:. Autor: Ìyálórìsà Jurema Oliveira da Òsun
PORQUE O ÈSÙ-ELEGBA (AFRICANO) FOI ASSOCIADO AO DIABO? Porque os assentamentos de Èsù encontrados na África eram considerados obscenos e imorais pelos europeus que lá chegaram. Em toda expedição que era feita à África sempre tinham padres missionários com a finalidade de catequizar e converter os pagãos africanos. E naturalmente essa catequese não permitia que continuassem a cultuar seus Orixás pagãos. (Pierre Verger - Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns – pág. 133) Os amigos viajantes muito falaram dessa divindade que a todos impressionava por seu aspecto erótico. Pruneau de pommegorge foi o primeiro que; tanto quanto podemos saber, descreveu um Legba. Eis como apresenta o Legba de Ouidah, onde permaneceu de 1743 a 1765. A um quarto de légua dos fortes os dahomets ainda têm um deus Príapo, feito grosseiramente de terra, com seu principal atributo, que é enorme e exagerado em relação à proporção do restante do corpo. As mulheres, sobretudo, vão oferecerlhes sacrifícios, de acordo com sua devoção e com o pedido que lhe farão. Esta má estátua encontra-se debaixo do forro de uma choupana que a abriga da chuva. A representação de Èsù na África é um pênis que para o africano é o símbolo masculino da procriação, da fertilidade masculina, sem ele ninguém nasceria, o pênis é o veículo do sêmen fecundador e gerador do ser humano. É visto com naturalidade, sem malícia e sem obscenidade. Para os africanos o pênis é representado naturalmente, uma escultura, como aquelas que se vê nos museus europeus em estátuas gregas e romanas. Os europeus ao chegarem na África encontraram figuras com um pênis na cabeça, sem a capa de tecido da foto acima, que foi colocada para tirar a foto e para ficar mais discreto aos olhos não acostumados ou maliciosos. Imaginem os missionários, devem ter ficado horrorizados com tanta indecência e imoralidade, logo taxaram como coisa do Diabo que os africanos nunca tinham ouvido falar. Existem várias representações de Èsù. Eshu, Exú, Elegbara, legba são algumas formas de escrever. Segundo Pierre Verger em Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns (pág. 119). Èsù Elegbara e Legba na África, Èsù Elegbara dos yorùbá, Legba dos fon, encerra aspectos múltiplos e contraditórios que dificultam uma apresentação e uma definição coerentes. Vamos enumerar rapidamente suas principais características. Èsù é o mensageiro dos outros Orixás e nada se pode fazer sem ele. É o guardião dos templos, das casas e das cidades. Tem um caráter suscetível, violento, irascível, astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente. Os primeiros missionários, espantados com tal conjunto, assimilaram-no ao Diabo e fizeram dele o símbolo de tudo que é maldade, perversidade, abjeção e ódio, em oposição à bondade, pureza, elevação e amor a Deus. Portanto a ligação de Èsù com Diabo na África, nada mais foi do que uma arma usada pelos missionários para que os pagãos se convertessem ao cristianismo e abandonassem suas crenças. Por outro lado no Brasil a ligação foi levada mais à sério, por uma parte dos brasileiros. Enquanto no candomblé tradicional Èsù é cultuado como um Orixá guardião da comunidade, protetor da casa e das pessoas que lá buscam ajuda, pois não incorporam nas pessoas aleatoriamente, é um Orixá como outro qualquer, mas só vai incorporar na pessoa que for seu filho. Que por sinal são raríssimos.
Cada Omo Òrìsà tem seu Èsù pessoal que é assentado juntamente com o seu Orixá por ocasião da iniciação, mas esse também não incorpora é o intermediário entre a pessoa e seu Orixá, é um protetor. Em outros seguimentos afro-brasileiros como Umbanda, Quimbanda e mesmo muitas casas de candomblé, seu nome foi usado para identificar espíritos de muita ou pouca luz que incorporam nas pessoas que tenham mediunidade, mas não são os Èsù cultuados no candomblé, são espíritos que se intitulam Exus. Exemplos:
Candomblé: Estes Èsù não incorporam em ninguém, seus assentamentos são feitos cada um com material específico e para uma finalidade específica. Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù Èsù
Yangi Agba Igba Keta Okoto Oba Bàbá Èsù Odara Osije Eleru Enu Gbarijo Elegbara Bara Lònán Olobe Elebo Àláfia Oduso
Senhor da Laterita Vermelha Senhor Ancestral Senhor da Terceira Cabaça Senhor do Caracol Rei e Pai de todos os Èsùs Senhor da Felicidade Mensageiro Divino Senhor da Obrigação Ritual Senhor da Boca Coletiva Senhor do Poder Mágico Senhor do Corpo Senhor dos Caminhos Senhor da Faca Senhor das Oferendas Senhor da Satisfação Pessoal Vigia dos Odus
Umbanda, Quimbanda e candomblé: Exú Exú Exú Exú Exú Exú Exú
Tiriri Marabô Tranca Rua Gira Mundo Caveira Maria Padilha Maria Mulambo
Só coloquei os mais conhecidos. Esta lista não tem fim, a quantidade de espíritos que usam o nome de Exú é tão grande que não daria para colocar todos aqui. Normalmente são cultuados em imagens de gesso em formato de capeta com chifre e rabo, são pintadas de vermelho e muitos usam capas pretas. Esta é a diferença que muita gente não entende, acham que tudo é a mesma coisa. Resumindo:
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Èsù guardião de candomblé, não incorpora em ninguém, não são comparados ao Diabo. Èsù Òrìsà só incorpora no seu filho, não é comparado ao Diabo. Muitos espíritos de Umbanda, Quimbanda, adotaram o nome de Exú para se identificarem, e incorporam em médiuns desenvolvidos, são comparados ao Diabo através de imagens. Espero que tenha esclarecido as dúvidas, Èsù não é o Diabo. Essa história foi inventada pelos padres missionários tanto na África como no Brasil.
Um abraço, Ìyá Jurema Oliveira da Òsun