ORIGEM DA UNIVERSIDADE A origem da Universidade está intimamente ligada à educação teológica. Pelo ano 1200, alguns ambientes de catequese cristã viraram universidades. A Universidade de Bolônia na Itália foi a primeira a surgir. A Universidade de Paris foi a segunda, depois veio Oxford. Naquele tempo, a Universidade de Paris chegou a ser o centro filosófico e teológico do mundo. Mais adiante, esta chegou a ser a semente do futuro seminário protestante. A educação superior era o âmbito do clero. O erudito era visto como o guardião da sabedoria. A universidade moderna surgiu porque os bispos necessitavam de um lugar para prover treinamento clerical. A teologia era considerada a "Rainha das Ciências" na Universidade. No período entre 1250 até 1500 foram fundadas 71 universidades na Europa. [ http://www.ptmin.org/pagan_spanish.htm#_ftn235] A teologia moderna exercitou-se nas abstrações da filosofia grega. A academia universitária adotou o modelo do pensamento aristotélico, dirigido ao conhecimento e à lógica racional. O instinto dominante da teologia escolástica tendia para a assimilação e a comunicação do conhecimento. É exatamente por isso que o pensamento ocidental sempre foi aficcionado pela formulação de credos, declarações doutrinais e outras abstrações insonsas. Um dos professores quem mais influiram no formato atual da teologia foi Pedro Abelardo (1079-1142). Abelardo foi o responsável, em parte, por dar-nos a "moderna teologia". Seu ensino pôs a mesa e preparou o menu para filósofos escolásticos como Tomás de Aquino (1225-1274). Graças a Abelardo a escola de Paris virou modelo para as demais universidades. Abelardo aplicou a lógica, ou logia, aristotélica da verdade revelada. [ http://www.ptmin.org/pagan_spanish.htm#_ftn236]. Ele também deu à palavra "teologia" o significado que tem hoje. Antes dele, esta palavra era utilizada apenas para descrever crenças pagãs. Seguindo a norma de Aristóteles, Abelardo dominou a arte filosófica da "dialética", a discussão lógica da verdade. Ele aplicou esta arte às Escrituras. Atenas, pois, está no sangue da educação teológica cristã, que nunca mais se recuperou da influência de Abelardo. Aristóteles, Abelardo e Aquino acreditavam que a razão era a porta de acesso à verdade divina. Então, desde o começo, a educação universitária ocidental resultou da fusão de elementos pagãos com elementos cristãos. ********************************************************************************
Autonomia universitária - O Princípio e o Fim
Delfim Soares
A Universidade é uma instituição que, em seu modelo atual predominante, tem origem na Europa medieval. Consideramos a lembrança se seus primórdios uma forma comparativa adequada para avaliar a trajetória da sua evolução e , mesmo, de possíveis retrocessos. O que motiva esta vasculhada histórica é o projeto de emenda constitucional e de lei complementar que o MARE enviou ao Congresso Nacional, sobre autonomia das universidades federais. Do embrião da autonomia Naturalmente, limitar-nos-emos aos aspectos envolvidos diretamente na questão da autonomia. As universidades surgiram ex-consuetudine (formadas espontaneamente) ou exprivilegio (criadas por decreto real ou bula papal). Com o tempo todas acabavam recebendo algum tipo de confirmação oficial. Isto nos leva à relação constante entre outorga e autonomia. A universidade medieval, devido às suas origens mais freqüentes em escolas clericais, ao fato de quase sempre ser consagrada por Bula papal e, ainda, porque a maior parte dos professores eram clérigos, herdou vários direitos e privilégios que eram exclusivos do clero. Mesmo quando uma universidade era criada por decreto real, como foi o caso da de Lisboa pela Scientiae Thesaurus Mirabilis de D. Dinis de 1288, (1) costumava adquirir fórum eclesiástico como ocorreu nesta universidade com a bula do papa Nicolau IV De statu regni Portugaliae em 1290. (2) Há sempre uma certa relatividade na autonomia atribuída às universidades, quer pela autoridade real quer pela autoridade papal, pois o mesmo poder que cria a universidade costuma manter sobre ela algum tipo de ingerência, por maior que seja o grau de autocracia universitária. Embora no apogeu da autonomia da universidade, durante os séculos XII e XIII, a academia tenha conseguido direitos e privilégios semelhantes aos de um verdadeiro Estado quase independente, sempre houve algum tipo de dependência, principalmente da autoridade eclesiástica. Também acontecem algumas ingerências do poder real. Esta prática pode encontrar-se tanto nos modelos universitários que seguem a estrutura de Paris quanto nas universidades que imitam Bolonha, caso em que se enquadra a universidade de Coimbra/Lisboa e como se pode deduzir da seguinte ata de 6 de novembro de 1512, da Universidade de Lisboa: "Aos bj dias do mes de nouembro de bexij nas scolas gerais do studo de lixboa...determjnando per o bacharel Ruy gonçalvez... o dicto doctor ouuese seu asento e quaesquer onrras no dicto studo por que ElRey nosso Senhor asi o auja por bem..."(3) Em alguns casos, a autoridade manifesta claramente o propósito da viabilização material da vida universitária. A bula do papa Sixto IV de 1475, criando a Universidade de Copenhague impõe, para criação da instituição, locus insignis, in quo victualium copia haberatur (4) (local excelente, com abundância de suprimentos).
Três coisas são fundamentais para o devido enquadramento da autonomia da universidade medieval: a compreensão da situação do clero como classe social dominante, inserida na estrutura feudal, as características da estrutura organizacional intrínseca e extrínseca da universidade e o conjunto de direitos e privilégios que os universitários foram adquirindo na maior parte das universidades. Deve-se realçar que o pano de fundo para o conjunto de privilégios ou direitos, entre eles, a autonomia, é o domínio do saber. A ciência, no sentido mais amplo, estaria, portanto na base da diferenciação social, do privilégio jurídico e da autocracia universitária. Ela pressupõe outorga do poder público/eclesiástico, conquista corporativa, competência operacional, pesquisa científica, docência e independência. A universidade de Paris, a mais importante da Idade Média, se organiza como as demais corporações: os professores são os mestres, os bacharéis são os oficiais e os estudantes são os aprendizes. É neste ponto que se liga autonomia e corporação. Há algumas variações nos modelos organizacionais das universidades medievais, mas todas elas têm uma estrutura parecida. Sua administração é exercida por reitores, chanceleres, síndicos, decanos, todos eleitos pela comunidade acadêmica. As grandes decisões são tomadas por conselhos ou congregações representativas. Os cargos são sempre temporários e, normalmente, não há nomeações externas. Estudantes participam ativamente das eleições dos cargos administrativos. A universidade medieval inclui entre as características de sua autonomia, o direito de asilo, não podendo ser invadida pela polícia, e fórum próprio, o que transforma a universidade num mini-Estado. Por outro lado, convém não esquecer o império da Escolástica, como formatação intelectual instituída e, portanto, manter presente a distinção entre autonomia universitária e liberdade intelectual. Alguns direitos eram inerentes às atividades acadêmicas, como o direito do magistério universal dos diplomas de Paris: "...quicunque ex Universitate vestra... examinatus et approbatus fuerit... docendi ubique locorum... liberam habeat facultatem...” (5) (...quem da vossa Universidade... for examinado e aprovado... terá o direito de ensinar em todos os lugares). E isso seria feito sem qualquer tipo de exigência ou outro exame. Os privilégios dos universitários remontam a 1158. Em 1198 O papa Celestino III determina foro eclesiástico para questões financeiras envolvendo estudantes. Em 1200, o rei Felipe Augusto transfere para o foro eclesiástico as questões envolvendo estudantes. A isenção e impostos do clero também foi herdada pelos universitários. Também eram dispensados do serviço militar. O papa Gregório IX concedeu aos mestres e estudantes o direito de greve - cessatio: "liceat vobis usque ad satisfactionem condignam suspendere lectiones".(6) (seja-vos permitido suspender as aulas até a satisfação condigna). A migratio ou transferência de universidade era outro direito dos estudantes. Algumas pequenas vantagens também eram usufruídas pelos universitários, como descontos em espetáculos. Alguns dos privilégios estendiam-se também aos funcionários das universidades e até aos serviçais dos universitários.
A autonomia da universidade medieval, construída na autoridade dos mestres, numa estrutura corporativa, enfraquece nos séc. XIV e XV, com os ataques da burguesia e principalmente com as ingerências políticas do Estado na Academia. A modernidade renascentista também parece ter contribuído eficazmente para o enfraquecimento da autonomia universitária. E a história vai se repetindo...e o processo se deteriorando... À autonomia caricata Está em gestação, no planalto central, mais um experimento de logicidade jurídica e sistematicidade pedagógica que, por não caber nos princípios do Organon de Aristóteles nem em outros tratados de Lógica conhecidos, me força a indagar ao vento do deserto sobre as bases de coerência de tal experimento. Autonomia se outorga ou se conquista? As Universidades já não tinham autonomia?! Dizia-se que sim. Afinal, elas concediam diplomas. Mas os diplomas, por si nada valiam, pois precisavam de um registro profissional no MEC, na OAB, no CREA etc. E a autonomia era só uma palavra... Era preciso avaliar as universidades. Objetivo mais do que justo e necessário. A lógica Frankenstein resolve a situação. Um Vestibular de cruzinhas na entrada e outro na saída, organizado pela Cesgranrio. Esta Fundação já muito contribuiu para degradar o ensino com seus vestibulares para analfabetos. Certamente Frankenstein não poderia ter escolhido melhor. De uma tacada só, consagra-se a degradação qualitativa do ensino, inicia-se a total privatização da universidade, numa avaliação de (Fundação) privada e mostra-se que autonomia é história para boi dormir. Quando os reis de Castela recebem o projeto de Cristóvão Colombo para chegar à Índia pelo Ocidente, sujeitam sua aprovação à Universidade de Salamanca. Enquanto isso, mais de 500 anos depois, nossa Corte manda uma empresa comercial avaliar a qualidade do ensino das Universidades do país. Uma questão de fundo político deve ser levantada sempre no Brasil. Todos os governos acham a Constituição ruim para governar, pois todos alimentam um imperador absolutista latente. Por outro lado, a proximidade do poder e de suas benesses costuma fascinar muitos legisladores. É por isso que, com muita freqüência, se propõe a desconstitucionalização, como está acontecendo agora com a autonomia universitária, ainda que esta seja fictícia. Mudar a lei é sempre mais fácil... Outra questão de fundo é o conjunto de interesses que dominam este governo neo-liberal. Os ataques que a burguesia fazia em séculos passados à universidade se repetem agora. O descalabro total da educação vem sendo orquestrado desde a década de 60 e a privatização da universidade é um objetivo indisfarçável. É evidente também a condição de refém dos grupos que mercantilizam a educação em que se encontra o Estado.
Se considerarmos as implicações latentes de nossa organização política, certamente Maquiavel, se passasse agora por este país, seria um aprendiz. Por isso, não deixa de ser surrealista a tentativa de explicar logicamente aquilo que somente cabe em deformações ideológicas. Talvez pudéssemos perguntar ao Ministério da Educação pela sua autonomia, diante de um projeto de autonomia das universidades apresentado pelo MARE ao Congresso Nacional. Talvez pudéssemos perguntar a Brasília como uma Universidade pode ser autônoma integrada num sistema nacional. Ou ainda porque o Projeto da autonomia não é produzido pela Universidade. Ou talvez, fingindo-nos de sofredores de ingenuidade sociológica, perguntássemos ao fantasma de Maquiavel, se será necessário tanto teatro político para, mais uma vez, chegarmos à conclusão que o Estado é apenas testa de ferro dos interesses burgueses. Permanecendo em tal hipotética ingenuidade perguntaríamos aos génios das ciências políticas o que teria levado um partido social democrata a transformar-se em lacaio do capitalismo selvagem modernoso onde excelência, mercado, globalização e competição são categorias transcendentais ou imperativos categóricos que se autojustificam e se impõem como dogmas medievais. Os ingênuos ajoelham no altar do capital, confessam sua fé no Estado privado da burguesia, juram sua lealdade à universidade privatizada e, como servos da gleba, terão sua salvação eterna assegurada!... Mas os cépticos continuarão perguntando para que serve um Estado que abandona suas funções sociais. Em que tipo de lógica se insere um Estado privatizado. Talvez fosse melhor começar a doutrinar nosso povo no bramanismo e justificar, num fatalismo teológico, todas as desigualdades sociais. Assim ninguém teria culpa: a sociedade de castas seria uma boa solução para os nossos lacaios sociais democratas!... E daria uma base lógica à privatização da universidade!... Os cépticos perguntarão ao MEC por que limita a avaliação dos programas de pósgraduação à CAPES, ignorando a Academia. Ou por que o provão das cruzinhas da Cesgranrio não é substituído por uma avaliação mais séria feita pela academia e pelos conselhos ou ordens profissionais. Todo o sistema educacional brasileiro está degradado. A educação superior tem sido sistemática e propositalmente deteriorada. A reforma universitária perpetrada a partir de 1968 objetivava essa degradação. A explosão das quitandas particulares de ensino superior promovida pelo comércio e estimulada pelo MEC, a partir da década de 70, foi decisiva para tal descalabro. É claro que o principal responsável foi o Governo, por ter patrocinado esta política mercantilista que reduziu a universidade a um balcão de diplomas de ginásio de adultos. Em sua maioria, estas escolas não investem em pesquisa e ministram ensino de qualidade duvidosa. Por outro lado, ultimamente vem-se exercitando uma política de abandono em relação à universidade pública. Não se pode falar de MEC, pois sua autonomia parece ser tanta quanto a das universidades: obra de ficção! Não é preciso ser gênio para concluir que a avaliação da universidade tem que começar pela política nacional. Voltemos ao projeto do MARE:
O projeto prevê uma redução gradual e contínua dos investimentos públicos na universidade, apontando claramente o caminho da privatização. Impõe-se a visão da educação/mercadoria e abandona-se a concepção da educação como benefício social, direito do cidadão e obrigação do Estado, num país onde a maioria é pobre: trata-se de um projeto perverso de perpetuação da grande marginália social. Social democracia brasiliana!... A universidade federal não tem autonomia. Este projeto vende a ilusão de autonomia com embalagem da escravidão ao mercado. É a grande Besta do apocalipse: liberdade de iniciativa. Quem tem tudo pode tudo, quem não tem nada não pode nada. As contradições internas do projeto são insignificantes diante da trama liberal. Mas não podemos deixar de mencionar o fato de se reduzirem investimentos ao mesmo tempo que se exigem melhorias no desempenho. A qualidade da educação pressupõe turmas pequenas, mas a proporção professor/aluno é critério para atribuição de recursos. Exige pesquisa das universidades, mas sabe-se que as universidades privadas, em sua maioria não investem em pesquisa. Como esperar que, privatizando as universidades federais, correspondendo a cerca de 20% do Ensino superior, continuem respondendo por mais de 80% das pesquisas? As universidades federais, em geral estão com seus quadros docentes deficitários, como resultado do terrorismo contra o funcionalismo, das aposentadorias e da proibição de concursos. A continuar a mesma política de degradação, alguns setores não precisarão de autonomia mas de funerária. É emblemática esta situação. Promove-se a degradação do ensino superior, dentro do próprio sistema. Depois tudo se justifica. Este processo está inserido numa campanha mais ampla de deterioração da imagem do serviço público que, em geral é causada pelos maus políticos e patrocinada por todos os grupos a quem interessa o enfraquecimento do setor público. É evidente que o serviço público tem que ser profissionalizado, com concursos públicos e carreiras. Justamente o que tem deteriorado o serviço público são as ingerências políticas, o clientelismo, o fisiologismo, o apadrinhamento. Eliminadas essas pragas, estaria resolvido o problema. E por que não se faz isso? A deterioração justifica a privatização. Esta abre caminho para monopólios, oligopólios, espoliações, mamatas, liberdade de ação etc. O projeto não clarifica as relações entre a universidade autônoma, o Sistema de Instituições Federais de Ensino Superior e o Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Superior. Pode prever-se um conjunto de ingerências políticas que aumentarão mais ainda o lado caricato deste projeto Frankenstein. Também não se clarifica a possibilidade de um Fundo de Pensões e Aposentadorias principiante não ter como pagar aposentadoria a quem se aposentar logo depois da promulgação da lei, depois de ter contribuído a vida inteira para outro regime. Do mesmo modo não fica claro se os servidores que permanecerem no velho regime terão sua aposentadoria paga pelo Tesouro ou pelo Fundo de Pensões. E, as conseqüências?
Não mencionemos mais o serviço público que é apenas um meio. Não citemos os professores ou funcionários das universidades pois são apenas pessoas! No Grande Mercado pessoas não são importantes. Nem questionemos a universidade pública que, por este projeto, se esvai. Nem a pesquisa que se vai com ela. Vemos uma sociedade que não produz conhecimento; uma sociedade que importa toda a tecnologia; que se perpetua como colônia. Deparamo-nos com um inocente projeto que dá uma contribuição definitiva para perpetuar a menoridade da nossa universidade, uma universidade colonial. A explicitação tão pormenorizada das preocupações do projeto com a qualidade da universidade é, sem dúvida, o testemunho mais eloqüente da degradação qualitativa que se prenuncia e que pode ser lida no espelho da interpretação ideológica. Falemos de uma universidade burguesa e de outra universidade colocada entre parênteses por este sistema colonial. Falemos da grande autonomia mercantil da universidade privada e da possivelmente privatizada onde se podem vender todas as ilusões, desde a qualificação científica à preparação técnica, desde a formação integral à preparação para o mercado de trabalho; uma universidade que oculta sistematicamente sua função de reguladora de estoque de mão de obra, que vende prejuízo como investimento, que marginaliza economicamente a maioria da sociedade... Louvemos a globalização imperialista e deliremos fascinados pelo Grande Sistema do Norte!...Viva a liberdade de mercado!... Que maravilha é a autonomia!...Imaginemos que somos todos burgueses!...O consumismo é uma festa! A educação superior é um produto. Vamos vendê-la! Vamos comprá-la! Estamos no mercado. Estamos sendo vendidos!... ********************************************************************** Universidade medieval Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Por volta de 1150, no contexto do Renascimento do Século XII, são fundadas as primeiras universidades medievais. Essas instituições são o ponto de partida para o modelo de universidade que temos até hoje. Tratam-se não apenas de instituições de ensino: a universidade medieval era também o local de pesquisa e produção do saber, era também o foco de vigorosos debates e muitas polêmicas. Isso fica claro pelas crises em que estas instituições estiveram envolvidas e pelas muitas intervenções que sofreram do poder real e eclesiástico. As primeiras universidades da Europa foram fundadas na Itália e na França para o estudo de direito, medicina e teologia. A parte central do ensino envolvia o estudo das artes preparatórias, ou artes liberais; o trivium: gramática, retórica e lógica; e do quadrivium : aritmética, geometria, música e astronomia. Depois o aluno entraria em contato com os estudos mais específicos.
Origens No século XI, Carlos Magno conseguira reunir grande parte da Europa sob seus domínios. Para unificar e fortalecer seu império, ele decidiu elaborar uma reforma na educação. O monge inglês Alcuíno elaborou um projeto de desenvolvimento escolar que buscou reviver o saber clássico estabelecendo os programas de estudo a partir das sete artes liberais: o trivium, ou ensino literário (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium, ou ensino científico (aritmética, geometria, astronomia e música). A partir do ano 787, foram emanados os decretos que recomendavam, em todo o império, a restauração de antigas escolas e a fundação de novas. Institucionalmente, essas novas escolas podiam ser monacais, junto aos mosteiros; catedrais, junto à sede dos bispados; e palatinas, junto às cortes. Essas medidas teriam seus efeitos mais significativos séculos mais tarde. O ensino da dialética (ou lógica) foi fazendo renascer o interesse pela indagação especulativa; dessa semente surgiria a filosofia cristã da Escolástica. Nos séculos XII e XII, algumas das escolas que haviam sido estruturadas à partir das ordens de Carlos Magno, que se destacaram por seu alto nível de ensino, ganham a forma de Universidades. Isso ocorre especiamente entre as escolas catedrais. Depois começaram a surgir instituições, fundadas por autoridades, que já nasciam estruturadas como uma instituição de ensino superior. As universidades que evoluíram de escolas, foram chamadas por ex consuetudine; Já aquelas fundadas por reis ou papas eram as universidades ex privilegio. Entre 1200 e 1400 foram fundadas, na Europa, 52 universidades, e 29 delas foram ergudas por papas. A transformação cultural gerada pelas universidades no século XIII, foi expressada pela frase de Charles H. Haskins: Em 1100, a escola seguia o mestre; em 1200, o mestre seguia a escola.[1] Algumas dessas universidades recebiam da Igreja católica o título de Studium Generale, que indicava que este era um instituto de excelência internacional; estes eram considerados os locais de ensino mais prestigiados do continente. Acadêmicos de um Studium Generale eram encorajados dar cursos em outros institutos por toda a Europa, bem como a partilhar documentos. Isso iniciou a cultura de intercâmbio presente ainda hoje nas universidades Européias. A Europa Ocidental entrou na Idade Média em grandes dificuldades que minaram a produção intelectual do continente. Os tempos eram confusos e havia-se perdido o acesso aos tratados científicos da antiguidade clássica (em grego), ficando apenas as compilações resumidas e até deturpadas que os romanos tinham traduzido para o latim. Entretanto, com o início do chamado Renascimento do Século XII, renovou-se o interesse pela investigação da natureza. A ciência que se desenvolveu nesse período áureo da filosofia escolástica dava ênfase à lógica e advogava o empirismo, entendendo a natureza como um sistema coerente de leis que poderiam ser explicadas pela razão. Foi com essa visão que sábios medievais se lançaram em busca de explicações para os fenômenos do universo e conseguiram avanços importantes em áreas como a metodologia científica e a física. Esses avanços foram repentinamente interrompidos pela Peste negra e
são virtualmente desconhecidos pelo público contemporâneo, que muitas vezes ainda está preso ao rótulo do período medieval como uma suposta "Idade das Trevas".
Robert Grosseteste Até sua morte, Robert Grosseteste (1168-1253), foi a figura central do importante movimento intelectual da primeira metade do século XIII na Inglaterra. Tinha grande interesse no mundo natural e escreveu textos sobre som, astronomia, geometria e, especialmente, óptica. Dava ênfase à matemática como ferramenta para estudar a natureza e defendia que experimentos deveriam ser usados para verificar as teorias a respeito da mesma. Sua influência foi bastante significativa numa época em que o novo conhecimento da ciência e da filosofia gregas estava tendo um efeito profundo na filosofia cristã. Também foi relevante o seu trabalho experimental, especialmente seus experimentos com espelhos e lentes. Seu mais renomado discípulo, Roger Bacon, herdou sua paixão pela experimentação. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da confecção de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumentos como o telescópio e o microscópio. Vida Grosseteste estudou na Universidade de Oxford e tornou-se presidente dessa instituição em 1215, permanecendo no posto até cerca de 1221, quando saiu por motivo de saúde. Depois disso ele passou por uma série de posições eclesiásticas. De 1229 a 1235, ensinou teologia para os franciscanos. Em 1235 tornou-se Bispo de Lincoln e permaneceu nesse cargo até sua morte. Ciência Grosseteste, o fundador da escola Franciscana de Oxford, foi o primeiro escolástico a entender plenamente a visão Aristotélica do caminho duplo para o pensamento científico: generalizar de observações particulares para uma lei universal; e depois fazer o caminho inverso: de leis universais para a previsão de situações particulares. Grosseteste chamou isso de método da resolução e composição. Seu conhecimento dos textos de Aristóteles o estimulou a especular e escrever sobre a metodologia da pesquisa científica. Para ele, a ciência começava com a experiência dos fenômenos pelos homens, e a sua finalidade seria encontrar as causas para esses fenômenos. Pelo seu método, o primeiro passo era tentar descobrir as possíveis causas para os fenômenos vividos - os agentes causais -, o próximo passo seria separar o agente causal em seus princípios componentes. Depois, com base numa hipótese, o fenômeno observado deveria ser reconstruído a partir de seus princípios. Finalmente a própria hipótese deveria ser testada e validada, ou não, pela observação.
Esse procedimento continha a base essencial de toda a ciência experimental, sendo precursor do método científico. Esses pontos de vista são muito importantes, especialmente quando levamos em conta a grande influência que Grosseteste tinha como professor. Obras Grosseteste inicialmente escreveu textos em latim e francês, inclusive o chamado Chasteua d'amour, poema alegórico sobre a criação do mundo e a redenção cristã, bem como vários outros poemas e textos sobre administração doméstica e etiqueta. Ele também escreveu trabalhos teológicos, como o influente Hexaëmeron escrito em torno de 1230. Mas Grosseteste é conhecido como um pensador original principalmente pelos seus textos relacionados ao que hoje chamamos ciência e filosofia da ciência. Entre 1220 e 1235 ele escreveu vários tratados científicos, como: • • • •
De sphera: texto longo sobre muitos temas. De accessione et recessione maris: sobre as marés e o movimento das ondas. De lineis, angulis et figuris: sobre lógica matemática aplicada às ciências naturais. De iride: sobre o arco-íris.
Ele também escreveu comentários sobre a filosofia de Aristóteles, incluindo o primeiro comentário ocidental à Analytica Posteriora e um sobre a física aristotélica.