JORNAL DE DEBATES JORNALISMO AMBIENTAL
Por que cobrimos mal Carlos Tautz (*)
Há algumas semanas intermediei na lista de jornalismo ambiental a contratação de uma assessoria de imprensa para uma grande empresa do setor de petróleo e gás natural – a pedido de uma amiga que já trabalha no setor de comunicação dessa companhia. Recebi uns 20 currículos de profissionais e empresas especializados em ambiente. Antes de encaminhar à empresa esses currículos, dei uma olhada no conteúdo. Constatei que esse povo tem uma qualificação e uma experiência profissional excelentes. Todos – sem exceção – pósgraduaram em áreas conexas ou já desenvolveram trabalhos na área ambiental (e com isso acumularam conhecimento empírico). Muitos expandiram a qualificação a outras cadeiras e alguns preferiram aprofundar os conhecimentos em comunicação mesmo. Foi uma surpresa grata. Entre jornalistas, não raro nos queixamos de falta de aprofundamento de nossos cursos universitários e das poucas oportunidades que a pauleira do dia-a-dia profissional nos proporciona para melhorar a formação profissional generalista e muitas vezes superficial que se convencionou aplicar aos cursos de Jornalismo. Mas essa pesquisa não-intencional que acabei fazendo com os currículos que passaram pelas minhas mãos me mostrou que a formação profissional do jornalista ambiental é muito boa. Tanto quanto a de engenheiros, economistas e advogados que se dedicam a acumular MBA disso, mestrado de gestão daquilo ou qualquer curso que esteja em moda. Os jornalistas nos deixamos enredar por uma armadilha. Somos instados a sempre aumentar a qualidade da informação que produzimos, mas estamos submetidos a uma dinâmica extremamente desfavorável de funcionamento do mercado de trabalho. Por exemplo: a exposição a eventuais erros é potencializada pela audiência vasta que nossa produção tem. Some-se uma crescente competição intraprofissão e acabamos emparedados na ilusão de que apenas o domínio da técnica nos apura profissionalmente. Acabamos deixando de lado o investimento na reflexão crítica sobre o produto de nosso trabalho – como convém ao patronato. Isso é fatal numa profissão em que, no fundo, o que nos qualifica é a melhora permanente da nossa capacidade de observação das coisas e dos processos do mundo. E não somente o controle da língua e/ou da técnica. Dos currículos de que acabei tomando conhecimento, aprendi que há uma mão-de-obra muito qualificada, que se bem empregada pode melhorar e ampliar a cobertura de ambiente. Um detalhe me chamou a atenção. Nenhum dos profissionais está em redação grande. A maioria trabalha em assessorias de imprensa e alguns militam em redações de tamanho menor. Por que será? Será que isso demonstra
que há uma lógica de funcionamento do mercado de trabalho segundo a qual jornalista qualificado deve necessariamente permanecer fora dos veículos que garantiriam repercussão maior ao seu trabalho bem elaborado? De toda forma, essa realidade que descobri prova no mínimo uma coisa. É o mercado, e não o jornalista, o responsável pela qualidade baixa da cobertura de ambiente. (*) Jornalista