hipótese de ter estado presente «simplesmente porque é um republicano conservador que não acredita em OVNI nem em nada parecido, mas que agora está absolutamente convencido da sua existência.»

Artur contou uma estranha história sobre fotografias que o seu bisavô, um dos primeiros fotógrafos do país, tirou de «duendes e seres pequeninos», com queixos «mais salientes» do que os dos humanos, junto a rochedos. Artur achava que se tratavam de bonecos de barro que o seu avô, que era um inventor cheio de imaginação, colocava em cima desses rochedos e depois fotografava. Menos clara é razão de ser desta actividade, a sua fonte de inspiração. Artur sugeriu que talvez tivesse sido a sua própria imaginação a estabelecer ligação com estas criaturas pequeninas que vira nas fotografias do seu avô. Ficara com a impressão que «conhecia aquelas pessoas». Também Ted «está convencido que essas pessoas existem. Para ele concordar com uma coisa destas é quase necessário pedir a Richard Nixon que o faça». Antes de iniciar a regressão, Artur reiterou a sua convicção de que «há uma mensagem que devo conhecer.» No início da sessão de hipnose comecei por conduzi-lo até à noite do incidente quando tinha nove anos e pedi-lhe para referir sentimentos, imagens ou sensações corporais que tivesse. Lembrou-se naquele momento que o filme era The Mouse that Roared, com Peter Sellers, «e acho que comemos montes de coisas, como pipocas e outras coisas do género». Recordou-se uma vez mais de quem estava no carro e o que a sua mãe trazia vestido. Ela disse qualquer coisa parecida com «vai ali um avião a voar extremamente baixo», mas pouco depois, com a voz nervosa, disse «não é um avião». A nave enorme tinha luzes «que cruzavam, quase como um T, mas que se bifucarvam na parte de trás». Artur viu «vermelho e verde e amarelo». A mãe pôs a mão atrás do assento e disse-lhes «para se baixarem no chão», mas «lembro-me de pensar que era tão fixe, nem sequer sabia do que se tratava.» A nave apareceu pela esquerda, vinda de trás, «não sei donde» e «parou sobre nós», talvez a cerca de trinta metros acima, e parecia «encher o céu todo». ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 449 Ao nível do consciente, Artur não tinha sido capaz de se lembrar de pormenores do veículo, mas agora lembra-se de algo parecido com veios, escotilhas e junções, e que o veículo parecia ser feito de um «metal muito brilhante, parecido com metal aquecido em altas temperaturas». Parecia que «a luz provinha dali, que aquilo era a fonte» e, para além disso, tinha pequenos pontos de luz. Artur referiu de novo que aquilo era «a coisa mais fixe que já vira... eu estava pronto para partir», disse ele, e «não ia ficar ali metido entre os assentos, de certeza». A luz que vinha da nave inundou o carro e todo os espaço à sua volta e parecia que o «carro estava dentro de água». Havia luz por toda a parte e não havia sombras. Artur conseguiu ver a mãe, o irmão e a irmã, que «estavam comprimidos em frente dos assentos. Embora visse o irmão mais novo, Peter, em baixo do assento dianteiro, Artur não viu outro rapaz no carro e ficou convencido que não havia mais ninguém. Lembrou-se do carro fora da estrada, mas não se lembrou do momento em que a sua mãe o estacionou. Só conseguia ver a luz e tinha a impressão de que o carro estava em baixo e «senti que me estavam a elevar». Pressenti em Artur um aperto ou tensão, e reparei que a sua mente estava a começar a esforçar-se muito. Aconselhei-o a manter aquelas sensações e imagens sem fazer qualquer julgamento e a não tentar desvendar as coisas. Houve um momento da sessão que não sei particularizar, em que quase chorou quando se apercebeu que o carro já não se encontrava na estrada e que ele se encontrava num sítio desconhecido.

Artur sentiu «muitas coisas diferentes», incluindo «medo», mas «havia alguma coisa que estava sempre a dizer para não ter medo». Embora lhe tivesse parecido «incrível», Artur teve a sensação de ser elevado sobre o carro «e não era capaz de falar com ninguém» porque eles estavam «comprimidos» dentro do carro e a salvo, e sabia que «não me podiam ouvir». Sentiu-se, tanto no momento como agora, «simplesmente confuso... Parecia que todas as células do meu corpo estavam a subir, mas o meu corpo ficou onde estava, e estava a separar-se.» Esta sensação de «já não ser uma parte do meu corpo» parecia ser a causa do medo que sentia. Conseguia ver a mãe e o irmão dentro do carro, mas já não conseguia ver a irmã. Mas olhava para o carro como «se estivesse em cima dele», olhando através do tejadilho. Ainda confuso, crê que passou «através do tejadilho» do carro, mas «não me lembro como isso aconteceu». 450 SEQUESTRO Seguidamente chegou-lhe uma «mensagem», «parece que estão preocupados» e «não querem fazer-me mal... Acham que eu estou com medo» e esta comunicação «ajuda-me mesmo» a acalmar. Depois (a fonte de informação não é clara neste ponto) «eles estão a tentar dizer-me que há um fio, como o que a aranha tece, que está entre nós, mas é muito frágil... 'Não tenhas medo, ou o fio rasgar-se-á», disseram-lhe eles. Perguntei-lhe se era mesmo um fio físico ou se era uma metáfora simbolizando ligação. De facto, Artur conseguia ver uma «luz parecida com um fio, como o fio que a aranha tece, iluminado» no céu, envolto na escuridão. De seguida, eram seis ou mais «pequenos seres iluminados todos juntos» que lhe diziam para não ter medo e para não romper o fio com o medo. Pedi-lhe para descrever os seres. Eram parecidos «com embriões», disse ele, «pequenas coisas delicadas». Eram «luminosos», e semi-transparentes, com cabeças grandes e corpos pequenos, «braços fininhos e dedos pequeninos. Talvez não tivessem cinco dedos». Viu também «pequenas pernas», rostos serenos com «uma boca e narizes pequenos» e «sem cabelo... parecidos com bebés, com embriões», disse ele de novo. Tinham todos olhos pretos e eram mais arredondados que os nossos. Os seres pareciam estar «tão perto uns dos outros que se tocavam uns aos outros», reparou ele. «São discretos», mas «os seus braços estão sempre a tocar uns nos outros... Parecem coelhos. Estão todosjuntinhos como coelhos.» Perguntei-lhe como é que se segurava no ar e ele disse-me que era «o fio» com cerca de três milímetros de diâmetro, «talvez como o fio de um papagaio de papel... Estou ligado a isso, mas não sei como». Os seres tinham «um aspecto muito divertido», e «comportavam-se de uma maneira divertida... Parecem coelhinhos» disse ele. «Não pretendem fazer mal a ninguém. Os coelhinhos não fazem mal a ninguém. Querem brincadeira.» Apesar de poder «partir o fio se quisesse», os seres puxavam-no para cima, içavam-no «para dentro da sala» como se aquilo fosse «uma corda ou coisa parecida.» O fio era em arco, ou «meio arco». Subiu por uma curva, e por baixo era a escuridão. «Não podia subir porque era muito íngreme e eu não ia a andar, subia em ângulo.» Artur estava «no espaço... Via estrelas, e parecia uma coisa lisa e bizelada [esta foi a primeira declaração explícita que mostrava que ele tinha sido conduzido para a navel. Parecia ter a extremidade arredondada, como uma bacia virada de pernas para o ar, parecia mesmo

ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 451 uma bacia». Era feita de aço inoxidável polido. A corda ou fio parecia estar envolvida por uma luz que estava em todo o lado, e como os seres lhe diziam «para não ter medo», ele «ia simplesmente» por ali acima, «bem direito», como se estivesse a ser puxado por uma força oculta. O fio parecia conduzir ao interior da nave «como uma linha telefónica ou coisa parecida». Agora Artur conseguia ver os seres dentro da nave, pormenor que achei confuso, uma vez que ele os vira quando estava a subir pelo fio. «Eles nunca estiveram em baixo», disse ele. «Eu via-os através do fio», mas eles estavam dentro «de uma bola de luz, que está provavelmente dentro da coisa em aço». Para ele isto parece fazer sentido, mas para mim apenas serviu para levantar novas questões, e optei por deixar prosseguir. Artur não se conseguiu lembrar de como tinha entrado na nave — «não havia nenhuma porta ou coisa parecida». Já dentro da nave, viu-se numa sala enorme com um piso ondulado e irregular, rodeado por um círculo de luzes cor de rosa. Os seres conversavam animadamente e estavam contentes porque ele não estava com medo. «Sabe, parece que eles são velhos amigos das brincadeiras... O principal é que não pretendem fazer mal a ninguém.» Fiquei um pouco espantado quando ele me disse que a sala era tão grande como o Parque Fenway em Boston «virado de cabeça para baixo». Os seres continuaram a «tagarelar», comunicando sem se ouvir uma voz ou um som, rindo e tocando-se uns aos outros, e pareciam que queriam brincar. Tocaram no rosto de Artur «com muita suavidade. Como quando tocamos num coelho... Lembro-me que me tocaram nos ombros e no rosto com as suas mãos», como se tivessem «curiosidade» e movimentavam-se «para todos os lados». Também fizemos um jogo, «eles atiram-nos com objectos engraçados e nós atiramos de novo». Pedi-lhe que me desse um exemplo. «Bem, por exemplo atirar borrões de cores», disse ele, «e sensações mesmo agradáveis. Um monte de sensações diferentes e agradáveis... É a maneira de comunicarmos com os coelhinhos», repetiu ele. Toda esta brincadeira, aliada ao facto de quererem que Artur estivesse descontraído e sem medo, parecia ser uma preparação para «algo sério» que se ia seguir. Seres mais escuros deram-lhe a conhecer um «campo da vida» que ele tinha perdido, situado no campo, onde a natureza é verde e «há folhas e flores e relva e pássaros e peixes e tudo o resto.» Mas havia uma «grande mancha escura que lhe vai cair em cima. Eles querem que eu saiba qual é a sensação». Esta 452 SEQUESTRO mancha parece-se com «uma maré compacta, e vai invadir todo o planeta e matar tudo». Perguntei-lhe porque é que eles queriam que ele soubesse isso. «Penso que é porque querem ajudar», disse ele. «Eles não querem que isso aconteça — é tão contraditório.» Sugeri que ele deixasse explorar a contradição. «Eles perceberam que nós não somos brilhantes. Somos um bocado estúpidos», disse ele. A destruição pode ser evitada, mas a única forma de «eles fazerem alguma coisa» é «comunicando». Mas, ao mesmo tempo, eles «receiam meter-nos medo», pois «se tivermos medo não conseguem fazer nada». Artur acrescentou que o borrão parecia um grande «balão de água», preto e grande, e que vai cobrir todo o planeta e sufocá-lo. Perguntei-lhe como é que ele «visualizou» esta ideia. «Eles queriam dizer-me uma coisa grave», disse ele e «dizem-no provocando sen-

sações». Quando viu o borrão sentiu o medo e a asfixia, a sensação que «todos iam morrer». No final do que pareceu ser uma espécie de encenação ou demonstração, os seres retiraram o borrão, comunicando-lhe que o problema era muito sério. Perguntei-lhe qual foi a sua reacção, enquanto criança com nove anos de idade, face a esta terrível mensagem. Respondeu-me de forma indirecta que «a coisa mais maravilhosa é poder comunicar entre pessoas como comunicamos com estes tipos». O borrão foi provocado pela nossa incapacidade de promover a vida, de nos livráramos do medo, e de comunicarmos uns com os outros e com a natureza. A imagem do que estava a acontecer fez que sentisse medo e tristeza, especialmente porque os seres «transmitiam tanta vida, e mostravam o que acontece quando não a temos». Regressou ao fio que o tinha conduzido até à nave, que a partir daquele momento passou a ser uma espécie de metáfora para comunicação e ligação com amor, «semelhante à forma como nos comportamos com os coelhos... Algumas pessoas têm de se esforçar mais», disse ele. A única coisa capaz de liquidar a «energia vital» era o medo e o borrão era consequência disso. Pedi-lhe que dissesse mais alguma coisa sobre o medo. «O medo bloqueia tudo», disse ele. Se temos medo, não conseguimos comunicar uns com os outros, com os seres, ou com os animais. «Nem sequer conseguimos ter vida dentro de nós.» Não entendi bem qual era a origem do medo e o que podíamos fazer contra isso. Afirmou que para «travar o borrão» seria necessário «enfrentar pequenos medos de cada vez. Podem evenARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 453 tualmente tornar-se maiores» e «as pessoas ficarão mais fortes». Correr o risco da empatia, cumprimentar, ser «simpático para toda a gente», como por exemplo com «o portageiro ou com o criado», sugeriu ele. «A recompensa», garantiu ele, será «muito melhor do que o medo ou o risco... Travamos uma batalha que está perdida, mas podemos modificar as coisas», disse ele. Tive a sensação que tínhamos chegado até onde era possível chegar e perguntei-lhe se os seres lhe tinham dado qualquer outra informação na nave. Lembrou-se então de uma outra sala mais pequena com outras «pessoas mais escuras», que pareciam «anões» ou «monges pequeninos» com hábitos e capuzes. Estes seres tinham «um ar sério», e «não eram divertidos». Tocaram-lhe no pescoço e atrás da orelha e pressionaram «uma coisa de borracha, suave e fria na minha nuca». Estavam vários seres atrás dele e viu «dois deles do meu lado direito, um pouco afastados». Estas entidades pareciam ser mais «ambivalentes», disse ele, «mais complicadas... Estão a fazer coisas. Parece que andam às voltas, e fazem gestos. Mas mexem-se muito devagar, e são mais sérios... Não são como os coelhinhos», onde o ambiente era de brincadeira e «nos podíamos integrar.» Também eles lhe transmitiram a ideia de que os seres humanos são destrutivos e que não confiam na nossa inteligência. A comunicação fornecida por estes seres mais escuros era «mais intensa... Chegavam ao meu cérebro biliões, triliões, quantidades infinitas de coisas. Era uma cobrecarga incrível, dava a impressão que não era capaz de suportar tudo ao mesmo tempo.» Contudo a mensagem era inequívoca. «Parem de destruir a terra, o planeta... Vocês são uns idiotas chapados». Perguntei-lhe de que forma é que isso lhe era transmitido. Através do instrumento que lhe colocaram no pescoço? A informação chegava-lhe «por detrás da orelha direita,

e dói, mas não é como a dor de uma punhalada. E um torpor, como se alguém estivesse a pressionar a ponta de um taco de baseball na parte de trás da minha orelha — não é da orelha, é da cabeça.» Era «realmente uma grande explosão de informação». Perguntei a Artur que efeitos é que essa informação teve sobre ele, enquanto criança de nove anos; se a tinha apreendido. A sua resposta era um reflexo da luta para assimilar aquele impacto. «Estava lá, eu sei, mas isso, eu consigo, eu sei o que eles querem dizer... Sim. Acho que apreendi. Consigo definitivamente, começou por ser divertido e agradável até, sei lá, ser preciso levar a sério. Tem de ser, 454 SEQUESTRO isso é importante. Isto é sério. Mas a sensação é de... de choque.» Pedi-lhe que desenvolvesse a sensação de choque. «Não é dor», disse ele. «Só que todo o cérebro, cada uma das células se acende, ou vemos que fazemos parte disto como o plasma infinito de incríveis partículas luminosas. Não é como uma flecha luminosa; é parecido com isso, mas é uma sensação que é comunicada.» — Que sensação? — perguntei. É como «andar na montanha russa, quando estamos lá em cima e deixam-nos cair e descemos em queda-livre. Sabe, é como: chega!... isto não é uma brincadeira». — Eles querem ter a certeza de que a mensagem foi apreendida — sugeri. — Sim — disse ele. — É como se eles estivessem a agarrar no nosso colarinho e se limitassem a dizer, dando palmadas, mas sem magoar, só para dizer que era preciso fazer aquilo, e nós tínhamos de ir falar com toda a gente. Temos de levar isso a outras pessoas. Temos de formar professores. E assim a «lição» chegou ao fim. Para além da pressão do instrumento na nuca, não se recorda de nenhum outro procedimento intrusivo. Comparou as pessoas escuras com as luminosas. As escuras eram «mais inteligentes e tinham mais informação», e «as pessoas pequeninas» eram «mais simples ou apenas mais afáveis». Mas as escuras «respeitavam ou admiravam as pessoas pequeninas» que eram mesmo «de certo modo superiores. Eram mais respeitadas...» Perguntei-lhe se era capaz de descrever os rostos dos seres mais escuros. «Parecia que tinham sulcos na pele, sobrancelhas, olhos mais escuros, encovados, pareciam velhos», disse ele. Usavam capuzes e vestimentas escuras e eram «atarracados». Acrescentou que as comunicações com os seres escuros eram «muito confusas», e levava «muito tempo para descobrir» o que é que eles estavam a transmitir. Por isso é que eles precisavam das pessoas pequeninas «para comunicar pequenas coisas de cada vez». Estávamos a chegar ao fim da sessão e perguntei-lhe se se lembrava de alguma coisa sobre o regresso. Só se lembrava de chegar ao carro e ver que a sua mãe ainda estava «agachada» no assento dianteiro. «Parecia que estava paralizada.» O seu irmão e a sua irmã também se encontravam lá. Artur não se lembra da mãe pôr o carro a trabalhar, mas «lembro-me de estarmos calados. Não falávamos, e isso na minha família era mesmo estranho. Somos muito faladores. ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 455 Nenhum de nós falou durante todo o caminho de regresso.» Na altura não se conseguia lembrar do que lhe tinha acontecido.

Devem ter chegado a casa com cerca de uma hora ou uma hora e meia de atraso. Artur lembrou-se depois que tinha tido uma experiência durante o Verão, na herdade da família. Sem saber bem porquê, programou a sua vida para poder passar ali dois meses. «Eu tinha de lá ir para receber mais informação». Um dia, quando estava a pescar isso aconteceu de facto, e crê que deve ter durado umas cinco horas. Nessa noite, estava a dormir num «quarto afastado» da casa principal e os seus sonhos, que não recorda, convenceram-no de que tinha tido outra experiência que, segundo ele, deveríamos analisar noutra altura. Recordando o que tínhamos feito durante aquela sessão, Artur disse que o impacto da sua experiência de infância lhe tinha deixado a impressão que ele era «uma peça dum puzzie» e que tinha de dar o seu melhor «para parar...» Artur pediu para ser apresentado a outras pessoas que também faziam parte do puzzie «para ver se conseguimos criar, se o fio» consegue criar uma «sinergia». Se «seremos poucos, mas bons», disse ele. Concordou em participar no grupo de apoio quatro dias mais tarde. Artur referiu-se depois ao problema da dosagem. A forma como os seres comunicam, disse ele, «permite que grande parte da mensagem seja apreendida». Quando «atingimos o limiar do medo», «resistimos à transmissão da informação». Perguntei-lhe como é que ele encarava aquilo que hoje pusera a nu. «É muito confuso», disse ele. «Intuitivamente acredito nisto», disse, mas «intelectualmente, não». Durante a regressão, lutou com a «tentação de cair no medo... O medo nunca se vai embora. Está sempre ali», disse ele, mas (referindo-se à minha presença) «é como ter alguém que nos agarra na mão durante uma operação... Temos de vencer» o medo e «evitar que ele se apodere de nós». O «borrão», recordou ele, «destinava-se a fazer-nos ver» como «pode ser terrível, ou vir a ser terrível se nós não tomarmos consciência da sua importância». O objectivo é «fazer passar essa informação a toda a gente», sugeriu-me ele. Pam falou com Artur pelo telefone no dia 31 de Março, dois dias depois de ter participado no grupo de apoio. Ficou impressionado com a ansiedade que existia no grupo e sentiu pouca empáfia em relação aos seres extraterrestres. Atribui este facto, em parte, à infân-

456 SEQUESTRO cia segura e feliz que vivera. Artur sentia-se bem com o resultado da regressão e até chegou a falar nisso a alguns amigos, mas não contou à irmã os pormenores, para não a «contaminar», isto é, para que a sua credibilidade como testemunha independente não fosse influenciada pelo seu relato. Reparava que a filosofia de vida dela era semelhante à sua e interrogava-se se também ela não teria tido experiências de sequestro. A partir da regressão, ficou mais convencido que nunca da mensagem que recebera dos seres extraterrestres e sentiu uma maior determinação para fazer o que pudesse para ajudar. DISCUSSÃO As associações de empresas com fins lucrativos são uma das mais poderosas instituições que os seres humanos inventaram para resolverem os seus problemas. Têm um forte impacto em todo o mundo e influenciam virtualmente todos os aspectos da nossa vida. Essas empresas podem ser agentes da permanente destruição ecológica ou

potenciais fontes de benefício para os seres humanos e para a vida na terra. Artur é um empresário com um espírito extraordinário. A sua vida constitui um modelo de responsabilidade empresarial (Everett, Mack e Oresick 1993). Individualmente ou em parceria com outros, empenhou o seu tempo, energia e recursos financeiros em projectos que visam a preservação do meio ambiente. Desde projectos locais de reciclagem até à promoção de esforços ao nível político nacional e internacional, Artur desenvolveu uma série de actividades com o objectivo de assegurar a protecção e preservação do meio ambiente. É surpreendente que tanto Artur como os seus familiares considerem que as sua preocupações sociais e ecológicas estejam intimamente relacionadas com a sua experiência de sequestro com OVNI, ocorrida durante a infância. Interroga-se «se teria sido uma pessoa diferente, caso não tivesse passado por essa experiência.» Certamente que a informação que lhe foi intensamente transmitida durante o sequestro, em parte recordada ao nível do consciente e a restante conseguida através da hipnose, teve influência no seu tipo de vida, diferente dos restantes. O que lhe foi comunicado pêlos seres extraterrestres tinha a ver com o perigo que a ecologia enfrenta, com a necessidade de uma comunicação aberta e dedicada, e com a necessidade de nos livrarARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 457 mós do medo para nos podermos dedicar a estas causas. Esta mensagem foi recebida de forma tão intensa que pareceu afectar cada uma das células do corpo de Artur. Foi-lhe mostrada uma «mancha» preta que asfixia a vida na terra, simbolizando o seu destino provável. «Parem de destruir a vida no planeta», disseram-lhe eles. Para além disso, a sua missão era a de professor e «formador de professores», agentes transmissores da informação que, aparentemente, lhe foi literalmente «metida à pressão» durante a experiência de sequestro ocorrida quando tinha nove anos e provavelmente durante outras experiências. Cumpriu de facto os objectivos. O seu caso está recheado de metáforas. O fio através do qual subiu do carro até à nave é também ele um símbolo da união e do amor entre os seres vivos. Artur estabelece, por várias vezes, uma analogia entre a maneira como comunica com os animais — a forma como «toca» nos coelhos — e a maneira dedicada e terna imprescindível no relacionamento com os seres extraterrestres. Com efeito, chega mesmo a comparar as «pessoas pequeninas», com quem contactou desde a infância, com coelhinhos. A capacidade que sempre teve para estabelecer ligação com o espírito dos animais, quer selvagens quer domésticos, parece estar, de algum modo, intimamente ligada ao seu espírito intrépido, sobretudo se compararmos essa sua atitude com a resistência dos outros membros da sua família que estiveram presentes no incidente de 1963, recusando aceitar a presença e a mensagem dos seres extraterrestres. Há ainda dois outros aspectos interessantes neste caso. A experiência dos nove anos envolveu dois tipos de seres distintos: luminosos, um tanto translúcidos, «seres pequeninos», que eram brincalhões, ternos e muito amigáveis; e entidades mais escuras e mais sérias que pareciam, de certo modo, os venerandos da família. Estes dois tipos de seres pareciam trabalhar em conjunto, adoptando um comportamento parecido com o dos polícias bons/polícias maus, os seres pequeninos ajudando-o a vencer o medo e a desenvolver um espírito algre e aberto, enquanto os seres mais escuros lhe forneciam a men-

sagam poderosa e perturbante. Esta situação ocorreu também noutros casos. Normalmente a preparação das crianças faz-se estabelecendo uma ligação manifestamente luminosa, divertida e terna com os seres amigáveis, para mais tarde lidarem com projectos e comunicações mais sérios e até ameaçadores que estão a cargo de entidades mais severas e mais determinadas. 458 SEQUESTRO O caso de Artur também tem interesse do ponto de vista psiquiátrico. A sua infância parece ter sido simplesmente normal e sem traumas ou relacionamentos problemáticos. Não há qualquer ocorrência psicopatológica digna de registo na sua vida passada ou no seu actual estado de saúde mental. De facto, parece ser uma pessoa perfeitamente segura e equilibrada, ao mesmo tempo que é extremamente criativo e inovador. Parece ter sido este equilíbrio interior, uma espécie de sentido de aventura perante a vida, evidenciado na agitação e na ausência de medo que sentiu quando o OVNI desceu até ao carro («isto é mesmo fixe»), que o talharam para a tarefa que lhe foi atribuída pêlos seres extraterrestres. A história de Artur, tal como muitos outros casos de sequestro, coloca questões complicadas sobre as relações entre o espírito e o mundo físico, causa e efeito, e sobre as vicissitudes da memória. Há algo de orgânico nas metáforas que acompanham este caso. A mancha escura que os seres lhe mostraram e o fio ou corda que o levou até ao OVNI parecem existir numa espécie de área cinzenta entre o espírito e o mundo físico. Tal como ondas e partículas da mecânica quântica, parece que são espirituais num contexto, e fisicamente reais noutro. Não são simplesmente um ou outro, pensamento versus algo físico, mas ambos dependentes do contexto. A mancha parece ser realmente uma coisa que destrói a terra, mais «real» do que uma metáfora, mas também é uma imagem ou um símbolo, encenada pêlos seres na mente de Artur, para produzir um determinado efeito. O fio conduz Artur fisicamente até à nave, mas também é um símbolo forte do relacionamento e da ligação. Até mesmo a associação com os coelhinhos na quinta de Alice e a percepção dos seres luminosos como «coelhinhos», ou mesmo a relação entre «tocar» num coelhinho e estabelecer ligação com um extraterrestre, parecem ser associações físicas, mais fechadas e de algum modo mais intrínsecas do que meras analogias. Isto pode levar-nos à relação que existe entre pensamento e mundo físico, dois domínios que se mantiveram radicalmente separados à luz da visão ocidental do mundo. Mas no caso de Artur, o pensamento e a realidade física parecem inseparáveis, como se um originasse o outro, gerando-se mutuamente de uma maneira que nós não compreendemos. Talvez a própria consciência represente uma espécie de fonte criativa, um plano do ser do qual derivam tanto o pensamento como o mundo físico. ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 459 Uma das interrogações que o caso de Artur me coloca diz respeito à fronteira entre causa e efeito. Será que ele viveu as experiências porque possuía um espírito aberto a estas realidades, ou será que os contactos de sequestro, ocorridos durante a sua infância e provavelmente antes (neste caso não possuímos memórias de vidas passadas), fizeram que o seu espírito se tornasse flexível e visionário? Talvez as categorias de causa e efeito não se apliquem neste

domínio. Seria mais apropriado adoptar uma forma de pensamento que interligasse Artur e as suas experiências, que as analisasse como um todo. Finalmente, o caso de Artur coloca questões que têm a ver com o apagamento e o reavivar da memória idênticos aos que analisamos aquando da experiência de Ed (vide capítulo 3). Porque é que nem ele nem outra pessoa presente no incidente de 1963 se recorda dele ou recusa falar disso depois? E que forças é que levaram a sua irmã, vinte cinco anos depois, a abrir o tema, possibilitando o reavivar da memória de Artur e a sequência de acontecimentos que permitiram o nosso contacto? Até que ponto as forças do esquecimento e da lembrança têm origem na mente de Artur ou são impostas do exterior, pêlos seres, ou por outras forças que determinam a sua actividade? E, tal como a separação entre causa e efeito que referimos, será que esta dicotomia se aplica desta maneira? Estas são apenas algumas das questões e mistérios em relação aos quais o caso de Artur nos conduziu. CAPÍTULO DEZASSEIS INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA Os tibetanos contam uma história de um velho sapo que vivera durante toda a sua vida num poço húmido e frio. Um dia um sapo do mar fez-lhe uma visita. — De onde vens tu? — perguntou o sapo que estava dentro do poço. — Venho do grande oceano — respondeu ele. — De que tamanho é o oceano? — É gigantesco. — Queres dizer que corresponde a um quarto deste poço onde vivo? — É maior ainda. — Maior? Então é metade deste poço? — Não, ainda maior. — É... tão grande como este poço? — Não tem comparação. — É impossível! Tenho ir ver isso com os meus próprios olhos. E lá foram os dois. Quando o sapo do poço viu o oceano sofreu tamanho choque que a sua cabeça explodiu. Sogyal Rinpoche, The Tibetan Book ofLiving andDying Quando olhamos para trás, temos a impressão que as nossas vidas têm uma coerência, até mesmo uma continuidade de que não nos apercebemos na altura. Quando me comecei a interessar pelo fenó462

SEQUESTRO

«Quando apago as luzes à noite, é esta a configuração da passada semana. Consigo vê-la tanto com os olhos abertos como fechados». — Anne (vide pág. 482)

INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 463 meno de sequestro relacionado com os OVNI, a minha curiosidade foi aumentando e senti que algo de invulgar se passava dentro de mim. Mas não tive a noção exacta de que as minhas investigações despoletariam uma abertura da minha consciência para uma vastidão de mistérios e incertezas. Também não previ até que ponto isso ia ser um desafio para a visão do mundo em que tinha sido educado. Cada uma das treze pessoas cujos casos foram descritos neste livro — ou melhor, cada um dos setenta e seis sequestrados com quem trabalhei — conta uma história única. As diferenças individuais têm provavelmente a ver com as diferentes personalidades de cada um dos sequestrados e as circunstâncias distintas dos próprios sequestros. Mas o que achei extraordinário desde o início da minha investigação foram os traços comuns que prontamente sobressaem quando cada uma das narrativas é analisada em pormenor. Pode argumentar-se que essa coerência é invenção minha, e que adaptei e interpretei o conjunto de dados de modo a encaixarem numa estrutura previamente estabelecida. Em resposta a isto, cumpre-me dizer simplesmente que, inicialmente, encarava o fenómeno de sequestro como qualquer céptico, ou seja, considerava que era uma impossibilidade, e que tenho tentado estar aberto à formulação de novas crenças e convicções que possam vir a ocupar o lugar das anteriores, que entretanto foram radicalmente postas em causa. Uma das razões que me levaram a incluir um número tão grande de casos descritos com tanto pormenor, tem a ver com o meu desejo de fornecer uma amostragem, de modo a que os leitores possam ter a oportunidade de tirar as suas próprias conclusões sobre o fenómeno de sequestro. Não posso dizer que foram seleccionados os casos«tipo», porque não sei o que é um caso-tipo, ou se existe tal coisa. Acredito contudo que os casos que analisei são ilustratitivos de uma série de fenómenos que caracterizam as experiências de sequestro. Há aspectos dos sequestros com OVNI que não obedecem às leis do universo, tal qual as conhecemos. Alguns dos fenómenos podem vir a ser entendidos no futuro, tendo em conta os avanços da física. Mas outros, como por exemplo a capacidade de Paul e outros sequestrados conduzirem a sua consciência através do espaço e do tempo, requerem outro paradigma ontológico. Não espero que o material apresentado neste livro tenha um grande impacto sobre aqueles que acreditam que as leis da física definidas por Newton e Einstein formulam a definição completa de realidade. Espero toda464 SEQUESTRO via que os dados que aqui se enunciam sejam suficientemente fortes e sólidos, de modo a permitir que aqueles que pretendem expandir a sua visão de realidades possíveis considerem que o mundo pode conter forças e inteligências que nunca imaginámos antes. FORMAS DE CONHECIMENTO: METODOLOGIA No domínio da física, psicologia e outros, os dados que obtemos constituem uma função, que se integra no método que adoptámos para coligir informação. Dentro da minha disciplina, a psicologia profunda, as descobertas de Freud e dos seus seguidores sobre o conteúdo e a estrutura do inconsciente humano resultam não só da análise dos sonhos, que não eram considerados pela neuropsicologia racionalista do seu tempo, mas também do recurso à hipnose no

campo da psicologia clínica e do método da livre associação. Tanto nessa altura como agora, o desenvolvimento de novas formas do saber requer, contudo, algo mais do que o simples recurso a diferentes tecnologias ou métodos. Um alargamento do conceito epistemológico, especialmente no que se refere à psicologia, pode exigir que sejam legitimados (ou relegitimados) aspectos negligenciados que dizem respeito a nós próprios, passando a ser considerados instrumentos do saber. Embora a psicanálise tenha sido responsável por grandes avanços ao nível do conhecimento da experiência humana e da profundidade e estrutura da psique, adoptou uma metodologia extremamente dualista, a divisão sujeito/objecto que caracteriza a ciência empírica ocidental, incluindo a psicologia. O paciente ou cliente é geralmente considerado como alguém que tem um problema, isolado do terapeuta/investigador; o paciente destina-se a ser ajudado ou estudado. Na verdade, Freud pôs de parte a hipnose enquanto método de trabalho com os seus pacientes, em parte devido ao pendor subjectivo que parecia introduzir no processo terapêutico (Mack 1993). Tanto as terapias alternativas como as investigações sobre a consciência humana parecem considerar cada vez mais a psique como uma parte do processo de investigação. Os sentimentos e o espírito do experimentador, em termos das terapias alternativas, assim como o seu espírito racional e capacidade de observação, constituem aspectos vitais do método terapêutico ou de investigaINTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 465 cão. O recurso alargado ao ego assenta na empatia e é essencialmente intersubjectivo. Neste âmbito, a hipnose, as viagens xamânicas, a meditação, o método de respiração Grof, as visões e outras modalidades, que são consideradas no Ocidente como estados de consciência «fora do comum», tornam-se aliados naturais do processo de investigação. Isto acontece porque envolvem, por definição, a abertura da psique em relação a domínios mais profundos que estão para além do que é racional e visível. É óbvio que, no final, o espírito racional é essencial para se compreender e integrar os dados obtidos recorrendo à consciência como uma ferramenta ao serviço da investigação. Mas, no decurso da investigação, nós — como investigadores e leitores — devemos abrir-nos àquilo que o paciente ou sujeito possa refeir como sendo a sua experiência, utilizando esta forma alargada de conhecimento. Talvez se entenda, pois, que eu tenha, de facto, «tropeçado» no fenómeno de sequestro relacionado com OVNI e que depois me tenha sentido mais ou menos preparado para levar a cabo essa investigação, tendo em conta a minha preparação no método holotrópico de controlo da respiração de Grof (vide capítulo l), que se baseia na utilização global do eu — razão, corpo e alma — com vista à exploração da experiência humana inconsciente. No meu trabalho com os sequestrados utilizei um método que se resume a uma combinação do velho e do novo. Para além das conversas habituais, utilizei a hipnose, que foi o estado «fora do comum» que Freud originalmente utilizou para analisar o inconsciente, a que aliei a respiração com o objectivo de equilibrar e aprofundar o processo. Quando estou a trabalhar com sequestrados envolvo-me completamente, experimentando e revivendo com eles o mundo que está no seu inconsciente e que eles evocam. Toda a minha psique e todo o meu ser estão envolvidos; é óbvio que o eu racional e observador está sempre presente,

modelando, limitando e protegendo todo o processo. Os métodos empíricos de conhecimento utilizados pela ciência ocidental baseiam-se essencialmente nos sentidos físicos e na razão, minimizando o sentimento e a intuição, e foram desenvolvidos em parte para evitar a subjectividade, a contaminação e a absoluta desordenação da emoção humana. Porém, pode acontecer que os resultados da utilização deste método restrito conduzam a uma apreensão do mundo físico que não tem em conta a totalidade das nossas faculdades. Para apreender os mundos «que estão para além do 466 SEQUESTRO véu», como dizem os sequestrados, necessitamos de fazer apelo a um diferente tipo de consciência. Isto quer dizer que o processo que se destina a obter informação através do sequestro é amplamente «co-criativo»: o entendimento pressupõe a sua aceitação, e eu ajudo os experimentadores a evocarem aquilo que tento que eles descubram dentro de si próprios. Mas esta característica de co-criação não significa, como alguns críticos do meu trabalho afirmam, que eu lhes imponha a minha visão sobre este fenómeno ou que acredite literalmente em tudo o que os sequestrados dizem. Durante as sessões, as minhas perguntas são uma consequência do que está a ser contado, ou da minha intuição, e baseiam-se em experiências de terapia não só com sequestrados, mas com centenas de pacientes, tendo em conta o rumo que a experiência íntima do sequestrado está a seguir. Evito perguntas capciosas, e a experiência que tenho com sequestrados mostrou-me que eles não se deixam conduzir (todos eles parecem partilhar a opinião de Sheila: «sei o que estou a dizer»). Mas também não posso abstrair-me do facto de um processo intuitivo co-criativo como este poder fornecer informação que, de certo modo, é o produto de uma mistura ou do fluir conjunto da consciência de duas (ou mais) pessoas que estão na sala. Pode haver algo que é evocado e que não estava antes ali, exactamente daquela forma. Ou, dito de outro modo, a informação evocada durante as sessões não se reduz a um «item» que foi recordado, extraído da consciência do experimentador como se extrai uma pedra de um rim. Pode, pelo contrário, significar um desenvolvimento e evolução da percepção, enriquecida pela ligação estabelecida entre o experimentador e o investigador. Do ponto de vista ocidental isto pode ser considerado uma «distorção»; de um ponto de vista transpessoal, isto pode ser encarado como uma participação conjunta, minha e do experimentador, na evolução da consciência. Quando lidamos com um fenómeno como o dos sequestros extraterrestres, que se manifesta no mundo físico, mas que pode ter origem numa outra realidade, a questão de saber se a hipnose (ou qualquer outra modalidade fora do comum que nos ajude a aceder às realidades que estão fora ou para além do mundo físico) revela fielmente o que «aconteceu» literalmente ou factualmente, pode ser inapropriada (para uma discussão mais aprofundada deste assunto, vide capítulo!). Será mais útil saber se o método de investigação é capaz de fornecer informação que seja consistente INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 467 entre os sujeitos, se possui convicção emocional e se contribui para alargar o nosso conhecimento sobre os fenómenos significativos para a vida dos sujeitos e para a cultura em geral. CONCLUSÕES FUNDAMENTAIS:SÍNTESE DOS PRINCIPAIS

ASPECTOS DESTES E DE OUTROS CASOS DE SEQUESTRO As experiências vividas pelas pessoas cujos casos são relatados neste livro (e por muitos outros sequestrados) podem ser divididas em três categorias: acontecimentos físicos e para-físicos; a recepção da informação; e os fenómenos transformacionais ou espirituais. ACONTECIMENTOS Físicos ou PARA-FÍSICOS Quero sublinhar novamente que não sabemos de onde vêm os OVNI ou os seres extraterrestres (se têm origem, por exemplo, no universo físico, de acordo com a descrição que é feita pêlos astrofísicos modernos). Mas eles manifestam-se no mundo físico e têm consequências nesse domínio. A grande maioria dos sequestrados teve, numa determinada altura da vida, visões nítidas de OVNI extremamente significativas, embora possam não ter visto a parte exterior de uma nave espacial, durante uma experiência de sequestro. Em cada um dos casos houve uma ou mais descobertas físicas concretas durante ou após as experiências de sequestro, tais como visões de OVNI na região, terra queimada no local de aterragem dos OVNI, e testemunhos independentes que referem que desconheciam o paradeiro dos sequestrados na altura da ocorrência do acontecimento do sequestro. Casos inexplicáveis de gravidez, várias lesões físicas leves, sangramentos nasais estranhos e extração de objectos minúsculos do corpo dos sujeitos, são aspectos comuns a muitos dos casos analisados. Torna-se muitas vezes difícil e delicado fornecer provas destas descobertas recorrendo aos métodos da ciência empírica. Devem, por isso, ser considerados como uma evidência secundária, que tem por base o relato dos sequestrados. A absoluta consistência e grau de incidência destas ocorrências físicas colaterais são demasiado im468 SEQUESTRO portantes para serem desprezadas. Contudo, o grosso dos dados não nos chega através destas ocorrências físicas, mas sim dos relatos dos próprios experimentadores. Embora tenham variantes em relação a determinados aspectos, são de tal modo consistentes que desafiam as explicações psiquiátricas convencionais. Pode acontecer que se chegue à conclusão de que os sequestrados tiveram contactos com seres extraterrestres e OVNI durante toda sua vida, embora haja casos, como aconteceu com Ed e Artur, em que um único acontecimento de sequestro tenha sido extremamente importante. As experiências de sequestro iniciam-se com uma alteração da consciência do sujeito, que pode ser assinalada por um zumbido ou por outro som estranho, pelo aparecimento de uma luz de origem desconhecida, pela sensação de que alguém está presente ou mesmo pela visão de um ou mais seres extraterrestres (como é referido no capítulo 2), ou por uma forte sensação vibratória no corpo (como acontece nos «sonhos eléctricos» de Sheila). Esta alteração da consciência pode ser subtil, mas os sequestrados asseguram sempre que não estavam a sonhar ou a imaginar. Pelo contrário, sentem que passaram para outra realidade que não deixa de ser real. Estão despertos quando vivem essa realidade, mas é uma realidade diferente. Um dos sequestrados descreveu-me esta alteração dizendo que era como se os seres extraterrestres atravessassem uma espécie de ecrã, revelando uma nova realidade ao experimentador. Depois disto acontecer, o sujeito é levado por uma força, por vezes

um raio de luz ou outra energia que os seres extraterrestres usam, para fora ou para longe da casa ou do lugar em que ele ou ela se encontravam, através de paredes, portas ou janelas, mesmo fechadas. Os experimentadores vêem a sua casa e a própria terra a afastar-se à medida que são transportados para dentro das naves espaciais, normalmente caracterizadas como metálicas e com o feitio de um disco ou de um cigarro, e que consideram ser a fonte da luz que inicialmente viram. Dentro da nave, os sequestrados vêem uma grande variedade de seres extraterrestres, referidos no capítulo dois, atarefados com a preparação dos vários procedimentos. O interior da nave transmite geralmente uma sensação de frio, tanto emocional como físico, por vezes com um cheiro bafiento, com consolas parecidas com computadores ao longo das paredes. As paredes são geralmente brancas e curvas, embora também sejam referidos os pisos negros. INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 469 Os métodos usados assemelham-se aos procedimentos médicos e cirúrgicos, mas os instrumentos utilizados são diferentes dos que conhecemos. A contemplação, a fixação do olhar, a perscrutação da mente e-outros tipos de comunicação telepática fazem parte dos procedimentos iniciais dos extraterrestres. Os sequestrados têm a sensação de que a sua interioridade se revela aos extraterrestres. Seguem-se outros procedimentos que são supervisionados por um extraterrestre ligeiramente mais alto e mais velho, que os sequestrados referem como médico ou líder. Embora os sujeitos se sintam ofendidos com as suas ordens, sentem contudo que já o (o líder é normalmente referido no masculino, embora haja excepções) conhecem de anteriores sequestros ocorridas durante a infância e sentem também que há um laço forte entre eles, nutrem uma grande afectividade por ele, sentimento que sentem por vezes ser recíproco. Contam-se entre os vários procedimentos a recolha de pequenas amostras de tecido, os exames à cabeça (que está muitas vezes associada à recolha de informações do cérebro, à verificação do estado de saúde do sujeito e à introdução ou remoção de implantes) e à inserção e aplicação de instrumentos estranhos, dentro ou em cima de algumas partes do corpo, especialmente no abdómen, ânus e órgãos reprodutores. São recolhidas amostras de esperma contra vontade dos experimentadores e às mulheres são recolhidos os óvulos; os ovos fertilizados, que podem ter sido geneticamente alterados, são implantados e mais tarde a gravidez é interrompida. Nos sequestros seguintes, são-lhes mostrados seres híbridos e por vezes é-lhes pedido que tomem conta deles e os alimentem. Pode acontecer que lhes seja pedido, quando eram crianças, para brincarem com estas criaturas estranhas, que não se enquadram nos nossos padrões. Tudo isto é uma experiência terrível para os sequestrados, embora o nível de terror seja atenuado por uma espécie de energia anestesiadora que os extraterrestres administram com as mãos ou com instrumentos parecidos com varetas. Os extraterrestres realizam outras actividades sexuais e reprodutoras, e parecem estar especialmente interessados no aspecto emocional das nossas vidas, assunto que retomaremos posteriormente. Quando as experiências são recordadas conscientemente, ou durante as regressões hipnóticas, os sequestrados revivem emocionalmente a experiência, de uma forma intensa e forte. Quando estão a recordar as experiências de sequestro, os indivíduos mais controla-

470 SEQUESTRO dos chegam mesmo a contorcer-se, a transpirar e a gritar com medo e com raiva, ou até a chorar de tristeza. Aqueles que não estão familiarizados com o fenómeno do sequestro e que assistem pela primeira vez consideram esta exteriorização de emoções autêntica. Partilhar estas experiências com os sequestrados exige a minha energia, apoio e preocupação totais. Nunca, até à data, chegou ao meu conhecimento qualquer outra explicação alternativa destes aspectos básicos das experiências de sequestro que os meus clientes descrevem com pormenores impressionantes e nítidos. Para dificultar ainda mais o nosso entendimento, tudo indica que a manifestação do fenómeno de sequestro no mundo físico não é linear. Em alguns casos, sabe-se que a pessoa esteve desaparecida, consegue recordar, com ou sem hipnose, a experiência de sequestro, e regressa com lesões corporais que parecem não ter outra explicação plausível. Mas noutros casos, parece não haver um sequestro «completo». O indivíduo em causa pode ter uma experiência que implica o desprendimento do corpo, mas as outras pessoas referem que ele ou ela não saíram de casa. Os sequestrados também referem uma intensa «actividade» que pode ou não anteceder um sequestro mas que a maior parte das vezes se verifica, mesmo durante a noite. Isto inclui a percepção da presença extraterrestre, vibrações e outras sensações corporais, barulhos estranhos em casa, e diversos tipos de fenómenos luminosos que ocorrem tanto mentalmente como no ambiente que os rodeia. Segundo os experimentadores, todos estes elementos estão claramente relacionados com o fenómeno de sequestro. A RECEPÇÃO DE INFORMAÇÃO A informação que os seres extraterrestres transmitem aos sujeitos parece ser um aspecto fundamental do fenómeno de sequestro. Com efeito, para alguns sequestrados, entre os quais Artur e, em certa medida. Paul e Eva, o trauma é relativamente pequeno; as experiências parecem ser inicialmente de carácter informativo e transformativo. A informação transmitida durante os sequestros parece processar-se de duas maneiras: directamente, comunicação de mente para mente, ou através da descrição de fenómenos ou acontecimentos utilizando um meio parecido com os ecrãs de televisão. Tal INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 471 como aconteceu no caso de Catherine, foi posta à sua disposição uma sala de conferências para que fossem criadas as condições necessárias para que se estabelecesse a comunicação sobre o estado dos sistemas de vida da terra. As primeiras informações que os sequestrados recebem dizem respeito ao futuro da terra, tendo em conta a destruição humana. São mostradas imagens do planeta devastado pela guerra nuclear, particularmente o meio ambiente a ser devastado pela poluição e por nuvens tóxicas. Sara e Artur, por exemplo, foram confrontados com imagens de grandes nuvens negras ou «manchas» sufocando os sistemas de vida da terra, consequência provável de uma catástofre ambiental. Alguns sequestrados viram imagens apocalípticas, que mostravam a terra a ser literalmente despedaçada ou desfeita, seguidas de uma elaborada selecção de imagens nas quais surgem algumas pessoas a morrer, outras arranjando maneiras para sobreviver, e outras ainda a serem transportadas para outro lugar, onde a vida humana prosseguirá de uma nova forma.

Embora outras pessoas possam interpreta metaforicamente estas visões proféticas, para os sequestrados elas são convictamente literais e concretas. As visões causam uma grande tristeza. No caso de Ed, até mesmo os seres espirituais estavam atormentados com a loucura e destruição humanas. Scott é um exemplo de sequestrado que recebeu informação dos extraterrestres sobre a destruição ante riormente sofrida pelo planeta e meio ambiente onde viviam. Actualmente os seres extraterrestres estão a tentar impedir que isso se repita. Embora os seres extraterrestres pareçam estar a intervir no sentido de alterar a nossa consciência para que haja uma redução da agressão, parecem estar, por outro lado, realmente confusos perante o grau de destruição aparentemente descuidada e gratuita. De acordo com o que comunicaram com Paul, os seres não entendem a razão da nossa determinação em destruir um lugar de tamanha e tão transcendente beleza e parecem estar decididos a impedir-nos de o fazer. Sara referiu que ambiente significa muito mais do que natureza ou ecologia física. Significa todo o contexto da própria vida. Para Sara este é o lugar «criativo e de afirmação da vida», um lugar de amor incondicional. «Cada um de nós é o seu próprio ambiente», disse ela. Os extraterrestres parecem preocupar-se com o nosso «ambiente» no sentido mais abrangente possível. 472 SEQUESTRO FENÓMENOS TRANSFORMATIVOS E ESPIRITUAIS Os extraterrestres parecem ser capazes de alterar ou disfarçar a sua forma e podem inicialmente aparecer aos sequestrados tomando a forma de vários tipos de animais, ou mesmo de seres humanos comuns, como aconteceu no caso de Peter. Mas esta capacidade de alterar a forma é extensível aos veículos e aos ambientes apresentados aos sequestrados, que incluem, nesta amostra, uma série de motociclistas (Dave), uma floresta e uma sala de conferências (Catherine), imagens de Jesus com vestes brancas (Jerry) e uma estrutura ascendente parecida com uma catedral com vitrais (Sheila). Uma jovem, cujo caso não é relatado neste livro, recordou ter visto num parque um canguru com quinze patas, que era afinal uma nave espacial. Recentemente tive conhecimento de um caso em que algumas crianças foram transportadas para o céu numa pequena nave que lhes apareceu sob a forma de uma tenda numa feira, onde estavam os extraterrestres disfarçados de humanos e lhes perguntaram se queriam fazer uma viagem. Outras experiências relatam a expansão da consciência e a sua actual separação do corpo, como é o caso de Paul, que foi capaz de «viajar» até um período que antecedeu o seu nascimento e em que se verificou um choque de um veículo espacial, ou mesmo até ao período em que os dinossauros viviam na Terra. A frequência com que as experiências com vidas passadas são recordadas durante as regressões hipnóticas também tem relação com o conceito de expansão da identidade, ou seja, de certo modo o espírito ou alma humana não está restringido a esta vida, podendo mesmo expandir-se centenas ou milhares de anos, como aconteceu no caso de Catherine. A lembrança de vidas passadas adquire um poder enorme quando isso é sinónimo, como aconteceu no caso de Joe e de Dave, de um crescimento pessoal contínuo, que se verifica em mais de uma vida. Muitos sequestrados referidos neste livro possuem dupla identidade, humana e extraterrestre. Enquanto extraterrestres vêem o

mundo sob uma perspectiva extraterrestre, tendo a seu cargo, como acontece no caso de Joe, o lado extraterrestre na tarefa reprodutiva. Peter, por outro lado, ficou perturbado quando conseguiu lembrar-se da sua união com uma extraterrestre. O eu extraterrestre é muitas vezes entendido como a alma perdida ou abandonada do eu humano, novamente ligadas a uma origem comum. Então a tarefa consiste em INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 473 integrar o eu ou o espírito extraterrestre dividido, restituindo-lhe novamente a sua unicidade. Muitas experiências de sequestro são inequivocamente espirituais, envolvendo normalmente uma espécie de contacto muito forte, ou imersão, com a luz divina. Este fenómeno está levemente presente no caso de Carlos e totalmente em muitos casos que estudei. Os seres extraterrestres, embora criticados pela sua intromissão, também podem ser vistos como intermediários, mais próximos de Deus ou da origem do ser do que nós. Por vezes, como acontece no caso de Carlos, podem ser mesmo vistos como anjos ou semelhantes a Deus. Alguns sequestrados com quem trabalhei sentem uma abertura em direcção à origem do ser no Cosmo, que muitas vezes chamam Lar, da qual sentem ter sido brutalmente afastados quando encarnaram como seres humanos. Quando, durante as nossas sessões, sentem uma abertura ou regresso ao Lar, pode acontecer que tenham um choro de êxtase. Podem, tal como Sara, ficar ressentidas por ter de permancer na Terra encarnando a forma humana, mesmo quando assumem que têm uma espécie de missão na Terra, que é a de ajudar a operar a mudança na consciência humana. As experiências de alguns sequestrados relacionadas com os grandes ciclos do nascimento, da vida e da morte, recorrentes durante longos períodos de tempo, parecem estar relacionadas com esta abertura à fonte divina. Isto é particularmente visível quando as experiências com vidas passadas são revividas e é permitido ao sequestro recordar as experiências de morte e de renascimento. Posteriormente, referir-me-ei com mais pormenor a um fenómeno colateral, que pode ser considerado como a concretização de um arquétipo ou metáfora. Tubos, corredores, fios, etc, podem ser vistos realmente, ou atravessados fisicamente, mas ao mesmo tempo simbolizam importantes transições de um estado do ser para outro. O IMPACTO DAS EXPERIÊNCIAS DE SEQUESTRO A maior parte dos indivíduos cuja história é analisada neste livro sofreu traumas multidimensionais que estão associados com os sequestros — a incapacidade de reacção aos terríveis procedimentos que lhes são infligidos no corpo, o isolamento da família e dos amigos e a percepção 474 SEQUESTRO que as experiências se podem repetir a qualquer momento sobre si mesmos e sobre os seus filhos. «Nós ainda não nos livrámos do contínuo e inexorável melodrama do outro mundo», escreveu Jerry, cujos filhos, ao que tudo indica, foram também contactados. Contudo, o fenómeno de sequestro não se resume ao aspecto traumatizante. Pode acontecer que os experimentadores sintam medos, tenham pesadelos e outras sequelas originadas pela situação de stress, bem como pequenas lesões corporais, dores de cabeça provocadas por sinusite, sintomas gastro-intestinais, neuropatias ligei-

ras e disfunções psicosociais que parecem estar relacionadas com os seus encontros. Contudo, este rol de casos que tratei evidencia também que os contactos extraterrestres são os responsáveis pela cura de doenças como a pneumonia ou a leucemia e mesmo a paralisia dos membros causada pela atrofia muscular provocada pela poliomielite. Posteriormente, muitos sequestrados foram dotados de poderes terapêuticos. Embora muitos sequestrados se sintam ofendidos com as experiências de sequestro e receiem que se repitam, muitos outros, de uma forma ou de outra, acabam por sentir que estão a participar num processo extremamente importante e válido de criação ou alteração de vida. Para além disso, muitos sequestrados, entre os quais se incluem os casos estudados neste livro, parecem estar a atravessar uma fase de profundo crescimento e transformação pessoal. No final das suas experiências, cada um deles começa a manifestar preocupação com o futuro da terra e com a preservação da vida humana e de outras formas de vida. Absolutamente todos os sequestrados com quem trabalhei de perto estão empenhados em mudar o seu relacionamento com a terra, vivendo de uma forma mais branda e em maior harmonia com as outras criaturas que aqui vivem. Cada um deles parece estar empenhado em mudar o seu relacionamento com as outras pessoas, expressando abertamente o seu amor e transcendendo os seus impulsos agressivos. Alguns sequestrados, entre os quais Eva, Peter, Carlos e Artur pretendem utilizar a sua perpectiva evolutiva para influenciar os outros e tornaram-se professores que pregam uma nova forma de vida. Para além disso, os sequestrados parecem ser particularmente intuitivos, especialmente depois de confrontarem e integrarem as suas experiências; demonstram por vezes grandes capacidades físicas, incluindo a clarividência e a capacidade premonitória. É necessário investigar um pouco mais de modo a poder documentar estas capacidades. INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 475 Qualquer pessoa que investigue o fenómeno de sequestro deve, em determinado momento, confrontar-se com a questão de saber se estas manifestações de crescimento pessoal são uma consequência do trauma — um confronto fortíssimo com forças desconhecidas — ou se são um aspecto intrínseco do fenómeno de sequestro. Pode argumentar-se que, afinal de contas, as vítimas da guerra, das violações, do abuso e de outras experiências traumatizante s podem ter um crescimento ao nível emocional e espiritual, uma vez que as suas experiências permitiram descobrir novas e mais profundas potencialidades dentro de si mesmas. Comparar isto com a «síndrome de Estocolmo», segundo a qual as vítimas de comportamentos abusivos acabam por se identificar com os objectivos do autor do crime, é não ter em consideração as subtilezas destes contactos. A Dr" Judith Herman, especialista em traumas crónicos de mulheres espancadas, prisioneiros políticos e vítimas de tortura (Herman 1992), refere a incapacidade de recordar pormenores do sucedido como uma das reacções ao controlo coercivo. Herman refere que quando uma vítima é ameaçada com violência e sofrimento, deixa de ter controlo sobre as funções fisiológicas, sente desconfiança em relação à aplicação das leis e recebe recompensas intermitentes, a sua auto-confiança é destruída e a vítima chega a sentir-se abandonada. As vítimas destes traumas identificam-se muito com os seus carrascos, chegando mesmo a escolher

«voluntariamente» ficar com eles, caso cessem as ameaças físicas. É verdade que os sequestrados podem sentir terror e mesmo dor quando são submetidos aos exames. As acções levadas a cabo pêlos extraterrestres são também frequentemente imprevisíveis, umas vezes assustadoras e outras vezes compensatórias. Contudo, contrariamente aos objectivos limitados e egoístas dos criminosos humanos e dos raptores políticos, os seres são movidos por objectivos altruístas e possibilitam aberturas em relação a uma visão do mundo profunda e mais expansiva, fortemente interiorizada por muitos sequestrados. Sou de opinião, baseada em informações fornecidas pêlos sequestrados, de que a expansão da consciência e a transformação pessoal constituem uma característica fundamental do fenómeno de sequestro. Cheguei a esta conclusão ao observar que a informação transmitida aos experimentadores pêlos seres extraterrestres, caso a caso, é sobretudo acerca da necessidade de mudarmos a nossa cons476 SEQUESTRO ciência e o nosso relacionamento com a terra e com os outros. Até mesmo o abandono, a perda ou a cessação de resistência ao controlo que são muitas vezes impostos pêlos extraterrestres — um dos aspectos mais traumatizantes da experiência — parecem, de certa maneira, «destinar-se» a desencadear uma espécie de morte do ego, e possibilitar o crescimento pesssoal e a expansão da consciência. Mas esta minha preocupação com o crescimento e a transformação pode ser reflexo de um preconceito meu. As pessoas que me contactaram conhecem o meu interesse por estes aspectos da psicologia humana, e estão conscientes de que encaro o meu trabalho com os sequestrados como um processo co-criativo. Em alguns casos — como por exemplo o caso de Artur — o empenhamento em relação à preservação do ambiente e transformação humana são anteriores ao nosso contacto. Uma palavra ainda sobre o estado de tensão em que vivem as esposas e outros familiares, tensão essa que é criada pelas experiências dos sequestrados. Essas experiências podem dominar as suas vidas e, tal como aconteceu com Peter e Jerry, os sequestrados necessitam de um grande apoio por parte das suas esposas, maridos e outras pessoas que, por seu lado, podem sentir que as suas próprias necessidades não estão a ser satisfeitas, uma vez que o sujeito fica preocupadíssimo com o que lhes possa ter acontecido. Se os amigos e familiares do sequestrado não são sequestrados, podem ter dificuldade em acreditar em tudo aquilo, uma vez que a sua noção de realidade é posta em causa. Pode acontecer que neguem tudo, apesar de haver fortes evidências de que algo de importante se está a passar com aqueles que amam. Há também o caso dos pais sequestrados que podem ficar preocupados quando não conseguem suportar o que está a acontecer com os seus filhos; todo este processo é, por vezes, ainda mais doloroso para um pai ou mãe — lidei com alguns casos em que a criança sente que o «verdadeiro» pai ou mãe é um(a) extraterrestre. Há casos, como o de Eva, em que a relação do casal se torna tensa, quando o sequestrado sente que «cresceu» mais do que o outro, que se mostra incapaz ou que recusa partilhar os amplos domínios que ele ou ela descreve. Torna-se necessário desenvolver mais trabalho no sentido de apoiar os familiares dos sequestrados que se revelem interessados em compreender e em participar nas novas experiências daquele(a)

que amam. INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 477 ALGUMAS IMPLICAÇÕES DO FENÓMENO DE SEQUESTRO Quando o poder das experiências de sequestro deixou de funcionar, Sheila disse: «Isto simplesmente não se ajusta à minha concepção do mundo». Face a isto, Sheila, ou qualquer um de nós, tem uma opção. Ou se continua a tentar que o fenómeno se ajuste à nossa concepção do mundo, comprimindo-o numa espécie de leito procustiano da realidade consensual; ou podemos consciencializar-nos de que pode haver outros mundos para além dos que conhecemos. O nosso pensamento conduzir-nos-á então com toda a liberdade. Não posso desencorajar aqueles que tentam encontrar explicações convencionais para o fenómeno de sequestro. A única coisa que posso dizer, como clínico, é que passei horas infindas a tentar encontrar explicações alternativas que não me obrigassem a alterar a minha visão do mundo. Mas, tal como referi no capítulo dois e tal como ficou claro através das narrativas de cada um dos casos, nenhuma teoria ou explicação conhecida se adapta sequer às características primárias do fenómeno de sequestro. Em resumo, as coisas são como são, apesar de continuarmos sem saber qual é a causa última destas experiências. IMPLICAÇÕES CLÍNICAS Várias pessoas cujos casos foram descritos neste livro foram tratadas por psicólogos, e por outros médicos que não estavam familiarizados com o fenómeno de sequestro por OVNI. Durante a sua infância e adolescência, Scott foi várias vezes submetido a testes de epilepsia, tomou medicação anti-epiléptica durante alguns anos, e chegou mesmo a ser internado para avaliar e tratar os seus estranhos sintomas relacionados com o sequestro. Sheila foi submetida durante vários anos a uma psicoterapia ineficaz, tendo sido avaliada por profissionais de saúde metal que se mantinham cépticos em relação ao sequestros extraterrestres e por OVNI. Desnecessariamente, tudo isto resultou numa tensão extrema. Paul frequentou a psicoterapia durante anos, orientado por uma psicóloga que não era capaz de aceitar a realidade das suas experiências de sequestro. Jerry e o seu primeiro marido recorreram a vários conselheiros que se limitaram a dar inúteis explicações convencionais para os seus conflitos, que 478 SEQUESTRO tinham a ver com a sua intimidade e sexualidade. Os profissionais de saúde mental que lidam com sequestrados são colocados perante desafios concretos. É óbvio que é importante tentar saber se há condições que facilitam, ou que possam existir, para além dos sintomas relacionados com o sequestro. Tenho trabalhado com uma jovem senhora que se esforça por entender tanto os seus sequestros extraterrestres como as suas experiências de abuso sexual. Contudo, uma análise cuidadosa mostrou que uma coisa não explica a outra, e que, se lhe for dada a devida oportunidade, esta senhora é perfeitamente capaz de distinguir as consequências distintas de uma e de outra. Mas as avaliações de possíveis casos de sequestro devem ser levadas a cabo por médicos e outros clínicos que estejam pelo menos familiarizados com estes fenómenos ou abertos à realidade destas experiências, mesmo quando não «acreditem» nisso. Existem actualmente muitos livros sobre o assunto, jornais conhecidos e outros periódicos, ou

mesmo revistas para profissionais, comprovando que há algo que desafia as explicações convencionais e que está a acontecer com várias pessoas. Tal como afirmou Sheila, não há desculpa «para atitudes ignorantes». O fenómeno de sequestro coloca também interessantes questões relacionadas com a natureza da memória e com o controlo da consciência. Tal como se refere no capítulo um, a prevalência ou incidência do número de sequestros por OVNI deixa de ter significado se tivermos em conta que a memória de situações há muito esquecidas pode ser despoletada por um acontecimento — o passeio de Ed ao longo da co.ta em Maine, ou a conversa de Artur com a irmã no decorrer de uma reunião de família — cuja ocorrência é imprevisível. Que forças mantêm a memória consciente inactiva durante anos — mais de vinte e cinco anos em ambos os casos — durante os quais aparentemente não existe qualquer recordação do acontecimento? Os próprios sequestrados consideram que há algo mais do que simples repressão — que os seres extraterrestres impõem uma força repressora. Ed, tal como foi referido, lembra-se que lhe disseram que ele se lembraria «quando houver necessidade disso». Por vezes este esquecimento parece proteger os sequestrados de uma angústia que não seriam capazes de suportar, especialmente no que se refere às crianças. Mas ainda sabemos muito pouco sobre a forma como esta força repressora actua ou porque é que um estado de consciência

INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 479 alterado, associado a um contexto onde existe atenção e afecto, se toma tão eficaz para a recuperação das memórias de sequestro. Estas estranhas vicissitudes da memória parecem fazer parte de um fenómeno mais alargado. Os extraterrestres, ou qualquer outro agente, parecem ser capazes de controlar as mentes e as percepções dos sequestrados. Durante as regressões, é comum acontecer que as esposas ou outras pessoas que estão presentes na mesma sala quando o sequestrado é levado, fiquem como que «desligadas», ou seja, fiquem em certa medida inconscientes durante o sequestro. Isto pode ser bastante grave se o sujeito solicita ajuda para a sua angústia e desamparo. Esta alteração da consciência pode estar relacionada com as diferentes percepções dos OVNI por parte de quem está a assistir. Houve casos em que algumas pessoas em determinadas condições não foram capazes de ver um OVNI, que no entanto foi visto facilmente por outras (Crawford 1993). Com efeito, a investigação destes aspectos permitir-nos-á compreendê-los melhor. O fenómeno de sequestro extraterrestre parece ensinar-nos alguma coisa sobre o papel redentor e transformacional da emoção na vida humana. O terror, a raiva, a dor e, em raras ocasiões, a alegria manifestados durante as minhas sessões com os sequestrados, foram exteriorizadas de uma forma fortíssima, que nunca antes tinha testemunhado. Tanto para mim como para as outras pessoas presentes nas sessões, e também para os próprios sequestrados, é esta intensidade de recuperação da emoção que confere inegável autenticidade ao fenómeno. Todas as pessoas que acompanharam estas sessões concordam que alguma coisa aconteceu com estas pessoas, quer seja possível ou não identificar a origem do que aconteceu. Convém acrescentar que esta intensa emoção, especialmente no modo com foi sentida e exteriorizada através de movimentos corporais e forte vocalização, parece ter um poder transformador, especi-

almente quando o orientador acompanha o experimentador durante a sua re-evocação mais poderosa. As reacções do corpo parecem literalmente conduzir o sujeito até novos domínios da consciência física. Quando isto acontece dá-se uma expansão da consciência ou alargamento do conhecimento. Peter, por exemplo, descobriu que foi a intensidade da sua experiência ao nível do corpo quando estava a reviver os seus sequestros que permitiu — ou talvez o forçou, a tomar consciência da realidade do próprios seres extraterrestres, que se tornou num passo essencial da sua viagem espiritual. É possível 480 SEQUESTRO que a experiência do terror, ou «ser empurrado para tal», seja um aspecto inerente ou necessário para romper as fronteiras psicológicas que limitam a nossa percepção da realidade. Quando Catherine descobriu que era capaz de sentir dentro de si mesma — e expressar totalmente aos extraterrestres — o terror e a raiva, tornou-se possível estabelecer com eles um mútuo relacionamento, significativo e criativo. Com efeito, o fenómeno de sequestro extraterrestre parece conduzir os sequestrados e aqueles que com eles trabalham a domínios mais profundos da emoção humana, quer este seja ou não um «objectivo» específico do fenómeno. O fenómeno de sequestro parece também abrir novas perspectivas para travar a destruição humana. Os extraterrestres, como aconteceu por exemplo nos casos de Peter e Paul, parecem ter ficado perplexos com a nossa agressividade em relação aos outros e especialmente com a nossa aparente complacência em relação à destruição da vida no planeta. Tal como disse Paul, adoptando o ponto de vista extraterrestre: «Nós não entendemos porque é que optaram pela destruição». Na verdade, a dimensão da nossa destruição, tal como foi ilustrada pêlos extraterrestres, reflecte a inadequação das nossas teorias de agressão biológicas e psicológicas e a necessidade de lançar um novo olhar sobre esta nossa característica individual e colectiva. «Um organismo que atinge um tal grau de destruição devia parar e aprender com os seus próprios actos», disse Paul. Eu, enquanto estudioso das consequências, ao nível psicológico, da ameaça nuclear, só posso concordar. IMPLICAÇÕES NOS DOMÍNIOS DA FÍSICA, TECNOLOGIA E BIOLOGIA Os primeiros relatos de OVNI colocaram questões à ciência actual, que se limitava a ignorar ou a negar o problema. Como é que as naves espaciais chegaram até ali? Que sistema de propulsão usam? Como é que projectam luz e calor extraordinariamente fortes sobre distâncias enormes, ou como é que aceleram e mudam de direcção, aparentemente desafiando as leis da gravidade? Estas são questões às quais é difícil responder dentro dos parâmetros da física moderna. O fenómeno de sequestro apenas acrescentou novos ingredientes a velhos puzzies tecnológicos. Como é que, por exemplo, os extraterINTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 481 restres conseguem fazer passar as pessoas através de paredes? Carlos descreve a sensação de vibração das células e dissolução quando estava a ser transportado por um raio de luz, deixando para trás uma espécie de forma fantasmagórica. Mas exactamente em que consiste este processo transformativo, é coisa que virtualmente desconhecemos. Que mecanismos permitem curar tão rapidamente cortes e

outras lesões? Houve certa vez um senhor que mencionou um golpe fundo, com vários centímetros de profundidade, que lhe apareceu na perna depois de um sequestro. O corte desapareceu completamente passadas vinte e quatro horas. Que processos permitem marcar os sequestrados, permitindo que sejam encontrados sempre e quando os seres desejam? Terão os implantes alguma coisa a ver com isto? Foi dito que tecnologicamente os extraterrestres estão vários milhares de anos à frente dos seres humanos. Talvez assim seja. Em qualquer dos casos, não podemos começar a responder a nenhuma destas perguntas dentro do quadro da ciência moderna. É comum dizer-se que há necessidade de se proceder a estudos multidisciplinares que combinem a física com religiões e espiritualidades comparativas, de modo a permitir entender as propriedades interdimensionais de ligação do fenómeno de sequestro. IMPLICAÇÕES FILOSÓFICAS Quando afirmo que o fenómeno de sequestro por OVNI parece exigir uma mudança na nossa visão do mundo, isto pode ser encarado de duas maneiras. Por um lado, os extraterrestres e os próprios OVNI parecem, como anteriormente foi referido, comportar-se de forma a desafiar as leis físicas vigentes e os princípios da biologia, exigindo no mínimo que alarguemos o nosso conhecimento do mundo material para podermos entender o funcionamento dos OVNI. Mas estes problemas pertencem em grande parte ao domínio da ciência, tendo em conta a sua evolução ao longo dos tempos. Afinal de contas, as capacidades dos nossos foguetões e sistemas de comunicação electrónica poderão parecer mágicos aos olhos de uma pessoa da Idade Média. Mas a sua criação é o resultado de avanços no domínio da ciência e da tecnologia ocidentais. Mas há muitas outras questões fundamentais que o fenómeno de sequestro coloca e 482 SEQUESTRO que parecem estar fora do contexto ontológico da ciência moderna, e os métodos que usa não permitem a sua avaliação. Em primeiro lugar está a questão da definição da realidade em que ocorrem as sequestros. Alguns sequestrados transmitiram-me a sensação de que pelo menos algumas das suas experiências não ocorriam nas dimensões físicas de espaço/tempo do nosso universo. Faziam referência a extraterrestres provenientes de outras dimensões, através de uma fenda ou abertura numa espécie de barreira, introduzindo-se no nosso mundo «por detrás do véu». Os sequestrados, mesmo aqueles cuja formação académica não lhes permitia explicar tais abstrações e deslocações estranhas, referiram o desmoronar das categorias de espaço/tempo que ocorria durante as suas experiências. Sentiam que os extraterrestres, os seus próprios sequestros faziam parte de uma outra realidade, embora a considerassem tão fortemente real quanto _ ou mais do que — o mundo físico habitual. Sara, a pessoa com nível de habilitações literárias mais elevado da minha amostragem, talvez tenha falado em nome de muitos experimentadores quando descreveu um dos seus sequestros como «fusão dimensional... Não conseguimos avaliá-la em termos descritivos linguísticos e físicos desta dimensão», disse ela, «porque de facto não se passou aqui. Passou-se metade aqui, metade noutra dimensão.» Catherine, durante uma regressão datada de Janeiro de 1993, alguns semanas depois da última a que me referi, falou de um «lugar» que recordava, entre os períodos de encarnação na Terra.

Nesse «lugar» os corpos não eram sólidos, possuindo apenas uma espécie de contorno de energia. «Isto passou-se há muito, muito, muito tempo», explicou. «Isto é anterior a qualquer um de nós. Este lugar faz parte de um universo totalmente diferente. Não existe na nossa dimensão espaço/tempo da Terra.» Uma jovem sequestrada, que chamarei de Anne, tentou explicar-me durante uma regressão o que eram as estruturas temporais convergentes que ocorriam durante os seus sequestros. Dava a sensação que existia simultaneamente em tempos diferentes. «Os tempos todos convergem num só lugar», disse ela. «Isto é real. Não é filosófico», insistiu. «Na verdade, posso ir para uma outra estrutura do tempo e [as minhas experiências] puxam-me para aqui.» A utilização que fazemos de palavras como «acontecimento», «ocorrido» e «real» deve remeter para um significado diferente, talINTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 483 vez menos literal. Quando um acontecimento parece ter ocorrido noutra dimensão, como aconteceu com os que foram descritos por Catherine e Anne, e temos acesso a eles principalmente através de experiências muito intensas — quando a consciência é o principal instrumento epistemológico que temos à nossa disposição — como é que decidimos o que é «real» ou «verdade»? A palavra «sonho» ou o conceito de sonho, é um bom exemplo de uma palavra vulgar que deve ser utilizada com mais cuidado, até mesmo redifinida. Quando os sequestrados classificam as suas experiências de «sonhos», o que de facto acontece muitas vezes, uma análise mais cuidada pode fazer deduzir que se pode tratar de um eufemismo para uma coisa que eles sabem não se tratar de um sonho, nomeadamente um acontecimento que não pressupõe acordar noutra dimensão. Fui por várias vezes testemunha da angústia, até mesmo das lágrimas no rosto do sequestrado que escolheu uma experiência que comodamente classificou de sonho e que chega à conclusão de que estava perfeitamente «acordado» (outra palavra que precisa de ser redifinida) ou consciente, apesar de se tratar de algo que encarou como diferente. O problema complica-se ainda mais na medida em que normalmente os sonhos são para nós um importante meio de processamento e integração da experiência durante a noite. Os sequestros são em si mesmos experiências muito fortes e perturbadores, e por isso não admira que possam desencadear verdadeiros pesadelos ou sonhos que recriam de uma maneira diferente a experiência de sequestro, até na mesma noite em que o sequestro ocorreu. Convém referir novamente que é necessário proceder a uma análise cuidadosa para concluir que o que está a ser narrado (l) é um sequestro, distorcidamente classificado de sonho; (2) é um sonho que revive uma experiência de sequestro; ou (3) é simplesmente um sonho que faz referência a material relacionado com OVNI mas que não reflecte necessariamente uma experiência de sequestro. A segunda hipótese é distinta da primeira na medida em que é possível identificar o momento do acordar, de tomar consciência de que se tratou de um sonho; também pode haver elementos da experiência que não ocorrem dentro do cenário conhecido das sequestros. Por fim, sabemos que, nos sequestros, o acontecimento encaminha-se inexoravelmente em direcção a um fim, e que a pessoa não é capaz de o interromper ou tentar «acordar». Os sonhos vulgares que incluem

484 SEQUESTRO referências a OVNI não se podem comparar aos sonhos que revivem experiências de sequestro, porque são normalmente menos nítidos ou intensos, e a pessoa que sonha não tem a sensação, como acontece nos sonhos relacionados com o sequestro, da existência dissimulada de uma experiência que esteja na base das representações do sonho. Actualmente sabe-se muito pouco sobre o lugar de proveniência dos seres extraterrestres — talvez nem saibamos mesmo que linguagem e que conceitos se devem utilizar. Sabemos contudo que alguma coisa está a acontecer e que não podemos ficar indiferentes. Vivemos presentemente num universo muito diferente desse outro, sobre o qual nos falaram em casa e na escola. Esse universo, o tal que a ciência ocidental analisou e classificou com tanto sucesso, é constituído por matéria e energia, talvez dispostas de uma forma ordenada, mas tanto quanto sabemos desprovido de inteligência ou inteligências que possam ser descobertas através dos seus métodos. Nesta perspectiva, as várias entidades espirituais. Deus ou deuses e outros seres míticos que as pessoas em todo o mundo, incluindo na nossa própria cultura, sentem que são reais, não possuem contudo qualquer realidade objectiva. São objectos de estudo da psicologia e da psicopatologia, da antropologia, da teologia, da ficção científica, projecções exteriores das percepções e imagens mentais. Estas entidades só são reais em termos metafóricos e simbólicos, como acontece na poesia. Tomar consciência de que nesse universo (ou universos) vivem outros seres que são capazes de se introduzir no nosso mundo e afectar-nos intensamente, como acontece com as entidades extraterrestres, exige uma expansão das nossas noções de realidade que, de uma forma radical, porá em causa a ideologia científica e filosófica ocidental que o filósofo, Michael Zimmerman chama de «humanismo naturalista» (Zimmerman 1993). Os seres extra-terretres que parecem chegar do céu, em estranhas naves espaciais, vêm desafiar e confundir esta ideologia naturalista e objectiva. Isto acontece porque eles parecem partilhar as propriedades que caracterizam tanto o mundo espiritual como o material, unindo, aparentemente sem qualquer esforço, estes dois domínios que, a partir do momento em que a ciência e religião se separaram no século XVII (Toulmin 1990), se tornaram cada vez mais sagrados e indivisíveis. Os sequestrados parecem, por um lado, ser capazes de ver estes seres, sentem o movimento dos seus corpos e descobrem INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 485 pequenas lesões que lhes foram infligidas. Por outro lado, os seres parecem provir, como intermediários de Deus ou do Diabo, de uma fonte destituída de corpo, e são capazes de abrir a consciência dos sequestrados para domínios do ser que não existem no mundo físico que conhecemos. Antes de concluir, quero ainda especular sobre a barreira que separa o mundo espiritual do material, construída pelo Ocidente. É esta falsa dicotomia que origina o nosso confronto com os seres que não consideram esta divisão tão chocante. IMPLICAÇÕES ESPIRITUAIS Perguntam-me muitas vezes como é que experiências tão traumáticas, e por vezes tão cruéis, podem ser também espiritualmente transformadores. Em minha opinião, não existe qualquer incongruência, a menos que consideremos que a espiritualidade pertence aos domínios do sublime onde não existe dor e luta. Por vezes, a nossa apren-

dizagem e desenvolvimento espiritual mais importante faz-se com professores severos que não dão importância aos nossos conceitos, defesas psicológicas ou opiniões fundamentadas. O ensino budista Zen é conhecido pêlos seus métodos duros. Pode mesmo argumentar-se que o verdadeiro cescimento espiritual é inevitavelmente perturbador, porque implica a separação das fronteiras do consciente e a abertura para novos domínios da existência. Os seres extraterrestres a que os sequestrados se referem vêm de um outro domínio que se pressente estar mais próximo da origem do ser e da criação original. Foram descritos, apesar da aparência simples, como intermediários ou emissários de Deus, até mesmo anjos, como aconteceu com Carlos. A percepção da sua exitência, após o choque ontológico inicial, é por vezes (vide os casos de Peter e Catherine, por exemplo) o primeiro passo para a abertura da consciência perante um universo que deixa de ser material. Os sequestrados chegam mesmo a considerar que esse universo está repleto de inteligências e é, ele próprio, inteligente. Desenvolvem um sentimento de temor perante um cosmos misterioso que se torna sagrado e provido de alma. A noção de separação do resto do universo deixa de fazer sentido e a experiência da unicidade torna-se um aspecto essencial na evolução da consciência dos sequestrados, tal como foi referido por Joe em relação ao seu próprio desenvolvimento bem 486 SEQUESTRO como ao do seu filho. Joe considerava que tinha de optar entre o uno e a insanidade. Os próprios extraterrestres podem ser encarados como uma divisão da alma ou do Eu do sequestrado; a re-integração da sua alma requer a integração desta dimensão que está separada. Muitos sequestrados com quem trabalhei, incluindo alguns que não constam deste livro, sentem uma espécie de êxtase que, como aconteceu com Carlos, pode atingir as proporções de um orgasmo à medida que sentem que as suas experiências (ou a sua evocação) vão ao encontro de uma fonte divina ou centro criativo do ser no cosmos. Para os sequestrados esta fonte é indescritivelmente luminosa e repleta de cor, e chegam mesmo chorar quando estão na sua presença, uma vez que a separação foi indescritivelmente penosa. Quando conseguem abrir-se novamente para esta fonte, chegam mesmo a chamar a esta experiência «o regresso» e protestam uma vez mais por terem de desempenhar uma nova tarefa como seres humanos, mesmo que concordem com ela. A medida que as suas experiências atingem o nível do consciente, os sequestrados parecem sentir um sentimento crescente de comunhão com todos os seres e com toda a criação. Isto expressa-se muitas vezes através de um amor especial pela natureza e por uma forte ligação com os animais e com os espíritos dos animais. Por vezes existe mesmo uma forte identificação com um animal concreto. Por exemplo, os veados são para Dave criaturas «totem»; Carlos sente uma ligação especial com leões; e Artur tem uma notável capacidade de ligação com vários animais. Os próprios extraterrestres, como vimos, podem aparecer aos sequestrados sob a forma de animais. A ligação que mantêm com os espíritos dos animais, uma espécie de dimensão xamânica, necessita de ser explorada. Finalmente, talvez a maioria dos sequestrados com quem trabalhei arduamente chegam a sentir que a sua elevada consciência espiritual deve ser utilizada no ensino ou em relação a um objectivo superior. Mesmo quando estão tristes, ou sentem que não há espe-

rança para a ecologia do planeta e para o futuro das formas de vida terrenas, sentem que as suas experiências têm a ver, em última análise, com a preservação da vida e que devem fazer alguma coisa com esse fim. Ed, Joe, Jerry, Eva, Peter, Sara, Artur e outros sentem que têm uma missão específica ou a responsabilidade de transmitir um tipo diferente de consciência que tem a ver com o lugar do humanos na Terra. Alguns deles, como Peter, Ed e Eva até mudaram de INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 487 emprego ou procuram encontrar novas perspectivas para o seu trabalho, de modo a atingir o novo objectivo das suas vidas. Peter prevê para o futuro uma «Idade Dourada» da aprendizagem e da oportunidade e espera poder ajudar nesse sentido. IMPLICAÇÕES PARA A IDENTIDADE HUMANA Cada sequestrado experimenta, em certo sentido, uma expansão do conceito que tem de si próprio, da sua identidade no mundo. Paul perguntava como é que era possível confundirmos a «concha» que nos envolve com o «todo»; e Eva, quando recordou a história de infância sobre o Soul Bird, reconheceu que havia compartimentos do seu Eu que estava a abrir e a fundir, de modo a substituir a fragmentação pelo todo. Esta mudança que os sequestrados atravessam tem a ver fundamentalmente com o facto de sentirem que deixaram de estar separados dos outros seres. Perdem a sua identificação com uma função social limitada e ganham o sentimento da unicidade com toda a criação, uma espécie de ligação universal. Esta abertura para uma identidade mais ampla parece ser a consequência directa das suas experiências de sequestro ou até mesmo um dos aspectos centrais de todo o processo. A mudança parece ser o resultado de dois elementos relacionados entre si. As próprias experiências de sequestro destroem a ilusão de controlo, e demonstram violentamente que estamos indefesos perante forças e seres cujo objectivo não entendemos. Cada sequestrado descobre que é apenas um ser inteligente num universo povoado por variadas entidades que é suposto «não existirem.» Compreendem que os seres humanos não são os senhores da terra, mas apenas crianças do cosmos que têm de descobrir uma forma de viver em harmonia com todos os tipos de criaturas na terra ou em qualquer lugar. Esta é uma terrível lição de humildade que abre a psique para uma percepção mais alargada do universo e dos seres e entidades que o povoam. Simultaneamente, como observei, os sequestrados tornam-se mais abertos perante a ideia de uma força divina, que preenche o seu ser e lhes dá uma sensação de ligação com uma consciência universal que é a sua origem e destino. As experiências com vidas passadas, que alargam o conceito do eu tanto sob a forma de um corpo como sob a forma de espírito, possibilitam a expansão do conceito 488 SEQUESTRO de ser humano. Finalmente, a sensação peculiar que muitos sequestrados têm durante as regressões de possuírem uma dupla identidade humana/extraterrestre reforça todo o processo anterior. Isto porque o eu extraterrestre é entendido como uma espécie de fragmento que falta, um laço espiritual com a fonte universal ou consciência, a anima mundi a que estiveram ligados. IMPLICAÇÕES POLÍTICAS, ECONÓMICAS E RELIGIOSAS A visão do mundo ocidental científica e materialista tem tido enormes êxitos no que se refere ao mundo físico, revelando muitos dos

seus segredos e pondo o seu conhecimento ao serviço de objectivos humanos. Ultrapassámos a pior época, reduzimos o sofrimento através dos avanços da medicina, e aprendemos a comunicar electronicamente com aqueles que estão longe. Simultaneamente, usámos o nosso conhecimento para criar armas de destruição capazes de acabar com a vida. A forma como usamos a moderna tecnologia para arrancar os recursos da terra está danificar a biosfera. Somos uma espécie que não está em harmonia com a natureza, semeando a destruição à custa da vida de outros seres e da terra que nos deu a vida. Urge alterar este estado de coisas. Mesmo que reconheçamos o perigo que criámos, são muitos os direitos adquiridos com que nos deparamos quando pretendemos encontrar um equilíbrio no nosso relacionamento com a natureza. As poderosas instituições empresariais, científicas, educativas e militares gastam biliões de dólares em bens materiais e mantêm descuidadamente as coisas paralisadas, tornando-se difícil alterá-las. Em termos de comércio internacional, o mundo parece resumir-se a uma mercado gigantesco que se destina a ser repartido pêlos empresários mais espertos. Mas há direitos psicoespirituais que resistem à mudança e que são talvez mais poderosos do que os materiais. Estes interesses estão ligados ao conceito que diz que as leis físicas que conhecemos descrevem tudo o que existe, e se há outros seres que habitam o cosmos terão de se comportar mais ou menos como nós. O programa SETI (Search For Extraterrestrial Inteiligence — Programa para a Investigação da Inteligência extraterrestre), criado pelo Governo dos EUA, que opera segundo o princípio de que a inteligência extraterrestre pode ser descoberta através da emissão de ondas de rádio para INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 489 o universo, ilustra este preconceito. Parece que os seus inventores não consideram a hipótese destas inteligências avançadas preferirem não comunicar connosco aproveitando esta abertura insignificante e tecnologicamente limitada, procurando com isso, quem sabe, uma maior abertura da nossa consciência. O filósofo Terence McKenna sugeriu : «Procurar, cheios de esperança, um sinal transmitido por extraterrestres é provavelmente uma presunção cultural comparável a procurar na galáxia um bom restaurante italiano.» (Mckenna 1992) As razões por que nos mantemos de tal maneira apegados à nossa maneira de ver o mundo não são totalmente claras para mim. Talvez que um paradigma científico-explicativo, como por exemplo uma ideologia, dê a sensação de domínio e de poder. O mistério e a sensação de desconhecido são contrárias à necessidade de exercer controlo, e parecem, por vezes, inspirar tal terror que reaceamos poder rebentar, tal como aconteceu ao sapo da história do Tibete quando foi confrontado com um universo maior do que podia imaginar. Isto talvez sirva para explicar porque é que a elite cultural e política da nossa cultura parece estar mais vocacionada para a perpetuação da visão materialista da realidade. O fenómeno de sequestro por OVNI, que abala profundamente o paradigma ocidental e revela o seu descontrolo, é mais rapidamente aceite pelas classes mais baixas do que pelas classes mais sofisticadas em termos culturais, e intelectualmente mais avançadas. É, em larga medida, a elite científica e governamental, e os órgãos de informação que controla, que determina se aquilo em que acreditamos é real ou não, já

que são eles os principais benificiários da ideologia dominante. Esta «política ontológica» (Mark 1992) é pois a primeira arena em que a realidade e o significado do fenómeno de sequestro por OVNI se vão confrontar. Antes de ser compreendido o seu potencial significado em termos das nossas vidas individuais e colectivas, é necessário que seja encarado como um assunto sério e que seja retirado dos jornais sensacionalistas, ocupando um lugar de respeito na sociedade, fazendo que os órgãos de informação sofisticados sejam livres de desistir ou não da sua posição arrogante. O fenómeno de sequestro levanta problemas ao nosso governo e aos outros governos no mundo. A protecção das pessoas é uma prerrogativa do governo, e quando os funcionários governamentais têm conhecimento de que seres estranhos utilizando naves não localizadas por radar, desafian490 SEQUESTRO do as leis da gravidade e os conceitos de espaço/tempo, são capazes de invadir as nossas casas e sequestrar o nosso povo, isso cria problemas. Poderá ser esta a razão que faz que, desde o início, a política governamental respeitante a OVNI seja tão confusa, uma mistura tendenciosa de recusa e encobrimento que apenas serve para alimentar intrigas. O fenómeno de sequestro comporta ainda outras implicações ao nível político. A política, seja ela local, nacional ou internacional, é no fundo um jogo de poder. Queremos o poder para dominar, controlar ou influenciar uma esfera de acção. Mas o fenómeno de sequestro, ao demonstrar-nos que o controlo é impossível e até absurdo e ao revelar-nos a nossa identidade mais alargada no universo, apela à descoberta do significado do nosso «poder» num sentido mais profundo e espiritual. Os conflitos étnicos, derivados do facto de nos considerarmos apenas em termos regionais locais (aquilo que Erik Erikson chamou de «pseudoespécie») causam um sofrimento terrível e representam uma ameaça para a sobrevivência humana. A identidade global, cósmica e interligada, implícita ao fenómeno de sequestro por OVNI pode, pelo menos, servir para nos distrairmos das nossas intermináveis lutas pelo poder e domínio da terra. Tem a vantagem de nos conduzir em aventuras cósmicas potencialmente infinitas. Mas tudo isto depende da forma séria como encaramos este fenómeno e as suas implicações. As implicações económicas do fenómeno de sequestro são inseperáveis das implicações políticas. A perda da noção do sagrado, a desvalorização da inteligência e da consciência que existe na natureza e fora de nós, permitiu que os mais fortes explorassem os recursos da terra sem terem em conta as gerações futuras. O crescimento descontrolado transformou-se num fim em si mesmo, como continuamente proclamam os «indicadores» económicos, ignorando o inevitável colapso que acontecerá se o crescimento da população humana não for controlado e se a pilhagem dos recursos não parar. Para além disso, se o impulso consumista (eufemisticamente apelidado «forças de mercado») não for controlado, as desigualdades existentes na repartição de comida e outros bens serão maiores, dando origem ao caos e à guerra sem limites. O fenómeno de sequestro por OVNI não exerce uma influência directa sobre este problema. Não se destina nem pode «salvar-nos». Mas, como adiante se referirá, parece estar intimamente relacionado com a natureza da INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA

491

ambição humana, com as raízes do nosso instinto destrutivo e com o futuro do nosso comportamento colectivo. Se repararmos bem, os encontros são profunda e completamente esclarecedores tanto para os sequestrados como para todos nós. O fenómeno de sequestro por OVNI levanta problemas para algumas religiões implantadas. Desde o início dos tempos que grupos de seres humanos, reconhecendo o poder e os potenciais perigos das forças espirituais «que por aí existem», tomaram a seu cargo a tarefa de nos conduzirem pêlos «elementares caminhos» (Zock 1990) da vida. Os líderes religiosos esclarecem-nos sobre a natureza de Deus, e dizem-nos que seres espirituais ou outras entidades existem no cosmos. A Igreja Católica na Idade Média, por exemplo, zelando pela imposição de uma forma particular de monoteísmo baseada na Trindade, suprimiu implacavelmente o politeísmo centrado na adoração da natureza que existia em muitas partes da Europa. Não há lugar, especialmente dentro da tradição judaico-cristã, para uma variedade de pequenos desajeitados mas fortes seres que gerem uma estranha mistura de traumas e transcendências sem aparentemente terem em conta qualquer hierarquia eclesiástica ou doutrinal. Uma coisa é reconhecer que existe um «espírito» no universo e que «não estamos sós». Outra coisa é o «espírito» aparecer sob uma forma estranha e ameaçadora, parcialmente imaginada por nós. O melhor que podia acontecer era poder parecer confuso e difícil de integrar. O pior é que na visão dualista cristã estes seres de olhos escuros podem dar ideia de que são os companheiros do Diabo (Downing 1990). As tradições religiosas orientais, como é o caso do Budismo Tibetano, que sempre reconheceu a existência de várias entidades espirituais no cosmos, parecem ter mais facilidade para aceitar a realidade dos fenómenos de sequestro por OVNI do que os monoteísmos mais dualistas, que tanta resistência oferecem à aceitação destes fenómenos. O QUE ESTÁ EM CAUSA? E inegável que o fenómeno de sequestro por OVNI ocorre no contexto de uma crise planetária de grandes proporções. O poder e a ganância dos homens, cuja invencibilidade resulta da pilhagem dos 492 SEQUESTRO recursos da terra, fazem que os biosistemas do planeta estejam à beira do colapso. Estão a ser empreendidos esforços para tentar parar este processo a todos os níveis, mas a ameaça de destruição persiste. Os sequestros parecem ter em conta dois projectos contíguos: a mudança da consciência dos homens no sentido de evitar a destruição da vida na terra e a junção de duas espécies com vista à criação de uma nova forma evolutiva. MUDAR DE ATITUDE EM RELAÇÃO AO MEIO-AMBIENTE Aquilo que mais surpreendeu no meu trabalho sobre os sequestros com OVNI foi descobrir que o que está a acontecer com a terra tem consequências para todo o universo. O facto de a própria terra, e a sua potencial destruição, poderem ter um efeito que ultrapassa os seus próprios limites e o meio ambiente que a rodeia, era um assunto que não fazia parte da visão do mundo em que fui educado. Mas, pelas informações recebidas pêlos sequestrados, poder-se-ia concluir que a terra tem o seu próprio valor ou importância integrada num sistema mais amplo e interrelacionado que reflecte a interligação da vida na terra. O fenómeno de sequestro extraterrestre repre-

senta pois uma espécie de iniciativa que visa a correcção dessa ideia. Anne, a sequestrada a que já me referi e cujo caso não consta deste livro, aprendeu através das suas experiências que «todo o universo é auto-corrector, porque se uma parte de universo pode ser... como uma máquina que se auto-abastece, todo o conjunto tem de ser auto-correctivo como uma máquina que se auto-abastece.» Comparou o universo com uma tapeçaria: «Tudo está ligado. Se pegarmos num bocado da tapeçaria e fizermos um buraco ou um rasgão, estragaremos as partes que estão à volta. Se retirarmos um fio, os fios que estão ao lado juntam-se e amontoam-se e temos de refazer essa parte... Se estragamos uma parte do universo», continuou ela, «isso reflecte-se na parte seguinte e a parte que está pronta a substituí-la e a reajustar-se fará o mesmo.» Cada um dos sequestrados recebe informação a cerca da destruição do ecosistema da terra e sente-se obrigado a fazer alguma coisa para o evitar. Mas, tal como vimos através dos casos apresentados, essa informação não é recebida puramente em termos cognitivos, como um sermão. Os sequestrados são confrontados com imagens INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 493 terríveis da destruição, com o colapso das infraestruturas governamentais e económicas e a total poluição e desertifícação do planeta. Tudo isto é profundamente sentido ao nível físico e eu ficava extremamente comovido quando os via no sofá a soluçar e com dores de cabeça de tal maneira fortes que mal conseguiam falar. Este é o tipo de conhecimento que faz apelo à acção. No Congresso do Parlamento Mundial das Religiões realizado em Setembro de 1993 em Chicago, a escritora e futurista Jean Huston afirmou que todos os mitos se manifestam inicialmente sob a forma de traição. Talvez a traição manifestada pêlos seres os humanos em relação à terra esteja a dar origem a um novo mito de relacionamento e criação entre as espécies. O «PROGRAMA» HÍERIDO O trabalho pioneiro de Budd Hopkins e David Jacobs revela aquilo que é amplamente corroborado pêlos meus casos, nomeadamente que o programa de reprodução com vista à criação de uma espécie híbrida extraterrestre/humana é um dos objectivos principais do fenómeno de sequestro. Se compararmos as experiências de vários sequestrados veremos que durante os sequestros é retirado esperma aos homens e óvulos às mulheres, e depois este plasma germinativo é misturado e alterado. Este processo é denominado «genético» pêlos sequestrados e investigadores, mas não existem provas da sua ocorrência. Este ovo alterado é introduzido no útero durante o sequestro seguinte, entra em gestação durante algumas semanas e depois é removido. Depois os fetos híbridos são «incubados» em tanques ou cilindros (como aconteceu no caso de Catherine e no desenho) até que os fetos tenham o tempo necessário para sobreviver fora das incubadoras, numa espécie de sala nas naves. Periodicamente, as mães e os pais sequestrados são trazidos à presença dos filhos híbridos e encorajados a abraçá-los e a amá-los, o que constitui um dos aspectos de todo o processo que gera maior perturbação. Isto acontece porque os sequestrados sentem naturalmente um conflito interior perante a perspectiva de criar um laço forte com uma descendência estranha que só podem ver raramente, quando os extraterrestres assim o entendem. Apesar do seu ressentimento devido à natureza forçada e traumatizante deste processo, absolutamente todos os sequestrados com

494 SEQUESTRO quem trabalhei acabaram por concordar em participar neste programa. Penso que «a identificação com o agressor», como por vezes é referida, é uma explicação demasiado simples para a atitude do sequestrado face ao processo híbrido. Tanto os homens como as mulheres acabam por sentir, apesar da sua fúria, que fazem parte — mesmo que tenham escolhido participar — de um processo que gera vida e dá a vida. Para além disso, para a maioria dos sequestrados a hibridização ocorre em simultâneo com um processo de esclarecimento violento que se destina a mostrar o falhanço da experiência humana sob a presente forma. Os sequestrados acabam por sentir profundamente que a morte dos seres humanos e de um número infinito de outras espécies ocorrerá em grande escala se persistirmos com a nossa atitude e que é forçoso desenvolver uma espécie de forma nova de vida se quisermos preservar a essência biológica e espiritual do homem. Normalmente não questionam o facto da manutenção da vida humana ser feita através daquela forma estranha. Partindo do princípio que os seres híbridos representam a espécie que irá repovoar o nosso planeta depois do profetizado holocausto ambiental, pedi repetidamente aos sequestrados para me explicarem as razões do seu aspecto apático e frágil nas naves, dificilmente compatível com a ideia de perpetuação da espécie humana ou qualquer outra. Apenas Peter me respondeu dizendo que não os achava apáticos e que tinham um vitalidade própria. Jerry, durante um sequestro recente, vira jovens híbridos bastante bonitos, parecidos com anjos e com pele de porcelana; a sua função era mostrar-lhe num ecrã o destino inevitável da terra, se o nosso actual procedimento não for alterado. No meu entender, o papel que os seres híbridos estão a ser preparados para representar representa um dos aspectos mais confusos de todo o fenómeno de sequestro. Aqueles investigadores que têm uma posição contrária em relação ao fenómeno de sequestro tendem a interpretar o seu significado unilateralmente. Argumentam que os extraterrestres nos estão a utilizar em seu próprio proveito, reabastecendo o seu stock genético à nossa custa, depois de se ter verificado uma espécie de holocausto no seu próprio planeta. Se conseguem fazer-nos sentir que há algo de válido em todo o processo, é porque isso faz parte da fraude. Não nego que os extraterrestres possam ter recorrido à fraude para ocultar os seus propósitos, mas considero que o argumento anterior é demasiado limitado e linear para poder ser considerado uma interpretação.

INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 495 Considero que podemos estar em presença de algo muito mais complexo, nomeadamente uma fusão de duas espécies, concebida por uma inteligência que não conseguimos abarcar, para atingir um objectivo que nos serve a ambos, e que comporta dificuldades para cada um. Baseio esta minha opinião nas provas apresentadas pêlos próprios sequestrados. Em primeiro lugar, muitos sequestrados, como por exemplo Scott e Peter, consciencializaram-se no decurso do nosso trabalho que a união entre extraterrestres e humanos está ao serviço das necessidades recíprocas de cada espécie, complementando aspectos da identidade de cada uma que faltam ou que se perderam no decurso do processo evolutivo. Utilizando uma linguagem menos técnica,

diria que os extraterrestres permaneceram fisicamente menos densos e mais próximos da fonte criativa, da qual os seres humanos foram separados. Interagindo sobre os sequestrados, eles conduzem-nos (e potencialmente a todos nós) para mais perto das nossa raízes cósmicas, fazendo-nos regressar à luz divina ou «Lar», um «lugar» (de facto um estado do ser) onde os segredos, os ciúmes, a ganância e a destruição não têm lugar. Os extra-terrestes, por outro lado, anseiam experimentar as fortes emoções resultantes do nossa personificação completa. Sentem-se fascinados com a nossa sensualidade, com o nosso calor, com a nossa capacidade para o erotismo e com o nosso profundo sentimento de pais, e parecem corresponder ao amor sincero. Por vezes parecem reagir como crianças carentes de amor. Deleitam-se quando vêem os seres humanos a praticar actos de amor de toda a espécie, chegando mesmo a encená-los quando os sequestrados se manifestam e eles estão a observar e a conversar. Em segundo lugar, o próprio relacionamento humano/extraterrestre cria laços fortíssimos. Apesar do seu ressentimento e terror, os sequestrados podem sentir um profundo afecto pêlos seres extraterrestres, nomedamente em relação aos líderes, afecto que sentem ser recíproco, apesar da forma fria e despachada como são conduzidos os sequestros. Os extraterrestres podem ser considerados como a verdadeira família, protegendo-os das depredações, da doença e da perda. O líder pode ser encarado como uma figura familiar, afectuosa e sábia, que o experimentador conhece desde a infância e a quem perdoam o facto de passar de companheiro de brincadeiras para desempenhar um papel mais sério e severo 496 SEQUESTRO durante os sequestros, quando se atinge a puberdade e se inicia o processo de criação híbrida. Anne descreve um incidente ocorrido no final de um dos seus sequestros, durante o qual um ser extraterrestre parecia estar involuntariamente a demonstrar a sua afeição por ela. Tinha regressado a casa e estava deitada, presumivelmente a dormir. Mas acordou e viu um dos seres «a olhar para mim de uma maneira apaixonada... ali a olhar para o meu rosto, para as partes do meu rosto... olhando para os meus olhos, olhando com tanta emoção e amor... Até que descobriu que eu estava acordada», disse ela, «ficou surpreendido... Os olhos [enrugaram-se], [ficaram] mais pequenos. Acho que a boca se abriu, mas ficou em silêncio, não emitiu nenhum som quando gritou». Viu no seu rosto «reminiscências de uma estrutura óssea delicada e alongada». Quando o olhou nos olhos a sua expressão era de quem pensava «Oh Meu Deus! Estás acordada e eu estou metido em sarilhos» e «depois zás, saiu pela janela... flutuando em posição horizontal, longitudinalmente... Acho que era um médico estagiário», observou Anne, e «não era suposto ter aquela manifestação pessoal... um extraterrestre que acordasse alguém teria muitos problemas porque eles não querem que nós saibamos que andam por aí.» A conexão que os seres humanos sentem quando olham os extraterrestres nos olhos parece ser uma das características centrais da percepção da existência dos seres e do estabelecimento da própria ligação. Os sequestrados descreveram frequentemente o sentimento de amor e absorção total que têm quando olham para aqueles olhos enormes, pretos e que tudo sabem. Uma senhora disse-me que este contacto é «cinquenta vezes mais poderoso» que qualquer ligação

entre seres humanos. Para Peter e outros sequestrados, a ligação através do olhar serve para recuperar uma «irmandade» perdida, quebrada quando ambos — humanos e extraterrestres — foram separados de uma origem primordial comum. É uma experiência de fusão completa, total e até feliz. Alguns sequestrados têm mesmo uma ligação ou associação sexual extraterrestre/humana — Joe, por exemplo, como extraterrestre, e Peter como humano, estabeleceram uma relação fortíssima com uma parceira extraterrestre que originou uma descendência híbrida. É necessário referir que não sabemos se algum destes fenómenos existe literalmente num plano puramente material da realidade, apesar das aparentes manifestações físicas, tal como a gravidez que INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 497 foi sentida e os bebés híbridos. Os extraterrestres acentuam o aspecto evolucionista do processo de fusão das espécies, o repovoamento da terra que se seguirá à completa destruição do meio ambiente. Mas tudo isto pode ser, de alguma forma misteriosa, uma espécie de brincadeira da consciência, de algum modo reencarnada, e ao mesmo tempo separada dos nossos corpos físicos. Tudo poderia ter objectivos «educativos», uma espécie de tragédia mítica, orientada por uma inteligência transcendente com o objectivo de conduzir o nosso ser para um nível superior. Ou a fusão da espécie extraterrestre e humana podia ser mais literalmente real, e a própria inépcia ser resultado da enorme dificuldade em juntar uma raça densamente personificada fisicamente como é a nossa, com entidades que se aproximam mais da espiritualidade, como acontece com os seres extraterrestres. OUTRA INTELIGÊNCIA A TRABALHARPORQUE É QUE ISTO PARECE SER TÃO GRAVE? No final de uma das suas regressões, Anne disse: «Há alguma coisa que está interessada em nós e que nós não queremos saber. Isto está a acontecer. Não se trata apenas de um pequenino sonho em que nos podemos sentir importantes. Isto é mesmo uma responsabilidade e há coisas que não queremos que aconteçam e que vão acontecer». Contudo, para a nossa cultura, pelo menos para aqueles que determinam o que é que devemos aceitar como real, só a existência desta inteligência, essa «outra coisa mais» que «está interessada em nós» é difícil de aceitar. Porque é que isso acontece, uma vez que cada cultura no início dos tempos e quase em todo o mundo, mesmo nos nossos tempos, aceitou a existência de outros seres no universo? Já antes referi algumas das razões que fazem que a realidade do fenómeno de sequestro seja tão difícil de aceitar para a nossa cultura — como é o caso dos direitos adquiridos ao nível material e filosófico que estão ligados à visão do mundo ocidental. Mas creio que existe uma crença crucial na nossa cultura que é violada pelo fenómeno de sequestro extraterrestre, nomeadamente a total separação do mundo físico e espiritual. Fizemos que esta divisão se tornasse inviolável, relegando o mundo espiritual (subjectivo) e atribuindo à ciência o domínio material (objectivo). Não sabemos pura e simples498 SEQUESTRO mente o que fazer quando um fenómeno cruza esta barreira sagrada. Viola as bases da nossa estrutura de crenças. Não existe nas nossas mentes lugar onde colocar tal coisa. O Dalai Lama referiu certa vez que a devastação da ecologia do

planeta estava a destruir não só o habitat das plantas e dos animais, mas também os domínios em que os espíritos residem. Talvez não lhes tenha sido dada outra hipótese senão manifestar-se no nosso mundo, aparecer-nos recorrendo à linguagem que nos resta, a linguagem do mundo físico. No contexto da crise planetária eles não tiveram outra opção, mas devem encontrar outra forma, por mais difícil que seja, de chegar até nós. Talvez a nossa consciência esteja tão atrofiada que não sejamos capazes de, por nós próprios, aceder ao mundo espiritual. Será que esta violação das nossas fronteiras psicológicas cuidadosamente erigidas, a dramática reabertura para um mundo do qual nos distanciámos, esta chocante reanimação dos sentidos que nos permitem aceder ao mundo espiritual, transformaram o fenómeno de sequestro extraterrestre tão difícil de acreditar? Talvez tenhamos criado as condições espirituais que fizeram que isto fosse necessário. POSTERIORES IMPLICAÇÕES PARA A CONSCIÊNCIA HUMANA Com a abertura da consciência para novos domínios do ser, os sequestrados encontram padrões e uma perspectiva de vida que lhes dão uma profunda percepção da interligação do universo. No caso de Dave isso manifestou-se através de coincidências significativas, idênticas ao que Jung chama de sincronias, que parecia descobrir em qualquer sítio onde fosse, especialmente depois de entender as suas experiências de sequestro. Pensamentos e ideias podem aparecer mais organicamente ligados com o mundo físico durante as experiências de sequestro do que usualmente parece acontecer na rotina diária. A metáfora parece tangível ou materializada. O «quarto passo» de Peter através da parede de uma casa de Nantucket, durante o seu sequestro de Agosto de 1992 era simultaneamente um acto físico literal e um poderoso símbolo da sua decisão de aceitar a passagem de um plano da realidade para outro. Para Artur, o fio iluminado ou cordão que literalmente era fonte de energia que o transportou até INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 499 à nave espacial quando tinha nove anos, simbolizava concretamente os laços que o ligaram a outros durante esta vida. Um técnico de saúde de quarenta e um anos de idade contou-me que havia tubos grandes através dos quais passou durante um dos seus sequestros «para o plano seguinte onde havia esta luz... Parecia um nascimento porque havia um fluido» no interior dos tubos. Atravessar os tubos era tanto literal como metaforicamente um «renascimento», uma passagem «através do véu, para o outro lado.» Catherine, durante um sequestro ocorrido depois dos que estão descritos no capítulo a ela dedicado, também se referiu a um tubo ou túnel através do qual ela e outros passavam de um plano espiritual fora da dimensão de espaço/tempo para o estado físico na Terra. A medida que desenvolvia o meu trabalho com os sequestrados, as experiências de sequestro também foram abrindo a sua consciência para os ciclos de nascimento e morte, que são reminiscências das realidades de transição tibetanas (Sogyal Rinpoche 1992). Isto é ilustrado de forma mais clara nas experiências passadas de reencarnação que emergiam cada vez mais nas nossas sessões, à medida que mostrava vontade de escutá-las. Estes relatos sugerem que a consciência do indivíduo pode ter a sua própria linha de desenvolvimento, separada do corpo. Durante as nossas sessões, sequestrados entre os quais destaco Dave, Joe, Catherine e Eva referiram-se com

emoção a períodos de encarnação, seguidos de mortes que foram evocadas com muita nitidez. Falam de um regresso a, ou transição para, uma espécie de consciência ou fonte criativa universal ou original, seguida de um renascimento posterior no ventre de uma mulher para uma nova reencarnação na terra. A transição que ocorre na altura da morte física parece incluir, tal como Joe referiu, uma sensação de ser literalmente mais leve e magro. «É bom regressar», disse ele. «Isto é muito mais real». Eva referiu-se a uma «alegria ascendente, expansiva». Penetrou «numa luz branca, dourada» e viu uma pomba a sair de uma gaiola. «É a minha alma», disse ela. Por vezes, os seres extraterrestres, que parecem habitar ou pertencer a esta dimensão fluida (embora periodicamente encarnem para vir à terra) parecem ter estado com os sequestrados em mais do que uma vida. Tal como foi analisado em pormenor nos capítulos dedicados aos casos de Dave e Joe, é possível traçar um desenvolvimento ou evolução da consciência na sequência das vidas que viveram ao longo dos tempos. 500 SEQUESTRO Não é necessário postular que a identidade de uma vida passada pertence literalmente ao sequestrado individualmente, da mesma maneira que os nossos corpos apenas nos pertencem enquanto habitamos neles. Tal como foi referido pelo biólogo Rupert Sheldrake é possível que exista uma espécie de memória colectiva eterna a que todos nós recorremos. Podemos, como sugere Sheldrake, «sintonizar uma determinada pessoa do passado, já falecida, e, através da ressonância mórfica, recolher memórias de vidas passadas». Afirma que isso não prova que «se foi essa pessoa» (Sheldrake 1992). A ideia comprova a observação de que a psique ou memória dos sequestrados parece ser capaz de viajar, durante a abertura da consciência que ocorre nas nossas sessões, para qualquer lugar e sempre que a exigência evolucionista do momento queira levá-la. A MUDANÇA PARADIGMÁTICA Escusado será dizer que nada disto faz muito sentido dentro dos parâmetros da perspectiva científica ocidental, «cujo ponto de partida», segundo as palavras do filósofo Richard Tarna, é a de que «qualquer significação que a mente humana descubra no universo não existe intrinsecamente no universo, mas é projectada nele pela mente humana.» Para Tarnas, «este vazio total do cosmos, este privilégio absoluto do humano» é talvez «a última projecção antroprocêntrica, a mais subtil, mas a mais prodigiosa forma do auto-enaltecimento humano» e representa «uma arrogância intelectual de proporções cósmicas.» As experiências recontadas pêlos sequestrados com quem trabalhei durante os últimos quatro anos constituem, penso eu, um valioso conjunto de evidências que provam que o cosmos, longe de ser desprovido de significado e inteligência é, e cito novamente Tarnas, «constituído por uma espécie de consciência universal», uma inteligência «com um poder, uma complexidade e uma subtileza estética que dificilmente apreendemos, mas que é contudo idêntica à inteligência humana, e na qual pode participar». Vem-me à ideia neste momento o caso de Carlos. Existe uma outra prova, para além das experiências profusamente documentadas de proximidade da morte e das extraordinariamente complexas e simbólicas formações que surgiram em todo o mundo, que fornecem indicações adicionais, se

INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 501 houver uma predisposição da nossa parte para entender as suas implicações, de várias expressões de inteligência num universo que pretende chegar até nós. Agora que me aproximo do fim deste livro, não posso deixar de me interrogar sobre aquilo que poderá despoletar a alteração da consciência, a mudança paradigmática implícita em toda a experiência vivida pêlos sequestrados. Pode parecer que o que é necessário é uma espécie de morte cultural do ego, algo que é muito mais inquietante (uma palavra que muitos sequestrados usam quando se apercebem de que as suas experiências são reais) do que a revolução de Copémico que demonstrou que a terra, e consequentemente a humanidade, não é o centro do cosmos. Os sequestros por OVNI e os fenómenos correlativos sugerem em primeiro lugar que os humanos não são os seres dotados de inteligência superior num universo mais ou menos esvaziado de vida consciente. Mas as experiências dos sequestrados também mostram que integramos um cosmos que contém seres inteligentes que, em certos aspectos, estão muito mais avançados do que nós e que conseguem controlar-nos para realizar objectivos que apenas agora começamos a abarcar. Cada sequestrado é para mim um pioneiro de uma viagem heróica. Quando sentem um terror que abala o seu ego, e nos dão a conhecer as suas experiências, a sua consciência abre-se à existência de dimensões desconhecidas do cosmos e da psique humana, que os sequestrados consideram estar profundamente e cada vez mais ligadas. E provável que o trabalho que desenvolvi com eles lhes tenha permitido perceber as suas experiências, e compreender a importância daquilo que têm para dar. Perguntam-me muitas vezes porque é que, se os OVNI e os sequestros são reais, as naves espaciais não aparecem de uma forma mais directa. «Porque é que não aterram no relvado da Casa Branca?», esta é a pergunta mais usual. A resposta mais vulgar a esta pergunta, dada por aqueles que encaram com seriedade estes fenómenos, é de que os extraterrestres não se atrevem a manifestar-se de forma mais directa. Os líderes governamentais entrariam em pânico, poderiam atacá-los e de certeza que nos transmitiriam esse terror. Creio que há uma resposta melhor para essa pergunta, mais consistente com a informação que este livro contém. O problema é que a inteligência que está aqui em causa não opera dessa maneira. Actua 502 SEQUESTRO de forma mais subtil, e o método usado é o de convidar, fazer pensar, permear a nossa cultura de cima abaixo, e abrir a nossa consciência de tal maneira que evite tirtar conclusões, o que de facto difere das nossas formas de actuação. Trata-se de uma inteligência que fornece muitas provas de que algo profundamente importante se está a passar, mas não faculta o tipo de provas que satisfaça o nosso método de conhecimento exclusivamente empírico e racionalista. Cabe-nos a nós compreender a realidade do fenómeno e dar um passo em frente no sentido de entender que vivemos num universo diferente daquele que nos fizeram crer que existia. Os investigadores do fenómeno de sequestro debatem a questão de saber se, face aos métodos cruéis e frequentemente aterrorizadores que os extraterrestres empregam, a inteligência que está por detrás é perversa e se pretende magoar-nos. É óbvio que para respon-

der a esta questão entramos num domínio de interpretação que ultrapassa as provas que possuímos. O nosso conhecimento sobre o «programa» híbrido, por exemplo, é muito superficial, e esse é um dos aspectos centrais do fenómeno de sequestro. A minha impressão geral, contudo, é que o processo de sequestro não é perverso e que as inteligências em causa não desejam fazer-nos mal. Pelo contrário, tenho a impressão — melhor será dizer a fé — de que a essência do fenómeno de sequestro tem a ver com a preservação da vida na Terra numa altura em que a vida do planeta está profundamente ameaçada. Qual é a perpectiva do futuro humano que os sequestrados referem quando regressam das suas viagens? Os sequestros por OVNI têm a ver, penso eu, com a evolução da consciência e a ruína de uma cosmovisão que colocou a humanidade numa espécie de epicentro da inteligência integrando um cosmos totalmente desprovido de vida e de significação. Quando nós, tal como fazem os sequestrados, deixarmos de ter a ilusão de que controlamos e dominamos o nosso mundo, talvez isso nos permita descobrir o nosso lugar entre muitas espécies, que possuem entre os seus poderes especiais a capacidade de amar, de pensar racionalmente e de auto-reflexão. Se deixarmos de pensar que somos a inteligência superior e dominante, podemos abrir-nos perante um universo que está repleto de formas de vida diferentes da nossa, com as quais podemos estabelecer ligações que ainda não somos capazes de compreender. O princípio de ligação, a força que expande a nossa consciência para além de nós próprios, parece ser o amor. Quando descobrirmos INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 503 essa interligação fundamental e afectuosa, seremos capazes de ultrapassar a sensação de fragmentação e evoluir para o todo, como indivíduos, membros de uma família e cidadãos do planeta. Nesta perspectiva, o mundo deixa de ser um simples mercado, cuja terra e recursos são divididos entre grupos humanos dominantes. A terra transformar-se-á na jóia da coroa da nossa existência, o lugar em que sentimos de novo a nossa ligação com uma origem cósmica, de que fomos separados. À medida que abrirmos a nossa psique, seremos capazes de abandonar o nosso pensamento dualista que dividia a mente da matéria, o mundo espiritual do físico. Os seres extraterrestres chegaram até aos sequestrados, provenientes de um lugar de origem que permanece ainda desconhecido para nós. Ainda não compreendemos completamente os seus objectivos e os seus métodos. Contudo, parece óbvio que «eles» tinham de chegar até nós, aparecendo sob uma forma material para que os pudéssemos conhecer. Especula-se que os seres extraterrestres dominam as técnicas de viagem através do tempo e que vêm do futuro. Por vezes chegam mesmo a comunicar que é provável que assim seja. Não sabemos. Mas o mito de referência ou regenerativo do fenómeno de sequestro fornece uma nova visão de um mundo que sobreviveu a vários holocaustos e ainda pode ser salvo de um cataclismo final. Parece claro que o fenómeno de sequestro tem a ver com aquilo que ainda está para vir. Apresenta, literalmente, visões de futuros alternativos, mas a escolha é nossa.

Related Documents

Sequestro John E Mack
October 2019 26
Mack
May 2020 5
Mack Visioncxn603
December 2019 7
Malvinas Sequestro
August 2019 24
Maria H Mack
December 2019 8