Reportagem 3
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nossos engenheiros teve de trabalhar vinte horas seguidas para resolver uma avaria”, conta um oficial.
E QUANDO A ESCOTILHA FECHA... Meio-dia. Algures por baixo do mar. O Barracuda já navega à cota periscópica, a cerca de 12 metros de profundidade. É servido o almoço para o outro turno. À mesa recordam-se operações militares que envolvam submarinos. Mas também se conversa sobre os inconvenientes da vida de submarinista. “Os mais novos têm dificuldade em manter uma relação afectiva estável. Agora está toda a gente habituada ao telemóvel e não conseguem estar quinze dias sem comunicar”, argumenta um dos oficiais. Há os que não falam sobre este assunto, mantendo apenas uma expressão ausente no rosto. Ao jantar os temas são os mesmos. Fala-se ainda da possibilidade de incluir mulheres na tripulação. Em princípio, ninguém tem nada contra, desde que existam condições para separar os dois géneros a bordo. Numa coisa concordam, o Barracuda não as tem. Quanto aos novos submarinos encomendados por Portugal, o Tridente e o Arpão, que entrarão ao serviço em 2010, talvez as tenham, dizem. Aliás, a expressão “quando vierem os novos...” é uma constante no discurso da tripulação. A conversa é interrompida frequentemente por mari-nheiros que fornecem dados ao comandante. Algumas das informações obtêm resposta pronta sobre o que se deve fazer. Outras parecem apenas ficar registadas mentalmente por Mamede Alves. Finda a refeição, regressa-se ao trabalho. O
6 | 29.08.2008 - CASUAL
próximo exercício está marcado para as 14 horas, altura em que acontecerá uma simulação de incêndio. Na tripulação há militares que foram “voluntariamente obrigados” a ir para os submarinos, mas a maioria chegou por opção. O que os levou a escolher esta vida? O comandante dá o exemplo e explica como se consegue passar tanto tempo seguido no mar: “É uma questão de hábito”. Mas não é tão simples quanto isso. “É um sentimento misto. Quando estou a navegar sinto a falta da família e, depois, quando estou em terra sinto saudades de navegar. É um bocado como aquela música do António Variações...” Quinze horas. A tripulação prepara o teste com os torpedos. Sempre que se faz ao mar, o Barracuda vai armado. Acordamse os que tentam dormir nas camas improvisadas na estrutura dos tubos. Os que repousam nos outros beliches são acordados pelo barulho, mas há os que têm sono de pedra. Antes de executarem os exercícios têm de desviar os víveres guardados por baixo dos tubos dos torpedos. Na sala de oficiais, o tenente Amílcar explica as motivações que o levaram a voluntariar-se: “Como vinham as novas unidades achei aliciante. Porque vão dar a oportunidade de começar do zero”. Diz que as dificuldades são ultrapassadas com a mentalização. “O esforço maior é da nossa família”, confessa. Pouco falta para as 16 horas. À espera que comece o seu turno, o sargento Cerqueira está sentado na sala de controlo. Daqui a uns minutos vai ter que responder às ordens, zelar