A Substância
Marcos Santos
Dedico este livro, Á cratera de silêncios talhados No universo da mística verdade, Para si, De mim.
PREFÁCIO
Este livro, é o resultado de uma análise profunda do conhecimento, perante a inexistência de recursos escritos. A base de todo este saber não é mais do que o pensamento, as considerações, os fundamentos existenciais na mais nobre bíblia humana escrita no lugar mais recôndito do ser. O apoio que considerei relevante para este livro foi a verdade esculpida no centro do universo humano como resultado de uma avaliação sem portas nem paredes por deitar abaixo. É um facto irrevogável, por sua vez contestável mas sobretudo respeitado pelo ser mais desacreditado do universo do pensamento. Apoiei-me em vivências antecedentes á minha existência e corro agora o risco de perder toda e qualquer credibilidade ao dizer que todos os factos foram vividos não de uma forma existencial mas transpondo o obstáculo do tempo. Á primeira vista pode parecer ilusório, sem qualquer fundamento mas cabe á vossa consciência e á vossa inteligência perceber e saber separar essa diferença, no meu ponto de vista este livro cabe perfeitamente em determinada prateleira, determinada porque este livro revela a meditação do ser no seu segredo oculto da mais preliminar revelação enquanto vida. É um dos meus livros mais meditados e trabalhosos sem qualquer apoio de qualquer entidade seja ela de que natureza for. A relação que mantive com a introspecção que transpunha a barreira da época foi de uma dificuldade acrescida pelo retrocesso que tive de fazer do presente para um passado longínquo, foi trabalho árduo. Deixo-vos então esta obra como o reflexo de um espelho, silêncios talhados no universo da mística verdade.
A Consagração
Estou de pé no centro da sala, vitoriosa, a luz do Sol raia, a sala essa mantêm-se fria nas paredes intactas do movimento do ano, no meu peito brilham todas as constelações do universo através de um raio que entra pelo buraco da fechadura, todo o movimento se mantêm silencioso dentro destas paredes onde cada uma guarda a sua história, dirijo-me agora á janela visionária de contemplações mundanas e por entre o gelo entranhado e farta de olhares, mais uma vez observo através de ti a paragem do universo. Sento-me relaxadamente na cadeira que baloiça a minha alma entre tudo e entre todos os pensamentos que um dia hão-de permanecer, nesta viagem de encontro. Pleno o dia de sensações que se manifestam em mim como despertar das emoções ocultadas na razão de uma consciência trancada. Caminho agora pelos corredores do meu castelo de paredes de pedra estancadas pelas relvas lamacentas do perdurar dos anos e do frio que nelas criou, a relação que mantenho com o meu castelo é de uma confidente memória que ficou resguardada nestas paredes íngremes e no momento protagonizado por um novo amanhecer. Envolto pela mera circunstância de ainda permanecer no cúmplice estado congeminado pelo sussurrar dos assobios temporais numa espécie de chamamento dos Deuses numa menção honrosa ao universo astral. Curto o espaço que o tempo tem entre a minha consciência e a minha passagem, farta de horas longas de pensamentos contínuos, nas madrugadas longínquas feita de pequenos nadas e longos olhares penetrantes no dia que sucedeu á fatídica hora da mudança, de caminhares apressados nas ruas envelhecidas protagonizadas de uma vida cravada nas longas ramificações das árvores que acompanham a brancura das casas. A luta interna que me devasta o sossego de ambições futuras atadas na pressuposta resolução feita de paredes sem portas que não me fazem parar, sobretudo sabendo que dentro daquilo que expiro na real concepção do ser, jamais o tempo o parará, oportunamente criará a insustentável Inquietude de me ver cingido ás circunstâncias que povoam o
estado de inúmeras reflexões dentro das quatro paredes que envolvem toda esta incógnita do amanhecer e do virar da página. Tempestivamente recolho-me num estado de cansaço pós reflexão, sobre a emotividade que gera agora a recusa de estar vencido sobre mim mesmo, numa reviravolta da vontade e da força que sobrepõe á temporária desilusão juntamente com a frustração estampada no decair da cabeça como uma derrota. Ajoelho-me hipocritamente sobre a divina imagem enlaçando as mãos como de uma força interna se tratasse, naquele momento de indignação e perante a promiscuidade que envolve todo aquele ambiente de peso sobre a consciência quase como se estivesse a ser chicoteado pela franca mentira atulhada naquela selvática encomenda feita pelo diabo em forma de Vaticano. A pressa com que me ajoelhei e levantei era como se me desatasse de uma tortura imposta pela circunstância de não me enquadrar neste cenário de falsidades que corroem as mentes. No momento em que parei, relembrei rapidamente toda aquela sensação de inconsciência levada pela incapacidade de me movimentar perante tanta violência causada pela mágica dissolução de estarmos cientes da ofuscada tentação que caia sobre mim como se fosse puxado pela mão do diabo. Em breves segundos relembrei. Segundos esses primordiais para a tranquila consciência do estar consciente, muito embora me tenha abalado todo este episódio de uma liberdade arrogante constituída por homens que se dizem ser a voz do Além. Caminho num céu aberto de manifestações pessoais coberto pelo estar fundido com o universo de pensamentos unipessoais que me levam de volta ao meu real mundo dentro do castelo que me recolhe como uma subvenção do meu estado de sentir e pensar todo o universo. Esta singularidade, não manifestada entre os homens e as mulheres que juntos procuraram a verdade submersa no mundo oculto que transportam sobre si toda esta imensidão de circunstâncias na sua relativa e complexa fusão entre o ser e toda a filosofia envolvente no permanecimento do estar. A hipotética relação entre o bem e o mal, escrita nos velhos livros, coloca a razão no equilíbrio de ambos travando uma luta devastadora que levará á exaustão tornando-se assim num impasse. Cheiro o perfume das camélias carregadas de botões que desabrocham toda a particularidade da beleza prescrita na fecunda imensidão de uma pétala caída tornando-se despida sobre um chão coberto por um tapete avermelhado. A magnifica mudança, provocada pelas trocas de uma constante força, que permanecem ligadas numa relação de envolvência
concebida no estado natural da sua procriação e da sua morte como consequências de uma nova folhagem onde se reacende a chama de um novo nascimento. O ciclo é sempre o mesmo, o botão concebido como o ventre materno, o desabrochar como a chama de um novo “amanhecer” as pétalas que surgem como o desenvolvimento do ser, a mudança da sua cor que pressupõe ser o seu amadurecimento, e entretanto na sua secagem rugosa e posterior o seu envelhecimento e por fim o cair das pétalas; a morte imediata. Sento-me diante da janela mundana, num pensamento distante, bem lá no alto onde as ovelhas pastam direccionadas pela vara do pastor que as encaminha para o cimo do monte verdejante de uma povoação campestre e rica de costumes e manjares de (chorar por mais). Perco-me no aroma típico das casas, nas mão enrugadas de sabedoria, no chapéu de palha poisado no banco e a mesa farta de carnes tratadas com a perícia e cuidado de mais um ano que passou, tudo na minha boca sabe a pouco. As roupas cobertas pelo cheiro da lareira e lá fora a chuva que não pára, não tarda ai e as folhas estariam cobertas pelo “manto de brancura da indescritível paisagem fotográfica, parada no tempo que a não deixou morrer. Ah… se soubésseis o que me vai na alma quando aqui me sinto. Se por um bocadinho respirásseis o vento que me passa. Se conseguísseis perceber toda esta grandeza que me dificulta e me cala absorvendo toda esta paisagem inigualável que respira parada. Na noite que cai, todas as estrelas invadem o universo. Não é preciso ter olhos para ver. Gélida a manhã de canto, sorriso do outro lado da rua, que posso eu mais querer quando tenho tudo isto? Se um dia a manhã não abrir então eu estarei morto, e serei mais um dos tantos filhos do intemporal dia seguinte. Por momentos, no meio de farrapos de neve que caíam, o Sol sorriu meio envergonhado, estatelou-se na janela húmida da noite de orvalho que antecedeu, e de repente…choveram pequenos raios cintilantes do calor que fugiu. O momento permaneceu parado por segundos, fiquei gelado no meio de um deslumbramento que me encheu a alma. Quis o dia amanhecer enquanto bocejavam as galinhas num cocorocó orquestral, num instante dei por mim já numa rua estreita que ia de encontro aos folares recheados de carne feitos com primor, com um acompanhamento silencioso enquanto mordiscava o primeiro das duas fatias que havia comido, nesse instante a minha mente saboreava o momento único de prazer do qual eu desfrutava o mais que podia, e num entretanto…
clipe…”evaporei-me” antes que a vontade me voltasse para a desejosa gulosice de comer o folar. “Farto de sabores” voltei-me para o lado de fora e caminhei agreste diante de um passeio alegre de cachopas que a bem dizer seguiam direitinhas para a missa das sete, assim anunciava o relógio monumental daquela catedral para lá dos montes, que se elevam diante de um vale de casas como o recheio de uma cereja, manifesta a paisagem soberana eleita numa junção de várias alterações terrestre, que dali fizeram o alpendre aberto de uma vila acanhada no leito de duas elevações como um castelo sem telhado. Calcei as sulipas e coberto por uma manta desci a estrada de volta á peregrinação que sustenta a minha vontade de conhecer o mundo para lá da janela mundana do meu castelo e por entre as casas feitas da pedra atulhada por manifestações da natureza e do tempo, que acolhiam as almas naqueles colchões de palha esburacados que ainda se mantinham úteis nas velhas mãos que neles seguravam. Ainda no meio do monte onde a noite já se fazia, caminhava entre as falas dos pássaros e demais animais. Amanheceu depressa. Foi descanso de pouca dura, estava na hora de por os pés ao caminho. O olhar da criança suja de lama, calcando a terra numa manifestação de alegoria que trás á ideia a plenitude de um sentimento profundo na expressão de uma focagem virtuosa da sua beleza ancestral. Calcando a estrada modificada pelas intempéries de jornadas diárias, segui caminho deixando para trás toda uma ideia de bem-estar e bem viver protagonizado pelas gentes e sabores daquela terra no entanto, levo comigo o castelo de pedra para reflexões, meditações e descansos. O velho caminho de ferro ligado á outra margem, conduz-me numa viagem do pouca terra agora já esquecido e “enjaulado” naquele coberto que tantos anos terá quanto o comboio ali permanecido contudo, as linhas paralelas proporcionam ainda a capacidade de não me esquecer daquelas viagens de uma beleza cujo o sentimento guardado é indescritível, por mais que da memória eu possa puxar. Neste entretanto, enquanto viajava na memória, qual o espanto em que me deparo nos subúrbios de mim e da mudança citadina e das gentes que nela vive como qualquer coisa de estranho. Muito embora, até eu pudesse ter estado enclaustrado no pensamento continuo de mim para com o mundo e no entanto, não me tivesse apercebido da sua transformação, mas em todo o caso, afinal, talvez até tenha algum repudio pela sua transformação e por todos os melindres nela envolto. A viagem segue-se agora no meio de socalcos e vinhas, mais lá para a frente avista-se a pequena vila abalroada pelas encostas
que a protegem como filha da natureza, parece até ser de propósito com o propósito, sente-se já os cheiros típicos da terra. Encontro isoladamente a casa que em outros tempos alojou senhores em quartos devidamente aconchegados, claro que hoje pouco sobra dela mas continua a servir portanto, foi lá que passei a noite. Num frio intenso e húmido que percorre aquela vila rodeada de finas camadas de gelo entranhadas no cimo das encostas que alberga a vila acanhada do Douro. Amanheceu, e já os cestos se arrebatavam das uvas que os homens e mulheres de mangas arregaçadas e com um pano em volta da cabeça carregavam sobre elas os cestos pesados para o lagar, não conheciam outro mundo. Calcei as sulipas, vesti a “farda” domingueira e mais uma vez fizme á estrada, passei os longos carvalhos do monte e de bragasta em mão fui abrindo caminho por entre as silvas que me tapavam a vista, derrubando-as atravessei caminho e fui de encontro pelo encosto do monte á parte interior do fim ou do principio do Rio Douro (depende sempre do ponto de vista). A maresia vinha lá do longe. Olhei á minha volta e veio-me á cabeça a sensação de um abandono, da minha parte, ou da parte do mundo, que me olhava sempre com uma certa distância no que respeita ao modo de eu ver a vida em sociedade e o modo como a sociedade me vê. Talvez por isso, eu tenha vindo gradualmente e sem se dar conta disso, afastando-me e criando um mundo dentro de outro mundo. Mundo esse perigoso. Digo perigoso, em virtude de não ser uma escolha, mas sim uma forma de estar na vida, para com a sociedade e para comigo mas ao contrário daquilo que se possa pensar esta forma de estar também têm as suas consequências e as razões nela evocadas. Contudo, poucos são aqueles que optam por esta via, é mais fácil cingirmo-nos á forma da sociedade do que optarmos por uma nova…a de cada um. Por isso, hoje, transporto comigo um sentimento e ao mesmo tempo um pensamento de certa forma equivalente a uma ambiguidade manifestamente obscura. Em todo o caso, não deixa de ser por isso que manifesto em mim a certeza daquilo que sou e daquilo que pretendo em relação a mim. De certa forma, esta longa caminhada representa o prosseguimento da minha aprendizagem e meditação de múltiplos costumes, gentes, e tudo aquilo que as envolve; á priori, parece ser um facto sem importância mas enganam-se aqueles que assim pensam porque á posteriori e depois de uma reflexão pode-se perceber que tudo tem importância na medida em que nos assemelhamos sempre; mesmo que estejamos longe
da sua realidade e também da de cada um. A coragem, ou talvez a inconsciência ou até e porque não; a consciência me levem por caminhos que outros foram capazes de percorrer carregando com eles o mistério que os mantinha e lhes proporcionava o seguimento por um caminho atroz, cheio de vitórias e derrotas que lhes davam ânimo para a sua caminhada. A verdade que eles transportavam seria a água e o pão do seu esforço. Junto de mim e perto do universo, existem uma série de compostos que proporcionam ou condicionam a constituição de cada indivíduo, sempre subjugada pela circunstância de estarmos pendentes de uma consideração pressupostamente condicionante da certeza real e independente, de que cada um se intitula. A mera circunstância de eu ter decidido fazer esta longa travessia, trás “acorrentada” a si o julgamento precoce de múltiplas individualidades agarradas á incapacidade de uma auto decisão e de levarem a cabo as suas concretizações que iram traçar a via personalizada de cada individuo. Sussurram em cânticos as aves poisadas nos ramos dos pinheiros. Sons medievais que se distinguem divinamente, numa manifestação de esplendor recolhido no coração do mundo lírico, as melodias soltas entre os ramos trazem repuxadas no âmago uma indescritível essência natural herdada do fundador. Esta simbiose harmoniosa, de cantos imaculados produzem novas sensações da palavra pelo mundo divulgada, que originou a unificação ou parte dela diante de uma ideologia e misticismo fecundo num mundo de pobreza e crença. Esta palavra veio posteriormente criar o abismo encoberto na devoção das gentes seguidoras de um Deus maior. Trás o vento em nome do tempo a mudança circunstancial de uma fé abraçada á cruz intemporal que a verdade pensou mudar. A promiscuidade com que hoje se fala dessa palavra leva-me a reflectir sobre o mundo em que hoje vivemos, tirando elações nada promissoras de uma vida “vestida” de ocultações, jogos e imposturas de uma civilização que se rasteja com o peso da sua consciência. A cósmica imagem abisma da cruz trabalhada na mensagem e não deixada ao acaso com a pressuposta razão da consagração do levitado ser em redor de uma causa perdida, numa ostentação de poder religioso, sobre a impiedosa fraqueza da alma. Estende-se agora o horizonte profundo e inatingível sobre o mar infinito, com a ofuscada luz que raia em pleno voo da andorinha numa libertação do bater de asas que apregoa as boas novas de
um novo amanhecer primaveril. Cai sobre a terra o primeiro olhar do desabrochar da essência que gera uma multiplicidade de florescimentos capazes de invadir toda a sua externa beleza espontânea. A noite, cobre-me agora o pensamento difusivo num mediterrâneo de concepções alusivas ao místico labirinto do ser eu. Complexas, as formas de manifestações internas produzidas na raiz do ser, heréticas as concepções que suprimiram a excêntrica voz do monte, das árvores, das flores, do lago e de todos os oceanos que inalteravelmente banham as encostas rochosas da erosão e do desgaste provocado por um senhor Deus tão natural como as folhas das árvores, dos rios, dos vales e todos os caminhos que comungam com o universo de genuinidade. A causa de todas estas conquistas advém de uma quimera formada na minha excentricidade como recomeço de uma real fecundidade utópica, hoje exacerbada na consciência trancada. Traz-me a astúcia o feitiço de permanecer vivo na cosmopolita liberdade do pensamento na manhã que “naufragou a noite”; rebento de um clarão intenso parido. Permite-me a voz da alma sucumbir-me numa ideia de uma constatação que assinala a continuidade da ilustre presença que se adivinha na resistente demonstração de mim para com o mundo. Assim prolongo a minha caminhada com a plena convicção de que estou certo daquilo que penso com o dever de instituir a verdade na bíblia difamada e difundida aos quatro ventos. Desço pelo “carrilho”da elevada serra de encontro á planície que “desliza” sobre um mato de ervas onde pastam as vacas vindas da ladeira; esta metafísica que não se exprime por palavras, leva-me por vezes ao subterfúgio da montanha onde me encontro e analiso num entendimento do mundo que dentro de mim gira. Lá longe, ouvem-se as ondas, filhas das marés vindas do infinito, que vêm abraçar a costa e voltam a ir para depois as suas irmãs em sua vez voltarem de novo á costa; e deslizando as águas barulhentas as gaivotas lá ao fundo mergulham a cabeça meticulosamente numa saudação lendária. Em tempos e no tempo em que o tempo intemporal, permitia o mundo caminhar no seu espaço numa leveza de ar que equacionava a existência universal de uma era em que a sua excentricidade estava no seu esplendor, algo entretanto e entre tantos mudou e mudou de forma que atingiu a própria forma que no seu momento se deformou contudo, embora neutra a posição da forma continuamos aqui cada um formado ou deformado consoante a sua formação ou até possivelmente a sua deforma ou seja: que não tem forma. Nestas variantes todas cada um e só por si mostra a sua unilateralidade na sua invulgar condição de ser, numa pressuposta união entre o ser e a razão.
O ser que permite ao ser o ser consoante a sua razão. e+e= e/r= (er) . Esta equação permite-nos perceber que o ser está sempre condicionado pela razão e esta por sua vez faz o equilíbrio das suas emoções. Rasgo de um crisântemo num chão levantado, arco-íris folhado, sublime. Enquanto me compenetrava na verdade esculpida na pedra talhada, a dúvida persistia na mística percepção das ocultas verdades que me invadiam para a caminhada do dia seguinte, e neste momento no ponto mais longínquo atravessava-se á minha frente o horizonte incandescente e por entre os ramos das árvores, raios de luz se rompem como relâmpagos que se espelham nas folhas dos troncos e que me iluminam de vida. Num movimento circunferencial e na existência de um ponto central á circunferência onde me encontro, desenha-se uma identidade uniformizada de uma absoluta universalidade e de uma excêntrica galáxia inexplorável, cuja sua totalidade é de uma fonte inacabável. Estou agora sentado numa das rochas, irmã de muitas outras, filha do núcleo da terra e á minha frente observo este mar intenso de vida, este oceano de múltiplos prazeres, utópico, relativamente ao universo terrestre, impotente o ser quando se depara com esta vida por debaixo deste azul profundo, intocável, que se resguarda na sua autenticidade como fruto proibido. Esta imensidão que oculta os seus pilares e as suas bases como referências ancestrais de princípios e valores nela mergulhados, a imperceptibilidade que me faz retroceder ao umbigo cósmico do grão á areia e ao seu desencadeamento, como forma natural do posterior envolvimento nas fases da sua actividade e alteração do mundo como pilar do conhecimento. Este retrocesso não vem na história dos livros. Não. Este recuo dá-se numa linguagem sentimental que trás á ideia a imagem do seu sentimento, proporcionando-me a veloz viagem no tempo que em nada se alterou, o holocausto que em boa medida nos mostram em nada se sobrepõe á razão da verdade da humanidade, e a toda a sua evolução enquanto existência. Despenho-me em horrores primários, quase até pré-históricos que me revelam uma tempo cabalista de uma sociedade sem ambições de se tornar única, uma confraria de mentecaptos. O rompimento da aurora traz-ma a sensação da desfolhada caracterizada pelo aparecimento de uma nova unidade, sem qualquer tipo de assemelho para como o outro ou mesmo de uma conexão, a confraternização deixa de ser uma utopia para passar a ser vista como um átomo isolado. O vazio tomou parte de um comportamento do ser, que veio posteriormente dar a conhecer o lado escuro da humanidade,
desempenhando um papel bárbaro, resultado de uma ausência de diversos factores que se enquadrariam numa sociedade aberta de princípios e valores. Julgo que a verdade lícita, criará a insusceptibilidade de outra verdade, que tentará criar o desequilíbrio da razão facultada. O tempo suprime-se mascarado e tudo o que resta é aquilo em que nós nos tornamos; o bafo que de dentro de nós sai cessa. Apoquentam-se aqueles que o sossego já não sossega. E enquanto isso acontece, a linha cintilante que atravessa o mar de uma ponta á outra; sorri-me. E a descompressão dá-se. E a esperança que invade a madrugada de Outono, num utópico pensamento que a razão balança dependente sempre de uma primeira sensação agarrada a uma meditação turva que engana a mente, proporcionando-lhe um dilema que confunde a vontade que cega a verdade embebida num momento contraditório da circunstância que depende. E depois... a denúncia. O momento da culpa que nos atravessa de uma ponta á outra e castiga, a nobre verdade que nos afronta defronte do espelho que nos rompe a alma e a desgraça que cai sobre os joelhos que nos debruça e envergonha. Fútil manhã. A procura que nos reserva o vazio, essa máxima que nos mantêm sempre incompletos, inacessíveis ás nossas emoções nessa insatisfação que nos moem, essa perceptibilidade que nos aproxima... essa matéria que nos torna... essa incumbência que trazemos na origem do ser, essa relação de proximidade que nos oculta, essa sensível questão do existir, num absolutismo imperfeito da nossa razão, essa qualidade de ser, essa raiz templária. “Elevo-me aos céus com a grandeza com que parto daqui” e lá em baixo; a planície imóvel desmascara-se diante de mim como se tornasse nua, a visão que agora se torna real desesperame...inconclusivo pela razão que dentro de mim corre, a imagem perturbadora até demasiado perfeita esconde a sua magia por detrás da sua essência e o alivio... equilibra agora o que me vai nos subúrbios da minha concepção. O prefácio que oculta todo o seu misticismo no núcleo onde é concebida a verdade comutável do seu exterior, por imposição de uma alteração cósmica por sua vez transformada pela acção degenerada do mundo, mostra agora por acção dos ventos e das marés a sua complexa força movida dentro de uma esfera que desassossega a culpa adormecida dos seus intervenientes. Chovem relâmpagos do céu estonteante como flechas indígenas, faz-se luz entre a escuridão da noite, o barulho insurreccionado, intangível, de uma força inigualável faz-se ouvir no lugar mais longínquo do seu epicentro, extraordinariamente demolidor e justo á sua medida, deixando a perplexidade tomar conta...
impotência humana, divina a essência do que é profundo e natural, virtuosa natureza, inesperada e voraz. O entendimento cósmico que crê ser de um conceptualismo ainda infundado pela razão que me parece ainda permanecer no segredo, sobre a alçada da mística criação, também ela ainda oculta na sua origem, facto irrevogável num contexto onde a verdade continua a ser posta sobre hipotéticas concepções. A condição profunda, existencial da qual estamos pendentes, escraviza-nos no íntimo tornando-nos prisioneiros da nossa integridade fiel a uma constituição onde recai toda a nossa origem como seres pensantes e portadores de uma complexidade inacessível. A inviolabilidade com que nos debatemos, pressupõe uma corrida contra o tempo cujo o nosso conhecimento muito embora, tenha vindo a ter alguns avanços não demonstra a factualidade razoável para uma concepção ideológica credível na sua amplitude, o que isto implica a continuidade de um místico universo de compreensão. O gesto impensável, instintivamente lançado, empurrado pela emotividade que demonstra a sua lealdade para com a sua verdade universal, toda a grandeza desenhada pelo gesto que advém de uma profunda relação de igualdade para com a concepção de ser, “regada” na sua essência intangível onde o abismado grão deu azo a uma raiz que por sua vez concebeu uma estrutura complexa, impar, numa presença que oculta o labiríntico e enigmático conceptualismo da consciência. O núcleo designado como um átomo isolado, mantém dentro de si a verdade universal que ao longo dos anos foi alvo de sucessivas mudanças, não alterando no entanto a verdade pré escrita, contudo, a deformação foi consciente num mundo onde outras verdades foram sucessivamente impostas em circunstâncias adversas á sua real criação. Silenciada a voz da consciência, permitiu-se calar a razão e desvanecermos por detrás da nossa imagem. O substrato nada me permite, senão a subsistência da sua verdade para com apocalíptica árvore da vida numa conjuntura de múltiplos pensamentos consequentes mas infindáveis de um enigmático começo, razão que os deuses ocultaram. Esta procura fundada numa estrutura da relação mantida no seio do ser e de uma referência genética extremamente complexa e impalpável, conduzida por uma reflexão dentro de um pressuposto real, considerando a razão de todas as razões, num fundamento de semelhança congénita á presença soberba da genuína concepção cósmica e próxima, num contexto onde o recuo do tempo e do espaço se centraliza na união dos rios, dos montes e do ser, num universo único. O momento define-se em circunstâncias que cri despontarem no
útero da luz como réquiem da vida. Esta sensação revela-se num mediatismo espontâneo de uma liberdade substancial numa natureza de semelhanças e contornos pré concebidos antes de qualquer aparecimento racional. A mensagem transmite-se dia após dia, a sua receptividade adulterada por incautos que incansavelmente procuram distorcer a verdade secular e nativa de um universo celestial, no entanto, novos cérebros foram concebidos e a mensagem foi cedendo, perdendo o valor da sua fecundação, não preservando nem originando novas raízes que divulgariam a sua genuinidade. – Já foi tempo em que a Terra girava em torno do Sol. A via-sacra tem vindo a mover mundos, abiótica a palavra, penitência de uma cruzada, apaixonada e dolorosa caminhada da fé que se tornou o alimento da consciência do ser que submergiu na doutrina de uma vontade e posteriormente naufragou no encurralado labirinto da verdade. Crentes aqueles que em si findaram. A deselegância com que plantamos ervas daninhas no seio das nossas fraquezas, considerando o erro do outro para justificação dos nossos actos com o propósito de nos ilibarmos de um juízo final da nossa consciência... e diante da casa de Cristo eu sou visto mais ou menos como o Golias opositor de uma farsa que a caracterizo como a mão que tira o pão da boca dos meninos. A emoção paira no ar sobre as bíblicas palavras esculpidas...regresso de um deus. Nobres os homens que semeiam a verdade, nobres são também aqueles que a cultivam. E trazida a manhã de novo, o céu rompe-se de azul e lá ao fundo o arco-íris abre-se como um leque e por entre todo este encanto que me adoça a vista ouve-se um musical abafado por entre todas as partículas que circulam no ar de uma orquestra resplandecente. No entanto, a minha digressão ainda não acabou, continuo atrás da verdade que a terra semeou e que um dia hei-de colher. Ah, se a vontade dos homens se antepusesse á única questão que os confronta, com a sua natural forma de se sobreporem ao mundo como sendo eles o centro do universo. Ah, se fosse esta a única verdade, se em volta de tudo isto a única existisse, se todas as razões se cingissem á razão. Ah! Se tudo fosse uno. A simplicidade tornar-se-ia o centro de cada um e todas as coisas haveriam de ser de todos o mundo partilharia este momento e todas as coisas deixariam de ter sentido e nós não seriamos milhões e tornar-nos-íamos no número um e então tudo o que eu escrevera até aqui deixaria de ter qualquer sentido para passar a fazer parte da história e em resultado disto, eu também não estaria aqui, e não seria eu, passaria a ser o outro, a minha essência desapareceria tal como todas as coisas e tudo se
tornaria opaco e a terra deixaria de existir, o Sol deixaria de ser uma estrela e tudo seria escuro. Contudo, quando me olho torno-me... e volto sempre aqui, a este ponto de referência que me coloca no principio do mundo e no principio da minha vulgar condição de ser, a altura permite-me o recolhimento em análise de todas as minhas vitórias e de todas as minhas derrotas, valores que abraço como conquistas internas que se colocam perante mim num estado da minha luta sem exclusão de qualquer circunstância, porque foram essas circunstâncias que estiveram no centro de cada uma delas. A hipotética e talvez até surreal coexistência do ser e da terra, gera uma multiplicidade de riscos inerentes a um universo antecedente contudo, a sua simultaneidade conserva na sua fecundação uma relação de equilíbrios da sobrevivência de dois pólos distintos mas que convergem numa união comum entre “o bicho” homem e a terra protagonizada de uma riqueza submersa nas suas entranhas. A criação de novos mundos, veio provocar o caos das sociedades, cujas suas doutrinas se regem por diferentes deuses, defensores aguerridos de visões, cuja sua referencia antecede qualquer um dos mortais deste século, religiões que mostram o mundo cada uma á sua maneira, por vezes até empunhando a arma sobre os frágeis braços das crianças tornando-lhes as suas consciências mortas de violência. A antemanhã abriu-se antes da hora, pronuncio de uma mudança forçada, renúncia assinalada, tufão na madrugada, aldeia rasgada, onda desvairada e entretanto, o silêncio rompeu o momento e tudo permaneceu calado como uma manhã fúnebre e de repente ouve-se lá ao um fundo um gemido que estrondeou o mundo, uma mão pequena suja de lama se eleva, o olhar perdido procura a mão que não acha e tudo se torna demoroso, todos os segundos são horas de desafios e por momentos ouve-se um silêncio de morte que desafiou a vida e a criança nua caminha agora em direcção ao mar, senta-se na areia e olha-o. A imagem ficou gravada na memória como um açoite. Jamais se perdeu. Responso da culpa oculta no silêncio da universal consciência humana, prelúdio do insensato olhar racional. E do outro lado do mundo ecoam chamamentos inglórios da perda, sobre tudo da inculpabilidade, do isolamento e da loucura. Zorro! Fez-se noite no espelho do mar defunto. O momento define-se como uma visão interna do universo pensante, numa auto análise profunda e critica de uma raça que se auto destrói dentro do mesmo habitat, a reflexão pretende com ponderação, uma pesquisa pessoal do seu comportamento
para com o seu semelhante. Estende-se ao longo deste percurso, um mundo de constantes prazeres aromáticos e auditivos, a adição de ambos, faz renascer a imagem bíblica do paraíso, esta congregação de cheiros da natureza e de sons profundos que atravessam a terra de um hemisfério ao outro, percorrem mundos de emoções num sentimento comum e singular, de uma longevidade impar e crescente. Prolonga-se extensivamente o azul transparente das nascentes, incorporadas no seio terrestre. Quedas de águas que se libertam da ilustre cordilheira transmontana, carregada de uma pureza sublime, desço a serra enquanto desliza sobre mim a bênção desta água vinda do submerso de um universo peculiar. O olhar permite á sensibilidade manifestar em prol do seu encanto ou do seu repudio, as várias emoções vivas na alma, consoante o sentimento narrado no momento, a expressão de sentimentos instintivos revelam em si a verdade que a mente transporta, na sua real concepção. O estoicismo racional com que nos confrontamos, demonstra o esgotamento plural da humanidade, relativamente á capacidade de viver em sociedade, não menos perceptível é também, o “fantástico” contra-censo existente num mundo onde o pressuposto seria a unanimidade de um conjunto relativamente á sua sobrevivência num universo de todos, cuja igualdade seria uma norma adquirida num mundo onde predominaria a justiça para todos. Não menos importante, é também a escalada ao monte, recomeço de um caminho já percorrido, na insistente e árdua “luta das barreiras”, pontos de alcance longínquos, apostas de um eu numa porta sem chave, estado emocional contrabalançado pela incerteza de pontos diferentes mas que se equilibram como contra-pesos, numa relação de intimidade única. É esta a complexidade que nos limita, esta a fumaça que nos venda os olhos, esta a real ocultação dos prazeres sentidos no submerso e recôndito misticismo da génese. ... e funde-se em chama manchada a lua, mãe de um universo de estrelas, madrasta da noite rumorosa, filha de um céu incandescente, visionária luz resplandecente. Exilei o pensamento numa postura silenciada pela incompreensão das palavras, elaborei dentro de uma conceptualizada visão universal de uma franqueza com que me afronto diante de um reflexão de mim próprio, custou-me o desconsola de não ter vivido as minhas ideias, ideias essas que são a minha edificação, a plenitude da minha existência, a continuidade.
No sussurrar da alma depreende-se o conflito interno de noções e concepções construídas ao longo dos anos na formação de inúmeras visões, algumas até criadas pela mera impressão de parecer, tornando a clareza da consciência duvidosa perante a incerteza insolúvel do esclarecimento da sua percepção. A lua desce o pano de mais uma noite, na morta conquista que o olhar apregoa no sábio pensamento de uma inércia indignação da imagem que prescreve o recomeço de um outro dia de desamparo cristão. E entretanto; a saudade...aquela visão que nos fica, que acompanha e nos rói a vontade, o arrependimento de não ter feito e novamente recomeçamos tudo de novo, como se fosse a primeira vez e a saudade então desvanece naquela hipotética concretização daquilo que nos roeu o intimo durante anos. E a Terra volta a girar. A perda. Essa interminável dor, essa dúvida perante os hipotéticos ses, essa dificuldade de aceitar, esse arrependimento cabal sufocado por todas as incertezas, essa incompreensão da factualidade, essa dificuldade que nos cala diante de uma impotência, essa rara consciencialização da verdade, essa lucidez viva que nos encontra no mais fundo dos poços da nossa existência, essa inacessível compreensão do sentimento inglório, esse cruel universo onde existimos como únicos. Esse é o encontro do ser no lugar mais recôndito de si, esse o silêncio que perturba a alma no desequilíbrio das emoções, “o fantasma” que vive acordado no seio da existência, a promessa culpabilizada como uma fuga á pressão da consciência, a questão que quando se coloca abre a porta do abismo, esse fruto proibido. A janela aberta para o mundo, a incógnita sensação do vazio de estarmos sozinhos, a paragem que ofusca todo o universo humano, a sensação estranha de um abandono da parte que nos preenche, a inconclusiva presença do espírito no seio do ser, o caminhar atabalhoado não se sabe bem para onde, a circunstância do desvanecimento que nos coloca na interrogativa procura da consciência que possuímos mas que no entanto periodicamente esconde-se e nós continuamos ali, num existencialismo sonegado. Soam gritos mudos de lá longe, ruídos que “sufocam” a consciência, tremores internos de sobressalto, trovoadas vinda lá do longe e tão de perto sentidas, choros de meia noite, curvada a criança de cócoras brinca... ...e o céu escuro humedece a terra. A estrada térrea ao abandono, prenuncia o infinito da sua terminação, o cheiro mórbido de caminhos inacabados realça o esgotamento físico “engolido” pela secura da terra e pelo
desgaste provocado pela erosão. Caminho sobre os corpos sem nome, pedaços de vida recolhidos pelo tempo, originários de outros mundos, noutras épocas de infortunadas lutas, tão reais como os tempos de hoje. Ao percorrer este caminho longínquo do mundo que a vista nada alcança, a vontade e a força interna trava agora uma “batalha” entre essa mesma vontade e o desânimo de a vista nada alcançar mas no entanto, a procura e acreditação fazem percorrer dentro de mim uma verdade e unificação bombeada nas minhas veias que me regam e levam a minha consciência ao fim do mundo. E ao parar...recordo todos os caminhos percorridos como pressupostos ensinamentos, vitórias e derrotas, ambas vistas de igual forma e apostadas á sorte numa desigualdade que nada me enfraquece nem desanima, esta caminhada que percorro sem enfraquecimentos internos por mais diversificadas vozes que se oponham á minha verdade. No centro do meu reflexo avivam-se as dúvidas interrogatórias do desconhecido, existências enevoadas na sua biografia, análises elaboradas de uma auto compreensão. “O dia nasceu com a mão fora da janela”, numa ante visão do sonho pouco esclarecido da madrugada que se antecedeu, sórdida a manhã que abriu, num enevoado meio baço de uma luz encoberta pelas frias camadas gaseificadas num estado quase como que compenetrado na sua fútil manhã. De uma musicalidade expressa no silêncio que cobre o vale encrespado no seio do rio transversal munido por uma força que rasga a montanha no seio da sua impulsividade de estados emparelhados e encrespados pela erosão que se faz sentir na génese de uma ciência natural que oculta o seu esplendor. Nada foi feito ao acaso, a simples manifestação de múltiplos envolvimentos, cria no entanto, a sensação de uma mágica controversa de um entrosamento inabalável na estreita melodia do pensamento revirado na escolta da emoção de princípios sazonais de uma razão impulsionadora caracterizada pela sua união. E em milésimos de segundos, tudo muda com num estalar de dedos. Todas as convicções fixas, inabaláveis que sustentaram toda uma razão e todo um equilíbrio caracterizado pela sua solidez baseado numa conformidade de todos os seus ideais isenta de incoerências agora desaba como se de um castelo de cartas se tratasse. A razão pela qual tudo isto sucede, aparentemente não tem qualquer fundamento muito embora, até uma mera imagem possa perturbar e dar inicio ao desencadeamento de sucessivas manifestações outrora certezas de uma sustentável ou
insustentável razão que á priori teria tudo para vencer. Afinal, todas as certezas estão recheadas de todas as incertezas, embora até possa admitir que a razão tenha tamanha força que jamais qualquer abalo a possa derrubar, porque se assim não fosse tudo seria fumo. E por momentos tudo se calou...o abalo natural convenceu-me, e neste instante o respiro profundo, o desmoronamento de uma incerteza pesada escorre agora sobre os meus ombros na compreensão de uma vida hermética que resulta da união dos seres e da terra e de uma liberdade que não acarreta a promiscuidade do poder mas transporta consigo a satisfação de uma independência e de uma obrigação coberta de valores criados no principio de uma era, valores esses que se traduzem na solidariedade entre os homens e as mulheres e no amor pelo próximo, pilares que sustentam a consciência. Adormeço sobre eles numa tranquilidade que me mantêm inquestionável. Razões que a própria razão desconhece, a não ser que a razão não passe senão de uma série de conceitos e fundamentos criados no seio de cada um ao longo dos tempos. Embora, assim não me pareça. A razão de ser trás na sua evolução conceitos e fundamentos de épocas a.C. que hoje ainda são visíveis na razão de uma sociedade. Hoje, o entulho amontoa-se concretamente nos subúrbios da consciência humana, resultado de uma perda de sentido e de uma integridade moral que hoje efectivamente conduz a um anarquismo absolutamente condenatório a uma desinteligência de uma sociedade em risco. A tolerância; esse comportamento compreendido, essa luz de equilíbrio racional, essa humana percepção do entendimento, esse sossego próprio do conceito e da obrigação, essa realidade lúcida maioritariamente ilusória capaz desassossegar o próximo como se o próximo fosse a promessa incumprida e incompreendida do mundo que o olha distantemente, como se não existisse. A procura; essa porta que não abre, esse muro que se depara, essa batalha árdua dos dias, essa questão que a consciência debate internamente num longo conflito de impedimentos patentes na conduta do ser. Essa morte enigmática que não revela a certeza, esse sussurrar de conflitos interiores, essa dificuldade de aceitar a roda em que giramos e tudo nos proporciona a frustração silenciada pelo ranger dos dentes como uma perfeita impotência de nos elevarmos e o dia nasce como se a noite não tivesse passado e o tic-tac do relógio perpetua a cadencia de um naufrágio sobre o tempo surreal do sustento.
Esperei. Meditei a complexidade da causa, sucumbi-me em pensamentos resultantes de uma procura quase inacessível, caminhei até ao âmago numa busca inglória, não parei...mantive-me enquanto a arte assim mo permitir, qualidades encarregues da busca e na reflexão impetuosa de um dia a seguir ao outro, numa expectativa mística, infortunada pela imperceptibilidade que se demarca na sua longevidade missionária despontada no regaço do ser, e invejada pela abandonada meditação sobre a sua eminente faculdade de criação. Já foi tempo. A vontade traz consigo a consequência assente na causa, adia-se mais uma vez aquilo que nos vai na nossa formação e deparamos com mais um atraso no relógio que nos semeia o envelhecimento como sequela do osso estado dependente sempre de um se. Faz-se em demora o rendimento; fruto do desapontamento criado na fraqueza do pensamento do ser, que se esconde na vergonha que o evapora entre a multidão, ninguém se deu conta, a dor interior corrói enquanto a verdade persistir no entendimento de um recolhimento que nos afasta do mundo que censura a posição e atitude enquanto a liberdade da cogitação for um facto adquirido todavia, suportamos ainda o fardo de vivermos numa embustice desavergonhada e distintamente consigo permanecer revelando uma forma de viver independente sem contacto ao nível da existência insistindo numa posição que me desvia deste universo, do qual não compactuo. A força que me evoca, subtérrea em relação ao que é imediato, em contradições provenientes de uma complexidade que abrange todo o processo lógico, logrado na herança mundana do que é fundamentalmente, autêntico e intocável. A reminiscência que me acolhe apoiada num equilíbrio racional, concilia a consciência na relação com o bem e o mal, atribuindo uma importância que não vai para alem daquilo que lhe é merecedor contudo, o refúgio do monte que me abriga situa-se na nascente de uma imponente deusa da vida, suscita a beleza inconfundível de uma autenticidade cujo o seu esplendor abraça toda a esfera. Neva lá fora enquanto á janela espreito a lua submissa da noite que a empolga, criando na vista a abominável sensação de estarmos sós no meio de uma imensa luz que nos guia para a utópica imagem mais que perfeita e enquanto desço a face do monte, invejo a serenidade da paisagem que quase me obriga a reflectir profundamente sobre todos os caminhos a percorrer como se tratasse de todas as sementes que me dão a oportunidade de viver no meio delas. Tomem-me por louco aqueles que assim o entenderem que por
sua vez são aqueles que a sociedade os vê como “os ignorantes”, ou chamem-me ousado aqueles para quem a ousadia não passa senão de uma opção e não de uma conquista. Parece-me então correcto afirmar que o ser possui conhecimentos antecedentes á sua existência mesmo não os tendo vivido, talvez até por razões religiosas que de alguma forma lhe daria uma visão possível do mundo, real, não absolutamente real mas possível, sobre hipotéticas presenças de um outro universo de meditações e misticismos transcendentais, realizados dentro de uma concepção ideológica presumivelmente tão real como a dúvida dos incrédulos. A liberdade é um conceito, que acarreta sempre alguns compromissos para com a o outro e para consigo mesmo, partindo-se de um principio que a razão está sobreposta ao limite como obrigação de um final da liberdade de cada um no entanto, esta liberdade camuflada de razões e de obrigações constrói um mundo de privações relativamente á liberdade condicional a que estamos sujeitos no que respeita á condição humana sempre estrategicamente obrigada. Sendo assim, posso pressupor que estamos diante de uma maquinação de um sistema incoerente com todos os princípios humanistas de que a existência se rege. Este maquiavelismo sintomático ao qual estamos “condenados” de uma politica de califas que protagonizam o circulo fechado para que os chamados “muros” sejam hipoteticamente construídos na mente do ser para que este não possa viver de uma forma digna; o poder essa arma que usurpa as vontades dependentes de uma criação utópica, que enfraquece e domina a diferença numa sociedade que só lhe resta a demonstração da pobreza mental fabricada pelos fracos. A ânsia. Esse desequilíbrio que permanece intranquilo, essa desunião humana que roda em volta de si, esse olhar que acarreta a incompreensão do próximo, essa luta que trás a fúria escondida no seio da existência, uma espécie de canibalismo adormecido, essa escolha entre Deus e o diabo. Foram folhas de Outono caídas dos arbustos que carregavam a manhã nebulosa, de uma noite turbulenta que decidiu agitar o pensamento que adormeceu desassossegadamente num dia que fingiu ter-se escapulido da razão, formada no âmago de um ranger tenebroso da ida. Afogaram-se princípios em nebulosas partidas de uma consciência intacta que incessantemente procura entre as suas entranhas a verdade que sustenta a sua existência. Nefasta a rigorosa inclusão de sonegadas atitudes concebidas numa ideia de poder apoiada na exclusão de partes partindo de um principio perigoso em virtude de ser concebido por uma
matéria explosiva que afasta a tranquilidade de uma próxima relação com a posterioridade, nesta “viagem” que assombra o principio de que tudo existe deste modo enquanto eu permanecer e que todo o resto é pura abstracção da real concepção da vontade e do querer. Esta censura demolidora de uma razão aparentemente capaz de sobreviver até á exaustão. Dei por mim num silencio reflectivo de apatias, que me vinham desassossegando a minha vontade de continuar a caminhada que havia planeado nos subúrbios da minha consciência, deparei-me, “numa estrada sem saída,” após me ter questionado sobre determinadas estupefacções que considerei não serem e não fazerem parte da minha estrutura como pessoa, percebi num questionário aprofundado ao seio da minha existência, que fui desmultiplicando toda a complexa razão porque tudo se havia alterado, demolindo barreiras que questionavam toda a inexistência de factos, percebi que o fundo da questão estava longe de ser alcançada e nada se poderia resumir a uma aparente desmistificação da estrutura que me completa. Posto isto, tudo se tornara mais universalmente complexo, a razão que deveria ser conhecedora de uma verdade, tornar-se-ia imposta numa ideologia de misticismos sem que existisse uma pré concebida história da humanidade. Hoje, mais do que nunca, entendo, muito embora com algumas reservas, que cada vez mais é –nos proporcionado no quotidiano razões concebidas numa estrutura de impedimentos que nos cingem á nossa vulgar condição de ser. Mas...(tudo vale a pena se a alma não é pequena). De novo voltei; enquanto tentava perceber a magnitude deste universo, completo de mistificações que me prendiam quase a uma constante meditação sobre mim e sobretudo o que faz de mim aquilo que sou, á priori poderia pensar e chegar á conclusão que tudo aquilo que sou deve-se a todas as gerações antecedentes a mim mas isso seria simplificar a questão e reduzi-la ao nada muito embora elas tenham também a sua influência enquanto raízes da minha estrutura como ser pensante, no entanto “as culpas” não se reduzem a tão pouco, considerei isto como um grão no centro de um monte, nunca menosprezando o grão que me encheu de vida muito embora tudo se tornara mais complexo com a inserção num universo de complexidades que tiveram impacto no desenvolvimento do ser contudo, a terminação desse mesmo fosse concebida por mim. Vi aquilo que jamais desejo voltar a ver. Era como se o mundo sugasse o corpo, mas a integridade, a fidelidade a si mesmo, a resistência por mais que saiba que não tem forças que cheguem, mas que dentro do seu ser existem razões mais do que
suficientes para não ceder, e são essas razões fieis a si mesmo que traçam o quadro macabro da supremacia que advém de uma consciência intacta, que se manteve inatingível no centro da sua formação como uma realidade para alem dos dias que decorrem como insignificantes para aqueles que de si mesmo ousaram trair. Testemunhei e aprendi, mais do que derrotado fisicamente, ele conseguiu-se manter para alem de todas as expectativas, por mais abalado que estivesse, persistiu a razão que o manteve erguido na sua fidelidade, na sua integridade e sobretudo na sua formação como pessoa que jamais cedeu. Foi decerto uma luta árdua, que ele venceu, por mais que as forças já não chegassem. Jamais saiu pela porta de trás; venceu no momento em que as vozes se calaram, foi silêncio que durou uma eternidade pairado na lembrança que lhe valeu. Alvorada despertou-se num grito glorioso, o momento tornou-se num marco definitivo de uma lembrança que mudou a perspectiva sobre si mesmo e vangloriou toda uma mensagem futura que iluminou no entanto, nada se torna eterno, muito embora o marco se tenha tornado definitivo, até porque; por mais definitivo que o marco se possa ter tornado seria também ilusório pensar que tudo mudou e o fim se alcançou, “foi só mais uma carta que se jogou”. Contudo o espelho onde é reflectida a vitória e como consequência mais uma porta que se abriu pode no entanto numa visão cujo o orgulho se sobrepõe á razão, pode por instantes ou até mesmo definitivamente, enganar a consciência atirando-o assim para um abismo quotidiano de uma incógnita para o dia seguinte, “tudo fica em jogo” de modo a poder levarnos á loucura de um equilíbrio sonegado nas entranhas de um auto convencimento. A vontade, esse sentimento consciente dos riscos, essa razão que trava forças com as emoções, essa penitencia que cria uma exausta reflexão da razão e depois, todas as considerações, todos os riscos que criam um muro e que traçam caminhos obscuros e tudo acaba como sempre esteve, com ou sem razão mas a vontade continua viva com um massacre quotidiano, a oportunidade não surge e cingem-se ao á frustração dolorosa do não poder, e rege-se ao conceito moral de que não abdica que por sua vez encurta as possibilidades, ainda não chegou a hora de olhar só envolta de si, como o Universo tão bem sabe fazer e a diferença revela-se neste comportamento que se demarca. Valeu a pena? Nem tudo vale a pena mesmo quando a alma não é pequena, se me perguntarem se vale a pena? Neste contexto? Sim, claro, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Contudo deixo ainda alguns resto de reticências, em virtude de a
linha não ser continua, ou como é costume dizer (nem tudo é estrada). O valer a pena também pode servir de “ombro” ao desconsolo de quem já gritou e não se ouve gritar, por mais que a voz lhe doa. Será correcto dizer, que por mais que não nos tenhamos apercebido, o universo onde vivemos actualmente, passou a ser a pedra agarrada pela mão, protegida pelo coiro da fisga e a pontaria exacta ao alvo que comemos ou vamos ser comidos, esta realidade hoje presente numa sociedade de promissores desaparecimentos relativos á fisgada que te tombará. Cada vez mais, a uma velocidade perceptível de uma caminhada para o abismo numa desassossegada janela que mostra a luta entre os homens tentando á medida que vão chegando provocar o seu derrube para mais uma vitória da invulgar condição do ser este pressupostamente alterado no seu estado psíquico hoje reafirmado como o ser mais estúpido do mundo. Este insecto nojento que nos morde e come aos bocadinhos na passagem de um dia á dia onde nos escapam as emoções das quais até por vezes nos demonstram quem nós realmente somos por mais que não queiramos aceitar nesta consciência de beldades.
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