Paulo

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  • Words: 1,592
  • Pages: 61
Ano 34 da nossa época, os discípulos de Jesus de Nazaré, justiciado por blasfémea, afirmam que Ele ressuscitou e é o Messias prometido a Israel. Contra eles desencadeiase uma feroz perseguição.

Estêvão é lapidado.

Saulo, um jovem ardente fariseu, conduzido pelo zelo da sua fé, aprova a execução.

Pelas autoridades religiosas de Jerusalém é encarregado de prender, em Damasco, os seguidores da nova seita blasfema que parece minar o verdadeiro judaísmo.

Na estrada, a caminho de Damasco, acontece o inesperado: uma intensa luz envolve Saulo e o próprio Jesus de Nazaré dirige-se a Saulo dizendo: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” – “Quem és Tu, Senhor?”

Atordoado pela voz e pela intensidade da luz, Saulo dá-se conta de que está cego.

É conduzido para a comunidade dos crentes de Damasco e aí é baptizado por Ananias.

Em Damasco, o encontro pessoal com Cristo, muda radicalmente a pessoa de Paulo.

Muitos anos mais tarde, dirigindo-se aos seus discípulos, Paulo relatará: "Fui alcançado por Jesus Cristo" (Fl 3,12), portanto, "O Evangelho por mim anunciado…recebi-o por revelação de Jesus Cristo" (Gl 1,12).

O que aconteceu a partir daquele dia fatídico está melhor escrito no capítulo 3 da carta aos Filipenses: "Aquilo que para mim era lucro, por causa de Cristo considerei-o uma perda, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de lixo, a fim de ganhar Cristo e n'Ele ser achado" (3,7-9).

O acontecimento de Damasco é imediatamente caracterizado pelo zelo apostólico de Paulo: "Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! (1 Cor 9, 16)

Paulo sente-se "agarrado, apanhado" por Cristo (Fl 3,12); "A caridade de Cristo domina-o" (2 Cor 5,14), envolve-o, segura-o pela mão; o encontro com o ressuscitado, significa para ele, encontrar a "pérola preciosa", toda a razão de ser da sua vida, por isso escreve: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).

Se reflectirmos que Paulo escreve, passados vinte anos, sobre o encontro com Cristo na estrada de Damasco, compreendemos que este encontro tem uma enorme importância na sua vida.

Paulo demora-se em Damasco 3 anos. Ali terá feito a sua primeira experiência de evangelização, talvez sem grande êxito, mas a hostilidade por parte dos judeus cresce de tal modo que Paulo se vê obrigado a fugir da cidade.

De Damasco dirige-se a Jerusalém "Para conhecer Pedro" (Gl 1, 18-19).

Paulo tem dificuldade em inserir-se na comunidade de Jerusalém, não obstante a obra de mediação de Barnabé, devido ao seu passado de perseguidor e pela perseguição movida pelos judeus de língua grega aos quais tenta anunciar Jesus Salvador.

Perante estas dificuldades, os cristãos de Jerusalém aconselham Paulo a partir. Retira-se para a sua terra natal, Tarso (Act 10,30).

Entretanto o anúncio cristão começava a avançar mesmo entre os pagãos.

Em Antioquia, pela primeira vez o Evangelho foi anunciado a não judeus "e um grande número de pessoas acreditou e converteu-se ao Senhor" (Act 11,20.21).

Quando a notícia chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém, ela decidiu enviar Barnabé para conhecer a situação.

Barnabé encoraja-os a perseverarem, pois viu que naquela comunidade se abria uma grande possibilidade de apostolado, e por isso, vai buscar Paulo a Tarso.

Ambos, durante um ano inteiro, se dedicaram á instrução e formação dos crentes, e foi em Antioquia – como anota Lucas – que se começou a chamar os crentes pelo nome de "cristãos" (Act 11,26).

Que deviam fazer os crentes vindos do paganismo, abraçar a Lei de Moisés para depois aderir a Cristo, ou bastava apenas aderir a Cristo? A grande questão que se apresenta ao cristianismo nascente, era o modo de conceber a fé cristã no seu relacionamento com a tradição judaica.

Paulo, foi quem mais contribuiu para desbloquear este impasse, graças sobretudo à sua experiência pessoal, compreendeu que Deus vai ao encontro de todos os homens, sem distinções étnicas ou culturais.

Não se conseguiu sanar o desacordo que causava incerteza na comunidade de Antioquia, por isso decidiu-se recorrer à autoridade dos apóstolos e dos Anciãos de Jerusalém.

Em Jerusalém chega-se a uma conclusão: "Acreditamos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus", sem a Lei de Moisés (Act 15,11).

Como resultado desta assembleia Paulo vê aprovada a sua actividade missionária entre os pagãos (Gl 2, 1-10).

Paulo foi sobretudo um evangelizador, um fundador de comunidades.

Ele é, sobretudo, um homem sempre "a correr para a meta", metáfora que usa muitas vezes nas suas cartas para indicar a sua actividade apostólica, a "corrida" do Evangelho, que quer exprimir o caminho rápido do cristão.

O livro dos Actos dos Apóstolos apresenta Paulo quase sempre em viagem; calcula-se que tenha percorrido mais de 15 mil quilómetros, um número impressionante se tivermos em conta os méis de transporte do seu tempo.

Como lugares de missão ele escolhe as cidades, principalmente por motivos práticos: tinham melhores vias de acesso, ...

...lá ... falava-se o grego e era nos grandes centros urbanos que se encontravam os judeus da diáspora, onde tinham sempre uma sinagoga.

Seguindo a narração de Lucas, a missão de Paulo divide-se em três viagens.

Barnabé e Paulo, depois de um ano de intenso trabalho A primeira viagem em Antioquia, sob a inspiração do Espírito apostólico (Act 13-14), Santo, são enviados por aquela Igreja, em missão anos 47-49. evangelizadora, sendo Barnabé o chefe da missão.

Partindo de Antioquia, chegam a Chipre onde encontram Marcos, vão até Listra (actual Turquia). Várias vezes se repete o facto de enquanto os judeus recusarem a pregação dos apóstolos e se opõem usado violência contra os missionários, pelo contrário, os pagãos recebem-nos com alegria.

A segunda viagem (Act 15,36-18,22), anos 50-52. De Antioquia à Grécia.

Paulo, sendo ele agora o chefe da missão, toma consigo Silas e mais tarde Timóteo, chega até Filipos onde Baptiza Lídia, cuja casa se torna ponto de referência da comunidade ali existente.

Depois de terem sido açoitados e metidos na prisão, postos em liberdade chegam a Tessalónica.

Por onde passam anunciam o Evangelho e surgem confrontações com os judeus.

Pouco depois Paulo parte para Atenas, onde prega no Areópago.

Depois parte para Corinto onde encontra o casal Áquila e Priscila e hospeda-se na casa deles. Permanece ano e meio nesta comunidade onde também chegam Silas e Timóteo.

Deixando Corinto, passa por Éfaso onde ficam os seus amigos Áquila e Priscila e parte em direcção à Palestina, sobe a Jerusalém e volta a Antioquia.

A terceira viagem (Act 18,23-21,16) 53 a 58. De Antioquia à Grécia.

Tal como nas duas missões anteriores partem de Antioquia e dirigem-se para Éfaso, onde durante dois anos Paulo exerce uma intensa actividade apostólica.

Como muita gente aderia à nova fé, dá-se a diminuição das práticas religiosa pagãs.

Isto suscita a revolta daqueles que organizavam o comércio da cidade. Paulo tem de fugir, provavelmente para Corinto.

Chega a Mileto onde se encontra com os responsáveis cristãos de Éfaso, depois parte para Cesareia e vai pela última vez a Jerusalém.

Com todas estas viagens a narração dos Actos pode dar a sensação que Paulo nunca parasse, mas não é verdade. Paulo não deixava as comunidades que se estavam a formar sem ter a certeza de que estavam suficientemente sólidas na fé e deixava com eles um dos seus companheiros de missão, ou escolhia colaboradores da própria comunidade depois de os ter formado (1 Ts 5,12-13).

Também lhes escrevia cartas para os ajudar quando estava longe.

Paulo, nas suas viagens, não caminhava ao acaso. Ele tem consciência de que lhe foi confiada uma grande missão, partindo de Jerusalém, pretende chegar até Espanha (Rm 15,24), com uma intenção: levar Cristo aonde ainda não foi anunciado.

"Cinco

vezes recebi dos judeus os quarenta acoites menos um; três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufraguei. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos dos salteadores, perigos dos meus concidadãos, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos dos falsos irmãos…" (2 Cor 11,24-26).

Mas aquilo que mais ressalta nas suas cartas é a intenção do que o faz correr: "O amor de Cristo me impele" (2 Cor 11,24-26).

O encontro da estrada Damasco não deixa Paulo em paz e leva-o a fazer tudo, para que um número maior de pessoas tenham conhecimento de Jesus.

No ano 58 Paulo sobe a Jerusalém para levar ajuda àquela comunidade. É preso no Templo.

Transferido para Cesareia, ali, fica prisioneiro dois anos. Apela a César e é enviado a Roma.

Em Creta são apanhados por uma violenta tempestade, ficando 14 dias à deriva, acabando por dar à costa na ilha de Malta.

Dali partem para Itália, chegando a Roma por volta do ano 60.

Em Roma, Paulo fica em prisão domiciliária durante dois anos. Assim termina o livro dos Actos dos Apóstolos.

Paulo terá sido libertado e terá voltado para o Oriente, possivelmente para Éfaso ou Creta.

Regressando de novo a Roma terá sido martirizado por volta do ano 62.

O carisma de Paulo não é a clareza, mas a novidade, a densidade… Ele está sempre em "viagem", sempre pronto a enfrentar novas situações, a partir do centro da sua fé, sem qualquer modelo de apoio, sem a confirmação de um regulamento adaptado às várias circunstâncias. A sua missão é abrir novos caminhos por toda a parte, deixando para outros os caminhos normais. O. Kuss

"Temos de pressentir por que caminhos nos conduziria Paulo, se partilhasse hoje, connosco, a missão evangelizadora da Igreja Bispos de Portugal

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