Filippi DeLuca Morais da Silveira Acadêmico em Artes Visuais PILLAR, Analice Dutra (org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 1999.
As relações arte/tecnologia no ensino da arte Claudia Zamboni de Almeida •
A imagem no ensino da arte
Por volta dos anos 80 é introduzida no Brasil uma nova abordagem do ensino da arte, que propõe uma inter-relação entre: o
Produção
o
Leitura da imagem, e
o
Contextualização histórica Sendo assim a imagem ganhou presença de ícone dentro da sala de aula, antes
abolida por metodologias modernistas. A íconização da imagem é consenso entre os educadores “comprometidos com o desenvolvimento estético e artístico”, perceber seus alunos conversando a respeito de Van Gogh, Miró, Picasso, etc. é motivo de orgulho para tais seres. A pertinência contemporânea a esta altura do processo de revisão do ensino da arte é se a seleção dos conteúdos desenvolvidos estão dando conta dos imagens divulgadas nos mass-media, sendo que estas nos abordam cotidianamente sem prévio aviso ou permissão. Porém mais que essa pertinência, está a pertinência estética, desenvolvida muitas vezes ditatorialmente na escolha das imagens a serem utilizadas em sala de aula. Se acompanharmos o contexto histórico da arte, é simples compreender por que tal forma tem tanto peso no sub e consciente humano.
Retomando a questão estética, sob a óptica do modernismo, associado às teorias expressivistas da educação que apostavam em um talento intrínseco ao indivíduo, tem-se uma justificativa. Na contemporaneidade utiliza-se da releitura de obras, como espaço favorável à recriação artística. Porém, este é um caminho dúbio, sendo que ao mesmo tempo em que há a transgressão para com o ícone, estipula-se um ícone. Todo ato é político.
“(...) embora a arte-educação seja apenas uma pequena parte do mundo da arte – e aos olhos de muitos, uma parte insignificante – ela é, apesar disso, formada e modelada pelo mundo da arte, e reflete suas crenças. A arte-educação tem muitos valores em comum com o mundo da arte, os professores de arte reproduzem as mesmas concepções de realidade que são encontradas também no mundo da arte. (Wilson, 1989:51)”
Para além do caminho que vamos discorrendo, mas utilizando a citação acima, educação artística e mundo da arte comungando em mesmas concepções, considerando as relações arte/tecnologia, estas devem receber maior expressividade dentro do espaço aula.
“(...) imprescindível, nessa passagem de século, que teóricos, museus, instituições de ensino e todos os integrantes dos circuitos das artes repensem a modificação do processo de trabalho dos artistas com as novas tecnologias, a própria alteração da obra de arte na sua percepção e leitura, os espaços de difusão e ainda a revisão de princípios para a formação da visualidade eletrônica. (Domingues, 1993:59)”
Então, uma profunda compreensão sobre as novas formas de produção de imagens no contexto contemporâneo é de fundamental importância para podermos repensar constantemente o ensino da arte nas suas relações com a contemporaneidade.
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Buscando a compreensão das relações entre arte e tecnologia
Para compreender tal situação deve-se entender que as linguagens devem ser utilizadas a partir das necessidades do estudante/artista no desenvolver de seu projeto, ou seja, não há a subjugação de qualquer linguagem, mas sim um trânsito entre as mesmas,
“pois nossa contemporaneidade é marcada por movimentos que ultrapassam as disciplinas, estabelecendo verdadeiros vasos comunicantes, mecanismos rizomáticos que se apresentam como uma multiplicidade de acessos, de entradas que anunciam, a cada vez, uma compreensão outra do momento em que vivemos. (Costa, 1993:12)”
Devemos nos apropriar destes novos meios tecnológicos de uma maneira a nos descobrir em novas poéticas sensoriais disponíveis, compreendendo o mesmo como rizoma, como um espaço a novas possibilidades, não só contemplativas. Como no texto, “ (...) o artista tem o papel fundamental, o de aproximar o homem das tecnologias de uma maneira sensível.” Lúcia Santaella, faz uma leitura da obra de Diana Domingues,
“As imagens para diagnóstico médico são insuportavelmente indicias. A capacidade simbólica humana , expandida na inteligência tecnológica , chegou a um tal nível de saturação que é capaz de capturar o intangível do real com a fria e implacável
precisão dos autômatos. Órgãos, superfícies, buracos e reentrâncias, pedaços do corpo são expostos, postos a nu o lado avesso do corpo. È a carne prescrustada em crueza, células, moléculas, carne reduzida a si mesmo, dessexualizada, diante das imagens para diagnóstico, a imagem do corpo como aparência, suporte para as aparições da fantasia, reflexo espetacular das projeções imaginárias, é a primeira a ser varrida, banida de cena, diante de tanto real, não há imaginário que resista. Suprema ironia. Nada é mais erótico do que as cavidades, lábios, sulcos, fendas, as curvas para dentro do corpo. Mas só o são porque a imaginação as veste de desejo. E de desejo é aquilo que não saí das bordas. Para além delas, o real assombra.” (Satntaella, 1995)
A autora dá uma conotação muito tátil, pois vejo a forma antropofágica ao corpo, no sentido das nossas mentes limitadas, envoltas a estética, da formulação de signos a uma iconização de um ser. A subjetividade da obra é o que nos interessa, não pontualidades.
A citação de Francastel¹, da uma ênfase ao desenvolver tecnológico, nos dando a compreensão de como a arte é a expressão, também, das tecnologias que nos envolvem, pois das mesmas, a muito tempo utilizamos, seja do primórdio artesanato, ou da mais engenhosa engenhoca, como o helicóptero de Da Vinci. O artista também como ser sensível ao mundo exterior exprime tal tecnologia no seu fazer.
Lúcia Santaella, define o processo evolutivo da imagem por três paradigmas: o
Pré-fotográfico: dependem fundamentalmente de da habilidade manual
de um individuo para plasmar o visível numa forma bi ou tridimensional. Ex.: desenho, pintura, gravura, escultura
o
Fotográfico: que se refere a todas as imagens produzidas por conexão
dinâmica e captação física de fragmentos do mundo visível, isto é, imagens que dependem de uma máquina de registro, implicando necessariamente a presença de objetos reais preexistentes
Ex.: fotografia, cinema, televisão,
vídeo, holografia o
Pós-fotográfico: são imagens que são geradas por computador,
sintéticas, que utilizam do meio digital, softwares, tendo como suporte a tela do computador.
Segundo a autora, “Todo o meio acaba por sintetizar o outro, a cultura do homem vai acumulando conhecimentos e processos.”, continuando, a mesma completa utilizando da imagem pós-fotográfica e sua “ilha de edição”, termo baseado nos conceitos de Arlindo Machado, tais quais, “ilha de edição” como sistema de reprodução de fitas cabeça-a-cabeça(?), dotado de dispositivos bastante precisos de corte eletrônico, destinado a editar material gravado em vídeo. Ela segue, junto a Plaza, colocando que na utilização dos novos meios, há-se mais deslocamentos do que substituições dos meios. Cada linguagem tem sua especificidade e expressividade, que dão conta dos propósitos de cada artista. Nestes processos, de representação e mediação não se pode dizer mais do que a linguagem permite; o que pode ser dito através de um meio não pode ser dito por outro. Cláudia comenta, “O artista sensível a estas mudanças não fica à margem, mesmo porque estas descobertas abalam a própria condição do artista. No caso da fotografia, por exemplo, as habilidades artísticas de registrar o real foram desafiadas pela máquina e possibilidades pelos recursos tecnológicos já embrionários no Renascimento.”, talvez essa ainda seja uma visão de um artista moderno,
endeusificado, possuído por Midas, onde o mesmo está em disputa com as máquinas no fazer artístico. Essa visão da autora está muito contaminada pelo fator “tecnologia”, creio que a grande chave é pensar a instrumentalização do aluno dentro deste contexto histórico em que estamos inseridos e além disso discutir a imagem a partir deste mesmo tempo, levando a arte além das portas de museus, salas de aula, estéticas, velhas e ultrapassadas, compreendendo que a arte deve ser novamente levada ao cotidiano, junto a deliciosa subjetividade que ela nos permite. Como conclusão a esta parte, dentro desta “nova” visualidade digital é importante que o ensino da arte não negligencie este contexto.
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A imagem eletrônica no ensino da arte
Sim, hoje vivemos em um mundo repleto de imagens, e a classificação entre “imagens da arte e outras imagens” não faz sentido. Muitas vezes em uma imagem cotidiana pós-fotográfica comercial, traz um discurso poético/comercial que tem um rendimento para comentários profundos acerca dos conteúdos da arte. A confluência no momento a ser tomada é a de que devesse pensar contemporaneamente no ensino da arte, seja situando criticamente o indivíduo imagéticamente em seu habitat e/ou dando condições para que o mesmo saiba utilizar das ferramentas tecnológicas para as produzi-las também.
Vida é tempo