Tempos conturbados, final de século, vastas formas de manifesto: posso gritar na internet(torre de babel), possso fazer um vídeo, tirar fotos...Cantar, sempre cantar; música de fundo, música para trabalhar, música para distrair. E o verbo, aonde estacionou? Amiga minha reclama da falta de Heróis! Morreu o Bell. Ouvi na FM enquanto escrevia esta frase. Não morramos. Que nossas frases fiquem escritas nas pedras, como os Maias. Para que quando os discos-voadores vierem e apagarem todas as coisas magnéticas, nossas mensagens ficarem por mais dois mil anos, e que o novo povo tente decifrá-las, pois não terão vivido tanto e mesmo Eles ansiaram por conhecimento. Velhos poetas. Que diria Poe diante de meu velho computador? Como convencer Artaud que não mais se preocupasse com o turbilhão de idéias que lhe brotam da mente fadadas ao esquecimento? Daria-lhe uma câmera digital ou um gravador de fitas K-7 para que as recordasse ao despertar. O que nos restou, nos dias de hoje, velhos poetas, não foi o recitar de boas poesias ou o relato de aventuras e batalhas, mas sim o amargo gosto de semanas trabalhadas em função de um fim de semana. Volto a concordar com os românticos, não os que morriam cedo, mas os que exaltavam a natureza. A Verdade Real. As coisas que se aprendem e que não dependem de mais ninguém. Que a loucura de Van Gogh seja agraciada com horas e horas de jovens que se aproveitam de substâncias e fitam seus quadros seculares (O Campo Cheio de Corvos) e deleitam-se, oferecem partes de suas vidas a apreciar suas tintas espalhadas e não reconhecidas. Tais quadros continuam, poucos pensamentos continuam, o que fazer para estacionar no Eterno? Conteste o vigente! Nunca espere reconhecimento de seus contemporâneos. Mas e a dor? Como acomodar-negligenciar-suportar a dor? Orelhas foram cortadas, vidas se deram poucos adquiriram conhecimento. Percebo que escrevo sem parágrafos. E também que as substâncias aprimoram-se e persistem, tal qual obra-de-arte. Enter Fazer. Quem trabalha de mais não encontra tempo para pensar. Nem para ficar rico. Transformar noites tempestuosas e madrugadas insônes em algo. Belo desafio. Se é preciso cantar, como? Como mostrar uma bela mensagem e não se prostituir? Fazer com que uma pequena frase abunde no “hit-parade” E toque, por uma fração de segundo a dois corações. Basta. Os dois olhos que Beethoven fitava ao final da apresentação de sua Sinfonia eram os únicos que lhe interessavam.