Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes Departamento de Biblioteconomia e Documentação
EIXO TEMÁTICO: TRANSFORMAÇÃO SOCIAL (EREBD-Sul 2007)
PROJETO DE AÇÃO CULTURAL CIDADE TIRADENTES
Abraão Antunes da Silva, aluno do 5º semestre do curso de Biblioteconomia da USP1
[email protected] Rodinaldo Alves dos Santos , aluno do 5º semestre do curso de Biblioteconomia da USP
[email protected]
São Paulo 2007
RESUMO
O trabalho a seguir foi elaborado por alunos do segundo ano do curso de Biblioteconomia da ECA/USP, no segundo semestre de 2006, orientados pelo professor Luís Augusto Milanesi na disciplina de Teoria da Ação Cultural. Visando a construção de um Centro Cultural no bairro de Cidade Tiradentes - bairro localizado numa região periférica da zona leste da grande São Paulo foi realizado um estudo sobre o conceito de Ação Cultural de forma a inserí-lo nas atividades desse local. Logo após uma breve análise sobre este conteúdo teórico estruturou-se um estudo das características deste bairro de forma a entender suas necessidades culturais e num plano geral, informacionais da população ali residente. Elaborou-se, deste modo, vários planos de atividades e estratégias para o uso
mais efetivo do Centro Cultural por sua
comunidade. No final, o estudo foi complementado por entrevistas com moradores do bairro para verificar se o projeto poderia ser aperfeiçoado, ou não. Na conclusão deste estudo, foi possível aferir que qualquer projeto de cunho social precisa, em sua elaboração e desenvolvimento precisa ter a participação da comunidade beneficiada, pois ela como real alvo de tais ações, deve sempre ser questionada sobre aquilo que realmente necessita. Palavras-chave: Centro Cultural, Cidade Tiradentes, participação social, informação para cidadania.
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1 INTRODUÇÃO 2
O Projeto de Informação e Ação Cultural para Cidade Tiradentes – bairro periférico da capital paulista - foi um desafio proposto pela disciplina Teoria e Prática da Ação Cultural, ministrada pelo professor Luiz Augusto Milanesi. Desta forma, este trabalho buscou apresentar o uso do conceito de informação para cidadania, utilizando os preceitos da Ação Cultural como uma orientação capaz de provocar melhorias na qualidade de vida dos habitantes de Cidade Tiradentes. Após um estudo teórico do conceito de Ação Cultural, deu-se início à prática. Inicialmente realizou-se um estudo do histórico e da paisagem física do local, seguido de uma avaliação do quadro social do bairro com o levantamento de dados sobre o perfil sócioeconômico - educação, ensino, emprego, saúde, saneamento básico e lazer. Tendo essas informações, e os princípios de Ação Cultural como base, criou-se o Projeto de Informação e Ação Cultural para Cidade Tiradentes, que espera-se mostrar-se eficaz em alcançar resultados significativos para a população desta região. No presente texto, tenciona-se, em linhas gerais, demonstrar o início e o desenvolvimento do trabalho realizado em Cidade Tiradentes – seus desafios e problemas elucidados em uma breve síntese.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os espaços culturais quase sempre estão localizados nos centros da cidade, em locais de fácil acesso. No entanto, os habitantes da periferia não são atraídos por ele, graças às dificuldades como tempo de locomoção, custo etc. O objetivo inicial deste trabalho foi, assim, levar um desses espaços para uma região periférica de São Paulo. Sente-se que as atividades culturais humilham uma vez que levam ao sentimento da ignorância. É comum ouvir da boca de dirigentes públicos a expressão “o povo não entende”. Nesse sentido o centro de cultura passa a ter um público diferenciado, os chamados “cultos”, os que, de alguma forma, acumularam alguns conhecimentos e apreciam exibir isso como um trunfo. O jargão “o povo não entende” justifica que se dê ao povo aquilo que ele gosta e que é semelhante ao que ele vê na televisão diariamente. Isso leva, de maneira superficial, a considerar “popular” o conteúdo médio e característico da TV. (MILANESI, 1997). Assim, a análise dos dois conceitos recobertos pela expressão “Ação Cultural” produz por si só todo um programa de atuação para reverter essa situação. 3
“Ação” é um conceito cujo sentido fica mais claro quando confrontado com outro, “fabricação”. A fabricação é um processo com um início determinado, um fim previsto e etapas estipuladas que levam ao fim pré-estabelecido. A ação, por outro lado, é um processo com início claro, mas sem fim especificado, sem etapas intermediárias pelas quais se deva necessariamente passar, já que não há um ponto final ao qual se pretenda ou espere chegar. Na ação, o agente gera um processo, não um objeto. O objeto pode até resultar de todo o processo, mas não se pensou nele quando se deu início ao processo: aqui reside a diferença. O segundo conceito embutido na Ação Cultural é o de “cultura”. De que cultura trata a Ação Cultural? Um dos equívocos do pensamento contemporâneo - que se pretende libertário - tem sido a extensão dada à noção de cultura. Hoje tudo é cultura. Nada mais proveitoso para o grande diluidor da vida contemporânea, para o marketing, o merchandising e a publicidade. O que pode se considerar mais correto é que a cultura que procurou-se preservar no trabalho é a cultura que situa o ser humano no seu contexto, que o faz sentir-se parte de um todo – com suas crenças, hábitos, tudo o que faz sentir-se parte da comunidade em que habita, da sociedade como um todo. A “Ação Cultural” é o estimular à curiosidade, o gosto pelo conhecer, pelo experimentar algo que até o momento não se conhece. O intuito não é impor uma cultura, ou uma manifestação artística como a correta, mas sim apresentá-las. É um processo contínuo em que todos os envolvidos participam de sua realização, algo que é feito por todos, para todos. Na Ação Cultural, pressupõe-se que informação e cultura estejam interligadas. Informação pensando-se no acesso ao conhecimento que a sociedade produziu. E para isso não considera apenas as artes das elites, mas sim outras expressões artísticas que possam contextualizar o indivíduo em seu mundo. Aquele que conhece e entende as mais variadas manifestações artístico-culturais tem um maior embasamento para as suas criações e mesmo para apreciar outras já existentes. Portanto uma Ação Cultural precisa estar calcada no objetivo de informar, discutir, e por fim criar as suas próprias soluções e manifestações culturais. (MILANESI, 1997). A Ação Cultural é antes uma aposta: dados certos pontos de partida e certos recursos, as pessoas envolvidas no processo chegarão a um fim não inteiramente especificado embora provavelmente situado entre certas balizas. A proposta de Ação Cultural que se realiza neste projeto é guiada pelo objetivo de oferecer às pessoas condições para desfrutar plenamente dos modos culturais à sua disposição. Busca-se formas de estimular as pessoas a criarem idéias que permitam a apreensão e ao mesmo tempo a compreensão da realidade à sua volta. Para isso, tais pessoas devem ser encaradas não apenas como receptores de informação, mas também como eventuais criadores 4
preocupados primeiramente em manifestarem-se culturalmente (COELHO, 1997, p.297). Prima-se por aguçar o olhar das pessoas em relação ao mundo para desenvolver o espírito crítico e promover a libertação do pensar direcionado, o qual inibe a tomada de consciência. Faz-se indispensável, portanto, pensar na importância do ver, fazer e contextualizar. Ao adotar tal afirmativa como um de nossos objetivos, realizamos este estudo.
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DE CIDADE TIRADENTES
Localizada no Extremo-Leste do Município, abrangendo 15 km², a história do bairro de Cidade Tiradentes esteve sempre atrelada à exclusão social. Desde o fim do século XIX, a Fazenda Santa Etelvina – onde hoje fica a Cidade Tiradentes – atraía imigrantes europeus que trabalhavam no próprio local, marginalizados na sociedade da época. Muito tempo depois, em 1970, o bairro começou a sua tomar forma atual: nessa época o poder público iniciou o processo de aquisição de uma porção de terras situada na região, então formada por eucaliptos e trechos da Mata Atlântica. A cidade de São Paulo apresentava um quadro de crescimento industrial que atraía a população operária – desencadeando assim um processo de construções de vários conjuntos habitacionais para sua instalação na metrópole. Prédios residenciais começaram a ser construídos nessa região, modificando a paisagem. O bairro foi planejado como um grande conjunto periférico do tipo “bairro dormitório” – ou seja, um bairro caracterizado por possuir uma população que trabalha fora e só volta ao lugar de origem para repouso: isso ocorreu, também, devido à escassez de oportunidades de trabalho na região. Outra característica marcante de sua população é a forte presença de muitos desfavorecidos sociais, principalmente negros, remanescentes de bairros como Casa Verde, Limão, Vila Prudente, Ipiranga, Vila Formosa e Jabaquara, que mudaramse para lá, com o aumento de custo de vida nesses bairros citados. Cidade Tiradentes concentra hoje mais de 40 mil unidades habitacionais, a maioria delas, construídas na década de 1980 pela COHAB, CDHU e por grandes empreiteiras, que inclusive aproveitaram o último financiamento importante do BNH (Banco Nacional da Habitação), antes de seu fechamento. Segundo fontes não oficiais, é atualmente o maior agregado de conjuntos habitacionais da América Latina. Apesar de seu crescimento, apenas em 2001 o bairro deixou de pertencer a Guaianases para ter sua própria subprefeitura, hoje provisoriamente instalada junto a um supermercado em Itaquera. Além da vastidão de conjuntos habitacionais, que passaram a predominar na região, onde cerca de 160 mil pessoas compõem a chamada “Cidade Formal”, existe também a 5
“Cidade Informal”, formada por favelas e pelos loteamentos habitacionais clandestinos e irregulares, instalados em áreas privadas e que são habitados por cerca de 60 mil pessoas3, formando a “Cidade dos Sem Conjunto”, como é conhecido o local. O elevado número de prédios no bairro também é considerável. Esses apartamentos, por sua vez, possuem um pequeno espaço para seus moradores – a COHAB originalmente não se preocupou em construir áreas de convivência – só em alguns casos os espaços condominiais possuem gramados, árvores, bancos, playgrounds ou iluminação. Partindo da análise feita por SLOMIANSKY (2002), é possível dizer que Cidade Tiradentes se enquadra na política governamental que visava adquirir terrenos com localização geográfica afastada dos centros metropolitanos, o que possibilitava a sua compra por um menor preço, porém dificultando a sua integração com a própria área metropolitana. São os chamados “bairros da exclusão”, projetados especialmente para moradias populares. A região é classificada no Mapa de Exclusão Social de São Paulo como a quarta mais carente do Município; em seus 15 km² de área, possui aproximadamente 280.000 habitantes, com um crescimento anual de 4,92%4. A taxa mais peculiar, talvez, seja a de urbanização: apenas 4,51%5, extremamente baixa se comparada a outras regiões do município de São Paulo, como Pinheiros, com 100%. Dados do ano 2000, indicavam predominância do sexo feminino e de jovens (concentrado na faixa até os 19 anos). Já o IDH6 de Cidade Tiradentes é de 0,446 – enquadrado no nível baixo de desenvolvimento humano. Conhecido por ser um local violento, o bairro, em pesquisa não-oficial feita em 2001, foi eleito o mais perigoso da Zona Leste, estigma que os seus moradores carregam com pesar. Analisando-se os índices de falecimentos na cidade (IBGE, 2003) o total é preocupante: na faixa dos 15 aos 39 anos, cerca de 55% das mortes foram causadas por homicídios – porcentagem alta se comparada à cidade de São Paulo, que apresenta cerca de 45% das mortes nessa faixa etária causadas pelo mesmo fator. Outro aspecto a ser considerado na formação da população de Cidade Tiradentes é o fato de que grande parte dela não “cresceu” na região, ou seja, é oriunda de outras partes do Brasil, ou mesmo de São Paulo, como já relatado. Aliado ao fato de não terem encontrado na região uma infra-estrutura satisfatória – enchentes e falta de iluminação pública são exemplos disso – houve, possivelmente por isso, o surgimento de várias lideranças comunitárias que procuravam, cada uma no seu espaço e com seus interesses, melhorar as condições do local. As lideranças apresentam uma multiplicidade considerável – desde líderes religiosos até grupos de jovens desempenham um papel político na região.
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Os problemas mais citados na região7 são: a urgente necessidade de um hospital, falta de vagas nas creches, contínuos vazamentos de água esgoto, desmoronamento em certos setores da malha viária e a expansão das favelas na vizinhança. Outros problemas verificados com a análise dos dados estatísticos populacionais e de outros relatos foram: a alta taxa de desemprego, a considerável entrada dos jovens nas drogas, a infra-estrutura ainda deficitária em alguns pontos da cidade – como os conjuntos não regularizados. Problemas culturais? Não se pode afirmar com certeza se esse é uma das principais solicitações dos moradores – pois conforme informações não oficiais, as lideranças comunitárias se manifestaram sobre a construção de um espaço para a preservação da história do bairro, resultando nesse Projeto de Informação e Ação Cultural para Cidade Tiradentes. Até que ponto o restante da população sente também essa necessidade já é difícil prever: podemos presumir que eles nem saibam no que esse espaço cultural pode mudar ou melhorar suas vidas. O “lado faltante”, o povo, ainda se faz ausente no universo potencial da cultura brasileira, assim como na maioria do país, mesmo sendo ele o principal ator desse palco. Analisando outros indicadores sociais dos moradores de Cidade Tiradentes, podem ser verificadas muitas desigualdades sentidas pelos moradores da região, que moram dentro de um lugar que não reflete a “glória econômica” da capital. A conscientização dos seus moradores se faz necessária para a retomada da luta por direitos não reconhecidos, e é com a participação deles em atividades como assembléias populares devidamente orientadas por representantes de ONGs e afins que políticas de inclusão social poderiam ser planejadas. Agora, parte-se para uma análise mais focalizada de cada aspecto da região. A região é grande, os problemas também: a “criatividade e a vontade” são maiores. Estudos em grupos visando medidas a curto e a longo prazo, planejando o desenvolvimento da região são indispensáveis, embora soe como qualquer idéia assim no Brasil, muito utópica. O Centro Cultural poderia ser um centro para esses estudos de criação/recriação da realidade vigente. No plano educacional, a pesquisa careceu de dados mais recentes e precisos, mas pode-se dizer, antecipadamente, que a estrutura organizacional escolar da região pode melhorar em vários aspectos. E o Centro Cultural, como instrumento de auxílio na busca pelo aperfeiçoamento do processo de aprendizado, pode incitar um intercâmbio com as escolas visando desenvolver melhorias diversas aos estudantes. As bibliotecas das escolas devem ser mais bem equipadas e administradas, e o Centro Cultural tem como objetivo possuir parte de suas atividades voltadas para esse público. A importância de atingir esse público reflete-se na tentativa de fazer com que não enxerguem simplesmente a “cultura como cosmético”, mas 7
sim como um instrumento de transformação que possibilitará o melhor entendimento de seu mundo e o desenvolvimento de seu censo crítico. Investir na vertente de padrões pedagógicos progressistas que permeiam à idéia do “aprender a aprender ao longo da vida” nesses futuros cidadãos seria fundamental. Isso se reflete no efetivo uso de várias fontes informacionais, fundamentais para a criação de um diálogo entre o Centro Cultural e a escola, que possui os receptáculos maleáveis dessas informações – os alunos. Livros, revistas, jornais, jogos, teatro – tudo para esses usuários, maioria esmagadora nas bibliotecas públicas, que infelizmente não saem de lá sem traumas. A educação complementar, oferecida pelo Centro aos jovens, seguirá os mesmos preceitos indo um pouco além no quesito discussão. Já a educação complementar dos adultos apresentará um clima mais agradável àqueles que estariam voltando de sua jornada de trabalho e que procuram uma forma de descanso e descontração, principalmente. Outra questão a ser discutida é a da qualificação de mão-de-obra, e que necessita passar pela conscientização política desses trabalhadores, ainda não atentos ao círculo alienante do universo do mercado ao qual pertencem. Partindo dessa premissa o Centro Cultural poderia fazer parte desse processo de aprendizagem da “leitura do mundo” desses indivíduos. Se realmente a opção em misturar política com cultura for errônea, mesmo cerceada das mais belas intenções possíveis, o Centro Cultural ao menos desenvolverá um trabalho crítico com a classe trabalhadora para demonstrar, entre outros, procedimentos de segurança no serviço, direitos trabalhistas, adentrando mais uma vez o profícuo campo da informação para cidadania – que é o principal objetivo de sua existência. Cursos voltados para formação de agentes/auxiliares na área cultural são essenciais; é preciso analisar anteriormente, se há espaço no mercado, se uma formação mais breve já é satisfatória, e para onde irão esses novos profissionais. Devido ao alto número de desempregados, poderia também ser organizada uma comissão para verificar quem são eles em Cidade Tiradentes, o que faziam, como vivem e como podem se “reinserir” no mercado de trabalho. Uma base de dados com propostas de empresas idôneas e que contenha também o perfil dos profissionais que habitam a Cidade Tiradentes seria algo mais a ser implementado. Se o objetivo é construir um espaço vital para a cidadania, perceberia-se que a saúde é algo intrínseco à qualidade de vida de uma pessoa, sendo assim outra preocupação deste Centro Cultural. Ele poderia auxiliar as Unidades Básicas de Saúde na realização de palestras para toda a população focando sempre um público para determinado tema: pelos indicadores vistos no tópico, seria interessante desde já desenvolver atividades voltadas às jovens no sentido de conscientizá-las dos perigos da gravidez precoce, em parceria com as escolas. As 8
oportunidades são inúmeras, o público também: o foco é importante, a qualidade do serviço prestado mais ainda. Tem-se ainda a biblioteca, carro-chefe da maioria dos Centros Culturais. Trabalhamos aqui com o potencial – e é isso que foi explorado neste Centro Cultural, a possibilidade de atrair pessoas tanto por serviços voltados à formação da cidadania, à conscientização de problemas variados no mundo do trabalho, da saúde, no auxílio à educação, e também no simples entretenimento/divertimento de seus usuários. Um ambiente agradável tem que começar pela recepção, continuar na área de convivência, mostrar-se presente na exposição de trabalhos. Principalmente num local como Cidade Tiradentes, onde o pouco espaço dos apartamentos incomoda quem lá vive, um lugar arejado e de grande dimensão atrairia muitas pessoas. E ele não pode estar restrito ao Centro Cultural: os Pontos de Cultura – ramificações deste instituição, junto também com os Centros Comunitários, aliado às outras bibliotecas públicas ou comunitárias existentes na região serão desenvolvidos dentro de um plano maior que possa cumprir a missão de qualquer organismo público: auxiliar nas melhores condições de vida daqueles que o freqüentam. Com a visita e entrevistas realiadas com moradores da região, verificou-se que as associações comunitárias e ONGs são responsáveis pela execução e gestão de uma parte significativa das instituições culturais no bairro e as exceções ficam por conta, em se tratando da visita em questão, dos chamados Telecentros e Pontos de Leitura. A maioria dos serviços prestados carecem de uma estrutura física e de recursos humanos e financeiros adequados e o poder público, representado na figura da subprefeitura, pode atuar de maneira permanente e em conjunto com estas associações no sentido de suprir estas carências e de viabilizar projetos em parceria com as mesmas, uma vez que possuem uma inserção direta na comunidade de Cidade Tiradentes e vivenciam seus problemas diariamente. A importância do Centro Cultural diz respeito não somente a suprir essas carências, mas também em disponibilizar bens culturais às comunidades de outros distritos, pois nem sempre o deslocamento entre o centro e os outros pontos do bairro é facilitado se considerarmos aspectos como meio de transporte e custos envolvidos, entre outros.
4 IMPLANTAÇÃO DO PROJETO
Pode-se concluir que a razão maior pelo cenário deficitário da infra-estrutura da região justifica-se principalmente pela ausência de planejamento: desde sua concepção a região fica à espera de uma ação governamental mais efetiva, já que muitos atos visando melhorias na 9
região partiram de iniciativas da própria comunidade local. Fica evidente que a tentativa de melhorias pela atuação governamental do bairro não obedece a um estudo mais aprofundado; conseqüentemente não remete a um planejamento global envolvendo os interesses da região. Não existe um projeto de desenvolvimento integrado, sendo que questões como Educação, Saúde, e Emprego, dentro de uma política desenvolvimentista, deveriam estar ligadas umas às outras. Sendo assim, procura-se incentivar o desenvolvimento crítico dos habitantes, algo que pode ser obtido através de ações que possam privilegiar a capacidade de refletir, pensar e acima de tudo questionar a realidade vigente. Se esse conhecimento é obtido através da informação, esta será disponibilizada às pessoas através de um determinado local que possibilite a interação da comunidade - a idéia central de nosso Centro Cultural, que será o “coração” do projeto, ponto estratégico que coordenará as atividades dos outros seis Pontos de Cultura, de dimensões menores que este e distribuídos pelo território do bairro. Propõe-se neste estudo que a biblioteca seja o núcleo do projeto, interligando, coordenando e dialogando com todas as demais atividades presentes no Centro Cultural. Diversas questões relativas à vida dos moradores do bairro podem e devem ser discutidas dentro da biblioteca. Para realizar-se isso com sucesso, é interessante pensar em alguém que medeie o diálogo a ser estabelecido. E nos casos em que haja tal necessidade, essa pessoa será um especialista para discutir determinados assuntos com a população. A biblioteca promoverá também atividades temáticas, com relação a eventos e datas comemorativas gerais e locais. Haverá ampla divulgação prévia de tais eventos para assim atrair o maior número de pessoas possível. A criação de seis Pontos de Cultura é outra sugestão, os quais estarão sob a coordenação do Centro Cultural, com o objetivo de um melhor controle sobre as atividades e serviços. Esses Pontos de Cultura teriam em seus acervos livros, jornais, revistas e outros recursos. Porém, com o intuito de não ocorrer uma descaracterização do objetivo maior do Centro Cultural, que é ter a Biblioteca como eixo central de todo o projeto de Ação Cultural, os acervos dos Pontos de Cultura, terão alguma relativa limitação em relação ao do Centro Cultural. Aqui propomos que eles sejam temáticos e que circulem, periodicamente, esses acervos temáticos entre si. Com isso, evita-se que o Centro Cultural Central seja procurado tão somente por outras atividades e serviços oferecidos, ficando a sua biblioteca menosprezada, devido ao acesso às obras desejadas nos Pontos de Cultura. É prevista ainda a promoção de algumas das atividades já mencionadas, como debates entre os moradores.
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4.1 Serviços e Programas8 Entendemos como “serviços” o conjunto de realizações de tarefas ou prestações de assistência destinados à comunidade em questão. São atividades constantes, que funcionam ininterruptamente enquanto o Centro Cultural estiver aberto. Eles são parte da rotina da biblioteca que a perpetuam como instituição. Alguns exemplos:
Banco de vagas - Desenvolvimento de uma base de dados que incorpore o perfil (Currículo) dos profissionais da Cidade Tiradentes, com possibilidade de busca por perfil, profissão etc.; haverá também uma outra base de dados de classificados de emprego que também tenha como fonte de busca, a profissão. Deste modo, poderia ser feito um cruzamento de dados das duas bases para identificador potenciais profissionais para atuarem de acordo com a necessidade do empregador.
Informações para o dia-a-dia - Cadastro de informações referentes aos problemas do dia-a-dia: emprego, direitos, cuidados com criança e família, assistência pública, emissão de documentos entre outros. Para que essas informações possam ser utilizadas pela população via telefone e internet o centro deve prover de pessoal capacitado para atendimento ao cidadão, uma espécie de SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão).
Denominamos como “programas” as atividades desenvolvidas pelo agente cultural, oferecidas em ciclos ou períodos previamente calculados. Um ciclo de palestras sobre um determinado tema, uma mostra cinematográfica ou uma exposição, são atividades praticadas dentro do tempo estipulado para sua duração. Os programas funcionam intermitentemente, podem ser colocados em prática uma única vez ou a cada determinado espaço de tempo. Alguns exemplos:
Cinema - Disponibilizar um espaço para uma espécie de Cineclube. Além de exibir filmes de ficção e de interesse comum a todos, haveria exibição de documentários com posteriores debates e desenvolvimento de atividades de acordo com a temática;
Exposições - Exposições de artistas ou “artesãos” da comunidade, ou até trabalhar em conjunto com as escolas quanto à exposição de trabalhos desenvolvidos pelas crianças e jovens - Feira de Ciência, Feria de Artes etc..
4.2 Parcerias No setor de Audiovisual, pode-se estabelecer convênios com redes de TV diversas, para obtenção de filmes a serem exibidos. Outra possibilidade de convênios é com os festivais
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e amostras de cinemas para que tanto a produção atual seja mostrada, como também o que foi produzido nas oficinas do centro cultural possa ter um maior espaço de divulgação. No âmbito musical, também é pensado em convênios para que se possa haver trocas de produções culturais, trazendo orquestras para o espaço. Dentro do Centro Cultural pode haver oficinas de musicalização para um primeiro contato (sensibilização) com a música erudita. Nesses convênios, assim como os demais, visa-se também as trocas de produções externas e interna, sendo isso válido para a produção de música popular. Por fim, os convênios poderão ser realizados de formas semelhantes para as artes plásticas, dança e teatro, com universidades, museus, grupos teatrais e de dança. Importante ressaltar que é necessário, após as exibições locais das obras, tantos as externas como as internas, ser realizado um debate acerca dos temas abordados e do tratamento estético adotado, pelo público e pelos realizadores, e por profissionais e críticos da área (convidados para o evento) para que se possa ter um amplo panorama da obra e seu contexto, e assim gerar novas possibilidades de criação.
4.3 Comunicação da biblioteca Há uma certa tradição das bibliotecas em não explorar o poder da mídia e da propaganda para atrair seu publico. A propaganda tem a função de mostrar os produtos ou a utilidade de uma determinada instituição ao seu público consumidor. O que ocorre com a biblioteca e com os Centros Culturais é que estes locais têm uma atitude passiva diante do que Coelho (1997) veio a chamar de Marketing Cultural. A inexistência de concorrência e o medo de causar demanda superior à capacidade de atendimento faz com que estes não realizem trabalhos de pesquisa para verificar as necessidades do seu público. Como não há uma questão de sobrevivência tão marcada como no setor privado, onde a eficiência é prezada, o que se apresenta é apenas uma situação de apatia e estagnação da cultura. Para este Centro Cultural as ações propostas no sentido de dinamizar o marketing cultural são as seguintes: ele terá a seu serviço um ou mais profissionais que vão planejar juntamente com seus dirigentes ações de divulgação das atividades do mesmo; também promoverá reuniões periódicas para analisar seu serviço de comunicação e a resposta obtida através das atividades da equipe de Marketing Cultural.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tentamos com esse trabalho unir a teoria à prática da Ação Cultural para a construção de um Centro de Cultura em Cidade Tiradentes. O estudo teórico de conceitos de Ação Cultural, seguido da prática nos proporcionou um grande aprendizado, que realmente não teria sido possível de outra forma. Por tudo que foi apresentado, esperamos que este trabalho tenha deixado claro que a construção e o desenvolvimento de um Centro Cultural, assim como qualquer instituição semelhante, não é algo simples: deve ser pensado e planejado em função da(s) comunidade(s) que irá utilizá-lo, se possível num diálogo constante com a mesma. Como este trabalho foi um laboratório para a aplicação prática da Teoria da Ação Cultural, algumas das decisões apresentadas aqui não foram as mais cabíveis, possivelmente. O essencial é que ele seja aperfeiçoado levando sempre em consideração as necessidades dos habitantes de Cidade Tiradentes. De fato, pretendemos aperfeiçoar o trabalho, para que possa ser encaminhado às autoridades responsáveis pelo setor de Cultura da subprefeitura. Indo além em nossa análise, verificamos que o bibliotecário tem a possibilidade de agregar valor às informações que disponibiliza em seu local de trabalho, o suficiente para influir na qualidade de vida dos habitantes que possam se utilizar de todas as atividades planejadas para esse público: informação, cultura, desenvolvimento e transformação social são termos integrantes da esfera em que este profissional pode interferir, afinal.
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NOTAS 1
Os seguintes alunos elaboraram o trabalho, na disciplina de Teoria da Ação Cultural, ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Augusto Milanesi, no segundo semestre de 2006: Abraão Antunes da Silva; Adalto Brandão Uchoa; Alex Oliveira Cardoso; Ana Paula Rodrigues Silva; Daniel de Oliveira Costa; Eduardo Abreu de Jesus; Eliane Missumi; Fábio Mutsuo Hasegawa; João Carvalho; Kelly Kazue Shinoda; Jefferson Mazur de Oliveira; Lílian Viana; Lúcia Miyuki Higa; Luciana de Paula Arjona; Mariana Granado S. Queiroz; Rafael Ribeiro Rocha; Rodinaldo Alves dos Santos; Sandra Cardoso; Vanessa Melo de Carvalho. 2
Para se adequar ao tamanho do texto pré-estabelecido pela comissão desse evento, todo o texto encontra-se resumido. As ilustrações também não foram inseridas. 3
Esse dados referem-se a estimativas de 2002. Presume-se que atualmente Cidade Tiradentes possua em torno de 300.000 habitantes - para verificar dados mais completos veja o capítulo referente ao Quadro Social. 4
Baseado nos dados populacionais de 2000 a 2004, em pesquisa realizada pelo SEADE - Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados. 5
IBGE – Censo Demográfico 1991 e 2000.
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Índice de Desenvolvimento Humano, índice estatístico que varia de 0 a 1, e indica o grau de desenvolvimento de uma região com base na análise de três aspectos: renda per capita, expectativa de vida e nível de educação atingido (calculado através da taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais e da taxa de matrícula nos níveis básicos e superior); tal índice é realizado em cada país, ou mesmo em localidade mais específicas – como uma cidade, ou mesmo um bairro. IDH baixo: de 0 até 0,499; IDH médio: de 0,500 até 0,799; IDH alto: de 0,800 até 1. (retirado parcialmente de HERMET, 2002). 7
SLOMIANSKY, 2002.
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Devido a limitação de páginas, apenas alguns foram mencionados.
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REFERÊNCIAS CEU Inácio Monteiro – Cidade Tiradentes. Coleção Meu bairro, Minha cidade. São Paulo, 2001.
Cidade Tiradentes – Boletins da Subprefeitura. (Julho a Outubro de 2006).
COELHO, José Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural: cultura e imaginário. São Paulo: Iluminuras, 1997.
______, José Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 1989
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 9. ed., 2001. FRENETTE, Marco. A embalagem de luxo do rap nacional. Revista Bravo, março de 2001.
HERMET, Guy. Cultura e desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
MILANESI, Luis. A casa da invenção. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Ateliê Editorial, 1997.
MOREIRA, Artur da Silva. Botando a boca no trombone: marketing, divulgação, publicidade e atividades afins na biblioteca acadêmica. Disponível em:
. Acesso em: 24 abr. 2006.
Site da Associação dos Mutuários e Moradores do Conjunto Santa Etelvina – ACETEL. Disponível em <www.acetel.org.br>. Acesso em: set./out. 2006.
Site da Prefeitura de São Paulo. Disponível em <www.prefeitura.sp.gov.br>. Acesso em: set./out. 2006.
SLOMIANSKY, Adriana Paula. Cidade Tiradentes: a abordagem do poder público na construção da cidade; conjuntos habitacionais de interesse social da COHAB-SP (1965/1999). 2002. 2 v. + 1 CD-ROM. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade de São Paulo, 2003.
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