A Nova Ortografia do PB Profa. Ms. Desirée Reinehr Mirapalhete Redmer
Palavras Iniciais
Até o início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma ortografia que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego para escrever cada palavra (ex.: pharmacia, lyrio, orthographia, phleugma, diccionario, caravella, estylo, etc.). Em 1911, no seguimento da implantação da república em Portugal, foi levada a cabo uma profunda reforma ortográfica que modificou completamente o aspecto da língua escrita, aproximando-o muito do atual. No entanto, esta reforma foi feita sem qualquer acordo com o Brasil, ficando os dois países com duas ortografias completamente diferentes: Portugal com uma ortografia reformada, o Brasil com a ortografia tradicional (dita pseudo-etimológica).
Ao longo dos anos, a Academia das Ciências de Lisboa protagonizou sucessivas tentativas de estabelecimento de uma grafia comum a ambos os países. Em 1931 foi feito um primeiro acordo, no entanto, como os vocabulários que se publicaram, em 1940 (em Portugal) e 1943 (no Brasil), continuavam a conter algumas divergências, realizou-se um novo encontro que deu origem ao Acordo Ortográfico de 1945. Este acordo tornou-se lei em Portugal, mas no Brasil não foi ratificado pelo Congresso Nacional continuando os brasileiros a regular-se pela ortografia do Formulário Ortográfico de 1943.
Novo entendimento entre Portugal e o Brasil — efetivo em 1971 no Brasil e em 1973 em Portugal — aproximou um pouco mais a ortografia dos dois países. Novas tentativas de acordo saíram goradas em 1975 — em parte devido ao período de convulsão política que se vivia em Portugal — e em 1986 — devido à reação que se levantou em ambos os países, principalmente a propósito da supressão da acentuação gráfica nas palavras escrúxulas (ou proparoxítonas). No entanto, como, segundo os proponentes da unificação, a persistência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa — a luso-africana e a brasileira — impede a unidade intercontinental do português e diminui o seu prestígio no mundo, foi elaborado um "Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa" Em 1988, atendendo às críticas feitas à proposta de 1986, que conduziu ao novo Acordo Ortográfico em 1990.
O Congresso Nacional Brasileiro promulgou o Acordo Ortográfico em 18 de abril de 1995, após a data em que, conforme o próprio Acordo, deveria ter entrado em vigor em 1 de janeiro de 1994. Dez anos mais tarde, em outubro de 2004, seria ratificado o Segundo Protocolo Modificativo pelos outros países . A ratificação do Segundo Protocolo também por Cabo Verde (2005) e São Tomé e Príncipe (2006) abriu caminho à efetivação do Acordo Ortográfico no Brasil. No entanto, numa reunião da Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip) no dia 14 de setembro de 2007, foi decidido recomendar ao governo brasileiro que esperasse por Portugal e não aplicasse o Acordo em 2008, pois uma unificação ortográfica sem Portugal já nasceria desunida. O MEC preparou uma minuta de decreto que enviou para o Palácio do Planalto para ser avaliada e posteriormente assinada pelo presidente prevendo que os termos do novo acordo comecem a vigorar em 2009 .
Países que participam do acordo
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Brasil, Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram o acordo – ou seja, reafirmaram o compromisso de implantá-lo. O Brasil é o país que está mais adiantado, pois já tem um cronograma claro. Portugal se comprometeu a adotar as novas normas até 2014.
Até quando posso escrever na antiga ortografia?
É possível escrever na antiga ortografia até o dia 31 de dezembro de 2012. A partir de 2013 ficam valendo apenas as novas normas ortográficas.
Posicionamento a favor do novo acordo ortográfico
Na situação atual, há um enorme custo econômico e financeiro na produção de edições diferentes de dicionários, livros didáticos e literários para o Brasil e para Portugal. Tal deve-se às diferenças entre as duas variantes do Português no que concerne ao vocabulário, a sintaxe e aos diversos usos e preferências linguísticos, mas também se deve, salientam os defensores do Acordo, às divergências ortográficas. A demora na edição de obras lexicográficas comuns contribui para que o português se insira no conjunto de línguas de pouca difusão, pouco conhecimento e pequena repercussão no universo da comunicação multilingue, apesar de ser uma das mais faladas do mundo, quer em número de falantes quer em número de países. O Acordo Ortográfico prevê a preparação de um vocabulário técnicocientífico comum, ainda não concretizado, que seria de grande utilidade para a difusão bibliográfica e de novas tecnologias que recorrem a terminologia científica e técnica, beneficiando os educandos e os utilizadores dal íngua em geral.
Posicionamento contra o novo acordo ortográfico
Insuficiência da proposta Necessidade e custo da proposta
Adaptação do corpo literário já existente pelas editoras. O custo médio de preparação e revisão de um único livro é, no Brasil, de cinco mil reais. Súbita obsolescência de dicionários, gramáticas e livros escolares, que terão de ser substituídos. Reaprendizagem ortográfica por parte de uma grande massa de pessoas, incluindo crianças.
Projeção internacional e abrasileiramento da língua
Muita gente aponta que é falsa a idéia de que a união ortográfica fortalecerá a língua portuguesa no cenário internacional, uma vez que a projeção de uma língua depende de muitos fatos.
Possibilidade de múltiplas grafias (facultatividades) De forma a contemplar as diferenças fonéticas entre Portugal e o Brasil, o Acordo Ortográfico prevê a existência de abundantes casos de palavras com duas ou mais grafias possíveis. Exemplos: fenómeno/fenômeno, aritmética/arimética, amnistia/anistia, amígdalas/amídalas, dactiloscopia/datiloscopia, eletrónica/eletrônica, súbdito/súdito, visitamos (ontem) / visitámos (ontem), recepção/receção, espectador/espetador, intersecção (de conjuntos) / interseção (de conjuntos), (o) cacto (secou) / (o) cato (secou), (o Tejo) desagua (em Lisboa) / (o Tejo) deságua (em Lisboa) / (a Polícia) averigua (o crime) / (a Polícia) averígua (o crime), entre muitos outros valores, o menor dos quais será a existência de divergências ortográficas.
Interesses políticos
Mudanças no PB
Acento circunflexo
Os hiatos ‘oo’ e ‘ee’ não recebem mais acento Ex: abençoo perdoo magoo enjoo leem veem deem creem Atenção: Continuam acentuados (ele) vê, (eles) vêm [verbo vir], (eles) têm etc.
Acento agudo sobre o 'u'
1. Não se acentua mais o ‘u’ tônico das formas verbais argui, apazigue, averigue 2. Não se acentuam mais o ‘u’ e o ‘i’ tônicos precedidos de ditongo em palavras paroxítonas
Ex: feiura bocaiuva baiuca Sauipe Atenção: Feiíssimo e cheiíssimo continuam acentuados porque são proparoxítonos; bem como Piauí e teiú, que são oxítonos
Ditongos abertos
Os ditongos ‘éi’, ‘ói’ e ‘éu’ só continuam a ser acentuados no final da palavra, mas céu, dói, chapéu, anéis, lençóis não mudam Ex: boia paranoico heroico plateia ideia tipoia Atenção: O acento será mantido em destróier e Méier, conforme a regra que manda acentuar os paroxítonos terminados em ‘r’.
Hífen O hífen é empregado:
1. Se o segundo elemento começa por ‘h’ Ex: geo-história giga-hertz bio-histórico super-herói anti-herói macro-história mini-hotel super-homem Atenção: Esta regra não se aplica às palavras em que se unem um prefixo terminado em vogal e uma palavra começada por ‘r’ ou ‘s’. Quando isso acontece, dobra-se o ‘r’ ou ‘s’: microssonda (micro + sonda), contrarregra, motosserra, ultrassom, infrassom, suprarregional
2. Para separar vogais ou consoantes iguais Ex: inter-racial micro-ondas micro-ônibus megaapagão sub-bibliotecário sub-base antiimperialista anti-inflamatório contra-atacar entre-eixos hiper-real infra-axilar Atenção: Esta regra não se aplica às palavras em que se unem um prefixo terminado em vogal e uma palavra começada por ‘r’ ou ‘s’. Quando isso acontece, dobra-se o ‘r’ ou ‘s’: microssonda
3. Prefixos ‘pan’ ou ‘circum’, seguidos de palavras que começam por vogal, ‘h’, ‘m’ ou ‘n’ Ex: pan-negritude pan-hispânico circummurados pan-americano pan-helenismo circumnavegação
4. Com ‘pós’, ‘pré’ ‘pró’ Ex: pós-graduado pré-operatório pró-reitor pós-auricular pré-datado pré-escolar
Acento diferencial de tonicidade Não se acentuam mais certos substantivos e formas verbais para distingui-los graficamente de outras palavras Ex: Vou para casa. (preposição) Ela não para de chorar. (verbo) Vou pelo morro/pela estrada. (contração de preposição + artigo) O pelo do gato. (substantivo) Eu pelo/ele pela a cabeça. (verbo)
Atenção: Esta regra aplica-se também às palavras compostas: para-brisa, para-raios. Para evitar confusões, foram mantidos os acentos do verbo pôr e da forma do pretérito perfeito pôde. O acento de fôrma (distinto de forma) é facultativo
Trema
Deixou de ser usado, mas nada muda na pronúncia Ex: tranquilo sequestro consequência aguentar arguir linguiça bilíngue pinguim cinquenta linguistico delinquente antiguidade quinquênio sagui Atenção: Exceção para nomes próprios estrangeiros (como Müller e Bündchen)
Referências: SILVA, Maurício. O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: o que muda, o que não muda. São Paulo. Editora Contexto, 2008. Academia Brasileira de Letras
Sugestões de referências:
Academia Brasileira de Letras www.academia.org.br - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP-2009) www.atica.com.br/novaortografia www.novaortografia.com www.baixaki.com.br/i