SEXTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
CADERNO CADERNO 22 D5 D5
Cinema Brasileiro DAVI ALMEIDA/DIVULGAÇÃO
A farra dos palavrões na volta de Rui e Vani
Quando tudo o que vem é previsível fica mais difícil rir crítica LUIZZANINORICCHIO
Novo longa baseado no seriado de Os Normais chega como arrasa-quarteirão Luiz Carlos Merten
Repare na foto ao lado. É emblemática de Os Normais 2, que estreia hoje com mais de 400 cópias em todo o País. É uma estreia arrasa-quarteirão, digna deblockbusterdeHollywood.Como o primeiro filme fez mais de 3 milhões de espectadores – há seis anos – e o diretor José Alvarenga Jr. bateu quase 2 milhões com Divã, a expectativa é de um supersucessodocinemabrasileiro. O público já está rindo com o trailer. Os críticos falam mal – fórmula televisiva, escatologia, você conhece o discurso. Na foto, Rui e Vani, Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres, aparecem entalados com Cláudia Raia numa banheira de hidromassagem. Na história, de cara, após um número de canto num karaokê, o casal está voltando para casa quando Vani,derepente, propõeaomarido que façam um ménage à trois. Rui vem propondo há anos o sexo a três e ela nunca topou. “É agora ou nunca!”, brada Vani/ Fernanda. Alvarenga Jr. filma a cena de cima para mostrar a pressa com que Rui/Guimarães faz o retorno, em busca do tão sonhado ménage à trois. Só que ele se revela mais difícil do que sonha a dupla. Não é por acaso que o filme tem um subtítulo – A Mais Longa das Noites. Quando Alvarenga retomou oprojeto,ocorroteiristaAlexandre Machado lançou a proposta – Os Normais 2, Un Ménage a 3. Depois de uma comédia romântica assumida como Divã, com
Lília Cabral, o diretor assume que queria algo mais picante. Não se assuste com o palavrão quevaileragora.Alvarengadefineseunovofilmecomoumretorno‘àboaputaria’(epa!).“Asacanagemfazpartedanossaherança. Estou falando a boa putaria, a lúdica, e não dessa em que se transformou a vida pública brasileira.” Alexandre Machado era o homem certo para incrementar a proposta do cineasta. “Juropelosdentinhosde leitede meus filhos que nunca fizemos isso”, diz Fernanda Young, mulher de Machado e corroteirista do filme. “Mas o Alexandre tem essaimaginaçãofértileeleémuito engraçado. Agora mesmo, estávamostomandoumcaféláem-
ALGUMAS DAS CENAS MAIS ENGRAÇADAS DESTA CONTINUAÇÃO ESTAVAM NO TRAILER baixo (NR – A entrevista realizase num hotel) e ele quase me fez morrer de rir. Marido que faz a mulher rir já garante meio casamento bem-sucedido.” Ambosacrescentamquetentar levantar um casamento caído por meio do ménage à trois – ou qualquer outra sacanagem – nãodácerto.“Sexonãosalvacasamento”, dizem em coro. Mas afaltadelepioraascoisas,acrescenta o repórter (e ambos concordam). O sexo está sempre presente – uma elefantíase – em Os Normais 2. Abundam os pala-
QUE TAL NÓS TRÈS? – Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Raia e Fernanda Torres: entalados na banheira
vrões. Alguns são tão cabeludos quedeixariamleitoresmaisconservadoresdecabeloempé,embora casais de meias idade e senhoras de família tenham rido muito com a peça – desbocada – A Casa dos Budas Ditosos, que a própria Fernanda apresentou com sucesso em São Paulo. A atriz possui uma graça toda especial para dizer certos palavrões. Fernanda é impagável. Algumas das cenas mais engraçadas aparecem no trailer. É um humor na maior parte do tempo verborrágico. “O Alexandre e a Fernanda escrevem muito bem”, explica a outra Fernanda, a Torres, mas ela reconhece que o timing é uma coisa que Luiz Fernando Guimarães e ela acrescentam. Ambos fizeram Os Normais na Globo, estiveram na origem do sucesso do primei-
ro filme e agora seguem o êxito da reprise da série no GNT. “É a maioraudiência do canal,um fenômeno. O humor de Os Normais não fica datado”, observa Guimarães. Ambos participam atualmente da peça Deus É Química,emcartaznoRio.ÉumtextodeFernandaTorres.“Nãome considero dramaturga, mas me deuvontadedeescrevereamontagem está sendo um sucesso. Como tem muita gente em cena, é preciso um teatro grande para serviável.Vamostrazeraquipara São Paulo.” Um humor escrito, falado – mas José Alvarenga Jr. confia tanto no seu taco que improvisou uma sequência inteira. Ela é toda visual, sem uma palavra. É quando Rui e Vani vão ao hospitale,emumasucessãodepequenos incidentes, lança uma ben-
gala, feito bólido, rumo, vocês já vão saber onde, ao paciente que está morrendo de medo do exame de toque que vai fazer com o especialista de próstata. “Seria capaz de imaginar uma cena assim, mas aquilo foi criação integral do Alvarenga.” Alexandre Machado faz cara de dor. Humor escatológico? Faz parte do pacote. ● Serviço ● Os Normais 2 (Brasil/ 2009, 75 min.) – Comédia. Direção de José Alvarenga Jr. 14 anos. Cotação: Regular
Assista ao trailer de Os Normais 2
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Ninguém duvida que Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães sejam ótimos atores cômicos. Não é por eles que Os Normais 2 deixa de ser um filme interessante. O problema é que o material oferecido à dupla é dos mais pobres. Dificilmente alguma situação surpreende o espectador. E, como se sabe, o cômico depende muito do fator surpresa. Quando tudo se revela previsível, as pessoas já se preparam para achar graça. E, quem está preparado para rir, não ri tudo o que poderia. Resumindo: falta imaginação criativa para desconcertar o espectador, tirá-lo fora do eixo e fazê-lo rir com aquilo que não espera. Isso não quer dizer que uma ou outra situação não seja razoavelmente bem bolada. Em particular, aquela em que o casal confunde uma lutadora de artes marciais com uma candidata bissexual ao ménage. Aliás,essapalavraque,emfrancês, pode dizer coisas inocentes como mulher do lar ou arrumadeira,presta-seaalgunsequívocosinteressantes quando a parceira sondada é uma francesa. Essesbonsmomentossãoraros. E ralos demais para segurar a duração do filme. Assim, nemmesmoumpúblicocúmplice e devidamente domesticado pela origem televisiva da coisa sente-secapaz de se divertir como esperava. É claro que, em relação àquilo que é servido na telinha existe alguma ousadia a mais, em especial no vocabulário.No Brasil, é muitofácil fazer as pessoas rirem – basta falar umpalavrão,oqueéumfenômeno que deveria ser estudado. Mas também é claro que esse facilitário acaba cansando. ●