Publicidade E Machismo

  • July 2020
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Pedofilia, Publicidade e Machismo "UM ESTÍMULO SEXUAL QUE AS MAÇÃS PODRES NUNCA ESQUECEM"

Se o ato de protesto do WLM (Woman Liberty Movement) contra os concursos de beleza estadunidenses, fato que ficou registrado como “A queima do sutiã de Outubro de 68”(Bra-Burning), em Atlantic City, foi intencional ou não, se ocorreu ou não, pouco se pode saber. Segundo textos pesquisados, não houve queima de nenhum sutiã ou qualquer apetrecho estético. Entretanto, várias foram as manifestações de repúdio a cultura machista ocorridas neste ato: teatro de guerrilha, porcos coroados como Miss América, “bombas de fedor”, etc. Mas ainda assim, este ato de protesto e “tentativa de incêndio”, tornou-se um dos maiores símbolos da história recente da luta das mulheres. Graças aos jornais que escandalizados, forjaram uma matéria para caracterizá-las como loucas e histéricas. O tiro saiu pela culatra. Um mito foi criado em favor da luta feminista. Mas se estas mulheres não tivessem radicalizado em seus protestos, tal “história” teria tido alguma repercussão? Eis uma época que o movimento feminista caracterizava-se por atitudes enérgicas, inovadoras e contrárias as normas morais vigentes de comportamento social. A simbologia da “queima dos sutiãs” correu o mundo, estimulando outras mulheres a se manifestarem contrariamente a situação social que lhes era imposta. Sendo as mulheres a maioria da população mundial é fácil identificar o risco que é para a sociedade machista, uma consciência feminista ativa e disposta a lutar. Se já não era mais possível manipular as idéias das

mulheres que faziam parte deste momento histórico, a opção foi “preparar” a percepção das futuras gerações de mulheres para que também não fossem influenciadas por tal evento e pela própria luta feminista. Dezenove anos após “a queima dos sutiãs” foi lançado no Brasil uma propaganda que até hoje meche com o imaginário sexual masculino e teve grande repercussão no futuro comportamento feminino: “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”. A propaganda “parida” da cabeça do homem conhecido por Washington Olivetto tinha como estandarte a revalorização do espartilho moderno: o sutiã. Esta indumentária do vestuário feminino havia sido descartada a duas gerações como uma representação simbólica da libertação do corpo feminino. Mas como é comum, para que tal legitimação se fizesse compreensível era necessário uma contribuição do próprio oprimido, neste caso um “toque feminino”. Coube a Camila Franco e a Rose Ferraz a construção de um roteiro que reafirmasse as máximas machistas e preconceituosas dirigidas e induzidas às mulheres. Máximas que já existissem no imaginário coletivo, que reafirmassem o papel social das mulheres como o de objeto de desejo. Máximas que revigorassem valores morais machistas, como o de que é papel do pai/protetor apresentar a menina ao convívio da sociedade, para que esta possa ser admirada e despojada em matrimônio, fato comum nos rituais de passagem conhecidos como bailes de debutante ou nas “festas da décima quinta primavera”. Entretanto a principal idéia usada para difundir a ideologia machista passou pela pseudolibertação sexual (controle do corpo feminino) e sua sujeição como objeto de desejo masculino. Idéia nada nova, difundida até pela Igreja Católica, e que a muito é estimulada pelos meios de comunicação. Nela a mulher seria o símbolo humano da “pureza e pecado”. A idéia foi realçada pelo fetiche perfeito: usar a imagem das colegiais. A imagem comum da mídia pornográfica que representaria a “inocência e malícia”, retratando a passagem da infância para a adolescência – momento que a garota entra em condições sexuais de procriar. Vejam o comercial: (para ver o comercial acessem o blog)

Vencedor dos principais prêmios da propaganda mundial (logicamente por reafirmar valores machistas e usar de técnicas sutis de manipulação), o comercial do “ 1º sutiã” contem um singular número de “subliminaridades”, de exposição do corpo de uma criança/adolescente que podem ser muito bem caracterizados como exploração sexual. Na época a atriz de 11 anos (idade regulamentar que determina o limite entre a infância e a adolescência – idade conveniente para expressar uma transição no comportamento feminino) representa uma garota que estaria sem sutiã e que observa que todas as suas colegas de escola obedeceriam a normatividade da indumentária. Podemos dizer que numa representação simbólica que tal “roteiro” também relaciona-se a metáfora da mulher pós-movimento feminista dos anos 60 e 70, uma mulher que estaria olhando para os comportamentos do passado (das antigas normalistas, garotas que estudavam em escolas de freiras nos anos 50 e aprendiam a ser prendadas, “bem comportadas” e seguir as regras de etiqueta) e os comparando como o da sua geração “bicho-grilo” (sexualmente mais ativas, com muitos parceiros, mas mães divorciadas ou de produção independente).

foto de normalista

Mas o “roteiro” não se complementa de modo tão simples e reproduz o conceito moral de que é seguindo os estímulos do pai (leia: desejos masculinos), que a garota se enquadraria no comportamento "mais adequado as mulheres" e, por conseqüência, nos “sonhos” masculinos. A adequação as vontades masculinas fica explícita na cena final em que a adolescente é assediada por um jovem com jaqueta estilo “rebelde sem causa” dos anos 50. Mas este não foi o maior dos males, a soma ideológica da psicologia do desejo sexual dentro do marketing e da difusão propagandística da mulher/menina como objeto no cinema, provavelmente tem hoje resultados diretos no comportamento sexual descrito como pedofilia.

E não se assustem e nem minimizem o poder que os comerciais de TV têm na cabeça das futuras gerações, pois se você é capaz de lembrar-se destes comerciais, mesmo que passados cerca de 20 ou 10 anos, é sinal de que as imagens se enraizaram em seu imaginário e provavelmente seu comportamento psíquico foi de algum modo influenciado. Vamos a um teste: alguém se lembra dos comerciais do ”Tio Sukita” dentro de um elevador com uma “sexy ninfeta”?

Afinal esta é a função da propaganda publicitária, como está escrito na frase de um livro específico da área sobre como funcionam “os princípios psicológicos da publicidade”, de Armando Sant’anna: “A publicidade provocando as emoções nos indivíduos cuida de impulsionar seus desejos latentes com tanta força, que eles se sintam impelidos a trabalhar para poder satisfazê-los”. O pior é percebemos que cerca de duas décadas após a vinculação desta propaganda, ocorre um significante aumento nas denúncias de casos de pedofilia. Infelizmente não se é possível avaliar se os casos aumentaram ou se apenas estão sendo mais expostos a público, mas é muito provável que se analisarmos o modo como eles tem exercitado os seus atos – a partir de "presentes" dados a crianças - veremos uma similaridade etária com o homem desta campanha publicitária. Ou seja, poderia ser qualquer homem adulto aquele que aparece no comercial seja ou não parente da suposta adolescente. Para que isso culminasse nesta propaganda"original", não faltaram estímulos na época. Por influência da mídia, num espaço de 10 anos após a manifestação, como os casos dos filmes Menina bonita (1978) e A lagoa Azul (1980), ambos com a mesma atriz norte-americana (Brooke Shields), reforçam tal tese.

Se apesar de tudo, ao menos o primeiro abordava o tema da exploração sexual na infância, mesmo que expondo o corpo da ainda menina Brooke Shields, o segundo era pura ideologia patriarcal que reconstruía o mito machista de Adão e Eva para a futura “geração eco-vega”. Ambos cansaram de passar na TV nos anos de 1980 e o segundo passa pelo menos tres vezes no ano nas Sessões da tarde. Horário bem próprio para se encontrar crianças e mulheres em casa. Com a “emancipação feminina” a pleno vapor nos anos de 1980 (saída ao mercado de trabalho e equiparação dos cargos e salários, o controle da maternidade – “a pílula”, o fim do casamento como “única alternativa profissional”, etc.,), é lamentável observarmos que o debate sobre a condição da mulher na atualidade se encontra num refluxo histórico. Basicamente resumido a questões pontuais de legalização (do aborto a igualdade salarial e violência familiar).*** Um grave erro já que em sua origem radical na WRM (American Woman’s Rights Movement), em 1848, o Estado (as Leis) – junto com a Família e a Igreja – era o principal alvo do movimento feminista. Isso quando o feminismo não está totalmente deletado do cotidiano feminino. Neste sentido citamos “o sifilítico filosofo alemão FWN”: “Imagina-se uma organização jurídica soberana e geral, não como uma arma para a luta, mas como uma arma contra a luta” - A genealogia da moral É..., vivemos uma das fases mais conservadoras da história recente das mulheres e, quiça, do mundo. O reacionarismo existente nesta propaganda se não foi mais um colaborador deste fato no Brasil, ao menos, foi um visionário do futuro que se projetava para as mulheres após a fase radical da última onda feminista. Namoro na TV, anel de castidade, sonho de moda e modelo (a nova miss universo), os cosméticos (que assumiram o papel dos eletrodomésticos) são os temas em voga por influência das Vogues da mídia. Logicamente a descrença geral possui relação como o fim da URSS – que poucos avanços havia trazido para a questão das mulheres - e do ideal da

revolução popular, ocorrido no fim da década de 1980 e início da década de 1990 – que em muito influenciaram para esta estagnação. Acrescente a isso a ideologia massificada na mídia geral de que o capitalismo não mais acabará e logo se compreende, mas não se justifica, que quase todos os movimentos de maior repercussão das décadas de 1960 e 1970 (Feminista, Negro, Gays e Lésbicas, Ecológico) vivem agora de discursos do tipo “inclusão social”, atos de “manifestações festivas” ou de interesses de “desenvolvimento sustentável”. Todos muito bem explorados pelos discursos políticos conservadores. “Utopia” é a palavra da moda quando, numa conversa, idéias radicais se manifestam. Entretanto é a idéia dúbia em relação ao “certo” e “errado”, em relação a sexualidade do nocivo e do permitido, (ou seria permissivo?) quem sabe é a nossa maior chaga da ressaca ideológica dos comerciais publicitários dos anos de 1980. A sexualidade deve ser muito bem controlada para a manutenção e estímulo do mercado do sexo. E é muito bem utilizada para a manipulação e para o controle do corpo feminino. Tanto a pornografia ou “a imagem da pureza” pode ser utilizadas em comerciais de diversas maneiras, mas com o mesmo intuito. Uma mulher seminua no comercial de cerveja pode ter uma conotação de vulgar, de “errado”, mas atende aos interesses e desejos masculinos; já uma adolescente de 11 anos ganhando seu primeiro sutiã foi passada para a sociedade de forma “pura”. Mas não é porque tem uma criança “vestida de anjo” que o comercial não terá conotação “pornográfica/erótica”. Na verdade, vai ser bem mais perverso por sua “cortesia”. Pois a sutileza de tal propaganda tende a nos direcionar para a negação da sexualidade, reprimindo-a. Tende a nos induzir a não observar o que realmente acontece, pois o politicamente correto impõe que se crianças não possuem sexualidade (obvia mentira), não se pode ter a sexualidade despertada pela imagem dela. E assim, negamos o que vimos. Ou seja, se você identificar algo erótico, vulgar ou pornográfico nas imagens de TV seria porque estes são seus desejos? Ou seria o caso de admitir que estamos sendo manipulados? Mas já que estamos numa sociedade individualista, já que cabe a culpa, a “culpa” então acaba sendo individualizada. A culpa recai sobre as vitimas que denunciam tais atos, pois possuem uma mente poluída ou suja – como se ainda existi-se algum lugar no mundo que já não tivesse sido infectado pela química história das indústrias. Ficando assim a máxima de que “cada cabeça é um mundo” e “a maldade esta na cabeça de cada um”. Mas nós Maçãs Podres não nos enganamos, neste “universo que é a humanidade” não existe ou existiu uma só pessoa que não soubesse diferenciar o que é ou não opressão e exploração. Ainda mais quando o fato se dá no campo da sexualidade. Analisando como a mídia utiliza a mulher e a criança para vender produtos de diversas origens, desde um carro até uma boneca a idéia sempre é oferecida como proposta de presente (compra/troca), de futuro (tempo) e em questões que resumem a mulher como objeto de desejo, mãe e esposa “com sorrisos de creme dental e felicidade de margarina”.

A condição torna-se ainda mais degradantes quando ficamos sabendo que os comerciais dos produtos a serem vendidos para as mulheres têm – digamos - uma “essência masculina”. Por exemplo: a frase do comercial “o primeiro sutiã a gente nunca esquece” foi inspirada em vários homens ligados a virilidade sexual como o Pelé (representante da destreza física “a primeira Copa a gente nunca esquece“), Ayrton Senna (representante da projeção do falo num automóvel - “a primeira Ferrari a gente nunca esquece”), segundo o tal de Olivetto. Assim, a visão de mundo que se vende para as mulheres é a visão que os homens têm do mundo. E o maior malefício é a contribuição das mulheres para tais vendas. Um conectivo curioso que ambos Pelé e Ayrton Senna se relacionaram, ao menos, com uma mesma mulher que em muito tem importância para a exposição do corpo feminino como produto e objeto de desejo: Xuxa. Mesmo não nos aprofundando nas critica ou análise dos fatos que envolvem a imagem que projetaram desta mulher, e que ela aceitou, lembraremos apenas que se alguém procurar imagens do filme de 1979 (Amor, Estranho Amor) ou programa Xou da Xuxa logo identificará objetivas conotações sexuais adultocêtricas e machistas, referentes a infância, reafirmando valores de segmentação sexual das crianças em jogos de “meninos contra meninas”, além de fortes conotações racistas e pedófilas. Se não é nenhuma novidade que a “História Oficial” constitui-se numa compilação de fatos parciais e que a intenção é de construir uma consciência de passado a partir da visão de mundo dos opressores. Ou que parte do controle social se dá na tentativa de forjar uma realidade que justifique os diferentes níveis de dominação, ou seja, de se criar um “passado” capaz de naturalizar as diferenças sociais, dando-lhes um caráter essencial de imutabilidade e impotência revolucionária. A novidade é percebermos que toda “ficção” é uma propaganda de marketing que projeta em nossa consciência não só o presente a ser comprado, mas um futuro desejado. Desejado por nossos opressores. Um futuro de opressão camuflada. Se a “interpretação” do passado real, em nada pode alterá-lo em seus fatos concretos, em favor da manutenção dos privilégios sociais, uma memória artificial do futuro tem sido construída e amplamente difundida pelos meios de comunicação. Mas se a “História Oficial” pode ser desmascarada, mais complexo é desconstruir a consciência coletiva das pessoas quando “estas lembranças do futuro” não se encontram escritas em livros didáticos, mas sim nos valores morais surgido das propagandas de TV que se impregnaram no imaginário coletivo. A manipulação dos registros humanos na “História Oficial” visa mascarar o resultado transformador das lutas dos que se rebelaram ao longo do tempo. Mas como não foi (e não é) possível prever com plena exatidão o resultado total do comportamento humano, a tentativa de criar mecanismos de deslegitimação da luta e dos símbolos feministas, nos comerciais e anúncios publicitários, podem ter gerado uma reação imprevista. Uma reação que estimulou desejos sexuais reprimidos pela

civilização e repudiados pela maioria dos homens e mulheres. O pior é que as vítimas desta manipulação não são os próprios repressores e sim as mesmas vítimas da opressão, ou seja, neste caso específico, mulheres e crianças. Se não é ou foi possível viajar no tempo e espaço e transformá-lo concretamente, apagando "o fogo dos sutiãs de 1968", parece ter sido possível a implantação de um chip de memoria futura, a projeção ideológica de um futuro sutilmente idealizado pelos opressores. Como nós Maçãs Podres não temos pudores, lançaremos um vídeo completamente parcial com nossa "Versão Oficial" dos fatos analisados aqui, mesmo que a denúncia venha em tom de ironia, a função é mostrar a manipulação histórica da imagem das mulheres/crianças/adolescentes nas propagandas de TV e programas ditos "infantis". Nosso deboche é um fruto podre do desrespeito que temos a qualquer pessoa (homem ou mulher) que ceda aos interesses ideológicos citados no texto e induzem a condicionamentos psicológicos e comportamentais nas crianças para facilitarem a manutenção do machismo. Assistam os vídeos e tirem suas próprias conclusões.

Para ver os vídeos: http://nucleogenerosb.blogspot.com/2009/06/p edofilia-e-machismo.html ***Sobre isso, é interesante ler o artigo “As Organizações Não-Governamentais (ONGs) Feministas Brasileiras” : “...foi o distanciamento das ONGs o ativismo, comprometendo sua capacidade de monitorar políticas de forma mais crítica e lutar por reformas mais substantivas. As atividades atualmente desenvolvidas pelas ONGs feministas bem como os laços que estabelecem, levam-nas a concentrarem mais energias e recursos em atividades mais técnicas e menos contestatórias. Alvarez (1998b) refere-se ao processo de institucionalização do movimento na América Latina.” http://www.4shared.com/file/95676533/e97016ba/As_organizacoes_naogovernamentais_feministas_brasileiras.html

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