Manifestações Socio-culturais Indígenas.pdf

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MANIFESTAÇÕES SÓCIO-CULTURAIS INDÍGENAS

para Professores

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MANIFESTAÇÕES SÓClO-CULTURAlS INDÍGENAS

ABERTURA Quem é "índio"?

"Para poder conhecer realmente outros grupos humanos, é preciso fazer um esforço para aprender como eles vêem a vida. Conhecer o que os fatos, as experiências, as situações significam para eles. Ao fazer isso, é sempre bom comparar com o que é familiar para nós. Vamos encontrar muitas coisas em comum porque, afinal, somos todos humanos. Mas ao comparar é preciso, também saber respeitar as diferenças. E o direito do outro ser diferente, falar diferente, viver diferente, pensar diferente. Lá, do jeito dele." (Silva, 1988:9) A

Em 1957, Darcy Ribeiro formulou a sesuinte conceituação de indígena no Brasil: "Indígena é, no Brasil de hoje, essencialmente, aquela parcela da população que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, em suas diversas variantes, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade de origem pré-colombiana que se identifica como etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com que está em contato" (1970:254). Esta conceituação, baseada no chamado critério de auto-identificação étnica, tem suas raízes numa anterior, elaborada para os índios da América por círculos especializados durante o II Congresso Indigenista Interamericano realizado em Cuzco, Peru. Diferentemente de tentativas anteriores (de critérios racial, legal, cultural, de desenvolvimento económico), que se revelaram insuficientes e de difícil aplicação principalmente por deficiências qualitativas, alcance limitado e ainda por certa carga impositiva e artificial1, a formulação de Ribeiro, pensada para a realidade brasileira, mostrou-se mais adequada para utilização nos meios antropológicos, indigenistas e governamentais. Pois, "...o que decide se um grupo de indivíduos pode ser considerado indígena ou não, seja qual for sua composição racial, estejam em que estado estiverem suas tradições pré-colombianas, é o fato de eles próprios se considerarem índios ou não e de serem considerados índios ou não pela população que os cerca" (Melatti, 1980:26). A preocupação com conceituações — que se estende desde a época colonial até contemporaneamente — sempre esteve vinculada a problemas e propósitos práticos: identificação, reconhecimentojurídico, direitos, assistência especial, etc.,de modo geral, questões recorrentes do chamado "problema indígena". Em suma, a questões pertinentes ao relacionamento das sociedades indígenas com o Estado e com a sociedade como um todo.

em excelente trabalho, assim nos atualiza as discussões: "...No projeto de lei dativa ao Estatuto das Sociedades Indígenas, em tramitação atualmente no Congresso Nacional2, :onceituadas como 'as coletividâdes que se distinguem entre si e no conjunto da sociedade em virtude de seus vínculos históricos com populações de origem pré-colombiana'. Para a maioria das pessoas, saber se um grupo indígena realmente tem direitos à terra e proteção especial implica em verificar se nele cabem as características de primitividade contidas na imagem genérica existente sobre os 'índios'. Já para os antropólogos o que conta efetivamente é que uma dada coletividade se auto-identifique como indígena, sendo índios todos os indivíduos que são por ela reconhecidos enquanto membros desse grupo étnico (...). Para essa conceituação, que se reflete no plano jurídico-administrativo, não tem importância alguma saber se tal população apresenta características 'primitivas', se mantém os traços físicos ou a carga genética de populações pré-colombianas, ou ainda se preserva os elementos de sua cultura original. Não se trata portanto de resgatar um uso 'adequado' (no sentido do dicionário) da palavra índio, mas exclusivamente de verificar a aplicação de um status jurídico. O quai, por sua vez, não se articula com critérios biológicos nem com a persistência de padrões culturais, mas tão somente com a continuidade de uma auto-definição coletiva" (p.78-79)2. Quantos são os indígenas hoje? A população indígena atual, computando-se os índios que vivem em cidades, soma aproximadamente 350.000 indivíduos, distribuídos entre 212 grupos étnicos (Instituto Socioambiental, setembro de 2000 / informação pessoal)3.

Grupos Humanos /Áreas de Ocupação Geral

Equador

Trópico de Capricórnio

n

3

OCEANO PACÍFICO

O

200 i

400 600. bO i i / /l

1.000 km l

OCEANO ATLÂNTICO J

ÍEPSODUçflo pflícifli: (HBPfl íino-Hisróeico DE CUÍT nimuEDDfljú. Cio DE JnnEieo, IBGi/fHPR, I98I

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24.

Paracoto Palikur Tupinambá Potiguára Tobajára Caeté Amoipira Tupiná Maracá Aimoré Tamoyo Cataguá Papaná TupinakT Temininó Waytacá Karayá Puri Guayanã Tupi Guarani Carijó Tape Arachane PatOS

fl

GM™ DOS anónimos O6EDECE fl OeiGinflL.

OUTROS NOMES OU GRAFIAS

2 Ajuru 3 Amanayé 4 Anambé 5 Aparai 6 Apiaká 7 Apinayé 8 Apurinã 9 Ara paço 10 Arara 11 Arara 12 Arara 13 Arara do Aripuanã 14 Araweté 15 Arikapu 16 Ariken y l Aruá 18 Asurini do Tocantins 19 Asurini do Xingu 20 Atikum 21 Ava-Canoeiro 22 Aweti 23 Bakairi 24 Banawa Yafi 25 Baniwa 26 Bará 27 Baré 28 Bororó 29 Canoe 30 Chamacoco 31 Cinta Larga 32 Columbiara 33 Deni 34 Dessano 35 Enauenê-Nawê 36 Fulni-ô 37 Galibi Marwomo 38 Galibi 39 Gavião 40 Gavião 41 Gavião 42 Guajá 43 Guajajara 44 Guarani

45 Guató 46 Hixkaryana 47 lauanauá 48 Ingarikó 49 Iranxe 50 Issé 51 Jaboti 52 Jamamadi 53 Jaminawa 54 Jarawara 55 Jenipapo-Kanindé 56 Jiripancó 57 Juma 58 Juruna 59 Kadiweu 60 Kaimbé 61 Kaingang 62 Kaixana

Apalai Apiacá Apinajé, Apinaié Arapasso Ukarãsmã Karo Shawanauá Araueté Aricapu Ari quem Akuáwa Awaeté Aticum Aueti Bacairi Baniua, Baniva "Povos InDÍGtnfls no Bem coniEmpOíSnEO". OFUD DICOSDO. I995. p. 56.

Boé NOME Matétamãe

Desâna, Desano, Wira Salumâ Galibi do Uaçá, Aruã Galibi do Oiapoque Digút, Gavião de Rondônia Parkatejê, Gavião do Mãe Maria Pukobiê, Gavião do Maranhão Awá, Ave Tenethehara Kaiowá, Nandeva M'bya, Pai Tavyterã, Xiripá, Apapokuva, Chiriguano Hixkariana Yauanawá Ingaricó, Akawaio, Kapon, Irantxe

Yamamadi lamináua, Yaminahua Jarauara Jeripancó Yurna Yuruna, Yudjá Caduveo, Cadiuéu Caimbé Caingangue Caixana

63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

Kalapalo Kamayurá Kamba Kambeba Kambiwá Kampa Kanamanti Kanamari Kanela Apaniekra Kanela Ranko-kamekra Kantaruré Kapinawá Karafawyana Karajá Karapanã Karapotó Karipuna Karipuna do Amapá Kariri Kariri-Xocó Kantiana Katuena Katukina Katukina Kaxarari Kaxinawá Kaxixó Kaxuyana Kayabi Kayapó

OUTROS NOMES OU GRAFIAS Calapalo Camaiurá Camba Cambeba, Omágua Cambiuá Campa, Ashaninka Canamanti Canamari Canela Canela Cantaruré Capinawá Carajá, Javaé, Xambioá Carapanã Carapotó Caripuna Cari puna Cari ri Cariri-Chocó Caritiana Catuena Pedá Djapá Shanenawa Caxarari Cashinauá, Caxinauá, Cashinahua Caxuiana Caiabi, Kaiabi Kaiapó, Caiapó, AUkre,Gorotire, Kikretum, Mekragnoti, KubenKran-Ken, Kokraimoro, Kubenkokre, Metuktire, Pukanu, Xikrin

NOME

93 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108

Kiriri Kocama Kokuiregatejê Krahô Kreje Krenak Knkati Kubeo Kuikuro Kulina/Madija Kulina Pano Kuripako Kuruaia Machineri Macurap Maku

109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124

Makuna Makuxi Marubo Matipu/Nahukwá Matis Matsé Mawayana Maxakali Mehinako Mequém Miranha Miriti Tapuia Munduruku Mura Myky Nambikwara

125 126 127 128 129

Nukini Ofaié Xavante Paiaku Pakaa Nova Palikur

130

Panará

131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156

Pankararé Pankararu Pankaru Parakanã Pareci Parintintin Patamona Pataxó Pataxó Hã-Hã-Hãe Paumari Paumelenho Pirahã Piratuapuia Pitaguari Potiguara Poyanawa Rikbaktsa Sakiriabar Sateré-Maué Sumi Suruí Suyá Tabajara Tapayuna Ta peba Tapirapé

OUTROS NOMES OU GRAFIAS

Cocama Craô, Kraô Crenaque Cubeo, Cobewa Kutejru Cutina, Madiha Culina Curipaco, Curnpaco Curuáia Manchineri Makurap Macu, Hupdá, Dow, Nadeb, Yuhupde, Nukar, Cacua Macuna Macuxi, Macushi, Pemon Nafuqua Mayoruna Maxacali Meináku, Meinacu

Miranha, Miraria Mundurucu Menky, Munku, Menki Nhambiquara, Nambiquara, Hahaintesu, Alantesu, Wasusu, Halotesu, Katitawlu, Kithaulu, Latunde, Mamainde, Manduka, Negarote, Sabane, Waikisu Nuquiní Ofayé-Xavante Wari, Pacaás Novos Aukwayene, Aukuyene Pa l i ku'ene Krenhakarore, Krenakore, índios Gigantes, Kreen-Akarore Pancararé Pancararu Pancaru Paracanã Paresi Kapon

OUTROS NOMES OU GRAFIAS

NOME

157 158 159 160 161 162 163 164 165

Tapuia Tariano Taurepang Tembé Tenharim Terena Ticuna Tingui Boto Tiriyó

166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179

Tora Tremembé Truká Trumai Tsohom Djapá Tukano' Tupari Tupiniquim Turiwara Tuxá Tuyuka Txikão Umutina Uru-Eu-Wau-Wau

180 181 182 183 184 185 186

Urubu Urubu Kaapor Wai Wai Waiãpi Waimiri Atroari Wanano Wapixana

187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201

Warekena Wassu Waurá Wayana Witoto Xakriabá Xavante Xerentê' Xereu Xipaia Xocó Xokleng Xucuru Xucuru Kariri Yanomami

202 203 204 205 206

Yawalapiti Ye'kuana

Taulipang, Pemon, Arekuna

Tukuna, 'Magúta, Tikuna Trio, Tarona, Yawi, Pianokoto, Piano

Tucano

Tu i uca Txicão Omotina Urueu-Uau-Uau, Uru Pa In, Amundáwa Ka'apor Oiampi, Wayãpy Kinã Uanano Uapixana, Vapidiana, Wapisiana, Wapishana Uarequena Uaurá Waiana, Uaiana, Wayana-Aparai Uitoto, Huitoto Xacriabá Akwe, Awen Akwe Shipaya Choco Shokleng Xukuru Xukuru-Kariri Yanomam, lanomâmi, Sanumá, Ninam, lanoama laualapiti Maiongong, Ye'kuana, Yekwana Poturu

Zo'é

Zoró Zuruahã

Palman Mura Pirahã Piratapuya, Piratapuyo

Poianáua Canoeiros, Erigpaktsa Sataré-Mawé Aikewara Paíter Suiá Beiço-de-Pau < "

II. AREI^ESEKIAÇÁODASSCKIEDÁDESINDÍGENASCONTEMPORÂHEAS NA EXPOSIÇÃO "FORMAS DE HUMANIDADE" DO MAE - USP Embora frasmentário, este módulo busca proporcionar um quadro referencial que possibilite conhecer, pela via dos artefatos, aspectos confisuradores das sociedades indísenas. Para tanto, foram selecionados alsuns temas, elesendo-se como fio condutora noção de diversidade, à medida que as sociedades indísenas, embora compartilhem elementos culturais básicos comuns, os expressam sesundo modos peculiares de lidar com a natureza, com o social e o sobrenatural, que as distinsuem de outros tipos de sociedades. Tais sociedades refletem igualmente experiências históricas únicas. Não conformam, portanto, um bloco homogéneo,- ao contrário, caracterizam-se por constituírem um grande leque de universos socioculturais específicos. A compreensão dessas sociedades, por outro lado, envolve necessariamente considerações mais amplas de âmbito económico, político e social da sociedade nacional na qual se inserem e o conhecimento de processos ecológicos evidentes de depredação e devastação da fauna, flora e recursos minerais locais. Razões pelas quais, na abordagem deste módulo da exposição, procurou-se, sempre que possível, exemplificar dimensões da realidade etnográfica brasileira tal como se apresentam na atualidade, e que trazem no seu bojo transformações de várias ordens. Assim também a preocupação em situara diversidade das manifestações socioculturais indígenas num contexto de "convivência e conflito", como elemento caracterizador das relações branco/ índio desde 1500. flCTffflTOS

D€ CULTUBfl CÚSTICfl D€

nÍTiDfl inFLUÊncifl inoÍG€nfl: GSTinHO

USflDO E FEITO POB fTlULHEBES, COm flOS DE BflSTILHO DE

(SflniflBÉm, fll E CESTO DE TflQUfl

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conififlio FifimflDO com fl PET&OB&ÓS Pflfifl PftOSPECÇflO DE PETBÓLEO Dfl BESEBVfl inDÍGERfl (TlflUJÉ (SflTEBÉ)

foros: WáGna Souzo í SlLVfl ((TlflE/USP)

A compartimentação temática — que objetiva ilustrar aspectos socioculturais importantes — e a divisão geopolítica, aqui propostas devem ser entendidas somente como recursos didáticoexpositivos atrelados à natureza e abrangência do acervo etnográfico do MAE. Primeiro porque, nas diferentes sociedades indígenas, as várias esferas da vida social apresentam-se intimamente interdependentes, compondo um todo compacto impossível de ser analisado por partes isoladas,segundo, as fronteiras nacionais não se aplicam às delimitações territoriais indígenas, uma vez que existem sociedades habitando áreas de países limítrofes. Terceiro, pelas relações intergrupais historicamente dadas.

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DESTACANDO A DIFERENÇA

raro: Luís D. B. GÍUPIOPI

v:

TOTÓ: Luís D. 6. Gcupiom

> Este setor da exposição, que integra a parte introdutória aos grandes temas, procura exemplificar a diferença entre as populações indígenas enfocando particularmente os aspectos físico e linguístico. Em. linhas gerais, do ponto de vista biológico, os índios do território brasileiro não constituem um todo homogéneo. Há etnias em que predominam indivíduos altos (Bororó, de Mato Grosso); outras em que a estatura baixa é mais comum (Grupos Tupi). A cor da pele também não é uniforme: alguns grupos étnicos apresentam pele bem clara, outros apresentam-na bastante escura. A forma do nariz, a textura do cabelo e os traços fisionómicos variam de grupo para grupo, podendo haver, inclusive, diferenças muito grandes entre indivíduos de um mesmo grupo étnico devido ao entrecruzamento sexual de caráter intertribal. Passando ao plano linguístico, constata-se que, para a maioria da população brasileira, os índios falam uma única língua, o Tupi. Na realidade, há mais de uma centena de línguas diferentes faladas pelas sociedades indígenas: hoje contam-se; por enquanto, 180. A crença de que o Tupi era o idioma indígena geral reside no fato de que, por ocasião de sua chegada ao Brasil, os conquistadores portugueses encontraram o litoral ocupado por povos de tradição linguística Tupi. Os missionários que trabalhava m entre esses índios aprenderam a língua, impuseram-lhe uma gramática nos moldes latinos e difundiram-na, inclusive entre povos não Tupi. Até o século XIX, tudo o que se sabia sobre os índios referia-se sobretudo aos povos da língua Tupi. Os outros, com os quais não se tinha muito contato, eram chamados Tapuia, BOtOtO povos de "língua travada", que não se compreendia. A partir do final do século acima mencionado, cientistas e pesquisadores começaram a viajar pelo interior do Brasil encontrando grupos indígenas que falavam línguas bem diferentes do Tupi. Aos poucos, chegou-se à atual classificação das línguas indígenas no Brasil, reunidas em quatro grandes grupos: Tupi, Macro-Jê, Karib e Aruak, caindo em desuso o termo tapuia. À medida que os estudos avançaram, os especialistas conseguiram distinguir outros conjuntos de idiomas, como Tukano, Pano, Guaikuru, Nambikwára, Yanomami e outros; e também as chamadas línguas isoladas, dentre as quais Trumái, Tukúna e Irantxe4.

Alguns exemplos de diversidade linguística

mau

DIALETO

BEBI

Tupi-Guarani

Guarani/Mbiia

ava

kunha

00

akd

ata

Kamayurá

akwama'e

kuyã

ok

Takan

tatá

Kaingang

ungré

lata

rn

krin

P'

Timbira/Krahô

hum

puje

ikre

crã

cuhy

Tupi

Macro-Jê





Aruak

Waurá

enyáu

teneru

pae

nuteurzata

itséi



Karib

Tiriyó

kiirii

wõri

pacoró

ipútupõ

máhtó



Pano

Kaxináwa

huni

ãíbõ

hiuõ

buxca

ti



Tukano

Tukano

ymã

numiõ

uíi

dekpoaz

pehkame

m m

Tronco TUPI

Tronco MACRO-JÊ

Família KARIB

Família ARUÁK

Famílias PANO e YANOMAMI

Famílias TUKANO e NAMBIKWÁRA

(tfuo ITlELflni. 1980, PP. 40-41.

g

FAMÍLIA LÍNGUA TupiGuarani

Akwáwa

DIALETO

g

FAMÍLIA l LÍNGUA

Asuriní do Tocantins (A.do'. Trocará, Akwáwa) Suruí do Tocantins (Mudjetírer Parakaná

Akwén



Kayapó

Kaiwá (Kayowá) Mbiá (Mbuá, Mbyá, Guarani) Nhandéva (Txiripá, Guarani)

Kamayurá Kayabi Kokáma Língua Geral Amazônica (Nheengatú, Tupi Moderno) Omágua (Kambéba) Parintintín

Timbira

Diahói

B •

Uruewauwáu Urubu (Urubú-Kaapór) Wayampí (Oyampí)

Guajajára Tembé

Smutma

Botocudo

Krenak

Karaiá

Javaé Karajá Xambioá

•j

Maxakalí Pataxó Pataxó Hãhãhãe

Maxakalí

• •

Arikém

Kantiana

Jurúna

Jurúna (Yuruna)

Monde

Aruá Cinta-Larga Gavião (Ikãrã, Digut) Mekém Monde (Sanamaikã, Salamãi) Surui (Paitér) Zoró

Guató Ofayé Rikbaktsa Yatê

4

jj Mundukurú Kuruáya 1 Mundurukú

1

Ramaráma Arara (Urukú, Karo) Itogapúk, (Ntogapid)

l]

Awetí

Tu pá ri Makuráp Í T u p a r í Wayoró (Ajurú) Puruborá •

Canela Apâniekra Canela Rramkókramekra Gavião do Pará (Parakáteye) Gavião do Maranhão (Pukubyé) Krahó Kreyé (Krenjé) Krikati (Krinkati)

Xokléng (Aweikoma) Boror °

Tapirapé Tenetehára

Gorotire Kararaô Kokraimôro Kubenkrangnoti Menkrangnoti Tapayúna (?) Txukahamãe (Mentuktire) Xikrín (Xikri)

Kren akarôre Suyá



Parintintín (Kagwahiv) Tenharin

Xakriabá Xavante Xerente

Apinayé Kaingang

Amanayé Anambé (Turiwára?) Apiaká Araweté Asuriní do Xinu (A.do Coatinema, Awaeté) Avá (Canoeiro) Cuajá Guarani

DIALETO

é < %'

l 1 1

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Ijm

mi

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Mawé (Sateré)

8

~ l FAMÍLIA LÍNGUA

FAMÍLIA LÍNGUA

Amawáka Karipúna Katukina do Acre Kaxararí Kaxináwa Marúbo Matís (Matsés) Mayá Mayoruna Nukuini Poyanáwa Yamináwa Yawanáwa

Apalaí Atroarí Galibí do Oiapoque Hixkaryána Ingarikó Kaxuyána Makuxí Mayongóng Taulipáng Tiriyó Waimirí Waiwái Warikyána Wayána Arara do Pará Bakairí Kalapálo Kuikúru Matipú Nahukwá Txikão

Aruák

Txapakúra

Tawandê Lakondê INambikwárã Nambikwára do Norte Latundê Mamaindê Nagarotú

Apurinã Baníwa do Içana Baré Kámpa Mandawáka Mehináku Palikúr Paresí Piro

Nambikwára do Sul Sabanê Barasána Desana Juriti Karapanã Kubéwa Pirá-tapúya Suriána Tukáno Tuyúka Wanána Yebá-masã

Manitenéri Maxinéri

Salumã (Enawenênawê) Tariána Teréna Wapixána Warakéna Waurá Yabaána Yawalapití

Arawá

Katukina

Mura Guaikuru

Banavá-Jafí Dení Jarawára Kanamantí Kulína Paumarí Yamamadí Kanamarí Txunhuã-djapá Katukina do Biá/Jutaí Katawixí (?) Mura Pirahã Kadiwéu

Pakaanóva Tora Drupa

Yuruparí-tapúya

Ninam Sanumá Yanomami Yanomám Yanomami

Maku

Bará Guariba Húpida Kamã Nadeb Yahúp Aikanã Arikapú Awakê Irántxe Jabuti Kanoê Koaiá Máku Trumái Tukúna

Munduka Galera Kabixi Nambikwára do Campo

ATIVIDADES PRODUTIVAS O entendimento da esfera económica nas sociedades indígenas merece, a princípio, algumas considerações: a) as sociedades indígenas baseiam-se na posse coletiva da terra e dos recursos naturais do ambiente, embora b produto do trabalho possa ser individual, isto é, reservado à família elementar (pai, mãe e filhos); b) os próprios produtores controlam os meios de produção,- c) a produção é regulada pela divisão sexual do trabalho, raramente por especialização, repartindo-se entre homens e mulheres as tarefas relativas à obtenção e processamento dos alimentos, à prestação de serviços e à fabricação de utensílios. Esta divisão de tarefas não é igual para todas as sociedades, verificando-se opções culturais diferenciadas. Assim, enquanto numa sociedade a confecção dos trançados é responsabilidade das mulheres e a tecelagem, dos homens, em outra acontece o contrário e, numa terceira, é indiferente. Em geral contudo, no âmbito agrícola, as tarefas relacionadas à derrubada preparatória da roça são masculinas, enquanto sua manutenção, o plantio e a colheita são atribuições femininas; d) a distribuição da produção e serviços é definida por regras ligadas às relações de parentesco, políticas e rituais; e) a redistribuição organiza-se por diferentes mecanismos de reciprocidade (troca e retribuições), assegurando a igualdade económica,- f) as técnicas necessárias à aquisição do sustento e à confecção de artefatos são socializadas; g) uma vez que nessas sociedades os vários aspectos socioculturais se inter-penetram, no processo de produção económica sempre estão presentes considerações de ordem política, social, religiosa, ritual. As atividades produtivas, portanto, não podem ser vistas independentemente dos contextos em que se realizam, nem o trabalhador como isolado de seus demais papéis e compromissos sociais; h) do mesmo modo, para a definição do território ocupado pelas distintas populações indígenas pesam tanto observações de ordem física como cosmológica, social e religiosa: converte-se o território, por conseguinte, num espaço simbólico,- i) crenças mágico-religiosas, tabus alimentares, práticas cerimoniais, considerações sócio-políticas permeiam as relações entre os homens e as plantas e animais. Assim, nem todos os animais podem ser capturados ou consumidos por todas as pessoas, e nem todos os vegetais, utilizados para fins diversos, podem ser coletados ou ingeridos. Verificam-se CBTO-CflBGUflftO CflflCLfl (&fl(T1KOKflm€K&fl) ritos relacionados com o desenvolvimento de espécies cultivadas desde o plantio até a colheita, cantos e rituais fora: UtocnEí Souzfl t Sium (dlfl£/USP) propiciatórios de caça e pesca e o benzimento eventual, pelos xamãs, de alimentos vegetais e animais antes do consumo. A agricultura, caça, pesca e coieta, a criação de animais de estimação e para provimento de plumagem, a confecção de utensílios e instrumentais constituem atividades tradicionais de produção. A ênfase que cada sociedade dá a essas atividades é bastante variável. Caça, pesca e coieta desdobram-se em modalidades coletivas e individuais, enquanto a agricultura, praticada pela maioria das populações indígenas, é uma ocupação direcionada à família elementar. As sociedades indígenas têm em comum o fato de praticarem uma agricultura em pequena escala, variando porém, o tamanho das roças e as espécies cultivadas. Por exemplo, os grupos Tupi dedicam-se mais ao plantio da mandioca brava e do milho, ao passo que os Jê preferem batata-doce e inhame. Contêm ainda as roças indígenas,

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0

5

10

15

20

entre outros produtos, variedades de feijão, abóbora, cará, amendoim, pimenta, macaxeira, cana-de-açúcar, arroz, Suaraná e frutas como banana, mamão, abacaxi, caju, laranja e limão. Ao lado das plantas alimentícias existem outras variedades para diversos fins: tabaco, alsodão, cuieiras, urucu, canas para flechas, vesetais de uso másico-ritual e curativo e venenos para caça e pesca. As roças seralmente circundam as aldeias, sendo os cultivares plantados sem ordem aparente. A técnica asrícola mais utilizada é a conhecida por "coivara", típica de terras florestais e executada por tempo limitado nos meses de seca: derruba-se e queima-se uma porção da mata, retirando-se a sesuir os salhos menores, sobras da queima,- entre os espaços de srandes troncos carbonizados, difíceis de remover, procede-se ao plantio no início das chuvas. Anterior à introdução do machado de ferro, a derrubada da mata era feita com machados de pedra,- para a semeadura e extração de raízes comestíveis o "pau de cavar", ainda utilizado por vários srupos, constituía o instrumento principal. O elenco atual do instrumental asrícola inclui também facões, foices, pás, enxadas e cavadeiras. FOTO: Ulflcnst Souzfl E Siivfl ((Tlfl£/USP) continua na pásina 13 ÍDflCHflDO DE PEDBfl TUKUflfl

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A caça e a coleta realizam-se em espaços territoriais de mata densa. A primeira é atividade masculina, enquanto a procura de frutas e raízes comestíveis de vesetação espontânea, de minúsculos animais, de mel, de ovos de tartarusa, de substâncias minerais g.matérias-primas para a confecção de artefatos, de látex, de plantas medicinais e másicas é tarefa dividida entre homens e mulheres. M 4

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Pode-se generalizar que presentemente a espingarda converteu-se na principal arma de caça, auxiliada pelos cães, arcos e flechas, lanças e bordunas. Merece menção também a sarabatana, arma propulsora de grande alcance, característica do noroeste da Amazónia: formada por dois longos tubos de madeira encaixados um dentro do outro, provida de bocal e frequentemente de mira de dente de roedor, pode atingir de dois a quatro metros de comprimento. Pelo bocal sopram-se pequenas setas envenenadas com curare, substância tóxica de origem vegetal. Silenciosas e de grande alcance, essas setas são eficientes para a caça de pássaros e macacos encarapitados sobre árvores altíssimas. Tendo completo domínio do meio ambiente, dos hábitos e anatomia dos animais, cada sociedade desenvolveu, por outro lado, engenhosas técnicas de captura, que se diversificam em termos de estratégias e da espécie animal procurada.

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fípuo inato, B. G. Dicionáuo DO fíufsfinmo inDÍGena. BELO Hoíizonii, iTflTiflm/Eousp, 1988, p. 43

As atividades pesqueiras são masculinas e eventualmente femininas. Bastante diversificadas, as técnicas de pesca realizam-se com arco e flecha,' redes de fios vesetais e industriais, arpão, armadilhas móveis e fixas, linhas de nylon e anzóis metálicos.

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6€GionflL Dom Bosco. 1976, P. 251

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A pesca coletiva com o uso de vesetais tóxicos (lesuminosas e sapindáceas), comumente desisnados timbó, constitui modalidade geral, variando, porém, em detalhes, conforme a sociedade que a pratica. Dada a dificuldade de sua execução caracteriza-se como modalidade coletiva, onde participam, com frequência, todos os membros de uma aldeia: cortam-se os cipós de timbó, atando-os em feixes que a seguir são surrados com cacetes e mergulhados continuamente na água — de lagoas, ribeirões, igarapés -- para impregná-la com o suco. Os peixes, atordoados, bóiam, sendo flechados, apanhados com as mãos ou abatidos a golpes de facão. Em algumas sociedades, como as do Alto Xingu, constrói-se previamente uma barragem para facilitara captura. A pesca, como as demais atividades de caça, coleta e lavoura, obedece a flutuações sazonais. A inserção das populações indígenas na sociedade nacional, como nos revela a história do contato, tem continua na pagina 16

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fíFUD CHíUnELfl, J. LU. PESCfl £ HIEGflíQUIZflÇflO DO flLTO UflLPÉS. In:

HiBEiso, D. (ED.I, Suma írnoLóaica SMSILBM, VOL. l. PETBÓPOLIS, VOZES/ FintP, 1986. P. 244

C. & VenTUMiii, fl. J. fnoaofró/fl èosoco, VOL. Ill (POSTE I). Cflmpo G6flnD£, MUSEU ÍEGIOOSL Dom Bosco, 1976, P. 183

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acarretado sensíveis modificações nas economias tradicionais, sesundo vários interesses económicos resionais e nacionais. Estes seram impactos irreversíveis, resultando em invasões, reduções e depredações das terras: seram, por consesuinte, sraves consequências não só de cunho físico e moral, mas isualmente sociocultural, dadas as relações simbólicas que cada sociedade mantém com seu território. Desse modo, as influências e consequências externas têm sido interpretadas e incorporadas de acordo com as especificldades das diversas sociedades. E frente ao processo de inter-relacionamento entre as economias tradicionais e a economia de mercado capitalista, as sociedades indísenas reasem diferentemente às situações de convívio e conflito, apresentando transformações tecno-econômicas peculiares e soluções também diversas. Nesse contexto, várias alternativas têm sido buscadas: o trabalho temporário assalariado como mão-de-obra barata em atividades asrícolas, pastoris e extrativistas; o comércio da borracha, madeira, couro, de produtos alimentícios, manufaturados ou não (banana, castanha, farinha de mandioca, peixes, porcos, salinhas), principalmente em âmbito regional. No país, a vencia de artesanato, a preços baixos, é feita de forma autónoma ou através das lojas Artíndia da FUNAI. Menção especial merece a questão do garimpo na Amazónia, com a qual, contemporaneamente, quase todos os grupos que lá habitam mantêm formas diferenciadas de relacionamento. No caso particular dos Waiãpi do Amapá, a garimpagem autónoma de ouro aluvionar, mediante tecnologia manual, surgiu a partir de experiências vivenciadas face aos invasores de suas terras, convertendo-se em uma das estratégias de controle territorial. Em caráter sazonal, passou a integrar o ciclo de atividades tradicionais. As alternativas económicas que se apresentam às sociedades indígenas, permitem, a grosso modo, complementar a produção de alimentos e bens e o acesso a artigos de consumo industrializados que, hoje, não mais dispensam.

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CERÂMICA A produção da cerâmica é tarefa predominantemente feminina no Brasil indígena. De modo geral, a participação dos homens nesse mister resume-se à coleta e ao transporte da matéria-prima, isto é, a argila ou barro. Usualmente mistura-se a argila com sílica, obtida da calcinação de materiais orgânicos (casca de certas árvores, esponjas fluviais, ossos), ou com areia e cacos pulverizados de velhas panelas de barro. A inclusão desses materiais tem por finalidade tomar a argila mais porosa e plástica, evitando que a peça trinque ao secar. O acordelado, que consiste na superposição de roletes em forma de anéis ou em espiral a partir de uma base, constitui-se a técnica utilizada por praticamente todas as sociedades: a oleira amassa uma placa de barro, levantando-lhe as bordas, arredondando o fundo. Sobre esse começo do bojo são colocados longos rolos de barro amassado e liso. Com os dedos, os rolos são prensados contra os anteriores e finalmente, com uma concha ou seixo, é feito o alisamento final. A vasilha fica alguns dias ao ar para secar. É, então, colocada sobre tições acesos e rodeada por cascas de madeiras resinosas ou outros tipos de combustível que proporcionam alta temperatura por curto espaço de tempo. Dependendo do tipo de ornamentação, esta pode ser aplicada antes ou depois da queima.

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A pintura, de ordinário, aplica-se posteriormente a esta operação. A técnica de modelasem para vasilhames resistra-se apenas entre os Tapirapé, que trabalham suas formas diretamente em uma massa de arsila. As outras sociedades reservam este procedimento para peças pequenas: cachimbos, instrumentos musicais como, apitos, tortuais de fusos, miniaturas, figuras antropomorfas ou zoomorfas, efttre outras (Lima, 1986:174). Os recipientes utilitários de uso doméstico — panelas, potes, tigelas, bilhas, colheres, moringas, pratos — destinam-se ao preparo, oferecimento, depósito e transporte de alimentos sólidos e líquidos, dos quais diferentes tipos são utilizados para fins cerimoniais. Muitos desses exemplares, somados aos acima mencionados, e modelos especiais como vasos para plantas e cinzeiros, também se constituem em bens comerciáveis muito apreciados nos centros urbanos. Algumas sociedades, como os Xavante, Krahó, Canela e os subgrupos Kayapó, não produzem cerâmica. Outras fazem vasilhas muito simples, sem decoração, como os Bororó e os Kaingang. Grandes ceramistas são os Waurá, que usam panelas de diversos tamanhos e feitios, inclusive com formato de animais, providas de ornamentação típica. Nessas peças zoomorfas os apêndices, figurando cabeça, membros e cauda, permitem identificar o animal representado. Os Kadiwéu conseguem belos efeitos decorativos com a impressão de cordões de caraguatá (Bromeliácea) no barro ainda mole das peças recém-modeladas, enquanto os Karajá notabilizam-se pela produção de figurinhas humanas e animais. As oleiras Karajá modelam as bonecas de argila enfatizando os atributos culturais para a identificação das figuras,- os caracteres morfológicos ocupam plano secundário. Há constância em representar a "marca" tribal composta por dois círculos tatuados nas maçãs do rosto, as pinturas somáticas em preto Oenipapo (Genipa americana')} e vermelho [urucu (Bíxa ore/lana)}, peças de adorno e vestuário indicativas do sexo, idade e status social. São assim retratados os elementos culturais que identificam o serKarajá. Existe uma divisão clássica (Faria, 1959) da estatuária figurativa Karajá, que abrange dois períodos. O primeiro, representado pelas bonecas anteriores a 1940, incluindo-se o século XIX, é o antigo ou tradicional. Dentre suas características salientam-se: o uso do barro cru, a cabeleira de cera, presença da tanga de líber para a personagem feminina e do labrete para a masculina, a tendência à esteatopigia e à postura estática (figuras isoladas em pé). Constituíam-se exclusivamente brinquedos de crianças. O período moderno, posterior à década de 40, evidencia-se pela reinterpretação de formas antigas. Verificam-se a diversidade de posturas, o emprego do barro cozido, a cabeleira pintada, a policromia, o domínio da composição temática: bonecas agrupadas de várias cabeças e cenas da vida cotidiana centradas nas atividades económicas e nas relações com o meio ambiente. Paralelamente, constata-se o aparecimento de representações de animais. O estímulo para a introdução desses

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novos cânones estéticos coincide com a intensificação dos contatos com asentes da sociedade envolvente, quando as bonecas convertera m-se no principal produto de venda, em prejuízo da função primordial.

FIAÇÃO E TECELAGEM

finco, CBTO PflBfl flLGODflO £ fUSO COm TO&TUflL DE mflDflBfl GUfl&flfll FOTO: UJflGn« Souzfl i SILVO (Hlflt/USP)

A produção têxtil apresenta-se, em será l, como atividade própria das mulheres. Trata-se de um processo complexo que se inicia pela transformação da matéria-prima em fio, exisindo suas etapas Srande habilidade nas artes. As fases preliminares da fiação, que consistem em tratamentos diferenciados em função das peculiaridades da matéria-prima —alsodão, palmáceas, bromeliáceas—com vistas à obtenção de fibras, requerem cuidados manuais especiais, sendo executadas preponderantemente sem o auxílio de qualquer instrumental. Para o alsodão, porém, resistram-sealsuns poucos dispositivos, entre os quais o arco que permite cardá-lo e livrálo de suas impurezas: prende-se o arco com uma mão e, com a outra, tanse-se a corda aproximando-a do alsodão, em movimentos contínuos. De distribuição restrita na América do Sul, o arco foi introduzido através do contato inter-étnico, no tempo das Missões. No Brasi l, a literatura etnosráfica indica como seus usuários os Guarani, Karajá, Guató e os Guaná. A fiação, sesundo O' Neale (1986: 398) "é a etapa sinsular mais importante que precede os processos de tecelasem, uma vez que a qualidade do tecido e sua durabilidade dependem, em srande medida, do fio." Fia-se o alsodão por meio do fuso, um instrumento simples, muito antiso, que persistiu até hoje sem srandes modificações. As várias sociedades indísenas empresam um tipo de fuso formado de um disco, tortual, atravessando por uma haste pontuada de madeira munida de castão, com incisão, sancho ou saliência chanfrada para prender o fio. As fibras penteadas de outros vesetais são enroladas aos feixes sobre a coxa da fiandeira até chesarem à srossura requerida. Juntam-se em sesuida dois feixes pelas pontas, que então são emendados um ao outro pelo mesmo processo. Continua-se a enrolar novos feixes até ser atinsido o comprimento desejado. Prontos os fios, formam-se meadas, sendo então lavadas para clareamento ou tinsidas com corantes vesetais. Os teares são sempre manuais, independentemente do tipo empresado. Os mais comuns constituem-se de dois paus fincados no chão, ao redor dos quais um fio é enrolado; outro fio passa transversalmente por esta urdidura, formando a trama. O Trabalho em Trama — a tecelasem executada a partir do entrecruzamento em ânsulos retos das duas séries de elementos acima apontadas, urdidura e trama, em tear— inclui elaborados

procedimentos técnicos. Contam-se entre seus produtos, de maneira geral, vestimentas como saias, coletes, cintos, ponchos,- artefatos para conforto pessoal ou doméstico como redes-dedormir,- para transporte, como tipóias,- para embelezamento corporal, como adornos dos membros. Faixas servem também de base de fixação e suporte para diversos materiais (penas, sementes, unhas e dentes de animais), compondo ainda a decoração de vários artefatos. Diferentemente das demais sociedades indísenas, os Kaingang do Sul do Brasil fazem cobertores, mortalhas e peças de vestuário entretecidos com fios de bromélias e urtigas, sem o auxílio de qualquer instrumento, nem mesmo do tear manual. O Trabalho em Malha—a "tecelagem com ou sem tear com fim contínuo" (Ribeiro, 1986: 360), ou seja, um único elemento para a formação de laçadas com ou sem nós - - comparece principalmente em artefatos confeccionados com os dedos e com o auxílio de agulhas. Nesse grupo, contam-se variadas técnicas de enlace ou filó, croché e tricô. Ainda técnicas de entrançamento, por meio das quais produzem-se fitas e cordões ornamentais, muito usados como elementos de ornamentação corporal. Passamanaria é o termo empregado ao conjunto dessas técnicas de entrançamento, frequentemente praticadas pelos grupos Timbira.' As técnicas de enlace com ou sem enodação concentram-se na manufatura de artefatos de carregar e pescar: sacos, sacolas e redes de várias formas e dimensões. Bolsas também servem para armazenagem. Bastante conhecidas são as coifas emplumadas dos Karajá, cujo tecido, em filó, constitui-se a base para o revestimento de penas. Os Munduruku e os subgrupos Kayapó adotaram o croché com a mesma finalidade. Trabalhos em croché possuem ampla distribuição entre os índios no Brasil, que confeccionam, inclusive, elaborados adornos de braços e pernas segundo essa técnica. A técnica de tricô é comumente usada para faixas e cintos. Quanto ao trabalho em malha em tear, a produção volta-se para poucos itens: basicamente redes-de-dormir e tipóias.

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TUKÚnfl TOTÓS: tUflcneí Souzfl i Siufl (Ififlí/USP)

Os rituais e cerimónias, que ocorrem em todas as sociedades humanas, distinsuem-se das demais atividades societárias por serem realizadas de maneira formal, sesuindo padrões estabelecidos pela tradição. Distinsuem-se também por sua natureza simbólica e por se realizarem em ocasiões específicas. Certas etapas do ciclo de vida do ser humano, como nascimento, puberdade, casamento e morte, são solenizadas em todas as sociedades por meio de rituais. Chamam-se RITOS DE PASSAGEM as cerimónias que marcam a passasem de um indivíduo ou srupo de uma fase do ciclo para a outra. Com frequência, os rituais de passasem pressupõem a aplicação de maus tratos, de dor e, naturalmente, temor e ansiedade aos envolvidos. Esta ação pode ter por finalidade fortalecer, pelo sofrimento comum, os laços de solidariedade entre um srupo de candidatos,- ou demonstrar aos iniciandos ou à sociedade a importância social do momento. Pode ainda, eventualmente, ser explicada em termos da hostilidade latente verificada entre dois srupos de indivíduos: o que pratica e o que sofre os maus tratos, cujos membros, por sua vez, apresentam-se em vias de ser incorporados à catesoria do primeiro. Varia a importância dada pelas diversas sociedades a cada um dos momentos de transição. Entre nós, a entrada de um recém-nascido em nossa sociedade é marcada pelo rito do batismo e pelas festas de aniversário subsequentes. A passasem de stafusde solteiro para o de casado é marcada pelo rito matrimonial. A passasem do mundo dos vivos para o dos mortos é assinalada por ritos fúnebres. Em muitas sociedades, e também em srande número de sociedades indísenas no Brasil, a passasem dos jovens para a idade adulta, quando poderão sozar a plenitude de seus direitos e arcar com as responsabilidades decorrentes do novo síaíus, é marcada por rituais chamados de iniciação. As sociedades indísenas, entretanto, privilesiam a celebração da iniciação dos homens. Da iniciação feminina verificam-se poucos exemplos, dos quais salienta-se a realizada entre os índios Tukúna da resião do Alto Solimões, Amazonas. Os rituais de iniciação, como em seral os ritos de passasem, desenvolvemse normalmente em três fases, as quais necessariamente não possuem a mesma importância e elaboração: os ritos de separação afastam o indivíduo do convívio diário com a comunidade,- os ritos de marsem (de transição) indicam que a pessoa abandonou um stâtus na sociedade, mas ainda não insressou no outro; e os ritos de incorporação constituem a confirmação formal, reconhecida por todo o srupo, do novo stâtus do indivíduo. Embora todas as sociedades indísenas tenham seus ritos de passasem, varia a importância dada a cada um deles. A maior festa dos índios Tukúna realiza-se por ocasião da menina-moça. Os mais impressionantes cerimoniais dos Bororó de Mato Grosso desenvolvem-se em torno da morte e do funeral de um de seus membros. Os Karajá da Ilha do Bananal efetuam srandes rituais na passasem dos jovens para a idade madura e os Kaapór (Urubu), do Maranhão, por ocasião da nominação de crianças de tenra idade. Diferentes cerimoniais realizam-se ainda entre as sociedades indísenas, por exemplo: os referentes à investidura de chefes, ao tempo de colheita, à mudança das estações, à caça, à pesca, aos espíritos da floresta, a seres da natureza em seral, muitos deles com as características de ritos de passasem.

Para essas ocasiões de srandes rituais particularmente, os preparativos mobilizam toda a aldeia.- englobam convites para parentes e aliados de aldeias vizinhas, a confecção de adornos corporais, instrumentos musicais e demais artefatos especiais, a preparação de tintas para pinturas corporais e de quantidades excepcionais de alimentos para serem distribuídos entre os participantes. Os rituais dramatizam episódios míticos, revelando o constante inter-relacionamento entre os domínios cósmico e social e entre os mundos natural e sobrenatural. Representam mesmo momentos de encontro entre os construtores do cosmos.- homens e ancestrais e outros seres mitológicos de diferentes naturezas, vivos e mortos. Fornecem ainda meios de ordenar e reordenar relações sociais e práticas cotidianas, assegurando simultaneamente a manutenção e a renovação da sociedade. Nesta exposição apresentamos sucintamente, para efeitos de exemplificação, dois cerimoniais de iniciação: um masculino, entre os Karajá,- o outro, feminino, realizado pelos Tukúna. Os Tukúna consideram a puberdade um período perigoso e cercam a menina-moça de extremos cuidados, a fim de protegê-la das influências maléficas de certos espíritos demoníacos da floresta. O ritual de iniciação começa pela separação da menina do convívio com a comunidade. Assim que ocorre a primeira menstruação, a menina é introduzida num compartimento especialmente construído dentro da casa. Aí ficará durante três meses em reclusão, invisível e silenciosa, estabelecendo contato apenas com a mãe e com a tia paterna e saindo raramente, quando nenhum homem estiver na casa. Os três meses de reclusão constituem a fase da margem (ou de transição) do ritual. Durante este período, a jovem deve dedicar-se ao aprendizado dos afazeres femininos, como a fiação do algodão, o preparo de cestas, redes e esteiras. Deve também aprender o comportamento, que segundo os Tukúna, é próprio das mulheres adultas. A fase de integração da menina-moça na categoria das mulheres adultas é realizada durante uma grande festa, conhecida pá "FESTA DA MOÇA NOVA" da qual participa toda a comunidade, além de convidados de aldeias vizinhas. O ritual de iniciação encerra-se com a depilação da cabeça da moça-nova, que simboliza a sua passagem da infância para a idade adulta. Ajovem agora pode casar-se e tornarse membro ativo da comunidade. A festa precisa ser feita para solenizara passagem e destruir os espíritos demoníacos que ameaçam constantemente a menina reclusa. Suas diversas etapas rituais desenvolvem-se especialmente dentro da casa, estendendo-se por três dias e três noites ininterruptos. Dois elementos da maior importância no transcorrer da festa merecem destaque: os instrumentos musicais e as máscaras. Entre os instrumentos musicais salientam-se dois tipos, ambos de comprimento descomunal e considerados sagrados: o megafone de madeira — a voz de perigosos demónios — e as trombetas de casca de árvore enrolada em espiral. Dado o seu caráter, tais instrumentos não podem ser vistos por mulheres e crianças. Assim, os homens os fabricam na floresta e seus sons ecoam só na escuridão da noite, a partir de locais ocultos. Quando não usados, são escondidos, antes do amanhecer, na água ou na floresta. Aos tambores, Insmumerros musicflis UTILIZÍIDOS nfl fESTfl: feitos de madeira e pele de macaco, também conferem lugar TflfTlBO&B DE PELE DE ÍTlflCflCO E DE Cfl&flPflÇfl especial: tocam-nos incessantemente durante o desenrolar DE TflBTflCUGfl, CHOCflLHO GLOBULflC £ BflSTflO da festa, pois acreditam que espíritos aterradores atacarão DE BITÍT1O as iniciandas se eles silenciarem.

As máscaras, trazidas pelos homens convidados, representam espíritos demoníacos que num tempo mítico atacaram os, habitantes de uma aldeia Tukúna, causando srande destruição e que, no delicado^período de iniciação, colocam em perigo a vida da menina. As entidades sobrenaturais, simbolicamente representadas pela decoração e demais características formais das máscaras, afiguram-se diversas: a mãe do vento, a borboleta fêmea, o macaco caiarára, monstros das profundezas, a aranha, serpentes gigantescas, papagaios, o milho, a árvore araparirana. No conjunto, as máscaras são profanas, executando suas coreografias à vista de adultos e crianças de ambos os sexos, apesar de permanecerem escondidas na floresta próxima. Aqui, seus usuários vestem-nas e desvestem-nas, surgindo repentina e secretamente no local da festa. Confeccionam-se as máscaras com entrecasca de determinadas árvores (f/cus radula, Pou/senia armata, entre outras). Depois de retirado o tronco da árvore, batem-no com força, empregando macetes roliços: esta operação, executada repetidas vezes, permite destacar, num só bloco, a entrecasca, que depois é submetida a diversas lavagens e sucessivas batidas antes do secamente ao ar livre. Tal procedimento possibilita transformá-la num "pano" macio e flexível. O tecido, mediante interpretação livre do confeccionador, porém, nos limites de padrões estéticos e técnicos culturalmente estabelecidos, será metamorfoseado num personagem cosmológico demoníaco para, no ritual de iniciação, dramatizar episódios míticos relacionados aos Túkuna e à situação liminar da menina-moça em especial. Entre os Karajá verificam-se três ritos de iniciação masculina, sendo o mais importante a FESTA DA CASA GRANDE. Tais ritos são efetuados para introduzir os meninos púberes na casa-dos-homens, a "casa dos ijasò" (casa das máscaras), localizada na praça da aldeia. A "Festa da Casa Grande" estende-se por seis meses, a partir de agosto/setembro, alcançando seu auge no último mês, a fase culminante, durante a época das chuvas, em março/abril. À aldeia-sede da festa afluem convidados de diferentes pontos do território Karajá; convidam-se também autoridades da FUNAI e dos governos estadual e municipal. Os pais dos meninos possuem os maiores encargos no tocante à parte material da festa: entre outros, devem fornecer alimentação para os homens envolvidos do local e visitantes, e ainda presentear parentes homens e mulheres que, na sociedade Karajá, desempenham o papel de "defensores" das crianças, desde a mais tenra idade, contra malefícios de várias ordens, protegendo assim os meninos durante o ritual. As festividades são dirigidas pelo chefe cerimonial da aldeia, o "pai do povo", o "dono da festa", que carrega nas mãos uma comprida faca de madeira emplumada com penas vermelhas de arara, o símbolo da liderança, e ainda uma varinha mágica com a qual levanta e abaixa os níveis cosmológicos do mundo Karajá. Além de executarem várias outras funções rituais, os homens que delas participam representam parentes e ascendentes mortos e entidades diversas, ora boas, ora más, que interferem em muitos momentos, seja nas atividades masculinas, seja defendendo ou ameaçando os iniciandos em especial: os benfazejos ijasò, habitantes das profundezas da água e do céu, que se apresentam sob a forma de máscara de palha encimadas por capacetes de penas e os aõni, identificados a animais, a coisas de natureza desconhecida, a índios vizinhos ou a brasileiros em geral: de conduta contraditória, são representados por homens que se comportam à sua imagem. Na etapa de preparativos da fase final da festa, confeccionam-se dois artefatos especiais para os iniciandos: um banquinho zoomorfo feito pelo pai ou um tio e uma esteira de palha confeccionada pela mãe ou tia materna, ambos decorados. No banquinho, colocado sobre a esteira, sentará o menino no decorrer de algumas cerimónias e, particularmente, no momento da passagem. FOTOS: Ulflcna í. t SiLVfl (ITlflí/USP)

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No lado sul da praça masculina constrói-se a Casa Grande, que empresta seu nome à festa e, defronte a esta, no lado norte, a Casa Pequena,- no meio ergue-se um grande tronco de árvore, o mastro ritual, centro de disputas entre os homens da aldeia-sede e os-convidados de aldeias vizinhas. A par das evoluções diversas, ocorrem danças de máscaras, invocações, lutas e refeições coletivas durante o transcorrer de todo o complexo cerimonial. No último dia da festa, bem cedo, depois de longa noite de ritos intensos nos quais passaram situações aflitivas, os meninos sãct.abraçados e erguidos pelos benéficos seres //aso. Isso é feito para que cresçam fortes e rapidamente^. A seguir são levados por seus parentes protetores, sobre os ombros dos homens — contornando as Casas Grande e Pequena e a Casa das Máscaras em sentido horário — ao interior da Casa Grande. Aí, no lugar dos homens, sentam-se em seus banquinhos, marcando simbolicamente sua admissão no universo masculino e sua entrada na Casa das Máscaras, o local de reunião dos homens. Logo depois, presenciam o flechamento de duas miniaturas em cera — um instrumento xamânico em forma de disco com um furo central e um veado — por outros homens que usam arco e flecha minúsculos. Esse rito ressalta virtudes que todo jovem deve pretender: o aprendizado xamânico e habilidade na caça. Nesta ocasião, recebem conselhos dos velhos. No dia seguinte, na Casa Grande, retiram-lhes seus enfeites de menino. Seus cabelos são cortados de modo a ficar somente uma fina faixa volteando a cabeça, acima das orelhas, com uma tonsura na porção posterior do crânio, aparando-se também os cabelos de seus parentes protetores homens e mulheres; seus corpos são revestidos com tinta preta de jenipapo: nesse momento cada um se transforma num jirè(ariranha) aõni, animal preto, rápido e combativo, qualidades importantes de um jovem guerreiro. A seguir, envoltos, hoje em cobertores, são apresentados à aldeia, de casa em casa, protegidos pelos seus defensores, homens e mulheres, que recolhem donativos de alimentos. Como jirè os meninos formam um grupo especial, permanecendo na fase de margem um ano e meio/para o processo de aprendizagem nos assuntos e segredos dos homens, em locais culturalmente definidos.- a praça e os caminhos masculinos e a casa das máscaras, dirigindo-se às casas de suas mães para comerem e dormirem. Começam esta fase confinados por sete dias no interior da Casa Grande, saindo somente em determinados momentos. Nesse período os meninos estão sujeitos a muitos perigos, principalmente de entidades malfeitoras, sendo eles mesmos vistos como perigosos, dado que eventualmente podem contar às mulheres conhecimentos exclusivamente masculinos que lhes estão sendo transmitidos. Devem ficar quietos, calados e submissos aos demais homens, prestando-lhes inúmeros favores. Aprendem técnicas de caça e pesca, canto, dança, desenho, trançados para máscaras e outros fins e, em especial, técnicas de contato e representação de seres sobrenaturais. O final do processo de iniciação é exteriorizado através das características da pintura corporal: de início, completamente preta, recebe, nos últimos meses, aberturas no pescoço, ombros, braços e pernas. Passam então a chamar-se wer/rybó (os recém-iniciados e/ou jovens solteiros) e poderão participar da próxima Festa da Casa Grande na situação de mais jovens membros dos grupos de praça masculinos e com relações já diferentes com o mundo feminino.

IDEIA E IMAGEM "Ideia e Imagem" refere-se ao campo das representações, ou seja, preocupa-se em explicitar de que modo sistemas de pensamento e crenças peculiares se expressam por meio de artefatos — no caso, os cerimoniais — e da pintura corporal, originando formas estéticas altamente simbólicas. Constata-se, assim, que alguns símbolos exprimem género ou idade,- outros, privilégios, direitos, deveres, stdtus, posições sociais,e importância política e cerimonial de indivíduos e grupos,- refletem também relações entre o Homem e a Natureza, do Homem com o sobrenatural e ainda relações inter-grupais e interétnicas historicamente dadas. Alguns manifestam fases de mudança na vida de indivíduos e grupos,outros associam-se à morte,- alguns são mesmo dotados de propriedades sobrenaturais capazes de produzir resultados que atendam a várias finalidades. Todos, no entanto, expressam identidade étnica, uma vez que englobam o universo de representações das sociedades das quais provêm. A título de exemplificação, selecionamos da exposição três conjuntos: dois referentes ao simbolismo dos artefatos e o terceiro correspondente à pintura corporal. a)Stafus Social: Kaapór (Urubu) Maíra, o criador mitológico, ostentando o belo diadema de penas amarelas de japu, que representa o Sol, deu-o aos Kaapór (Urubu) como atributo masculino para, junto com outros adornos plumários — colar-apito de cúbito de ave, labrete (adorno de lábio), braçadeiras, pulseiras, cintos especiais, brincos e enfeites da face - comporem a indumentária cerimonial dos homens; ofereceu-o também como elemento simbólico de afirmação do ser Kaapór, à medida que a criança recebe um nome do tio materno tendo a cabeça enlaçada pelo diadema no dia em que é apresentada à sociedade. É justamente a nominação a mais importante cerimónia dos Kaapór e a ocasião para ostentarem seus elaborados adereços plumários. Embora aos homens sejam reservados os mais belos desses, eles fazem igualmente para as mulheres alguns especiais: o colar feminino e cintos que encimam as saias de algodão envergadas em dias festivos,- adornos dos membros, das orelhas e da face dividem seu uso com os homens. As crianças, logo após o nascimento, são ornadas com miniaturas de colares emplumados próprios do sexo. A motivação da plumária entre os Kaapór vem da importância atribuída aos ornamentos em determinadas festas — embora alguns modelos os adornem sempre, inclusive no cotidiano — e do prestígio que decorre da posse dos exemplares mais elaborados. Homens, mulheres e crianças ornam-se com os preciosos adornos, mas o uso de certos tipos CoLflB ÍDflSCULino KflflPÓB (UBUBU) obedece aos critérios de sexo e idade, como vimos. Os chefes das grandes famílias e os líderes de aldeias são os artistas mais consagrados, donos das penas mais valorizadas e dos mais belos enfeites: daí a vincularão da plumária ao status de determinados membros do grupo. O que destaca a plumária dentre as demais categorias da cultura material nesta sociedade é a ênfase intencional no seu tratamento artístico. Esta vontade de beleza confunde-se com a própria vida do indivíduo, já que o acompanha desde o nascimento. Motivo pelo qual a plumária constitui a razão do orgulho Kaapór. Como demonstram Darcy e Berta Ribeiro (1957), os adornos plumários "refletem o padrão do ideal da figura humana que podem conceber e se esforçam por alcançar". Por CoiflB Feminino KflflPÓH (UBUBU) isso, no conjunto, tais ornatos, além de revelarem TOTÓS: LUflcníí M Souzfl E Snvfl (mfl£/USP) statuse posições sociais, manifestam ideais estéticos como expressão de vida Kaapór.

b) Status Religioso: Guarani (foto manequim Guarani) Para o exercício de suas funções o chefe religioso dos Kayová-Guarani distingue-se dos demais membros da comunidade porvestir um traje especial tecido de algodão: uma espécie de saia, encimada por cinto, sobrexD qual coloca-se outro cinto emplumado com Cimo íTlfiSCULino KflflPÓB (U&UBU) Cimo Feminino KflflPÓH (UBUBU) flores pendentes, e um poncho pequeno, enfeitado com peles emplumadas alaranjadas de tucano (Ramphastos sp.) e flores de plumas amarelas, alaranjadas e vermelhas, também de tucano, e arara-canindé (Ara ararauna). Ambos são providos de franjas ornamentais, apresentando manchas de urucu, BEPBBEFlTflÇflO D€ como quase todos os objetos ligados ao culto religioso. LÍDEB &ÉLIGIO5O G U A paramentação inclui ainda variados adornos plumários e de outros materiais, completando o equipamento do líder religioso um instrumento musical sagrado, de percussão: o chocalho-globular de cabaça, ou maracá. Com ele, o líder comunicase com o sobrenatural, agitando-o na mão em direção ao zénite. O maracá dos Guarani é, assim, objeto de culto e instrumento indispensável para a comunicação com os espíritos. As próprias sementes negras de seu interior, usadas também nos colares, revestem-se de sacralidade. Porém, é provável que sua mágica concentre-se em seu som, sua "voz". Às flores de plumas e demais atavios plumários que adornam determinadas peças do vestuário e objetos cerimoniais — quef para ornamentação corporal quer para diferentes fins—os Guarani atribuem relações específicas com espíritos que povoam seu mundo de crenças. Por exemplo, os adereços plumários empregados no poncho Kayová são vistos como "imitação das coisas de Nandedjára", entidade celeste que hoje, entre alguns subgrupos, é também identificada como Deus do Cristianismo. Atribuem igualmente força mágica especial às penas de alguns pássaros fornecedores de matéria-prima, como as do topete vermelho da cabeça do pica-pau (Dryocopus lineatus ou Camephilus sp.) e as penas caudais da tesoura (provavelmente Tirannus savana), que são aplicadas em testeiras de algodão e em outros adereços de uso exclusivamente religioso. Daí a sacralidade que envolve o elenco dos artefatos rituais guarani, como expressões materiais de suas representações religiosas. c) A pele socializada: Conforme já mencionado, tanto quanto os artefatos, o próprio corpo humano pintado transforma-se em via de comunicação de ideias por meio de padrões estéticos que lhe conferem sentidos próprios aos seus contextos socioculturais de origem. Cada sociedade possui, portanto, um estilo gráfico característico para expressar suas representações. Para a elaboração da pintura corporal verifica-se a seleção de um repertório de entidades naturais (animais, vegetais, artefatos) e sobrenaturais como fonte de referência para a execução dos motivos decorativos. Estes, comumente geométricos, atingem alto grau de abstração em muitas sociedades. Muitos desses motivos podem estender-se à ornamentação de exemplares artísticos de diferentes categorias como cerâmica, trançados e artefatos em madeira. Ao lado de motivos preexistentes encontram-se uma série de inovações de influência exterior, seja de grupos étnicos circunvizinhos, seja da sociedade nacional abrangente. Como exemplo, citamos, entre outros, a bandeira do Brasil e distintivos

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fOTOS: WflGníB SOUZfl f SlLVfl (Cd

da Agfa e do São Paulo Futebol Clube entre os Waurá (Coelho, 1993:621) e letras do nosso alfabeto entre os Javaé (Karajá) (Toral, 1992:207). Como observou Coelho (1993:621), "Tanto a arte ocidental como a primitiva (grifo nosso) não são estáticas, e aceitam, com maior ou menor relutância, elementos novos, vindos de outros campos e de outros povos, que são incorporados a seu acervo estético com durabilidade e êxito variáveis". Cor, característica e combinação de motivos e sua distribuição corporal são elementos importantes para correlacionar as variedades de soluções pictóricas à caracterização de indivíduos e grupos sociais e às diferentes situações de caráter cotidiano e ritual. Enquanto superfície para aplicação da pintura, o corpo geralmente é dividido em áreas criteriosamente definidas. Os Kayapó-Xikrin, por exemplo, instituem duas grandes divisões: face e corpo, ocorrendo uma região de transição entre a base do pescoço e o esterno, que se prolonga até a clavícula (Vidal, 1978:99); os motivos decorativos variam de acordo com essas partes. Já, para os Karajá, um dos padrões de utilização do corpo reparte-o "em áreas consideradas utilizáveis para desenhos—as laterais do ventre e dos membros superiores e inferiores -, em áreas invariavelmente pintadas de preto — região torácica para os homens, joelhos e articulação do braço para os dois sexos—e áreas ínaproveitáveis. Estas últimas são todas aquelas não imediatamente vistas desde o exterior: parte interna das coxas, pescoço e parte interna do braço" (Toral, 1992:197). A face é comumente pintada da boca até o queixo, recebendo desenhos especiais, que não se aplicam nas demais partes do corpo. Entre os Asurini divide-se o corpo em várias partes: face—com destaque para o nariz, que pode levar desenho exclusivo - pescoço, ombros, braços, antebraços, peito, barriga, costas e pernas. Cada uma dessas partes pode acolher um motivo decorativo diferente, respeitando-se certas regras de combinação (Andrade, 1992:125). Um instrumental variado, sem contara utilização dos próprios dedos, permite a aplicação da pintura na superfície do corpo: varetas e riscadores de linhas de madeira, estiletes de nervura de folhas de palmeiras, talas de idênticas plantas, sabugo de milho, além de carimbos de vários materiais e formas. Tintas e pastas obtêm-se de elementos vegetais e minerais, sendo mais comuns as provenientes das sementes de urucu (Blxa ore/lana) para a cor vermelha,- dofrutodojenipapeiro(Gen/paamef7cana), da fuligem de panela e do carvão vegetal para a preta,- da argila sedimentar, tabatinga para a branca, e também resinas, misturadas com corantes.

TOTÓS: Lux VIML firuo ViDflL, 1992:150

XV3-3 ^^J^^

INSTRUMENTOS E RECIPIENTES DE PINTURA

1. Estilete para pintura de rosto (Palikur); 2. Espátulas para aplicação de tinta de breu (Tiriyó); 3 e 4. Riscadores de linhas (Kayapó-Xikrin); 5. Carimbo para pintura com tinta de jenipapo (Karajá); 6. Carimbo de madeira (Palikur); 7. Carimbo de cera de abelha (Tapirapé); 8. Carimbo de coco de babaçu (Bororó); 9. Recipiente de casco de jabuti para tinta de urucu (Suyá); 10. Recipiente de casca de ouriço de castanha sapucaia (Kayapó-Xikrin)

D€5€riHO5: JOBG€ PflDILHfl

NOTAS DO TEXTO Para detalhamento, vide Melatti, 1980. O mencionado "Estatuto das Sociedades Indígenas" refere-se à revisão do "Estatuto do fndio" em vigor (Lei n° 6801, de 19/12/1973) que se encontra no Congresso Nacional desde 1991 (Nota desta autora). 3 Os números apontados, entretanto, podem eventualmente mudar em pouco tempo, à medida que se constata que a população indígena está aumentando — ao contrário das previsões de longa data, sobre o inexorável fim das sociedades indígenas — devido, entre outros fatores, a contatos com grupos isolados, às identidades emergentes, aos processos de revitaiização de várias sociedades, à conscientização crescente de seus direitos históricos, de seu direito à vida. O futuro dos índios, na afirmação de Oliveira (1995: 79-80)".. .é um futuro aberto". Para esclarecimentos pormenorizados, recomendamos, em particular, a leitura dos textos de Carlos Alberto Ricardo, John Manuel Monteiro e João Pacheco de Oliveira, constantes da coletânea "A Temática Indígena na Escola" organizada por Aracy L. da Silva e Luís D. B. Grupioni, 1995. 4 Os linguistas distribuem as línguas indígenas em famílias linguísticas. "Fazem parte de uma mesma família as línguas que têm uma origem comum e que ao longo do tempo foram se diferenciando"... ."Algumas dessas famílias podem ser agrupadas em blocos maiores ligadas a uma outra língua ancestral comum, ou seja, uma proto-língua que chamamos de tronco" (Teixeira, 1995: 299-300). Por línguas isoladas entendem-se aquelas "...que não revelaram parentesco com nenhuma das outras e que poderiam alternativamente ser consideradas famílias de um só membro" (Montserrat, 1992: 95). "Dialetos de uma língua são formas mutuamente inteligíveis daquela língua, que diferem de forma sistemática. Os dialetos acontecem porque os falantes são de regiões geográficas diferentes ou de grupos sociais diferentes..."(Teixeira, 1995: 305). 1

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FICHA TÉCNICA

Universidade de São Paulo Reitor: Jacques Marcovitch Vice-Reitpr: Adolpho José Melfi Pró-Reitór de Cultura e Extensão: Adilson Avansi de Abreu

Museu de Arqueologia e Etnologia Diretora: Paula Montero Divisão Científica: Maria Isabel D'Agostino Fleming Divisão de Difusão Cultural: Maria Christina de Souza Lima Rizzi Texto Científico: Sônia Ferraro Dorta Projeto Pedasógico: Maria Christina de Souza Lima Rizzi, Camilo de Mello Vasconcellos, Carla Gibertoni Carneiro, Judith Mader Elazari Colaboradores: Marília Xavier Cury, Carolina Tonioli de Vasconcelos, Giselle Tomazalla, Lívia Lara da Cruz, Ana Carla Alonso, Aureli Alves de Alcântara Apoio/Documentação: Marilucia Bottallo e Aparecida de Fátima de Souza Apoio/Conservação: Gedley Belchior Braga, Clementino Virginio da Silva, Luiz Carlos Borges Pinto, Reginaldo Leite da Silva Apoio/Museosrafia: Maurício Cândido da Silva e Maria Aparecida Alves Apoio/Biblioteca: Eleuza Gouveia Fotos: Wagner Souza e Silva

Projeto Gráfico e Ilustrações: Jorge Padilha

APOIO VITAE "VITAE não compartilha necessariamente dos conceitos e opiniões expressos neste trabalho, que são da exclusiva responsabilidade dos autores".

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