II.REFERENCIAL TEÓRICO O objetivo do presente Referencial Teórico pauta-se numa compreensão substanciada acerca da Análise do Comportamento. Para tanto, a proposta alicerçarse-á numa concatenação de idéias em torno do processo evolutivo da Psicologia. Em se tratando de fazer-se uma imersão no momento histórico, a priore, abordará
sobre o período denominado filosófico ou pré-científico, no qual serão
apontados as idéias primordiais concedidas em tal período, extensivo à Idade Antiga e Média, despontando na Moderna até a Psicologia Científica. Passando este momento, a ênfase recairá em torno no período científico, com a fundação do primeiro laboratório de psicologia em Leipzig, na Alemanha, fundado em 1879 por Wundt; culminando com as tendências ou escolas que surgiram neste período (iniciando por volta do séc. XX): Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise. Realizadas
estas
primeiras
considerações
necessárias,
porém,
não
“destrinchadas” findavelmente (mesmo porque não é este o propósito do presente trabalho), prosseguirá um entendimento quanto as raízes do Behaviorismo. Considerando neste tópico os precursores bem como as influências tais como da Psicologia animal, despontada com os estudos experimentais de Edward Lee Thondike (1874–1949) e Ivan Petrovitch Pavlov (1849–1936). Essas influências tomaram tópico introdutório ao Behaviorismo Clássico, isto é, aos pilares básicos do comportamentalismo defendido por John B. Watson (1878–1958) ,bem como também perpetuaram ênfase ao Behaviorismo Radical, com Burrhus Frederick Skinner
(1904-1990),
expoente
máximo
de
defesa
de
uma
Análise
do
Comportamento com princípios teórico-técnicos, influenciado pela “bandeira Watsoniana” com vistas à uma Psicologia científica e objetiva, pautada em um objeto de estudo observável e verificável.
Esta construção de um arsenal teórico proporcionará um esclarecimento a respeito da Terapia Analítico-Comportamental, e sua aplicabilidade desde o marco no início da década de XX, da famosa experiência de Watson e Rayner com o pequeno Albert à contemporaneidade. Por fim, adentrará na prática clínica com crianças, cujo foi o foco do presente relatório de estágio. 2.1. Fundamentação Epistemológica da Psicologia Fazendo-se uma alusão ao que Freire (1997), fez na introdução do seu livro: “Raízes da Psicologia”1, de que “não se pode construir uma casa começando-se pelo teto”, tal analogia faz menção à evolução da Psicologia. Portanto, entender o Behaviorismo, cabe primeiramente resgatar as raízes da ciência psicológica. A fase filosófica ou pré-científica, que vai do século VI a.C.
até 1879,
representa dois momentos distintos: um primeiro que engloba a Idade Antiga e Média, e o outro com a Idade Moderna, despontando neste a psicologia científica com Wilhem Wundt (1832–1920). Aquele, caracterizado por essencialmente filosófico, abarcando três períodos distintos: o Cosmológico, onde a preocupação era entender e explicar o cosmo, saber de que era feito; buscar o princípio e a lei que fez surgir o universo ,que até então era concebido mitologicamente; onde o método de buscar a verdade era o elementismo (teve como expoente o filósofo Tales de Mileto, 640-548 a.C.)2. O Antropocêntrico, em que as questões se ocuparam do “como conhecemos”, o “como podemos conhecer”, e foram pauta para os filósofos, como Sócrates de Atenas (436-336 a.C.), reconhecido por sua máxima: “conhece-te a ti mesmo”; 1
Freire, Izabel R. Raízes da Psicologia. 3º ed. Petrópolis/RJ: 1997.
2
Como Freire(1997) enfatiza, não quer dizer que com o retorno do antropocentrismo, o cristianismo se extinga, pois, ele perdura até os dias atuais, exercendo sua influência em todas as áreas e convivendo com as mais diversas correntes de pensamento, predominado ora uma ora outra. 12
pairando não só no princípio, mas, sobretudo no método vigente, a introspecção. No Teocêntrico, marcado pela ascensão do cristianismo e fim da Idade Antiga; Deus passa a assumir “trono máximo” e esta acima sobre todas as coisas, passando-se a acreditar no destino e na vontade de Deus sobretudo que regia na vida. Póstumo ao filosófico, desponta na Idade Moderna (século XV), o período précientífico propriamente dito, deixando de prevalecer o teocentrismo, havendo todavia uma
reação
opositora
ao
dogmatismo
e
revivendo
o
antropocentrismo.
Na emancipação da Psicologia, encontram-se três fortes correntes filosóficas: o empirismo crítico, o associacionismo e o materialismo científico. O empirismo crítico, tinha como preocupação central: “como se adquire o conhecimento? ”. Filósofos como Descartes (1596-1650) e Thomas Hobbes (15881679), contrastavam com o nativismo, ao afirmar que não há conhecimento inato, pois, ele é adquirido (empirismo x nativismo); além do mais, afirmavam que a obtenção
de
um
conhecimento
fidedigno
está
alicerçado
na
observação,
experimentação e na medida; e que a razão é o melhor caminho para se atingir o conhecimento. Contribuindo
massivamente
para
o
desenvolvimento
da
psicologia
experimental; encontra-se, por assim dizer, a segunda tendência emancipatória, o associacionismo. A questão central sintetiza-se em querer saber o que faz com que as idéias se unam e se guiem umas às outras e como estas idéias associadas se tornam estáveis e duradouras. Tanto James Mill (1773-1836), elementista, que concebia a mente como um composto de idéias simples e complexas, associadas por contiguidade; quanto Herbert Spencer (1820-1903), teórico do associacionismo evolucional que precede a teoria das espécies de Darwin (1809-1882), contribuíram de forma relevante no desenvolvimento da psicologia, através do exame dos problemas, do pensamento, sob a perspectiva de realidade das ciências naturais.
13
Apesar do materialismo ser uma tendência que remonta desde o período Cosmológico, com os filósofos gregos; os princípios da época são retomados no materialismo científico (a terceira corrente de emancipação da psicologia); entretanto, neste a atenuante está em se conhecer qual era o elemento fundamental que segue a natureza (Água? Fogo? Átomo?). Eliminando assim, toda a perspectiva do sobrenatural, do destino; e sobretudo , mitos e princípios deterministas religiosos.3 É impraticável desconsiderar a relevância filosófica. Baum (1999), aborda em seu livro: “Compreender o Behaviorismo” que todas as ciências – como a astronomia, química, física, biologia – tiveram sua gênese na Filosofia, porém, cindiram-se dela, uma vez que, as especulações já não mais o eram suficientes. Para Isaac Newton (1642-1727)4 , os conceitos de força e inércia, assim como de corpos celestiais foram além de meras especulações; todavia, partiram de esquemas observados e descritivos para compreensão do movimento. Newton, como outros pensadores romperam com as verdades absolutas da Filosofia, para a verdade científica, em que baseia-se na contestação, na refutação, por caracterizar a ciência como relativa e provisória. O cenário de polemizações estava “armado”, o que antes paliativamente satisfazia, não mais atendia ao sedento mundo investigativo que cercava a psicologia. Imersos no pioneirismo do período científico da ciência psicológica, estavam Gustav Theodor Fechner (1801-1887), alemão, que contribuiu com a publicação de sua obra “Elementos de Psicofísica” (1860), onde discutia o paralelismo mente x corpo e a postulação metodológica para testagem das sensações através dos estímulos ; e Wilhelm Wundt (1832-1920), publicando 3
Houveram ainda tendências isoladas na época, que estiveram fora do cenário das correntes científicas e filosóficas ; tais como : a Psicologia do Ato, criada por Franz Brentano (1838-1917), alemão de origem italiana; a Psicologia Fenomenológica, com Carl Stumpf (1848-1936) e Edmund Hysserl (1859-1938) e a Escola Romântica e Naturalista (1712-1778) com Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778). 4
William Baum (1999) faz uma explanção evolutiva sobre esta visão filosófica com outras ciências , apontando as contribuiçõesde Isaac Newton . 14
“Elementos de Psicologia Fisiológica” (1864), além de ter criado o primeiro laboratório experimental em Leipzig (Alemanha), em 1879, o que concedeu-lhe a paternidade da psicologia. A passos progressivos caminhava a psicologia, preocupada neste período em estabelecer-se como ciência; em banir a idéia de ser o estudo da vida mental e da alma e passar a ser o estudo da consciência ou dos fatos conscientes (Posteriormente, com Watson e o behaviorismo ,a “luta” estabelecer-se-á em opor-se à processos mentalistas, como a consciência, em razão de um objeto de estudo passível de observação – o comportamento). A estruturação do corpo da nova ciência que desabrochou, dá razão à formação de cinco tendências ou escolas psicológicas no início dos século XX, foram elas: o Estruturalismo, o Funcionalismo, o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Sucintamente, tanto o Estruturalismo quanto o Funcionalismo, preocuparamse com conteúdos de teor mentalista. O primeiro, sob representação de Eduard Brodford Tifchener (1867-1927), ancorava-se na tarefa de descobrir quais são os elementos
que
estruturam
(‘sugestivamente’ ,
o
termo
prediz)
a
mente;
caracterizando um sistema elementista, atomista e associacionista. Enquanto o segundo, com respaldo em William James, vai em busca do funcionamento das operações, de como atua e em que condições; enquadrando-se numa metodologia filosófica pragmatista; em virtude da função da consciência não se conhecer, mas adaptar, envolvendo-se portanto em ordem prática de funcionabilidade. Quanto ao Behaviorismo (o que será detalhadamente discutido no tópico a seguir, por ser a tônica focal do trabalho), John B. Watson (1878-1988) não contentou-se em “mentalizar”; entretanto, de provar que a psicologia para ser ciência não pode ser tautológica, em aceitar uma conceitualização determinista. Buscando na psicologia animal, apoio nos métodos que se assemelhavam às das ciências naturais.
15
A Gestalt que surge na Alemanha com Max Wertheimer (1880-1943) por volta de 1910/1912, retroalimenta as raízes mentalistas da consciência ao dedicar-se ao estudo da percepção. Estudando os processos psicológicos (aprender, agir, relacionar-se, motivar-se, etc) a partir das sensações e de uma organização de dentro para fora; onde dá relevância ao estudo das relações entres as partes que compõe o todo. O divulgado Sigmund Freud (1856-1939) foi o iniciante do movimento psicanalítico, caracterizado pelo maior distanciamento quanto ao objeto de estudo quanto às outras tendências/escolas da época (até hoje). Haja vista, que as preocupações de Freud estavam voltadas para o que denominou de inconsciente, contrapondo-se a todo saber até então configurado, já que tanto a consciência quanto o comportamento eram presentes nas discussões. Distinguiu os graus da vida em: consciente, inconsciente e subconsciente. Além de postular teorias sobre as fases de evolução do sujeito associados ao seu desenvolvimento sexual e estudos voltados para pessoas portadoras de perturbações mentais, de modo especial as acometidas de histeria. Resgatada a gênese da Psicologia, a seguir serão descritas as bases do Behaviorismo, a ênfase de nosso trabalho. 2.2.Bases do Behaviorismo 2.2.1. Behaviorismo Watsoniano ou clássico O método do introspeccionismo deixava pouco à vontade alguns dos psicólogos do século XIX , como relata Baum (1999), em virtude de que tal método científico parecia pouco confiável, vulnerável à distorções pessoais. Esta subjetividade não permeava o que difundiam as outras ciências no mundo inteiro, em que se utilizavam de medidas verificáveis e replicáveis em laboratórios.
16
Alicerçado no método objetivo, F.C. Donders (1818-1889)5, foi um dos pioneiros da psicologia objetiva, inspirando um intrigante problema levantado pela astronomia, em como calcular a hora exata em que uma estrela estará em determinada posição no céu. Dentre as influência mais veementes para posição comportamentalista, estão os estudos com animais, delineando tanto na Psicologia Animal , como também na extensão aos seres humanos(analogia entre espécies), através da Psicologia Comparativa. A relação entre a psicologia animal e o comportamentalismo está tão clara , que Watson, citado por Schultz&Schultz (1981)6, declara: “O comportamentalismo é uma consequência direta de estudos sobre o comportamento animal[feitos] no decorrer da primeira década do século XX” (Watson, 1929)”. Inúmeros estudos a respeito de psicologia animal/comparativa poderiam entrar em destaque, porém, ao presente trabalho deter-se-ão os estudos tangentes à Psicologia Animal com Edward Lee Thorndike (1874-1949) e Ivan Petrovitch Pavlov(1849-1936). Thorndike foi um dos primeiros psicólogos americanos a receber toda a educação nos Estados Unidos. Planejara a priore, fazer suas pesquisas tendo crianças como sujeitos, o que foi impedido pela universidade. Então, optou por trabalhar com galinhas, treinando-as no percorrer em labirintos, improvisados com livros e posteriormente prosseguiu suas pesquisas com cães e gatos.
5
F. C. Donders (1818 – 1889) é descrito em Baum (1999) .
6
Os autores Duane P. Schultz e Sydeney Ellen Schultz , na obra : “História da Psicologia Moderna”, retratam todo o curso histórico tanto da Psicologia, quanto das escolas de pensamento, dentre elas o comportamentalismo ( desde as influências/ os primórdios à fundação).
17
O conexionismo – abordagem experimental – por ele criado, consiste numa associação entre situações e respostas. Todavia, apesar de concentrar-se nesta conexão, Thorndike estava voltado para processos mentais, reportando-se à termos como “satisfação”, “contrariedade” e “desconforto”, ao discutir os comportamentos dos seus animais experimentais(como citado por Schultz&Schultz,1981). Sua base experimental , empregava um equipamento - a caixa-problema cujo objetivo era colocar um animal - no caso, o gato - faminto(privado de alimento) na caixa, e este tinha de aprender a operar um trinco para escapar; tendo como recompensa da fuga, o alimento que se encontrava fora da caixa. Inicialmente o gato exigia um comportamento meio “caótico”, empurrando, farejando e dando patadas para seguir o alimento (o que Skinner mais tarde denominará de comportamento exploratório). Passando ao processo de aprendizagem, mediante a freqüência da situação do gato à caixa-problema. A esse tipo de procedimento, Thorndike denominou de “aprendizagem por tentativa e erro”, formalizando a Lei do Efeito: “Todo ato que, numa dada situação, produz satisfação fica associado com essa situação, de maneira que, quando a situação se repete o ato tem mais probabilidade de se repetir do que antes. Inversamente, todo ato que, numa dada situação, produz desconforto se torna dissociado dessa situação, de maneira que, quando a situação se repete, o ato tem menos probabilidade de se repetir do que antes” (Thorndike, 1905).
18
Quanto a influência de Pavlov, esta foi de suma importância no que tange ao estudo dos reflexos , concentrando-o nas secreções glandulares e movimentos musculares objetivos e quantificáveis. Quem já não ouviu falar na situação de condicionamento da salivação de um cão à uma sineta, no tocante ao estudo da psicologia? A relevância de Pavlov é extrema, pois, não foi à toa a sua dedicação incondicional aos estudos, à luta por uma ciência objetiva; e por isso, gerava tanto fascínio entre seus pupilos7. O apogeu de seus experimentos é caracterizado pelo Reflexo Condicionado, no processo de aprendizagem, em que consistia em apresentar um estímulo condicionado (uma luz acesa, por exemplo); imediatamente apresenta-se o estímulo não condicionado (o alimento). Após sucessivas apresentações de pareamento entre a luz e o alimento, o animal passa a salivar ao ver a luz (mesmo sem visualizar o alimento).
Logo,
o
animal
está
condicionado
ao
estímulo
condicionando,
acontecendo a aprendizagem. A notoriedade de tais estudos fez prevalecer uma busca incessante em tornar a psicologia uma ciência objetiva. Para tanto, de fato agora discorrer-se-á sobre a “instalação” do behaviorismo, as perspectivas e objetivos de seu fundador, que vão de encontro a esta tônica. John B. Watson (1878-1958), um quase religioso8, com histórico de vida entrecruzada de conflitos familiares, deixado por seu pai aos 13 anos de idade (seu pai fugiu com outra mulher), vivendo em uma situação de extrema pobreza e carregando nas costas o título de “delinqüente”. (contam Schultz & Schultz, 1981); “tornar-se” o fundador e defensor do comportamentalismo.
7
Em Schultz & Schultz ( 1981) pode-se analisar um pouco da vida de Ivan Pavlov.
8
Considerado insolente e preguiçoso na infância e juventude, Watson se matricula na Unversidade Furman, dos batista, em Greeville aos dezesseis anos decidido a ser ministro religioso, promessa feita á sua mãe ( este antes de morrer o liberou da “dívida”. 19
Sua carreira e objetivação com o behaviorismo agarrou-se na luta em alcançar o patamar de subsidiar uma ciência psicológica objetiva, envolta por métodos observáveis, sem ranso de introspeccionismo ou quaisquer rastro de subjetividade e recorrência ao mentalismo. A sua tentativa de construção da psicologia - de fato científica - teve como ponto de partida, primeiramente, o fato de que os organismos, sejam animais ou humanos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e hábito. Em segundo lugar, que certos estímulos levam os organismos a dar respostas. A preocupação pois, de Watson esteve muito mais voltada por seu interesse em tentar demonstrar a necessidade de manter a uniformidade do procedimento experimental e do método de apresentar resultados, no trabalho com seres humanos e animais, evidenciando que os mecanismos de respostas são semelhantes quando submetidos à processos de estimulação em tais; do que por desenvolver idéias que possa ter acerca das mudanças que por certo virão no escopo da psicologia humana (já com Skinner, terão desdobramentos tais questões pragmáticas para com a vida humana). Ou seja, a vertente de Watson está em firmar uma metodologia que proporcione à Psicologia uma tonicidade científica ao seu objeto de estudo – o comportamento (vale ressaltar que Behavior, é uma palavra inglesa que significa comportamento). Já objetivando desde a introdução do termo para psicologia, que passava a ser conceituada como “Ciência do Comportamento”, hoje aceita universalmente. Indubitavelmente, os métodos do comportamentalismo foram um “atentado” e teor de repúdio aos “ditos psicólogos” (os mentalistas com seus estudos acerca da consciência) e através do método introspeccionista). Porém, os mais jovens, provenientes da década de 20, apoiavam na surdina o movimento, que foi crescendo gradativamente e alcançou popularidade com público leigo, pois, todos estavam
20
interessados e/ou curiosos na proposta de Watson de uma sociedade baseada no comportamento cientificamente modelado e controlado. Embora, banido no meio acadêmico em virtude de sua regressa vida pessoal, marcada por embaraços extra-conjugais, Watson ainda publicava artigos que se sustentavam em seus pressupostos teóricos do comportamento, em revistas populares, de circulação livre, que atingiam estudantes, donas-de-casa, operários. O que popularizou ainda mais a psicologia; proporcionando uma epidemia por sua disseminação em meados das décadas de 20 à 30. Com relação aos métodos, Watson sumaria que seriam: a) a observação, com ou sem instrumentos; b) os métodos de teste; c) método do relato verbal e d) os métodos do reflexo condicionado. Falar de Reflexo Condicionado remete a mencionar, talvez, o mais popular de todos os estudos do comportamentalismo, isto é, o pequeno Albert. Bom, Watson demonstrou sua teoria das respostas emocionais condicionadas em seu estudo experimental com Albert, um bebê de onze meses, que foi condicionado a ter medo de um rato branco, que ele não temia antes das tentativas de condicionamento. Sempre que o rato lhe era mostrado, seguia-se um ruído bastante forte; dentro de pouco tempo, a mera visão do rato produzia sinais de medo na criança. Watson demonstrou que esse medo condicionado pode ser generalizado para outros estímulos como um coelho, um casaco de pele branca, ou mesmo as barbas de papai noel. Instinto, emoção, aprendizagem e pensamento passaram do status de tautologias mentalistas ao topo de respostas condicionas. Coisas que pareciam herdados podiam ter sua origem no treinamento da infância, assim, não é que as crianças
nasciam com aptidão para ser grandes músicos ou atletas, mas eram
influenciados pelos pais nestas direções, através do reforço e encorajamento, não reduzindo tal processo à concepção de que seria algo instintivo, exemplificando. 21
Eduard Chace Tolman (1886-1959) – torna-se notado com o
estudo de
variáveis intervenientes (ou seja, é o que acontece no organismo que provoca uma dada resposta comportamental diante de um estímulo. O que antes associava E-R, passa a figurar
E-O-R, onde O é organismo) e o mapa cognitivo (padrão de sinais
no processo de aprendizagem); Edwin Ray Guthrie (1886-1959), contribui com a aprendizagem por tentativa (princípio por contiguidade é sua base) e Clark Leonars Hull (1884-1952), acreditava e defendia que a aprendizagem não pode acontecer na ausência de reforço; e portanto, compatível com o pensamento de Thorndike e a Lei do Efeito, denominou a força da conexão E-R vinculada da força do hábito (enfatizando
sobremaneira
o
efeito
proativo
do
reforço).
Estes
neocomportamentalistas foram sem dúvida perpetuadores e incentivadores na luta behaviorista, porém, foi com Burrhus Frederick Skinner (1904-1990) que a perpetuação bem como expoência máxima do comportamentalismo instaurou-se. 2.2.2. Behaviorismo Skinneriano ou radical Skinner, diferente de Watson relata que não lhe faltou afeto e que seu ambiente de infância era estável. Gostava de ir a escola e não teve histórico de rebeldia ou delinquência. Porém, o sistema de psicologia de Skinner é sob muitos aspectos um reflexo das suas primeiras experiências de vida. Ele considerava a vida como um produto de reforços passados, e acreditava que todos os aspectos de sua experiência pessoal remontavam apenas a fontes ambientais9. “Escritor” de longa data (gostava de escrever quando criança) seus poemas e histórias não faría-mo-nos imaginar que cederiam lugar para a postulação de princípios tão “seguros” e precisos no desenvolvimento de uma Ciência do Comportamento. Porém, após tantas desilusões amorosas, Skinner descarta de vez seu lado poético, e inspirado por Watson e Pavlov, decide transferir seu interesse literário pelas pessoas para um interesse mais científico, quando em 1928, inscrevese numa pós-graduação de psicologia em Harvard. 9
Schultz & Schultz (1981) relata sucintamente a biografia de Skinner. 22
Do aprendiz ao mestre, há vários aspectos importantes em que a posição de Skinner representa uma renovação do comportamentalismo Watsoniano. Schultz & Schultz (1981) descrevem:
“Seu tipo exclusivamente descritivo de comportamentalismo radical se dedica ao estudo das respostas; volta-se para descrever, e não para explicar, o comportamento. Ele só se ocupava do comportamento observável e acreditava que a tarefa da investigação científica se traduz em estabelecer relacionamentos funcionais entre as condições de estímulo controlados pelo experimentador e a resposta subsequente do organismo.” Uma das premissas que difere o comportamentalismo skinneriano do watsoniano, é de que neste os sujeitos têm uma condição passiva, por serem observados pelo experimentador que, por vezes, introduz o estímulo; enquanto àquele opera no ambiente e “eleva-se” à uma condição de sujeito atuante, isto é, ativo no seu processo de aprendizagem. Por falar de operar, Skinner lega em seu estudo com ratos, utilizando um instrumento, que ficou divulgadamente conhecido como “Caixa de Skinner”, conceitos como Comportamento Respondente e Comportamento Operante (a conceitualização do Behaviorismo Radical será retomada no tópico seguinte). De forma exemplificada: o comportamento do rato ao pressionar a barra e receber comida é operante; ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a barra. O recebimento da comida é o reforço por sua emissão de comportamento. Já o comportamento respondente, conceitua-se ao comportamento do “cão de Pavlov” que responde ao estímulo condicionado (a luz acesa) produzindo uma resposta condicionada (salivação).
23
Desta experiência básica inicial, outras foram à frente, e programas de reforço criados para as pessoas receberem notável reconhecimento. O berço de ar – projetado para mecanizar o cuidado infantil – que utilizou com sua própria filha; bem como a máquina de ensinar (inventada pelo psicólogo Sidney Pressey, nos anos 20), promovida por Skinner, foram notoriedade pública. Entretanto, um marco de transposição da tecnologia do comportamento, em que tentou transpor para sociedade mais ampla suas descobertas de laboratórios, Skinner estabeleceu um programa de controle comportamental. Este “brasão” data de 1948, quando publicou Waldem Two, um romance que descreve uma comunidade rural de mil membros na qual cada aspecto da vida é controlado pelo reforço positivo. Apesar de na época ter sido arduamente atacado nas resenhas e uns só pouco milhares terem sido vendidos até a década de 60; hoje o livro é significativamente popular, com vendagem superando muitos milhões. Enfim, a modificação do comportamento mediante o reforço positivo é uma técnica popular em hospícios, fábricas, prisões e escolas, onde é utilizado com o objetivo
de
transformar
comportamentos
animais
ou
indesejáveis
em
comportamentos mais aceitáveis e desejáveis. No recente artigo de Henry L. Roediger (2004) 10, ele aborda sobre o que acontece com o behaviorismo? Apontadas as “altas” e “baixas” do mesmo, ao fazer uma breve retomada evolutiva; perpassando do auge ao que ele denominou não de declínio, mas, sobre vitória, pois, o fato de ser menos discutido e debatido hoje em dia , é porque na verdade ele venceu o debate intelectual(o comportamento venceu!). Apesar das constantes tentativas de abafar a corrente fundamentada de pensamento seja nas do início do século XX com a metodologia introspeccionista, seja na derrocada da 10
Traduzido por Roosevelt R. Starling, e publicado na Revista Brasileira de Análise do Comportamento 9 referência bibliográfica), 2005.
24
década de 60 com o cognitivismo, cujo retrata um retrocesso , um atraso em resgatar a postura mentalista, ‘re-lançando’ termos como pensamento, emoção, etc. Isto é tão evidente, que o próprio autor(Roediger,2004) - sendo cognitivista - assume este ‘ato falho’ – diria Freud – ou esta ‘discriminação’ – termo preferível, é claro – diria Skinner. 2.3.Conceitualização Teórica de Análise do Comportamento 2.3.1. Princípios fundamentais Conferido o status científico à Psicologia, definido o objeto de estudo e padronizados os métodos experimentais, Skinner passa a engrenar a construção conceitual , baseada a partir dos experimentos laboratoriais com animais(o que mais tarde vem a ser generalizado, com aplicação aos seres humanos). No seu Livro: “Ciência e comportamento humano”, tal completando cinquentenário de sua publicação, saudando o centenário de Skinner(nascido em 1904), Roediger11 ressalta a relevância e aprimoramento da obra do teórico que tinha como propósito introduzir o behaviorismo , e o fez assim com força e elegância. Podendo-se inclusive, falar em uma “máquina” com peças firmemente engrenadas , haja visto, o desencadeamento de conceitos linearmente. Baseando-se nesta, o que serão discorridos os principais conceitos da abordagem behaviorista (não ostensivamente, porém, clara e objetivamente). Com estudos de Pavlov acerca da ação reflexa , e portanto, dos reflexos incondicionados e condicionados migraram ao campo skinneriano
tais termos
conceituais. Compreende-se de tal forma, por Reflexo incondicionado, àquele ligado à ação involuntária executada por músculos e glândulas. Por outro lado, os Reflexos Condicionados tratam de(modo redundante) condicionamento, que acontece através 11
Henry L. Roediger (2004), problematiza em seu artigo questões norteadoras sobre: ‘O que aconteceu com o behaviorismo”.
25
da substituição de estímulos. Onde o estímulo antes neutro, adquire o poder de eliciar uma resposta. Para tanto, tal reflexo condicionado ocupa seguramente um valor de sobrevivência; pois, respostas reflexas apropriadas não se podem desenvolver sempre como mecanismos herdados, uma vez que, o ambiente muda de geração para geração. Por outro lado, as “supertições” que se traduzem por uma situação acidental, passa a associar-se à situações semelhantes. É o que acontece, por exemplo, com os judeus, que quando a criança começa a aprender a ler e a escrever , beija uma página sobre uma gota de mel que foi nela depositada(Skinner, 1953). Tratando-se de reflexos, sejam eles condicionados ou não, referem-se, principalmente, à fisiologia interna do organismo. E “sintonizam” a passividade do sujeito que só responde mediante um estímulo(algo que elicia uma resposta no organismo); porém, pensar nas consequências do comportamento retroagindo sobre o organismo, é pensar no Comportamento Operante e na probabilidade em ocorrência deste. Ao reportar aos experimentos com ratos de Skinner, percebeu-se a priore, o comportamento exploratório do rato (caracterizado operacionalmente por farejar, andar pela caixa, lamber, cheirar, etc.) Após operar pressionando na barra e recebendo alimento, evidencia-se o comportamento operante sendo reforçado e aumentando-se a probabilidade de ocorrência deste, em virtude do reforço recebido. Desta forma, é banido o termo instinto de situações que envolvam bons músicos, bons atletas. Passando-se a serem entendidos como sujeitos que operam desde a infância e foram reforçados por seus pais e/ou ambiente social e como resposta tornaram-se habilidosos (no sentido de” fazer algo bem” e não de herdá-la instintivamente). Mas, que eventos são reforçadores? A esta resposta, só diz-se em fazer um teste direto, isto é, ao observar frequencia de uma resposta selecionada, depois tornar um evento a ela contingente e observar-se qualquer mudança em tal frequencia. Desta forma, o que resta saber é a probabilidade
da resposta ser 26
aumentada. O que cabe ressaltar e desmistificar é o que muito se pensa nos meios acadêmicos em torno dos reforços: que positivo é aquele denominado bom, de apoio, e negativo, é aquele denominado ruim, que “pune”. Pois bem, alternativas errôneas; entende-se por Reforço Positivo, segundo posição de Skinner (1953), que trata-se da apresentação de estímulos, no acréscimo de algo, por exemplo – alimento, água, ou contato sexual – à situação. E Reforço Negativo, consiste na remoção de alguma coisa, por ex. – algum barulho, uma luz brilhante, calor ou frio extremos – da situação. A esta nuance a aplicabilidade do condicionamento operante, dá-se em todas as esferas – educação, governo, família, clínica, indústria, e assim por diante -12 com intuito de buscar constantemente a probabilidade de conseqüência reforçadoras. Seja o industrial no objetivo de ter seus empregados trabalhando produtivamente e sem absenteísmo. Seja na educação de crianças em idade pré-escolar, elaborando programas de reforços eficazes os quais produzam efeitos satisfatórios no processo de ler, escrever, contar ou jogar. Falar tanto em reforçar, deve salientar
que esses reforços também
congratulam uma intermitência, para que desta forma aja uma manutenção de repertórios reforçadores para o indivíduo. A este fenômeno, Skinner pontuou de Reforço Intermitente, para aludir que nem sempre que o comportamento aja sobre o meio físico e imediato é constantemente reforçado. “Aprovação, afeto e outros favores pessoais com freqüência são intermitentes, não apenas porque a pessoa que fornece o reforço pode comportar-se de diferentes maneiras em ocasiões diferentes, mas, precisamente porque pode ter verificado que semelhante esquema produz retorno mais estável, persistente e proveitoso” (Skinner 1953). 12
Skinner (2003) no “Ciência e comportamento humano” , na 5ª sessão, fala sobre as agências controladoras (Governo e Lei, Psicoterapias, Controle Econômico e Educação.
27
Estes reforços intermitentes originaram-se através dos estudos de Skinner (com ratos) referindo reforços em intervalos e razão fixa, relacionados ao tempo do reforço despendido e da quantidade estipulada de respostas para recebimento do reforço, respectivamente. Promovendo pois, manutenção comportamental. Por fim, dois importantes conceitos são: Extinção e Punição. Pelo primeiro entende-se pelo não reforço de uma resposta; procedimento largamente utilizado no processo terapêutico para com comportamentos indesejados. Obviamente, que similar ao condicionamento operante de uma resposta, o processo de extinção - via de regra alicerçar-se-á em progressivos passos, devido à história de reforçamento. Já quanto ao segundo, não trata-se ao oposto de recompensas, porém fundamenta-se num enfraquecimento de um operante. Se de um lado o reforço estabelece tendências a se comportar de uma maneira, a punição destina-se a acabar com ela. Todavia, a longo prazo, distinto do reforço, ela funciona com desvantagem tanto para o organismo punido quanto para agência punidora. Outros importantes conceitos, encontram-se na “ Bíblia Skinneriana”13 – ‘Ciência e Comportamento Humano’ – como já fora citado anteriormente; e aguarda ‘calouros’ e ‘vanguardistas’ leituras dos seguidores da área, pois, a cada novo operante em ler, o leitor desvenda e/ou confirma a perspectiva mais engrenada em torno das explicações da humanidade, através da Análise Funcional. 2.3.2..Divergências com outras abordagens Apontadas no início da discussão sobre a emancipação da Psicologia, enquanto ciência, as raízes de outras abordagens , tais como a Gestalt (neste âmbito, expande-se atenção ao Humanismo, de forma global) e a Psicanálise, faz referência à abordagens mentalistas, sem quaisquer dúvidas introspeccionistas: de um lado, a ‘crença’ em que o indivíduo tudo pode, acreditar que através da firmação 13
Citação particular de Pires (2005) - autora do presente referencial - , a respeito da obra de Skinner ( “Ciência e Comportamento Humano” )
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das potencialidades do indivíduo este tudo conseguirá; ou , de outra forma querer fazer infindáveis interpretações a respeito dos níveis de desenvolvimento sexual na infância, ou interpretações subjetivas sobre os sonhos, adquiridas de um discurso, embargado de ‘sombras’, que serão desvendadas por ato falho, é levar a ciência ao de fato “fundo do poço”. Estas questões são tão absurdas, que já demasiadamente especuladas, não serão aqui pormenorizadas. Para tanto, fará luz sim à uma abordagem - que talvez, por sua imaturidade(datada do início da década de 60), ainda não sente-se ‘segura’ em firmar-se na abordagem comportamental, e utiliza-se do acessório cognitivo como percalço. Os pontos que serão apontados a partir deste parágrafo, dizem respeito às convergências e discrepâncias as quais sustentam tanto a teoria quanto o enfoque prático que rege a abordagem Cognitivo-comportamental e a Análise do Comportamento. Eliane Falcone (1993)14, ressalta a irrelevância dos pressupostos de ambas as abordagens , considerando as falsas impressões acalentadas, principalmente, pelo desconhecimento ou incompreensão tangente à gênese. Tereza Sério (2000), no capítulo oito do livro: “Sobre comportamento e cognição” (org. Banaco,2000), abre uma ampla discussão em torno das suposições básicas que sustentam a concepção do behaviorista radical de conhecimento científico , as quais pautam-se: na crença da existência do mundo e na crença de que os fenômenos são determinados. Entretanto, tais crenças não tornam aquele que produz conhecimento, neste caso - o cientista, um ser passivo a quem de lugar assume a frigidez e o reconhecer neutralmente os fatos observados, como a muito tempo foi e perdura sendo divulgado , por quem desconhece de fato as bases do behaviorismo radical. Este, que por sua vez, reconhece o sujeito ativo, onde sua percepção é determinada por suas interações, passadas e atuais, com a situação que se coloca como objeto de conhecimento. 14
As discussões encontram-se no informativo da ABPMC (1993), indicado no referencial teórico. 29
A concepção behaviorista radical, também diferentemente do que é propalado, não reduz a ciência à coleta e organização de dados, muito ao contrário, o cientista persegue
idéias,
suposições,
hipóteses,
interpreta
seus
resultados,
busca
constructos hipotéticos ou teóricos que lhe trazem significado, bem como constrói sistemas teóricos. Isto, por sua vez , possibilita a avaliação da comunidade científica, torna público o conhecimento produzido e este tornar público proporciona a ação da comunidade em geral. Configurando de fato parâmetros para a Psicologia enquanto produção de conhecimento científico. Aliás, a proposta behaviorista radical , tem como marca a construção da Psicologia como ciência(e isto já foi suficientemente debatido, anteriormente), o que aos olhos de muitos significou, e ainda significa, empobrecer ou reduzir o objeto da Psicologia; uma vez que, fazer ciência implicaria a lidar só com fenômenos diretamente observáveis, no âmbito da Psicologia, lidar apenas com comportamentos manifestos, isto é, comportamentos aos quais qualquer observador pudesse ter acesso diretamente. E como ressalta Tereza Sério (2000): ” uma parte bastante significativa de nós não é/ não está(na maioria das vezes, felizmente) acessível a outras pessoas, porém, nossa fisiologia e neurologia não são a causação de nossos comportamentos”. Na realidade, não é propósito do behaviorismo radical empobrecer nem tampouco reduzir a Psicologia, mas, fazer entender que cada um é um organismo, que interage com o ambiente durante toda sua vida e adquire um repertório de comportamentos. Nesta vertente, como enfatizado por Skinner, a ciência do comportamento não destrói a individualidade, haja vista que o ser é único, porém , este indivíduo não é livre e portanto, não é sujeito; uma vez que, o indivíduo é sim determinado, não havendo livre-arbítrio ,mas, apenas a escolha das condições controladoras. 30
Helene Shinohara (2000) discorre, ainda no livro: ”Sobre comportamento e cognição” (org. Banaco,2000) que, a Teoria Cognitivo-comportamental(TCC), com sua gênese na década de 60 é uma combinação de muitos anos de pesquisa e prática clínica , surgindo da insatisfação com modelos não mediacionais e/ou alternativas psicodinâmicas, vindo a introduzir
a concepção de problemas
psicológicos compreendidos em termos de respostas intercaladas: o cognitivo, o afetivo/fisiológico e o comportamental. Pontuando que, o modo como uma pessoa percebe o ambiente ao seu redor (reação cognitiva) é seletivo e depende de um conjunto de regras e crenças adquiridas no desenvolvimento desta pessoa. Desta forma, o sofrimento do indivíduo é derivado das possíveis distorções que estejam ocorrendo na sua maneira de avaliar o mundo e a si mesmo; crenças básicas, inflexíveis e incondicionais que os indivíduos abstraem das especificidades de suas experiências. As estruturas cognitivas possuem níveis de organização, onde na superfície encontram-se pensamentos automáticos (acesso mais imediato), caracterizados por idéias, crenças e imagens específicas acerca da situação. Como o próprio nome sugere, ocorrem sem um mínimo de esforço por parte do indivíduo, sinalizado automaticamente em sua cognição. Donde levam à suposições transacionais e esquemas. Assim, em desordens de ansiedade , como ressaltado por Eliane Falcone (1993),
o
indivíduo
percebe
e
avalia
a
situação
de
forma
distorcida,
tendenciosa(distorção cognitiva), propiciando a ocorrência de afetos correspondentes (sudorese, taquicardia, tonteira, fraqueza, etc.), e de comportamento(bloqueio, colapso, tremor, fuga, evitação, etc.), que acabam confirmando as hipóteses negativistas acerca da situação e da auto-estima. Pensamentos automáticos, cognição e reações fisiológicas para
o
behaviorismo radical são expressões comportamentais, embora encobertos, têm sua gênese nas interações sociais ou mesmo na falta delas. Porém, não são causas comportamentais, ou seja, o meu comportamento não acontece de modo X ou Y por 31
conta dos pensamentos e crenças que tenho sobre mim ou o mundo , mas, pelas contigências envolvidas na situação, bem como os reforços mediante o modo como me comporto me levam a ter uma frequência maior ou menor em tal contexto e sob a presença ou não de determinadas variáveis. Outro ponto divergente é que para behavioristas radicais aceitar o uso e o lócus da palavra “cognição” seria aderir a uma postura dualista, um retrocesso, o que constituiria um sério problema metodológico. Dentro desta perspectiva metodológica, encontra-se a ênfase ao rigor científico adotado pela análise do comportamento. Rigor científico este, ostentado por quatro níveis que formam um paradigma , como explicitado por Sônia Meyer (1995): nível tecnológico , ou seja, conjunto de técnicas derivadas das pesquisas realizadas; nível metodológico , caracterizado por uma orientação de pesquisa, adotado pelo investigador – analista comportamental, o qual se utiliza de uma programação , registro, pesquisa e sobretudo da análise funcional; nível conceitual, abrangendo princípios básicos, tais como reforçamento, punição, estímulo, controle por regras verbais, dentre outros conceitos da abordagem que dão suporte à atuação terapêutica; além da sustentação filosófica
, explicitado anteriormente ,
caracterizado por postulados teóricos, tais como a determinação e ordenação do comportamento . Embora, tais divergências, tanto a Terapia Cognitivo-comportamental quanto a Análise do Comportamento coadunam na prática terapêutica de uma sistematização da ênfase técnica como forma de modificação comportamental, seja através de uma reestruturação cognitiva, seja por extinção de um repertório comportamental indesejado e recompensas em situações reforçadoras. Isto posto, em virtude de ser necessário que o terapeuta tenha conhecimentos de padrões de comportamento e métodos comportamentais de mudança em ambas abordagens psicoterapêuticas. Envolvendo tarefas de aprendizagem e prática em casa, pois o que sustenta-se em geral, as pessoas aprendem, fazendo, como
32
pontuado por Helene Shinohara (2000).Tais tarefas facilitam mudanças em menor ou maior frequência, em uma ou mais áreas, que irão resultar em grandes mudanças em outras áreas também. Neste ponto, abre-se mais um parêntese de concordância para ambas, paralelo ao descredito por outras abordagens teóricas interpretativas , as quais erroneamente apontam as presentes terapias como proporcionadoras apenas de mudanças em um foco – estas supostamente não generalizadas. Diante de todos os fatos mencionados, Helene Shinohara (2000) ainda sobressalta no que diz respeito a saber que para que os objetivos terapêuticos sejam alcançados, não é necessário apenas o conhecimento teórico-técnico, todavia, primordialmente o envolver-se no estabelecimento de uma relação terapêutica satisfatória. Contudo, cabe aos interessados (os que realmente o são) da área uma reflexão da postura adotada por ambas as abordagens e a capacidade de discriminar dos seus postulados o teor de percepção e concepção do homem na sua relação com o mundo, antes de fazer um julgamento sobre esta ou aquela teorização. Acreditar em técnicas cognitivas na prática clínica, como também gestálticas não me fazem um psicoterapeuta eclético; por outro lado, não ter
uma fundamentação
sustentável e investigativa do que e como trabalha a Análise do Comportamento , me levam a utilizar qualquer outra prática clínica, exceto a citada. Porém,
tenho
sim
a
obrigação
em
reconhecer
que
voltar
à
idéia
dualista/mentalista do homem é cometer um retrocesso na construção da Psicologia enquanto ciência, bem como nos afastar de atuar no mundo. E tal retrocesso é alimentado nos meios acadêmicos, pelo desconhecimento e difusão de idéias errôneas a respeito das bases behavioristas radicais. Com isso, o temor pela aceitação de que o que rege o meu comportamento são as relações e interações contingenciais com o ambiente, leva
muitos estudantes e profissionais a crer e
absorver que hão de haver forças internas e/ou “superiores” causadoras comportamentais. 33
2.4.Prática Clínica em Análise do Comportamento 2.4.1.Fundamentos da Psicoterapia Analítico-comportamental As influências marcantes para o surgimento da Terapia Comportamental, datam da década de 20 com os estudos de Watson e Rayner(descritos anteriormente), com os trabalhos de condicionamento reflexo de respostas de medo, com os estudos com o “Pequeno Albert”. Na década de 60, os marcos deste modelo são encontrados na obra de Eysenk e na publicação da primeira revista de Terapia Comportamental (em 1963). Apesar de ainda na década de 50 , haver a coexistência de pelo menos dois tipos de intervenção behaviorista: a defendida pelo paradigma do condicionamento reflexo – denominada de Terapia Comportamental – e a Modificação do Comportamento, respaldando-se no paradigma do condicionamento operante de Skinner. Na atualidade, a denominação que vem sendo mais amplamente utilizada refere-se à Análise do Comportamento15. Quanto ao processo analítico-comportamental, este pode ser dividido basicamente em três etapas: inicial, intermediária e terminal. O primeiro refere-se à coleta de informações junto ao cliente [se for criança, as queixas trazidas tanto pelos pais, como da criança e outras figuras de apoio, que possam contribuir com informações necessárias para entendimento do(s) comportamento(s)-problema(s)]. Buscar saber sua história passada, e sobretudo a relação com sua situação presente, de forma que se possa identificar as possíveis situações ou pessoas reforçadoras. Além de avaliar se há esquiva ou não discriminação das variáveis do processo terapêutico. Antes da Segunda fase , ainda na (diga-se) ‘finalização’ da primeira, há uma devolução para com o cliente; com o propósito do terapeuta checar suas hipóteses 15
Henry L Roediger (2005), aborda uma possível cisão da ciência psicológica: uma que defende a mente e processos conscientes; e, uma outra que estuda o comportamento – análise do comportamento. 34
diagnósticas sobre os comportamentos do cliente, de modo que discuta-se com ele, objetivando testá-las. É na etapa seguinte, a intermediária, que ocorre propriamente a intervenção , tem o foco no(s) comportamento(s)-problema(s) identificados pelo terapeuta , e a utilização de técnicas comportamentais. Este é um ponto de suma relevência, pois, as técnicas comportamentais por serem amplamente difundidas, muitas das vezes são
erroneamente
utilizadas
por
pessoas
despreparadas(que
não
tenham
conhecimento filosófico e conceitual , respaldado, na teoria da abordagem, isto é, o behaviorismo radical; ou mesmo que pertençam à uma outra “tribo” de conhecimento, e as utiliza por serem “reforçados” pela sua efetividade à nível de modificação comportamental). Cabe ainda enfocar, que não é a mera aplicação da técnica que fará a efetivação de mudança comportamental, mas, a profunda análise funcional das relações atuantes na vida do indivíduo. E nestes termos, então, é respeitado que cada
indivíduo é único; e, embora, apresentem uma semelhante configuração
quanto aos repertórios de refoçadores , tanto a história de reforçamento, quanto as contigências à ela relacionadas são diferentes. Contudo, na etapa terminal se observa o alcance dos objetivos terapêuticos alcançados, e a probabilidade do cliente mostrando-se capaz de gerenciar sua vida sem a ajuda do terapeuta, capacitado neste auto-gerenciamente de discriminar contigências reforçadoras através de seu próprio comportamento operante no meio, e portanto, desmistificando a crítica ao sistema analítico-comportamental, em que dizem ser pautado numa perspectiva artificial. Porém, para que de fato isto ocorra satisfatoriamente, é necessário tanto o estabelecimento de empatia16 do terapeuta para com o cliente, vista como 16
A discussão da ‘função da empatia na terapia cognitivo-comportamental”, é discutida por Eliane Falcone, em MARINHO, Maria Luiza e; CABALLO, Vicente E., 2001. 35
compreensão de seus problemas e aceitação não de seus comportamentos desadaptados, todavia, do cliente enquanto cliente; quanto a interação positiva entre terapeuta-cliente, com o fim de que o terapeuta discrimine o quão o cliente precisa de ajuda , como também quando o mesmo está simulando uma dificuldade para manter a relação terapêutica. 2.4.2.Principais técnicas Analítico-comportamentais17 “Um clínico comportamental de formação adequada não escolhe qualquer técnica sem antes efetuar uma apurada análise funcional que identifique e descreva com clareza o distúrbio do comportamento e suas relações com as variáveis do ambiente (Rangé; Gorayeb, 1995, citados por Caballo,2000). •
Programação de Atividades – esta técnica tem como objetivo proporcionar ao paciente certa sensação de eficácia e de controle que pode proporcionar algumas idéias sobre que atividades poderiam ser planejadas.
•
Treinamento de Controle da Ansiedade - visa proporcionar o paciente a prestar atenção e a reconhecer os sintomas que reflitam a presença da ansiedade, para utilizar o relaxamento e evitar que a ansiedade alcance um nível elevado.
•
Tarefas para Casa – tem como objetivo ajudar o paciente a generalizar seu trabalho terapêutico indo além das sessões. É utilizado como uma forma de facilitar a terapia treinando o paciente a técnica, para tanto é dado tarefas para serem executadas em casa depois de cada sessão.
•
Treinamento de Pais – utilizados na terapia infantil, na tentativa de ensinar os pais a modificar os comportamentos-problema de seus filhos,
tendo em vista
17
Neste tópico, serão abordadas apenas algumas das técnicas comportamentais, de forma sintetizada. Maiores refer^ncias, ver : CABALLO, Vicente E. (2002).
36
que os pais têm o maior contato com a criança e o maior controle sobre seu ambiente. •
Modelação – é uma estratégia que permite ao paciente aprender um novo comportamento através da observação e imitação de um modelo, no caso, o terapeuta. O terapeuta deve planejar demonstrações de acordo com as dificuldades específicas do paciente.
•
Relaxamento – tensionar e relaxar vários grupos musculares, fazendo com que o paciente aprenda a perceber as sensações decorrentes da tensão corporal e utilize essas sensações como uma dica para relaxar. É recomendável que a criança/adolescente aprenda a reconhecer, no máximo, três grupos musculares por sessão e que pratique os exercícios de relaxamento duas vezes ao dia, como tarefa de casa.
•
Treinamento em Soluções de Problemas – visa ensinar a criança/adolescente a lidar com um problema a ser resolvido e não como algo incontrolável e sem saída. Para tanto, terapeuta e paciente trabalham na identificação do problema e nos objetivos a serem atingidos. A partir disso, inicia-se o processo de decisão, escolhendo-se entre as diversas alternativas, a mais plausível de ser testada e com maior probabilidade de sucesso.
•
Dessensibilização Sistemática – esta é uma intervenção desenvolvida para eliminar o comportamento de medo e as síndromes de evitação. O procedimento visa ensinar o paciente a adquirir uma resposta contrária a ansiedade, utilizandose o relaxamento, como também implica em uma exposição graduada ao estímulo provocador de medo. A exposição pode ser realizada através da imaginação ou ao vivo.
37
•
Manejo de Recompensa -
É recomendável para quadros fóbicos-ansiosos.
Cada aproximação do objeto e/ou situação temida deve ser seguida de alguma espécie de recompensa, associando-se, dessa forma, uma experiência agradável à vivência de medo. Além disso, a desconfirmação da conseqüência negativa esperada facilita um maior engajamento do paciente e leva a um aumento na freqüência das aproximações do estímulo temido. 2.5.Prática Clínica de Análise Comportamental com Crianças Silvares & Gongora (1998), assumem uma posição bastante integralizada quanto ao manejo do processo psicoterapêutico, partindo do processo de entrevista, trazendo em seu livro: “Psicologia clínica comportamental: a inserção da entrevista com adultos e crianças”. Relatam fontes possíveis de orientação para a ‘formulação’ quanto aos comportamento(s)-problema(s) de planos de intervenção estratégicos a cada situação. Orientando a identificação dos reforçadores e contigências . Vários são os fatores que podem contribuir para o encaminhamento de uma criança ao psicólogo, dentre eles estão: problemas conjugais de seus pais, depressão de um dos familiares, nível sócio-econômico da família
e percepção
inadequada dos pais. Cabe ao terapeuta, ser perspicaz para discriminar como se estabelecem as relações reforçadoras de determinado “quadro”, através de uma análise funcional, derivada de uma acurada observação sistemática, além da interação terapeuta-criança (cliente), bem como da “investigação” em fontes de apoio ao desenvolvimento da criança (tais apresentados seja no ambiente familiar, escolar e/ou social). Instaurado o encaminhamento de uma criança para tratamento psicológico, as entrevistas iniciais são realizadas com seus pais, ou responsáveis, na sessão seguinte a entrevista realizada é com a própria criança, e se necessário pessoas significativas do seu meio, como por exemplo os professores, são entrevistadas.
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É importante que na primeira vez que se está vendo os pais dos “possíveis” clientes, seja salientado pelo terapeuta que lhes forneçam(no caso, os pais) uma apreciação geral sobre os comportamentos deles. GROSS (1984&1987), citado na obra de Silvares&Gongora (1998), levantou vários pontos a serem abordados nas entrevistas com os pais, pontos estes que podem ser vistos como etapas do trabalho de entrevista do psicólogo infantil, com vista à definição dos objetivos da intervenção futura com a criança, tais como: identificar e descrever os comportamentos problemáticos da criança; obter dados que permitam uma formulação de hipóteses sobre os determinantes (antecedentes e conseqüências) dos problemas; verificar a freqüência e a duração desses problemas em termos quantitativos; obter informações sobre esforços previamente feitos, na tentativa de alterar os comportamentos problemáticos e sobre as mudanças comportamentais alcançadas; levantar a valência positiva e negativa dos estímulos ambientais para a criança e familiares; descobrir os pontos fortes do repertório infantil, de modo a definir o ponto de partida da intervenção; estimar a propriedade dos pais a estarem inseridos no trabalho com a criança; estabelecer um bom rapport com a família e a criança objetivando garantir compreensão e aceitação das orientações processadas na clínica; definir os objetivos de trabalho com vista à alteração comportamental, em termos de comportamentos alternativos desejáveis. Sabendo-se que a criança não se auto encaminha para um atendimento psicológico, é de fundamental importância checar se de fato há algum problema com ela, antes mesmo de identificar e descrever qual é o problema dela. O fato é que , muitas das vezes (e não raro), as crianças após uma avaliação cautelosa não apresentam quaisquer comportamentos desadaptáveis, o que já não ocorre com os pais que apresentam uma história de reforçamento punitiva(às vezes) e generalizam tais contigências para seus filhos. O contato com a criança, segundo O´LEARY (citado por Silvares & Gongora,1998), em 1972, se traduz :
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“era fruto mais da necessidade de se manter com ela um bom rapport, tendo em vista o trabalho terapêutico a ser com ela desenvolvido”. Essa concepção vem gradativamente se modificando, para Edelbrock & Costello (1984), também citados pelas referidas autoras, o qual explicita que essa mudança se manifesta através de duas tendências: um aumento da estrutura e especialização da entrevista e uma mudança na visão da criança, a qual passa a ser vista mais como informante de seus próprios sentimentos, comportamentos e relacionamento social, como também muita informação, que por tradição dependia do relato dos adultos, vem sendo fornecida também pela criança. No primeiro encontro com a criança, o terapeuta, em geral, apresenta-se e a convida para conhecer a sala de brinquedos, deixando seus pais na sala de espera. Em geral este primeiro momento é reservado para observações dos comportamentos da criança, deixando-a livre para uma sessão lúdica, de conhecimentos, interação, estabelecimento do vínculo, o que facilitará o desenvolvimento do processo. É nesse momento de conhecimento que o terapeuta esclarece quem o é enquanto profissional, qual o seu papel, de que forma pretende desenvolver o trabalho com ela e garante a confiabilidade e o sigilo. O psicólogo infantil busca com a própria criança, os antecedentes e conseqüentes de tais comportamentos, para confirmar a análise funcional hipotética, por ele levantada, na entrevista com os pais dela(sem dúvida este levantamento não se restringe ou efetua apenas no primeiro encontro, mas, nos subsequentes). Vale enfatizar que os cinco primeiros levantamentos considerados de importância para os pais, o são também, no caso da criança. Quando o encaminhamento estiver vinculado ao ambiente escolar ou por algum professor, o processo é similar, pois os mesmos motivos que determinam as entrevistas com os pais se aplicam aos professores.
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Ao entrevistar os professores sobre a criança encaminhada, as questões devem ser voltadas não apenas para os comportamentos que motivaram o encaminhamento dela, mas também, para a percepção de causalidade dos mesmos. É importante verificar a procedência do encaminhamento, isto é, verificar qual a intensidade e freqüência, saber quais os antecedentes e os conseqüentes desses comportamentos alvos da queixa alegada. Seguindo esta lógica, o próximo passo trata-se da elaboração do plano psicoterapêutico, isto é, a intervenção propriamente dita, que confere aplicabilidade tanto à nível de consultório na interação terapeuta-cliente, quanto ‘transportado’ para outros ambientes (como em casa ou na escola), por meio das tarefas de casa ou mesmo através do treinamento parental, donde ambos, consiste em manutenção do comportamento de modo generalizado não obstruindo a causalidade disfuncional apenas no setting terapêutico. Todo este processo de operacionalização, de investigação e busca no estabelecimento de relações funcionais que podem estar sendo mantidas refletem o embasamento teórico-técnico do Psicólogo Clínico Infantil, substanciado pela Abordagem Analítico-comportamental. 2.6. A Opção pela Abordagem Analítico-comportamental Os conteúdos acima esboçados , remete-nos à uma auto-reflexão quanto a opção realizada em se trabalhar nessa linha de pensamento, que acredita na possibilidade de mudança; que estimula a criança , bem como suas figuras de apoio a serem gestores de seus caminhos; e não acreditam que o que aconteceu para que fossem encaminhados ou à procura da clínica psicológica, sejam resultantes de um ‘carma’ ou de intempéries do destino ou de insucessos quanto as relações exclusivamente relativas à infância. O que faz-me dedicar-me arduamente tal abordagem , é o reforço de observar , bem como após a realização deste estágio, comprovar a efetividade quanto ao processo psicoterapêutico sob a luz da Análise do comportamento. 41
Dentro da supervisão, os casos atendidos abordaram desde problemas e dificuldades de aprendizagem, hiperatividade, comportamentos de ‘birra’ `a psicoterapia com crianças com desenvolvimento atípico (um dos casos tendo sido atendido pela presente autora). Para tais queixas, intervenções específicas a cada caso foram utilizadas, valendo-se ressaltar o processo de modelação e modelagem, no caso das crianças com
desenvolvimento
atípico,
como
também
reforçamento
positivo
à
comportamentos adequados nos quadros de comportamentos em situação de ‘birra’. Em se tratando de crianças com problemas de aprendizagem, atividades discriminativas e associativas foram pontes decisivas para reforçamento no processo de aprendizagem. Além do treinamento parental constante, que incluiu desde modelagem à instrução e esclarecimento tanto no que tange as peculiaridades das fases do desenvolvimento
infantil,
quanto
as
contigências
que
permearam
o(s)
comportamento(s) problema(s). Objetivando uma elucidação do caso, como também um treinamento assertivo quanto ao manejo parental adequado, nas situações de cunho doméstico ou social. Enfim, a estratégia terapêutica utilizada vai depender única e exclusivamente do plano que se estabelecerá após a etapa observacional, onde serão levantados os pontos citados anteriormente. E a finalização acontecerá, quando tanto as figuras de apoio, quanto a criança estiver “capaz” a ter auto-gerenciamento, e houver uma generalização dos comportamentos e situações trabalhadas no consultório, como meta de extensão às outras vertentes da esfera de vida do indivíduo. Em virtude de tamanha peculiaridade, esteve sob responsabilidade da presente estagiária cinco casos clínicos, sendo quatro atendidos no espaço físico do “SEP (Serviço Escola de Psicologia)” da Faculdade Santo Agostinho, e um caso 42
atendido na Associação Divina Providência : “Creche Maria Imaculada”. Dos cinco casos, três eram crianças do sexo masculino e duas do sexo feminino, com idades entre três à treze anos de idade. A seguir serão detalhados particularmente, atendendo desde a data de triagem, encaminhamento, queixa (s) à evolução e encaminhamento e recomendações para o caso.
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